A Paixão de
Lúcifer Santero D’Aquiles
1ª edição Janeiro - 2012 Above Publicações Vila Velha-ES
A paixão de Lúcifer רחש ןב לליה Heilel Ben-Shahar Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho da Alva! Como foste lançado Por terra, tu que debilitava as nações. Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei O meu trono, e no monte da congregação me assentarei, Nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens E serei semelhante ao Altíssimo. Isaías 14:12.
Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus de entre os justos.” Jesus Cristo
Dedico esta obra a Antonio Ferreira Santos e Karl Heinz Muller
EDITOR RESPONSÁVEL Uziel de Jesus EDITORA Daiane Benedet REVISÃO Fernanda Rizzo CAPA Melissa Roncete DIAGRAMAÇÃO Fabricio Trindade Ferreira
Copyright © 2011 — Above Publicações 1ª edição ISBN — 978856308079-0 Todos os direitos reservados pelo autor. É proibida a reprodução parcial ou total sem a permissão escrita do autor.
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Sumário Agradecimentos--------------------------------------------------- 9 Prefácio------------------------------------------------------------- 11 Nota do Autor----------------------------------------------------- 17 Capítulo 1 - Origens----------------------------------------------27 A Criação da Terra. ---------------------------------------------- 33 O Jardim do Éden------------------------------------------------ 35 Coração de Anjo-------------------------------------------------- 36 Lúcifer e as sementes de luz------------------------------------ 37 Os Primeiros Humanos----------------------------------------- 39 Uma Visita Especial---------------------------------------------- 42 Capítulo 2 - No Oásis de Mosul-------------------------------45 O Príncipe e o Rei------------------------------------------------ 54 Capítulo 3 - Vanum, a Morada dos Deuses------------------60 Malaquis – Anjinhos no Paraíso------------------------------- 63 A Grande Deusa-------------------------------------------------- 68 Capítulo 4 - Ligações Misteriosas-----------------------------70 O Círculo das Lamentações------------------------------------ 72 Canção do Escravo----------------------------------------------- 77 Na Tenda Real---------------------------------------------------- 78 Os Grandes Criadores------------------------------------------- 82 Capítulo 5 - Arcanjos e Vigilantes-----------------------------85 Serafins------------------------------------------------------------- 85 Querubins--------------------------------------------------------- 87 Tronos-------------------------------------------------------------- 88 Potestades---------------------------------------------------------- 89 Principados-------------------------------------------------------- 91 Dominações------------------------------------------------------- 92 Hostes-------------------------------------------------------------- 93 Virtudes------------------------------------------------------------ 94 Terafins------------------------------------------------------------- 95 Anjos--------------------------------------------------------------- 97 Herelins------------------------------------------------------------ 99 Malaquis-----------------------------------------------------------100 O Príncipe Adormece------------------------------------------101
Capítulo 6 - As Relíquias Sagradas------------------------- 103 O Castelo de Burgstein-----------------------------------------107 Capítulo 7 - A Maldição do Jardim---------------------------113 Anjos no Jardim-------------------------------------------------114 A Semente do Mal-----------------------------------------------117 A Árvore Proibida-----------------------------------------------121 Ish-Nahashi – A Serpente do Paraíso------------------------126 Capítulo 8 - Lágrimas de Arcanjo--------------------------- 136 Capítulo 9 - O Lamento de Adão---------------------------- 148 Sob a Sombra da Morte----------------------------------------151 A Caverna de Bonare-------------------------------------------153 A Folhinha Branca----------------------------------------------154 O Rastro da Serpente-------------------------------------------159 Fogo na Chuva---------------------------------------------------160 Capítulo 10 - Os Mestres da Magia------------------------- 167 Babilônia – A Rebelde------------------------------------------172 As Escrituras na Parede----------------------------------------173 Capítulo 11 - No Templo de Sheba-------------------------- 183 Espectros Sombrios---------------------------------------------191 Sombras e Ilusões-----------------------------------------------199 Capítulo 12 - As Muralhas da Babilônia-------------------- 207 Abalam – o Catalisador ----------------------------------------219 Capítulo 13 - Mentiras e Presságios------------------------- 221 A Montanha dos Sonhos---------------------------------------229 O Ataque das Aves Negras------------------------------------233 Capítulo 14 - Os Magos e o Dragão------------------------ 238 Capítulo 15 - No Deserto das Almas Errantes------------ 255 Na Cidadela de Alamut-----------------------------------------263 Daryns e Alamadins e as Provas do Alahim----------------270 As Águas de Merom--------------------------------------------276 Lúcifer, a Brilhante Estrela da Manhã-----------------------280 Capítulo 16 - Na Fortaleza de Saladino-------------------- 285 O Templo das Bruxas------------------------------------------304 Capítulo Final - Shekiná a Glória dos Deuses------------ 308 Sob a Luz das Velas---------------------------------------------313 Prenúncios da Guerra------------------------------------------317 Referências Bibliográficas------------------------------------ 319
