6º ano - Contextos de vida e trabalho aluno

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Viver, C O L E Ç Ã O

Aprender 6 Ensino Fundamental

o

ANO

Contextos de vida e trabalho Carolina Amaral de Aguiar • Claudio Bazzoni Denise Mendes • Dulce Satiko Onaga Fábio Madeira • Helena Henry Meirelles Heloisa Cerri Ramos • José Carlos Fernandes Rodrigues Maria Cecilia Guedes Condeixa • Marina Marcos Valadão Mirella Laruccia Cleto • Roberto Giansanti Rosane Acedo Vieira • Sueli Aparecida Romaniw

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Hino Nacional Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manuel da Silva Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

Deitado eternamente em berço esplêndido,

De um povo heroico o brado retumbante,

Ao som do mar e à luz do céu profundo,

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Se o penhor dessa igualdade

Do que a terra mais garrida

Conseguimos conquistar com braço forte,

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

Em teu seio, ó liberdade,

“Nossos bosques têm mais vida”,

Desafia o nosso peito a própria morte!

“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada,

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

Brasil, de amor eterno seja símbolo

De amor e de esperança à terra desce,

O lábaro que ostentas estrelado,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

E diga o verde-louro desta flâmula

A imagem do Cruzeiro resplandece.

– Paz no futuro e glória no passado.

Gigante pela própria natureza,

Mas, se ergues da justiça a clava forte,

És belo, és forte, impávido colosso,

Verás que um filho teu não foge à luta,

E o teu futuro espelha essa grandeza.

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

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Terra adorada,

Terra adorada

Entre outras mil,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada,

Pátria amada,

Brasil!

Brasil!

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Carolina Amaral de Aguiar

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo

Claudio Bazzoni

Licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa para a EJA

Denise Mendes

Mestre em História e professora de História para o Ensino Médio

Dulce Satiko Onaga

Licenciada em Matemática e autora de livros didáticos para a disciplina

Fábio Fernandes Madeira Lourenço

Pós-doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas

Helena Henry Meirelles

Licenciada em Matemática e professora de Matemática para a EJA

Heloisa Cerri Ramos

Licenciada em Letras e formadora de professores para a disciplina de Língua Portuguesa

José Carlos Fernandes Rodrigues

Licenciado em Matemática e mestre em Educação Matemática

Maria Cecilia Guedes Condeixa

Licenciada em Biologia e consultora para o ensino de Ciências

Marina Marcos Valadão

Enfermeira, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo

Mirella Laruccia Cleto

Licenciada em Letras e professora de Língua Portuguesa para o Ensino Médio

Roberto Giansanti

Licenciado em Geografia e autor de livros didáticos para a disciplina

Rosane Acedo Vieira

Licenciada em Arte, formadora de professores e autora de materiais didáticos para a disciplina

Sueli Aparecida Romaniw

Licenciada em Letras e professora de Língua Espanhola para Ensino Médio e Superior

2a edição, São Paulo, 2013


© Ação Educativa, 2013 2ª edição, Global Editora, São Paulo 2013 Global Editora Diretor editorial Jefferson L. Alves Gerente editorial Dulce S. Seabra Gerente de produção Flávio Samuel Coordenadora editorial Sandra Regina Fernandes Edição e produção editorial Todotipo Editorial Assistente editorial Rubelita Pinheiro Revisão de texto Agnaldo Alves Alexandra Fonseca Ana Luiza Couto Aracelli de Lima Enymilia Guimarães Hires Héglan Isaura Kimie Imai Rozner Izabel Cristina Rodrigues Luciane Boito Marcos Santos Marcos Visnadi Teresa Cristina Duarte Silva Vera Lucia da Costa

Ação Educativa Diretoria Maria Machado Malta Campos Luciana Guimarães Orlando Joia Coordenação geral Vera Masagão Ribeiro Coordenação editorial Roberto Catelli Jr. Consultoria Denise Delegá (Língua Inglesa) Assistentes editoriais Dylan Frontana Fernanda Bottallo Estagiária em editoração Camila Cysneiros Apoio EED – Serviço de Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento

Pesquisa iconográfica Tempo Composto Ilustrações Llinares Luis Moura Pingado Sociedade Ilustrativa Planeta Terra Design Cartografia Maps World Mario Yoshida Capa Eduardo Okuno Mauricio Negro Foto da capa Ricardo Azoury/Pulsar Imagens (Renda de bilro no distrito de Prainha, Aquiraz, CE, 2009) Projeto gráfico e editoração eletrônica Planeta Terra Design

Direitos Reservados Global Editora e Distribuidora Ltda. Rua Pirapitingui, 111 – Liberdade CEP 01508-020 – Sao Paulo – SP Tel.: (11) 3277-7999 – Fax: (11) 3277-8141 e-mail: global@globaleditora.com.br www.globaleditora.com.br

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Colabore com a produção científica e cultural. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor. No de Catálogo: 3489


Apresentação

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sta obra é destinada a jovens e adultos que iniciam ou retomam seus estudos no segundo segmento do Ensino Fundamental. A elaboração da coleção parte do princípio de que a educação, além de um direito, é uma chave importante para o exercício da cidadania e para a plena participação na vida social. Dessa forma, a coleção tem o propósito de oferecer livros de qualidade, que atendam às necessidades específicas de aprendizagem de jovens e adultos. O livro compõe um conjunto de quatro volumes integrados, com propostas de leitura e escrita, conhecimentos matemáticos e científicos, além de temas relevantes da área de Ciências Humanas, que possibilitam uma melhor compreensão de aspectos da realidade brasileira e mundial. Como em toda obra didática, não temos a pretensão de esgotar conteúdos. Realizamos uma seleção de assuntos e conceitos que consideramos essenciais para jovens e adultos que buscam ampliar a sua formação acadêmica e prosseguir em seus estudos. As abordagens das diferentes áreas de conhecimento orientaram-se pelo respeito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à participação e pela corresponsabilidade pela vida social. Estudar significa aprender em uma multiplicidade de sentidos: aprendemos conceitos básicos das diversas áreas do conhecimento, desenvolvemos habilidades e podemos nos tornar também mais competentes para refletir sobre o mundo que nos cerca, em seus muitos aspectos. Desejamos, assim, que esse material didático seja um meio para que jovens e adultos consigam maior qualificação escolar. Mas, além disso, criamos um material didático com a intenção de proporcionar um conhecimento significativo aos estudantes, que trazem para a sala de aula muitas vivências pessoais e profissionais. Os autores


Sumário UNIDADE 1 – LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 1 – O mundo da leitura, a leitura do mundo

9

Capítulo 2 – A vida contada em versos

20

Capítulo 3 – Acesso ao universo da ciência

33

Capítulo 4 – O que é que o jornal tem?

49

Bibliografia

70

UNIDADE 2 – ARTE Capítulo 1 – Arte, para quê?

75

Capítulo 2 – Quem faz arte?

90

Bibliografia

107

UNIDADE 3 – LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA Capítulo 1 – Língua Inglesa – Comece tentando entender

111

Capítulo 2 – Língua Inglesa – Brasileiros ilustres

127

Capítulo 3 – Língua Espanhola – ¿Hispánico o hispanoamericano?

140

Capítulo 4 – Língua Espanhola – ¿Con quién vives? ¿Dónde vives?

156

Bibliografia

172

UNIDADE 4 – HISTÓRIA Capítulo 1 – Quem são os brasileiros?

177

Capítulo 2 – Brasil antes e depois de Cabral

193

Capítulo 3 – Trabalho livre e escravo no Brasil

213

Bibliografia

229


UNIDADE 5 – GEOGRAFIA Capítulo 1 – Espaço geográfico e vida humana

233

Capítulo 2 – O campo e a cidade

255

Capítulo 3 – Mundo em movimento

277

Bibliografia

297

UNIDADE 6 – CIÊNCIAS Capítulo 1 – Água, saúde e ambiente

301

Capítulo 2 – Ambiente e saneamento básico

318

Bibliografia

332

UNIDADE 7 – MATEMÁTICA E FATOS DO COTIDIANO Capítulo 1 – Descobrindo regularidades

337

Capítulo 2 – Mulheres, mercado informal e a Matemática

353

Capítulo 3 – Relações de trabalho e Matemática

373

Capítulo 4 – Escolaridade e trabalho

386

Bibliografia

400



UNIDADE 1

Língua Portuguesa



Capítulo

1

LÍNGUA PORTUGUESA

O mundo da leitura, a leitura do mundo

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Estúdio Cedraz/Intercontinental Press

stamos sempre lendo. Quando avaliamos o que nos cerca e atribuímos um sentido a isso, com base na nossa experiência, estamos fazendo leituras. Lemos o ambiente, as atitudes das pessoas, seus olhares... Enfim, lemos o mundo. Leia a tirinha abaixo, criada pelo quadrinista baiano Antonio Cedraz. Veja como o que lemos (um gesto, por exemplo) pode ter mais de um sentido.

GLOSSÁRIO

Banho de folha: conhecido também como banho de ervas, banho de cheiro, banho-cheiroso. É um banho no qual se misturam ervas, cascas, flores, essências, folhas, resinas etc., ou seja, componentes que popularmente são considerados medicinais e também capazes de afastar o azar.

RODA DE CONVERSA

Pensando nos muitos sentidos que podemos atribuir a um texto, reúna-se com seus colegas para responderem juntos às seguintes questões: 1. No primeiro quadrinho, Zé Pequeno entrega algumas ervas fres-

cas a Xaxado. Que finalidades podem existir nesse ato? 2. O que o porquinho achou que os dois fariam com aquelas ervas? 3. As pessoas constroem sentidos diante de uma situação ou de um

Antonio Cedraz Nasceu em Miguel Calmon, na Bahia, em 1945. Além de ser quadrinista, trabalhou também como professor e bancário. Em 1998 criou a Turma do Xaxado. Já recebeu prêmios importantes por suas histórias em quadrinhos.

Intercontinental Press

texto, como o porquinho da tira. Que exemplos do dia a dia vocês podem citar para confirmar essa declaração?

Turma do Xaxado É formada por personagens tipicamente brasileiras. A principal é Xaxado, menino despachado, que está sempre alerta para preservar as tradições herdadas do avô, um dos cangaceiros de Lampião. Ele é acompanhado por outras personagens, como o preguiçoso Zé Pequeno, a intelectual Marieta, o arrogante Arturzinho, a ecologista Marinês e seu irmão, o músico Capiba. As histórias, que têm humor e um toque de crítica social, falam dos encantos e problemas da nossa terra: a seca, a rotina mais lúdica da vida na roça e as figuras do folclore nacional.

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O PAPEL DO LEITOR Um texto pode ter vários significados. E o sentido que damos a cada um desses possíveis significados pode variar de acordo com o ponto de vista de quem lê. Suponha, por exemplo, que uma amiga de Zé Pequeno e Xaxado também tenha observado a cena, como os animais, e que ela tenha pensado nas mesmas possibilidades que o porquinho. Você acha que ela teria a mesma reação que os animais? Provavelmente nenhuma das possibilidades deixaria a amiga deles preocupada, já os bichinhos teriam o que temer... Podemos então afirmar que essa menina e os animais atribuíram sentidos diferentes às mesmas ideias. Leram o mesmo gesto de formas distintas, ainda que tenham entendido a mesma coisa por meio do gesto. Tudo isso mostra que o leitor é muito importante no processo de leitura. O sentido do que lemos não é único, nem imutável. O sentido não está pronto nas coisas, mas esperando ser descoberto. O sentido depende do leitor, precisa dele...

LER CARTA

Para esta atividade, você vai ler um trecho de um documento muito importante na história do nosso país. Trata-se da carta do achamento do Brasil. Nas esquadras que faziam as longas e perigosas viagens marítimas nos séculos XV e XVI, havia um escrevente. Sua função era relatar ao rei tudo que acontecia, como eram as terras recém-conhecidas e que expectativas havia em relação às explorações das terras. No caso da esquadra que chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500, o escrevente era um português chamado Pero Vaz de Caminha. Leia a seguir um trecho de uma carta que ele escreveu a dom Manuel: [...] O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço [...]. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo. [...] CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a el rei d. Manuel. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2012.

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Língua Portuguesa

GLOSSÁRIO

Alcatifa: tapete espesso e bem macio. Castiçal: peça que tem um bocal para apoiar uma vela. Conta: peça pequena usada em rosários, colares, pulseiras etc. Cortesia: gentileza. Escrevente: pessoa que escreve. Estrado: suporte sobre o qual se apoia algo; banquinho para descanso dos pés. Fitar: olhar fixamente. Folgar: ficar satisfeito, alegrar-se. Mui: forma antiga da palavra “muito”. Rosário: fileira de contas usadas para fazer orações, como o terço. Tem três vezes o tamanho do terço.


Responda às questões a seguir. Elas ajudarão você a interpretar o texto. 1. A quem o escrevente se refere quando redige “eles”, no primeiro parágrafo? 2. Qual é o nome do capitão que o escrevente cita na carta? 3. No início desse trecho da carta, o escrevente descreve o capitão. a) Que detalhes são apresentados? b) Com base nesses detalhes, que leitura você faz do capitão? c) Você acha que os nativos do Brasil fizeram a mesma leitura? Explique

sua resposta. 4. Em “Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a

alguém”, Pero Vaz de Caminha mostra que provavelmente esperava certo comportamento dos nativos. a) Qual era o comportamento esperado? b) Por que o escrevente teria essa expectativa? c) Que leitura você faz dessa expectativa do escrevente? 5. O escrevente Pero Vaz de Caminha lê alguns gestos dos nativos. No pró-

prio texto reproduzido, sublinhe a parte que indica esses gestos e marque com pares de colchetes – [ ] – a parte que mostra a interpretação que ele fez dos gestos. 6. Só bem depois de a carta ter sido escrita foram encontrados ouro e prata

no Brasil. Na sua opinião, o que fez Caminha interpretar que havia essas riquezas nas nossas terras? 7. Caminha poderia ter atribuído outros sentidos aos gestos dos nativos. Cite

ao menos um.

CONHECER MAIS

A carta do achamento do Brasil Um navio da esquadra levou a carta de Pero Vaz de Caminha para Portugal. Depois de ser lida pelo rei, a carta foi guardada como documento secreto, para evitar que os espanhóis soubessem dessas terras que os portugueses haviam conhecido. Ficou guardada (e esquecida) por muitos anos no Arquivo Central do Estado Português, que se chama Torre do Tombo. Uma cópia da carta foi encontrada no Brasil em 1817 no Arquivo da Marinha Real do Rio de Janeiro. Foi nessa época que ela se tornou pública.

AS PALAVRAS, OS SENTIDOS Uma árvore que cai no meio da floresta, sem ninguém ali por perto para ouvir, faz barulho? Essa pergunta, que parece brincadeira, tem um sentido profundo e ajuda-nos a refletir sobre a necessidade de haver alguém para testemunhar as coisas. Se não há olhos para ver nem ouvidos para escutar, parece que as coisas não acontecem. Essa reflexão revela também que, quando observamos e sentimos as coisas que nos cercam, trazemos o mundo para dentro de nós. Mas, na maioria das vezes, não nos satisfazemos apenas em perceber ou sentir. Ao trazer o mundo para dentro de nós, logo somos dominados por uma vontade de comunicá-lo, expressá-lo, de repartir com outras pessoas o nosso testemunho. Daí a importância da linguagem verbal, isto é, da linguagem que usa palavras.

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Para refletir sobre o funcionamento da linguagem verbal, vamos partir de um exemplo. Na Grécia antiga, quando alguém recebia a visita de um hóspede, costumava lhe dar, em sinal de afeição, um objeto. Era um sinal de reconhecimento. Também era comum, entre os amigos, partir uma moeda pelo meio, cabendo uma parte a cada um – cada metade era um sinal de amizade. Costumava-se também usar desse meio para reconhecer pessoas, depois de uma longa separação. Os pais, quando tinham de separar-se dos filhos por longo tempo, lançavam mão de algum símbolo para posteriormente reconhecê-los. Assim, por trás da moeda partida ou de qualquer outro sinal ou símbolo, havia sempre um significado: a amizade, o amor, a união. Um sinal ou símbolo sempre se refere a outra coisa; por trás deles está o que é simbolizado por eles. Nesse sentido, sinais e símbolos são considerados signos, isto é, uma coisa que torna presente outra coisa. Mas o que tudo isso tem a ver com o estudo de língua portuguesa? Muita coisa! Vamos esclarecer! A palavra também é um signo, um signo linguístico. E, como signo, ela evoca algo, representa algo. Pois bem, estudando a língua portuguesa (na verdade, estudando qualquer língua), você refletirá sobre os diversos modos como as palavras são usadas. Não há como negar: as palavras são signos com os quais lidamos a todo instante. Palavras faladas ou escritas nos levam a refletir sobre fatos da realidade, fazem-nos conhecer experiências humanas que alimentam os desejos e os sonhos. Se para fazer barulho a árvore precisa de alguém que a ouça, as palavras também precisam de alguém que revele seus sentidos. É por isso que temos de assumir nosso papel de leitores, leitores das palavras e do mundo. Aprimorando nossa maneira de ler, poderemos ampliar a capacidade de compreensão e admiração do mundo.

OS TEXTOS, OS SENTIDOS As palavras não são empregadas isoladamente. Elas são organizadas em textos para expressar sentidos aos leitores e ouvintes. É importante lembrar que a palavra texto tem relação com tecido. Podemos perceber essa aproximação quando pensamos em indústria têxtil. Texto, em seu sentido original, significa aquilo que foi tecido. Tanto no texto como no tecido, está presente a ideia dos fios que são tramados, entrelaçados para criar um todo. E quando olhamos para esse todo – seja o tecido, seja o texto – nem percebemos os vários fios, enxergamos algo que é uma unidade. Assim, o que define um texto não é a presença de palavras, pois há também textos visuais (um quadro, uma foto), sonoros (uma sinfonia), verbais e visuais (um filme, uma história em quadrinhos). O que define um texto é o sentido ou os sentidos que o autor pretendeu alcançar quando o criou, certa unidade, que é perceptível para quem o lê, ouve e vê. 12

Língua Portuguesa


Essa definição e a ideia de que “textos são objetos simbólicos que pedem para ser interpretados” nos dão uma dica importante: não é possível ler sem interpretar. E a interpretação de um texto não ocorre depois, mas durante a leitura. Ao ler, o leitor vai estabelecendo relações entre as ideias apresentadas, refletindo sobre a maneira como o texto foi organizado, inferindo a intenção do autor, enfim, vai descobrindo os sentidos.

LER TIRA

Estúdio Cedraz/Intercontinental Press

L eia a tira da turma do X axado. E m segui da, responda à s questõe s.

1. Ginuíno levantou suspeitas contra o goleiro. Em que dado a leitura dele se baseia? 2. O colega de Ginuíno não fez a mesma leitura. a) O que ele alega para justificar sua discordância? b) Em que circunstância a justificativa do colega de Ginuíno seria coerente? 3. Em um diálogo, as falas podem revelar a imagem que as pessoas têm umas das outras. Que ima-

gem Ginuíno provavelmente tem de seu colega? 4. Que nome se dá à situação que envolve o goleiro? 5. A tira usa a linguagem verbal? Justifique sua resposta. 6. A tira usa alguma linguagem não verbal? Em caso afirmativo, mencione. 7. Quando queremos mencionar o que está no interior dos balões, costumamos usar a palavra texto.

Neste caso, a que tipo de texto, especificamente, estamos nos referindo? 8. Essa tira da Turma do Xaxado, formada por dois quadrinhos, é um texto. Que característica da

tira nos permite fazer essa afirmação?

TEXTOS FICCIONAIS E NÃO FICCIONAIS Para ler bem um texto, um procedimento importante é avaliar logo de início se ele é ficcional ou não ficcional. Ficção quer dizer “invenção”, “simulação”, “imagi6º ano

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nação”. O autor de um texto ficcional inventa um mundo que pode ser totalmente diferente do nosso ou reinventa nosso mundo real na imaginação dele. Como fez o quadrinista Antonio Cedraz, autor da tira que você leu no começo deste capítulo. Os textos ficcionais podem ser escritos em prosa, ou seja, organizados em frases e parágrafos. É o caso dos romances, por exemplo. E também podem ser escritos em versos, organizados em estrofes, com ou sem rimas, conforme você verá no próximo capítulo. Os textos que apresentam um “toque poético” são considerados obra de arte, pois produzem um tipo de emoção que as obras de arte costumam provocar. Você já ouviu uma música ou uma história, ou viu um quadro ou uma foto, e sentiu o coração bater mais forte? Sentiu um nó no peito, os olhos cheios de água, uma vontade maluca de rir? Emoções assim costumam ser geradas por obras de arte, entre elas o texto literário. Para fazer a leitura pessoal do mundo, o autor de um texto literário seleciona e combina palavras. É essa combinação cuidadosa de palavras que torna o texto artístico. Por isso, diante de textos artisticamente pensados, é importante observar o que o autor “diz” (o conteúdo) e “como ele diz” (a maneira como o texto está escrito). A maneira especial como as palavras estão organizadas e encadeadas produz efeitos que geram reações emocionais. Já o autor de um texto não ficcional não se preocupa com isso. Um cientista, por exemplo, procura apresentar de forma objetiva a realidade. Ele busca entender a natureza e escrever os textos científicos a partir do que observa. Claro que ele pode imaginar teorias e escolher palavras belas para seu texto, mas sua intenção principal não é inventar. O cientista quer explicar, com objetividade, o funcionamento do mundo.

LER TEXTOS FICCIONAIS E NÃO FICCIONAIS

Leia os três textos a seguir. Coveiros da natureza A vida de um organismo costuma ser dividida em quatro fases: nascimento, crescimento, reprodução e morte. Após a morte, o ser vivo será consumido aos poucos por diversas criaturas – como fungos, bactérias e animais – chamadas necrófagas, palavra de origem grega que significa “que come os mortos”. [...] a atividade dos necrófagos é fundamental para o equilíbrio da natureza, pois promove a reciclagem de nutrientes da cadeia alimentar. Os besouros do gênero Coprophanaeus formam um grupo interessante de besouros-carniceiros. Ao encontrarem um animal morto, usam as pernas e a cabeça para arrancar pedaços de carne, que são usados para alimentar suas larvas. [...] COSTA, Henrique Caldeira. Coveiros da natureza. Disponível em: <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/coveiros-da-natureza>. Acesso em: 18 maio 2012.

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Língua Portuguesa


O velho ambicioso Um velho tinha um filho muito trabalhador. Não podendo ganhar a vida como desejava em sua terra, despediu-se do pai e seguiu viagem para longe a fim de trabalhar. A princípio mandava notícias e dinheiro, mas depois deixou de escrever e o velho o julgava morto. Anos depois, numa tarde, chegou à casa do velho um homem e pediu agasalho por uma noite. Durante a ceia conversou pouco e deitou-se logo para dormir. O velho, reparando que o desconhecido trazia muito dinheiro, resolveu matá-lo. Relutou muito, mas acabou cedendo à tentação e assassinou o hóspede, enterrando-o no quintal do sítio. Voltou para a sala e abriu a mala do morto. Encontrou a prova de que se tratava do próprio filho, agora rico, e que vinha fazer-lhe uma surpresa. Cheio de horror, o pai e matador foi entregar-se à justiça e morreu na prisão, carregado de remorsos. Contado por Mons. Alfredo Pegalo, em Natal, Rio Grande do Norte CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil para jovens. São Paulo: Global, 2006. p. 56.

Cidade italiana cria lei que proíbe moradores de morrer Município com 4 000 habitantes alega que não tem mais onde enterrar mortos O prefeito da cidade de Falciano Del Massico, Giulio Cesare Fava, assinou um decreto inédito para o município com cerca de 4 000 habitantes. A lei proíbe que os residentes morram, como indica o texto: “Os cidadãos não poderão cruzar as fronteiras da vida terrestre e adentrar o além.” Fava alega que o cemitério da cidade está lotado e que não tem verba suficiente para construir outro. O município da cidade vizinha, Carinola, também está cheio. O prefeito não divulgou como será feita a punição para o decreto. Desde que ele anunciou a lei, dois idosos morreram. Fava diz que pretendia provocar as autoridades do governo central e a prefeitura de Carinola, que não estaria colaborando ao abrir novas vagas no cemitério. Ele afirma que os moradores de Falciano Del Massico se divertiram muito com a medida. “As pessoas na cidade estão fazendo abaixo-assinados e já tem dono de terra prometendo oferecer áreas para a prefeitura usar para construção de cemitérios.” Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/noticias/ cidade-italiana-cria-lei-que-proibe-moradores-de-morrer-20120315.html>. Acesso em: 21 set. 2012.

Classifique os textos em ficcional ou não ficcional. Em seguida, justifique por que você deu essa classificação. a) “Coveiros da natureza”

b) “O velho ambicioso”

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c) “Cidade italiana cria lei que proíbe moradores de morrer”

PLANEJANDO A FALA

No seu dia a dia são comuns as situações de fala. Nesta seção você também vai praticar a língua portuguesa na modalidade oral. A diferença é que a fala aqui será planejada, pois fará parte de uma situação de apresentação pública. Junto com alguns colegas, você vai se encarregar de contar uma história a um grupo da classe. E esse grupo também vai se organizar para contar uma história a vocês. Sigam estas etapas: 1. Conforme as orientações do professor, formem grupos de 4 ou 5 alunos. 2. Leiam o texto que o professor indicar a cada grupo. Será um dos tex-

tos transcritos nas páginas seguintes. O professor também vai orientá-los como realizar a leitura. 3. Dividam o texto em algumas partes. O tamanho dessas partes pode va-

riar, o importante é que cada uma tenha unidade de sentido. 4. Encarreguem cada componente do grupo de contar uma parte do texto. 5. Estudem, individualmente, o conteúdo que ficou por sua conta. 6. Ensaiem, no próprio grupo, a apresentação oral. Para isso, o aluno que fi-

cou com a primeira parte começa a contar a narrativa, seguido por aquele que ficou com a parte seguinte, e assim sucessivamente até o última pessoa do grupo. 7. Comentem a apresentação de cada colega, observando: • • • •

o tom de voz; se a pessoa transmitiu o conteúdo do texto original; se deu destaque aos detalhes importantes; se buscou envolver quem estava ouvindo.

8. Ensaiem quantas vezes julgarem necessário. 9. No dia marcado pelo professor, dois grupos que prepararam narrativas

diferentes ficarão juntos. Um grupo conta sua história ao outro. 10. Após o término da apresentação, conversem sobre o que acharam das

histórias e da experiência de falar em público.

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Língua Portuguesa


Uma questão de interpretação Havia certa vez, em certo reino, um mosteiro habitado por monges jovens e idosos, que passavam o dia em preces, contemplações e estudos. Um dia, um novo rei subiu ao trono e quis conhecer melhor seus domínios. Ao passar pelo mosteiro, ficou maravilhado com os jardins e a paisagem do lugar. Imediatamente cobiçou o mosteiro para si, já pensando em transformá-lo em residência de veraneio. No entanto, não podia expulsar assim, sumariamente, os religiosos. Isso o indisporia com seus súditos e ministros. Resolveu, então, conseguir o que queria de modo mais sutil. Proclamou que desconfiava de que aqueles monges não tivessem, ali, a austeridade e a vida dura necessárias para ampliar seus conhecimentos. Assim, seria melhor saírem de lá e mendigarem pelas aldeias. Para comprovar que os monges eram ignorantes, promoveria um debate. Os monges poderiam escolher um dentre eles para debater com o sumo sacerdote da corte. Se o sacerdote ganhasse o debate, ficariam comprovadas as desconfianças do rei, e os monges seriam expulsos. Mas se, porventura, o sacerdote viesse a reconhecer sua derrota, então os monges ganhariam o direito de habitar o monastério para sempre. Os monges tremeram ao saber da resolução do rei. O sumo sacerdote era famoso por seus conhecimentos, sendo especialista em filosofia, teologia e todas as outras ciências da época. Convocaram uma reunião e tentaram decidir quem seria o debatedor. Porém, nenhum dos monges se propunha a tão difícil tarefa. A reunião estava num momento de impasse, quando o jardineiro do convento, um homem muito simples, apresentou-se como voluntário. Houve um murmúrio de desaprovação, mas o monge superior foi prático: – Não temos voluntário algum. Isso quer dizer que, se não há outra saída, esta é a única saída. E no dia marcado para o debate, o jardineiro, acompanhado por alguns monges, apresentou-se no palácio, onde já o esperavam o rei, o sacerdote e todos os homens doutos e poderosos da corte. Teve início o debate. O sacerdote prometera a si mesmo que derrotaria o adversário sem nem sequer pronunciar uma palavra. Depois de olhá-lo com desprezo, apontou o dedo para cima. O jardineiro, sem se perturbar, apontou o dedo para o chão. O sacerdote pareceu ficar desconcertado. Mostrou-lhe então um dedo, diante de seu nariz. O jardineiro não teve dúvidas: mostrou-lhe os cinco dedos, com a mão toda aberta. O sacerdote titubeou. Com uma expressão de raiva e desespero, tirou do bolso uma laranja. O jardineiro, muito tranquilo, tirou do bolso um pãozinho. O sacerdote empalideceu e pediu ao rei que encerrasse o debate. Ele reconhecia a derrota e declarava que nunca encontrara um oponente tão sábio. O rei foi obrigado a cumprir sua palavra e assinou o compromisso de que os monges conservariam o monastério para sempre. Assim que os vencedores deixaram o palácio, todos se reuniram com o sacerdote, querendo que ele explicasse, o que, afinal, tinha sido discutido. – Quando apontei o dedo para cima – disse o sacerdote –, quis declarar que só a sabedoria dos céus é o que conta neste mundo. Mas ele, apontando para a terra, rebateu dizendo que, embora não possamos deixar de considerar os céus, somos homens e vivemos na terra. Então, mostrando-lhe um único dedo, argumentei que somos frágeis, pois estamos sozinhos. E ele sabiamente me fez pensar que não, que estamos cercados por outros homens, nossos irmãos. Finalmente, ao mostrar a laranja, rebati suas ideias, lembrando-o de que a natureza é mais forte do que o homem, pois sabe criar coisas que ele jamais criaria. Foi aí que ele me deu o golpe de misericórdia: ao mostrar-me o pão, lembrou-me de que o homem é capaz de conhecer e modificar a natureza, criando obras que, sozinha, ela não pode fazer. 6º ano

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Todos ficaram estupefatos com a sabedoria revelada pelos monges. Enquanto isso, no monastério, os monges se reuniam ao redor do jardineiro, que explicava: – Foi muito simples. Quando ele apontou para cima, mostrando que ia chover, eu mostrei-lhe o chão, dizendo que seria bom, pois a terra necessita de chuva. Depois ele me pareceu aborrecido e me mostrou um calo no seu dedo. Querendo ser gentil, mostrei-lhe minha mão toda, para que ele visse que isso não tem importância: eu tenho calos em todos os dedos! E, quando ele tirou a laranja do bolso, pensei que fosse hora do lanche e peguei meu pão. PAMPLONA, Rosane; MAGALHÃES, Sônia (Org.). O homem que contava histórias. São Paulo: Brinque-Book, 2005. p. 28-31.

Os três homens atentos Três homens caminhavam juntos por uma estrada quando passou por eles um velho muito apressado. – Por acaso vocês viram o meu camelo? – ele perguntou, cheio de preocupação. O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta: – Seu camelo é cego de um olho? – É sim – disse o cameleiro. – Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem. – É isso mesmo. – É manco de uma perna? – completou o terceiro. – Com certeza – ele afirmou. Os três homens o aconselharam a seguir na direção de onde eles tinham vindo, que logo encontraria seu camelo. O cameleiro agradeceu muito a indicação e se foi. Mas nem sinal do camelo. “Vou voltar correndo para falar mais uma vez com aqueles viajantes”, ele disse para si mesmo. “Quem sabe poderão me dizer mais claramente em que lugar eles o viram.” No final do dia, já quase sem forças, o dono do camelo avistou os três homens descansando debaixo de uma amendoeira à beira da estrada. – Não achei nada – ele gritou. – O camelo levava duas cargas, de um lado mel e do outro milho? – perguntou o primeiro homem. – Sim – respondeu o cameleiro, bastante ansioso. – Uma mulher grávida estava montada nele? – quis saber o segundo. – Era minha mulher – falou o cameleiro. – Sinto muito – disse finalmente o terceiro homem. – Nós não vimos o seu camelo. O cameleiro foi embora desapontado, mas no caminho começou a juntar os fatos. “Se eles sabem de tudo isso, é claro que estão escondendo de mim alguma coisa importante. E se estão escondendo, é porque foram eles que roubaram meu camelo, a carga e também minha mulher. São ladrões perigosos, mas não vão me enganar.” Correu até o juiz e contou toda a história, muito nervoso. O juiz achou que o cameleiro tinha motivos mais que justos para suspeitar daqueles homens, e ordenou que os prendessem como ladrões. Enquanto isso, iria mandar investigar os fatos, para confirmar a culpa dos viajantes. Algum tempo depois, o cameleiro voltou para casa e encontrou a mulher cozinhando um delicioso carneiro para o jantar. Ela disse que deixara o camelo no campo perto da casa de sua comadre, onde tinha parado para conversar. O cameleiro retornou à corte e, pedindo desculpas por ter se enganado, disse ao juiz que podia libertar os homens. 18

Língua Portuguesa


O juiz mandou chamar os três viajantes. – Se vocês nem sequer tinham visto o camelo, como podiam saber tantas coisas sobre ele? – perguntou, cheio de curiosidade. – Bem – disse o primeiro homem –, nós vimos suas pegadas no caminho. – Uma das pegadas era mais fraca que as outras, por isso deduzimos que era manco – disse o segundo. – Além disso, ele tinha mordiscado o mato de um lado só da estrada e, assim, devia ser cego de um olho – continuou o terceiro. O primeiro seguiu falando: – As folhas estavam rasgadas, o que indica que o camelo tinha perdido um dente. E o terceiro: – De um lado do caminho vimos abelhas sobre os restos de alguma coisa no chão e, do outro lado, havia formigas sobre um outro monte. As abelhas comiam o mel que havia caído da carga, e as formigas recolhiam os grãos de milho. – Também vimos alguns fios de cabelo humano bem compridos que só podiam ser de uma mulher. Eles estavam bem no lugar onde alguém tinha parado um animal e depois descido – disse o primeiro homem. – No lugar onde a mulher sentou, observamos as marcas das duas palmas das mãos, o que nos levou a pensar que ela precisara apoiar-se, tanto para sentar como para levantar. Assim deduzimos que a mulher estava grávida – completou o segundo homem. O juiz ficou impressionado. – Mas por que não se defenderam, se não tinham culpa de nada? – Porque nós sabíamos que ninguém iria roubar um camelo manco, cego de um olho, sem um dente, levando uma mulher grávida! E que logo seu dono iria encontrá-lo. Sabíamos também que ficaria envergonhado e viria até a corte para corrigir o erro – disseram os três juntos. Naquela noite, o juiz, antes de dormir, ficou um tempão sentado na cama lembrando do seu camelo. Nunca tinha reparado se ele era manco, ou se era cego de um olho, ou se lhe faltava um dente. Quanto aos três homens, até hoje viajam pelos caminhos do mundo, realizando o trabalho que lhes foi destinado. MACHADO, Regina. A formiga Aurélia e outras formas de ver o mundo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998. p. 19-22.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Dezenove poemas desengonçados

O poeta apresenta várias situações em que ocorrem experiências de leitura e que não têm obrigatoriamente relação com o texto verbal. Aula de leitura. In: AZEVEDO, Ricardo. Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática, 1999.

Sites

Série formação do leitor – parte 1

O site traz um episódio do programa Categorias Literárias, exibido pela Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt). É possível baixar um arquivo de áudio que descreve o processo de leitura e as habilidades necessárias para entender um texto. Inclui a narração do conto “A primavera da lagarta”, de Ruth Rocha, para exemplificar. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2792>. Acesso em: 18 jul. 2012.

Série formação do leitor – partes 8 e 9

Mais episódios do programa Categorias Literárias, exibido pela Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt). Aqui é abordada a “certidão de nascimento do Brasil”, ou seja, a carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2799>; <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2800>. Acesso em: 18 jul. 2012.

6º ano

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Capítulo

2

LÍNGUA PORTUGUESA

A vida contada em versos

N

este capítulo, você vai ler e analisar poemas que se referem a momentos pessoais e especiais da vida. Um dos poemas expressa o sentimento de saudade e nostalgia de quem está vivendo longe da terra natal; o outro relembra um episódio querido da infância, e o terceiro mostra a euforia de quem está chegando saudoso para rever sua cidade.

Francisco Aragão/Getty Images

Retirantes nordestinos, escultura do pernambucano Abelardo Germano da Hora. Além da literatura, o tema do exílio ou do abandono da terra natal está muito presente em outras expressões artísticas, como as artes plásticas.

RODA DE CONVERSA I

Nossa identidade está relacionada à origem, isto é, a nossos antepassados e à terra onde nascemos. Quando estamos na nossa terra, sabemos quem somos e nos sentimos seguros. Viver fora do nosso país pode ser uma experiência rica, mas também é difícil, pois são muitas as diferenças que precisam ser enfrentadas: climáticas, ambientais, geográficas, culturais, linguísticas etc. 20

Língua Portuguesa


Antes de continuar refletindo sobre isso, faça uma dupla com um colega e respondam juntos às seguintes questões: 1. Você já ficou fora de seu país ou de sua cidade por algum tempo? A saída foi obrigatória ou vo-

luntária? Como foi essa experiência? 2. Quais foram seus sentimentos ao se lembrar da terra distante? 3. Explique o que você entende por exílio. 4. Compare sua resposta com as explicações do significado da palavra exílio abaixo.

exílio.(z). [do lat. exiliu.] S. m. 1. Expatriação forçada ou voluntária; degredo, desterro. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 741.

Etimologicamente, a palavra exílio tem origem em exsilium, de exsul, e se refere ao significado de “ausência de solo pátrio”. Historicamente, o sentido de exílio tem se modificado ao longo dos séculos. Entre os romanos, era um direito, uma atitude voluntária do cidadão a fim de evitar incorrer em pena mais grave. Somente a partir de 63 a.C. o exílio passa a ser incluído no direito penal, sendo considerado uma punição. QUEIROZ, Flávia Tebaldi Henriques. A poesia de exílio de Jorge de Sena. Dissertação (Mestrado). Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2006. p. 13-14.

5. Você sabe de alguém que já viveu no exílio? Por que essa pessoa se exilou? O exílio foi forçado ou

voluntário? 6. Peça ao professor de História que fale sobre exilados políticos da história recente do Brasil.

LER IMAGENS

Charles Chusseau-Flaviens/George Eastman House/Getty Images

Observe as imagens a seguir. Se você tivesse que escolher entre esses dois lugares para viver, por qual deles optaria? Explique oralmente sua escolha.

Cidade de Coimbra, em Portugal, no início do século XX.

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Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Johann Moritz Rugendas retrata a natureza brasileira no século XIX. Barbacena, Minas Gerais, 1835. Gravura publicada em Viagem pitoresca através do Brasil.

LER POEMA I

O primeiro poema que você vai ler é “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. Antes, saiba um pouco sobre o poema e a vida do poeta nos textos abaixo.

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Antônio Gonçalves Dias

O poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, foi escrito em 1843 e é sem dúvida um dos mais conhecidos da literatura brasileira. É um poema autobiográfico, isto é, nele o poeta conta um momento real de sua vida. Inspirou inúmeras paródias e até versos de Osório Duque Estrada para o Hino Nacional do Brasil: “Teus risonhos, lindos campos têm mais flores. / Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida no teu seio mais amores”. Gonçalves Dias compôs o poema em Coimbra, cinco anos depois de partir para Portugal, onde fora estudar. Seus versos misturam nostalgia e nacionalismo. O texto compara a paisagem da terra do exílio com a paisagem da terra natal. Mas esses lugares não são nomeados em nenhum verso do poema. A terra do poeta é apresentada com o olhar de quem está longe dela e que, saudoso, exalta os valores que não encontra no exílio.

Nasceu em 1823 no Maranhão, filho de pai português e mãe provavelmente cafuza. Orgulhava-se de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro: a branca, a índia e a negra. Após a morte do pai, sua madrasta mandou-o para a Universidade em Coimbra, onde ingressou em 1840. Atravessando graves problemas financeiros, Gonçalves Dias é sustentado por amigos até se graduar bacharel em 1844. Retornando ao Brasil, conhece Ana Amélia Ferreira do Vale, o grande amor de sua vida. Em 1847, publica Primeiros cantos. Esse livro lhe trouxe fama e admiração e, a partir de então, o Imperador Dom Pedro II o nomeia para diversos cargos públicos. Procurou formar um sentimento nacionalista na nossa literatura ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras. Em 1851, quis casar-se com Ana Amélia, mas a família dela não o aceitou por ele ser mulato. Casa-se, então, no ano seguinte, com Olímpia da Costa. Em 1862, seriamente adoentado, vai se tratar na Europa. Já bem debilitado, em 1864, embarca no navio Ville de Boulogne para retornar ao Brasil. O navio naufraga na costa maranhense no dia 3 de novembro de 1864. Salvam-se todos a bordo, menos o poeta.

Língua Portuguesa

Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Canção do exílio

Jornal de Poesia – Gonçalves Dias. Disponível em: <www.jornaldepoesia. jor.br/gdias1bio.html>. Acesso em: 2 jul. 2012.


O objetivo desta seção é ler para encantar-se com os poemas, com a linguagem poética e sentir a emoção que os versos são capazes de provocar no leitor. Antes de iniciar a leitura, relembre todas as informações que conseguiu reunir até aqui: o título do poema, quem é o autor, em que momento da vida ele escreveu o poema, o significado de exílio etc. A partir desse conhecimento, o que você pensa que o poeta dirá? Leia o poema em voz alta, ou escute um colega lendo-o. Observe como o poeta, no exílio, expressa seu sentimento em relação à terra natal, da qual está distante. Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias – Poesia. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1967. p.11.

1. Durante a leitura do poema, suas expectativas se confirmaram? Explique sua resposta. 2. Quando lemos um texto, é importante estabelecer um diálogo com ele. É esse diálogo entre leitor

e texto que facilita a compreensão do que lemos. As questões a seguir têm o objetivo de auxiliar seu diálogo com os versos de “Canção do exílio”. a) De que lugar fala o poeta, da sua terra natal ou da terra onde ele está exilado? Justifique sua resposta. b) O que o poeta diz que a sua terra tem? c) O que o poeta chama de “lá”? d) O que ele chama de “cá”? e) O que a terra do poeta tem mais do que a terra do exílio? f) Qual é o provável nome do lugar exaltado pelo poeta? Explique sua resposta. g) Qual é o desejo do poeta? 6º ano

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RODA DE CONVERSA II

Conversar sobre um texto lido numa roda favorece sua compreensão e interpretação. Os comentários das outras pessoas nos ajudam a elaborar ou reelaborar interpretações que, às vezes, não faríamos sozinhos. Faça um círculo com seus colegas e conversem sobre as seguintes questões. 1. De que aspectos da natureza da sua terra você provavelmente teria saudade, estando em terra

estrangeira? Explique. 2. Escolha uma cidade brasileira e compare-a com sua cidade natal, enaltecendo as qualidades de

sua terra. 3. Como seria a última estrofe da “Canção do exílio”, se você fosse o autor do poema? Explique. 4. Segundo o poeta José Paulo Paes: […] a poesia não é mais do que uma brincadeira com as palavras. Nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se não tiver, não é poesia: é papo furado. PAES, José Paulo. É isso ali. 2. ed. São Paulo: Salamandra, 2005.

a) Qual verso surpreendeu você no poema “Canção do exílio”? Por quê? b) Compare sua escolha com a de um colega. Vocês escolheram versos iguais ou diferentes? Con-

versem sobre o motivo da escolha. 5. Sabemos que dois casos gerais delimitam o uso da letra maiúscula: a) em começo de um enunciado ou frase; b) em nomes próprios.

Em dupla, discutam por que o poeta teria escrito Sabiá com letra maiúscula, se a palavra sabiá é um nome comum, e não próprio? 6. O poeta repete algumas expressões e alguns versos. Ele usa a repetição para enfatizar a superiorida-

de da terra natal em contraponto à terra do exílio. Vocês concordam com essa afirmação? Por quê? 7. O poeta não diz o nome de sua terra nem da terra onde está exilado. Que palavras ele usa para

indicá-las? 8. Por que o poeta teria omitido o nome dos países? Que efeito de sentido tem essa omissão?

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DOS POEMAS Os poemas apresentam uma estrutura própria e também algumas características particulares. Conheça algumas delas.

VERSO E ESTROFE Na linguagem oral, chamamos de verso cada unidade rítmica de um poema. Na escrita, verso é cada linha de um poema. Poemas são escritos em versos. 24

Língua Portuguesa


Um agrupamento de versos chama-se estrofe. As estrofes são separadas entre si por um espaço em branco. O poema Canção do exílio tem 24 versos distribuídos em 5 estrofes. São estrofes de 4 versos e de 6 versos.

RIMA Rima é um recurso sonoro baseado na repetição de sons semelhantes ou idênticos no final dos versos e, às vezes, no interior deles. A percepção da rima não é visual. Não são os olhos que a percebem, mas sim os ouvidos. Ou seja, as rimas são percebidas pela audição. Mas não é obrigatório que o poema tenha rimas.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Veja os versos e as estrofes do poema. Para isso, faça uma moldura em cada estrofe e numere os versos. 2. Releia o poema “Canção do exílio” em voz alta para perceber as rimas. Quais são as palavras que

rimam com Sabiá e flores? Destaque no texto essas palavras.

LER POEMA II

Agora leia em voz alta o poema “cometa poesia”, de Nicolas Behr. É um belo poema sem rima, sem pontuação e sem letra maiúscula.

era noite de julho de 1967 mamãe nos acordou de madrugada para vermos o cometa ikeia-seki (ela sabia que nós nunca o esqueceríamos) o cometa seguiu seu curso nós voltamos pra cama caixeiro-viajante do céu, o cometa aparece e desaparece o cometa volta a infância não BEHR, Nicolas. Boa companhia: poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Nicolas Behr Nasceu em Cuiabá, em 1958, e vive em Brasília desde 1974. Em 1977, lançou seu primeiro livrinho, Iogurte com farinha, em mimeógrafo. Vendeu 8 mil exemplares de mão em mão. Em 1978, foi preso e processado durante a ditadura militar, sendo julgado e absolvido no ano seguinte. Poeta marginal, foi integrante da Geração Mimeógrafo. A poesia de Nicolas Behr é simples, sem rodeios. Ele tem mais de vinte livros editados pelas próprias mãos. Os temas de seus poemas passeiam pelas memórias da infância, pela crítica aos poderes, pela questão ecológica, pelo amor e pela cidade de Brasília, de Kubitschek aos dias de hoje.

Nilson Carvalho

cometa poesia

Disponível em: <www.nicolasbehr.com. br> e <www.travessa.com.br/LARANJA_ SELETA/.../90967367-d4f5-42ed-...>. Acesso em: 4 jul. 2012. (Texto adaptado.)

6º ano

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CONHECER MAIS

Geração Mimeógrafo A utilização do mimeógrafo para publicação e distribuição de mão em mão era uma forma de driblar a censura da ditadura militar. Valia-se de uma tecnologia hoje em desuso para publicar, de forma extremamente arte-

sanal, poesia e outros gêneros literários, manifestos e textos de protesto. Movimento cultural que marcou a década de 1970, revelou poetas como Nicolas Beher, Waly Salomão, Capinam, Torquato Neto, Chacal, entre outros.

Disponível em: <www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/06/01/biblioteca-nacional-comemora-dia-da-imprensa-com-exposiçãode-impressos-da-geração-mimeografo>. Acesso em: 28 jul. 2012.

Responda agora às seguintes questões sobre o poema “cometa poesia”: 1. O poema revela lembranças do poeta de um tempo que já passou: a) Quais são essas lembranças?

b) Que sentimentos provocam no poeta?

c) Que sentimentos o poema provocou em você? Compartilhe com a classe o que sentiu. 2. Como vocês interpretam o título do poema? 3. Observem que a palavra cometa pode estar relacionada

aos seguintes significados: a) Agora, conhecendo dois significados possíveis da

palavra cometa, mudou o sentido que vocês atribuíram ao título? Ou o título pode ter tanto um sentido como o outro? Expliquem a resposta.

b) Como vocês podem perceber, o sentido do título é

ambíguo, isto é, tem duplo sentido, tanto pode ser uma coisa como outra. A ambiguidade é uma das características da linguagem poética. Nessa obra de Nicolas Behr, a palavra cometa pode ser um verbo e um substantivo. Explique essa afirmação.

cometa. S. m. Astr. Corpo celeste que se move em torno do Sol em trajetória mais excêntrica que a dos planetas e com maior grau de inclinação em relação à eclíptica; consiste em um núcleo de fraca luminosidade formado por pequenas partículas sólidas, cercado por um envoltório gasoso e apresentando, por vezes, ao aproximar-se do Sol, uma cauda luminosa que pode atingir milhões de quilômetros de extensão. cometer. V. levar a efeito, fazer, executar. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

4. Que expressão o poeta usa para designar o cometa? Destaque no texto. 5. Por trás da expressão “caixeiro-viajante do céu” existe uma comparação. Que comparação fez o

poeta para chegar a chamar o cometa de “caixeiro-viajante do céu”? 26

Língua Portuguesa


O POETA BRINCA COM AS PALAVRAS Para um poeta, não serve qualquer palavra. Ele escolhe palavras e frases que melhor expressam seus sentimentos e sua visão da vida. Escolher palavras e brincar com elas é o trabalho do poeta. Por esse motivo, afirma-se que o poeta é um artesão da palavra. Olavo Bilac (1865-1918), no poema “A um poeta”, já dizia que o poeta, quando está criando, “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua”. A linguagem da poesia emociona por causa da sonoridade e do ritmo. E emociona também porque é a expressão de sentimentos comuns a todas as pessoas, mas dita de um jeito original, diferente do comum, que surpreende o leitor ou o ouvinte. Os poetas exploram o ritmo e a sonoridade, dão novos sentidos a palavras conhecidas e fazem uso criativo dos recursos da linguagem.

LER POEMA III

O terceiro poema deste capítulo mostra a euforia de quem está chegando saudoso para rever sua cidade. O poeta está chegando ao Recife, capital do Estado de Pernambuco. O autor Adelmar Tavares nasceu no Recife, mas viveu no Rio de Janeiro. Chegando a Recife Lá vêm as jangadas, de velas inchadas, bojando de vento, branquinhas no mar. Meu Deus, minha terra! Meu Deus, vou chegar! Olinda, distante, lá longe, aparece... Lá está uma torre... Diviso o farol... Lá vêm as jangadas branquinhas de sol...

Adelmar Tavares Advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nasceu no Recife (PE), em 1888, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1963. Seu nome ficou conhecido em todo o Brasil como o maior cultor do gênero poético trova. Suas trovas sempre mereceram referência na história literária brasileira. Sua obra poética caracteriza-se por romantismo, lirismo e sensibilidade, sendo recorrentes temas como o da saudade e o da vida simples na natureza. Disponível em: <www.academia.org.br>. Acesso em: 3 jul. 2012. (Texto adaptado.)

Ilustração digital: Llinares

Que céus diferentes! Tão verdes as águas! Que leves os ares, que gozo aspirar! Escuto umas vozes que vêm das jangadas... Meu Deus, minha terra! Meu Deus, vou chegar! Vocês, jangadeiros, já não me conhecem?... Não me reconhecem? Mudei tanto assim? – Você, João da Penha, que nova me traz? Aquela morena dos olhos magoados se lembra de mim? me espera no cais? Que lenço querido me espera no cais? Mas vão as jangadas bojando no vento, tal como a minha alma bojando ansiedade, gritando tão alto que abala a amplidão: – Alô, Pernambuco, da minha saudade!... – Recife, querida, do meu coração!... KURY, Adriano da Gama. Meu livro de português. São Paulo: Lisa, 1973. p. 35-36.

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1. Agora observe o mapa. Que cidades estão indicadas nesse mapa? Você as conhece? Em caso afir-

mativo, conte aos colegas que não as conhecem como são sua cultura, música, artesanato etc.

Ilustração digital: Mario Yoshida

O Estado de Pernambuco

N O

L S

0

890

1 780 km

N O

Fonte: Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p.90.

L

0

80

160 Km

S

2. Que cores o poeta cita na descrição da paisagem que ele avista, chegando ao Recife? Copie os

versos em que as cores são citadas. Que efeito de sentido tem essa referência a nome de cores? Se o poeta não citasse as cores, que diferença faria para o sentido do poema?

3. Em que transporte o poeta está chegando: avião, ônibus, trem, automóvel, jangada ou navio?

Justifique sua resposta.

4. De que lugar está falando o poeta: do continente ou do mar? Por quê?

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Língua Portuguesa


5. Releia o poema “Chegando a Recife”. Com um colega, identifiquem as palavras que rimam com: Inchadas Mar Farol Assim Traz Ansiedade Amplidão

6. Analise os usos dos sinais de pontuação que o poeta usou, sabendo que: • Ponto de interrogação (?): empregado no final de frases interrogativas. • Ponto de exclamação (!): empregado no final de frases exclamativas, com a finalidade de indi-

car estados emocionais de espanto, surpresa, alegria, dor, súplica. • Travessão (—): usado para indicar a mudança de interlocutor nos diálogos, para isolar a fala da personagem da fala do narrador, para destacar ou isolar palavras ou expressões no interior das frases. • Reticências (…): indicam a interrupção da frase, com a finalidade de sugerir dúvida, hesitação, surpresa; quebra de sequência na fala ou no pensamento do narrador ou da personagem; supressão de trecho sem grande importância no texto. a) Por que o poeta usou tantos sinais de pontuação? Esse uso tem algum efeito para o sentido do

poema? Qual seria a intenção do poeta, na sua opinião? Explique sua resposta.

b) Os sinais de pontuação do poema também têm influência na leitura em voz alta? Explique sua

resposta.

7. A expressão “tal como” indica uma comparação. Explique a comparação que o poeta faz entre sua

alma e as jangadas: Mas vão as jangadas bojando no vento, tal como a minha alma bojando ansiedade,

6º ano

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8. Releia os poemas “cometa poesia”, “Canção do exílio” e “Chegando a Recife” para responder às

questões a seguir: a) Relate quais são as lembranças dos poetas em seus poemas.

b) De qual poema você mais gostou? Justifique sua resposta.

CONHECER MAIS

Trovas Trova é o nome dado a pequenos poemas de quatro versos com sete sílabas poéticas e esquema rímico de rimas alternadas (abab) ou cruzadas (abba), sem título. A trova, para ser bem-feita, tem de ter um achado. Achado é algo diferente, uma surpresa, uma conclusão no último verso. Adelmar Tavares diz: “Nem sempre com quatro versos setissílabos a gente consegue fazer a trova; faz quatro versos, somente”. Ou seja: não é trova se não houver o achado. O verso de sete sílabas, ou redondilha maior, é o mais simples, do ponto de vista das leis da métrica. Basta que a última sílaba poética seja acentuada, os demais acentos podem cair em qualquer outra sílaba. Talvez por isso ele seja predominante nas quadrinhas e canções populares. Esse verso, tradicional em língua portuguesa, já era frequente nas cantigas medievais. Uma definição interessante para o que é trova é do próprio trovador Adelmar Tavares:

Que linda trova perfeita, que nos dá tanto prazer! Tão fácil, depois de feita, tão difícil de fazer! Métrica A métrica é a medida dos versos. Para determinar a medida de um verso, dividimos o verso em sílabas poéticas. Esse processo recebe o nome de escansão. Por ter base na oralidade, a divisão silábica poética segue princípios diferentes da divisão silábica gramatical. As vogais átonas são agrupadas numa mesma sílaba. Elas são pronunciadas como uma unidade sonora. E a contagem das sílabas é feita até a última sílaba tônica. Observe a diferença: Divisão silábica gramatical:

Divisão silábica poética:

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Que

lin

da

tro

va

per

fei

ta,

Este verso tem oito sílabas gramaticais.

1

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5

6

Que

lin

da

tro

va

per

ta,

Este verso tem sete sílabas poéticas.

7 fei

O verso de sete sílabas poéticas é chamado de redondilha maior, ou verso setissílabo. Os versos da trova devem ser obrigatoriamente redondilha maior. GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo: Ática, 1991 e TEIXEIRA, Nilton Manoel de A. Didática da trova. Disponível em: <www.falandodetrova.com.br/didaticadatrova>. Acesso em: 20 jul. 2012. (Texto adaptado.)

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Língua Portuguesa


MOMENTO DA ESCRITA

1. Nesta seção, você vai praticar a escrita, imitando os poetas. Escreva um poema, com ou sem rimas.

Pode ser uma trova. Lembre-se de que nenhum texto nasce pronto. Para um texto ficar bom, é preciso escrevê-lo e reescrevê-lo muitas vezes, como fazem os escritores experientes. Planeje, faça rascunhos, revise e, quando se sentir satisfeito, passe a limpo seu poema. Dê um título a ele. Mas, se for uma trova, não ponha título. Você pode se inspirar numa das trovas abaixo, de Adelmar Tavares: Eu vi o rio chorando quando te foste banhar, por não poder te banhando, dar-te um abraço, e ficar... Para esquecer-te, outras amo, mas vejo, por meu castigo, que qualquer outra que eu ame, parece sempre contigo... Quando eu morrer, levo à cova, dentro do meu coração, o suspiro de uma trova e o gemer de um violão... Para definir o Poeta, Só mesmo em versos defino. – É um homem que fica velho, com o coração de menino... Disponível em: <www.academia.org.br>. Acesso em: 3 jul. 2012.

2. Com os colegas, montem um painel no pátio da escola expondo as produções da turma. Esco-

lham um título para o painel e caprichem na apresentação dos trabalhos. 3. Junto com um colega, redijam um texto relatando livremente o que vocês aprenderam neste capí-

tulo. Relatem o que mais gostaram de aprender.

PLANEJANDO A FALA

Agora você vai praticar a modalidade oral da língua. A fala será planejada, pois fará parte de uma situação de apresentação pública. 1. Você e seus colegas vão organizar um sarau na sala de aula, ou seja, um encontro literário. Nesse dia, cada

um declamará, de preferência de cor, o poema que elaborou e também outro poema, de livre escolha. Ao preparar sua apresentação, considere o seguinte: • Recursos audiovisuais: A linguagem predominante é a verbal, mas se quiser use outros recur-

sos, como música. 6º ano

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• Postura: Fale em pé, olhando sempre de frente para seu público. • Fala: Fale alto, claro e com entonação variada. • Linguagem: Cumprimente a todos. Diga o que vai falar. Evite certos usos da linguagem oral,

como: “né”, “tá”, “ahn”, “aí”, entre outros. 2. Ao final do sarau, comentem a apresentação de cada colega. 3. Conversem sobre o que acharam da experiência de fazer um sarau. Vocês gostariam de repeti-la

em outros locais, como em casa com os familiares, no bairro ou no clube, por exemplo?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Recital

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Língua Portuguesa

Combinem com o professor uma ida à biblioteca para todos escolherem alguns livros de poesia. Dos livros escolhidos, selecionem um ou mais poemas para decorar ou para ler em voz alta na sala de aula, no pátio ou no lugar que vocês preferirem.


Capítulo

3

LÍNGUA PORTUGUESA

Acesso ao universo da ciência

P

Ilustração digital: Llinares

or muito tempo, o acesso do grande público ao universo da ciência foi impedido pela dificuldade da linguagem do texto científico. Escrito por cientistas, era compreendido apenas por especialistas. Foi só no início do século XX que surgiram no Brasil os primeiros jornalistas especializados na divulgação científica. Hoje, blogs, sites e seções de ciência nos jornais e revistas marcam a presença da divulgação científica no país. A finalidade dos artigos de divulgação científica é permitir o acesso à ciência. São escritos pelos próprios cientistas ou por jornalistas. O texto é mais leve do que o científico, com linguagem mais próxima do leitor leigo. Essa divulgação cumpre o papel democrático de facilitar a inserção de todos os indivíduos no mundo do conhecimento. Saber ler textos que abordam temas científicos é fundamental para quem quer prosseguir os estudos, ampliar conhecimentos e participar do mundo contemporâneo. Neste capítulo você vai ler um artigo que discute um tema atual e muito importante para nós, habitantes do planeta Terra.

RODA DE CONVERSA

Leia a lista de temas a seguir: anencefalia célula-tronco biotecnologia obesidade aquecimento global fontes de energia alternativas produto biodegradável reciclagem

biodiversidade desenvolvimento sustentável hipertensão arterial dengue quimioterapia acidente vascular cerebral (AVC) transgênicos DNA 6º ano

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Em grupo, conversem sobre as questões: 1. Vocês conhecem os assuntos do quadro? 2. Como esses conhecimentos chegaram até vocês? 3. Qual tema lhes interessa mais? 4. Que tema vocês acrescentariam nessa lista? 5. Marquem onde buscariam informações, se quisessem estudar algum dos temas:

( ) site de busca

( ) jornal

( ) revista

( ) livro

LER ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Para que assuntos científicos cheguem ao conhecimento de todos, é necessário que saiam dos limites dos livros, das universidades e dos laboratórios e ganhem espaço nos meios de comunicação: sites, blogs, rádio, cinema, televisão, jornais e revistas. O grande desafio é conseguir transmitir conhecimento científico em linguagem interessante e clara para o grande público. Examine a imagem das estátuas da ilha de Páscoa:

Viktor Gmyria/Dreamstime.com

Estátuas de pedra na ilha de Páscoa, no Pacífico Sul, 2011.

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Língua Portuguesa


Responda às perguntas: 1. Você tinha conhecimento dessas enormes estátuas de pedra? 2. Quem você acha que as construiu? Há quanto tempo? 3. Como você acha que elas foram construídas? 4. Em que lugar do mundo elas estão?

Se você sabe responder a essas perguntas, provavelmente é porque viu ou leu uma explicação para a origem desses monumentos em documentários, jornais ou revistas que fazem divulgação científica. No entanto, se você não faz a menor ideia de qual seja a resposta para essas perguntas, leremos a seguir um artigo de divulgação científica que vai ajudar a esclarecê-las. Antes de ler o texto a seguir, converse com o professor e os colegas sobre as próximas questões: 5. O título do artigo que você lerá é “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”. Qual será o assunto de um texto com esse título? 6. O texto foi publicado no jornal Folha de S.Paulo, na seção de ciência, e o autor é o cientista Mar-

celo Gleiser. Sabendo dessas informações, responda: a) Qual é a provável intenção desse texto?

( ) Narrar uma história de suspense. ( ) Divulgar conhecimento científico. b) Qual é o provável público-alvo do autor? ( ) O leitor adulto do jornal. ( ) O leitor infantil do jornal. 7. Justifique as respostas dadas. Agora leia o texto. A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa 1

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3

4

Poucos lugares despertam tanto fascínio quanto a ilha de Páscoa, com suas gigantescas e sombrias estátuas. Localizada a 3 500 quilômetros da costa do Chile, a ilha é local da mais completa desolação. Nenhuma árvore com mais de três metros pode ser vista em toda a sua superfície. Não existem animais nativos ou pássaros. Somente as enormes cabeças esculpidas em rocha vulcânica, centenas delas, a maioria com ao menos cinco metros de altura, algumas chegando a vinte, todas pesando dezenas de toneladas. O mistério da ilha de Páscoa já existia quando o primeiro explorador europeu, o holandês Jacob Roggeveen, desembarcou lá em 5 de abril de 1722, durante a Páscoa. Como, perguntou-se Roggeveen após encontrar a pedreira de onde saíram as estátuas, elas foram transportadas e erigidas, se não existe material na ilha para fazê-lo? Durante quase três séculos, centenas de livros e artigos foram escritos tecendo teorias fantásticas sobre a origem e a função das misteriosas estátuas. Teriam elas sido produzidas por seres extraterrestres usando ferramentas ultramodernas antes de voltarem ao seu planeta, como sugeriu o escritor suíço Erich von Däniken? Ou talvez elas tenham sido feitas por incas ou egípcios que, de algum modo, chegaram até lá no passado, sugeriu o explorador norueguês Thor Heyerdahl, que atravessou oceanos em embarcações primitivas para ilustrar a sua hipótese. Décadas de investigações por antropólogos e arqueólogos resolveram o mistério das gigantescas estátuas. Dois livros publicados recentemente nos EUA, Os 6º ano

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enigmas da ilha de Páscoa, de John Flenley e Paul Bahn, e Entre os gigantes de pedra, de Jo Anne van Tilburg, contam uma história talvez não tão fascinante como a dos incas ou alienígenas, mas muito mais importante para a nossa sobrevivência. Entre 1914 e 1915, a arqueóloga Katherine Routledge visitou a ilha, obtendo relatos dos descendentes das tribos polinésias que chegaram lá em torno do ano 900 d.C. Várias ferramentas usadas para esculpir as estátuas foram encontradas na região de RanoRaraku, uma cratera. A ilha chegou a ter uma população de 15 mil pessoas, em 11 tribos. Os chefes competiam entre si, erigindo as estátuas como símbolo de seu poder. Quanto maior, melhor. Na Idade Média, cidades faziam o mesmo com suas catedrais. E como as estátuas foram transportadas e erigidas? Como nenhum europeu viu isso acontecer, o que se pode fazer é construir uma explicação consistente com os achados científicos. Pedras gigantescas foram transportadas por várias outras civilizações, em geral apoiadas sobre grades feitas de madeira e puxadas por cordas, como um trenó. Mas como se não existem árvores na ilha? Não existem agora, mas certamente existiram no passado. Flenley, usando técnicas que permitem identificar o pólen e restos carbonizados de plantas extintas, provou que, antes da chegada dos humanos, a ilha continha uma floresta subtropical rica em árvores enormes, incluindo uma palmeira gigante encontrada no Chile, que chega a ter 30 metros de altura. Todas elas foram sistematicamente derrubadas para serem usadas nas grades de transporte e em grandes canoas para a pesca de atum, golfinho e outros animais transoceânicos. Estudos de ossos encontrados pela ilha mostram que, no passado, existiam seis espécies de aves nativas e 25 de aves marinhas. Todos essas aves desapareceram. Foi possível também reconstruir como a alimentação dos nativos variou durante os séculos. Ossos de atum e golfinho, abundantes durante os primeiros séculos, desapareceram em torno de 1600: com todas as árvores derrubadas, não era mais possível construir canoas transoceânicas. Os nativos passaram a devorar sistematicamente os animais da ilha. Quando acabaram, ou quase (sobraram principalmente ratos), eles passaram a devorar a si próprios: em torno de 1700, a ilha entrou em uma era de canibalismo. O homem é um predador ineficiente, imediatista, que tende a não calcular o quanto pode consumir antes de se autodestruir. O atum, o salmão e o bacalhau estão ameaçados. Florestas inteiras são derrubadas diariamente. A poluição continua crescendo. Talvez todos devêssemos fazer uma visita, real ou imaginária, à ilha de Páscoa, e aprender com sua trágica história, antes que só restem nossas estátuas e monumentos.

Marcelo Gleiser É físico. Defende a necessidade de levar a ciência ao conhecimento de todos. Segundo ele, o objetivo da divulgação não é formar cientistas, é tornar o conhecimento mais acessível. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1959. É autor de vários livros sobre Física, Astronomia e História da Ciência. MAZOCCO, Fabricio. Entrevista com Marcelo Gleiser. Disponível em: <www.univerciencia.ufscar.br/n_2_a1/entrevista.pdf>. Acesso em: 11 maio 2012.

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Língua Portuguesa

Joseph Mehling

GLEISER, Marcelo. Folha de S.Paulo, 21 mar. 2004. Caderno Ciência. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2103200402.htm>. Acesso em: 11 maio 2012.


Releia o texto. Ao fim da leitura de cada parágrafo, responda às perguntas em dupla. Parágrafo 1: 1. Onde está situada a ilha de Páscoa? 2. Por que é um lugar que desperta tanto fascínio? 3. O autor escreve que “[...] a ilha é local da mais completa desolação”. O que significa “desolação” no texto?

Para responder, escolha, no verbete a seguir, os significados mais adequados. desolação. [Do lat. desolatione.] S. f. 1. Ato ou efeito de desolar(-se). 2. Devastação, ruína, destruição. 3. Isolamento, solidão; desamparo. 4. Estrago causado por calamidade. 5. Grande tristeza; consternação. FERREIRA, Aurélio B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

4. Sublinhe no texto o trecho em que o autor descreve esse quadro de desolação. Parágrafo 2: 1. Reproduza a pergunta feita nesse parágrafo pelo holandês Roggeveen, no século XVIII. 2. O que levou o explorador holandês a fazer essa pergunta? Parágrafo 3: 1. Nesse parágrafo, grife as hipóteses pensadas pelo suíço Däniken e pelo norueguês Heyerdahl para

explicar a origem e a função das estátuas. Parágrafo 4: 1. Hoje sabe-se quem e como as estátuas foram construídas. Quem resolveu esse mistério? 2. Que livros americanos contam a história das estátuas da ilha de Páscoa? Parágrafo 5: 1. Leia no verbete a seguir o que é “arqueologia” e grife no parágrafo 5 a palavra que indica o espe-

cialista em arqueologia. arqueologia. [Do grego archaiologia.] S. f. Ciência que estuda a vida e a cultura dos povos antigos por meio de escavações ou através de documentos, monumentos, objetos etc., por eles deixados. FERREIRA, Aurélio B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

2. Que motivo levou os chefes das antigas tribos da ilha de Páscoa a construir gigantescas estátuas

de pedra, de acordo com a arqueóloga Katherine Routledge?

6º ano

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Parágrafo 6: 1. Existe uma explicação para o transporte das enormes pedras. Acredita-se que elas foram trans-

portadas apoiadas sobre grades feitas de madeira e puxadas por cordas, como um trenó. Qual é a dúvida que o autor tem e que vai ser explicada para o leitor no parágrafo seguinte? Parágrafos 7 e 8: 1. Os cientistas dizem que antes da chegada dos humanos existiram árvores na ilha. Existia uma

floresta subtropical com árvores enormes e a ilha era habitada por espécies de aves nativas e aves marinhas. Como os cientistas têm essas informações a respeito do passado da ilha? 2. Por que ossos de atum e golfinhos desapareceram da ilha, por volta de 1600? 3. Sem embarcações para sair para o mar e pescar, o que os nativos passaram a comer? 4. Leia o verbete no quadro a seguir e responda: Como os nativos da ilha se tornaram canibais? canibalismo. S. m. Ato de um animal devorar outro da mesma espécie ou da mesma família. FERREIRA, Aurélio B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

Parágrafo 9: 1. O autor prova que o homem é um predador. Complete os itens com os argumentos citados no

texto que comprovam que o homem é: a) predador da fauna; b) predador da flora; c) predador do ambiente. predador. [Do latim praedatore.] Adj. e s. m. Diz-se do ser que destrói outro com violência. FERREIRA, Aurélio B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

2. Como agiria o homem se ele não fosse um predador ineficiente, nem imediatista? 3. Por que o autor sugere uma visita, real ou imaginária, à ilha de Páscoa? 4. Para quem ele dá a sugestão? Explique sua resposta.

PARA REFLETIR

Um dos objetivos do artigo de divulgação científica é levar informações da área científica ao leitor leigo. Ele incorpora tanto os recursos da linguagem científica como os da linguagem jornalística. Veja como isso acontece.

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Língua Portuguesa


Leia o verbete a seguir: botânica. S. f. Parte da biologia que estuda as plantas. FERREIRA, Aurélio B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

1. Leia o título de um artigo publicado em uma revista de botânica. É possível identificar para que

leitor ele foi escrito? Justifique sua resposta.

Fenologia da floração e biologia floral de bromeliáceas ornitófilas de uma área da Mata Atlântica do Sudeste brasileiro

Caio Graco Machado e João Semir

Revista Brasileira de Botânica, v. 29, n. 1, p. 163-174, jan.-mar. 2006. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-84042006000100014&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 maio 2012.

2. Leia o título e a chamada de um artigo de zoologia. Pelo título, é possível identificar para que

leitor o texto foi escrito? Explique.

Caramujo pode disseminar doenças Estudo brasileiro comprova que o caramujo-gigante-africano pode se infectar naturalmente por vermes que são transmitidos aos humanos por meio de alimentos mal lavados e podem causar grave infecção intestinal, meningite e até a morte.

FARIA, Júlia, Revista Ciência Hoje. 268, março, 2010. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/268/caramujo-pode-disseminar-doencas>. Acesso em: 11 maio 2012.

3. Compare os títulos dos artigos de botânica e de zoologia citados. Qual deles é mais fácil de en-

tender? Por quê?

LINGUAGEM CIENTÍFICA A linguagem científica é usada por especialistas para expor um assunto a outros especialistas. Ela está presente em revistas e livros científicos. Leigos, isto é, não especialistas, têm dificuldade de entender textos de botânica, biologia, química, medicina, física, astronomia, engenharia e tantas outras ciências. Leia no quadro a seguir algumas características da linguagem científica:

6º ano

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• Emprego de linguagem objetiva. Essa linguagem não admite expressões

como: “eu penso”, “eu acho”, “parece-me”, porque tais expressões são associadas ao ponto de vista pessoal, subjetivo, de quem escreve, e não ao conhecimento científico, que deve ser fruto de pesquisas e experimentos. • Linguagem concisa e formal, própria da modalidade escrita culta da língua. • Verbos em geral no presente, na 3ª pessoa do singular ou na 1ª do plural

“nós”– ocasionando o apagamento do sujeito (eu). O objetivo do uso de tais recursos é dar ao discurso científico um caráter de neutralidade. O discurso científico tenta fazer com que seu leitor creia que o que está sendo exposto é verdadeiro. • Emprego de vocabulário técnico. Cada ramo da ciência possui termos téc-

nicos próprios. Utiliza as palavras em seu significado mais comum; não há ambiguidade, ou seja, duplo sentido; a linguagem figurada/metafórica (conotação) é evitada; evitam-se termos polissêmicos (aqueles a que se pode atribuir mais de um significado). Quando a polissemia não pode ser evitada, o termo é definido dentro do contexto em que está inserido. • Desenvolve um conceito ou expõe uma teoria com base em dados objetivos,

em observações ou experiências. Normalmente apresenta descrição do objeto observado. • Geralmente termina com uma conclusão ou uma síntese das ideias expostas. • O título permite rápida identificação do assunto. • Habitualmente utiliza recursos ilustrativos, como imagens, mapas, gráficos,

tabelas, fotografias para complementar o texto. • As obras de referência, isto é, os livros e artigos que foram consultados para

a elaboração do artigo devem ser citados no final no texto, nas Referências bibliográficas.

BARBA, Clarides Henrich de. Orientações básicas na elaboração do artigo científico. Disponível em: <www.unir.br/html/pesquisa/Pibic/Elaboracao%20de%20Artigo%20Cientifico2006.doc>. Acesso em: 11 maio 2012. (Texto adaptado.)

Linguagem jornalística A linguagem jornalística busca parecer impessoal, objetiva, direta. Ela deve ser precisa e estar de acordo com o padrão culto da língua. É dever do jornalista não expressar explicitamente sua opinião sobre os fatos e acontecimentos que relata. Para conseguir um efeito de objetividade, ele não emprega verbos e pronomes na 1ª pessoa. No entanto, é impossível não expressar a opi-

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Língua Portuguesa

nião, mesmo quando não é explicitada. A escolha de uma palavra sempre implicará uma interpretação, que revelará certo ponto de vista. Mesmo nas matérias informativas, a objetividade, a imparcialidade e a neutralidade são impossíveis, pois a linguagem está sempre carregada de um ponto de vista. No texto de Marcelo Gleiser, ele expressa um ponto de vista.


LINGUAGEM DO ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Características da linguagem do artigo de divulgação científica estão presentes no texto “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”. Observe: a) Presença da voz do cientista: Para dar credibilidade ao ponto de vista defendido no texto, é comum o autor citar nomes de pesquisadores ou de órgãos e institutos renomados. Assim, o leitor vai crer no que está lendo porque outros cientistas já disseram a mesma coisa. Exemplo: “Dois livros publicados recentemente nos EUA, Os enigmas da ilha de Páscoa, de John Flenley e Paul Bahn, e Entre os gigantes de pedra, de Jo Anne van Tilburg, contam uma história talvez não tão fascinante como a dos incas ou alienígenas, mas muito mais importante para a nossa sobrevivência.” (4º parágrafo) b) Apagamento do sujeito: Verbos na 3ª pessoa do singular ou na 1ª do plural são usados para dar ao texto um caráter de neutralidade, isto é, ao utilizar essas pessoas do verbo, parece que não é o autor que está fazendo tais afirmações. Ele não diz “eu penso”, “eu acho”, “parece-me”. Exemplo: “O homem é um predador ineficiente, imediatista [...]”. Quando se opta pela 1ª pessoa do plural (nós), o efeito criado é o de que toda a comunidade em questão dá aval para aquela declaração, ou seja, ela é sustentada por um grupo, não se trata de uma opinião pessoal. c) Dar exemplos: “O homem é um predador [...], que tende a não calcular o quanto pode consumir antes de se autodestruir. O atum, o salmão e o bacalhau estão ameaçados. Florestas inteiras são derrubadas diariamente. A poluição continua crescendo”. d) Estabelecer comparações: “Os chefes competiam entre si, erigindo as estátuas como símbolos de seu poder. [...] Na Idade Média, cidades faziam o mesmo com suas catedrais.” “[...] em geral apoiadas sobre grades de madeira e puxadas por cordas, como um trenó.”

6º ano

41


CONHECER MAIS

O adjetivo e a construção de sentidos Adjetivo é a palavra que tem a função de atribuir característica ao substantivo. Lembre-se de que a gramática chama de substantivo o nome dos seres em geral, sejam eles animados ou inanimados, reais ou imaginários, concretos ou abstratos. Por exemplo, são substantivos as pa-

lavras: lobo, copo, fada, Sergipe, Pedro e alegria. O adjetivo deve concordar com o substantivo em gênero e número. Se um substantivo for masculino e singular, o adjetivo que se refere a ele também deverá ser masculino e singular. Essa concordância chama-se concordância nominal.

Exemplos do texto “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”: Substantivo

Adjetivo

Explorador

norueguês

Rocha

vulcânica

Animais

transoceânicos

Estátuas

misteriosas

APLICAR CONHECIMENTOS I

Nesta seção, você vai estudar alguns conteúdos gramaticais relacionados ao efeito de sentido que eles provocam no texto “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”. 1. O texto de Marcelo Gleiser sobre a ilha de Páscoa contém muitos adjetivos. Observe como o autor

os utiliza e responda: a) Por que o autor caracteriza a ilha de Páscoa com os adjetivos “misteriosa” e ‘trágica”?

b) No título “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”, substitua a “ilha de Páscoa” por “arquipélago

de Fernando de Noronha”. Que modificações na linguagem você precisou fazer? Por quê?

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Língua Portuguesa


c) Leia os adjetivos que acompanham os substantivos a seguir. Todos eles expressam ideia de

exagero. Que efeito de sentido esses adjetivos provocam no texto? Substantivo

Adjetivo

Estátuas

gigantescas

Cabeças

enormes

Teorias

fantásticas

Ferramentas

ultramodernas

Árvores

enormes

Palmeira

gigante

História

trágica

Canoas

grandes

Floresta

rica

d) Responda junto com um colega:

As expressões a seguir indicam mistério ou desolação? Justifiquem a resposta. estátuas sombrias

estátuas misteriosas

seres extraterrestres

nenhuma árvore

2. Por meio de números, a ideia da grande devastação que a ilha de Páscoa sofreu fica reforçada,

pois os números são uma prova inquestionável. Localize no texto as expressões que citam números e sublinhe aquelas que se relacionam com a história da devastação da ilha. 6º ano

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3. Parênteses são um sinal de pontuação usados para incluir no texto uma informação que não é

essencial, que pode ser uma explicação, uma reflexão ou um comentário. Explique qual efeito de sentido o uso dos parênteses produziu no título do texto “A misteriosa (e trágica) ilha de Páscoa”. Que mudança de sentido provocaria no título, se os parênteses fossem excluídos?

