Metamorfose Profissional: A Relação entre a Comunicação, a Tecnologia e o Esgotamento emocional

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METAMORFOSE PROFISSIONAL: A RELAÇÃO ENTRE A COMUNICAÇÃO, A TECNOLOGIA E O ESGOTAMENTO EMOCIONAL

Produção dos alunos do 6º semestre de Jornalismo Ibes (2016)


FICHA TÉCNICA Editor-chefe: Raphael Santos Machado Chefe de reportagem: Daniele Cristina de Souza Diagramação: Ana Paula Ferreira Correção: Daniele Cristina de Souza, Marta Brod e Raphael Santos Machado Capa: Gabriel Schmitt Impressão: Gráfica 3 de Maio Crédito: pexels.com Esse livro foi produzido pelos alunos do sexto semestre de 2016 da faculdade Ibes Unisociesc de Blumenau, sob a coordenação da professora Mª Marta Brod:

Ana Paula Dias dos Santos Ana Paula Ferreira Bruna Dandara Nicoletti Claudia Regina Pombal Daniele Cristina de Souza Gilmar Pliska Gislaine Delabeneta Giulia Venutti Cirne Corrêa Ivan Yuri Sikorski Jéssica Luana Wollick Letiele da Rosa Paycorich Maria Clara Madrigano Pâmela Dickmann Rafael Torres Pereira Raphael Santos Machado Sabryne Anne da Silva Sandra Mara da Silva Francisco Valesca Luiza Rauber Grotmann Victor Hugo Lessa Sardinha Souto Agradecimentos: Faculdade Ibes Blumenau Carlos Alberto Ross • Marlene Leocádia • Gabriel Schmitt


SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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DIVISÃO DE TAREFAS

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01 | O ANTES, O AGORA E O DEPOIS

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02 | PERFIS PROFISSIONAIS NA ÁREA DE

COMUNICAÇÃO

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03 | ESCOLHA E EXPECTATIVA

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04 | COM CORAGEM PARA SE SUPERAR

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05 | O EMPREENDEDORISMO E O BROWNIE

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06 | TRADUZINDO NÚMEROS EM

COMUNICAÇÃO

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07 | O MARKETING NA ERA DIGITA

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08 | A IMPORTANTE FUNÇÃO DOS

APLICATIVOS

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09 | ESGOTAMENTO EMOCIONAL

VOCÊ SE IDENTIFICA? 50 10 | VOCÊ NÃO ESTÁ ATRASADO 54 11 | A FIGURA DO CHEFE NAS EMPRESAS 61 12 | PRIORIDADES E TRANQUILIDAD 67 13 | UMA ETAPA DIFÍCIL (OU NÃO) 74 14 | PARA MUDAR É PRECISO ARRISCAR 78 15 | O NOVO PERFIL PROFISSIONAL 83 16 | O PROFISSIONAL NO JORNALISMO

ALTERNATIVO 87 17 | A TECNOLOGIA É A MELHOR ALIADA

NA REALIZAÇÃO DE SONHOS 90 18 | MEU ESCRITÓRIO EM CASA 93


INTRODUÇÃO Por Marta Brod

Certa vez, em uma aula de redação jornalística (em meados

dos anos 2000 e alguma coisa), minha professora dessa disciplina – que na época também era editora-chefe do único jornal impresso da cidade – entrou em sala de aula e nos disse: o bom jornalista é capaz de contar a história de uma formiga atravessando a rua e chegando ao seu formigueiro. Na época, achei aquela metáfora um pouco estranha – pra não dizer chata!-, pois na minha cabeça de adolescente (Sim, ingressei na faculdade aos 16 anos) aquilo não passava de uma lorota inútil.

Eu queria ação, a correria das redações diárias, os furos jor-

nalísticos e os milhares de litros de café! Mais de dez anos se passaram e só agora como professora no curso de jornalismo eu percebi o significado daquela sentença.

O trabalho de um jornalista, muito além de noticiar os fatos

da sociedade, é contar histórias. Sim, eu também fiquei intrigada quando “desvendei” esse enigma. Atualmente estamos passando por tantas mudanças na sociedade e o jornalismo sempre esteve presente para enfatizar e reportar essas histórias.


Porém, às vezes, estamos tão atarefados com o deadline e a

próxima notícia que não percebemos que nosso trabalho é contar uma boa história. Histórias que levam nossos leitores a constituir suas opiniões e quebrar paradigmas. E para que isso seja feito o jornalista precisa de tempo, pesquisa e muito, mas muito amor pela escrita.

A ideia da produção deste livro reportagem era justamente

essa. Deixar os alunos sentirem a liberdade da escrita de uma forma leve e sem (muitas) pressões. Nessas próximas páginas vocês encontrarão histórias de pessoas que amam o que fazem e encontraram a felicidade muito além do trabalho rotineiro.

Tudo isso sob a ótica desses futuros jornalistas que se en-

tregaram a esse projeto e decidiram produzir um material com uma coletânea de histórias lindas, reais e inspiradoras!

Desejo a você uma boa leitura e que esse livro te faça enten-

der um pouquinho do trabalho da formiga :)


DIVISÃO DE TAREFAS: NÃO LEVE SUA FAMÍLIA PARA A EMPRESA, NEM TRABALHO PARA SUA CASA. Tudo começa aqui: Construção Do Livro Reportagem Por Ana Dias Começar o sexto semestre de jornalismo, dá uma sensação de estou quase lá. “Ufa! Venci mais uma etapa”. Você analisa, pensa com seus botões, olha para trás e percebe que passou por vários obstáculos, e que passará por mais alguns, que também não será nada fácil. O único jeito é colocar uma armadura super mágica, com opções de escolher as cores e modelagem, seguir em frente, meter a cara, passar muitas noites em claro, quebrar à cabeça, e fazer o que tem que ser feito. Fazer o livro reportagem juntamente com os seus colegas de turma, será uma missão árdua mais muito satisfatória com resultado final. A proposta de fazer o livro reportagem foi da professora Marta Brod. No primeiro dia de aula, do sexto semestre ela estava de calça preta, dobrada até uma parte da canela, com uma sapatilha amarela, a blusa não me recordo, com um anel no dedo indicador da mão direita e mexendo no cabelo curto, toda serelepe, com uma proposta que mais parecia uma bomba. Sua ideia: Que os alunos construíssem um Livro Reportagem, e cada um ficaria responsável por um capitulo. Quase infartei, não só eu, mais muitos dos meus colegas. Mas não deixei transparecer esse desespero. Já saindo da faculdade em direção ao ponto de ônibus fiquei imaginando. O que será que eu vou escrever? Qual será minha pauta para o livro? Como irei começar esse texto? Fiquei um pouco preocupada, antes da hora. É claro, eu morro por antecedência, já estava morrendo aos poucos com esta notícia. Dentro do ônibus, sentei do lado da janela, me sinto melhor desse lado, assim posso apreciar a cidade. No banco da frente duas 7


meninas conversavam em meios as risadas, do outro lado um rapaz sozinho de barba ruiva e cumprida, ouvia música, imagino que seja rock, pelo balançar de sua cabeça. Talvez fosse outro ritmo. Parei um pouco de bisbilhotar a vida das pessoas mais próximas, coloquei o meu fone de ouvido e ouvia uma das minhas músicas preferidas “La Belle de Jour” do cantor pernambucano e compositor Alceu Valença, e a cidade passava nas minhas vistas. Essa canção me tranquiliza. E deixei para organizar minhas ideias em casa. Afinal de contas, não tinha escolhido o tema. A ESCOLHA Particularmente foi um momento lindo. A nossa turma se reunir no QG (acredito que seja Quartel General) no quarto andar da faculdade (no Ibes), com três grupos, para discutir e escolher o rumo do livro, depois que chegassem a um consenso, cada grupo iria expor e defender o tema. As sugestões foram: Gênero, esgotamento mental e quais os tipos de jornalistas o mercado de trabalho quer. Os três temas foram bem defendidos. Mas, um só seria escolhido. Conversa vai, conversa vem, foi decidido mesclar o mercado do jornalista e suas tecnologias com esgotamento emocional. E assim nasceu o nosso filho, ops!!! O foco do livro. No momento vibramos de alegria com direito a foto e tudo. Com o rumo do livro definido e com as pautas definidas, criamos um grupo no WhatsApp chamado: Trabalhos da Marta, trabalhos dela que nada, nosso mesmo, para que nossa equipe tirasse algumas dúvidas entre nós, e gerenciamento de publicações no Facebook. Criamos também um grupo nessa rede social para a turma toda chamado “Livro Reportagem”, uma forma de compartilhar matérias relacionadas ao nosso tema. Ainda bem que existe a internet e junto com ela às redes sociais, pra tirarmos as duvidas que brotam a cada minuto. Entrar em contado com os colegas de turma e com as fontes. Porque só na sala de aula não daria para tirar essas duvidas todas. Realmente essa ferramenta tecnológica 8


veio mesmo para revolucionar a comunicação, com o poder de levar e trazer conhecimentos, e conectar as pessoas. As redes sociais chegaram para quebrar as barreiras e juntar aquele povo que já se conhecia, mas não tinha aquele contato, ou que nem se conhecia, mas de certo modo tinha afinidades ou só para ter seguidores mesmo. As redes sociais têm esse poder de conectar milhares de pessoas ao mesmo tempo. Para que o livro saia em perfeito estado conversamos praticamente com todos os dias, principalmente aos finais de semana. MINHA VIDA PESSOAL E MINHA VIDA PROFISSIONAL Com o avanço da tecnologia ou sem a tecnologia, as pessoas não estão mais conseguindo separar a vida profissional da vida pessoal, já está tudo misturado. Não é que isso seja ruim, mais é preciso saber usar. Sabe aquela história do remédio? O que cura e mata é a dose. Ela (Eliane Schefer) aparenta ter uns 39 anos, chega ao escritório às 08h00 da manhã cantarolando sua música preferida All About That Bass de Meghan Trainor, senta na cadeira, coloca o celular ao seu lado e pendura a bolsa no suporte da mesa. Mesa essa que está cheia de documentos, um do lado do outro e alguns empilhados, acredito que estejam organizados para analisar e assiná-los. Prefere ler alguns documentos em voz alta, afinal de contas alguns processos são extremamente complicados de serem resolvidos e entendidos. As 17h15 ela coloca os seus óculos no estojo, o estojo dentro da bolsa marrom, levanta e vai em direção a garagem, abre a porta do carro com a mão direita e na esquerda segura o celular. No trajeto para ir para a casa liga o rádio e ouve sertanejo universitário, não deu para identificar qual a estação. Assim acaba o dia de trabalho dela. Não, não! Na cadeira traseira do seu carro tem duas pastas: uma azul clarinha e outra marrom, acho que ela gosta da cor marrom ou 9


é só por que está na moda, nem sei mesmo se está na moda. Schefer é advogada há sete anos, e há dois começou a levar trabalho para casa. Certo dia não chegava à conclusão de um trabalho e a hora estava a passar, quando resolveu levar somente um para casa, desde então não parou mais. Há três meses confessa que está tentando retirar esse hábito que não é nada agradável, deixando mais cansada, e quando vai para a cama a mente parece não descansar parece que ainda está trabalhando. O trabalho dignifica o homem, não sei de quem é essa frase, mas é antigo e muitas pessoas já ouviram. Será mesmo que dignifica ou é só uma daquelas frases para o homem (mulher também) arrumar o que fazer pra ganhar aquelas cédulas com numeração, pra se fazer parte da sociedade? O paulistano Alexandre Aicard, 46 anos, diz que está difícil separar a vida profissional, por ser assessor parlamentar e defensor do meio ambiente. É quase que impossível não levar trabalho para casa, com toda essa vida corrida do dia a dia quem mais reclama dessa vida agitada é a família. A esposa e as filhas cobram bastante. Desde cedo Alexandre é defensor do meio ambiente, e tem envolvimento direto com a causa e a defesa dos direitos dos trabalhadores. As redes sociais tem um papel muito importante na divulgação, pois potencializa suas manifestações na defesa do meio ambiente.Quando está em seu dia livre a internet fica de lado e procura dar atenção a família. GRAÇAS A TECNOLOGIA Anos atrás os principais meios de comunicação eram cartas, telegramas. Além das frases serem reduzidas o custo era alto, era preciso escolher bem as palavras para dar um recado. Esses meios de comunicação demoravam dias para chegar ao destino final. Segundo Dona Doracy (minha avó) para dar uma notícia que alguém havia morrido, convite de casamento, batizado, enfim, deixar algum recado dependendo da localidade, a carta chegava 10


com quinze dias ou um mês. No ano de 2016 quando mandamos uma mensagem para alguém, se não responder em instante, já é motivo de chateação ou de briga mesmo. Como os tempos mudaram! Passando alguns anos, muitos anos mesmo, quase ninguém usa telegrama e carta. O esquema agora é outro: as redes sociais. Graça a tecnologia posso falar todos os dias com a minha mãe, meu irmão, minha irmã, meus avós. Com toda essa tecnologia, falo com minha mãe e minha irmã todos os dias. Elas querem saber tudo o que se passa na minha vida, mesmo estando longe sempre dão os seus palpites e seus conselhos. Nós sempre fomos muita ligadas, e eu não me importo em dar satisfação. Amo quando elas ligam só pra dá boa noite, pra me chamar de meu amor, ou pra saber como foi minha aula na faculdade. Quando estou com dúvida em relação à comida ou roupa, ligo perguntando como fazer ou o que vestir, envio mensagens, fotos para elas me ajudarem. Se você parar para pensar, tudo isso graça a tecnologia. Putz, bendita tecnologia!

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1 | O ANTES, O AGORA E O DEPOIS Por Valesca Luiza Rauber Grotmann

Blumenau, rua XV de Novembro, segundo andar, primeira sala à esquerda no escuro corredor do edifício Santo Antônio. É ali que trabalha Vicente Jairo Martins que dos 47 anos vividos, 34 foram como relojoeiro. Começou nesta profissão quando tinha apenas 13 anos e desmontou um relógio que a família tinha em casa. Desmontou e não conseguiu mais montar. Seu pai levou no relojoeiro para consertar e aproveitou para pedir um emprego para o filho. Então Vicente começou a aprender a profissão como ajudante e desde deste dia não largou mais os tic-tac’s dos relógios. Aos 28 anos Vicente se tornou pai e 12 anos depois seu filho Gabriel Martins começou a ajudá-lo na relojoaria. Gabriel ajudava no atendimento aos sábados. Depois começou a ajudar dois dias da semana, quando tinha curso no centro da cidade. E hoje, aos 19 anos, Gabriel já trabalha em tempo integral na loja, aprendendo e ajudando o pai nos consertos. Se esse exemplo estivesse sendo tomado no século passado seria comum, mas nos tempos atuais é cada dia mais raro encontrar um filho que segue a profissão do pai. Historicamente não se sabe ao certo qual foi à primeira atividade profissional humana. Alguns estudos dizem foi a de cozinheiro, outros dizem dentistas. Tem até quem diz que a primeira profissão foi a de prostituta, que oferecia sexo em troca de abrigo e comida. O ser humano precisou aprender técnicas de sobrevivência, que hoje em dia são consideradas profissões. Com o passar do tempo à sociedade evoluiu e com ela as profissões e tecnologias se reinventaram. Atividades profissionais que existiram e que já empregaram muitas pessoas, hoje já não existem mais. Podemos usar como exemplo três profissões comuns nos séculos XIX e XX: Operador de te12


lefonia, telégrafo e despertador humano. Todas substituídas por tecnologias, que em longo prazo se tornam mais rentáveis, já que trocaram pessoas por software ou máquinas. De acordo com o Guia do Estudante, da Editora Abril, existem atualmente 276 carreiras profissionais regulamentadas no Brasil e em cada uma delas existem milhares e incontáveis funções que vão desde chefe a operários. E além dessas profissões atuais, existem também aquelas que estão predestinadas à extinção. E não é muito difícil encontrar profissões que futuramente serão substituídas. Não vemos nenhum jovem dizer que vai ser um sapateiro ou ourives. Nem mesmo relojoeiro é cogitado como profissão entre eles, a maioria que não sabe o que pretende fazer no futuro, procura fazer administração ou direito que são cursos que poderão servir de base para várias opções de carreira. Para Vicente, ter a oportunidade de ensinar o filho é um privilégio. “Sinto-me realizado com meu filho aprendendo minha profissão, porque consigo passar todo meu conhecimento para ele e com todos os anos de profissão que tenho foi a única pessoa que tive a oportunidade de ensinar”. E para Gabriel, privilégio mesmo é poder trabalhar com o que gosta e aprender tudo com pai. Mas nem sempre é tão fácil assim encontrar uma carreira que lhe satisfaça pessoalmente e profissionalmente. Hoje existem muitos jovens que têm receio do futuro. E por medo de escolher a profissão errada, muitos realmente erram e se tornam profissionais esgotados e infelizes. Muitos até desenvolvem a chamada síndrome do esgotamento profissional. Foi o que aconteceu Antônio Santana de trinta e sete anos, que cursou faculdade de Administração e Direito, mas não chegou a se formar em nenhuma das duas. Antônio não estava satisfeito com seu curso na faculdade e não sabia qual profissão seguir. Foi então que aos 22 anos, deparou-se com a oportunidade de trabalhar como sapateiro. Mergulhou de cabeça neste mundo de calçados e aprendeu sozinho a profissão que o faz feliz há quinze anos. Por mais difícil que seja, é importante lembrar aos jovens e também para aqueles que não são mais tão jovens assim, que a vida 13


não é tão rígida que não permite erros ou mudanças de opiniões. Uma profissão não precisa ser pra sempre. Não vale a pena viver infeliz por algo escolhido há anos atrás. E por mais clichê e antiga que pareça, a frase do Filósofo Chinês Confúcio: “Escolha um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”, ela faz sentido até nos dias de hoje.

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2 | PERFIS PROFISSIONAIS NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO: AINDA PRECISAMOS TRAÇÁ-LOS? Por Ivan Yuri Sikorski

Antes de trabalhar com comunicação, antes mesmo de escrever e me interessar pelas palavras, eu projetava. Durante quatro anos, vivi mergulhado no mundo mecânico. Simples, sistemático, engessado. Assumir tal função foi um misto de pura sorte e o resultado de dois anos de comprometimento em um curso técnico de mecânico industrial. – Você já torneou uma peça, Ivan? Check! – E fez desenhos mecânicos à mão? Check! – E quanto a desenhar no software? Check! Quando abandonei a área mecânica, despedi-me da engenharia com um sonoro “até nunca!” e rumei para o Jornalismo. Na área de comunicação, me vi livre dos sistemas engessados da indústria e deparei-me com um mundo inteiro de oportunidades que dependiam da minha criatividade. Antes do meu primeiro emprego na nova área, eu fantasiei com um mundo que aceitaria minha habilidade de escrever. Que meu potencial não fosse medido com base de quantos cursos, oficinas ou coaching’s eu fizesse, mas sim com base no meu portfólio. Ledo engano. Quando fugi de uma área onde o perfil é necessário (você não aprende em casa, fazendo um trabalho de colégio, a desenhar uma hélice 3D ou medir algo com um micrômetro), pensei entrar em outra onde ele não era necessário, pelo menos não de cara. Digo, para entrar em algum emprego de redação na área de Jornalismo você precisa de duas coisas: saber escrever uma matéria e um por15


tfólio. O primeiro você aprende na faculdade, é padrão; o segundo é obsoleto – e abrange todo tipo de publicação. Nada disso, porém, configura um perfil consolidado. É, a meu ver, um produto natural de qualquer um que arrisque “fazer comunicação”. A limitação de um perfil faz o profissional de comunicação ficar, justamente, limitado. Hoje em dia, ele ou ela, por tabela, fogem disso; dão uma palhinha no Photoshop, um palpite cá ou lá no InDesign, ajudam a roteirizar um vídeo, montam uma matéria com pirâmide invertida, atacam de fotógrafos. O profissional de comunicação de hoje em dia é multifacetado por conta da tecnologia que o cerca. Interagimos com tudo ao nosso redor. Somos profissionais do século XXI moldados pelo século XXI. Sou prova disso. Entrei para uma agência publicitária na função de redator publicitário sem nunca ter feito uma campanha sequer, eu apenas escrevia em blogs. Não títulos ou linhas de apoio diretas e impactantes, mas matérias. Não matérias publicitárias, mas esportivas. Ué, mas cadê o meu “ledo engano”, dito anteriormente? Bom, eu fui exceção! Ainda vejo, ouço e discuto sobre o novo perfil, ou o perfil atual do profissional de comunicação. Na faculdade, nas rodas de bar, na internet: ainda se procura um perfil. E isso é tão anos 90! Então, me pergunto, será mesmo que devemos traçar esse perfil? A consciência coletiva muda de geração para geração. Os baby boomers vieram logo após a Segunda Guerra Mundial, com a expansão populacional. A Geração X os sucedeu, aproveitou os anos 1970 e buscou uma carreira sólida e estável na indústria, apoiados pelo medo da Guerra Fria e pelas incertezas do futuro. Daí por diante, até chegar à atual Geração dos Millennials, temos mudanças significativas na forma de pensar e de encarar o mundo. Assim, as empresas também cresceram. O verdadeiro problema é que elas não buscam atualizar-se, desfazer-se da cultura setentista, oitententista ou mesmo noventista implantada na forma de trabalho. Buscam o lucro e constroem suas próprias pirâmides hierárquicas. É aí que eu quero chegar: a insistência em modelos antigos fomenta a necessidade de perfis profissionais. 16


