REVISTA
ABUB NORDESTE Marรงo 2018 N.4
Essa é uma revista experimental da coordenação de Literatura e Artes Regional da ABUB Nordeste. Sem direitos reservador, com contribuições entregues de forma deliberada pelos coordenadores locais, regionais, estudantes e profissionais. N. 4, março de 2018
Coordenadores locais de literatura, procure o seu: ABU João Pessoa Danielle Silva ABU Natal Matheus Guerra ABU Recife Polyana Dantas ABU Caruaru Nathalia Amorim ABU Aracaju Miriam
EDITORIAL Damos graças a Deus por mais uma edição da revista encontros, perpetuando este trabalho que tem nos enchidos de alegria. Alegria por ter a oportunidade de proclamar a Cristo, de tocar e sensibilizar por meio da arte, da escrita, da arte em escrita e da escrita em arte. Que Deus nos torne vulneráveis a percebermos Ele em todas as coisas criadas e nas que por Ele tenham sido inspiradas. Se há beleza, há inspiração e graça de Deus ali. Caio Cabral - Presidente ABUB NE
Nesta Edição 03 - Resenha Livro: Incomparável Cristo
04 - Mensagem Comemorativa Dia da Mulher
05 - Poesia Imagine-se
06 - Para Refletir... A solitude de um Jantar
07 - Relatos do IPL 2018 Compartilhando Riquezas Reais
expediente Capa "Solitude" Eva Sena Elaboração: Eva Sena Revisão: Marylin Bandim Edição de Arte e Diagramação: Marylin Bandim e Eva Sena Textos: Isabelle de Queiroz - ABU Natal Marília Teles- ABU João Pessoa Diego Alonso - ABU Natal Nayara Melo - ABU Recife Jessé da Paz - ABU Natal João Peixoto - ABP Recife
09 - Música Açude da Minha Alma
10 - Cordel Parábola dos Talentos
Contatos Site: www.abub.org.br/regiao/nordeste Facebook: www.facebook.com/abunordeste
RESENHA DO LIVRO:
Incomparável Cristo
John Stott
Em mais uma das suas profundas e cuidadosas obras, John Stott traz a importância de estabelecer a centralidade de Cristo na atualidade. Partindo do entendimento que Ele é o guia das escrituras, o autor parte para uma análise dos livros do novo testamento e , em ato contínuo, demonstra como vários nomes importantes para o protestantismo exerceram a centralidade de Cristo em suas vidas, observando na existências desses fiéis vários aspectos da natureza e personalidade de Cristo. Para finalizar, destrincha os capítulos do livro de apocalipse para demonstrar a majestade e soberania do Filho. De uma forma geral, considero o assunto relevante e, a forma que autor trabalhou-a me chamou muito a atenção. Em dias onde a opinião pessoal baseada em trechos soltos da Bíblia é utilizada como pregação para acariciar o ego de grandes públicos, confrontante é achar um escritor e cristão que utilize da Palavra em sua integralidade, contextualizando o que diz e convergindo para um único ponto: Cristo como Senhor soberano e absoluto sobre nossas vidas. Partindo dessa análise, demonstrar como na prática os cristãos podem viver olhando fixos para o Salvador, independente das condições adversas que se encontram, do meio social e até mesmo das lutas sociais que decidimos encabeçar e fazer coro com as demais pessoas de qualquer movimento, como exposto no capítulo de Martin Luter King.