INDAGAÇÕES E O TRABALHO DO CIENTISTA O trabalho do cientista é investigar problemas para os quais ainda não existe solução, ampliar o estudo sobre determinado assunto ou modificar conceitos estabelecidos, por meio de novas pesquisas. Ele inicia o trabalho levantando hipóteses para a solução do problema. Depois, começa a investigação em busca de comprovação dessas hipóteses, a fim de saber se elas estavam certas ou não. Para encaminhar bem o processo de investigação, é necessário que o cientista saiba transformar em perguntas aquilo que quer descobrir. Esse é um procedimento que você deve pôr em prática quando realiza uma pesquisa: transformar em perguntas aquilo que quer descobrir.

APLICAR CONHECIMENTOS II

Leia mais uma vez o texto de Marcelo Gleiser e responda às questões a seguir: 1. Identifique no texto as perguntas dos cientistas para o mistério das estátuas gigantes da ilha de

Páscoa.

2. Converse com seu colega sobre alguma dúvida que vocês tenham em alguma área científica.

Transformem a dúvida em uma pergunta que poderia ser o início de uma pesquisa científica.

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Língua Portuguesa


3. Relacione as frases da coluna da esquerda com as afirmações da coluna da direita: a) “O homem é um predador ineficiente,

imediatista, que tende a não calcular o quanto pode consumir antes de se autodestruir.” b) “O atum, o salmão e o bacalhau estão ameaçados. Florestas inteiras são derrubadas diariamente. A poluição continua crescendo.” c) “Talvez todos devêssemos fazer uma visita, real ou imaginária, à ilha de Páscoa, e aprender com sua trágica história.” d) “antes que só restem nossas estátuas e monumentos.”

( ) O autor faz uma advertência.

( ) O autor exemplifica como o homem tem se autodestruído.

( ) O autor dá uma sugestão.

( ) O autor expressa seu ponto de vista a respeito do ser humano.

4. Na frase “Talvez todos devêssemos fazer uma visita, real ou imaginária, à ilha de Páscoa, e apren-

der com sua trágica história”, o autor se inclui entre aqueles que devem visitar a ilha de Páscoa. Qual é a palavra que indica essa inclusão? Destaque no texto. 5. Como ficaria a frase da questão anterior se o autor não tivesse se incluído entre os que devem

visitar a ilha? Escreva-a.

DEBATER

Organize-se em roda com seus colegas para discutir a seguinte questão: O autor do texto tem razão quando diz que “O homem é um predador ineficiente, imediatista, que tende a não calcular o quanto pode consumir antes de se autodestruir”? Usem argumentos para defender o ponto de vista de vocês e convencer os colegas.

CONHECER MAIS

Infográfico Infográficos são quadros que apresentam informações mesclando texto e imagem. É cada vez mais comum que apareçam em reportagens e em artigos de divulgação científica. Os infográficos são grande atrati-

vo para a leitura das matérias jornalísticas. A imagem facilita a compreensão do texto, pois coloca diante dos olhos do leitor informações que são usadas no texto escrito.

6º ano

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LER INFOGRÁFICO

Observe o infográfico e responda às questões propostas:

CIVILIZAÇÕES O passeio dos gigantes O transporte dos moais deve ter consumido boa parte da madeira da Ilha de Páscoa

Teoria do pulinho Outra explicação para o transporte da estátua afirma que eles a levantavam com cordas e tábuas e usavam um suporte de madeira em forma de um “V” invertido. Conforme puxavam o suporte, o moai era projetado para a frente.

Fábrica de moai Com ferramentas de pedra, as estátuas eram esculpidas nas paredes do vulcão Rano Raraku, em uma das pontas da ilha. Eram feitas para “incorporar os espíritos” dos mortos mais ilustres do local.

Teoria dos trilhos Não se sabe como os rapanuis transportavam cada estátua. Uma teoria diz que as imagens eram carregadas sobre um trilho de madeira. Usando hastes, dezenas de homens empurravam, como se remassem. Outros puxavam.

Coque vermelho Os moais mais recentes têm um adorno na cabeça, o pukao. Feito de um tipo avermelhado de rocha, representava o cabelo do morto – os rapanuis usavam um coque no topo da cabeça.

1. Qual é o sentido da palavra passeio no título “O passeio dos gigantes”? 2. Identifique pistas que indicam que o infográfico está apresentando hipóteses de como aconteceu

o transporte das estátuas. 3. Em sua opinião, qual das teorias apresentadas no infográfico parece ser mais consistente? Por quê? 4. Observe os pontos brancos, o título grifado e o texto explicativo. Você acha que o texto e a ilus-

tração se completam? Por quê?

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Língua Portuguesa


Olhai por nós As estátuas eram colocadas sobre um altar de pedra, o ahu. Os olhos eram a última parte a ser feita. O moai saía do vulcão com a cavidade pronta e tinha seus olhos esculpidos na aldeia, decorados com coral e pedras. Para os rapanuis, o morto usava o olhar para transmitir bons fluidos ao vilarejo.

Para o alto Não se sabe como as estátuas eram levantadas. É possível que elas fossem postas num suporte de madeira e erguidas com a construção de uma rampa de pedra. Os moai que hoje estão em pé foram levantados com modernos guindastes.

Ilustração digital: Beto Uechi/Estúdio Pingado

5. O infográfico ajudou na compreensão do texto de Marcelo Gleiser? Por quê?

MOMENTO DA ESCRITA

1. Junto com um colega, escrevam um texto que explique a história dos gigantes de pedra da ilha de Páscoa.

Antes de iniciar a produção, pensem no que vocês diriam a quem não sabe nada sobre a ilha e suas famosas estátuas. Releiam o estudo que fizeram do texto. Utilizem a imagem do infográfico 6º ano

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como complemento ou ilustração. Usem em seu texto escrito o que descobriram graças a esse recurso. Considerem também: a) a intenção do texto: explicar a história dos gigantes de pedra da ilha de Páscoa; b) o leitor do texto: escolham o leitor que querem atingir e escrevam um texto adequado a ele; c) onde o texto será publicado: jornal da classe, mural da escola etc.

Vejam um quadro do plano do texto. Com a ajuda desse quadro, planejem o que vão escrever, façam um rascunho e, antes de passar a limpo, façam uma revisão. Lembrem-se de dar um título ao texto. PLANO DO TEXTO Localização e descrição da ilha:

Qual é o mistério?

Principais hipóteses para explicar o mistério:

Informações importantes do infográfico:

Posicionamento do autor do texto:

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Filme

Rapa-Nui: uma aventura no paraíso

O filme é uma aventura que envolve o romance de um jovem casal. É possível perceber no filme algumas das hipóteses mais aceitas sobre como as grandes estátuas foram construídas e levadas até os mais diversos pontos da ilha, bem como sobre costumes e tradições dos antigos povos que habitaram Rapa-Nui ou a ilha de Páscoa. Direção de Kevin Reynolds. Estados Unidos, 1994.

revistas

revistas especializadas

A produção do conhecimento científico é divulgada para o público em revistas especializadas para despertar a curiosidade e o interesse pela ciência. Essas revistas em geral têm também páginas na internet, com resumos de seus artigos. Algumas delas: Ciência Hoje. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2012. Superinteressante. Disponível em: <www.superinteressante.com.br>. Acesso em: 20 jul. 2012 Galileu. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/>. Acesso em: 20 jul. 2012 NationalGeographic. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic>. Acesso em: 20 jul. 2012 Aventuras na História. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia>. Acesso em: 20 jul. 2012

48

Língua Portuguesa


Capítulo

4

LÍNGUA PORTUGUESA

O que é que o jornal tem?

R

Gary Buss/Taxi/Getty Images

Delfim Martins/Pulsar Imagens

epetidas vezes ouvimos que ler jornal é importante, que aquele que lê jornal é bem informado, sabe das coisas. No entanto, também é comum ouvir que ler jornal é difícil, que ele é meio “desajeitado” para manusear, que é muito grande e fica complicado encontrar nele o que estamos procurando... Observe estas imagens. Em que lugar estão as pessoas das fotos? Você acha que elas têm o mesmo objetivo ao ler jornal? É provável que elas estejam lendo a mesma matéria?

O jornal tem uma enorme variedade de gêneros de texto, cada um com uma finalidade. Esses gêneros todos não são lidos da mesma maneira – nem quando são lidos pela mesma pessoa... Por isso, é possível fazer leituras muito diferentes de um jornal. Você conhece todos os gêneros e assuntos presentes nesse meio de comunicação? Nele você pode se informar sobre acontecimentos relevantes, que repercutem sobre sua vida, mas também sobre fatos curiosos. Pode obter informações práticas, como o resultado da loteria, um índice econômico, a programação de cinema e TV. Pode também encontrar diversão e entretenimento (nos quadri6º ano

49


nhos, palavras cruzadas, crônicas), descobrir uma vaga de emprego, um imóvel para alugar, um carro usado que pode comprar, receber dicas de passeios, livros, viagens, orientações de como proceder em certas situações etc. Se você não costuma folhear o jornal, pode achar difícil localizar tudo isso. Pode até se sentir desmotivado a procurar. Mas é uma questão de hábito. Neste capítulo você terá a oportunidade de se familiarizar com o jornal impresso e vai começar a desenvolver estratégias para ler seu conteúdo.

RODA DE CONVERSA

Para começar, vamos fazer um levantamento entre os alunos da classe. O professor vai fazer um quadro na lousa para anotar os resultados. a) Quantos alunos têm o costume de ler jornal pelo menos uma vez por semana? b) Quantos leem jornal de vez em quando no mês? c) Quantos alunos nunca leem jornal? d) Entre os que leem, em que dia(s) da semana isso é mais comum? (Investiguem se há um mo-

tivo para isso.) e) Onde leem jornal? f) O que costumam ler no jornal? (Por exemplo: notícias da cidade e do país; horóscopo; resumo

de novela; classificados; propagandas etc.) g) Entre os alunos que nunca leem jornal, qual é o motivo para isso? h) Entre os que leem (não importa com qual regularidade), o jornal é lido na versão impressa ou digital? i) Entre os que leem a versão impressa, o jornal é comprado, entregue gratuitamente ou de uso

público (da biblioteca da escola, por exemplo)?

COMO FAZER A LEITURA DO JORNAL? Com diversos gêneros de texto, fotografias e variados recursos gráficos, o jornal é uma vasta fonte de informações sobre o mundo. A questão é que, muitas vezes, essa fonte é renovada a cada 24 horas! Esse dado em princípio pode até assustar, mas naturalmente não há nenhuma pressão para que o leitor leia da primeira à última página de um jornal no espaço de um dia... O objetivo deste capítulo é justamente proporcionar experiências para que você conheça a estrutura e a organização do jornal e possa tirar proveito de sua leitura. Sobre o acesso a esse veículo de comunicação, o jornal pode ser vendido por assinatura (e nesse caso é entregue no local indicado pelo assinante) e pode também ser vendido nas ruas: em bancas de jornal, lojas, livrarias e supermercados. Além disso, pode ser lido gratuitamente em bibliotecas e salas de leitura e acessado pela internet. 50

Língua Portuguesa


LER JORNAL I

Nesta atividade, você vai começar a pôr as mãos no jornal. Para isso, a classe vai se dividir em grupos. 1. Seu grupo vai receber alguns jornais (um por vez). Em cada um é preciso observar: • • • • • • • • • •

o formato (tabloide: 29 × 39 cm ou padrão: 38 × 58 cm); o número de páginas; o tipo de papel; a organização das folhas (separadas em vários maços de papel ou em um único maço); as cores (preto e branco ou colorido); o número de colunas na página; o tamanho da letra nos textos (pequena ou grande, segundo a avaliação subjetiva do grupo); o preço do jornal; o público provável; a periodicidade (diário, semanal ou outra).

Depois de examinar um jornal, o grupo vai entregar o exemplar manuseado para outro e vai receber um novo exemplar. O rodízio vai continuar até todos os jornais disponíveis circularem por todos os grupos. Em cada etapa é preciso anotar o que foi visto. Para registrar o que você observou, faça tabelas com base no modelo a seguir. O número de colunas que você vai usar depende de quantos jornais forem examinados. Escreva na primeira linha o nome do jornal examinado. Nome do jornal Formato do jornal Número de páginas Tipo de papel Número de maços de folhas Cores Número de colunas na página Tamanho da letra Preço Público provável Periodicidade

6º ano

51


2. Manifeste sua opinião: qual dos jornais examinados você escolheria para ler? Por quê?

O professor vai realizar uma pesquisa na classe para todos saberem das escolhas feitas pela turma. 3. Agora, em grupos, selecionem um dos jornais aleatoriamente. Localizem em suas páginas os itens a seguir e anotem no caderno em que página cada um estava. a) uma notícia sobre esporte; b) informações meteorológicas; c) uma propaganda; d) uma sequência de classificados de imóveis; e) uma sequência de classificados de emprego; f) tiras de humor; g) cartas de leitor; h) uma notícia internacional; i) o rendimento da caderneta de poupança; j) o obituário. 4. No final, cada grupo vai mostrar a página na qual localizou o que foi pedido. Primeiro, todos os

grupos apresentam o item a); depois todos passam ao b), e assim por diante. Nesse momento, com a orientação do professor, você e seus colegas vão discutir os seguintes pontos: a) O item procurado ocupou mais espaço em um jornal do que em outro? b) Aparentemente a linguagem empregada para tratar determinado item muda ou é a mesma de

um jornal para outro? c) Há semelhança no que diz respeito à parte do jornal (começo, meio, final) onde estavam as

informações meteorológicas, as tiras de humor, as cartas de leitor, o rendimento da caderneta de poupança e o obituário? d) E quanto às propagandas? e) Os anúncios classificados estavam em uma parte separada ou estavam em pontos variados,

entre textos que não eram de anúncios classificados? f) As notícias internacionais estavam no começo, no meio ou no final do jornal? g) E as de esportes? h) Você acha que existe um motivo para a localização de certos textos no jornal?

A ORGANIZAÇÃO DO JORNAL DIÁRIO Entre os jornais que você já manuseou, talvez alguns estivessem formados por vários maços de folhas. Cada um desses maços é chamado de caderno. E quantas folhas são reunidas em cada caderno? Isso varia. Eles não têm a mesma quantidade de folhas, mas é sempre uma quantidade que permite que o caderno seja dobrado ao meio, sem prejudicar seu manuseio. 52

Língua Portuguesa


CADERNO E SUPLEMENTO A divisão do jornal em cadernos é aproveitada para outro propósito. Você imagina qual seja? Uma dica: se examinar os vários cadernos de um jornal diário, vai perceber que cada um tem um nome. E vai perceber também que esse nome tem a ver com o conteúdo do que foi publicado ali. Certos cadernos coincidem com as editorias do jornal. A editoria é uma espécie de departamento do jornal que fica responsável por cobrir uma área – por exemplo: Esportes, Ecologia, Polícia, Saúde, Educação, Artes, Transportes, Política, Noticiário Internacional, Economia, Religiões, Local, Interior, entre outras. Quando um caderno trata de um só assunto, por exemplo, esporte, turismo, ele é chamado de suplemento. Um suplemento pode sair diariamente ou ter outra periodicidade. Quando um caderno reúne matérias de mais de uma editoria (por exemplo: Local + Educação + Polícia), é chamado de caderno. Repare que o termo “caderno” tem dois sentidos: é meramente um conjunto de folhas, mas é também uma unidade do jornal. Veja o nome do caderno que costuma reunir as três editorias mencionadas no parágrafo anterior em três jornais diferentes: Origem

Nome do caderno

Jornal do Commercio

Pernambuco

Cidades

Folha de S.Paulo

São Paulo

Cotidiano

Gazeta do Povo

Paraná

Vida e Cidadania

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Jornal

Os jornais costumam dividir seus conteúdos em cadernos para facilitar a leitura.

6º ano

53


Esse jeito de organizar o jornal facilita muito a vida do leitor. Se ele gosta do noticiário esportivo, pode separar esse suplemento com facilidade para lê-lo. Se ele quer primeiro se inteirar do noticiário local (aquele que trata dos fatos relativos a sua cidade), também pode com rapidez pegar o caderno que lhe interessa. Há, porém, os cadernos que o leitor deixa para o fim, e pode até escolher não ler naquele dia. As notícias não vêm misturadas. Elas são distribuídas para facilitar a leitura. Além do nome, há outro procedimento que facilita a localização dos cadernos. Alguns jornais os identificam por letras, que são inseridas à esquerda do número da página. Assim, para um caderno é usada a letra A, e suas páginas são A1, A2, A3, A4 etc.; para outro, usa-se a letra B, que origina as páginas B1, B2, B3 etc. Nem sempre as letras do alfabeto são seguidas uma por uma. Pode acontecer de algumas serem puladas. Arquivo/Agência Estado

Detalhe da seção Internacional do jornal O Estado de S. Paulo. Além do nome da seção, estão indicadas a página, A16, mostrando que pertence ao primeiro caderno, e também a data de publicação.

LER JORNAL II

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Nesta atividade você vai explorar o uso que o jornal faz dos cadernos. O trabalho será realizado em grupos. O ideal é que você e seus colegas se dividam em sete grupos, pois trabalharemos com as edições de um mesmo jornal ao longo de uma semana, começando pela edição de segunda-feira.

54

Língua Portuguesa


1. Seu grupo vai receber aleatoriamente uma edição do jornal. a) Escolha um caderno e tire dele uma de suas folhas. Você não deve rasgá-la ou recortá-la,

apenas separe do caderno uma folha dupla, com a dobra no meio. Faça o mesmo com outro caderno. As duas folhas destacadas vão continuar fazendo parte daquele jornal, porém soltas. b) Terminada essa etapa, você vai reunir os cadernos em qualquer ordem, juntar a eles as duas

folhas duplas (que estão separadas) e dobrar o jornal ao meio, do jeito que ele fica na banca. c) Por fim, passe a outro grupo o jornal no qual você realizou esses procedimentos. Seu grupo

também vai receber um jornal no qual foi feita a mesma coisa. 2. A tarefa consiste no seguinte: a) Espalhe os cadernos do jornal que você recebeu (sem desfolhá-los) e procure colocá-los na

ordem em que estão quando são vendidos. b) Encaixe no caderno de origem as folhas que estavam soltas. c) Se houver cadernos de classificados, deixe-os separados. 3. Um componente do grupo que lhe passou o jornal vai avaliar se as folhas soltas voltaram ao ca-

derno original, e um componente do seu grupo vai fazer o mesmo com o grupo ao qual vocês passaram o jornal. Discuta com os colegas e o professor que critérios foram seguidos para ordenar as folhas soltas e os cadernos.

O CONTEÚDO DOS CADERNOS E SUPLEMENTOS E AS SEÇÕES DOS JORNAIS Geralmente, os jornais diários apresentam alguns cadernos e suplementos comuns. Eles normalmente tratam: • de política nacional (cobrindo questões dos poderes legislativo, execu• • • • •

tivo e judiciário e movimentos sociais); de política internacional; de questões ligadas à cidade em que o jornal circula e a outras cidades (cobrindo segurança, transporte, habitação, comportamento); economia (cobrindo o dia a dia das empresas e finanças pessoais); esporte; arte, cultura e entretenimento (cobrindo cinema, teatro, literatura, televisão etc.).

Em algum desses cadernos os jornais também incluem temas como: • • • •

saúde; ciência; ambiente; educação.

6º ano

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Folhapress

Essas áreas estão presentes em todas as edições do jornal, ou seja, saem diariamente. Elas normalmente estão distribuídas por cinco cadernos. Cada jornal dá um nome diferente para esses cinco cadernos ou suplementos diários. Além das áreas enumeradas, há outras tratadas de forma especial, em suplementos que circulam uma vez por semana. São os suplementos semanais. Nem todo jornal tem os mesmos suplementos. Um novo suplemento pode ser introduzido se o jornal perceber que o público tem interesse por determinado tema. É comum que os suplementos semanais tratem de informática/tecnologia; turismo; gastronomia, entre outros. Eles também costumam dedicar espaço ao público jovem e ao público infantil. Alguns veículos têm suplementos mensais. Eles circulam em dias determinados, por exemplo: todo último domingo do mês ou toda primeira terça-feira. Há ainda os suplementos especiais. Eles podem ocorrer planejadamente por parte do jornal para apresentar um tema de interesse. Por exemplo: “Cursos de idiomas” ou “Compra de imóvel” ou “Copa 2014” ou ainda “Eleições”. Pode haver também um suplemento especial por ocasião de um fato relevante inesperado, por exemplo, a morte de alguém. Os cadernos costumam ter seções fixas, ao longo dos cadernos e suplementos. São exemplos de seções: cartas dos leitores, informações meteorológicas, coluna social, obituário, horóscopo, quadrinhos, palavras cruzadas, Página de suplemento especial publicado pelo jornal Folha de S.Paulo após a morte do artista pop Michael Jackson, em 2009. sudoku, charge... 56

Língua Portuguesa


Folhapress

No primeiro caderno, há as seções de opinião. Elas contam com os editoriais (texto em que o jornal manifesta seu ponto de vista sobre um fato recente e de interesse público), com as colunas assinadas por colaboradores fixos do jornal e com as colunas assinadas por pessoas convidadas a escrever naquela edição.

Página do jornal Folha de S.Paulo com informações metereológicas.

6º ano

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LER JORNAL III

Nesta atividade, trabalharemos mais uma vez em grupo. Você vai continuar trabalhando com o exemplar que manuseou na atividade anterior. 1. O professor vai fazer na lousa um quadro que todos ajudarão a preencher. Segue abaixo um modelo

que toma por base um jornal paulistano. Seu professor vai fazer adaptações se isso for necessário. Folha de S.Paulo – de ___/___/___ a ___/___/___ Seg.

Ter.

Qua.

Qui.

Sex.

Sáb.

Dom.

Opinião A

Primeiro caderno

Poder Mundo

B

Mercado Ciência + Saúde

C

Cotidiano

Saber Folha Corrida

D

Esporte

E

Ilustrada The New York Times p/ FSP Folhateen Tec Equilíbrio *

Fovest Comida Turismo Guia da Folha Folhinha Ilustríssima São Paulo

**

Serafina * Circula em determinado período do ano.

58

Língua Portuguesa

** Encarte mensal


2. O grupo que está com a edição de segunda-feira vai começar. Ele vai dizer os cadernos e suple-

mentos que existem no jornal recebido, na ordem que consideraram certa para eles. Apenas os cadernos de classificados ficarão de fora na listagem. O professor vai colocar o símbolo üna tabela, para indicar que o jornal de determinado dia tem determinado caderno ou suplemento. 3. O grupo que está com a edição de terça-feira vai continuar. Se houver um caderno diferente, seu

nome será inserido na tabela e marcado com

. Todos os grupos vão falar.

4. Terminada essa etapa, faça o mesmo com os cadernos de classificados. Veja um modelo de tabela

a seguir.

Folha de S.Paulo – de ___/___/___ a ___/___/___ Seg.

Ter.

Qua.

Qui.

Sex.

Sáb.

Dom.

Veículos

Imóveis

Empregos

Negócios

5. Nesse momento inicia-se uma análise dos dados. a) Que cadernos circulam diariamente? b) Que cadernos, suplementos ou outros encartes circulam uma vez por semana? c) Há alguma razão para um caderno ou suplemento ou encarte circular naquele dia da semana?

Se sim, qual? d) Há nessas sete edições encartes que circulam uma vez por mês? e) Em que dia da semana há mais cadernos de classificados? Qual dia vem em segundo lugar?

Que justificativa se pode dar para essa ocorrência? f) Os anúncios classificados estão divididos por temas? Quais? 6. Em outro dia, faça o mesmo procedimento com outro jornal. 7. No final, compare: a) Há semelhança de conteúdo entre os cadernos diários dos dois jornais? b) Há suplementos semanais com o mesmo tema nos dois jornais? Eles circulam no mesmo dia

ou em dias diferentes? Qual é a justificativa para cada caso? c) Há cadernos com o mesmo nome nos dois jornais? d) Que tipo de caderno só um dos dois jornais tem? 6º ano

59


8. Com a ajuda do professor, a classe vai fazer uma relação de todos os cadernos de um dos jornais

que foram examinados e vai esclarecer o conteúdo de cada um. Depois passe para o segundo jornal. Registre o resultado desse levantamento.

PRIMEIRA PÁGINA – A VITRINE DO JORNAL A primeira página é também denominada capa do jornal. Essa designação nos lembra que a primeira página tem pontos em comum com livros, pois é na capa que está a identificação da obra. A parte da primeira página que apresenta a identificação do jornal é o cabeçalho. Ele apresenta basicamente o nome do jornal, o local onde ele circula, sua data de publicação, o número da edição e o preço, mas pode haver outros elementos. A grande diferença entre a capa de um livro e a de um jornal está no modo como ela mostra o conteúdo daquela publicação. O livro faz isso indicando o título e o autor, e às vezes usando uma ilustração. No jornal, porém, tudo se passa de um jeito diferente. Na sua capa há resumos e amostras do que o leitor vai encontrar no seu interior. Esses resumos e amostras são constituídos por textos verbais e não verbais. Tanto no livro como no jornal, é importante ser chamativo e atrair o leitor, mas o jornal tem uma estrutura própria. Ela é extremamente importante, e é isso que você vai estudar nesta seção. A primeira página tem alguns elementos característicos, como: • • • •

manchete; fotografias (com legenda e crédito); chamadas de diferentes tipos; infografia.

A manchete é o título principal. É escrita com as maiores letras e fica sempre na metade superior da primeira página, a fim de ser lida quando o jornal está dobrado. Cada edição do jornal tem apenas uma manchete. Os demais títulos são chamados de “títulos” mesmo. As chamadas são os resumos das matérias que poderão ser lidas dentro do jornal. Uma chamada pode ser ilustrada ou não, pode ser uma espécie de título ou pode ter um título e um pequeno texto. A chamada sempre indica a página interna na qual a matéria pode ser lida integralmente. A fotografia é sempre acompanhada por uma legenda e pela indicação do fotógrafo ou da instituição responsável por ela. Essa indicação é o crédito da foto. Por fim, há a infografia: conjunto de informações transmitidas de forma esquemática, para rápida visualização e compreensão do leitor. Baseia-se em desenho e outros recursos visuais, como gráficos, setas, mapas. Os textos são sempre curtos. 60

Língua Portuguesa


Compare estes dois jornais: Endereço virtual Arquivo CB/D.A Press

Nome do jornal

Local

Data

Número do jornal

No de páginas da edição Preço

Data de fundação

Nome do jornal

Endereço virtual Folhapress

Lema

Responsável pelo jornal

Data Ano e número do jornal

Horário de fechamento da edição

Preço

Os cabeçalhos desses jornais apresentam elementos comuns. Você reparou quais? Ambos apresentam o nome do jornal, a data, o número da edição, o preço e o endereço virtual. Mas há elementos que variam de um para o outro. O Correio Braziliense, por exemplo, apresenta explicitamente o local onde o jornal circula (Brasília, Distrito Federal). A Folha de S.Paulo, por sua vez, apresenta o lema do jornal e o horário do fechamento da edição.

6º ano

61


Arquivo CB/D.A Press

Agora localize a manchete na primeira pĂĄgina destes jornais:

62

LĂ­ngua Portuguesa


6ยบ ano

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Folhapress


As manchetes são: “Imagine quando vier um temporal” e “Volume de investimento do governo cai em 2012”. E as chamadas? Todas as primeiras páginas têm ao menos uma chamada composta de título e texto e também têm chamadas que são praticamente títulos. Veja os exemplos desse último tipo de chamada.

Jornal

Chamada

Folha de S.Paulo

“São Paulo verá mostra com várias versões da obra de Caravaggio”

Nas duas primeiras páginas há chamadas baseadas em fotografias. Veja exemplos. Jornal

Chamada

Folha de S.Paulo

Chamada sobre a gravação de um videoclipe dos Racionais MCs.

Correio Braziliense

Chamada sobre bombardeios em Gaza.

Nas edições analisadas, as páginas não exploraram em grande escala o recurso da infografia. Apenas uma delas apresenta um mapa.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Para responder às questões a seguir, consulte o quadro que serviu de exemplo na atividade “Ler

Jornal III”. a) Em que caderno de um jornal você encontraria matérias sobre o Congresso Nacional? b) Em que caderno de um jornal você encontraria uma matéria sobre a explosão de uma bomba

em Bagdá, no Iraque? c) Em que caderno de um jornal você encontraria uma matéria cujo título é “Mercado prevê

inflação acima de 4,5% este ano”?

64

Língua Portuguesa


d) Em que caderno de um jornal você poderia encontrar a foto a seguir?

Dida Sampaio/AE

Operários em momento de descontração durante a reconstrução do estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF), 2012.

e) Em que caderno de um jornal você encontraria uma matéria cujo título é “Congestionamento

foi o maior do ano”? f) Em que caderno de um jornal você encontraria uma matéria cujo título é “Seu Jorge chega

com disco novo”? 2. Que editoria foi responsável por uma matéria cujo título é “Venda de antibióticos sobe e preocupa

especialistas”?

6º ano

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Gazeta do Povo

3. Escreva o nome dos itens indicados nesta primeira pĂĄgina de jornal.

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LĂ­ngua Portuguesa


6ยบ ano

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Gazeta do Povo


MOMENTO DA ESCRITA

PROPOSTA Você vai trabalhar em trio para produzir uma primeira página de jornal diário, com todos os elementos que a compõem. Suponham que o jornal no qual está essa página circula na escola, e seu público-alvo são os alunos e demais pessoas do universo escolar. As matérias que o jornal vai apresentar são relativas aos acontecimentos nas aulas, nos intervalos e no dia a dia pessoal dos alunos.

PLANEJAMENTO Sigam as etapas abaixo: 1. Escolham o nome do jornal. 2. Decidam se, além de nome, local, data, número de edição e preço, haverá

algum outro elemento no cabeçalho. 3. Decidam que fato é o mais importante naquela edição do jornal. Vocês po-

dem escolher algo que tenha ocorrido ou podem imaginar uma situação. 4. Escrevam uma manchete para apresentar esse fato. 5. Decidam cinco outros fatos que serão relatados naquela edição. 6. Para cada um vocês vão criar uma chamada. Variem o tipo de chamada:

com título e texto e com uma frase-título. 7. Classifiquem cada chamada para um caderno ou suplemento diário. Ele

vai ser indicado pela numeração de página que você vai inventar. Por exemplo: A1 é página do primeiro caderno; B1 do caderno de economia; C1 do caderno local, que abriga também segurança, transporte, educação...; D1 do caderno esportivo; E1 do caderno de arte e entretenimento. 8. Escolham uma ou mais fotografias para ilustrar um ou mais fatos. Se vo-

cês não conseguirem, podem desenhar o que imaginaram fotografado. 9. Criem uma legenda para as fotografias.

ELABORAÇÃO Em uma folha de papel sulfite, vocês vão compor a primeira página. 1. Delimitem a lápis, bem de leve, o espaço que o nome do jornal vai ocupar. 2. Delimitem também um pequeno espaço para os outros dados do cabe-

çalho. 3. No espaço que sobrou, marquem a lápis o espaço que a manchete vai

ocupar.

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Língua Portuguesa


4. Depois, delimitem o espaço que a(s) fotografias(s) vai(vão) ocupar e o

espaço que cada chamada vai ocupar. 5. Escrevam a lápis diretamente na folha de sulfite o que vai ficar em cada

espaço deixado. 6. Coloquem o crédito na fotografia. 7. A letra precisa ser bem regular e caprichada em todo o trabalho.

Se a classe dispuser de computador, pode adaptar a criação da página por meio de um programa de edição.

AVALIAÇÃO Troque as páginas com outro grupo. Cada um vai avaliar o trabalho do outro, segundo estes critérios: 1. Os alunos obedeceram à proporção de tamanho entre o nome do jornal e

os demais elementos do cabeçalho? 2. Os textos da chamada são claros e atrativos? 3. O caderno que cada chamada indica é coerente com o tema tratado pela

chamada?

REESCRITA Façam os ajustes que forem necessários e passem caneta na primeira página. O trabalho pode ser entregue ao professor.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site

Acervo do Jornal O Estado de S. Paulo

O jornal O Estado de S. Paulo digitalizou todo o seu acervo, tornando possível examinar edições que estamparam fatos históricos e acompanhar a mudança do projeto gráfico que o jornal, como outros, teve ao longo do tempo. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/>. Acesso em: 6 ago. 2012.

6º ano

69


Bibliografia

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Língua Portuguesa


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UNIDADE 2

Arte



Capítulo ARTE

1

Arte, para quê?

Cesar Diniz/Pulsar Imagens

Beco do Batman ou Beco do Grafite, situado na zona oeste de São Paulo (SP), 2011. De que forma a arte está presente no nosso cotidiano? No lugar em que você mora é possível encontrar algo semelhante ao que está retratado nesta foto?

U

ma das primeiras questões que encontraremos ao longo deste capítulo é: arte, para quê? Essa e outras perguntas orientarão as reflexões que faremos sobre arte, seus sentidos e sua função. A partir de algumas análises, que incluem também leitura e interpretação das imagens apresentadas, vamos nos relacionar com a arte e suas manifestações e, dessa forma, compreendê-la melhor. 6º ano

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RODA DE CONVERSA I

Que papel a arte desempenha em nossa vida? Para que estudar e compreender a arte? O que ela representa para nós? Vamos imaginar nossa vida sem a arte. Pense em retirar do cotidiano as manifestações artísticas com as quais nos relacionamos: música, pintura, escultura, teatro, telenovela, cinema, dança, design, arquitetura. Isso mudaria algo em sua maneira de viver? Pense bem antes de responder e discuta essas questões com seus colegas.

NUM TEMPO DISTANTE... Para iniciarmos nossa reflexão, vamos fazer uma viagem a um tempo muito distante: ao nascimento da humanidade. Não é novidade que a origem do que chamamos de arte é muito antiga. Desde que viviam em cavernas, os seres humanos desenhavam, pintavam, dançavam e, provavelmente, faziam dramatizações. Sem a ajuda de documentos escritos não se pode reconstruir a história desses povos com exatidão, mas é possível levantar hipóteses a partir dos achados arqueológicos: objetos pessoais de uso cotidiano − como potes e armas −, esculturas e pinturas-murais. A arqueologia, ciência que estuda os modos de vida do passado por meio de vestígios materiais, tem nos apresentado inúmeros indícios de que a arte esteve presente na origem dos seres humanos nos mais diferentes e distantes locais. As inscrições – pinturas ou incisões em pedras – e outros objetos encontrados e estudados por pesquisadores nos contam como viviam nossos ancestrais nos territórios que hoje conhecemos como África, Europa, Ásia, América e Oceania. Em todos os continentes encontramos a presença da arte nos resquícios das culturas dos antigos povos que ali habitavam. Mas o que levou os seres humanos a elaborarem objetos e pinturas a que atribuímos o caráter de arte? As pesquisas indicam muitos motivos, mas concordam em um ponto: os povos antigos expressavam, por meio de representações simbólicas, muito do seu modo de viver. Para isso recorriam a diversos materiais e técnicas, além da imaginação. Traduziam por meio de sigArte rupestre nos o que conheciam e o que sentiam. O termo rupestre vem do O desejo de se comunicar é próprio dos seres humanos, latim rupes (rocha) e se aplica que, por meio de gestos, palavras ou imagens, podem exprimir às pinturas ou às gravações sobre suporte rochoso. Apesar pensamentos, ideias, medos e desejos. Na Pré-história, as reprede o termo se referir aos regissentações se tornaram um meio potente para esse fim. Acreditros gráficos realizados na Préhistória, alguns estudiosos inGLOSSÁRIO ta-se que quando pintavam animais e caçadas dicam que é possível localizar nas paredes das cavernas, eles demonstravam a Signos: sinal indicativo; qualexemplares produzidos em quer coisa que possa transportar esperança de conseguir alimentos e, assim, ter outras épocas mais recentes. uma informação: palavras, Como os encontrados na Áfrisua sobrevivência garantida. Assim, a pintura tigestos, sinais físicos e sonoros ca do Sul e na Califórnia, pro(apitos do guarda de trânsito, nha um caráter mágico e a arte foi a maneira enplacas etc.) duzidos no século XIX. contrada para se comunicar com os deuses ou 76

Arte


Palê Zuppani/Pulsar Imagens

para dominar a natureza. As representações lhes conferiam a sensação de poder sobre o natural, poder sobre os inimigos, poder sobre a realidade. E a razão desse poder era fortalecer a coletividade humana. A arte nasceu como uma atividade social, envolvendo o coletivo. Isso se aplica também às outras formas de expressão, como a dança, que teve origem nos rituais de preparação para a caça e as lutas. Em grupos, dançavam e emitiam sons evocando poder e proteção. Teremos herdado deles os gritos de torcida GLOSSÁRIO que muitas vezes intimidam os adversários? Ao dançar, cantar e pintar nas paredes de pedra, os Símbolos: signo que, por convenção ou analogia, pode ser utilizado para repre“artistas” pré-históricos criaram signos e símbolos para sentar uma coisa na ausência desta. Pode representar o que desejavam. Era uma forma de aumentambém representar uma ideia ou um sentimento. Por exemplo, a pomba branca tar seu poder e enriquecer sua vida. Criaram também como representação da paz. uma linguagem visual que hoje apreciamos e estudamos.

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Pintura rupestre encontrada na Toca da Entrada do Pajaú, no município de São Raimundo Nonato (PI), 2010. Animais e caçadas são temas comuns nesse tipo de pintura.

Pintura encontrada no Sítio Arqueológico Talhada do Gavião, em Carnaúba dos Dantas (RN), 2007.

6º ano

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PARA REFLETIR

Mauricio de Sousa Produções

Observe esta imagem.

Cartaz da 35ª Mostra de Cinema de São Paulo, em 2011, criado por Mauricio de Sousa, faz referência à arte rupestre. A personagem Piteco interage com as pinturas.

• Em sua opinião, que relação existe entre a ilustração criada por Mauricio de Sousa e o cinema?

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Arte


CONHECER MAIS

Pinturas nas cavernas Javier Etcheverry/Alamy/Otherimages

Como eram feitas as pinturas nas cavernas e quais materiais eram empregados? Estas são algumas das tantas indagações que movem cientistas em seus estudos. Tudo indica que usavam pigmentos naturais de origem animal, vegetal ou mineral, como carvão, cera de abelha e até sangue. As pinturas podem ter sido feitas com gravetos, pelos de animais ou mesmo com os dedos. Uma das técnicas mais intrigantes é a que foi aplicada às mãos em negativo. Assim como os demais temas rupestres, essas representações se repetem em muitos locais, ainda que distantes entre si. Acredita-se que tenham sido feitas antes das pinturas que representavam animais e seres humanos. Para realizá-las, obtinham um pó colorido moendo rochas e depois, com o auxílio de um canudo – provavelmente um osso –, sopravam esse pó na mão estendida sobre a pedra. A área em volta da mão ficava colorida, enquanto a parte que havia sido coberta ficava em negativo. Isso lhe lembra algo?

Mãos pintadas em gruta na Patagônia, Argentina, 2007.

SOBRE PAREDES E MUROS Bridgeman Art/Keystone

As obras de arte rupestres que se preservaram até os dias atuais exercem certo fascínio sobre nós. Remetem-nos a tempos e a locais distantes e nos revelam nossa própria humanidade. Pintar sobre muros e paredes é uma atividade que os seres humanos têm desenvolvido ao longo de sua história. Vejamos: na Antiguidade, os reis e as pessoas que tinham algum poder mandavam pintar Afresco do século IV no interior da catacumba da Via Latina, em Roma, na Itália. O painel mostra a história da batalha entre Sansão e os filisteus. seus palácios e seus túmulos. Desde a construção das primeiras igrejas percebeu-se a necessidade de pintar, em suas paredes, cenas bíblicas. Essa era uma forma de contar sua história aos fiéis, uma vez que eles eram, em sua maioria, analfabetos. 6º ano

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RODA DE CONVERSA II

Historicamente, paredes e muros serviram de suporte para a pintura e para passar alguma mensagem. E hoje, muros e fachadas ainda recebem pinturas, com imagens repletas de significados. Podemos concluir que sentimos realmente a necessidade de deixar marcas por onde passamos ou vivemos? Que efeitos podem trazer à sociedade as marcas deixadas sobre muros e fachadas? Discuta com seus colegas essas questões.

A CIDADE COMO SUPORTE

Graffiti ou grafite Apesar de nos dicionários de língua portuguesa constar o termo “grafite”, artistas e críticos brasileiros preferem usar a palavra graffiti. Graffito é original do italiano e refere-se a inscrições ou desenhos feitos a carvão ou com objetos pontiagudos sobre pedra em épocas remotas. A palavra foi incorporada ao inglês, em seu plural graffiti, para denominar a arte feita sobre muros urbanos. Em alguns lugares ela pode receber outros nomes: esgrafiado, grafito, grafitos, sgraffite e sgraffito.

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

É possível que você e sua turma, ao pensar em muros e fachadas com pinturas, tenham se lembrado do graffiti, uma forma de arte bastante atual, presente em muitas partes do mundo. Aqui no Brasil, essa manifestação começou a surgir na década de 1950, mas foi nos anos 1980 que se consagrou como linguagem artística. Paredes, muros, postes, fachadas, viadutos e outros elementos urbanos servem de suporte para grafismos e imagens que, muitas vezes, se repetem em diversos lugares. Seu conteúdo pode ir da crítica social à fantasia. Coloridos, descontraídos e até bem-humorados, os graffitis interferem na paisagem urbana e, como toda manifestação artística, revelam o contexto histórico, social e econômico da sociedade em que se inserem. De forma espontânea, democratizam e desburocratizam a arte, aproximando-a do cidadão, sem distinção.

Graffiti em escadaria da favela Vila Cruzeiro. Rio de Janeiro (RJ), 2012.

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Arte


Brian Cahn/ Corbis/Latinstock

Figurativos ou abstratos, os graffitis são obras com vida limitada. Permanecem nas ruas até que alguém os cubra de tinta ou os substitua por outro graffiti. Muitas vezes, acabam desgastados pela ação do tempo. Alguns, porém, ganham espaço privilegiado em museus e centros culturais.

O graffiti está presente em muitas partes do mundo e a cada dia ganha novos adeptos, mas sua origem foi marginal. No início eram pinturas simples, afinal, era preciso ser rápido para não ser pego pintando. Levou certo tempo para que os grafiteiros fossem reconhecidos como artistas, suas produções ganhassem espaço e sua linguagem fizesse história.

Filipe Redondo/Folhapress

Painel com cores fortes e muito bom humor do artista estadunidense Kenny Scharf. Museu de Arte Contemporânea, Los Angeles, 2011.

Che e Fidel, obra da dupla de grafiteiros conhecidos como 6emeia pintada em bueiro na rua do Bosque, em São Paulo (SP), 2007. Suas intervenções nas ruas são cheias de humor.

6º ano

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CONHECER MAIS

Graffiti e pichação

Folhapress

Apesar de terem as mesmas raízes, utilizarem a cidade como suporte, as tintas como material e possuírem o mesmo espírito transgressor, o graffiti e a pichação têm certas diferenças entre si. Enquanto a pichação, derivada da escrita, é uma produção anônima menos elaborada graficamente e sem projeto definido, o graffiti tem sua origem nas artes plásticas e os grafiteiros desenvolvem estilos próprios com resultados muito diferentes das pichações.

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Arte


CONHECER MAIS

O Dia do Graffiti Coleção Particular

Assim como as pinturas pré-históricas, os temas abordados pelos grafiteiros são extraídos do cotidiano ao mesmo tempo em que interferem nele. As imagens dos muros refletem por meio de símbolos os valores de nossa sociedade, mesmo aqueles que queremos negar, como o consumismo. As interferências feitas na paisagem das cidades alteram não apenas o local, mas atuam também sobre as pessoas que por elas passam. Se elas diminuem o ritmo ou param para ver a transformação, o intuito dos artistas foi alcançado. • Alguma obra de grafitti já chamou a sua atenção? O

que ela representava? Comente sobre sua reação.

O GRAFFITI NO BRASIL

Rivaldo Gomes/Folhapress

São muitos os grafiteiros brasileiros que têm seu trabalho valorizado aqui e no exterior. Criam personagens, povoam nossa imaginação, fazem protestos, ironizam, denunciam. Publicam suas ideias a céu aberto para que todos as apreciem.

Os tempos de marginalidade ficaram para trás. Hoje o graffiti não só é reconhecido como tem seu dia de glória e comemoração decretado por lei. O dia 27 de março foi declarado o Dia Nacional do Graffiti, em homenagem a um dos precursores dessa arte no Brasil – Alex Vallauri, falecido nesse dia, em 1987.

Nina Pandolfo é uma das pioneiras em arte de rua. Suas obras podem ser apreciadas nas ruas de São Paulo e em muitas galerias pelo mundo. Ela explora o universo feminino e a natureza, como neste graffitti que fica na região central de São Paulo. 2011.

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Imagem cedida pela Editora Zupi

Graffiti de Maurício Villaça, da década de 1980, no bairro Planalto Paulista, São Paulo. Uma releitura da obra de Manet, Almoço na relva.

Musée d’Orsay, Paris

Maurício Villaça foi um dos precursores do graffiti brasileiro. Na irreverente releitura da obra Almoço na relva (1863) do pintor francês Édouard Manet, inseriu a figura de um super-herói, justamente numa época em que a sociedade brasileira se ressentia da ausência de líderes.

Édouard Manet. Almoço na relva, 1863. Óleo sobre tela, 208 × 264 cm. Museu d'Orsay, Paris.

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Arte


O graffiti está intimamente ligado ao movimento hip-hop. Em 1980, essa influência norte-americana despontou em São Paulo, onde os simpatizantes reuniam-se para dançar, ouvir rap e pintar. Distinguiam-se por ter um estilo próprio de vestir e por usar gírias próprias. Com influência americana, o graffiti da cultura hip-hop segue determinado estilo, não utilizando máscaras e sendo traçado e pintado diretamente com spray. Alguns grafiteiros brasileiros inovaram e foram além das letras coloridas, características do graffiti americano, produzindo pinturas com técnica apurada. Inovaram também nos materiais, introduzindo a tinta látex. Suas imagens, no entanto, ainda refletem o universo hip-hop, com figuras com movimento e cores muito vivas.

Julia Grossi/Corbis/Latinstock

O GRAFFITI E O HIP-HOP

O grafitti e o movimento hip-hop andam lado a lado.

CONHECER MAIS

Técnicas e materiais Oli Scarff/Getty Images

Giz, pincéis, spray e látex são alguns dos materiais utilizados para criar formas, símbolos e imagens em diversos espaços da cidade. Pintando diretamente com o spray ou utilizando máscara ou estêncil, os grafiteiros têm procurado inovar constantemente. A máscara, ou estêncil, desempenha a mesma função que as mãos nas gravações em negativo sobre a pedra na Pré-história. O artista faz um molde vazado, recortando em papel grosso ou em acetato o que deve ser impresso. Apoia-o sobre a parede e passa um jato de spray. Ao retirar a máscara, aparece a imagem delineada em positivo. Isso lhe lembra algo?

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Leia as citações a seguir de dois grafiteiros. Com um colega, discuta as ideias apresentadas e anote

suas conclusões. Desde a Pré-história, o homem come, fala, dança e grafita. Maurício Villaça, grafiteiro brasileiro.

Decidi voltar ao desenho, que mudou pouco desde a Pré-história e ainda guarda a mesma origem. Keith Haring, grafiteiro nova-iorquino.

2. A razão de ser da arte pode se alterar em cada sociedade, em cada tempo e em cada lugar, porém,

existe algo em sua essência que permanece igual e que nos faz, no século XXI, apreciar as pinturas pré-históricas. Com base no que você leu, conheceu e discutiu sobre o assunto, procure identificar essa essência da arte presente em todas as suas manifestações. 6º ano

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LER IMAGEM

Picture Hooked/Loop Images/Latinstock

Observe a obra do artista britânico Banksy realizada na Inglaterra. A pintura representa duas manifestações artísticas. Por meio da aplicação de técnicas diferentes de pintura, temos a impressão de que vemos dois planos, um mais ao fundo e outro à frente.

Banksy faz das ruas de Londres, na Inglaterra, uma galeria para seus trabalhos. Esta obra foi apresentada em 2008 num festival de arte urbana no metrô londrino, em que participaram pinturas feitas com estêncil.

1. Que manifestação artística você identifica no segundo plano? 2. E no primeiro plano? . Que imagens evidenciam a aplicação da técnica de pintura com estêncil? . Banksy produziu uma obra bastante inquietante ao mostrar a imagem do fundo sendo lavada e

apagada pelo homem, que está em primeiro plano. Em sua opinião, o que ele expressa por meio dessa obra?

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Arte


AINDA SOBRE PAREDES E MUROS

Museo Nacional de Historia, Cidade do México

Algumas décadas antes do surgimento do graffiti, o muralismo instalou-se como uma forma de falar ao público. Surgiu no México após 30 anos de ditadura. O movimento revolucionário, composto de uma estreita aliança entre camponeses, intelectuais, políticos e artistas, projetava uma nação democrática. Durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, murais foram pintados por todo o país, nos lugares mais variados, das ruelas mal projetadas até as imponentes fachadas de prédios modernos. A política cultural do novo governo buscava a renovação cultural e o combate ao analfabetismo. Cenas da história do país exaltavam o poder popular e a beleza era parte integrante do projeto de governo. Diego Rivera, um dos mais expressivos muralistas mexicanos, acreditava que a arte era uma arma, um instrumento de luta contra a opressão. Além dele, destacaram-se nesse movimento David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco.

David Alfaro Siqueiros. A revolução, 1957. Afresco. Museo Nacional de Historia, Cidade do México.

No Brasil, alguns artistas deixaram-se influenciar pelos muralistas mexicanos. Di Cavalcanti e Candido Portinari estão entre eles. Usando técnicas diversas, inclusive pintura sobre azulejos, cobriram fachadas de prédios públicos e privados com temas históricos e de louvor ao trabalho e aos brasileiros. 6º ano

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PESQUISAR

Que tal conhecer os murais de Portinari? No site www.portinari.org.br, busque pelas pinturas-murais de Portinari. Selecione acervo, depois, entre em obras e, em seguida, escolha a opção técnica para chegar até pintura-mural. Você encontrará um catálogo completo dos murais que Portinari produziu. Selecione uma das obras e veja a ficha técnica que contém dados sobre a obra: nome, tamanho, ano de produção, técnica e matérias empregados, local em que se encontra ou nome do proprietário, além de outras informações. Clique em relações com outras obras e descubra outros trabalhos, alguns estudos preliminares e obras com o mesmo tema. Essa visita virtual certamente valerá a pena. Confira e relate suas impressões, compartilhando-as com seus colegas.

PARA CRIAR

Apreciar, refletir, produzir: isso é o que se pretende nesse envolvimento com o mundo da arte, ou seja, com o nosso mundo. Você será um produtor e poderá trabalhar em grupo ou individualmente na criação e pintura de um painel. 1º passo: o suporte e o local Se não conseguir uma parede ou um muro e a devida autorização para pintá-lo, não importa. Um tapume usado, uma placa de zinco, uma base de papelão ou outro material que encontrar também poderão ser suportes para seu painel. Folhas de jornal coladas umas às outras em várias camadas se transformam numa base resistente e bastante interessante. Dica: Para produzir um suporte com jornal utilize cola feita de polvilho ou farinha. Veja a receita ao lado.

Cola caseira Ingredientes: • de trigo • • Modo de preparo: Ferva 750 mL da água em uma panela grande. Em uma tigela, misture a farinha com os 250 mL restantes da água, até ela dissolver totalmente. Jogue a água fervente na mistura com a farinha e mexa por 5 minutos até engrossar. Coloque o vinagre e mexa por mais 2 minutos. Resfrie antes de usar e conserve em geladeira.

2º passo: o assunto Pense no tema. Consulte livros, revistas, internet e também reveja as imagens deste livro para se inspirar. 3º passo: o desenho e a técnica Não precisa se acanhar. Se não souber desenhar, você pode se apropriar de algumas imagens e adequá-las às suas ideias e ao seu painel. Para a pintura poderá escolher entre as técnicas que utilizam tinta látex comum ou entre as que utilizam spray. 88

Arte


Pintura com látex Amplie seu desenho sobre o suporte e aplique a pintura. O contorno é opcional, mas valoriza bem a pintura, definindo as áreas de cor, sobretudo quando o painel precisa ser visto a distância. Pintura com tinta spray A pintura pode ser aplicada diretamente com o spray. Essa técnica exige certa experiência, pois é necessário controlar o jato. O uso de máscaras ou estênceis é bem interessante e consiste em desenhar um motivo sobre papelão ou acetato (pode ser de raio X). Recorte as partes que receberão a tinta, deixando-as vazadas. Coloque a máscara sobre o suporte e lance um jato de tinta spray. As máscaras também podem ser usadas na pintura com outras tintas e com o auxílio de pincéis. O link dá dicas de como fazer seu próprio estêncil: http:// jovem.ig.com.br/aprenda+a+fazer+stencil+art+em+5+passos/n1597070997083. html. (Acesso em: 7 ago. 2012.) 4º passo: a exposição O trabalho concluído precisa ser visto e merece um lançamento festivo. Um encontro de hip-hop seria ideal, mas pode-se inovar utilizando essa ideia. É interessante que haja música e dança e, quem sabe, poesia. Organize com seus colegas um evento de arte.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

O que é graffiti GITAHY, Celso. O que é graffiti. São Paulo: Brasiliense, 1999. (Coleção Primeiros Passos)

Sites

Arte rupestre Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) Disponível em: <www.fumdham.org.br>. Acesso em: 18 jul. 2012.

Itaú Cultural Disponível em: <www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 18 jul. 2012.

Graffiti Stencil Brasil Disponível em: <www.stencilbrasil.com.br/textos_4.htm>. Acesso em: 18 jul. 2012.

Arte fora do museu Disponível em: <www.arteforadomuseu.com.br>. Acesso em: 18 jul. 2012.

6º ano

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Capítulo ARTE

2

Quem faz arte?

J

Ilustração digital: Llinares

á vimos anteriormente que o ser humano produz arte por necessidade. Necessidade de se expressar e de conferir qualidades estéticas ao seu ambiente. Também estudamos que toda ideia de criação necessita de uma linguagem para poder se concretizar. A linguagem dá forma às ideias de seus criadores, seja em pintura, escultura, teatro, cinema, dança ou em outras expressões artísticas. Se alguém decide se expressar, recorre aos símbolos que conhece para tornar visíveis seus pensamentos, sentimentos, desejos etc. Por exemplo, ao olharmos para o desenho a seguir, imediatamente identificamos que se trata de uma árvore, embora saibamos que nem todas as árvores têm essa forma, trata-se de um símbolo para representar árvore, qualquer árvore.

Os seres humanos inventam símbolos continuamente. Os artistas utilizam os símbolos de sua cultura e de seu tempo para produzir suas obras, e se alguém estabelece alguma relação diante de uma expressão artística, é porque, possivelmente, já conhece seus símbolos e é capaz de decifrá-los. Assim, é mais fácil compreendermos manifestações próprias de nossa própria cultura do que de outras culturas diferentes da nossa. Portanto, para podermos apreciar a arte de outros povos, tempos e culturas, precisamos conhecê-la melhor. Para nos relacionarmos com a arte ou por meio da arte, necessitamos também de um conhecimento mais aprofundado dos elementos de cada linguagem artística, seja ela visual, sonora ou gestual. Com esse conhecimento, poderemos então apreciar a arte criticamente. Daí, mais uma vez, a importância de estudarmos arte. Neste capítulo, veremos como o ser humano produz arte e como a arte se apresenta a todos nós. 90

Arte


RODA DE CONVERSA

Luis Salvatore/Pulsar Imagens

A arte é sempre intencional? É sempre resultado da ação humana? Frequentemente nos manifestamos com entusiasmo perante alguns fenômenos da natureza, sobretudo aqueles que têm formas complexas ou muito detalhadas, ou ainda muito raras, dizendo: isso é uma obra de arte da natureza!

Formações rochosas no Baixão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara. São Raimundo Nonato (PI), 2010.

Llareggub/Dreamstime.com

Diante do que já vimos até aqui sobre linguagem, símbolo e arte, podemos realmente dizer que a natureza produz arte?

A natureza produz belas formas, como se pode ver neste detalhe de um girassol.

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Ivan Bondarenko/Dreamstime.com

E os animais, fazem arte?

A aranha trabalha incessantemente para produzir sua teia.

Reflita sobre essas questões e, depois, discuta-as com seus colegas.

PARA REFLETIR

As questões propostas em “Roda de conversa” são um tanto polêmicas, mas não é difícil chegarmos a uma conclusão se nos basearmos em algumas informações, como você já deve ter feito até então. Vejamos o que disse a esse respeito, Karl Marx, intelectual do século XIX em sua obra O capital. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. MARX, Karl. O capital, 3. ed. livro I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p. 202.

• Que diferenças você consegue identificar ao comparar o processo de trabalho de um pássaro

ou de uma aranha com o do ser humano ao criar e transformar materiais para se expressar? 92

Arte


O PODER DE SIMBOLIZAR

Gemeentemuseum den Haags, Haia

Se em sua resposta à pergunta de “Para refletir” você destacou o poder humano de simbolizar, ótimo! Sim, porque o que torna os seres humanos racionais é a capacidade de criar símbolos, e por meio deles ocorre a comunicação. Os animais não chegam a tanto, a linguagem deles é instintiva, composta de sinais e expressões relativos a suas necessidades e seus desejos primários: acasalamento, alimentação, perigo etc., mas eles não criam códigos para representar sua realidade. Ao elaborar minuciosamente sua teia, a aranha o faz por instinto de preservação. Não lhe resta outra opção senão reproduzir por toda sua vida o mesmo padrão. O mesmo acontece com os pássaros ao construir seus ninhos ou com as abelhas ao compor sua colmeia. Nós, seres humanos, contudo, nos apropriamos de alguns recursos da natureza, nos inspiramos nela e a representamos de forma realista ou não. Tudo isso intencionalmente e por meio de símbolos. Sentimos, pensamos, idealizamos e procuramos formas de comunicar tudo isso por meio de códigos simbólicos. Veja as obras a seguir.

Piet Mondrian. Árvore vermelha, 1908. Óleo sobre tela, 70 × 99 cm. Gemeentemuseum den Haags, Haia.

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Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro. Foto: Romulo Fialdini

Tarsila do Amaral. Paisagem com touro, 1925. Óleo sobre tela, 50 × 65,2 cm.

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Cleber Machado. Árvore, 1991. Escultura em aço, localizada no Parque do Ibirapuera, São Paulo (SP).

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Arte

Sérgio Castro/Agência Estado/AE

Frans Krajcberg. Flor de mangue, escultura, 12 × 8 × 5 m. Exposta na Mostra do Redescobrimento – Brasil +500, realizada no Parque do Ibirapuera, São Paulo (SP), 2000.


Ao observarmos esse conjunto de obras, em pouco tempo nos damos conta de que todas representam o mesmo tema: árvores. Ainda que nenhuma delas seja uma representação fiel, não há nenhuma dúvida de que se trata de árvores, pois realmente são símbolos que representam árvores. Mas, ao observarmos uma árvore na natureza, poderemos considerá-la uma “obra de arte”, por sua beleza ou outras qualidades que apresente, embora nesse caso estejamos utilizando uma linguagem figurada para qualificá-la. Quanto às representações de árvores, os artistas que as criaram, conheciam bem as árvores na natureza e possivelmente elas tenham sido sua fonte de inspiração, mas eles tiveram a liberdade de interpretá-las e recriá-las. A ação humana ao representar é transformadora e vai além do que já existe. Quando representa, o ser humano é movido por intenções. Mesmo as crianças pequenas, quando desenham, têm o propósito de colocar no papel aquilo que desejam tornar visível. Também atribuímos valores simbólicos à natureza. A pomba branca, por exemplo, representa a paz para grande parte dos ocidentais. Referimo-nos às formigas ou às abelhas como símbolos do trabalho, atribuímos às flores a representação de sentimentos etc. Mas não podemos nos esquecer de que esses valores são culturais e que somos nós, seres humanos, que fazemos essas associações e adotamos elementos naturais como símbolos. Cada cultura pode ter suas próprias referências simbólicas em contato com a natureza em que se insere.

PARA CRIAR I

Selecione um aspecto da natureza que você deseja representar. Podem ser animais, plantas, paisagens, seres humanos etc. Pense bem num motivo que possa lhe interessar, algo que envolva memória, afeto, curiosidade ou outros sentimentos. Caso esses elementos estejam ao alcance de sua visão, observe-os bem por algum tempo. Se não for possível, utilize a memória. O importante é que você os represente, de acordo a interpretação que fez deles. Lembre-se de que a interpretação é pessoal e, portanto, muito particular. Ela é sua e representará sua forma de ver e imaginar. Para realizar esta atividade, utilize os materiais de que dispõe. Você poderá desenhar, pintar ou até mesmo fazer composições tridimensionais com barro (argila), madeira, papel, sucatas etc. É importante destacar que o resultado esperado pode não ser alcançado na primeira tentativa. Muitas vezes, é preciso experimentar mais até conseguirmos nos satisfazer com o resultado. Os artistas, em geral, também iniciam seus trabalhos esboçando suas ideias livremente e depois se decidem pelos melhores registros para sua obra final. O processo de criação também é muito pessoal, varia de pessoa para pessoa, mas é muito interessante que você fique atento ao seu. Depois de terminar a obra, reflita sobre seu processo de criação e sobre o produto final, respondendo às questões a seguir. 1. Em sua produção:

( ) Você procurou ser fiel à natureza.

( ) Sentiu-se livre para interpretar a natureza e representá-la a seu modo.

6º ano

95


2. Quanto à ideia:

( ) Manteve-se fiel à sua ideia original.

( ) Alterou seu projeto algumas vezes.

. Os materiais que utilizou atenderam às suas necessidades expressivas? Por quê?

. O resultado final atendeu às suas expectativas:

( ) totalmente

( ) parcialmente

( ) em nada

. Encontrou dificuldades em representar?

( ) muitas

( ) algumas

( ) poucas

( ) nenhuma

. Caso tenha tido alguma dificuldade, como você a superou?

. Dê um título à sua obra: . Pense e descreva o modo como você gostaria de expor sua obra ao público.

MOMENTO DA ESCRITA

Com base no que você estudou até agora, selecione alguns dos termos a seguir e utilize-os na produção de um pequeno texto explicativo sobre o fazer arte.

sentimentos cópia

pensamentos

símbolo

imaginação

cultura 96

Arte

artista

técnica

semelhança linguagem

representação

desejo

público

transformação

nat�reza

materiais

conhecimento liberdade

tradição

ideias


PARA REFLETIR

Arte é trabalho? Quem faz arte trabalha? Quem trabalha faz arte? Reflita um pouco sobre essas questões e discuta-as com seus colegas.

ARTE E TRABALHO Se a arte se constitui num fazer que dá forma às ideias e transforma materiais, é evidente que ela supõe trabalho. E não nos referimos apenas ao trabalho físico, mas também ao fazer mental, à concepção, às ideias, à criação, pois é dessa forma que os seres humanos se apropriam do que veem e coletam na natureza, transformando-a. A imaginação precede a ação. Sonhamos e, em seguida, realizamos. ReGeorge Rouault presentamos o que vemos de acordo com o que sentimos ou imaginaGeorge Rouault nasceu e vimos. O trabalho na arte se estende da ideia até a concretização da obra. veu na França entre 1871 e 1958. O pintor Georges Rouault disse: “Sou um trabalhador plástiFilho de um marceneiro, desco”. Como ele, muitas pessoas têm na arte sua profissão: artistas de cedo se dedicou aos trabalhos manuais, sendo aprendiz plásticos, músicos, atores, dançarinos, coreógrafos, escritores etc. numa oficina de vitrais e resOutros fazem arte por puro prazer, são artistas amadores. Em getaurador de obras medievais, além de frequentar as aulas do ral, têm outras profissões, mas recorrem à criação e à expressão curso noturno da Escola de Arartística para conferir mais significado à sua vida e, consequentes Decorativas. Continuou os temente, maior qualidade. Muitos artistas começam como amaestudos na escola de Belas-Artes em Paris. Rouault trabalhou dores, e seu talento, unido a outros fatores, os levam a abandonar com diversas técnicas: gravura, o que faziam para se dedicar à arte como profissão. Em ambos os artes gráficas, aquarela, pintura casos, a arte não deixa de ser um trabalho. a óleo, entre outras. Também as ferramentas utilizadas no fazer artístico são fruto de um trabalho apurado. Evoluímos da pintura com os dedos para os pincéis, canetas e sprays. Outro exemplo: a construção de instrumentos musicais que inicialmente eram feitos de ossos, chifres, couro evoluíram tecnicamente, mas continuaram a ser feitos com recursos naturais. A arte é transformação – uma ação sobre a forma.

O ARTESÃO E O ARTISTA POPULAR Embora o trabalho artesanal seja a base para a arte popular, nem todo artesão é considerado um artista. É bastante discreta a diferença entre os dois e há quem diga que essa diferença não existe. É comum ouvir que o artista cria e o artesão repete, mas essa afirmação não explica tudo. Podemos dizer que o artesão trabalha com o concreto: um pote serve para guardar líquidos e, portanto, deve ser adequado a essa função. Seu trabalho será usar a técnica, respeitando padrões preestabelecidos, mas isso não o coloca num patamar inferior. Já o artista popular atua no campo da abstração e da criação, podendo expressar em seu trabalho suas ideias e sentimentos, ainda que ele esteja vinculado às tradições da família, do local em que vive etc. O artista é aquele capaz de transformar a matéria em poesia e representar o espírito de um povo, de uma cultura. 6º ano

97


LER TEXTO BIOGRÁFICO

ANTÔNIO POTEIRO: O ARTESÃO E O ARTISTA Coleção paricular

Antônio Batista de Souza nasceu em Portugal em 1925, mas, com apenas um ano de idade, imigrou com sua família para o Brasil. Desde criança, trabalhou com seu pai como oleiro – profissional que trabalha o barro – e, seguindo as orientações dele, fazia potes. Produzia muitos por dia, sempre com a mesma forma e tamanho. Inconformado com o trabalho repetitivo e pouco expressivo e sem alternativas no meio familiar de produção, decidiu, aos 16 anos, fugir de casa. Para sobreviver, continuou a fazer potes, mas não mais aqueles padronizados e em série. Com liberdade para criar e inventar, seu trabalho ganhou expressão. Seus potes passaram a ser verdadeiras esculturas, cheios de figuras complexas e ornamentos e, de simples recipientes para uso doméstico, passaram a objeAntônio Poteiro. Os pássaros, 1995. Escultura em cerâmica, 50 × 138 cm. tos de arte. Antônio dominava a técnica e demonstrava uma fantástica imaginação. A folclorista Regina Lacerda sugeriu que começasse a assinar suas peças como Antônio Poteiro, afinal, foi como poteiro que havia começado a trabalhar. No entanto, a cerâmica, seu primeiro ofício e matéria-prima para sua arte, não foi suficiente como meio de expressão. Estimulado pelos artistas Siron Franco e Cleber Gouvêa, começou a pintar e, com cores vibrantes, representou nas telas os mesmos motivos de suas peças de barro. Alternou entre uma técnica e outra, trabalhando até sua morte em 2010. Antônio Poteiro viveu grande parte de sua vida em Goiás. Realizou diversas exposições no Brasil e no exterior. O artista de origem simples, autodidata e sonhador deu aulas na Alemanha e recebeu importantes prêmios, como o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), na categoria escultura. Foi também homenageado com a comenda da Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Antônio Poteiro não considerava arte o trabalho que fazia a mando de seu pai: reproduzir potes. Mais tarde, sua obra foi adquirida por galerias e museus e, hoje, ele figura como um dos mais destacados artistas brasileiros. 98

Arte


Agora, responda: 1. Que diferenças existem entre o trabalho de Antônio Poteiro nessas duas fases? 2. Em um depoimento, Antônio Poteiro declarou que, quando jovem, sentia um enorme desejo de criar

e de contrariar as ordens de seu pai. Anos mais tarde, também sentiu uma grande necessidade de se expressar por outros meios além da cerâmica. Comente esse impulso de criação sentido por Antônio Poteiro. Você já sentiu alguma coisa parecida? O que foi determinante para que ele conseguisse se expressar segundo seus desejos?

LER IMAGEM

Coleção José Roberto Maluf

Observe bem essa obra de Antônio Poteiro:

1. Você reconhece alguns dos elementos que ele representou? Quais? 2. As proporções das figuras correspondem à realidade? O que você notou a esse respeito? . Que cores se destacam nessa obra? Como elas estão distribuídas? . Em sua opinião, o que Poteiro quis expressar com essa obra? Compartilhe com a classe a sua opinião. . Nessa obra de Antônio Poteiro, ele faz referência ao Congresso Nacional, em Brasília. Veja a foto desse

conjunto arquitetônico, idealizado por Oscar Niemeyer, na próxima página.

6º ano

99


Palê Zuppani/Pulsar Imagens

Prédio do Congresso Nacional. Brasília (DF), 2010.

Compare a pintura de Poteiro e o projeto de Niemeyer e faça algumas observações. Confira agora os dados da obra de Antônio Poteiro apresentada em “Ler imagem” na página anterior: Título: Congresso Nacional Ano em que foi pintada: 1985 Técnica utilizada: tinta a óleo sobre tela Tamanho: 135 × 155 cm

ARTE POPULAR BRASILEIRA Assim como Antônio Poteiro, inúmeros artistas brasileiros têm origem humilde. Geralmente nascidos no meio rural ou na periferia das grandes cidades, não frequentaram escolas de arte e retiram da tradição de sua cultura a técnica que utilizam. Criam intuitivamente, procurando colocar autenticidade e beleza em suas obras, além das possíveis funções utilitárias. São conhecidos como artistas populares. No Brasil, a arte popular manifesta uma enorme riqueza criativa, um humor apurado e muita poesia, reflexos da diversidade cultural de seu povo. Os artistas populares observam e captam detalhes da vida cotidiana e do imaginário de sua cultura e os transformam em escultura, quadro, brinquedo e muito mais. Possuímos um gigantesco acervo cultural, fruto da miscigenação e da mescla de costumes, composto de lendas, mitos, religiosidade, memórias e tradições. E é justamente isso que se converte numa inesgotável fonte de inspiração aos artistas populares. 100

Arte


Fabio Colombini Fabio Colombini

Artesanato de João Alves, artista do Vale do Jequitinhonha (MG), 2004.

Bonecos de linha produzidos em Pedro II (PI), 2012.

Conhecer nossa arte popular nos permite saber mais sobre como vive e como pensa grande parte do povo brasileiro. Como já vimos, a arte é resultado do meio em que é produzida, ou seja, o artista capta sensivelmente o que vê e, com os recursos técnicos de que dispõe, revela sua percepção de forma poética, colocando-a ao alcance de todos para que apreciem os resultados e reflitam sobre a própria realidade ou a realidade de outras sociedades. Se os temas trabalhados pelos artistas populares são os da vida cotidiana, a análise de suas obras nos possibilita ler a realidade de nosso país em toda a sua diversidade.

LER TEXTOS BIOGRÁFICOS

Os textos a seguir falam sobre dois artistas populares brasileiros: Isabel Mendes da Cunha e Naninho. Leia-os e, em seguida, responda às questões propostas. Dona Izabel, a figureira

Foi o desejo de fazer bonecas que levou Izabel Mendes da Cunha, a dona Izabel, desde menina, a modelar figura sem barro. Sem nunca ter visto uma boneca, pensava em como poderia fazer uma ao ver a mãe modelando vasilhas de barro. Seguindo o ofício familiar, cresceu trabalhando com argila. De dia fazia utensílios para vender na feira e garantir o sustento da família. À noite, sonhava e fazia bonecas. Suas criações logo se destacaram em meio às outras em razão de sua originalidade e do cuidado com que decorava as peças. “Faço bonecas alegres, tristes, bravas, pensativas. Tudo imaginação”, diz.

6º ano

101


Naninho das imagens

Fabio Colombini

Fabio Colombini

Foi a necessidade que fez Martiniano Moreira de Carvalho, conhecido como Naninho, começar a esculpir em madeira: o povoado de Bichinho (MG), onde nasceu, não tinha uma imagem para realizar a procissão da Semana Santa. Naninho, que quando criança produzia seus próprios brinquedos com barro ou madeira, arriscou-se a criar e esculpir uma imagem de Cristo. E, assim, de uma tora de madeira, surgiu a figura que havia idealizado. O resultado agradou a todos e principalmente a ele mesmo, que nunca mais deixou de esculpir. Largou o trabalho como pedreiro e com o estímulo do artista Toti (Antonio Carlos Bech) montou um ateliê onde produz desde imagens sacras até personagens mineiras.

Dona Izabel, artesã do Vale do Jequitinhonha (MG), 2006.

Naninho esculpindo um rosto em madeira. Bichinho (MG), 2004.

1. O que há em comum entre a carreira de dona Izabel e a de Naninho?

2. Você conhece um artista popular? Já apreciou obras de arte popular? Converse com a classe sobre isso.

102

Arte


O TEATRO POPULAR NO BRASIL A cultura popular tem forte expressão também no teatro. No Brasil, podemos encontrar inúmeras manifestações ligadas a essa linguagem, sobretudo no Nordeste, onde encontramos produções de grande valor cultural. Muitos dos folguedos como bumba meu boi, chegança, pastoril e mamulengo são carregados de dramaticidade que, com seus rituais e estruturas, expressam e revelam situações sociais e políticas. São manifestações originadas nas camadas populares e, inicialmente, a elas destinadas. Geralmente apresentados em ruas e praças, os espetáculos atingem o público já familiarizado com seus códigos e técnicas: o linguajar, a sátira, os ritmos musicais, as danças, as coreografias, as personagens (baseados na realidade ou na ficção), a confecção e o manejo dos bonecos, o vestuário etc.

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Grupo Folclórico Bumba Meu Boi da Liberdade, da cidade de São Luís (MA), apresenta-se em Olímpia (SP) em 2007. O bumba meu boi é uma expressão artística popular que mistura elementos do teatro e da dança.

CONHECER MAIS

O teatro popular nos tempos da ditadura No final da década de 1950, o conceito de teatro popular ganhou força com a participação de dois importantes intelectuais brasileiros: João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna e também com o movimento promovido pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) do Rio de Janeiro. A intenção era envolver as

camadas populares oferecendo-lhes textos e encenações de qualidade que refletissem a sua realidade, valorizando-a e, ao mesmo tempo, provocando reflexões sobre seus desdobramentos. A ditadura militar, no entanto, contribuiu para que o movimento se mantivesse discreto por muito tempo, mas não impediu a identificação do público com essa arte.

6º ano

103


TEATRO DE MAMULENGOS

G. Evangelista/Opção Brasil Imagens

A origem do nome mamulengos é discutível, mas há quem afirme que a palavra deriva de “mão molenga”, por causa dos movimentos para a manipulação dos bonecos. É por meio desses bonecos, conhecidos como mamulengos, que o povo se vê representado em suas alegrias, tristezas, temores e aventuras. Esse gênero de teatro popular tem raízes no teatro medieval europeu e é praticado no Brasil desde a época colonial, retratando situações cotidianas, com humor e ironia. Nas apresentações, a interação com o público é intensa, pois uma das características do teatro de mamulengos é justamente a improvisação. Os roteiros das peças são apenas indicados e, dependendo da participação dos espectadores, os artistas fazem improvisos, acrescentando falas e fatos. A simplicidade de recursos é sempre suplantada pela grande criatividade. Em geral, o próprio mamulengueiro constrói e manipula seus bonecos, sendo conhecido como mestre, pois ele dirige todo o espetáculo. Além do mestre, outros elementos são fundamentais: o contramestre (auxilia o mestre; é fundamental nos improvisos), os folgazões e ajudantes (manipulam bonecos, cantam em coro e participam das lutas, mas quase nunca falam), os tocadores ou instrumentistas (tocam sanfona de oito baixos, triângulo, ganzá e zabumba e são importantíssimos, pois é a música que determina o ritmo do espetáculo tanto nas danças como nas brigas). Existe ainda uma figura muito interessante, o Mateus, que também faz parte do bumba meu boi. É ele que, com muita graça e agiTÉCNICAS E MATERIAIS lidade, faz a ligação do mundo da fantasia dos bonecos com o mundo real do público. Mamulengo Ele deve, necessariamente, dominar a arte do improviso. Além do mamulengo, outras formas de teatro popular de bonecos podem ser observadas pelo Brasil afora e, em todas elas, a magia é intensa quando manipulador e boneco se transformam em um só, o cotidiano vira fantasia e o fantástico se torna cotidiano. Como podemos ver, a tradição e a meO mamulengo é um boneco manipulado pelas mãos. mória são muito importantes na preservaOs bonecos do mamulengo podem ser tanto de luva – ção da cultura de um povo. A cultura braos mais comuns – como de vara. Ambos precisam ser sileira é riquíssima e não podemos deixar bem resistentes, pois as brigas e pancadarias realizadas com muita graça e humor fazem parte desse gênero. O que, diante da massificação imposta pelos melhor material para sua confecção é a madeira, mas meios de comunicação, as manifestações existem também bonecos feitos com papel machê e cadas artes populares sejam menosprezadas baças. Nos bonecos de luva, apenas a cabeça é esculpida, e o corpo é feito de tecido. Já os bonecos de vara têm ou consideradas inferiores. Conhecê-las e o corpo todo feito de madeira e possuem articulações estudá-las são também formas de valorique lhe dão movimento. zar nossa cultura e preservar sua essência. 104

Arte


PARA CRIAR II

TEATRO DE BONECOS: CONHECER, EXPRESSAR E FAZER Inspirado no teatro de mamulengos, crie com seus colegas uma peça teatral utilizando bonecos.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

1o passo: ideias • Argumento – Com certeza, você e seu grupo possuem um bom repertório de cenas do cotidiano que, cômicas ou dramáticas, poderão ser transformadas em um argumento teatral. Selecionando algumas delas, poderão criar sua peça. • Texto – É por meio do texto que a trama (história) será contada, portanto ele precisa ser claro e bem construído. Deverá conter os diálogos entre as personagens e opcionalmente incluir um narrador. • Personagens – A construção das personagens deve contar com a definição de sua personalidade, nome, voz, jeito de falar e de se movimentar, e forma, aparência e figurino. • Música – Se puder, acrescente música à sua peça. Ela pode ser executada ao vivo, caso haja instrumentistas, ou pode ser gravada. Pesquise e selecione as músicas que mais se adequarem ao argumento e ao texto. 2o passo: construção • Bonecos – São as figuras principais e poderão ser construídos de diversas formas. Aqui há apenas uma sugestão para a elaboração dos bonecos de luva.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Se desejar, para montar o corpo-luva, faça primeiro um molde de jornal, usando sua mão como guia para as proporções. Não se esqueça de deixar espaço para que a mão possa se movimentar dentro do fantoche. A cabeça poderá ser feita com papel, cabaça ou com massa de papel machê. Veja a forma mais simples de fazer o boneco: amasse bem uma folha de jornal até lhe dar o formato de um ovo. Com o dedo, faça um pequeno buraco onde encaixará um canudo de papel-cartão ou um tubo de papel higiênico para ajudar a prender a cabeça ao corpo. Sobre a cabeça, cole pequenas tiras de papel − com cola branca ou cola feita de farinha de trigo − para obter uma superfície mais lisa. Acrescente o nariz e outros detalhes usando também papel. Deixe secar completamente antes de pintar. Os cabelos podem ser feitos com lã, palha ou tecido. Além dos bonecos-luva, existem outros modelos para teatro de bonecos, como os bonecos de vara e as silhuetas para o teatro de sombra. 6º ano

105


• Palco ou anteparo – Para a apresentação do teatro de bonecos, o pal-

co é muito importante, apesar de podermos improvisá-lo de diversas formas: ele pode ser simplesmente um pano estendido entre duas cadeiras, por exemplo. O palco só precisa ser grande o suficiente para acomodar os manipuladores de bonecos. 3o passo: apresentação Na apresentação, você e seu grupo comunicarão à plateia seus conhecimentos, suas ideias e criações. Ensaie antes e procure fazer tudo com muita arte. Trabalhe bem e aproveite o momento: divirta-se!