Agradecimentos
A
gradeço aos Grandes Criadores pela oportunidade de explanar sobre sua existência e seu objetivo no cosmo, pois sem eles nossa vida não teria sentido e seríamos apenas um grande ego vazio e sem esperança. A eles, toda a reverência e inúmeras pétalas jogadas no ar. Ao Venerável Mestre M., pela capacidade de perscrutar minha mente tão maravilhosamente. Quero também poder andar um dia por aquele Caminho Iluminado no qual ele andou. Sou grato interna e externamente à minha mãe, que tão bondosamente propicia à minha vida um amor diferenciado e cheio de verdadeiras boas intenções. Gratidão às minhas queridas irmãs, Lucia e Mariley, por seus sonhos e suas ideias sutis, e à Marister Geber, por ter dado a verdadeira importância que esta obra possui. Ela contribuiu de maneira espetacular para que este livro tivesse o sentido que realmente tem, suas ideias e sonhos muito me favoreceram. Dedico esta leitura aos meus sobrinhos Ismael Abner, Pedro Emanuel, Tiago Love e Jonas Santos. Agradeço de coração aberto a Jorge Jr., por ter acompanhado de maneira criativa a elaboração do livro. Aos amigos e pesquisadores Dr. Philipe Harber, por ter tido confiança nas narrativas e por ter sido um grande incentivador e auxiliador nestas pesquisas. Ao Dr. Karl H. Muller, por seu dedicado esforço em dar crédito aos nossos fantasiosos sonhos e a seus achados, que foram de suma importância para que esta coleção pudesse ter sido feita, sem sua ajuda jamais teríamos conseguido chegar aonde chegamos. Agradeço imensamente ao Dr. Atta por sua inteligência e visão de futuro privilegiada, que nos colocou dentro deste projeto e abriu as portas dos segredos da vida. Aos meus colaboradores, executivos e editores por esta compilação. E a todos os pesquisadores, arqueólogos e educadores que, com
dedicação, ajudaram-me na revisão deste livro. Com grande gratidão. Santero D’Aquiles
Prefácio
N
o verão de 1947, Muhammad Dib, um pastor beduíno da tribo Tamiryê, estava em busca de uma de suas cabras que se perdera e desgarrada vagueava pelas colinas que ficavam próximas ao Mar Morto, lugar que segundo a tradição judaica fora anteriormente Sodoma, a cidade destruída pelo fogo de Deus. Enquanto procurava o animal perdido, o pastor encontrou uma pequena passagem entre as rochas, coberta por uma sombra. Parecia uma caverna no meio daqueles rochedos. Curioso, tentou entrar pela passagem, mas a entrada estava obstruída, atirou algumas pedras para dentro da caverna e ouviu algo que se quebrara lá dentro. Ficou com medo e saiu dali rapidamente. Todos os moradores da região acreditavam que naquele lugar existia uma maldição, pois, segundo lendas e mistérios, foi ali que os essênios, seus primeiros moradores, construíram um cemitério. Além de enterrarem os mortos, guardaram também seus tesouros, e a fim de afugentar os ambiciosos caçadores de tesouros, os espíritos assombravam qualquer pessoa que ousasse aproximar-se do local. Muitos diziam ouvir vozes e murmúrios ao andarem por aquelas bandas. Segundo a história acadêmica, os essênios viveram por volta dos anos 185 a.C a 68 d.C. Era um povo misterioso que não se misturava às costumeiras práticas mundanas de outros povos da época, dedicando-se a uma vida estritamente religiosa e recatada, tornando-se guardiões de antigos textos sagrados. Mesmo com medo e receoso de estar ali, a curiosidade e o pensa-
mento de encontrar algo valioso falaram mais alto na mente daquele pastor, que voltou até o campo no dia seguinte, levando consigo um amigo, a fim de que este o ajudasse a descobrir se havia alguma coisa valiosa dentro da caverna. A vontade de tornar-se rico fez com que ele deixasse de lado o medo e o que realmente havia ido procurar ali. Depois de terem escalado a área com muita dificuldade conseguiram entrar na caverna para descobrir que ali não havia tesouros como imaginavam: ouro ou pedras preciosas; o que acharam, porém, valia muito mais do que imaginaram encontrar. Eles acharam uma verdadeira biblioteca dentro da caverna; rolos de pergaminho, fragmentos em papiro, livros e utensílios domésticos, raridades preciosíssimas para a arqueologia. De posse de alguns objetos e escrituras, eles, sem saber ao certo do que se tratava, tentaram vender o material em Belém, sem sucesso. Tempos depois, conseguiram vender alguns artefatos para Atanasius Samuel, bispo do mosteiro ortodoxo, em Jerusalém, e venderam também para Eleazar Sukenik, da Universidade Hebraica. Estes, ao analisarem o material, descobriram que se tratava de material autêntico e de grande valor histórico. Com a descoberta, o governo israelense comprou por meio de um representante os documentos que se encontravam em poder do bispo por cerca de duzentos e cinquenta mil dólares. Quando o relato ficou conhecido, dezenas de estudiosos foram até o local e verificaram serem onze as cavernas que guardavam os mesmos tipos de material. Em pouco mais de três semanas foram encontrados oitocentos fragmentos de rolos; lâmpadas romanas, jarros, moedas, cerâmicas e cântaros. Algum tempo depois, foram encontrados, ainda, ruínas de grandiosa edificação com torres de defesa, salão de reuniões, templos e um moderno sistema hidráulico, bem como três cemitérios contendo