Então, chegamos ao segundo questionamento: será que não são as empresas que deveriam olhar para si mesmas, auto avaliarem seus métodos e modificarem seu ambiente de trabalho a ponto de acolherem bem os novos profissionais antes de procurar moldá-los em suas gavetas dos anos 1980 e 1990? O “NOVO” PROFISSIONAL: ROMÂNTICO OU REBELDE CONTEMPORÂNEO? Antigamente, era um diferencial enorme para entrar em uma redação ter um curso em datilografia. Hoje, você tem tudo isso antes mesmo de completar o ensino fundamental. Só em 2010, 57% das crianças brasileiras entre 5 a 9 anos já haviam usado o computador e, em 2012, 70% das crianças entre 9 e 16 anos mantinham perfis em redes sociais. Ou seja, somos uma geração hiperconectada desde a infância. E não apenas digo por mim, com meus atuais 21 anos de idade, mas por gente que está há um bom tempo no mercado e enfrenta esse mesmo modelo desde sempre. Juan Carlo Maronez trabalha na área de design há oito dos seus 27 anos de idade. Abandonou a carreira de modelo por gostar muito mais das possibilidades frente ao computador e hoje em dia trabalha como designer freelancer. Por ser qualificado, já rodou bastante no mercado e o que testemunhou foram empresas interessadas a pular no trem da modernidade e outras que, bem.... Perderam o trem e resolveram nunca mais pegá-lo. – O perfil que vi ser exigido na maioria das empresas que trabalhei é de empregado – responde ele o meu questionamento sobre a existência e exigência de perfis em sua trajetória. – Que precisa abaixar a cabeça e simplesmente trabalhar. Dentro de agências, tipos como o Juan são raros. Ele não fez faculdade. Aprendeu a ser designer sozinho, por gostar do negócio. Gosta de trabalhar de casa, mas não se importa de ir à agência, desde que lá encontre qualidade e conforto. Desde o começo da carreira, Juan não se ateve à perfis, mas fez aquilo que a bandeira 17


da nova geração prega: buscou o que o fazia feliz; por isso, abandonou a vida de agências que na sua opinião eram atrasadas e abriu a própria. Um negócio pequeno, com poucos clientes, justamente para que o trabalho permanecesse de qualidade. Para que não fosse fábrica, mas artesanato. – E você vê os jovens ainda tentarem buscar um perfil? – pergunto. – Acho que essa convenção é imposta pelas próprias instituições, pelas faculdades de publicidade que limitam que o auge de uma carreira é manter um emprego na agência! – Ele ri. – É uma convenção. Não acho que os jovens procurem isso, mas é algo imposto. – A visão de Juan, fora do âmbito acadêmico, é ainda mais forte ao perceber esses traços de imposição nos colegas formados. – Nossos pais cresceram com uma mentalidade que pregava o uso de calça e camisa social no escritório, mas porque eu, que fico na frente de um computador o dia inteiro, não posso usar bermuda? Na contramão, porém, Juan sabe que as gerações que nos sucederem entrarão em um mundo totalmente diferente, já mergulhado na onda do empreendedorismo individual e dos startups; das empresas que buscam tornar seu local de trabalho democrático, sem uma hierarquia definida, e que perfis sejam necessários apenas para altos cargos. – Nossos filhos vão se deparar com ambientes muito mais livres que os que nós temos – diz ele. Porém, antes de alongar o pensamento até a próxima geração, é importante traçar o que mudou no mercado de trabalho e como essa mudança afeta a forma das empresas de procurarem um novo colaborador. SOBRE MUDANÇAS BOAS, MÁS E A PROCURA PELO PROFISSIONAL INEXISTENTE Estudante de Psicologia e profissional da área do desenvolvimento, Mayara Floriani tem experiência no assunto recrutamento e seleção. Mesmo com 21 anos de idade, testemunhou o funcionamento do trabalho, desde a primeira entrevista com o candidato, acontecer com vários tipos de profissionais. De jovens com brilho 18


da nova geração prega: buscou o que o fazia feliz; por isso, abandonou a vida de agências que na sua opinião eram atrasadas e abriu a própria. Um negócio pequeno, com poucos clientes, justamente para que o trabalho permanecesse de qualidade. Para que não fosse fábrica, mas artesanato. – E você vê os jovens ainda tentarem buscar um perfil? – pergunto. – Acho que essa convenção é imposta pelas próprias instituições, pelas faculdades de publicidade que limitam que o auge de uma carreira é manter um emprego na agência! – Ele ri. – É uma convenção. Não acho que os jovens procurem isso, mas é algo imposto. – A visão de Juan, fora do âmbito acadêmico, é ainda mais forte ao perceber esses traços de imposição nos colegas formados. – Nossos pais cresceram com uma mentalidade que pregava o uso de calça e camisa social no escritório, mas porque eu, que fico na frente de um computador o dia inteiro, não posso usar bermuda? Na contramão, porém, Juan sabe que as gerações que nos sucederem entrarão em um mundo totalmente diferente, já mergulhado na onda do empreendedorismo individual e dos startups; das empresas que buscam tornar seu local de trabalho democrático, sem uma hierarquia definida, e que perfis sejam necessários apenas para altos cargos. – Nossos filhos vão se deparar com ambientes muito mais livres que os que nós temos – diz ele. Porém, antes de alongar o pensamento até a próxima geração, é importante traçar o que mudou no mercado de trabalho e como essa mudança afeta a forma das empresas de procurarem um novo colaborador. SOBRE MUDANÇAS BOAS, MÁS E A PROCURA PELO PROFISSIONAL INEXISTENTE Estudante de Psicologia e profissional da área do desenvolvimento, Mayara Floriani tem experiência no assunto recrutamento e seleção. Mesmo com 21 anos de idade, testemunhou o funcionamento do trabalho, desde a primeira entrevista com o candidato, acontecer com vários tipos de profissionais. De jovens com brilho 19


nos olhos a tipos de meia idade e a experiência bruta de décadas à fio trabalhado numa só função, numa só empresa. Para ela, a tecnologia e as mudanças no mercado, fazem o uso e a busca de um “perfil” como coisas ultrapassadas, porém ainda difíceis de disseminar no conhecimento popular. Empresas são resistentes às mudanças bruscas. – Anos atrás, tínhamos um paradigma industrial vigente no mercado de trabalho – comenta ela. – Nele, as pessoas precisavam seguir padrões, normatizações e sofriam um monitoramento constante das suas atividades. Por conta dos monopólios de grandes empresas, a inovação era dispensável. A verdade do momento era a estabilidade. E quando foi que isso mudou? – Hoje, vivenciamos o paradigma do conhecimento, onde o capital da empresa se difundiu. – Mayara responde. – Não é apenas financeiro, mas humano. As pessoas estão mais valorizadas, assim como o conhecimento que possuem. Cada vez mais, saberes acadêmicos e práticos fizeram profissionais subir de cargo. Uma prova é avaliar quantos profissionais que, hoje em dia, trabalham a mais de 25 ou 30 anos numa mesma empresa e foram instruídos a fazer uma graduação. São muitos. Apesar disso, a modernização dos conceitos profissionais não trouxe apenas louros. Segundo Mayara, as empresas idealizaram que o novo tipo de profissional é “multitasking” (realiza várias tarefas), preferencialmente simpático, apto a trabalhar quantas horas precisar, nem que isso seja feito na própria casa. –Isso causa frustração nas empresas, por não conseguirem achar essa pessoa – comenta. – E nos candidatos e colaboradores, por perceberem que não tem todas essas qualidades. É aí que o estresse passa a se tornar constante no trabalho, glamurizada tal qual o “profissional workaholic”. O atraso das corporações e de seus conceitos é bastante danoso e pouco abordado por aí. Hoje em dia, no Brasil, foram avaliados em pesquisa patrocinada pela ISMA (Instituto Americano de Controle do Estresse), que cerca de 30% dos trabalhadores sofrem de Síndrome de Burnout, consequência do estresse laboral crônico, chamada também 20


nos olhos a tipos de meia idade e a experiência bruta de décadas à fio trabalhado numa só função, numa só empresa. Para ela, a tecnologia e as mudanças no mercado, fazem o uso e a busca de um “perfil” como coisas ultrapassadas, porém ainda difíceis de disseminar no conhecimento popular. Empresas são resistentes às mudanças bruscas. – Anos atrás, tínhamos um paradigma industrial vigente no mercado de trabalho – comenta ela. – Nele, as pessoas precisavam seguir padrões, normatizações e sofriam um monitoramento constante das suas atividades. Por conta dos monopólios de grandes empresas, a inovação era dispensável. A verdade do momento era a estabilidade. E quando foi que isso mudou? – Hoje, vivenciamos o paradigma do conhecimento, onde o capital da empresa se difundiu. – Mayara responde. – Não é apenas financeiro, mas humano. As pessoas estão mais valorizadas, assim como o conhecimento que possuem. Cada vez mais, saberes acadêmicos e práticos fizeram profissionais subir de cargo. Uma prova é avaliar quantos profissionais que, hoje em dia, trabalham a mais de 25 ou 30 anos numa mesma empresa e foram instruídos a fazer uma graduação. São muitos. Apesar disso, a modernização dos conceitos profissionais não trouxe apenas louros. Segundo Mayara, as empresas idealizaram que o novo tipo de profissional é “multitasking” (realiza várias tarefas), preferencialmente simpático, apto a trabalhar quantas horas precisar, nem que isso seja feito na própria casa. –Isso causa frustração nas empresas, por não conseguirem achar essa pessoa – comenta. – E nos candidatos e colaboradores, por perceberem que não tem todas essas qualidades. É aí que o estresse passa a se tornar constante no trabalho, glamurizada tal qual o “profissional workaholic”. O atraso das corporações e de seus conceitos é bastante danoso e pouco abordado por aí. Hoje em dia, no Brasil, foram avaliados em pesquisa patrocinada pela ISMA (Instituto Americano de Controle do Estresse), que cerca de 30% dos trabalhadores sofrem de Síndrome de Burnout, consequência do estresse laboral crônico, chamada também 21


de Síndrome do Esgotamento Profissional. –Hoje, estar estressado é comum. Quando sai do comum e afeta todas as outras áreas da sua vida, torna-se patológico. Empresas em geral tem o costume de padronizar as coisas; é fácil, evita problemas. Mas não é bom quando o fazem com as pessoas que passam por lá – ou tentam. Neste modo de ver, o conceito atual de “perfil” apenas tornou-se mais amplo e ocupa ainda mais linhas na oferta de uma vaga. O profissional não é mais uma peça individual na linha de produção, mas se divide em quantas funções a chefia quiser, contribuindo para um número excessivo de processos. Quem trabalhou no mercado de comunicação, sabe que equipes reduzidas são um padrão em agências e redações. A idealização do profissional proativo, empoderado, flexível, gestor e inteligente criou um paradoxo no mercado: enquanto as empresas buscam esse perfil, os candidatos ainda tentam alcançá-lo. – A realidade – diz ela. – é que procuramos alguém que ainda não nasceu. ESQUEÇA O PERFIL, O QUE QUEREMOS SÃO COMPETÊNCIAS Que o mercado de trabalho é um ambiente vezes hostil, vezes convidativo, é um fato. Cada século tem o seu mal; Burnout, depressão, carga horária. Porém, nada disso responde a minha pergunta: há um novo perfil de profissional a ser traçado? – Não. Quem falou isso não fui eu, mas Cleia Floriani, mestre em Administração de Negócios, professora de curso de Psicologia e com mais de 15 anos de experiência na área de Gestão de Pessoas, desempenhando consultoria de Recrutamento, Seleção, Treinamento e Desenvolvimento em empresas de todo sul do País. E não, ela e Mayara não são parentes. Os sobrenomes iguais são pura coincidência. Mas por que a resposta é não? Bom, antes de explicar, é importante contextualizar os porquês e as visões de Cleia. Segundo ela, a teoria que segue é a do CHA, 22


elaborada e respeitada por vários autores, que consiste em avaliar o profissional no quesito competências. – O CHA é a combinação de conhecimentos – explica ela. – adquiridos em instituições formadoras, habilidades obtidas nas vivências e atitudes, que são as ações do ser. Conforme ela, algumas organizações modernas já aderiram ao modelo de Gestão por Competência como forma de coordenar os esforços dos seus colaboradores. Mas como funciona na prática? – As competências descritas como essenciais para uma determinada atividade são observáveis e serão observadas e “validadas” quando as pessoas agem – afirma. Ou seja, se você conseguir bons resultados para os objetivos ou metas propostas utilizando algum dos três elementos do CHA, você ganha pontos com a chefia. Tudo parece excelente até surgir outra dúvida: o que essa forma de gestão muda para o profissional? É simples. Não há mais um perfil para se encaixar, mas competências a se cumprir. Portanto, a observação e avaliação se tornam muito importantes nesse modo de gestão, o que pode aproximar chefia e colaborador. A partir desse ponto, vê-se que não há uma “receita” a ser seguida. – O que existe são apenas algumas indicações– complementa. –, que muitas vezes são especulações, uma vez que cada caminho é único, porque assim é o seu caminhante. Então, baseado nas experiências de quem viveu, trabalhou e estudou o assunto, a resposta para a pergunta que norteia esta reportagem é não. Com o avanço não só da tecnologia (mas principalmente dela), a sociedade se livra dos antigos paradigmas e dos modelos das grandes indústrias setentistas, que necessitavam de um operário e não de um colaborador. É o profissional que se molda, não as empresas que fazem (ou devem) fazer isso por ele. – As competências estarão sempre aliadas a realidade concreta do espaço onde ocorre o trabalho. – Afirma Cleia. – Se for numa empresa, cada pessoa deverá saber quais as expectativas dela, grau de liberdade que ela te dará para agir e criar. Então, é perceptível que agora são os profissionais que tomam decisões e não apenas acatam. 23


– Se for um trabalho como freelancer, você igualmente terá que estudar este mercado – diz. –, tomar conhecimento dos clientes, concorrentes e o que esperam do profissional e da pessoa que irá lhes atender. Assim, você mesmo define as competências necessárias à realização daquela atividade. Se essas gerações se darão bem com o mercado daqui para frente, basta esperar para ver. É uma incógnita. Há tipos e tipos de trabalhadores, assim como de empregadores. O mercado de comunicação sempre costuma estar alguns passos mais próximo da liberdade, mas ainda se prende a alguns antigos conceitos. Segundo Cleia, é importante saber que existem vários tipos de situações e rotular as pessoas não é uma boa prática. –Prefiro conhecer cada um em sua essência, na especificidade da sua história de busca profissional e pessoal, o que defino como trajetória de competências – finaliza ela. Hoje, cabe ao profissional de comunicação saber se deve ou não se encaixar em tal trabalho, submeter-se a tal ambiente, suportar tal chefia. Por natureza, ele é multitasking: cobre turnos, quebra alguns galhos, chega mais cedo e sai mais tarde. Resta saber se é ele quem quer mergulhar nessa realidade ou nadar em busca de outras. Mais do que nunca, a decisão cabe somente a ele.

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3 | ESCOLHA E EXPECTATIVA Por Sabryne Anne

De bermuda tactel e moletom, ele saiu da academia para compartilhar sua experiência de vida. Estamos em uma sala de aula da faculdade Ibes Unisociesc, de Blumenau. Rafael Bueno Alvarez, gaúcho com 27 anos de idade, nasceu na cidade de Pelotas. Morava com mãe, pai e um irmão dois anos mais velho. Desde pequeno, junto com amigos, sempre gostou de brincar com câmeras e microfones, imitando o que via na televisão. Rafael fez testes vocacionais para saber com o que mais se encaixava e os resultados sempre davam para cursos voltados a comunicação. Por um tempo, cogitou fazer Design Gráfico ou Publicidade, mas foi no ensino médio que escolheu definitivamente por Jornalismo. Uma grande influenciadora na decisão do curso, foi uma amiga que já trabalhava em emissora. Ela levou Alvarez para conhecer o estúdio onde trabalhava, os bastidores, e enquanto ela fazia sua função, ele observava como as coisas funcionavam. Ele sempre teve o pensamento de que quem escolhe o jornalismo, tem um diferencial, quer mudar alguma coisa, mudar a sociedade em que vive. Se faz jornalismo é porque gosta, aposta naquilo e vai até o fim. O jornalista não tem medo de arriscar, ele se joga. Ninguém pode mudar o mundo, mas pode mudar o pensamento de muitas pessoas. Saindo da escola, procurou pela graduação. Mas, na época, o curso de jornalismo só existia em faculdades privadas. Só a mensalidade já era maior que um salário mínimo, o que ficava inviável para alguém que recebia um salário de menor aprendiz. Então a solução foi fazer cursos menores, antes mesmo da graduação. Fez alguns como: comunicação audiovisual e artes visuais. Cursos que no futuro agregaria, e muito, na profissão. Entre um gole e outro de água, ele conta que foi na Universidade 25


Católica de Pelotas que, em 2008, conseguiu ingressar no curso de jornalismo, quando teve ajuda de uma bolsa de estudos. Foi nessa faculdade também, onde, já no terceiro semestre do curso, conseguiu o primeiro estágio na área. Como voluntário, ele era “pau para toda obra”. No canal universitário, onde ficou quatro anos, todos faziam um pouco de tudo. Como na emissora ele trabalhava só um período, aproveitava para fazer estágio remunerado no resto do tempo, que o ajudava a se manter. Quando estava no sétimo semestre do curso, Rafael se mudou para Blumenau. Além de querer novos ares, um dos motivos de ter se mudado foi porque perdeu a bolsa de estudos. No Rio Grande do Sul, ele conta que com a crise, nem estágios não estava conseguindo mais. Como nada mais o motivava pensou: “Ah, vou sair daqui”. Ele vê que esse problema ficou muito mais forte lá do que em Blumenau, ao menos na área de comunicação. E pensou no futuro. Na cidade gaúcha, o estágio é muito mais bem aceito e o jornalista já formado fica desvalorizado. Além do piso salarial ser bem inferior do que em Santa Catarina. Ele não conhecia nada de Blumenau, mas pesquisou várias cidades antes de decidir para onde ir. Toda faculdade que tivesse jornalismo e que ele pudesse ser transferido. Foi em 4 de agosto de 2014 que ele se mudou. Quando conseguiu a transferência, teve vários problemas, porque a grade curricular da antiga faculdade era inferior do que a da nova cidade, então teve de fazer várias disciplinas novamente, o que acabou o atrasando um monte. Mas não se arrepende, diz que tudo tem seu momento, acredita que foi uma boa escolha. Olha para trás e vê que, no Rio Grande do Sul, as pessoas estão penando para conseguir alguma coisa. Quando se mudou ficou um tempo desempregado, e passou a peregrinar por aí, deu a cara a tapa. Batia porta em porta, mandou currículo para vários lugares, adicionou todo mundo no Facebook, pegou cartões e contatos. Quando sabia de algum evento ou exposição que tinha imprensa, tentava estar sempre inserido. -Não basta ter um currículo bom, você precisa ser bem relacionado. Se você faz um estágio, trabalha, por exemplo, em assessoria, deve tentar estar em todos os eventos, conversar com 26


todo mundo, sugerir pautas diferentes e ter uma relação estreita com outros veículos, porque nunca se sabe o dia de amanhã. É isso que o pessoal mais novo, que está entrando agora na comunicação, precisa se atentar. Jornalismo é muito por indicação. Junta a experiência, os contatos e ser um bom funcionário. Precisa se comportar e fazer tudo direito. Precisa pensar no amanhã. Se cuidar para fazer sua função bem, no futuro pode estar em um cargo maior – Explica Rafael. O fato de já ter trabalhado na área de comunicação em Pelotas, o ajudou a conseguir a primeira vaga em Blumenau, que foi no Jornal de Santa Catarina, onde ficou um ano como assistente de conteúdo. Depois, se transferiu para a emissora RBS TV, onde já está há um ano como editor de vídeo. Levantando e abaixando a tampa da garrafa de água, que já está pela metade, ele conta que nunca pensou em desistir do curso de jornalismo, mas talvez em ter uma segunda graduação ou uma especialização em marketing. “Pois, com as novas tecnologias, o jornalismo está em uma crise de identidade, não se sabe mais o lugar do jornalista no mercado, não sabe onde se encaixar. São pessoas sem formação fazendo jornalismo, uns com responsabilidade, outros sem”, ressalta. Para Rafael a paixão pela televisão não desaparece. Mas, segundo o jornalista, uma coisa que desmotiva na área de TV, é que as redações estão cada vez menores. Pois boa parte do que sustenta a televisão é a publicidade, e as empresas estão trocando a publicidade convencional, pela feita na internet. Com essa crise no mercado e na política, existem muitas pessoas boas e qualificadas que foram demitidas. E se você não possui experiência, vai ficando para trás. A crise está mostrando que ótimos profissionais e experientes estão disponíveis, então se o recém-formado não tem um diferencial, é bem provável que não seja chamado para tal vaga. TRADIÇÃO E MUDANÇA

