8º ano - Mundo em construção

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Viver, C O L E Ç Ã O

Aprender 8 Ensino Fundamental

o

ANO

Mundo em construção Claudio Bazzoni • Denise Mendes Dulce Satiko Onaga • Fábio Madeira Heloisa Cerri Ramos • José Carlos Fernandes Rodrigues Maria Amábile Mansutti • Maria Cecilia Guedes Condeixa Marina Marcos Valadão • Mirella Laruccia Cleto Roberto Giansanti • Rosane Acedo Vieira Sueli Aparecida Romaniw

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Hino Nacional Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manuel da Silva Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

Deitado eternamente em berço esplêndido,

De um povo heroico o brado retumbante,

Ao som do mar e à luz do céu profundo,

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Se o penhor dessa igualdade

Do que a terra mais garrida

Conseguimos conquistar com braço forte,

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

Em teu seio, ó liberdade,

“Nossos bosques têm mais vida”,

Desafia o nosso peito a própria morte!

“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada,

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

Brasil, de amor eterno seja símbolo

De amor e de esperança à terra desce,

O lábaro que ostentas estrelado,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

E diga o verde-louro desta flâmula

A imagem do Cruzeiro resplandece.

– Paz no futuro e glória no passado.

Gigante pela própria natureza,

Mas, se ergues da justiça a clava forte,

És belo, és forte, impávido colosso,

Verás que um filho teu não foge à luta,

E o teu futuro espelha essa grandeza.

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,

Terra adorada

Entre outras mil,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada,

Pátria amada,

Brasil!

Brasil!

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Claudio Bazzoni

Licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa para a EJA

Denise Mendes

Mestre em História e professora de História para o Ensino Médio

Dulce Satiko Onaga

Licenciada em Matemática e autora de livros didáticos para a disciplina

Fábio Fernandes Madeira Lourenço

Pós-doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas

Heloisa Cerri Ramos

Licenciada em Letras e formadora de professores para a disciplina de Língua Portuguesa

José Carlos Fernandes Rodrigues

Licenciado em Matemática e mestre em Educação Matemática

Maria Amábile Mansutti

Licenciada em Pedagogia, autora de currículos e materiais didáticos de Matemática para o Ensino Fundamental

Maria Cecilia Guedes Condeixa

Licenciada em Biologia e consultora para o ensino de Ciências

Marina Marcos Valadão

Enfermeira, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo

Mirella Laruccia Cleto

Licenciada em Letras e professora de Língua Portuguesa para o Ensino Médio

Roberto Giansanti

Licenciado em Geografia e autor de livros didáticos para a disciplina

Rosane Acedo Vieira

Licenciada em Arte, formadora de professores e autora de materiais didáticos para a disciplina

Sueli Aparecida Romaniw Licenciada em Letras e professora de Língua Espanhola para Ensino Médio e Ensino Superior

2a edição, São Paulo, 2013

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© Ação Educativa, 2013 2a edição, Global Editora, São Paulo 2013 Global Editora Diretor editorial Jefferson L. Alves Gerente editorial Dulce S. Seabra

Ação Educativa Diretoria Luciana Guimarães Maria Machado Malta Campos Orlando Joia

Gerente de produção Flávio Samuel

Coordenação geral Vera Masagão Ribeiro

Coordenadora editorial Sandra Regina Fernandes

Coordenação editorial Roberto Catelli Jr.

Edição e produção editorial Todotipo Editorial Assistente editorial Rubelita Pinheiro Revisão de texto Books & Ideias Cacilda Guerra Carmem Silvia Félix Venturi Desirée Araujo S. Aguiar Enymilia Guimarães Hires Héglan Maiza Prande Bernardello Roberta Oliveira Stracieri Tereza Cristina Duarte Silva

Consultoria Denise Delegá (Língua Inglesa) Assistentes editoriais Dylan Frontana Fernanda Bottallo Estagiária em editoração Camila Cysneiros Apoio EED – Serviço de Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento

Pesquisa iconográfica Tempo Composto Ilustrações Caco Bressane Luis Moura Pingado Sociedade Ilustrativa Planeta Terra Design Wagner Vargas Cartografia Maps World Sonia Vaz Capa Eduardo Okuno Mauricio Negro Foto da capa Renato Soares/Pulsar Imagens (Construção de oca na aldeia Mavutsinim Kamayurá, no Parque Indígena do Xingu, em Querência, MT, 2002) Projeto gráfico e editoração eletrônica Planeta Terra Design

Direitos Reservados Global Editora e Distribuidora Ltda. Rua Pirapitingui, 111 – Liberdade CEP 01508‑020 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3277‑7999 – Fax: (11) 3277‑8141 e-mail: global@globaleditora.com.br www.globaleditora.com.br

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M928 2. ed. Mundo em construção, 8º ano : ensino fundamental : educação de jovens e adultos / Claudio Bazzoni ... [et al.]. – 2. ed. – São Paulo : Global, 2013. 432 p. : il.  (Viver, aprender) Inclui bibliografia ISBN 978-85-260-1873-0 1. Educação - Estudo e ensino (Ensino fundamental) I. Bazzoni, Claudio. II. Título. III. Série. 13-00372

CDD: 370 CDU: 37 Colabore com a produção científica e cultural. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor. No de Catálogo: 3493

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Apresentação

E

sta obra é destinada a jovens e adultos que iniciam ou retomam seus estudos no segundo segmento do Ensino Fundamental. A elaboração da coleção parte do princípio de que a educação, além de um direito, é uma chave importante para o exercício da cidadania e para a plena participação na vida social. Dessa forma, a coleção tem o propósito de oferecer livros de qualidade, que atendam às necessidades específicas de aprendizagem de jovens e adultos. O livro compõe um conjunto de quatro volumes integrados, com propostas de leitura e escrita, conhecimentos matemáticos e científicos, além de temas relevantes da área de Ciências Humanas, que possibilitam uma melhor compreensão de aspectos da realidade brasileira e mundial. Como em toda obra didática, não temos a pretensão de esgotar conteúdos. Realizamos uma seleção de assuntos e conceitos que consideramos essenciais para jovens e adultos que buscam ampliar a sua formação acadêmica e prosseguir em seus estudos. As abordagens das diferentes áreas de conhecimento orientaram-se pelo respeito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à participação e pela corresponsabilidade pela vida social. Estudar significa aprender em uma multiplicidade de sentidos: aprendemos conceitos básicos das diversas áreas do conhecimento, desenvolvemos habilidades e podemos nos tornar também mais competentes para refletir sobre o mundo que nos cerca, em seus muitos aspectos. Desejamos, assim, que esse material didático seja um meio para que jovens e adultos consigam maior qualificação escolar. Mas, além disso, criamos um material didático com a intenção de proporcionar um conhecimento significativo aos estudantes, que trazem para a sala de aula muitas vivências pessoais e profissionais. Os autores


Sumário UNIDADE 1 – LÍNGUA PORTUGUESA CAPÍTULO 1 – Texto: onde autor e leitor se encontram

9

CAPÍTULO 2 – Poesia, poemas e poetas

22

CAPÍTULO 3 – A escola pesquisa o mundo

41

CAPÍTULO 4 – Atrás dos furos de reportagem

60

BIBLIOGRAFIA

85

UNIDADE 2 – ARTE CAPÍTULO 1 – Que movimentos são esses?

89

CAPÍTULO 2 – Que espaço a arte ocupa em nossas vidas?

107

BIBLIOGRAFIA

128

UNIDADE 3 – LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA CAPÍTULO 1 – Língua Inglesa – Understanding diversity

131

CAPÍTULO 2 – Língua Inglesa – Land occupation and environment

146

CAPÍTULO 3 – Língua Espanhola – ¿Te gusta el chocolate?

162

CAPÍTULO 4 – Língua Espanhola – ¿Vamos de compras?

175

BIBLIOGRAFIA

188

UNIDADE 4 – HISTÓRIA CAPÍTULO 1 – Primeira República: urbanização no Brasil das oligarquias

191

CAPÍTULO 2 – Movimentos sociais no Brasil

208

CAPÍTULO 3 – Século XX: capacidade produtiva e capacidade destrutiva

226

BIBLIOGRAFIA

247


UNIDADE 5 – GEOGRAFIA CAPÍTULO 1 – Dinâmicas naturais e espaço geográfico

251

CAPÍTULO 2 – Energia, natureza e sociedade

271

CAPÍTULO 3 – Gestão da água no Brasil e no mundo

289

BIBLIOGRAFIA

306

UNIDADE 6 – CIÊNCIAS CAPÍTULO 1 – Corpo humano, sexualidade e reprodução

311

CAPÍTULO 2 – As doenças sexualmente transmissíveis, a aids e o sistema imunitário

341

BIBLIOGRAFIA

355

UNIDADE 7 – MATEMÁTICA CAPÍTULO 1 – Uma linguagem universal

359

CAPÍTULO 2 – Novo emprego

379

CAPÍTULO 3 – Olhar matemático

399

CAPÍTULO 4 – O jornal

415

BIBLIOGRAFIA

431



UNIDADE 1

Língua Portuguesa



Capítulo

1

LÍNGUA PORTUGUESA

Texto: onde autor e leitor se encontram

A

palavra faz parte da natureza humana. Graças a ela, compreendemos e admiramos o mundo, nos informamos sobre fatos da realidade e alimentamos nossos desejos e sonhos do que ainda parece ser impossível. Neste capítulo, você vai estudar as pistas importantes para ler e interpretar textos verbais, refletindo sobre o modo como são preparados, como circulam entre nós e com que intenção eles são elaborados. Desse modo, vai se familiarizar ainda mais com o universo da palavra e adquirir mais confiança para participar da construção de sentidos de diversos tipos de texto que estão presentes na nossa vida.

RODA DE CONVERSA

Zojakostina/Dreamstime.com

Yuri Arcurs/Dreamstime.com

Para iniciar, observe estas fotos e debata com seus colegas as questões propostas a seguir.

Balé moderno.

Balé clássico.

1. Com base na observação das fotos, apresente a definição que normalmente se dá para balé. 8º ano

9


2. Agora, leia a definição dada a seguir para balé e responda às questões. Balé. Quando corpo é lápis, espaço é papel e música é motivo.

a) Você acha que essa definição de balé poderia ser encontrada em um dicionário de língua por-

tuguesa? Justifique sua resposta. b) Em que situação você julga que essa definição de balé seria empregada? Em que você se ba-

seou para dar essa resposta? 3. Verifique a seguir a fonte dessa definição de balé. FALCÃO, Adriana. Pequeno dicionário de palavras ao vento. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2005. p. 15.

a) De acordo com o título, que tipo de obra você julga que seja?

Coleção da autora

b) Leia esta informação sobre a autora da obra.

Adriana Falcão nasceu no Rio de Janeiro em 1960, mas passou boa parte de sua vida no Recife. É escritora e roteirista da série de televisão A Grande Família.

• Essa informação confirma ou contraria sua hipótese? 4. Qual das duas definições da palavra “incentivo” você acha que encontraria na obra de Adriana

Falcão? • Aquilo que serve de estímulo para fazer algo. • Uma força que pode não levantar geladeira, mas pelo menos levanta a moral.

LER E INTERPRETAR Há muitas maneiras de interagir ou dialogar com um texto e de descobrir os sentidos que ele expressa. Os textos sempre dão pistas aos leitores para que façam suas interpretações. É importante ter sempre em mente que ler é mais do que decodificar palavras. Bons leitores leem as linhas e o que está por trás das linhas. Não é possível ler sem que ocorra interpretação. Mas o que é, afinal, interpretar? Interpretar é traduzir, é explicar, é criar hipóteses com base em tudo o que observamos nos textos. Para interpretar, temos de aprender a rastrear as pistas, observá-las e relacioná-las com ideias e informações que já temos. Quanto mais pistas rastrearmos no texto, mais consistente se tornará a leitura. 10

Língua Portuguesa


É por esse motivo que as interpretações variam. Um texto pode ter significados diferentes, pois cada leitor o lê de um jeito diferente. Tudo depende do olhar da pessoa, das pistas que acaba selecionando para analisar e relacionar com outras ideias etc. Vale dizer, porém, que todas essas interpretações possíveis precisam ser sustentadas pelas pistas que o texto fornece; não podemos usar como interpretação qualquer associação que nos venha à mente, pois ela pode não ter sido motivada pelo texto lido. Todo texto tem um assunto, um autor, um público, uma organização, uma intenção. Refletir sobre esses aspectos que constituem os textos é fundamental para estabelecermos diálogo com eles. A interação entre leitor e autor é a essência do ato de ler.

MODOS DE LER Você sabe que geralmente não lemos um dicionário da primeira à última página, assim como não lemos um romance pulando páginas. Também não precisamos ler uma notícia inteira, em um jornal, se as informações da manchete ou dos parágrafos iniciais forem suficientes para o que queremos saber. Entretanto, lemos repetidas vezes um poema ou um capítulo de livro didático. Às vezes, lemos quase sem perceber – uma propaganda, por exemplo. Outras vezes lemos com a máxima atenção possível. É o que acontece com o manual de instruções de um equipamento ou de um jogo. Nosso jeito de ler varia constantemente. Tudo depende da situação, da necessidade, do objetivo. Às vezes, lemos por puro prazer; outras vezes, temos de ler para estudar; outras, para nos informar etc. Enfim, não existe um único modo de ler. Isso ocorre porque existem diferentes gêneros de textos. Poemas, contos, romances, verbetes de dicionários, textos científicos, textos jornalísticos, bulas, convites, bilhetes etc. são gêneros com que lidamos frequentemente na escola e nas situações cotidianas. Cada um atende a uma necessidade de comunicação do ser humano. Essa diversidade de gêneros existe porque as atividades humanas são variadas. Na verdade, tudo o que falamos, ouvimos, lemos ou escrevemos pertence a algum gênero, o que obriga o leitor a aplicar diferentes modos de leitura. Vamos ver como podemos interagir ou dialogar com os textos, criar sentidos e interpretá-los.

ESTRATÉGIAS DE LEITURA a) Antes de ler

O diálogo entre leitor e texto começa antes mesmo de se iniciar a leitura. Antes de ler, é importante verificar a aparência do texto, observar detalhes gráficos (tabelas, ilustrações, linhas, colunas, palavras destacadas), referências bibliográ8º ano

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ficas. É importante também tentar antecipar algumas ideias que possivelmente serão tratadas no texto. É possível fazer essa antecipação refletindo sobre o título e os subtítulos (quando eles existem) e ativando nossos conhecimentos prévios. Quanto mais ideias você antecipar sobre o tema que vai ser abordado no texto, mais significativa ficará a leitura para você. As impressões colhidas criam muitas expectativas em relação ao que vai ser lido. LER REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Vamos exercitar essa inspeção inicial de um texto. Para isso, considere a referência bibliográfica a seguir. ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Avalie o seguinte: 1. Quem é o autor do livro Contos plausíveis? 2. O que você sabe a respeito desse autor? 3. Você já leu algum outro texto desse autor? Se sim, que impressão você guardou dele? 4. O que você acha que significa “plausível” no título da obra? 5. Em que ano, em que cidade e por qual editora Contos plausíveis foi publicado? 6. Você julga que os dados acima são importantes para situar o texto que vai ser lido? Por quê? 7. Considerando o que você sabe sobre o gênero “conto”, o que você espera encontrar nesse livro?

Contos plausíveis, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado pela primeira vez em 1981. Reúne contos que foram escritos para o Jornal do Brasil. As informações do parágrafo anterior situam ou contextualizam o conto que você acabou de ler. Todo autor pertence a um grupo social situado em um lugar e em determinado tempo. Saber que Drummond viveu no mundo moderno e no Brasil nos permite pensar em muitas coisas. Todo texto é originalmente destinado a um público. Se o leitor pertence à mesma época em que a obra foi criada, ele é capaz de reconhecer situações da época do autor: padrões de comportamento, desejos, receios etc. Quando autor e leitor não são da mesma época, é mais difícil estabelecer uma relação com o texto. Quanto mais antiga for a obra que vai ser lida, mais distante está da realidade do leitor. Nesse caso, é necessário tentar reconstruir o repertório do leitor a quem o texto estava originalmente destinado – o que pode ser um grande desafio. O fato de os contos do livro terem sido escritos originalmente para um jornal nos dá outras pistas interessantes. Um jornal é um veículo de comunicação bastante difundido e relativamente de fácil acesso. Nele, encontramos textos de diversos gêneros, sobre assuntos variados. Cada jornal é voltado para um tipo de público. Há jornais especializados em alguns assuntos – por exemplo, esporte, economia. Há alguns que 12

Língua Portuguesa


são conhecidos pela maneira sensacionalista como abordam os fatos: apelam para manchetes e imagens chocantes que, muitas vezes, chegam a distorcer a realidade. O Jornal do Brasil, em que os Contos plausíveis foram publicados antes de serem reunidos em livro, é tradicionalmente voltado para as classes média e alta que se concentram na zona sul do Rio de Janeiro. O público desse jornal conta, portanto, com um alto grau de escolarização. Assim, um poeta contemporâneo (um dos mais importantes no Brasil) escreve um conto para um jornal que tem como público principal a elite de um estado do Brasil. O conto é um gênero ficcional curto, que apresenta uma sequência de eventos narrados por alguém. Em um texto ficcional, pode haver fatos da vida real ou acontecimentos reais, mas a maneira como o autor combina esses fatos acaba sempre produzindo uma nova realidade. Romances, contos, teatro e poesia são considerados textos ficcionais, como fábulas, lendas, mitos, crônicas. Já a notícia, os textos de divulgação científica e os didáticos, por exemplo, são textos não ficcionais. Assim, ao saber o gênero que vai ler, o leitor se prepara para encontrar traços característicos desse tipo de texto, e isso influencia os sentidos que ele atribui ao que lê.

LER CONTO

Vamos passar à leitura de um conto desse livro. Comece pensando no título. O que o nome “Essas meninas” sugere? Agora leia. Essas meninas

ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Rogério Reis/Olhar Imagem

As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com seus namorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas, essas coisas sem importância. O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo; riem. Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera a notícia do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais rir. As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.

Carlos Drummond Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902, e morreu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987. Está entre os maiores poetas contemporâneos da literatura brasileira. Sempre foi considerado uma pessoa de personalidade reservada, introspectiva, que estabelecia limites para as amizades e para a exposição de sua intimidade. Foi chefe de gabinete do ministro da Educação entre 1934 e 1945 e depois trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Como ficcionista, estreou em 1950, quando publicou Contos de aprendiz. Escreveu crônicas para jornais e publicou livros de contos, além da conhecida obra poética. Em 1987, abalado pela morte da única filha, Maria Julieta, morre doze dias depois do falecimento da filha.