mais de mil tumbas. O piso principal ocupava uma superfície de mais de 1.400 metros quadrados. Manuscritos do Mar do Morto foi o nome dado às raridades encontradas nas cavernas de Qumram. E os escritos foram considerados apócrifos pela maioria dos estudiosos que os analisaram. De acordo com eles, os próprios essênios teriam produzidos e escondido o farto material durante o século II a.C. Mas dentre os artefatos foram encontrados pergaminhos e inscrições datados de mais de dois mil anos antes de Cristo, período bem anterior ao próprio aparecimento dos essênios. Além do hebraico, grego, aramaico e árabe, estes fragmentos e inscrições estavam escritos numa língua não mais utilizada naquele período: o sumério. Entre o conteúdo dos escritos estavam a história da origem dos homens sobre a Terra, vários salmos, partes do livro de Isaias, Daniel e complementos de outros livros bíblicos, profecias sobre o julgamento final, entre outros. Foram encontradas também inscrições que continham dezenove colunas de escrituras medindo três metros de comprimento e quinze centímetros de largura. O escrito era intitulado: “A guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas”. Uma discussão tomou conta de todos os que estavam pesquisando a descoberta e houve muita desavença entre eles sobre o significado, a importância e a quem pertenceria aquilo tudo por direito. O caso piorou e o governo, que estava enfrentando uma guerra na época, decidiu embargar a pesquisa e todo o trabalho ficou no esquecimento durante muito tempo. Após anos do descobrimento, mais precisamente em 1982, os Manuscritos do Mar Morto chegaram às nossas mãos, depois de terem sido esquecidos nos porões do museu de Jerusalém por quase meio século. Nossa equipe teve o prazer de coordenar todo o estudo e as traduções daqueles escritos. Juntamos as inscrições e fragmentos que apresentavam caracte-
rísticas semelhantes, fizemos análises e comparações com outros livros antigos e depois de algum tempo chegamos à conclusão de que havia uma história oculta dentro daquilo que seria apenas repetições bíblicas. A história se passara em tempos diferentes. Mas a narrativa estava incompleta. Então, fomos atrás de outros especialistas e achados, a fim de montar o quebra-cabeça. Foi neste momento que tivemos o prazer de conhecer um dos mais respeitados arqueólogos do mundo, que na época estava coordenando uma equipe de pesquisadores no Cairo. Ele havia passado por uma experiência muito interessante e, ao ler um de seus artigos numa revista sobre achados arqueológicos, surpreendi-me com o texto que escrevera. O Dr. Muller já havia escrito algo sobre os Manuscritos do Mar Morto, mas não pôde fazer parte dos pesquisadores do projeto, pois a universidade da região local achou por bem estatizar os achados e sua posterior pesquisa, não dando oportunidades para que outras instituições os pesquisassem, principalmente se fossem instituições particulares como era o caso dele. O Dr. Muller tinha seu próprio escritório e equipe de estudos arqueológicos, era venerado por muitos de meus alunos e colaboradores. Eu, talvez, por receio ou orgulho, não havia me aproximado dele como deveria. Minha posição não me permitia tal atitude. Conhecíamo-nos por nome, uma vez que nesta área restrita e disforme de pequenos espaços e terras caídas, pirâmides e cavernas, éramos os reis do mundo. Mas fui vencido pela necessidade e meu interesse falou mais alto que minha altivez. O encontro com o Dr. Karl Muller deu o tom de toda a lógica que precisávamos encontrar. Ele havia encontrado alguns escritos que muito lhe chamaram a atenção, e por obra do acaso ou destino, os seus achados completavam o nosso e davam a total dimensão da mesma ideia narrativa. Os escritos encontrados por ele na região que hoje se conhece
por Etiópia não tratavam de textos antiguíssimos, mas de escritos bem mais recentes. Dentre eles, rolos de papelão que provavelmente foram produzidos em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, em pleno território africano, e ligavam-se por linha de raciocínio a um fragmento mais antigo escrito em um tipo de papel utilizado por volta dos anos 1100 d.C. encontrado nas cavernas de Qumram. Outros utensílios também foram incorporados a este mesmo achado: uma pequena caixa de pedra e uma tampa que supostamente pertenceram ao escritor dos rolos de papelão. Éramos céticos demais para acreditarmos em providência divina, então decidimos pesquisar muito mais, a fim de desvendar tudo aquilo. Queríamos descobrir como uma mesma história ou lenda teria sido continuada por alguém que provavelmente não tinha conhecimento algum sobre os outros contos ou a língua em que foram escritos, pois nenhum outro fragmento ou qualquer que fosse a narrativa, dava pistas sobre as mesmas histórias. Era quase certo que ninguém possuía os mesmos contos que foram encontrados nas cavernas e na Etiópia. Se a história somente tivesse sido repetida, não seria problema de decifração, pois ela poderia ser conhecida oralmente e passada de pai para filho; porém a diferença de tempo era de milênios. Desta maneira, procuramos por muitos anos alguma prova que ligasse aqueles relatos a outros já conhecidos. Mas, infelizmente, até hoje não conseguimos encontrar absolutamente nada que fizesse essa relação, e isso nos levou à seguinte conclusão: As escrituras realmente falavam de uma mesma história e em sequência de fatos, mas foram escritas por pessoas que não se conheceram em épocas, línguas e lugares diferentes. Pensamos também numa possibilidade inusitada: seria possível ainda que uma mesma pessoa tivesse produzido os textos em lugares e em tempos diferentes? Descartamos logo esta ideia, pois era absurda demais para nossa realidade. Resolvemos estudar mais detalhadamente a história em si, passando vinte e três