O capítulo final do livro, que trata sobre o livro de Apocalipse, foi, de longe, o mais de mais difícil leitura, tanto pela complexidade dos símbolos ali expostos, quanto por préconceitos pessoais sobre o livro. Em meio a minha formação cristã houve sempre um grande cuidado ao tratar sobre tal parte da Bíblia, de forma a me fazer temer e até mesmo rejeitar a meditação e estudo do livro. Todavia, a forma que o autor aborda o tema e a maneira pela qual ele desmistifica os símbolos, transformaram a minha visão do livro de apocalipse e me fizeram entender a importância do seu estudo para a minha vida cristã. Observar como a centralidade de Cristo se põe nas escrituras e é manisfesta na vida de outras pessoas, fortaleceu minha fé e me alimentou para prosseguir na batalha contra os vários caminhos enganosos que surgem em minha vida. Reforçar que, de fato, Cristo é o Senhor e Sua obra independe de seres humanos, mas, mesmo assim, ele nos usa para manifestação da sua Glória, me deu novas forças para prosseguir na proclamação de sua palavra dentro da universidade e, no fim, em toda a minha vida
Isabelle de Queiroz - ABU Natal
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08 de Março Na Bíblia é narrada a história de uma mulher sobre a qual Jesus afirma que seria sempre lembrada, onde quer que se pregasse o evangelho, firmando a memória sobre ela (Mc. 14: 9; Mt 26: 13). Essa mulher era Maria (Jo. 12: 3), como tantas outras mulheres que tiveram a compreensão de Jesus como o Cristo. Narrase que ela derramou sobre a cabeça dele um perfume muito caro (Mc. 14: 3; Mt. 26: 7), também que ela derramou sobre os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos (Jo. 12: 3). Ela não o fez por opressão, nem por submissão, mas porque entendeu que era o próprio Deus encarnado que estava ali diante dela, o fez deliberadamente, por desejo de seu coração. Vejo, na ABUB, também muitas mulheres, muitas Marias, que compreenderam quem é o Cristo e o servem de coração sincero. Ainda que sofram censura pelo fato de serem mulheres ou por suas atitudes, tal como aquela mulher, por ter ‘gastado o que poderia ter sido vendido e o dinheiro dado aos pobres’. Diante da censura, Jesus decide honrá-la afirmando que onde fosse pregado o evangelho, a atitude dessa mulher também seria lembrada. Hoje, ao olhar para história da ABU, vejo muitas mulheres sobre as quais podemos dizer que foram agraciadas pelo Senhor e das quais creio que Deus gostaria que fossem sempre lembradas pelas servas que são. E a despeito de tudo que a sociedade impõe para as mulheres, elas continuam servindo ao Senhor porque entendem que é o próprio Cristo encarnado que às convida para a missão e unidas fortalecem a si mesmas e umas às outras, como também a muitos irmãos.
No reino de Deus sempre houve mulheres completamente envolvidas, segundo as estatísticas, muito mais do que homens. Ainda que seja reduzida a condição da mulher e do homem à papeis na família, Cristo faz o mesmo chamado a ambos e se coloca como mediador entre um e outro. “Se alguém que vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher [seu marido], seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14: 26). Sendo convidados ao mesmo discipulado, só podem responder da mesma maneira: aceitando ou rejeitando, não há uma diferença de chamado ou condição. Essas mulheres da ABU que responderam esse chamado, colocando Jesus como mediador entre todas as suas relações, sendo mulheres naquele que é, aquelas com as quais convivemos, a elas honramos, pois cremos que, também, Cristo as honra, apontamos que são dignas de serem lembradas. Sobre elas que servem com coração sincero, digo: continuemos sendo exemplo uma para outra, continuemos servindo, nos fortalecendo, resistindo, pois o nosso Senhor é quem nos justifica diante do mundo, é quem conhece nosso coração e corpo, é quem não nos reduz a nossa biologia, mas nos torna gente nos convidando à acompanhá-lo e nos fazendo coparticipantes da mesma promessa de Cristo.
Marília Teles
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POESIA
Imagine-se Mais próxima fica a cachoeira. O rio segue curso. As pedras machucam. O umbigo vê o céu. Não há forças. Animais vão e vêm, mas morrem no caminho. Perversão. Inevitável. Mais próxima fica a cachoeira. Busca de sentido. Dor. Muita dor. Esperança. Por que não paro de rodar? Mais próxima fica a cachoeira. Queda. Ascenção. Fé. Mão firme. Fraqueza. Agora repouso na grama. Não há mais cachoeira. A Deus toda glória, Amém.