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1. É possível perceber diversas repetições à medida que se lê o conto. a) Localize-as. b) Essas repetições geraram efeitos enquanto você lia? Quais? 2. Visto que nenhum crime havia sido citado antes, você estranhou ler “O jornal dera a notícia do

crime” em vez de “O jornal dera a notícia de um crime”? 3. Enquanto lia, você percebeu que o riso igualava as meninas? Percebeu também que o riso as di-

ferenciava? 4. O texto corresponde ao que você supôs, quando leu o título? 5. Você gostou do conto? 6. O que mais impressionou você: o fato que é contado ou a maneira como Drummond o contou?

b) Enquanto se lê

Ao ler, vamos juntando o que é novo com o que já conhecíamos e com o que inspecionamos antes de ler. Por exemplo: como o leitor e o autor são da mesma época, o autor pôde escrever: “o corpo da menina encontrado naquelas condições”. Ao ler, o leitor, que convive diariamente com o tipo de violência urbana a que Drummond está se referindo, sabe perfeitamente que “naquelas condições” deve significar que a menina havia sofrido violência física, podia talvez estar nua etc. A tendência é que o leitor fique horrorizado com a cena sem que o autor precise descrevê-la ou detalhá-la. Mas do que trata o texto? Qual é o tema abordado? Você acha que Drummond escreveu apenas para informar o assassinato de uma das meninas? Se fosse essa a intenção do autor, o texto, com certeza, teria outra cara. O poeta mineiro sabe que um conto é uma obra de arte, que a maneira especial como são organizadas as palavras faz o conto “dizer” as coisas de maneira peculiar, às vezes, inesperada. “Essas meninas” é um exemplo disso. Os quatro parágrafos que formam o texto, mais do que relatar um fato violento, mostram como pode ocorrer a passagem da adolescência para o mundo adulto. Repare que o título “Essas meninas” se contrapõe às últimas palavras do texto: “essas mulheres”. As personagens começam “meninas” e terminam “mulheres”. O título contraposto às últimas palavras do texto é uma pista para o leitor perceber a trajetória de menina a mulher. Se você observar bem, vai perceber que o universo adolescente e o mundo adulto estão bem delimitados no texto. Repare que os dois primeiros parágrafos retratam o caráter próprio da adolescência. Neles, Drummond mostra as inclinações dos jovens, o que costumam fazer e observar. No terceiro e quarto parágrafos, a mudança do texto é brutal. A frase “hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância” contrasta totalmente com os parágrafos anteriores. Essa divisão é outra pista que nos ajuda a construir sentidos. As meninas, antes de se tornarem mulheres, eram alegres, riam e 14

Língua Portuguesa


falavam coisas sem importância. Quando ingressam no mundo dos adultos, em virtude da tragédia que aconteceu com uma delas, passam a ser sérias, “como se nunca mais voltassem a rir”. Outra pista que evidencia a divisão do texto está relacionada ao modo como Drummond usou os tempos verbais. O verbo é a palavra que expressa ação, estado ou fenômeno da natureza, situados no tempo. Observando os verbos, é possível saber se os fatos ocorreram antes de serem enunciados, simultaneamente ou depois. São três os tempos: o presente, o passado e o futuro. No conto há dois tempos focalizados pelo autor: o primeiro, antes do crime, e o segundo, depois do crime. Observe como os verbos aparecem no texto. Em que tempo estão os verbos que indicam as ações das meninas na primeira parte do conto? Se você respondeu no presente, acertou. Observe agora a segunda parte. Os verbos que se referem às meninas estão em que tempo? Se você respondeu no passado, acertou de novo. Qual conclusão você tira disso? Na primeira parte, que corresponde ao momento mais distante do tempo, ao momento “mais passado”, o autor utilizou os verbos no tempo presente. No momento mais recente, mais próximo (“hoje de manhã estavam sérias”), os verbos aparecem no tempo passado. Como explicar isso? O autor organiza o texto de determinada maneira, para o leitor criar suas hipóteses de interpretação. O tempo presente, na primeira parte do texto, é usado para indicar o comportamento usual das jovens. Adolescentes riem, comentam, passam na rua, namoram... Descrito dessa forma, o comportamento das jovens ganha universalidade. Os jovens de muitas épocas e lugares normalmente se comportam assim. Já os verbos no tempo passado, na segunda parte do texto, estão relacionados aos fatos que são relatados. Repare que, quando contamos uma história, os verbos geralmente são usados no passado. c) Depois de ler

Textos são objetos que, para serem compreendidos, têm de ser interpretados. É muito importante conversar sobre o que se lê. Voltar ao texto pode proporcionar novas descobertas. No caso do conto “Essas meninas”, por exemplo, que sentidos podemos construir? O texto sugere que o sofrimento e a seriedade são inerentes ao mundo dos adultos? Os traumas que vivemos nos fazem amadurecer? A vida adulta é séria, sem riso, sem tempo e espaço para as coisas que não têm importância? Não há no conto respostas para essas questões. Elas surgem na conversa que temos com o texto. A maneira como o autor apresentou as ideias permite que o leitor faça essas e outras reflexões. APLICAR CONHECIMENTOS

Nesta seção, você vai praticar o que foi estudado até aqui. Trabalharemos com dois textos: um do médico Drauzio Varella e outro do poeta Carlos Drummond de Andrade. 8º ano

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TEXTO 1

Antes de ler o texto, faça as antecipações, seguindo o que você estudou, para criar uma expectativa em relação ao texto. • Observe o aspecto gráfico (tamanho do texto, divisão em parágrafos, detalhes de diagramação). • Leia o título. • Leia a referência bibliográfica, reparando quem é o autor, de que livro o trecho foi extraído etc. Raízes orgânicas e sociais da violência urbana A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora acometa indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade e de um país para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente; a mudança de fatores ambientais pode interferir em sua escalada. Sabe-se que os genes herdados exercem influência fundamental na estrutura e função dos circuitos de neurônios envolvidos nos mecanismos bioquímicos da agressividade. É bom ressaltar, porém, que os fatores genéticos GLOSSÁRIO não condicionam o comportamento futuro: o impacto do meio Acometa: ataque, prejudique. é decisivo. Os mediadores químicos liberados e a própria Condicionam: impõem como algo vai arquitetura das conexões nervosas que constituem esses circuitos acontecer. Enfermidade: doença. são dramaticamente modelados pelos acontecimentos sociais da Epidêmica: que atinge uma grande quaninfância e da adolescência. tidade de pessoas. As estratégias que as sociedades adotam para combater a Genes: unidades localizadas nas células violência flutuam ao sabor das emoções; o conhecimento científico dos indivíduos que carregam informações de hereditariedade. raramente é levado em consideração. Como reflexo, o tratamento da Incidência: ocorrência. violência evoluiu muito pouco no decorrer do século XX, ao contrário Neurônios: células do sistema nervoso. do que ocorreu com o das infecções, câncer ou aids. [...] VARELLA, Drauzio. Borboletas da alma. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 85.

Prevalência: predominância.

Drauzio Varella Drauzio Varella nasceu em São Paulo, em 1943. Formouse em Medicina e trabalhou por vinte anos no Hospital do Câncer. Foi médico voluntário na Casa de Detenção da São Paulo (Carandiru) por treze anos. Seu livro Estação Carandiru ganhou o prêmio Jabuti de não ficção e Livro do Ano, tendo

sido adaptado para o cinema em um filme de Hector Babenco, Carandiru (2003). Publicou ainda Por um fio, Macacos e os livros infantis Nas ruas do Brás e De braços para o alto. Atualmente, dirige no rio Negro um projeto prospectivo de plantas medicinais amazônicas.

1. O texto “Raízes orgânicas e sociais da violência urbana” é ficcional ou não ficcional? Justifique sua

resposta. 2. O tema apresentado pelo texto, em sua opinião, é relevante para a nossa vida atual? Explique. 3. O autor é um médico. a) Ele emprega palavras do universo da medicina para tratar da violência. Destaque no texto

essas palavras. b) Ao empregar palavras do universo da medicina, ele comparou a violência a quê?

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Língua Portuguesa


4. No primeiro parágrafo, o autor apresenta um quadro geral da violência: quem ela atinge, em que

lugares, de que modo avança. Já no segundo parágrafo, ele apresenta duas causas que determinam a violência. Quais são elas? 5. Leia novamente o segundo parágrafo. De acordo com o autor, qual fator é mais determinante para

a formação de comportamentos agressivos? Você concorda com ele? 6. Claramente, o autor quer influenciar o pensamento do leitor, por isso apresenta-lhe um raciocí-

nio. Segundo o autor: a) O tratamento de infecções, câncer e aids evoluiu pouco ou muito? b) Que fator foi responsável por essa evolução? c) O tratamento da violência evoluiu pouco ou muito? d) Que fator foi responsável por essa evolução? 7. Complete a tabela a seguir. Título do texto: Raízes orgânicas e sociais da violência urbana Autoria:

Projeção social do autor:

Público provável do texto:

Intencionalidade:

Linguagem subjetiva ou objetiva? Simples ou complexa?

Marcas/pistas textuais que caracterizam a linguagem:

Meios de comunicação em que o texto pode aparecer:

8º ano

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TEXTO 2

Assim como no texto anterior, faça antecipações, para criar uma expectativa em relação ao que vai ler. • Observe o aspecto gráfico (tamanho do texto, divisão em parágrafos, detalhes de diagramação). • Leia o título. • Leia a referência bibliográfica, reparando em quem é o autor, de que livro o trecho foi extraído etc. Odisseia O amor foi à função, bebeu, cantou e bailou, estava muito excitado, tiveram de levá-lo para casa e prendê-lo no quarto para que repousasse. No dia seguinte, o amor cantou e bailou sem beber, e era sempre primavera nos seus modos e falas. O amor viajou, voltou, fazia piruetas, trocadilhos, esculturas, criava línguas e ensinava-as de graça. Todos o queriam para companheiro, paravam de guerrear para abraçá-lo, jogavam-lhe moedas que ele não apanhava, gerânios que ele oferecia às crianças e às mulheres. O amor não adoecia nem ficava mais velho, resplandecia sempre, havia quem o invejasse, quem inventasse calúnias a seu respeito, o amor nem ligava. Cercaram sua casa de madrugada, meteram-lhe a cabeça num saco preto, conduziram-no a um morro que dava para o abismo, interrogaram-no, bateram-lhe, ameaçaram jogá-lo no precipício, jogaram. O amor caiu lá embaixo aos pedaços, mas se recompôs e foi preso outra vez, aplicaram-lhe choques elétricos, arrancaram-lhe as unhas, os dedos, o amor sorria e quando não podia mais sorrir gritava numa de suas línguas novas, que não era entendida. E desfalecendo voltava a consciência, e torturado outra vez, era como se não fosse com ele. Quebraram o amor em mil partículas, GLOSSÁRIO e ninguém pôde ver as partículas. Foi sepultado normalmente no fim Função: reunião social; festa, solenidade. do mundo, que é para lá da memória. Ninguém o localizou, mas todos Gerânios: espécie de flor. falavam nele, o amor virou um sonho, uma constelação, uma rima, e todos falavam nele, e ressuscitou ao terceiro dia. ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Odisseia é o título de um longo poema narrativo da Grécia Antiga, transmitido oralmente de geração em geração por vários séculos. Ele ganhou uma forma escrita por volta do século 8 a.C. Trata-se de uma obra importante para a cultura ocidental e é normalmente adaptado em prosa, não em versos, lembrando um romance de aventura. A Odisseia narra as aventuras de Odisseu (também chamado de Ulisses). Depois de lutar na guer-

ra de Troia, ele faz a viagem de volta para casa, demorando dez anos para chegar a Ítaca, ilha onde era rei. Essa história é famosa, e as pessoas muitas vezes empregam a palavra odisseia para representar uma situação de difícil resolução, um deslocamento que impõe dificuldades etc. O dicionário registra essa palavra e a define como “longa perambulação ou viagem marcada por aventuras, eventos imprevistos ou singulares”

1. Que explicação você encontra para o fato de o autor ter escolhido o nome “Odisseia” para seu conto? 2. Releia o trecho a seguir. O amor foi à função, bebeu, cantou e bailou, estava muito excitado, tiveram de levá-lo para casa e prendê-lo no quarto para que repousasse. No dia seguinte, o amor cantou e bailou sem beber, e era sempre primavera nos seus modos e falas. a) O amor cantou e bailou nos dois dias. O que houve de semelhante nas duas oportunidades?

E de diferente? b) Que sentido pode ser atribuído a essa passagem? 18

Língua Portuguesa


3. Releia o trecho a seguir. [...] jogavam-lhe moedas que ele não apanhava, gerânios que ele oferecia às crianças e às mulheres.

Que traço do amor é indicado nessa passagem? 4. O conto de Drummond é alegórico, pois o amor comporta-se como um ser humano que é admirado e perseguido. É importante saber que sempre há um segundo sentido na alegoria, pois, quando lançamos mão dessa forma de expressão, dizemos uma coisa, querendo significar outra. Alegoria é um modo de expressão que consiste em representar uma coisa ou uma ideia abstrata por meio de um objeto ou ser que tem com ela certa relação real, convencional ou criada pela imaginação do homem. Por exemplo, a balança (um objeto), funciona como alegoria da justiça (ideia abstrata), porque a imparcialidade e o equilíbrio da balança são qualidades que devem estar presentes em julgamentos. Outra maneira de criar alegorias é personificando

as ideias abstratas, isto é, atribuindo a elas comportamentos e qualidades dos seres humanos. Quando lançamos mão de uma alegoria, criamos outros sentidos além daquele mais previsível. Por exemplo, ao usar um barco para representar a vida, não indicamos apenas que a vida segue seu curso. Indicamos também que seu caminho pode ter “tempestades”, “ventos favoráveis” etc. Ou seja, tudo que é próprio do barco pode criar sentidos especiais.

a) O amor foi perseguido, capturado, torturado e morto. Que sentido essas ocorrências com o

amor criam? b) Para falar do sentimento do amor, o autor não usou uma pessoa que ama, e sim o próprio

amor personificado. Em sua opinião, que sentido isso criou no conto? 5. No conto, o amor aparece como algo invencível, que se adapta e se renova. Esse sentido foi criado

a partir de algumas situações pelas quais o amor passou. Sublinhe essas passagens no texto. 6. “Cercaram sua casa de madrugada, meteram-lhe a cabeça num saco preto, conduziram-no a um

morro que dava para um abismo, interrogaram-no, bateram-lhe, ameaçaram jogá-lo no precipício, jogaram.” Na sua opinião: a) Quem faz isso com o amor? b) Por que fizeram isso com ele? c) Você estudou que um autor pertence a um grupo social situado em um lugar e em deter-

minado tempo. Os contos do livro Contos plausíveis foram publicados pela primeira vez em 1981, tendo sido antes publicados semanalmente no Jornal do Brasil. Que situações presentes no conto “Odisseia” têm a ver com a época em que os contos em geral foram escritos (anos 1970)? 7. O título do conto é uma marca de intertextualidade. Também as formas de tortura que o amor

sofre (interrogaram-no, bateram-lhe, aplicaram-lhe choques elétricos, arrancaram-lhe as unhas, os dedos) são marcas interdiscursivas, pois fazem referência à época da ditadura, em que presos políticos sofriam o mesmo tipo de agressão. a) “Ressuscitou ao terceiro dia” é uma marca de intertextualidade. Explique. b) Na sua opinião, que sentido essa oração cria, no final do conto? 8º ano

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Os escritores são também leitores e gostam, às vezes, de usar trechos de obras já escritas. Dessa maneira, eles trazem para seu texto um conjunto de pontos de vista e de referências que há nas obras citadas. Eles podem fazer isso para retomar essas

ideias, para criticá-las. Isso se chama intertextualidade. Outras vezes, não citamos literalmente outras obras, mas uma visão de mundo de um grupo, de uma época, elementos pertencentes a eles. A isso chamamos interdiscursividade.

8. O conto “Odisseia” não é dividido em parágrafos. O autor optou por escrevê-lo num único bloco

compacto de palavras. Considerando os fatos narrados no conto, pense em uma hipótese que possa explicar o formato que o autor deu ao conto. 9. Complete a tabela a seguir. Título do texto: Odisseia Autoria: Projeção social do autor:

Público provável do texto:

Intencionalidade:

Linguagem subjetiva ou objetiva? Simples ou complexa?

Marcas/pistas textuais que caracterizam a linguagem:

Meios de comunicação em que o texto pode aparecer:

10. Compare as informações do quadro da questão anterior com as do quadro que se refere ao texto

“Raízes urbanas e sociais da violência urbana”. Identifique duas diferenças principais entre texto ficcional e texto não ficcional. 20

Língua Portuguesa


PLANEJANDO A FALA

A conversa é um gênero oral muito comum em nossas interações. Ela pressupõe pelo menos dois participantes interagindo ao mesmo tempo. Normalmente eles estão face a face, mas podem estar distantes, como ocorre em uma conversa telefônica. Outro traço que caracteriza esse gênero é a troca no direito de fala, que é chamada de troca de turno. Apesar de ser praticada com grande espontaneidade, é possível refletir sobre a conversa. Ela não é um conjunto de frases aleatórias; e seu sucesso depende da cooperação entre os participantes. 1. Reúna-se em trios e escolha com seus parceiros um dos temas a seguir, sobre o qual vocês vão

conversar durante 10 minutos. • A experiência de voltar a estudar; • Um jogo de futebol recente; • Um livro que você está lendo ou que leu recentemente. 2. Se for possível, a conversa deve ser gravada, para que possa ser analisada em aula. 3. Procurem perceber como ocorrem as mudanças de turno: o falante percebe que um enunciado

foi concluído; ele aproveita uma pausa; ele “entra”, tomando a palavra com termos como “mas”, “então” “e”, “escuta” etc. 4. Observem também como os falantes organizam os turnos quando falam ao mesmo tempo: eles

empregam termos como “Desculpe, continue”, “deixa eu dizer uma coisa”, “só uma coisa” etc. 5. Às vezes, um falante fala ao mesmo tempo que o outro, mas não se trata de assumir o turno; ele

concorda, discorda, manifesta algumas reações com expressões (“ahã”, “é”, “claro”, “sim” etc.), com sorriso, olhar, balanço de cabeça e outros gestos. 6. Procurem perceber a entonação e o tom de voz: são constantes, mudam conforme o assunto etc. 7. Avaliem a experiência: houve intercâmbio de conhecimento? Houve a impressão de que um in-

terlocutor falou sozinho mesmo que o outro tenha tido seu turno de fala (ou seja, um falante não organizou o discurso em função do outro)? 8. Há características em um falante que dificultam e que facilitam a conversa? Quais?

Com base nessa experiência, vocês podem monitorar as situações em que emprega o gênero conversa, buscando aprimorar a sua utilização, da mesma forma que ocorre sistematicamente com gêneros escritos. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Contos plausíveis ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Sites

A história da palavra: o desafio sem fim

O site traz um vídeo de aproximadamente 28 minutos, que mostra a evolução da palavra grafada, surgida em 3300 a.C., bem como a necessidade humana de se comunicar e registrar suas experiências. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=7856>. Acesso em: 17 set. 2012.

Intertextualidade: parte 2

Nesse site, encontra-se um áudio de aproximadamente 5 minutos, que aborda a intertextualidade em forma de prosa. Apresenta suas formas e características. Cita a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e “Uma canção”, de Mario Quintana, como bons exemplos do uso da intertextualidade. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2280>. Acesso em: 17 set. 2012.

8º ano

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Capítulo

2

Poesia, poemas e poetas

LÍNGUA PORTUGUESA

N

Fernando Gonsales

este capítulo, você vai mergulhar em um mundo em que as palavras assumem sentidos diferentes, em que as palavras, dependendo da forma como são organizadas no texto, produzem emoção. Vamos falar de poesia, ler e analisar poemas, conhecer alguns poetas. Vamos rever o conceito de rima e conhecer recursos textuais de que os autores lançam mão para expressar em versos o que a linguagem cotidiana não consegue expressar. Tentaremos também entender por que desde os tempos remotos as pessoas sentem prazer em recitar poemas e por que os poetas são imprescindíveis em todas as civilizações. Antes, porém, de penetrar nessa arte da linguagem, leia a tirinha a seguir criada pelo cartunista paulistano Fernando Gonsales:

Arquivo pessoal

Fernando Gonsales

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Língua Portuguesa

Fernando Gonsales é cartunista paulistano, nascido em 3 de fevereiro de 1961. É formado em Medicina Veterinária e seus quadrinhos muitas vezes retratam de forma divertida animais que assumem comportamentos humanos. Um de seus personagens é o ratinho Níquel Náusea, uma imitação cômica de outro rato bem mais famoso: Mickey Mouse, personagem de Walt Disney.