anos pesquisando, traduzindo, unindo partes, fazendo comparações até chegarmos a uma história completa daqueles escritos. Mas depois de tanto trabalho fomos afastados da coordenação do projeto por uma intriga interna, que nos marcaria pelo resto de nossa vida. Depois de deixarmos a coordenação das pesquisas em Israel, nos unimos ao Dr. Muller, na Alemanha, e continuamos o projeto em caráter particular, uma vez que possuíamos um vasto material. Quando o Dr. Muller nos contou sobre sua história e tudo o que havia acontecido com ele desde que encontrara os rolos de papelão, nossas dúvidas foram colocadas de lado e todo o nosso ceticismo desapareceu. Jamais imaginei que depois de tantos anos eu passaria por muitas perseguições e angústias por causa de minha persistência. Mas aqui está a primeira parte do resultado de um árduo trabalho que durou vinte e seis anos até a sua publicação. Dediquei parte de minha vida neste projeto e não poderia deixar esta vida sem que eu visse esta obra publicada. A equipe decidiu que eu fizesse o prefácio deste primeiro livro, uma vez que o Dr. Muller contará sua história e o que descobriu na terceira sequência desta coleção. O autor usou de liberdade para completar alguns fatos históricos que eram mencionados nos fragmentos, criando um enredo específico para melhor explicar os contos em sumério, os contos em árabe e os rolos encontrados na Etiópia. Isso, porém, não modificou o conteúdo dos fragmentos, preservando o sentido exato da história retirada daqueles textos. Agradeço a todos que adquirirem este livro, pois compartilharão de nossas viagens e aventuras entre cavernas, pirâmides e livros ocultos. Berlim 13 de novembro de 2009 Prof. Dr. Mohamed Kalefi Atta Coordenador do Projeto Vanum
Nota do Autor E sonhou: eis que uma escada estava posta na terra, cujo topo chegava ao céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Gênesis 28:12
E
les aparecem em nossos sonhos e visões, são vastos nas histórias bíblicas e contos lendários. As religiões fazem deles os protetores invisíveis dos humanos. Poetas criaram e criam declamações maravilhosas utilizando-se da magia e misticismo que há por trás destes personagens. Compositores, em suas canções, exaltam sua beleza e poder, e muitos pintores fazem seus trabalhos representando-os de várias formas e estilos. Milhares são os que dizem: “Eles estão entre nós”. No antigo testamento bíblico, eles são mencionados por mais de cem vezes e no novo testamento, por mais de cento e setenta. Daí a grande importância que os cristãos dão a estes seres. Alguns os transformaram em simples fazedores de favores, como as fadas madrinhas dos contos infantis; prontos para nos livrar de perigos e da morte repentina, outros dizem que eles não são tão bons quanto se imagina. Explicitamente, a Bíblia menciona apenas três tipos de seres celestiais que foram realmente identificados como anjos: Serafins, Querubins e Arcanjos. Mas os grandes teólogos de nossa história moderna e contemporânea os classificaram em ordens hierárquicas, usando esta
forma de classificação a partir de um dos trechos do apóstolo Paulo sobre os poderes celestes registrados no livro de Efésios, capítulo seis. Podemos negar a existência deles, mas jamais a fenomenologia por trás de tudo que se relaciona a estes seres fantásticos. Muitos, sem o devido conhecimento, acreditam que os anjos são seres de exclusividade bíblica, sem saber que na verdade muitos outros livros já mencionavam sua aparição na terra mesmo antes de a Bíblia existir. Os escritores cristãos gostam de falar sobre eles salvando pessoas, levando cura ou admoestando alguém no caminho do bem. Alguns livros atuais falam de anjos abundantemente e ensinam até mesmo a fazer contato com estes seres de luz. Outros, condenam tais práticas chamando-as de angiolatria, adoração aos anjos. Mas se os anjos realmente existem, poderiam mesmo parecer com a forma que vemos em nossas gravuras, representações e imaginário? A humanidade vive em um paradoxo, pois, apesar de afirmar crer nestes seres superiores, vive como se eles não existissem, mesmo que todas as noites clamem por eles, rezem por eles e os celebrem em seus cultos e assembleias solenes. Seria apenas uma fantasia em que precisam acreditar por medo de que a realidade seja cruel demais sem a existência deles? Que tipo de missão e poder teriam estes seres que, possivelmente vivem em outra habitação que não a nossa? Qual seria realmente a verdadeira face dos anjos e seu caráter? Os mencionados na Bíblia ou por diversos livros antigos que foram desprezados porque eram bizarros demais para serem considerados verdadeiros? A Bíblia, na verdade, não esconde a face cruel destes seres extraterrenos. Se dermos uma revisada nela encontraremos seus feitos registrados em muitos livros; um deles fala de um anjo que matou cento e oitenta mil soldados numa noite só, além, é claro, de mencionar o trabalho sombrio do anjo da morte aniquilando os primogênitos na décima praga sobre o Egito.