Diego Alonso - ABU Natal Janeiro de 2018 5
Para Refletir... A solitude de um jantar Estava sentada em uma longa mesa do restaurante universitário daquela velha instituição pública de ensino superior. As conversas paralelas, miúdas, extravagantes. Enquanto um já estava terminando o café com leite, o outro acabara de sentar. E no final do restaurante, meu olho observava entre as brechas que os corpos das pessoas formavam nas disposições das mesas: uma mulher negra. Na verdade, outra mulher negra. Quando anoitece, as coisas mudam na universidade. Até as pessoas que frequentam o restaurante ou carinhosamente apelidado “ru”, mudam. À noite, tem pessoas mais velhas, tem rosto de quem trabalhou durante o dia, tem mais camisas de atividades em igrejas cristãs evangélicas, tem mais silêncio, tem até mais vagas. Voltando para aquela senhora que eu observava no início do meu jantar, desde que sentei na mesa ela olhava para o vazio e limpava a boca com um guardanapo. Se eu observasse com mais atenção, perceberia que ela estava segurando o guardanapo como se estivesse esquecido que ele estava ali, como se ele fosse uma forma de conter as palavras que estavam querendo fugir dos seus lábios.
Então, ela levantou, reparei sua roupa, roupa de quem é simples, de quem não coloca os ombros a frente da cabeça, de quem pensa antes de falar. Os cabelos crespos, grisalhos, presos, tristes, amarrados. Cabelo crespo precisa ser solto para ser feliz, porém tanto as roupas quanto as amarras no cabelo me diziam que ela cresceu em redomas. Me diziam baixinho, quase sussurrando, bem devagar… Engatinhando como se estivesse com vergonha de aparecer. Perdi de vista, não a enxerguei mais… Voltei ao meu prato, meu café com leite, meu silêncio. Estaria alguém em sua solitude também a me observar, como eu observava aquela senhora? Somente o silêncio da reflexão nos faz enxergar o óbvio em frente aos nossos olhos. Quantas senhoras como ela já estiveram sentadas perto de mim, conversando sobre os cursos noturnos que a universidade oferece e como os professores são injustos? Por quantas vezes o barulho afugenta a nossa alma que busca por paz, que busca o outro, se reconhece nele e o habita… Nayara Melo - ABU Recife
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Compartilhando Riquezas Reais Para Refletir... O Instituto de Preparação de Líderes 2018, que ocorreu em Vila Velha, ES, contou com a participação de nove Nordestidos que se preparam previamente, fazendo leituras e resenhas, bem como no levantamento de recursos para a viagem e sustento.
Durante vinte e um dias eles estudaram o Evagelho de Lucas sob a perspectiva do tema "Riquezas Reais". A esse respeito Isabelle de Queiroz, da ABU Natal, relata: "De todas as experiências vivenciadas nesse sentido, a que ainda tento processar foi a exposição bíblica feita a partir de Lucas 15 pelo obreiro Heitor Barbosa. Retratando publicanos e pecadores, o filho pródigo, seu irmão e o pai esperançoso, o expositor encerrou seu discurso da seguinte maneira: 'Só Deus pode devolver para os dois filhos liberdade, dignidade e família'. Após uma fala cheia de provocações e confrontações pessoais, nos abraçamos para orar e finalizar, mas tudo o que se ouvia eram choros audíveis como quem derrama sua alma em súplica ao Senhor."
"Para levantar a quantidade de dinheiro necessária vendemos livros, camisas e recebemos doações. Graças a Deus que a quantia levantada inicialmente deu para pagar a inscrição, tanto do Consselho Diretor (CD), tanto do Instituto de Preparação de Líderes (IPL). As atividades exigidas, como leituras e resenhas dos livros, como também a carta de caminhada cristã e o motivo da ida ao IPL foram bem desafiadoras, principalmente a escrita da carta de caminhada cristã. Fazê-la foi um exercício espiritual muito grande, as lembranças do agir de Deus em nossa vida são vivificadoras espiritualmente", é o que destaca Jonatas da ABU Fortaleza.