RODA DE CONVERSA

Com a turma, converse sobre as questões a seguir: 1. Na tirinha da página anterior, qual é a intenção de Níquel Náusea? Que estratégias ele usa para

tentar alcançar seu objetivo? 2. Níquel não foi bem-sucedido na situação. a) A que se deve esse resultado? b) Sugira uma mudança que poderia promover o sucesso dele. 3. No final, Níquel diz que não é muito bom nas metáforas. Você sabe o que é uma metáfora? Pode-

ria dar um exemplo? 4. Que relação você pode apontar entre a tira e o que vai ser estudado neste capítulo? 5. Para você, o que significa poesia, poema e poeta?

A LINGUAGEM POÉTICA O poeta Ferreira Gullar declarou, no jornal Folha de S.Paulo de 20 de agosto de 2006, que “fazer um poema é lidar com o acaso e com a indeterminação. Errando e acertando, constrói-se o poema, que poderia não ter nascido exatamente assim. Preservar nele algo dessa indeterminação é o que procuro hoje, embora deseje a um tempo manter o rigor e a economia da expressão poética”. Foi difícil entender as palavras do poeta? Parece que escrever um poema é uma coisa bem complicada, não? Como preservar nele a “indeterminação”? É possível que os poetas escrevam poemas que não esperavam escrever? Os poemas têm vontade própria? Por que, às vezes, os poetas não conseguem traduzir fielmente o que sentem? O que significa a “economia da expressão poética”? Essas questões são difíceis de responder... mas, para penetrar no universo da poesia, do poema, do poeta e, claro, da “linguagem poética”, teremos de refletir sobre elas. Muitas definições de poesia foram concebidas ao longo dos tempos, mas todas parecem limitar ou não traduzir o sentido profundo que a poesia tem. Os filósofos e os poetas costumam definir poesia da seguinte maneira: “poesia é música que se faz com ideias”; “é uma viagem ao desconhecido”; “é a fala do ‘infalável’”; “é a emoção relembrada na tranquilidade”; “é a religião original da humanidade”; “é a linguagem em estado de pureza selvagem”; “é o impossível feito possível”; “é uma arte representativa”. Segundo o poeta espanhol García Lorca, todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que as coisas têm. Há muitas outras definições. Cada poeta, cada pessoa vê e sente a poesia de uma maneira, por isso é difícil explicar objetivamente o que ela é. É curioso que as tentativas de definir poesia não foram feitas só com palavras. Há muito tempo, no fim do século XVI, na Europa, era comum encontrar livros em que algumas ideias, virtudes, vícios, paixões e figuras mitológicas esta8º ano

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Língua Portuguesa

Bibliotheca S. J. Maison Saint-Augustin, Enghien

vam representados por desenhos. Esses livros que encantavam a todos e que eram amplamente consultados eram chamados livros de emblemas. Neles, o amor, a beleza, a calúnia, o castigo, a consciência, a justiça, as estações do ano, entre outras coisas, aparecem representados por imagens de homens ou de mulheres que vestem roupas especiais e carregam objetos simbólicos. Na época em que surgiram os emblemas, acreditava-se que a demonstração visual era mais eficaz para a compreensão do que qualquer instrução verbal. A imagem da poesia que encontramos nesses livros é muito sugestiva, porque põe diante de nossos olhos algumas das qualidades essenciais dessa forma especial de linguagem. Nos livros de emblemas, a poesia está representada por uma jovem formosa que usa uma coroa de louros na cabeça, veste um vestido azul-celeste pontilhado por numerosas estrelas e está rodeada por instrumentos musicais. Todos os adornos dessa figura têm uma explicação que pode ser associada às qualidades da poesia. A doçura e a beleza da jovem, sua força e seu poder comovem e arrastam todos os seres humanos, como a poesia, que nos transmite emoção. Como o louro é uma planta que se mantém verde durante todas as estações do ano, a coroa feita com essa folha faz as pessoas recordar que a poesia é mais forte do que o tempo. Ela aproxima os seres humanos da imortalidade, protegendo-os contra o tempo, que destrói e condena todas as coisas ao esquecimento. O vestido azul com as estrelas simboliza a origem da poesia; segundo os poetas, ela vem do céu e tem um caráter divino. Os instrumentos musicais que estão em volta dessa mulher sugerem que a poesia está muito ligada à música. Assim, essa jovem formosa mostra-nos de maneira simples que a poesia move as pessoas, está acima do tempo, é uma forma de expressão das coisas divinas e é um tipo de texto muito marcado pela musicalidade. Emblema da poesia. Podemos tentar ainda dar outra definição, explorando o sentido original da palavra. “Poesia” é um termo que tem origem no grego poiesis, “a atividade de produção artística”, “a atividade de criar ou de fazer”. Se considerarmos essa noção, veremos ou sentiremos poesia sempre que, criando ou fazendo coisas, somos dominados pelo sentimento do belo, sempre que vislumbramos aquilo que há de mais elevado e comovente nas pessoas e nas coisas. Sempre que isso acontecer, criamos ou fazemos poesia. E os poemas? Poesia e poema são a mesma coisa? Muita gente trata as duas palavras como sinônimas. Podemos pensar que poesia tem um sentido mais amplo... Ela não está só no poema, mas também em lugares e coisas: uma paisagem pode ser plena de poesia, o gesto de uma pessoa pode ser considerado poético, e assim por diante. O poema também é obra de poesia, mas obra de poesia que usa as palavras como matéria-prima.


Você lerá a seguir três poemas de diferentes épocas. O primeiro, muito antigo, foi escrito por um poeta português que viveu no século XVI; o segundo foi escrito na primeira metade do século XX; o terceiro, mais recente, foi publicado em 1976. Dessa forma, poderemos compreender como poetas que viveram em épocas diferentes exploram a sonoridade das palavras para dar musicalidade aos poemas. Se você ler os três textos em voz alta, perceberá mais facilmente as diferenças sonoras. Antes da leitura, porém, eis uma dica que vale para a leitura de todos poemas: os poetas organizam os versos de maneira especial, artística; por isso, na leitura dos poemas, temos de observar o que o autor “diz” (o conteúdo do texto) e “como diz” (a maneira como o texto está escrito). Cada linha de um poema é chamada verso; os versos têm o tamanho que o poeta desejar. Um agrupamento de versos chama-se estrofe.

LER POEMA I

Antes de ler o primeiro poema (o mais antigo), responda: 1. Quem escreveu o poema a seguir? O que você sabe sobre esse poeta? Para saber mais sobre a vida

do poeta, leia o quadro que aparece ao lado do poema. 2. O que, em sua opinião, faz um poema escrito há mais de quinhentos anos continuar sendo lido até hoje? 3. Você acha que é possível definir o amor? Escreva um pequeno texto (em verso ou em prosa) explican-

do se é possível ou não definir esse sentimento. Luís Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer.

Luís Vaz de Camões, importante poeta português, nasceu entre 1524-1525 e morreu, na miséria (foi enterrado, na época, como indigente, em vala comum), em 1580. Escreveu Os lusíadas, considerado o maior poema épico da língua portuguesa, que conta a história do povo português, até a conquista do caminho para as Índias, por Vasco da Gama. Além de Os lusíadas, Camões escreveu diversos poemas líricos, publicados após sua morte como Rimas. Não há acordo quanto ao número exato de poemas líricos escritos pelo poeta, mas seus versos, que tratam sobretudo da temática amorosa, continuam vivos em músicas e filmes.

É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa/Domínio público

Soneto V

CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Edusp, 1982. p. 155.

8º ano

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As questões abaixo são para colher suas primeiras impressões sobre o poema lido. 4. Em sua opinião, o poeta conseguiu definir o amor? Por quê? 5. No texto, há um trabalho cuidadoso de seleção e combinação de palavras. Escolha alguns versos

que, em sua opinião, mostrem essa preocupação do poeta. 6. Na canção “Monte Castelo”, Renato Russo, integrante da banda Legião Urbana, juntou frases do

apóstolo Paulo com versos do poema de Camões. Veja como ficou o arranjo da canção e responda às questões a seguir. Monte Castelo Ainda que eu falasse a língua dos homens E falasse a língua dos anjos, Sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor Que conhece o que é verdade O amor é bom, não quer o mal Não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse a língua dos homens E falasse a língua dos anjos, Sem amor eu nada seria. É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade É servir a quem vence o vencedor É um ter com quem nos mata a lealdade Tão contrário a si é o mesmo amor. Estou acordado e todos dormem. Todos dormem. Todos dormem. Agora vejo em parte, Mas então veremos face a face. É só o amor, é só o amor Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos, Sem amor eu nada seria. RUSSO, Renato. Legião Urbana. As quatro estações (CD). EMI, 1989.

a) “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o me-

tal que soa ou como o sino que tine”. Essas palavras são do apóstolo Paulo, presentes na Bíblia (Coríntios 13:1), que Renato Russo adaptou para a canção. Em sua opinião, a frase inserida na canção dialoga bem com os versos de Camões? Por quê? 26

Língua Portuguesa


b) Os versos da canção “O amor é bom, não quer o mal,/ Não sente inveja ou se envaidece” dife-

rem muito da maneira que Camões define o amor? Justifique sua resposta. 7. No final do poema, Camões faz uma pergunta. Em sua opinião, ela é consequência do que foi

exposto nos outros versos? Por quê?

MAIS SOBRE O POEMA O texto de Camões tem quatorze versos, organizados em quatro estrofes: duas de quatro versos, duas de três. Essa maneira de organizar os versos é muito antiga e tem um nome: soneto. Geralmente, os poetas escrevem um soneto para expor um raciocínio, que contém uma série de proposições (ideias) e uma conclusão. Repare que nas três primeiras estrofes, o poeta apresenta ideias que definem o amor, sempre repetindo “Amor é...”. Na última, a conclusão aparece na forma de uma pergunta. O poeta, para garantir a unidade sonora do texto, inverteu a ordem das palavras na última estrofe. Seria mais fácil compreender a estrofe, se ele escrevesse “Mas como seu favor (o favor, a graça do amor) pode causar amizade nos corações humanos, se tão contrário a si é o mesmo amor?”, mas o texto perderia o ritmo e a musicalidade.

A MUSICALIDADE NOS POEMAS O poema de Luís de Camões é bastante sonoro. Durante a leitura, você percebeu que algumas palavras no final dos versos tinham som idêntico? Esse som idêntico, ou quase idêntico, que observamos na terminação das palavras é chamado rima. As rimas podem aparecer nas palavras no final dos versos ou podem, mais raramente, aparecer no início ou no meio deles. Repare que “ver” rima com “doer”, que rima com “querer”, que rima com “perder”. O mesmo acontece com “sente”, que rima com “descontente”, que rima com “gente”, que rima com “contente”; e “vontade”, que rima com “lealdade”, que rima com “amizade”; e “vencedor”, que rima com “favor”, que rima com “amor”. Por convenção, para indicar o esquema de rimas dos poemas, usamos as letras minúsculas de nosso alfabeto. Os versos que rimam entre si são representados pela mesma letra. A letra a sempre será usada para a terminação do primeiro verso e dos outros que terminarem com o mesmo som. Se o som da última palavra do segundo verso for diferente, indicaremos a nova terminação com a letra b. Cada nova terminação será representada por uma letra diferente. Os lusíadas foi publicado em 1572 e é formado por 1 102 estrofes, que têm sempre o mesmo esquema de rimas: a b a b a b c c. 8º ano

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Veja, a seguir, o esquema de rimas do poema de Camões: Amor é um fogo que arde sem se ver; – a é ferida que dói, e não se sente; – b é um contentamento descontente; – b é dor que desatina sem doer. – a É um não querer mais que bem querer; – a é um andar solitário entre a gente; – b é nunca contentar-se de contente; – b é um cuidar que ganha em se perder. – a É querer estar preso por vontade; – c é servir a quem vence, o vencedor; – d é ter com quem nos mata, lealdade. – c Mas como causar pode seu favor – d nos corações humanos amizade, – c se tão contrário a si é o mesmo Amor? – d

ALITERAÇÃO É a repetição de um som consonantal em palavras da mesma frase ou verso. Essas palavras podem estar seguidas, próximas ou distantes, mas são organizadas de forma harmoniosa. Repare a repetição do som r no primeiro verso: “Amor é fogo que arde sem se ver”; ou do som t, no terceiro: “É um contentamento descontente”. As aliterações provocam um efeito sonoro ao texto, tornando-o extremamente musical. Repare os versos 4, 7 e 10 do soneto de Camões. Verifique as consoantes que se repetem nesses versos para formar aliterações.

LER POEMA II

Antes de ler o poema da página seguinte, responda: 1. Você acha que com palavras é possível imitar o som de um trem? Que palavras você escolheria

para mostrar no papel o som de um trem a vapor?

2. O título de um texto pode ajudar o leitor a antecipar o assunto ou algumas ideias do que vai ser

lido. O título “Trem de Alagoas” sugere que ideias para você?

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Língua Portuguesa


Trem de Alagoas O sino bate, o condutor apita o apito, Solta o trem de ferro um grito, põe-se logo a caminhar… – Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende, vou danado pra Catende com vontade de chegar... Mergulham mocambos, nos mangues molhados, moleques, mulatos, vêm vê-lo passar. – Adeus! – Adeus! Mangueiras, coqueiros, cajueiros em flor, cajueiros com frutos já bons de chupar... – Adeus morena do cabelo cacheado! Mangabas maduras, mamões amarelos, mamões amarelos, que amostram molengos as mamas macias pra a gente mamar – Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende, vou danado pra Catende com vontade de chegar... Na boca da mata há furnas incríveis que em coisas terríveis nos fazem pensar: – Ali dorme o Pai da Mata! – Ali é a casa das caiporas! – Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar... 8º ano

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Meu Deus! Já deixamos a praia tão longe… No entanto avistamos bem perto outro mar... Danou-se! Se move, se arqueia, faz onda... Que nada! É um partido já bom de cortar... – Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar... Cana-caiana, cana-roxa, cana-fita, cada qual a mais bonita, todas boas de chupar... – Adeus morena do cabelo cacheado! – Ali dorme o Pai da Mata! – Ali é a casa das caiporas! – Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar...

Ascenso Ferreira Ascenso Ferreira nasceu em Palmares (PE), em 1895. Começou a colaborar em jornais e a publicar os primeiros versos ainda em Palmares, no ano de 1912. Em 1922, passou a escrever para jornais recifenses e, seis anos depois, conheceu Mário de Andrade e, logo depois, outros intelectuais paulistas, como Cassiano Ricardo, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. Catimbó, o livro de estreia de Ascenso Ferreira, data de 1927. Nesse mesmo ano, Manuel Bandeira vai a Recife e estreita contato com Ascenso. Suas obras poéticas seguintes são Cana caiana (1939); Poemas 1922/1951 (1951); Catimbó e Outros poemas (1963) e o póstumo Eu voltarei ao sol da primavera (1985). Ascenso Ferreira morreu em 1965, às vésperas de completar 70 anos.

FERREIRA, Ascenso. Disponível em: <www.algumapoesia.com.br/ poesia2/poesianet166.htm>. Acesso em: 2 jul. 2012

MACHADO, Carlos. Disponível em: <www.algumapoesia.com. br/poesia2/poesianet166.htm>. Acesso em 2 jul. 2012. (Texto adaptado.)

Depois de ler o poema, responda às questões a seguir: 3. É possível estabelecer alguma relação entre o título e o ritmo do texto? Explique sua resposta.

Escolha alguns versos para exemplificar.

4. O que mais chamou a sua atenção na maneira como o autor organizou as estrofes do texto?

5. Você percebeu que o poema imprime diferentes velocidades de leitura? Em que momento a leitu-

ra torna-se mais rápida? Em que momentos ela se torna mais lenta?

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MAIS SOBRE O POEMA

CONHECER MAIS

Trens na poesia O poema “Trem de Alagoas” de Ascenso Ferreira explora muito bem o ritmo produzido pela sonoridade das palavras. Para ouvir o poeta Ascenso O título dá uma pista ao leitor da intenção do poeta quanto à Ferreira recitando o poema “Trem de Alagoas”, acesse <http://www. realização sonora do poema. algumapoesia.com.br/som/asAcertando o ritmo da leitura, as palavras pronunciadas censoferreira_tremdealagoas. produzirão um efeito sonoro muito sugestivo. Repare que mp3>. Acesso em: 19 set. 2012. Leia também o poema “Trem a repetição do verso “Vou danado pra Catende” faz a velode ferro”, de Manuel Bandeira, cidade da leitura aumentar. Observe ainda outras pistas: a publicado em 1936, no livro Esorganização das estrofes e as aliterações nas várias palavras trela da manhã. Assim como o “Trem de Alagoas”, o “Trem de iniciadas pelo mesmo fonema, pelo mesmo som. ferro” de Bandeira tem um ritmo Em relação à primeira observação, vale lembrar que a maneiespecial, que parece representar ra como os versos são agrupados nas estrofes é sempre intencioum trem em movimento. nal. Vimos que os poetas usam as palavras de maneira especial. E percebemos que essa maneira especial também reflete sobre a organização dos versos nas estrofes. “Trem de Alagoas” tem dezoito estrofes, em que variam o número de versos. Há estrofes que podem ser lidas mais rapidamente e outras que podem ser lidas mais lentamente, por exemplo, quando o trem se aproxima da mata fechada, nos versos “Ali dorme o Pai da Mata!/ Ali é a casa das caiporas!” podem ser lidos num ritmo mais lento. Só o refrão, em função da repetição, pode ser lido num ritmo mais rápido. Além da sonoridade, o poeta buscou produzir um efeito visual. Observando a organização das estrofes do poema, é possível visualizar um trem em movimento, em que primeiro vagão (1a estrofe) puxa os demais. Sobre as aliterações, elas sempre provocam efeitos sonoros interessantes. Uma forma possível de representar o som de um automóvel ou um trem em um texto escrito é como acontece nas histórias em quadrinhos. Quando se quer dar a entender que algum veículo está indo rápido, é comum encontrar palavras como “zum”. As palavras que procuram reproduzir aproximadamente o som das coisas são chamadas onomatopeias. O texto de Ascenso Ferreira não tem onomatopeias, mas, lendo-o em voz alta, é possível perceber o ruído do trem e a que velocidade ele anda. Esse efeito sonoro, que sugere o barulho e, consequentemente, a velocidade, é obtido graças às aliterações, às repetições e à disposição das palavras nos versos. CONHECER MAIS A poesia de Ascenso Ferreira é marcada pela presença de personagens do povo, costumes e festas populares. A poesia de Ascenso também ganhou espaço na música popular. “Trem de Alagoas” foi musicado por Heitor VillaLobos. O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença adaptou esse mesmo poema, em 1975, na composição

“Vou danado pra Catende”. Essa música encontra-se em vários discos do compositor, entre os quais a coletânea Novo millennium, de 2005. Outro poema de Ascenso Ferreira musicado por Valença foi “Maracatu”, cujos versos, à simples leitura, trazem à mente o ritmo afro-brasileiro que lhe dá nome. A música saiu originalmente no LP Cavalo de pau, de 1982. Disponível em: <www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet166.htm>. Acesso em: 2 jul. 2012

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APLICAR CONHECIMENTOS I

As questões a seguir vão ajudar você a aprofundar sua conversa com o poema “Trem de Alagoas”. Escreva as respostas em seu caderno. 1. Releia a primeira e a segunda estrofes do poema. a) Retire da primeira estrofe palavras que podem ser relacionadas à partida de um trem. b) No terceiro e quarto versos, lemos: Solta o trem de ferro um grito,/ põe-se logo a caminhar…

Soltar um grito e caminhar são ações realizadas por pessoas, não por trens. Que efeito de sentido, em sua opinião, o poeta quis provocar?

c) Quem diz a frase “Vou danado pra Catende”? 2. Catende é um município brasileiro do estado de Pernambuco que faz divisa com Palmares, ci-

dade em que nasceu o poeta Ascenso Ferreira. Transcreva alguns versos que, em sua opinião, apresentam elementos da paisagem da Zona da Mata nordestina.