O que o jornalista precisa ter, é o espírito aventureiro. Para 27


algumas pessoas isso é ruim, com os relacionamentos amorosos e familiar. Pois, pensar em se fixar em uma cidade pode até ter boas oportunidade, porém se limitará a ter grandes chances de crescimento profissional. Blumenau é um polo têxtil, se optar por Blumenau, Design de Moda ou Tecnologia da Informação, que são áreas predominantes nesta cidade, é a escolha mais adequada. Na comunicação, os veículos são muito rotativos. Como pode estar tudo indo muito bem, vindo uma nova empresa, reerguendo e investindo em alguma empresa, pode acontecer de fecharem tudo e muitas pessoas indo para a rua e ficando sem emprego, como já aconteceu. O jornalista precisa estar sempre preparado para mudar. Rafael percebe que em Blumenau as pessoas são mais ligadas à família. Se estão infelizes, tentam achar outra coisa dentro da cidade, tentam arrumar o que não está bom. Talvez com a geração Y as coisas mudem. Geração que não tem mais paciência de esperar, de crescer na empresa, como antigamente, que o funcionário começava em uma determinada empresa, geralmente como estagiário, e assim esperava até atingir a diretoria. Hoje, se a pessoa não está feliz na função que exerce, ela pede demissão e vai embora. Padrão de imagem Diferente dos canais do Youtube, na televisão as pessoas precisam ter um padrão de imagem, o “padrão Globo”, onde se deve estar sempre bem vestida, maquiada e penteada. Rafael conta que já viu pessoas mandarem mensagem ou ligar para o canal, dizendo que o repórter está muito gordo ou malvestido. Como o que Rafael ama é a televisão e realmente gosta de aparecer em vídeo - ele que sempre esteve acima do peso - decidiu montar um projeto. Com nome de 50em1, o objetivo é perder 50 quilos dentro de 1 ano. Diz ainda que gostaria muito de trabalhar apenas com o projeto, mas por enquanto ainda precisa ter uma função com renda. Já tem dois apoiadores, a nutricionista e a academia onde treina. Rafael vendeu a ideia e eles compraram e apostaram no crescimento. Hoje, ele espera não só emagrecer, mas também, motivar pessoas. 28


4 | COM CORAGEM PARA SE SUPERAR Por Jéssica Luana Wollick

Quem nunca se deparou com a pergunta, “o que você quer ser quando crescer?”. Quantas vezes fomos questionados sobre o futuro, sobre o que fazer quando acabar o ensino médio, qual curso de graduação fazer, sempre pensando e depois, e depois. Jadina Analecto Ramos, quando criança, nunca desejou algo específico para si. Sua visão de futuro mudava o tempo inteiro. Num mês se via no papel de advogada, estudando leis e defendendo casos. Passado algum tempo, ela queria ser designer de moda, fazer lindos vestidos para suas clientes e participar dos mais badalados desfiles da moda. Quem diria que ela ainda teria planos para abrir um restaurante. Mas, entre um sonho e outro, o que será que realmente ela queria para sua vida? Moradora de Rio Fortuna, em Santa Catarina, Jadina se formou em Administração, cheia de dúvidas relacionadas a sua real vocação e, acreditando que não poderia ficar parada, sem fazer nada, resolveu se atualizar na área em que já atuava profissionalmente. Na época, ela era secretária administrativa em uma revenda de automóveis. O serviço na revendedora era para ela poder sobreviver, não o que a fazia levantar todos os dias feliz em sair de casa para trabalhar. Passar o dia em uma sala fechada, seguindo uma rotina não a satisfazia mais, não a fazia feliz. Hoje, por conta de seu casamento, ela cuida junto com seu esposo, dos negócios da família. Em sua propriedade rural cria gados de leite e suínos, que trazem o sustento deles. Jadina diz estar feliz, mas o seu entendimento sobre a vida é amplo, não se sente pronta para parar, quer mais. Aos poucos descobriu uma de suas maiores paixões, que na época que cursou a administração, acabou ignorando, sua vontade de escrever. “Sempre tive dificuldade 29


em concentração, e descobri que a leitura me ajudava, depois comecei a descobrir que eu poderia aprender muitas coisas através de livros. Então, uni o útil ao agradável”, revela Jadina. Ela possui dois contos publicados, “Talvez na lua” e “O pássaro que roubava sonhos” na coletânea, “Contos e Encontros”. Georgia Ionen Kohls e Maria Aparecida Melo Zaniz, acreditam que quando você é apaixonada pelo que faz, tudo se torna mais fácil. São administradoras por formação, mas encontraram na modelagem e costura sua verdadeira vocação. Possuem seu ateliê no centro da cidade de Pomerode, mas seus sonhos e projetos são ainda maiores. Maria revela que na época gostaria muito de ter feito outra coisa. Porém, a situação financeira não permitia e acabou optando pela administração. O que a ajudou na escolha foi que já trabalhava na área como analista financeiro. Ficou nesta área por muito tempo, porém decidiu se dedicar a sua paixão: a costura. “Já faz cinco anos que estou fazendo cursos na costura e modelagem e me apaixonei”, comenta Maria. Desde a infância gostava de costurar, herdou de sua mãe uma máquina de costura com 50 anos de histórias e muitos modelos costurados. Nela ficava por horas, sempre costurou lençóis, roupas para ela, e descobriu que essa paixão só aumentava, só fazia ela querer aprender e costurar mais. Georgia sabia o que queria fazer, queria cursar medicina veterinária, mas por falta de apoio, não seguiu adiante. Durante algum tempo ficou sem saber o que iria fazer da vida. Assim como Maria, Georgia também trabalhava na área administrativa e com dúvidas do que queria fazer. Optou por administração com habilitação em comércio exterior. “Trabalhei cerca de 15 anos na área administrativa, nos mais diversos setores. Fiz de tudo dentro da área e faz uns quatro anos que comecei a fazer diversos cursos voltado para costura e modelagem, como hobby, para passar o tempo, para fazer algo novo”, revela Georgia. Diferente de Maria, Georgia não sabia nada sobre costura, começou olhando vídeos e fazendo pesquisas na internet. Apesar de gostar muito, ela nunca levou a sério como profissão, nunca havia passado por sua cabeça. 30


Quando iniciou o curso de corte e costura e as pessoas começaram a pedir para ela fazer algumas peças e cada vez mais pessoas foram pedindo, foi só então que ela percebeu que poderia se tornar algo maior. “Pensei, bom vou dar uma chance para o meu hobby, para o meu sonho, pensei que legal, vou trabalhar com uma coisa que eu gosto e quem sabe render bons frutos”, comenta Georgia. Faz cerca de dois anos que montou um ateliê em casa e agora, surgiu a oportunidade de montar um espaço melhor, juntamente com a Maria, que conheceu durante o curso. O ateliê faz você se sentir em casa, com uma decoração delicada e bem sofisticada, um lindo papel de parede, desenhos de modelos, peças prontas nos manequins e um espelho enorme para as clientes se deslumbrarem em suas peças compõem o local, tudo nesse ambiente traz a energia do mundo da moda. “Amamos estar aqui neste espaço, foi uma descoberta incrível e nos apaixonamos todos os dias pelo nosso trabalho”, revela Maria. No atelier, elas estão dando os seus primeiros passos e não veem a hora de conquistar ainda mais alegrias com o que amam fazer. PELOS OLHOS DE UM COACHING Para se fazer o que realmente gosta, é importante ter a coragem para realizar mudanças em sua vida e não mais esperar que elas venham até você. O Coach Sérgio Rafael Siewerdt, de Blumenau, é formado pelo Instituto Brasileiro de Coaching – IBC, além de ser graduado em administração com ênfase em RH e pós-graduado em gerenciamento e gestão de pessoas. Atua há seis anos potencializando pessoas, auxiliando no processo de autoconhecimento. Quantas pessoas hoje se sentem desmotivadas por não fazerem o que gostam. Existem pessoas que simplesmente não conseguem reagir e vivem em sua zona de conforto, mesmo que infelizes com o que fazem. Porém, existem aquelas que não possuem medo, elas se arriscam, as que realmente fazem acontecer. “Seja protagonista da sua vida! Não espere que as coisas melhorem sem que você faça algo. Quantas pessoas escuto: ‘quando meu chefe perceber que já posso ser promovido, que posso re31


ceber um reajuste, ou ainda, talvez a mais comum de se ouvir em ambientes organizacionais, vou me qualificar se a empresa investir em mim’. Estes são os mais típicos exemplos, onde estas pessoas deixam o protagonismo de lado e “aguardam” por outras oportunidades, para que as coisas aconteçam”, revela Sérgio. Existem milhares de pessoas infelizes que estão esgotadas com a vida e o emprego que possuem. “Minha recomendação é: se este esgotamento emocional está relacionado com a felicidade e esta por sua vez envolve a atuação profissional, é hora de parar e refletir sobre o que pode ser feito a respeito. Costumo reforçar com meus coaches (clientes), que devemos ser o protagonista em nossas vidas, encarrar as mudanças como grandes oportunidades e, consequentemente, evoluir com cada acerto e, porque não, quando houver um tropeço. Toda e qualquer situação vivenciada vai te trazer um aprendizado, para isto, basta que você assuma verdadeiramente uma postura resiliente”.

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5 | O EMPREENDEDORISMO E O BROWNIE Por Clara Madrigano

Em agosto de 2016, um artigo publicado no jornal Estadão, por Ruth Manus, provocou um pequeno abalo sistêmico no mercado de trabalho; uma onda que começaria devagar, mas que ganharia força e volume nos dias por vir. Intitulado “A geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão”, o texto propunha analisar a vida de pessoas que, descontentes com a própria situação profissional, encontraram caminho no empreendedorismo. “Amigos” da autora, que tinham abandonado cargos importantes, de ótimo retorno financeiro, pelo prazer de usufruir do transporte público de países estrangeiros. Não demorou para que o artigo encontrasse críticos, e por uma razão bastante pertinente: Manus, talvez pretendendo um clamor que atingisse todas as esferas da população, não percebeu que seu texto só falava a uma camada muito pequena dela. Em decidindo colocar como universais as experiências de seus amigos, seu círculo de pessoas privilegiadas, de classe média, de estudos completos, o texto de Manus ignorou a parcela que compõe a parte mais significativa do mercado de trabalho: o 99%. Os trabalhadores e empregados que mal ganham para se sustentar por um mês. Aqueles que não podem se dar ao privilégio de considerar o que seria abrir mão da única segurança financeira que têm para investir em sonhos incertos. Empreendedorismo, a ideia que o economista Joseph Schumpeter ajudou a disseminar em sociedade, é um conceito que, em tempos de Steve Jobs e Mark Zuckerberg, tornou-se uma espécie de fetiche: é a suposta culminação do modelo perfeito do capitalismo, a ideia do homem como seu próprio chefe. É um sonho que Fabíola Machado perseguiu. Formada em Educação Física, ela dava aulas de dança antes de abrir seu próprio 33


negócio, a doceria Petit Brownie. Ela cresceu numa família de cozinheiras, e aprendeu bem a arte. “Já vendi brigadeiro no ballet, fazia os bolos de aniversário das amigas e me oferecia pra cozinhar nas viagens da turma,” conta. Profissionalmente, porém, só decidiu usar seus talentos na confeitaria depois de dez anos como professora de dança. A princípio, a Petit Brownie buscava se restringir ao próprio nome: produzir e vender brownies, com Fabíola conciliando as duas carreiras. Ela nunca cogitou “largar tudo.” Mas, com o tempo, o que entendia como uma atividade extra cresceu de forma surpreendente, com a demanda e o número de clientes crescendo, e Fabíola tendo de optar pelo emprego assalariado e seu próprio negócio. Ela optou pelo segundo. Ainda em agosto de 2016, algum tempo depois do texto de Ruth Manus ter repercutido por todas as redes sociais, a blogueira Yasmin Gomes publicou, no site de networking profissional Linkedin, uma resposta: “A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo ou vender brigadeiro”. Com seu texto, Borges decidiu endereçar as questões pertinentes que Manus havia subestimado em sua ode ao empreendedorismo. A mais óbvia, a noção de que empreender é algo relativamente simples, e de que a única coisa a manter uma pessoa presa a um trabalho de carteira-assinada é sua própria má-vontade. Persiste a ideia de que empreender só requer dedicação. “Jamais pense que, sendo dono do próprio negócio, você irá trabalhar menos, dormir até tarde, ter mais sossego, tirar férias quando quiser. É a maior ilusão de quem nunca teve uma empresa”, afirma Fabíola Machado. Quando abriu a Petit Brownie, produzia os pedidos direto de casa, e contava com a ajuda da família e do marido, na época seu namorado. “Eu me sentia muito sobrecarregada com todas as funções e inexperiência com a parte administrativa. Fazia compras, preparava os doces, vendia, postava as fotos nas redes sociais, entregava e ainda tinha que cuidar das contas”. Fabíola também relata a falta de experiência com a parte financeira de se ter o próprio negócio: “Não entendia nada de contabilidade, nota fiscal, entrada e saída de caixa, custo do produto (versus) valor de venda. Quando se tem dinheiro, as coisas ficam muito mais fáceis. Você pode pagar um contador, pagar um advogado, pagar um coa34


ch, contratar os melhores para sua empresa. Não era o meu o caso, e sei que não é o da maioria dos empreendedores do Brasil”. A tecnologia trouxe muitas formas diferentes de se pensar um negócio. A internet, em muitas ocasiões, dispensou a necessidade de uma empresa ter uma sede física, criando marcas inteiras que se sustentam apenas no ambiente virtual. E, como esperado, a internet não apenas sustenta alguns negócios, mas também é usada para sua concepção. Sites de financiamento coletivo, como o Kickstarter e o Catarse, há alguns anos ajudam projetos e pequenos negócios a captar o capital necessário para se iniciar atividades. A hamburgueria Zebeléo foi anunciada como um projeto impossível de não dar certo. Para começar, era capitaneada por Leonardo Young, vencedor da terceira temporada do reality show culinário MasterChef. Além de Young, também formavam a Zebeléo Zé Soares, blogueiro, e Bel Pesce, a afamada “Menina do Vale”, empreendedora formada pela universidade americana MIT. Em teoria, a hamburgueria tinha tudo que era necessário para apelar ao público jovem adulto que movimenta as redes sociais e os sites de financiamento coletivo. Apenas em teoria: porque, em questão de dias, a hostilidade que o projeto recebeu foi suficiente para fazer com que o trio por trás dele abandonasse a campanha. Assim que a empreitada foi anunciada, as redes sociais se encheram de pessoas condenado o uso do site de financiamento coletivo. A crítica girava em torno de um ponto simples: por que um vencedor de reality show e uma empreendedora rica precisavam de dinheiro alheio para abrir uma hamburgueria? Diante de uma recepção tão fria, a captação de recursos para a Zebeléo foi suspensa, e os responsáveis retiraram o projeto do ar. Young, em declarações posteriores, defendeu-se, dizendo que “não tem nada de desonesto, de picaretagem, em fazer crowdfunding.” Em entrevista ao site UOL, afirmou que o financiamento da Zebeléo, que buscava uma quantia de 200 mil reais como objetivo de financiamento, não enriqueceria ninguém, porque não se abre restaurante com 200 mil reais. “Esteja disposto para atender telefonemas de clientes, fornecedores e funcionários em qualquer hora do dia, esteja disposto para levar o notebook na viagem de férias e, principalmente, 35


a acordar e dormir pensando em trabalho,” diz Fabíola Machado, sobre o que aprendeu com a Petit Brownie. Hoje, o que começou como um projeto para criar renda extra, é sua carreira; se a Petit Brownie nasceu na cozinha de casa, agora Fabíola conta com um atelier; se concentrava-se apenas em brownies, hoje faz bolos para cerimônias de todos os tipos, e Fabíola já deu entrevistas para sites como o R7, contando sua jornada de professora de dança a chef confeiteira. Sem um capital inicial de 200 mil reais. Mas também sem nenhuma ilusão dos custos reais do empreendedorismo. No mundo em que vivemos, onde pessoas estão presas a uma jornada de trabalho pesada, e onde não podem abrir mão dessa segurança, o salário que é prometido a cada novo mês, não são todos que podem correr atrás de ideia; que podem largar tudo para vender brigadeiro. Mas, às vezes, com o esforço e o investimento necessário, é possível vender brownies.

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6 | TRADUZINDO NÚMEROS EM COMUNICAÇÃO Por Bruna Nicoletti

Que a internet revolucionou o mundo, isso todos sabem. Ela não apenas transformou, mas fez com que o mundo olhasse para a tecnologia de uma forma diferente. Há 60 anos a sociedade via pela primeira vez a facilidade que a rede mundial de computadores proporcionaria para os usuários, naquela época nem sonhávamos que todos estes milhares de recursos estariam disponíveis. Mas será que alguém imaginaria que com toda essa mudança, uma única pessoa poderia fazer um jornal? Seria loucura que um único jornalista pautasse, escrevesse, editasse e diagramasse todo conteúdo sozinho. E da mesma maneira, alguém poderia imaginar que seria possível adquirir uma formação acadêmica ou técnica on-line? Será que conseguiríamos abandonar o que temos atualmente? As compras, a navegação em busca de notícias e até o envio de textos, fotos e vídeos que são apagados (o Snapchat) se tornaram rotina para muitas pessoas. E engana-se quem pensa que isto vale apenas para as novas gerações. Isso vale para todos. É com todos esses recursos acessíveis que muitas mudanças ocorreram em várias partes da sociedade. E com toda certeza que o jornalismo foi impactado. Ler um jornal on-line? Ver posts dos grandes jornalistas em sua rede social? Tudo isso se tornou cotidiano e habitual. Fabrício Wolff, jornalista, conta que o digital provocou, positivamente, o fim da comunicação unilateral nos meios de comunicação. Por isso, a partir de agora, o jornalista precisa sair melhor preparado da graduação. 37


As mudanças no jornalismo são nítidas. Antigamente páginas com imagens, vídeos, hipertextualidade e a instantaneidade já eram consideradas grandes evoluções no jornalismo. Atualmente existem três vertentes para reinventar e crescer neste meio digital: a melhoria de estrutura das páginas com análises e utilização de ferramentas, a construção de conteúdo e o aproveitamento das mídias sociais. ESTRUTURA COM ANÁLISES E UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS Para que uma página seja “acessível”, o layout é bem importante. De acordo com Renan Moreira Oliveira, engenheiro de dados do site Globo.com, um dos processos que podem ser utilizados é o Teste A/B, que nada mais é do que dividir o tráfico de dados da página em duas versões, uma que seja a atual e a outra que proporcione uma grande diferença. Com isto é possível descobrir qual delas possuiu uma taxa de maior aceitação pelo público. Renan destaca que a Globo.com utiliza os testes para duas finalidades: “Validar mudanças visuais no site, como a cor de um box, por exemplo. E também para melhorar algoritmos de recomendações”, esclarece. Essa ferramenta oferece um feedback real de mercado, do que os usuários gostam. Já que seu resultado é apresentado com a prática e não apenas pela sua resposta, são fatos consolidados. Vale frisar, que para auxiliar na construção de um site, é recomendável que seja utilizada a técnica de Experiência de Usuário, que também é chamado User Experience (UX), aplicado para mensurar a satisfação do usuário em relação ao site ou ao conteúdo. Com este método é possível definir alguns elementos do serviço, como por exemplo, o estilo de fonte, cor e a distribuição da informação. Para Fábio Ricardo de Oliveira, especialista em Jornalismo Digital, é importante que o jornalismo utilize esse recurso para que o leitor encontre o que procura. “A arquitetura da informação é imprescindível para que o usuário não apenas encontre com facilidade aquilo que procura, mas também receba as informações que 38


o portal julgue importante que ele saiba”, explica. Na Globo.com são utilizados algoritmos que buscam entender o comportamento do leitor e então sugerir outras matérias. De acordo com o Renan, parte-se de um princípio em que as pessoas tendem a preferir ter acesso as coisas de seu interesse ou que outras pessoas parecidas com elas, gostam de ver. Ou seja, este próprio nicho de mercado precisa se reinventar para conseguir atrair e, principalmente, manter seus usuários próximos. Para ajudar a obter este resultado, umas das ferramentas que pode ser utilizada para investir é o Google Search Console (GSC), em que basta cadastrar um arquivo na plataforma. Para Lizandra Muniz, Analista de Marketing e Social Media, além da busca, a ferramenta oferece outras vantagens para o usuário. “O Google Search Console é muito importante também para entender todas as páginas do seu site e blog e buscar por possíveis erros que podem estar afetando a performance do site e a experiência do usuário”, explica. Para verificar os números de acesso, entre vários outros dados, é recomendável utilizar o Google Analytics, ela oferece relatórios completos que mostram número de visitantes, os que retornam à página, sua origem (de onde os usuários estão vindo), resultados de e-commerce entre outras informações. Para Lucian Cesar Silva, jornalista e redator técnico, a ferramenta é essencial para analisar se todo o trabalho feito está trazendo bons resultados. “Quando se tem o código do Analytics em um site de jornalismo é fácil identificar as matérias mais acessadas pelos internautas, qual o horário de pico do site e como o internauta chegou até ele”, comenta. CONSTRUÇÃO DE CONTEÚDO Um destaque atual é o jornalismo de dados, que não é simplesmente uma reportagem com números, mas uma maneira distinta de examinar os dados com maior detalhamento. Esta área do jornalismo traduz informações complexas em textos estruturados, infográficos e histórias que permitem ao leitor um entendimento mais claro. A construção deste tipo de conteúdo requer que o pro39


fissional tenha o conhecimento e capacidade de apresentar todas estas informações complexas. Para Natalia Mazotte e Marco Túlio Pires, organizadores da Escola de dados, o jornalismo de dados não deixa de ser o bom e velho jornalismo, bem apurado e documentado. Mas o que fez emergir essa perspectiva de uma nova “área”, foi uma mudança tecnológica que gerou uma necessidade de adaptação das técnicas jornalísticas de apuração e publicação. O consumidor de notícias se interessará muito mais por um comunicador que explica através de infográficos e imagens este aumento. O jornalista que busca como embasamento para sua reportagem os dados, pode explorar cada detalhe e apresentar informações valiosas, que servem como fatores decisivos para a vida pessoal e profissional de alguém. Na série britânica Black Mirror, de 2011, o episódio Be right back apresenta a história de uma jovem esposa que perde seu marido em um acidente fatal e repentino, e durante seu funeral recebe a indicação de um software que ajuda a superar a saudade. Este software coleta todas as informações publicadas na internet e a permite conversar com seu marido por e-mail e ligações. Surreal e tecnológico. APROVEITAMENTO DAS REDES SOCIAIS Quantas redes sociais que estão a nossa volta, nos bombardeando de informações, sejam elas através de anúncios, imagens e publicações direcionadas a outras páginas. As redes já estão conosco há mais de uma década e desde então revolucionaram o modo de fazer comunicação. Cada publicação tem objetivo de informar e divulgar algo ao usuário. Não é incrível como elas fazem sentido ao olhar nossa timeline? É possível perder (ou ganhar) um bom tempo apenas analisando as notícias e comentários que nos enviam. Para a jornalista Gabriela Godoy, o principal difusor de informações é o Instagram, ela consegue passar horas olhando as imagens e obter informações importantes sobre os assuntos que tem interesse: “Pra mim, olhar as imagens do Instagram apenas com algu40


ma chamada é o importante. Sou muito visual. Então caso algo me chame muita atenção, basta eu acessar o link pra ter mais informações”. Desenvolver uma comunicação eficaz nas redes sociais requer não apenas conhecimento da escrita. É preciso chamar atenção para envolver o leitor. O jornalismo precisou se adequar às novas tecnologias e meios de comunicação que foram aparecendo. Um novo modo de propagar as notícias precisou ser feito, ou melhor, ser adaptado aos usuários. Era necessária uma reinvenção. Toda essa dinâmica num primeiro momento pode parecer fácil, mas há muito por trás da construção de uma notícia para as mídias sociais. São necessários cuidados e análises cruciais que permitem compreender os usuários e alcançar ainda mais acessos. Visando a credibilidade, é possível fazer uma comunicação precisa, adquirindo confiança daqueles que acompanham.