A Bíblia menciona, ainda, no livro de Gênesis, dois anjos que amaldiçoaram de cegueira uma multidão de homens que estavam tentando manter relações sexuais com eles. Isso demonstraria que estes seres eram belos e tinham poderes sobrenaturais. Além disso, os anjos também foram os primeiros a serem mencionados na Bíblia usando armas; e é isso que registra o mesmo livro de Gênesis logo depois da expulsão de Adão e Eva do Éden. As versões modernas chamaram aquelas armas de espadas, mas o texto original não afirma isso; o texto original diz: (...) e os Querubins possuíam as armas dos deuses. Gênesis 3:24. Talvez um dos maiores mistérios mostrados na Bíblia sobre os anjos está registrado em Gênesis, capítulo seis, quando diz claramente que os filhos de Deus (anjos) tiveram relações íntimas com as mulheres da terra e dela tiveram filhos que se tornaram gigantes. As traduções comuns dos dias atuais dizem que estes filhos de Deus eram os filhos de Sete, ou seja, as pessoas boas, e que as filhas dos homens eram as filhas de Kaim, as pecadoras. Isso tudo, porém, não condiz com a verdadeira tradução, sendo apenas uma interpretação feita pelas igrejas, porque soa mais adequada para nossos dias e menos sombrio. O original, porém, é bem claro ao mencionar que seres de outros mundos mantiveram relações íntimas com pessoas da terra e desta mistura nasceram gigantes, que foram chamados de Nefelins, os caídos, e que a consequência deste ato foi a destruição da Terra pelo dilúvio. Se os deuses puniram o mundo depois desta mistura de raças, é porque sem dúvida alguma uma maldição caíra na terra com a chegada de um povo diferente e com poderes especiais. Quais os motivos levariam o Deus hebreu a punir a terra com tal destruição? Se levarmos em consideração que foi por causa da violência que havia crescido demasiado na terra, explicação dada pelos teólogos religiosos, isso não explicaria porque, anos mais tarde, Deus não puniria outras nações com o mesmo castigo, pois de acordo com a própria
Bíblia houve muitos povos mais cruéis e violentos que os próprios antidiluvianos. Se analisarmos bem o relato bíblico sem as lentes de contato de nossos ensinos religiosos, veremos que Noé passou cento e vinte anos anunciando o que iria acontecer, mas jamais encontraremos um versículo dizendo que ele convidava as pessoas para que entrassem na arca para salvarem-se com ele. O texto é evidente. Noé e sua família foram escolhidos por não estarem contaminados com a “praga”. Deus não queria ninguém dentro da arca, somente a família de Noé foi convidada. Os tradutores e intérpretes da Bíblia traduziram-na de maneira que suas histórias e acontecimentos se tornassem comuns e não tão absurdas, mas a verdade é que a história bíblica não é totalmente religiosa, como os pais da igreja a forjaram. Todo aquele que lê o livro de Daniel, Apocalipse e Ezequiel notará timidamente um pouco desta revelação. A Bíblia que lemos hoje não é a mesma que foi escrita há milênios. Acredite, não é. Está totalmente transformada e moldada para que pareça mais aceitável e comum, mas a verdade ainda está lá, meio que camuflada entre as concepções religiosas dogmatizadas. Outro aspecto dos ensinos antigos e atuais é a distinção que se faz entre anjos e demônios e, ao mesmo tempo, a relação entre eles. Fazer uma separação entre anjos e demônios é quase impossível, pois segundo muitos o nascimento destes implica na existência daqueles. Alguns afirmam que os anjos foram feitos juntamente com os demônios, fato que a cristandade em geral nega, pois acredita que os demônios são todos os anjos que foram expulsos do céu por seguirem um Querubim poderoso chamado Lúcifer, que quis por inveja usurpar o trono de Deus. Atualmente, o que mais tem atraído o interesse das pessoas são as histórias de aparições e livramento que estes seres supostamente fazem. E estas aparições confundem-se com outros fenômenos que necessitam de mais estudos, como é o caso dos objetos voadores não
identificados (OVNIS). Há muito se cogitou a ideia de que os extraterrestres eram os mesmos anjos de que a Bíblia falava. Isso pode ser comparado com a aparição alienígena que o profeta Ezequiel menciona ter visto nos primeiros capítulos do livro que leva seu nome. Muitos escritores cristãos contemporâneos afirmam que os mesmos sintomas apresentados por pessoas que afirmam ter sido vítimas de abdução são também apresentados em pessoas que tiveram experiências de possessão demoníaca. Seria a mesma preparação, o mesmo sentimento e o mesmo medo. É quase unânime que especialistas no assunto abordem sempre os temas nesta ordem: anjos, demônios e extraterrestres. Infelizmente, tudo o que foge à compreensão humana é facilmente identificado como obra do mal. A humanidade sempre agiu desta maneira: o que não é tido como normal, é perseguido; o que não compreendem, dizem ser coisa do diabo; e o que não enxergam, não existe. Há muita coisa que ainda é inexplicável para nós, e nossos sábios não nos conseguem dar respostas válidas e seguras sobre a nossa existência e nosso destino na terra. Eles têm mais dúvidas que qualquer pescador nos longínquos recantos deste planeta, que vive além das discussões existenciais. Então, por que não voltarmos nossos olhares às evidências, ao sobrenatural e à infinidade de possibilidades que afirmam que não estamos sós neste mundo? Quando fui convidado a participar do Projeto Vanum fiquei surpreso e contentíssimo. Achei que tudo não passava de um sonho e que logo eu acordaria, pois tudo era surreal demais. Acreditei, porém, que o destino me colocava dentro deste emaranhado de acontecimentos talvez por conta de experiências ocultas que eu passara em minha infância. Cheguei a duvidar várias vezes da veracidade dos escritos, tentando encontrar falhas em toda a extensão da história, e relutei em escrever