3. Ao longo do poema, enquanto o trem de Alagoas corre, elementos da cultura popular brasileira

vão surgindo no texto. Encontre no texto duas personagens da cultura popular brasileira.

4. Releia os versos da sétima estrofe. a) Em que palavras ocorre a aliteração? b) Em relação à velocidade do trem, a presença das aliterações aumenta ou diminui a velocidade

da leitura?

5. O que você achou da viagem do “Trem de Alagoas” para Catende? Pense em sua cidade natal e

escreva um poema que represente uma viagem prazerosa pelos encantos de sua cidade.

OS SENTIDOS DAS PALAVRAS DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO De maneira geral, podemos dizer que lidamos com dois diferentes sentidos das palavras: o sentido denotativo e o sentido conotativo. Os sentidos são decorrentes não só do contexto em que a palavra é empregada, mas dependem também do leitor que a interpreta, apoiado em sua experiência de vida e em seu repertório de leituras. Assim, quando a palavra é interpretada além do sentido usual ou literal, dizemos que predomina o sentido conotativo ou a conotação. Observe o exemplo: “Se eu pudesse viver novamente tomaria mais sorvete e menos lentilha”. Se o leitor interpretasse a frase no sentido conotativo, pensaria que o autor está usando as palavras “lentilha” e “sorvete” para expressar mais do que simplesmente uma preferência alimentar. O leitor pensaria que o autor da frase está querendo dizer que teria mais momentos de prazer e menos momentos de obrigação, caso vivesse novamente. Interpretada dessa forma, a palavra “sorvete” está no sentido figurado, pois está simbolizando todas as coisas boas da vida, e a palavra “lentilha”, o que temos de fazer por obrigação. 32

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Se o exemplo fosse lido literalmente (sentido denotativo), “lentilha” seria simplesmente a planta da família das leguminosas e “sorvete” a iguaria feita de suco de frutas ou de leite e chocolate. Nessa leitura, predominaria a denotação, e “lentilha” e “sorvete” expressariam a preferência alimentar do autor da frase.

FIGURAS DE LINGUAGEM Figuras de linguagem são recursos que todos os falantes da língua usam para criar efeitos de expressividade, ou seja, para se expressar de maneira bela. Esses efeitos sempre evocam emoções. Há vários tipos de figuras, e todas são muito importantes para a “expressão poética”. Veja a seguir três delas. Metáfora

É uma figura de linguagem muito usada pelos poetas. Ocorre quando você substitui um termo por outro em função de algum ponto de contato, de alguma semelhança entre eles. O filósofo Aristóteles afirmava que a metáfora podia ser interpretada como uma comparação breve, que realiza uma transferência de significado. Se o primeiro verso do poema de Camões fosse: “o calor do amor arde como o calor do fogo”, ele estaria fazendo uma comparação. Porém, observe que a palavra “como” não aparece no verso. Se Camões fizesse uma simples comparação entre o calor que o fogo produz e o “calor” do amor, reduziria bastante o sentido do verso. Mas Camões preferiu escrever uma metáfora. Na metáfora, a palavra “como” (conectivo comparativo) não é expressa, e a semelhança entre o amor e o fogo não fica restrita ao calor. Quando o poeta associa “amor” a “fogo” no verso “Amor é um fogo”, faz o leitor sentir um impacto. O fogo brilha, consome, encanta, atrai, purifica, regenera, destrói, devora, sufoca etc. Quando lemos “Amor é um fogo que arde sem se ver”, associamos ao amor todas as outras qualidades do fogo; não só o calor. Por isso, as metáforas não são compreendidas da mesma forma pelas pessoas. Escrever ou interpretar metáforas é algo subjetivo, ou seja, quanto mais complexa e indireta for a metáfora, quanto mais distante forem as noções que ela tenta aproximar, mais ela exigirá do leitor sensibilidade e reflexão para ser compreendida. Antítese

É outra figura presente no texto de Camões. É definida como a figura que coloca, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de sentido contrário. Repare a antítese no verso: “É um cuidar que ganha em se perder”. 8º ano

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LER POEMA III

Antes de ler o poema “Emergência”, reproduzido a seguir, responda às questões. 1. Quem é o autor do poema “Emergência”? Você sabe alguma coisa sobre ele? 2. Em que livro “Emergência” foi publicado? Em que ano? Por que, em sua opinião, é importante

saber o ano de publicação de uma obra? 3. Lendo o título, é possível, às vezes, antecipar ideias do texto que vai ser lido. Reflita sobre o título

do poema. Que situação grave ou perigosa o poema pode abordar? 4. Você acredita que um poema possa salvar a vida de alguém? De que maneira?

Emergência Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas, profundamente, respirar. Quem faz um poema salva um afogado. QUINTANA, Mário. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005. p. 46.

Responda às questões a seguir. Com elas, você vai começar a perceber aspectos importantes sobre o poema de Mário Quintana. 5. No primeiro verso, a palavra “janela” está no sentido denotativo ou conotativo? Justifique sua resposta. 6. No poema de Mário Quintana, as palavras “respira” e “respirar” têm um sentido diferente de “ins-

pirar oxigênio”? Justifique sua resposta. 7. Localize no poema de Mário Quintana versos em que ocorra uma metáfora. 8. No sexto verso, há um travessão, um recurso linguístico que os autores utilizam para inserir in-

formações que consideram relevantes. a) Que ideia importante para a compreensão do texto esse travessão destaca? b) Temos de entender essa ideia no sentido denotativo ou conotativo? Por quê?

Mário Quintana Mário Quintana (1906-1994) era gaúcho, foi poeta, cronista, tradutor e jornalista. Suas poesias trazem como características principais a simplicidade, o humor e a linguagem coloquial. Abordou temas como a infância, a memória, a passagem do tempo e os pequenos fatos do cotidiano. Seu primeiro livro de poesia foi A rua dos cataventos (1940). Seguiram-se Canções (1946), Espelho mágico (1948), Sapato florido (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Prosa e verso (1978), Preparativos de viagem (1987), entre outros.

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Ronaldo de Moraes/Folhapress

9. Como os poetas, em sua opinião, podem “salvar um afogado”?


MAIS SOBRE O POEMA O poema de Mário Quintana apresenta também uma sonoridade própria. Ele é formado por duas estrofes: uma de seis versos e outra de um verso apenas. O título do texto é sugestivo e ajuda a refletir sobre o papel do poema ou, mais propriamente, sobre a razão pela qual “os poemas têm ritmo”. Ritmo pode ser definido como uma cadência regular dentro de um intervalo regular, chamado de compasso. Talvez essa definição seja um pouco difícil, mas, na prática, quando escutamos música, é comum que acompanhemos, com o pé ou com as mãos, os compassos em que o ritmo está inserido. Em um samba, por exemplo, cada compasso tem dois tempos, um forte e um fraco. Em uma valsa, cada compasso tem três tempos: um forte seguido por dois fracos. Quando sentimos o ritmo, é irresistível bater o pé ou marcar com o corpo os tempos fortes do compasso. Na leitura de um poema, também é possível sentir o ritmo das palavras. Para senti-lo, temos de prestar atenção nas alternâncias: de som e silêncio, de sons graves e agudos, de sílabas tônicas e átonas, enfim, nas variadas combinações. Se você ler em voz alta o poema de Mário Quintana, seguindo os sinais de pontuação, vai sentir o ritmo. No final do primeiro verso, o ponto final que aparece depois de “janela” determina um silêncio ou uma pausa na leitura. Observe, porém, que não há necessidade de fazer silêncios ou pausas no final do segundo verso. Se fizer, você quebrará o ritmo e até tornará difícil a compreensão do poema. O verso termina, mas a pausa da leitura acontece no verso seguinte (repare que a vírgula aparece só no final do terceiro verso). Para conferir, releia os quatro primeiros versos do poema. Nos poemas, podemos descobrir sentidos, observando como os versos são organizados. Existe uma forma de organizá-los que é conhecida como “transbordamento”. Isso ocorre quando o poeta deixa para o verso seguinte uma palavra, ou um trecho maior, que expressa a continuação do verso anterior. Isso acontece nos versos dois e três. Recorde: “Respira, tu que estás numa cela abafada”

É fácil perceber que “abafada” tem uma estreita ligação com “cela”; é sua continuação natural. No entanto, a palavra foi escrita uma linha abaixo. Parece que a ideia do verso dois terminou, mas, na verdade, ela continua. Com essas “falsas terminações”, os poetas podem produzir efeitos sonoros e de sentido. Por que Mário Quintana preferiu deixar a palavra “abafada” sozinha no terceiro verso? Ela não poderia estar no segundo? Será que o poeta tinha alguma intenção ao organizar os versos dessa forma? Se a palavra “abafada” fosse a última do segundo verso, o poeta perderia a chance de rimar “janela” com “cela”. Qual seria a consequência disso? A rima cria uma aproximação entre as palavras. Se não houvesse a rima, não seria possível 8º ano

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chamar a atenção para o contraste entre as duas palavras: cela (fechada, abafada) e janela (aberta, arejada). O abafamento da cela representa um mundo de janelas fechadas, sem poesia, enquanto a janela aberta expressa a presença dos poemas. E essa ideia é fundamental para compreendermos esse poema de Mário Quintana. Repare em outro recurso da linguagem que foi usado para construir essa ideia. Você já constatou que a palavra “abafada” está sozinha no verso. Quer algo mais abafado do que a palavra “abafada” sozinha em um verso, encurralada por uma vírgula? Já o verso “para que possas, profundamente respirar” é o mais longo do poema. Com essa diferença entre o verso “apertado” e o verso “solto”, fica evidente a intenção de confrontar, de um lado, a agonia presente em um mundo sem poesia e, de outro, a amplidão proporcionada pelo poema e seu ritmo. Agora, compare o primeiro verso do poema com o último. Ambos têm estruturas semelhantes: “Quem faz um poema abre...” / “Quem faz um poema salva...” Não dá a impressão de que os dois versos se correspondem? “Abrir uma janela” equivale a “salvar um afogado”. Afinal, é assim que o poema é visto pelo poeta: algo que nos faz respirar, que nos permite viver... É importante perceber mais uma vez que, num poema, a escolha das palavras e o jeito de organizá-las revelam sentidos.

APLICAR CONHECIMENTOS II

Você vai praticar o que foi estudado até aqui. Leremos dois poemas, de outros dois importantes autores da literatura brasileira. Para que você perceba melhor a musicalidade dos textos, sugerimos que escute seu professor ler o poema em voz alta. Depois você pode lê-lo mais uma vez, prestando atenção no ritmo e nos esquemas rítmicos. Fique atento também à presença de figuras de linguagem e à intenção que há por trás da organização dos versos. Vale lembrar que, quando desejamos interpretar textos, é necessário lê-los mais de uma vez. Por fim, duas dicas: os títulos nos dão sempre pistas para o exercício da interpretação; sempre há o que descobrir em um poema. Por isso, pesquisar o sentido das palavras em dicionários ou em outras obras de referência sempre enriquece a leitura. Dois quadros Na seca inclemente do nosso Nordeste, O sol é mais quente e o céu mais azul E o povo se achando sem pão e sem veste, Viaja à procura das terra do Sul. De nuvem no espaço, não há um farrapo, Se acaba a esperança da gente roceira, Na mesma lagoa da festa do sapo, Agita-se o vento levando a poeira. 36

Língua Portuguesa


A grama do campo não nasce, não cresce: Outrora este campo tão verde e tão rico, Agora é tão quente que até nos parece Um forno queimando madeira de angico. Na copa redonda de algum juazeiro A aguda cigarra seu canto desata E a linda araponga que chamam ferreiro Martela seu ferro por dentro da mata. O dia desponta mostrando-se ingrato, Um manto de cinza por cima da serra E o sol no Nordeste nos mostra o retrato De um bolo de sangue nascendo da terra. Porém, quando chove, tudo é riso e festa, O campo e a floresta prometem fartura, Escutam-se as notas agudas e graves Do canto das aves louvando a natura. Alegre esvoaça e gargalha o jacu, Apita o nambu e geme a juriti E a brisa farfalha por entre as verduras, Beijando os primores do meu Cariri. De noite notamos as graças eternas Nas lindas lanternas de mil vaga-lumes. Na copa da mata os ramos embalam E as flores exalam suaves perfumes. Se o dia desponta, que doce harmonia! A gente aprecia o mais belo compasso. Além do balido das mansas ovelhas, Enxames de abelhas zumbindo no espaço. E o forte caboclo da sua palhoça, No rumo da roça, de marcha apressada Vai cheio de vida sorrindo, contente, Lançar a semente na terra molhada. Das mãos deste bravo caboclo roceiro Fiel, prazenteiro, modesto e feliz, É que o ouro branco sai para o processo Fazer o progresso de nosso país.

Marlene Bergamo/Folhapress

ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 55-56.

Patativa do Assaré Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, nasceu em 5 de março de 1909, em um sítio que ficava a três léguas da cidade de Assaré. Ficou órfão com 8 anos de idade e teve de trabalhar muito para sustentar os irmãos mais novos. Ouviu pela primeira vez alguém lendo um folheto de cordel quando tinha 10 anos. Com 12 anos, começou a frequentar a escola, onde aprendeu a ler e a usar os livros: “com essa prática de ler, eu pude obter tudo”. Publicou vários livros e gravou vários discos, recebendo inúmeras homenagens. Morreu em 8 de julho de 2002.

8º ano

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1. O poema “Dois quadros”, como o título sugere, apresenta duas paisagens distintas do Nordeste brasileiro. a) Quais são os dois quadros do Nordeste descritos no poema? b) A partir de que estrofe começa a descrição do segundo quadro? c) A primeira e a segunda partes, quando confrontadas, formam uma antítese. Por quê? 2. Até a quinta estrofe, as rimas seguem o esquema a b a b. a) Que mudança ocorre da sexta estrofe até a última? b) A mudança no esquema de rimas coincide com qual outra mudança ocorrida no poema? 3. A palavra “farrapo”, no primeiro verso da segunda estrofe, está no sentido figurado. No poema,

“farrapo” não é pedaço de pano, mas pedaço de nuvem. Essa imagem (farrapo de nuvem) intensifica o quadro de “seca inclemente”? Justifique sua resposta. 4. No último verso da quinta estrofe, há uma metáfora: “bolo de sangue nascendo da terra”. Vimos

que ocorre metáfora quando um termo é substituído por outro em razão de algum ponto de contato, de alguma semelhança entre eles. a) O que “bolo de sangue” está substituindo no texto? b) Ao fazer essa comparação com “bolo de sangue”, o que o poeta está destacando para o leitor? 5. Sublinhe o verso que, em sua opinião, traduz melhor a época de chuva no sertão. Justifique oral-

mente sua resposta. 6. Na oitava estrofe, há uma metáfora das estrelas do céu. As estrelas para Patativa são: “lindas lan-

ternas de mil vaga-lumes.” Você acha que essa metáfora embelezou a noite descrita? Por quê? 7. “É que o ouro branco sai para o processo” é um verso que aparece na última estrofe do poema. A

que o poeta pode estar se referindo quando escreve “ouro branco”? Leia o poema a seguir e responda às questões de 8 a 13. O açúcar O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por acaso no regaço do vale.

Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim.

Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome aos vinte e sete anos plantaram e colheram a cana que viraria açúcar.

Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.

Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina. 38

Língua Portuguesa

GULLAR, Ferreira. Toda poesia: 1950-1999. 11. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2001. p. 165.


Ana Carolina Fernandes/Folhapress

Ferreira Gullar Ferreira Gullar nasceu em 1930, em São Luís do Maranhão. Publicou seu primeiro livro, Um pouco acima do chão, em 1949. Em 1951, foi morar no Rio de Janeiro e, em 1962, entrou para o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes. Trabalhou como jornalista e, por causa de seu engajamento político, foi perseguido pela ditadura militar em 1971. No exílio, em 1976, publicou seu texto mais conhecido, Poema sujo. Voltou a residir no Brasil em 1977. Ferreira Gullar é hoje um dos mais respeitados escritores brasileiros ainda em atividade.

8. “O açúcar”, de Ferreira Gullar, é um poema formado por seis estrofes. Os versos são livres, isto é,

variam de tamanho e não têm um esquema rígido de rimas. Mesmo assim, o texto tem ritmo, é cadenciado. Comente a maneira como o poeta organizou os versos da última estrofe. 9. Ainda em relação à última estrofe, responda: a) Que palavras constituem antíteses? b) Que ideia essas antíteses criam no poema? 10. No texto, o “dono da mercearia” e os “donos das usinas” contrastam com os “homens de vida

amarga, que não sabem ler e morrem de fome aos vinte e sete anos”. a) Pense no contraste que existe entre os “donos” e os “homens de vida amarga”. Qual é a diferen-

ça marcante entre esses dois lados? b) O modo como o poeta escreve sobre os proprietários e os trabalhadores do campo revela que

ele tem uma posição diante do assunto tratado? Explique sua resposta. 11. O título “Dois quadros”, do poema de Patativa do Assaré, preparava o leitor para conhecer duas

paisagens distintas do Nordeste brasileiro. Você acha que o título do texto de Ferreira Gullar – “O açúcar” – ajuda o leitor a antecipar o tema que vai ser tratado no texto? Justifique sua resposta. 12. Em sua opinião, qual era a intenção de Ferreira Gullar ao escrever sobre a situação dos trabalha-

dores que plantam e colhem cana-de-açúcar? 13. Compare a última estrofe do poema de Patativa do Assaré com a última estrofe do poema de Fer-

reira Gullar. Cada poeta expõe sua visão particular sobre os homens que trabalham na produção do açúcar. Escreva um pequeno texto expondo as diferenças entre uma e outra visão.

MOMENTO DA ESCRITA

Poemas são escritos para despertar nos leitores emoções e pensamentos. Vimos neste capítulo como os poemas são escritos e como podemos construir sentidos, observando detalhes e lendo o que está por trás das palavras. Escreva livremente sobre o que aprendeu sobre poesia neste capítulo. O que você achou mais interessante na leitura e na análise dos poemas estudados? A poesia nos ajuda a pensar o mundo e a vida de maneira diferente? A linguagem poética é muito diferente da linguagem do dia a dia? Depois de pronto, leia seu texto para a turma. 8º ano

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ARTE E EXPRESSÃO UM SARAU PARA POETAS E POEMAS Você já participou de algum sarau, isto é, de um evento festivo em que são recitados e discutidos textos literários? Nossa proposta é que você e seus colegas de classe organizem um evento para declamar e comentar poemas. Veja como você e sua turma podem organizá-lo: • Combinem com seu professor um dia para você e seus colegas consul• •

tarem livros de poesia de vários autores. Cada estudante escolherá um poema para ler na noite do sarau. Vocês contarão com a ajuda de seu professor para preparar a leitura do poema. É importante que você estude o texto: procure no dicionário as palavras desconhecidas; observe a sonoridade do poema; procure descobrir o melhor ritmo para a leitura. Quem quiser pode recitar o poema de memória. Marquem o dia do sarau e não se esqueçam de convidar outros estudantes e professores para esse dia festivo. Nada impede que haja comida e bebida para serem partilhadas no final da festa. Antes de recitar os textos, é importante que os recitadores expliquem de quem é o poema que será recitado. Também é importante que revelem o que motivou a escolha do poema.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS Para conhecer outras obras poéticas de autores que escrevem em português, vale a pena ler os livros a seguir.