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7 | O MARKETING NA ERA DIGITAL Por Gilmar Pliska

Com o surgimento da internet e o seu rápido crescimento mundial, ela trouxe inúmeros benefícios e, também, abriu muitas portas para o mundo virtual. Grandes empresas conseguiram divulgar suas marcas através do “www” e trouxeram uma nova forma de pensar o mercado digital. De olho nas novas plataformas digitais, que a internet oferece atualmente, é que os empresários estão investindo em uma nova área de mercado na qual a pretensão é solidificar sua marca: Marketing Digital. Mas você sabe o que é um profissional de Marketing Digital? O marketing digital, além de ter um custo mais baixo na questão das divulgações de marcas, produtos e serviços oferecidos através da internet, também exige que as empresas tenham os profissionais adequados para desempenhar a função. Mas será que realmente as empresas investem em seus funcionários, ou será que na hora da contratação eles exigem que o empregado já tenha a experiência na função? Raquel Moritz, formada em Publicidade e Propaganda, pelo Instituto Blumenauense de Ensino Superior – Ibes Unisociesc, acredita que as empresas devem sim investir e capacitar seus funcionários, ainda mais se for para cobrar resultados mais específicos deles. “O profissional que quer se manter no mercado e crescer também precisa correr atrás por conta própria. E o que não faltam para isso são sites, livros, webinars, palestras, minicursos e cursos longos para aprender e renovar o conhecimento. Empresas são feitas de pessoas, e é inevitável que pessoas errem, então é bom frisar: não tem fórmula, você pode (e provavelmente vai) errar, mas precisa saber identificar o erro, para aprender com ele e ter apoio e maneiras de corrigi-lo”, destaca a publicitária. Sabemos que ainda hoje existem empresas que durante as 42


seletivas de candidatos a uma vaga de trabalho, exigem deles as experiências que a função determina, e assim a empresa não precisa perder tempo e nem investimento naquele determinado funcionário, mas também sabemos que existem muitas empresas que dão essa opção de aperfeiçoamento e aprimoramento para os seus empregados. Em uma conversa descontraída com Daiana Warmling, gerente há 11 anos na Loja Cherie Noivas, na cidade de Blumenau, e que também é proprietária da Loja Virtual Daifel há três anos. De acordo com Daiana na loja que ela gerencia, eles estão investindo muito em um grupo interno de WhatsApp, onde as funcionárias fazem a coleta de imagens e informações que são repassadas a elas pelas próprias clientes. Daiana ressalta que “é muito importante que a empresa invista nos seus funcionários, pois isso acaba ajudando ambas as partes’’. A empresária comenta ainda que no caso da Cherie Noivas, na verdade quem acaba por fazer todo o marketing digital da loja são os próprios clientes, “pois são eles quem fornecem todo o material e que depois das fotos publicadas na fanpage da loja, eles é quem acabam por compartilhar na página pessoal de cada um, e isso, com certeza, gera uma imensa visualização dos produtos oferecidos pela loja”. Mas qual é a verdadeira vantagem para uma empresa investir em seus funcionários nessa área digital? E de que maneira eles podem estar capacitando estes profissionais adequadamente? Quem vai nos dar algumas dessas respostas é a consultora de marketing digital Camila Renaux Zadrozny. Camila Renaux é pós-graduada em marketing estratégico e em gestão de negócios digitais. Sua formação inclui cursos nacionais e internacionais sobre marketing de busca, mobilidade, arquitetura da informação, inovação e gestão de projetos. Ela também é editora do blog Marketing Drops, professora e palestrante. Atua como consultora na área de marketing digital e e-commerce auxiliando empresas e marcas a alcançarem seus objetivos através da internet. Camila relata que o cenário é de investimento. “O digital já é uma realidade consolidada no mercado nacional e para acompanhar as expectativas de clientes, as agências tem incentivado a capacita43


ção de seus colaboradores em cursos mais generalistas e também realizado treinamentos in company, focados em suas necessidades especificas”. Ela ainda complementa dizendo que, “é cada vez mais comum ouvir dos profissionais relatos sobre estudos frequentes, mesmo que pós expediente, seja consultando blogs, e-books, vídeos ou grupos de discussão nas redes sociais”. Aqui também vale lembrar mais uma vez do que nos disse a publicitária Raquel Moritz, se a pessoa que realmente quer aumentar o seu nível de conhecimento e adquirir novas experiências, ela não pode ficar só esperando que a empresa lhe ofereça esses atributos, o indivíduo tem que correr atrás por conta própria, e também como a Camila nos relatou não faltam opções nem materiais para estudar e pesquisar, basta ter vontade e determinação que tudo se torna mais fácil. Fábio Ricardo é jornalista, professor e atua há 15 anos com conteúdo digital. Fábio diz que a melhor definição para marketing digital é que não existe marketing digital, “o que existe é o marketing aplicado a uma realidade digital. Não é possível pensar o marketing digital separadamente do marketing como um todo, da mesma forma como o marketing não pode ser isolado do marketing político, do social, etc”. “O marketing, como um todo é definitivamente necessário para uma empresa, de qualquer porte e de qualquer área. Dentro de uma empresa de comunicação isso fica ainda mais óbvio e necessário. No caso do marketing digital, ele é a onda do momento por oferecer custos mais baixos, resposta imediata, possibilidade de monitoramento e métricas em tempo real. Uma empresa de comunicação que não domina o marketing digital não acompanhou as exigências do mercado atual e ficou parada no tempo”, ainda define ele. E com o surgimento de novas opções oferecidas pelo universo digital, realmente a empresa que não optar por seguir essas evoluções, com certeza irá ficar para traz perante a suas concorrentes, a todo momento surgem novidades na área digital, ferramentas que possibilitam e facilitam muito para a melhoria do desenvolvimento e crescimento da empresa, a tecnologia vem se inovando a cada segundo, e está cada vez mais difícil viver sem ela. 44


E o marketing digital é uma opção indispensável no meio digital, pois é através dele que as empresas, tanto as do meio de comunicação, quanto as demais áreas necessitam para expor seus produtos e serviços. É nesse campo que elas acabam encontrando novas possibilidades de negócios, porque hoje em dia tudo está ligado à internet, e os novos clientes do universo digital estão sempre ligados a tudo o que surge de novo nas redes sociais. E falando em redes sociais, é no Facebook que podemos encontrar muitas formas de se fazer o marketing digital. É o meio de comunicação mais utilizado pelas pessoas, além de ser uma página de relacionamento pessoal, ela também passou a ser uma grande janela para o mercado digital. É comum ver grandes, médias e pequenas empresas investindo em anúncios através da plataforma, muitas delas acabam por criar perfis na página e, assim, vão publicando seus produtos e serviços. A plataforma do sistema oferece aos seus clientes a opção de impulsionarem as suas postagens, e isso acaba gerando uma maior visualização do produto anunciado. Além de o gasto ser bem menor se comparado com as formas tradicionais de se fazer marketing tradicional. Assim como o Facebook, existem outras opções de redes sociais que as empresas podem estar se utilizando para divulgarem os seus trabalhos, o Instagram também é uma outra ferramenta à disposição para se fazer o marketing digital, uma das opções do Instagram é o uso da hashtag, antes da palavra.Isso ajuda na hora do cliente buscar pelo serviço ou produto que deseja, auxiliando na rapidez da procura e também a torna mais rápida. Hoje existem empresas que liberam o uso dessas ferramentas como o Facebook e o Instagram aos funcionários, pois acreditam que isso também ajuda muito no desempenho e na forma de divulgação da empresa, assim como a gerente da Cherie Noivas, Daiana havia destacado anteriormente, quando se dá essa liberdade ao funcionário ele tende a colaborar com a divulgação da empresa, pois como todos estão conectados às redes sociais, e tudo o que acontece é publicado imediatamente no perfil do usuário, ela diz que, “até uma simples paradinha para o café acaba virando uma forma de propaganda para a loja, pois a pessoa imediatamente posta a foto seguida do check-in, com o endereço onde a imagem foi tirada”. 45


“Uma empresa é composta por pessoas. Por isso, mesmo que a empresa se posicione junto ao mercado como inovadora, nada irá acontecer neste sentido se as pessoas que trabalham lá não têm capacitação e atuação inovadora. Capacitar seus funcionários e trazer profissionais especializados em marketing digital é essencial para empresas de comunicação e de qualquer outra área. É preciso estar em sintonia com as tecnologias para se comunicar com seu público da maneira correta”, comenta o professor Fábio. Com tantas mudanças e inovações, oferecidas pelo o mundo digital hoje em dia, é muito importante aproveitar cada empresa aproveitar a oportunidade dada para que dessa forma possam crescer cada vez mais e mostrar ao mundo a sua importância, e por isso, é válida toda e qualquer forma de incentivo que eles dão aos seus funcionários. Desta maneira ambas as partes conseguem alcançar o objetivo proposto. Na era digital ninguém pode ficar parado, pois caso isso aconteça, com certeza não irá resistir e acabará ficando no meio do caminho, com tantas opções oferecidas aos usuários da internet, sempre terá material para ser explorado e assim irem se aperfeiçoando cada vez mais no meio digital e assim também irem realizando novos trabalhos, pois hoje trabalhamos em questão do marketing digital, mas amanhã ou daqui cinco anos qual será a nova tendência?

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8 | A IMPORTANTE FUNÇÃO DOS APLICATIVOS Por Sandra Francisco

Existem milhares de pessoas no mundo hoje usando aplicativos, seja no dispositivo móvel ou pelo computador. E este número cresce a cada dia. De acordo com Segredos Geek, o Facebook ainda é a rede social mais utilizada do mundo. Em 2014, o Twitter registrou aumento de 25% na base de usuários, o Instagram atingiu no mesmo ano a marca de 300 milhões de usuários ativos. O WhatsApp ultrapassou a marca dos 700 milhões de usuários. Hoje em dia há uma infinidade de aplicativos que servem para facilitar a vida dos usuários. Wilson Pereira Junior, de 28 anos é fotógrafo, perguntei a ele qual aplicativo que ele usava. Wilson respondeu que são vários, mas geralmente é o de edição de fotos por conta de sua paixão pela fotografia. Segundo ele, os aplicativos vieram para facilitar e diminuir o tempo gasto para resolver algumas coisas. “O aplicativo consegue concentrar vários trabalhos com apenas alguns cliques, ajuda a solucionar problemas, sintetizar trabalhos e entretém também”, Wilson destaca. Dos vários tipos de aplicativos, ele recomenda um aplicativo que vem ganhando espaço no Brasil, o Periscope. “Nesse App você se conecta com pessoas do mundo todo e conversa por meio de vídeos”, o fotógrafo recomenda. As empresas também estão mais com estratégias para chamar atenção dos seus clientes. Muitas desenvolvem aplicativos personalizados, para um melhor atendimento, estreitando o relacionamento empresa e cliente. Incrível como alguns aplicativos são interessantes. Há alguns dias estava no mercado e vi uma moça com o celular na mão direcionado nos códigos de barra dos produtos. Como estava coletando material sobre o assunto criei coragem e perguntei a ela: 47


-Moça, o que você está fazendo? -Estou pesquisando o preço desses produtos - Ela me respondeu. Olhei para ela e disse: -Mas porque não usa a maquininha? -Na verdade é mais fácil fazer no celular, porque fica gravado, e posso comparar com o preço em outro mercado. Fiquei curiosa e fui pesquisar sobre este aplicativo. Descobri que há vários aplicativos para a leitura de código de barras, como por exemplo o Tacoty App. Instalei no meu dispositivo móvel, e realmente funciona. Agora, quando vou ao mercado ou farmácia, faço a leitura de qualquer produto que eu vejo. Alguns aplicativos que são essenciais nos dias de hoje: Facebook: é um aplicativo prático onde se pode compartilhar fotos, fazer vídeos, trocar mensagens, comentar o que os outros postaram, entre outras coisas. Instagram: é um aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos on-line. Snapchat: é uma rede social exclusiva para Android, Iphone e Ipad. Os usuários podem tirar fotos e mandar por mensagens de uma forma diferente, em que fica postado por alguns segundos depois se apaga automaticamente. Skype: é um aplicativo de chamadas de voz e vídeo on-line. É possível conversar com pessoas do mundo todo de forma simples. Twitter: São postagens na qual permite mandar mensagens de até 140 caracteres, é uma das redes de micro blogs que é mais utilizada nos dias atuais. WhatsApp: Teve seu lançamento em 2009, é um aplicativo que possibilita enviar mensagens de texto, vídeo e áudio, também ligações, e outras funções. Duolingo: É um aplicativo que o usuário pode aprender outras línguas. Com um cadastro, os usuários podem utilizar a ferramenta didática para aprender novos idiomas. Google Earth: É um aplicativo de mapas que utiliza imagens em três dimensões. Weather Underground: disponível para Android, IOS e web, é um aplicativo de meteorologia, baseado em dados os usuários podeM saber a previsão do tempo com precisão. 48


Shazam: é um aplicativo onde o usuário pode ver qual é a música que está tocando no momento, ele mostra o nome da música e o artista, se o usuário colocar o dispositivo perto do som que está tocando. Trakto PRO: Nesse APP o usuário cria a proposta com as informações necessárias, e coloca no aplicativo. Dessa forma, ele calcula o valor de um projeto e produz uma proposta comercial para o serviço cadastrado. Deezer: é um aplicativo de streaming de músicas, e conta com um acervo de mais de 30 milhões de músicas. O aplicativo possui rádios que misturam as suas músicas preferidas com recomendações da equipe do Deezer. Também conta com uma série de editores que ouvem os mais novos sons para recomendar aos usuários. Radar: Dá as últimas notícias produzidas pela assessoria de imprensa do TER. Mesários: São informações para os mais de 2 milhões de pessoas que trabalharam nas eleições, com instruções, orientações e perguntas. Candidatura: o eleitor pode acompanhar tudo sobre seu candidato, inclusive algumas preferencias, registro da candidatura, cargo partido, coligação etc. Os aplicativos são de suma importância para quem sabe usar. E para quem quer aprender é uma ótima ferramenta, já existem aplicativos para ensinar o usuário a baixar um aplicativo, e são infinitos Apps para as pessoas baixarem e explorarem o que quiser.

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9 | ESGOTAMENTO EMOCIONAL, VOCÊ SE IDENTIFICA? Por Pâmela Dickmann

Telefone tocando, mesa coberta por rascunhos cheios anotações, 356 e-mails para responder, chefe mandando mensagem cobrando um resultado melhor, minha irmã chamando para levá-la à escola e minha cabeça pensando nos trabalhos da faculdade. É uma segunda-feira, 6h50 da manhã. Apesar da semana estar apenas começando, já me sinto com sono. Três pessoas me ligaram durante a madrugada. Bom, antes deixa eu explicar para vocês minha profissão. Trabalho na central de reservas de um hotel da região. Não sei se é porque trabalho nesta área que as pessoas acham que sou uma máquina, ou se as pessoas são extremamente ansiosas. Essa é minha rotina, mas além da minha, existe muitas outras. Inclusive a sua, não é mesmo? Esses dias estava apenas olhando minha rede social quando uma matéria me chamou atenção. A notícia tinha sido recentemente publicada pelo site Es hoje. O título dizia: “Síndrome de Burnout afeta 30% dos profissionais brasileiros”. Quando comecei a ler a matéria pensei no trabalho que tinha que entregar na faculdade, para o qual tínhamos que levar um assunto dentro do tema “o novo profissional”. Sim, esse que as empresas estão procurando, uma pessoa multifuncional. Assim veio a dúvida: mas o que essa síndrome tem a ver com o novo profissional? A Síndrome de Burnout, é também conhecida como Síndrome do Esgotamento. Resultado de uma exaustão física e mental relacionada a vida profissional da pessoa. Esse “transtorno” foi identificado em 1974, por um psicanalista americano chamado Freudenberger. O termo Burnout significa que o esgotamento profissional danifica as condições tanto físicas, quanto as emocionais. Traduzindo a sigla do inglês, Burn significa queimar e out, exterior. Ao observar o estado físico e mental de alguns jovens vo50


luntários que trabalhavam em sua clínica em New York, Estados Unidos, Freudenberger começou a estudar sobre o assunto. Os adolescentes se esforçavam profissionalmente, deixando de fazer algumas questões pessoais para alcançar, o quanto antes, os objetivos do psicanalista. E isso, sem receber recompensa alguma pelo esforço. Com isso, Freudenberger constatou que passados um a três anos, o desempenho deles já mostrava uma outra conduta. Essa de irritação, esgotamento físico e desrespeito com pacientes. Apesar de que há décadas já se fala sobre o assunto, no Brasil ele se tornou mais forte nos últimos anos. Isso por que esse novo estilo de vida contribuiu para o desenvolvimento da síndrome que pode ser encontrada em qualquer profissional, principalmente, quem tem uma influência direta na vida de outras pessoas. Como é o caso de jornalistas, médicos, enfermeiros, professores, advogados e inclusive os voluntários. Quinta-feira, 22 de outubro, estava assistindo a algumas entrevistas de colegas de faculdade na aula de telejornalismo. No meio da conversa com a entrevistada, Cynthia Hansen, Professora de Comunicação Social do Ibes, escutei que ela comentou sobre a Síndrome de Burnout. Algo que me chamou atenção, não imaginava ser um assunto tão conhecido. Aquilo ficou na cabeça, e passada uma semana, convidei ela para conversarmos no horário de intervalo de aula. Sentadas em uma sala quadrada, pequena e de paredes brancas, Cynthia começou a contar a história dela. No mesmo momento em que estava terminado o mestrado, já havia começado o doutorado. Nervosismo, insônia e falta de controle da emoção já havia virado rotina. Enquanto preparava a dissertação para a banca, estudava para provas do doutorado, substituía uma amiga – professora - que estava em licença maternidade na Univali, em Itajaí e à noite ainda dava aula na Unisociesc, em Blumenau. De repente, no meio dessa rotina louca, Cynthia percebeu que estava num estado em que não se reconhecia. Começou a pensar em como estava, e então resolveu procurar ajuda de um amigo Psiquiatra, chamado Gregory Haertel. Explicou a ele que ela não tinha como parar o ritmo de vida dela naquele momento, mas que precisava dormir e não conseguia. Gregory, inicialmente, ofereceu 51


um remédio para dormir. Apesar de não gostar de tomar remédios, aceitou, era a única solução no momento. Após defender a dissertação do mestrado, estar fazendo o doutorado e passar por essa rotina de trabalho muito corrida, Cynthia começou a ficar doente. Algo que ela não faz é faltar no trabalho, mas a imunidade dela havia baixado tanto, que chegou a ficar dois dias em casa. Depois de um tempo, um pouco melhor, ganhou férias no trabalho e resolveu ir viajar. De carro, o destino foi o norte da Argentina, uma viagem de quinze dias, com um casal de amigos. A viagem foi longa e em um momento, depois de milhares de assuntos que conversaram, alguém puxou um assunto sobre trabalho. “Naquele instante me deu um negócio, começou a me subir um calor, comecei a ficar irritada e eu só consegui olhar para ela e dizer: vamos mudar de assunto, por favor? Daí quando entramos no carro, para continuar o passeio eu olhei para meu marido e disse: eu não estou bem ”, conta Cynthia. Depois de alguns dias, quando retornaram ao Brasil, ela não pensou duas vezes antes de ligar para seu Psiquiatra e marcar uma consulta. Cynthia contou a ele tudo que estava passando: o estresse, insônia, imunidade baixa, perfeccionismo, trabalho, ente outras coisas. Gregory olhou para ela e disse: você está com princípio de uma Síndrome de Burnout. Chegando em casa, foi pesquisar mais sobre o assunto e viu que os sintomas realmente batiam. Cynthia começou a fazer tratamento com alguns remédios recomendados pelo psiquiatra, e então, ao longo do tempo, sempre que conseguia a dose dos remédios, algo de muito diferente acontecia em sua vida que o deixava pior. Assim, desde 2013, apesar de já estar tomando uma dose menor que no início, Cynthia continua o tratamento, frequentando o consultório a cada dois meses. “Não é uma questão de querer, é um problema químico que acontece no nosso cérebro e não temos como controlar o efeito disso sem tratamento”, comenta. Para superar a síndrome do esgotamento é necessário buscar ajuda terapêutica e psicológica, como foi o caso de Cynthia. Os especialistas têm várias técnicas conforme a necessidade de cada pessoa, como treinamento para que consiga falar “não” quando for 52


preciso; procurar novas formas de lidar com as pessoas do trabalho; treino de relaxamento com respiração diafragmática, entre outras. Depois de pesquisar sobre o assunto e até mesmo conversar com uma pessoa que passou por isso, comecei a pensar sobre os meus hábitos profissionais e pessoais. Olhei para minha mesa e como sempre, coberta por rascunhos cheios anotações, minha caixa de e-mail cheia, meu telefone tocando, meus trabalhos de faculdade para fazer. De um tempo para cá comecei a enxergar minha mesa de um jeito diferente. Será mesmo que preciso resolver tudo na mesma hora? Me questionei. Melhor repensar em alguns hábitos antes que eu me sinta esgotada e não consiga fazer mais nada. Resolvendo uma coisa de cada vez, no final, tudo dá certo e se não der, a gente tenta de novo.