sobre ela. Negava a mim mesmo as evidências que me eram apresentadas, mas depois de um tempo fui convencido por uma estranha força que me impeliu a seguir adiante. No início foi muito difícil decidir qual história publicaríamos primeiro, pois havíamos separado todas as traduções em um tipo de sequência. Tudo indicava que o fragmento que narrava a origem maléfica identificada como o Senhor do Além seria realmente a origem dos contos, mas se optássemos por esta parte, quebraríamos toda uma sequência de outros assuntos futuros, pois este contava a história da origem de Lúcifer, Miguel, Samael e Gabriel e seus primeiros passos no universo. Um dos contos que me chamou bastante a atenção, pelo seu conteúdo ocultista, foi sem dúvida a história de Samael, o Senhor do Quinto Céu, que depois de eras vivendo em harmonia com as legiões desejou algo além da imortalidade. Esta história estará na segunda parte desta sequência. Depois de muitas comparações e indecisões, optei por começar a história pela Idade Média, onde a narrativa parecia dar verdadeiro sentido aos outros contos, muito embora outras histórias relacionadas fossem entrelaçadas pelo diálogo rei e príncipe. Neste enredo, a história de Lúcifer e sua Paixão por Ish-Nahashi, a princesa dos céus, era contada de maneira clara e convincente, pois havia outro fragmento contando a mesma história. Tentei de maneira simples desenvolver uma sequência dos acontecimentos, mesmo em meio a estes diálogos, pois foi isso que compreendi lendo todo o material traduzido. A paixão de Lúcifer é o primeiro livro desta coleção em que por meio de um diálogo medieval entre o príncipe Imad-Hadim e o rei Saladino, a essência do universo será revelada e outra verdade surgirá em meio a tantas já conhecidas. Intitulei os escritos de Reis, Reinos e Relíquias, e decidi dividi-los em quatro partes, separando-os, com o objetivo de dar mais clareza ao leitor e mais inteireza à história, pois o assunto era extenso demais para
ser escrito em um único volume. Este livro não pode ser considerado factual, uma vez que seu conteúdo é cheio de contos fantásticos e inimagináveis para os dias atuais, aproximando-se mais de um enredo mítico-mágico do que propriamente de algo real. De maneira simples, transformei-o numa história mais comum para chegar à verdadeira essência dos escritos sem causar constrangimento, medo ou aversão pelas traduções. Infelizmente, muitos livros antigos acabam sendo considerados apócrifos e sem valor histórico somente por não possuírem a mesma ideia filosófica ou religiosa dos ensinos aceitos hoje como passíveis de crença ou ainda por não existirem outras inscrições que corroborem com seu conteúdo. Isto é lamentável diante de outras evidências bem mais fortes. Apesar de toda a descrença que paira em torno das mitologias e livros considerados apócrifos, não podemos negar que os mesmos, entenda-se, Manuscritos do Mar Morto, continham informações corretas sobre fatos históricos creditados até hoje por todos os grandes historiadores e arqueólogos do nosso mundo. Minha intenção nunca foi transformar o bem em mal, nem criar uma nova teoria sobre a história do universo ou a origem dos homens, anjos e demônios. Prefiro ser conhecido como o Revelador de Mistérios, e espero sinceramente que a maturidade de cada um compreenda que esta é uma obra humana, não sendo uma obra perfeita. Verdade ou não, eis ai a história que os fragmentos antigos contaram e que foram devidamente traduzidos, organizados e reunidos em um só. Devemos lembrar que o mundo está cheio de crenças das quais não se pode provar a veracidade, mas nem por isso deixam de ser creditadas como verdades. É preciso ver além das palavras para compreender o seu real significado. O filósofo Heráclito, há mais de quinhentos anos antes de Cristo, afirmou: “Às vezes, por a verdade ser tão absurda, ela deixa de ser
descoberta”. Quando esta coleção introduzir a verdadeira história sobre Lúcifer e Samael, o leitor terá realmente a dimensão exata das traduções feitas a partir dos escritos encontrados nas cavernas de Qumram. A morte de um pequeno anjo determinará todos os outros acontecimentos. Que sua mente esteja aberta para novas descobertas, pois o passo principal para que se possa saber de uma coisa nova é ter humildade; sem ela não se aprende nada, pois aquele que pensa saber de tudo tem grande dificuldade para aprender um novo saber, e o pouco que sabe será tão inútil quanto o muito que deixará de aprender. A história contada neste livro não trata de uma apologia a qualquer seita, ideologia pagã ou cristã nem de um ataque a qualquer crença religiosa. Não detalhei alguns personagens e ambientes para não suprimir a imaginação de ninguém, deixando que os pensamentos e sonhos de cada um completem por si só o que não está registrado aqui. O leitor poderá encontrar alguma dificuldade se levar em consideração que este livro será escrito apenas em terceira pessoa, algo que não acontecerá propositalmente. Nos livros posteriores, que completam esta coleção, você descobrirá como os fragmentos chegaram às nossas mãos e conhecerá sobre Samael, o Sublime, além de acompanhar a sequência espetacular de Reis Reinos e Relíquias. Que os Grandes Criadores os guiem das trevas para sua poderosa luz. םימתו םירוא, luzes e perfeições. Santero D’Aquiles