Livros

Antologia poética MELO NETO, João Cabral de. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

Lírica CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Edusp, 1982.

Obra poética PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

Poesia completa ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

Poesia completa BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

Poesia reunida PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Arx, 1991.

Seleta em prosa e verso BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.

Toda poesia GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

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Língua Portuguesa


Capítulo

3

LÍNGUA PORTUGUESA

A escola pesquisa o mundo

F

Bill Watterson Bill Watterson, nascido em 5 de julho de 1958, é o cartunista estadunidense que criou as personagens Calvin e Haroldo. Calvin é um garoto esperto que tem 6 anos de idade e um tigre como amigo (Haroldo), que para outras pessoas é apenas um bicho de pelúcia. As vivências desses dois amigos foram publicadas em vários jornais espalhados pelo mundo inteiro. Mesmo depois de Bill Watterson ter deixado de criar histórias com suas duas personagens mais famosas, as tirinhas continuam a ser publicadas em vários jornais.

The Plain Dealer, C.H. Pete Copeland/AP Photo/Glow Images

Calvin & Hobbes, Bill Watterson © 2002 Watterson/Dist. by Universal Uclick

azer pesquisas é uma atividade recorrente na escola. Os professores propõem aos estudantes aprofundamentos em diferentes temas, para compreender mais o mundo em que vivemos. Neste capítulo, vamos falar mais sobre pesquisa − como desenvolvê-la − e sobre duas estratégias de estudo − fazer esquemas e resumos. Para começar esse mergulho no universo da pesquisa e dos estudos, converse com seus colegas sobre a tirinha do cartunista americano Bill Watterson.

RODA DE CONVERSA I

Converse com seus colegas sobre a tirinha de Calvin e Haroldo. Respondam às questões a seguir. 1. O que aconteceu para que a garotinha que aparece no último quadrinho ficasse tão nervosa? 2. No penúltimo quadrinho, Calvin diz que nem desconfia por que deram ao planeta o nome do

herói romano. Como ele poderia resolver a dúvida? 3. Que relação você pode apontar entre a tira e os objetivos deste capítulo?

8º ano

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4. Em sua opinião, o que significa pesquisar? 5. Você acha que suas experiências de vida podem se transformar em fontes de ideias na hora de

fazer uma pesquisa sobre um assunto? Por quê?

O QUE É PESQUISA? COMO É PESQUISAR NA ESCOLA? A palavra “pesquisa” vem do latim perquiro, que significa: “buscar com cuidado”, “procurar por toda parte”, “indagar profundamente, aprofundar”. Esses sentidos permitem-nos afirmar que, ao buscar compreender com mais profundidade temas do mundo que nos cerca, pesquisamos. Assuntos que emergem dos conteúdos das disciplinas na escola, as ideias e os acontecimentos no mundo que despertam admiração, interesse, dúvidas, assombro, consternação, podem ser objeto de pesquisa. O pesquisador – seja um estudante, seja ou um cientista – faz perguntas (“por quê?”, “como?”, “quando?”, “onde?”, “quais os efeitos gerados?” etc.) sobre um tema a ser investigado. Formular perguntas sobre o que se quer pesquisar direciona e define o passo a passo da pesquisa. Em outras palavras, um pesquisador é movido por objetivos ou metas, pelo conjunto de perguntas que pretende responder. Também em nossa vida cotidiana nos deparamos com situações em que atuamos como verdadeiros pesquisadores. Ao buscar informações sobre o trajeto de um ônibus, ao pesquisar preços de um produto, ao buscar informações sobre um tempero, ao procurar o sentido de uma palavra no dicionário, ao buscar em jornais mais detalhes sobre um fato, a pesquisa funde-se com a vida. Por isso, há tipos diferentes de pesquisa. Se ela for realizada sem critérios rígidos de processamento de informações, será informal. Se for realizada de forma planejada, com o estudo de diversas fontes de informação e organização de dados, será científica. Se for realizada por tentativa e erro, será empírica. Se se debruçar sobre fontes históricas, será histórica. Se confrontar dados, será comparativa, e assim por diante... Entrevistas com pessoas (especialistas ou não), estudo de fontes bibliográficas (jornais, revistas, obras de referência, livros), experimentos na natureza ou em laboratórios são alguns exemplos de métodos de pesquisa. Na escola, frequentemente as pesquisas exigem do estudante que busquem referências bibliográficas e informações sobre determinado tema. Em geral, é preciso estudar o material selecionado, produzir textos e expor o que se aprendeu. Em outras palavras, pôr em prática procedimentos de estudo como sublinhar, fazer fichamentos e resumos, anotar informações importantes, preparar apresentações para um público que pode ser formado por estudantes ou não. 42

Língua Portuguesa


RODA DE CONVERSA II

Converse com seus colegas sobre as questões a seguir: 1. Muitas coisas que acontecem no mundo despertam interesse, dúvida, revolta, admiração. Faça

uma lista dos temas que você teria interesse em pesquisar. 2. Considerando os temas que você listou na questão anterior, pense e escreva duas perguntas que

você faria para começar uma pesquisa sobre um deles. 3. Você se lembra de ter realizado alguma pesquisa na escola? Lembra qual tema foi pesquisado?

Como obteve as informações de que precisava? Foi difícil estudar as fontes selecionadas? O que você aprendeu com a pesquisa?

OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA Os assuntos ou temas de uma pesquisa escolar em geral estão relacionados aos conteúdos das matérias. Na escola, pesquisamos sobre a realidade brasileira e sua história, sobre o funcionamento do corpo, sobre os problemas da vida em sociedade, sobre as artes e literatura, entre outros assuntos. No entanto, entre o tema da pesquisa e sua conclusão há um longo percurso a ser trilhado. Para iniciar esse percurso, é fundamental estabelecer um foco de investigação. Depois, é preciso buscar e selecionar fontes de dados e informação, bem como estudá-las. É preciso produzir textos escritos sobre o que foi descoberto e também apresentar os resultados da pesquisa. Tudo isso dentro de um prazo que na maioria das vezes é curto. Mas, como diz o provérbio, uma longa caminhada começa com o primeiro passo. Vamos a ele... Como você leu, em uma pesquisa é fundamental estabelecer um foco, ou seja, estabelecer objetivos e metas. Temas amplos, sem especificar o que exatamente se pretende pesquisar, são difíceis de investigar, de fazer aprofundamentos. Em muitos casos, é necessário fazer um recorte do tema, para assegurar qual parte dele, qual problema será efetivamente pesquisado. Imagine, por exemplo, que você tenha de pesquisar sobre “a linguagem dos meios de comunicação”. Esse tema, muito instigante, sem dúvida, precisa ser recortado, pois é tão amplo e tem tantas possibilidades de ser desenvolvido que uma vida inteira não seria suficiente para investigá-lo. Há milhares de estudos sobre a linguagem dos meios de comunicação e, sem um “problema de pesquisa”, sem “recortar o tema”, seria difícil a pesquisa avançar. O recorte ou problema a ser pesquisado pode ser pensado com base em experiências pessoais, em um desejo de saber mais sobre algum aspecto do tema apresentado. Questões como “o que desejo saber sobre esse tema?”, “o que pretendo aprofundar?” podem ajudar no recorte. De fato, as respostas a essas duas questões ajudam a estabelecer uma meta, um alvo, o que é decisivo para os passos posteriores. 8º ano

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Além de definir objetivos, é importante explicar os motivos que levaram a eles, isto é, escrever uma justificativa. Justificar o recorte do tema é uma maneira de explicitar, esclarecer suas intenções com a pesquisa. A justificativa vai mostrar qual é a importância de seu trabalho. Vamos voltar ao tema citado anteriormente (“A linguagem dos meios de comunicação”) e colocar em prática os primeiros passos: recorte, objetivos e justificativa.

Algumas dicas: 1) O excesso de informação disponível a respeito de um tema pode dificultar a seleção do material de pesquisa, não significando necessariamente produção de um bom trabalho. 2) O processo de pesquisa é dinâmico e o pesquisador, mesmo que tenha clareza do objeto de pesquisa, pode, caso queira ou se for necessário, reformulá-lo. 3) Evite formular questões amplas demais que dificilmente podem ser respondidas em uma pesquisa que tem data para terminar.

Tema proposto: “A linguagem dos meios de comunicação” Recorte do tema (O que desejo saber sobre esse tema?): Entre os meios de comunicação, a televisão é o que desperta em mim o maior interesse. É um meio de comunicação que reúne linguagens visual e verbal. Graças à grande variedade de programas que veicula, atinge diferentes públicos e está em quase todos os lares brasileiros. É acusada por alguns de disseminar e incentivar, por meio de programas e notícias, a violência no mundo. Também é vista como uma das responsáveis por afastar o público jovem da leitura. Por outro lado, há pessoas que não atribuem à televisão as causas das coisas. Ela é um meio pelo qual as coisas, os fatos, as transformações chegam ao público em geral; ela apenas reflete o que acontece no mundo. Seria interessante verificar como a televisão integra os recursos da linguagem visual e verbal para atingir diferentes públicos, e levantar aspectos considerados positivos e negativos desse veículo de comunicação. Para isso, três programas de TV aberta – de preferência da emissora que detém a maior audiência – poderiam ser analisados: um do período da manhã, outro veiculado no período da tarde, e outro à noite. Dessa forma, seria possível ter uma amostra de como é a linguagem da TV em programas direcionados a diferentes públicos. Objetivos (O que pretendo aprofundar?): • Quando, onde e como as transmissões de TV começaram a ser feitas em larga escala? • Quem define a programação de uma emissora de televisão? • Os programas de TV são diferentes porque são voltados para públicos diferentes? • Quem avalia a qualidade dos programas de TV? Como avaliar a qualidade de um programa de TV? • É possível levantar aspectos positivos ou negativos no hábito de ver TV? • O que atrai mais o público televisivo: a linguagem visual ou a verbal? Ambas as linguagens? A linguagem pode variar de emissora para emissora? Por quê? • A linguagem de alguns programas de TV é muito diferente da que ouvimos nas ruas? 44

Língua Portuguesa


• Quem se beneficia mais com os números de audiência? Por quê? • Quais são as características dos programas de grande audiência? • Os conteúdos dos programas de TV influenciam a formação das pes-

soas? A TV é só um veículo que transmite as opiniões que já circulam no mundo? Ou podem acontecer as duas coisas ao mesmo tempo?

Justificativa: Quando falamos em meios de comunicação, referimo-nos a jornais, revistas, rádio, televisão, internet etc. Desses meios, a televisão está presente na maioria dos lares dos brasileiros, como forma de lazer e de obter informações sobre o que acontece em nosso país e no mundo. Diariamente, crianças, jovens e adultos passam muitas horas diante de um televisor. Assim, é de máxima importância estudar mais a fundo as características da linguagem (visual e verbal) que atinge e entretém milhões de pessoas. A TV é causa de alguma coisa? Ela incentiva por meio de programas e notícias, por exemplo, a violência no mundo? Ou ela é meio pelo qual as coisas, as transformações, os fatos chegam aos indivíduos? Analisando as características da linguagem de diferentes programas de grande audiência, e verificando como técnicas persuasivas de linguagem influenciam o comportamento das pessoas, poderemos, com nossa pesquisa, saber as características da linguagem da televisão, um importante meio de comunicação. APLICAR CONHECIMENTOS

Agora é a sua vez... No exercício a seguir, junto com um colega, para cada tema apresentado, vocês vão fazer um recorte, elaborar perguntas que possam nortear a pesquisa e escrever uma justificativa. Vocês podem basear-se no exemplo anterior. Tema 1: Trabalho e emprego no Brasil Recorte do tema (O que desejo saber sobre esse tema?):

Objetivos (O que pretendo aprofundar?):

Justificativas:

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Tema 2: Água um recurso natural indispensável para a manutenção da vida Recorte do tema (O que desejo saber sobre esse tema?):

Objetivos (O que pretendo aprofundar?):

Justificativas:

LER TEXTO PARA APROFUNDAMENTO

O texto que você vai ler foi retirado do livro Planejamento de pesquisa: uma introdução, de Sergio Vasconcelos de Luna. Nesse livro, é possível encontrar algumas sugestões para vencer os principais problemas que envolvem uma pesquisa escolar ou acadêmica. Mas, antes de ler o texto, responda: 1. Além de recortar o tema, definir objetivos e escrever justificativa, o que mais, em sua opinião,

deve ser considerado básico em uma pesquisa? 2. Onde você buscaria informações sobre os temas que foram propostos no exercício anterior? 3. Você acha que programas de áudio e vídeo, entrevistas, observação direta de fenômenos e situa-

ções sociais, levantamentos estatísticos podem ser fontes de informação para a realização de uma pesquisa? Por quê? Depois de discutir as respostas com seus colegas, leia o texto a seguir: Os elementos básicos de uma pesquisa Qualquer que seja o referencial teórico ou a metodologia empregada, GLOSSÁRIO uma pesquisa implica o preenchimento destes e de outros requisitos: Metodologia: vem da palavra método, que significa 1. a formulação de um problema de pesquisa, isto é, de um caminho pelo qual se chega conjunto de perguntas a que se pretende responder e cujas respostas se a determinado resultado. mostrem novas e relevantes teórica e/ou socialmente; 2. a determinação para buscar as informações necessárias para encaminhar as respostas às perguntas feitas; 3. a seleção das melhores fontes dessas informações. Em relação ao requisito 1, um problema de pesquisa precisa existir, mesmo que sob a forma de uma mera curiosidade, para dirigir o trabalho de coleta de informações e, posteriormente, para organizá-las. 46

Língua Portuguesa


Os requisitos seguintes (2 e 3) dizem respeito à existência de um conjunto de passos que gerem informação relevante, isto é, o procedimento. Não vejo como uma pesquisa possa dispensar procedimentos, e a razão para isso é simples. Se o problema que gera a pesquisa não pode ser respondido diretamente (caso contrário não teríamos um problema!), isso significa que a realidade não pode ser apreendida diretamente, mas depende de um recorte dela que faça sentido. Esse recorte é garantido pelo procedimento que seleciona as informações necessárias para uma leitura pelo pesquisador. Diferentes tendências farão recortes diferentes, mas não poderão prescindir de procedimentos de coleta de informações. LUNA, Sergio Vasconcelos de. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2011. p. 17 -19. (Texto adaptado.)

4. Dos três requisitos apresentados, qual, em sua opinião, exigirá mais tempo do pesquisador? Por quê? 5. Qual é a razão apontada pelo autor do texto para uma pesquisa precisar de procedimentos, ou

seja, de algumas ações específicas por parte de quem pesquisa? 6. O texto apresenta três requisitos necessários para uma pesquisa, mas sugere que há outros. Quais,

em sua opinião, seriam outros requisitos necessários? 7. O autor fala em “procedimentos de coleta de informação”. O que poderiam ser esses procedimentos? 8. Você acha que estratégias de estudo (grifar, sublinhar e fichar textos) podem ajudar em uma pes-

quisa? De que forma?

ESTUDAR AS FONTES Uma etapa muito importante na pesquisa é a de ler e interpretar as fontes encontradas. Repare que a palavra destacada foi escrita no plural. Isso significa que, em geral, para realizar uma pesquisa escolar, é imprescindível consultar mais de uma fonte. Obras de referência, reportagens de revistas e de jornais, entrevistas, vídeos etc. são fontes que podem apresentar informações diferentes ou complementares sobre um tema. Quanto mais variada a procedência das fontes, mais garantida a quantidade de informações. Com o material de pesquisa selecionado, é preciso olhar tudo com cuidado. É importante frisar que cada material requer estratégias diferentes de análise. Em relação aos textos escritos, é preciso estudá-los em profundidade, aplicando estratégias de estudo, como grifar, fazer fichamentos, esquemas e resumos. Em uma pesquisa, um texto para ser lido é um texto para ser estudado ou interpretado. Se lemos um texto sem atenção ou curiosidade, se desistimos da leitura quando encontramos a primeira dificuldade, não é possível fazer o que pode ser considerado o passo mais importante: a interpretação das informações. Vamos conhecer agora algumas estratégias de estudo. Imagine que você quisesse pesquisar sobre o tema “Água: um recurso natural indispensável para a manutenção da vida”, e que, depois de recortar o tema, formular questões e escrever uma justificativa, tivesse encontrado os dois textos a seguir. 8º ano

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LER FONTE SELECIONADA I

Leia atentamente o texto a seguir e faça as atividades propostas.

A água que não podemos dispensar Colunista apresenta aspectos físicos e químicos dessa substância essencial para a vida no planeta

Em algumas regiões do Brasil, na época do inverno, ficamos várias semanas, ou até meses, sem chuvas. Nas grandes cidades, como São Paulo, onde existe muita poluição atmosférica, a falta de chuva provoca vários problemas, principalmente para as pessoas que têm alguma deficiência respiratória. A chuva ajuda a dissipar os poluentes que estão em suspensão no ar. Quando ela cai, deixa o ar mais agradável para se respirar. A falta de chuva também pode acarretar outros tipos de problemas. Longos períodos de estiagem podem causar escassez de alimentos e problemas na geração de energia elétrica, como os que ocorreram no Brasil em 2002. Isso porque grande parte da energia elétrica utilizada no país é produzida em usinas hidrelétricas. Rios são represados por gigantescas barragens, por onde a água acumulada desce e movimenta as turbinas das usinas, produzindo, assim, eletricidade. A presença de chuvas foi fundamental para o surgimento da vida na Terra. Os oceanos e rios foram formados bilhões de anos atrás, quando a temperatura do nosso planeta diminuiu e permitiu a condensação das moléculas de água. Acredita-se também que grande parte da água do nosso planeta venha do espaço, a partir da queda de diversos cometas. Água como fonte da vida

Lotophagi/Dreamstime.com

Somente quando a água se estabeleceu na forma líquida é que surgiram as condições para o aparecimento da vida. Não conhecemos formas de vida complexas que possam existir sem a presença da água. Onde há água, geralmente, existe vida. A procura por água em outros planetas, em particular em Marte, é motivada justamente pela relação que existe entre água e vida. Resultados recentes parecem confirmar que Marte já teve grandes extensões de água em um passado remoto. Hoje, Marte é um planeta seco e deserto e a água (se é que de fato ainda existe A presença de água na forma líquida é condição fundamental para a existência da vida. lá) se esconde em míseras quantidades abaixo do solo. A baixa pressão atmosférica de Marte não permite que a água permaneça no estado líquido em sua superfície. Além de Marte – e obviamente da Terra –, um dos satélites de Júpiter, chamado Europa, pode abrigar água. Há indicações da presença de um oceano abaixo de uma camada de gelo de quilômetros de espessura. 48

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Renato Granieri/Alamy/Other Images

Embora a água seja tão importante para os organismos Molécula de água vivos, sua estrutura molecular é muito simples. Ela é composta por apenas dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, representados pela fórmula H2O. Sua estrutura lembra um “V” aberto, com o átomo de oxigênio no vértice e os átomos de hidrogênio nas pontas. A ligação química que dá essa forma para a molécula de água é conhecida como covalente polar. Essa estrutura transforma a água em uma molécula polar, ou seja, ela é carregada positivamente próximo aos átomos de hidrogênio e negativamente perto do átomo de oxigênio. A molécula de água lembra um “V”, com um átomo de oxigênio no vértice ligado Como tanto o hidrogênio quanto o oxigênio são átomos a dois de hidrogênio nas pontas. Essa pequenos, a molécula de água torna-se muito leve. Mas, devido ao estrutura faz da água uma molécula polar, carregada positivamente próximo aos seu tipo de ligação química, a água se apresenta na forma líquida em átomos de hidrogênio e negativamente temperatura ambiente. Se outro tipo de ligação unisse os átomos perto do átomo de oxigênio. da água, ela se apresentaria como um gás e seria necessária uma temperatura muito baixa para que ela se liquefizesse. A estrutura da molécula de água permite também que, quando congelada, ela apresente um comportamento diferente do da grande maioria das substâncias. Ao se congelar qualquer líquido, as moléculas que o compõem ficam mais próximas umas das outras. Como consequência, seu volume diminui e sua densidade (a razão da massa pelo volume) aumenta. Com a água, porém, acontece exatamente o oposto. Quando ela é resfriada a uma temperatura inferior a 4 °C, sua densidade diminui ao invés de aumentar. Isso acontece porque suas moléculas se afastam umas das outras, aumentando seu volume.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

A simplicidade e a beleza da água

Navio atravessa mar repleto de gelo na costa da Noruega, 2012. O gelo flutua na água porque, quando congelada, essa substância tem sua densidade reduzida, ao contrário do que ocorre com a maior parte dos compostos. Esse fenômeno impede que um lago se congele completamente.