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Arte popular

Apresenta a produção de arte popular realizada por artistas tradicionais brasileiros. Mostra a tênue diferença entre a arte popular e a erudita que aparece em algumas obras. Enfoca ainda a arte de origem africana. TIRAPELI, Percival. Arte popular. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011 (Coleção Arte Brasileira).

Arte popular nas geringonças de Mestre Molina

O livro documenta a produção do artista Mestre Molina. Abrange diferentes períodos e variadas técnicas de construção na produção do artista. MOLINA, Manoel. Arte popular nas geringonças de Mestre Molina. 1. ed. São Paulo: Sesc, 2003.

Brasil na arte popular

Livro ricamente ilustrado com obras do acervo do Museu Casa do Pontal. Brasil na arte popular. Acervo Museu Casa do Pontal. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa do Pontal, 2011.

Giramundo: teatro de bonecos

Livro em CD-Rom sobre o grupo de teatro de bonecos Giramundo. LIMA, Jefferson Vieira. Giramundo: teatro de bonecos. São Paulo: Com Arte, 2002.

Sites

Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude

O site contém muitas informações sobre o histórico e as técnicas de teatro de animação. Disponível em: <www.cbtij.org.br/arquivo_aberto/pesquisa.htm#rela>. Acesso em: 27 jul. 2012.

Museu Casa do Pontal

O site apresenta informações e imagens sobre a arte popular brasileira. Disponível em: <www.museucasadopontal.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2012.

TV Escola

Apresenta uma adaptação televisiva da peça Cobra Norato, do grupo de teatro de bonecos Giramundo. A peça é baseada no poema “Cobra Norato”, de Raul Bopp, que narra as aventuras de um menino-cobra, inspirado no folclore da Amazônia. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5120>. Acesso em: 27 jul. 2012.

106

Arte


Bibliografia

ARTE ADES, Dawn. Arte na América Latina. São Paulo: Cosac & Naif, 1997. BRILL, Alice. Da arte e da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1988. CAMAROTTI, Marco. Resistência e voz: o teatro do povo do Nordeste. Recife: Editora UFPE, 2001. COSTA, Cristina. Questões de arte. São Paulo: Moderna, 1999. FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. LIMA, Beth; LIMA, Walfrido. Em nome do autor. São Paulo: Proposta Editorial, 2008. SANTOS, Fernando Augusto G. Mamulengo: um povo em forma de boneco. Rio de Janeiro: Funarte, 1979. ______. Mamulengo: o teatro de bonecos popular no Brasil. In: Mamulengo: revista da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, n. 9. Belo Horizonte: Minas Gráfica, 1980. SILVA, René Marc da Costa (Org.). Cultura popular e educação. Brasília: MEC, 2008. (Salto para o futuro)

6º ano

107



UNIDADE 3

LĂ­ngua Estrangeira Moderna



Capítulo LÍNGUA INGLESA

1

Comece tentando entender

A

Folhapress

aprendizagem de uma nova língua deixou de ser, atualmente, um privilégio de alguns para se tornar uma necessidade diária de grande parte da população. Devemos lembrar que, em uma sociedade que privilegia o uso de diversos meios de comunicação, é cada vez mais comum que deparemos com informações em diversos idiomas que não o nosso. Para conseguirmos nos posicionar no mundo de hoje, torna-se imprescindível que possamos lidar com algumas desses idiomas massivamente usados nesses diversos meios, como é o caso da língua inglesa. Aprender um novo idioma envolve aspectos que levam a um mesmo objetivo: fazer uso dele, seja para ler, escrever ou falar. Para que a tarefa de aprender ou ensinar uma nova língua seja atingida, é preciso que a utilizemos de alguma forma. Isso não é muito fácil, mas vale a pena o esforço. Quando aprendemos uma nova língua, aumentamos nossa capacidade de acessar informações e de nos comunicar com outras pessoas. Os próximos capítulos têm como objetivo que você desenvolva estratégias de leitura para permitir o entendimento de um campo variado de textos em inglês. Ler os textos e realizar as atividades propostas será um bom caminho para se familiarizar com o novo idioma.

A deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo, em 2012, foi anunciada nos jornais brasileiros com uma palavra da língua inglesa: impeachment. Você sabe o que essa palavra significa?

6º ano

111


RODA DE CONVERSA

Agora que se iniciam seus estudos da língua inglesa, é importante que você fique atento a qualquer oportunidade de contato com esse idioma. Pense um pouco nas palavras usadas em seu cotidiano. Procure identificar as palavras em inglês que você vê todos os dias, pois muitas delas você já conhece e compreende. Quanto mais contato tiver com a língua, mais fácil e prazeroso será seu processo de aprendizagem. Observe as palavras do quadro:

stop

vip

spray

self-service

stress

marketing

relax

shopping center

gay

light

love

diet

impeachment

on-line

hobby

site

baby sitter

e-mail

designer

hot-dog

Essas são palavras em inglês presentes em nosso dia a dia. Algumas você já deve conhecer, outras talvez não. É provável que você as use sem saber ou sem ter consciência de que são palavras da língua inglesa. Pense: que palavras de seu cotidiano são da língua inglesa ou de outra língua? Aprender uma nova língua não é apenas uma questão de estudar gramática, fazer exercícios ou decorar palavras, mas de sempre tentar compreender a mensagem passada. Lembre-se de que você não precisa entender cada palavra. Aos poucos, verá que é possível captar a ideia principal de um texto sem, necessariamente, conhecer todas as palavras que estão nele. A ideia é não desistir! Não pare porque você desconhece um termo ou outro. Você conseguirá entender muito mais do que imagina. Tente. 112

Língua Inglesa


APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Como você viu, usamos várias palavras da língua inglesa em nosso dia a dia, como se fossem

SXC.HU

Image Source/Folha Imagem

Maryunin Yury Vasilevich/Shutterstock

palavras da nossa língua.

De que área são as palavras a seguir? a) rave, reggae, funk, jazz, rap, DJ (disk jockey), CD player

.

b) site, e-mail, hacker, link, software, hardware, web, home page

.

c) rally, track, game, motocross, surf, skate, mountain bike

.

d) expert, staff, business, coffee break, royalties, marketing

.

e) top model, look, t-shirt, sweater, fashion, topless, baby look

.

2. As frases a seguir contêm palavras da língua inglesa. a) Circule aquelas que você já conhece: • Gisele Bündchen é uma top model famosa no mundo todo. • É importante manter um ambiente de trabalho sem stress. • Apenas os jovens têm energia para raves. • Eu não gosto daquele lugar, tem muito playboy. • Janis Joplin morreu aos 27 anos, vítima de uma overdose. • Primeiro você precisa entrar no site e depois clicar no link “mais informações”. • Meu principal hobby é navegar na internet. • Desde os anos 1980, os gays vêm lutando por mais direitos e menos discriminação. • O trabalho exige escrever grande quantidade de e-mails! • Não sei dançar música country, só rap e rock. • Ela ficou famosa por causa do Big Brother. • Consumir bacon em excesso é prejudicial à saúde.

6º ano

113


b) Agora, observe aquelas mesmas palavras e mais algumas outras empregadas em frases da lín-

gua inglesa, e procure entender o que expressam. Não se preocupe em traduzir as frases ou escrevê-las. Apenas tente entendê-las, mesmo que parcialmente. • Top models are noted fashion models. • Stress is common in modern society. • The police are investigating drug use in raves. • Brazilian women are famous for being beautiful and sexy. • Elis Regina died of a drug overdose on January 19th, 1982. • Some professional site designers make a lot of money. • Click the link and go to Gilberto Gil’s website. • Gays can adopt children in many states in the USA. • The best method of communication is by e-mail. • Country music, rock and blues are popular music styles in the USA. • Big Brother is now a popular TV program. • Americans eat a lot of bacon and hamburgers. • He is a famous playboy. • His hobby is playing golf. c) Agora, verifique quantas frases do item b) você conseguiu entender. Assinale-as. d) Escreva algumas palavras que você não conseguiu entender, mas que não o impediram de

compreender o sentido geral da frase.

e) Você conhece ou se lembra de outras palavras inglesas usadas em nosso dia a dia? Pense em

palavras que usamos com frequência e que já estão adaptadas à nossa língua.

114

Língua Inglesa


LER TEXTO DESCRITIVO

Observe o mapa e leia o texto a seguir. Ilustração digital: Maps World

South America

N O

L

0

640

1 280 km

S

Fonte: Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 41.

There are 26 states in Brazil. It is the largest and most populous country in South America. Brazil borders on Argentina, Bolivia, Colombia, French Guiana, Guyana, Paraguay, Peru, Suriname, Uruguay and Venezuela. The biggest state in Brazil is Amazonas, in the North region. In addition to the 26 states, Brazil has one district, called the Federal District, where Brasilia, the capital, is located. 1. No texto, observe nomes e palavras parecidas com as da língua portuguesa. Veja o que você con-

segue compreender somente com essa estratégia. Não se preocupe em entender todas as palavras agora, você apenas vai tentar descobrir o significado de algumas delas, registrando-as. 2. Observe os nomes dos países presentes no texto: Argentina, Bolívia, Colômbia etc. Por que eles

foram mencionados? Note que Equador e Chile não estão na lista. Por quê? 3. No texto, há palavras que você não conhece, mas ainda assim consegue imaginar seu significado?

Anote as palavras ou expressões cujo significado você conseguiu deduzir. 4. O texto nos oferece algumas informações sobre o Brasil. Leia-o mais uma vez e discuta breve-

mente com um colega: Quais informações vocês já conheciam? Quais não conheciam? Há alguma informação sobre o Brasil que vocês julguem importante e que não apareceu? Elaborem uma lista com informações novas que poderiam ser acrescentadas ao texto. 6º ano

115


LER TEXTOS SOBRE O BRASIL EMPLOYMENT TRENDS IN BRAZIL

Texto 1

The Brazilian economy is concentrated in the southeastern part of the country, particularly in the greater São Paulo region. Around half of the nation’s industrial production comes from the state of São Paulo. Brazilian Regions

N O

L

0

640

1 280 km

Ilustrações digitais: Maps World

S

N O

L

0

125

250 km

S

Fontes dos mapas: Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 94.

116

Língua Inglesa


Texto 2

Sergio Ranalli/Pulsar Imagens

Luis Salvatore/Pulsar Imagens

Employment in agribusiness is still very important in Brazil. It is used as a negative term contrasting with family farm. Another negative aspect is that agribusiness destroys the rainforest to graze cattle.

Cow farm in Miranda (MS), 2009.

Corn harvest in northen Paraná, 2009.

Texto 3

The services sector is expanding faster than manufacturing and agribusiness. Employment in sectors like tourism and continued professional education are growing in a significant pace.

Roberto Assunção/Folha Imagem

Call center in São Paulo (SP), 2004.

6º ano

117


Texto 4

Industrial activity in Brazil today accounts for 38% of Brazil’s economy and 65% of exports. The Brazilian industry is very diversified and employs around 20% of the total Brazilian working population. The main industries in Brazil are related to agriculture, mining and manufacturing.

Ilustração digital: Maps World

Industrial activity in Brazil

N O

L

0

320

640 km

S

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002. Disponível em: <www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_distribuicao_industrias.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2012.

1. Você conhece as palavras cognatas? São termos em outra língua similares a palavras em português.

Veja alguns exemplos:

prepare study exercise identify

118

Língua Inglesa

political student university society

president service submit idea


Note que existem também os chamados falsos cognatos. São palavras muito parecidas com algumas em português, mas com significados diferentes. intend

p re te n d e r

pretend

push

a p e rta r, e m p u rra r

data

d a d o s

defendent

r é u , a cu

exit

realize

p e r ce

sa

d o

b e r

Essas palavras não são o “bicho de sete cabeças” que podem parecer. Para não se confundir, preste atenção ao contexto em que elas aparecem. Isso é muito importante. Observe em que situação elas ocorrem e será mais fácil logo perceber seu significado. Agora, faça uma lista de palavras encontradas nos quatro textos anteriores que são parecidas com as equivalentes em português. Por exemplo: international, economy. 2. Qual é o assunto de cada um dos textos? Para facilitar a compreensão, observe as imagens que os acompanham. Texto 1: Texto 2: Texto 3: Texto 4: 3. Qual dos textos faz uma crítica à realidade brasileira? O que está sendo criticado? 4. De acordo com as informações, que região do Brasil é economicamente mais desenvolvida? Justi-

fique sua resposta com palavras do texto.

UM POUCO DE GRAMÁTICA: A ORDEM DAS PALAVRAS EM INGLÊS Agora, você vai aprender uma característica importante da língua inglesa e, ao mesmo tempo, enriquecer seus conhecimentos gerais. Você verá como se organiza a ordem das palavras em língua inglesa e aprenderá algumas siglas, em inglês e em português, que são importantes e estão sempre em jornais e em discussões sobre diferentes assuntos. 6º ano

119


Observe algumas siglas referentes a países ou comunidades de países: • EU – European Union TRADUÇÃO

UE – União Europeia

• USA – United States of America TRADUÇÃO

EUA – Estados Unidos da América

• UK – United Kingdom TRADUÇÃO

Reino Unido. Em português, a sigla RU existe, porém não é muito usada. O Reino Unido é formado por quatro países: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.

Uma observação mais atenta mostra que muitas vezes, em inglês, a ordem das palavras no nome desses países é diferente da língua portuguesa, na qual podem aparecer em ordem inversa. Essa é uma informação fundamental para ajudá-lo a entender textos em inglês. Em termos gramaticais, a regra, de maneira geral, é a seguinte: em inglês, os adjetivos vêm antes dos substantivos. Por exemplo, em português, podemos dizer: Ela mora numa casa antiga. ou Ela mora numa antiga casa. A estrutura da língua inglesa não permite usar “casa antiga”, mas apenas “antiga casa”. É importante lembrar que, em alguns casos, há mais palavras em ordem inversa. Veja um exemplo para ajudá-lo a se familiarizar com essa regra da língua inglesa: American Chamber of Commerce A tradução, no caso, é “Câmara de Comércio Americana”. Em português, não utilizamos, por exemplo, “Americana Câmara de Comércio”. CONHECER MAIS

ONU

ONU

ONU

Siglas internacionais conhecidas

UN – United Nations NATO – North Atlantic Treaty IMF – International Monetary Em português, ONU – Organi- Organization Fund zação das Nações Unidas. Em português, Otan – OrganizaEm português, FMI – Fundo ção do Tratado do Atlântico Norte. Monetário Internacional.

120

Língua Inglesa


COMPREENDENDO AS SIGLAS E A ORDEM DAS PALAVRAS EM INGLÊS Veja a seguir frases que empregam siglas e outros grupos de palavras em uma ordem diferente da usada em português. Observe alguns exemplos traduzidos. IMF – International Monetary Fund Brazil paid its debt with the IMF in advance. TRADUÇÃO

O Brasil pagou sua dívida com o FMI antecipadamente.

UN – United Nations UN was founded in 1945, after World War II, to replace the League of Nations. TRADUÇÃO

A Organização das Nações Unidas foi fundada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, para substituir a Liga das Nações.

The United Kingdom was the dominant industrial and maritime power of the 19th century. TRADUÇÃO

O Reino Unido foi o poder industrial e marítimo dominante do século XIX.

Brazil is the biggest country in South America. TRADUÇÃO

O Brasil é o maior país da América do Sul.

APLICAR CONHECIMENTOS II

Agora, pratique sua habilidade de deduzir significados e traduza as frases a seguir. Se não conhecer alguns termos, tente descobrir seu sentido. a) NATO (North Atlantic Treaty Organization) is located in Brussels, Belgium. b) The European Union (EU) is a political and economic union of 27 member states. c) Barack Obama is the first black president of the United States. d) Brazil is divided into five regions: North, Northeast, Central-West, Southeast and South.

Mesmo havendo tradução, algumas siglas provenientes do inglês continuam sendo usadas nessa língua, sem modificação. Algumas delas são pronunciadas como no inglês, enquanto outras são faladas do modo como são lidas em português, conforme demonstram os exemplos que seguem.

6º ano

121


ATIVIDADE COM ÁUDIO

A seguir, faremos algo semelhante ao que foi feito na atividade anterior. Só que agora mesclaremos as habilidades de leitura e escrita com as habilidades de fala e escuta. Todas as siglas e orações em inglês desta atividade podem ser ouvidas no CD de áudio que acompanha a nossa coleção. Ouça e leia os textos ao mesmo tempo. Isso vai ajudá-lo a se familiarizar com os sons da língua, o que é muito importante. Lembre-se de que a língua é sempre oral (falada) e que a escrita só apareceu tempos mais tarde. Depois de aprimorar um pouco a sua audição e exercitar a pronúncia em inglês, tente traduzir as frases que não foram traduzidas. 1. HD – Hard Disk (disco rígido)

Pode-se dizer que o HD é o arquivo do computador. The HD in my laptop is very good. Tradução:

.

2. IRA – Irish Republican Army (Exército Republicano Irlandês)

Em português, usamos a mesma sigla, também como uma palavra: IRA. Exemplo: O IRA aceita a inspeção internacional de seus depósitos de armas. The IRA attacked Heathrow Airport. Tradução:

.

3. PC – Personal Computer (Computador Pessoal)

Em português, usamos a mesma sigla e pronunciamos cada letra: pe, ce. Every day, PCs are more vulnerable to virus attacks. TRADUÇÃO

A cada dia, os PCs ficam mais vulneráveis aos ataques de vírus.

4. VIP – Very Important Person (Pessoa Muito Importante)

Em português, usamos a mesma sigla, também como uma palavra: VIP. Há variações no uso da expressão “vip”, como se vê no exemplo abaixo: Exemplo: A direção do Inter vai inaugurar uma área vip para cerca de 2 mil convidados. VIPs have special identification cards.

5. Nasa – National Aeronautics and Space Administration (Administra-

ção Nacional da Aeronáutica e do Espaço) Em português, usamos a mesma sigla: Nasa. Nasa is making preliminary plans to launch a new spacecraft. TRADUÇÃO

A Nasa está fazendo estudos preliminares para lançar uma nova aeronave.

122

Língua Inglesa

. Nasa

Tradução:


6. FAQ – Frequently Asked Questions (Perguntas Frequentes)

Em português, usamos a mesma sigla, também como uma palavra: FAQ (diz-se “fáqui”). Exemplo: O manual traz um índice de FAQs. Frequently Asked Questions are listed questions and answers, frequently asked in some context. TRADUÇÃO

Perguntas frequentes são listas de perguntas e respostas que mais aparecem em algum contexto.

7. CPU – Central Processing Unit (Unidade Central de Processamento)

Em português, pronuncia-se cada letra: ce, pe, u. Exemplo: A velocidade da CPU é essencial para que um computador tenha bom desempenho. A Central Processing Unit (CPU) is a machine that can execute computer programs. Tradução:

CIA

8. The CIA – Central Intelligence Agency (Agência Central de Inteligência)

Em português, usamos a mesma sigla, também como uma palavra: CIA. CIA has secret prisons around the world. TRADUÇÃO

A CIA tem prisões secretas pelo mundo todo.

9. Aids – Acquired Immune Deficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)

No Brasil, usamos a sigla inglesa Aids, mas em Portugal, assim como em outros países de língua portuguesa, utilizam-se as iniciais do nome da doença em língua portuguesa: Sida. The national Aids program in Brazil is an example of a broadly successful response to the epidemic. TRADUÇÃO

O programa nacional da Aids no Brasil é um exemplo de resposta de grande sucesso contra a epidemia.

10. FBI – Federal Bureau of Investigation (Agência Federal de Investigação)

O FBI é um órgão federal dos Estados Unidos que equivale à Polícia Federal brasileira. Ao se referir a essa sigla, em português, geralmente, se pronuncia cada letra que a constitui: efe, be, i. The FBI is digitizing the nation’s fingerprint database. TRADUÇÃO

O FBI está digitalizando o banco de dados nacional de impressões digitais.

Observe dois casos de palavras que se incorporaram e formaram uma palavra única: no caso de fingerprints, finger significa “dedos” (digital) e print significa “impressão” (no sentido de “imprimir”). Assim, fingerprint significa “impressão digital”. No caso de database, data significa “dados” e base significa “base” (banco). Assim, database significa “banco de dados”.

6º ano

123


11. BBC – British Broadcasting Corporation (Companhia de Radiodifusão Britânica)

O nome traduzido não é utilizado em português. Usa-se a mesma sigla que em inglês: BBC, pronunciando-se as letras como em português: be, be, ce. BBC is a UK based broadcasting corporation and is the world’s largest broadcasting corporation. TRADUÇÃO

12. WWF – World Wide Fund For Nature (Fundo Mundial para a Natureza)

WWF

A BBC é uma emissora de rádio e televisão com base no Reino Unido e é a maior companhia de radiodifusão do mundo.

Em português, pronuncia-se letra por letra, reproduzindo os sons: dábliu, dábliu, efe. A sigla WWF tornou-se tão forte internacionalmente que, para evitar confusão ou mensagens equivocadas, não se traduz mais seu nome para qualquer significado literal. Ou seja, agora a organização é conhecida simplesmente como WWF, uma organização de conservação global. The WWF is one of the world’s largest and most experienced independent conservation organs. Tradução:

13. Interpol – International Police (Polícia Internacional)

Interpol is still investigating that video tape officially attributed to Osama Bin Laden. Tradução:

14. Unicef — United Nations Children’s Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância)

Unicef

Originalmente, o significado da sigla é United Nations International Children’s Emergency Fund. Atualmente, usa-se United Nations Children’s Fund. Veja que a tradução para o português não é literal. Children’s significa “da criança”, e foi traduzido como “para a infância”. Em português, usamos a mesma sigla: Unicef. The United Nations Children’s Fund (Unicef) works for children’s rights, their survival, development and protection. TRADUÇÃO

O Unicef trabalha pelo direito das crianças, sua sobrevivência, desenvolvimento e proteção.

124

Língua Inglesa


15. Internet – Inter-networking (rede interna ou inter-rede)

Commercial internet started in Brazil in the 2nd half of 1995. TRADUÇÃO

A internet comercial foi introduzida no Brasil na segunda metade de 1995.

16. CEO – Chief Executive Officer (Diretor executivo, Diretor geral)

Às vezes, essa sigla é utilizada em português, com a pronúncia das letras em inglês: ci, i, ou. Exemplo: Encontrar uma pessoa para a função de CEO é uma tarefa difícil. The CEO is responsible for the management of the company. TRADUÇÃO

O CEO é responsável pela administração da companhia.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Crie três frases em português que utilizem as siglas apresentadas neste capítulo. Se não existir

tradução da sigla para o português, use-a em inglês. 2. Escreva uma frase em inglês utilizando uma ou mais siglas. Tome como exemplo as frases lidas

no capítulo. 3. Observe a versão em inglês de algumas siglas e tente traduzi-las. a) National Institute for Colonization and Agrarian Reform

(Incra, em português). Incra

b) National Institute for Space Research (Inpe, em português). c) Brazil’s Landless Workers Movement (MST, em português) d) Non Governmental Organization (ONG, em português) e) Organization of Petroleum Exporting Countries (Opep, em

português)

DIAS DA SEMANA Na língua inglesa, os dias da semana devem ser escritos com letra inicial maiúscula. Para os dias úteis, a expressão usada é weekdays; para o fim de semana, é weekend. Days of the week

Sunday

Monday

Tuesday

Wednesday

Thursday

Friday

Saturday

6º ano

125


FORMAÇÃO DOS NOMES DOS DIAS DA SEMANA Conheça agora a formação dessas palavras e seu significado. Diferentemente do português, o nome dos dias da semana, em inglês e em outras línguas ocidentais, faz referência direta ou indireta aos planetas – por influência dos antigos romanos, que identificavam os dias baseando-se na galáxia – ou a personagens da mitologia escandinava. Observe:

Sunday (domingo)

Sun, dia do Sol.

Monday (segunda)

Moon, dia da Lua.

Tuesday (terça)

Tiw, deus da guerra e do céu, associado a Marte.

Wednesday (quarta)

Woden, rei dos deuses, associado a Mercúrio.

Thursday (quinta)

Thor, deus do trovão, associado a Júpiter.

Friday (sexta)

Frigg, mulher de Woden, associada a Vênus.

Saturday (sábado)

Saturn, deus da agricultura, associado a Saturno.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

• Escreva, em inglês, uma frase usando o nome de um dos dias da semana. Leia para os colegas

e peça que a traduzam.

126

Língua Inglesa


Capítulo LÍNGUA INGLESA

2

Brasileiros ilustres

P

Luciana Whitaker/Folhapress

Acervo Iconographia

ara mostrar como o contato com um novo idioma pode ser importante para ampliar seus conhecimentos, você vai estudar algumas personalidades da história, dos esportes e da arte do Brasil. A história não é feita somente de celebridades e personalidades, mas aqui vamos destacar aquelas pessoas que são frequentemente citadas por suas inovações, habilidades ou importância em uma atividade específica. Algumas figuras são bastante conhecidas, o que tornará mais fácil a compreensão dos textos em língua inglesa. Outras, talvez, você não conheça. Nesses casos, o desafio de leitura será maior, mas também poderá ser mais proveitoso, pois, além de aprender inglês, você conhecerá mais sobre brasileiros ilustres. Você reconhece esses brasileiros?

Leônidas da Silva, o Diamante Negro.

Herbert José de Souza, conhecido como Betinho, 1995.

Converse com seus colegas e discuta por que Leônidas da Silva e Betinho são considerados personalidades ilustres da nossa história. 6º ano

127


ESTRATÉGIAS DE LEITURA E COMPREENSÃO A lista de celebridades que utilizaremos neste capítulo foi publicada pela primeira vez na revista IstoÉ, em 2000, e traz os principais nomes do século XX, segundo a publicação. Depois, essa lista foi traduzida para a língua inglesa e disponibilizada em vários sites. Este é o momento de continuar aplicando o que você aprendeu no capítulo 1. Vamos tentar compreender o sentido dos textos lidos em língua inglesa. Na frase a seguir, sobre o político Leonel Brizola, por exemplo, as palavras são parecidas com as equivalentes em português. No entanto, é preciso sempre estar atento à ordem das palavras, que, conforme você já viu, é diferente do português e pode causar estranheza. Acervo Iconographia

Leonel Brizola (1922-2004)

Leonel Brizola Commanded civil resistance in 1961.

→ resistência civil

Leonel Brizola, 1961.

Em 1961, Leonel Brizola era governador do Rio Grande do Sul. Liderou um movimento conhecido como Legalidade, que defendia a posse do vice João Goulart como presidente do Brasil, após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Os militares e os setores conservadores queriam impedir a posse do vice-presidente e convocar novas eleições. Em sua vida política, Brizola foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e governador do Rio Grande do Sul, deputado federal e duas vezes governador do Rio de Janeiro.

Neste próximo exemplo, será preciso utilizar seus conhecimentos prévios sobre o assunto, pois nem todas as palavras são parecidas com o português. Considere todo o contexto (o que vem junto com o texto) para entender melhor. → Nome da lista: observando o título, vemos a palavra sport. Você consegue se lembrar de alguma palavra semelhante na língua portuguesa?

20 greatest sports celebrities 3. Zagallo – The only one to win 4 World Cups. → É uma pessoa → Palavras iniciadas com maiúsculas e que não estão do futebol, foi jogador e técnico da seleção.

começando frases são, em geral, nomes próprios. Procure relacionar a palavra Cup com o contexto do futebol. O que você pode deduzir?

O título contém o número 20 e as palavras sports e celebrities, pois são listadas vinte celebridades do esporte. Zagallo foi jogador de futebol e técnico da seleção brasileira. O número 3 que aparece antes do nome Zagallo indica que o ex-técnico da seleção é o terceiro da lista de celebridades do esporte. Na frase sobre ele há palavras com letras maiúsculas e o número 4. Você pode relacionar o assunto geral (Zagallo, técnico de futebol) e a palavra Cups, que, no contexto do futebol, significa “Copa”, termo bastante conhecido dos brasileiros. 128

Língua Inglesa


Reunindo as informações que você tem sobre o assunto e sabendo que Zagallo venceu quatro Copas do Mundo, talvez seja possível deduzir que a frase diz algo como “Zagallo 4 Copas”. Já é um início de compreensão. Lembre-se de que nem sempre é preciso entender todas as palavras. Na maioria das vezes, a compreensão de apenas algumas delas é suficiente para que você entenda o significado geral do texto. Se isso não for o suficiente, o próximo passo será procurar no dicionário o significado da(s) palavra(s) que você não conhece. Peça ajuda ao seu professor. Uma das grandes vantagens de estudar uma língua é aprender muitas coisas novas, adquirir conhecimentos aos quais você não tinha acesso. Veja outro exemplo retirado da lista de celebridades esportivas: Maria Esther Bueno – The lady of Brazilian tennis. Nesse exemplo, há um nome de mulher e reconhecemos as palavras Brazilian e tennis. Considerando o texto como um todo, você verá que esse nome faz parte de uma lista de personalidades do esporte no Brasil. Tennis é uma palavra cognata – ou seja, ela tem a mesma raiz na língua inglesa e na língua portuguesa –, com pequena variação na ortografia, no modo de escrever. Assim, não fica difícil deduzir que Maria Esther Bueno foi uma grande tenista. Com esse estudo, você aprendeu mais algumas palavras em inglês, e também conheceu uma grande tenista brasileira.

THE TWENTY GREATEST IN BRAZIL Nas próximas páginas, apresentaremos algumas listas de celebridades brasileiras que se destacaram em cinco áreas distintas: política, esporte, música, teatro e literatura. Cada nome é acompanhado de um pequeno texto descritivo. Procure entender o que dizem esses textos, mesmo que parcialmente. Tenha em mente essas três possibilidades em relação à compreensão dos textos: • Alguns textos podem conter informações que você já conhece; portan-

to, será mais fácil compreendê-los, mesmo em língua inglesa. • Alguns podem tratar de um assunto (ou pessoa) que você já conheça, mas trarão informações novas sobre esse assunto. Nesse caso, tudo o que você já sabe vai ajudar a entender a informação nova. • Outros textos podem abordar pessoas ou assuntos desconhecidos. A estratégia, então, será procurar obter um pouco mais de informação sobre o assunto. Consulte seus colegas de sala ou seu professor e observe imagens, caso existam. Antes de ler, procure saber algo sobre o tema do texto, para que sua compreensão das palavras seja facilitada. 6º ano

129


LER LISTA DE PERSONALIDADES DO MEIO POLÍTICO

1. Juscelino Kubitschek – Pioneer of Brazilian in-

dustrialization. 2. Getúlio Vargas – Led the nation into the indus-

trial era.

Lula Marques/Folha Imagem

THE GREATEST LEADERS AND STATESMEN

. Ulysses Guimarães – Mr. Direct Elections. . Tancredo Neves – Guaranteed democratic

transition. . Luís Carlos Prestes – The Knight of Hope. . Betinho – Mobilized the nation in the fight

against misery. . Cândido Rondon – Braved the frontier but res-

pected the indians. . Barão do Rio Branco – Redrew the map with-

out firing even one shot. . Jânio Quadros – Rapid rise of a moralist. 1 . João Goulart – Overthrown in 1964, didn’t re-

sist to avoid bloodshed. 11. Fernando Henrique Cardoso – Beat inflation

and got re-elected.

Ulysses Guimarães with the new constitution of Brazil. Brasilia (DF), 1988

12. Miguel Arraes – A legend in the backlands of the Northeast. 1 . Leonel Brizola – Commanded civil resistance in 1961. 1 . Castello Branco – First president of the military regime. 1 . Teotônio Vilela – Minstrel of Alagoas. 1 . Brigadeiro Eduardo Gomes – Hero of the “Upraising of the 18 in the fortress”. 1 . Luiz Inácio Lula da Silva – Main labor union leader, elected president. 1 . Oswaldo Aranha – The “soul” of the 1930 revolution. 1 . Campos Sales – Sanitized public finances at the beginning of the century. 2 . Rodrigues Alves – Got rid of Yellow Fever. 1. Que nomes você não conhecia dessa lista? O que sabe sobre eles

agora? 2. Que frases você conseguiu entender mais facilmente? Que fato-

res ajudaram nessa compreensão: palavras semelhantes ao português, assunto conhecido ou outras estratégias? . Quais dessas pessoas são muito conhecidas e estimadas na re-

gião Nordeste? 130

Língua Inglesa

Dica Procure sempre identificar o que levou você a entender melhor o texto e empregue as mesmas estratégias na compreensão de outras leituras.


LER LISTA DE PERSONALIDADES DO MEIO ESPORTIVO

1. Ayrton Senna – Three times champion of For-

mula 1; a myth of race car driving all over the world. Considered the best driver of all times.

Sergio Berezovsky/AE

THE GREATEST SPORTS CELEBRITIES

2. Pelé – The best soccer player of all times. One

of the most popular sports figures of the planet. . Garrincha – The angel with the crooked legs

that enchanted stadiums. . Oscar Schmidt – World record holder with 41

thousand points. . Maria Esther Bueno – The lady of Brazilian tennis. . Éder Jofre – The first name in Brazilian boxing. . Emerson Fittipaldi – Champion on all race tracks. . Hortência – Queen of basketball, commanded

the Brazilian victory in Australia, 1994. . Zico – A crack player of the post-Pelé era. 1 . João do Pulo – One of the most versatile track

athletes. 11. Adhemar Ferreira da Silva – Brazilian athlete

The basketball player Hortência in Pan-American Games, in Havana (Cuba), 1991.

with two Olympic gold medals. 12. Joaquim Cruz – Gold in the 800 meters in the Los Angeles Olympics. 1 . Paula – The Americans call her Magic Paula. 1 . Nelson Piquet – First to win a triple Formula 1 championship. 1 . Gustavo Borges – Won the silver medals in the 100 m in Barcelona and in the 200 m in

Atlanta, where he got the bronze in the 100 m free style. 1 . Guga – The best ranked Brazilian tennis player. 1 . Zagallo – The only one to win four World Cups. 1 . Leônidas – High scorer at the beginning of the century, invented the “bicycle” kick. 1 . Aurélio Miguel – First Olympic gold medal in Judo. 2 . Ronaldo (“Fenômeno”) – A soccer star of the 1990s. 1. Quais são os esportistas da área do futebol? Detaque seus nomes na lista. 2. O que você já sabia sobre alguma das personalidades listadas e como isso o ajudou a entender o texto? . Quais dos esportistas citados participaram de Olimpíadas? . Você sabe se alguns desses atletas são conhecidos fora do Brasil? Quais? . Qual outro atleta brasileiro você acha que mereceria estar nessa lista? Escreva o nome dele e ela-

bore uma pequena frase (se possível, em inglês) para dizer quem ele é. 6º ano

131


GRANDES NOMES DO FUTEBOL

Pelé e Garrincha foram dois jogadores importantes do futebol brasileiro. Leia os textos a seguir em inglês e conheça um pouco mais da vida desses dois atletas.

Pelé Date of birth: 23 October, 1940 Place of birth: Três Corações, Brazil International Goals: 77 Teams: Santos, New York Cosmos Team Honors: World Cup (1958, 1962, 1970); World Club Championship (1962, 1963); São Paulo State Championship (1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969, 1973). Individual Honors: South American Player of the Year (1973), Athlete of the Century (1999). A veteran of four World Cups, scorer of 1,283 first-class goals – 12 of them in World Cup final tournaments –, a member of those magical Brazilian squads that won soccer’s greatest prize in 1958, 1962 and 1970.

Garrincha Date of birth: 28 October, 1933 Place of birth: Pau Grande, Brazil – a small city near Rio de Janeiro Teams: Botafogo, Corinthians, Atlético Júnior, Flamengo, Olaria Born in Pau Grande, in Rio de Janeiro, his left leg was 6 centimeters shorter than his right one, but he managed to surpass his birth defects and become a famous soccer player. He died on January 20, 1983.

Escreva o que você descobriu sobre cada uma das personalidades. Pelé:

Garrincha:

132

Língua Inglesa


LER LISTA DE PERSONALIDADES DO MEIO MUSICAL

1. Chico Buarque – One of the greatest Bra-

zilian composers and one of the best in the world. 2. Tom Jobim – One word: class. Jobim was

Daryan Dornelles/Folha Imagem

THE GREATEST IN BRAZILIAN MUSIC

the Mozart of Brazilian music. His songs are timeless, the melodies are always in our minds. . Milton Nascimento – There is no bet-

ter song in the world than “Travessia”. Nascimento’s work is a journey into the human soul. . Luiz Gonzaga – “Asa branca” is one of the

most touching songs about the drought in the Northest of Brazil. . Carmen Miranda – An actress and singer

that reached Hollywood. She was unique. Based upon her vocal work at Atlântida, she deserves to be at the top of any list. . Elis Regina – 100% voice and feeling. Elis

Chico Buarque. Rio de Janeiro (RJ), 2009.

was probably the greatest Brazilian female vocalist ever. . Ari Barroso – His tunes are all classic: his most famous song is “Aquarela do

Brasil”. Ari Barroso died on a carnival Sunday, in 1964. . Vinicius de Moraes – The result of mixing a couple of drinks, a guitar and ins-

piration. His songs are quiet reflections of Brazilian hopes and dreams. . Roberto Carlos – A true romantic. Millions of women love this singer. He sings

to all and each of them. It is all in the details. 1 . João Gilberto – João Gilberto is probably one of the best known Brazilian mu-

sician worldwide. He is considered the creator of Bossa Nova. 11. Noel Rosa – Bohemia in Vila Isabel, a district in Rio. The fading voice of a Rio

de Janeiro that is long gone. Noel Rosa was famous in the 1930’s, but he is more and more popular as time passes. 12. Caetano Veloso – An interesting person, full of conflicts. Caetano is at his best

when expressing the inconsistencies of life in Brazil. He basically invented Tropicália. His sister, Maria Bethânia, is also a famous Brazilian singer.

1 . Pixinguinha – Considered as one of the geniuses of Brazilian popular music, he

is the father of the “choro” or “chorinho”, a typical Brazilian music style.

6º ano

133


1 . Gilberto Gil – A great singer and former Minister of Culture [2003-2008], he is

one of the four “sacred monsters” of Brazilian Popular Music (MPB), along with Chico, Milton and Caetano. 1 . Villa-Lobos – Brazil’s man in the classical world, Heitor Villa-Lobos was born

in Rio de Janeiro on March 5, 1887. 1 . Raul Seixas – Raul Seixas was a master of rhythm – one of the country’s most

genuine rock’n’roll rebels. 1 . Paulinho da Viola – Consistent, steady, and very uniform. Paulinho da Viola is

known as a samba purist, not influenced by the pagode. 1 . Cartola – A legend in his own time. For about 60 years Cartola was a major

influence on the evolution of samba. 1 . Elba Ramalho – The voice of the modern “nordestina” woman Elba Ramalho

is a great vocalist and one of the most famous female singer from the Northeast region of Brazil. 2 . Martinho da Vila – Martinho da Vila is a famous samba singer and composer

from Vila Isabel, in Rio. 1. Qual músico está associado ao samba puro, sem influência do pagode? Destaque seu nome na

lista. 2. Você conhece todos os nomes da lista? Quais informações você conhecia e foram confirmadas? . Cite alguns exemplos de palavras que o ajudaram a compreender o texto. Justifique.

LER TEXTOS INFORMATIVOS

A seguir, você vai ler dois pequenos textos para aprofundar seus conhecimentos sobre a música brasileira e um de seus artistas. Observe nomes, números e palavras parecidas com o português. Isso o ajudará a entender pelo menos uma parte de cada texto. Leia a tradução somente após tentar fazer as atividades propostas.

BRAZILIAN MUSIC Brazilian music is full of passion, sentiment and joy. It is the result of a mix of Amerindian, Portuguese and African sources meeting global influences to create a magical, mystical music. Wherever you go in Brazil there is always music – whether it is the rhythms from percussion instruments at a street corner or a sophisticated discussion of the current year’s Carnival songs. TRADUÇÃO

A música brasileira é cheia de paixão, sentimento e encanto. Resulta de uma mistura de origens indígena, portuguesa e africana, que se unem a influências do mundo todo para criar um estilo musical místico e mágico. Onde quer que você vá no Brasil, a música sempre está presente – seja no ritmo de instrumentos de percussão, numa esquina qualquer, ou numa discussão intelectual sobre os temas carnavalescos do ano.

134

Língua Inglesa


Gilberto Gil is famous for his musical innovation and his political commitment. In 1968, Gil was arrested by the military government of Brazil for “anti-government activity” and then exiled to London. From 2003 to 2008, he served as his country’s Minister of Culture in the administration of president Luiz Inácio Lula da Silva. Gil’s musical style incorporates rock, Brazilian genres including samba and forró, African music and reggae. He is the best example of the Brazilian musical diversity.

Felipe Dana/FotoArena/Folha Imagem

GILBERTO GIL

Gilberto Gil. Rio de Janeiro (RJ), 2009.

TRADUÇÃO

Gilberto Gil é famoso por sua inovação na música e por seu engajamento político. Em 1968, Gil foi preso pelos militares por “atividades contra o governo” e depois se exilou em Londres. Entre 2003 e 2008, ele foi ministro da Cultura durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O estilo musical de Gil incorpora rock e gêneros musicais brasileiros, inclusive samba e forró, música africana e reggae. Ele é o melhor exemplo da diversidade musical brasileira.

1. Destaque trechos no texto “Brazilian music” que expressam qualidades da música brasileira. 2. De acordo com esse texto, quais são as origens da música brasileira?

. Reescreva o texto “Brazilian music” com suas próprias palavras, expressando-se em língua portu-

guesa. Revise-o com atenção duas vezes depois de pronto. Então, leia a sua tradução para os colegas. . De acordo com as informações sobre Gilberto Gil, qual é a maior qualidade desse cantor e com-

positor? Você concorda com isso? Justifique.

PESQUISAR

Há algum músico do qual você gosta muito e que não está na lista? Reúna-se com um colega e, juntos, tentem incluir outros quatro nomes à lista de celebridades do meio musical. Procurem palavras em inglês que possam descrever os músicos que vocês escolheram. Aproveitem termos que já apareceram na lista, como composer, song, singer, voice etc. Para obter informações sobre os músicos escolhidos, pesquisem em jornais, em revistas ou na internet. No final, mostrem a lista que vocês elaboraram para o resto da sala e tentem lê-la em voz alta com o auxílio do professor. 6º ano

135


LER LISTA DE PERSONALIDADES DO CINEMA E DO TEATRO

1. Fernanda Montenegro – The Great Lady of Bra-

zilian cinema and theater. 2. Paulo Autran – One of Brazil’s most important

actors, died in 2007.

J. Vespa/WireImage/Getty Images

THE GREATEST IN CINEMA AND THEATRE

. Grande Otelo – Consecrated in the “B movies”,

he was adopted by the “New Cinema” movement [Cinema Novo]. A legend in his own time. . Marília Pêra – Daughter, granddaughter and

niece of actors, she went on stage for the first time at age 6. . Nelson Rodrigues – The pornographic angel of

the Brazilian theater. . Oscarito – The greatest comedian in the history

of Brazilian movies. . Dias Gomes – Award winning author/writer for

TV and theater. His soap operas are probably the best ever written. . Bibi Ferreira – Fiery actress. . Gianfrancesco Guarnieri – Actor and playwright

Fernanda Montenegro at Toronto International Film Festival, 2005.

of the resistance [against the government]. 1 . Glauber Rocha – Leader of the “New Cinema” movement, rebellious and talented. 11. Cacilda Becker – Paradigm of the actress; she died on stage. She was an inspiration to a

whole generation of actors. 12. Dercy Gonçalves– The queen of debased humor. 1 . Paulo José – One of the most well known Brazilian actors. 1 . Procópio Ferreira – A sacred monster of Brazilian theater. 1 . Ziembinski – The Pole [from Poland] that revolutionized our stage. 1 . Maria Clara Machado – The greatest name in children’s theater. 1 . Plínio Marcos – The wizard of the “outlaw” theatre. 1 . Sérgio Cardoso – An actor that will never be forgotten by the public. 1 . Nelson Pereira dos Santos – One of the pioneers of the “Cinema Novo”. 2 . Antunes Filho – Creative and restless theatre director. 1. Quais das pessoas da lista não são atores ou atrizes? Destaque seus nomes na lista. Se necessário,

pesquise na internet e descubra. 2. Quais nomes relacionam-se ao humor? Observe as palavras que indicam isso no texto da lista.

136

Língua Inglesa


. Pense em atores, atrizes, músicos, cantores ou cantoras de que você gosta e escolha um. Observe

as palavras empregadas na lista e selecione algumas que possam ser relacionadas à pessoa que você escolheu. Em seguida, faça como no exemplo a seguir: Glória Pires: Brazilian actress / interesting person / woman / famous / cinema / theater / humor. LER TEXTO INFORMATIVO I

O texto a seguir, em inglês, fala sobre uma das grandes humoristas de nosso país. Leia a tradução somente após tentar fazer as atividades propostas.

DERCY GONÇALVES Dercy Gonçalves was a film, stage, radio, television, and carnival star. A controversial figure, Dercy was famous for her outrageous sense of humor, her irreverent style and her habit of cursing. She died on July 19, 2008, at the age of 101. In an interview one year before her death, in 2007, at the age of 100, Dercy said: “Yesterday is over. I’m not hurt by anything and I don’t miss anything. I live for today. I’m happy to be alive. I love life.” TRADUÇÃO

Dercy Gonçalves foi uma estrela do cinema, palco, rádio, televisão e carnaval. Uma figura controversa, Dercy era famosa por seu senso de humor escandaloso, seu estilo irreverente e seu hábito de falar palavrões. Morreu em 19 de julho de 2008, com 101 anos. Em uma entrevista um ano antes de sua morte, em 2007, com 100 anos, Dercy disse: “O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada nem saudade de nada. Vivo o hoje. Sou feliz por estar viva, adoro a vida.”

1. Pense no que você sabe sobre Dercy Gonçalves para tentar entender esta frase, que trata das

características que a tornaram famosa. Em seguida, deduza o significado da palavra sublinhada. “Dercy was famous for her outrageous sense of humor, her irreverent style and her habit of cursing.” 2. Qual é a tradução da expressão “irreverent style”? Dica Lembre-se de que essas palavras são cognatas, ou seja, elas têm a mesma raiz na língua inglesa e na língua portuguesa.

6º ano

137


LER LISTA DE PERSONALIDADES DO MEIO LITERÁRIO

1. Machado de Assis – Irony and humor that trans-

cends the ages. 2. Carlos Drummond de Andrade – The greatest

Instituto Moreira Sales

THE GREATEST IN LITERATURE

poet of the 20th century. . Monteiro Lobato – Ahead of his time, revolutio-

nized children’s literature, as well patriot struggles, such as for nationalizing oil. . Jorge Amado – One of the most popular writers

in the country. It was very common to see people reading his books in buses or just sitting in a park. . Erico Verissimo – The author of O tempo e o vento

(The Time and the Wind).

. Guimarães Rosa – A bridge between the old and

the new Brazil. . Graciliano Ramos – A master of the frugal writing style. . Cecília Meireles – A spiritualist poet. . Rachel de Queiroz – First woman to get a chair in the

Machado de Assis, 1890.

Brazilian Academy of Letters (ABL). She wrote about problems of the Northeast, such as drought and misery. 1 . Euclides da Cunha – The reporter that narrated the Canudos War. 11. Vinicius de Moraes – Lyric poet of human sentiment. 12. Clarice Lispector – A writer of extreme and profound feelings. 1 . Manuel Bandeira – A precursor to modern poetry. 1 . Mário de Andrade – Poet and founder of Brazilian Modernism. 1 . Nelson Rodrigues – A damned and passionate writer. 1 . João Cabral de Melo Neto – Brainy poet and critic of injustice. 1 . José Lins do Rego – One of the main regional authors. 1 . Gilberto Freyre – Creator of the concept of racial mixing. 1 . Mario Quintana – An angel disguised as a poet. 2 . Darcy Ribeiro – Writer, anthropologist and politician. 1. De acordo com as informações da lista, quais autores escreviam poesias? 2. Você conhece alguma das obras escritas por esses autores? Qual(is)? . Qual autor escreveu um livro em que relata a Guerra de Canudos? Destaque seu nome na lista. . Você conhece os autores citados na lista? As informações da lista confirmaram algo que você já

sabia sobre algum deles? Justifique. 138

Língua Inglesa


LER TEXTO INFORMATIVO II

Jorge Amado é um de nossos escritores mais conhecidos dentro e fora do Brasil. Leia o texto em inglês e tente fazer a atividade proposta. Só depois leia a tradução em português.

JORGE AMADO Jorge Amado was a Brazilian writer of the Modernist school. He was the best-known of modern Brazilian writers. His work have been translated into 30 languages and was popularized in film, notably Dona Flor and her Two Husbands in 1978. His work dealt largely with the poor urban black and mulatto communities of Bahia. A maior parte dos livros de Jorge Amado foi traduzida para outras línguas. Leia como ficaram os títulos em inglês e, ao lado, escreva os títulos em português. Para auxiliá-lo, observe as capas das edições brasileiras. Captains of the Sand: Gabriela, Clove and Cinnamon: Dona Flor and Her Two Husbands: Tent of Miracles:

Kiko Farkas e Elisa Cardoso/ Máquina Estúdio/ Companhia das Letras

Capas de livros de Jorge Amado na edição brasileira da Companhia das Letras.

6º ano

139


3

LÍNGUA E S PA N H O L A

¿Hispánico o hispanoamericano?

Ilustración digital: Mario Yoshida

Capítulo

Países hispanohablantes

N O

Fuente: Só Espanhol. Disponible en: <www. soespanhol.com.br/conteudo/Diversos_ Espanhol_pelo_mundo.php>. Acceso el: 14 nov. 2011.

L

0

1 070

2 140 km

S

¿Sabías que hispánico es todo lo que pertenece o se refiere a España y que hispanoamericanos son los países e individuos de América que tienen el español como su idioma? Pues, es esta lengua tan rica y variada y estos pueblos tan diversos que vamos a conocer a partir de ahora. Vamos a saber qué piensan, cómo viven y qué hacen y también descubrir qué tenemos en común con ellos, en qué somos parecidos y cuáles son nuestras diferencias.

¡A HABLAR!

Antes, vamos a pensar un poquito en cuáles son tus referencias, ¿qué sabes de este nuevo mundo al que estás entrando? ¿Sabes cómo es una persona de España o Hispanoamérica? ¿Ya conversaste con alguien de un país que habla español? ¿Qué cosas te contó? ¿Y sus hábitos? ¿Son muy diferentes de los nuestros? 140

Língua Espanhola

GLOSARIO

Ahora: agora. Nuestros: nossos.


Si no conoces a ninguna persona de esos países, ¿cómo imaginas que son ellos? ¿Crees que hay diferencias entre el español que se habla en España y en los demás países? Cuando se habla de Brasil, los extranjeros piensan en fútbol, Carnaval y Amazonia. Cuando piensas en España, ¿cuál es la primera imagen que te viene a la cabeza? Y si hablamos de Argentina, Cuba, Paraguay o Bolivia, ¿en qué piensas?

¿QUÉ LENGUA ESTÁS APRENDIENDO? Comunidades autónomas de España Ilustración digital: Mario Yoshida

Mucha gente tiene dudas sobre el uso de las palabras español y castellano para definir la lengua que está estudiando y pocos saben si hay o no alguna diferencia entre ellas. Vas a leer un texto que aclara esta duda. Como se trata de un idioma muy parecido al que hablas, o sea, el portugués, seguro que encontrarás facilidades en comprenderlo, pero, para que lo entiendas bien, hay un glosario con palabras que pueden ser desconocidas para ti. Consúltalo cuando no consigas entender el significado de alguna palabra o expresión. Antes, intenta comprenderlo por el contexto.

N O

L

0

145

290 km

S

Fuente: Almanaque Abril 2011. São Paulo: Editora Abril, 2011. p. 456.

¿ESPAÑOL O CASTELLANO? “En España se habla español y en Argentina, castellano”. Esta es la respuesta más común cuando se hace esta pregunta. Español y castellano son dos palabras usadas para definir un mismo idioma, o sea, la lengua que vas a aprender a partir de ahora. Se puede usar español o castellano para definir la lengua indistintamente, pero a veces en algunos países de América y también en algunas regiones de España se GLOSARIO prefiere denominarla castellano. A veces: às vezes. El uso de la palabra castellano por los países de América sería una Dudas: dúvidas. especie de reacción o “rebeldía patriótica” ante cierta sumisión a EsO sea: ou seja. paña, que el uso de la palabra español para definir la lengua podría Podría: poderia. insinuar. Sumisión: submissão. Viene: vem. Usar castellano en España se justificaría para diferenciarla de otras lenguas oficiales que también son españolas. En España son cuatro las lenguas oficiales: 6º ano

141


• el español o castellano es el idioma de Castilla, común a todas las re-

giones del país; • el catalán, es lo que se habla en Cataluña, donde está Barcelona, por ejemplo; • el gallego, es de la región de Galicia, cuya ciudad más conocida es Santiago de Compostela; • el vascuence, actualmente euskera, lengua del País Vasco, donde está la ciudad de Bilbao. Ahora ya sabes que puedes decir tanto español como castellano para referirte a este nuevo idioma que está entrando en tu vida. Lo más importante es que disfrutes mucho. Puedes ampliar tus conocimientos y entender mejor esta cuestión del uso de los términos español o castellano si investigas un poco sobre la historia del origen de la lengua española.

LEER MAPA DE HISPANOAMÉRICA

Ilustración digital: Mario Yoshida

Ya sabes que español o castellano es la lengua que se habla en España y en muchos otros países, entonces, observa el mapa y busca en él las informaciones que te ayudarán a completar el crucigrama con los nombres de algunos de los países donde el español es la lengua oficial. Hispanoamérica

N O

Fuente: Só Espanhol. Disponible en: <www. soespanhol.com.br/conteudo/Diversos_ Espanhol_pelo_mundo.php>. Acceso el: 14 nov. 2011.

142

Língua Espanhola

L S

0

1 000

2 000 km


1. Su capital es Buenos Aires. 2. Es un país vecino de Brasil y su primera letra también es la B. . Este país tiene dos sílabas y hace frontera con Argentina. El poeta Pablo Neruda es uno de sus

nombres más conocidos en el mundo. . La capital es Bogotá. La cantante Shakira y el café allí producido tienen fama mundial. . Es una isla del Caribe, famosa por la fabricación de puros. Fue escenario de una gran revolución.

La Habana es su capital. . San José es el nombre de la capital de este país que está en Centroamérica. . Es un país conocido por sus colores fuertes y alegres. Fue donde la selección brasileña ganó el

tricampeonato mundial de fútbol, en 1970. Este país está muy cerca de Estados Unidos. . Quien nace allí es nicaragüense. . Este país de América del Sur es conocido por las ruinas de Machu Picchu. En Brasil, la gente dice

que el país tiene el nombre de un ave y su capital tiene el nombre de una fruta, en portugués. 1 . Es un país de América del Sur, que hace frontera con Brasil. Como en Rio Grande do Sul, allí

también se toma el mate. La capital es Montevideo. 11. Caracas es la capital de este país que está cerca de Roraima en Brasil. Es un país famoso por la

belleza de sus mujeres en los concursos de misses.

6 1

7

5

C

8

4

O * 9

2

3 11

10

A 6º ano

143


EL ALFABETO ESPAÑOL El alfabeto español es muy parecido con el portugués, pero tiene algunas letras más. Observa las que están destacadas: A (a)

B (be)

C (ce)

CH (che)

D (de)

E (e)

F (efe)

G (ge)

H (hache)

I (i)

J (jota)

K (ka)

L (ele)

LL (elle)

M (eme)

N (ene)

Ñ (eñe)

O (o)

P (pe)

Q (cu)

R (erre)

S (ese)

T (te)

U (u)

V (uve)

W (uve doble)

X (equis)

Y (i griega)

Z (zeta)

Observa que: •

músicu,

o

e

leiti, a

• •

e

ll

r

o y

u

e

i

o

ll r

ll

y

y

rr

ACTIVIDAD CON AUDIO

1. Ahora, escucha y luego repite las palabras abajo, pensando en la forma de pronunciar cada letra

del alfabeto que acabas de aprender. Las palabras que vas a repetir se refieren a las nacionalidades de las personas que nacen en los países que hablan español y la pronunciación destacada es la de las letras a (siempre abierta), e / o (siempre cerradas):

argentino – boliviano – chileno – colombiano – cubano – costarriqueño/costarricense – ecuatoriano español – guatemalteco – hondureño – mexicano/mejicano – nicaragüense – panameño – paraguayo peruano – puertorriqueño – dominicano – uruguayo – venezolano

2. Como ya conoces el alfabeto, recuerda la pronunciación de cada una de las letras. Repítelas en

voz alta:

a b c ch d e f g h i j k l ll m n ñ o p q r s t u v w x y z

144

Língua Espanhola


. Ya te has dado cuenta de que hay diferencias, ¿no? Primero escucha y luego lee en voz alta las

siguientes palabras: chico – muchacho – muchedumbre llave – lluvia – calle – paella – bollo moño – sueño – español – dueño

LOS PRONOMBRES PERSONALES

Ilustración digital: Estúdio Pingado

¿Sabes cómo nos dirigimos, en español, de manera formal o informal a una persona? Observa la imagen a continuación. ¿Sabes a qué correspondería yo en portugués? ¿Y usted?

Antes de aprender a conjugar verbos, vamos a conocer las personas gramaticales para saber quién dice qué: Español Yo Tú Él/ella/usted Nosotros(as) Vosotros(as) Ellos/ellas/ustedes

Portugués Eu Você Ele/ela/o senhor, a senhora Nós Vocês Eles/elas/os senhores, as senhoras

Observa las figuras a continuación, en ellas tenemos una situación de formalidad y otra de informalidad. Ahora que ya conoces las personas gramaticales, ¿cómo traducirías cada diálogo?

6º ano

145


Situación informal

Buenos dias, ¿es usted el señor López?

Eh, Pablo, ¿vas al fútbol mañana?

Sí, soy yo

Creo que sí, ¿y tú?

Entre por favor.

Ilustración digital: Estúdio Pingado

Situación formal

No sé, creo que no.

Observa los pronombres personales de acuerdo con su uso en cada país o región: Registro

España

Hispanoamérica

Informal

tú vosotros(as)

tú/vos ustedes

Formal

usted ustedes

usted ustedes

España es el único país en el que se usa la forma vosotros para el tratamiento informal y ustedes para el tratamiento formal en plural, pero no es así en todas las regiones del país. Hay variaciones. En los demás países, se usa ustedes tanto para el registro formal como para el informal en plural. Ve la diferencia: Hispanoamérica Marco: Hola, chicos, ¿ustedes van a la clase sobre Mitología esta tarde? Ana: Yo sí, creo que será muy interesante. Pedro: Yo también. Nos vemos allá, entonces. Marco: ¡Hasta luego!

146

Língua Espanhola

España Antonio: Hola, chicos ¿vosotros vais a la fiesta de Maricarmen? Lola: Yo creo que sí, pues la quiero mucho. Enrique: Yo también, ¿y vosotros vais a comprarle algo? Antonio: ¿Por qué no le damos un DVD de su película preferida? Lola: ¡Vale! Enrique: ¡De acuerdo!


LEER DIÁLOGO

Observa el siguiente diálogo, pensando en lo que aprendiste al estudiar el uso de los pronombres y personas gramaticales. me llamo

Soy

trabajo

me llamo soy soy es

te llamas? es

Ilustración digital: Estúdio Pingado

se llama

¿Crees que se trata de un diálogo formal o informal? ¿Qué elementos te dan la pista sobre si es formal o informal?

CONJUGACIÓN DE VERBOS En el diálogo anterior hay algunas palabras destacadas. ¿Notaste que se trata de verbos que usamos para presentarnos? Vamos a aprender un poco más sobre esos verbos y cómo los conjugamos. SER yo tú él/ella/usted nosotros(as) vosotros(as) ellos/ellas/ustedes

soy eres es somos sois son

6º ano

147


Y sobre los primeros regulares, en Presente de Indicativo, terminados por -ar: Amar yo tú él/ella/usted nosotros(as) vosotros(as) ellos/ellas/ustedes

Llamarse

amo amas ama amamos amáis aman

Dedicarse

me llamo te llamas se llama nos llamamos os llamáis se llaman

me dedico te dedicas se dedica nos dedicamos os dedicáis se dedican

Observa que cuando el verbo viene con el pronombre, como llamarse, ducharse, lavarse, entre otros, tenemos que colocar el pronombre correspondiente a cada persona antes de conjugarlo, siguiendo la terminación de los verbos regulares terminados por -ar. Ejemplos: yo me llamo, él se llama, nosotros nos llamamos.

APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Completa las frases.

Él

(llamarse) Pedro,

(ser) de Porto Alegre y

(trabajar) como cocinero en un restaurante. (ser) de Bolivia,

(llamarse) Rúber y

(ser)

periodista. Ella

(llamarse) María y

(ser) chilena.

2. Completa las frases con el pronombre personal adecuado: yo, tú, él, ella, usted, nosotros, nosotras,

vosotros, vosotras, ellos, ellas, ustedes. Hola,

me llamo Paco y soy estudiante.

Esta es mi amiga,

se llama María y es colombiana.

Aquellas son las amigas de María.

se llaman Ana y Rosa.

Ana y Rosa son amigas de aquellos chilenos. sois argentinas, ¿verdad? somos estudiantes de español. Doña Regina, ¿es Señores, ¿son Juanito, 148

Língua Espanhola

paraguaya? de Brasil? eres un niño muy agitado.

se llaman Pablo y Fernando.


USOS DE LA LENGUA: SALUDOS Y PRESENTACIONES INICIALES Para saludar, presentarse, dar las gracias y despedirse hay las siguientes expresiones:

Uso común a todos

Buenos días Buenas tardes Buenas noches

¡Hasta luego! ¡Adiós! ¡Hasta otro día!

Gracias Muchas gracias De nada

Mucho gusto Encantado(a)

Informal

¡Hola! ¿Qué tal?

¿Cómo estás?

Muy bien, ¿y tú?

Te presento a…

Formal

¿Cómo le va?

¿Cómo está usted?

Bien, ¿y usted?

Le presento a…

él

ella

Para saber más sobre la persona que estamos conociendo, hay estas expresiones: Informal

Formal

¿Cómo te llamas?

¿Cómo se llama (usted)?

¿De dónde eres?

¿De dónde es (usted)?

¿A qué te dedicas?

¿A qué se dedica (usted)?

¿Qué haces?

¿Qué hace (usted)?

APLICAR CONOCIMIENTOS II

1. Marca en el diálogo a continuación todos los elementos que indican la informalidad.

– Hola, me llamo Ana, y tú, ¿cómo te llamas? – Me llamo Juan. ¿De dónde eres, Ana? – Yo soy de Brasil y soy dentista. Y tú, ¿a qué te dedicas? – Yo soy estudiante y también soy brasileño. – Bueno, me voy. Hasta luego. – Adiós. 2. Ahora, transforma el diálogo anterior en una situación formal, pasando los verbos y pronombres para el uso de usted, sin dejar de usar los pronombres de tratamiento Don y Doña antes de los nombres. 6º ano

149


CURIOSIDADES DE LA LENGUA FALSOS AMIGOS

Ilustración digital: Estúdio Pingado

El español y el portugués son lenguas muy parecidas y también muy diferentes en algunos casos. Hay, por ejemplo, los falsos amigos: aquellas palabras que son idénticas, pero con significados completamente diferentes entre las dos lenguas. Veamos algunas situaciones que pueden provocar algunos conflictos. Imagina la situación de un chileno que visita a Brasil. Sus amigos le preparan un almuerzo especial, con comidas típicas.

El pobrecito del chileno sólo estaba queriendo ser gentil y amable, pero sus amigos no lo comprendieron, pues en español se usa exquisito para describir algo que está muy bueno, que es muy sabroso.

APLICAR CONOCIMIENTOS III

Relaciona las palabras en español con sus traducciones. (1) apellido ( ) barbear (2) apodo ( ) criações (3) niños ( ) crianças (4) crianzas ( ) apelido (5) adosado ( ) unido/geminado (6) afeitar ( ) adoçado (7) endulzado ( ) sobrenome ¿Encontraste las palabras correspondientes? Verifícalo aquí: se afeita

apellido apodo, niños crianza endulza adosadas 150

Língua Espanhola


LA CULTURA HISPANOAMERICANA En este y en otros capítulos de este libro encontrarás informaciones sobre personas que hicieron algo de importante para la cultura de su país y que por su trabajo se hicieron famosas.

QUINO, ARGENTINA

Ricardo Ceppi/Corbis/Latinstock

La primera personalidad de la que vamos a hablar es Quino, el dibujante argentino, autor de personajes notables como Mafalda y su pandilla y también de variados libros de humor. Sus trabajos retratan el momento en el que vivía su autor y su visión crítica de la sociedad y de la cultura argentina. A continuación encontrarás informaciones sobre Quino, como si él estuviese presentándose.

me llamo soy soy es

APLICAR CONOCIMENTOS IV

Ahora, completa las informaciones sobre Quino y Mafalda, usando las palabras del recuadro. es

se llama

es

apodo

Quino. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 411

apellido

Él

Joaquín Salvador Lavado,

mucha expresión en el mundo hispano. Su por Quino, que es su

un dibujante argentino de es Lavado, pero la gente lo conoce

. Su personaje más conocido

Mafalda,

una niña muy inteligente que habla de las cosas de su país, de su preocupación con el destino de la humanidad y la indignación ante las injusticias sociales. 6º ano

151


Ilustración digital: Estúdio Pingado

PARA CONOCER MÁS

Panadero

Cocinero

Maestra

Obrero

Niñera

Secretaria

dibujante

camarero

periodista

carnicero

albañil

abogado

ingeniero

cura

sastre

azafata

fontanero

guardia

portero

jugador

deportista

reportero

salvavidas

guardaespaldas

zapatero

dependiente

LOS ARTÍCULOS Lee los siguientes textos, observa las palabras destacadas y luego verifica las reglas de uso a continuación: El

la

el La a la El

la

el al

al

de la a los del

una

En español, los artículos son los siguientes y siguen básicamente las mismas reglas del portugués: Artículos determinados Singular Plural

152

Língua Espanhola

Artículos indeterminados

el / la

un / una

los / las

unos / unas


No se debe usar el artículo: Lisboa

• Antonio

María

• mi tus nuestra • Portugal, en España

Inglaterra

CURIOSIDADES DE LA LENGUA FEMININA O MASCULINA?

Ilustración digital: Estúdio Pingado

¿Sabías que a pesar de tener el mismo origen en latín, hay palabras que en portugués son masculinas y son femeninas en español, y viceversa? Observa la siguiente situación:

Palabras femeninas la leche, la miel, la radio, la nariz, la costumbre, las legumbres

Palabras masculinas el puente, el origen, el viaje, el color/los colores, el dolor, el árbol, el manzano

Palabras femeninas o masculinas el/la estudiante, el/la cantante, el/la violinista, el/la joven, el/la canadiense

En la mayoría de los casos, se siguen las mismas reglas del portugués: el amor

la libertad

el actor/la actriz

la alegría

el corazón

la plaza

el hombre/la mujer

la calle

el padre/la madre

Pero hay unas reglitas diferentes en español. Observa las siguientes palabras femeninas en singular y los artículos que van delante de ellas: el agua fría

el alma buena

el ama de casa ordenada

el hambre canina

6º ano

153


Guarda la regla la a

la.

ha el

mi

tad

APLICAR CONOCIMIENTOS V

1. Completa las siguientes frases con el artículo adecuado (el – la – los – las), cuando necesario:

En

Italia ellos hablan italiano.

En

Inglaterra están hombre de

ingleses y en edad de

ciudad del Rio de Janeiro es

Brasil,

brasileños.

piedra era muy creativo. más conocida internacionalmente.

países que tienen frontera con

Brasil son:

Argentina,

Colombia,

Paraguay y

Uruguay.

Venezuela,

Bolivia,

2. Antonio realizó un viaje a Santiago, en Chile, y escribió una postal a sus amigos. Distraído como

es, no colocó los artículos en su texto, ¿puedes colocarlos tú, cuando necesario? Debes usar el – la – los – las. Hola, amigos. Estoy aquí en

Chile, disfrutando un montón.

Acabo de encontrar

libro de

También fui a visitar

Cordillera de los Andes y estoy convencido, más que nunca que,

planeta Tierra es cuidar para que que

Pablo Neruda que tanto quería.

lugar donde viven

seres humanos, y a nosotros nos cabe

naturaleza se mantenga libre de

chilenos la conserven con mucho cuidado y que

contaminación. Por eso, espero turistas la preserven.

LAS CONTRACCIONES En portugués juntamos las preposiciones con varios elementos. En español solo se puede juntar los siguientes elementos: a + el = al (en portugués corresponde a ao) de + el = del (en portugués corresponde a do)

Los demás se escriben todos separados: en este

154

Língua Espanhola

en el

de la

de los

a la

a los


Observa estos ejemplos: Voy al centro de la ciudad. Voy a la playa por la mañana. Vamos al baile del club.

¿Vas a la escuela por la noche? En este armario están guardados todos tus libros. ¿Dónde están los ejercicios de los alumnos?

APLICAR CONOCIMIENTOS VI

Completa los espacios con los artículos (el – la – los – las) o contracciones (al – del), cuando estas sean necesarias: a)

libro

b)

aguas

alumno nuevo está en

mesa de

río Amazonas bañan algunos países

secretaria. América

Sur y es-

tados brasileños. c)

brasileños van a

d) Muchos argentinos vienen

playa en verano. litoral de Brasil en verano también, ellos van a

playas

de Santa Catarina. MOMENTO DE LA ESCRITURA

Escribe un pequeño texto identificándote. Debes contar cómo te llamas, de dónde eres, a qué te dedicas etc., usando todos los recursos que aprendiste hasta aquí. Puedes usar como base los textos y diálogos que leíste. Lo que hemos aprendido Para terminar y verificar si has entendido bien los termos de este capitulo haz una lista de todas las cosas nuevas que conociste sobre el mundo hispánico. Te ayudamos con sugerencias: • puedes escribir sobre las diferencias entre las dos lenguas que más te llamaron la atención e incluso buscar otras en diccionarios y páginas de internet; • elige las informaciones más interesantes sobre la gente que habla español.

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Diccionarios

Diccionario de la lengua española (real academia española)

Esta es una herramienta que se puede consultar gratis por internet. Es un diccionario monolingüe, o sea, las explicaciones también están en español y es el principal diccionario de la lengua española. Disponible en: <www.rae.es>. Acceso el: 21 nov. 2012.

Minidicionário espanhol/português – português/espanhol

Se trata de un pequeño diccionario de bolsillo para que puedas llevar contigo, junto con el material de español. En él encontrarás palabras en español con traducción en portugués y también el contrario. FLAVIAN, Eugênia; FERNANDEZ, Gretel. Minidicionário Espanhol/Português – Português/ Espanhol. São Paulo: Ática, 2008.

6º ano

155


Capítulo

4

LÍNGUA E S PA N H O L A

¿Con quién vives? ¿Dónde vives?

Bridget Besaw/Aurora Photos/Corbis/Latinstock

En la fotografía, una pareja cocinando en su casa, en Cochrane (Chile), 2010.

¿Con quién vives? ¿Cómo vive la gente en tu ciudad? ¿Conoces una tradicional familia hispanoamericana o española? ¿Cómo son? En este capítulo vamos a hablar de las relaciones familiares y también de las costumbres de los países que hablan español. ¿Será que hay muchas diferencias entre ellos y nosotros?

!A HABLAR!

¿Cómo es una familia brasileña tradicional? ¿Crees que el modelo de familia brasileña cambió mucho? ¿Cómo son las familias brasileñas actuales? ¿Cómo es tu familia? 156

Língua Espanhola


FAMILIAS DEL MUNDO HISPÁNICO: LA FAMILIA REAL ESPAÑOLA Vas a leer un pequeño texto, sobre la familia real española. Se trata de un texto informativo, con un lenguaje simple y bastante parecido con el portugués en lo que se refiere al vocabulario y a este tipo de texto. Por esta razón, no hay un glosario aquí, pero seguro que conseguirás entenderlo. ¿Te atreves a intentarlo? Señala las palabras que no conoces, pero antes de buscar su significado, intenta ver si el contexto te ayuda con la comprensión de lo que está escrito y luego comprueba si lo acertaste consultando un diccionario. Nueva web, misma familia real Por primera vez, en septiembre de 2012, el Rey, el Príncipe de Asturias y la Infanta Leonor posan juntos para mostrar a los españoles la imagen del futuro: una sucesión monárquica que llevaría a la hija mayor de Don Felipe, a punto de cumplir siete años, a convertirse en Reina de España. [...] Casa de Su Majestad el Rey/Reuters/Latinstock

Disponible en: <www.elmundo.es/elmundo/2012/09/10/espana/1347267344.html>. Acceso el: 5 feb. 2013.

Trés geraciones de la familia real española: el Rey Juan Carlos, Príncipe Felipe y la Infanta Leonor.

Este es el inicio de una noticia sobre el lanzamiento de la página web www. casareal.es en la cual se puede encontrar informaciones sobre la familia real española y sus actividades. La familia real es presencia constante en las revistas del corazón y también en los principales vehículos de la prensa española. Está formada por el Rey Don Juan Carlos, la Reina Doña Sofía, el Príncipe de Asturias, Don Felipe de Borbón y Grecia – casado con la Princesa de Asturias, Doña Letizia Ortiz, con quien tiene las hijas Leonor y Sofía –, sus hermanas, las Infantas Doña Elena y Doña Cristina y su marido, Don Iñaki Urdangarin. 6º ano

157


PARA REFLEXIONAR

Elegimos empezar el capítulo con la familia real española para hacernos pensar en la formación de las familias, sean españolas, hispanoamericanas o brasileñas. La familia real sigue el modelo tradicional, como muchas familias actuales de todo el mundo, pero no es el único modelo. ¿Cómo imaginas que es una familia española en los días de hoy? ¿Y una familia hispanoamericana? ¿Sería diferente? ¿Cuál de ellas piensas que se parece más a la familia brasileña? ¿Por qué? ¿Crees que hay nuevos modelos de familia? ¿Cómo son?

INVESTIGAR I

Existen varios tipos de publicaciones en la prensa, como por ejemplo, las revistas de moda, las deportivas, las de economía, sobre cine y muchas otras más. En el texto se mencionan las revistas del corazón. ¿Sabes de qué se trata? Te proponemos que investigues el tema, que verifiques si hay alguna publicación equivalente en tu país y que después traigas a clase algún ejemplo de lo que encontraste.

ACTIVIDAD CON AUDIO I

1. Los grados de parentesco en español son muy parecidos con el portugués, pero hay algunas di-

ferencias. Escucha los relatos y luego elabora el árbol genealógico de esta pareja que acaba de casarse. 2. Ahora que ya tienes el árbol genealógico de esta familia, consúltalo y relaciona los datos de las

dos columnas para completar las informaciones sobre los parientes de Laura y Antonio. Para este ejercicio necesitarás la ayuda de un diccionario. (1) Juan y Francisca son los

de Laura.

(2) Laura es la

de Antonio y este es su

(3) Inés es la

de Antonio.

(4) Antonio es el

( ) padres .

de Juan y Francisca y Laura es la

de Pablo y Maricarmen. (5) Ana y Beatriz son las tanto son

.

(6) Pablo y Maricarmen son los (7) Ana y Beatriz son las (8) Pablo y Maricarmen son los

158

de Antonio y Laura, por

Língua Espanhola

de Laura. de Juan y Francisca. de Ana y Beatriz.

( ) mujer/esposa – marido/esposo ( ) abuelos ( ) cuñada ( ) yerno – nuera ( ) nietas ( ) suegros ( ) hijas – hermanas


LOS POSESIVOS

Ilustración digital: Estúdio Pingado

Observa la siguiente imagen. ¿A quién pertenecen los recuerdos mencionados?

Los posesivos tienen dos formas en español, una que va antes del sustantivo y otra que va en su lugar, sustituyéndolo. Observa la siguiente tabla:

Adjetivos posesivos (antes del sustantivo)

mi(s) tu(s) su(s) nuestro(a) / nuestros(as) vuestro(a) / vuestros(as) su(s)

Pronombres posesivos (en lugar del sustantivo)

mío(a) / míos(as) tuyo(a) / tuyos(as) suyo(a) / suyos(as) nuestro(a)/ nuestros(as) vuestro(a) / vuestros(as) suyo(s)

En portugués, ambos serán traducidos como: meu, teu, seu/dele/dela, nosso, de vocês, seus/deles/delas. Recuerda que vosotros es el tratamiento informal y traducimos como vocês, en portugués, porque ya no se usa más la forma vós, sobre todo en el lenguaje coloquial. Algunos ejemplos de uso de los posesivos: Aquí está mi libro. El tuyo está en el armario. Laura y sus hijos van al parque los domingos. Juan, Marco llevó tu cuaderno prestado porque no encontró el suyo.

6º ano

159


APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Completa las frases del ejercicio con el adjetivo posesivo adecuado, de acuerdo con el sujeto des-

tacado: a) Mi sobrina siempre coloca

cuaderno en la mochila.

b) Yo siempre hablo con

amigos por teléfono.

c) Las hermanas nunca guardan

zapatos en el armario.

d) Aquellos chicos llevan

dinero en el bolsillo de la chaqueta.

e) ¿Dónde tú dejas

cosas cuando vas a la gimnasia?

Ilustración digital: Estúdio Pingado

2. Ahora tienes que usar los pronombres posesivos adecuados para completar los minidiálogos.

a) – Hijo mío, ¿son

– No, los

estos zapatos? están en mi habitación.

b) – Chicos, mis notas están en el tablón. Vosotros también podéis ver las

ya.

–¿Será que las notas fueron buenas? ¡Nos esforzamos tanto! (España) c) – Chicos, mis notas están en el tablón. Ustedes también pueden ver las

ya.

–¿Será que las notas fueron buenas? ¡Nos esforzamos tanto! (Hispanoamérica) d) – Rita, ¿de quién son estas revistas? ¿No son

– No, Pedro, estas son las 160

Língua Espanhola

? , las

están en mi mochila.


CONJUGACIÓN DE VERBOS Lee el diálogo de dos amigos en la oficina: – Rose, ¿Por qué no tomas un café conmigo? – ¡Claro!, así aprovecho para contarte las novedades. – ¿Qué novedades? – ¿No sabes que Asunta parte para Europa este mes? – ¿En serio? – Sí, ella se corresponde con un chico portugués y van a encontrarse. – ¡Qué bueno! – ¿Otro café?