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10 | VOCÊ NÃO ESTÁ ATRASADO Por Daniele Souza

Foi assim que eu morri. Andando pela rua com 29 anos de

idade por trás dos meus olhos amassados e inchados. Rugas enfeitando o topo da minha testa, vales profundos onde estão as histórias de cada preocupação que eu tive. Eu apertava o passo enquanto segurava um pastel de carne moída em minha mão direita. Na esquerda, apertava uma pasta junto de meu corpo suado. Era um dia quente, 40 graus a pino no horário do almoço. Trabalhadores de obras, babás com crianças e executivos de terno, todos amaldiçoavam este dia, que mal eu sabia, seria o meu último para sempre. Que sorte. O caso é, você tem que me entender, eu estava atrasado. De novo. E isso seria o meu fim. Ou na hora era o que eu pensava. Não sei se você conhece a sensação, mas quando se anda de terno embaixo de um sol de rachar as calçadas, você não sente muita esperança na vida. Atravessei a rua, e um carro buzinou. O sinal estava aberto, mas eu não estava prestando atenção. Andar em alta velocidade e mergulhar a cabeça em um pastel pingando gordura tomou toda a minha energia. Passei resmungando pelo barulho de trânsito. Carros brancos, cinzas e pretos passavam por mim à velocidade da luz. -Cara, chega de ladainha, não tenho toda a eternidade! Vai me contar como aconteceu ou vamos ter que parar por aqui? – falou o jornalista com raiva. Olhei para a pessoa na minha frente. Notei que ele estava inquieto há algum tempo. Achei que era feitio da profissão. Jornalista para mim sempre pareceu estar escondendo um tique nervoso em algum lugar. Ele estava sentado à minha frente, com as mãos apoiadas na mesinha de mogno. Suor escorria de sua testa, sua caneta de metal escorregando pelos dedos. Olhei para as minhas mãos brancas e geladas entrelaçadas uma na outra. -Eu preciso ir até o fim – respondi. 54


-Olha, senhor, tivemos que vir até o inferno para te encontrar, não tenho como ficar muito aqui não. E, aliás, me deram somente 30 centímetros da edição amanhã para a sua história, 30-fucking-centímetros! - Falou e levantou as mãos para o ar. -Você não percebe, não é mesmo? – exclamei batendo as palmas na mesa, o que fez ele pular de susto. -Não vê que preciso do seu tempo, por que eu, justamente, tenho tempo demais? Estou sozinho aqui há décadas – a voz saiu não mais do que um sussurro na última frase. Com isso, o jornalista olhou ao redor. Estavam em um quarto escuro. A luz da lâmpada formava um círculo no chão. O único lugar seguro em meio a um infinito de silêncio. O jornalista resignou-se, e com um suspiro profundo voltou-se novamente para o morto. Eu lembro claramente que estava todo atrapalhado. Segui com a minha odisseia. Meu terno cinza todo suado. Uma bagunça. O último mês havia sido um dos mais corridos de minha carreira. Estávamos trabalhando em um projeto de comunicação. Uma grande oportunidade, sabe? Ainda mais para mim, que nunca consegui me destacar apesar de todas as horas da noite que passei no escritório. Me sentia como um tapa buracos. O cliente sempre tinha um problema de última hora. E era eu que cobria esse buraco de terra. Mas naquele dia, eu ia apresentar o projeto para os representantes de uma grande empresa. Há uma semana, estava vivendo para isso. Sabe como é, a rotina de café e pastel. Três horas de sono e 16 horas de tela de computador. Extremamente destrutivo, e normal. Ser um “workaholic” é um elogio. O jornalista começou a balançar o pé direito. -Você estava indo para essa reunião que você falou? – Perguntou. -Sim, e estava 15 minutos atrasado. Você imagina a desgraça. Naquele ponto eu estava praticamente correndo pela rua. – Suspirou. -Foi aí que senti um aperto no peito. Alguma coisa falhou dentro de mim. Cai no chão. O meu projeto todo espalhado pela rua. O morto deu uma gargalhada. Lembrei de uma coisa. Meu úl55


timo pensamento. “Eu bem que podia ter grampeado essas folhas”. Dá para acreditar? A PRESSÃO PROFISSIONAL A expressão ainda é desconhecida. Sua existência é pouco registrada. Como o personagem de nossa história, a primeira morte de “Karochi” morte por excesso de trabalho, foi registrada em 1969 no Japão, e milhares de pessoas já seguiram esse destino. O abuso de rotina de trabalho, sobrecarga, ruptura do ciclo do sono, grandes responsabilidades no meio profissional são alguns dos fatores que causam essa situação extrema de pressão. O estresse e desgaste provocado por essas situações contínuas levam à fadiga, e literalmente drenam a vida do corpo. É uma sentença de morte. As principais consequências são ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, trombose ou infarto cerebral, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca. Uma situação que demonstra a banalização da vida e experiências humanas perante a situações precárias de trabalho. Além disso, também contraria a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovado em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que assegura o direito à vida, condições justas e adequadas de trabalho, repouso e lazer, entre diversas outras. Mas se tratando de carreira e a experiência das pessoas com as escolhas profissionais, a pressão e ansiedade já são fatores esperados pelas pessoas. Na mídia, na roda de amigos, no almoço de família, a sensação não é de melhora. Na verdade, a impressão é que tudo está cada vez mais acirrado, difícil e concorrido. E isso não é só um jogo de adultos. Os jovens, muitas vezes ainda adolescentes vivem nesse meio. A pergunta “o que você vai ser quando crescer” já não é mais respondida com tanta certeza. Aos seis anos somos astronautas, arqueólogos, modelos, atrizes e mágicos. Aos 18 anos, corremos ao menor som da pergunta. O desconhecimento de si próprio, o medo da escolha errada, o risco de não gostar realmente da profissão após encarar quatro anos de faculdade. Esses são os monstros 56


que nos assombram assim que chegamos ao 2º ou 3º ano do ensino médio. Segundo a psicóloga Bruna Frainer, o mercado de trabalho atual exige do jovem o curso superior, diferentemente de 50 anos atrás onde isso ainda era um fator raro. Com a mudança das condições econômicas que possibilita a entrada na faculdade, também aumentou a pressão para que o jovem siga essa opção e deixe de escolher caminhos alternativos. A psicóloga, que trabalha há dois anos com a orientação profissional de jovens, destaca que há fatores que influenciam na decisão na escolha de uma carreira. Leva-se em consideração realidade social, círculo de amigos, tradições familiares, trajetória de vida. Todos são propulsores nessa difícil escola, que devem serem discutidos no processo de orientação profissional. O autodescobrimento é chave para o jovem que está indeciso com a escolha. É comum que o jovem caia em armadilhas da própria ansiedade e se sinta sozinho nesse processo, pois todos ao seu redor já parecem saber o que irão fazer. A culpabilização é um fator frequente, que pode ser resolvido através do diálogo. É importante que o jovem saiba que todas essas questões são comuns e que atingem grande parte dos adolescentes. De acordo com pesquisa do IBGE, somente 5% dos estudantes que prestam o vestibular estão confiantes e tem certeza do curso que irão fazer. As opções também são muitas. Somente no Brasil, existem 150 profissões no nível superior. Todos esses caminhos possíveis estão divididos em sete mil cursos diferentes. “É muito importante que o jovem conheça o curso que escolheu, como funciona, quais são as matérias. Sempre recomendo aos alunos que entrevistem um profissional da área de interesse para tirar dúvidas e conhecer melhor o dia a dia da profissão” destaca Bruna.

A ESCOLHA É SUA

“Gosto muito de jornalismo. Mas se você tem uma coisa que 57


tu gostas e uma coisa que tu amas, você vai deixar a coisa que você gosta para trás...” A vontade de conhecer coisas novas e expô-las para o mundo foi o que fez Stefan Sommerfeld, de 18 anos, entrar para o curso de Jornalismo. Sua paixão e personalidade comunicadora desejavam não somente mostrar, mas também passar conteúdo e informação. Stefan pesquisou bastante antes de escolher a faculdade, e chegou a considerar diversas opções antes de entrar para jornalismo. Agora, no segundo semestre, ele encara mais uma mudança, decidiu que irá começar o curso de teologia. Para ele, estar envolvido com a comunidade, participar de congressos, retiros e atividades sociais junto da igreja é uma de suas paixões naturais. Stefan é luterano e sonha em ser missionário e principalmente trabalhar com crianças e adolescentes, o que já faz através de trabalhos sociais há três anos. Segundo ele, não considerava a opção há pouco tempo atrás, mas as experiências e pessoas que conheceu na faculdade, abriram a sua mente para novas experiências. A MUDANÇA VEM PARA O BEM “Quem faz publicidade aprende a se virar com qualquer coisa. Você aprende a editar, escrever, fazer evento. Tudo na marra. Mas faz.” Raquel Moritz, publicitária, sempre foi muito segura com a escolha de sua profissão, e desde do ensino médio já sabia que queria trabalhar com comunicação. A sua confiança muitas vezes bate de frente com a realidade de muitos jovens, que se sentem aprisionados com a escolha. Segundo Raquel, em seu curso houveram diversas desistências no final da faculdade, e até pessoas que se formaram, mas não atuam na área por não se identificarem com a carreira. Há também uma certa resignação diante dos cursos. Quem estuda jornalismo, está cansado de ouvir que irá ganhar pouco no futuro, e para Raquel, a máxima que escutava era “faz publicidade, vai trabalhar em agência”. Na época, aceitou o destino, nem que 58


fosse para trabalhar servindo “cafezinho criativo” declarou ela sorrindo. Após algum tempo de faculdade surgiu a possibilidade de trabalhar em uma agência voltada para a web. Internet. Esse foi o estalo. Seja onde for, Raquel decidiu que dentro de publicidade, faria trabalho voltado para a internet. Além de publicitária, também é a mente por trás do blog Pipoca Musical, que trata sobre livros, filmes e música. Ela também atua com a Darkside, a primeira editora do Brasil a se dedicar ao terror e à fantasia. A transição profissional de trabalhar em uma agência para o home office foi assustadora no início. Mas a rotina puxada, o stress e a “pira loca” da agência a fez decidir que não iria mais voltar. “É uma diferença muito grande trabalhar com uma coisa que você gosta. Trabalhando com a Dark, posso aplicar profissionalmente a paixão que eu tenho por literatura, e ainda manter o meu hobbie (blog)”. DMM (DIRETOR DE MIM MESMO) “Nosso principal valor é a autonomia. Não sou diretor da empresa. Não, não. É de mim mesmo”. É assim que os colaboradores do projeto ISCOOL se definem dentro da empresa, onde cada um sabe o seu papel sem precisar estar acima ou abaixo de ninguém. Construir e aprender com as pessoas foram os principais valores levados em conta por Rodrigo Oneda Pacheco na criação da proposta inicial do projeto. A ideia de oferecer educação de uma forma livre e criativa para as pessoas começou com um primeiro passo. Oferecer um workshop para os colaboradores da empresa onde ele, na época, era voluntário. A vontade era devolver para a organização, de alguma forma, tudo o que havia aprendido com eles. A experiência deu certo e incitou uma série de perguntas. “Será que daqui poderia sair um negócio?”, “se eu der uma lapidada na proposta, e cobrar, será que alguém vai pagar para me assistir?”. O questionamento fez Rodrigo dar uma chance para o conceito. Foi a partir daí que se desenvolveu a justificativa principal 59


do produto da ISCOOL, que baseia o seu propósito na mudança da educação, e na tentativa de provocar uma nova experiência. Os professores do projeto são formados por pessoas que gostam do que fazem. E consequentemente, são bons nisso. Uma dona de casa, um arquiteto, aposentado, um gerente. Todos têm algo para ensinar. Segundo Rodrigo, a procura dos cursos varia. Alguns temas são mais procurados do que outros e os valores nem sempre são os mesmos. Hoje, as atividades da ISCOOL reúnem cerca de 150 a 200 pessoas por mês, com uma média de sete encontros. A conclusão de uma ideia própria é um dos principais motivadores ao trabalhar com a ISCOOL. Muitas vezes, deixamos a realização pessoal de lado no meio profissional. Apesar do aprendizado e da confiança que possuímos em um emprego convencional, muitas vezes o trabalho não bate com nosso valores e propósitos. Essa perda de conexão é o que pode gerar o desgaste. Um peso ao realizar o trabalho. “Quando o projeto saiu do papel e eu senti que eu poderia me dedicar, chamar aquilo de meu, eu senti que eu poderia gerar um valor mais real para as pessoas”, destacou Rodrigo. DIMINUA A VELOCIDADE Atualmente é muito comum que os jovens queiram apressar várias experiências nessa etapa de descobrimento. Ser feliz, arranjar o emprego dos sonhos, o parceiro ideal, o carro do ano, o apartamento no centro. Tudo de uma vez só. Discordo do ditado popular que diz que tempo é dinheiro. Acredito que tempo é vida. E estamos deixando ela passar. O período de dúvida ao escolher a carreira pode virar um momento de descobertas. Os erros podem gerar experiência. Os dias imperfeitos também fazem parte da vida. É sua escolha se você estará presente para vive-la.

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11 | A FIGURA DO CHEFE NAS EMPRESAS E AS CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS PARA SEUS SUBORDINADOS Por Giulia Venutti Cirne Corrêa

Cristina chegou na empresa após enfrentar o trânsito habitual de uma cidade agitada. Ciente de inúmeros compromissos agendados, percorre os corredores em passos lentos e com seus pensamentos voltados para os trabalhos de maior prioridade. Cris, como todos a conhecem, finalmente chega em sua mesa, larga a bolsa no canto, liga o computador e se ajeita na cadeira. Quando menos espera, sua chefe entra no pequeno salão aos berros para uma de suas colegas, duas mesas adiante. Novamente, Cris presencia outro pequeno espetáculo de uma pessoa destemperada. Lembra-se que até um sapato ela atirou para o alto em plena reunião com sua equipe de subordinados. Cenas assim podem ser consideradas surreais para muitos trabalhadores, entretanto elas existem, acontecem em empresas de qualquer porte, com profissionais que ocupam cargos de chefia, na direção de empresas, em todos os níveis. Comportamentos, e muitos outros, que fogem do esperado, que maculam o ambiente corporativo e, consequentemente, deixam marcas em profissionais. Essas marcas poderão ajudá-los no aprendizado de como lidar com pessoas e poderá representar um ganho pessoal. Isso dependerá do perfil do profissional. Poderemos ter o inverso quando o profissional, o subordinado, sofre emocionalmente com o inadequado comportamento de sua chefia. E tal sofrimento interfere em sua saúde, no emocional, em sua vida pessoal. Poderá afetar seu humor, a vontade e disposição para o trabalho, no dia a dia, nos relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho. Um chefe competente não é sinônimo apenas de grande ca61


pacidade para gerenciar um negócio bem-sucedido, mas está por trás, também, alguém que busca motivar sua equipe e preza pelos valores pessoais. No entanto, muitas pessoas acabam tendo que conviver com chefes instáveis, confusos, ausentes e emocionalmente desequilibrados. Para a psicóloga Michele da Silva, que atua como gestora na área de Recursos Humanos, um líder pode influenciar muito no desempenho do colaborador, principalmente emocionalmente. Ele será aquele que está junto com sua equipe, lutando com ela, encorajando-os para novos desafios e bons resultados. Já o chefe é aquele que está “fora” da equipe, usa muito o poder hierárquico para comandar as pessoas, muitas vezes utilizando-se de ameaças e pressões, fazendo com que o funcionário não tenha desejo de atingir os objetivos da empresa. O mesmo transforma-se no subordinado que faz por fazer, muito diferente quando temos um líder que faz a equipe pulsar para alcançar os objetivos. A psicóloga também reforça que o colaborador motivado supera as expectativas da empresa, ele tem a empresa como se fosse sua, briga por ela. O líder enxerga o seu colaborador como sendo uma pessoa de potencial, e trabalha para desenvolve-lo para o seu crescimento. Sendo assim, os resultados são comemorados em conjunto, pois a equipe, o time, atingiu tais resultados e o mérito não é somente do líder. Muitas pessoas tendem a confundir a motivação do incentivo. Por mais que uma pessoa possa se sentir inspirada em fazer algo por causa de um incentivo, o seu principal motivo para querer realizar aquilo pode ser pelo medo de ser punido. Já a motivação engloba todas as razões e motivos da maneira como a pessoa escolhe agir. Para o jornalista e coordenador de projetos de uma empresa de comunicação, Pedro Fernandes, 53, um chefe pode afetar por completo positiva e negativamente os seus funcionários. Ele conta que ao longo de sua jornada, passou por inúmeras situações que requereram paciência e também muito aprendizado sobre como lidar com pessoas de diferentes personalidades. Uma delas foi com um funcionário que não conseguia lidar e separar os problemas pessoais do ambiente profissional. Pedro conta que foi em uma 62


terça-feira de manhã ensolarada que tudo começou. Ele estava sentado em sua mesa e, como toda manhã, seguiu sua rotina de caminhar até a copa para pegar o café recém feito. Nada seria tão produtivo sem ele. Ao retornar para a sua sala, notou que sua assistente Amanda havia deixado em sua mesa uma pilha de papeis, os novos relatórios de desenvolvimento e desempenho de seus funcionários. A partir desse momento, sabia que aquele dia seria focado apenas para esse assunto. Após passar horas lendo e analisando, notou que um de seus funcionários estava a pelo menos dois meses com o desempenho muito abaixo da média. Ignorando o protocolo da empresa caso o desempenho fosse baixo, pegou seu telefone em cima da mesa, e solicitou a Amanda que chamasse o funcionário a sua sala. Quando ele adentrou a porta e sentou-se à sua frente, Manoel notou que ele se mantinha cabisbaixo. Foi uma tarde de longas histórias e conversas, até chegarem a um consenso para ambos os lados saírem contentes. A partir dessa conversa que Pedro descobriu que seu funcionário passava por problemas sérios de família, uma filha doente com diagnósticos que os médicos não conseguiam ajudar. Foi nesse momento que ele aprendeu uma lição, uma equipe não se restringe somente às atividades desenvolvidas, mas também todo um arcabouço de identidades do que cada colaborador é como pessoa. Se um coordenador não consegue perceber se um ou outro membro da equipe está com algum problema pessoal, e agir para ajudar, pode prejudicar o conjunto. A psicóloga Michele alerta que quando a pessoa atua como chefe e não como líder, poderá provocar desmotivação, cansaço, depressão, estresse, entre outras questões com consequências emocionais para os seus funcionários. Rafael Cardoso, 27, era coordenador de marketing digital de uma agência de publicidade e propaganda focada em moda. Ele relata que lidar com pessoas não é fácil. E lidar com pessoas com personalidades distintas é ainda mais complicado. O seu foco principal era a comunicação com seus liderados. E a partir dessa comunicação, tentar pescar o que cada um tinha de melhor. Entretanto, por mais que seja um líder, Rafael também li63