8º ano

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É essa característica praticamente exclusiva que faz com que o gelo flutue na água. Esse fenômeno, por exemplo, impede que um lago se congele completamente. Se o gelo fosse mais denso do que a água, ele se formaria na superfície e afundaria, congelando totalmente o lago e extinguindo todas as formas de vida que ali existissem. Contudo, como o gelo é menos denso do que a água, ao se formar, ele permanece na superfície e funciona como um isolante térmico (o que os esquimós já descobriram há muito tempo), fazendo com que a água abaixo da camada de gelo fique a uma temperatura maior que 0 °C. Outra característica física importante da água é sua grande capacidade térmica, isto é, seu potencial de armazenar energia fornecida na forma de calor. Qualquer pessoa que tenha aquecimento central de água em sua casa utiliza essa capacidade para distribuir uma grande quantidade de calor fazendo uso de pouca água. Como se pode ver, a água é sem dúvida um bem muito valioso para todos nós e para o nosso planeta. E embora estejamos acostumados a pagar pelo seu uso, ela é um bem que não tem preço. Basta lembrar como os nossos planetas vizinhos, onde não há mais água, se transformaram em lugares nem um pouco agradáveis para nós. OLIVEIRA, Adilson de. Ciência Hoje. Publicado em 18 jul. 2008, atualizado em 15 dez. 2009. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio/a-agua-que-nao-podemos-dispensar>. Acesso em: 21 set. 2012.

1. Numere os parágrafos do texto e divida-o em duas partes: a primeira é formada pelos parágrafos

que mostram que a água é fonte de vida e é indispensável para sua manutenção; a segunda, pelos parágrafos que apresentam as características da água. 2. Complete o diagrama. Por que a água é indispensável para a vida?

3. Qual expressão, no parágrafo 2, indica ao leitor que o autor vai apresentar outros problemas cau-

sados pela falta de chuva? 4. No parágrafo 5, o autor mostra por que os cientistas procuram água em outros planetas. Qual é a

razão apresentada? Justifique sua resposta transcrevendo um trecho do parágrafo. 5. Na segunda parte do texto, o autor apresenta algumas características da água. Complete o diagra-

ma com informações que estão faltando. 50

Língua Portuguesa


Estrutura molecular simples – H2O Molécula polar Molécula leve

Características da água

6. Complete o diagrama-síntese do texto com as informações que estão faltando. Ajuda a dissipar os poluentes que estão em suspensão no ar Estiagem pode causar escassez de alimentos

A água é indispensável

A água que não podemos dispensar

Água como fonte de vida

Onde há água, geralmente existe vida Água em outros planetas

continua... 8º ano

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...continuação Estrutura molecular simples – H2O Molécula polar Molécula leve

Características da água

ESTRATÉGIA DE ESTUDO: FAZER ESQUEMAS O esquema é composto de palavras-chave, ou frases muito significativas para a compreensão de um texto. A representação simplificada do esquema permite a fixação das informações que são apresentadas. Para elaborar um esquema, é necessário localizar a palavra ou frase importante (vale também considerar os subtítulos que eventualmente aparecem no texto). Ao lado dela, faça uma chave ou uma seta para inserir outras palavras ou frases que se relacionam a ela. Se houver outros desdobramentos de ideias, é necessário usar novas chaves ou setas. Observe que, no exercício anterior, você completou um esquema do texto de Adilson de Oliveira. Note que, no lado esquerdo do primeiro quadro, escrevemos o título do texto; depois, as três setas que são puxadas do título nos levam a quadros em que estão escritos os subtítulos; de cada subtítulo saem setas que chegam a quadros em que escrevemos as ideias mais significativas de cada parte. O esquema é uma estratégia que permite a você visualizar articulações entre os diversos elementos.

LER FONTE SELECIONADA II

Você vai ler agora o texto “Conservação da água e de sua qualidade”. Nele você vai encontrar novas informações sobre o tema “Água: um recurso natural indispensável para a manutenção da 52

Língua Portuguesa


vida”. Leia o texto pelo menos duas vezes. A primeira vez é para conhecê-lo e a segunda, para grifar as ideias importantes. Conservação da água e de sua qualidade

As águas constituem um bem natural e um recurso renovável. Veja a seguir o que isso significa.

As águas e a natureza viva

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A água é um bem natural por representar um elemento da natureza indispensável à vida de todos os seres, aquáticos ou terrestres. Além de constituir o ambiente natural dos organismos marinhos e de água doce, a água compõe parte significativa das células de todos os seres vivos e participa de todos os processos de transporte de alimentos no interior dos organismos, bem como da formação de sangue, da seiva e de outros componentes líquidos dos animais e vegetais. Em relação às aves e aos mamíferos, desempenha, ainda, papel importante na manutenção de sua temperatura. Finalmente, constitui o regulador essencial do clima de toda a Terra. Pode-se afirmar que todos os ecossistemas terrestres existem em função das estações das águas, estando a alimentação e a reprodução dos animais e vegetais estritamente relacionadas às épocas de chuvas e de seca, de modo que esse ciclo representa a razão principal da existência das fases de vida das diferentes espécies. As principais adaptações que permitem a este ou àquele ser viver em tal e qual região da Terra estão associadas à obtenção de água (ou de alimento, o que resulta na mesma coisa, uma vez que o alimento é constituído de outros seres vivos, dependentes desse mesmo ciclo). As próprias etapas de vida intervêm no ciclo das águas. A evapotranspiração – isto é, a soma da água evaporada diretamente das superfícies úmidas e do vapor eliminado pelas folhas através do fenômeno da transpiração – constitui a causa da formação da umidade atmosférica, das nuvens e, finalmente, das chuvas. Nas regiões de grande densidade de vegetação, como na Floresta Amazônica, a transpiração por meio das folhas chega a representar 50% do volume de água transferido dos solos para a atmosfera. Esse processo, portanto, garante a regularidade das chuvas e a constância da umidade atmosférica nas regiões tropicais. A destruição de florestas poderia, por conseguinte, alterar significativamente o período das águas e o clima em certas regiões da Terra, o que traria, por sua vez, consequências drásticas aos próprios ciclos de vida. Mesmo para os próprios organismos marinhos, permanentemente submersos, a salinidade da água representa importante fator de seleção e adaptação. Em diferentes pontos do oceano, a salinidade depende das chuvas e da quantidade de água doce, que, lançada pelos rios, exerce seu papel diluidor. Sendo assim, a alteração dos ciclos hidrológicos pode interferir nas características do ambiente marinho e dos seus ecossistemas. Recurso natural renovável

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7

Quando determinado elemento adquire utilidade para o homem, dizemos que ele constitui um recurso, isto é, uma fonte de utilidades. Se provém da própria natureza, ele passa a ser considerado recurso natural. Os recursos naturais podem ser não renováveis – como é o caso do petróleo, do carvão mineral, dos metais etc. – quando, uma vez utilizados, não são substituídos em sua fonte, ou seja, tendem a se esgotar na natureza. Outros, porém, podem ser renovados. Temos como exemplo os vegetais, cortados para a produção de lenha, de matérias-primas ou de 8º ano

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alimentos, que podem renovar-se, rebrotando ou crescendo a partir de sementes deixadas no solo. Os cardumes de peixes são outro exemplo, pois, embora muito consumidos pelo ser humano, reproduzem-se continuamente, restabelecendo os estoques de pescado. A água constitui um caso particular de recurso renovável. Qualquer que seja o seu uso, no final ela é restituída ao ambiente, retornando à sua origem. Quando fervida em uma caldeira, para geração de energia termoelétrica, é devolvida ao ar e aos ciclos naturais, depois de realizar o seu trabalho. Da mesma forma, a água que faz girar uma turbina, depois de gerar energia hidrelétrica, retorna ao rio seguindo seu curso natural em direção ao oceano. Finalmente, a que é usada na irrigação das plantações retorna através da evapotranspiração, e a empregada no abastecimento das cidades é devolvida na forma de esgotos líquidos. Por conseguinte, a quantidade de água existente na natureza terrestre é constante: ela não se perde. Porém, sua distribuição no tempo e no espaço pode ser alterada em virtude da periodicidade das chuvas e de outros fenômenos que deformam o ciclo hidrológico normal. Isso pode ocorrer em consequência de fenômenos naturais, como as mudanças de clima em razão de alterações, cíclicas ou não, da trajetória da Terra no espaço ou do próprio deslocamento dos continentes sobre o planeta. Essas mudanças podem, também, ser o resultado das ações do homem. Vastas regiões da Terra, que já foram povoadas por densas florestas, hoje são ocupadas por savanas, de vegetação rarefeita, ou mesmo desertos, devido às modificações naturais no ciclo das chuvas. Outras grandes alterações foram causadas pelo próprio homem ao interferir nos fenômenos de evapotranspiração ou ao desviar os rios de seu curso natural. A utilização da água pelo homem muitas vezes exige a alteração do regime de escoamento dos rios, de modo que seja possível a manutenção de vazões constantes durante todo o ano. Caso contrário, as cidades disporiam de água para abastecimento e irrigação somente nas estações de chuvas. O próprio fornecimento de luz e energia não pode sofrer interrupções ou modificações durante o ano, de acordo com as fases do ciclo hidrológico natural. Além disso, um escoamento regular é importante para impedir a inundação das cidades durante a época de cheias. Essa regularização das vazões de determinado rio, para que seja possível o emprego racional da água, é obtida por meio de construção de barragens. BRANCO, Samuel Murgel. Água: origem, uso e preservação. São Paulo: Moderna, 2003. p. 87-90.

As questões a seguir são para colher suas primeiras impressões sobre o texto lido. Comente suas respostas com seu professor e os colegas. 1. Na primeira parte do texto, o autor mostra que a água é um bem natural indispensável à vida de

todos os seres. Sublinhe as informações que indicam essa informação. 2. Qual é a definição de evapotranspiração que aparece no texto? 3. Os oceanos precisam de chuva? Por quê? 4. O que é um recurso natural? 5. Por que a água é um caso particular de recurso renovável? 6. A quantidade de água que existe na Terra varia? Explique sua resposta. 7. O que pode afetar a distribuição da água no tempo e no espaço? 8. O texto “Conservação da água e de sua qualidade” está dividido em duas partes. É fácil identificá-las,

pois o autor dá um título a cada uma: “As águas e a natureza viva” e “Recurso natural renovável”. Para visualizar a maneira como o autor organiza e desenvolve suas ideias, vamos completar o esquema: 54

Língua Portuguesa


Ambiente natural dos organismos marinhos e de água doce

Indispensável à vida de todos os seres humanos

Evapotranspiração

As águas e a natureza viva

Renovável Água

Recurso natural renovável

A distribuição pode ser alterada

A água existente na natureza terrestre é constante

Fenômenos naturais Ações do homem

Utilização das águas

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ESTRATÉGIA DE ESTUDO: RESUMO Fazer resumos é uma excelente forma de estudar em profundidade. Em um resumo, condensamos fielmente as ideias ou os fatos contidos em um texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial, sem perder de vista três elementos: a) cada uma das partes essenciais do texto; b) a progressão em que elas se sucedem; c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes. FIORIN, José Luiz; PLATÃO, Francisco. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1991.

Sem compreender o sentido global do texto, é quase impossível fazer um bom resumo. Ao mesmo tempo, ao elaborar um resumo, vamos compreendendo melhor o texto. Uma coisa leva à outra. Resumir é mais do que copiar alguns trechos e pular outros. Também não é copiar o começo de cada parágrafo. É fundamental, para realizar um resumo, observar o título e os subtítulos (quando aparecerem). Se o texto for curto, convém numerar os parágrafos e estabelecer blocos de ideias que tenham unidade de significação, ou seja, convém indicar que aspecto de determinado assunto está sendo abordado e quando se passa a outro aspecto. Só depois de identificar esses blocos de ideias, é que convém elaborar o resumo, que deve ser escrito com suas próprias palavras. Para fazer um resumo, sugerimos:

• Ler uma vez o texto ininterruptamente, do começo ao fim. Sem ter noção do conjunto, é mais difícil entender o significado preciso de cada uma das partes. Essa primeira leitura deve ser feita com a preocupação de responder genericamente à pergunta: “do que trata o texto?”. • Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com interrupções, com lápis na mão, para destacar ideias, para compreender melhor o significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e para captar o sentido de frases mais complexas (longas, com inversões, com elementos ocultos). Observe as palavras que dão coesão ao texto (assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá etc.). • Num terceiro momento, tentar fazer um esquema do texto, considerando os subtítulos ou a divisão em blocos de ideias que tenham alguma unidade de significação. • Escrever o resumo com suas palavras, procurando explicitar a lógica dos blocos que você visualizou. O texto deve seguir a ordem das ideias como aparecem no texto. Deve também procurar estabelecer relações entre elas. Para que o resumo apresente uma unidade e mantenha fidelidade ao pensamento do autor, é importante observar como cada parte foi desenvolvida. FIORIN, José Luiz; PLATÃO, Francisco. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1991. (Texto adaptado.)

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MOMENTO DA ESCRITA

Considerando o esquema feito com base no texto “Conservação da água e de sua qualidade”, vamos escrever juntos um resumo para ele. Repare que na primeira parte do texto, ou seja, nos cinco primeiros parágrafos, que correspondem ao título “As águas e a natureza viva”, percebemos que o autor fornece várias informações que comprovam que a água é um recurso indispensável para a sobrevivência de todos os seres vivos. Na segunda parte do texto, que corresponde ao título “Recurso natural renovável” e vai do parágrafo 6 ao 10, podemos enxergar três blocos significativos: características da água, como a distribuição da água pode sofrer alteração e o que o homem faz para utilizar racionalmente a água. Consulte o esquema completo e complete o texto a seguir, que é um modelo de resumo. O texto “Conservação da água e de sua qualidade”, escrito por , trata da

. Ele está

dividido em duas partes. A primeira, que recebeu o título mostra que a água é um bem

, de muita importância para

todos os seres vivos, pois ela

. O autor mostra que todos os ecossistemas existem em função das estações das águas. Mostra também a causa da formação da umidade atmosférica, das nuvens e das chuvas, que é . Ainda na primeira parte, alerta que a alteração dos ciclos hidrológicos interfere . ,

Na segunda parte, intitulada o autor mostra que a água é

,

pois

.

A quantidade de água existente na natureza terrestre é

.

Mas isso não significa que a distribuição de água no tempo e no espaço não sofra alterações por causa

. 8º ano

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O autor termina o texto abordando um aspecto da utilização da água pelo homem. É comum que o homem altere . Só com a regularização das vazões é possível

.

Esquemas e resumos como os que você fez neste capítulo, com base nos textos que você estudou, são muito úteis. Estratégias assim permitem que você armazene informações de forma organizada e eficiente para quando precisar utilizá-las. Esses são registros úteis para que você possa empregar em diferentes situações, como discussões, seminários, produções de textos. Agora, imagine que você tenha sido convidado para escrever para um jornal da escola um artigo sobre o tema “Água: um recurso natural indispensável para a manutenção da vida”. A proposta que você recebeu dos editores do jornal foi a seguinte:

Prezado estudante, Tendo em vista todas as discussões nos últimos tempos sobre a disponibilidade e a qualidade da água, convidamos você a escrever um artigo sobre esse tema. Sabemos que a quantidade de água doce existente em nosso planeta é muito pequena, se comparada à quantidade de água salgada. Temos cerca de 95% de água salgada e menos de 3% de água doce. Podemos considerar essa situação preocupante se levarmos em conta a importância da água para a manutenção da vida dos seres vivos e lembrarmos que muitos rios espalhados pelo mundo inteiro estão morrendo envenenados por fertilizantes e pesticidas, por minérios, mercúrio, lixo urbano, esgotos domésticos e industriais etc. O que você tem a dizer sobre a água? Por que devemos preservá-la em quantidade e qualidade, para não colocarmos em risco a vida na Terra? Escreva-nos, para que publiquemos seu texto em nosso jornal. Atenciosamente, Editores do Jornal do Estudante

Consultando o quadro feito no início do capítulo, com recorte do tema, objetivos e justificativa, e recorrendo aos esquemas e resumo que você fez, redija um artigo que apresente o que você sabe sobre a água, destacando suas características e sua importância para a sobrevivência dos seres vivos. Siga estas orientações: • Organize seu texto em parágrafos. • Você pode iniciar seu texto contando alguma experiência de vida ou vivência relacionada ao tema da água. • Depois, consultando as fontes que estudou, você pode mostrar por que a água é indispensável para a manutenção da vida. 58

Língua Portuguesa


• Pode também falar das características da água e sobre o modo como o ser humano trata esse

recurso. • Por fim, você pode falar da beleza da água e da necessidade de o ser humano evitar desperdiçá-la, pois sem água não há vida. • Não deixe de fazer uma revisão no texto. Se achar necessário, seu professor poderá auxiliar você.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS Fichamento Livros

O que é fichamento? Para que serve o fichamento? Etapas e estratégias para elaborar um fichamento, modelos de fichamento são alguns dos tópicos trabalhados nesse livro. WEG, Rosana Morais. Fichamento. São Paulo: Paulistana Editora, 2006.

Resumo

O que é resumir? Como compreender um texto globalmente? Como localizar e explicitar as relações entre as ideias mais relevantes do texto? Como mencionar o autor do texto resumido? Essas questões são respondidas nesse livro. MACHADO, Anna Rachel (Coord.). Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

8º ano

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Capítulo

4

LÍNGUA PORTUGUESA

Atrás dos furos de reportagem

N

este capítulo, você vai estudar um gênero jornalístico: a reportagem. Ela está entre os principais gêneros de caráter informativo e possibilita a obtenção de novos saberes. Você vai investigar seus pontos de contato com a notícia e descobrir as diferenças entre ambas.

RODA DE CONVERSA

Calvin & Hobbes, Bill Watterson © 1991 Watterson/Dist. by Universal Uclick

Para começar, leia a tira a seguir.

Reúna-se com seus colegas e debatam juntos as seguintes questões. 1. A que gênero textual Calvin se refere quando menciona “história”, no primeiro quadrinho? 2. O que o tigre Haroldo quis dizer com “história” ao mencionar “aquela história da pipa”? 3. O que você acha que Calvin quis dizer ao exclamar “Isso não é uma história! É um fato!”? 4. Por que você acha que o tigre sugere que Calvin escreva uma reportagem?