En el diálogo anterior, hay algunas palabras destacadas. Son verbos conjugados en Presente de Indicativo. ¿Sabes decir a qué persona gramatical pertenece cada uno de ellos? Vamos a aprender a conjugar el verbo estar y también los verbos regulares de 2ª (-er) y 3ª (-ir) conjugaciones. Observa: Verbo Estar yo

estoy

estás

él/ella/usted

está

nosotros(as)

estamos

vosotros(as)

estáis

ellos/ellas/ustedes

están

Verbos regulares terminados por -er / -ir: Comer

Subir

Esconderse

yo

como

subo

me escondo

comes

subes

te escondes

él/ella/usted

come

sube

se esconde

nosotros(as)

comemos

subimos

nos escondemos

vosotros(as)

coméis

subís

os escondéis

ellos/ellas/ustedes

comen

suben

se esconden

6º ano

161


Recuerda que cuando el verbo viene con el pronombre, como someterse, partirse, inscribirse, entre otros, tenemos que colocar el pronombre correspondiente a cada persona antes de conjugarlo, siguiendo la terminación de los verbos regulares terminados por -ar. Ejemplo: yo me escondo, él se somete, nosotros nos inscribimos, ellos se inscriben...

APLICAR CONOCIMIENTOS II

1. Completa las frases con los verbos de los paréntesis debidamente conjugados de acuerdo con el

sujeto destacado o indicado por el contexto: a) Mi hija

(comer) muchos dulces, pero no engorda.

b) Aquellos niños

(esconderse) de su madre a la hora del baño.

c) Jorge no

(someterse) a las órdenes de sus hermanos mayores.

d) Los trenes

(partir) de la estación todos los días a la misma hora.

e) Nosotros

(escribir) poemas bonitos a nuestros tíos y abuelos cuando

llegan las Navidades. f) ¿Vosotros g) Tú

(subir) por estas escaleras para llegar a la habitación de la niña? (inscribirse) en todo tipo de curso sobre culinaria porque te vas a casar,

¿verdad? h) ¿Quién

(vender) los mejores productos para bodas?

i) ¿A qué hora

(partir) el avión de los novios que se van en luna de miel?

j) ¿Con quién

(vivir)? ¿Con tu familia?

2. Mira la imagen y completa lo que se dice ahí con dos de los verbos de la lista que sean adecuados

a la situación. No te olvides de conjugarlos. esconderse

meterse

someterse

sorprenderse Ilustración digital: Estúdio Pingado

inscribirse

Estos niños siempre me 162

Língua Espanhola

cuando se

por estas partes de la casa.


3. Inspírate en una familia en un parque u otro lugar cualquiera. Escribe un pequeño diálogo en

el que aparezcan por lo menos tres de los verbos de la siguiente lista, conjugados en Presente de Indicativo. Si quieres, puedes usar más verbos. estar

correr

comer

beber

escribir

subir

bajar

esconderse

meterse

vender

sorprender

temer

INVESTIGAR II

Vamos a conocer qué es lo que podemos encontrar en una ciudad. Busca en el cuadro los lugares correspondientes a las definiciones a continuación y complétalas. Para la realización de este ejercicio, puedes recurrir a un diccionario e incluso a internet. escuela

taller

carnicería

academia

panadería ayuntamiento

notaría

tienda

gasolinera

a) En este lugar, llamado

gimnasio

quiosco

, trabaja el alcalde y los funcionarios que admi-

nistran y cuidan las ciudades. b) Si compras una casa, si te casas o si nace tu hijo, debes ir a la

para

registrarlo todo. c) Toda ciudad debe tener una o más de una

para garantir el futuro y

la educación de sus ciudadanos. d) Quien lee mucho también puede ir a un

y encontrar las más variadas

publicaciones, incluso revistas del corazón. e) Cuando queremos mejorar la forma física y hacer la gimnasia, vamos a un f) Todas las mañanas, puedes comprar en la

.

el pan fresquito y también

otras delicias. g) La carne se compra en una

.

h) Ropas, zapatos y otras cosas se compra en una

.

i) Un automóvil necesita gasolina para moverse. Esto lo encuentras en una j) Cuando el automóvil da problemas, lo llevamos al

. del mecánico.

k) Lenguas extranjeras se estudian en un centro de lenguas o una

de

idiomas.

6º ano

163


ESTÁ(N) / HAY: ¿CUÁNDO Y CÓMO SE USA? Lee las frases siguientes: − ¿Dónde hay una farmacia por aquí cerca? − En esta calle no hay ninguna, pero en aquella esquina hay una muy buena.

Hay es invariable, se usa para indicar o preguntar por la existencia de algo y normalmente va acompañado de: un / una / unos / unas algún/ alguna / algunos / algunas ningún / ninguna / ninguno algo / nada

Ahora, ve la diferencia del uso de estar: − ¿Sabes dónde está la biblioteca municipal? − Sí, está en aquella calle, a la derecha. − ¿Dónde están las llaves del coche? − Están en el armario de la cocina.

Está(án) es variable, o sea, tiene singular y plural, se usa para indicar la localización de algo y normalmente va acompañado de: el / la / los / las en / por / debajo de / en cima de / al lado de…

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. Completa las siguientes frases con hay o está/están: a) En aquella casa

muchas ventanas.

b) El Teatro Municipal

al lado de la Secretaria de los Deportes.

c) En este supermercado no d) ¿Dónde e) ¿

los documentos de la venta de la casa? algo para comer en esta casa? No, hoy no

f) ¿Dónde

164

ningún tipo de alimento fresco.

un buen restaurante francés en esta ciudad?

g) ¿Sabes dónde

una pescadería aquí cerca?

h) ¿Sabes dónde

la casa de la modista que te indicó Ana?

Língua Espanhola

nada. Pide pizza.


2. Y, para consolidarlo, completa con tus palabras este diálogo entre un madrileño (M) y un tu-

rista (T) que necesita informaciones sobre la localización de algún lugar (puede ser un museo, parque, estación de metro, farmacia, o lo que quieras). No te olvides de agradecer al final del diálogo: T: Oiga, por favor, ¿dónde

?

M:

.

T: Y el

, ¿dónde

M: Ah, esto

? muy cerca de aquí.

, en aquella T:

,

M: De

al

de la

.

usted es muy amable. . Hasta luego.

AQUÍ, ACÁ, AHÍ, ALLÍ, ALLÁ

Ahí donde estás sentado hay mucho viento.

Aquí a mi lado hay un lugar pra ti

Ilustración digital: Estúdio Pingado

Observa los dibujos siguientes:

Allí están los zapatos que quiero comprar.

¿CÓMO SE USA? • Aquí/acá – para lo que está cerca de quien habla. • Ahí – para lo que está cerca de quien escucha. • Allí/allá – para lo que está distante de los dos.

En España se usa aquí, ahí, allí. En muchos países de Hispanoamérica, se prefiere el uso de acá, ahí, allá.

6º ano

165


OTRAS EXPRESIONES Hay otras formas de localizar objetos, personas y lugares. Ve algunas de las expresiones que pueden ser utilizadas: cerca de

lejos de

al lado de

a la izquierda

a la derecha

al centro

detrás de

delante de

encima de

debajo de

arriba

abajo

APLICAR CONOCIMIENTOS IV

1. Completa los diálogos con aquí, acá, ahí, allá o allí, según el contexto y también según el uso de

cada lugar indicado. a) – Hola, Pedro, ¿qué haces

– Pues estoy

en Buenos Aires? para visitar a unos clientes.

– Entonces, vamos

en aquel bar a tomar un café.

b) – Rosa, ¡cuánto tiempo! ¿Qué haces

en Madrid?

– Pues nada, estoy de vacaciones y aprovechando para hacer unas compritas. –¿Qué llevas

en esas bolsas?

– Bueno,

en estas bolsitas hay de todo: ropas, maquillaje, zapatos…

– Vamos

en aquel café y me muestras todo lo que compraste.

2. Completa las siguientes frases con expresiones de localización que presentamos en el cuadro.

Puedes repetir algunas. a) Mi casa está muy

mi trabajo. Voy a pie y llego en cinco minutos.

b) Yo trabajo

mi casa. Necesito ir en autobús y tren y tardo casi dos horas.

c) Para llegar al banco, gire

y luego

la iglesia.

ti hay un armario lleno de libros, elige uno y es tuyo.

d) e) Paré

una heladería y no pude resistir. Me tomé un helado enorme.

f) Los libros están

la mesa de la cocina.

g) No busques por ahí, tus lápices están

sofá, cayeron cuando te levantaste.

h) Si quieres subir, tienes que mirar hacia i) Así se brinda en español: 166

. Está

Língua Espanhola

y si quieres bajar, mira hacia ,

,

.

y pa dentro.


PARA CONOCER MÁS

Días de la semana, meses y estaciones del año ¿Conoces los días de la semana en español? ¿Ya te metiste en alguna confusión por no saber usarlos? Los días de la semana: lunes – martes – miércoles – jueves – viernes – sábado – domingo Los meses del año: enero – febrero – marzo – abril – mayo – junio julio – agosto – septiembre – octubre – noviembre – diciembre Las estaciones del año: primavera – verano – otoño – invierno

LEER FRAGMENTO DE AUTOBIOGRAFÍA

Si alguna vez has confundido los días de la semana, no te preocupes, hasta el poeta chileno Pablo Neruda pasó por algo semejante. Vas a leer un texto en el que él cuenta una anécdota sobre sus problemas con días de la semana en portugués. Lee el texto a continuación y solidarízate con el poeta. Prestes Ningún dirigente comunista de América contó con una vida tan increíble como Luis Carlos Prestes. Héroe militar y político de Brasil, su verdad y su leyenda traspasaron hace mucho tiempo las restricciones ideológicas, y él pasó a ser una encarnación viviente de los héroes antiguos. Por eso, cuando en la Isla Negra recibí una invitación para visitar el Brasil y conocer a Prestes, la acepté de inmediato. Saber que no había otro invitado extranjero me agradó. Sentí que de alguna manera yo formaba parte de una resurrección. GLOSARIO Prestes me invitó a almorzar para un día de la semana siguiente. Entonces me Endiabladas: endiasucedió una de esas catástrofes sólo atribuibles al destino o a mi irresponsabilidad. bradas. Había encargado: Sucede que el idioma portugués, no obstante tener su sábado y su domingo, no tinha encomendado. señala los demás días de la semana como lunes, martes, miércoles, etc., sino con Invitación: convite. las endiabladas denominaciones de, quarta-feira, saltándose la primera feira para Leyenda: lenda. complemento. Yo me enredo enteramente en esas feiras, sin saber de qué día se trata. Me acuerdo: me Me fui a pasar algunas horas en la playa con una bella amiga brasileña, lembro. recordándome a mí mismo a cada momento que al día siguiente me había llamado Me enredo: me confundo. Prestes para almorzar. La quarta-feira me enteré de que Prestes me esperó la terçaMe enteré: soube. feira inútilmente con la mesa puesta mientras que yo pasaba las horas en la playa Mientras: enquanto. de Ipanema. Me buscó por todas partes sin que nadie supiera mi paradero. El Nadie supiera: ninascético capitán había encargado, en honor a mis predilecciones, vinos excelentes guém soubesse. que tan difícil era conseguir en el Brasil. Íbamos a almorzar los dos solos. Señala: marca. Cada vez que me acuerdo de esta historia, me quisiera morir de vergüenza. Sucedió: aconteceu. Todo lo he podido aprender en mi vida, menos los nombres de los días de la semana en portugués. NERUDA, Pablo. Confieso que he vivido. 2. ed. Barcelona: Plaza & Janés, 2001. p. 405-409. (Texto adaptado.)

6º ano

167


1. ¿A qué “catástrofe” se refiere el autor en el texto? 2. ¿Qué día sería el almuerzo? ¿Y qué día apareció Neruda? 3. ¿Conoces otros textos de Pablo Neruda? ¿Qué tipos de texto escribía este importante poeta?

LA CULTURA HISPANOAMERICANA ¿Cómo son las fiestas en tu país? ¿Tu región tiene alguna fiesta típica o exclusiva? ¿Ya has ido a alguna fiesta típica de otra región o de otro país? Ya que estamos con el poeta chileno Pablo Neruda en este capítulo, vas a leer un texto con informaciones sobre las fiestas tradicionales de Chile. Encontrarás un pequeño glosario, pero sólo para las palabras que serían desconocidas para ti. Las demás debes entender por el contexto.

LEER TEXTO INFORMATIVO FIESTAS TRADICIONALES DE CHILE

Chile tiene una gran diversidad de festejos en los cuales participan miles de personas entre locales y turistas de todas partes. Son fiestas para celebrar la vendimia, la independencia del país, y también lo profano y lo religioso. Al ritmo de mucha música y también de la cueca, que es el baile nacional, regado a vino tinto y bebidas típicas acompañadas de la tradicional empanada, los chilenos celebran, entre otras, la Fiesta Tapati de Rapa Nui, el Carnavalón, la Fiesta de la Vendimia, el Año Nuevo Indígena, los Carnavales de Invierno, las Fiestas Patrias y la Fiesta de San Pedro. Veamos algunas de estas celebraciones típicas: CARNAVALÓN

En febrero, en San Miguel de Azapa, Putre y Socoroma, se realiza un ceremonial para desenterrar de modo figurativo a Ño Carnavalón. Símbolo de la alegría, la fertilidad y la fortuna, el personaje y su carnaval atraen a miles de habitantes de los pueblos altiplánicos. Es una fiesta tradicional mestiza que se celebra 40 días antes de la cuaresma católica, para resucitar al legendario personaje mítico que augura felicidad todo el año. Se trata, al mismo tiempo, de un saludo a la pachamama (la madre tierra) y al tata inti (el padre sol, ambos en lenguas nativas), con música, bailes y frutos de la zona que prometen abundancia. FIESTAS DE LA VENDIMIA

El prestigio del vino chileno es celebrado de modo especial en la zona central del país. Los preparativos comienzan con la llegada del verano y los festejos culminan en las últimas semanas de marzo. La fiesta de la ciudad de Curicó es la más antigua y comienza con una ceremonia religiosa para bendecir los primeros mostos y dar paso a los carros alegóricos. La vendimia también elige a su 168

Língua Espanhola

GLOSARIO

Mostos: extrato da uva do qual se produz o vinho. Vendimia: colheita da uva.


reina, quien es pesada en botellas de vino en una romana o balanza, mientras se realiza la competencia de pisadores de uva, con equipos que compiten durante diez minutos sobre las uvas hasta convertirlas en jugo. Las palmas y los gritos de aliento acompañan los movimientos, a veces graciosos, pero siempre festivos.

GLOSARIO

Botellas: garrafas. Competencia: competição. Gritos de aliento: gritos de incentivo. Jugo: suco, extrato.

1. ¿Qué representa el Ño Carnavalón que se “desenterra” en estas fiestas? 2. ¿Cuándo se celebra el Carnavalón? 3. ¿Cuándo comienzan y cuándo terminan las fiestas de la vendimia? 4. ¿Como compararías alguna de las fiestas de Chile con las que tienes en tu región o país?

Marcelo Hernandez/LatinContent/Getty Images

ACTIVIDAD CON AUDIO II

En septiembre de 2010, chilenos celebram en las calles de Santiago (Chile) una fecha importante para su país. Vas a descobrir lo que están celebrando cuando escuches la grabación.

1. Vas a escuchar una grabación con informaciones sobre otra fiesta de Chile. Es un texto semejante

a los que acabas de leer. Durante la audición, intenta identificar las siguientes informaciones: a) ¿De qué fiestas se habla en la grabación? b) ¿Qué estación del año estas fiestas anticipan? c) Verifica si las informaciones a continuación son verdaderas o falsas, de acuerdo con la grabación:

( ) 19 de noviembre es el día nacional de Chile. ( ) Las fondas o ramadas son los espacios donde la gente come y bebe durante la fiesta y también donde se bailan las danzas típicas. ( ) Las carreras a la chilena son un tipo de corrida a caballo en las que el hombre que monta el caballo lo hace sólo agarrado a las crines del animal. 6º ano

169


2. En este capítulo vamos a practicar la pronunciación de las letras a, e, o.

Observa que la letra a se pronuncia siempre de manera bien abierta, igual que “casa”, en portugués, sin nasalizaciones. No hay los sonidos ã, ão en español. Escucha y repite esta secuencia: ánimo

mañana

campo

canto

encanto

carne

cubano

santo

mango

manguera

casa

La letra e se pronuncia siempre de manera cerrada. Escucha y repite esta secuencia: leche

médico

centro

diente

cuerpo

método

café

mujer

enero

técnico

idea

La letra o se pronuncia también de manera cerrada. Escucha y repite esta secuencia: código

ocio

hotel

ojo

ojos

órgano

oratório

oración

corazón

óbito

hora

Pronuncia de las letras e / o en español Las letras e / o san pronunciadas, en español, como la ê y la ô en portugués. Pero recuerda que no hay el acento ortográfico (^) circunflexo en español.

INVESTIGAR III

¿Por qué no buscas más información sobre fiestas populares en los países donde se habla español y después presentas a la clase lo que encontraste? Puedes incluso dramatizar algunas para que los demás adivinen de cuál se trata.

MOMENTO DE LA ESCRITURA

Para verificar si entendiste bien los temas de este capítulo, te proponemos que escribas un pequeño texto, en español, contando cómo es tu familia, la ciudad donde vives, qué haces allí y qué lugares te gusta frecuentar. Puedes imaginar que estás hablando con un visitante que necesita saber la localización de cada cosa. Piensa que tu texto será bastante rico si usas: • expresiones de localización: aquí, ahí, allí, al lado, a la derecha; • estar / haber; • verbos regulares en Presente de Indicativo terminados por -er /-ir (comer, partir, subir, escribir, esconderse, vender…); • las cosas de una ciudad; • los posesivos; • los grados de parentesco.

170

Língua Espanhola


Lo que hemos aprendido Y, para terminar, ¿vamos a reflexionar sobre lo que aprendiste?

• •

• • • •

¿Cómo está compuesta tu familia? ¿Cómo es la familia real española? ¿Y una familia moderna hoy en día, de qué elementos se compone?¿Es igual en España, en Hispanoamérica y en Brasil? Cuando estás en otra ciudad, ¿qué lugares te gusta visitar?

¿Qué tipo de comercio es imprescindible en una ciudad? De la fiestas populares, ¿cuáles te gusta celebrar? ¿Cuáles no soportas? ¿Por qué? Al final de este capítulo, ¿qué dirías que ya sabes en español? Lista las cosas que ya sabes e indica qué consigues hacer con ellas. ¡Buen trabajo!

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Sitios web

This is chile

Esta es la página web oficial de Chile en la que puedes encontrar no sólo informaciones sobre las fiestas, sino también mucho más, como cultura, turismo, deportes y negocios. Disponible en: <www.thisischile.cl>. Acceso el: 10 feb. 2013.

Icarito

Este es otro sitio para consultas a enciclopedias y biografías. Disponible en: <www.icarito.cl>. Acceso el: 10 feb. 2013.

Neruda vive

Si te gustó el texto de Pablo Neruda, puedes conocer más sobre el poeta y su obra en este sitio web. Disponible en: <http://nerudavive.cl>. Acceso el: 10 feb. 2013.

6º ano

171


Bibliografia

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Língua Estrangeira Moderna


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6º ano

173



UNIDADE 4

Hist贸ria



Capítulo HISTÓRIA

1

Quem são os brasileiros?

A

s torcidas de futebol costumam cantar hinos durante partidas para incentivar os jogadores. Nos últimos anos, os jogos da seleção brasileira, por exemplo, têm sido animados com as seguintes palavras: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...”. Para você, o que é ser brasileiro? Quem são os brasileiros? Basta afirmar que os brasileiros são aqueles que nascem no Brasil? De que Brasil estamos falando? Há um único modelo de brasileiro ou somos diferentes uns dos outros? Pois é, essas são algumas questões para pensarmos. Mas uma coisa é certa: para tentar entender o significado de ser brasileiro, precisamos percorrer nossa história e buscar as raízes da formação da nossa identidade.

RODA DE CONVERSA

FRIDMAN/Samba Photo

Edson Sato/Pulsar Imagens

Para começar a discutir o tema do capítulo, vamos debater o que você e seus colegas pensam sobre o nosso país. O que você diria sobre o Brasil e sobre os brasileiros? Em uma roda de conversa, exponham as ideias associadas ao país e à realidade da sua comunidade. A seguir, com base nas imagens, respondam às perguntas.

Assembleia de todas as comunidades Yanomami na comunidade Toototobí-Hutukara, em Barcelos (AM), 2010.

Desfile durante a Festa da Cultura Japonesa no bairro da Liberdade, em São Paulo (SP), 2008.

6º ano

177


Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

J. L. Bulcão/Pulsar Imagens

Quebradoras de babaçu em Sítio Novo do Tocantins (TO), 2009.

Pessoas transitam em calçadão na área comercial do município de Ponta Grossa (PR), 2012.

1. Descreva cada uma das imagens. Além das informações contidas nas legendas, observe as cenas

representadas e relate como são os locais e as personagens fotografadas. 2. O que essas cenas sugerem sobre o nosso país? Converse com seus colegas e registrem as ideias

principais debatidas no grupo. 3. Há uma imagem mais próxima à sua realidade? Justifique-se apontando as semelhanças e as dife-

renças entre a sua realidade e as realidades retratadas. 4. Faça uma pesquisa e traga para a sala de aula uma imagem que você considere representativa do

Brasil. Mostre-a para seus colegas e apresente os motivos da sua escolha. A pesquisa pode ser feita em jornais, revistas, internet ou você mesmo pode ser o autor da fotografia. 5. Organizem um painel com as imagens apresentadas pelo grupo e criem título e legendas infor-

mativas.

BRASILEIROS: UMA IDENTIDADE SOCIAL Você já deve ter escutado algumas afirmações sobre o nosso país, como: “O Brasil é o país do futebol”; “O Brasil é um país abençoado por Deus”, “O Brasil é o país do carnaval”, “O Brasil é o país do futuro”, “No Brasil tudo acaba em pizza”, “Esse é o jeitinho brasileiro”, “O Brasil é o país da impunidade ou da desigualdade”, entre tantas outras. E você, o que diria sobre o Brasil? Que brasileiro é você? Aquele que joga futebol e come macarronada? Que gosta de dormir em rede e ouvir axé? Ou aquele que tem samba no pé? Ou dança rock e come mocotó? 178

História


LER LETRA DE CANÇÃO I

O cantor e compositor pernambucano Lenine escreveu a letra desta canção. O título é uma homenagem bem-humorada ao ritmista e músico Jackson do Pandeiro (1919-1982), que, com seu suingue, deu alma (em inglês, soul) a baiões, cocos, sambas e marchinhas de Carnaval. A seguir, leia um trecho da composição que brinca com o nome de Jackson do Pandeiro e responda às questões. Jack soul brasileiro GLOSSÁRIO

Banguela: ato de dirigir um carro por uma descida sem a marcha engatada, em ponto morto, desenfreado. Embolada: forma poético-musical com texto declamado numa base musical de notas repetidas, que ocorre em danças (como no coco) e diálogos cantados (como no desafio). Mamulengo: fantoche típico do Nordeste brasileiro. Teatro popular de bonecos. Muganga: trejeitos, caretas. Platinela: tipo de pastilhas que fazem parte do pandeiro. Suingue: maneira de executar uma música, ritmo animado.

Jack soul brasileiro E que o som do pandeiro É certeiro e tem direção Já que subi nesse ringue E o país do suingue É o país da contradição Eu canto pro rei da levada Na lei da embolada, na língua da percussão A dança muganga, o dengo A ginga do mamulengo É o charme dessa nação [...] Jack soul brasileiro do tempero Do batuque, do truque, do picadeiro e do pandeiro E do repique, do pique do funk-rock Do toque da platinela Do samba na passarela Dessa alma brasileira Despencando na ladeira Na zoeira da banguela [...] Lenine. “Jack soul brasileiro”. Na pressão, Sony/BMG, 2000.

1. Circule algumas palavras usadas por Lenine para caracterizar o que ele chama de “a alma brasi-

leira”, isto é, a nossa identidade. 2. Destaque o verso que define o Brasil, de acordo com a visão do compositor. 3. Você concorda com a definição feita do Brasil? Justifique sua opinião.

UM PAÍS DE CONTRASTES Difícil encontrar uma frase que sintetize o que é o nosso país e a nossa identidade, não? As muitas realidades existentes no território brasileiro nos impedem de pensar o Brasil como algo único. Não podemos afirmar que ele é o mesmo para um ribeirinho da Amazônia e para um grande agricultor do Centro-Oeste. Ou que um brasileiro que mora em uma favela pensa seu país da mesma maneira que

GLOSSÁRIO

6º ano

Ribeirinho: população que vive junto a ribeiras e rios.

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um executivo de uma multinacional de um centro urbano. Apesar dessas diferenças, o sentimento de pertencer a uma nação transcende as separações sociais. Como escreveu o jornalista e escritor José Arbex Jr.: O brasileiro milionário e o paupérrimo são da mesma pátria, na medida em que se identificam com esse sentimento de pertencer a uma mesma cultura abrangente, que tem por base um certo território. Mas são de pátrias diferentes, se levarmos em conta a relação de cada um com esse mesmo fenômeno cultural. Mais claramente: o brasileiro rico tem acesso a um universo cultural de sua pátria (a escrita, a cultura, o lazer, a produção artística) muito maior do que o brasileiro pobre e analfabeto. Nesse sentido, a pátria brasileira pertence muito mais ao rico do que ao pobre, que está na condição de quase estrangeiro em seu próprio país. ARBEX JR., José. Ó pátria amada, idolatrada! In: KUPSTAS, Márcia (Org.). Identidade nacional em debate. São Paulo: Moderna, 1997, p. 39.

O que nos identifica como brasileiros? A identidade é algo que todos nós temos e ela é construída ao longo de nossas vidas, por meio das nossas experiências. Ela depende das relações que estabelecemos com diferentes grupos sociais – como família, escola, igreja, empresa, clube – e dos lugares que frequentamos – como bairro, cidade, região e, até mesmo, o país em que vivemos. Sendo assim, além dos dados que constam na nossa carteira de identidade, como nome, filiação, data e local de nascimento e um número de RG, também temos uma identidade social. Ela depende da nossa história de vida e da história do nosso país. Como vivemos em sociedade, é preciso sempre considerar a história coletiva para entender nossa história pessoal. Vamos ver se estamos nos entendendo?

LER TEXTO CIENTÍFICO

Este texto foi escrito por Roberto DaMatta. Leia-o e discuta com seus colegas de sala as questões propostas em seguida. Sei, então, que sou brasileiro e não americano, porque gosto de comer feijoada e não hambúrguer; porque sou muito desconfiado de tudo o que vem do governo; porque vivo no Rio de Janeiro e não em Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo música popular, distingo imediatamente um frevo de um samba; porque para mim futebol é praticado com os pés e não com as mãos; porque vou à praia para conversar com os amigos, ver as mulheres e tomar sol, jamais para praticar um esporte; porque no Carnaval trago à tona minhas fantasias; porque diante de um pesado poder burocrático, posso dar um “jeitinho”; porque entendo que ficar malandramente “em cima do muro” é algo necessário e prático no caso do meu sistema; porque acredito em santos católicos e também nos orixás africanos e não tenho uma posição religiosa exclusiva e rígida; porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no estudo, na instrução e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada posso negar a minha família; finalmente, sei que tenho relações pessoais que não me deixam caminhar sozinho neste mundo, como acontece com os meus amigos americanos, que sempre se veem como indivíduos! DAMATTA, Roberto. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p. 9-10.

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História

GLOSSÁRIO

Paupérrimo: extremamente pobre. Transcende: ultrapassa, vai além.


1. Assim como fez o autor, produza uma lista que identifique seu jeito de ser brasileiro. Você pode

começar com: “Sou brasileiro porque (gosto de..., como..., danço..., jogo...)”. Siga o exemplo do texto. 2. Leia sua lista para os colegas e ouça a leitura da lista deles. Há semelhanças entre elas? Quais? 3. O que a frase “Sei que tenho relações pessoais que não me deixam caminhar sozinho neste mundo”

sugere sobre a nossa história pessoal? 4. Discutam em pequenos grupos e procurem uma definição de o que é ser brasileiro. Comparti-

lhem suas ideias com os outros colegas. Vale a pena anotar as definições. Ao final da atividade, tentem chegar a uma frase que sintetize a identidade brasileira.

O BRASIL DA DIVERSIDADE Você e seus colegas certamente possuem gostos e preferências em comum. Mas também há as preferências individuais, que estão intimamente ligadas às raízes de cada um. Por exemplo, enquanto uns gostam de feijoada, outros preferem churrasco, ou buchada de bode. Esses gostos estão relacionados à cultura da qual fazemos parte. Mesmo sendo todos brasileiros, temos preferências distintas. Não é apenas na alimentação que isso acontece. Em todos os aspectos da nossa vida, podemos perceber características culturais variáveis em diferentes grupos sociais. Isso é o que chamamos de diversidade cultural. Mas o que é diversidade? Ela indica que as coisas podem ser diferentes, múltiplas, que não precisam ser (e não são) todas iguais. Por exemplo, na música temos vários gêneros: frevo, valsa, tango, rock, axé, samba, funk, tecno, clássico e outros mais. Esses gêneros são diferentes, pois têm características próprias, como origem, ritmo e melodia, mas todos são músicas. E assim acontece em muitos aspectos da nossa vida. Essa diversidade pode variar de país para país, de região para região, de época para época, ou entre pessoas de classes sociais e idades diferentes. É a diversidade que garante a riqueza cultural de um povo. Você sabe por que há tanta diversidade no Brasil? A origem dessa multiplicidade de manifestações culturais está na história do nosso país. Em 1933, o sociólogo Gilberto Freyre publicou sua clássica obra Casa-grande & senzala, na qual descreveu a formação do Brasil como fruto da miscigenação entre culturas distintas, especificamente das culturas indígena, europeia e africana. Ainda segundo Freyre, “todo brasileiro traz na alma ou no corpo a sombra do indígena ou do negro”. Essa seria a origem do “caldeirão cultural” que se articulou ao longo dos séculos no nosso território. Além da diversidade cultural, há também no Brasil uma pluralidade GLOSSÁRIO Miscigenação: de tipos físicos, que fazem do brasileiro um povo bastante diverso. Penmestiçagem, processo ou resultado sando nisso, como você descreveria um brasileiro típico? Isso é possível de misturar raças. em uma população tão mestiça como a nossa? Provavelmente, você conhece brasileiros de diferentes origens. No nosso país há, por exemplo, descendentes de africanos, indígenas, europeus e asiáticos. Você sabe quais são suas origens culturais? 6º ano

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CONHECER MAIS

Raça e etnia O conceito de raça – divisão dos grupos humanos estabelecida pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor de pele, formato da cabeça, tipo de cabelo etc.) – vem sendo rejeitado por alguns cientistas e substituído pelo conceito de etnia. Grupos étnicos

seriam os agrupamentos humanos estabelecidos com base em uma identidade cultural (história, tradições, religião, idioma etc.). Todos nós pertencemos à raça humana e o que nos distingue é a etnia da qual fazemos parte.

LER TABELA E GRÁFICO

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão oficial responsável pelos censos demográficos nacionais. De acordo com seus critérios internos, a população é classificada em cinco cores ou raças: branca, parda, preta, amarela (orientais) e indígena. Composição da população por critério étnico-racial/cor* 2000

2010

Branca

91 298 042

53,74%

91 051 646

47,732%

Preta

10 554 336

6,22%

14 517 961

7,611%

Parda

65 318 092

38,45%

82 277 333

43,132%

Amarela

761 583

0,45%

2 084 288

1,092%

Indígena

734 127

0,43%

817 963

0,430%

Ignorada

1 206 675

0,71%

6 608

0,003%

169 872 856

100%

190 755 799

100%

TOTAL

COR/RAÇA 2000

Branca Preta Parda Amarela Indígena Ignorada TOTAL

– – – – – – –

91 298 042 10 554 336 65 318 092 761 583 734 127 1 206 675 169 872 856

– – – – – – –

53,74% 6,22% 38,45% 0,45% 0,43% 0,71% 100%

Branca Preta Parda Amarela Indígena Ignorada TOTAL

– – – – – – –

91 051 646 14 517 961 82 277 333 2 084 288 817 963 6 608 190 755 799

– – – – – – –

47,732% 7,611% 43,132% 1,092% 0,430% 0,003% 100%

Ilustração digital: Luis Moura

Cor/raça

COR/RAÇA 2010

*Fonte: IBGE. Censos 2000 e 2010.

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História


1. Segundo a classificação do IBGE, a quais categorias a maioria da população brasileira pertence?

2. Com base na tabela, quais grupos da população diminuíram entre os anos 2000 e 2010?

3. Em 2010, a população classificada como preta correspondia a 7,611% do total de habitantes. Esse

percentual correspondia a quantos brasileiros em 2010? 4. A porcentagem de pretos na composição da população brasileira diminuiu ou aumentou no pe-

ríodo indicado? 5. Para o IBGE, a população negra compreende as categorias indicadas como preta e parda. Soma-

das, quanto elas representam da população brasileira? Com base nesse dado, como você classifica a maioria dos brasileiros?

6. O que aconteceu com o número de pessoas que não se declararam, isto é, que tem raça ignorada?

Que hipóteses podem ser levantadas para explicar essa alteração?

7. Você se classificaria em qual categoria?

DIVERSIDADE ÉTNICA Sobre a autoimagem do brasileiro, podemos destacar também a diversidade na definição da própria cor, que representa a origem étnica. Segundo o IBGE, em levantamento feito no Censo de 1980, a população curiosamente utilizou 136 terminologias para se autoclassificar, como alvo-rosada, polaca, amarelo-queimada, mulata, pardo-clara, ruiva, ruça, sarará, quase-negra, chocolate, entre outras. Em entrevistas realizadas no ano de 2008, houve um crescimento da população que se identificou como preta ou parda. 6º ano

183


A imagem do Brasil como um país de maioria branca não se sustenta mais nas estatísticas. Há 13 anos [1995], quando o Datafolha fez a sua primeira grande pesquisa sobre o tema, metade dos entrevistados se definiram como brancos. Hoje, são 37%, percentual próximo ao dos autodeclarados pardos (36%). Os que se classificam como pretos representam 14% da população com 16 anos ou mais, de acordo com o levantamento. IDENTIDADE. País se vê menos branco e mais pardo. Folha de S.Paulo, 23 nov. 2008. Disponível em:<www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj2311200802.htm>. Acesso em: 25 jun. 2012.

Quando, em 2005, o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno afirmou ser branco, houve uma confusão. Ele não convenceu a maioria dos entrevistados pelo Datafolha: para 64% deles, ele é preto ou pardo; apenas 23% concordaram com o atleta e classificaram-no como branco. Em 2005, quando os entrevistados foram solicitados a responder de forma espontânea sobre a sua identidade, 33% se autodeclararam como morenos, moreno-claros e moreno-escuros, no lugar de pardos. Houve um aumento da população que se autodefiniu como negra (termo usado para a população parda e preta). De acordo com o próprio IBGE, as categorias adotadas não dão conta da diversidade dos brasileiros, portanto tais critérios podem ser revistos. Segundo dados do Censo 2010, do IBGE, a população negra aumentou em cerca de 4 milhões de pessoas, e a população autodeclarada como parda, em 16,9 milhões de indivíduos. Cientistas sociais avaliam esse crescimento como fruto da “desejabilidade social”, isto é, um desejo de identidade que cresce com as políticas de valorização étnica. Assim, definir o brasileiro pela sua aparência não é nada fácil! Ou melhor, não é o critério adequado para entendermos quem somos.

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA

GLOSSÁRIO

Envidar: imprimir, aplicar, empregar.

184

Você sabe quantas línguas são faladas no Brasil? E qual é a língua oficial? Se respondeu “português” para as duas perguntas, você precisa saber que no nosso país há mais de 180 línguas faladas por diferentes grupos sociais. Apesar de o português ser o idioma da maioria dos brasileiros, muitos povos indígenas falam a língua materna da sua etnia. Por exemplo, na região do Alto Solimões (AM), segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), havia em 2009 mais de 30 mil Ticuna que falam sua própria língua (ticuna). Outras línguas indígenas estão ameaçadas de extinção, pois são poucos os indígenas que as adotam. É o caso dos 350 Krenak, que vivem em áreas reduzidas dos estados de Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Eles falam uma língua denominada borun, que pertence ao grupo linguístico macro-jê. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), “apenas as mulheres com mais de 40 anos são bilíngues, enquanto os homens, jovens e crianças de ambos os sexos são falantes do português. Nos últimos anos vêm envidando esforços para que as crianças voltem a falar o borun”. Por que o português se tornou a língua oficial do Brasil? Há outros países que também falam português?

História


A partir do século XVI, com o domínio e a colonização do território brasileiro por Portugal, a língua portuguesa foi se impondo como língua oficial. Esse processo foi lento e acabou por gerar variações linguísticas, o que tornou o português falado no Brasil um pouco diferente do falado em Portugal. Em 2010, estimava-se que mais de 250 milhões de pessoas falavam português no mundo. Há outros seis países que também foram colonizados por Portugal e têm o português como língua oficial: Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde, todos esses na África, e Timor Leste, na Ásia. CONHECER MAIS

Acordo ortográfico Desde 1990, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) propõe aos seus países membros a adoção de uma língua portuguesa escrita unificada, isto é, que todos escrevam com as mesmas regras e grafia. A proposta do Acordo Ortográfico já está em vigor em alguns países, como o Brasil. O português é a língua oficial de oito países e tem duas ortografias consideradas corretas, a de Portugal e a do Brasil. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Disponível em: <www.cplp.org>. Acesso em: 4 nov. 2008.

A adoção das novas regras ortográficas, previstas no Acordo, gerou polêmicas, sendo defendida por alguns e criticada por outros. O linguista e professor Carlos Alberto Faraco (UFPR) vê como positivos os ajustes na ortografia portuguesa: Há duas boas e fortes razões: vamos eliminar excessos e incongruências que ainda persistem na nossa ortografia e, ao fazer isso, vamos alcançar aquele que é o objetivo maior da reforma – resolver de vez a esdrúxula situação de uma língua com duas ortografias concorrentes: a lusitana e a brasileira. FARACO, Carlos Alberto. “Uma mudança necessária”. Gazeta do Povo, Curitiba, 2 out. 2007. Disponível em: <www.letras.ufscar.br/linguasagem/especial_ao/04_faraco.php>. Acesso em: 4 ago. 2012.

Para o escritor moçambicano Mia Couto, o Acordo é desnecessário e a existência das duas grafias não é um impedimento à circulação de textos em português. Ele afirma: Nunca tive dificuldade em ler livros escritos na grafia brasileira; muito pelo contrário, me satisfaz muito haver essa diferença. No fundo, há uma familiaridade e uma estranheza que são importantes de estar registradas. Acho que a reforma não faz sentido, não subscrevo. Não à reforma ortográfica. Entrevista com Mia Couto. IstoÉ. ed. 1978. 26 set. 2007. Disponível em: <www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/3254_NAO+A+REFORMA+ORTOGRAFICA>. Acesso em: 6 ago. 2012.

Segundo o prof. Faraco, No entanto – e este é um ponto que raramente aparece nos debates –, Portugal transformou a duplicidade de ortografias em um instrumento político para embaraçar a presença brasileira seja nas relações com os demais países lusófonos, seja na promoção internacional da língua. No fundo (embora isso nunca seja claramente dito), Portugal teme a “brasilianização” da língua (afinal, 85% dos falantes estão aqui) e tenta nos neutralizar, praticando uma política da língua que busca sempre nos deixar em plano secundário. Há, por exemplo, sob o pretexto da diferença ortográfica, impedimentos à livre circulação de livros com a ortografia brasileira nos demais países lusófonos. Isso aumenta os custos editoriais: o mesmo livro, para circular em todos os territórios da lusofonia, precisa ter duas impressões diferentes. FARACO, Carlos Alberto. “Uma mudança necessária”. Gazeta do Povo, Curitiba, 2 out. 2007. Disponível em: <www.letras.ufscar.br/linguasagem/especial_ao/04_faraco.php>. Acesso em: 4 ago. 2012.

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Margarida Neide/AG. A Tarde/AE

João Prudente/Pulsar Imagens

O português falado no Brasil acabou incorporando palavras de origem indígena e africana, além das influências estrangeiras, como as vindas do inglês (hambúrguer), francês (abajur), italiano (pizza), japonês (caratê), árabe (almofada), entre outras.

Pessoa descansa em rede pendurada em caminhão na cidade de Serrita (PE), 2010. Esse costume foi herdado dos indígenas, que usavam redes para se proteger dos animais, do frio e da umidade do solo.

Grupo de capoeira se apresenta em Salvador (BA), 2008. A capoeira era praticada pelos escravos africanos como forma de defesa, resistência e luta.

De herança indígena temos, por exemplo, as palavras: abacaxi, buriti, caatinga, caju, capim, capivara, carnaúba, cipó, cupim, guaraná, ipê, jabuticaba, jacarandá, mandacaru, mandioca, maracujá, piranha, sucuri e tatu. Também há muitos lugares que têm seu nome originário de palavras indígenas, como Aracaju, Caraguatatuba, Guanabara, Guaporé, Ipiranga, Itanhaém, Jabaquara, Jundiaí, Moema, Parati e Tijuca. Por meio da influência dos diferentes grupos étnicos escravizados entre os séculos XVI e XIX, como Bantos e Iorubás, incorporamos uma série de palavras, como: axé, angu, acarajé, babá, batuque, bunda, berimbau, banana, cachaça, careca, carimbo, cafuné, catinga, cachimbo, ginga, inhame, maracutaia, macaco, mandinga, marimbondo, moleque, orixá, quitanda, quitute, quiabo, samba, senzala, vatapá e tanga. Mas não é só na língua que recebemos influências de outras culturas. Nossa diversidade também está presente na alimentação, nas festas, nas tradições, na música, nas crenças religiosas e nos costumes das diferentes regiões do Brasil. 186

História


PATRIMÔNIO CULTURAL Você sabe o que há em comum entre o acarajé, o frevo, o queijo de minas, a capoeira, o centro histórico de Salvador, a cidade de Ouro Preto e o maracatu? A resposta é que todos são considerados patrimônios culturais brasileiros, pois revelam aspectos fundamentais da nossa cultura. Cultura é a maneira como nos relacionamos com o mundo. Foi a maneira construída pelo ser humano para se comunicar empregando diversas linguagens, expressas nos hábitos de se vestir, de morar, de trabalhar, de se alimentar. Cultura é o modo de pensar, agir e viver de uma sociedade. E o que é um patrimônio cultural? Segundo a Constituição Federal (art. 216), o patrimônio cultural constitui os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. II. III. IV.

as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Toda produção cultural significativa para uma sociedade pode ser considerada seu patrimônio. Essa produção pode ser material – como monumentos, cidades, desenhos e objetos – ou imaterial (o que não pode ser tocado) – como mitos e lendas, práticas sociais ou conhecimentos e técnicas tradicionais transmitidos de geração em geração.

Wajãpi/NHII – USP

Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 3 set. 2012.

A arte kusiwa foi considerada patrimônio imaterial. Trata-se de uma técnica de pintura corporal e grafismos, própria da população indígena Wajãpi, do Amapá (RR).

6º ano

187


Tradição é uma palavra que significa memória e se relaciona à transmissão de conhecimentos, ideias, valores e costumes. Pode-se afirmar que a tradição é tudo aquilo que permanece ao longo do tempo. Portanto, as tradições fazem a conexão entre o passado e o presente. Por exemplo, é tradicional para os católicos comer apenas peixe durante a semana santa. Essa prática social existe há séculos e é transmitida para os mais jovens pelas pessoas mais velhas. Já algumas tradições estão relacionadas às famílias, que possuem seu modo de vida particular, de acordo com sua cultura. Como exemplo, podemos citar o tradicional almoço do domingo, que reúne muitas famílias, as festas religiosas ou as comidas típicas dos nossos antepassados. A tradição é a permanência de algo do passado no presente. Muitas festas tradicionais brasileiras são consideradas patrimônio cultural, pois ao longo do tempo tornaram-se significativas para a identidade do grupo social que as pratica. No Nordeste, além das quadrilhas, é uma tradição da festa junina a formação de grupos festeiros que dançam e cantam pelas ruas das cidades. Já no Sudeste, a tradição são as quermesses. Assim, em cada região do país temos tradições culturais distintas, que colaboram para a diversidade da cultura brasileira. Muitas delas acontecem desde o tempo em que nosso território era colônia de Portugal (1500-1822). É fácil encontrarmos nessas festas influências cristãs trazidas pelos portugueses – como na cavalhada – ou ainda referências à escravidão africana – como na congada.

LER IMAGENS

Catherine Krulik/Olhar Imagem

As imagens a seguir representam festas populares tradicionais que fazem parte do patrimônio cultural do Brasil.

Festa do bumba meu boi, em São Luís (MA), 2005.

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História


Andréa D'amato/Samba Photo Delfim Martins/Pulsar Imagens

Catherine Krulik/Olhar Imagens

Grupo Congada de sainha, Uberlândia (MG), 2003. Durante a celebração, é simbolicamente realizada a coroação do rei do Congo.

Apresentação de grupo de maracatu durante o carnaval pernambucano, Recife(PE), 2001.

Desfile do Reisado de Zabelê no Festival da cidade de Olímpia (SP), 2006. As comemorações acontecem entre o Natal e o Dia de Reis (6 de janeiro).

1. Identifique em cada uma das imagens elementos que evidenciam as heranças culturais europeia,

indígena e africana. 2. Procure conhecer a origem de cada uma dessas festas, seus significados e regiões onde são prati-

cadas. Compartilhe com seus colegas as informações que você descobriu. 3. Onde você mora há festas tradicionais? Quais são elas? Você participa delas?

6º ano

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TEMPO E HISTÓRIA Como você viu, algumas práticas culturais permanecem ao longo do tempo, como se fossem um elo entre o passado e o presente de uma sociedade. Porém, em alguns momentos da história, acontecem mudanças que transformam o modo de vida existente e propõem novas maneiras de se comportar, pensar e viver. Esses acontecimentos rompem com o passado e apontam para novidades no futuro. No entanto, diferentes modos de viver convivem em uma mesma época, pois as mudanças não se consolidam igualmente em todos os setores de uma sociedade, nem tampouco do mundo. As mudanças na história acontecem em diferentes ritmos, isto é, elas podem ocorrer de maneira lenta, quase imperceptível para quem as vivencia, ou em um curto espaço de tempo, possibilitando à sociedade rever seus valores e suas práticas. Podem, ainda, acontecer transformações radicais, que produzem rupturas com os modelos do passado. Assim, o tempo todo estamos gerando transformações com ações cotidianas, que alteram não apenas a nossa vida mas a da família, das comunidades que frequentamos, da cidade onde moramos e, por que não, do nosso país e do mundo. Quando estudamos História, não buscamos apenas conhecer o nosso passado. Procuramos principalmente entender o nosso presente. A relação entre o ontem e o hoje é indissociável. Somos o que somos porque temos um passado. Aprender com a história nos ajuda a criar um futuro mais afinado com nossas propostas e nossos desejos. O amanhã depende de decisões e ações no presente. Não há como falarmos de história sem falar de tempo. Ele é uma importante referência. Usamos diversas medidas de tempo para indicar períodos, podendo variar entre segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios, entre outras. Uma maneira de organizar os acontecimentos estudados é representá-los em uma linha do tempo, usando a cronologia. Dessa maneira, localizamos em uma “linha” os fatos selecionados, seguindo uma ordem que vai do mais antigo para o mais recente. Por exemplo, sabemos que a Independência do Brasil, em 1822, aconteceu antes da seleção brasileira de futebol conquistar o pentacampeonato mundial, em 2002. E sabemos que depois desses dois acontecimentos veio a aula de hoje. Portanto, a linha do tempo desses acontecimentos é:

190

1822

2002

Independência do Brasil

Pentacampeonato mundial da seleção brasileira de futebol

História

Hoje


PARA CRIAR

Vamos construir uma linha do tempo? 1. Releia o capítulo e anote todas as datas citadas, indicando a que se referem (por exemplo:

1822 = Independência do Brasil). 2. Organize-as cronologicamente, isto é, da mais antiga para a mais recente. 3. Desenhe uma linha e comece a marcar cada uma das datas selecionadas. Compare a sua linha do

tempo com as construídas por seus colegas. 4. Você pode ampliar essa atividade elaborando uma linha do tempo sobre a sua vida. Para isso,

comece listando os acontecimentos que você considera mais significativos, com suas respectivas datas. Uma sugestão é começar com o seu nascimento. Depois, organize-os em uma cronologia. Desenhe a linha do tempo e localize nela cada umas das datas selecionadas. Assim, você construirá uma breve cronologia da sua história pessoal! CONHECER MAIS

O negro no Brasil: trajetórias e participações

Ilustração digital: Mario Yoshida

África – Político

N O

L

0

730

1 460 km

S

Fontes: Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 45; Atelier de Cartographie. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/sud-soudan-enjeux-p-troliers-etfrontaliers-2010>. Acesso em: 27 jun. 2012.

6º ano

191


Parte dos negros brasileiros de hoje são descendentes de africanos trazidos pelo tráfico negreiro no período em que os portugueses colonizaram o Brasil. Mais adiante, veremos com mais detalhes essa prática que é considerada uma das maiores tragédias da humanidade, já que arrancou homens e mulheres de suas culturas e de seus laços familiares na África para deportá-los à força para a Europa e a América. Apesar de não haver um número exato, estima-se que isso ocorreu com cerca de 40 a 100 milhões de pessoas. Para o Brasil, foram trazidos africanos por meio da rota transatlântica, que transportava pessoas principalmente de três regiões da África: África Ocidental: região onde hoje ficam Senegal, Mali, Níger, Nigéria, Gana, Togo, Benin, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné e Camarões; África Centro-Ocidental: onde hoje situam-se Gabão, Angola, República do Congo, República Democrática do Congo (antigo Zaire) e República Centro-Africana; África Austral: atuais Moçambique, África do Sul e Namíbia. De acordo com o professor Kabengele Munanga, as contribuições dos africanos ao Brasil foram de três ordens: econômica, demográfica e cultural. Por meio do trabalho sem remuneração e submetidos a péssimas condições de vida, os negros escravizados contribuíram para a geração das riquezas que formaram a base econômica do país. Do ponto de vista demográfico, os africanos colaboraram muito para a povoação do território brasileiro. No plano da cultura, como vimos neste capítulo, a presença negra é grande no vocabulário, nas artes, na culinária, nas religiões e no modo de vida em geral.

LER LETRA DE CANÇÃO II

Após refletir sobre os temas tratados neste capítulo, leia um trecho da canção “Sorriso negro”. Sorriso negro [...] Negro é uma cor de respeito Negro é inspiração Negro é silêncio, é luto [...] negro é... a solução Negro que já foi escravo Negro é a voz da verdade Negro é destino é amor Negro também é saudade... (um sorriso negro!) Autor desconhecido. Dona Ivone Lara. Bodas de Ouro. Sony/BMG, 1999.

Com base nos seus conhecimentos, explique porque a letra da música destaca elementos positivos, como “respeito”, “inspiração”, “solução”, “verdade” e “amor” e elementos relacionados à dor, como “silêncio”, “luto”, “escravo” e “saudade”, para caracterizar o sorriso do negro.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Atlas do Brasil THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp, 2009.

Atlas geográfico escolar IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

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História


Capítulo HISTÓRIA

2

Brasil antes e depois de Cabral

L

amartine Babo, em 1934, compôs uma marchinha de Carnaval intitulada “História do Brasil”. Para muitos, ela traduzia o que foi o início da história brasileira. A marchinha diz: Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral. Foi seu Cabral. No dia vinte e dois de abril, dois meses depois do Carnaval.

Será que todos hoje em dia consideram que a nossa história começou há pouco mais de 500 anos, quando os portugueses aportaram no litoral das terras que se tornariam o Brasil?

Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Oscar Pereira da Silva. Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, 1922. Óleo sobre tela, 190 × 333 cm. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo. A representação da chegada dos portugueses na costa brasileira, em 1500, significou por muito tempo a representação do marco inicial de nossa história. Você concorda que a história do Brasil começa aí?

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RODA DE CONVERSA

Você já ouviu falar no “descobrimento do Brasil”? O que você sabe sobre esse episódio da nossa história? E seus colegas, o que será que eles pensam sobre o assunto? Para vocês, quando começa a história do Brasil? Façam uma roda para conversar sobre o passado brasileiro. Procurem apresentar as informações conhecidas e os motivos de concordarem ou não com elas.

OS EUROPEUS ENCONTRARAM NOVAS TERRAS Por muito tempo foi divulgada a ideia de que o “descobrimento” de nossas terras por Portugal, em 22 de abril de 1500, foi o marco inicial da história do Brasil. Será mesmo? É importante nos questionarmos sobre esse tema, pois a história do nosso país é muito mais antiga do que alguns imaginam. Antes da chegada dos portugueses, o que existia por aqui? Você sabe quem eram os habitantes da terra e como eles viviam? O que mudou na vida dessa população após a chegada dos europeus? Vamos, nas páginas seguintes, conhecer um pouco dessa história.

LER TEXTO JORNALÍSTICO I

Os jornais do país acompanharam, ao longo do ano de 2008, o processo de contestação da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A demarcação iniciou-se em 1997, com estudos sobre a história da ocupação desse território por indígenas e não indígenas. O texto homologado em 2005 pelo Poder Executivo definiu uma reserva contínua GLOSSÁRIO Demarcação: determinação de fronde 1,7 milhão de hectares destinada aos povos indígenas da região. Os teiras ou limites de espaço por meio fazendeiros que se instalaram na área há mais de 30 anos contestaram a de marcos ou sinais naturais. Homologado: aprovado, reconhecidecisão, que os obrigava a se retirar do território da reserva. Leia as justido oficialmente. ficativas dos grupos envolvidos nessa polêmica. A destruição como desforra O Brasil inteiro acompanhou nos últimos tempos a saga do conflito envolvendo índios e arrozeiros que disputavam a posse da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A disputa trouxe à tona todos os argumentos contrários ao reconhecimento dos direitos indígenas no País, como por exemplo: há muita terra para pouco índio; terras indígenas em faixa de fronteira ameaçam a soberania nacional; índios precisam ser integrados à sociedade nacional e suas terras utilizadas em prol do desenvolvimento econômico. O epicentro desse debate se deu no Supremo Tribunal Federal (STF), que analisava pedido do governo de Roraima, dos arrozeiros e de políticos locais para que a demarcação daquela terra indígena fosse anulada. Os autores da ação argumentavam que os índios, quando muito, teriam direito a ficar confinados em pequenas ilhas de terras, para que a maior parte da extensão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol fosse liberada para a ocupação, legitimando-se assim a posse daqueles que haviam invadido o território, usurpando direitos indígenas. 194

História


Em março deste ano, o STF decidiu em favor dos índios, determinando prazo para a desocupação da área. A decisão pôs uma pá de cal sobre os argumentos contrários, reconhecendo que a demarcação de terras indígenas é um imperativo nacional decorrente da necessidade de o País preencher seus hiatos civilizatórios, celebrando pactos de paz com segmentos sociais que historicamente tiveram seus direitos negados. O relator do processo, ministro Carlos Ayres Britto, afirmou em seu voto que a sociedade, de quem se exige solidariedade e humildade, precisa entender que seu convívio com os índios é uma estrada de mão dupla, que beneficia todos. Para o ministro, é a humildade que “refreia e dissipa de vez todo ímpeto discriminatório ou preconceituoso contra os indígenas, como se eles não fossem os primeiros habitantes de uma Terra Brasilis cuja integridade física tão bem souberam defender no curso da nossa história de emancipação política...”. [...] ARAÚJO, Ana Valéria. “A destruição como desforra”: O Estado de S. Paulo, 3 maio 2009. Disponível em: <www.socioambiental.org/inst/esp/raposa/?q=node/548>. Acesso em: 4 set. 2012.

1. Que grupo é contra a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol? Que argumentos

apresentam contra os direitos indígenas?

2. Em que fundamentos se baseou a defesa da desocupação da reserva indígena?

CONHECER MAIS

Reserva indígena Segundo a Constituição Federal (conjunto de leis do nosso país), são consideradas terras indígenas as “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para as suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bemestar e necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições” (Parágrafo 1o do artigo 231, da Constituição Federal). As terras destinadas aos povos indígenas são demarcadas pelo Poder Executivo e, embora os índios detenham o “usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos

rios e dos lagos” existentes em suas terras, elas são um patrimônio da União. (Parágrafo 2o do artigo 231). A demarcação das terras indígenas tem como objetivo garantir o direito dos povos indígenas à terra. A demarcação estabelece a extensão da área destinada aos índios e deve assegurar a proteção dos limites, impedindo sua ocupação por não índios. As terras indígenas, segundo o Estatuto do Índio (1973), podem ser definidas como: reserva indígena; parque indígena; colônia agrícola indígena; território federal indígena. Reserva indígena é uma área destinada a servir de hábitat a grupos indígenas, com os meios suficientes à sua subsistência (artigo 27 do Estatuto do Índio).

O Estatuto do Índio. Disponível em: <www.funai.gov.br/quem/legislacao/estatuto_indio.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

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OS ANTEPASSADOS DOS POVOS INDÍGENAS ATUAIS A história das terras que se tornaram o Brasil é muito mais antiga e não começou apenas há cerca de 500 anos, com a chegada dos portugueses. Muitos povos já viviam por aqui há milhares de anos. Denominados pelos europeus genericamente de “índios”, os habitantes do continente americano ocupavam diferentes áreas e desenvolveram culturas bastante distintas. Usamos a expressão “povos pré-colombianos” para os povos que viviam aqui na América antes do “descobrimento” desse continente pelos europeus, no final do século XV. Para os povos que viviam no território que depois seria o Brasil, o termo usado é “pré-cabralinos”. Qual a origem dessas denominações? O prefixo “pré” indica algo que vem antes. Assim, “pré-colombiano” indica as populações que se desenvolveram antes da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, ao continente americano. Já “pré-cabralino” refere-se às populações que habitavam especificamente nosso território antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Colombo e Cabral eram navegadores europeus e suas viagens marítimas marcaram uma época de conquistas de novas terras. Há mais de 10 mil anos, já havia ocupação humana no território hoje brasileiro. Esses antigos povos viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos, mel, moluscos e raízes. Seus instrumentos eram feitos de pedras e ossos. Alguns deles desenvolveram a agricultura e plantavam feijão, milho, cará, mandioca e amendoim, entre outros alimentos típicos do continente americano. As populações que plantavam também desenvolveram utensílios de cerâmica para poder armazenar seus alimentos. Esses povos pré-cabralinos não desenvolveram a escrita. Suas sociedades transmitiam seus conhecimentos pela oralidade, isto é, os mais velhos contavam suas histórias e tradições para as gerações mais novas. Como sabemos tanto sobre esses povos se eles não deixaram nada escrito? Além dos documentos escritos (como contratos, testamentos, relatos, cartas etc.), existem outros tipos de documentos que fornecem informações sobre o modo de vida de antigas sociedades. Por exemplo, há documentos visuais (como pinturas, desenhos, fotografias etc.), documentos orais (como depoimentos), documentos sonoros (como músicas e ritmos) e documentos da cultura material (como objetos, ruínas e monumentos). Essa diversidade de registros produzidos por diferentes grupos sociais em épocas distintas são as fontes históricas usadas pelos historiadores no seu trabalho de resgate da história. Além do historiador, o arqueólogo também se dedica ao estudo do modo de vida de diferentes povos, usando, por exemplo, documentos da cultura material. Por meio de escavações, ele busca encontrar ruínas de aldeias, depósitos de ossadas e alimentos, vestígios de ocupações antigas que permitam a reconstrução da vida cotidiana desses povos. Os locais desse tipo de investigação são chamados sítios arqueológicos. 196

História


Palê Zuppani/Pulsar Imagens

Outro tipo de documento produzido pelos primeiros povos do Brasil são as pinturas rupestres. São desenhos e pinturas feitas nas paredes das cavernas e em outros espaços. Esses povos pintavam paredes inteiras, usando carvão e pigmentos naturais, como sementes, terra e sangue. As pinturas representavam formas geométricas, plantas, animais e cenas do cotidiano dessas populações.

Pintura rupestre no Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), 2010. O parque abriga centenas de sítios arqueológicos. Os registros nas rochas representam cenas do dia a dia dos grupos étnicos que habitavam essa região há milhares de anos, bem como imagens de animais.

Eduardo Marques/Tempo Editorial

Um sítio arqueológico bastante peculiar é o sambaqui (palavra de origem tupi que significa “monte de conchas”). Ao longo dos séculos, os sambaquis foram se formando a partir de conchas de moluscos consumidos por povos que se instalavam temporariamente no litoral ou às margens de rios. Os mais antigos sambaquis do Brasil têm cerca de 8 mil anos e alguns chegam a medir 30 metros de altura. Os povos dos sambaquis desapareceram por volta de 2 mil anos atrás. Hoje, esses sítios são protegidos por lei, pois são um patrimônio arqueológico do Brasil. No entanto, durante séculos eles foram depredados, tendo suas conchas retiradas e moídas para servirem de argamassa na construção de casas. Com essa prática, muito se perdeu sobre a história pré-cabralina.

Conchas no sambaqui Garopaba Sul, em Jaguaruna (SC), 2011.

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LER TEXTO JORNALÍSTICO II

O texto a seguir revela os resultados de uma pesquisa realizada há alguns anos na região amazônica. Com base em vestígios de antigas ocupações encontrados nos sítios arqueológicos, os pesquisadores apresentaram hipóteses sobre os povos que habitavam nosso território antes da chegada dos portugueses. Leia o texto e responda às questões. Um modelo de ocupação sustentável da Amazônia Estudo descreve sociedade complexa pré-colombiana estabelecida na região É possível que populações com complexos padrões de desenvolvimento se estabeleçam na Amazônia sem devastar o meio ambiente. Isso é o que revelam legados deixados por uma civilização pré-colombiana que chegou à região por volta do século IX. Relatos indígenas e vestígios arqueológicos mostram como esse povo se organizava e apontam um modelo de ocupação sustentável da Amazônia praticado há mais de cinco séculos. A estrutura dessa civilização amazônica foi descrita por um grupo interdisciplinar de pesquisadores brasileiros e americanos, que contou com a participação de dois índios da tribo dos kuikuro, localizada no Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso. [...] Os povoamentos pré-colombianos revelaram uma organização surpreendente: as aldeias eram densamente povoadas, se interligavam em estrutura de rede, por meio de estradas largas, longas e retas. [...] Em um dos maiores sítios encontrados, a praça central era circundada por duas valetas de proteção e uma estrada com cerca de 5 km de extensão ligava duas aldeias. [...] A pesquisa revela uma Amazônia marcada pela ação humana, antes da chegada dos europeus ao país. “A ideia da floresta virgem não funciona muito bem”, argumenta [o etnólogo] Carlos Fausto. “Nas áreas estudadas, a floresta sofreu a ação de uma ocupação humana diferente da nossa, que se mostrou muito mais sábia na relação com o ambiente. Havia ali GLOSSÁRIO Legado: qualquer coisa, conhecimento ou sociedades politicamente complexas e detentoras de um bem material ou cultural transmitido às conhecimento que devemos partilhar, pois precisamos gerações seguintes. de alternativas para a sustentabilidade e desenvolvimento da Amazônia.” ANDÉREZ, Fábia. 19 set. 2003 (atualizado em 2 out. 2009). Instituto Ciência Hoje Online. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/arqueologia-e-paleontologia/ um-modelo-de-ocupacao-sustentavel-da-amazonia/?searchterm=pr%C3%A9-colombianos>. Acesso em: 25 abr. 2012.

1. Com base nos vestígios encontrados nos sítios arqueológicos, como os pesquisadores descreve-

ram a vida desses povos? 2. O que as pesquisas revelaram sobre a ocupação do território brasileiro? 3. Segundo os pesquisadores, o que podemos aprender com essas descobertas?

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História


DIVERSIDADE CULTURAL INDÍGENA Estima-se que todo o território hoje pertencente ao Brasil já estava povoado por diversos grupos étnicos há 5 mil anos. Cada povo desenvolveu um modo de vida específico, com suas tradições, lendas, técnicas, organização social e política, músicas, danças, crenças, seus rituais e idiomas. Quando os portugueses aportaram nas terras que hoje formam o Brasil, encontraram uma população indígena de aproximadamente 3 milhões de habitantes, pertencentes a mais de mil etnias. Na língua tupi, esse território era conhecido como Pindorama, que significa “terra das palmeiras”. Para os portugueses, os indígenas pareciam todos iguais, mas a diversidade cultural indígena pode ser percebida ainda hoje. Por exemplo, no Brasil atualmente são faladas quase 180 línguas indígenas. Além disso, a organização das aldeias segue diferentes modelos, o que indica tal diversidade. As aldeias dos Parakanã, por exemplo, são tradicionalmente constituídas de três espaços: uma grande casa coletiva, as roças e a habitação para as reuniões masculinas. Já as aldeias dos Kuikuro são circulares, com mais de vinte casas ao redor e, ao centro, uma casa onde os homens se reúnem para contar histórias, fazer artesanato e tomar decisões de interesse coletivo. Para os povos indígenas, o trabalho é dividido entre os membros das comunidades. Aos homens cabem a caça, a guerra e a produção de armas e ferramentas. As mulheres são responsáveis por filhos, alimentação, produção de cerâmica e atividades agrícolas. As sociedades baseiam-se no princípio da igualdade social. Por isso, a produção é repartida entre todos. A terra é propriedade coletiva, assim como os instrumentos de trabalho. Os indígenas trabalham o necessário para a sobrevivência da tribo, aproveitando os recursos naturais, sem o objetivo de acumular riquezas. Sua economia é de subsistência. A diversidade cultural dos povos indígenas foi ameaçada durante séculos pela colonização portuguesa e pelo desejo de conquistar territórios não apenas fisicamente, mas também política e culturalmente. Apesar de a resistência indígena não ter impedido que muitos povos fossem aniquilados ou aculturados, ela garantiu que muitos aspectos dessas diferentes culturas sobrevivessem até os dias de hoje.

ENCONTROS E DESENCONTROS Como será que aconteceu o primeiro encontro entre indígenas e portugueses? Os portugueses “descobriram” o Brasil ou vieram até aqui já sabendo da existência dessas terras? Qual era o projeto de Portugal para suas posses na América? Para responder a essas questões, precisamos entender o contexto histórico daquele período, isto é, o que estava acontecendo na Europa no final do século XV que proporcionou, na visão do europeu, a descoberta de um novo mundo. Vimos que há milhares de anos diversos povos viviam na América. No entanto, os europeus desconheciam essas terras. Para eles, o mundo restringia-se a Europa, Ásia

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e parte da África. Naquela época não havia os meios de comunicação e transporte disponíveis como hoje. Viajar, percorrerendo longas distâncias, era difícil e perigoso. No entanto, durante o século XV, os reis de Portugal e da Espanha financiaram navegadores que tinham a missão de descobrir novas rotas marítimas para locais de interesse comercial que ficavam no Oriente, como a Índia e a China. Nessas regiões, havia produtos muito desejados pelos europeus: CONHECER MAIS as especiarias, as sedas e as porcelanas chinesas e Mercantilismo outros. As especiarias eram temperos usados para Entre os séculos XV e XVIII, vários atenuar o sabor podre das carnes consumidas, pois reis europeus promoveram o enriquenão havia meios eficientes para conservá-las ducimento de seus Estados. Para eles, a riqueza era medida pela quantidade de rante longos períodos. Assim, comercializavam-se metais preciosos acumulados em seu o gengibre, a canela, o cravo, a pimenta-do-reino território. Para alcançarem esse objetivo, e a noz-moscada. Essas especiarias, de uso corrios reis europeus estabeleceram um conjunto de práticas comerciais, isto é, de queiro atualmente, eram muito raras e caras na maneira que favorecessem a entrada de Europa. Por isso, os navegadores que conseguiam moedas de ouro e prata em seus mercomprá-las no Oriente e vendê-las nos mercados cados. Por exemplo, eles precisavam proteger as suas atividades manufaeuropeus ficavam muito ricos. tureiras, por isso taxavam os produtos Nessa busca por novos caminhos marítimos estrangeiros para que ficassem mais para o Oriente, o mundo dos europeus amplioucaros que os nacionais. Assim, a população comprava a própria produção -se. Em 1492, o navegador genovês Cristóvão e não dependia de outros produtores. Colombo, financiado pelo rei espanhol, chegou Os governantes tinham que garantir a um lugar desconhecido até então para os eurouma balança comercial favorável, isto é, vender mais do que comprar, porpeus. Esse novo mundo foi posteriormente chatanto estimulavam uma exportação mado de América. (venda para o exterior) maior que a imOito anos após a viagem de Colombo, o naveportação (compra de produtos estrangeiros). As colônias deveriam fornecer gador português Pedro Álvares Cabral dirigiu-se e produzir produtos que gerassem ao continente americano, representando o rei de riquezas (metais e pedras preciosas, Portugal. Sua missão era tomar posse oficialmente bem como matérias-primas e produtos agrícolas) para as suas metrópode parte do continente recém-encontrado pelos esles, isto é, para seus conquistadores. panhóis. A América havia sido dividida, em 1494, Todas essas decisões relacionadas ao comércio visavam o enriquecimento entre Portugal e Espanha por um acordo diplodos Estados europeus, como Portugal mático, o Tratado de Tordesilhas. Portanto, o rei e Espanha. Esse conjunto de práticas português já sabia da existência de um território e ideias é chamado de mercantilismo. além-mar. O suposto “descobrimento” do Brasil na verdade foi o início de uma ocupação planejada, cujo projeto de colonização incluía a dominação e a exploração das riquezas dessas terras. O mapa a seguir indica a rota percorrida pela esquadra de Pedro Álvares Cabral, nessa primeira viagem ao Brasil, em 1500. O local de partida foi Lisboa, capital de Portugal, na Europa. Os conquistadores não sabiam exatamente como eram as terras que descobririam, mas sabiam que elas ficavam do outro lado do oceano Atlântico. A viagem de Cabral não terminou por aqui; o destino final foi a região das chamadas Índias, local de comércio das especiarias. 200

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Ilustração digital: Mario Yoshida

O caminho da esquadra de Cabral em 1500

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1 110

2 220 km

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Fonte: Veja na História. Disponível em: <veja.abril.com.br/historia/descobrimento/pedro-alvares-cabral.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2012.

Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Em 22 de abril de 1500, os portugueses chegaram ao atual litoral sul da Bahia. Permaneceram nessa região por apenas dez dias e estabeleceram os primeiros contatos com um povo indígena, os Tupiniquim. Naqueles dias, realizaram a primeira missa católica do Brasil e ergueram uma cruz, que simbolizava a conquista portuguesa daquelas terras.

Victor Meirelles. A primeira missa no Brasil. Óleo sobre tela, 268 × 356 cm, 1860. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Esta tela representa uma das primeiras ações portuguesas no território recém-descoberto do Brasil. Segundo os registros de Pero Vaz de Caminha, a primeira missa foi rezada em 26 de abril de 1500, no domingo de Páscoa. A religião católica foi trazida pelos portugueses e tornou-se um dos pilares da dominação cultural.

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LER DOCUMENTO

A vinda dos portugueses ao Brasil e o primeiro contato com os indígenas foram registrados em documentos escritos por integrantes da tripulação das caravelas da expedição de Pedro Álvares Cabral. Um desses registros é a carta destinada ao rei de Portugal D. Manuel, escrita por Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Cabral, em 1° de maio de 1500, informando sobre a nova terra. Leia trechos selecionados desse documento e responda às questões a seguir. Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel I, [...] A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. [...] Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não têm coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação GLOSSÁRIO deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de Batéis: pequenas embarcações. fazer. [...] Vergonhas: partes íntimas. CAMINHA, Pero Vaz.Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2012.

1. Como os europeus caracterizaram os indígenas que conheceram nesse primeiro contato na terra

conquistada? 2. Que diferenças existiam entre o modo de vida dos portugueses e do povo indígena da época?

Transcreva trechos do documento que comprovem essas diferenças. 3. Esse encontro entre as duas culturas foi marcado por uma relação de estranhamento? Justifique.

EXPLORAÇÃO DAS RIQUEZAS DA TERRA Nesse primeiro contato, não foram encontrados nas terras que hoje formam o Brasil sinais de metais preciosos, como ouro e prata, o que desestimulou uma ocupação imediata do território. A primeira atividade de exploração dos recursos naturais no Brasil iniciou-se em 1502, quando os lusitanos começaram a extrair o 202

História


pau-brasil, também chamado pau-de-tinta. Com a madeira dessa árvore era produzida uma tintura vermelha que dava uma coloração púrpura aos tecidos que era muito apreciada nas vestimentas europeias. A extração do pau-brasil foi intensa no século XVI e manteve-se reguGLOSSÁRIO lar até o século XIX, o que acabou por desmatar quase toda a área litorânea Secular: relativo a século, que é do nosso país. Uma das consequências dessa prática secular foi a diminuimuito antigo, ção drástica da área de Mata Atlântica, restando em 2012, segundo a ONG que dura muitos anos. SOS Mata Atlântica, cerca de 8% da vegetação original.

Ilustração digital: Maps World

Áreas remanescentes de pau-brasil

N O

L

0

335

670 km

S

Fonte: BUENO, Eduardo. Pau-Brasil. São Paulo: AxisMundi, 2002, p. 254.

A extração do pau-brasil contou com a participação inicial dos indígenas. Eles cortavam e transportavam as toras de madeira até as feitorias portuguesas (fortificações construídas no litoral) e, em troca, recebiam objetos como facas, GLOSSÁRIO machados e espelhos – produtos manufaturados que valorizavam. Essa relação Manufaturado: produto fabricado de troca de mercadorias sem o uso de moedas é chamada de escambo e foi a manualmente. primeira atividade econômica desenvolvida pelos portugueses no Brasil. 6º ano

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Logo essa “cooperação” entre portugueses e indígenas tornou-se conflituosa, pois havia entre eles diferentes concepções de riqueza e de trabalho. Enquanto os portugueses, seguindo as práticas mercantilistas, estavam interessados em enriquecer com a venda do pau-brasil nos mercados europeus, os povos indígenas pretendiam trocar a madeira pelos objetos de que necessitavam, o que logo foi conseguido. No entanto, os comerciantes europeus não queriam parar de carregar suas caravelas com o pau-brasil e, para isso, precisavam do trabalho indígena. Como os indígenas passaram a se recusar a extrair as árvores, os portugueses deram início à escravização dos povos que habitavam o litoral. Ameaças de morte, aprisionamento e outras agressões foram usadas para forçar os indígenas a trabalhar para os colonizadores lusitanos. A riqueza conseguida com o comércio do pau-brasil estava aquém das pretensões portuguesas. O Brasil, nessa época, era uma colônia, o que significa que não tinha autonomia. Assim, estava subordinado às regras impostas pela metrópole portuguesa. Para ganharem ainda mais, o rei de Portugal determinou que as terras da colônia deveriam produzir riquezas, como produtos e matérias-primas que pudessem ser comercializados na Europa. O território brasileiro foi dividido em grandes propriedades, que foram doadas a portugueses para que colonizassem e plantassem cana-de-açúcar. Com essa ação, também buscava-se proteger o território de ataques estrangeiros e fazer os investimentos necessários ao desenvolvimento local. Essas terras foram chamadas de capitanias hereditárias e tinham esse nome porque seriam herdadas pelos filhos dos proprietários. Essa atitude revelou o total descaso dos portugueses em relação aos povos nativos, já que os europeus não reconheceram o Brasil como território indígena, mas como uma terra a ser conquistada e, portanto, própria para ser explorada. A partir dos anos 1530, os colonizadores começaram a implantar os engenhos, estabelecimentos agrícolas para a produção de açúcar. Naquela época, o açúcar era um produto muito apreciado na Europa e comercialmente muito rentável aos seus produtores. Para trabalhar nessa primeira etapa de implantação dos engenhos, centenas de indígenas foram escravizados. CONHECER MAIS

Engenhos de açúcar Os engenhos de açúcar foram uma das principais unidades produtivas do Brasil do período colonial (15001822). Eles eram grandes fazendas especializadas na produção açucareira. Por isso, abrigavam um complexo de instalações necessárias à produção. Havia o canavial (plantação da cana-de-açúcar), a casa-grande (moradia do senhor de engenho e sua família), a senzala (casa dos escravos), a capela (para as práticas religiosas), a casa dos agregados (funcionários livres, como o capataz e o mestre de açúcar), a moenda (maquinário para moer a cana e retirar seu caldo, a garapa), a casa de purgar (local onde a garapa era fervida e apurada, retirando-se as impurezas e colocada em formas) e o local do depósito dos pães de

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História

açúcar (açúcar cristalizado e enformado, que depois seria separado de acordo com as várias qualidades para ser exportado). Os engenhos foram os grandes produtores de riqueza, tanto para Portugal (que o vendia a preços altos nos mercados europeus) como para os proprietários (senhores de engenho), descendentes dos colonizadores. A força de trabalho era a escrava, fundamentalmente a de escravos africanos. A região de maior produção de açúcar foi o Nordeste, onde se concentravam a maioria dos engenhos. Hoje, os engenhos foram substituídos pelas usinas, grandes indústrias que produzem açúcar e outros derivados da cana, como o etanol. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de açúcar.


Teve início, assim, a ocupação portuguesa. Vários povos indígenas, porém, não aceitaram essa condição imposta e resistiram à dominação, dando origem a guerras entre colonizadores e indígenas. Milhares de indígenas morreram nos confrontos ou no contato com os europeus. Os povos indígenas não possuíam armas de fogo, não tinham resistência às doenças dos brancos (como varíola, gripe, tuberculose e sarampo) e muitos foram obrigados a abandonar seu antigo território para fugir da dominação.

PARA REFLETIR

Você sabe o que é uma charge? É um tipo de desenho que geralmente critica com humor e ironia algum aspecto da realidade. Seus autores usam imagens e textos para criar uma situação que nos leve a refletir e repensar comportamentos e/ou situações atuais. Observe a charge a seguir, do cartunista Angeli, e responda às questões:

Folha de S.Paulo, 24 fev. 2005. Opinião.

1. A que épocas podem ser relacionados os dois momentos representados na charge? 2. A charge denuncia qual problema? 3. Na sua opinião, a charge retrata uma situação da realidade? Converse com seus colegas e escreva

as conclusões a que a turma chegou sobre a charge.

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DAS ALDEIAS PARA AS CIDADES

Antônio Gaudério/Folhapress

A população indígena cresceu nas últimas décadas. Entre os censos realizados pelo IBGE em 1990 e 2010, o número de habitantes indígenas cresceu de 294 131 para 817 963. Esse salto significativo, porém, não se deveu ao número de nascimentos, mas principalmente ao autorreconhecimento. Muitos indígenas que vivem em centros urbanos têm optado por se declararem como tal. Desde o período da colonização, povos indígenas têm entrado em contato com pessoas não indígenas, vindas de outras culturas. Muitos deles, por motivos diversos, passaram a viver fora das suas comunidades originais, mas nem por isso perderam sua identidade. A visão que os não indígenas têm dos indígenas é muito estereotipada, isto é, uma imagem baseada em características repetidas, que acabaram criando um modelo-padrão para esses povos. Muitos ainda pensam que os indígenas vivem todos como viviam seus antepassados. Por isso, ainda relacionam o modo de vida deles com as aldeias nas florestas. No entanto, cada vez mais cresce a população indígena urbana. Viver nas cidades, frequentar escolas e universidades, trabalhar em diferentes setores da economia, nada disso impede alguém de se autoidentificar como indígena. Para os que lutam pela preservação de suas identidades e culturas, os indígenas são aqueles que reivindicam sua relação histórica e social com os grupos que aqui estavam antes da colonização europeia. A diversidade de culturas indígenas sempre existiu e indica que não há apenas um modo de ser. Cada povo tem sua identidade, independentemente de como fala, constrói suas moradias, produz Originárias de Pernambuco, algumas famílias Pankararu vivem em um conjunto habitacional seu alimento, pratica seus popular no Real Parque, na zona sul da capital de São Paulo, 2006. Os Pankararu praticam seus rituais como forma de resistência e valorização de sua cultura. rituais, ou seja, de como vive.