dava com cobranças de superiores. Momentos como esse é que muitas pessoas não conseguem repassar essas “cobranças” para os seus liderados e manter ainda a postura de um líder motivador. Ele afirma que a melhor solução é ser transparente com os seus liderados. Aos 18 anos de idade, Júlio Corrêa trabalhava em uma empresa fabricante de água mineral, de pequeno porte, onde no escritório central era subordinado à uma secretária. Era o tipo da pessoa que nunca sorria, olhava para ele sempre de cima para baixo, dirigindo-se com alguma dose de arrogância. Para um funcionário com apenas 18 anos isso era o caos, não havia diálogo, apenas ordens mesmo não estando em um ambiente militarizado. Júlio, mesmo que de forma inconsciente, durante um período de quase dois anos subordinado à mesma secretária, acabou por iniciar seu aprendizado sobre como lidar com pessoas difíceis. Sobre seu ponto de vista, aprimorado com o passar dos anos trabalhando em outras organizações, é necessário avaliar comportamentos da chefia, tentar “fotografar” a aura que a envolve, descobrir peculiaridades relativas à vida pessoal da pessoa na chefia, observar reações, olhares, posturas... E com tudo isso, após todas as análises também levar em consideração algo complicado em todo e qualquer ser humano: o ego. E, naturalmente, utilizar todas essas nuances e se adaptar para lidar de maneira mais adequada com esse tipo de chefe. Que não é líder, é chefe. Em outro momento futuro, em uma grande organização, multinacional, uma das supervisoras tinha uma equipe, a qual Júlio fazia parte, e a postura da supervisora era sempre de questionamentos direcionados todos os componentes da equipe. Questionamentos em sua grande maioria, sem fundamento, e que deixavam os componentes da equipe extremamente desanimados. E o estresse imperava. Como lidar com tal situação? De sua parte, Júlio aprendeu a lidar em tal situação expondo soluções antes de quaisquer questionamentos. Dentro desse ambiente ele sempre deixava todos os problemas do trabalho, dentro do ambiente de trabalho. Com o passar dos anos, Júlio passou a ser líder de uma consultoria em que pode colocar em prática todo o aprendizado que 64


recebeu no decorrer de sua vida profissional e pessoal. Ao questioná-lo sobre as principais características que um líder precisa ter para lidar com as pessoas, ele comenta que, acima de tudo, um bom líder deve atender as cobranças que recebe de seus níveis superiores, atingir seus objetivos, gerar resultados, tudo dentro de um ambiente o mais amistoso possível, sem quebra da qualidade desse ambiente. Outra situação semelhante a tantos outros, Gabriela Kaufman, jornalista com 28 anos, expõe que um bom chefe deve ser transparente para com os seus clientes, funcionários e prestadores de serviços, além de ser “amigo”, para que possa existir um bom relacionamento com cada funcionário e mostrar interesse não apenas pelos resultados de seu trabalho, como também consideração pela vida que há fora do expediente. É preciso que haja um reconhecimento pelo seu trabalho, não apenas sob o aspecto financeiro e sim em palavras, para que motivem seus subordinados a alcançar o resultado esperado e, por que não, superá-los! Uma questão muito importante, sob a visão de Gabriela, é o chefe estar pronto a auxiliar nas dificuldades com os clientes, mostrar-se interessado nas questões do dia a dia. Atitudes ríspidas e grosseiras de todo e qualquer chefe afetam negativamente a vida profissional de seu funcionário, e muitas vezes pode igualmente afetar a sua vida pessoal, pois na opinião de Gabriela, uma coisa leva a outra. Para se sentir bem, a vida profissional deve estar satisfatória, caso contrário afetará a saúde e com consequências para a vida profissional. Gabriela acredita que o importante é realizar o seu trabalho da forma que necessita ser feito, sem atrasos, nos prazos e com qualidade, entregar o que o cliente solicitou. Certamente, para os subordinados e chefes que trabalham em áreas de especialização profissional de qualquer tipo de alcance, correm o risco real de saírem de suas organizações e irem trabalhar em outras, e sem dúvida, estarão em posições diferentes de onde estavam em empresas anteriores. Gabriela ressalta ao questionar “quem esquece os maus chefes? Ninguém!”. Durante a conversa Gabriela chega a se entristecer ao lembrar de dificuldades que enfrentou com chefias despreparadas. E 65


diante dessas lembranças, declara que “o relacionamento com um chefe ruim deve ser estritamente profissional, sem muitas conversas fora do ambiente de trabalho. Devemos desempenhar a nossa função de acordo com nossa melhor capacidade profissional. Caso o mau chefe ‘teimar’ que o trabalho seja feito do jeito dele, é melhor fazer do jeito dele. Porém, se algo der errado deixe claro a ele que a ideia foi dele e só seguimos à risca o que foi pedido por ele”. Fatos foram vivenciados pela jornalista em seu dia a dia profissional com casos de excesso de exposição de “superioridade”, com chefes nomeados e que desejam a todo custo “mostrar serviço” cobrando processos e trabalhos desnecessários, cobrando durante todo o dia os resultados sem que tenham qualquer ideia acerca do que sejam “esses resultados”, sem respeitar o ritmo de trabalho da equipe.

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12 | PRIORIDADES E TRANQUILIDADE Por Rafael Torres

Ninguém me liga domingo de manhã. Aliás, ninguém me liga há um bom tempo. Nessa era de WhatsApp quando meu celular toca eu já vou logo desligando pensando que é o despertador. Mas dessa vez não. Era Fabiano, o amigo de um conhecido meu, que teria a honra de me conceder uma entrevista. Tomara que a vida de Fabiano seja realmente muito interessante. Talvez ele fale de algum assunto pouco explorado no mercado editorial e que faça valer a pena o dinheiro que tive que desembolsar para impressão deste título. Nossa conversa estava marcada só para as 14h, não tem motivos para ele me acordar tão cedo. Mesmo sem vontade e tentando esconder minha voz de sono, atendo. - Alô, quem? - Então, é sobre isso mesmo que queria falar com você. Surgiu um imprevisto, não vou poder ir conversar com você hoje. Tem como remarcar? -Remarcar? Você está de sacanagem né? É a terceira vez que desmarca comigo. Se eu soubesse que teria tanta dificuldade pra falar com você, marcava de entrevistar como Washington Olivetto. Acho que seria mais fácil. Ganhou o “Profissionais do Ano” e não estou sabendo? Não. Esse diálogo não existiu. Na verdade, eu falei que entendia. Disse que era uma pena, mas que poderíamos reagendar sem problema. Mesmo muito irritado, disse que compreendia que a rotina corrida de um empresário devia ser mesmo complicada. Ele riu. Sem me dizer mais nada foi se despedindo e avisou que me ligaria assim que pudesse para remarcar a conversa. Já estava tendo mais dificuldades do que imaginei. Achei que como ele não é um ‘escravo’ do trabalho, seria mais fácil arrumar um tempo para mim. Pensei diversas vezes em buscar outro 67


entrevistado, pois não entendia como uma pessoa que diz ter tanto tempo para suas prioridades, para sua família e para o seu lazer, pode não conseguir um tempo para falar comigo?! Fabiano é empresário há alguns anos. Possui uma empresa de eventos em sociedade com seu amigo do ensino médio. Esse não era o plano de vida inicial que ele tinha. Na verdade, Fabiano nem fazia muitos planos quando jovem. Passava a maior parte do tempo desbravando a internet. Mesmo sem saber, ou planejar, ele já estava formando sua personalidade empreendedora nessa época. Imagine ele como o que atualmente chamamos de ‘influenciador digital’. Seu ciclo de amizades aumentava constantemente. Não faltavam convites para festinhas. Segundo ele, vem dessa época a vontade de organizar eventos. “Eu ia a bastante festas, mas detestava quando a bebida acabava antes do pessoal querer ir embora”, comenta. Com a ajuda de Henrique, hoje seu sócio, passou a organizar suas próprias “confraternizações”. Não lucravam nada com elas, mas desse jeito garantiam que a festa não acabaria cedo. Sua fonte de renda vinha do seu emprego como vendedor. As comissões que ganhava definiam se o final de semana seria regado a vodka nacional, ou importada. Lógico que quando desliguei o telefone naquele dia, após ele desmarcar a entrevista comigo, eu não sabia nada disso. Imaginava ele bem diferente do que na verdade ele é. Quando finalmente consegui encontrá-lo, ele estava de camisa regata cinza, bermuda jeans e Ryder. Sim, de Ryder. Durante alguns dias até cogitei chamar esse capítulo de “O segredo do empresário que usa Ryder”, pensei que daria um ar misterioso. Mas desisti quando lembrei que o meu texto teria que ser aprovado por um editor. Fiquei com vergonha do que ele pensaria de mim. Mas não foi só o Ryder dele que me chamou atenção na nossa primeira conversa frente a frente. A desconstrução da imagem que eu mesmo tinha criado dele foi o mais impressionante. Fabiano é um cara de palavra. Na segunda-feira, por voltas das 14h ele me ligou. - Alô, Rafael? - Sim! Boa tarde Fabiano, tudo certo? 68


- Tudo bem. Então, acho que podemos conversar hoje. O que me diz? - Perfeito! - Pode me encontrar em meia hora, no parque? - Infelizmente não. Estou em horário de trabalho. Pode ser depois das 18h? - Está bem, pode ser. 18h ali na entrada do parque então! - Combinado! Dois pensamentos me vieram à mente logo após desligar o telefone. O primeiro foi a certeza de que a entrevista finalmente sairia. O segundo, e mais intrigante, foi, “qual empresário, bem sucedido e em sã consciência, tem tempo livre para ser entrevistado em plena segunda-feira, início de mês, 14h30, em um parque?” Quase retornei à ligação para ele na mesma hora para pedir um emprego. Chego no local marcado um pouco antes do horário combinado. Aproveito o tempo para planejar mentalmente a entrevista. Tudo tinha que sair como o esperado. Chegar, cumprimentar, apresentar-me, explicar o projeto, fazer as perguntas, gravar, anotar, agradecer, despedir-me e ir embora. Tudo muito simples e direto. Não tinha como dar errado. Isso se o Fabiano fizesse a parte dele, como chegar no horário certo, por exemplo. Depois de passar meia hora do horário no qual marcamos, decido ligar para ele. - Fabiano? Aqui é o Rafael - Fala Rafael! Estou te esperando aqui... - Onde? Eu estou aqui onde combinamos. Na entrada do parque, lembra? - Estou logo na entrada, sentado na grama - Ah, certo! Estou entrando então. Está me vendo? - Acho que sim. Aqui ó... Forçando a vista, mas tentando parecer o mais natural possível, avisto ele. Ao seu lado está uma mulher, que mais tarde soube que era sua esposa, e uma pequena miniatura dele mesmo. Seu filho. Ele não parecia um empresário. Não tinha aquele ar de “homem de negócios” que eu esperava encontrar. A impressão que tive foi de que estava reencontrando um velho amigo. Isso, mais 69


tarde, fez todo o sentido, pois segundo ele mesmo, essa é a forma como ele prefere ser tratado. “Eu tenho uma relação muito boa com meus funcionários e fornecedores. Procuro estreitar os laços até torna-los uma amizade”, comentou. Ser visto apenas como um colega de trabalho pelos seus próprios funcionários poderia gerar alguns transtornos a ele. Pelo menos esse é o pensamento de muitos chefes de empresas e gerentes com o qual conversei. Muitos patrões justificam sua arrogância e distanciamento de seus colaboradores com a desculpa de que uma atitude mais compreensiva geraria falta da chamada ‘voz de comando’. Fabiano, pelo contrário, acredita que o comando que muitos colegas de profissão dele pensam ter, chama-se na verdade, medo. “Raramente vejo amigos meus dizendo que escutam as pessoas que trabalham com eles”, afirmou. Ouvir opiniões diferentes das suas e ter o discernimento de avaliá-las de forma imparcial, na visão dele, é sinal de inteligência. Ainda segundo Fabiano, os jovens da atual geração têm muito a dizer e acrescentar em um processo criativo, por exemplo. Diversas ações de divulgação da empresa dele foram inspiradas em comentários recebidos através das redes sociais. Certa vez, Fabiano conta que estava com dificuldades de elaborar uma campanha de divulgação para um evento. Então, decidiu pedir sugestões nas redes sociais da produtora. Entre memes, piadas sobre ‘bloqueio criativo’, vídeos dos Power Ranges, gif’s de gatinhos e indicações de psicólogos, Fabiano conseguiu filtrar algumas boas sugestões. Ele percebeu que a sua rotina agitada estava conduzindo suas festas para um lugar completamente diferente do que o seu público esperava. A visão mercadológica dificultava a criação. O que o seu público buscava, naquele momento, era muito mais do que um combo de bebidas com nomes estranhos e alto teor alcoólico. Mesmo eu não imaginando o que mais um jovem estudante, em pleno ensino médio e com pouquíssima grana possa querer, fui obrigado a concordar com Fabiano quando ele me disse que o mais importante em um evento é a própria experiência que o momento proporciona. Por isso, ele decidiu mudar o seu planejamento. A partir desse momento ele reparou que quanto menos artificial fosse a festa, melhor seria a experiência. Fabiano é daqueles caras que sabe levar uma boa conversa e 70


passam segurança no que estão falando. Durante alguns minutos, enquanto ele dividia a atenção entre mim e o seu filho, fiquei imaginando que ele devia fazer exatamente a mesma coisa com seus clientes. Cativar, ganhar a confiança e por fim, fechar o negócio. São técnicas antigas que se aprende em qualquer curso de Marketing ou Publicidade e Propaganda por aí. Porém, o modo como ele falava era extremamente natural. Tenho que confessar que a paixão com que ele falava de sua carreira surpreendeu-me. Descobri mais tarde que o principal motivo por ele ser tão apaixonado pelo que faz é o modo como ele leva a vida. A maneira como ele conduz sua empresa está diretamente relacionada à forma como ele se comporta na vida pessoal. Esse período, que para muitos é tido como perca de tempo, foi a fase na qual descobriu o que queria realmente fazer. Foi nesse momento em que ele percebeu que a vida de promotor de eventos seria uma realidade. Pesquisou sobre a profissão e se deu conta que tinha nascido para isso. Viu que Publicidade e Propaganda era o curso ideal para alcançar o objetivo de ser um grande profissional. Grande parte da sua formação ocorreu antes mesmo dele ingressar na vida acadêmica. Foi no trato com os clientes impacientes, que ele atendia quase que diariamente, que aprendeu a manter a calma e buscar resolver a situação da melhor forma possível e na base do diálogo. No convívio com a turma de amigos percebeu como expor seu ponto de vista e opiniões sem ofender ninguém. Com os perrengues e apertos financeiros que enfrentava quase todo final de mês, viu a importância de manter os gastos sob controle. Boa parte do que viria a aprender na faculdade, a vida já tinha tratado de mostrar a ele na prática. O pensamento rápido e a capacidade de solucionar problemas complexos que adquiriu, sabe-se lá como, aliados aos métodos extremamente eficazes vistos na faculdade, o credenciaram a candidatar-se a boas vagas de emprego. Mas o seu espírito inquieto o conduziu para abrir seu próprio empreendimento. Fabiano viu uma oportunidade de ganhar dinheiro fazendo o que gosta e não teve medo de arriscar. A cada resposta que ele me dava, minha certeza de que ele era um empresário de sucesso ficava mais forte. A convicção na 71


tomada de decisões e a sensatez com que falava eram evidentes. Porém, uma coisa ainda me incomodava. Eu não conseguia parar de comparar o profissional brilhante que estava a minha frente com o cara que desmarcou três vezes nossa conversa. Comecei a questionar, internamente, se aquilo tudo o que ele falava com tanta propriedade seria mesmo verdade. Não estava claro para mim, como uma pessoa que tem tempo para passar a tarde inteira de uma segunda-feira, em um parque, curtindo sua família, poderia viver atabalhoado em outras ocasiões a ponto de reagendar nossas conversas por mais de uma vez. Foi então que encarnei o Caco Barcelos e passei às perguntas investigativas. Queria testá-lo, confrontá-lo e incomodá-lo. Fiz um olhar mais sério. Concentrei-me. Fiz perguntas em um tom de voz mais ameaçador. Cheguei a fingir que fazia anotações importantíssimas. Porém, de nada adiantou. Ele continuava extremamente tranquilo na minha frente. Nem mesmo titubeou, nem uma gaguejada se quer. Ou ele é um talento extraordinário na arte da interpretação, ou ele realmente é tudo o que está parecendo ser. Aos poucos fui me convencendo. Para Fabiano, o que faz dele um profissional bem-sucedido, é ele ser uma pessoa de sucesso. “Reavalio constantemente minhas atitudes. Não tenho medo de mudar de opinião e pedir desculpas quando percebo meu erro”, confidenciou. Ele sabe que precisa dar o seu melhor no trabalho, mas sabe também que não pode perder momentos incríveis como uma visita ao parque. Estar ao lado de sua esposa e seu filho valem muito, e ele sabe disso. O sucesso dele talvez esteja na capacidade de separar o patrão, do pai de família. Saber deixar de lado todas as frustrações que eventualmente o dia de trabalho lhe causam ao chegar em casa e ver o sorriso de seu filho. É isso o que, segundo ele próprio, o faz ser considerado um sucesso. Após uma hora e meia de conversa, já cansado de bancar o repórter investigativo, convenci-me completamente de que aquele ser humano na minha frente não podia estar mentindo. O brilho no olhar que reparei logo nos primeiros minutos da nossa conversa, ainda permaneciam após aquela sabatina de perguntas. Entendi que não existia nada mais importante para ele do que sua família. Nem mesmo o trabalho, fonte do seu sustendo e conforto, o 72


conseguiam fazer perder momentos ao lado das duas pessoas que ele mais ama. Foi então que me dei conta de que ele não havia desmarcado nossas conversas por estar imerso em papéis e relatórios do trabalho, como eu havia imaginado. Mas sim porque provavelmente queria apenas ficar a sós com sua família. Completamente satisfeito, desliguei o gravador. Nossa conversa me fez reavaliar algumas atitudes da minha própria rotina e eu estava feliz por isso. Percebendo o meu sorriso, Fabiano levantou-se, chamou sua cópia, digo, seu filho, abraçou sua esposa e disse: - Eu estava guardando a melhor frase para o final da gravação. Para dar aquele impacto sabe?! Mas já que você desligou o gravador, anota aí... “VOCÊ TEM QUE TRABALHAR O SUFICIENTE PARA TER O MÍNIMO DE CONFORTO, SEM CHEGAR AO PONTO DE TRABALHAR DEMAIS E PERDER SUA TRANQUILIDADE”.

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13 | UMA ETAPA DIFÍCIL (OU NÃO) Por Claudia Regina Pombal

Ensino médio é festa. É abandonar o fundamental, iniciar uma nova etapa, conhecer novas pessoas e aproveitar os três marcantes anos para qualquer adolescente. São tantas emoções e pensamentos que acontecem ao sair da adolescência e adentrar por este mundo novo que nos oferece responsabilidade, maturidade e surpresas. A escolha de um curso superior, uma carreira, é simplesmente a decisão de uma vida. É acreditar e ter fé que vai dar certo. Mas será que vai? Será que consigo? Dúvidas, incertezas, que num estalo podem se tornar uma decisão: ir em frente! Se aventurar e botar a cara pra bater no mercado de trabalho é uma tarefa árdua. É mostrar que, está preparado para trabalhar, garantir o profissional qualificado na área que faculdade preparou. Porém, o que será mais difícil? Alguém acreditar na sua credibilidade ou uma oportunidade aparecer? O INÍCIO Ah, o primeiro emprego. Os primeiros medos de fazer algo errado, de desapontar, de passar pelos três meses. Ou melhor, pelo lado positivo: o primeiro salário, elogio. Trabalhar, conquistar, sofrer desapontamentos e pensar alto. Evolução. Isso que todo ser humano com anseio por mudanças e desafios almeja. Mudanças excitam, despertam paixões por fazer algo novo e é melhor ainda quando elas partem de nós. Ao chegar em uma nova empresa já estamos mais confiantes. Agora, a nova empresa recebe uma pessoa formada, com experiência e pronta para os novos desafios. Mas e as adversidades e problemas? E o que acontece quando todos os planos sofrem um percalço? Seu mundo cai quando o seu gestor te informa da demissão! Aquela que atinge milhões de brasileiros no Brasil todo, acabou de atingir de você. Mas o que fazer? As contas, o emprego, os sonhos 74


e ambições… Acabaram? CONTRATEMPOS 11 milhões e 800 mil. Essa é a quantidade de brasileiros desempregados no Brasil, conforme dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de agosto de 2016. Assustador? Sem dúvidas. São famílias que perdem o sustento da casa, abandonam seus sonhos e, algumas vezes, seu conforto e dignidade. Sim, parece trágico, um exagero, podemos dizer surreal. Mas infelizmente é a realidade. A nua e crua situação de muitas pessoas espalhadas em cada região do país. Atualizar currículo, participar de grupos de vagas em redes sociais, pedir indicação. A população está num delicado momento que precisa resgatar a fé em si mesmo e fazer valer todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos. PRIMEIROS PASSOS “Nhenhenhém”. Significado: de origem indígena, a palavra é a representação da atitude de alguém que fala muito e não toma uma ação. E é bem assim que acontece com algumas pessoas. Infelizmente estar desempregado pode desanimar. Porém, ficar parado, sem fazer nada, não dá. A química industrial, Camila Rolim de Andrade, vivenciou toda esta situação: desemprego, dificuldades e a busca por emprego em sua área. Formada em Química Industrial pela Oswaldo Cruz de São Paulo, ela viu a crise chegar na empresa em que trabalhou por quase 15 anos. Recém-separada e com um filho ainda criança, necessitava encontrar um emprego, porém encontrou obstáculos. “Foi no meio da crise, as empresas estavam mandando embora. E eu não conseguia arrumar emprego na minha área”. Camila menciona que num primeiro momento, fez vendas de semijoias, mas não conseguiu manter o padrão que tinha. Portanto, o que restou era procurar emprego em qualquer área, mas com foco para crescer e mostrar o seu potencial. É desta maneira que podemos constatar que o mercado demonstra uma resistência ao receber currículos que 75


apresentam muito potencial e, por isso, muitas vezes não chamam estes candidatos para uma entrevista apenas pelo fato de “acreditar” que o profissional não é para esta vaga. “Quando você começa a procurar um emprego pra qualquer coisa, eles não aceitam com facilidade. Acreditam que pelo teu currículo irá querer ganhar muito a mais do que eles querem oferecer”, relata Camila, agora gerente de uma loja de grande porte e que conseguiu o emprego através de uma indicação. Sair da sua profissão é algo difícil. É abandonar tudo pelo que lutou. Mas em uma atual situação, nós fazemos de tudo para estar de volta ao topo, seja na nossa área ou fora dela. A necessidade fala mais alto e o pensamento sobre os anos que estudamos são deixados para trás, escondidos sob as preocupações financeiras. Temos como principais objetivos conseguir um emprego e ter uma estabilidade financeira. Porém, qual a melhor opção para alcançar esses objetivos e ainda ser feliz fazendo o que gosta todos os dias? Se adequando a uma nova área ou buscando novas áreas? FORMAÇÃO X PROFISSÃO Para algumas pessoas o que vale a pena é fazer o que gosta. Não importa se isso quer dizer jogar fora os anos da faculdade, receber críticas dos pais ou, ainda, abandonar um emprego. A publicitária (por formação) e analista de testes (atual profissão), Ana Engler, relata que foi pressionada pela família para fazer um curso superior, mas que apenas após anos, descobriu o que queria. Por muitas vezes, as oportunidades que aparecem em outras empresas podem ter uma correlação com o que estudamos e que acaba auxiliando. No caso da publicitária, a facilidade de comunicação contribuiu para que conseguisse um emprego na área da tecnologia, em que era preciso comunicar-se com os clientes. “Eu sou de humanas, então minha maior dificuldade foi ir atrás dos detalhes técnicos, mas eu tinha vontade de aprender. Eu encarei de peito aberto. Nós temos que ir atrás do que gostamos de fazer e trabalhar feliz”, relata. AMOR À PROFISSÃO 76