NOTÍCIA E REPORTAGEM A função do repórter é obter informações sobre fatos recém-acontecidos que interessam à comunidade (a queda de um avião, um confronto armado pela posse de terras, a final da Copa do Mundo etc.) ou sobre assuntos que andam em discussão (novas descobertas sobre os efeitos do fumo, a mudança de comportamento das mulheres nas últimas décadas etc.). O objetivo dessa apuração é tornar públicos esses fatos e discussões. 60

Língua Portuguesa


O fruto do trabalho do repórter pode ser a notícia ou a reportagem. É em um desses formatos que a apuração realizada por ele chega às pessoas. Ambas podem ser veiculadas pelo rádio, pela TV, pela internet e pela imprensa escrita. A notícia é o anúncio do que aconteceu: com quem, onde, quando, como, por que e as consequências imediatas. Lembra uma resposta à pergunta “Soube da última?”. Já a reportagem é um relato mais amplo, que engloba os desdobramentos do fato e exige uma investigação maior. Dessa forma, a reportagem é mais longa que a notícia. Para entender a diferença entre a notícia e a reportagem, imagine que um temporal atingiu uma cidade. Ele pode causar a queda de algumas árvores e eventuais danos a automóveis estacionados próximo a elas. Isso rende uma notícia. No entanto, é possível que a forte chuva provoque consequências mais graves para a população, como enchentes, grande número de desabrigados, aulas suspensas, pessoas desaparecidas, possibilidade de propagação de doenças... Diante disso, é possível se perguntar também se há no local um histórico de ocorrências como essa, se a prefeitura poderia ter realizado alguma obra que contivesse a enchente, se o episódio é consequência de novas condições climáticas... Enfim, o fato pode ter desdobramentos e despertar uma discussão mais ampla, para a qual autoridades, pessoas atingidas e especialistas poderiam ser ouvidos. Isso rende uma reportagem.

ESTRUTURA E LINGUAGEM DA REPORTAGEM Não existe uma estrutura única para o gênero reportagem. As reportagens veiculadas pelos jornais diários têm uma natureza; as reportagens publicadas em revistas semanais, como IstoÉ, Veja, Carta Capital e Época, têm outra. As reportagens destas últimas também diferem das que são divulgadas por revistas especializadas em determinados assuntos, que circulam mensalmente, como História Viva, Mente & Cérebro, Língua Portuguesa, Ciência Hoje, Viva Saúde etc. Em algumas revistas, a linguagem pode ser mais subjetiva. Mesmo no jornal, conforme o caderno, isso também pode ser constatado. O texto da reportagem às vezes se aproxima do literário. Todavia, quando o objeto da reportagem é um evento mais pontual, sua linguagem se aproxima da linguagem da notícia. O que existe em comum nas variadas reportagens é a ci- GLOSSÁRIO tação de pessoas ouvidas e o conteúdo informativo, expresso Infográfico: conjunto de informações (textos, desenhos, gráficos) apresentadas de por dados e fatos. forma esquemática, a fim de situar o leitor de forma rápida sobre um tema em questão. Há também os chapéus (constituídos por uma palavra A parte escrita tende a ser constituída por que classifica a reportagem, indicando seu assunto) e a linha frases curtas, não por textos contínuos. fina: frase que fica abaixo do título e apresenta um apanhado do assunto. Infográficos e fotos também estão presentes.

8º ano

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Jornal Agora

Chapéu

Linha fina

FATO, DADO E OPINIÃO Os três trechos a seguir foram extraídos de uma matéria do Jornal da Tarde (“Fumar. Pouco ou muito, o perigo é certo”), de 14 de janeiro de 2007. Examine-os. • “Entre 22% e 25% da população fuma no Brasil.” • “[A especialista] ressalta que hoje já se pesquisa a influência das varia-

ções genéticas individuais no impacto que a nicotina produz no corpo.” • “A polêmica em torno do cigarro é tão farta quanto o número de estudos sobre ele.” O primeiro trecho é um dado estatístico, que não tem marcas de subjetividade, isto é, marcas do sujeito que escreveu, da visão que ele tem das coisas. Sempre que em uma reportagem aparecerem dados assim, é importante observar se há menção da fonte da informação ou da procedência dos números. Algo parecido ocorre no segundo trecho. Trata-se de um fato, que pode ser comprovado na realidade ou por uma autoridade no assunto, de forma objetiva. Já a informação que o terceiro trecho veicula é uma opinião que a autora da matéria formou. A associação entre o número de ideias polêmicas sobre o cigarro e o número de estudos sobre esse vício é uma visão de quem redigiu a matéria; portanto, uma declaração pessoal, subjetiva. É muito importante distinguir, em uma reportagem, as informações objetivas dos pontos de vista pessoais. 62

Língua Portuguesa


AS FORMAS DE CITAR O DISCURSO No texto jornalístico em geral, a fala das pessoas ouvidas tem grande importância. Para que fique mais fácil acompanhar essa explicação, vamos usar um exemplo de depoimento. Imagine uma pessoa: Maria das Neves, balconista, irmã de uma das vítimas de um acidente ocorrido quando uma torre de publicidade caiu sobre um ônibus que estava parado no ponto. Suponha que ela contasse: — Muitas vezes, meu irmão César descia no centro de Osasco e seguia a pé para casa para economizar o dinheiro da condução. Imagine que o autor da reportagem ou da notícia queira usar o depoimento dela. Veja de que maneiras isso poderia ser escrito: a) Diretamente “Muitas vezes meu irmão descia no centro de Osasco e seguia para casa a pé, para economizar o dinheiro da condução”, contou a irmã da vítima, a balconista Maria das Neves. b) Indiretamente • A irmã de César, a balconista Maria das Neves, conta que ele costumava descer no centro de Osasco e seguia para casa a pé para economizar. • Segundo a irmã da vítima, a balconista Maria das Neves, César raramente usava essa linha de ônibus para voltar para casa, a fim de economizar o valor da passagem. Quando o redator cita diretamente, ele praticamente reproduz a fala da pessoa. Quando relata com suas palavras o que ouviu da testemunha, pode escolher palavras que transmitam seu modo particular de encarar o que lhe foi dito. Repare a diferença entre dizer: “costumava descer no centro de Osasco e seguia para casa a pé” e “raramente usava essa linha de ônibus para voltar para casa”. Na segunda versão, fica reforçada a fatalidade, o caráter de desgraça. Relativamente à citação do discurso, é importante considerar o verbo usado para anunciar a fala de alguém, tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, se o autor da reportagem escreve que “o piloto admitiu” ou que “o piloto confessou” algo, ele está sugerindo que o piloto fez algo irregular, pois “admitir” implica um pouco de contrariedade ao dizer alguma coisa; “confessar”, por sua vez, é contar um pecado... Os verbos mais neutros nesse caso são “dizer”, “afirmar”, “declarar”.

AS FONTES DA REPORTAGEM Fonte é tudo que presta informação ao repórter. As fontes vão desde instituições e empresas – como prefeitura, polícia, clubes esportivos, Congresso Nacional, hotéis, hospitais etc., que podem divulgar comunicados oficiais para a im8º ano

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prensa – até enciclopédias, almanaques, relatórios etc., nos quais os jornalistas podem buscar dados. As principais fontes, porém, são as pessoas envolvidas nos eventos, pois são elas que dão informações, a pedido dos repórteres. Há também os informantes especiais, com quem às vezes os jornalistas obtêm informações exclusivas, até confidenciais. Também é possível recorrer a especialistas, para o caso de um tema muito específico, como clonagem, prevenção de epidemias, ou outros assuntos que não sejam do domínio de qualquer pessoa.

AS FONTES, O JORNALISTA E O TEXTO Você leu na introdução que o repórter obtém informações a respeito de um assunto que foi considerado importante e, com elas, produz um texto. Mas não aquele que você lê no jornal. Antes de serem impressas, a notícia e a reportagem passam por outras pessoas: os redatores e os editores. Essas pessoas corrigem e modificam o texto inicial para que ele fique na linguagem-padrão daquele jornal e de acordo com a ideologia que ele defende. Esse é o trabalho de edição. Além disso, para que a reportagem fique dentro do espaço que estava previsto, esses profissionais também podem fazer cortes no texto. Entretanto, se a intenção é complementar uma reportagem, um editor pode solicitar informações adicionais à equipe de repórteres, inclusive aos que trabalham em outras cidades. É muito importante perceber que um texto como a reportagem passa por várias mãos até chegar ao leitor, e cada pessoa interfere no seu formato final. Qual é a importância disso? Dependendo do que o editor resolve manter ou cortar e do destaque que dá a determinados aspectos, ele impõe ao leitor uma versão, determinada visão do fato ou do assunto, mesmo que pareça estar dando informações objetivas. Para comprovar isso, podemos comparar como dois ou mais jornais do mesmo dia relatam determinado fato. Cada um faz isso à sua maneira. Muitas vezes, parece que se trata de dois fatos distintos. Por isso, dizemos que o que lemos em uma reportagem não é informação pura, mas informação com ponto de vista. O curioso é que existe no senso comum a ideia de que a imprensa é imparcial, neutra. De acordo com o que acabamos de apresentar, isso não é possível. Naturalmente os textos jornalísticos não são escritos com frases como “Eu acho...”, “Essa atitude da loja foi muito ruim...”, “O ministro está mentindo...”. O texto do jornal tem aparência de imparcial, dá a impressão de que está simplesmente apresentando fatos. Por exemplo: “A loja informou que não realizará a troca do produto com defeito”, “O ministro aparece em uma foto tirada no dia do sorteio”. De fato, o jornalista ouve diversos depoimentos e parece dar voz a todas as partes envolvidas, mas, o tempo todo, ele está organizando esses discursos. Dessa forma, quando lemos uma reportagem para nos informar sobre algo, é preciso observar também como seu autor conduziu as informações. 64

Língua Portuguesa


LER REPORTAGEM I

O Estado de S. Paulo

Neste capítulo, vamos estudar uma reportagem veiculada pela imprensa escrita, no caso um jornal. Trata-se de uma reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo. Ela circulou no caderno Vida, que inclui matérias sobre ambiente, ciência, educação, saúde e sociedade. O objetivo é discutir o modo como o tema da reportagem foi apresentado pela imprensa. Comece observando como a matéria é apresentada no jornal.

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Certamente, você acabou de fazer algo que muitos leitores de jornal fazem: dar primeiramente uma olhada rápida pela página. O objetivo disso é avaliar se o que está ali é de seu interesse. E por que isso acontece? O jornal é muito extenso; por isso, é muito difícil que uma pessoa o leia do início ao fim. Normalmente, o leitor procura seções específicas – as que ele gosta de ler – ou folheia o jornal a fim de ter uma ideia do seu conteúdo. Nesse caso, ele acaba lendo algumas matérias que chamam a sua atenção. Essa leitura “incompleta” ocorre porque o jornal é extenso e tem prazo curto de validade: fica velho em 24 horas, por isso o leitor precisa selecionar o que vai ler. As empresas que produzem jornais sabem disso e os organizam de maneira que facilitem a leitura. Entretanto, elas também tiram proveito desse tipo de leitura “recortada”, que é muito diferente da leitura de um poema, de um conto, de um romance. É essa a primeira leitura que se faz de uma reportagem. Ela pode parecer superficial, mas é extremamente importante. O que o leitor absorve primeiro ao folhear um jornal é o aspecto visual da página, a diagramação em geral, isto é, o modo como títulos, ilustrações e textos estão distribuídos na página. Isso é tão importante que pode despertar no leitor o interesse de ler a matéria. Tendo isso em vista, os profissionais que preparam o jornal dão atenção especial a esse aspecto. Por meio das questões a seguir, você vai observar alguns desses elementos. 1. Pelo que você observou, de que assunto essa reportagem trata? Que elementos do texto sugerem

essa hipótese? 2. Você tem algum conhecimento sobre essa questão? Você acha que a reportagem pode lhe escla-

recer o tema? 3. Você julga que esse assunto interessa ou não à maior parte dos leitores? Por quê? 4. Uma reportagem é formada basicamente por textos, mas, além deles, há outros elementos. Men-

cione dois outros elementos (além dos textos) presentes na reportagem. 5. Leia o título principal da reportagem.

STF aprova por unanimidade sistema de cotas raciais em universidades A respeito de haver cotas raciais nas universidades, o leitor é levado a compreender: ( ) que elas vão existir. ( ) que elas podem existir. 6. Leia a linha fina da reportagem. Dez ministros do Supremo Tribunal Federal consideram que a reserva de vagas para negros e índios não fere a Constituição, mas ressaltam que a medida deve ser temporária, para saldar uma dívida histórica, como afirmou Marco Aurélio Mello a) Por que você acha que foi posta em dúvida a constitucionalidade (ou a legalidade) do sistema

de cotas? b) Que dívida histórica você acha que o sistema de cotas vai saldar? c) A linha fina apresenta dois dados sobre o sistema de cotas: ele é constitucional; ele deve ser tem-

porário. Do modo como foi formulada, a linha fina dá destaque a qual das duas informações? 66

Língua Portuguesa


d) Sobre a duração do sistema de cotas, a linha fina esclarece que ele deve ser temporário. Essa

informação permite pensar que o sistema de cotas: ( ) faz parte do conjunto de direitos básicos do cidadão. ( ) é necessário, mas tem pontos discutíveis. ( ) é inaceitável. e) A linha fina antecipa o conteúdo da matéria. Você considera que essa linha fina apresenta um

bom apanhado do que poderá ser lido? ( ) Sim. ( ) Não. 7. Observe a foto da reportagem na reprodução da página do jornal. a) Que evento relativo à votação ela destaca? b) Que outros eventos uma foto poderia destacar nessa reportagem? 8. Observe o infográfico apresentado a seguir e leia seu conteúdo verbal. COMO VOTARAM OS MINISTROS Por unanimidade, ministros consideram que as cotas raciais nas universidades são constitucionais.

Rosa Weber

Carlos Cecconello/Folhapress

Luiz Fux

“As experiências submetidas ao crivo desta Suprema Corte têm como propósito a correção de desigualdades sociais, historicamente determinadas”

“A construção de uma sociedade justa e solidária impõe a toda coletividade a reparação de danos pretéritos perpetrados por nossos antepassados”

Sérgio Lima/Folhapress

Ricardo Lewandowski (relator)

Sérgio Lima/Folhapress

A FAVOR 10 CONTRA 0

“O fato é que a disparidade racial é flagrante na sociedade brasileira. A pobreza tem cor no Brasil: negra, mestiça, amarela”

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Cezar Peluso

Lula Marques/Folhapress

Joaquim Barbosa

“Presenteei duas sobrinhas com bonecas negras. Uma das sobrinhas, que é negra, rejeitou a boneca. Quando perguntei o motivo, disse que a boneca era feia porque parecia com ela”

“Essas medidas visam a combater a discriminação de fato, que é absolutamente enraizada na sociedade e, de tão enraizada, as pessoas não a percebem”

Alan Marques/Folhapress

Cármen Lúcia

Alan Marques/Folhapress

A FAVOR 10 CONTRA 0

Gilmar Mendes

Alan Marques/Folhapress

“O mérito é critério justo. Mas apenas para os candidatos que tiveram oportunidades”

Celso de Mello

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Língua Portuguesa

Sergio Lima/Folhapress

Marco Aurélio

Alan Marques/Folhapress

“Seria mais razoável adotar-se um critério objetivo de referência de índole socioeconômica”

“Precisamos saldar essa dívida. Ter presente o dever cívico de buscar o tratamento igualitário. A neutralidade estatal mostrou-se um grande fracasso” “Vivi nos Estados Unidos com família branca, anglo-saxônica e protestante. Estudei em escola pública que era totalmente segregada. Os ônibus com os negros ocupando a parte inferior dos veículos”


Dias Toffoli

“Quem não sofre preconceito em função da cor da pele já é beneficiário, já leva uma enorme vantagem”

Sérgio Lima/Folhapress

Ayres Britto

Ueslei Marcelino/Folhapress

A FAVOR 10 CONTRA 0

Não vota, pois emitiu parecer favorável às cotas quando era advogado-geral da União.

Fonte: O Estado de S. Paulo, 27 abr. 2012, p. A22. (Adaptado.)

a) Que informação o texto do infográfico repete em relação ao título? b) Que dados novos ele apresenta? 9. No infográfico, a referência aos ministros foi feita com a identificação (foto e nome) e com um

trecho da fala que cada um apresentou ao votar. a) Quem selecionou o trecho que acompanha a identificação? b) Quais falas fazem referência: • a injustiças históricas? • ao preconceito? • ao critério para a seleção de candidatos nas universidades?

LER REPORTAGEM II

Já comentamos como costuma ocorrer a primeira leitura de uma reportagem: o leitor, geralmente, corre os olhos pela página a fim de verificar se o assunto desperta seu interesse. No caso deste capítulo, as coisas se passam diferentemente. Você não precisa selecionar o que vai ler, não está diante de um jornal inteiro. A proposta é que você leia integralmente uma reportagem justamente para descobrir as estratégias que facilitariam a leitura desse tipo de gênero, para o momento em que você assumir a posição de um leitor de jornal. Para dar continuidade a essa experiência, leia o texto a seguir. 8º ano

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STF aprova por unanimidade sistema de cotas raciais em universidades Mariângela Gallucci , Felipe Recondo / Brasília

As cotas raciais nas universidades são constitucionais. Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou ontem que as políticas afirmativas não violam o princípio da igualdade e não institucionalizam a discriminação racial, como defendeu o Democratas (DEM), autor da ação julgada.

pobres fosse aproxima- GLOSSÁRIO Ações afirmativas: formas de da, seria plausível dizer interferir objetivamente em uma que o fator cor é desimsituação; ações tomadas pelo portante”. Estado a fim de contribuir para a ascensão de grupos socialmente Temporária. Os miminoritários. nistros ressaltaram que Aval: garantia, autorização, a política de cotas deve aprovação. ser temporária, até que Institucionalizam: oficializam, dão Os dez ministros – Dias Toffoli não votou, essas disparidades sejam um caráter legal a alguma coisa. por ter se manifestado favoravelmente ao sis- corrigidas. “As ações Processos seletivos: sistemas usados para selecionar candidatos tema de cotas quando era advogado-geral da afirmativas não são a (a um cargo, a uma vaga universiUnião – deram o aval para que universidades melhor opção, mas são tária). Podem ser constituídos de brasileiras reservem vagas para negros e índios uma etapa. O melhor provas, entrevistas, avaliação de currículo etc. em seus processos seletivos e afirmaram que as seria que todos fossem Violam: desrespeitam, infringem, ações afirmativas são necessárias para diminuir iguais e livres”, disse transgredem. desigualdades e compensar uma dívida resultan- Cármen Lúcia. Marco te de séculos de escravidão. Ontem, o STF con- Aurélio Mello afirmou cluiu que a política de cotas estabelecida pela que a neutralidade estatal ao longo dos anos reUniversidade de Brasília (UnB) – que reserva sultou em um fracasso. “Precisamos saldar essa 20% das vagas para negros e 11 vagas em sete dívida”, disse. Apesar do voto favorável, o ministro Gilmar cursos para índios – não viola a Constituição. Mendes ressaltou que a reserva de vagas para afroO mais aguardado dos votos foi dado pelo ministro Joaquim Barbosa, único negro a integrar o descendentes pode gerar situações controversas. Supremo, que, na semana passada, disse ser ví- Para ele, o ideal seria que a ação afirmativa fosse batima de racismo na própria Corte. “Na História seada em critérios socioeconômicos. Mendes clasnão se registra na Era Contemporânea nenhuma sificou como caricatural o estabelecimento de um nação que tenha se erguido da condição periféri- “tribunal racial” que define se o candidato é ou não ca à condição de potência política mantendo no é negro. Como exemplo, o ministro citou o episódio plano doméstico uma política de exclusão, aberta envolvendo gêmeos univitelinos. Um foi consideraou dissimulada, pouco importa, em relação a uma do negro e o outro branco para a política de cotas. Cezar Peluso disse que o sistema “é um exparcela expressiva de sua população”. Anteontem, o relator do processo, Ricardo perimento que o Estado brasileiro está fazendo Lewandowski, havia votado favoravelmente às e que pode ser controlado e aperfeiçoado”. “O políticas de cotas. Ontem, o primeiro a votar, mérito é critério justo. Mas apenas para os canLuiz Fux, defendeu: “A construção de uma so- didatos que tiveram oportunidades”. As outras duas ações relacionadas a cotas ciedade justa e solidária impõe a toda coletividade a reparação de danos pretéritos perpetrados que estavam na pauta do STF – uma questionava a política na Universidade Federal do Rio por nossos antepassados”. Rosa Weber afirmou que a disparidade racial Grande do Sul e outra no Programa Universidano Brasil é flagrante e a política de cotas não se- de para Todos (ProUni) – serão votadas em outra ria razoável se a realidade social fosse outra. “A data, ainda a ser definida. pobreza tem cor no Brasil: negra, mestiça, amareO Estado de S. Paulo, 27 abr. 2012, p. A22. la”, disse. “Se a quantidade de brancos e negros