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História


LER GRÁFICOS

População residente autodeclarada indígena, por situação de domicílio Brasil – 1991/2010

Planeta Terra design

O gráfico a seguir mostra a situação da população indígena de acordo com o local onde vive. Leia as informações nele representadas para responder às questões.

1 000 000

População

750 000 500 000 250 000 0

Total

Situação de domicílio

Urbana 1991

Rural 2000

2010

Fonte: IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br/indigenas/graficos.html>. Acesso em: 23 abr. 2012.

1. Sobre o total da população indígena, o que aconteceu durante as décadas indicadas?

2. No ano 2000, onde vivia a maioria da população indígena?

3. É correto afirmar que a população indígena atualmente está domiciliada mais em áreas urbanas

ou em áreas rurais? Justifique.

4. Qual a tendência apontada pelos dados do Censo 2010 com relação à área de domicílio dos

indígenas?

6º ano

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SABERES TRADICIONAIS Os povos indígenas foram tratados pelos colonizadores lusitanos como GLOSSÁRIO Aculturação: seres de cultura inferior. Ao deparar com uma cultura tão diferente da sua, os processo de portugueses responderam com intolerância, não aceitando as tradições indímodificação cultural de genas, julgando-as de acordo com seus padrões culturais. Algumas práticas indivíduo, eram inaceitáveis para os portugueses, como o fato de os indígenas andarem grupo ou povo que nus, praticarem rituais desconhecidos dos europeus, terem organizações sose adapta a outra cultura ciais e econômicas distintas e não acreditarem no deus cristão. Por essas e ou dela retira outras características, as culturas indígenas foram consideradas selvagens. traços significativos. Hoje defendemos o princípio da convivência e do direito à diversidade, Lusitano: segundo o qual cada povo deve viver de acordo com suas tradições e seus português. costumes. O fato de um povo não viver da mesma maneira que outro, de ter valores e práticas diferenciados, não significa que ele seja mais ou menos desenvolvido, que seu modo de vida seja melhor que o de outros. No entanto, naquela época (e em alguns casos até hoje) não se pensava assim. Por isso, os europeus decidiram impor sua cultura aos povos indígenas. De acordo com esse pensamento, ao lhes ensinar a língua portuguesa e a prática da religião católica, os portugueses dariam aos indígenas valores culturais melhores e a possibilidade de salvação da alma. Essa era uma das funções dos padres jesuítas, que começaram a chegar ao Brasil a partir de 1549. Esse foi o início de um longo e conturbado processo de aculturação. Aqueles que resistiam eram considerados inimigos dos colonizadores europeus. Muitos indígenas foram levados a aldeamentos, para serem catequizados pelos jesuítas. Lá, teriam de aprender os fundamentos da religião católica, vestir roupas e abdicar de seus rituais tradicionais. Os aldeamentos, também chamados de missões ou reduções jesuíticas, eram aldeias construídas e dirigidas pelos religiosos, com a função de reunir os indígenas para a catequese e o aprendizado dos padrões culturais do colonizador. Se, em parte, o contato entre as culturas indígenas e europeia resultou na destruição parcial do modo de vida dos povos da América, por outro lado também resultou na criação de uma nova cultura, por meio da qual os europeus que habitavam essas terras também se transformaram. Costumes indígenas, como o hábito de dormir em redes, fazer queimadas nas roças, tomar banho diariamente, comer mandioca, usar técnicas de pesca artesanal, por exemplo, foram incorporados ao nosso cotidiano. Além disso, centenas de palavras indígenas passaram a fazer parte do idioma falado no Brasil. Atualmente tem sido muito valorizado o conhecimento indígena acerca das plantas e dos animais. Tal conhecimento milenar vem sendo cada vez mais disputado por indústrias farmacêuticas, de cosméticos e alimentos. Esse “saber tradicional” dos povos indígenas, bem como de comunidades locais (seringueiros, agricultores, pescadores, ribeirinhos, entre outros), oferece uma contribuição sig-

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História


nificativa para as pesquisas científicas e tecnológicas. Há uma “corrida” de grandes investidores para controlá-los, pois o domínio dessas informações pode gerar novos produtos, que trarão lucros com sua venda. Por outro lado, as comunidades indígenas procuram, cada vez mais, organizar-se para proteger suas tradições e valorizar sua cultura e seus saberes.

LER TEXTOS

Leia os textos a seguir e responda às questões. Medida Provisória tem levado empresas brasileiras a suspenderem projetos de pesquisa Preocupada com a quase impossibilidade das empresas de acessar o patrimônio genético nacional, ou seja, a biodiversidade e as riquezas naturais do país, a Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina) está desenvolvendo um projeto com o objetivo de reformular a Medida Provisória (MP 2 186/01). Esta não só regula o acesso ao patrimônio genético como também a repartição de benefícios com as comunidades locais que detêm o conhecimento e auxiliam os pesquisadores na descoberta. A MP tem levado empresas brasileiras e universidades a suspenderem projetos de pesquisa com material da biodiversidade do país, devido à insegurança jurídica. Não há meios para se obter autorização para o acesso ao patrimônio genético em tempo hábil para desenvolver as inovações sem perder mercado. [...] Segundo a Gerente de Biodiversidade e Propriedade Intelectual da Abifina, Ana Claudia Oliveira, a legislação de acesso ao patrimônio genético e conhecimento tradicional (MP 2 186-16/01) tem gerado uma série de entraves para universidades, centros de pesquisa e empresas. Os principais entraves são: falta de mecanismos de regularização; multas desproporcionais, atrasos e aumento de custo em P&D [pesquisa e desenvolvimento], insegurança jurídica, incerteza no modelo de negócio e incerteza sobre futuras modificações na legislação. [...] Atualmente, há uma quantidade considerável de componentes da biodiversidade brasileira objetos de pesquisas no exterior desenvolvidas a partir de sementes, plantas, chás, extratos, óleos, ceras, resinas, essências e tantos outros produtos que tenham em sua composição componentes da biodiversidade brasileira e sejam objetos de exportação. Este fato indica a inconsistência do marco regulatório vigente: se por um lado impõem elevados custos de transação às universidades, instituições públicas de pesquisa e às empresas brasileiras, por outro não garante o acesso controlado nem a repartição de benefícios das pesquisas realizadas fora do país. [...] Os principais entraves referentes à Repartição de Benefícios apresentados pela Gerente da entidade foram a identificação de quem é o representante legal da comunidade local onde foi feita a coleta, a definição da comunidade como única detentora do conhecimento tradicional, os detalhamentos exigidos no Acordo GLOSSÁRIO de Repartição de Benefícios com a comunidade local, e o risco de ter o processo de desenvolvimento do produto obstado em decorrência de reivindicação de obstado: dificultado. direitos por outras comunidades alheias ao local de coleta e do acesso ao patrimônio genético.

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[...] De acordo com Ana Claudia Oliveira, as principais ações do Governo na área de Patrimônio Genético com Conhecimento Tradicional Associado deveriam ser a elaboração de uma Lista Positiva de Conhecimentos Tradicionais Difusos no País e o Mapeamento das comunidades tradicionais existentes: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras e demais comunidades locais detentoras de conhecimento tradicional associado. Ana Claudia Oliveira, Gerência de Biodiversidade e Propriedade Intelectual (Gebio) da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina).

1. Que parcerias o texto apresenta?

2. Segundo o texto, quais são os entraves às pesquisas com base em conhecimentos tradicionais?

MP 2 186/01 A MP [Medida Provisória], que regulamenta o artigo 225 da Constituição Federal e dispositivos da Convenção sobre Diversidade Biológica, trata dos seguintes temas: acesso ao patrimônio genético existente no território nacional, na plataforma continental e na zona econômica exclusiva para fins de pesquisa científica; desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção; acesso e proteção ao conhecimento tradicional associado; repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da exploração do patrimônio genético; e acesso e transferência de tecnologia para a conservação e a utilização da diversidade biológica. Disponível em: <www2.camara.gov.br/agencia/noticias/22234.html>. Acesso em: 7 ago. 2012.

3. Sobre que preocupação governamental trata a Medida Provisória citada?

4. Pesquise sobre as últimas resoluções governamentais aprovadas a respeito do tema. Houve altera-

ções na MP citada? Quais?

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História


5. Você conhece e/ou consome algum produto feito à base de plantas ou ervas? Quais? São indus-

trializados ou artesanais?

6. Você e seus colegas pertencem a uma comunidade que detém saberes tradicionais? Quais? Após

responder, discuta com o grupo a importância de tais conhecimentos e tradições.

CONHECER MAIS

As culturas africanas O império de Mali estabeleceu-se no século XIII, após a conquista de Gana. Abrangeu as terras do antigo império, porém se estendeu ainda mais, do litoral ao atual limite leste de Mali. Até o século XIV, esse foi o império mais poderoso da África, em razão da riqueza trazida pelo ouro e pelo domínio das vias transaarianas (rotas comerciais pelo deserto do Saara). A organização política de Mali era complexa: o imperador realizava grandes audiências públicas em seu palácio com a participação de soldados e músicos em um espetáculo grandioso. Destaca-se ainda a cultura iorubá, a partir do século XI, na região da atual Nigéria. Caracterizada por dezenas de cidades – algumas delas com mais de 20 mil habitantes –, tinha Ifé como centro sagrado. Era lá que residia o chefe religioso Oni. Do ponto de vista político, os Iorubá não tinham unidade, cada reino era independente, embora todos eles tivessem a mesma cultura, língua e religião. A África foi ainda Busto do rei Ifé, bronze, séc. berço de muitas outras XII-XIV. culturas grandiosas.

Werner Forman Archive/ImagePlus

No século XVI, quando os portugueses iniciaram o tráfico de africanos para o Brasil, a África abrigava uma diversidade de reinos, impérios, cidades-estados e formas políticas baseadas no parentesco (como chefias, clãs, linhagens etc.). Nesse sentido, quando falamos sobre a origem dos africanos trazidos para cá, estamos nos referindo a muitas culturas e histórias. Não existe, e nunca existiu, uma unidade política do continente africano. Algumas das mais antigas e complexas organizações sociais da humanidade se localizaram na África. Normalmente, ouvimos muito sobre o Egito, suas pirâmides e seus faraós. Porém, o reino de Kush, vizinho e contemporâneo ao Egito, é pouco estudado. Esse reino existiu no alto do rio Nilo, território mais ou menos correspondente ao Sudão, por volta de 1500 a.C. Nesse império, desenvolveu-se a civilização cuxita, que tinha em comum com os egípcios a construção de pirâmides e o cuidado com os mortos. Destaca-se, entre os cuxitas, o reinado feminino, por meio do qual reinavam as rainhasmães denominadas de candaces. Entre os séculos X e XVI, época em que o comércio e o fluxo de árabes e europeus já eram intensos, existiram grandes impérios na África. O império de Gana, localizado na região do Sahel (entre Senegal e Mali) era conhecido pela grande quantidade de ouro. Muitos comerciantes árabes e de outras partes do mundo da época iam ao império comercializar produtos em troca do metal precioso. Por sua riqueza, estimou-se que Gana possuía um exército com 200 mil homens, número provavelmente exagerado.

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MOMENTO DA ESCRITA

Agora que você já conhece um pouco mais sobre os impérios e os reinos da África, responda: Você considera que o conhecimento sobre a história de um continente colabora para uma visão positiva ou negativa sobre ele? Redija um texto para responder a essa pergunta e apresente argumentos que sustentem a sua opinião.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Atlas do Brasil

Por meio da linguagem cartográfica, os autores procuram investigar as dinâmicas territoriais e a forma como elas interagem com as disparidades sociais no Brasil. THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp, 2009.

O negro no Brasil de hoje

Os autores buscam contar a história esquecida dos povos africanos que ajudaram a construir nosso país. MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006.

Origens africanas do Brasil contemporâneo

O livro aborda histórias, línguas, culturas e civilizações africanas, bem como suas contribuições para a cultura brasileira. MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. São Paulo: Global, 2009.

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História


Capítulo HISTÓRIA

3

Trabalho livre e escravo no Brasil

N

os últimos anos, o Brasil foi um dos países cuja economia mais cresceu. Com isso, em 2011, o Brasil ingressou no seleto ranking das seis maiores economias do mundo, ultrapassando nações europeias que tradicionalmente figuravam entre as primeiras, como a Inglaterra. Mas de que maneira esse fato altera a vida do trabalhador brasileiro? Será que junto ao crescimento do país nossos habitantes também encontraram melhores condições de trabalho e de vida? O índice de desemprego no Brasil caiu no início da década de 2010, tornando-se um dos menores entre as grandes potências econômicas. Isso significa que o desenvolvimento econômico ajudou a criar novas vagas, empregando brasileiros que há muitos anos não tinham registro na carteira de trabalho, o que garante que o patrão siga a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No entanto, ainda é muito comum que as pessoas exerçam atividades remuneradas chamadas de “informais”, ou seja, sem direitos previstos na lei, como férias, décimo terceiro salário, licença-maternidade etc. Neste capítulo estudaremos o mundo do trabalho e como ele se formou no nosso país ao longo da história.

Leo Caldas/Pulsar Imagens

Operário trabalhando no Estaleiro Atlântico Sul, no Porto de Suape, em Ipojuca (PE), 2009. Após 2007, o Complexo Portuário de Suape passou a abrigar muitas empresas. Com isso, tornou-se um dos principais símbolos dos novos postos de trabalho no Brasil, atraindo muitos trabalhadores para a região.

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PESQUISAR

Você sabe que tipo de relação de trabalho está presente no seu cotidiano? E no de seus colegas? Para descobrir, reúnam-se em grupos e elaborem questões sobre as relações trabalhistas. Sugiram algumas perguntas que serão agrupadas pelo professor em um painel ou anotadas no quadro. Após a formulação de um questionário comum à classe, todos os alunos devem respondê-lo. Veja alguns itens que podem ser pesquisados e formule outros questionamentos que revelem relações trabalhistas vivenciadas no dia a dia: • função: profissão, ocupação, tarefa; • tipo de vínculo empregatício: registrado em empresa priva-

• • •

CONHECER MAIS

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) Conjunto de leis trabalhistas consolidado em 1943, fruto da luta dos trabalhadores para expandir seus direitos. Apesar de ter sido alterada em diversos momentos, a CLT ainda está ativa no Brasil. É ela que garante benefícios, como jornada máxima de horas semanais, pagamento de hora extra, férias remuneradas, décimo terceiro salário, licença-maternidade etc. Para acessar a CLT, visite o site: <www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/Del5452. htm>. Acesso em: 2 fev. 2012.

da, concursado, autônomo, informal, temporário, empregador, desempregado etc.; regime de trabalho: trabalhador diurno ou noturno; horista ou mensalista; contratado ou substituto; horário fixo ou flexível; carga horária: número aproximado de horas trabalhadas na semana, carga horária fixa ou variável etc.; benefícios: pagamento de hora extra, vale-refeição, vale-transporte etc.; sindicalização: é sindicalizado? Atua no sindicato? De que maneira?

RODA DE CONVERSA

Após concluir a pesquisa, reúna-se com seus colegas e debatam em grupo os resultados encontrados. Analisem quais foram as respostas que apareceram mais vezes na classe e compartilhem suas opiniões sobre as seguintes questões: • Que características do mercado de trabalho brasileiro podemos conhecer a partir da reali-

dade da classe? • É possível afirmar que o trabalhador brasileiro encontra boas condições nas atividades remuneradas que exerce? Por quê? • Você considera que o mercado de trabalho no Brasil apresenta um futuro promissor? Por quê? • Que características do mercado de trabalho brasileiro você considera que devam melhorar? De que maneira? O grupo deve escolher um representante para anotar as opiniões mais frequentes do debate. Em seguida, elejam também um aluno para apresentar uma síntese aos demais grupos da sala.

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História


O QUE É TRABALHO ESCRAVO? E TRABALHO LIVRE?

Museu do Louvre, Paris. Foto: Bridgeman Art/Keystone

As relações no mundo do trabalho não foram sempre iguais. Há cinquenta anos, por exemplo, o número de mulheres que trabalhavam fora de casa era muito menor. Nessa época, a maior parte da população brasileira morava no campo e exercia, portanto, ocupações ligadas ao meio rural. E, se voltarmos a um passado ainda mais distante, no século XIX, a escravidão era permitida por lei no Brasil. Portanto, para entender o mundo do trabalho de hoje, é preciso conhecer a história, identificar o que mudou e o que permaneceu. No Brasil, a escravidão durou mais de três séculos, sendo abolida em 1888. Mas o que diferencia o trabalhador livre do trabalhador escravo? Qual foi a herança que a escravidão deixou para nossa sociedade? É possível dizer que ainda há brasileiros trabalhando nessa condição? Entre os pesquisadores, há várias definições para escravidão. Isso ocorre principalmente porque ela não existiu apenas no Brasil colonial e imperial, mas em diversas sociedades. Em cada uma delas a escravidão apresentou características diferentes, transformando-se ao longo da história. Por exemplo, ser escravo na Grécia, durante a Antiguidade, não era o mesmo que ser escravo em GLOSSÁRIO Antiguidade: período estaSalvador, durante o século XVII. belecido pelos historiadores Mesmo em um determinado período histórico, as formas de que se inicia com a invenção da escrita e a criacão das escravidão podem ser distintas. Na Antiguidade, em Roma e na primeiras cidades e termina Grécia, o escravo era geralmente um estrangeiro capturado em uma com a queda do Império Romano (476 d.C.). batalha, um endividado ou filho de um cativo. As condições de tra- Cativo: indivíduo que balho também variavam. No campo, enquanto alguns trabalhavam perdeu sua liberdade; que foi forçado à escravidão. em pequenas propriedades rurais, produzindo com seu senhor, outros viviam em péssimas condições, Escravidão na Antiguidade em grandes lotes de terra. Na cidade, Na Grécia antiga, os escravos podiam exercer todas havia aqueles que faziam as tarefas as atividades, menos as relacionadas à política. Na agridomésticas, mas também os que, descultura, que era a principal atividade econômica nessa sociedade, desempenharam um importante papel, bem de pequenos, aprendiam um ofício e como na mineração e nas atividades domésticas. exerciam cargos socialmente reconhecidos, como administradores públicos, filósofos, pedagogos, entre outros. Apesar de toda a dificuldade em definir escravidão, sabemos que ela é uma relação de trabalho baseada em poderes desiguais: enquanto o patrão (ou senhor) detém o poder pleno, o escravo não tem nenhum poder de escolha sobre sua própria vida, nem sobre o próprio corpo. Nesse sentido, ele deve Detalhe de cerâmica grega do século VI a.C., 15 × 21,5 × 30 cm. obediência, podendo ser submetido, Museu do Louvre, Paris. inclusive, a castigos físicos quando seu senhor não se sente satisfeito. 6º ano

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Em uma sociedade como a do Brasil contemporâneo, na qual a desigualdade social obriga muitas pessoas a suportar precárias condições de trabalho para garantir o sustento, como é possível diferenciar trabalho livre de trabalho escravo? Se a definição de trabalho escravo é um desafio para os historiadores, definir o trabalho livre também não é fácil. Costumamos relacionar a ideia de trabalho escravo à falta de direitos básicos, como um salário e a liberdade de se desligar ou trocar de emprego. Mas na sociedade capitalista em que vivemos, na qual o lucro do patrão depende da máxima exploração da mão de obra, o que é ser um trabalhador livre? E, quando não há trabalho para todos, será que é possível escolher? CONHECER MAIS

Sociedade capitalista É aquela que tem como sistema econômico, político e social o capitalismo, baseado na propriedade privada e no lucro. Trata-se de uma sociedade desigual, na qual alguns poucos têm dinheiro e meios de produção para investir e gerar mais lucro, mas a grande maioria só tem a oferecer a sua força de trabalho. Assim, os proprietários exploram a mão de obra dos despossuídos, pagando pelo seu trabalho apenas uma pequena parte da riqueza produzida. Os trabalhadores acabam submetidos a essa situação, pois a sua produção e a sua subsistência dependem dos meios e do dinheiro aos quais eles não têm acesso.

GLOSSÁRIO

Meio de produção: nome dado às instalações e aos objetos necessários ao trabalho, como fábricas, propriedades de várias naturezas, infraestrutura, equipamentos diversos, máquinas, armazéns, ferramentas, matéria-prima etc.

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Na sociedade brasileira atual, situações análogas à escravidão relacionam-se geralmente a casos de escravidão por dívida, ainda comum em estabelecimentos agrícolas e outros ramos da economia, como a indústria têxtil. No caso do campo, alguns fazendeiros oferecem trabalho para pessoas de outros municípios ou estados e, ao começar sua função, o trabalhador é informado de que deve pagar as despesas da viagem (como transporte e alimentação). A dívida cresce gradualmente, já que ele é obrigado a comprar do patrão, que cobra preços muito altos. Assim, endividados e muitas vezes ameaçados pela presença de capangas armados, eles trabalham de graça para Trabalhadores cortando cana-de-açúcar em Cordeirópolis (SP), 2010. O corte manual de cana é considerado uma das ocupações que mais pagar o que supostamente estão devendo. exploram o trabalhador, por causa das péssimas condições de trabalho, do grande esforço físico exigido e dos baixos salários. Nas grandes cidades, a exploração da mão de obra também ocorre normalmente pelo sistema de dívidas. No entanto, utilizam-se principalmente trabalhadores imigrados, sobretudo de países pobres. Chegando ao Brasil, eles têm de pagar o custo da viagem e, sem ter condições de bancar sua própria moradia, acabam obrigados a trabalhar praticamente de graça, sempre devendo para o patrão. Tanto no campo como na cidade, usa-se o termo “trabalho escravo” para caracterizar a exploração desse tipo de relação trabalhista. 216

História


LER IMAGEM

Para reconstruir o passado, os historiadores recorrem muitas vezes a fontes visuais. Por meio da análise dos registros fotográficos, aquarelas, gravuras, pinturas etc. é possível resgatar aspectos da época na qual a imagem foi produzida. Esse procedimento nos ajuda a conhecer um pouco mais as sociedades passadas. Nesta atividade, vamos refletir sobre a escravidão e as relações sociais no período colonial brasileiro.

Coleção Brasiliana – Fundação Estudar, Pinacoteca do Estado de São Paulo

Pinacoteca do Estado de São Paulo

Observe as imagens e responda:

Gravuras do inglês Henry Chamberlain registram cenas do Rio de Janeiro em 1821: Condenados e Uma barraca no mercado. Água-tinta e aquarela sobre papel, 24,7 × 35,8 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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1. Descreva cada uma das imagens, detalhando a cena e as características das personagens repre-

sentadas. 2. Quem você acha que são as pessoas das imagens? Justifique sua resposta. . Qual das duas imagens representa uma cena de trabalho escravo e qual representa trabalhadores

livres? Por quê?

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL COLONIAL No processo de colonização do Brasil, os portugueses recorreram ao trabalho escravo para explorar os recursos naturais que existiam nas terras daqui. Com isso, resolveram o problema da falta de colonos europeus para explorar um território tão grande e adotaram uma alternativa supostamente mais barata, pois o custo do trabalho escravo era menor do que o do trabalho livre. Nos primeiros anos da colonização, no século XVI, o recurso natural mais valioso para os portugueses era o pau-brasil, obtido muitas vezes por meio do escambo com os indígenas. Os portugueses davam objetos e mercadorias de pouco valor na Europa – mas desconhecidos para os povos do continente americano – e, em troca, recebiam os troncos de pau-brasil. Ocorreram tentativas de escravização desses povos. Os colonizadores, no entanto, encontraram resistência, já que os indígenas conheciam bem o território e tinham suas comunidades próximas umas das outras. Os jesuítas, religiosos europeus responsáveis por catequizá-los, eram outro obstáculo, pois se opunham à escravização indiscriminada. Os religiosos só admitiam a escravização dos indígenas se eles não aceitassem a catequese. Mesmo assim, a escravidão indígena não deixou de existir durante todo o período colonial. Embora escravizados em menor número do que os africanos, a escravidão ajudou a exterminar grande parte dos povos indígenas. A presença dos bandeirantes na nossa história é uma evidência desse fato. Eles eram homens que exploravam a terra, principalmente a partir dos rios, em busca de riquezas e de indígenas. Muitos, inclusive, eram descendentes de índios e portugueses e conheciam bem o território e os caminhos para o interior. Mas por que os portugueses optaram por trazer um número tão grande de negros da África, em vez de aprimorar a exploração do indígena? O lucro obtido pelo tráfico de africanos é um dos principais fatores que responde a essa questão. Os primeiros africanos trazidos para o Brasil começaram a chegar ainda no século XVI, com o início da produção de cana-de-açúcar. Depois, trabalharam em outros ramos da agricultura (como o tabaco, o algodão e o café) e na mineração. Com o tráfico dos africanos, os colonizadores passaram a lucrar duplamente: com a venda de escravizados para produtores brasileiros e com a venda para a Europa do açúcar e das mercadorias produzidas por esses trabalhadores. 218

História


O TRÁFICO DE ESCRAVIZADOS: DA ÁFRICA AO BRASIL Como vimos, a escravidão não foi a mesma em diferentes tempos e espaços. Antes de os europeus organizarem o tráfico de escravizados para o Brasil, já havia trabalho escravo na África. Porém, isso ocorria no continente africano antes do século XVI de modos muito diferentes daquele criado pelos colonizadores da América. Quando usamos o termo “africanos”, estamos nos referindo a uma infinidade de grupos humanos. Antes de os europeus chegarem à África, muitos desses grupos se organizavam em torno de unidades familiares, aldeias, microestados ou reinos. De maneira geral, os escravos eram estrangeiros, capturados em guerras, ou alguém que havia desrespeitado as leis ou contraído uma dívida. Eles eram subordinados a um senhor que podia castigá-los ou vendê-los. As escravas eram valorizadas porque podiam dar filhos ao senhor, aumentando sua família. Essas formas de escravidão presentes na África tradicional eram diferentes daquela do Brasil colonial, porque não eram sistemas escravistas. Isso quer dizer que os escravos não eram uma classe distinta, que precisava crescer para garantir mão de obra barata para a produção, como ocorreu em nosso país. Entre as sociedades africanas, os filhos dos escravos podiam ser livres. Na sociedade brasileira, eles eram igualmente escravos. Quando os europeus organizaram o tráfico na África, a partir do século XV, as relações escravistas no continente se modificaram. Os brancos incentivaram as guerras e rivalidades entre os africanos, o que causou um aumento no número de pessoas escravizadas. No século XVI, portugueses e espanhóis adquiriam escravos a preços muito baixos, revendendo-os por um preço alto aos colonos americanos. Nos séculos seguintes, outros países, como a Inglaterra, passaram a disputar esse tráfico e a lucrar com ele. Muitas companhias e muitos mercadores europeus enriqueceram. O comércio de cativos passou a ser um negócio cada vez mais lucrativo, tornando-se a principal razão para a escravização de africanos e sua venda para diversas regiões do continente americano. Os africanos trazidos para a América portuguesa eram embarcados principalmente em portos da África, como as ilhas de Cabo Verde, a ilha de São Tomé e Luanda (Angola), como se pode observar no mapa a seguir. No entanto, os africanos colocados na condição de escravos vinham de diferentes regiões. Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas foram deportadas nessas condições para o nosso país. Nos navios negreiros, sofriam violência, eram mal alimentados e frequentemente contraíam doenças, que matavam muitos antes mesmo do desembarque. No Brasil, a principal estratégia para dificultar a resistência desses africanos era separá-los de seu grupo de origem, para que não tivessem apoio de suas comunidades. Com isso, eles perdiam os laços sociais e sua identidade como parte de uma sociedade. Muitas vezes indivíduos que falavam línguas diferentes eram agrupados juntos, dificultando a comunicação entre eles.

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219


Ilustração digital: Maps World

Regiões de embarque de africanos para o Brasil

N O

L

0

1 150

2 300 km

S

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. p. 86.

Os trabalhadores escravizados foram “coisificados”, e seus laços culturais anteriores, ignorados. No Brasil, os africanos tiveram que reinventar uma cultura adaptada à situação em que se encontravam. Essa cultura “adaptada”, fruto das várias culturas africanas e das imposições culturais dos europeus, é o que chamamos de cultura afro-brasileira. Apesar da sua diversidade, ela traz um passado comum de exploração da mão de obra, que deixou consequências sentidas ainda hoje pelos seus descendentes. No entanto, ela traz também uma memória de luta e de resistência. LER ARTIGO DE OPINIÃO

Lei Caó No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia como crime o tratamento discriminatório no mercado de trabalho, entre outros ambientes, por motivo de raça/cor. A chamada Lei Caó (Lei n. 7 437/85) classifica o racismo e o impedimento de acesso a serviços diversos por motivo de raça, cor, sexo, ou estado civil como crime inafiançável, punível com prisão de até cinco anos e multa. Mesmo tendo sido sancionada há anos, ainda é possível encontrar muitos casos de discriminação, principalmente contra negros, no ambiente de trabalho. Para além do mercado de trabalho, a população negra brasileira também sofre discriminação no comércio. Uma pesquisa realizada em 2011 pela Fundação Procon de São Paulo, com a colaboração de alunos da Faculdade Zumbi dos Palmares, constatou que 44,26% dos negros entrevistados já se sentiram discriminados no mercado de consumo no momento da compra de um produto ou serviço. 220

História


A população negra, além de trabalhar mais e em condições precárias, recebe salários menores mesmo quando assume cargos iguais aos dos brancos. O Capítulo II da Constituição Federal, que trata dos direitos sociais, proíbe em seu Artigo 7º a diferença de salários, de exercícios de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor, ou estado civil. Mais de 20 anos depois, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2010 que a diferença entre a remuneração média de negros e brancos no país diminuiu, mas ainda persiste. A Lei Caó, isoladamente, não foi suficiente para resolver as questões de discriminação no ambiente de trabalho. Outras leis foram criadas após sua sanção visando a inclusão da população negra nos muitos setores da sociedade brasileira. GOMES, Joceline. “Há 26 anos, era sancionada a Lei Caó”. In: Fundação Palmares, 20 dez. 2011. Disponível em: <www.palmares.gov.br/2011/12/ha-26-anos-era-sancionada-a-lei-cao/>. Acesso em: 6 ago. 2012. Texto adaptado.

1. O que é a Lei Caó e o que ela estabelece?

2. De acordo com o texto, é possível dizer que existe igualdade racial entre negros e brancos no

Brasil atual? Justifique.

. De acordo com a autora, o que é necessário para que a Lei Caó se torne mais eficiente? Explique.

A RESISTÊNCIA AO TRABALHO ESCRAVO Uma das estratégias utilizadas pelos senhores para a manutenção do trabalho escravo foi o uso da violência física e psicológica. Nas fazendas ou nas minas, era comum a presença do feitor, que controlava os trabalhadores e aplica- GLOSSÁRIO va castigos físicos aos desobedientes. Muitos dos que conseguiam fuCapitão do mato: nome dado ao funcionário dos gir eram perseguidos por capitães do mato e trazidos de volta à força. donos de fazendas que Nesses casos, era comum marcar o escravizado com ferro e, se houveseram encarregados de vigiar os escravizados, se reincidência, cortar-lhe um pedaço da orelha. Todas essas punições assim como capiturá-los em caso de fuga. eram permitidas aos senhores pelas leis durante o regime escravista. 6º ano

221


Mesmo nesse contexto desfavorável, trabalhadores resistiram à escravidão, encontrando maneiras de reivindicar direitos, enfrentar os poderosos, conquistar a liberdade e preservar sua cultura. Entre as estratégias de resistência estavam os assassinatos de senhores, as fugas para os quilombos, as guerrilhas e as revoltas (a mais conhecida delas foi a Revolta dos Malês, em 1835, na Bahia).

Museu Castro Maya, Iphan, Rio de Janeiro

A resistência cultural

Museu Castro Maya, Iphan, Rio de Janeiro

Jean-Baptiste Debret. Coleta de esmolas para a Igreja do Rosário, Porto Alegre, 1828. Aquarela sobre papel, 14,7 × 20 cm. Museu Castro Maya, Iphan, Rio de Janeiro.

Jean-Baptiste Debret. O velho Orfeu africano (Oricongo), 1826. Aquarela sobre papel, 15,6 × 21,5 cm. Museu Castro Maya, Iphan, Rio de Janeiro

Aos africanos, os europeus impunham sua cultura e sua religião. No entanto, os negros lutavam para manter alguns traços de suas comunidades de origem. Nas duas imagens do artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), há exemplos de resistência cultural. Em Coleta de esmolas para

222

História

a Igreja do Rosário, Porto Alegre, apesar de incorporados pelo catolicismo, os africanos elegiam um rei, uma rainha e um capitão da guarda. O culto foi proibido por lembrar personagens das sociedades africanas. Em O velho Orfeu africano (Oricongo), Debret representa um

negro tocando uma espécie de berimbau nas ruas do Rio de Janeiro. Segundo os relatos do desenhista, era comum algum escravo batucar ou dançar, atraindo a atenção de outros. Nas cidades brasileiras muitas nações e muitos reinos africanos estavam presentes.


OS QUILOMBOS Acervo Iconographia

O maior símbolo da resistência ao trabalho escravo foram os quilombos, comunidades formadas por escravos que fugiam para locais isolados e criavam uma sociedade paralela, de cultura africana. Os quilombos estiveram presentes do Sul ao Nordeste do país, principalmente nas áreas em que a exploração de sua mão de obra era maior. Hoje em dia existem quase 2 300 agrupamentos remanescentes de quilombos no Brasil, formados por descendentes de ex-escravos fugidos que estabeleceram laços comunitários. São as chamadas comunidades quilombolas. Apesar de cada quilombo ter uma organização interna diferente, eles se caracterizavam pela vida em comum. Dentro dos quilombos produziam-se alimentos que eram consumidos pelos seus habitantes (chamados de quilomAnúncio em jornal oferecia recompensa para quem capturasse um escravo fugido em bolas), mas também eram comer18 de outubro de 1854, no Rio de Janeiro. Documentos como esse mostram que as cializados para alguns setores da fugas eram uma das estratégias usadas como resistência pelos escravizados. sociedade, como os brancos livres e pobres. Os historiadores relatam que muitos desses pobres e alguns indígenas moravam em quilombos com os africanos. Era comum também a presença de ex-escravos libertos. O mais conhecido quilombo foi o de Palmares, localizado na Serra da Barriga, entre Pernambuco e Alagoas. Para alguns historiadores, ele foi o maior exemplo de resistência ao sistema escravista na América Latina e colaborou para o enfraquecimento da escravidão. Ele chegou a abrigar mais de 30 mil pessoas e a ocupar uma área correspondente a um terço do território de Portugal. Como havia africanos de muitas regiões, além dos brancos e dos indígenas, o idioma mais falado era o português. Palmares era constituído por vários quilombos. Para a defesa, havia um exército bem treinado e armas produzidas pelos próprios habitantes. Era comum os quilombolas organizarem ataques a fazendas e engenhos para libertar escravos e enfrentar os senhores. 6º ano

223


O governo português fez várias tentativas de acabar com Palmares. Em 1678, Ganga-Zumba, o então líder de Palmares, aceitou negociar com o Estado terras e liberdade para os palmarinos. No entanto, muitos não acreditaram nessas promessas e resistiram, como Zumbi, sobrinho de Ganga-Zumba que se tornou posteriormente líder de Palmares. No ano de 1694, o governo atacou o quilombo com uma brigada armada de canhões e conseguiu destruí-lo. Para evitar novos casos de resistência, a cabeça de Zumbi foi decepada em 1695 e pendurada em uma praça do Recife. A data da morte do líder, 20 de novembro, é hoje considerada o Dia Nacional da Consciência Negra, como forma de lembrar a luta travada contra a escravidão. CONHECER MAIS

A Revolução Industrial e o trabalho assalariado na Europa “cercamento de terras”, cujo objetivo era criar ovelhas para fornecer lã às fábricas. Com isso, a terra tornou-se uma propriedade capitalista e os camponeses que nela viviam ficaram sem ter onde morar e produzir. A alternativa foi migrar para as cidades. Dessa forma, a população urbana aumentou muito rapidamente. Despossuídos de suas terras, os pobres passaram a vender a força de trabalho, ou seja, tornaram-se assalariados nas fábricas. Nelas, porém, eram extremamente explorados, submetidos a longas jornadas de trabalho e a baixíssimos salários. As mulheres e crianças recebiam ainda menos que os homens. Os empregos e a infraestrutura das cidades não eram suficientes para todos, causando muita miséria e fome.

Bibliotheque des Arts Decoratifs

Desde o século XVI, o capitalismo já estava presente em grande parte das atividades comerciais da Europa. No entanto, foi apenas no século XVIII que se desenvolveram as primeiras indústrias. Nessa época, ocorreu um processo na Inglaterra que ficou conhecido como Revolução Industrial. A partir do século XVIII, a produção de mercadorias, que antes era feita artesanalmente em oficinas, passou a ser realizada por grandes máquinas. O tear a vapor, inventado em 1784, foi uma dessas tecnologias que aumentaram a produtividade e o lucro dos proprietários dos meios de produção. As primeiras máquinas foram criadas para a produção de tecidos. Para alimentar a indústria têxtil, ocorreu um processo na Inglaterra conhecido como

Ilustração de trabalhadoras em fábrica de tecido na França, século XIX. Gravura de 1849.

224

História


ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA E TRABALHO LIVRE NO BRASIL A resistência dos africanos e seus descendentes ao trabalho escravo e o movimento abolicionista contribuíram para que a escravidão fosse abolida legalmente do Brasil em 1888, com a Lei Áurea. O tráfico de escravos para o país já estava proibido desde 1850, com a Lei Eusébio de Queirós. No sistema escravista, além dos escravos e dos senhores, havia homens livres, brancos, negros ex-escravos e mestiços. Eles trabalhavam principalmente em atividades voltadas ao consumo cotidiano de regiões e cidades, além de desempenharem serviços como os de sapateiro, vendedor, comerciante etc. Porém, muitos viviam em más condições, dependendo dos favores de algum senhor, trabalhando no mercado informal, praticando pequenos furtos, pedindo esmolas, entre outras estratégias de sobrevivência. Com a abolição, essa massa de homens livres e pobres aumentou bastante. Muitos migraram para as áreas urbanas em busca de trabalho, já que não eram proprietários de terras rurais. As cidades cresceram rapidamente, mas sem oferecer oportunidades de trabalho. Nessa época, a indústria no Brasil, que poderia representar uma alternativa de emprego, ainda dava seus primeiros passos. No campo, no final do século XIX, cresceu muito a entrada de imigrantes vindos da Europa − em especial da Espanha, de Portugal e da Itália − para trabalhar como assalariados nas fazendas que, nessa época, produziam principalmente café. Esses imigrantes eram, em sua maioria, trabalhadores europeus que tinham perdido suas terras e não encontraram vagas nas fábricas após a Revolução Industrial. Para garantir que a abolição e a vinda de imigrantes não alterassem a ordem social e que a elite não perdesse seus privilégios, foi criada, em 1850, a Lei de Terras. Essa lei fazia com que o acesso à terra só fosse permitido pela compra. Como, em geral, nem os ex-escravos nem os imigrantes tinham dinheiro, os trabalhadores continuaram obrigados a servir os proprietários rurais ou os novos proprietários das indústrias, que se espalhavam nas cidades. No Sul do país a situação era um pouco diferente, pois como o território era constantemente disputado com as nações vizinhas, alguns colonos europeus receberam lotes durante o século XIX para que a ocupação da região dificultasse invasões. Dessa forma, os benefícios conquistados pela abolição acabaram reduzidos. Além disso, não houve nenhum tipo de reparação ou preocupação em criar condições de trabalho para os ex-escravizados. Com uma grande massa sem trabalho, os patrões ofereciam salários mais baixos e contratavam sem respeitar as leis trabalhistas. Conforme vimos neste capítulo, grande parte da realidade atual é fruto do sistema escravista do Brasil colonial e imperial.

6º ano

225


APLICAR CONHECIMENTOS

1. Leia o trecho a seguir: [...] o que deve estar em questão não são os homens ou os continentes ou os países que se envolveram com o tráfico, mas sim o sistema escravista como tal e o tráfico que o alimentava, hoje considerado como uma das maiores tragédias da humanidade. MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2006. p. 25.

De acordo com o texto e com o que você leu neste capítulo, responda: Quais foram os principais motivos que levaram os europeus a traficar africanos como escravos para a América? Justifique.

Para você, por que os autores afirmam que o tráfico negreiro foi uma das maiores tragédias da humanidade? Compartilhe com a sala a sua opinião. 2. Leia este trecho e responda às questões. A pesquisa sobre Desigualdade de Renda na Década, divulgada hoje (3/5/2011) pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que a renda dos analfabetos cresceu 47% entre 2000 e 2009, enquanto a renda das pessoas com ensino superior incompleto caiu 17%. O estudo mostra também que a renda dos negros cresceu duas vezes mais do que a dos brancos, nos últimos 10 anos. No primeiro grupo, a renda ficou 43% maior e, no segundo, o crescimento foi de 21%. A renda das pessoas pardas cresceu 48%. Os estados do Nordeste foram os que mais cresceram em termos de renda per capita (por pessoa). [...] VILLELA, Flávia. “Pesquisa mostra que renda de analfabetos e negros foi a que mais cresceu na última década”. In: Agência Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-05-03/pesquisa-mostra-que-renda-de-analfabetos-enegros-foi-que-mais-cresceu-na-ultima-decada>. Acesso em: 6 fev. 2012.

O texto indica que algumas desigualdades presentes no Brasil diminuíram. Quais são elas?

Na sua opinião, a desigualdade entre brancos e negros ainda é grande no Brasil? Discuta com a classe e justifique seu posicionamento. 226

História


. Leia o texto a seguir e responda às questões. Os trabalhadores domésticos que moram na casa dos patrões e só veem a família uma vez por semana podem virar coisa do passado no Brasil. Essa seria uma das consequências da convenção aprovada nesta semana pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), durante conferência realizada em Genebra, na Suíça, para regulamentar esse tipo de serviço nos países que fazem parte do órgão. [...] A resolução pode atender às principais reivindicações dos trabalhadores domésticos, categoria que engloba tanto domésticas quanto faxineiras, caseiros e demais funções exercidas no lar. [...] Brasil estuda dar mais direitos a domésticos. In: R7 notícias. Disponível em: <http://noticias.r7.com/economia/noticias/brasil-estuda-dar-mais-direitos-a-domesticos-20110618.html>. Acesso em: 6 fev. 2012.

Por que o texto diz que os trabalhadores domésticos que moram na casa do patrão podem virar coisa do passado? Justifique.

. Pesquise em sites de informação, assim como no de instituições relativas ao mundo do trabalho:

quais são os direitos que os empregados domésticos conquistaram no Brasil nos últimos cinco anos? Liste os que você considera os mais importantes. CONHECER MAIS

A Revolta dos Malês e outras formas de resistência ao regime escravista Durante muitos anos, a longa duração do regime escravista na sociedade brasileira foi, em parte, atribuída à passividade dos negros. No entanto, essa afirmação, de caráter discriminatório, demonstra falta de conhecimento histórico, pois pesquisas atuais mostram que existiram diversos movimentos de luta contra a escravidão. Os pesquisadores Kabenguele Munanga e Nilma Lino Gomes enumeram algumas formas de resistência que foram utilizadas: Insubmissão às regras do trabalho nas roças ou plantações onde trabalhavam − os movimentos espontâneos de ocupação das terras disponíveis, revoltas, fugas, abandono das fazendas pelos escravos, assassinatos de senhores e de suas famílias, abortos, quilombos, organizações religiosas, entre outras, foram algumas estratégias utilizadas pelos negros na sua luta contra a escravidão. MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2006. p. 59-60.

Nesse movimento de resistência destaca-se a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, Bahia, no século XIX. Um grupo de negros malês, indignado com a escravidão, organizou-se para tomar a cidade e exigir sua liberdade. Entre seus líderes, destacam--se Ahuna, Pacífico Licutan, Luís Sanim, Manoel Calafate, Elesbão do Carmo, Nicobé e Dassalu. Eles escolheram a noite de 24 para 25 de janeiro do ano de 1835 para realizar o levante, considerando que a população estaria afastada do centro da cidade por ocasião da Festa de Nossa Senhora da Guia no Bonfim. No entanto, o movimento foi denunciado e seus participantes foram duramente reprimidos pela polícia. Apesar da pouca duração, a Revolta dos Malês abalou o regime escravista e foi considerada um dos principais levantes pela liberdade na América Latina.

GLOSSÁRIO

Malês: africanos, não necessariamente da mesma etnia, que haviam adotado o islamismo como religião. Na época, o catolicismo era a religião oficial do Brasil e as demais práticas religiosas sofriam repressão. Assim, os escravos muçulmanos seguiam sua crença escondidos.

6º ano

227


Luciano da Matta/Agência A Tarde/AE

Outros movimentos realizados durante a vigência da escravidão tiveram a colaboração de negros e mulatos, o que nos ajudam a questionar a visão de que a escravidão era aceita de forma passiva. Na Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates), ocorrida em 1798 também na Bahia, houve a presença de representantes das camadas populares, assim como de alguns escravos ou libertos. Os principais líderes, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Liras, eram, inclusive, pardos. Nessa revolta, que se inspirava na Revolução Francesa para exigir a independência do país, seus participantes clamavam pela abolição da escravatura.

Desfile do Bloco Ilê Aiyê no carnaval de Salvador (BA), em 2012. A festa relembra em muitas canções a Revolta dos Malês.

A Balaiada foi outro movimento que contou com o apoio dos negros, ocorrido entre 1838 e 1841 no Maranhão. Apesar de o motivo inicial ter sido as diferenças entre grupos políticos, o conflito envolveu lavradores, camponeses, artesão, negros, indígenas e mestiços que lutavam contra o recrutamento forçado para as forças armadas. Destaca-se ainda a participação de quilombolas, que viviam nos quilombos Lagoa Amarela, Limoeiro, entre outros da região. Embora essas e outras revoltas populares tenham sido duramente reprimidas, elas colaboraram para que o regime escravista se tornasse insustentável, até sua queda definitiva, em 1888, com a abolição.

PARA REFLETIR

Leia as questões abaixo, discuta-as com seus colegas e registre suas conclusões. 1. É correto afirmar que a escravidão se prolongou em decorrência da passividade dos africanos?

Justifique sua resposta utilizando exemplos. 2. Quais os prováveis motivos que levaram à crença de que os escravos aceitaram pacificamente sua

submissão. Escreva um parágrafo registrando suas hipóteses. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

África e Brasil africano

Aborda a cultura e a história de alguns dos povos africanos, a diáspora do continente à América e os aspectos da cultura afro-brasileira hoje em dia. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007.

Para entender o negro no Brasil de hoje

Redigido para ser utilizado nas aulas de EJA, traz a história da diáspora africana para a América, bem como textos fundamentais para a compreensão da resistência e das políticas afirmativas que procuram combater a desigualdade gerada por esse processo. MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2006.

228

História


Bibliografia

HISTÓRIA AGOSTINI, João Carlos. Brasileiro, sim senhor! Uma reflexão sobre nossa identidade. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. (Polêmica.) ALLAN, Bethwell (Org.). História geral da África: África do século XVI ao XVIII. v. 5. Brasília: Unesco, 2010. ______ (Org.). História geral da África: África do século XIX à década de 1880. v. 6. Brasília: Unesco, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Estado da Educação. Índios do Brasil 2. Brasília: MEC/SEED, 1996. (Cadernos da TV Escola.)

CARNEIRO, Edison. O quilombo dos Palmares. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. FUNARI, Pedro Paulo A. Os antigos habitantes do Brasil. São Paulo: Editora Unesp, Imprensa Oficial, 2002. (Nossa História.) FURTADO, Junia Ferreira; LIBBY, Douglas Cole. Trabalho livre, trabalho escravo. São Paulo: Annablume, 2006. GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. Índios no Brasil. São Paulo: Global, 2005. KUPSTAS, Márcia (Org.). Identidade nacional em debate. São Paulo: Moderna, 1997. (Debate na escola). MONTEIRO, John M. Negros da Terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. MOURA, Flavia de Barros Prado. Conhecimento tradicional e estratégias de sobrevivência de populações brasileiras. Maceió: Edufal, 2007. REIS, J. J.; GOMES, F. (Orgs.). Liberdade por um Fio: História dos Quilombos no Brasil. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. ______. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. REPÓRTER BRASIL. Escravo, nem pensar! São Paulo: ONG Repórter Brasil, 2007. SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 6º ano

229



UNIDADE 5

Geografia



Capítulo

1

GEOGRAFIA

Espaço geográfico e vida humana

N

os capítulos de História deste volume foram explorados alguns aspectos da formação da sociedade brasileira a partir do contato entre indígenas, portugueses e africanos. Foram examinados também alguns elementos da exploração de riquezas da terra ainda no período colonial. Neste capítulo, vamos saber um pouco mais sobre como se constituem os espaços onde se dá a vida humana no Brasil e em outras partes do mundo.

RODA DE CONVERSA

O que você e seus colegas já sabem sobre a organização do espaço no município? Vale lembrar que o município é a menor divisão político-administrativa no Brasil. Cada município conta com poder público local (prefeito, vereadores) e uma distribuição da população e das atividades em zonas rurais e urbanas. Nesta atividade, você vai observar e refletir sobre esse tema, indicando o que já conhece acerca dos elementos que formam o espaço geográfico. O primeiro passo é escolher um trecho a ser observado e descrito. Pode ser o bairro onde está situada a escola ou o bairro onde você mora. Escolhido o local, observe como estão organizados edificações, ruas, atividades humanas, transportes e outros. Examine também como são as bases naturais do local: formas de relevo (elevações, vales, baixadas etc.), presença de rios, córregos, e também de vegetação. Procure descobrir as principais transformações ocorridas no local nos últimos anos. Por exemplo: foram construídas novas edificações? Surgiram prédios altos? Para quais finalidades? O que havia antes nesses locais? Registre suas observações no caderno ou em uma folha à parte. Depois, apresente-as para sua turma. Com seus colegas, procure refletir sobre os efeitos das mudanças nos locais observados pelos estudantes.

LER IMAGENS

Agora, observe as imagens e responda às perguntas a seguir. Não se esqueça de ler as legendas. Nelas você encontrará informações sobre os lugares retratados e as datas em que as fotografias foram produzidas:

6º ano

233


Guilherme Gaensly Daniela Souza/Folhapress

Vista da Estação da Luz em São Paulo (SP), 1902.

Vista da Estação da Luz em São Paulo (SP), 2011.

1. Quais os elementos que você observou em cada fotografia? 2. Compare as imagens e registre as diferenças e semelhanças entre elas. 3. Quais mudanças ocorreram no local ao longo do tempo? Em sua opinião, o que ajuda a explicar

essas mudanças? 234

Geografia


O ESPAÇO GEOGRÁFICO

Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

Por meio de observações no bairro ou no município onde vivemos podemos tirar conclusões sobre o modo como o espaço geográfico é organizado. Além disso, é possível descobrir quem são os responsáveis pelas transformações que ocorrem nele ao longo do tempo e tirar conclusões sobre os prováveis efeitos dessas mudanças. As imagens apresentadas na atividade anterior ajudam a perceber e a compreender algumas transformações e permanências no espaço geográfico. A estação da Luz ainda está no local, mas seu entorno foi modificado: surgiram prédios altos, a avenida em frente à estação já não conta com trilhos para os bondes, há carros circulando nas ruas etc. Mas o que é o espaço geográfico? Como ele se constitui? Como a sua organização pode ajudar a compreender as realidades do lugar ou do país em que vivemos? O espaço geográfico pode ser entendido como o produto ou o resultado das transformações do meio natural pela ação das sociedades humanas. De diferentes formas, as sociedades promovem mudanças no espaço com seu trabalho e algumas técnicas e tecnologias. Ao fazer isso, apropriam-se dos elementos da natureza, estabelecendo para eles novos objetivos e finalidades. Por exemGLOSSÁRIO plo: do ponto de vista natural, o rio é um curso d’água que Técnica: procedimento ou habilidade que pode dar origem a diversas coisas criadas escoa em um canal, formando um vale. Em sua origem, ele para atender às necessidades humanas: casas, utensílios, ferramentas, meios de pode ter servido aos grupos humanos para o abastecimento transporte etc. de água e alimentos. Mas ele pode ser convertido, com o temTecnologia: envolve a incorporação dos conhecimentos científicos na elaboração po, em via de transporte ou em recurso voltado à geração de das técnicas. energia hidrelétrica com a construção de barragens e usinas. Esses novos usos e objetivos são definidos pelas sociedades. Podemos falar em espaço geográfico a partir do momento em que as sociedades entram em cena. Portanto, ele resulta das obras e transformações promovidas por elas ao longo do tempo. É importante dizer também que o espaço geográfico é uma das partes que constituem qualquer sociedade humana. Afinal, não é possível pensar uma sociedade sem considerar o espaço em que ela vive. Ao analisar o espaço geográfico, podemos avaliar se o modo como ele foi construído compromete ou não os recursos existentes. Ou, ainda, se ele atende às necessidades coletivas ou Barcaças de transporte de combustível atracadas nas margens do rio Negro, em Manaus (AM), 2010. A imagem destaca um exemplo de um uso do rio atribuído apenas às de alguns indivíduos. pela sociedade: o de servir como via de transporte.

6º ano

235


AS BASES NATURAIS DO ESPAÇO GEOGRÁFICO Ao se apropriar da natureza e transformá-la, as sociedades estão produzindo espaço geográfico. Assim, os elementos naturais constituem uma das bases dos espaços onde se dá a vida humana. No caso do Brasil, uma conhecida canção de Jorge Ben Jor oferece uma pista importante sobre as bases naturais do nosso território. Um fragmento da letra diz assim: Moro num país tropical, abençoado por Deus E bonito por natureza, mas que beleza. Jorge Ben Jor. Jorge Ben. Universal Music, 1969. Faixa 3.

O compositor ressalta que o Brasil é um país tropical. Portanto, está situado em uma zona com características climáticas típicas da chamada zona intertropical. Para saber mais sobre isso, realize a atividade a seguir:

LER MAPA I

Observe o mapa de climas do Brasil e responda às questões propostas.

Ilustração digital: Maps World

Brasil – Climas

N O

L

0

395

790 km

S

Fonte: MARTINELLI, Marcelo; FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: natureza e espaço da sociedade. São Paulo: Editora do Brasil, 2003, p. 23.

236

Geografia


1. O que esse mapa representa? Como você chegou a essa resposta? 2. Quais são as áreas de clima mais úmido no território brasileiro? E as de clima mais seco? 3. Em sua opinião, em quais áreas do país ocorrem temperaturas mais baixas?

O mapa apresenta os principais tipos climáticos do Brasil, destacando um importante elemento, que é a quantidade de chuvas. De modo geral, podemos dizer que predomina em nosso país o clima tropical, caracterizado por médias elevadas de temperatura e chuvas mais abundantes no verão, com estiagem no inverno. O clima nas áreas mais elevadas e no Sul do país tende a apresentar médias térmicas mais baixas. No entanto, temos menos chuvas no sertão nordestino, uma região de “clima tropical semiárido”. Isso já é suficiente para percebermos que o Brasil CONHECER MAIS possui grande diversidade natural. Nas zonas mais Mapas para compreender a diversidade úmidas, temos a presença de grandes florestas tropicais, natural do espaço geográfico como a floresta Amazônica e a mata Tropical Atlântica. A cartografia pode ser entendida como A essas coberturas vegetais está associada uma rica vaa arte e a técnica de fazer mapas. Os mapas riedade de fauna. são importantes instrumentos de compreensão da realidade. Eles são úteis para apreRepare que as cores do mapa servem para distinguir sentar a diversidade do espaço geográfico, diferentes tipos climáticos. Elas são usadas para mostrar a seja ela de origem natural, seja resultante diversidade natural do território nacional. Os mapas semde ações humanas. Para fazer uma boa leitura de um mapa, pre devem ter título, escala, legenda, rosa dos ventos (ou é preciso saber, por exemplo, identificar os seta indicando a direção Norte) e coordenadas geográfiterritórios representados e o significado das cas (traços na cor azul que indicam as linhas imaginárias, cores e dos símbolos utilizados. como a linha do Equador e o Trópico de Capricórnio). CONHECER MAIS

A Mata Atlântica dunas chegavam até as praias na costa dos Esqueletos, no que é hoje a Namíbia. Além disso, na África, as águas eram geladas. Aqui, eram quentes. Por que esse contraste? Por que uma floresta tropical úmida apenas de um lado do Atlântico?

Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens

O encontro com a Mata Atlântica tanto entusiasmou quanto intrigou os portugueses no começo do século XVI. Do outro lado do oceano Atlântico, na mesma latitude, o litoral africano, já conhecido pelos exploradores, era marcado sobretudo por desertos cujas

Detalhe da Mata Atlântica no Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, em Santo André (SP), 2011. No ano de 2012 restavam apenas 7% da cobertura original dessa mata.

6º ano

237


Ao mesmo tempo que redesenhavam o mapa-múndi desbravando terras desconhecidas, os sábios navegadores lusitanos aos poucos perceberam que um mecanismo natural, agindo com base em um ciclo de correntes marinhas no Hemisfério Sul, é o maior responsável pelo surgimento de florestas chuvosas e biodiversas nos litorais orientais, entre as quais a Mata Atlântica é o exemplo mais cintilante. As correntes marinhas deixam a Antártica, girando sempre no sentido anti-horário, em todos os oceanos, até fluírem novamente para o sul. Ventos regulares garan-

tem que a umidade se condense e vire chuva, fechando um ciclo. GLOSSÁRIO

Hemisfério: a expressão significa metade de uma esfera. Refere-se à divisão da superfície terrestre em duas partes iguais, tendo a linha do Equador como referência (Hemisférios Norte e Sul) ou tendo o Meridiano de Greenwich como referência (Hemisférios Leste ou Oriental e Oeste ou Ocidental).

MIRANDA, Evaristo de. Era uma vez a Mata Atlântica: história de uma paisagem desenhada pelo mar. National Geographic Brasil. São Paulo: Abril, ano 9, n. 106, p. 38-55, jan. 2009.

LER MAPA II

Vimos alguns exemplos de diferenças entre os espaços. Perceber essas diferenças é importante, mas como explicá-las? Em outras palavras, quais elementos contribuem para que os espaços terrestres apresentem diversidade? Antes de dar uma resposta a essas questões, tentemos analisar o mapa a seguir, que representa a superfície da Terra. Observe-o e responda às questões.

Ilustração digital: Mario Yoshida

A superfície terrestre

N O

L

0

1 900

3 800 km

S 0

0

Fonte: Atlas geográfico escolar: Ensino Fundamental do 6 ao 9 ano. Rio de Janeiro: IBGE, 2010, p. 80.

238

Geografia


1. Observe o mapa e identifique pela cor as terras emersas (continentes) e as superfícies líquidas (oceanos) na superfície da Terra. 2. O que se pode afirmar sobre a distribuição dos continentes e dos oceanos na superfície terrestre?

A DIVERSIDADE NATURAL DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

João Prudente/Pulsar Imagens

Cerca de 70% da superfície da Terra está recoberta por mares e oceanos. Os 30% restantes correspondem às terras emersas, chamadas superfícies continentais. Há maior extensão de terras na faixa que fica ao Norte, o Hemisfério Norte, em relação às terras da metade Sul, o Hemisfério Sul. Essa distribuição desigual resulta da ação de forças naturais ao longo de bilhões de anos. Ao observar mais detalhadamente as superfícies continentais da Terra, podemos encontrar também uma grande diversidade de formas e eventos naturais. Observe as imagens:

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Montanhas e araucárias na zona rural do município de Brazópolis (MG), 2012. A cidade está situada na Serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais.

Árvore de embaúba entre a vegetação de Cerrado da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso (GO), 2010.

6º ano

239


Andrey Podkorytov/Alamy/Otherimages

Pico Manaraga, nos Montes Urais, localizado na Rússia, 2011.

A diversidade natural observada na superfície dos continentes resulta de combinações entre quatro grupos de elementos: As formas de relevo − a superfície terrestre é marcada por grande GLOSSÁRIO Íngremes: bastante diversidade de formas e níveis de altitude, com cadeias de montanhas, inclinados em relação ao plano horizontal; difíceis planaltos, terras planas e baixas, encostas íngremes, vales e outras. A sude subir ou descer; perfície terrestre compõe a chamada litosfera, a parte sólida da crosta escarpados. terrestre. As diferentes formas da superfície resultam da ação de forças internas (terremotos, vulcanismo etc.) e de forças externas (água, ventos, geleiras e outras). Existe também grande diversidade de solos, compostos por fragmentos de rochas e minerais, além de organismos vegetais e animais decompostos. As águas continentais − há uma distribuição extremamente variada das águas na superfície dos continentes. Essas águas, com os oceanos e a água presente na atmosfera, fazem parte da hidrosfera. As águas formam rios, córregos e lagos, e podem também ser encontradas abaixo da superfície, em lençóis subterrâneos, ou congeladas, nos polos, nas geleiras e nos topos nevados das altas montanhas. As condições atmosféricas − a camada de ar que envolve a Terra, chamada atmosfera, possui uma dinâmica que produz diferentes características climáticas. Entre esses fatores estão: a emissão e a recepção de raios solares − esta última variando conforme a posição das regiões da Terra −, os movimentos das massas de ar e a distribuição das superfícies sólidas e líquidas. Isso resulta em variações de temperatura, pressão atmosférica, velocidade dos ventos, regime de chuvas e outros elementos do clima. As formas de vida − a vegetação e a fauna são bastante variadas na superfície terrestre e também no meio aquático. Ao conjunto formado pelos seres vivos de toda a zona terrestre, aérea e aquática do planeta damos o nome de biosfera. A biodiversidade − ou diversidade da vida − da superfície terrestre decorre das combinações entre os elementos naturais – como clima, disponibilidade de água e alimentos, formas de relevo e outros − e a distribuição dos seres vivos. 240

Geografia


PESQUISAR

Com um grupo de colegas, descreva em detalhes as bases naturais do município ou da região em que você vive. Anote como são, de modo geral, as formas de relevo, vegetação, fauna e tipos de clima da área. Não se esqueça de anotar as variações de temperatura e como se distribuem as chuvas ao longo do ano. Registre as informações e discuta com seu grupo situações em que os usos das bases naturais vêm comprometendo os recursos disponíveis. Por exemplo, observe se rios, córregos e lagoas são usados para o despejo de lixo e esgotos. Prepare um painel ilustrado sobre o tema e apresente-o para sua turma. É importante que o grupo indique também possíveis soluções para os problemas apontados.

OS ESPAÇOS HUMANOS Ao longo de sua história, as sociedades vêm criando ou transformando o espaço geográfico para diferentes finalidades. Vimos que a presença humana no território que hoje forma o Brasil é muito antiga. Os povos que aqui existiam viviam de caça, pesca e coleta de frutos. Criaram habitações e instrumentos e praticavam o cultivo de alimentos. Assim, produziram espaço, ou seja, organizaram os espaços para a vida humana. Com a chegada dos portugueses, novas formas de uso e produção dos espaços foram instituídas: houve a exploração de pau-brasil, a implementação do plantio de cana-de-açúcar e dos engenhos, a construção das primeiras vilas e a criação das capitanias hereditárias, caracterizando outra forma de produzir espaço geográfico. Dessa vez, ela era movida por interesses na obtenção de lucros e riquezas pelos colonizadores.

QUEM PRODUZ ESPAÇO? Vamos examinar com mais detalhes os grupos e as atividades humanas responsáveis pela produção do espaço geográfico. Para garantir sua sobrevivência, os grupos humanos, desde épocas mais remotas, passaram a produzir bens materiais (alimentos, habitações, roupas etc.). Dessa forma, o trabalho humano, em suas variadas formas e diferentes objetivos, é o grande responsável pela constituição do espaço geográfico. Do trabalho e das necessidades de garantir a existência das sociedades surge um importante componente da vida social humana: a economia. Hoje ela é constituída por um conjunto de atividades complexas, formadas por trabalhadores, fábricas, práticas de extração e processamento de matérias-primas de origem mineral, vegetal e animal, pesquisas científicas, comércio, serviços diversos e outras. Essas atividades estão diretamente ligadas à produção, à circulação e ao consumo de bens e riquezas. 6º ano

241


Para obter os bens necessários à reprodução de sua vida, os seres humanos organizaram-se para atuar juntos e de forma coletiva. É isso que caracteriza a vida em sociedade. Para tanto, criaram espaços em que é possível estabelecer relações sociais de maneira mais intensa. O melhor exemplo é o das cidades, aglomerações criadas para permitir que as pessoas possam viver juntas e em situação de proximidade. Ao longo do tempo, as sociedades desenvolveram também meios de transporte e comunicações para permitir contatos entre diversos lugares e pessoas, ou seja, para transpor distâncias. Esses meios possibilitam, portanto, o rompimento do isolamento geográfico – embora ainda existam grupos que vivam afastados do restante da sociedade, como alguns povos indígenas no Brasil.

Mapoteca do Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro.

Trecho da ferrovia Santos-Jundiaí (SP), 1882. A ferrovia foi construída em meados do século XIX para facilitar, entre outras coisas, o transporte do café produzido nas fazendas paulistas.

Hoje, com os meios de comunicação, já é possível entrar em contato instantaneamente com pessoas de outros países, seja por meio de um bate-papo virtual, seja para mandar mensagens com textos e imagens. 242

Geografia


É essencial destacar que as sociedades possuem inúmeras diferenças internas, como as existentes entre pobres e ricos ou entre diferentes regiões. Como veremos em outros capítulos, isso está associado ao modo como se desenvolve o sistema econômico e social em que vivemos, o capitalismo. Ele é um grande responsável pela geração de desigualdades sociais, já que, nele, alguns se apropriam das riquezas enquanto outros vivem com muito pouco. A desigualdade tem uma expressão espacial: basta observar os diferentes tipos e tamanhos de moradias em uma cidade. Com frequência, elas resultam em conflitos e em lutas por direitos, como greves de trabalhadores ou ocupações de terras no campo e na cidade. Além das atividades e dos espaços, as sociedades humanas criaram formas de organização do poder político, constituído na figura do Estado (veja o texto “O Estado moderno”, na página seguinte). O Estado, ou o poder público, também é um agente da produção do espaço. Ele faz isso por meio da execução de obras públicas, como a construção de rodovias, usinas hidrelétricas, portos e redes de transmissão de energia. Tais obras ou objetos tornam-se componentes do espaço geográfico.

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Festival de Folclore de Parintins (AM), 2010. As manifestações artísticas são um exemplo da vida cultural no espaço geográfico.

6º ano

243


Compõem esse quadro social (portanto, espacial) complexo os direitos e os deveres de cada cidadão e as características culturais das diferentes sociedades, relacionadas à língua, à religião, às expressões artísticas ou às origens étnicas. Tais características contribuem para delimitar e organizar os espaços e a vida social. Vale a pena lembrar que indivíduos e grupos também participam da produção do espaço. Sua presença ou seu movimento contribuem efetivamente para que os espaços sejam transformados. Por exemplo, a partir do deslocamento de pessoas de casa para o trabalho todos os dias, surgem novas linhas e paradas de ônibus ou metrô, ruas são asfaltadas etc. É importante ressaltar que o espaço geográfico é composto não só pelas bases materiais − casas, prédios, ruas, rede de energia elétrica e outras −, mas também por fluxos, deslocamentos e interações sociais. Ao mesmo tempo, podemos dizer que o modo como o espaço geográfico foi produzido interfere nas relações sociais − o que não significa que isso não possa ser alterado. Vejamos dois exemplos concretos: Uma pessoa leva duas horas para ir de casa ao trabalho todos os dias, pois ela vive na periferia da cidade e seu emprego fica no centro. Essa localização dos espaços de moradia e trabalho tem implicações no seu dia a dia e até em suas expectativas e projetos de vida. Um indivíduo que se desloca todo o tempo em seu automóvel, mesmo que seja para cumprir curtas distâncias, pode estar restringindo o contato com pessoas.

CONHECER MAIS

O Estado moderno Vivemos hoje em um mundo constituído por Estados nacionais modernos. Mas o que é o Estado? Em termos gerais, ele se refere à organização do poder político e reúne instituições como o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Vejamos alguns exemplos: o presidente da República é o chefe do Poder Executivo federal ou nacional; deputados federais e senadores são os representantes eleitos pela população para o Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Para que esses poderes funcionem, pelo Estado possui inúmeros órgãos técnicos e administrativos e funcionários públicos. No caso do Brasil e de outros países, esses poderes estão organizados em diversos níveis territoriais: o federal (ou nacional), o regional (os estados, como Rio de Janeiro, Pernambuco etc.) e o local (os municípios). É importante não confundir Estado

244

Geografia

e governo. O governo é formado por grupos políticos e representantes eleitos pela população. Eles vão ocupar o poder no Estado por determinado período. Conforme o regime político de cada país, o acesso ao poder pode variar. No Brasil, país que conquistou o direito a eleições livres e democráticas, diversas forças políticas ocupam os diferentes níveis de poder. As estruturas de poder político (o Estado), junto com a nação (grupos sociais que vivem no mesmo país) e o território, compõem o Estado-nação moderno, que corresponde à ideia de país. Os Estados modernos exercem diversas funções e atividades: elaborar e executar políticas públicas; construir infraestrutura de transportes, comunicações e energia; cuidar da saúde, da educação, do saneamento básico, do ambiente e das fronteiras; organizar a participação política; garantir direitos e estabelecer relações com as demais nações, entre outras.


APLICAR CONHECIMENTOS I

1. O que é necessário às sociedades humanas para que elas possam garantir sua sobrevivência?

2. O que os grupos humanos devem construir para conseguir atuar de forma coletiva?

3. Com a classe, procure dois exemplos de atividades que interferem na produção do espaço geográ-

fico. Registre aqui o que você encontrou.

A DIVERSIDADE DOS ESPAÇOS HUMANOS Assim como há diversidade natural, existem vários fatores resultantes da ação humana que promovem a diversidade dos espaços (diversidade humana). A seguir, veremos alguns desses fatores.

A DISTRIBUIÇÃO DAS POPULAÇÕES HUMANAS Dependendo das condições naturais e humanas de cada espaço, há diferentes formas de ocupação ou povoamento. A situação dos ambientes naturais, embora não seja a única e definitiva razão, ajuda a explicar a existência de vazios populacionais na superfície terrestre, ou seja, de áreas onde moram pouquíssimas pessoas por metro quadrado. Entre essas áreas estão, por exemplo, os desertos quentes (Saara e Kalahari, na África) e frios (Gobi, na Mongólia), as altas montanhas e as grandes florestas tropicais. Somadas, essas áreas representam cerca de um quarto da superfície continental, mas estão ocupadas por apenas 2% da população mundial. Entretanto, é importante ressaltar que gradativamente as sociedades desenvolveram tecnologias para superar obstáculos naturais e permitir a presença humana em lugares antes considerados inóspitos. Um exemplo é o das modernas cidades do Oriente Médio ou do oeste dos Estados Unidos, construídas em pleno deserto; ou, ainda, o das bases de pesquisa científica instaladas na Antártica, capazes de abrigar pessoas por longos períodos sob temperaturas de dezenas de graus abaixo de zero. No caso das florestas tropicais, muitas vezes por causa do uso inadequado e até ilegal dessas áreas, a cobertura vegetal é retirada e cede espaço para novas atividades humanas. 6º ano

245


LER MAPAS III

Comparando os mapas a seguir, observe como se desenvolveu a distribuição da população mundial ao longo da história. Concentração da população – Início da era cristã

N O

0

L

1 900

3 800 km

S

Ilustrações digitais: Maps World

Concentração da população – 1800

N O

População

246

L S

Geografia

0

1 900

3 800 km


Ilustração digital: Maps World

Concentração da população – 2003

N O

L

0

1 900

3 800 km

S

População

Fontes dos mapas: BRUNET, Roger; DOLLFUS, Olivier. Mondes nouveaux. Paris: Hachette/RECLUS, 1990; MARTINELLI, Marcello; FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: natureza e espaço da sociedade. São Paulo: Editora do Brasil, 2003, p. 71.

1. Quais partes da superfície continental eram mais ocupadas no início da era cristã? Com a ajuda

de seu professor, utilize os pontos cardeais Norte, Sul, Leste e Oeste para responder. Exemplo: norte da África. 2. Compare os três mapas. Quais alterações na distribuição da população ocorreram entre o ano de

1800 e o período atual? 3. Na sua opinião, existe desigualdade na distribuição da população no mundo? Explique sua resposta.

Os mapas representam quantidades, no caso, de populações humanas. GLOSSÁRIO Adensamento: ato ou efeito Com os três mapas é possível visualizar o aumento e a distribuição da pode adensar-se, concentrar-se. pulação ao longo do tempo. Em alguns casos, como na Índia e na China, Densidade demográfica: quantidade de habitantes a população é tão grande que os pontos formam manchas. Isso significa por quilômetro quadrado. que essas são áreas populosas e de grande densidade demográfica. Houve um notável crescimento da população mundial nos últimos dois milênios, em especial a partir do século XIX. Ao longo do tempo, ocorreu também o adensamento da população da Europa e da Ásia e o crescimento populacional na África e na América. As populações originalmente procuraram se concentrar junto às faixas litorâneas e às margens de rios, para mais tarde buscar as áreas interiores. Os espaços atuais, em alguma medida, ainda carregam essa herança. Observe, por exemplo, no mapa “Concentração da população – 2003”, que a população da China e do Brasil concentra-se predominantemente junto ao litoral. A distribuição de população também varia bastante entre os países. Em 2011, éramos cerca de 7 bilhões de habitantes sobre a Terra. Enquanto a China, o quarto maior país do mundo em extensão territorial, contava com 1,35 bilhão de pessoas, o Canadá, o segundo maior país do mundo, 6º ano

247


possuía apenas 34 milhões de habitantes. As diferenças observadas na distribuição da população estão associadas a elementos como criação de cidades e aspectos econômicos, políticos, tecnológicos e culturais. Assim, temos situações de vazios populacionais e outras de verdadeiros “formigueiros” humanos.

DENSIDADES DEMOGRÁFICAS: O CASO DO BRASIL Assim como em outras partes do mundo, também houve variações ao longo do tempo na distribuição da população e nas densidades demográficas no Brasil. Sobre o assunto, faça a atividade proposta a seguir:

LER MAPAS IV

Comparando os mapas a seguir, observe a evolução da distribuição da população brasileira.

Ilustração digital: Mario Yoshida

Distribuição da população brasileira – 1960

N O

L S

248

Geografia

0

300

600 km


Ilustração digital: Mario Yoshida

Distribuição da população brasileira – 2007

N O

L

0

330

660 Km

S

Fontes dos mapas: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. Disponível em: <www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_densidade_demografica.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2012.

1. Quais recursos da cartografia foram utilizados nos mapas para mostrar as densidades demográ-

ficas no Brasil? 2. Compare os dois mapas. O que se pode dizer sobre a evolução da distribuição da população e as

densidades demográficas no território brasileiro no período? 3. Existe desigualdade na distribuição da população no território brasileiro? Explique sua resposta.

Os mapas mostram que há desigualdades na distribuição da população no território brasileiro, o que é um fator de diversidade do espaço geográfico. Observando o que ocorreu nas últimas três décadas, é possível notar que os maiores índices de densidade demográfica estão situados na faixa litorânea e no Centro-Sul do território nacional. Há também elevada concentração de pessoas nas capitais dos estados e nas principais cidades. Repare que nos mapas estão sendo usadas tonalidades de cor que vão do amarelo-claro ao marrom mais escuro. Esse tipo de representação se chama ordenada. As cores estabelecem uma dada ordem: os tons mais claros indicam menor número de habitantes por km2; os tons mais escuros, ao contrário, indicam maior número de habitantes por km2. Portanto, em um mapa de tipo ordenado, as cores mais escuras representam maior grau de intensidade do fenômeno representado. 6º ano

249


AS CIDADES As cidades vêm sendo construídas há pelo menos 5 mil anos em praticamente todas as sociedades. São espaços humanos cuja característica principal é a aglomeração de pessoas. Ao longo do tempo, foram criadas para permitir contatos e interações humanas e reduzir as distâncias entre pessoas e grupos. Funcionam como sede do poder político, centros religiosos e lugares de atividades econômicas e trocas culturais. A cidade é, assim, a obra humana por excelência. O que há em comum entre as cidades é o fato de que elas necessitam de infraestrutura, serviços e equipamentos (saneamento básico, transportes, saúde, educação, abastecimento de água e energia etc.). É importante assinalar a presença, hoje, em cidades de diferentes países, de obras, atividades e elementos espaciais muito parecidos entre si, que exercem funções semelhantes. Entre eles estão, por exemplo, shopping centers, cadeias de lojas e lanchonetes, ou anúncios publicitários.

DIVERSIDADE ECONÔMICA As atividades econômicas são um importante elemento de diferenciação entre os espaços. Como vimos antes, a economia é um campo da atividade humana relacionado à produção, circulação, distribuição e consumo de bens. Daí resultam diferentes configurações espaciais da atividade econômica, como áreas agrícolas, criação de gado, fábricas, distritos industriais, centros de comércio e serviços (sobretudo em cidades), unidades especializadas em pesquisa científica e tecnológica, entre outras.

Ale Ruaro/Pulsar Imagens

Comércio na cidade de Cuiabá (MT), 2011.

250

Geografia


A diversidade geográfica que resulta das atividades econômicas também pode ser observada com base nas diferenças entre países, regiões e lugares. Por exemplo, entre centros de pesquisa tecnológica situados em países ricos e distritos industriais localizados em países em desenvolvimento.

DIFERENÇAS TECNOLÓGICAS E DIVERSIDADE DOS ESPAÇOS HUMANOS As diferenças (e desigualdades) tecnológicas estão refletidas nos espaços construídos pelas sociedades. O maior ou menor número de rodovias, ferrovias, linhas de transmissão de energia ou antenas para telecomunicações em diferentes regiões e países é exemplo disso. Há, portanto, uma distribuição desigual dos recursos. Observando, por exemplo, um mapa dos meios de transporte no Brasil, é possível verificar que há maior densidade de rodovias no Centro-Sul do país, em contraste com a baixa disponibilidade desses meios em grandes porções das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Isso também acontece, em boa medida, com as redes de produção e distribuição de energia e de comunicações. Existem diferenças também em relação à presença de equipamentos de informação baseados na informática, na eletrônica, e de satélites de comunicação. Nem sempre esses equipamentos estão presentes em todas as cidades ou em todos os espaços no meio rural. O domínio de tecnologias produtivas também permite o assenta- GLOSSÁRIO Tecnologia produtiva: mento humano ou a realização de atividades econômicas. Um exemtecnologia ligada à plo disso é o uso de máquinas, sementes melhoradas e imagens de produção de bens. satélite para monitorar solos e cultivos nas áreas de agricultura moderna, como já ocorre em diversas regiões do Brasil. Vale assinalar que a maior parte dos novos conhecimentos científicos e das novas tecnologias está concentrada nos países ricos. Isso significa que os países pobres precisam pagar pelo uso e pelo acesso às novas tecnologias, não possuindo tecnologias próprias em diversos campos. Política

A diversidade do espaço geográfico também é marcada por elementos políticos. Ao observar um mapa-múndi político, podemos verificar que vivemos em um mundo formado por países (ou Estados nacionais), cada qual com seu território definido e delimitado. Em primeiro lugar, é possível notar diferenças quanto à localização e à extensão dos territórios nacionais. A extensão e a unidade de cada país geralmente resulta de um longo processo de conflitos, guerras, disputas territoriais ou acordos. Em relação à organização interna, uma série de leis, regras de convivência social, meios de participação política e atividades econômicas cria diferenças entre os países. Vale notar que o peso político de um país ou grupo de países no cenário internacional está associado ao seu poder político, econômico ou militar – como é o caso dos Estados Unidos.