Depois de passar esses dias meditando em diversas exposições bíblicas, chegou a hora dos estudantes seguirem para a Parte Prática. Sobre essa experiência Jessé, da ABU Natal destaca: "Durante a minha parte prática eu servi numa comunidade quilombola. Realizamos trabalhos manuais de carpintaria e construção civil, convivemos e ouvimos a comunidade e também celebramos o primeiro culto da comunidade. A experiência foi incrível, completamente diferente da minha vivência na cidade e na universidade, foi muito bom ver que Deus quer reconciliar todas as culturas com Ele."
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Instituto de Preparação de Líderes Para Refletir... 2018 Ainda sobre a Parte Prática, Diego Alonso da ABU Natal apontou: "a expectativa que tínhamos ao chegar na igreja era a de servir, mas, sem dúvidas, fomos embora na segunda de manhã muito mais com um status de "impactados" do que de "impactadores". Aprendi mais concretamente que o "cuidado integral com o outro" envolve um comprometimento sério da igreja de Cristo com a vida de todos, independentemente de suas (in)visibilidades sociais."
Sem dúvidas, nossos IPLenses retornaram para seus Grupos Base cheios de experiências e vivências para compartilhar. A respeito desse aprendizado, João Peixoto, da ABP Recife relata: "Posso dizer que eu tinha duas “expectativas especiais” quanto à participação no IPL (fora a expectativa natural de participação no evento): ter uma experiência com Deus e entender o porquê de uma série de conflitos pessoais que envolviam meu relacionamento com Ele. Não obtive respostas quanto aos conflitos, mas tive uma experiência única com Deus que me fez entender que não importa saber quais os motivos específicos desses questionamentos que carregava diante da grande missão que Deus tem para o seu povo. Talvez essa tenha sido a resposta que buscava."
"Se eu tiver que escolher uma única coisa para levar de ensinamento da parte prática, vai ser a seguinte: podemos planejar e realizar muitas atividades, porém o mais importante não é o que fazemos, mas se os amamos. O mais importante é se, com ou sem atividades, nós amamos os nossos irmãos de Santa Leopoldina. É mais valoroso o quanto amamos as pessoas, e às vezes amar diz respeito a gestos simples, como apenas ouvi-las. Meu coração transborda de gratidão pelo meu grupo de parte prática, pelo pastor Roberto e Vania que nos receberam com tanta ternura, por toda Igreja Metodista que me ensinou sobre servir, e pela ABUB que nos proporcionou esse momento," são as palavras de Amanda Souza, da ABU Maceió.
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Música:
Quando o sol beija a testa E o suor dança no rosto O sal sente o céu da boca A terra racha seu reboco Enche o açude da minh'alma Me carrega em teu cangote Traz a cura em tua palma Onde a peixeira fez um corte Se o carrapixo fura o pé E o meu mundo fica pálido O rio morre sem maré Sem vida, semi-árido Serei uma algaroba verde Onde a asa branca faz seu ninho Estarei deitado numa rede Cantando feito passarinho Jessé da Paz - ABU Natal Janeiro de 2018 9
Um dia certo hômi resolveu viajar Mas o danado tava cheio de talentos Então resolveu para outros hômi dar Ao primeiro deu logo cinco Pro segundo deu mais dois E ao último que parecia um menino Apenas 1 pra não se lascar depois O hômi dos cinco teve uma ideia Pegou os talentos e foi aplicar O dos dois que era muito esperto Eis então que o dono chega Viu o esquema e foi copiar Eita lasqueira! Hora de prestar contas Mas o danado que recebeu um Vamo simbora se arrumar Escondeu num buraco pra não se aperriar Pra ninguém aqui pegar em bomba O de cinco trouxe mais cinco O de dois trouxe mais dois Esses aí agradaram o dono Que os recompensaria depois Mas o miserávi de um talento Chegou com uma história de pescador Falou um monte de palavra bonita Pra dizer que nem plantou nem semeou "Servo mau e negligente" falou seu senhor Que não gostou nem um pouco Da preguiça do seu trabalhador
João Peixoto - ABU Recife Janeiro de 2018 10