Produtividade, responsabilidade, anos de experiências, entre outros fatores, já não são mais capazes de nos fazer sentir seguros. Mas e quando temos a necessidade de sair de um emprego por motivos financeiros e/ou pessoais, porém pelo medo da realocação, não colocamos essa ideia em prática? A insegurança de sair ou até mesmo de conseguir um novo emprego e ser demitido, às vezes, nos prende a um emprego que não nos faz feliz. O coordenador de importação, Bruno Lins, está nesta situação. Morando em Blumenau há quatro meses, se vê viajando todos os dias para Itajaí. Ele conta que está na empresa há cinco anos. Recém-casado, precisou se mudar para Blumenau, porém para não ficar desempregado e não querer mudar de área, preferiu continuar em seu emprego atual, mas buscando oportunidades. “São cinco anos de trabalho nesta empresa que me proporcionaram crescimento e know-how. É o que eu gosto de fazer no meu dia a dia, apesar de todo o cansaço”. Formado há apenas três anos, Bruno não imagina mudar de profissão, ao contrário, pretende realizar uma pós-graduação e adquirir ainda mais conhecimento. “Não posso mentir, é desgastante. Mas eu tenho um emprego na minha área. E é isso que está importando no momento”, comenta. Realocar-se profissionalmente em um mercado que está sofrendo tantos percalços é difícil. Há quem consiga uma oportunidade valiosa de mudar de profissão, porém não é isso o que quer. A paixão pela profissão fala mais alto. “Multidisciplinar” é o que geralmente os gestores de grandes empresas mais desejam que seus profissionais consigam realizar diversas atividades de modo independente e com eficiência. Esta característica não pode e nem deve ser aplicada apenas no “profissional”, mas sim ao ser humano. Não sabemos como estaremos daqui alguns meses ou anos, é preciso estar preparado para o que pode vir, para as novas ideias que podem aparecer, sejam elas por necessidades ou não.

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14 | PARA MUDAR É PRECISO ARRISCAR Por Gislaine Delabeneta

Coragem, atitude e resistência. Essas são as três características essenciais para quem busca algum tipo de transformação. Mas dar o ponta pé inicial é preciso pensar muito e mais um pouco até tomar uma decisão que acabe chegando na mudança. Só que às vezes, mudar é a única opção. E aí só se tem uma escolha: arriscar ou viver para sempre infeliz – insatisfeito, esgotado. CONSIDERAÇÕES DA AUTORA São 17h28min de um sábado de setembro. Sentada na cama, com o notebook no colo, encontro-me aflita por ter de escrever um texto que não sei por onde começar. Recebi a missão de contar uma história sobre as boas consequências do esgotamento emocional. Apesar da tensão que agora me cerca, acredito ter começado corretamente: escolhi uma pela qual sou apaixonada. Essa história me motiva e acredito motivar todos aqueles que também passam por um momento de transição consigo. Foi por isso que decidi contar um pouco sobre a vida de uma das jornalistas mais corajosas que conheço: Regina Hostin. História que fala de uma mudança que vem como consequência daquilo que o coração da gente grita. Só que a gente faz de conta não ouvir. Mas a Regina ouviu. Nadando contra a maré “Desde muito nova, nunca me preocupei muito com o que os outros pensavam. Sempre mudei de emprego. Isso acontecia de forma bem natural. Quando não tinha mais encantamento, eu não me martirizava: embalava a viola e partia. Coisa que soava extremamente estranha lá em 1986, quando permanecer por 25 anos 78


numa mesma empresa era questão de honra. Mas não para mim. Meu primeiro emprego foi aos 15 anos. Trabalhei fazendo embalagens de presentes em uma loja. Já nessa época percebi que o trabalho ocupava muito tempo da minha vida e por esse motivo precisava fazer algo que realmente me satisfizesse. Fiquei nesse emprego durante dois meses. Pedi demissão e era então o início de uma nova história. Trabalhei com embalagens de presentes por dois meses, auxiliar de escritório por três, gerente de comunicação por um ano, secretária de dentista por dois dias. Não importava a duração. Se não me fazia bem, eu logo pedia para sair. Não era uma tarefa fácil ficar mudando tanto. Meus pais não entendiam, meus amigos muito menos, e eu confesso que também não. Parecia que eu lutava contra todos que estavam à minha volta. Mas, apenas respeitava o que sentia no momento – e isso foi extremamente importante para descobrir o que estava acontecendo comigo. NA BUSCA POR UMA SAÍDA Os anos se passaram. Eu estava com 40 anos e aquela sensação de insatisfação que eu sentia aos 15, ainda não me abandonara. Eu já tinha a minha empresa própria. Aliás, lugar em que bati o recorde de duração no emprego: foram quase 10 anos como consultora em comunicação empresarial. Formei-me em jornalismo – embora tenha cursado Magistério porque pensei um dia ser professora de Matemática (pois é!) –, sempre gostei de me relacionar com as pessoas e com as palavras. Mas como disse, ainda sentia aquela sensação de desconforto. Antes de tomar uma decisão, preciso contar das viagens que fiz. Fui a São Paulo, Recife, Índia, Londres, Navegantes. Muitas vezes, só com a coragem, a vontade de conhecer novos lugares e uma mochila com alguns pertences. Todas muito especiais da qual trago algum aprendizado. Essa foi uma das consequências que o descontentamento profissional me trouxe: pude “rodar” o mundo. Mas não foi tão fácil assim como parece. Passei por um ano de angústias. Mesmo depois de trocar tanto de empregos e empresas, ainda assim não estava contente. Foi então que tomei uma de79


cisão. Procurei descobrir o que eu precisava fazer já que o que me deixava insatisfeita era o fato de não ter tempo de fazer as coisas que realmente gostava, porque passava muito tempo no trabalho. Eu precisava estar mais perto da minha família, voltar a fazer as atividades manuais, encontrar um tempo para mim. Comecei a questionar o porquê de ir todos os dias para um determinado local chamado trabalho. Qual era a razão daquilo? O que eu estava impactando no meu transformar? Não encontrei respostas e me deparei com um vazio muito grande. Então, planejei, fiz contas, cortei despesas, diminuí os gastos e em 2011 saí para um período sabático. É. Parece loucura, mas tirei um ano sabático aos meus 40 anos. Deixei a empresa na qual trabalhava em São Paulo. Durante esse um ano, consegui uma bolsa e comecei estudando Alfabetização Ecológica na Schumacher College, na Inglaterra. Queria fazer uma viagem diferente e aprender algo. Nesse período vi o quanto precisava me reconectar. E AGORA, O QUE FAZER? Depois de quase oito meses do período sabático, eu queria voltar a trabalhar, mas não sabia o que fazer. Gostava de ser uma profissional da comunicação, mas não sabia como moldar o trabalho de outra forma. Não sabia se abria uma empresa de novo, se virava consultora, se voltava a ser funcionária. Nada disso me atraía. Foi um período difícil. Minha maior vontade era sair pelo mundo de novo, mas reconheci que precisava percorrer uma trajetória interna, diferentemente de tudo o que já tinha feito. Procurava respostas em vários lugares. Os meses se arrastavam. Por vezes, tentei fazer um planejamento que incluía viagens, cursos, lugares, pessoas, mas nada me tirava de onde estava. Queria resolver tudo rapidamente, colocar as coisas “no lugar”, mas não era tão simples. Mudava as análises, os planos, os roteiros, as suposições, olhava os prós e contras. Sentia-me completamente estagnada. Recebi algumas ligações de consultores para participar de processos seletivos. Todas as oportunidades eram para empresas em São Paulo. Disse alguns nãos e recebi outros. E agora, a cada não, surgia o medo de ficar fora do 80


mercado de trabalho. AS RESPOSTAS ESTAVAM DENTRO DE MIM Fiquei um tempo sem saber o que fazer. Mas quando comecei a relaxar e aceitar o momento presente e, inclusive, aceitar o “não saber o que fazer”, aos poucos tudo foi mudando. Finquei de vez os dois pés no presente e deixei de projetar tanto o futuro, “quando” e “se”. Passei a olhar e a agradecer pelo que já tinha e comecei a me movimentar. Passei a olhar com mais cautela o que eu realmente necessitava. Impressionante que, depois de largar o último emprego, por meses ganhei muito menos e vi que não precisava mais do que aquilo. Tinha tudo o que precisava, e principalmente: eu me tinha de volta. Fiquei alguns meses fazendo diversas coisas que gostava muito. Coisas simples, mas que eu não apreciava mais por conta da correria do dia a dia: estar à noite em casa com a minha família, assistir a um programa juntos, jantar juntos, ter tempo juntos. Relembrei o quanto gostava de ir à praia aos finais de semana. Como amava comer devagar sem enfrentar várias filas. Como apreciava poder ouvir um amigo, dirigir sem pressa, ler, olhar o céu, ver a lua, caminhar, escrever, tudo sem um cronômetro na mão e a agenda no bolso. Finalmente, entendi que não precisava ter todas as respostas ao mesmo tempo. E que elas não estavam no Google, nem com ninguém. Estavam dentro de mim. Depois de tanto tempo, eu conseguia ver o que eu sabia fazer de melhor (talento) de mãos dadas com o que gostava (paixão), suprindo o que algumas pessoas precisavam (necessidades) e ser paga pelo que oferecia. Criei cursos na área da comunicação, visitei instituições, firmei parcerias. Passei a lecionar em cursos de pós-graduação. Virei colunista da Eco Rede Social, criei um blog, escrevi matérias jornalísticas para alguns veículos. Escrevi um livro contando minha experiência (Quando o Hoje Já Não Basta). Nem tudo era remunerado, mas isto não tinha importância. O que valia era viver o novo 81


e ver significado em cada escolha. A insatisfação com o trabalho e a necessidade de mudança me fizeram ter uma vida melhor, hoje. Não deixei que o medo ou o receio me impedissem de ir atrás daquilo que realmente me fizesse bem. Mas até descobrir o que me fazia bem, precisei passar por muitos momentos de indecisão, de angústia, de esgotamentos. Porém, ainda assim, não hesitei e continuei na minha busca constante para encontrar a satisfação comigo mesma. O meu trabalho agora tinha significado para mim. A profissão não estava mais separada da minha vida pessoal. Ela me permitia viver plenamente outras coisas que gostava. Elas não eram mais postergadas para o final de semana. Tudo isso era mágico. Alegrava-me ver sentido nesta nova vida mais integrada com o todo, ter liberdade, tempo, sentir-me útil e fazer o que amava. ”(Regina Hostin). SEMPRE É TEMPO DE MUDAR A carga horária nos faz ter pressa. O trabalho exige cada vez mais tempo da nossa vida. Por isso, como a história da Regina, é preciso buscar por um emprego que não somente pague o salário, mas que traga satisfação. Essas descobertas às vezes são difíceis. Passamos muito tempo apreensivos sem saber de onde vem essa angústia - que na maioria das vezes vem do trabalho. É preciso escutar com atenção o que o nosso interior diz. Se a Regina não parasse para perceber o que tirava em partes a felicidade dela, talvez estaria convivendo com esse descontentamento até hoje. Mas é sempre tempo de mudar. Basta desacelerar e ouvir o que o coração diz enquanto – é tempo – bate.

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15 | O NOVO PERFIL PROFISSIONAL Por Raphael Santos Machado

Há um bom tempo podíamos ver um novo perfil de profissional se formando, hoje, porém, apesar da reformulação do mercado de trabalho, é notória a definição desse novo comunicador. Multimídia e nexalista, esse novo formador de opinião está sempre atento às mais diversas possibilidades. Zona de conforto não é mais interessante, ele já explorou tudo o que há lá dento. Ele quer mais, ele quer ser aquele que olha por fora, que descontrói seu próprio pensamento, para desta formar e construí-los. Segundo o Jornalista, Fábio Ricardo, o desgaste é, de fato, um fator propulsor. Depois de muito tempo na mesma empresa, você não se sente mais desafiado, não se sente mais inovador, e corre um risco muito grande de se acomodar. A realidade do profissional da atualidade é outra. Encara-se um novo emprego como um projeto individual, sem ligação com os demais. Com objetivos de empreender, inovar, desenvolver, ele fica tempo suficiente para conquistar resultados para empresa, e ao mesmo tempo agregar valor para si mesmo. Muitas vezes, parte do projeto requer atualização, ou seja, empreender, inovar e desenvolver sobre ele mesmo. O NOVO PROFISSIONAL CONTEMPORÂNEO Era apenas mais uma manhã de 2008, talvez nem tanto. Levantou-se de sua cama box, caminho para seu notebook e acessou seu e-mail. - AAAAAAAHHHH. – Berrou. Essa foi a reação de Taíse de Lima, futura caloura de Jornalismo na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Ela mal pode conter as emoções. Lágri83


mas escorriam pelo seu rosto enrubescido, uma mistura de emoção e alegria. Começava ali a trajetória de uma jovem promissora do jornalismo. Com a veia pulsando por conhecimento, teve suas primeiras experiências na área logo cedo. Assessoria de imprensa no INSS, radiojornalismo e jornal impresso foram uma das suas atividades propulsoras. Cada nova conquista mais lágrimas, mais sorrisos. Ao se formar, em 2012, chorou de alegria, de emoção. Mas logo derramou novas lágrimas, dessa vez de tristeza. – Tchau, mãe. Tchau, pai. Amo vocês! Mudou-se de Ijuí, sua cidade natal, para a cidade de Timbó, pequeno município do Médio Vale do Itajaí, localizado em Santa Catarina. Conquistou o seu primeiro trabalho na região como repórter no Jornal do Médio Vale. - MESTRADO. JORNALISMO. SC. – Pesquisou.. Motivada por um desejo de fazer mestrado, conheceu a Universidade do Estado de santa Catarina - UDESC, foi morar em Blumenau, para suprir essa vontade por mais conhecimento. Mas a esperança esvaiu-se para dar lugar a frustração. Uma nova turma não iniciou naquele ano. – CRÊENDIOS PAI! – praguejou aos ventos. No entanto, estava satisfeita com a mudança, por Blumenau ser uma cidade maior, logo teria maiores oportunidades de crescimento na carreira que tanto se orgulhava de ter escolhido. – Que cidade linda, meu Deus! – Estava encantada pelos detalhes arquitetônicos germânicos e pelos canteiros floridos que a cidade apresentava. – Mídias sociais? Interessante! – Refletiu. Motivada por acreditar em um futuro próximo, onde os veículos migrarão para a web, iniciou estudos na Instituição Blumenauense de Ensino Superior (Ibes-Sociesc), onde cursou a primeira turma de pós-graduação em Comunicação, Empreendorismo e Mídias Sociais. Durante certo período da especialização trabalhou na emissora radiofônica CBN, onde empreendeu um novo conceito de transmissão. Surgiu com a ideia de fazer transmissão direto do local que viu tudo acontecer, fora das paredes acústicas do estúdio. Após concluir sua especialização, Taíse viu surgir mais uma opor84


tunidade, uma vaga para fazer jornalismo nos portais da RIC TV, RIC Mais e ND Vale. – Bah! – Estava super animada com a novidade. Nesse meio tempo, em que colocava em prática suas novas habilidades adquiridas na sua primeira especialização, foi surpreendida por uma chance de ouro, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas - UBES do Rio Grande do Sul, abriu vaga para a última turma de pós-graduação em Jornalismo Esportivo, sua grande paixão. – Às vezes fazemos o que amamos e outras vezes o que devemos fazer. – Chorou mais uma vez. Com lágrimas nos olhos, coração não mão – e em pedaços, fez as malas, largou a casa, o noivo e Sebastião, o seu gato de estimação. Mudou-se o mais breve possível para a sua cidade natal. Viver a sua grande paixão. Durante a sua segunda especialização, trabalhou na TV Pampa, onde cobriu os campeonatos esportivos. – Tchê, eu amo esse trabalho! Foram três meses de alegria e realização, que foi interrompida com a inesperada chegada da crise econômica. Recebeu sua primeira carta de demissão. – Taíse, nos desculpe, você está demitida! – Entregaram-lhe um papel. – Bah, capaz? – Desacreditada do conteúdo. A decepção foi grande, mas durou pouco, quando se apaixonou por uma área nova, que cruzava com sua profissão. Conheceu a social media, uma área que transita entre publicidade e jornalismo. – Social media, uhu. Tem especialização para isso? – Questionou-se. Com a conclusão do atual curso, foi surpreendida por uma proposta encantadora. Foi chamada para fazer parte do quadro de repórteres da RIC. Dividida entre esses dois mundos, colocou na balança, pós e contras. Entre um emprego com carteira assinada e uma cidade que estava tornando-se cada vez mais violenta, mudou-se para Blumenau. Um pouco menos de um mês na nova casa, na nova vida, re85


cebeu a sua segunda carta de demissão, devido a cortes que a crise exigia. Nesse meio tempo entre fins e recomeços, reuniu-se com um amigo para abrir uma empresa de marketing digital, motivado por uma busca que visasse segurança financeira. Foi assim que nasceu a Mule – Marketing Digital. - Vai ser sucesso, Taíse! – Vai sim, sócio! Logo conseguiu uma vaga na TV Gaspar, atuando como produção de reportagens na WEB TV. Produtora, repórter e social media. Ela se vê hoje nessa divisão de pensamentos. Quanto mais empresas, melhor. Ela teve oportunidades de passar por diversos segmentos que o jornalismo pode proporcionar, agregando valor e crescimento profissional. Se por um lado, ela se vê capaz de atuar em qualquer segmento do jornalismo, devido a essas diversas experiências, por outro esse desfoque de segmentação levou ela hoje a um patamar em que a tornou uma profissional sem estabilidade financeira. Hoje Taíse vê sua trajetória parte importante do seu aprendizado. Em meio a real situação da comunicação social de Blumenau, onde os veículos passam por constantes reformulações, ter uma grande bagagem de experiência vem a ser uma garantia, o seu diferencial. E em uma retrospectiva, pode perceber que buscar estudar e ter experiências é o que te trará retorno, e esse foi o seu gás motivador para sair de sua zona de conforto ao lado de família e amigos para dar a cara a tapa em outra cidade.