6º ano

251


Cultura

As diferenças culturais entre povos, países e regiões também estão intimamente ligadas à produção do espaço geográfico. A cultura engloba modos de vida, valores, manifestações artísticas, crenças e a maneira como os grupos estabelecem relações entre si e com os ambientes. Ela pode se manifestar no espaço pela presença de templos religiosos, pela forma das habitações, por detalhes da arquitetura e outros. É importante lembrar que a cultura de uma sociedade é sempre viva e dinâmica. Portanto, muda com o passar do tempo. Muitas vezes, influências externas provocam alterações nos hábitos culturais. Um exemplo é o da língua inglesa, que é falada por diferentes povos e países por causa da dominação colonial ou dos meios de comunicação atuais. Outro exemplo é o abandono de culturas agrícolas e hábitos alimentares tradicionais em razão de influências externas. Vale lembrar que a padronização cultural ocorre também com a criação dos Estados nacionais. Muitas línguas nativas foram extintas ou possuem hoje poucos falantes, pois foram substituídas pelas línguas adotadas como oficiais. Por exemplo, na nossa vizinha Bolívia, a língua kallawaya, no final da primeira década do século XXI, era falada somente por cerca de cem pessoas que viviam nas montanhas do país. Nessa língua estão registrados ricos conhecimentos médicos sobre plantas, animais e minerais. No Brasil, várias línguas de povos indígenas foram extintas no processo de colonização e outras são faladas apenas pelos membros mais velhos das comunidades. Com a morte dessas línguas, diminui a diversidade cultural da humanidade. É por isso que muitos povos indígenas na atualidade procuram recuperar suas línguas originais (e, portanto, parte importante do seu patrimônio cultural). Muitos deles já elaboraram livros didáticos e de literatura para ensinar às crianças a língua nativa.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Com base no que você estudou no capítulo, escreva no caderno um texto sobre o significado de

espaço geográfico, as bases naturais do espaço geográfico e os espaços humanos. 2. Descreva duas características do meio natural e dos espaços humanos no seu município. 3. Escreva um comentário sobre a afirmação a seguir, destacando se discorda ou concorda com ela. É a combinação de formas de vida e suas interações umas com as outras e com o ambiente físico que torna a Terra habitável para os seres humanos. Os ecossistemas fornecem as necessidades básicas da vida (tais como água, comida, e o próprio ar que respiramos), oferecem proteção contra desastres naturais e doenças (por exemplo, regulando o clima, inundações e pragas) e fornecem uma base para as culturas humanas. SECRETARIADO DA CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA. Panorama da Biodiversidade Global 2. Montreal, 2006, p. 10. Disponível em: <www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/GBO2-part1.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2009.

252

Geografia


4. Leia o texto a seguir e destaque aspectos do modo de vida e da organização dos espaços de vida

do povo em questão: Todos os anos, nas épocas da cheia e da piracema, quando ocorrem as migrações anuais para reprodução, os enauenê-nauês constroem barragens tradicionais, as waiti. Tramas de cestos e troncos filtram a passagem das águas do rio Juruena e seus afluentes, no norte do Mato Grosso. E capturam toneladas de peixes, que são consumidos ao longo de quatros meses no ritual yakwã. A última pescaria dos enauenês, porém, foi um desastre. “Os espíritos devem estar zangados”, conta o velho xamã [líder espiritual] Kawali. Os mais jovens respeitam o alerta de Kawali − na crença da tribo, um dilúvio pode alagar o mundo, e ele viria de uma barragem mitológica −, mas sabem que o clima e o regime de chuvas estão mudando, temem pela devastação da mata ciliar e acusam as obras de barragens para usinas hidrelétricas como responsáveis pelo fim dos peixes. MILANEZ, Felipe. Faltou peixe. National Geographic Brasil, set. 2009. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_481269.shtml>. Acesso em: 18 abr. 2012.

5. Sobre aspectos da população brasileira atual, examine a tabela a seguir: Distribuição da população rural e urbana no Brasil (2010) Urbana (absoluto)

Rural (absoluto)

Urbana (percentual)

Rural (percentual)

160 879 708

29 852 986

84,35

15,65

Região Norte

11 663 184

4 202 494

73,51

26,49

Região Nordeste

38 816 895

14 261 242

73,13

26,87

Região Sudeste

74 661 877

5 691 847

92,92

7,08

Região Sul

23 257 880

4 126 935

84,93

15,07

Região Centro-Oeste

12 479 872

1 570 468

88,82

11,18

Brasil

Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010.

a) Como está distribuída a população brasileira atual, considerando os percentuais de habitantes

no campo e na cidade?

6º ano

253


b) Das regiões brasileiras, quais são as duas com maiores percentuais de população que ainda

vive no campo?

c) Qual é a região brasileira com maior percentual de população urbana? Cite duas grandes cida-

des situadas nesta região.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Atlas

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

Geoatlas

Atlas com diversos mapas e textos para consulta e pesquisa. SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2011.

Revista

Dossiê terra

Edição especial da revista National Geographic Brasil com dados sobre população, economia e natureza. Dossiê Terra: o estado do planeta 2010. São Paulo: Abril, 2010.

Sites

Brasil: 500 anos de povoamento

Apresenta figuras e textos com dados e processos sobre a formação do território e da sociedade brasileiros. Disponível em: <www.ibge.gov.br/brasil500/index2.html>. Acesso em: 2 jul. 2012.

IBGE

Dados atualizados sobre o Brasil, com destaque sobre população, economia, natureza e território. Disponível em: <www.ibge.gov.br/ibgeteen>. Acesso em: 2 jul. 2012.

National geographic brasil

Portal com dados sobre a diversidade natural e humana dos espaços no mundo e no Brasil. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/>. Acesso em: 2 jul. 2012.

254

Geografia


Capítulo

2

GEOGRAFIA

O campo e a cidade

A

o longo do tempo, as sociedades foram estruturando seus espaços de vida. Fizeram isso aproveitando os recursos oferecidos pela natureza e desenvolvendo técnicas para garantir abrigo, água e alimentos, que são essenciais para a sobrevivência. Aliadas à diversidade natural, as diferentes maneiras como os grupos estabeleceram relações com a natureza reforçam a grande diversidade existente entre os espaços humanos. Neste capítulo, vamos nos aprofundar em dois tipos de espaço organizados pelas sociedades, examinando suas principais características: o campo e a cidade. Sua existência também é um reflexo da diversidade de espaços humanos.

João Prudente/Pulsar Imagens

Imagem panorâmica da cidade de Bauru (SP), tendo a zona urbana em primeiro plano e a zona rural ao fundo, 2012.

6º ano

255


RODA DE CONVERSA

Com os colegas de turma e o professor, participe de uma roda de conversa sobre o campo e a cidade. A ideia é que cada um dê um depoimento sobre o seu lugar de origem. Fale de suas experiências vivendo no campo ou na cidade e das principais características de cada um desses espaços. Por exemplo, se você nasceu e passou a infância no campo, como era a propriedade rural: grande ou pequena? Quais eram os cultivos? Criavam-se animais? A produção era obtida com o uso de máquinas ou com ferramentas simples? Como se obtinha a água para as plantações e o gado? A cidade ficava muito distante? Se você nasceu e viveu em uma cidade, qual era o tamanho dela? Qual era a sua população aproximada, na época? A cidade em questão dispunha de comércio e serviços de forma adequada? Que meios de transporte eram utilizados? Após os depoimentos, a proposta é que a turma indique diferenças entre o campo e a cidade. É importante que cada aluno dê sua opinião sobre o que significam esses espaços para a vida humana.

PAISAGENS DO CAMPO E DA CIDADE Uma maneira de reconhecer e analisar a organização do espaço no campo ou na cidade é por meio da observação de paisagens. Mas o que é a paisagem? Em que essa ideia nos ajuda a perceber as variadas formas de organização espacial? A paisagem pode ser entendida como tudo aquilo que a nossa vista alcança. Ela é, portanto, a fração do espaço geográfico que é possível abarcar com a visão. Cada paisagem forma um conjunto único e diferenciado de formas naturais e artificiais – predominando cada vez mais essas últimas. A diversidade que encontramos ao comparar diferentes paisagens é dada pelos diferentes usos e funções dos objetos presentes. E o que são esses objetos? São objetos espaciais, criados pelas sociedades: estradas, fazendas, fábricas, usinas hidrelétricas, torres e fios de transmissão de energia elétrica, cidades, portos, aeroportos etc. Cada paisagem apresenta, em um dado momento, determinada combinação entre esses objetos. Observando uma fotografia, podemos perceber como estão dispostas as edificações, quais são as atividades econômicas predominantes, que meios de transporte eram utilizados, se há pessoas circulando e outros detalhes. Vale notar que podemos encontrar em uma paisagem elementos construídos em épocas passadas convivendo com as construções mais recentes. 256

Geografia


LER IMAGENS

Coleção particular

Observe as imagens a seguir, que retratam paisagens do campo e da cidade em diferentes épocas:

Instituto Moreira Salles

João Batista da Costa. Fazenda Santa Clara, no Rio de Janeiro, 1895. Óleo sobre tela, 51,5 × 72,5 cm.

Foto de Marc Ferrez da avenida Central, no Rio de Janeiro, c. 1910. Negativo original em vidro, gelatina/prata.

6º ano

257


Ernesto Reghran/Pulsar Imagens Delfim Martins/Pulsar Imagens

Vista aérea da praia Brava, no município de Itajaí (SC), 2012.

Colheita mecanizada de arroz, em Formoso do Araguaia (TO), 2005.

1. Sublinhe o nome dos lugares apresentados nas imagens e a data de cada uma delas. 2. Descreva cada uma das imagens, destacando os elementos naturais e os elementos que foram

produzidos pelo ser humano. 3. Elabore a representação de uma paisagem do lugar onde você vive, fazendo um desenho, esboço

de mapa ou colagem. Destaque os elementos naturais e humanos que aparecem nela. 4. Com alguns colegas, selecione outras imagens de paisagens do campo e da cidade, consultando 258

Geografia


jornais, revistas ou a internet. Procure imagens variadas: de centros comerciais, edifícios, distritos industriais, bairros residenciais de alta e baixa rendas ou paisagens de um local em diferentes momentos. Observe e destaque os aspectos naturais e artificiais e as mudanças ocorridas ao longo do tempo. Registre as principais conclusões e apresente-as para o restante da turma. Na leitura de paisagens podemos observar, identificar, descrever ou comparar os objetos que as compõem e o seu arranjo. O ponto de partida são os espaços de vivência − a rua, a praça, o bairro ou a escola − mais familiares ou mais próximos. As imagens que vimos anteriormente mostram diferentes representações de paisagens em períodos diversos da história brasileira. Elas apresentam alguns elementos importantes das transformações no espaço geográfico. Com base nelas podemos refletir também sobre mudanças no campo e na cidade. Por exemplo: a construção de prédios altos, o aumento da circulação de pessoas e veículos, a presença de máquinas e equipamentos nas colheitas agrícolas etc. É interessante observar que muitas cidades brasileiras trazem em sua paisagem marcas da atividade econômica que predomina na região. Em Campo Grande e Dourados (MS) ou em Barreiras (BA), por exemplo, são comuns estabelecimentos de venda de máquinas e insumos agrícolas (tratores, colheitadeiras, sementes etc.) ou serviços de assistência técnica para equipamentos rurais. CONHECER MAIS

Cidade e campo, urbano e rural Os conceitos de cidade e de urbano são muito próximos entre si, mas não significam exatamente a mesma coisa. As cidades são obras humanas complexas, marcadas pela concentração de pessoas, atividades, edificações e grande diversidade social, cultural e econômica − em especial as cidades de grande porte. E como se pode definir o urbano? No mundo de hoje, formaram-se sociedades urbanas e um modo de vida urbano que não se manifestam apenas nas cidades. Esse modo de vida invade também o campo, modificando a paisagem rural e gerando novos processos econômicos e sociais, além de hábitos culturais e de consumo típicos dos ambientes urbanos. Entre eles, o modo de falar e de vestir. O termo “urbanização” surgiu ainda para destacar o crescimento ou o surgimento de

novas cidades, ou o aumento da população urbana em relação à rural. O campo, por sua vez, é um espaço caracterizado pela dispersão de pessoas e atividades e por ter seu trabalho − cultivos e criação de animais, em especial − vinculado à terra e baseado em ciclos naturais. Durante longo tempo, esse processo marcou o modo de vida rural, caracterizado por relações sociais de tipo comunitário e com certa homogeneidade social (ou seja, menor variedade de tipos humanos). Porém, com a chamada modernização do campo, as inovações tecnológicas diminuíram a dependência em relação aos ritmos da natureza e levaram ao meio rural uma maior diversidade social e econômica. Hoje, muita gente ainda vive no campo, mas não trabalha diretamente em atividades agrícolas.

A URBANIZAÇÃO NO MUNDO ATUAL A vida urbana vem se desenvolvendo há pelo menos cinco milênios – desde os primeiros núcleos criados na região conhecida como Mesopotâmia (onde hoje é o Iraque). Desde as épocas mais remotas, as cidades cumpriram a função de permitir que as pessoas pudessem viver juntas, aproximando-as e garantindo formas coletivas de existência. 6º ano

259


Mas foi a partir do fim do século XVIII, com a Primeira Revolução Industrial, que a vida urbana começou a tomar forma. Em primeiro lugar na Europa, e depois em outras regiões do planeta, surgiram, renasceram e cresceram diversos núcleos urbanos. Assim, os processos de industrialização e de urbanização são faces do desenvolvimento do capitalismo industrial. No século XX, a urbanização das sociedades se consolidou. Já no novo milênio, a partir de 2008, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), pela primeira vez em toda a história da humanidade, o número de pessoas que vivem nas cidades superou o das pessoas que vivem no campo. Em 2011, estimava-se que cerca de 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo estavam morando em núcleos urbanos. Esse número pode chegar a 5 bilhões de pessoas em 2030. O crescimento urbano ganhará força na Ásia e na África, onde grande parte das pessoas vive no campo, e será menor na Europa e na América do Norte. A América Latina, que inclui o Brasil, vem apresentando elevados índices de urbanização há pelo menos três décadas. Assim, há regiões muito próximas do seu limite de urbanização. Temos nessa região grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México (no México), Buenos Aires (na Argentina) e Bogotá (na Colômbia). Nas últimas décadas, várias cidades do chamado mundo em desenvolvimento já figuram entre as maiores do planeta. Entre elas estão Dacca, em Bangladesh, e

Jane Hahn/Corbis/Latinstock

Hans Georg Roth/Corbis/Latinstock

Lagos, na Nigéria.

Dacca, em Bangladesh, 2010.

260

Geografia

Lagos, na Nigéria, 2011.


Estima-se também que, dos novos habitantes das cidades em todo o planeta, muitos serão pobres. Isso põe em discussão, tanto para os governos como para as sociedades em geral, o direito do cidadão de viver em cidades. Para a ONU, qualquer pessoa, se desejar, tem o direito de ir para a cidade a fim de nela residir e trabalhar. Assim, cada cidade deverá se preparar para receber pessoas e oferecer opções de habitação, trabalho, saúde e educação, entre outros recursos. Além disso, a extrema diversidade de pessoas e culturas presente nas cidades eleva o potencial para a criação de riquezas e a busca de soluções para os próprios problemas criados pela urbanização.

BRASIL, UM PAÍS URBANO Neste início do século XXI, o Brasil apresenta uma das populações mais numerosas do mundo − apesar dos enormes vazios populacionais em seu território. Durante o século XX, a população nacional aumentou cerca de dez vezes. Em 1900, o país contava com aproximadamente 17,5 milhões de habitantes. Em 2008, chegamos à marca de 186 milhões de pessoas. Em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), eram pouco mais de 190,7 milhões de brasileiros. Houve também mudanças na distribuição da população no campo e nas cidades. Observe o gráfico a seguir: Brasil – Evolução da população urbana e rural (em milhões de habitantes)

1940

12,9 28,4

1950

18,8 33,2

1960

31,3 38,8

1970

52,1 41,0

1980

80,4 38,6

1990

111 35,8

2000

137,8 32,0

2010

160,8 29,8 0

População urbana Planeta Terra Design

População rural

50

100

150

Fontes: IBGE. Estatísticas do século XX; Censo demográfico 2010. Disponíveis em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 24 abr. 2012.

6º ano

261


Trata-se um gráfico de barras que mostra que o Brasil também vem acompanhando a marcha da urbanização que está ocorrendo no mundo. Em 1940, apenas 28,4% da população total do país − que era de cerca de 40 milhões de pessoas − vivia em cidades. Os dados do Censo Demográfico 2010 do IBGE indicaram que os 190,7 milhões de brasileiros estavam assim divididos: 160,8 milhões de habitantes nas cidades e 29,8 milhões de habitantes no meio rural. Ou seja, 84,3% dos brasileiros viviam em cidades naquele ano. Mas em que tipos e tamanhos de núcleos está distribuída a população urbana? O mapa e a tabela a seguir nos oferecem uma visão a respeito disso.

LER MAPA E TABELA

Ilustração digital: Mario Yoshida

Brasil – Distribuição da população urbana (2010)

N O

L

0

290

580 km

S

Fontes: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2004; Censo demográfico 2010. Disponíveis em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 24 abr. 2012.

262

Geografia


Evolução da população das grandes cidades brasileiras (em milhões de habitantes) Município

2000

Município

2011

São Paulo (SP)

10,4

São Paulo (SP)

11,2

Rio de Janeiro (RJ)

5,8

Rio de Janeiro (RJ)

6,3

Salvador (BA)

2,4

Salvador (BA)

2,6

Belo Horizonte (MG)

2,2

Brasília (DF)

2,5

Fortaleza (CE)

2,1

Fortaleza (CE)

2,4

Brasília (DF)

2,0

Belo Horizonte (MG)

2,3

Curitiba (PR)

1,5

Manaus (AM)

1,8

Recife (PE)

1,42

Curitiba (PR)

1,7

Manaus (AM)

1,4

Recife (PE)

1,5

1,3

Porto Alegre (RS)

1,4

Porto Alegre (RS)

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse/sinopse_tab_rm_zip.shtm>. Acesso em: 24 abr. 2012.

1. Qual é o assunto tratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados na representação? 2. O que o mapa apresenta em termos de distribuição da população urbana? 3. Qual é o assunto retratado na tabela? 4. O que os dados da tabela indicam? Houve mudanças na posição das maiores metrópoles brasilei-

ras de acordo com sua população? Observe que o mapa apresenta uma legenda com cores e outra com símbolos (círculos). Essa sequência, do mais claro ao mais escuro, indica: • mais claro → menor porcentagem de população urbana; • mais escuro → maior porcentagem de população urbana. Os círculos, por sua vez, representam quantidades. Assim, o círculo maior indica a quantidade de habitantes de uma cidade de grande porte, como São Paulo. Os círculos menores indicam cidades médias, como Feira de Santana (BA), Londrina (PR) ou Caxias do Sul (RS). A tabela, por sua vez, mostra a evolução da população das grandes áreas urbanas do país. Apenas em São Paulo eram 11,2 milhões de pessoas em 2011; já no Rio de Janeiro, 6,3 milhões. Portanto, embora muitas pessoas estejam saindo das grandes cidades para morar em cidades de porte médio, ainda há uma concentração de pessoas nas primeiras.

CARACTERÍSTICAS DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA De acordo com o Censo Demográfico 2010, do IBGE, grande parte da população urbana concentra-se no Sudeste do país, em especial nas áreas metropolitanas de São Paulo (19 milhões de pessoas na Grande São Paulo – ou 10% da população brasileira total) e Rio de Janeiro (cerca de 12 milhões na Grande Rio). Ainda segundo o IBGE, quase 60 milhões de brasileiros viviam nas dez maiores regiões metropolitanas do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Recife e Porto Alegre. 6º ano

263


O termo “Região Metropolitana” foi criado no Brasil na década de 1970 para delimitar grandes áreas urbanas e criar maneiras de administrá-las e resolver problemas comuns. A partir de 1988, os estados também puderam criar novas regiões metropolitanas, como é o caso do eixo urbano Londrina-Maringá (no Paraná). Na maior parte dos casos, houve junção física das áreas urbanas dos municípios que integram as áreas metropolitanas. Assim, quem vai de Curitiba a São José dos Pinhais percorre uma única área urbana, densamente edificada. São Paulo e Rio de Janeiro formam o coração econômico do país e estão associadas a outras aglomerações urbanas. Elas concentram órgãos do Estado, empresas (bancos, instituições financeiras, de comunicação etc.), centros de pesquisa, universidades. Comandam atividades produtivas em todo o território nacional. Portanto, são capazes de irradiar influência sobre vastas áreas. É isso que faz de uma cidade uma metrópole. Essas duas metrópoles são também cidades globais. O que significa isso? Quer dizer que ambas participam de múltiplas relações econômicas e sociais em escala planetária – estabelecendo fluxos comerciais, de informações ou serviços com cidades e regiões de diferentes partes do mundo. Crescem também no Brasil as cidades médias, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Como as novas redes de transporte e comunicação permitiram a descentralização de algumas atividades, muitas delas foram instaladas em cidades fora do eixo Rio-São Paulo, ou fora de áreas de urbanização intensa. É o caso dos novos polos científico-tecnológicos, como em Campina Grande (PB) e Ilhéus (BA); de centros ligados à agricultura moderna, como Dourados (MS), Barreiras (BA) e Petrolina (PE); de centros industriais, como Caxias do Sul (RS); ou de turismo e serviços, como Florianópolis (SC).

ORIGENS DOS NÚCLEOS URBANOS NO BRASIL Hoje, os núcleos urbanos são fortemente integrados no território brasileiro. Eles estabelecem entre si inúmeras relações, sejam elas econômicas, de fluxos de pessoas, de informações ou de influências culturais. Mas nem sempre foi assim. Ao longo do período colonial, a criação dos primeiros núcleos se deu inicialmente ao longo da faixa litorânea do território, com ocupação menor no interior. Do ponto de vista do colonizador, tratava-se de criar, inicialmente, núcleos estrategicamente localizados e sob a proteção de um forte, na entrada de uma baía ou junto à foz de um rio. A intenção era proteger o litoral e as vias de penetração para o interior – como é o caso de Salvador, Rio de Janeiro e Belém. As funções portuárias comerciais (caso do Recife) e religiosas também tiveram importância na criação de vilas e cidades. Entretanto, esses núcleos detinham poucas ligações entre si, funcionando como verdadeiras ilhas − há até autores que afirmam que o território colonial era semelhante a um arquipélago. Mais tarde, em especial a partir do século XVIII, surgiram novas aglomerações com a exploração do ouro. No século XX, a expansão cafeeira, sobretudo nos 264

Geografia


Luciana Whitaker/Folhapress

Sérgio Ranalli/Pulsar Imagens

estados de São Paulo e Rio de Janeiro, teve como efeito a criação e o crescimento de várias cidades. Ao observar fotos das cidades brasileiras, é possível verificar construções que facilitam o entendimento dos processos ocorridos em fases anteriores. Na entrada de cidades como Salvador, Natal ou Belém, por exemplo, constata-se a presença de fortes. As cidades mineiras que foram fundadas ou cresceram com a exploração do ouro guardam até hoje em suas ruas, igrejas e edificações as marcas desse período. Entre elas estão Ouro Preto, Mariana e Tiradentes. Ao longo do século XX, outras cidades brasileiras vão surgir em associação com determinadas atividades econômicas, sejam elas industriais ou voltadas à agropecuária. Volta Redonda, no Rio de Janeiro, cresce e consolida seu núcleo urbano em torno da indústria siderúrgica ali instalada. Como já vimos, outras cidades vêm crescendo por estarem localizadas em regiões de agricultura moderna.

No primeiro plano, ainda aparelhado com os canhões da era colonial, o Forte do Presépio (também conhecido como Forte do Castelo), em Belém (PA), 2009.

Vista aérea da cidade de Volta Redonda (RJ), 2005. No primeiro plano, o estádio Raulino de Freitas, construído graças à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que pode ser observada ao fundo.

PARA REFLETIR I

Você já parou para pensar sobre a cidade onde você mora? Reúna-se com um grupo de colegas e reflita sobre as questões propostas a seguir. Registre as conclusões a que o grupo chegou. Apresente os resultados para a turma. • Em sua opinião, quais as principais qualidades e defeitos da cidade onde vive? • Há edifícios abandonados ou mal conservados? • Há áreas precárias habitadas por pessoas em situação de risco? A que tipo de risco essas

pessoas estão expostas? 6º ano

265


• • • •

A rede de esgoto e de água encanada abrange a cidade inteira? Há rede de energia elétrica para todos? O sistema de transporte coletivo é eficiente? Há escolas, universidades e oportunidades de trabalho para os jovens?

PROBLEMAS URBANOS Apesar de a vida urbana ter representado um salto de qualidade de vida para muita gente, as cidades brasileiras ainda enfrentam muitas contradições e desigualdades. Vejamos alguns dos casos mais comuns, tanto em relação aos problemas como às soluções. Procure identificar se eles ocorrem também em sua cidade. As diferenças entre ricos e pobres são enormes. Isso pode ser observado nas condições das habitações e nos recursos e serviços oferecidos pelos bairros. Em 2012, cerca de 30 milhões de brasileiros viviam em moradias precárias e em bairros que não tinham rede de esgoto e de água encanada, condições básicas de saneamento. Estima-se que seja necessário construir pelo menos 7 milhões de moradias no Brasil, com o objetivo de oferecer condições adequadas de habitação a pessoas de renda mais baixa. As cidades brasileiras apresentam distribuição desigual de infraestrutura, de equipamentos e de serviços, o que afeta em especial os pobres. No Brasil, de acordo com a Atlas do Saneamento Básico do IBGE, apenas 55% dos municípios contavam com coleta de lixo e tratamento de esgoto em 2008. A opção pelo automóvel como meio de transporte também traz transtornos e conflitos à vida nas cidades. Há disputa de espaço entre os veículos e os pedestres ou ciclistas. Para dar passagem ao automóvel, projetos elaborados pelos poderes públicos e executados por empresas de construção civil promovem verdadeiras “cirurgias urbanas”. São abertas avenidas e vias expressas e construídos viadutos e pontes, contribuindo para elevar a poluição atmosférica e os congestionamentos. A questão do lixo também é um problema a ser resolvido. Mas não está em questão apenas a disposição final dos resíduos: alerta-se também para a elevação da geração de lixo em função da expansão do consumo de bens – típicos das economias capitalistas. Assim, ao lado da redução de consumo (sobretudo de produtos com embalagens), é preciso desenvolver políticas públicas que criem aterros sanitários ou controlados para a correta disposição do lixo. Completam esse sistema os mecanismos de reciclagem e reaproveitamento do lixo. Nas Regiões Metropolitanas, o desafio é conseguir que os municípios cooperem entre si para resolver o tratamento do lixo. Em geral, as cidades brasileiras dispõem de poucos espaços públicos de qualidade, de livre acesso e equipados para o lazer, a cultura e o entretenimento. Em muitas delas, o patrimônio histórico não é bem cuidado, o que reduz a oferta de excursões e viagens turísticas. 266

Geografia


Em muitos casos, os terrenos com as piores condições, como fundos de vale e encostas de morros, são destinados às populações de baixa renda. Sem opções, essa população fica exposta a inundações e desmoronamentos, que todos os anos causam grande número de vítimas. De outro lado, as melhores soluções urbanas do país contam com forte participação popular na decisão do destino das cidades. São exemplos as cidades de Porto Alegre e Recife, que instituíram o chamado orçamento participativo. Com ele, os moradores decidem em assembleias em que e como os recursos públicos devem ser aplicados. No Rio de Janeiro, também há um esforço para reurbanizar favelas e melhorar as condições de segurança para os que ali vivem. Crescem também iniciativas como criar cooperativas de coleta e reciclagem do lixo. O Brasil já figura entre os países que mais reciclam latinhas de alumínio e garrafas pet (como as de refrigerante). Políticas públicas de recuperação dos centros antigos também têm sido implantadas, com resultados variáveis, em São Paulo, Recife, João Pessoa, São Luís, Salvador e Rio de Janeiro. Em Curitiba, os melhores exemplos de intervenção urbana vêm do transporte coletivo, com os ônibus articulados que trafegam em corredores próprios.

PARA REFLETIR II

Organizados com base em ideias desenvolvidas pelo geógrafo francês Jacques Lévy, avalie se sua cidade atende ao que é proposto. O que a cidade é e o que ela pode ser A cidade é um espaço criado pelas sociedades humanas para superar distâncias e permitir interações sociais de todo tipo. Ela se caracteriza por sua diversidade e concentração populacional. A partir daí, podemos pensar sobre o que uma cidade pode e deve ser (e ter). Vejamos alguns pontos: • Cidades devem ter diversidade social e cultural, já que a diversidade é uma das bases da riqueza humana e permite múltiplas relações entre as pessoas. • Cidades devem, antes de tudo, permitir a todos os moradores o acesso pleno aos recursos de que dispõem. • Cidades devem oferecer recursos plenos em todos os seus espaços evitar a segregação e a discriminação. Por exemplo, garantindo o acesso a cadeirantes. • Cidades devem oferecer acessibilidade e mobilidade plenas (o que inclui transporte público de qualidade e espaços para o pedestre e pessoas com deficiência), com espaços públicos amplos, generosos e equipados. • Cidades devem utilizar adequadamente suas bases naturais, evitando o comprometimento dos recursos hídricos (rios e lençóis subterrâneos), a impermeabilização GLOSSÁRIO Impermeabilização: tornar impermeável, do solo, a ocupação de áreas de risco e a eliminação da vegetação. impossível de ser penetrado por substâncias no estado líquido. Nesse caso, relacio• Cidades devem oferecer grande diversidade de atividades e múlna-se ao asfaltamento e à cimentação que tiplas opções econômicas, culturais e de lazer aos seus habitantes. ocorrem nas cidades e impossibilitam que a água da chuva penetre no solo, o que é Nesse sentido, elas devem proporcionar espaços belos, atrativos e mais um fator para alagamentos. bem cuidados, com segurança para os que neles circulam. 6º ano

267


O MUNDO RURAL Desde os primórdios das sociedades, pelo menos 10 mil GLOSSÁRIO Sedentário: é aquele que não se movimenanos atrás, diferentes grupos tornaram-se sedentários. Com ta. No caso em questão, está relacionado ao sedentarismo como um modo de vida o tempo, domesticaram plantas e animais e passaram a se baseado na fixação de grupos sociais nos dedicar ao cultivo e à criação de rebanhos para obter aliespaços. Com isso, os grupos deixam de ser nômades, ou seja, deixam de se mentos. Diferentes inovações foram sendo testadas e adotadeslocar constantemente para garantir sua sobrevivência. das em várias partes do mundo, contribuindo para avanços na agricultura e aumento da produção de alimentos. Isso ocorreu na Mesopotâmia, com a construção de canais para irrigação. Outras técnicas importantes foram o uso do arado de ferro e da tração animal (os bois eram usados para carregar o arado na semeadura) tanto na China como na Europa da Idade Média. Os grupos humanos passaram também a conhecer melhor os ritmos e as variações do clima, saberes essenciais para decidir sobre as épocas de plantio e colheita. No geral, o meio rural se caracterizou pela dispersão populacional e pelo trabalho na terra, em contato direto com o meio natural. Preferencialmente, os primeiros grupos habitavam as áreas de várzea e os vales fluviais, onde havia disponibilidade de água. Nas nascentes sociedades industriais, após o século XVIII, partindo da Europa, o meio rural passou a exercer a função de abastecer os mercados de consumo urbanos e oferecer matérias-primas para as fábricas: foi o caso do algodão no setor têxtil na Inglaterra.

A MODERNIZAÇÃO DO CAMPO Em especial a partir das décadas de 1960 e 1970, instalaram-se em diferentes países os processos de modernização do campo. A agricultura moderna supõe grandes investimentos de capital e a adoção de bens industriais em seus processos produtivos, como fertilizantes, defensivos e outros produtos químicos, o uso de máquinas e de equipamentos (tratores, colheitadeiras, semeadeiras, pivôs para irrigação etc.), sementes melhoradas, acréscimos de nutrientes ao solo etc. O resultado foi um crescimento significativo da produção e da exportação de bens agrícolas em todo o mundo. Houve, assim, uma intensificação das trocas de produtos entre os países. Esse processo ficou conhecido como Revolução Verde e trouxe muitas mudanças sociais e espaciais para o meio rural, tanto no Brasil como em outros países. Na outra face desse processo de modernização estão pontos como a contaminação dos solos por produtos químicos e a retirada de vegetação (incluindo florestas) para instalar pastagens e campos de cultivo. A produção agrícola com o uso de máquinas provocou também a redução dos postos de trabalho agrícola. Parte das populações que viviam no campo teve de se deslocar para as cidades. 268

Geografia


Produção agrícola

As notícias da produção agrícola no Brasil trazem todos os anos manchetes semelhantes: anuncia-se um novo recorde na safra agrícola e na pecuária (soja, milho, laranja, carne bovina, feijão e outros), com aumento no volume da produção e na área plantada. Em parte, isso se deve ao momento favorável para a venda desses bens no mercado externo, impulsionada pelas exportações para Índia, China, Estados Unidos, União Europeia e Rússia. O anúncio de novas safras recordes é também mais um capítulo do chamado processo de modernização agrícola, ou modernização do campo no Brasil. Como essa modernização se manifesta em nosso país? O que ela representa para os trabalhadores e o futuro das atividades econômicas? Sobre isso, realize a atividade a seguir.

LER MAPA

Observe o mapa.

Ilustração digital: Maps World

Brasil – Modernização do campo*

N O

L

0

405

810 km

S

Fonte: Atlas Nacional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. p. 145.

*Para obter o índice de modernização, o IBGE leva em conta as “práticas agropecuárias modernas”: uso de tratores, máquinas para o plantio e a colheita, defensivos, conservação do solo, sistemas de irrigação, sementes melhoradas, assistência técnica, entre outros. Quanto mais alto o valor, mais modernizada é considerada a área.

6º ano

269


1. O que está representado no mapa?

2. O que significam as cores usadas?

3. De acordo com o mapa, em quais áreas do país estão os maiores índices de modernização agríco-

la? Quais apresentam índices mais baixos?

O CAMPO MODERNIZADO NO BRASIL A modernização do campo no Brasil passa a ocorrer basicamente a partir dos anos 1970. Mas já na década anterior existiam no país fábricas de tratores. Como vimos, por meio desse processo combinou-se indústria e agricultura. Ele reforçou o regime de trabalho assalariado, associado a outros sistemas. Foram feitos também investimentos no desenvolvimento científico-tecnológico do setor, com novas técnicas de correção dos solos, melhoramento de sementes e de espécies vegetais e animais. Uma estatal, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), teve e vem tendo grande participação nesse processo. Com unidades espalhadas pelo país, desenvolveu ao longo dos anos inúmeras tecnologias e produtos (sementes melhoradas, técnicas de correção de solos etc.). Assim, em algumas décadas, o país alcançou elevados índices de produtividade agrícola, tornando-se um grande exportador de grãos, laranja, carne bovina, entre outros. O processamento industrial de bens agrícolas ficou a cargo de agroindústrias, como as usinas de cana-de-açúcar, álcool e etanol e os grandes frigoríficos. Implantou-se no Brasil talvez o mais bem-sucedido processo de cultivos agrícolas em áreas tropicais da história recente. Incluem-se nessa lista a produção de carne de frango, soja, milho, cana-de-açúcar, café e laranja. Esse processo se tornou mais completo e mais efetivo com a instalação de modernos sistemas de infraestruturas necessárias à produção e ao escoamento dos bens, com rodovias, ferrovias de carga, portos e sistemas energéticos e de irrigação, embora ainda haja problemas a ser solucionados. Ampliou-se e consolidou-se também uma rede de cidades brasileiras essenciais para garantir o escoamento da produção e gerar conhecimento e informação para os espaços agrícolas regionais. 270

Geografia


Portanto, houve uma radical transformação na produção e na organização do espaço geográfico brasileiro. Contudo, existe também o outro lado da moeda. Muitas das culturas de exportação se expandem sobre áreas tradicionais de culturas alimentares e de agricultura familiar, que atendem ao abastecimento do mercado interno e garantem a sobrevivência de milhares de pequenos agricultores. Há uma modernização desigual entre as regiões. O Centro-Sul (área formada pelos estados do Sudeste, do Sul e de parte do Centro-Oeste) é a região do país que mais incorporou práticas agrícolas modernas. Essas práticas já alcançam outras regiões, como a produção de soja no oeste da Bahia, no sul da Amazônia, no Maranhão e no Piauí, assim como a produção de frutas para exportação no médio vale do rio São Francisco; mas ainda há forte desigualdade no acesso a esses benefícios.

CONHECER MAIS

Fronteiras da agropecuária na Amazônia A exploração da fronteira amazônica ocorreu no contexto de um mercado nacional unificado, isto é, integrado por meio de tecnologias de produção e comercialização. Diferentemente das anteriores, a nova frente é ocupada também por formas urbanas e atividades diversificadas, tais como a agropecuária, o extrativismo mineral e vegetal e as indústrias. Entre as décadas de 1960 e de 1980, esse processo combinou a implantação de projetos agropecuários, envolvendo empresas e grandes proprietários, em áreas de ocupação mais antiga (o eixo Belém-Brasília e o sul do Pará), baseadas na pecuária e nas lavouras de arroz. [...] Disponível em: <http://antigo.revistaescola.abril.com.br/ online/planodeaula/ensino-fundamental2/PlanoAula_278499. shtml>. Acesso em: 25 abr. 2012.

Fernando Bueno/Pulsar Imagens

Colheita de soja em Costa Rica (MS), 2010.

A modernização não alterou a estrutura da distribuição de terras no campo, que permaneceu fortemente concentrada nas mãos de grandes proprietários. Portanto, há um aumento extraordinário da produção agrícola sem a distribuição das terras. Enquanto governos e empresários rurais comemoram os resultados, pequenos agricultores se veem excluídos dos benefícios da modernização ou transformados em assalariados. Isso está na base dos sucessivos conflitos e movimentos de ocupação de propriedades que ocorrem no campo. 6º ano

271


Há custos ambientais e sociais, em especial com o avanço das culturas sobre áreas de floresta e cerrado, como no sul da Amazônia e no Centro-Oeste. Isso coloca em risco parques e reservas naturais, terras indígenas e populações tradicionais, além de dificultar a implantação de outras opções econômicas, como a coleta e o processamento de produtos da floresta. No século XIX e na primeira metade do século XX, a ocupação de novas áreas agrícolas no Brasil deu-se por meio das chamadas frentes pioneiras, como a marcha do café no Sudeste. Nesse curso, produtores rurais organizaram novos espaços na região, em núcleos mais ou menos distantes entre si, avançando sobre terras livres à base da queima de florestas e da rotação de terras. Já o movimento recente de expansão das fronteiras econômicas internas do país difere bastante das frentes pioneiras do passado. Verificada particularmente no Norte e no Centro-Oeste do país, a partir dos anos 1970 contou com forte participação do Estado, que comandou a ocupação em extensas faixas da Amazônia. O governo militar da época pretendia ocupar os “vazios” do território e controlar as fronteiras do país. Dos anos 1970 em diante, vários projetos de colonização foram implantados, como os que ocorreram ao longo da rodovia Transamazônica. A maior parte deles fracassou, em especial por causa dos problemas de escoamento dos bens agrícolas. Muitos desses projetos foram pensados apenas para aliviar tensões e conflitos no campo. A partir de meados dos anos 1980, criaram-se projetos de colonização para empresários rurais. Parte deles localiza-se em Mato Grosso, ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém. Muitos empresários rurais vêm tendo sucesso com a lavoura mecanizada de soja.

A AGRICULTURA FAMILIAR

Participação da agricultura familiar no pessoal ocupado na agricultura (em %)*

Participação da agricultura familiar no pessoal ocupado na agricultura (em milhões de pessoas)* 12,3

Agricultura familiar 74,4% 4,2

Agricultura não familiar 25,6% Agricultura familiar

272

Geografia

Agricultura não familiar

Planeta Terra Design

Apesar das inúmeras dificuldades – entre elas, a de obter uma propriedade e ter acesso a créditos –, a agricultura familiar tem sido muito produtiva no Brasil. Ela responde por parte significativa da produção de alimentos que abastecem o mercado interno. Examine os gráficos a seguir:


Planeta Terra Design

Participação da agricultura familiar na produção de alimentos Mandioca

87%

Feijão

70%

Milho

46%

Café

38%

Arroz Trigo Soja

34% 21% 16%

Leite

58%

Aves

50%

Suínos Bovinos

59% 30%

Fontes: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Agricultura familiar e o Censo Agropecuário 2006. Brasília: MDA, 2009, p. 4, 6; Um novo Brasil rural: 2003-2010. Brasília: MDA, 2010, p. 104.

GLOSSÁRIO

O que é agricultura familiar? Que resultados de sua ativiAssentamento de reforma agrária: área destinada à produção agropecuária, criada dade produtiva estão sendo mostrados nos gráficos? a partir da desapropriação de terras (em Converse com seus colegas. Pode ser que algum deles vegeral, de grandes propriedades improdutivas) e transferida a trabalhadores rurais. nha de área rural, onde vivia com a família em uma pequena Muitos assentamentos resultam de longos propriedade agrícola. processos de lutas e negociações entre agricultores e governos. Como o próprio nome diz, a agricultura familiar baseiaPosseiro: trabalhador rural que não possui -se no trabalho agrícola, em pequenas propriedades rurais e, título de propriedade, instalando-se (tomando posse) em terras públicas ou de forma predominante, no uso da mão de obra dos memprivadas para produzir. bros de uma mesma família. Diversos estabelecimentos e trabalhadores se enquadram nessa definição, desde os que possuem pequenas propriedades até posseiros ou membros de comunidades de assentamentos de reforma agrária. Comunidades tradicionais, como as de descendentes de quilombolas, populações ribeirinhas, pescadores e populações que praticam o extrativismo também integram a agricultura familiar. O gráfico mostra que quase 75% do pessoal diretamente ocupado com atividades agrícolas no Brasil são de estabelecimentos rurais de agricultura familiar. Isso representa um contingente de mais de 12 milhões de pessoas. A agricultura familiar é decisiva na produção de alimentos no país. Ela responde por grande parte da produção de mandioca, feijão, arroz, leite e carne suína, com bom desempenho também na produção de milho, café, e de carne bovina e de aves. Algumas cooperativas formadas em assentamentos são hoje muito produtivas, inclusive produzindo alimentos processados industrialmente. Políticas públicas como as de concessão de créditos e as de garantia de preços dos alimentos têm permitido maior estabilidade da agricultura familiar no Brasil. 6º ano

273


AS NOVAS RELAÇÕES CAMPO-CIDADE Com a combinação entre a modernização agrícola e a urbanização, houve profundas mudanças nas relações entre o campo e a cidade. O modo de vida urbano cada vez mais influencia o meio rural, sendo visíveis as transformações nos modos de vestir, de falar, ou nos hábitos de consumo. O campo continua a ser essencialmente um fornecedor de alimentos e matérias-primas de origem vegetal e animal para processos industriais. Mas as influências do urbano sobre o campo acontecem também em relação às atividades econômicas. Antes de tudo, é preciso lembrar que houve forte migração campo-cidade no Brasil, em especial entre as décadas de 1960 e 1980. Voltaremos a esse ponto no próximo capítulo. Existem também muitas pessoas que vivem no campo, mas trabalham – ainda que por um curto período – nas cidades, em empregos urbanos. Vários deles mantêm suas roças e vão para grandes cidades por cerca de seis meses para trabalhar na construção civil, retornando para suas casas no período de semear. Outros ainda continuam vivendo no campo, mas trabalham fora de suas propriedades em tarefas não agrícolas, como as de serviços e turismo. Alguns pesquisadores intitulam essa situação de “novo rural brasileiro”. Vejamos alguns exemplos: pequenas fábricas instaladas em unidades rurais familiares, serviços domésticos (caseiros e outros empregados que trabalham em chácaras de lazer), turismo rural e ecoturismo (trabalho em hotéis-fazenda, trabalho de guia para trilhas e passeios de barco etc.), ou ainda serviços públicos nas áreas rurais (como educação e saúde). Nas fazendas atuais, também é possível observar a presença de técnicos de informática ou de pessoas que trabalham no setor administrativo. Vale a pena citar também o caso de pequenas unidades agrícolas, em que parte dos membros dedica-se ao cultivo ou à criação de animais, enquanto outros trabalham na cidade.

PESQUISAR

O lugar pode ser compreendido como uma fração do espaço geográfico onde as pessoas podem se relacionar e percorrer distâncias possíveis no dia a dia. A cidade é um lugar que possibilita a aglomeração e a interação social, muitas vezes quase sem distâncias espaciais. Para distâncias mais longas, foram criados os meios de transporte e comunicação. O lugar também compõe a identidade de cada um: cada rua ou esquina pode remeter a memórias e histórias de vida. Com alguns colegas, pesquise e avalie algumas características geográficas do lugar onde todos vivem, seja na cidade, seja no campo. Se necessário, faça com seu grupo entrevistas com pessoas que frequentam a comunidade, como vendedores, motoristas de ônibus e de caminhões e outros profissionais. Para isso, utilize o roteiro a seguir. É importante registrar as respostas dadas pelos entrevistados. • O lugar onde você vive fica na cidade ou no campo? Tem grande concentração de pessoas ou não? • Como são as ruas, as praças e os demais espaços públicos? 274

Geografia


• Como é a condição das estradas, avenidas e ruas que permitem o acesso a esse lugar? Quais

• • • • • • • •

são as vias de ligação ou o acesso a outros lugares? Como são os meios de transporte disponíveis? Existe estação rodoviária, ferrovia, porto ou aeroporto? É fácil entrar em contato com outras pessoas e outros lugares? Quais os meios de comunicação disponíveis? Há estabelecimentos comerciais, bancos e serviços públicos próximos? Quais as principais atividades econômicas locais? O seu local de trabalho ou o de seus familiares é próximo ou distante de onde você vive? Existem pessoas que vieram de outros lugares? Tem ocorrido a saída de moradores para outros lugares? O lugar possui serviços como correio, coleta de lixo, tratamento de água e de esgoto? De que você mais gosta nesse lugar? Por quê? Existem pontos de encontro mais frequentados? Quais? Possui áreas verdes e espaços públicos?

Com base no roteiro e nas respostas registradas, prepare com seu grupo um relatório que descreva as principais características do lugar. O grupo poderá acrescentar outras questões que julgar importantes. Em seguida, deverá avaliar as condições do lugar e indicar o que pode ser melhorado nele. Para ampliar o trabalho, o grupo pode incluir mapas, fotos, figuras e outras imagens.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Com base no que você estudou no capítulo, dê dois exemplos que caracterizem a cidade e o campo

e estabeleça diferenças entre esses espaços. 2. Observe o gráfico a seguir: Grau de urbanização segundo as grandes regiões do Brasil (1991/2000/2010) 76,5

92,9 88 90,5

81,3 84,3

69,9 73,5 59,1

60,7

69,1

74,1

73,1

80,9

84,9

81,3

86,7 88,8

1991 2000 2010

Brasil

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Fonte: IBGE. Características da população e dos domicílios, 2001. Censo demográfico 2010.

a) De acordo com o gráfico, o que ocorreu no período em relação à urbanização das regiões brasileiras? b) Das regiões do país, qual apresenta o maior percentual de população urbana? Em sua opinião,

o que contribui para explicar esse resultado?

6º ano

275


3. Com um colega, leia o texto a seguir e comente-o: [...] as cidades cheias de vida não são impotentes para combater mesmo os problemas mais difíceis. Não são vítimas passivas de uma sucessão de circunstâncias, assim como não são a contrapartida maléfica da natureza. As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender, comunicar, planejar e inventar [...] JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 498.

4. Com base no que você estudou no capítulo, comente o texto a seguir: Eliminar a fome do mundo e a extrema pobreza até 2015, bem como alavancar a produção de alimentos em 70% até 2050. Estes são dois dos objetivos da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. E o Brasil tem um papel chave neste contexto: “Não só pela produção de bens agrícolas e de alimentos, mas também pelo sucesso no combate à fome e à pobreza no mundo”, afirma Hélder Muteia, moçambicano que representa a FAO no Brasil. Ele ressalta que, “se por um lado a agricultura empresarial garante o volume de alimentos que gera o equilíbrio da balança alimentar, a agricultura familiar está mais voltada para a diversificação”. Fonte: FAO-ONU. Combinação de escala e diversidade faz do Brasil protagonista na produção de alimentos. Disponível em: <www.fao.org.br/aefcFAO.asp>. Acesso em: 7 ago. 2012.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Documento Agricultura familiar e o censo agropecuário 2006

Apresenta dados sobre a distribuição das terras e a produção de alimentos pela agricultura familiar no Brasil. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Agricultura familiar e o Censo Agropecuário 2006. Brasília: MDA, 2009. 16 páginas.

Apresenta dados, mapas e gráficos sobre processos de urbanização em megacidades no Brasil e em outros países. Disponível em: <www.estadao.com.br/megacidades >. Acesso em: 22 abr. 2012.

Ministério do desenvolvimento agrário

Permite o acesso a diversas publicações sobre a agropecuária brasileira.

Sites

Disponível em: <www.mda.gov.br/portal/publicacoes>. Acesso em: 11 jul. 2012.

Atlas do saneamento 2011

Dados sobre saneamento básico (água, esgotos, coleta e tratamento do lixo) nos municípios brasileiros. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/atlas_saneamento/default_zip. shtm>. Acesso em: 12 jul. 2012.

Censo agropecuário 2006

Dados do último Censo Agropecuário realizado no país. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/default. shtm>. Acesso em: 11 jul. 2012.

Ibge: censos demográficos

Traz dados demográficos de diferentes edições dos Censos realizados pelo IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 11 jul. 2012.

276

Megacidades

Geografia

Movimento dos trabalhadores rurais sem-terra (mst)

Portal com objetivos e lutas promovidas por entidade que congrega trabalhadores rurais do país. Disponível em: <www.mst.org.br>. Acesso em: 12 jul. 2012.


Capítulo

3

GEOGRAFIA

D

Mundo em movimento

esde tempos remotos, as populações humanas realizam deslocamentos em busca, por exemplo, de alimentos, água ou abrigo. No mundo contemporâneo, as motivações para os deslocamentos se multiplicaram e se intensificaram. A Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011, estimou que cerca de 3% da população mundial vivia fora de seu país de origem. Isso representava aproximadamente 215 milhões de pessoas.

GLOSSÁRIO

Organização das Nações Unidas: entidade internacional formada após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que hoje congrega 193 países-membros. Entre seus objetivos está o de garantir a paz mundial e promover relações de cooperação, o progresso social e a melhoria dos padrões de vida e de direitos humanos. Nem sempre a organização atinge esses objetivos, em especial pela influência dos países mais poderosos na tomada de decisões.

Guilherme Gaensly/Memorial do Imigrante, SP

Imigrantes chegando ao porto de Santos (SP), c. 1905.

RODA DE CONVERSA

Reúna-se com os colegas e o professor e converse sobre migrações. Tente responder às perguntas a seguir: Por que as pessoas se deslocam? Em outras palavras, o que leva alguém a deixar sua terra natal e seus laços sociais e familiares para ir viver em outro lugar? Existem estudantes da turma que são migrantes? Quantos são os estudantes nessa situação? Qual é o estado com maior número de migrantes na turma? No Brasil, quais destinos são os mais procurados? Procure também descobrir se os estudantes migrantes tiveram dificuldades para se adaptar aos novos espaços de vida. Ouça depoimentos e histórias de vida e registre as informações. Escreva um texto coletivo com as principais conclusões da turma na lousa. Para saber mais sobre os motivos que levam as pessoas a migrar, tanto no passado como no presente, realize a atividade a seguir. 6º ano

277


LER MAPAS I

Observe os mapas e, em seguida, responda às perguntas. A grande migração transatlântica (fim do século XIX – início do século XX)

N O

L

0

2 060

4 120 km

S

Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 28.

Ilustrações digitais: Mario Yoshida

Principais movimentos migratórios (2007)

Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 27.

278

Geografia


1. Quais são os assuntos tratados nos mapas? Que recursos cartográficos foram utilizados para ela-

borar cada um deles? 2. Observe com atenção os contornos dos países e continentes do fundo do segundo mapa. Qual

região está ocupando o seu centro e em que o mapa se diferencia dos mapas-múndi que estamos acostumados a ver? 3. Quais são os principais fluxos representados no primeiro mapa? Em sua opinião, por que eles

ocorreram? 4. Com base no segundo mapa, cite três regiões emissoras e outras três regiões receptoras de imi-

grantes no mundo atual.

O QUE MOVE O MUNDO? Os mapas mostram importantes fluxos migratórios no fim do século XIX e início do século XX, e também os inúmeros movimentos que ocorrem no mundo atual. Mas é preciso considerar que anteriormente, durante séculos, milhões de africanos (estimativas apontam cerca de 10 milhões de pessoas) foram arrancados de suas regiões de origem para trabalhar como escravos na América do Norte, América do Sul – o que inclui o Brasil – e América Central. O tráfico de escravos africanos ocorreu também pelas mãos de mercadores muçulmanos, que levavam desde o século VII pessoas da África oriental para o Oriente Médio, a Ásia e o sul da Europa. Esse é um exemplo das chamadas migrações forçadas ou involuntárias. Nas últimas décadas do século XIX e início do século XX, milhões de europeus, em especial os pobres que viviam no campo, deslocaram-se para o continente americano. O número mais expressivo migrou para os Estados Unidos, então visto como uma grande terra de oportunidades. Outros se deslocaram para países como Brasil e Argentina. Entre os migrantes estavam italianos, espanhóis, portugueses e irlandeses.Tais movimentos foram motivados pela busca de melhores condições de vida e trabalho. No segundo mapa, é possível perceber que há fluxos em diferentes direções, envolvendo diversas regiões e países. A Europa é um grande centro receptor de migrantes, invertendo o movimento que ocorria há pouco mais de cem anos. Para lá se deslocaram, nas últimas décadas, diversos grupos originários de ex-colônias europeias na África, além de turcos, indianos e paquistaneses (estes dois últimos, preferencialmente para o Reino Unido). Diversos habitantes do norte da África com frequência se deslocam para trabalhar em países como Espanha e Itália. Alguns movimentos recentes ocorreram também em razão de fortes convulsões sociais em países como Tunísia, Egito e Líbia. Trata-se de um caso de migração em função de instabilidades políticas. Nesse quadro, não há garantias de segurança para indivíduos e famílias – muitos deles perseguidos pelos grupos políticos que estão em disputa em determinado país.

6º ano

279


Como medir as migrações Há dois modos de medir as migrações: diretamente, por meio de registro de entrada e saída de pessoas em determinado local e período, e indiretamente, por meio de dados censitários e registros civis. São considerados imigrantes todos os que chegam a uma cidade, região ou país para aí se estabelecerem. Emigrantes, por sua vez, são as pessoas que estão deixando seu domicílio para dirigir-se a outra cidade, região ou país. Costuma-se dividir os processos migratórios em externos (entre países) e internos (no interior de um país). As pessoas que se enquadram neste último tipo são também designadas genericamente como migrantes.

Alessandra Benedetti/Corbis/Latinstock

CONHECER MAIS

Imigrantes norte-africanos em fuga de conflitos em seus países chegam à ilha de Lampedusa, no sul da Itália, 2011.

Há também latino-americanos, entre eles os mexicanos, os que vêm de países da América Central, e também os brasileiros, que procuram ingressar nos Estados Unidos – muitos na condição de imigrantes ilegais ou clandestinos. Indianos, filipinos e outros grupos de países asiáticos deslocam-se nos últimos anos para trabalhar nas ricas economias do petróleo no Oriente Médio – por exemplo, no Kuwait, nos Emirados Árabes Unidos ou na Arábia Saudita. Muitos procuram esses países para trabalhar na construção civil ou em empregos domésticos (em especial, no caso das mulheres). É importante destacar os casos da Austrália e do Canadá, países que contam com grandes contingentes de imigrantes. Ambos são extensos, mas com população reduzida. Por isso, em diferentes momentos de sua história, desenvolveram políticas de recepção de imigrantes. Há importantes comunidades de portugueses e chineses no Canadá, além de grupos que vieram da América Central, e de chineses e indonésios na Austrália, além de migrantes europeus. Do total de pessoas em movimento hoje no mundo, grande parte decide deixar sua terra natal para buscar novas condições de vida e trabalho, para estudar ou se juntar a familiares. O grupo formado por pessoas que foram forçadas a deixar seu país de forma definitiva é de aproximadamente 43 milhões, segundo dados da ONU de 2009. São os chamados refugiados, que correspondem a indivíduos ou grupos que foram obrigados a sair de seu país em razão de perseguição política ou religiosa, conflitos entre povos e culturas, guerras, situações de fome ou pobreza extremas – que colocam a própria vida em risco. Ou, ainda, deslocam-se por causa de desastres ambientais, como terremotos, secas ou inundações. Entre os maiores grupos de refugiados que hoje vivem fora de seus países estão os de afegãos e os de palestinos. 280

Geografia


Mas vale notar que a maior parte dos movimentos migratórios, considerando o número de pessoas, ocorre dentro dos próprios países. Hoje, milhões de chineses estão se deslocando do interior para cidades da costa leste, como Xangai e Pequim (ou Beijing). Há também milhares de indianos que migram para cidades como Mumbai e Kolkata (antiga Calcutá), e de nigerianos que partem das pequenas vilas do norte do país para a megacidade de Lagos, no sul do país.

PESQUISAR

Com os colegas e o professor, consulte um atlas geográfico ou mapa-múndi e localize regiões, cidades e países mencionados no texto.

MIGRAÇÕES: CONFLITOS, ADAPTAÇÃO, DIREITOS Como veremos adiante, outro exemplo importante de migração interna é o do Brasil. Nas últimas décadas, milhões de nordestinos se deslocaram para as grandes cidades da região Sudeste, em especial São Paulo e Rio de Janeiro. É importante dizer que hoje esses fluxos continuam a ocorrer, envolvendo em especial pequenos agricultores que fogem da seca no sertão nordestino. Nesse caso, abandonar a terra é a única opção para garantir a sobrevivência das famílias. Mas isso não ocorre somente com nordestinos: também os agricultores do sul do país – muitos deles já na condição de empresários agrícolas – tiveram de buscar novas oportunidades no Centro-Oeste, na Amazônia, e até no Paraguai, país vizinho. Com os deslocamentos e a chegada de migrantes a um novo lugar de destino, ocorrem contatos entre representantes de diferentes culturas, regiões de origem e classes sociais. Nesse quadro são muito frequentes conflitos, choques culturais e até situações de discriminação e segregação em relação aos recém-chegados. É o caso, por exemplo, de nordestinos e bolivianos na cidade de São Paulo. Há também fluxos recentes de haitianos para o Brasil. Eles chegam ao país pelos estados do Acre e do Amazonas, após terem passado por países vizinhos como Peru e Colômbia. Nos Estados Unidos ou em países da Europa Ocidental têm sido adotadas restrições à entrada de imigrantes vindos de países pobres. Muitas pessoas são detidas nos aeroportos, mesmo que tenham dinheiro e visto de entrada, sendo embarcadas de volta ao país de origem. Quem permanece pode enfrentar a intolerância e a resistência da população local e de autoridades. Discute-se hoje, mais que no passado, os direitos dos migrantes. Neste capítulo, serão abordados esses e outros assuntos, com destaque para os principais fluxos migratórios no Brasil e no mundo. São analisadas também algumas razões que levam as pessoas a tomar a difícil − e muitas vezes dolorosa − decisão de abandonar suas raízes e laços sociais em busca de outro lar.

6º ano

281


Este muro foi construído na fronteira entre México e Estados Unidos, separando respectivamente a cidade mexicana de Tijuana e a cidade estadunidense San Diego. Um dos objetivos do muro é conter a imigração ilegal para os Estados Unidos, reproduzindo um objeto geográfico “muro ou cerca” de triste memória para a história da humanidade. Muitos especialistas questionam esse tipo de solução.

Jim West/Alamy/Otherimages

Para conter a imigração

Muro na fronteira entre Estados Unidos e México, 2012.

GLOSSÁRIO

BRASIL EM MOVIMENTO Atualmente, neste início do século XXI, o Brasil conta com uma das populações mais numerosas do mundo, apesar de ter enormes vazios populacionais em seu território. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o século XX, a população nacional aumentou cerca de dez vezes, de 17,5 milhões de habitantes em 1900 para ao redor de 186 milhões no início de 2008. Em 2012, chegamos a aproximadamente 193 milhões de pessoas. A população se distribui desigualmente pelo território, com densidade demográfica mais elevada na faixa litorânea e menor ocupação em áreas interiores. Somos um país urbano: em 2010, segundo o Censo realizado pelo IBGE, 84% da população brasileira vivia em cidades, grande parte dela nas metrópoles. Isso reforça as mudanças demográficas que estamos vivendo. Há franca redução nas taxas de natalidade e fecundidade, e uma desaceleração no ritmo do crescimento populacional. O número de jovens ainda é expressivo, mas o contingente de idosos está aumentando − resultado da combinação entre a queda na mortalidade e o aumento da expectativa de vida.

Expectativa de vida (ou esperança de vida): número médio de anos que se espera que vivam os membros de uma população. É um índice influenciado pelas condições de renda, atendimento à saúde, saneamento básico e alimentação. Fecundidade: as taxas de fecundidade expressam o número médio de filhos que as mulheres têm ao longo de sua vida reprodutiva. A queda da taxa de natalidade está ligada à entrada das mulheres no mercado de trabalho e ao fato de que muitas pessoas passam a viver em cidades, onde, em média, o número de filhos é menor que no campo. A fertilidade, por sua vez, refere-se ao potencial das mulheres para conceber. Mortalidade: as taxas de mortalidade são obtidas pela divisão do número de óbitos pelo total da população de uma região ou país. No Brasil, causas externas (violência no trânsito, morte por armas de fogo etc.) e a dificuldade de acesso à saúde incidem diretamente nessas taxas. A mortalidade infantil refere-se ao número de crianças nascidas vivas que morrem antes de completar um ano de idade. Dados do Censo 2010 revelaram uma queda expressiva da mortalidade geral e infantil no Brasil, em especial no Nordeste, que historicamente apresentou as taxas mais elevadas. Natalidade: as taxas de natalidade referem-se ao número de nascidos vivos em relação ao total da população de uma dada área. Vinculase às taxas de fecundidade e fertilidade.

LER TABELA E IMAGEM

Ao lado dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, o Brasil foi um dos grandes receptores de imigrantes no fim do século XIX e ao longo do século XX. Para compreender alguns elementos dos fluxos migratórios no Brasil, analise a tabela a seguir:

282

Geografia


Imigração no Brasil por nacionalidade – Períodos decenais 1884-1893 a 1924-1933 Efetivos decenais Nacionalidade 1884-1893 Alemães

1894-1903

1904-1913

1914-1923

1924-1933

22 778

6 698

33 859

29 339

61 723

Espanhóis

113 116

102 142

224 672

94 779

52 405

Italianos

510 533

537 784

196 521

86 320

70 177

Japoneses

11 868

20 398

110 191

170 621

155 542

384 672

201 252

233 650

96

7 124

45 803

20 400

20 400

66 524

42 820

109 222

51 493

164 586

883 668

852 110

1 006 617

503 981

717 223

Portugueses Sírios e turcos Outros Total

Fonte: IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Disponível em: <www.ibge.gov.br/brasil500/tabelas/imigracao_nacionalidade_84a33.htm>. Acesso em: 2 maio 2012.

1. Qual o período de chegada de imigrantes ao Brasil registrado pela tabela?

2. Dos principais grupos de estrangeiros que vieram para o Brasil nos períodos mencionados na

tabela, qual foi o mais numeroso?

3. Dos grupos de imigrantes mencionados na tabela, qual foi o último a chegar ao Brasil? Você

saberia dizer o nome de dois estados onde vivem muitos representantes desse grupo e seus descendentes.

4. Por que esses imigrantes se mudaram para o nosso país? Em quais atividades vieram trabalhar?

6º ano

283


Coleção particular

Observe a imagem a seguir e responda às questões de 5 a 7.

Cartão-postal, São Paulo (SP), c. 1910. Imigrantes trabalhando na colheita de café, no interior do estado de São Paulo, no início do século XX.

5. Destaque a data e o lugar retratado na fotografia. 6. Descreva o que você observou na imagem. 7. Que atividades os imigrantes estão desempenhando? Em qual tipo de espaço eles estão trabalhando?

A tabela e a imagem mostram diferentes grupos de imigrantes que vieram ao Brasil para trabalhar e viver aqui. Estima-se que aproximadamente 4 milhões de pessoas chegaram ao país entre 1887 e 1930. Isso se explica, entre outras razões, à forte demanda por mão de obra nas lavouras de café. Havia também o desejo das elites brasileiras de trazer para o país colonos brancos de origem europeia. Porém, boa parte desses imigrantes era constituída de camponeses pobres em seus países de origem. Os governos do Brasil, da Itália e do Japão chegaram a firmar contratos para a vinda desses imigrantes. A maioria dos imigrantes dirigiu-se para o Centro-Sul e a faixa oriental (a leste) do território nacional, com destaque para o estado de São Paulo, que concentrou mais de 50% desse contingente. Os maiores grupos foram de italianos, portugueses e espanhóis. Alemães e japoneses também chegaram em número significativo. Outros grupos minoritários foram os de sírio-libaneses, judeus, e de povos da Europa oriental, como poloneses e russos. Judeus vindos de diferentes países, assim como portugueses, italianos e espanhóis, entre outros, desempenharam tarefas nas cidades, tanto na nascente produção fabril como no comércio, nos serviços, na construção de vias de transporte e edificações. Essa presença ampliou ainda mais a diversidade social e cultural existente no país. 284

Geografia


Fabio Braga/Folhapress

Imigrantes bolivianos trabalham em oficina de costura em São Paulo (SP), 2011. Muitos desses trabalhadores vivem em condições análogas à escravidão.

Na segunda metade do século XX, novos imigrantes chegaram ao Brasil, muitos para trabalhar em fábricas, no comércio e nos serviços. Entre eles estavam bolivianos e paraguaios, além de coreanos e chineses. No entanto, a vida não tem sido fácil para muitos deles. São frequentes, por exemplo, denúncias de trabalho escravo envolvendo imigrantes bolivianos em pequenas fábricas de confecções de roupas de São Paulo. Há casos em que eles são explorados por imigrantes de outras nacionalidades. Muitos que vivem nessas condições evitam fazer denúncia porque estão em situação ilegal no Brasil.

MIGRAÇÕES INTERNAS NO BRASIL Vamos examinar agora os fluxos migratórios internos, em especial os ocorridos após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o país vivenciou períodos de forte modernização econômica. É preciso registrar também a ocorrência de fluxos internos anteriores, como os de nordestinos para a Amazônia no período da exploração da borracha (últimas décadas do século XIX).

CONHECER MAIS

IBGE: número de imigrantes no Brasil sobe quase 87% em 10 anos O Censo 2010 registrou um grande aumento no movimento de entrada no país em relação a 2000. Foram 286,5 mil imigrantes internacionais pelo critério de data-fixa, ou seja, indivíduos que residiam no Brasil na data de referência do Censo, mas que moravam em um país estrangeiro cinco anos antes. Esse número foi 86,7% maior do que em 2000 (143,6 mil). Os principais estados de destino desses imigrantes foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais, que, juntos, receberam mais da metade dos imigrantes internacionais do período. Os principais países de origem dos imigrantes foram: Estados Unidos (51 933), Japão (41 417), Paraguai (24 666), Portugal (21 376) e Bolívia (15 753). Jornal do Brasil, 27 abr. 2012. Disponível em: <www.jb.com.br/pais/ noticias/2012/04/27/ibge-numero-de-imigrantes-no-brasil-sobe-quase87-em-10-anos>. Acesso em: 12 jul. 2012; UOL notícias. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/04/27/ numero-de-imigrantes-morando-no-brasil-quase-dobra-em-dez-anos-sp-epr-sao-os-principais-destinos.htm>. Acesso em: 2 maio 2012.

6º ano

285


LER MAPAS II

Por meio de uma coleção de mapas, é possível compará-los e verificar o que ocorreu em relação ao mesmo fenômeno em diferentes períodos. Observe os mapas e responda às questões a seguir. Brasil – Migrações internas 1960-1970

1970-1980

N O

0

L

510

1 020 km

S

Fonte: SANTOS, Regina Bega. Migrações no Brasil. São Paulo: Scipione, 1994. Adaptado.

N O

L

0

510

Ilustrações digitais: Mario Yoshida

1990-2000

1 020 km

S

Fonte: SANTOS, Regina Bega. Migrações no Brasil. São Paulo: Scipione, 1994. Adaptado.

N O

L

0

510

1 020 km

S

Fonte: BAENINGER, Rosana. Núcleo de Estudos de População. Campinas: Unicamp, 1990-2000. Adaptado.

286

Geografia


1. Anote o título, os períodos representados e a fonte dos mapas. 2. Por que há diferenças de largura nas setas dos mapas? 3. Compare os três períodos representados nos mapas e aponte as principais diferenças e semelhan-

ças entre eles. Destaque as principais direções dos fluxos de migrantes, anotando as regiões de origem e de destino. 4. Qual dos fluxos principais manteve-se ao longo do período, com pequenas alterações? 5. Observe o mapa que se refere ao período 1990-2000. O que está sendo representado pela seta

larga que parte de São Paulo em direção ao Nordeste do país? 6. Escreva um texto comentando a evolução das migrações no país nas últimas décadas.

BREVE HISTÓRICO DAS MIGRAÇÕES INTERNAS

Marcelo Cortes/Fotoarena/Folhapress

Considere que a coleção de mapas mostra fluxos ou movimentos que compõem as dinâmicas espaciais brasileiras. Tais fluxos são representados por setas de diferentes larguras, que indicam áreas de emissão ou recepção de pessoas. As diferenças de largura das setas revelam quantidades: quanto mais larga a seta, maior o número de pessoas. Portanto, os mapas são dinâmico-quantitativos. Como esses fluxos e direções podem ser explicados? Retome as histórias de vida dos colegas da turma para verificar se elas confirmam os movimentos migratórios no país apresentados nos mapas. Nos períodos 1960-1970 e 1970-1980 predominaram os fluxos de longa distância entre as regiões. As setas mais largas indicam intensos movimentos de trabalhadores, como os do Nordeste para o Sudeste e para a Amazônia. Deslocaram-se para grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro – centros industriais e o núcleo econômico-financeiro do país. Na Grande São Paulo, que em 2010 possuía 19 milhões de habitantes na área metropolitana, a maioria dos migrantes nordestinos é baiana. Ali, o termo “baiano” passou a ser sinônimo de “nordestino”.

Apresentação de dança nas comemorações do Dia de São Pedro, no Centro de Tradições Nordestinas (também conhecido como Feira de São Cristovão), 2012. O local é ponto de encontro de migrantes nordestinos na cidade do Rio de Janeiro.

6º ano

287


Outros deslocamentos importantes envolveram agricultores do Sul do país que migraram para o Centro-Oeste e para o sul da Amazônia. A construção de Brasília, em pleno Planalto Central, também motivou o deslocamento de trabalhadores mineiros, goianos e nordestinos, entre outros, para aquela área. Destacam-se também os fluxos do eixo noroeste, dos sulistas em direção ao Centro-Oeste e às fronteiras da Amazônia, também de longa distância. Em especial nas décadas de 1960 e 1970, fortes investimentos do Estado estimularam projetos de colonização e ocupação das áreas de fronteiras econômicas da faixa sul da Amazônia. Nos períodos seguintes, os fluxos passaram a ser de curta distância, ocorrendo em quase todas as direções – muitos deles entre estados da mesma região. Por exemplo, do sertão para as principais capitais dos estados do Nordeste, ou do Meio-Norte (Maranhão e Piauí) para a Amazônia oriental. Ocorreram também deslocamentos internos nas regiões da fronteira amazônica e entre os que trabalham na agropecuária moderna no Centro-Oeste. Nos anos 1990, setores da classe média urbana passaram a se deslocar de cidades como São Paulo para núcleos urbanos de porte médio, como Florianópolis (SC). No período 1990-2000, é possível notar que se mantém o fluxo tradicional Nordeste-Sudeste, mas também ocorrem fluxos na direção contrária. Parte importante dessa inversão está ligada às chamadas migrações de retorno, com a volta de migrantes nordestinos à terra natal. Outras parcelas referem-se às migrações sazonais. Nesse caso, por exemplo, trabalhadores passam uma parte do ano trabalhando na construção civil, em São Paulo, e outra parte em suas roças, no Nordeste. Assim, para compreender esses movimentos, é preciso conhecer os contextos econômicos e políticos de cada período. Os fluxos atuais, por exemplo, correspondem a um momento de maior descentralização de atividades econômicas pelo território nacional. É inegável o papel dos migrantes no acúmulo de riquezas do país. Não seria possível erguer uma metrópole moderna como São Paulo, com sua densa rede viária, metrô e arranha-céus, sem o trabalho dessas pessoas. Do mesmo modo, o Brasil não teria se constituído num dos 288

Geografia

CONHECER MAIS

O preconceito contra o nordestino No Brasil, o preconceito por origem geográfica marca, especialmente, os nordestinos. Esse preconceito se expressa, por exemplo, por meio dos estereótipos do “baiano” e do “paraíba”, como lembra o pesquisador Durval Muniz Albuquerque Jr. São denominações usadas genericamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente, em referência aos migrantes vindos da região Nordeste. Ao nordestino ainda estão vinculados outros tipos sociais vistos com certo desprezo ou até receio, como o retirante, o flagelado, o migrante, o pau de arara, o arigó, entre outros. Entretanto, é preciso questionar o olhar reducionista, que só enxerga o mesmo e repetitivo lugar-comum sobre o Nordeste e os nordestinos. Essa região nem sempre existiu como a conhecemos hoje; ela continua apresentando altas taxas de miséria e exclusão social, mas tem sido uma das que mais cresce economicamente nos últimos anos. O Nordeste é hoje um espaço diversificado do ponto de vista econômico, político, social e cultural, uma realidade complexa, que não pode ser explicada por esses desgastados estereótipos construídos desde o princípio do século passado − especialmente pelas próprias elites nordestinas. O preconceito contra o nordestino está associado não só à forma como a região e os seus habitantes foram descritos, mas também ao preconceito contra os pobres e ao preconceito racial. GLOSSÁRIO

Arigó: que ou quem é da roça ou nela trabalha; caipira, roceiro. Estereótipo: padrão formado por ideias preconcebidas, em geral pejorativas ou desqualificadoras, e reforçado pela falta de conhecimento sobre algo ou alguém.


principais celeiros agrícolas do mundo sem os braços de uma legião de agricultores, que, expulsos de suas terras, dirigiram-se para as novas fronteiras das regiões Centro-Oeste e Norte, dispostos a trabalhar para grandes empresas ou grandes propriedades rurais. A inserção dos migrantes nos lugares de destino não foi isenta de conflitos e dificuldades. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, muitos foram viver em bairros periféricos precários e mal atendidos por serviços urbanos. Ou, ainda, em habitações e bairros degradados, nos anéis centrais dessas cidades. Não raro, são vítimas de preconceito e discriminação. Ao lado de outros preconceitos ainda presentes no Brasil, existe o relacionado à origem geográfica. Vale lembrar também que os migrantes que participaram dos processos de ocupação do sul da Amazônia viveram muitas dificuldades. Muitos deles foram abandonados à própria sorte, principalmente por conta de problemas de financiamento e escoamento da sua produção agrícola. A região constituiu o chamado “arco do desmatamento”, extensa faixa que vai de Rondônia a leste do Pará, marcada pela rápida retirada das matas − um prejuízo incalculável ao patrimônio nacional. Um dos desafios do século XXI em nosso país é garantir vida digna aos migrantes, além de promover uma ocupação equilibrada e sustentável. Todos devem ter acesso aos direitos fundamentais, como moradia, trabalho, saúde e educação, entre outros. E, evidentemente, à liberdade de ir e vir.

EMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS O Brasil nunca foi um grande emissor de populações para outros países. A ausência histórica de oportunidades em países fronteiriços talvez ajude a explicar esse fato. Entretanto, a prolongada crise econômica que afetou o país na década de 1980 fez com que muitos brasileiros fossem tentar a sorte no exterior. Contribuiu para isso também a chamada globalização. Nessa nova fase do sistema capitalista mundial, intensificaram-se os meios de comunicação e informação, ou seja, passou a ser mais fácil conhecer os destinos e as respectivas condições de vida em diferentes países. Dessa forma, ainda na década de 1980, cerca de 1,2 milhão de brasileiros dirigiu-se para Estados Unidos, Japão, Canadá e países da Europa Ocidental − com destaque para Portugal, Reino Unido, Espanha e Itália. Já no fim da década de 1970, outros brasileiros, sobretudo da região Sul, haviam se deslocado para países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Argentina. Hoje há registros de que os brasileiros estão por toda parte, vivendo, por exemplo, em Angola, Israel, Líbano, China e Austrália. Em 2008, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil fez um levantamento sobre o número de brasileiros no exterior, de acordo com dados fornecidos pelas embaixadas brasileiras. Como muitos emigrantes estão em situação ilegal, os dados mostram estimativas, ou seja, o número provável de brasileiros em cada país ou continente. Observe esses dados na tabela e no mapa a seguir. 6º ano

289


LER TABELA E MAPA Brasileiros no exterior – 2011 País

Estimativa de brasileiros

Estados Unidos

1 388 000

Japão

230 552

Paraguai

200 000

Reino Unido

180 000

Espanha

158 761

Portugal

136 220

Alemanha

91 087

Itália

85 000

Bélgica

60 000

Suíça

57 500

Bolívia

50 100

Austrália

45 300

Argentina

37 100

Canadá

30 146

Uruguai

30 135

Venezuela

26 000

Angola

20 000

Israel

20 000 Fonte: MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Brasileiros no mundo: estimativas. 3. ed. Brasília: MRE, jun. 2011.

Ilustração digital: Mario Yoshida

Brasileiros no exterior segundo regiões e continentes

N O

L

0

2 060

4 120 km

S

Fonte: Ministério das Relações Exteriores. Brasileiros no mundo: estimativas. 3. ed. Brasília: MRE, jun. 2011.

290

Geografia


1. Quantos brasileiros estão vivendo hoje fora do país? Escreva o nome dos dois continentes ou re-

giões com maior número de brasileiros. 2. Qual país tem o maior número de brasileiros atualmente? O que explica esse fato? 3. Em sua opinião, por que Portugal e Angola aparecem na lista dos países mais procurados? Justifi-

que sua resposta. Se necessário, peça ajuda ao professor para pesquisar sobre isso. 4. Dos países vizinhos ao Brasil, qual deles tem o maior número de brasileiros? Converse com os

colegas e responda: qual é a atividade predominante dos brasileiros nesse país? 5. O que explica o grande número de brasileiros no Japão?