Prólogo Passando entre as nuvens, eles desceram por sobre a imensidão de ondas gigantes e por cima delas viajaram por mais um tempo até chegarem ao lugar desejado. Um lugar tranquilo e maravilhoso, onde o vento e a brisa acalentavam a alma. O oceano era tão raso que se via nitidamente as areias submersas. Ele gostava do amanhecer, por essa razão foi levado para as terras de Além Mar, o único lugar no planeta onde poderia ver o nascer do sol de modo sobrenatural. Desejara isso em seus sonhos mais profundos. Mas jamais imaginara que seria daquela forma. Pousaram sobre uma grande pedra e nela se sentaram. Ele estava visivelmente assustado com tudo o que acontecia, mas no silêncio encontrou a paz. Esperaram por mais alguns instantes, até que o momento esperado chegou. Ele ficou extasiado com o que viu: Finalmente, o crepúsculo foi visto em toda a sua beleza e resplendor. O sol no horizonte saía das águas e elas se revolviam em um grande turbilhão. Em meio à imensidão de águas límpidas, apenas um sussurro: – Por que esta terra em suas mãos? – Um leve sorriso como resposta. O cheiro parecia inspirá-lo e levá-lo para longe. Então, aquele que o levara para ali sussurrou também: – Ah, terras de Vanum, de Arnon e Rafadum. – Ainda quer saber um segredo? Um segredo vou lhe contar.
REIS REINOS E RELÍQUIAS
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A PAIXÃO DE LÚCIFER
Capítulo 1
Origens
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas, na escuridão, para o juízo do grande dia. Judas 6
O
cheiro agradável desta porção de terra em minhas mãos me faz transcender para além das protoestrelas e do Órion Iluminado. Diante dos portais eternos, onde tudo começou; meu princípio, minha história e meu lar. Ali onde as Estrelas d’Alva alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam. E ao recordar o princípio e perscrutar minha memória, as primeiras coisas das quais tenho como lembrança são: água, suspiro, flores e um cheiro agradável de terra molhada. Encontro paz nestas lembranças e meu espírito caminha entre flores e lírios do campo. Fecho os olhos e vejo tudo outra vez, transcendo para infinitos espaços onde elevo minha alma. Quando fui criado, milhares de seres como eu já existiam, eu era apenas mais um entre a multidão. Mas fui agraciado de maneira tal que até agora o meu próprio íntimo não consegue conceber-me qual o motivo desta bênção. Maravilhosa graça maior que o meu pensar como poder contá-la como hei de começar? Creio que seja este o objetivo da excelsa graça, contar a verdadeira história para uma humanidade infestada pela mentira e levá-la aos mais
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elevados dons: o amor e a verdade. Fui agraciado não porque nasci diferente dos demais ou com poderes especiais. Fui o escolhido para receber a grande revelação, a áurea iluminação, e levar ao universo a verdadeira essência sobre o ser, o saber, o cosmo, e revelar o verdadeiro caráter de nossos Criadores. Nasci há muitas eras, quando o mundo hoje conhecido ainda não era mundo, quando o amor e a sabedoria eram os maiores objetivos de todos nós que ali vivíamos. Nascíamos sempre de dois em dois, de eras em eras, renovando nosso lar. Os que nasciam juntos eram instruídos por seres que se originavam no mesmo tempo e ciclo de eras. Surgimos das profundezas das águas da vida, numa evolução submarina que transformava de maneira sobrenatural sementes férteis em seres dotados de inteligência e resplendor. A vida só era criada em Vanum no momento certo, para uma missão específica, uma origem planejada e desejada por dois seres que tinham um elo profundo de amizade e confiança. Isso era um dom ímpar, pois todos eles seriam os protetores e mestres da nova geração que nascesse. Por causa deste desejo e responsabilidade, fui formado e amado, mesmo quando ainda era um germe, sem face e sem memória. Nós, os seres espirituais, temos uma força íntima que produz o fenômeno da vida, independente da inteligência e do pensamento. Nosso corpo é essência, matéria, além-física. Somos muitos, diferentes e cientes de nosso real estado no universo. A alma vital é inerente a todos os seres orgânicos, mas os seres que possuem inteligência e pensamento podem transpor um limite bem maior de abrangência e atuação na vida extracorpórea do que os simples organismos vivos. A alma transcendental pertence apenas a nós e aos seres criados para dominar sobre os demais. Nós nos renovamos, os seres são renovados, o mundo é renovado, o ser humano, porém, precisa aprender fazer uso desta potencialidade renovadora.