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16 | O PROFISSIONAL NO JORNALISMO ALTERNATIVO Por Victor Hugo Lessa

Nos últimos anos, a comunicação tem se transformado, não só as novas tecnologias, mas também as suas novas possibilidades de trabalho. A internet possibilitou uma profunda mudança nos meios de comunicação. Simultaneamente a este processo, veio a mudança no meio jornalístico, afinal não é possível mudar o jornalismo sem transformar seus profissionais. Há também a nova possibilidade de trabalhar o jornalismo de forma alternativa, sem necessariamente ser formado na área. O exemplo disso é William Bonner. Formado em comunicação social com ênfase em publicidade e propaganda hoje ele é redator chefe do Jornal Nacional, conhecido por todo o Brasil. Além das mídias tradicionais, já cansativas existem as mídias difusas na internet, que se estabelecem num mercado cada vez mais poderoso e interessante. Portais de comunicação como VICE, Mídia Ninja e Catraca Livre, por exemplo, tem se fortalecido a cada dia devido a força que representam nos meios sociais. Nesse meio tempo, outros sites ganharam destaque na mídia nacional e crescido consideravelmente. Um exemplo prático é o site Omelete, criado em 2000. “Encabeçado” pelos jornalistas Érico Borgo, Marcelo Forlani e Marcelo Hessel, o site está no ranking nacional entre os 300 maiores sites do Brasil. Já bem estabelecido com sua plataforma no Youtube, ainda conta com a promoção e organização da ComicCon Experience. Do outro lado, existe a Qstage. O site traz uma proposta diferente de trabalhar com notícias e informações. Criado e produzido pelo acadêmico de jornalismo Guilherme Venâncio de apenas 20 anos, o site conta com um grupo de quatro pessoas, Lorenzo Piovan de 20 anos, acadêmico de publicidade, Victor Hugo Lessa de 20 anos e Kauan Franca de 19 anos ambos 87


acadêmicos de jornalismo. Apesar de ainda iniciante, a Qstage já está entre sete mil maiores sites do Brasil, levando em consideração os milhares e milhares de sites existentes no país. Grandes jornais conhecidos internacionalmente ainda se mantêm como referências em notícias e informações. Contudo, os novos portais de menor tamanho e nome tem apresentado um poder de crescimento. Isso se deve a segmentação de público, onde um determinado coletivo de pessoas acessa e acompanha um meio de comunicação devido ao conteúdo que este apresenta. A jornalista e pós doutora Rosemeri Laurindo traz a temática do jornalismo diversional, apresentando alguns dos gêneros jornalísticos compreendidos por meios autorais diferenciados. Ela mostra as possibilidades abrangentes de se trabalhar o jornalismo nos dias modernos. Rosemeri conta que o jornalismo tem mudado muito, não só devido as tecnologias, mas também porque as pessoas mudam. “Quando nós falamos do jornalismo diversional, em resumo seria a informação que entretém, e diverte”, explica. O jornalista doutor José Marques de Melo apresenta as teorias e práxis dos gêneros jornalísticos. Ler apenas o que a mídia tradicional apresenta pode ser muito perigoso, além de ser um conteúdo limitado. A qualidade da informação por vezes é duvidável, devido a pressa da noticiabilidade. Por outro lado, há portais como Nexo, Jornalistas Livres e Think Olga são exemplos de meios que não fazem parte de nenhuma coligação com grandes empresas ou mídias. É entendido como jornalismo alternativo a prática jornalística de veicular notícias e informações de conteúdo contextualizado. Desse modo, abranger fatos sobre comunidade LGBT, mulheres, feminismo e misoginia, movimento negro e imigrantes por exemplo, é um dos papeis de diversos meios alternativos. Comunicar é uma arte que traz diversas complicações e fatores necessários a serem levados em consideração. Nem sempre um profissional da área consegue passar da forma mais clara possível a ideia em seu material. Mesmo assim, bloggers, escritores amadores e “semi-profissionais” tem se destacado em redes como Facebook e Youtube por saberem se comunicar de uma forma clara e segmentada. 88


O site Qstage tem se destacado muito nos últimos tempos e não é por acaso. Guilherme Venâncio conta que a proposta do site não é ser mais um portal de notícias, mas sim explorar as mais diversas áreas da comunicação. “Com matérias, reportagens, artigos e documentários, planejamos mergulhar ao máximo na comunicação, sempre com qualidade e aprofundamento”. Contudo, sabe-se que grandes jornais e empresas de comunicação falham constantemente em tentar apresentar “conteúdos” repetitivos, ignorando outros diversos sem motivo. Dentre todos os modos de se fazer jornalismo e comunicação, a que está em alta hoje é a diversional. Em Blumenau o homem do momento é Jaime Batista. Em seu currículo não há sequer uma lasca de comunicação, porém o homem faz o inédito. Os registros da cidade de Blumenau, sejam eventos, acidentes, paisagens, encontros ou momentos, ele está lá! Jaime Batista conta que na enchente, na tragédia de 2008, ele estava à frente das notícias. “Eu peguei uma máquina fotográfica e no meio da chuva eu saí de bicicleta e registrei tudo que pude em foto, essas fotos saíram em rede nacional, o que valorizou bastante meu serviço”, comenta o fotógrafo. Nessa iniciativa ele manteve seu projeto que foi valorizado pela cidade. Hoje ele é referência e apresenta a face de um comunicador que não é essencialmente jornalista, porém faz a comunicação andar muito bem em Blumenau.

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17 | A TECNOLOGIA É A MELHOR ALIADA NA REALIZAÇÃO DE SONHOS Por Letiele Paycorich

Às 15h de um sábado, nos conectamos para conversar. Antes de iniciar nossa entrevista, quis saber um pouco de sua história e a forma como tudo aconteceu na sua vida. Mesmo nossa entrevista sendo à distância, via Skype, eu pude ver seus olhos cheios de lágrimas e o peito inflando. Esperei seu tempo para começar. Ela iniciou. Contou-me que veio de uma cidadezinha do interior de Lages, de uma família de agricultores bem simples. Uma família pequena para a época, ela e mais dois irmãos apenas. Cresceram vivendo naquele pedacinho de chão, achando que a vida não seria diferente da de seus pais. Aos 18 anos acabou o ensino médio e decidiu fazer um curso de informática, lá conheceu um rapaz e se apaixonou. Em um ano se casaram. Em dois anos ela engravidou, foi tudo planejado. A família estava ansiosa, e ela mais ainda, pois seu sonho era ser mãe. Descobriu que era uma menina, da qual colocou o nome de Joanna Vitória. Organizou tudo, roupas, sapatos e o quarto. Teve um parto complicado, ficou no hospital por duas semanas. Quando foi pra casa parecia que as coisas iriam dar certo, o bebê não chorava, era calma, a alegria da casa. Mas com dois meses desmaiou enquanto mamava. Foram às pressas para o hospital, Joanna ficou internada. Fizeram todos os tipos de exames e nada constava, parecia tudo normal. Voltou pra casa. No mês seguinte a mesma coisa e assim foi até os cinco meses de Joanna. Aos seis ficou internada e achavam que ela tinha algo no coração, mas nada concreto. Passou por uma cirurgia e não resistiu. Joanna faleceu aos seis meses. Foi como se o mundo desabasse sobre sua família, como se nada mais fizesse sentido. Separou-se e decidiu vir embora para Blumenau, onde uma prima morava. Aqui começou a trabalhar de 90


diarista, trabalhava de segunda a sábado e no domingo ia para a igreja. Depois de três anos em Blumenau, vivendo deste mesmo jeito, resolveu mudar. Iniciou a faculdade de Comércio Exterior. Quando começou estabeleceu uma meta, que iria se formar e em no máximo cinco anos viajaria para fora. Fez curso de inglês, começou a trabalhar na área. Alugou casa na cidade de Gaspar e comprou um carro. Formou-se. Começou a juntar dinheiro e focar em seus objetivos. Em março de 2015 viajou para o Canadá. A princípio a sua ideia era ficar por apenas três meses, estudando inglês. Em junho voltou para o Brasil, vendeu tudo o que tinha e voltou pra lá, com visto para seis meses. Alugou casa, está estudando e trabalhando. Quando ela acabou de me contar isso tudo, fiquei com os olhos lacrimejando, confesso. Que história! Quis saber mais, de como é o país, de como ela está se adaptando com o idioma, pois ela ainda não fala fluente inglês. Perguntei em como ela lida na dificuldade com o idioma. - Acredito que a tecnologia é a maior aliada. Basta você ter um celular e então pode baixar aplicativos nos quais consegue estudar diariamente e conforme a disponibilidade de tempo. Têm jogos, músicas, vídeos, reportagens, aulas on-line, enfim, são inúmeras as coisas que se pode fazer – Explica. Hoje a tecnologia é a principal forma de aprender outro idioma. Você tem tudo na palma das mãos. Segundo o diretor da escola de inglês YouMove, Rafael Cavalin, a maioria das pessoas procura uma escola de inglês, não para aprender o básico e sim o avançado, pois o básico aprende-se on-line. “O jeito de ensinar também teve que mudar, precisou se adequar a maneiras mais dinâmicas e, claro, disponibilizar tudo on-line. Estudar em casa é o foco principal, treinar o idioma é a melhor maneira de conseguir aprender mais rápido”, comenta Rafael. Continuando a conversa com a Sandra, quis saber como é a qualidade de vida lá, e pedi uma comparação com o Brasil. Algo que eu já imaginava a resposta. Ela diz: - Cheguei aqui e conforme ia conhecendo ia me encantando com tudo. Qualidade de vida, segurança, transporte público, organização, educação das pessoas, taxa tributária, valorização da 91


mão de obra, qualidade das coisas feitas, oportunidades, limpeza, segurança. E as garagens são para guardar coisas, os carros ficam na rua. A segurança aqui é outro nível. Governo honesto. E quando cheguei ao Brasil, havia filas em todos os lugares, no aeroporto, na rua, nos bancos, em todo lugar. Corrupção, roubos, assaltos, estupros, tentativas de suborno, um se achando mais que o outro. Me deu um “choque”, sabe. Choque cultural - conta. A história da Sandra nos mostra que estamos rodeados de oportunidades, basta querermos. Como falamos, temos tudo nas mãos, basta ter iniciativa e foco. Para finalizar pedi a ela que me falasse algo que serviria de exemplo aos outros e ela reforça: - Estou aqui sem muitos planos. Vivendo um dia de cada vez, tentando viver intensamente cada dia, aproveitando tudo deste país lindo. Já sofri muito por antecipação, perdi muito de viver o presente por me preocupar com o futuro. Agora estou invertendo. E acho que todos deveriam sempre tentar, se há um sonho, sempre é possível.

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18 | MEU ESCRITÓRIO EM CASA Por Ana Paula Ferreira

Entrar em uma cafeteria no meio da tarde de um dia de semana qualquer, pedir um café quente com chocolate, sentar em uma mesa próxima a janela que lhe dê visão ao movimento da rua, e ficar ali olhando os carros e as pessoas se locomovendo enquanto o seu notebook liga. No meio tempo entre você entrar naquela cafeteria e seu computador ligar, você deixou a sua criatividade crescer consideravelmente para finalizar aquele projeto que tem o prazo de entrega para a próxima semana. Estar em uma constante busca pela sua realização profissional pode ser uma das suas maiores conquistas. Já para muitas outras pessoas, realização profissional é exercer sua profissão de modo livre e sem pressão de chefes e superiores. Isso pode ser o que as pessoas mais buscam, e que muito delas chamam de: Sucesso! Grandes empresas procuram por profissionais que tragam agilidade, lucro e criatividade. A tecnologia traz isso hoje em dia e faz com que tudo se torne “para ontem”. Porém, muitas empresas descuidam de simples processos, como acompanhar o que o mercado pede para poderem se manter fortes, e acabam tornando tudo ainda mais difícil e maçante para quem o executa. Com a grande oscilação de atualização que o mercado praticamente obriga as empresas a executarem, muitos estabelecimentos investem em treinamentos para os seus funcionários garantindo o aumento da eficácia e produtividade dos colaboradores. Segundo a revista Exame on-line nos últimos anos as empresas brasileiras têm investido em mais de 50% do seu tempo em treinamentos internos, fazendo com que essas empresas tenham um ritmo de crescimento maior, quando comparadas as suas concorrentes. Nos dias atuais empresas que seguem a ideia de se mante93


rem atualizadas ao mercado e que praticam economias beneficiárias aos colaboradores, são empresas que se destacam e que crescem significativamente quando comparadas a outros locais. Home office é um dos grandes diferenciais que empresários e empreendedores investem hoje e que conseguem obter lucros e retornos positivos para os seus negócios. Home office não significa que o colaborador esteja trabalhando de casa, seja remotamente ou via Skype. Esse novo termo para o mercado significa que esse funcionário esteja trabalhando para uma empresa fora do espaço físico que a instituição tem. Podem existir três tipos de trabalhos por home office: o autônomo que mantêm seu próprio negócio dentro de sua casa, o funcionário que não pode estar presente ao escritório e também os famosos freelancer, que são pessoas que dedicam a sua especialidade para empresas que desejam ter seus trabalhos “temporariamente”. Apesar de ser um modo de trabalho que traga bastante benefícios tanto a empresa quanto ao funcionário, o home office hoje ainda carrega preconceitos, estranheza e até polêmicas dependendo do fator. Por isso, existe essa importância de preparar esse tema como algo novo para esse novo mercado que vem por aí. O NOVO PROFISSIONAL Ter uma rotina profissional de segunda a sexta-feira é normal para qualquer pessoa. Acordar, trabalhar, voltar para casa. Mas agora imagina: você acordar sem despertador tocando, somente com a luz do sol matinal sob a sua pele. Tomar o seu café da manhã tranquilamente, sentar em frente ao seu computador pessoal e ali fazer o seu dia de trabalho. Parece um grande sonho para uns ou um grande problema para outros. Não são todas as pessoas que tem a responsabilidade de poder trabalhar em casa e não misturar o pessoal com o profissional. Isso foi um dos maiores motivos que fez Rafael Felipe Reinert querer desistir algumas vezes de ter uma rotina tradicional, para poder investir. Rafael trabalhava em uma empresa de sistemas como um colaborador normal, até que teve a vontade de investir em si mesmo e destinar todo o seu conhecimento para o projeto que ele e 94


seu pai decidiram começar. Inicialmente em casa se viu batalhando contra os seus próprios vícios para que isso não afetasse a sua rotina em seu home office. “Nas três vezes que eu sentei com meu pai, ele me disse que não deixaria desistir e que eu teria que aprender a ter responsabilidade. Não era porque eu estava em casa que eu poderia trabalhar a hora e como eu quisesse”, conta Rafael. Hoje no Brasil são mais de 12 milhões de pessoas que optam por trabalhar no estilo home office, segundo o jornal O Estado de São Paulo. Essa escolha dos brasileiros é por variados motivos, desde otimização de tempo por não necessitar enfrentar trânsito, até em economia por poupar gastos como gasolina, impostos, taxas e alugueis jurídicos. “Meu pai era sócio em uma empresa de sistemas também. Ele vendeu a parte dele e abriu a nova empresa junto comigo e isso fez com que ele conseguisse economizar mais de 50% do que gastávamos antes”, completa Reinert. Segundo a SAP Consultores Associados, uma pesquisa realizada com 200 companhias revelou que 36% das empresas no Brasil são home office, sendo que só em São Paulo mais de 70% delas adotam essa prática. Já nos Estados Unidos da América, cerca de 80% das companhias preferem essa maneira de rotina. Com as redes sociais dominando o dia a dia de seus usuários, é comum vermos, por exemplo, uma loja on-line no Instagram, compartilhando seus produtos de maneira inovadora e ganhando cada vez mais o desejo dos consumidores através de fotos e vídeos rápidos de 6 ou 10 segundos. É o caso da empreendedora Larissa Schmitt que fechou a sua loja física e ficou somente com a loja on-line, comercializando roupas, acessórios e produtos de beleza com suas seguidoras através de suas redes sociais. “Eu comecei a perceber que minhas vendas eram mais da metade pelo site do que pela minha loja física. Então vendi o espaço e fiquei somente com a loja on-line. Além de economizar muito mais, consigo ficar em casa curtindo mais meu filho”, comenta a empreendedora, que se considera feliz por ter encontrado uma maneira de continuar fazendo o que gosta e participar do crescimento do filho de dois anos.

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PROFISSIONALISMO PLURAL Conciliar sua vida pessoal, profissional e social já não é algo tão fácil quanto parece. Agora conciliar isso tudo e mais dois empregos simultâneos, pode ser que complique um pouco mais a sua rotina. É comum nos deparamos com pessoas que trabalham em mais de um emprego. Mas ser sócio em uma empresa e ao mesmo tempo prestar serviços para outra, pode ser mais complicado do que podemos imaginar. É isso que acontece durante a semana movimentada de Marcelo Milliorini, que trabalha de segunda a sexta-feira na sua empresa no segmento de informática, e presta serviços on-line para demais empresas que necessitam de suporte em manutenção de computadores e eletrônicos. A ideia de iniciar a empresa veio desde jovem quando cursava Sistema da Informação em uma universidade afastada da sua cidade natal. “A cidade que nasci não tinha empresas que atendessem a essa necessidade. Foi aí que eu tive a vontade de estudar e trazer esse diferencial”, comenta Marcelo, lembrando das dificuldades que enfrentou quando teve que cursar uma faculdade em outro estado. “Hoje eu consigo trabalhar para a minha própria empresa e também consigo atender outras, que precisam de suporte técnico nessa área da informática”, completa. Ter duas funções durante o seu dia é mais complicado do que apenas seguir uma rotina, seja ela em casa ou no escritório. A responsabilidade se duplica e consequentemente o cansaço também, é uma questão de avaliar se vale a pena e se você realmente gosta do que faz. BENEFÍCIOS QUE GERAM SATISFAÇÃO Já sabemos que home office tem várias vantagens, como poupar tempo e dinheiro. Também já sabemos que o Brasil investe pesado nesse novo modo de trabalho e que isso oferece um ótimo resultado para as empresas que aderem a esse diferencial. Isso tudo se baseia ao novo rumo que o mercado está seguindo, que consequentemente, faz com que todos sejam obrigados a segui-los ou, literalmente, ser deixados para trás. Ser pressionado a cumprir prazos, a ter grandes produções 96


e a seguir regras das quais você nem sempre concorda, não nos faz pensar fora da caixa. Trabalhar remotamente ou começar uma empresa dentro de um cômodo na sua casa pode ser exatamente o que você está procurando. A flexibilidade e o seu tempo otimizado vão fazer com que a sua criatividade se multiplique e que você dê retornos mais do que esperados para si mesmo. Outro ponto que se torna interessante na prática do home office é o crescimento da economia criativa, que basicamente é toda a inspiração, criatividade e produtividade de profissionais que trabalham nas aéreas de moda ou designer, por exemplo. Sua inspiração vem até você quando você se sente confortável e feliz, e isso pode ser tanto na sua casa quanto naquela nova cafeteria que abriu na esquina da sua rua. A flexibilidade do local e do horário faz com que você se sinta livre na produção de trabalho e entregue um maior número ou uma melhor qualidade naquilo que você faz. UM NOVO MERCADO Em uma segunda feira você chega ao escritório onde trabalha e toma um gostoso e saudável café da manhã que, aliás, é a própria empresa que lhe oferece. Você trabalha durante aquela manhã em uma cadeira confortável ao som de uma música agradável, que oferece grandes inspirações. Após o almoço, você descansa e aproveita para ir à academia e praticar algum esporte que você adore. E depois volta para o escritório e finaliza o seu trabalho diário, com a mente descansada e a academia em dia. Essa vida você pode imaginar que pode ser de um empresário ou alguém que tenha a liberdade suficiente de não precisar prestar horários para uma certa empresa. Mas essa, na verdade, é a vida comum e diária de um funcionário da Pixar, por exemplo. A cerca de 13 quilômetros de São Francisco, Califórnia, a Pixar é uma empresa de animação digital norte-americana que fica localizada na cidade de Emeryville. Preocupada com a vida e o bem-estar de seus colaboradores, dentro de suas instalações, Steve Jobs, o maior acionista da Pixar, decidiu que lá precisaria ser um lugar onde as pessoas se sentissem bem o suficiente para serem 97


criativas e para que isso despertasse a criatividade. E para que isso acontecesse nada melhor do que estar extremamente relaxado. Com essa ideia, Jobs criou espaços que gerassem esse bem-estar aos seus funcionários. Logo na entrada, você consegue se deparar com bonecos dos personagens mais famosos em tamanho real, dividindo espaço com a lanchonete que oferece toda a alimentação de seus colaboradores durante os horários que eles estiverem ali produzindo. Na parte de fora, Steve Jobs já quis que tudo remetesse ao conforto que as pessoas sentiriam se estivessem em casa ou em um parque, por exemplo. Com gramados extensos por todo o terreno, é possível fazer um piquenique ou até mesmo ficar por ali relaxando a mente enquanto procura pela criatividade. O terreno se divide em um parque de relaxamento, uma piscina de tamanho olímpico, academia, quadra de vôlei, basquete e tênis, diversas salas de jogos e um cinema com direito a pipoca amanteigada ou doce. Tudo foi pensado e projetado para que os criadores e demais pessoas envolvidas nas grandes criações que a Pixar apresenta, se sentissem tranquilos e confortáveis em não precisarem de pressão para poder realizar os seus trabalhos. Segundo Jobs, a criatividade vem quando estamos com o corpo relaxado estando em um local no qual gostamos de estar. Esse com certeza deve ser uma das chaves do sucesso da Pixar, investir em seus funcionários para que eles se sintam “em casa” gerando maior criatividade e ótimos resultados para a empresa. Hoje, se você não pensar fora da caixa e não acompanhar o que o mercado traz de novo, você poderá perder grandes negócios e deixar de ter o sucesso merecido pelo investimento naquele local. Grandes empresas hoje além de acompanhar os meios tecnológicos e novidades desse mercado, tem a visão de investimento diretamente com o funcionário. Somente dinheiro não garantirá que seus colaboradores sejam profissionais felizes e realizados com o que fazem. Todo colaborador deve sentir que a dedicação que ele assume no dia a dia seja reconhecida, e isso pode ser de várias maneiras: uma mudança no ambiente de trabalho, treinamentos 98


internos, postura diante ao funcionårio, o incentivo do trabalho em equipe e principalmente preocupar-se com o bem-estar de seus colaboradores. Empresas de sucesso reconhecem o trabalho de seus colaboradores e investem para que isso continue sendo a garantia do seu crescimento constante dentro das novas solicitaçþes que o mercado exige de cada um.

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