PAÍSES COM FORTE IMIGRAÇÃO BRASILEIRA Dos países mencionados, o destaque vai para os Estados Unidos, que hoje contam com o maior número de emigrados brasileiros. Levantamentos feitos pela Câmara dos Deputados brasileira revelam que a intenção de permanecer definitivamente em território estadunidense é recente. Os primeiros emigrantes, em especial a partir dos anos 1980, tinham em mente uma empreitada temporária – ganhando em dólar, enviando remessas de dinheiro aos familiares no Brasil e depois retornando. A intenção de permanecer fica evidente com a diminuição das remessas, a decisão de ter filhos no país (pelas leis dos Estados Unidos, os filhos nascidos lá passam a ser considerados cidadãos estadunidenses), e o fato de muitos brasileiros terem adquirido imóveis. Em 2008, a forte crise financeira mundial, que se originou no mercado de imóveis dos Estados Unidos, levou vários brasileiros a perder suas propriedades, fazendo com que muitos retornassem ao Brasil. A principal colônia brasileira situa-se em Newark, estado de Nova Jersey. Geralmente, os brasileiros que vivem por lá desempenham tarefas de baixa qualificação, como serviços domésticos em bares e restaurantes e entregas. Os emigrantes que foram para o Reino Unido possuem perfil semelhante. O Paraguai é o país vizinho com maior número de brasileiros. Muitos são agricultores que perderam suas propriedades no Brasil e foram em busca de terras baratas e créditos (financiamentos) naquele país. São os chamados brasiguaios. Alguns chegaram a se tornar grandes produtores e exportadores de grãos, enfrentando hoje forte oposição de camponeses paraguaios sem-terra. Nos últimos anos, vem aumentando a tensão nas regiões onde se concentram as propriedades de brasiguaios. Outro destaque é o Japão. Um dos motivos que explica a ida de brasileiros para a Terra do Sol Nascente é o fato de muitos serem descendentes de japoneses que para cá vieram no século XX. Assim, as primeiras levas de dekassegui − expressão japonesa que significa “trabalhar fora de casa” − foram da primeira geração de filhos de japoneses instalados no Brasil, os nissei. Basicamente eram homens casados, acima dos 30 anos, que viajavam sozinhos e dominavam o idioma japonês. 6º ano

291


As levas mais recentes têm um perfil bastante diferente, compostas pela segunda geração, os sansei, de jovens solteiros ou com famílias recém-constituídas, incluindo cônjuge não nipônico. Boa parte não fala japonês e, ao contrário dos primeiros emigrantes, tem a intenção de permanecer mais tempo no país. No Japão, muitos vão trabalhar em fábricas em funções de baixa qualificação, trabalho rejeitado pelos japoneses. O fato de serem descendentes de japoneses permitiu a esses brasileiros ir e vir sem maiores constrangimentos − o que não ocorre em outros países. De outro lado, a maioria é discriminada e não consegue se inserir plenamente na vida social e cultural do país. A ida de muitos brasileiros para Portugal explica-se pelos laços que o Brasil tem com esse país. A facilidade com a língua é outro fator preponderante. Ali, inúmeros brasileiros trabalham em hotéis, bares, restaurantes e casas noturnas, mas também na construção civil e nos serviços domésticos. Apesar dos laços culturais, muitos brasileiros sofrem em Portugal restrições semelhantes às de outros países da Europa. Outro país de língua portuguesa que tem visto crescer a chegada de brasileiros é Angola, onde vários brasileiros, desde engenheiros até operários, dedicam-se a diversas tarefas relacionadas à construção. Assim como outros imigrantes, os brasileiros enfrentam muitas dificuldades nos países de destino. Em muitos casos, os imigrantes de países pobres são vistos com desconfiança e sofrem com o preconceito e a discriminação. Muitos possuem curso superior, mas são obrigados a desempenhar funções subalternas e sem qualificação, geralmente rejeitadas pelos nativos. Outros aspectos geram dificuldades de adaptação, como as diferenças com relação à língua, aos hábitos alimentares e às tradições culturais. Para garantir igualdade de tratamento em terras estrangeiras, a ONU lançou em 1990 a Convenção de Proteção aos Direitos dos Trabalhadores Migrantes, ratificada pelos países em 2003. Entre os pontos principais do documento está o reconhecimento da situação do migrante, seu direito de buscar trabalho em outros países, e a necessidade de garantir o acesso desse migrante e sua família a bens e serviços essenciais, como saúde, moradia e educação. Além disso, o documento prevê a liberdade de cada um de circular livremente, professar sua religião e escolher uma atividade remunerada − sem qualquer tipo de exploração. Vale ressaltar que a existência do documento não significa o fim do preconceito e da exclusão social dos imigrantes, mas já é um primeiro passo nessa direção.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Escreva com suas palavras o que significam os termos: • migração, imigração e emigração.

Destaque também duas modalidades de migração de acordo com as motivações para o deslocamento. 292

Geografia


2. Vimos neste capítulo quanto é difícil tomar a decisão de migrar e inserir-se plenamente no lugar

de destino. Sobre isso, leia a letra da canção a seguir, composta pelo baiano Gilberto Gil e pelo pernambucano Dominguinhos: Lamento sertanejo Por ser de lá do sertão Lá do Cerrado Lá do interior, do mato Da Caatinga, do roçado Eu quase não saio Eu quase não tenho amigo Eu quase que não consigo Ficar na cidade sem viver contrariado Por ser de lá Na certa, por isso mesmo Não gosto de cama mole Não sei comer sem torresmo Eu quase não falo Eu quase não sei de nada Sou como rês desgarrada Nessa multidão boiada Caminhando a esmo GILBERTO GIL; DOMINGUINHOS. Refazenda (CD). Warner Music, 1975.

a) Em que lugar está a personagem que se expressa nessa canção? Qual é a sua origem geográfi-

ca? Destaque no texto palavras ou expressões que confirmem sua resposta.

b) Qual é a visão dessa personagem sobre a vida no campo e na cidade?

6º ano

293


3. Observe a tabela e assinale a alternativa correta:

Origens de moradores estrangeiros na Grande Miami (EUA) – 2010

País de nascimento

Porcentagem

Cuba

30%

Haiti

9%

Colômbia

7%

Jamaica

7%

Nicarágua

4%

Fonte: George Washington University-Globalization, Urbanization and Migration. In: Dossiê Terra 2010. National Geographic Brasil. São Paulo: Abril, 2010, p. 30. Disponível em: <www.viagemdoconhecimento.com.br/desafio/edicao-2010.php>. Acesso em: 2 maio 2012.

Com base nos dados, é correto afirmar que as comunidades de estrangeiros residentes na Grande Miami em 2010 são formadas por: a) refugiados políticos que buscaram abrigo nos Estados Unidos. b) migrantes originários de diferentes países latino-americanos. c) contingentes cujos países de origem têm o inglês como idioma oficial. d) trabalhadores qualificados, configurando a chamada fuga de cérebros. 4. Examine o texto e o mapa a seguir e responda às questões propostas: No mesmo dia em que se completam dois anos desde o terremoto que devastou o Haiti, o Conselho Nacional de Imigração brasileiro concordou em restringir a cem o número mensal de vistos a serem concedidos a haitianos que queiram emigrar ao Brasil. A medida é parte de uma proposta do Ministério da Justiça para regularizar a situação migratória de haitianos no Brasil, que ganhou a atenção da opinião pública por eles virem, muitas vezes, por rotas ilegais, intermediadas por coiotes (atravessadores), e se concentrarem em cidades amazônicas com poucas condições para abrigá-los. Notícias Terra, 12 jan. 2012. Conselho de Imigração aprova restrição à entrada de haitianos. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5555810-EI306,00Conselho+de+Imigracao+aprova+restricao+a+entrada+de+haitianos.html>. Acesso em: 2 maio 2012.

294

Geografia


Ilustração digital: Mario Yoshida

Principais rotas do fluxo migratório de haitianos para o Brasil

N O

L

0

520

1 040 km

S

Fonte: Conselho Nacional de Imigração (CNIg). Base cartográfica: ESRI, 2005.

a) Qual é o assunto tratado no texto e no mapa?

b) Quais medidas foram adotadas pelo governo brasileiro em relação à questão descrita? Em sua

opinião, essas medidas foram acertadas? Explique sua resposta.

6º ano

295


5. A partir do que você estudou no capítulo, comente o texto a seguir considerando os deslocamen-

tos populacionais pelo território brasileiro. Caminhoneiro por onze anos, o catarinense Nivaldo Santos conheceu o cerrado do Piauí em uma de suas viagens pelo Brasil no fim dos anos 1970. Nada ali o impressionou. Duas décadas mais tarde, já como um pequeno construtor no litoral gaúcho, ele ouviu [...] que o sul piauiense estava deixando muita gente rica. A prosperidade vinha do cultivo da soja. Era o ano de 1999. Santos decidiu comprar um terreno de poucas centenas de hectares na Serra do Quilombo, no sul do Piauí. Buscou, então, a orientação de produtores da região. [...] Hoje, aos 57 anos, é dono da Fazenda Santos, com 7 800 hectares, uma área equivalente a 9 500 campos de futebol. Planta soja e milho. Seu mais recente investimento foi um avião seminovo [...] Essa é apenas uma entre tantas histórias de prosperidade e empreendedorismo de um dos mais vibrantes polos de desenvolvimento regional do país − o sul do Piauí, a região agrícola brasileira que mais cresceu neste século. [...] O lugar é uma espécie de sucessor e extensão natural do desenvolvimento que bafejou o oeste baiano nos anos 1990. [...] Esse pedaço do Piauí é o ponto mais efervescente de uma região que, de maneira mais abrangente, é conhecida pela sigla Mapito, por agregar também o sul do Maranhão e o norte do Tocantins. [...] Estima-se que só 15% da área apta para o plantio tenha sido explorada no estado. A produção de soja equivale ainda a apenas 2% do total nacional, mas o ritmo com que se expande é de quem tem urgência. O movimento foi liderado por migrantes gaúchos e paranaenses a partir de meados da década de 1990 e intensificado recentemente com a chegada de grandes grupos do agronegócio. SAKATE, Marcelo. O Piauí decolou. Veja, Abril, n. 2 265, 18 mar. 2012, p. 119.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Vidas secas

O romance do consagrado escritor brasileiro aborda a sina de uma família de retirantes do sertão nordestino em fuga da seca, da fome e da pobreza. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2006.

Site

Memorial do imigrante

O site do museu traz figuras, dados, mapas, textos e jornais sobre os imigrantes que se deslocaram para o Brasil. Disponível em: <www.memorialdoimigrante.sp.gov.br>. Acesso em: 12 jul. 2012.

filmes

Brasileiros no mundo

Depoimentos de brasileiros que vivem no exterior e de autoridades do país em meio a uma conferência que debateu o tema. Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/videos/brasileiros-no-mundo>. Acesso em: 12 jul. 2012. (48 minutos).

Gaijin

Trata da história de uma família de imigrantes japoneses que chega ao Brasil e enfrenta dificuldades diante do trabalho extenuante nas fazendas de café. Nesse quadro, dois jovens se envolvem, um imigrante japonês e uma imigrante italiana. Direção: Tizuka Yamazaki. Brasil, 1980 (112 min).

O homem que virou suco

O filme narra a história de um migrante nordestino que chega a São Paulo e sobrevive vendendo suas poesias e folhetos. Ele é confundido com um operário que matou o patrão, o que gera conflitos. Direção: João Batista de Andrade. Brasil, 1981 (95 min).

296

Geografia


Bibliografia

GEOGRAFIA ALBUQUERQUE JR., Durval M. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar. São Paulo: Cortez, 2007. BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Estado da Educação. Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5a a 8a séries. Brasília: MEC, SEF, 2002. ______. Parâmetros curriculares nacionais: Geografia. Brasília: MEC, SEF, 1998. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT). Conflitos no campo Brasil 2010. Goiânia: CPT, 2011. DREW, David. Processos interativos homem-meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. FUNDO DAS NAÇÕES UNIDADES PARA A AGRICULTURA E A ALIMENTAÇÃO (FAO-ONU). El estado mundial de la agricultura e de la alimentación: las mujeres en la agricultura. Roma: FAO-ONU, 2011. FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNFPA). Relatório sobre a situação da população mundial 2011: pessoas e possibilidades em um mundo de 7 bilhões. Brasília: UNFPA, 2011. ______. Estado de la población mundial 2007: liberar el potencial de crecimiento urbano. Nova York: UNFPA, 2007. GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Antonio Sergio T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. ______. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010>. Acesso em: 28 fev. 2013. ______. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. 6º ano

297


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298

Geografia


UNIDADE 6

Ciências



Capítulo CIÊNCIAS

1

Água, saúde e ambiente

RODA DE CONVERSA I

Antes de começar os estudos desse capítulo, converse com seus colegas sobre a importância da água em sua vida (em casa ou no trabalho). Em quais momentos e locais a água está presente em nosso dia a dia? Dê exemplos de usos da água nas atividades a seguir: a) recreação

b) religião

c) produção industrial

d) transporte

e) agricultura

Depois da conversa, registre palavras-chave que indicam a importância da água.

POR QUE PRECISAMOS DA ÁGUA?

Raul Spinasse/Ag. A Tarde/Folhapress

Philippe Lissac/Godong/Corbis/Latinstock

Não existe vida sem água. E, assim como todos os seres vivos, os seres humanos dependem da água para sobreviver, utilizando-a para beber, obter e preparar alimentos, fazer a higiene corporal etc. Usamos também a água para muitas outras atividades, como para a produção agrícola e industrial, a limpeza do ambiente, a recreação e mesmo em rituais religiosos. Oceanos e rios podem ser usados como vias de transporte para os mais diversos tipos de embarcações, desde canoas até grandes navios.

Devotos e sadhus (“homens santos”) no Festival de Kumbh Mela, na Índia, 2010. Para os hindus, o banho nas águas sagradas do rio Ganges purifica-os de todos os pecados.

Fiéis prestam homenagem a Iemanjá, divindade considerada mãe dos Orixás e rainha das águas. Salvador (BA), 2011.

6º ano

301


Jose Fuste Raga/Corbis/Latinstock

Ao mesmo tempo, rios, lagos, mangues e oceanos abrigam uma infinidade de formas de vida. Vegetais, peixes, camarões e outras fontes de nutrientes encontradas nos ambientes aquáticos foram a base do sustento alimentar e econômico de várias civilizações antigas. Ainda hoje são muito importantes na alimentação e usados como fonte de renda por moradores e indústrias pesqueiras de muitas cidades do mundo. O acesso à água doce sempre foi um fator fundamental para o estabelecimento das cidades. Quase toda grande cidade do mundo fica próxima de um ou mais rios. Muitas delas, como Nova York (nos Estados Unidos), Hamburgo (na Alemanha), Tóquio (no Japão) e Recife (no Brasil), além de serem atravessadas por rios, estão localizadas junto ao mar.

O rio Sumida atravessa a moderna cidade de Tóquio (Japão), 2012.

Em razão de sua grande importância para os seres vivos, a água tornou-se uma substância de enorme valor para todas as populações. O consumo direto de água pelas pessoas corresponde a uma pequena parcela da água doce utilizada nas atividades humanas. O gráfico ao lado mostra os usos da água por diversos setores, em média, para todo o mundo. Antes de prosseguir a leitura, examine as informações fornecidas por ele. 302

Ciências

Formas de uso da água no mundo em porcentagem agricultura indústria uso doméstico

8% 22% 70%

Fonte: International Year of Fresh Water 2003.

Planeta Terra Design

O VALOR E O USO DA ÁGUA


A agricultura com sistema de irrigação é responsável pelo maior consumo de água no mundo (70%). Logo em seguida, vem o consumo na indústria. Para produzir uma calça jeans, levando-se em conta desde a produção do algodão para fazer o pano até a calça pronta, são consumidos 10 mil litros de água. Já a fabricação de um único hambúrguer usa 2 400 litros de água. Para chegar a esse número, soma-se toda a água consumida desde o início, da criação do gado até o sanduíche chegar às mãos do consumidor. A indústria é responsável por 22% do consumo da água, e o uso doméstico corresponde a 8% do total. Essas porcentagens representam uma média mundial, mas o consumo de água é muito diferente de uma região para outra do globo. Nos países ricos, 59% do uso da água é destinado à indústria; enquanto, nos países pobres, somente 8% da água é usada para esse fim.

PESQUISAR I

Podemos identificar três grandes campos de uso da água nas sociedades atuais: o agrícola, o industrial e o doméstico. Procure investigar como a água pode ser utilizada em cada uma dessas atividades e indique: a) três formas de uso da água em atividades agrícolas; b) três formas de uso da água em atividades industriais; c) três formas de uso doméstico da água.

PARA REFLETIR I

Reúna-se com seus colegas e debata as seguintes questões: • Por que existem a água limpa e a água suja? • Quais são as principais diferenças entre elas? • Existe água pura? • Você sabe dizer onde é encontrada a água em estado sólido? • E na forma de gás, onde a água está presente nesse estado?

EXPERIMENTAR I

MISTURAS COM ÁGUA Vivemos rodeados por muitos materiais. Por terem diversas características e propriedades, materiais diferentes são utilizados em atividades diferentes. Para verificar uma propriedade importante da água vamos fazer um experimento. Você já sabe o que pode ocorrer quando reunimos água com materiais? Observe muito bem o que acontece nos experimentos e procure descrevê-los usando suas próprias palavras. Depois, confira a linguagem científica.

6º ano

303


Material: • uma jarra de água; • copos limpos; • areia; • sal de cozinha; • óleo; • uma colher pequena. Como fazer: 1. Despeje um pouco de óleo em um copo de água. Misture bem. O que acontece? Deixe o copo sobre a mesa e observe-o após algum tempo. 2. Em outro copo de água limpa, coloque uma colher de sal. Mexa bem.

O que acontece? Junte mais uma colher. Algo se modifica? E com três colheres de sal? Deixe o copo em repouso e observe-o mais tarde. 3. Agora, em outro copo, misture areia e água. O que acontece? O resul-

tado é semelhante ao da mistura de água com sal? Ao final dos experimentos, registre suas observações. 1. Quais materiais permanecem dissolvidos na água? Você conhece outros materiais que se dis-

solvem facilmente na água? Dizemos que esses materiais entram em solução com a água que os dissolveu. 2. Quais materiais se separam da água? Você conhece outros materiais com essa característica?

Dizemos que esses materiais formam uma mistura heterogênea com a água. Os materiais pesados vão ao fundo (decantação) e os mais leves sobem à superfície (flutuação).

PROPRIEDADES DA ÁGUA Seja qual for seu uso, a água volta para a natureza carregando restos de substâncias produzidas durante sua utilização. Quando é consumida na agricultura, por exemplo, leva para os rios e solos adubos e agrotóxicos empregados na produção. Após ser utilizada na indústria, se não receber o tratamento adequado, a água retorna ao ambiente carregando restos de produtos químicos utilizados na produção industrial. Após o uso doméstico, transporta dejetos humanos, restos de alimentos, além de produtos de limpeza e higiene corporal. 304

Ciências


Fernando Favoretto/Criar Imagem

A água se mistura com quase tudo e, por isso, é chamada de “solvente universal”. Por causa dessa propriedade, ela nunca é encontrada em estado puro na natureza. As águas dos rios, por exemplo, são repletas de resíduos de seres vivos e de minerais dissolvidos, que vêm das rochas ao redor. A água que sai dos poços também têm os minerais que vêm das rochas. Assim, conforme sua fonte, a água pode conter partículas muito pequenas de diferentes minerais, que são identificados somente por meio de exames de laboratório. Os rótulos de águas comercializadas devem indicar os minerais nelas presentes e suas quantidades, medidas em miligramas por litro. Na natureza, a água na forma de gás está presente no ar que respiramos, no qual se mistura a outros gases que compõem a atmosfera. Encontramos a água ao nosso redor em seus estados O rótulo de água mineral deve especificar as quantidades de cada mineral dissolvido. O tipo e a quantidade de minerais variam conforme a região líquido, sólido ou gasoso, sempre misonde a água é coletada. turada a outros materiais e substâncias.

PARA REFLETIR II

Você sabe dizer onde está a maior parte da água doce do planeta? Lembre-se do que já conhece sobre as propriedades da água e seus estados físicos. Converse com os seus colegas e levante hipóteses.

O PLANETA ÁGUA

NASA/Corbis/Latinstock

Aparentemente, a Terra é o planeta da água. Observando uma foto feita por um satélite, vemos que quase 23 de sua superfície é coberta por água. A água salgada é responsável pela maior parte dessa cobertura. Os oceanos correspondem a uma área de cerca de 43 do planeta. Nos rios, nos lagos e nas geleiras, a água se apresenta como “água doce”, assim chamada por ter menos sais que a água do mar. A água doce está também no subsolo, em meio às fraturas ou aos poros das Fonte: NASA rochas, formando os aquíferos Planisfério obtido a partir de várias imagens de satélite comprova que a maior parte do planeta Terra está ocupada pela água de mares e oceanos. subterrâneos. 6º ano

305


A água é essencial para a vida humana, inclusive em função de sua capacidade de dissolver uma quantidade muito grande de substâncias, como os minerais. Quando ingerimos líquidos, como sopas, sucos de frutas ou água, estamos ingerindo também uma grande quantidade de substâncias necessárias para nossa saúde e sobrevivência, especialmente os minerais. Esses minerais, como sódio, potássio, ferro, fósforo e enxofre, são nutrientes importantes para o funcionamento do organismo humano. Em uma pessoa adulta, cerca de 70% do seu peso corporal corresponde à água. Em um recém-nascido, essa proporção pode chegar a mais de 85%.

306

Ciências

Cérebro 75% Ossos 22% Rins 83% Músculos 75% Sangue 83%

Fonte: Ciência Hoje na Escola: corpo humano e saúde. Rio de Janeiro: SBPC, 1999. p. 48. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Ilustração digital: Luis Moura

A ÁGUA NA COMPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO

Planeta Terra Design

Confira no gráfico ao lado a distriDistribuição da água doce no planeta (%) buição da água doce no planeta. Além de estar disponível em quanágua subterrânea tidade relativamente pequena, a água lagos e pântanos 77,20 rios doce não está distribuída de forma hoatmosfera mogênea nos continentes. O Brasil, gelo nas calotas polares sozinho, detém o total de 12% de toda água doce superficial disponível no pla22,40 neta Terra. Entretanto, a distribuição da 0,35 0,01 0,04 água doce nas diferentes regiões do país também é desigual. Além disso, não basta apenas acesso à água: é preciso que ela Fonte: International Year of Fresh Water 2003. seja adequada para o consumo humano. As fontes de água doce utilizada para consumo humano, como nascentes e lençóis subterrâneos, são chamadas de mananciais. Antes de ser usada, especialmente para o abastecimento de redes públicas, a água proveniente dos mananciais deve ser analisada para que se possa identificar a quantidade de diferentes minerais e a presença de poluentes. Na maioria dos casos, a água captada nos mananciais deve ser submetida a tratamento para tornar-se potável, isto é, própria para o consumo humano. Alguns processos são comumente utilizados para retirar da água materiais prejudiciais à saúde. O acréscimo de flúor, por exemplo, é um procedimento muito recomendável. Você sabe dizer por quê?


Nosso corpo perde água constantemente, o que ajuda a manter nossa temperatura em torno de 36,5 ºC, mesmo que ocorram grandes variações na temperatura ambiente. Por tudo isso, tomar água regularmente é muito importante para o bom funcionamento do organismo. Além da água que faz parte dos alimentos, um adulto precisa tomar, em média, dois litros de água por dia. Mais de 80% do nosso sangue é composto por água. Graças a isso, estão dissolvidas no sangue muitas substâncias que são transportadas de uma parte a outra do organismo. Todos os órgãos do nosso organismo são formados por milhares de pequenas estruturas: as células. Em nosso tempo de vida, as células do corpo se renovam constantemente. Elas precisam se alimentar e fazer as atividades relacionadas ao órgão a que pertencem. Por exemplo, as células do músculo cardíaco se contraem, células internas do estômago fazem suco gástrico, as células internas da pele acumulam gordura. O sangue transporta nutrientes para cada uma dessas células e, ao mesmo tempo, carrega restos produzidos na atividade dessas células, substâncias tóxicas para o organismo que precisam ser eliminadas. Ao passar pelos rins, o sangue é filtrado, e as substâncias nocivas são extraídas e eliminadas na urina.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Em que parte do corpo humano a água é mais abundante?

2. Quais são as substâncias presentes no sangue?

3. Cite três funções da água no corpo humano.

4. Um jovem ingere bebida alcoólica durante o fim de semana, sem a precaução de beber bastante

água. No dia seguinte, sua urina possui cheiro forte. Explique por que isso acontece usando os termos do quadro:

sangue

urina

toxinas

mais diluído

mais concentrado

6º ano

307


PESQUISAR II

Pesquise em atlas de anatomia ou na internet figuras do sistema urinário. Identifique no corpo humano a localização dos rins, da bexiga e dos canais de condução da urina. Depois de pesquisar, organize as palavras-chave na ordem do caminho de eliminação das toxinas do corpo humano. bexiga urina com toxinas

canal da uretra sangue com toxinas

rins meio ambiente

HIGIENE CORPORAL Você sabia que o banho diário não é um hábito em todas as culturas ou regiões do mundo? Esse tipo de costume está associado à disponibilidade de água, ao clima e a diversos fatores culturais. No Brasil, a cultura indígena, a abundância de água e o clima quente da maioria das regiões do país combinaram-se e fizeram do banho uma obrigação e um prazer de todo dia.

DEBATER I

Você já pensou a respeito dos hábitos de higiene dos brasileiros? Debata com sua turma procurando definir, coletivamente, critérios que devem ser usados para saber se uma população tem bons hábitos de higiene. Complete a lista a seguir: Critérios para saber se uma população tem bons hábitos de higiene 1. As pessoas têm o hábito de lavar as mãos antes de comer? 2.

308

Ciências


RODA DE CONVERSA II

Antes de estudar sobre a saúde dos dentes, reflita e discuta com os seus colegas sobre as seguintes questões: • O que você já sabe sobre as formas de manter a saúde dos dentes? • Como os dentes ficam doentes? • Além de ser uma preocupação com a saúde, existem outras razões para cuidar e manter os dentes saudáveis?

Ilustração digital: Vagner Vargas

SAÚDE BUCAL Nossa boca é ambiente para um número enorme de seres vivos muito pequenos. Muitos deles são bactérias. Elas se alimentam de restos de alimento e eliminam substâncias ácidas, que perfuram os dentes e causam as cáries. Na presença do açúcar, essas bactérias multiplicam-se rapidamente, formando a placa bacteriana que gruda nos dentes. A placa também leva a doenças de gengiva, que são mais comuns em adultos. Podemos prevenir essas doenças evitando o consumo excessivo de açúcar e mantendo os dentes e a gengiva sempre limpos, por meio da escovação e do uso de fio dental. Ao consultar periodicamente o dentista, também podemos tratar os problemas bucais antes que fiquem graves, evitando dores e complicações. Hoje em dia, arrancar um dente é última opção. São raros os casos em que é impossível “salvar” o dente. Existem técnicas para tratar quase todos os problemas dos dentes ou da gengiva, mas nenhuma delas substitui a higiene realizada logo depois das refeições. Muitos brasileiros ainda perdem seus dentes precocemente porque não fazem essa higiene corretamente ou por falta de acesso ao dentista. Mesmo assim, a saúde bucal da população brasileira está melhorando bastante ano a ano. O uso do flúor na água de abastecimento das cidades e a realização de bochechos com flúor nos serviços de saúde e

Para prevenir e tratar a inflamação na gengiva causada pela placa bacteriana, a escovação e o fio dental precisam retirar os restos de alimento que ficam em todos os cantinhos, inclusive no vão entre os dentes e entre os dentes e a gengiva. Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

6º ano

309


nas escolas vêm ajudando a melhorar a saúde bucal de crianças e adolescentes, pois essa substância protege os dentes contra a formação da placa bacteriana. A limpeza dos dentes pode ser feita com movimentos circulares, pequenos movimentos de vaivém ou deitando a escova sobre a gengiva e arrastando até a ponta dos dentes. Tanto os dentes como a gengiva, a língua e os vãos devem ficar bem limpos, para evitar a formação da placa bacteriana. Devemos escovar várias vezes cada lugar, sem fazer força e usando uma escova macia.

DEBATER II

Você viu que o uso doméstico da água corresponde a cerca de 8% do total. Então, será que é preciso se preocupar com o consumo individual (por exemplo, na higiene corporal), já que o uso doméstico tem um peso tão pequeno?

O USO DA ÁGUA NO DIA A DIA Este quadro mostra o gasto de água em algumas atividades cotidianas. A soma de todos esses usos representa uma quantidade significativa de água potável? Gasto de água em algumas atividades cotidianas Atividade

Escovar os dentes

Duração

Característica

Gasto

Torneira meio aberta (meio giro)

12 litros

Molhando a escova, fechando a torneira durante a escovação e enxaguando a boca com um copo de água

Menos de meio litro

15 minutos

Torneira meio aberta

45 litros

5 minutos

Torneira fechada no ensaboamento

15 litros

15 minutos

Torneira meio aberta

135 litros

5 minutos

Torneira fechada no ensaboamento

45 litros

5 minutos

Tomar banho com chuveiro elétrico

Tomar banho de ducha

Fonte: BRANDIMARTE, Ana Lúcia. Ciência Hoje. São Paulo: SBPC, n. 154, out. 1999.

310

Ciências


PARA REFLETIR III

O texto a seguir sugere algumas alternativas para a reutilização da água em descargas sanitárias, na lavagem de automóveis, na indústria etc. Em muitos lugares do mundo, essa prática vem sendo adotada. Água doce e limpa: de “dádiva” a raridade [....] A água disponível no território brasileiro é suficiente para as necessidades do país, apesar da degradação. Seria necessário, então, mais consciência por parte da população no uso da água e, por parte do governo, um maior cuidado com a questão do saneamento e abastecimento. Por exemplo, 90% das atividades modernas poderiam ser realizadas com água de reúso. Além de diminuir a pressão sobre a demanda, o custo dessa água é pelo menos 50% menor do que o preço da água fornecida pelas companhias de saneamento, porque não precisa passar por tratamento. Apesar de não ser própria para consumo humano, poderia ser usada, entre outras atividades, nas indústrias, na lavagem de áreas públicas e nas descargas sanitárias de condomínios. Além disso, as novas construções – casas, prédios, complexos industriais – poderiam incorporar sistemas de aproveitamento da água da chuva, para os usos gerais que não o consumo humano. Almanaque Brasil Socioambiental. Disponível em: <www.socioambiental.org/esp/agua/pgn/>. Acesso em: 2 jul. 2012.

Agora reflita a respeito dos usos dados à água onde você mora, na escola e no trabalho. Em quais atividades ela poderia ser reutilizada? Você acha que uma grande quantidade de água potável poderia ser economizada todos os dias nos lugares que você frequenta?

O USO (IN)SUSTENTÁVEL DA ÁGUA A água que os seres humanos utilizam em suas atividades diárias, em casa, na agricultura ou na indústria, é obtida em nascentes, rios, represas, lagos e fontes subterrâneas (os lençóis freáticos). Essas fontes de água, chamadas genericamente mananciais, precisam ser bem cuidadas para continuar fornecendo a água doce de que tanto necessitamos. Grande parte dos mananciais depende, para continuar existindo, das matas nas quais se localiza. Com os desmatamentos, eles tendem a secar, pois a cobertura de mata que protege o solo é retirada. A ocupação irregular de áreas de mananciais é um problema enfrentado em todas as grandes cidades brasileiras. No meio rural, para facilitar o acesso do gado à água, as áreas de pastagem frequentemente são estendidas até a beira dos rios, o que favorece a conta- GLOSSÁRIO Mata ciliar: nome dado minação da água com fezes dos animais e a erosão das marà formação vegetal localizada nas margens gens. Hoje, a recuperação de matas ciliares tornou-se uma de rios, córregos, lagos, prioridade em todas as regiões do país. nascentes e represas.

6º ano

311


João Prudente/Pulsar Imagens

Airton Soares/Folhapress

Mata ciliar às margens do rio São Francisco, na região do Parque Nacional da Serra da Canastra. São Roque de Minas (MG), 2011.

Casas e edifícios construídos à margem do rio Paraíba do Sul, no município de Resende (RJ), 2004.

312

Ciências


O uso de rios e lagos para o despejo de esgotos domésticos e de rejeitos industriais tem prejudicado muitos mananciais, pois a limpeza da água fica muito cara. A aplicação do uso de adubos e agrotóxicos nas atividades agrícolas também pode causar grandes danos aos mananciais, porque as chuvas transportam esses produtos para o leito dos rios. Essas águas, ao se infiltrarem no solo, podem poluir águas subterrâneas ou aquíferos. O despejo desses restos prejudica a vida nos ambientes aquáticos, reduzindo a possibilidade de pesca e de consumo de alimentos provenientes dessas fontes. Por todas essas razões, a conservação dos mananciais deve ser permanente, sendo uma responsabilidade dos governos e de todos nós, cidadãos. Estudos divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a escassez de água potável deverá crescer de forma dramática nos próximos anos. Nos últimos cem anos, enquanto a população mundial triplicava, o uso da água doce multiplicava-se por seis. Isso significa que a água está sendo usada pelos seres humanos de uma forma que não poderá ser mantida por muito tempo. É certo que a água não vai acabar nem desaparecer da Terra. Há milhões de anos, ela continua circulando no planeta em uma quantidade bem estável. Garantir sua qualidade é o grande desafio para a humanidade, pois todos os seres vivos dependem de água limpa.

DEBATER III

Atualmente, estão sendo promovidos muitas pesquisas e muitos debates relacionados ao uso sustentável dos recursos naturais. Sustentabilidade, nesse caso, significa garantir às próximas gerações o direito de desfrutar desses recursos, pois muitos deles não são inesgotáveis.

Caso sejam mantidas as condições atuais de uso da água e de conservação do ambiente, no ano de 2025, mais de 3,3 bilhões de pessoas poderão não ter acesso à água potável para suas necessidades básicas.

O que vem a ser o uso sustentável da água? De que formas a sociedade pode se organizar para preservar os recursos hídricos do planeta? Reflita e debata com seus colegas.

MOMENTO DA ESCRITA I

Escreva um pequeno texto comentando a seguinte afirmação: “Os grandes problemas que a humanidade enfrenta ou enfrentará em relação à água são: escassez de água limpa, desperdício, poluição e desmatamento.” 6º ano

313


EXPERIMENTAR II

FAZENDO CHOVER NO COPO Faça esta experiência para verificar algumas transformações que ocorrem no ciclo da água.

Material: • uma bacia de plástico; • água barrenta ou água com areia; • um pedaço de plástico incolor grande para cobrir a bacia; • elástico e fita-crepe para ajustar o plástico à bacia; • um copo com altura menor que a da bacia; • uma pedrinha ou moeda. Com seus colegas e com a ajuda do professor, escolha um lugar abrigado e bem iluminado para arrumar e deixar a montagem. Ninguém deverá mexer nela por três dias. Como fazer : 1. Prepare a água barrenta na bacia. 2. Coloque o copo no centro da bacia, acomodando-o na água barrenta. 3. Cubra tudo com o plástico e prenda bem com o elástico, envolvendo a bacia. 4. Coloque a pedrinha ou a moeda sobre o plástico (ver ilustração), em

cima do copo, mantendo uma pequena inclinação. Não deixe o plástico encostar no copo. 5. Passe a fita-crepe em volta do plástico para vedar a montagem. 6. Dois dias depois, observe as transformações que ocorreram. Deixe pas-

sar mais um dia e volte a observar a montagem.

Ilustração digital: Luciano Tasso Filho

7. Escreva e desenhe o que aconteceu nos dois momentos.

Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Esquema ilustrativo de como deve ficar a montagem do experimento. Repare que a pedrinha não pode encostar no copo.

314

Ciências


CONHECER MAIS

Água é vida Você sabia que esse líquido essencial para a vida é o mesmo que o ser humano bebeu na Idade da Pedra? Isso mesmo. Água é uma substância química constituída por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O), que formam a molécula H2O. Estima-se que, ao

longo da história da Terra, sua quantia total tenha permanecido sempre a mesma. E é o ciclo da água, como veremos, que mantém seus estoques no planeta, através da evaporação e condensação. Uma verdadeira reciclagem.

CZAPSKI, Silvia. Água: mudanças ambientais globais. Pensar + agir na escola e na comunidade. Brasília: Ministério da Educação/ Secad, 2008. p. 3.

O CICLO DA ÁGUA NA NATUREZA

Ilustração digital: Luis Moura

Na natureza, a água faz um verdadeiro ciclo, da mesma forma que ocorreu, em pequena escala, no experimento de fazer chover no copo. Enquanto circula na natureza, a água passa por transformações contínuas e ocupa vários reservatórios, como você pode observar no esquema a seguir. Procure identificar todas as etapas que a água percorre no ciclo representado no esquema. Todas as transformações que fazem parte do ciclo da água podem ocorrer simultaneamente. O calor do sol e a força dos ventos fazem com que a água evapore do mar, de matas, rios e represas. A água que compõe o corpo dos seres vivos também evapora por meio da transpiração. O vapor de água invisível se espalha pelo ar e, depois, forma as nuvens. A água das nuvens se precipita na forma de chuva ou neve, abastecendo as cabeceiras dos rios, morro abaixo. A água da chuva também se infiltra no solo, podendo ser absorvida pelas plantas ou chegar à zona de água subterrânea, passando lentamente pelos poros das rochas antes de voltar a rios e mares. Chegando ao litoral, água doce e água salgada se misturam no subsolo, podendo retornar ao oceano.

Formação de nuvens

Precipitação

Evaporação

Evaporação

Evaporação

Água doce

Infiltração

Interface

Oceano

Água salgada Água subterrânea

Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Ciclo da água na natureza: as setas mostram o caminho das partículas de H2O.

6º ano

315


MOMENTO DA ESCRITA II

Escreva uma história sobre uma gota de água que passa por vários lugares. Para começar sua narrativa, imagine onde essa gota está inicialmente: no solo, em um ser vivo, em uma nuvem... Depois, decida qual será o destino da gota.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. A palavra “água” pode ser acompanhada de outras palavras que modificam o seu sentido. Por

exemplo, água benta é a água usada em alguns rituais religiosos. Explique com suas palavras o sentido de cada uma das expressões a seguir: a) água de colônia b) água destilada

c) água potável

d) água salobra

2. Há muitas expressões na nossa língua que empregam a palavra “água”. Por exemplo, quando um

negócio ou acordo não deu certo, dizemos que “ele foi por água abaixo”. a) A seguir, transcrevemos algumas dessas expressões. Escolha uma delas e crie um pequeno

texto usando-a. • • • • •

Afogar-se em um copo de água. Beber água direto na fonte. Ficar com água na boca. Ir por água abaixo. Tirar água do joelho.

b) Tente acrescentar outras expressões com a palavra “água”. Se for o caso, consulte um dicionário.

316

Ciências


3. A água é conhecida por sua fórmula, H2O. Ou seja, ela é composta de duas partículas de hidrogê-

nio (H) e uma de oxigênio (O). O sal de cozinha chama-se cloreto de sódio e sua fórmula é NaCl (Na é sódio e Cl é cloro).

a) O que acontece quando obtemos uma solução de água e sal? Essas substâncias deixam de ser

água e sal?

b) Existe água pura na natureza? Justifique sua resposta.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Água para a vida, água para todos

Esse livro foi elaborado pela WWF-Brasil, uma organização não governamental (ONG) que atua em muitos países do mundo. A publicação, disponível na internet, reúne informações sobre as águas no Brasil e um conjunto de atividades educativas voltadas para incentivar a sociedade civil a mobilizar-se pela questão ambiental. COSTA, Larissa; BARRÊTO, Samuel Roiphe (Coord.). Água para a vida, água para todos. Livro das águas. Brasília: WWF-Brasil, 2006. Disponível em: <www. wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/educacao_ambiental_agua/>. Acesso em: 5 jul. 2012.

Site

Agência nacional de águas

A Agência Nacional de Águas coordena a gestão dos recursos hídricos em nosso país. Ela tem como missão promover o uso sustentável da água em benefício da atual e das futuras gerações. No site, podem ser encontrados notícias, mapas e informações sobre as bacias hidrográficas do país. Disponível em: <www2.ana.gov.br>. Acesso em: 5 jul. 2012.

6º ano

317


Capítulo

Ambiente e saneamento básico

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

CIÊNCIAS

2

Trecho poluído do rio Suruí em bairro do município de Magé (RJ), 2012.

P

reservar os ambientes e os recursos naturais é uma condição indispensável para a vida e a saúde. A água, o solo, o ar e os seres vivos são recursos naturais dos quais os seres humanos dependem. De acordo com a forma como vivemos, esses recursos poderão ser garantidos ou não para as próximas gerações. A preservação dos recursos naturais não depende apenas da ação individual. Depende, em grande medida, de ações coletivas e, principalmente, da ação do Estado. O saneamento básico serve como exemplo de um conjunto de medidas que cabem ao poder público para garantir o direito de todos os cidadãos à vida e à saúde.

RODA DE CONVERSA

Na França, em 1850, os habitantes das cidades viviam em média até os 32 anos. Nessa época, o lixo e os dejetos humanos e de animais começaram a ser recolhidos do centro da cidade e depositados em áreas afastadas, ficando separados dos locais de moradia e dos reservatórios de água. Em 1900, o tempo médio de vida já era de 45 anos. Converse com seus colegas sobre esse caso com base nas questões a seguir: • Qual decisão do poder público mudou a vida dos cidadãos franceses no século XIX? • Você sabe explicar por que essas ações levaram a transformações na qualidade de vida e ao

aumento no tempo médio de vida das pessoas? • Como a limpeza das ruas e praças de uma cidade ou bairro é garantida? Por que isso é importante para a saúde e o bem-estar dos seres humanos? 318

Ciências


SANEAMENTO AMBIENTAL A valorização do saneamento ambiental não é nova na história da humanidade. Mas tais conhecimentos antigos ficaram esquecidos por muitos séculos. No período em que as aglomerações humanas voltaram a crescer, no final da Idade Média, as pessoas conviviam com lixo, fezes humanas e de animais. Por esse motivo, nas grandes cidades europeias dessa época ocorriam epidemias de doenças, que se espalhavam rapidamente, matando milhares de pessoas. A partir do século XIX, começaram a ser aplicadas as práticas modernas de saúde pública. Sua origem está baseada no conceito de que o poder público é responsável pelo saneamento básico e por proteger a população das doenças associadas à qualidade do meio ambiente. No Brasil, a Constituição de 1988 definiu que cabe ao poder público municipal implantar e garantir o saneamento básico em seu território.

CONHECER MAIS

Saneamento básico Saneamento básico pode ser definido como um conjunto de obras ou atividades cujo objetivo é garantir que o meio em que vivemos seja mais limpo e saudável, para prevenir doenças e manter a saúde humana. As ações mais comuns de saneamento básico são os sistemas de distribuição de água encanada e tratada e os sistemas de coleta de esgoto (resíduos líquidos) e de lixo (resíduos sólidos). [...] No Egito, por exemplo, dois mil anos antes de Cristo, já se construíam aquedutos, grandes obras cujo objetivo era trazer água pura das montanhas para as cidades. Construídos no início em madeira e mais tarde em pedra, ferro fundido ou chumbo, os aquedutos foram utilizados por várias sociedades até o século XIX. Na Antiguidade, os romanos ficaram conhecidos por construir os melhores aquedutos. Além de aquedutos, os romanos construíam poços e cisternas onde se armazenava água de chuva para o abastecimento da população, que, no auge do Império, chegou próximo a 1 milhão de habitantes. TELAROLLI JÚNIOR, Rodolpho. Medicina Preventiva e Saúde Pública. In: KUPSTAS, Márcia (Org.). Saúde em debate. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1977. p. 40-41. (Texto adaptado.)

PESQUISAR

Busque informações sobre o abastecimento de água e o manejo de resíduos sólidos (lixo) em seu município: • Qual é o órgão municipal responsável pelo tratamento da água? • Quais são os responsáveis pela coleta e destinação do lixo? Para onde ele é levado? • No bairro onde você mora há rede de esgoto, as casas usam o sistema de fossa ou há esgoto

correndo a céu aberto? • Há água encanada ou as pessoas precisam usar água de poço ou de nascente? Converse com os colegas e selecione outras questões para sua pesquisa. Procure respostas pesquisando: • Na internet, com os seguintes termos-chave: água tratada + esgotamento sanitário + nome

de seu município. • No entorno de onde você mora, observe em sua rua e proximidades. Pergunte aos vizinhos. Descubra dados da história do lugar, como eram os rios e córregos, como se resolvia a destinação dos resíduos sólidos. Dê sua opinião sobre as mudanças, caso elas tenam ocorrido.

6º ano

319


O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Publicada em 2010, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico permitiu conhecer a oferta dos serviços de água tratada, resíduos sólidos e esgotamento sanitário em nosso país. Confirmou-se que a disponibilidade de água potável aumentou de forma significativa, pois a água potável está presente em pelo menos um distrito de cada um dos municípios de nosso país. A coleta de resíduos sólidos cresceu bastante, em comparação com os anos anteriores. Mostrou-se que havia manejo de lixo em quase todos os municípios brasileiros. A pesquisa também mostrou que se planeja fechar os lixões, que predominavam nos bairros e municípios, substituindo-os por aterros sanitários.

LER GRÁFICO

%

Percentual de domicílios com acesso à rede de esgoto sanitário e taxa de crescimento do número de economias residenciais, segundo as grandes regiões – 2000/2008 89,9

69,8

64,7

Planeta Terra Design

Observe o gráfico a seguir e responda às perguntas.

2000

53 44,0 33,5

2008

42,3

39,5

35,2 22,4

30,2 22,5

28,1

33,7 34,6

14,7

Taxa de crescimento 2000/2008

2,4 3,8

Brasil

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2000/2008.

1. Observe os dados e verifique por que chegou a 88,9% o crescimento na oferta de esgoto sanitário

na região Norte. 2. Houve no Brasil um aumento significativo na coleta de esgoto, entre 2000 e 2008? . Quais regiões estão mais perto ou mais longe da média do Brasil? . Em qual região do país está situado o município onde você mora? Você acha que a situação do

esgoto sanitário em seu município corresponde à realidade regional? DEBATER I

A Lei Federal no 11.445, de 5 de janeiro de 2007, estabelece que todos os brasileiros têm direito ao saneamento básico completo, independentemente de classe social e capacidade de pagamento. Com base nessa lei, o Conselho das Cidades lançou um Pacto Nacional pelo Saneamento, por meio do qual foi estabelecida uma série de compromissos para garantir o acesso universal ao saneamento em todas as cidades do país. 320

Ciências


Estão sendo tomadas medidas para ampliar o acesso e a qualidade do saneamento básico no município onde você mora? A população está organizada para controlar a implantação dessas medidas? Se sim, como vem se dando essa organização? CONHECER MAIS

O caminho da água

Reservatório para distribuição

Após essa etapa, é levada aos reservatórios de água tratada, onde é armazenada. De lá, escoa por uma nova adutora e fica depositada nos reservatórios de distribuição. Destes, escoa pela rede de distribuição formada pelo conjunto de tubos que passam por baixo do solo sob as ruas das cidades e chegam ao interior das casas.

Estação de tratamento

Adutora de água bruta Captação

Adutora de água tratada

Casa de bombas Reservatório e casa de bombas

Curva d’água

Ilustração digital: Luis Moura

Veja na figura como é formado o sistema de abastecimento de água. O manancial, que pode ser um lago, um rio etc., fornece a água bruta, exatamente como está na natureza. A casa de bombas é responsável pela tomada de água do manancial, chamada captação. A água ainda bruta é transportada por meio de tubulação, a adutora, até a estação de tratamento, que a transforma em água potável.

Rede de distribuição (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Fonte: SBPC. Ciência Hoje na Escola: meio ambiente – águas. 4. ed. Rio de Janeiro: SBPC. 2003. v. 4, p.12 e 14.

COMO AS ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA TORNAM A ÁGUA POTÁVEL? Alguns processos são indispensáveis: • Filtração: você conhece filtros de café, peneiras de cozinha para chá ou para arroz. Nas estações de tratamento de água (ETA), grandes peneiras são usadas para separar objetos e alguns elementos maiores que vêm misturados com a água bruta. Desse modo, são retirados restos de vegetais e outros materiais maiores. • Decantação: você já reparou que em um copo de água com areia, após alguns minutos, a areia vai ao fundo? Nas ETA, esse método é usado para separar solo e areia da água. A água peneirada passa por uma etapa de decantação em tanques, com a ajuda de substâncias químicas que ajudam o processo. • Cloração: você conhece os materiais de limpeza à base de cloro, chamados no comércio de cândida, água sanitária ou alvejante? O hipoclorito de sódio − nome científico da substância com cloro – é adicionado à água nas ETA. Mata os microrganismos nela presentes, a fim de torná-la, finalmente, adequada para o consumo. 6º ano

321


Sistema de tratamento de águas – Fluxograma básico

1

Ilustração digital: Luis Moura

Veja essas etapas do tratamento de água no esquema:

3 4 5

2

6

7

10 11 12

13 14 15

9

8

(Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. Represa 2. Bombeamento de água bruta 3. Retenção de partes sólidas 4. Sulfato de alumínio (coagulação da matéria orgânica) 5. Cal (correção de pH) e cloro (desinfecção)

6. Floculação 7. Decantação 8. Canal de água filtrada 9. Reservatório de água 10. Carvão antrácito

11. Areia 12. Cascalho 13. Cal (correção de acidez) 14. Cloro (reforço de desinfecção) 15. Flúor (prevenção de cáries)

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Em quais desses processos são retirados os materiais misturados de forma heterogênea com a

água? Como isso é feito?

2. E os materiais que se encontram em solução com a água? Como ocorre essa separação?

. Em um dos processos das ETA os microrganismos são eliminados da água. Como é feita essa

eliminação?

DEBATER II

Leia a frase a seguir e prepare argumentos para comentar o seu significado no cotidiano dos cidadãos. “A água potável é um produto cada vez mais raro; por isso, é muito caro. Para ter uma ideia, é só comparar o preço de um litro de água mineral com o preço de um litro de gasolina.”

322

Ciências


OS MATERIAIS DESCARTADOS NO AMBIENTE Resíduo sólido, chamado popularmente de lixo, é todo e qualquer material descartado, proveniente de atividades humanas. É importante lembrar que o lixo gerado em nossas casas é apenas uma pequena parte da enorme quantidade de restos das atividades humanas que é devolvida ao meio ambiente todos os dias. Os diferentes tipos de resíduos sólidos são classificados de acordo com sua origem. Assim, temos: • nos espaços públicos (como ruas e praças): o chamado “lixo de varri• • • •

ção”, como folhas, terras e entulhos; nos estabelecimentos comerciais: restos de comida, embalagens, vidros, latas, papéis etc.; nas casas: papéis, plástico, vidros, latas, restos de alimentos etc.; nas fábricas: resíduos sólidos e líquidos. Lixo de composição variada, que depende dos materiais e processos usados na produção industrial; em hospitais, farmácias e todos os demais serviços de saúde: um tipo especial de lixo, composto de agulhas, seringas, curativos etc. É o chamado lixo hospitalar, que precisa ser coletado separadamente para receber um tratamento especial, evitando a transmissão de doenças.

EXPERIMENTAR

O QUE ACONTECE COM OS MATERIAIS NOS AMBIENTES? Você já reparou como o lixo se transforma em uma lixeira de cozinha? O que será que você poderia observar em algumas semanas ou meses, caso esse lixo ficasse acumulado? Realize o experimento a seguir para investigar essas questões. O objetivo é simular o que acontece com os materiais quando viram lixo e vão para ambientes terrestres ou aquáticos. Assim, você poderá perceber a ação dos organismos vivos que atuam na decomposição da matéria. Calor e luz também atuam nas transformações físicas (quando os materiais se desgastam) e químicas (quando, por exemplo, ocorre a formação de óxidos, chamados ferrugem).

Material • 6 frascos de vidro limpos e com tampa; • etiquetas; • solo avermelhado ou amarelado; • garrafa de água; • casca de batata ou de outros vegetais; • pão velho; • pedaços de plástico, tecidos, algodão, papel higiênico, jornal e metal (alumínio de latas, fio de cobre, prego etc.)

6º ano

323


Como fazer 1. Numere as etiquetas de 1 a 6 e cole-as nos frascos. 2. Coloque solo em três frascos, até a metade, e umedeça-os com água. . Nos três primeiros recipientes, coloque sobre a terra: • papel higiênico limpo, algodão, plástico e prego pequeno; • pedaços de jornal e de tecido; • pão e casca de batata ou de outro vegetal. . Nos frascos 4 a 6 coloque um pouco de água e adicione: • papel sulfite, plástico e metal; • pedaços de jornal e de tecidos; • pão e casca de batata ou de outro vegetal. . Feche os frascos e deixe-os em um lugar seguro, fora do alcance de crian-

ças. Examine as transformações nos diferentes vidros, a cada dois dias nas primeiras semanas e, depois, semanalmente. Registre suas observações e sempre anote a data e modificações que surgiram.

324

Ciências

Hong Chan/Dreamstime.com

Em seu experimento, você pôde constatar diversas mudanças ocorridas em algumas semanas. No frasco com terra e casca de batata, provavelmente você deve ter notado manchas escuras que crescem sobre a casca. Essas manchas são seres vivos: os fungos, também conhecidos como bolores. Eles são visíveis a olho nu, mas podem ser mais bem observados com lupas de mão. Os fungos também crescem sobre pão, formando uma mancha verde ou preta. Nessa experiência, você acompanhou o processo de decomposição da matéria orgânica, promovido por pequenos seres vivos, assim como ocorre nos lixões ou aterros. O papel, produzido da celulose extraída de árvores, também se decompõe sob a ação de seres vivos; mas, antes disso, ele absorve água e pode se dissolver, conforme as condições e seu tipo. No exemplo do papel, vemos que há materiais e objetos que podem ao mesmo tempo sofrer Processo de decomposição d0 pão. As manchas verdes que aparecem na fatia ataques de microrganismos e as consequênde baixo, bem visíveis a olho nu, são manchas de bolor. cias de fatores físicos e químicos.

Peter Mrhar/Dreamstime.com

AS TRANSFORMAÇÕES DOS MATERIAIS


Oleg Pidodnya/Dreamstime.com

Outra observação que provavelmente você fez no frasco com terra é o enferrujamento do prego de aço. O enferrujamento acontece em decorrência de uma reação química que resulta da combinação do ferro (presente no aço) com o oxigênio do ar e a água. O prego que ficou totalmente dentro da água demora mais para enferrujar, porque a quantidade de oxigênio na água é menor que na atmosfera. Podemos, de um modo simplificado, escrever reações químicas da seguinte maneira: reagentes → produto. Assim, a formação da ferrugem pode ser descrita deste modo: ferro + água + oxigênio → hidróxido de ferro (ferrugem)

Prego enferrujado fincado em um pedaço de madeira.

Outros materiais são mais persistentes que o aço, especialmente o plástico e o vidro. Eles não reagem quimicamente com o oxigênio e são decompostos pela ação lenta da água e do calor. Esses materiais, quando descartados, levam um período longo de tempo para se degradar no ambiente. O processo de degradação depende não somente do tipo de material (papel, plástico ou metal, por exemplo), mas também do ambiente a que ele está exposto. O material encontra-se a céu aberto ou enterrado? Encontra-se numa região úmida e quente, como a floresta Amazônica, ou numa região seca, quente durante o dia e fria durante a noite, como o deserto do Saara? Está jogado num rio (água doce) ou jogado no mar (água salgada)? Está depositado numa região de águas mais quentes (como no Nordeste brasileiro) ou em regiões de águas frias (nos altos das montanhas)? Tudo isso é importante para estimar o tempo de degradação dos materiais descartados. Acompanhe na tabela o tempo médio de decomposição de alguns materiais em ambiente terrestre. Tempo médio de degradação de alguns materiais Material

Tempo de degradação

Plástico

Meses a dezenas de anos

Vidro

Milhares de anos

Lata de aço

10 anos

Lata de alumínio

Mais de 1 000 anos

Papel

Meses a muitos anos

Madeira

Meses a muitos anos

Cigarro (filtro)

Meses a muitos anos

Restos orgânicos

Dias a meses

Chiclete

5 anos

PEREIRA, Denise Scabin; FERREIRA, Regina Brito. Ecocidadão. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente; Coordenadoria de Educação Ambiental, 2008. p. 45.

6º ano

325


APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Na tabela que apresenta o tempo médio de degradação de alguns materiais, você pôde ob-

servar que há uma grande diferença no tempo de degradação dos restos orgânicos, também chamados de biodegradáveis. Como você pode explicar essa diferença? 2. Escreva um parágrafo sobre as transformações dos materiais que colocamos no lixo. . Cite transformações de resíduos sólidos relacionados à ação de:

fungos e microrganismos; água e outras substâncias químicas; uma forma de energia. . O tempo é um fator importante para as transformações dos materiais. Como ele atua em relação

a diferentes resíduos sólidos?

MOMENTO DA ESCRITA

Explique a uma mãe por que, para o ambiente, é melhor usar fraldas de pano do que fraldas descartáveis. Escreva sua explicação em forma de carta.

OS MICRORGANISMOS, A SAÚDE HUMANA E O AMBIENTE Chamamos de microrganismo qualquer ser vivo que só pode ser visto por meio de microscópio. Eles vivem na água, no ar, no solo e no corpo de outros seres vivos. Alguns efeitos de sua presença podem ser percebidos facilmente, como o mau cheiro de um alimento que apodrece ou o aspecto vermelho de um olho com conjuntivite. Mau cheiro e mudança de cor de um tecido vivo sinalizam transformações e evidenciam a presença de um agente causador, provavelmente um microrganismo. São frequentemente associados a doenças, mas a grande maioria convive com os seres humanos em harmonia e até ajuda no funcionamento do organismo. Nossa pele e nossos intestinos são repletos de minúsculos organismos de uma só célula, bastante diversos e completamente favoráveis ou indiferentes à saúde de seus hospedeiros. Os microganismos presentes em nossos intestinos compõem a microbiota intestinal, comumente chamada de flora intestinal. Eles ajudam na digestão de alimentos e controlam, por competição, o crescimento de microrganismos que podem causar doenças. No ambiente, em vida livre, o papel dos microrganismos é importante. Várias espécies participam dos processos de decomposição de restos de animais e vegetais, em ambientes naturais, ou dos resíduos sólidos descartados. Ambientes aquáticos de água doce são muito propícios a diversas formas de vida microscópicas, além de serem habitados, por exemplo, por peixes, camarões, caramujos, plantas e algas, que são organismos macroscópicos. Ao olharmos uma pequena amostra de água em um microscópio, podemos ver animais minúsculos, 326

Ciências


Ilustração digital: Luis Moura

algas verdes, larvas de diversos animais. Menores ainda são as amebas e diversos outros microrganismos de apenas uma célula, ainda menores, como as bactérias. Alguns tipos de bactérias e larvas de vermes podem ser patogênicos, isto é, podem causar doenças.

Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Microrganismos de água doce visíveis ao microscópio.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Na ausência da rede de abastecimento de água, são necessários alguns cuidados com a água antes

de consumi-la. É preciso filtrá-la, fervê-la ou pingar nela uma gota de hipoclorito de sódio para cada litro. É necessário utilizar todos os procedimentos citados para tratar a água em casa?

Quais os efeitos de cada um desses procedimentos na retirada de impurezas da água?

6º ano

327


LER IMAGEM

Plástico

Plantas

Terra Carvão Pedregulho Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Com um grupo de colegas, debata as seguintes questões: • Quais componentes do terrário são semelhantes aos ambientes terrestres? • O que acontece em terrários fechados, como no da figura?

AMBIENTES AQUÁTICOS OU TERRESTRES Existem diferentes ambientes nativos, como mares, rios, matas e desertos. Mesmo sendo diferentes, os ambientes são formados por seres vivos, como animais e plantas, e materiais diversos, como água, ar, areia e rochas. Em sua condição natural, os ambientes apresentam um equilíbrio dinâmico entre os componentes do meio físico e os seres vivos, que se encontram adaptados às condições do ambiente. Os ambientes aquáticos são mares, rios e lagos, nos quais a água abundante dissolve sais e transporta resíduos. Certas espécies de animais e plantas podem viver no fundo desses ambientes, que pode ser de areia ou de pedra. Outras também podem viver livres na água, nadando e flutuando. No litoral brasileiro, é comum o mar bater em um costão rochoso, repleto de seres vivos. Nesse tipo de costão, há corais, estrelas, ouriços, anêmonas, caramujos e outros animais. Eles estão presos ao fundo, ou aproveitando a proteção dos esconderijos entre as rochas. Também há algas maiores presas ao fundo. Essas águas são repletas de seres microscópicos. 328

Ciências

Ilustração digital: Linares

Você sabe o que é um terrário? Ele é uma miniatura de um ambiente terrestre. Observe um esquema de um terrário a seguir.


Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

João Prudente/Pulsar Imagens

Resíduos humanos vêm poluindo os ambientes aquáticos, que podem regenerar suas condições de equilíbrio, desde que a poluição não passe de certos limites.

Vida marinha em Guarapari (ES), 2010. No centro, o peixe-frade cinza.

Nas matas úmidas é muito grande a biodiversidade das espécies de vegetais, animais, fungos e outros seres vivos. Os vegetais são muito vistosos e variados, tanto os que estão enraizados no solo, como os que se fixam sobre os primeiros. Samambaias, orquídeas, bromélias não são parasitas, nem prejudicam a planta que as sustentam. Outro tipo de seres vivos, os liquens, parecem manchas esverdeadas sobre os troncos e ramos das árvores. Liquens são associações entre fungos e algas, bastante sensíveis à poluição do ar. Não sobrevivem em cidades com o ar poluído. Os desertos e as caatingas são outro tipo de ambiente terrestre. Ocorrem onde o clima é seco, com pouca chuva durante o ano. Os seres vivos nativos têm características que lhes permitem sobreviver à falta de água. Os cactos estão entre os vegetais de desertos mais conhecidos. Eles armazenam água em seu interior e conseguem sobreviver ao período de seca. Outros tipos de plantas de desertos ou caatingas permanecem na forma de semente durante a seca e só brotam quando chove. Nessa ocasião, nascem também inúmeros insetos. Já os animais se escondem em fendas em pedras ou buracos que eles mesmos cavam para escapar do calor sob um céu sem nuvens. Assim sobrevivem ratos, cobras, lagartos e escorpiões típicos de desertos. O mocó é um animal que vive só nas caatingas: é pequeno e sabe se esconder muito bem. Peixes adaptados a esse tipo de ambiente podem passar meses em forma de ovo no barro ressecado do leito de um rio, O mocó é um roedor típico da Caatinga brasileira. Canudos (BA), 2008. aguardando a chuva. 6º ano

Fabio Colombini

Vista aérea de recife de coral em Maceió (AL), 2009.

329


Os componentes presentes em cada ambiente podem variar, mas os processos naturais, muitas vezes, permitem a volta ao equilíbrio. Os resíduos sólidos ou líquidos podem ser reintegrados ao solo, à água e ao ar com ajuda dos decompositores. Quando a reintegração é impossível, o ambiente torna-se poluído.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Preencha o quadro com as principais características dos ambientes. Ambiente

Seres vivos

Meio físico

Oceanos e mares

Água doce

Terrestre seco

Terrestre úmido

2. Dê exemplos que mostrem a integração entre seres vivos, em diferentes ambientes.

330

Ciências


. O saneamento básico inclui a produção de água potável, o tratamento das águas usadas, assim

como a coleta e a destinação correta do lixo. Para aprofundar a reflexão sobre esse tema, escreva um pequeno texto a partir da seguinte afirmação: “Cuidar do esgoto significa preservar a saúde e os recursos hídricos.” . Observe as palavras-chave a seguir. Monte com elas dois esquemas, organizados por meio de

setas, para mostrar os caminhos do esgoto a dois destinos possíveis: a estação de tratamento ou o despejo direto em um rio. água potável

rede coletora

estação de tratamento de esgoto (ETE)

água usada no banheiro

rio poluído

possibilidade de doença

água quase limpa

. Os materiais jogados no lixo são classificados em dois grupos: os que sofrem ação de organismos

decompositores (chamados de biodegradáveis) e os persistentes. Cite exemplos desses dois tipos de materiais. Por que os que não são biodegradáveis são chamados de lixo persistente?

. O que são microrganismos? Cite exemplos dos que são decompositores e patogênicos para o ser

humano.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Pequenos seres vivos MARTHO, Gilberto. Pequenos seres vivos. São Paulo: Ática, 2005.

Site

Alô escola Alô Escola. Disponível em: <www2.tvcultura.com.br/aloescola/ciencias/index.htm>. Acesso em: 6 jul. 2012.

6º ano

331


Bibliografia

CIÊNCIAS BRASIL. Consumo sustentável: manual de educação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), 2002. CAVINATTO, V. M. Saneamento básico. São Paulo: Moderna, 1992. (Desafios). ______. Lixo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997. (Desafios). COSTA, Larissa; BARRÊTO, Samuel Roiphe (Orgs.). Água para a vida, água para todos. Livro das águas. Brasília: WWF-Brasil, 20006. Disponível em: <www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/educacao_ambiental_agua/>. Acesso em: 5 jul. 2012. CZAPSKI, Silvia. Água: mudanças ambientais globais: pensar + agir na escola e na comunidade. Brasília: MEC, Secad, 2008. DREW, David. Processos interativos homem-meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrandde Castro, 1994. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Almanaque socioambiental 2008. São Paulo: Instituto Socioambiental, out. 2007. KUPSTAS, Márcia (Org.). Saúde em debate. São Paulo: Moderna, 1997. (Debate a Escola.) PEREIRA, Denise Scabin; FERREIRA, Regina Brito. Ecocidadão. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente; Coordenadoria de Educação Ambiental, 2008. PEZZI, A.C.; GOWDAK, D. O.; SIMÕES DE MATTOS, N. Biologia. São Paulo: Editora FTD, 2010. REBOUÇAS, Aldo. Uso inteligente da água. São Paulo: Escrituras, 2004. ROMERA E SILVA, P. A. (Org.). Água: quem vive sem? São Paulo: FCTH, CT-Hidro (ANA, CNPq/SNRH), 2003. SÃO PAULO. Água hoje e sempre: consumo sustentável. São Paulo: SEE, CENP, 2004. Disponível em: <http://cenp.edunet.sp.gov.br/Agua/>. Acesso em: 28 fev. 2013.

332

Ciências


SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA. Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, n. 154, out. 1999. ______. Ciência hoje na Escola. Meio ambiente – águas. Rio de Janeiro: SBPC, 2006. v. 4. TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável. São Paulo: Globo, 2005. UJVARI, Stefan Cunha. A história e suas epidemias: a convivência do homem com os microrganismos. Rio de Janeiro, São Paulo: Senac Rio, Senac São Paulo, 2003. VALADÃO, M. M. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2003.

6º ano

333



UNIDADE 7

Matemรกtica



Capítulo

1

M AT E M ÁT I C A

Descobrindo regularidades

T

odos nós compartilhamos espaços com animais, plantas, objetos, construções e muitos outros elementos naturais e construídos. Mas nem sempre observamos atentamente as formas, os contornos, as linhas e a maneira como cada um desses elementos é composto. Assim, raramente nos damos conta das regularidades e dos padrões que podem ser observados ao redor. Para perceber padrões e regularidades, e pensar sobre eles, é preciso ver com outros olhos aquilo que já conhecemos, prestando atenção nos detalhes.

RODA DE CONVERSA

Alex Staroseltsev/Shutterstock

Observando a casca de um abacaxi, por exemplo, pode-se perceber que há uma forma que se repete, compondo um desenho característico. Esse desenho, visto em destaque na fotografia, é formado a partir de um tipo de regularidade de reprodução de um padrão.

É possível distinguir o padrão que vemos na casca de um abacaxi?

6º ano

337


Regien Paassen/Shutterstock

Anton Prado PHOTO/Shutterstock

Observe as imagens a seguir, que são exemplos de regularidades na natureza. Junte-se a um grupo de colegas e converse com eles sobre o que vocês observaram. Vocês lembram de mais exemplos de regularidades da natureza?

Exemplos de regularidades encontradas na natureza: um solo argiloso ressecado e uma folha de samambaia.

REGULARIDADES E PADRÕES

Richard Sharrocks/Alamy/Otherimages

Iandé/Casa das Culturas Indígenas

Os índios Kaiabi, em sua maioria, habitam o Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso. Uma das características culturais que mais identificam esse povo são os desenhos formados pelo trançado da palha em suas peneiras e cestos. Na elaboração desses trançados, os Kaiabi utilizam doze desenhos básicos que, às vezes, se combinam gerando outros, mais elaborados. Mas não são só os Kaiabi que utilizam regularidades para elaborar seus objetos, todos os grupos humanos o fazem. Há muitos exemplos disso nas artes e na arquitetura.

Padrões de trançado de peneira do povo Kaiabi, que vive no Mato Grosso.

338

Matemática

As mesquitas muçulmanas trazem muitos exemplos de como os padrões são usados na arquitetura. Detalhe da Mesquita Hassan II, no Marrocos, 2011.


Um artista fascinado por padrões Nos vários mosaicos geométricos que criou, Escher lançou mão da repetição de um mesmo desenho, um padrão, para compor uma obra. Veja o mosaico abaixo. Ele foi criado a partir de uma única forma: um cavalo com asas.

M.C. Escher's “Symmestry Drawing” E 78 © 2009 The M.C. Escher Company – Holland

As obras do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) se caracterizam pela repetição de padrões que, muitas vezes, compõem cenas e desenhos surpreendentes. Ele utilizava a matemática como um instrumento para desenvolver e concretizar suas obras.

Maurits Cornelis Escher. Symmetry Watercolor 78, 1950. Aquarela, 44 × 44 cm.

PARA CRIAR

Agora que já foram observadas regularidades de algumas figuras, vamos construir outras imagens que tenham esse tipo de característica. 1. Vamos usar algumas regularidades para desenhar faixas e mosaicos. Use papel quadriculado para

organizar a reprodução das figuras. Siga as instruções: • Recorte uma tira de papel quadriculado e re-

produza nela a figura ao lado. Observe algum padrão dessa figura e complete-a mantendo a regularidade observada. • Em outra folha de papel quadriculado, reproduza

o mosaico ao lado. Observe o padrão deste mosaico e complete-o mantendo a regularidade.

6º ano

339


2. Vamos construir um padrão de mosaico. Usando uma folha de papel quadriculado, reproduza a figura 1. Em seguida, recorte-a como indicado e encaixe a parte recortada no lado oposto, obtendo a figura 2. Junte as duas partes com fita adesiva.

figura 1

figura 2

• Usando uma folha de papel sulfite, trace o con-

torno da forma que você criou. Em seguida, encaixe a forma ao lado do desenho e reproduza-a outra vez. • Continue traçando até preencher a folha. Se

quiser, pinte ou decore seu padrão fazendo-o parecer um objeto, um animal ou uma pessoa. Uma faixa, ou mosaico pode ter como padrão quaisquer figuras, mas elas têm que se encaixar perfeitamente. Se nessas construções, para unir dois pontos, usarmos uma régua, obteremos um segmento de reta. Segmento é uma palavra de origem latina, segmentum, que significa “corte”. Segmento de reta é uma parte de uma reta “compreendida” entre dois pontos.

REGULARIDADES GEOMÉTRICAS POLÍGONOS Para gerar as faixas e os mosaicos da atividade anterior, você utilizou alguns tipos de polígonos. Você conhece algum polígono? As figuras seguintes são representações gráficas de polígonos:

As figuras seguintes não representam polígonos:

340

Matemática


Em cada polígono, os segmentos de reta são seus lados e o ponto comum a dois de seus lados se chama vértice. vértice lado

lado

vértice

lado

lado

O número de lados de um polígono é igual ao número de vértices. Os polígonos podem ser classificados como convexos ou como não convexos ou côncavos. Polígonos convexos

Polígonos não convexos

Uma razão simplificada para que os dois polígonos da direita sejam classificados como não convexos ou côncavos é porque existe pelo menos uma reta que intercepta seus lados em mais de dois pontos. Geralmente, o nome de um polígono convexo está associado ao número de lados ou vértices que ele possui. Veja a seguir os nomes de alguns polígonos convexos: Triângulo

Número de lados: 3 Número de vértices: 3

Quadrilátero

Número de lados: 4 Número de vértices: 4

Pentágono

Número de lados: 5 Número de vértices: 5

Hexágono

Número de lados: 6 Número de vértices: 6

6º ano

341


Os arquitetos também utilizam regularidades para desenvolverem seus projetos, com o objetivo de obter determinados efeitos na funcionalidade da obra, nas estruturas e nas características próprias dessas formas. Observe a fotografia do museu, projetado pelo arquiteto mexicano Ricardo Legoretta. Veja a enorme forma triangular, logo na entrada.

(Architetural Record, set. 1990, p. 135)/Children’s Discovery Museum San Jose

TRIÂNGULOS E PROPRIEDADES

Children’s Discovery Museum (Museu da Descoberta Infantil), na Califórnia (EUA).

O uso das formas geométricas, além de servir para representar ideias, é importante para a técnica de algumas construções. Por que será que, quando se constrói uma porteira como a da foto emprega-se uma ripa formando dois triângulos? Que propriedades os triângulos têm para serem empregados na estrutura de várias construções, como em pontes, torres de comunicação e de alta tensão?

Rachelle Burnside/Shutterstock

PARA REFLETIR

EXPERIMENTAR

A seguir, propomos a realização de alguns experimentos com triângulos. O objetivo é conhecer as principais propriedades desse polígono. 1. Providencie alguns canudos de refrigerante e uma linha grossa, ou barbante, e siga as instruções. • Pegue um canudo inteiro e divida outro em duas partes de quaisquer tamanhos. • Passe a linha, ou o barbante, pelo interior dos canudos, conforme a ilustração seguinte:

Sem dobrar nenhum dos três canudos, é possível manejá-los e obter um triângulo? Tente fazer isso e anote suas conclusões. 342

Matemática


2. Desenhe alguns triângulos em uma folha. Com uma régua, obtenha as medidas de seus lados.

Perceba que a soma das medidas de dois lados sempre é maior que a medida do terceiro lado. 3. Construa um quadrilátero passando uma linha, ou um barbante, pelo interior de quatro canudos.

Responda: é possível manter fixa a forma do quadrilátero? 4. Utilizando três canudos, construa um triângulo passando uma linha, ou um barbante, pelo inte-

rior deles. É possível manter fixa a forma desse triângulo? Essa “rigidez” que foi observada vale para outros triângulos? 5. Agora, usando linha e canudos, construa outros três triângulos, seguindo as especificações abaixo: • Para o primeiro triângulo, corte um canudo em três partes com medidas iguais. • Para o segundo triângulo, corte outro canudo em três partes, sendo duas com medidas

iguais e uma com medida diferente das outras duas. • Para o terceiro triângulo, corte outro canudo em três partes, com medidas duas a duas diferentes, de forma que a soma das medidas das duas partes menores seja maior que a medida da terceira parte. Faça uma pesquisa para classificar os triângulos de acordo com as medidas dos lados e responda: a) Como se chamam os triângulos que têm os três lados com medidas iguais? b) Como se chamam os triângulos que têm apenas dois lados com medidas iguais? c) Como se chamam os triângulos que têm os três lados com medidas duas a duas diferentes?

6. Classifique os triângulos a seguir em relação às medidas de seus lados:

7. Vamos construir outros polígonos. • Desenhe numa folha avulsa vários triângulos com as mesmas

medidas do triângulo ao lado e recorte-os. • Forme com dois, três, quatro ou mais triângulos os seguintes quadriláteros:

6º ano

343


REGULARIDADES NUMÉRICAS

Dmitry Kalinovsky/Dreamstime.com

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Os números são utilizados com muitas finalidades, entre elas, para representar quantidades e medidas. Dentre os diversos tipos de números que usamos, os números naturais: zero (0), um (1), dois (2), três (3), quatro (4), cinco (5),... são usados, entre outras funções, para contar.

Situações do cotidiano em que nos deparamos com notações numéricas.

Uma regularidade da sequência dos números naturais é que ela é crescente, pois seus termos “crescem” de um em um, a partir do 0. Além disso, a sequência não tem fim, ou seja, é infinita. • o número 1 é o sucessor do número 0 e é antecessor do número 2; • o número 2 é o sucessor do número 1 e é antecessor do número 3, e assim sucessivamente. 0

1 +1

2 +1

3 +1

4 +1

5 +1

6 +1

7 +1

8 +1

9 +1

10 +1

Uma sucessão de números como essa se chama sequência numérica e cada número que faz parte dela é denominado termo da sequência. Em alguns casos, as sequências numéricas podem variar de 2 em 2, de 3 em 3, de 4 em 4, e assim por diante. 344

Matemática

... +1


Exemplos: • A sequência: 0, 2, 4, 6, 8, 10, ... varia de 2 em 2, a partir de 0 e também não tem fim. 0

2 +2

4 +2

6 +2

8

10

+2

+2

12 +2

14 +2

16 +2

18

...

+2

+2

• A sequência: 5, 8, 11, 14, 17, 20, ... varia de 3 em 3, a partir de 5, e não

tem fim. 5

8 +3

11 +3

14 +3

17

20

+3

+3

23 +3

26 +3

29 +3

32

...

+3

+3

• A sequência: 1, 5, 9, 13, 17, 21, ... varia de 4 em 4, a partir de 1, e não

tem fim. 1

5 +4

9 +4

13 +4

17

21

+4

+4

25 +4

29 +4

33 +4

37

...

+4

+4

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. De quanto em quanto variam os seis primeiros termos da sequência numérica a seguir? Escreva

os próximos três termos dessa sequência, imaginando que a variação observada se mantenha. 1, 4, 7, 10, 13, 16,

,

,

2. Observe a regularidade na sequência numérica a seguir e determine seus próximos três termos. 1

5 +4

9 +4

13 +4

17 +4

21 +4

25 +4

29 +4

33 +4

37 +4

+4

+4

+4

MÚLTIPLOS E DIVISORES Os números que fazem parte da sequência: 0, 2, 4, 6, 8, 10, ... variam de 2 em 2, a partir do 0. A divisão de qualquer desses números por 2 tem zero como resto. Todos eles são divisíveis por 2. Dizemos, também, que esses números são múltiplos de 2. Os números múltiplos de 2 são denominados números pares.

10 0

6º ano

2 5

345


Os números que fazem parte da sequência: 1, 3, 5, 7, 9, 11, ... variam de 2 em 2, a partir do 1. A divisão de qualquer desses números por 2 não tem zero como resto. Nenhum desses números é divisível por 2. Dizemos que esses números não são múltiplos de 2. Os números naturais que não são múltiplos de 2 são denominados números ímpares. Os números que fazem parte da sequência: 0, 5, 10, 15, 20, 25, ... variam de 5 em 5, a partir do 0. A divisão de qualquer desses números por 5 tem zero como resto. Todos eles são divisíveis por 5. Dizemos que esses números são múltiplos de 5. Os números que fazem parte da sequência: 2, 7, 12, 17, 22, 27, ... também variam de 5 em 5, só que a partir do 2. A divisão de qualquer desses números por 5 não tem zero como resto. Esses números não são divisíveis por 5. Dizemos que esses números não são múltiplos de 5.

11 1

2 5

25 0

5 5

27 2

5 5

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. A sequência numérica a seguir varia de 3 em 3, a partir do 1, e não tem fim.

1, 4, 7, 10, 13, 16, ... a) Qual é o resto da divisão de cada um dos números dessa sequência por 3?

.

b) Os números que compõem essa sequência são múltiplos de 3? Justifique sua resposta.

c) Essa regularidade ocorre com qualquer número dessa sequência? Por quê?

2. Escreva uma sequência de múltiplos de 7:

SISTEMA DE NUMERAÇÃO POSICIONAL DECIMAL O sistema de numeração posicional decimal é uma invenção humana que, entre outras finalidades, pode ser utilizada para representar quantidades. 346

Matemática

.


Seu uso tornou-se tão comum e familiar que não nos damos conta de sua composição, de suas propriedades e características.

AGRUPANDO DE DEZ EM DEZ Em sistemas numéricos decimais, como o próprio nome sugere, os agrupamentos são feitos de 10 em 10. Assim: • dez unidades constituem uma dezena; • dez dezenas constituem uma centena; • dez centenas constituem um milhar; • dez milhares constituem uma dezena de milhar; • dez dezenas de milhar constituem uma centena de milhar, e assim por diante.