A PAIXÃO DE LÚCIFER
Nosso lar é uma terra de bênçãos sem medida, uma imensidão de coisas boas e belas, e ainda que eu fale sobre tudo, vai me restar, com certeza, uma palavra a mais em cada detalhe em revelar a vida e as maravilhas da terra onde os anjos habitam, uma vida que é mostrada aqui na Terra numa simples gota de água, no cantar de um passarinho, no orvalho da manhã e no brilho do sol ao entardecer. Um amor imenso, que nos inspira a prosseguir; um amor leal e verdadeiro, que brota como uma pequenina semente regada e cuidada de maneira que vai crescendo e se desenvolvendo. Não é um amor qualquer, é um amor que não existe por interesse ou necessidade, um amor eterno e sem igual. Não há limitações no modo de amar, nada está errado quando se ama. Não tenham medo das coisas brilhantes que aparecem nos céus às ocultas, não temam aqueles que chilreiam e murmuram em seus ouvidos, não deixem que a vela continue acesa após a primeira caminhada. O vento é o sinal, seu sopro beija seu rosto. Onde nasci nenhum ser é obrigado a nada, mas temos nossas missões e provações. Em Vanum não há doenças ou pranto, e ali compreendemos que a morte é apenas um sono que os mortais estão fadados a sucumbir, mas afortunadamente há algo que ainda sobrevive. Aprendi sobre o amor e a justiça, o saber e o juízo, o ser e o deixar de ser, as escolhas e determinações. Aprendi que cada reação só pode vir de uma ação e que o forte nem sempre é o campeão. Das simples coisas, aprendi ainda que não há escuro tão escuro que uma pequena luz não possa iluminar. Há uma enorme estrela que circunda nosso lugar, mas ela não é a única que nos fornece luz, pois há uma claridade natural vinda da vida que nos dá a vida, e lá a chuva que aqui conhecemos não acontece por questões de evapotranspiração, mas podemos desfrutar dela quando queremos, sem a preocupação de nos molharmos, pois nossas vestimentas não encobrem nosso corpo por vergonha da nudez. É
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natural que ao nadarmos ou fazermos outras tarefas não precisemos de vestimenta alguma, não temos as vergonhas das quais os homens têm quando se escondem com roupas, mas sentem prazeres inebriantes quando as tiram. Temos vestimentas especiais, mas não usamos pelo mesmo motivo que os homens. Temos definições distintas entre o masculino e o feminino, assim como na terra. Podemos ser um ou outro, porém jamais os dois ao mesmo tempo. O ser humano não compreende esta dádiva, pois foi feito de uma forma apenas, por essa razão tende a encontrar insatisfação pelo que é, quando deveria compreender seu real estado na vida. Podemos, como os seres da terra, fazer uso das mesmas volúpias que fazem, mas é algo tão fútil para cada um de nós, como o é para uma formiguinha que morre em um saco de açúcar por comer demais. Ela esbanja-se com cada bolinha branca do lugar até não mais conseguir andar e ali fica inerte até a morte chegar e a fazer desaparecer da existência. A pequenina morre sem saber o motivo de sua momentânea vidinha. Foi seu desejo, puro prazer, um êxtase inexplicável que cada formiga que morre desfruta nos poucos minutos antes de seu fim. O doce tão saboroso do açúcar propicia-lhe prazer, mas tira-lhe a vida. Ainda assim, a nova geração de formiguinhas não aprenderá com o erro, pois continuará fazendo a mesma coisa. Nada muda, pois o prazer nunca será constante, precisando de mais, sempre mais. Seria este o destino de toda formiguinha? É a busca pela satisfação que a conduz para a morte. No açúcar reside seu prazer e sua desgraça. Nós, seres superiores, não agimos da mesma maneira simplesmente porque não morremos, e o prazer para nós é bem diferente dos mortais, pois vai além do contato físico, este porém não é desprezado. O êxtase em Vanum envolve o corpo e a alma e o prazer é muito mais intenso do que as orgias humanas entre corpos débeis e cansados. Entre nós, há um profundo sentimento de gozo e conforto duradouro na alma.
A PAIXÃO DE LÚCIFER
O prazer dos humanos é como o prazer das formigas num saco de açúcar, é doce, é bom, mas logo acaba. O nosso prazer é bom, é doce e dura para sempre. Mas não se deixe levar pela minha maneira de abordagem; gosto das parábolas, mas é apenas um subterfúgio para tentar dissimular a verdade, mas ela estará aqui; no entanto, você não vai querer conhecê-la nem entender o seu real significado, e isso vai se dar simplesmente pelo fato de você não desejar isto, mas poderia, se quisesse. Há algum interesse em você que este testemunho seja realmente verdadeiro? Claro que não. Ninguém quer libertar-se do conforto de sua fantasia. O ser humano gosta de ser enganado, já se acostumou a isso, pois a mentira aguça-lhe a alma de tal maneira que morre por causa da fantasia que ele mesmo criou; prefere a mentira à verdade, e dela faz uso cotidianamente, porque a mentira faz o que a verdade jamais poderá fazer; tira-os de um mundo de caos e melancolia e os traz para um mundo de ordem e paz; tira-os a incerteza e lhes dá segurança; leva o mal para longe e mostra um bem supremo, mas mostro-lhes agora um bem maior. Poderia eu alongar-me nestes pensamentos humanos e me deixar vaguear em filosofias terrenas, desviando meu objetivo em revelar coisas do além, da essência sobre o existir, e não desvendar o que ainda está por vir?
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