VALOR POSICIONAL Em um sistema de numeração posicional, a posição de um algarismo na representação escrita do número tem um valor relativo a essa posição. Por exemplo, observe a escrita dos números dezessete e setenta e um: 17

71

Em relação à posição do algarismo 7 nas duas representações, podemos verificar que: • em 17, ele é o algarismo que ocupa a primeira posição da direita para a esquerda e corresponde a sete unidades; • em 71, ele ocupa a segunda posição da direita para a esquerda, correspondendo a sete dezenas e é lido “setenta”. Cada uma dessas posições é chamada de ordem. A primeira posição da direita para a esquerda, onde estão representadas as unidades, é a primeira ordem. A segunda posição da direita para a esquerda, onde estão representadas as dezenas, é a segunda ordem, e assim sucessivamente. No caso do número duzentos e cinco (205), podemos verificar outro aspecto relativo ao princípio posicional. A posição da dezena é preenchida por um zero, pois o número 205 possui exatamente 20 dezenas, que estão representadas nas duas centenas. Observe o seguinte esquema: 3ª ordem

2ª ordem

1ª ordem

centena

dezena

unidade

2

0

5

2 centenas = 20 dezenas

Uma das características mais importantes do sistema posicional consiste em possibilitar a representação dos números de forma concisa, ou seja, sucinta e precisa.

6º ano

347


Com apenas dez símbolos (os algarismos de 0 a 9) e as regras mencionadas, podemos representar qualquer quantidade. Por exemplo: • a população do município de Mesópolis, no estado de São Paulo, com 1 886 habitantes em 2010; • a população do estado da Bahia, que, em 2010, era de 14 016 906 pessoas; • a população do mundo, que, em 2010, era estimada em 7 000 000 000 de pessoas. Para fazer a leitura da população brasileira, que, no ano 2010, era de 190 755 799 habitantes, adotamos o seguinte procedimento: Primeiro, separamos os algarismos em classes com, no máximo, três algarismos, da direita para a esquerda. Classe

Classe

Classe

190

755

799

Em seguida, lemos o número em cada classe, da esquerda para a direita, seguido do nome da classe correspondente. Veja o quadro de classes a seguir: Milhão

Milhar

Unidade

centena

dezena

unidade

centena

dezena

unidade

centena

dezena

unidade

1

9

0

7

5

5

7

9

9

cento e noventa milhões

setecentos e cinquenta e cinco mil

setecentos e noventa e nove unidades

O SISTEMA POSICIONAL E AS QUATRO OPERAÇÕES “ELEMENTARES” Outra característica importante do sistema posicional é possibilitar a construção de algoritmos (técnicas operatórias) eficientes para as quatro operações elementares: adição, subtração, multiplicação e divisão Observe estes exemplos: Adição

+

348

Matemática

dezena de milhar

unidade de milhar

centena

dezena

unidade

DM

UM

C

D

U

1

1

6

1

5

4

2

4

9

3

7

3

6

5

9

1

5

+

1 6 15 4 2 4 9 3 7 3 6 5 9 1 5

1

soma


Subtração UM –

C

D

U

6

4

5

1

4

7

4

3

7

3

2

1

7

4

6 45 14 7 4 3 7 3 2 1 7 4

diferença

Multiplicação UM

C

D

U

4

3

2

2

3

2

9

6

8

6

4

0

9

9

3

6

UM 3 2 1

C 4 4 0 9

D 2

U 6

× 3 × 432 20 × 432

1

1

+

4 × 1 1 2 + 8 6 9 9

3 2 9 4 3

2 3 6 0 6

produto

Divisão

2 × 12 8 × 12 5 × 12

– –

2 6 6 6

3 4 2 6 2 4 1 0 2 – 9 6 6 6 – 6 0 6 –

6 0 6

1 2 2 8 5 cociente

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Do total da população do Brasil em 2010, 93 406 990 eram homens e 97 348 809 eram mulheres.

Total de mulheres brasileiras (2010)

Total de homens brasileiros (2010) Milhão C

Milhar

Milhão

Unidade

D

U

C

D

U

C

D

U

9

3

4

0

6

9

9

0

C

Milhar

Unidade

D

U

C

D

U

C

D

U

9

7

3

4

8

8

0

9 Fonte: IBGE

Com o auxílio do quadro de classes, escreva como se leem esses números. 6º ano

349


2. Observe os dados a seguir sobre a população da região Sul do Brasil, em 2010: População dos estados da região Sul (2010) Estado

População

Paraná

10 444 526

Santa Catarina

6 248 436

Rio Grande do Sul

10 693 929 Fonte: IBGE.

Agora, calcule e escreva como se lê qual era a população total da região Sul em 2010 (se for conveniente, use um algoritmo para efetuar essa soma).

3. Calcule: a) 3 186 − 537

b) 108 × 56

c) 1 256 ÷ 31

EXERCITANDO MAIS

1. Em uma folha de papel quadriculado, crie um mosaico usando polígonos. Depois, pinte seu mo-

saico de modo a manter uma regularidade. 2. Determine pelo menos uma regularidade em cada uma das sequências numéricas a seguir e escreva,

para cada uma delas, o sexto e o sétimo termo, de acordo com a regularidade que você determinou. a) 3, 7, 11, 15, 19,

,

, ...

b) 201, 196, 191, 186, 181, c) 0, 3, 6, 9, 12, d) 15, 24, 33, 42, 51,

, ,

; ... ; ...

,

e) 2 002, 2 004, 2 006, 2 008, 2 010, f) 30 600, 30 700, 30 800, 30 900, 31 000,

; ... ,

; ... ,

...

3. Leonardo de Pisa foi um importante matemático que nasceu na cidade de Pisa, na Itália, em 1175.

Ele é mais conhecido como Fibonacci, nome que usava em seus escritos. Foi ele quem introduziu na Itália os algarismos indo-arábicos. Ele também elaborou uma sequência numérica que leva seu nome. 350

Matemática


Observe como se comporta a sequência de Fibonacci: 1

1

2 1+1=2

3 1+2=3

5 2+3=5

8 3+5=8

os dois primeiros termos dessa sequência de Fibonacci são 1 e 1; o terceiro termo é a soma dos dois primeiros; o quarto termo é a soma do segundo com o terceiro; o quinto termo é a soma do terceiro com o quarto, e assim sucessivamente. Complete a sequência com o sétimo e o oitavo termos.

• • • •

4. Observe a seguinte sequência de números. É possível perceber que seus termos variam de 6 em 6.

10, 16, 22, 28,

,

, ...

a) Complete a sequência com o quinto e o sexto termos, mantendo a regularidade observada. b) Qual é o resto da divisão do quinto termo dessa sequência por 6? E do sexto termo? É possível

determinar esse resto sem efetuar a divisão?

5. As Olimpíadas são uma competição esportiva mundial inspirada nos Jogos Olímpicos da Grécia

antiga. Essa competição ocorre de quatro em quatro anos. a) Se em 1960 houve olimpíadas, então também houve essa competição em 1980? Justifique.

b) Os últimos jogos olímpicos antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram realizados

em Berlim, em 1936. Durante a guerra não houve Olimpíadas. Se fosse mantida a mesma sequência, em que anos da Segunda Guerra Mundial teria havido olimpíadas? 6. A respeito de múltiplos e divisores, escreva: a) Os cinco primeiros termos da sequência de números naturais que são múltiplos de 4: b) Os cinco primeiros termos da sequência de números naturais que são múltiplos de 4 e maiores

que 10: c) Todos os termos da sequência de números naturais que são múltiplos de 4 e menores que 50:

6º ano

351


7. Observe como foi calculada a quantidade de hexágonos nas figuras abaixo:

1+2+3+2+1=9 2 + 3 + 4 + 3 + 2 = 14

Quantos hexágonos há na figura ao lado?

8. Pesquise e escreva, por extenso, o número de habitantes da cidade e do estado onde você mora. 9. Descubra os algarismos que estão faltando nestas contas: 5 3

a) × +

352

1

b) 3 2

6

2

6

2

6 2

Matemática

4 3

1

3 6 9

3 5

6 9 1 6 0 7

1 2

5


Capítulo

2

M AT E M ÁT I C A

Mulheres, mercado informal e a Matemática

A

Thomaz Vita Neto/Pulsar Imagens

participação das mulheres no mercado de trabalho vem crescendo ano após ano. Para isso, quase sempre elas têm que conciliar as atividades de geração de renda com as responsabilidades domésticas que lhes são atribuídas tradicionalmente, como cuidar da casa, dos filhos e de parentes. Assim, para grande parte das mulheres é um desafio conciliar novas atividades com as antigas, seja para complementar a renda familiar, ou pessoal, seja para satisfação pessoal, ou exercício da cidadania. Muitas mulheres das camadas mais pobres acabam optando por atividades que são um prolongamento das tarefas domésticas, como costurar, cozinhar, vender produtos de beleza. São atividades informais, realizadas na própria casa ou em local próximo.

Mulher trabalhando como vendedora no comércio informal na cidade de São José de Ribamar (MA), 2010.

6º ano

353


RODA DE CONVERSA

Ao observar o cotidiano de uma mulher que, informalmente, produz e vende salgados, tem-se a dimensão dos vários problemas que ela enfrenta para ter sucesso em sua empreitada. Algumas de suas preocupações podem ser, por exemplo: • determinar a quantidade de salgados a ser produzida; • escolher o local para vender os salgados; • calcular o custo de produção; • determinar os valores de venda de cada salgado; • calcular o investimento inicial; • calcular quanto custa para manter o negócio funcionando. Você já participou de algum empreendimento desse tipo? Nessas situações é comum o uso de expressões como: “três quartos de xícara”, “meio litro”, “assar por 45 minutos”, “1,5 kg de cebola”, entre outras. Com seus colegas, tente explicar cada uma dessas expressões, de acordo com o que você já conhece.

A HISTÓRIA DO EMPREENDIMENTO DE MIRALVA Miralva, como muitas outras mulheres, percebeu que podia usar seus conhecimentos e habilidades para complementar a renda familiar. Ela resolveu montar um pequeno negócio com o qual poderia ganhar algum dinheiro para ajudar na alimentação e em outras despesas da sua casa. Pensando em algo que não exigisse ficar muito tempo fora, Miralva resolveu produzir e vender torta de frango em fatias. Perto de sua casa há uma escola que, durante a noite, reúne jovens e adultos que retomaram os estudos e Miralva percebeu que poderia vender suas tortas para essas pessoas. Dando início ao trabalho, Miralva considerou que, se usasse assadeiras redondas para assar as tortas, poderia dividi-las igualmente. Assim, após assá-las, Miralva as divide em fatias iguais, para cobrar um preço por fatia. Ela resolveu dividir cada torta em 8 partes iguais. O esquema abaixo mostra uma torta cortada.

Torta de frango cortada em 8 pedaços iguais (vista de cima).

354

Matemática


Se Miralva vender 3 fatias de torta, por exemplo, pode-se dizer que ela vendeu uma fração da torta. Se forem vendidas 3 fatias de uma torta dividida em 8 fatias iguais, pode-se dizer que foram vendidos três oitavos da torta. Essa fração da torta pode ser representada pelo símbolo numérico 83 . A expressão 83 se chama fração e tem, entre outras, a seguinte interpretação: • O número natural 3 representa o número de fatias de torta que foram

vendidas; • O número natural 8 representa o número total de fatias iguais em que a torta foi dividida. Na fração 83 : • O número 3 se chama numerador da fração; • O número 8 se chama denominador da fração; • O traço horizontal (–) que é desenhado entre o numerador e o deno-

minador se chama traço de fração. Cada fatia da torta corresponde a 18 (lê-se um oitavo) da torta.

LEITURA DE FRAÇÃO A leitura de uma fração depende do seu numerador e do seu denominador. Frações cujos denominadores são os números naturais 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 têm leituras especiais. Por exemplo: A fração 12 pode ser lida “um meio” ou “meio” ou, então, “1 sobre 2”. A fração 13 pode ser lida “um terço” ou “1 sobre 3”. A fração 34 pode ser lida “três quartos” ou “3 sobre 4”. A fração 15 pode ser lida “um quinto” ou “1 sobre 5”. Da mesma forma, 16 lê-se “um sexto”, 71 lê-se “um sétimo”, 18 lê-se “um oitavo” e 19 lê-se “um nono”. Para frações com denominadores 10, 100, 1 000, lê-se o numerador e acrescenta-se a palavra “décimo” para o denominador 10, “centésimo” para o denominador 100, “milésimo” para o denominador 1 000. Por exemplo: 3 10

lê-se “três décimos” ou “3 sobre 10”.

17 100

lê-se “dezessete centésimos” ou “17 sobre 100”.

2 1000

lê-se “dois milésimos” ou “2 sobre 1 000”.

6º ano

355


As frações que têm denominador 10, 100, 1 000 etc. são chamadas frações decimais. Para uma fração cujo denominador é um número natural maior que 10 (11, 12, 13, ...), lê-se o seu numerador e acrescenta-se a palavra “avos” ao seu denominador. Por exemplo: 1 11

lê-se “um onze avos”.

7 23

lê-se “sete vinte e três avos”.

CALCULANDO PREÇOS Considerando as vendas de Miralva, se ela vender 3 fatias da torta, então sobrarão 5 fatias para serem vendidas. As fatias que não foram vendidas podem ser expressas pela fração 85 . Portanto, 83 , que corresponde à fração vendida da torta, mais 85 , que corresponde à fração não vendida da torta, é igual a 88 = 1, que corresponde à torta inteira. Essa última situação pode ser expressa simbolicamente assim: 3 5 8 8 3 5 8 + 8 = 8 ou 8 – 8 = 8

Para obter algum lucro, Miralva precisaria receber 24 reais pela torta inteira. Então, uma fatia deveria custar 3 reais (24 ÷ 8 = 3) e três fatias, 9 reais. Esse pensamento pode ser expresso assim: Por 88 , receberia 24 reais. Por 18 , receberia 3 reais. Por 83 , receberia 9 reais. Porém, Miralva percebeu que as fatias seriam grandes e caras para um lanche. Então, ela resolveu passar a dividir cada torta em 16 fatias iguais. Neste caso, ela poderia vender cada fatia pela metade do preço cobrado por 18 da torta. Se, das 16 fatias em que a torta for dividida, ela vender 6, então também terá vendido uma fração da torta. Uma leitura para essa situação é a seguinte: foram vendidos seis dezesseis avos da torta. Essa situação pode ser representada da seguinte forma: 6 16

356

Matemática

(que se lê: “seis dezesseis avos”.)


Ilustração digital: Luciano Tasso

PARA REFLETIR I

6 Que relação há entre 83 e 16 da torta? Vamos desenhar frações. Usando a boca ou o fundo de um copo como molde, desenhe e recorte dois círculos de papel, como na ilustração ao lado.

Pegue um dos círculos. Dobre-o ao meio.

Com ele dobrado, dobre-o ao meio novamente.

Mais uma vez, dobre-o ao meio.

Abra o papel. O círculo ficou dividido em 8 partes iguais. Pinte 3 delas.

Que fração você obteve com esses procedimentos? Use os mesmos procedimentos para representar, no outro círculo, a fração “seis dezesseis avos”. Compare as representações das duas frações. Que conclusões você obteve fazendo essas duas representações fracionárias?

FRAÇÕES EQUIVALENTES 6 Na atividade anterior, foi possível perceber que as frações 83 e 16 da torta correspondem à mesma quantidade de torta. 6 Por causa disso, dizemos que as frações 83 e 16 são equivalentes. Representamos essa equivalência por meio da igualdade das frações:

3 = 6 8 16

6º ano

357


6 A fração 16 pode ser obtida da fração 83 realizando-se as seguintes ações:

3 = 3×2 = 6 8 8 × 2 16 6 Por sua vez, a fração 83 pode ser obtida da fração 16 realizando-se as seguintes ações:

6 = 6÷2 = 3 16 16 ÷ 2 8

Essas ações podem ser aplicadas em outras frações. Com base nesses resultados, podemos estabelecer as seguintes regras que permitem obter uma fração equivalente a partir de uma fração conhecida: Multiplicando-se, ou dividindo-se, tanto o numerador como o denominador de uma fração por um mesmo número diferente de zero, obtemos uma fração, equivalente à fração original. Na fração 83 o numerador e o denominador têm apenas o número 1 como divisor comum. Por isso, dizemos que 83 é fração equivalente na forma irredutível. Veja outros exemplos: Determine uma fração equivalente a

14 28

14 28

e com denominador 4.

Para obter uma fração equivalente a e com denominador 4, divide-se o numerador e o denominador dessa fração por 7, pois 28 ÷ 7 = 4. Veja: 14 = 14 ÷ 7 = 2 28 28 ÷ 7 4

A fração 24 é uma fração equivalente a

14 28

com denominador 4.

3 Obtenha uma fração equivalente a 16 e com numerador 12.

3 Para obter uma fração equivalente a 16 e com denominador 12, multiplica-se o numerador e o denominador dessa fração por 4, pois 3 × 4 = 12.

3 = 3 × 4 = 12 16 16 × 4 64 3 A fração 12 é uma fração equivalente a 16 com numerador 12. 64

358

Matemática


Qual é a fração irredutível equivalente a 18 ? 12

Podemos dividir sucessivamente o numerador e o denominador da fração por um divisor comum a eles. Dividindo 18 e 12 pelo divisor comum 2: 18 = 18 ÷ 2 = 9 12 12 ÷ 2 6

Dividindo 9 e 6 pelo divisor comum 3: 9 = 9÷3 = 3 6 6÷3 2

A fração 23 é a fração irredutível equivalente a 18 . 12 APLICAR CONHECIMENTOS I 4 1. Qual fração, na forma irredutível, é equivalente a 16 ?

2. Qual dos seguintes pares de frações representa frações equivalentes? 3 e 15 16 80

15 e 5 81 7

4 e 2 9 3

SOMA E DIFERENÇA DE FRAÇÕES COM DENOMINADORES IGUAIS Miralva fez uma torta de frango e dividiu-a em 16 fatias iguais. Se ela vender 5 da torta. Neste caso, 16 − 5 = 11 fatias não 5 fatias, então ela venderá a fração 16 11 foram vendidas. Ou seja, a fração da torta que não foi vendida é 16 . 5 Se somarmos a fração da torta que foi vendida, 16 , com a fração da torta que 11 não foi vendida, 16 , obteremos a fração que representa a torta inteira, ou seja, 16 . 16 Em símbolos: 5 + 11 = 16 16 16 16

Essa operação sugere o seguinte procedimento para somar frações que têm os mesmos denominadores:

Para se obter a soma de duas frações com denominadores iguais, somam-se seus numeradores, mantendo-se o denominador.

6º ano

359


Se subtrairmos da torta toda, 16 , a fração que foi vendida, 16 11 da torta que não foi vendida é 16 . Em símbolos:

5 , 16

então a fração

16 16 16 --–- 555 ==== 11 11 11 16 16 16 16 16 16 16 16 16

Essa operação sugere o seguinte procedimento para subtrair frações que têm os mesmos denominadores:

Para se obter a diferença entre duas frações com denominadores iguais, subtraem-se seus numeradores, mantendo-se o denominador.

APLICAR CONHECIMENTOS II

Calcule: 15 + 7 = 26 26

13 5 16 – 16 =

SOMA E DIFERENÇA DE FRAÇÕES COM DENOMINADORES DIFERENTES Miralva fez duas tortas de frango. Uma delas foi cortada em 8 fatias iguais e a outra foi cortada em 16 fatias iguais. Para aumentar as opções de venda para seus clientes, Miralva colocou em 1 uma das assadeiras 4 fatias de 18 da torta e 8 fatias de 16 da torta, como mostra a figura seguinte.

1 8

Metade da assadeira contém 4 fatias correspondentes a 18 da torta.

360

Matemática

1 16

Metade da assadeira contém 8 fatias correspondentes a 1 da torta. 16


Se Miralva vender 3 fatias correspondentes a 18 da torta e 5 fatias correspon1 dentes a 16 da torta, então, qual fração da torta terá sido vendida? 5 . A fração a ser vendida pode ser obtida somando a fração 83 com a fração 16 Essa soma pode ser expressa simbolicamente da seguinte forma: 3 + 5 8 16 6 Como 83 da torta são equivalentes a 16 da torta, então podemos escrever:

3 + 5 = 6 + 5 = 11 8 16 16 16 16

Essa operação sugere o seguinte procedimento geral:

A soma de duas frações com denominadores diferentes pode ser calculada transformando-as em frações com denominadores iguais, por meio de correspondentes frações equivalentes.

Da mesma forma, para calcular a diferença: 11 –- 3 = 5 16 8 16

é possível escrever: 11 11 -–- 33 == 11 5 –- 36 == 55 16 16 88 16 16 16 8 16 16

Essa operação sugere o seguinte procedimento geral:

A diferença entre duas frações com denominadores diferentes pode ser calculada transformando-as em frações com denominadores iguais, por meio de correspondentes frações equivalentes.

6º ano

361


APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Calcule a soma e a diferença a seguir: 4 + 5 = 13 26

11 − 1 = 16 4

2. Construa três círculos iguais, cada um numa folha de papel. Divida-os, respectivamente, em duas,

quatro e oito partes iguais, da seguinte maneira:

Duas partes iguais

Quatro partes iguais

Oito partes iguais

Com uma tesoura, recorte: • o primeiro círculo em duas partes iguais e pinte-as de verde; • o segundo em quatro partes iguais e pinte-as de vermelho; • o terceiro em oito partes iguais e pinte-as de azul.

1 4 1 4

1 8

1 8

Utilizando essas “frações” de círculo, é possível fazer algumas operações com elas. A primeira servirá como exemplo. Pegue uma parte que representa a fração 14 de círculo e outra parte que representa a fração 18 . Coloque-as sobre uma mesa, uma ao lado da outra, como na figura acima à esquerda e calcule 14 + 18. Quantas “frações” do círculo que foi dividido em 8 partes iguais são necessárias para completar um círculo inteiro a partir da composição feita com 14 e 18 do círculo?

362

Matemática


Com base no último exemplo, determine as somas das frações seguintes. 1 + 2 = 4 4

1 + 3 = 8 8

1 + 3 = 2 8

3 + 1 = 4 8

1 + 1 = 2 4

5 + 3 = 8 8

1 + 1 = 2 2

1 + 3 + 1 = 4 8 8

2 + 1 + 1 = 8 4 2

3 + 5 = 4 8

NÚMEROS RACIONAIS Miralva aproveitou o fim de semana para fazer sua receita de torta de frango e anotar todos os gastos para saber se a venda de tortas estava valendo a pena. Os seus gastos foram anotados na tabela da direita a seguir: Ingredientes da torta Massa

Recheio

1 xícara de chá de leite

1 frango pequeno, cozido e desfiado

125 gramas de margarina

1 maço de cheiro-verde

4 xícaras de chá de farinha de trigo

500 gramas de cebola

4 ovos

40 gramas de alho

Uma pitada de sal

Uma pitada de sal

Ingredientes

Gasto total (R$)

Frango (1,5 quilo)

4,70

Sal

0,10

Cheiro-verde

1,20

Cebola

1,40

Alho

0,95

Leite

0,55

Farinha de trigo

1,00

Ovos

0,90

Margarina

0,88

Os valores numéricos que estão na tabela de Miralva não são números naturais. Por exemplo, a quantidade de frango que ela comprou foi de 1,5 quilo (um quilo e meio). 6º ano

363


QUILOGRAMA OU QUILO? MASSA OU PESO? Para medir a quantidade de massa de um corpo, uma unidade muito usada é o quilograma, cujo símbolo é kg. Popularmente, usa-se a palavra “peso” para se referir a “massa” e “quilo” para “quilograma”. Para medir massas menores que um quilograma, podemos usar o grama, cujo símbolo é g. A palavra “quilo” é de origem grega e significa “mil”, e é usada como prefixo para várias palavras. Por exemplo: “Um quilograma” significa “mil gramas”. Em símbolos: 1 000 gramas = 1 000 g = 1 kg. Por causa dessa “equivalência”, são possíveis as relações:

100 g = 100 kg = 1 kg 1 000 10

10 g = 10 kg = 1 kg 1 000 100

1g=

1 kg 1 000

÷

1

1 0 =

A expressão “0.1”, que aparece no visor da calculadora, significa “0,1”. O número 0,1 não é um número natural. Esse número é denominado número racional. 1 Por sua vez, a fração 100 , além de significar que “tomamos uma parte de algo que foi dividido em 100 partes iguais”, também significa uma representação da divisão do número natural 1 pelo número natural 100. Usando novamente uma calculadora, digite a seguinte sequência de teclas:

1

364

Matemática

÷

1 0 0 =

0.1

Ilustração digital: Llinares

Digite a seguinte sequência de teclas:

0.01

Ilustração digital: Llinares

1 , além de significar que “tomamos uma parte de algo que foi diviA fração 10 dido em 10 partes iguais”, pode significar, também, uma representação da divisão do número natural 1 pelo número natural 10. Para se obter o cociente dessa divisão, vamos utilizar uma calculadora eletrônica.


Como antes, a expressão “0.01”, que aparece no visor da calculadora, significa “0,01”. O número 0,01 não é um número natural. Esse número é denominado número racional. 1 100

é representação de um número racional na forma fracionária e 0,01 é representação decimal do mesmo número racional. 1 = 0,01 100

Observe que 0,01 tem duas casas decimais após a vírgula, e a sua representa1 ção fracionária irredutível, 100 , tem denominador 100.

REPRESENTAÇÃO NA RETA NUMÉRICA Os números 0,1 e 0,2 podem ser representados em uma reta. Veja como: 0 10

1 10

2 10

0,0

0,1

0,2

10 10

Esse tipo de representação denomina-se reta numérica ou reta numerada ou ainda eixo numérico. Use uma calculadora para confirmar os resultados das seguintes divisões: 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 10 10 10 10 10 10 10

Observe suas conclusões representadas na reta numerada: 0 10

1 10

2 10

3 10

4 10

5 10

6 10

7 10

8 10

9 10

10 10

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

As representações numéricas 0,3; 0,4; 0,5; 0,6; 0,7; 0,8; 0,9, assim como 0,1 e 0,2, também são números racionais. Eles são representações na forma decimal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 das frações a que correspondem: 10 , 10 , 10 , 10 , 10 , 10 , 10 , 10 e 10 .

Sempre que dividirmos um número natural por um número natural diferente de zero iremos obter um número racional.

6º ano

365


PARA REFLETIR II

Os números naturais são números racionais?

REPRESENTAÇÕES DECIMAIS Na representação na forma decimal de números racionais não inteiros, a vírgula separa a sua “parte inteira” (um número natural), que fica à sua esquerda, da sua “parte não inteira”, que fica à direita. Por exemplo, no número 1,34:

1,34 parte inteira

parte não inteira

Unidades

,

Décimos

Centésimos

1

,

3

4

um inteiro

,

trinta e

quatro centésimos

Para escrever números racionais na forma decimal, usam-se os procedimentos do sistema de numeração posicional decimal: agrupamentos de 10 considerando que os valores relativos dos algarismos crescem da direita para a esquerda. As ordens decimais décimos e centésimos, que estão à direita da unidade são ordens menores que as unidades simples. O número 1,34 escrito na forma decimal tem duas casas decimais após a vírgula, por isso pode ser representado na forma fracionária escrevendo uma fração com denominador 100 e o numerador 134. 1,34 = 134 ou 1,34 = 1 34 100 100

Veja outros exemplos: 0,237 = 237 1 000

366

Matemática

24,02 = 24

2 100

0,075 =

75 100


APLICAR CONHECIMENTOS IV

Usando uma calculadora, determine o cociente da divisão do numerador pelo denominador de cada uma das frações (equivalentes) seguintes: 500 = 5 = 1 1 000 10 2

Qual é a sua conclusão sobre os resultados obtidos? Que representação decimal você usaria para a expressão “meio quilo”?

DISTÂNCIA E TEMPO Unidades de comprimento

No estudo das unidades de medida de massa, “um quilograma” significa “mil gramas”. Da mesma forma, o prefixo quilo (mil, em grego) é usado nas unidades de comprimento. “Quilômetro” significa “mil metros”. O metro é uma unidade de comprimento e seu símbolo é m. Quando o comprimento de um segmento for menor que um metro (1 m), então podemos usar a unidade centímetro, cujo símbolo é cm. 1 metro = 100 centímetros

1 m = 100 cm

1 cm = 1 m (representação fracionária) 100

1 cm = 0,01 m (representação decimal)

Quando o comprimento de um segmento for maior que mil metros (1 000 m), então podemos usar a unidade quilômetro, cujo símbolo é km. 1 quilômetro = 1 000 metros

1m=

1 km (representação fracionária) 1 000

1 km = 1 000 m

1 m = 0,001 km (representação decimal)

6º ano

367


Unidades de tempo

Miralva havia conseguido determinar parte do custo de produção da torta de frango. Um dos componentes que ela ainda não havia calculado era a sua “mão de obra”. Para isso, ela precisaria levar em conta o tempo necessário para fazer seu produto. Miralva foi fazendo a receita enquanto cuidava dos outros afazeres domésticos. Mas anotou o horário em que iniciou e terminou cada tarefa. Tarefa

Início

Término

Tempo gasto

10h 5min

10h 20min

15min

Desfiar o frango e fazer o recheio

14h 50min

15h 30min

40min

Fazer a massa e assar

18h 45min

20h 10min

1h 25min

Limpar e refogar o frango

Como Miralva calculou o tempo gasto? Estes cálculos podem ser feitos usando as relações que existem entre as unidades de medida de tempo. 1 hora = 60 minutos

1 minuto = 60 segundos

A hora é representada por h, o minuto por min e o segundo por s. Examinando na tabela o tempo gasto para fazer a massa e assar a torta, podese observar que: • das 18h 45min até 19h 45min, o tempo gasto foi de 1h; • das 19h 45min até 20h 00min, o tempo gasto foi de 15min; • das 20h até 20h 10min, o tempo gasto foi de 10min.

Portanto, o tempo gasto foi de 1h + 15min + 10min = 1h + 25min = 1 h 25min. Para saber o tempo gasto para a execução das tarefas, Miralva teve que somar: 15min + 40min + 1h 25min

368

Matemática


Como 15min + 40min + 25min = 80min, e como 60 minutos correspondem a 1 hora, então: 80 minutos equivalem a (60min + 20min) que, por sua vez equivalem a 1h 20min. Adicionando mais uma hora ao resultado anterior, obtém-se: 2h 20min.

APLICAR CONHECIMENTOS V

1. Cada quarteirão da uma cidade tem 120 m de comprimento. Uma pessoa andou 15 quarteirões.

Qual a distância que essa pessoa percorreu? A distância que ela percorreu foi maior ou menor que um quilômetro? 2. Use a tabela a seguir para registrar as principais atividades que você realiza em um dia, os momen-

tos em que elas se iniciam e os momentos em que elas terminam. Depois, calcule o tempo gasto com cada uma delas. Na coluna “Atividade” indique: trabalho, estudo, sono, condução, lazer etc. Atividade

Início

Término

Tempo gasto

6º ano

369


. Miralva organizou sua rotina semanal de trabalho do seguinte modo: dos sete dias da semana, ela

trabalha de segunda a sexta-feira e descansa sábado e domingo. Com base nessas informações, e considerando uma semana como um inteiro, represente sob a forma de fração o tempo correspondente a cada um dos itens abaixo. Em seguida, escreva como pode ser lida cada uma dessas frações. Um dia da semana: A semana toda: Os dias de descanso: Os dias de trabalho:

EXERCITANDO MAIS

1. Um ano tem 12 meses. Escreva a fração do ano que corresponde a cada item abaixo e, em seguida,

escreva como pode ser lida cada uma dessas frações. Oito meses

Um trimestre

Um bimestre

Um semestre

2. Comprei 34 de quilo de pó de café. Quantos gramas de café foram comprados? . Para aprovar um projeto de lei na Câmara dos Deputados, o governo necessitava de, no mínimo, 35

dos votos favoráveis ao projeto. Sabendo que a Câmara é composta de 513 deputados e que, desses, 378 deputados votaram a favor, verifique se o projeto de lei foi ou não aprovado.

. Determine uma fração que satisfaz cada uma das seguintes condições:

equivalente a 73 : equivalente a 25 e com denominador 15: irredutível e com denominador 6: . Escreva, na forma decimal e fracionária, os seguintes números:

3 décimos: 5 centésimos: 50 milésimos: 1 inteiro e 12 centésimos: 370

Matemática


3 8 5 . Um salário de 800 reais está assim dividido: 10 para o aluguel, 100 para para o transporte e 10

alimentação. Determine o valor do aluguel, do transporte e da alimentação em reais. Quanto sobra para as outras despesas?

. Uma chapa de aço foi cortada em três partes. A primeira equivale a 71 da chapa; a segunda, a 35 da

chapa. Que fração corresponde à terceira parte?

Ilustração digital: Luciano Tasso

. Miralva descobriu uma nova receita de doce. Ela gostaria de preparar essa receita para vinte pessoas.

Reescreva a receita adaptando a quantidade dos ingredientes ao número de porções que Miralva quer preparar. Depois, justifique sua resposta.

6º ano

371


. Segundo a programação de um canal de TV, o capítulo diário de uma novela começa às

19h 45min e termina às 20h 30min. Veja na tabela a seguir a distribuição do tempo de duração de cada capítulo e complete-a. Partes do capítulo Primeira parte

Início

Término

19h 45min

19h 54min

19h 57min

20h 6min

20h 9min

20h 18min

20h 21min

20h 30min

Intervalos comerciais Segunda parte Intervalos comerciais Terceira parte Intervalos comerciais Quarta parte

Quanto tempo é reservado a cada capítulo com os intervalos comerciais? Quanto tempo é dedicado a cada capítulo, excluídos os intervalos para anúncios comerciais? Qual é o tempo total dos intervalos comerciais em cada capítulo da novela?

372

Matemática


Capítulo

3

M AT E M ÁT I C A

Relações de trabalho e Matemática

O

Edson Sato/Pulsar Imagens

Ernesto Reghran/Pulsar Imagens

trabalho é reconhecido no mundo todo como um direito básico das pessoas. No Brasil, a Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, garante o direito ao trabalho para os cidadãos das cidades e do campo. Na Constituição da República Federativa do Brasil (Capítulo II: Dos direitos sociais, artigo 7) são relacionados 34 direitos dos trabalhadores. No entanto, muitos trabalhadores ainda ignoram seus direitos. Outros até os conhecem, mas não sabem como garanti-los e como proceder quando eles não são respeitados.

Trabalhadores na construção civil. Canela (RS), 2012.

Pessoas trabalhando no comércio de farinha e grãos no Mercado Municipal de Boa Vista (RR), 2010.

RODA DE CONVERSA

Você já teve algum de seus direitos como trabalhador desrespeitado? Quando isso aconteceu, você conseguiu tomar medidas para fazê-los valerem? Troque informações com seus colegas sobre essas experiências.

6o ano

373


Direitos trabalhistas: uma conquista de trabalhadores e trabalhadoras Leia a seguir dois direitos trabalhistas que serão bastante explorados neste capítulo. Você já os conhece? 1. Férias anuais remuneradas acrescidas de um terço: após 12 meses de prestação de serviço, os empregados têm direito a 30 dias de férias, com acréscimo de 1 de seu salário. 3 2. Décimo terceiro salário: os empregados têm direito ao 13o salário.

ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS RACIONAIS NA FORMA DECIMAL Agora você vai conhecer a história de Cida, que será retomada em diversos momentos deste capítulo. Leia-a com atenção. Cida trabalhou como empregada doméstica desde os 17 anos. Em 2012, resolveu mudar de emprego e conseguiu uma vaga como caixa em um supermercado. Ela já havia avisado sua patroa em março que, no fim de abril, sairia do trabalho. Quando tudo se confirmou, era hora de fazer as contas. Cida sabia que, ao sair do trabalho, deveria seguir alguns procedimentos e que tinha direitos trabalhistas garantidos por lei. Ela, então, foi buscar informações no Sindicato dos Trabalhadores Domésticos para saber como calcular o valor que tinha de receber de seus patrões. Depois de obter as informações, conversou com sua patroa para, juntas, fazerem os cálculos. O salário mensal de Cida, na época, era de R$ 622,00. Sua patroa mantinha comprovantes de pagamento de salários, de pagamento de férias e de contribuição ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), recibos dos adiantamentos de salário e informes sobre benefícios. As últimas férias de Cida haviam vencido em 31 de janeiro de 2011. As duas calcularam que Cida receberia: • o salário de abril menos os descontos; • uma parte das férias correspondente aos três meses de trabalho após o término das férias; • uma parte do décimo terceiro salário (correspondente aos quatro meses trabalhados em 2012).

CÁLCULO DO SALÁRIO DE CIDA O salário de Cida em abril, menos os descontos, pode ser assim representado: R$ 622,00 menos R$ 49,76.

O valor R$ 49,76 corresponde ao que Cida recolhe ao INSS. Para determinar 622,00 menos 49,76 utilizaremos um algoritmo (uma técnica operatória) para calcular a diferença entre um número natural e um número racional, escrito na forma decimal. 374

Matemática


Esse algoritmo é uma adaptação de um algoritmo usado para calcular a diferença entre dois números naturais. No caso dos números racionais na forma decimal, acrescentamos as ordens decimais menores que a unidade: décimos, centésimos, milésimos, e assim por diante. Essas ordens estão à direita da ordem das unidades, separadas desta por meio de uma vírgula. Chamaremos esse grupo de ordens de parte não inteira. Acompanhe as ações seguintes e compare com seus conhecimentos sobre o algoritmo da subtração entre dois números naturais: C

D

U

,

d

c

6

2

2

,

0

0

4

9

,

7

6

5

7

2

,

2

4

Repare que, para a realização do cálculo, foram igualadas as casas decimais na parte não inteira. Neste algoritmo: C significa “centena”; D significa “dezena”; U significa “unidade”; d significa “décimo” e c significa “centésimo”. Logo, a diferença entre os dois valores é de R$ 572,24.

CÁLCULO DO RECOLHIMENTO TOTAL AO INSS Além dos R$ 49,76 recolhidos por Cida, sua patroa recolhe R$ 74,64 ao INSS. Para determinar 49,76 mais 74,64, utilizaremos um algoritmo para calcular a soma de dois números racionais, escritos na forma decimal, que é uma adaptação de um algoritmo que se usa para calcular a soma de dois números naturais. Acompanhe: 4 9,7 6 +

7 4,6 4 1 2 4,4 0

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Obtenha as seguintes somas e diferenças entre números racionais escritos na forma decimal: 1 5 8 , 1 9 + 3 1 , 2 1

c)

4 3 , 2 – 1 8 , 8 7

d) 1 9 , 7 4 +0 , 9 9 9

7 8 , 6 9 – 3 1 , 3 6

7 2 , 4 +2 4 5 , 8 6

f)

8 6 , 2 – 1 1 , 9 9

6o ano

375


2. Analise as somas e as diferenças dadas e indique as que estão corretas.

Refaça as que você considera incorretas de modo que fiquem corretas. 1 996,3 + 666,005 = 2 552,305

499,98 + 0,02 = 500

1 996,3 – 666,005 = 1 330,295

499,98 – 0,02 = 498,96

. Que número você excluiria em cada uma das seguintes somas para torná-las corretas? 58,6 + 65,7 + 89 = 147,6

3,81 + 0,52 + 0,096 + 0,75 = 5,08

4. Em várias situações de pagamento, caixas e cobradores nos pedem para facilitar o tro-

co. No supermercado, para pagar uma conta de R$ 42,73, Cida deu R$ 50,00 e mais R$ 0,73. Quanto recebeu de troco? 5. Cida comprou um caderno que custava R$ 6,25 e pagou com R$ 10,00. A vendedora lhe pediu R$ 1,25 para ajudar no troco e Cida lhe deu esse valor em moedas. Quanto recebeu de troco? 6. Cida comprou um sapato por R$ 47,75. Ao pagar, viu que tinha na bolsa uma nota de R$ 50,00 e moedas de diversos valores. Como poderia facilitar o troco para o caixa?

MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS RACIONAIS O VALOR DAS FÉRIAS DE CIDA O valor correspondente às férias é formado por duas parcelas: • uma delas corresponde aos meses de fevereiro, março e abril de 2012, em que Cida trabalhou após o término das férias; • a outra corresponde a um terço de férias referente aos mesmos três meses de trabalho. Vamos à primeira parcela. Como Cida trabalhou fevereiro, março e abril de 2012 (três meses), então o valor de férias a que ela tem direito é a fração de seu salário que corresponde à fração de 3 meses de trabalho em 12 meses. 3 de ano. Essa fração de ano pode ser escrita assim: 12 Ou seja, ela tem direito ao valor de férias correspondente a 3 meses de tra3 de seu salário. Essa fração pode ser escrita na forma balho, que equivalem a 12 irredutível: 3 3÷3 1 = = 12 12 ÷ 3 4

Logo, o valor de férias correspondente a 3 meses de trabalho é igual a 14 de R$ 622,00. Como calcular 14 de R$ 622,00? Para responder à pergunta, vamos interpretar a expressão “ 14 de R$ 622,00” de duas maneiras. Observe: 376

Matemática


1a “ 14 de R$ 622,00” significa “a quarta parte de R$ 622,00”.

E “a quarta parte de R$ 622,00” significa que “dividimos 622 em quatro partes iguais e tomamos uma”. Portanto: 1 de 622 = 622 ÷ 4 = R$ 155,50 4

2a “ 14 de R$ 622,00” equivale ao produto 14 × 622: 1 1 1 622 622 1 × 622 de 622 = = = = R$ 155,50 × 622 = × 4 4 4 1 4 4×1

Para obter o resultado de resultado por 4 × 1. A expressão:

1 4

×

622 1

, podemos calcular 1 × 622 e dividir este

1 1 622 × 622 = × 4 4 1

é interpretada como sendo o resultado da multiplicação da fração pelo número 622. O produto 1 × 622 é uma fração cujo numerador é o produto dos nu4 1 meradores e cujo denominador é o produto dos denominadores. Veja outros exemplos: 2 3 2×3 6 = × = 5 7 5 × 7 35

4 1 4 4×1 = = × 9 10 9 × 10 90

1 4

13 3 39 13 × 3 = = × 100 10 100 × 10 1 000

Será que os cálculos de produtos de números racionais na forma fracionária feitos nos últimos exemplos dependem dessas frações em particular? Este é um momento para generalização: se a, b, c e d representam números naturais, então o produto da multiplicação dos números racionais ba e dc poderá ser feito por meio do seguinte procedimento: a c a×c × = b d b×d

PARA REFLETIR I

Qual é o valor “proibido” para b e d na última generalização? Veja outra maneira de calcular 14 × 622. Podemos representar 14 na forma decimal:

6o ano

377


• escrevendo uma fração decimal equivalente a 14 : 1 1 × 25 25 = = = 0,25 4 4 × 25 100 • dividindo o numerador 1 pelo denominador 4: 1,00 4 20 0,25 0

A expressão 0,25 × 622 representa o produto da multiplicação entre o número racional 0,25 e o número natural 622. O algoritmo da multiplicação de dois números naturais pode ser adaptado para a multiplicação de um número racional (escrito na forma decimal) por um número natural. Acompanhe:

1 1

0, 2 × 6 2 5 5 0 5 0 5 5, 5

5 2 0 + 0

ou seja, calcula-se o produto de 25 por 622 e divide-se o resultado por 100. Na prática: • multiplica-se 25 por 622 e obtém-se 15 550; • a partir do algarismo 0 mais à direita da representação 15 550, contam-se duas casas deci-

mais da direita para a esquerda dessa representação e coloca-se a vírgula decimal entre os dois últimos algarismos 5.

Veja outros exemplos: 2,75 × 45 = 123,75 2, 7 5 4 5 × 1 3 7 5 1 1 0 0 + 1 2 3, 7 5

378

Matemática

12,5 × 32 = 400 1 2, 5 3 2 × 2 5 0 3 7 5 + 4 0 0, 0


APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Obtenha os produtos a seguir e escreva-os na forma decimal e na forma fracionária: 1 1 = b) 2,54 × 0,75 = × 4 2 2. Uma comunidade da periferia de uma grande cidade tem uma população estimada em 12 560

pessoas. Dessas pessoas, a metade concluiu o Ensino Fundamental e, entre elas, apenas um quarto concluiu o Ensino Médio. Que fração da comunidade concluiu o Ensino Médio? Quantas pessoas dessa comunidade concluíram o Ensino Médio? . Uma polegada (1”) é uma unidade de comprimento que equivale a, aproximadamente, 2,54 cm.

Um cano d’água tem diâmetro de

3 4

de polegada.

Qual é a medida decimal do diâmetro desse cano em centímetro? . Em uma escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA) há 840 estudantes. • Um terço desses é empregado doméstico. • Um quarto deles trabalha na construção civil. • Dois quintos são comerciários.

Quantos desses estudantes: são empregados domésticos? trabalham na construção civil? são comerciários? . João é pedreiro. Ele recebe R$ 3,20 por hora e trabalha 44 horas por semana.

Qual é seu salário semanal?

REPRESENTAÇÕES DECIMAIS DE NÚMEROS RACIONAIS O VALOR DA SEGUNDA PARCELA DE FÉRIAS DE CIDA Voltando às férias de Cida, além do valor R$ 155,50, Cida tem direito, tam1 bém, a de R$ 155,50 (veja o boxe sobre os direitos dos trabalhadores no início 3 deste capítulo). Esse novo direito da Cida pode ser obtido com o cálculo do produto entre uma fração e um número decimal. Porém, aparece uma novidade em relação aos cálculos feitos até agora. Acompanhe: 1 1 1 × 155,5 155,5 de 155,50 = × 155,50 = = = 155,50 ÷ 3 = 51,833333... 3 3 3 3×1

Você notou as reticências na representação do resultado da divisão de 155,50 por 3? Qual é o significado das reticências na representação 51,833333...? Como se obtêm essas reticências? 6o ano

379


Para tentar responder as duas últimas questões, acompanhe, ao lado, como foi obtido o cociente da divisão de 155,50 por 3 por meio do algoritmo da divisão.

155,5000000... – 15 ,5000000... 005,5000000... – 3,5000000... 2 5000000... – 24000000... 10, 0000... – 9 0000... 10 000... – 9 000... 10, 0... – 9 00... 1 00...

3 51,8333...

As reticências em 51,833333... significam que essa representação decimal não tem fim. Em Matemática, dizemos que a representação exata do cociente da divisão de 155,50 por 3 tem infinitas casas decimais após a vírgula decimal. Uma representação como 51,833333... denomina-se dízima periódica de período 3. Uma outra forma para representar a dízima periódica 51,833333... é 51,83. Logo, a parte das férias que Cida teve direito de receber é o valor: R$ 155,50 + R$ 51,833333...

Se a representação decimal de um número racional tem um número finito de casas decimais após a vírgula decimal, então temos uma representação decimal exata. Exemplos: 1 = 0,5 2

7 = 1,75 4

15 = 1,875 8

0,5; 1,75 e 1,875 são representações decimais exatas.

CRITÉRIO DE ARREDONDAMENTO Você já deve ter percebido que valores de dinheiro costumam ser apresentados com duas casas decimais após a vírgula (embora existam casos em que os valores de dinheiro são expressos com três casas decimais como nos preços de combustíveis e de moedas estrangeiras). Logo, vamos arredondar o valor 51,833333... na representação com apenas duas casas decimais: 51,83. Esse tipo de arredondamento costuma ser nomeado “truncamento”. 380

Matemática


Assim, usando o arredondamento mencionado, o valor das férias que Cida teve direito a receber é: R$ 155,50 + R$ 51,83 = R$ 207,33

ORDENAÇÃO DE NÚMEROS RACIONAIS NA FORMA DECIMAL Para ordenar dois números racionais escritos na forma decimal, por exemplo, em ordem crescente: • primeiro comparamos as suas partes inteiras; • o menor número será aquele que tiver a menor parte inteira; • se suas partes inteiras forem iguais, então comparamos as ordens dos décimos; • se essas forem iguais, então comparamos as ordens dos centésimos, e assim por diante, até encontrarmos a primeira ordem que em cada representação seja ocupada por algarismos distintos. O menor número será aquele que tiver o algarismo dessa ordem com o menor valor. Parte inteira U 5 5

5,25 5,231

, , , ,

Parte não inteira dcm 25 231

5,231 é menor que 5,25, o que pode ser representado por 5,231 < 5,25. Ou 5,25 é maior que 5,231, o que pode ser representado por 5,25 > 5,231. APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Uma professora de Matemática solicitou aos alunos que classificassem os números racionais na

forma de fração do quadro a seguir em representações decimais exatas ou em dízimas periódicas. 8 5

18 9

7 9

11 46 71 45 123 16 99 90 90 999

Veja como Sílvio respondeu à questão: 8 18 45

• em dízimas: 5 , 9 , 90 ;

7 11 46 71 123 , , , . 9 16 99 90 999

• em frações: ,

Você acha que Sílvio respondeu corretamente? Justifique sua resposta. 2. Utilize os símbolos > ou < de modo a tornar verdadeiras as seguintes sentenças:

0,7

1,3

2,9

1,988

3,1

3,1112 6o ano

381


. Em dois postos de combustível, o litro da gasolina aditivada custa, respectivamente, R$ 2,899 e

R$ 2,91. Um cliente deseja abastecer seu carro com 45 litros de gasolina aditivada, usando um dos dois postos. Determine quanto ele gastará em cada posto. Se for conveniente, use uma calculadora. Em qual deles o cliente gastará menos? . Em 2012, Cida permaneceu no seu emprego após suas férias, de fevereiro até o final de abril.

Calcule a fração de ano correspondente ao período de trabalho da Cida em 2012. Calcule a parte do 13o salário a que Cida tem direito e que é correspondente a esses períodos de trabalho. Finalmente, calcule o valor total a que Cida teve direito quando saiu do emprego em abril: salário de abril + parte de férias + parte do 13o salário

DIVISÃO DE NÚMEROS RACIONAIS Cida dividiu uma pizza em duas partes. 3 Uma delas, que corresponde a 4 da pizza, vai ser divida igualmente entre seus filhos. Cada filho da Cida recebeu 14 da pizza. Quantos são os filhos da Cida? Nesse problema, a solução consiste em calcular quantas vezes

da pizza cabe

da mesma pizza, ou seja, dividir 34 por 14 . 3 1 Para calcular o cociente 4 ÷ 4 , vamos usar a seguinte propriedade da divisão de números naturais que também vale para números racionais: em

3 4

1 4

(

) ( ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )( ) ) ( ( ) )(

)

33 ÷÷ 11 == 333××÷ 4413 ÷÷= 11133=××÷ 4431 ×==÷ 4331 ÷×× 4413 ×÷÷= 444113 ===×× 3344 ××=÷ 4443 ÷÷=×114413===×33÷ 34÷×× 4 ×14=4=÷ 4=1=33=12 12 43×4 =4= 312 ÷3××31×=4=4× =334÷34÷ 1÷× =4 =12 =413=×3=×12 ÷3 1×==343 ÷× 44 44 444 114 4444 1144 144 1144 14444 4141 1144 414 44 414 411 1 44 44 4 11 1 41 4 144 4 141 1 4 14 Ou seja, 3 ÷ 1 = 3 ×× 4 = 12 = 3 4 4 1 4 4

Logo, Cida tem três filhos. A fração 4 é denominada fração inversa da fração 1 . 1 4 Uma propriedade importante das frações é que, quando uma fração é multiplicada pela sua inversa, o resultado é sempre 1. Observe: 1 4 4 1×4 =1 = = × 4 1 4 4×1

382

Matemática


Veja outros exemplos: 2 3 2 × 7 14 ÷ = = 5 7 5 × 3 15

1 1 1 100 = 10 ÷ = × 10 100 10 1

Para calcular o cociente da divisão de uma fração por outra, um procedimento é o de calcular o produto da multiplicação da primeira fração pela fração inversa da segunda fração. Será que os cálculos dos cocientes de números racionais na forma fracionária feitos nos últimos exemplos dependem dessas frações em particular? Este é um outro momento para generalização: se a, b, c e d representam números naturais, então o cociente da divisão dos números racionais a e c poderá ser obtido por meio do seguinte b d procedimento: a c a b a×d ÷ = = × b d b c b×c PARA REFLETIR II

Qual é o valor “proibido” para b, c e d na última generalização? Há outra maneira para calcular 3 ÷ 1 . Acompanhe: 4 4 Representamos 3 e 1 na forma decimal. 4

4

3 1 3 1 ÷= 0,75 e÷ = 0,25 4 4 4 4

e utilizamos um algoritmo para a divisão de dois números racionais na forma decimal. • “Eliminamos as vírgulas” das representações 0,75 e 0,25 (nesses casos, “eliminar a vírgula” significa multiplicar esses números por 100); • Realizamos a divisão dos números naturais obtidos 75 e 25: –75

25

– 75

3

0 • Como o dividendo 0,75 e o divisor 0,25 foram multiplicados pelo mesmo número 100, então

o cociente da divisão de 0,75 por 0,25 é o mesmo cociente da divisão de 75 por 25, ou seja, 3.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Escreva a fração inversa de cada fração seguinte: 2 3

1 5

10 1

6o ano

383


2. Obtenha, na forma fracionária, os cocientes das seguintes divisões de frações: 5 1 = ÷ 8 100

3 1 ÷ = 4 5

7 10 = ÷ 10 1

. Obtenha, nas formas decimal e fracionária, os seguintes cocientes de divisão de números racio-

nais escritos na forma decimal: 0,75 ÷ 0,2 =

0,4 ÷ 0,01 =

0,7 ÷ 10 =

EXERCITANDO MAIS

1. Após atender um cliente na loja de materiais de construção onde trabalha, um balconista tinha

em mãos o seguinte boleto: Atacado e varejo da sua construção – boleto Quantidade

Discriminação

Preço unitário

5

sacos de cimento CP-II

21,50

10

sacos de argamassa

12,75

50

metros de fio com 2,5 milímetros

4,54

25

metros de fio com 4,0 milímetros

5,22

15

metros de fio com 6,0 milímetros

8,70

30

metros de arame com 2,5 milímetros

1,35

Preço total

Total a pagar S. M. de Traz da Colina,

de

de 20

.

Desconto: 1 décimo do total Total c/ desconto

Complete o boleto com os seguintes dados: o valor “Total a pagar” da compra do cliente; 1 o desconto de 10 (um décimo) do “Total a pagar”;

o valor “Total c/ desconto”.

2. Em um restaurante, três amigos pediram uma pizza de calabresa. Ela veio dividida em oito pe-

daços e cada um dos amigos comeu dois pedaços. Sobraram dois pedaços, que foram divididos igualmente entre os três. Que fração da pizza restante coube a cada um? . O salário líquido de um trabalhador é de R$ 1 380,00. Entre outras coisas, ele gasta

para pagar o aluguel da casa e

1 3

do salário com a alimentação.

Quanto ele gasta, em real, com o aluguel e com a alimentação? Quanto sobra para as demais despesas? 384

Matemática

2 5

do salário


. Represente na forma de fração de ano os períodos a seguir:

um mês dois meses três meses quatro meses

cinco meses

nove meses

seis meses

dez meses

sete meses

onze meses

oito meses doze meses Quais dessas frações representam uma dízima periódica? Se for conveniente, use uma calculadora para descobrir. . Associe as letras correspondentes aos cálculos da coluna A com os números que representam os

resultados na coluna B. A

B

a)

0,3 + 5

1)

0,93

b)

3,52 – 1,50

2)

165

c)

0,85 + 0,08

3)

0,34

d)

1,25 × 132

4)

2,02

e)

12 ÷ 5

5)

2,4

f)

6 ÷ 18

6)

52,92

g)

0,9 – 0,56

7)

0,3333...

h)

54 × 0,98

8)

5,3

. Observe as fichas dispostas em cada uma das linhas a seguir. Complete as fichas em branco de tal

modo que o número seja o de menor valor em cada linha.

a)

0,09

5,1

b)

c)

0,9

0,1

4,9 3,2

. Qual é o maior número: 0,63 ou 85 ? Para fazer essa comparação, transforme o número que está na

forma fracionária em decimal ou transforme em fração o que está na forma decimal.

6o ano

385


Capítulo

4

M AT E M ÁT I C A

Escolaridade e trabalho

A

Mano de Carvalho/Correio da Paraíba/Futura Press

escolaridade do povo brasileiro tem aumentado nas últimas décadas, mas nem toda a população tem sido beneficiada. Ainda há mais de 14 milhões de brasileiros analfabetos. Esse contingente corresponde a aproximadamente 9% da população de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Sala de alfabetização de adultos na comunidade do Toimbó, em João Pessoa (PB), 2008.

RODA DE CONVERSA

Você sabe o que significa o dado numérico 9%? Como ele é lido? Esse tipo de informação, que aparece com o símbolo % ou com as expressões por cento, percentual, porcentual ou porcentagem, é comum em notícias que aparecem na televisão, no rádio, no jornal. Relate aos colegas uma situação em que você tenha se deparado com o símbolo % ou com as expressões de porcentagem. 386

Matemática


PORCENTAGEM: SIGNIFICADO, REPRESENTAÇÃO E LEITURA REAJUSTE SALARIAL Os últimos anos foram marcados por várias mudanças no mercado de trabalho brasileiro. Diante das exigências de maior nível de escolaridade para viver e trabalhar, quatro jovens – Mônica, Maria, Valdelice e Ricardo – retornaram à escola para completar os estudos. Mônica, que cursa o Ensino Médio, é funcionária de uma empresa e recebe um salário bruto de R$ 800,00. Por ocasião do reajuste anual de salário, o sindicato patronal ofereceu duas propostas aos funcionários. • Proposta 1: reajuste salarial de 10% sobre o salário atual, mais um abono numa parcela única de R$ 500,00. • Proposta 2: reajuste salarial de 12% sobre o salário atual. Vamos analisar as propostas de reajuste do salário de Mônica e verificar qual é a mais vantajosa para ela. O que significa reajuste salarial de 10%? A expressão por cento, simbolizada por %, é muito comum no cotidiano: basta abrir jornais, revistas, ligar o rádio ou a televisão para ouvi-la ou vê-la em indicadores econômicos, políticos e outros.

Algumas vezes, somente os números não nos dão informações significativas. Entretanto, quando eles estão escritos na forma de porcentuais, conseguimos analisar e avaliar situações sobre as quais desejamos obter informações mais detalhadas, como nas propostas descritas anteriormente. Na primeira proposta, temos a informação de um reajuste salarial de 10% (dez por cento) sobre o salário atual. O que significa isso? Significa que, a cada R$ 100,00 de salário, Mônica receberá R$ 10,00 de reajuste. Ou seja, 10% de 100 corresponde a um décimo de 100. 10% de 100 =

1 10

de 100 = 0,1 × 100 = 10 ou 10% de 100 = 100 ÷ 10 = 10

Assim: 10% de 800 = 0,1 × 800 = 80 ou 10% de 800 = 800 ÷ 10 = 80 salário atual + reajuste salarial de 10% sobre o salário atual = 800 + 80 = 880

6o ano

387


Logo, pela proposta 1, Mônica passaria a receber um salário de R$ 880,00 e um abono de R$ 500,00 que seria dado uma única vez aos funcionários. Um dos objetivos do ensino de Matemática é propiciar às pessoas condições de efetuar generalizações a partir dos resultados obtidos. Dessa maneira, podemos generalizar o cálculo de 10% da seguinte maneira: Para obter 10% de uma quantidade qualquer, basta multiplicar essa 1 quantidade por 0,1 ou dividir essa quantidade por 10, pois 10% significa 10 . Para calcular os 10% do salário, pode-se usar uma calculadora simples, como a ilustrada a seguir. Ilustração digital: Llinares

Acompanhe duas formas para determinar 10% de 800, utilizando esse tipo de calculadora. 8 0 0 × . 1 = Digite: Ou digite: 8 0 0 ÷ 1 0 = Em ambas as situações, no visor da calculadora deverá aparecer o resultado 80. Se a calculadora tiver a tecla % , basta digitar 8 0 0 × 1 0 e pressionar a tecla % que a calculadora fará as operações automaticamente. Veja outros exemplos: • 10% de 545 = 0,1 × 545 = 54,5; • 10% de 1 258 = 0,1 × 1 258 = 125,8.

Vamos analisar agora a proposta 2: reajuste salarial de 12% sobre o salário atual. Isso será feito de duas maneiras: 1. O reajuste pode ser obtido da seguinte forma: 12% de 800 =

12 100

× 800 = 12 × 8 = 96 reais

2. Como 12% (12 por cento) significa 12 de um total 100, então podemos

pensar da seguinte forma: • 12% = 10% + 1% + 1% • 12% de 800 = 10% de 800 + 1% de 800 + 1% de 800 Podemos calcular mentalmente, recorrendo ao seguinte artifício: • 10% de 800 equivale à décima parte de 800: 800 ÷ 10 = 80 • 1% de 800 equivale à centésima parte de 800: 800 ÷ 100 = 8 Portanto, para obter 12% de 800, soma-se 10% de 800 com 1% de 800 e mais 1% de 800: 12% de 800 = 80 + 8 + 8 = 96

Assim, salário atual + reajuste salarial de 12% sobre o salário atual: 800 + 96 = 896. 388

Matemática


Pela proposta 2, Mônica passaria a receber um salário mensal de R$ 896,00, mas não teria o abono de R$ 500,00. Para calcular 12% de R$ 800,00 usando uma calculadora que possui a tecla % , podemos digitar a sequência apresentada a seguir: Digite 8 0 0 . Digite × e digite 1 2 . Em seguida, digite a tecla % . O resultado vai aparecer no visor: 96. Analisando as duas propostas Proposta 1:

Novo salário com 10% de reajuste: R$ 800,00 + R$ 80,00 = R$ 880,00. Dividindo o abono de R$ 500,00 por 12 meses, obtemos: R$ 500,00 ÷ 12 = R$ 41,666...

Esse valor, arredondado para duas casas decimais após a vírgula, torna-se R$ 41,66. Esse cálculo possibilita a comparação entre as duas propostas em termos de salário mensal, conforme observamos a seguir. Logo, Mônica receberia : R$ 880,00 + R$ 41,66 = R$ 921,66 Proposta 2:

Novo salário (com 12% de reajuste): R$ 800,00 + R$ 96,00 = R$ 896,00 A proposta 1 parece ser a mais vantajosa para Mônica, pois seu salário mensal, com abono, seria superior ao salário da proposta 2. Deve-se considerar que, em geral, abonos não são incorporados ao salário. No ano seguinte, por ocasião do novo reajuste, a porcentagem de aumento provavelmente será calculada sobre o valor do salário sem o abono. Assim, a proposta 1 oferece uma vantagem imediata, pois permite que Mônica tenha um ganho maior durante o período. Mas, ao longo dos anos, esse ganho poderá não ser incorporado ao valor real de seu salário. APLICAR CONHECIMENTOS I

1. O quadrado a seguir foi decomposto em 100 quadradinhos. 1 centésimo

6o ano

389


Cada um dos quadradinhos corresponde a um centésimo do quadrado inicial. Um centésimo é chamado também “um por cento” (1%), pois 1% = 1 = 0,01. 100

Destaque nessa mesma figura, utilizando cores diferentes, 8%, 15%, 32%. 2. Observe as figuras abaixo e indique que fração corresponde cada uma das “partes” pintadas em

azul com relação à figura destacada. Em seguida, indique esse valor na forma de porcentagem.

. Se um número está escrito na forma de porcentagem, podemos escrevê-lo na forma fracionária e

na forma decimal. Por exemplo:

35% =

35 100

= 0,35 e 2% =

2 100

= 0,02

Escreva uma fração correspondente a cada número a seguir. 15% 0,5% 39%

0,25%

. Escreva cada número a seguir na forma de porcentagem: 1 4 6 8

0,35 0,07

. Escreva uma regra para representar, na forma fracionária e na forma decimal, um número escrito

na forma de porcentagem. . Como obter 25% de uma quantidade qualquer? Observe os exemplos a seguir:

Exemplo 1: 25% de 100 =

126 de 100 = 0,25 × 100 = 25 658,24

ou

25% de 100 = 25 × 100 ÷ 100 = 25

Exemplo 2: 25% de 200 = 0,25 × 200 = 50

ou

25% de 200 = 25 × 200 ÷ 100 = 50

ou

25% de 20 = 25 × 20 ÷ 100 = 5

Exemplo 3: 25% de 20 = 0,25 × 20 = 5

390

Matemática


Agora, complete as lacunas dos itens a seguir com um número de modo a tornar as sentenças verdadeiras: Para obter 25% de uma quantidade qualquer, basta multiplicar essa quantidade por ou, então, multiplicar essa quantidade por .

por Como 25% =

e dividir o resultado

25 100

=

25 ÷ 25 100 ÷ 25

=

basta dividi-lo por

1 4

(quarta parte), então, para determinar 25% de um número, .

. O Censo Escolar da Educação Básica de uma cidade revelou que, em 2011, 2 448 estudantes

concluíram a Educação de Jovens e Adultos (EJA) presencial. Desse total, aproximadamente 25% pertenciam ao Ensino Fundamental I. Use uma calculadora para determinar um número aproximado de estudantes que concluíram o Ensino Fundamental I em 2011:

DESCONTOS E ARREDONDAMENTOS

Tempo Composto

Maria trabalha como empregada doméstica e é registrada de acordo com a lei. O seu salário mensal é de R$ 658,24. Todo mês, seus patrões recolhem ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) 20% sobre o valor do seu salário. Esse dinheiro, que vai para o INSS, pode ser utilizado para várias finalidades, entre elas: aposentadoria, afastamentos médicos, seguro-desemprego. Para esse recolhimento, os patrões usam o documento chamado Guia da Previdência Social (GPS).

Dos 20%, 12% são recolhidos pelos patrões de Maria, e os 8% restantes são descontados do seu salário. O valor descontado do salário do empregado, dependendo do valor salário, pode ser maior, chegando a 11%.

6o ano

391


Pense sobre algumas perguntas relacionadas a esses dados: • Qual é o valor total recolhido ao INSS pelos patrões de Maria? • Qual é o valor descontado do salário de Maria? Para responder à primeira pergunta, vamos calcular 20% de R$ 658,24: valor recolhido ao INSS = 20% de 658,24 = 131,648

Usando uma calculadora, um procedimento possível é:

0

.

2 × 6 5 8

2 4 =

.

O valor R$ 131,648 pode ser lido da seguinte maneira: cento e trinta e um reais e seiscentos e quarenta e oito milésimos de real. Mas não existem moedas com valores menores que 1 centavo (ou 1 centésimo de real). Então, ao preencher a GPS, os patrões de Maria fazem um arredondamento no valor a ser recolhido. Eles olham para a terceira casa decimal após a vírgula e: • se essa casa é ocupada por um algarismo menor que 5, eles mantêm exatamente as duas primeiras casas decimais; • se essa casa é ocupada pelo algarismo 5, ou por um algarismo maior que 5, eles somam uma unidade na segunda casa decimal. Nesse exemplo, a guia será preenchida com o valor R$ 131,65. Para calcular o valor a ser descontado do salário de Maria, temos que calcular 8% de 658,24. Acompanhe: valor descontado no salário = 8% de 658,24 = 8% × 658,24 = 0,08 × 658,24 = 52,6592 reais

Numa calculadora, um procedimento possível para se obter esse resultado é:

0

.

0 8 × 6 5 8

.

2 4 =

Nesse caso, também, fazemos um arredondamento para obter o valor a ser descontado do salário de Maria e obtemos R$ 52,66. Qual é o salário líquido de Maria? Para responder a essa pergunta, subtraímos do salário de Maria o valor do desconto. salário Líquido = salário bruto – desconto = 658,24 – 52,66 = 605,58 reais

ÍNDICE PORCENTUAL OU TAXA PORCENTUAL Além do seu salário, Maria recebe mensalmente R$ 126,00 para despesas com transporte. As despesas com transporte correspondem a quanto por cento do 392

Matemática


salário bruto? Essa pergunta também pode ser formulada assim: quantos por cento o número 126 é do número 658,24? Os passos para esse cálculo podem ser os seguintes: • Primeiro calculamos quantas vezes 658,24 “cabe” em 126. Para isso, dividimos 126 por 658,24: 126 ÷ 658,23 =

126 658,24

0,1914195

0,19

O símbolo significa “aproximadamente igual a” e o valor 0,19 é chamado índice (taxa) decimal. • Em seguida, podemos representar o resultado aproximado da divisão de 126 por 658,24 sob forma de porcentagem: 0,19 = 19 ×

1 = 19 × 1% = 19% 100

Então, dizemos que 126 é, aproximadamente, 19% de 658,24. O valor 19% é chamado índice porcentual ou taxa porcentual. Observe outro exemplo: Quantos por cento o número 23 é do número 184? Podemos repetir os passos do primeiro exemplo: • Quantas vezes 184 “cabe” em 23? 23 ÷ 184 =

23 1 = = 0,125 184 8

• Podemos usar uma calculadora para calcular 23 ÷ 184. Para isso, digi-

tamos:

2 3 ÷ 1 8 4 = Transformando o resultado da divisão em porcentagem, temos:

0,125 =

12,5 1 125 = = 12,5 × = 12,5 × 1% = 12,5% 100 100 1000

Dizemos, então, que 23 é 12,5% de 184. As formas 0,125 e 12,5% são os índices (as taxas) decimal e porcentual, respectivamente.

6o ano

393


Voltando para o caso de Maria, o valor que os seus patrões gastam mensalmente para mantê-la como sua empregada doméstica pode ser obtido pela soma do valor do salário de Maria com o valor recolhido para o INSS e as despesas com transporte.

valor gasto pelos patrões de Maria = salário + 12% do salário + 126,00 = = 658,24 + 12% × 658,24 + 126,00 = 658,24 + 78,99 + 126,00 = 863,23

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. As contribuições de empregados, inclusive domésticos e trabalhadores avulsos, são calculadas

mediante a aplicação da alíquota correspondente, de forma não cumulativa, sobre o salário de contribuição mensal, de acordo com a seguinte tabela: Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1o de janeiro de 2012 Salário de contribuição (R$)

Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)

Até 1 174,86

8,00

De 1 174,87 até 1 958,10

9,00

De 1 958,11 até 3 916,20

11,00

Complete a tabela a seguir de acordo com cada salário. Salário de contribuição (R$)

Quantia recolhida ao INSS

Salário líquido

850,00 1 106,90 1 106,91 1 844,83 1 844,84

2. Observe o demonstrativo de pagamento de Valdelice, cujo salário mensal é de R$ 1 080,00.

Qual é o índice porcentual do recolhimento ao INSS? Quanto por cento é descontado no total dos vencimentos de Valdelice?

Matemática


O salário líquido de Valdelice corresponde a quanto por cento dos vencimentos? Demonstrativo de pagamento Nome: Valdelice dos Santos Conta

Descrição

Vencimentos

Descontos

GM1

Salários

G22

Arredondamento

G41

Média horas extras s/DSR

24,94

HTF

Horas trabalhadas feriado

124,68

DAL

Alimentação

DFZ

Participação programa Fome Zero

DPC

Poupança cooperativa

10,50

DVT

Vale-transporte desconto

34,14

G01

INSS

86,40

G18

Desconto adiantamento

G11

Depósito FGTS

Quantidade/ outros

Valor unitário

1 080,00 0,00

24,07 14,60 0,50

199,13 57,48 Vencimentos Descontos 1 229,62

345,44

Líquido 884,18

MATEMÁTICA DO COMÉRCIO Ricardo é vendedor de uma loja de eletrodomésticos. Ele se interessa muito por matemática comercial, pois sabe que ela pode ajudar no seu desempenho profissional. Pode-se entender matemática comercial como a aplicação de conceitos matemáticos em algumas situações comerciais, como reajustes de preço, desconto e cálculo de margem de lucro. Acompanhe, a seguir, algumas situações que ilustram como alguns conceitos matemáticos podem ser usados no comércio.

LUCRO Uma empresa atacadista vende um micro-ondas pelo preço de R$ 360,00 (chamado preço de custo). 6o ano

395


Ilustração digital: Llinares

Uma loja de eletrodomésticos vende cada aparelho de micro-ondas desse mesmo tipo, no varejo, por R$ 450,00 (chamado preço de venda).

O lucro da loja em cada forno de micro-ondas vendido pode ser calculado assim: lucro = 450,00 – 360,00 = 90,00

A margem de lucro sobre o preço de custo pode ser calculada da seguinte forma: margem de lucro (sobre o custo) = 450,00 – 360,00 = 90,00 = 0,25 = 25% 360,00 360,00

Existe, também, a margem de lucro sobre a venda, que pode ser calculada da seguinte forma: margem de lucro (sobre a venda) = 450,00 – 360,00 = 90,00 = 0,20 = 20% 450,00 450,00

Observe que a margem de lucro, quando calculada sobre o preço de custo, é maior que a margem de lucro sobre o preço de venda. Por quê?

REAJUSTE DE PREÇO Imaginemos que a empresa do exemplo anterior, depois de um ano, reajustou o preço do forno de micro-ondas para os seus revendedores de R$ 360,00 para R$ 495,00. A loja decidiu, então, repassar aos clientes o mesmo índice porcentual praticado pelo fabricante de forno de micro-ondas. Qual deverá ser o novo preço de venda desse tipo de forno de micro-ondas para os consumidores? O índice de reajuste do forno de micro-ondas praticado pela empresa pode ser calculado da seguinte forma: 135,00 índice de reajuste = 450,00 – 360,00 = = 0,375 = 37,5% 360,00 360,00

396

Matemática


Quando dividimos R$ 135,00, que é a diferença entre o preço de custo novo e o preço de custo antigo, por R$ 360,00, estamos calculando “quantas vezes 360,00 cabe em 135,00” ou quantos por cento 135 é de 360. Se a loja aplicar esse mesmo índice sobre o preço de venda antigo, vai obter o novo preço de venda. preço de venda novo = preço antigo + preço antigo × 37,5% preço de venda novo = 450 + 450 × 37,5% = 450 + 168,75 = 618,75

Assim, o novo preço de venda será R$ 618,75. CÁLCULO DE DESCONTO

Um cliente de uma loja de departamentos foi comprar uma impressora que custava R$ 510,00. O cliente pediu um desconto ao vendedor. Após consultar o gerente, o vendedor ofereceu um desconto de 1,5% para o pagamento à vista. Qual foi o preço proposto ao cliente? A porcentagem de desconto no preço pode ser chamada de índice porcentual de desconto. O correspondente valor decimal − 0,015 − será chamado simplesmente de índice de desconto. Para calcular o desconto de 1,5% sobre 510, podemos fazer os seguintes cálculos: desconto no preço = 1,5% de 510 = 1,5% × 510 = 0,015 × 510 = 7,65

Em seguida, subtraímos o desconto do preço da impressora para calcular o novo preço: novo preço = preço antigo – desconto = 510 – 7,65 = 502,35

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Resolva os itens a seguir.

Em janeiro de 2012, o salário-mínimo, que era de R$ 545,00, teve um reajuste, aproximado, de 14,13%. Para quanto passou o novo salário-mínimo? Apresente sua resposta com duas casas decimais após a vírgula. Se o salário-mínimo tivesse passado de R$ 545,00 para R$ 650,00, como queriam algumas associações de trabalhadores e de aposentados, qual teria sido o índice porcentual de reajuste? 6o ano

397


2. Uma casa comercial que vende produtos de cama, mesa e banho possui, em seu estoque, 150

cobertores de lã. Cada cobertor custou à loja R$ 110,00. Como esses cobertores não estão sendo vendidos (por ser verão), o gerente resolveu fazer uma promoção. O novo preço de venda foi calculado para que a margem de lucro sobre o preço de custo fosse de 5%. Quanto a loja arrecadaria se vendesse todos os cobertores? Como na época da promoção o mercado estava em crise, a loja só conseguiu vender 10% dos cobertores do estoque. Quanto a loja arrecadou nessa promoção? Uma segunda promoção foi feita, utilizando uma margem de lucro de 1% sobre o preço de custo. Mesmo assim, a loja só conseguiu vender 20% dos cobertores do estoque restante. Quanto a loja arrecadou na segunda promoção? Uma terceira promoção foi feita, utilizando uma margem de lucro de 0% (ou seja, a venda de cada cobertor pelo preço de custo). Mesmo assim, sobraram 75% dos cobertores do estoque anterior. Quanto a loja arrecadou nessa promoção? Para tentar “queimar o estoque”, como se diz no jargão comercial, uma nova promoção foi feita. Dessa vez, cada cobertor foi vendido com um prejuízo de 10% com relação ao preço de custo. Imaginando que, com essa última promoção, a loja conseguiu vender todos os cobertores restantes, quanto a loja arrecadou com a venda dos 150 cobertores? A loja teve lucro ou prejuízo com a venda dos 150 cobertores? EXERCITANDO MAIS

1. Imagine que um amigo pergunte a você o que quer dizer a seguinte afirmação:

“20% das pessoas que estudam no Ensino Fundamental têm dificuldades para escrever uma redação em português”. Explique o significado do uso da porcentagem na frase. 2. Imagine que uma colega lhe peça que a ensine a obter o número correspondente a 20% de um grupo de 1 985 estudantes da escola que vocês frequentam. Como você explicaria o procedimento para obtenção de tal número? Desenhe a seguir uma sequência de teclas a serem digitadas numa calculadora para que essa colega possa chegar ao resultado esperado. . Escreva uma fração correspondente a:

24%

0,8%

72%

0,45%

. Escreva os números a seguir como porcentagem:

0,13

1 2

0,08

3 4

. Uma geladeira está sendo vendida em duas parcelas de R$ 830,00 cada. Pagamentos à vista têm

um desconto de 15%. Qual o preço à vista dessa geladeira?

. Um motorista ganhava um salário bruto de R$ 1 000,00 por mês. Por ocasião do reajuste salarial,

passou a ganhar R$ 1 270,00. Qual foi a porcentagem de reajuste que ele teve?

398

Matemática


. Uma pequena cidade do interior do país tem 7 543 eleitores. Na última eleição concorreram ao

cargo de prefeito três candidatos. No primeiro turno, a contagem dos votos foi a seguinte: Candidato

Número de votos

André

1 178

Bernardo

1 215

Ana Paula

3 147

Em branco

1 139

Nulos

409

Não votaram

456

Total

7 544

Índice decimal

Índice porcentual

Determine os índices (as taxas) decimais e porcentuais de cada candidato, dos votos em branco, nulos e dos eleitores que não votaram nessa eleição. Complete os dados na tabela. São considerados votos válidos em uma eleição apenas aqueles que são dados a um candidato. Calcule o número de votos válidos dessa eleição. Para que um candidato seja eleito no primeiro turno, ele deverá ter, no mínimo, 50% dos votos válidos mais 1 voto. Algum candidato conseguiu ser eleito no primeiro turno dessa eleição? Justifique sua resposta. Determine o índice porcentual de eleitores que votaram em branco e daqueles que anularam o voto. Compare o índice obtido com o do candidato mais votado e faça uma análise dessa eleição com seus colegas considerando os dois últimos índices. . Uma indústria de calçados vende para uma loja de departamentos um tipo de sandália pelo preço de

custo de R$ 36,00. A loja vende cada sandália pelo preço de venda de R$ 45,00. Nessas condições: Calcule o lucro da loja, em reais, por sandália vendida. Porcentualmente, qual é a margem de lucro da loja sobre o preço de custo da sandália? Qual é a margem de lucro da loja sobre o preço de venda da sandália? Imagine que essa indústria reajustou o preço da sandália de R$ 36,00 para R$ 49,50. A loja decidiu repassar para o preço de venda o mesmo índice porcentual praticado pela indústria. Qual foi o índice de reajuste praticado pela indústria? Qual deverá ser o novo preço de venda desse tipo de sandália na loja? . Antônio foi comprar um automóvel usado, cujo preço era R$ 12 500,00. Ele pediu um desconto e

o vendedor que o atendia, após consultar o gerente, ofereceu um desconto de 4,5% para um pagamento à vista. Qual foi o preço proposto ao cliente?

6o ano

399


Bibliografia

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Matemática


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