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Língua Portuguesa


1. No primeiro parágrafo, grife a parte que fornece informação nova em relação ao que você já leu

no título e na linha fina. 2. De acordo com o segundo parágrafo: a) Que grupos serão beneficiados pelo sistema de cotas? b) Qual trecho esclarece por que a política de cotas é necessária? Circule-o. c) Que ação, especificamente, foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal? 3. No terceiro parágrafo, o que foi dito sobre o ministro Joaquim Barbosa confirma ou contradiz os

argumentos em favor da política de cotas? Explique. 4. O quarto parágrafo menciona o voto favorável do ministro Lewandowski e a fala do ministro Luiz

Fux. Esse parágrafo destaca: ( ) a existência de preconceito racial no Brasil. ( ) a necessidade de reparar os erros do passado. ( ) a situação socioeconômica predominante entre os negros no Brasil. 5. O quinto parágrafo menciona a fala da ministra Rosa Weber. Esse parágrafo destaca: ( ) a existência de preconceito racial no Brasil. ( ) a necessidade de reparar os erros do passado. ( ) a situação socioeconômica predominante entre os negros no Brasil. 6. O quinto parágrafo: ( ) justifica o que foi apresentado no quarto parágrafo. ( ) se opõe ao que foi apresentado no quarto parágrafo. ( ) fornece um exemplo do que foi apresentado no quarto parágrafo. 7. Os parágrafos 4 e 5 expressam: ( ) predominantemente apoio à medida. ( ) igualmente apoio e restrições à medida. ( ) predominantemente restrições à medida. 8. Antes do sexto parágrafo, percebe-se uma divisão no texto. Ela é indicada pelo espaçamento maior entre as linhas e pela existência de um subtítulo: “Temporária”, que se refere à política de cotas. O que o leitor pode concluir sobre o conteúdo que vem depois dessa divisão? 9. O primeiro texto é dividido em duas partes. Pode-se dizer o

mesmo da linha fina. a) Que elemento marca a divisão no primeiro texto? b) Que palavra marca a divisão na linha fina? c) Compare o conteúdo da segunda parte do texto com o

conteúdo da segunda parte da linha fina. O que ambos ressaltam?

CONHECER MAIS

Os efeitos do “mas” É inevitável que a reportagem organize as falas das pessoas ouvidas e as demais informações. A organização feita cria um ponto de vista no texto. Cabe ao leitor julgar até que ponto a posição estabelecida interfere nos fatos. Para julgar o que lê, o leitor dispõe de alguns meios. Um deles consiste em reconhecer os recursos com os quais se organizam as falas e as informações. Um dos que merecem atenção é o emprego de “mas” (e outras expressões equivalentes). Para observar as implicações do emprego desse tipo de palavra, vamos confrontar estas duas declarações:

• É uma pessoa bonita, mas sem caráter.

• É uma pessoa sem caráter, mas bonita.

No primeiro caso, apesar da beleza, o que vigora é o fato que a pessoa não tem caráter. Já no segundo, é verdade que a pessoa não tem caráter, mas o que importa é a beleza. Enfim, dependendo da forma como as informações são apresentadas, cria-se uma “verdade” diferente.

8º ano

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10. Nos parágrafos 6, 7 e 8, há falas de outros quatro ministros. Elas foram resumidas na coluna da

esquerda. Associe a cada fala uma das avalições a seguir. a) Apoio ao sistema de cotas. b) Apoio com ressalvas ao sistema de cotas. c) Apresentação de problemas no sistema de cotas. Parágrafo

Conteúdo das falas

Avaliação

Não é a melhor opção; é uma etapa. 6

A neutralidade do Estado até então não resolveu a situação; é preciso fazer algo que resolva. No caso de afrodescendentes, pode gerar situações polêmicas.

7 Deveria ser baseada em critérios socioeconômicos. É um experimento e pode ser aperfeiçoado e controlado. 8 É justa para quem não teve oportunidades.

11. No último parágrafo, são mencionadas outras ações que serão julgadas. a) Elas dizem respeito a que instituições? b) Associe esse dado com o dado apresentado no primeiro parágrafo sobre a UnB, que já pratica

um sistema de cotas no Brasil. O que precisamente o STF analisou a respeito disso? É isso que o título maior da página sugere?

LER REPORTAGEM III

Leia o texto a seguir.

Índio interrompe sessão três vezes e é retirado do tribunal O índio guarani Araju Sepeti foi expulso pelos seguranças do STF após interromper por três vezes a sessão. Vestido com uma camisa do Vasco da Gama, Sepeti estava sentado na primeira fila do plenário e cobrou do ministro Luiz Fux que, em seu voto, mencionasse também os índios. Fux falava da ausência de ministros afrodescendentes nos tribunais superiores quando foi interrompido. “Tem de falar dos índios também”, afirmou Sepeti, em voz alta. O presi-

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Língua Portuguesa

dente do STF, Carlos Ayres Britto, afirmou que não eram permitidas manifestações no plenário e pediu calma a Sepeti. O índio guarani interrompeu outras duas vezes o voto. Britto interrompeu o julgamento e ordenou que a segurança o tirasse do plenário. Enquanto era arrastado, o índio guarani chamou os seguranças de racistas e cachorros. Ele foi liberado na Praça dos Três Poderes. / F.R. O Estado de S. Paulo, 27 abr. 2012, p. A22.


1. Observe, na reprodução da página do jornal feita anteriormente na seção “Ler reportagem I”, o

texto abaixo da foto. Por causa da diagramação que recebeu, é possível que esse texto desperte logo de início a atenção do leitor. Que motivos haveria para isso? 2. De acordo com o texto: a) Qual foi a razão da expulsão do indígena? b) Qual foi o protesto do indígena? c) Nas falas dos ministros (transcritas no infográfico e no texto), que grupo racial é mencionado?

Você considera que os indígenas compõem um grupo que também poderia ser citado? Por quê? LER REPORTAGEM IV

Leia o texto a seguir.

GLOSSÁRIO

Para crítico, ‘inclusão não pode ser direito de raça’

Corroborada: confirmada, comprovada. Meritocracia: sistema de promoção fundamentado no merecimento.

O advogado José Militão diz que o recorte deveria ser de renda; hoje ao menos 129 instituições públicas adotaram as cotas Paulo Saldaña

Ativista do movimento negro, o advogado civilista José Militão afirma que a decisão do STF que decidiu pela constitucionalidade do sistema de cotas fará com que mais instituições adotem a medida – que é criticada por ele. “Vai ter aumento, porque a pressão política de muitas universidades resistiu, mas agora tem o STF dizendo que é constitucional”, diz ele. “Sou antirracista, defensor da inclusão dos afro-brasileiros. Porém, a inclusão não pode ser direito de raça, mas sim de reserva social. O recorte de renda beneficia os mais pobres, e 70% deles são pretos e pardos”, critica. O ponto mais contundente no embate em relação ao tema é que as cotas reforçariam a segregação racial. “O movimento negro racialista diz que até na reserva social haverá diferença. Mas dizer que na competição de pobres com pobres os negros não vão ter oportunidades é admitir a inferioridade”, diz Militão. A opinião de que a votação no STF vai pressionar instituições de ensino a adotar esse tipo de política afirmativa é corroborada também por defensores do modelo. “A partir de agora, o povo vai começar a exigir. Tenho certeza de que vai

provocar o nascimento das cotas regionais, do movimento nordestino”, afirmou o presidente da ONG Educafro, frei David dos Santos. O ativista defendeu que o Brasil passa a ser o país com a maior reflexão da ação. “O efeito vai se refletir nas grandes universidades que são exageradamente partidárias da meritocracia injusta.” Retrato. Hoje, ao menos 129 instituições públicas de ensino superior adotam algum sistema de cotas no Brasil, segundo a Educafro. A primeira instituição de ensino a utilizar o sistema de cotas raciais foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2002. Até hoje, 2 131 alunos cotistas concluíram a graduação. Atualmente, há 3 466 cotistas na instituição. Dos 7 059 aprovados por meio do sistema de cotas, 1 462 abandonaram ou desistiram – representando evasão inferior à dos alunos não cotistas. A Uerj reserva 20% das vagas para negros. É o mesmo porcentual da Universidade de Brasília (UnB), cujo sistema foi questionado pelo DEM na ação que chegou ao Supremo. Dos 6 403 cotistas que ingressaram na UnB desde 2004, 1 239 se formaram e outros 3 459 estão estudando. O Estado de S. Paulo, 27 abr. 2012, p. A22.

8º ano

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1. Complete o quadro a seguir sobre as pessoas citadas no texto da página anterior. Nome

Atuação

Posição sobre o sistema de cotas

Outra proposta defendida

Opinião sobre a repercussão do julgamento

Ativista do movimento negro

Presidente da ONG Educafro

Com base nos dados levantados nesse quadro, o que o leitor pode concluir a respeito da diversidade de pontos de vista que a reportagem deve apresentar? 2. A reportagem menciona um argumento apresentado por quem é contrário ao sistema. a) Qual é esse argumento? b) Pode-se dizer que o destaque dado a esse argumento, no texto, é:

( ) muito grande. ( ) médio. ( ) mínimo. c) Esse argumento foi mencionado nas outras partes da reportagem que você leu até aqui? 3. A reportagem cita números a respeito de universidades que mantêm cotas. a) Por que você acha que essa informação é dada? b) Releia o sétimo parágrafo, que fornece números sobre os cotistas da Uerj. A informação “re-

presentando evasão inferior à dos alunos cotistas” é importante para o leitor. Por quê? c) A referência “inferior” é exata estatisticamente? Por quê? d) Releia o oitavo parágrafo. A taxa de evasão da UnB é comentada, como a da Uerj? e) Qual das duas estatísticas provavelmente o leitor guardará? Por quê? f) De acordo com o que você respondeu no item e), o leitor guardará um dado favorável ou des-

favorável da aplicação do sistema de cotas? 74

Língua Portuguesa


LER REPORTAGEM V

Leia o texto a seguir.

Entrevista

Nilcéa Freire, ex-reitora da Uerj e ex-ministra, dirige a Fundação Ford

“INICIATIVA LEVOU À DISCUSSÃO DO RACISMO” Nilcéa Freire era reitora da Uerj quando as cotas foram adotadas no país. Ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, ela falou ao Estado.

Qual a importância da decisão? Cria um precedente de que a ação afirmativa se enquadra dentro dos padrões da Constituição. Até hoje, sempre havia o temor de ações judiciais.

Qual foi a importância da adoção desse modelo, em 2002? Temos a consciência de que possibilitamos a discussão importante subjacente às cotas, que é a persistência da desigualdade racial. Essa iniciativa possibilitou que a discussão do racismo emergisse na sociedade brasileira como nunca antes.

Haverá disseminação? Ter a constitucionalidade pacificada ajuda a disseminar ações afirmativas e de democratização, hoje diversificadas. Isso é o mais interessante: atender às demandas da sociedade, sem padronizar um sistema. / P.S. O Estado de S. Paulo, 27 abr. 2012, p. A22.

1. O perfil da entrevistada cria no leitor a expectativa de que ela vá defender que posição sobre o assunto? 2. Sobre a decisão do STF, a entrevistada aponta duas consequências importantes. Complete o es-

quema a respeito disso.

• Possibilidade

de atender às demandas, sem um formato padronizado.

3. A entrevistada foi ouvida pelo jornal, assim como as pessoas mencionadas no texto anterior. a) Desses três depoimentos, qual teve mais destaque na reportagem? Em que você se baseou para

dar essa resposta? b) A reportagem poderia apresentar, na seção “Entrevista”, outra pessoa ligada à questão. Caso fizes-

se isso, a reportagem poderia criar no leitor uma imagem diferente sobre o julgamento no STF. Com base nessa reflexão, que imagem se pode dizer que a reportagem concordou em criar? 8º ano

75


BALANÇO Como você percebeu, a reportagem é resultado de escolhas. A escolha feita para a ordem dos textos, a formulação de títulos, as pessoas ouvidas etc. criará uma representação da realidade – que é a que o leitor vai receber. Se ele estiver consciente de como tudo se passa na representação dessa realidade, poderá recebê-la criticamente. A leitura atenta de uma reportagem é fonte de saberes e deve levar o leitor a se fazer algumas perguntas. Como estuda o aluno cotista? Que dificuldades ele enfrenta? Há algum tipo de estímulo ou subsídio? Que cursos ele faz? Ele termina a graduação? Sua vida incorpora melhorias em relação à da geração passada? As dificuldades apontadas na formação básica de um aluno cotista ocorrem também entre os não cotistas? Que mecanismos o estado está estudando para acompanhar e controlar os programas de cotas? Há estudos para estimar por quanto tempo o programa de cotas deve vigorar? Em que medida o programa de cotas desperta a discussão de questões mais amplas, como a questão racial? O leitor deve verificar se a imprensa tem acompanhado a educação no Brasil e as medidas afirmativas e se tem constituído boa fonte de informação para ele. A imprensa não apenas relata, mas também comenta e interpreta os fatos. Os textos jornalísticos conversam entre si, tanto em uma mesma edição como entre edições diferentes. Um fato que foi notícia hoje pode se transformar em tema de entrevista, de reportagem, de crônica ou de artigo de opinião nos dias seguintes. Além disso, é comum o jornal publicar mais de um ponto de vista sobre um tema – e ler esses diferentes pontos de vista nos auxilia a formar uma opinião. Acompanhar o que acontece pela leitura de jornal é uma das maneiras de nos tornarmos leitores críticos, ou seja, que não se deixam convencer facilmente por aquilo que leem e ouvem. Ao mesmo tempo, também devemos ser críticos ao ler jornal. Enfim, esse hábito pode nos colocar em constante exercício de leitura crítica. É assim que a leitura constante de jornais permitirá que o leitor construa seu repertório de informações e argumentos e participe criticamente das discussões presentes na sociedade.

APLICAR CONHECIMENTOS

Você vai ler outra reportagem publicada no dia 27 de abril de 2012 sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito das cotas raciais. Esta circulou no jornal Folha de S.Paulo. A reportagem saiu em duas páginas. Leia-as. 76

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Folhapress


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Observe que a reportagem apresenta textos verbais e textos mistos (isto é, aquele que tem uma parte verbal e outra não verbal). Os textos verbais estão indicados no quadro a seguir, e cada um foi reproduzido ao longo dos exercícios, para que você possa ler. Página C1

Título “Por unanimidade, STF decide a favor das cotas”

Página C4

Título

Autor(es)

Origem

Felipe Seligmam e Nádia Brasília Guerlenda Autor(es)

Origem

Texto principal

“Gilmar Mendes faz ressalvas a cotas raciais”

Não foi indicado.

Brasília

ANÁLISE

“A direção de como agir foi dada pelos ministros do STF”

Joaquim Falcão

Não foi indicado.

Texto menor

“Cotista critica estereótipo de inferioridade em universidade”

Daniel Cassol

Porto Alegre

ENTREVISTA

“‘Sistema é maquiagem’, diz estudante”

Não foi indicado.

Porto Alegre

REPERCUSSÃO

1. Leia o título do texto da p. C1, bem como a linha fina e o olho que o seguem.

Por unanimidade, STF decide a favor das cotas Resultado vale para universidades que quiserem adotar reservas raciais

Supremo define ainda que instituições devem observar princípio da proporcionalidade, além de fixar prazos a) A respeito de haver cotas raciais nas universidades, fica claro no conjunto acima:

( ) que elas vão existir. ( ) que elas podem existir. b) Tendo lido apenas a parte transcrita, o leitor pode ter dúvida quanto aos prazos citados. A que o leitor pode achar que eles se referem? c) A que o leitor provavelmente associaria a ideia de proporcionalidade?

As questões de 2 a 6 referem-se ao texto da p. C1, transcrito a seguir. 1 2 3

4 5

As cotas raciais em universidades brasileiras são constitucionais, decidiram ontem, por unanimidade, ministros do Supremo Tribunal Federal. Depois de dois dias de julgamento, prevaleceu a tese de que a reserva de vagas em instituições de ensino público busca a chamada “igualdade material”: a criação de oportunidades para quem não as tem em situações normais. Ao final do julgamento, o relator do caso, Ricardo Lewandowski, disse que o STF “confirmou a constitucionalidade das ações afirmativas para grupos marginalizados como um todo”. Ou seja, cotas sociais, por exemplo, também são constitucionais. A decisão, segundo ele, vale para todo o ensino público. “A partir desta decisão, o Brasil tem mais um motivo para se olhar no espelho da história e não corar de vergonha”, disse o presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto. O placar unânime do julgamento surpreendeu até mesmo integrantes do movimento negro, que não esperavam votos favoráveis dos dez ministros que se manifestaram sobre a questão. 8º ano

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6

7 8

9 10 11 12

“Ninguém achava que a gente ia ganhar por unanimidade”, afirmou Ivair Augusto dos Anjos, diretor do Centro de Convivência Negra da UnB. Ele considerou o debate no STF “profundo” e disse ter ficado bem impressionado com o relatório “muito técnico” de Lewandowski. Só o ministro José Antonio Dias Toffoli não participou dos debates, pois atuou no caso quando era advogado-geral da União do governo Lula. A decisão foi motivada por uma ação proposta pelo DEM contra o sistema de cotas adotado pela UnB (Universidade de Brasília) desde 2004, que reserva 20% de suas vagas para autodeclarados negros e pardos. Também oferece outras 20 vagas por ano para índios, cujo processo de seleção é distinto do vestibular. A decisão ressaltou a necessidade de haver “proporcionalidade e razoabilidade” na quantia de vagas e de prazos para as cotas, que devem durar o tempo necessário para corrigir as distorções sociais que pretendem solucionar. “É melhor ter uma sociedade na qual todo mundo seja igualmente livre para ser o que quiser. Cotas são uma etapa na sociedade onde isso não acontece naturalmente”, disse a ministra Cármen Lúcia. Único negro do STF, o ministro Joaquim Barbosa disse que a discriminação racial no Brasil é cultural, “do tipo que as pessoas não percebem”. Na semana que vem serão julgadas duas outras ações que tratam do tema cotas. Colaborou Flávia Foreque SELIGMAN, Felipe; GUERLENDA, Nádia. Por unanimidade, STF decide a favor das cotas. Folha de S.Paulo, 27 abr. 2012, p. C1.

2. Responda. a) Nos parágrafos 9 e 10, o texto esclarece a que prazos a linha fina dessa página se refere. Men-

cione de que se trata. b) Localize os esclarecimentos que o parágrafo 9 fornece sobre a “proporcionalidade” menciona-

da na linha fina. O que o leitor pode concluir a respeito dela? 3. Releia o parágrafo 5 e compare a versão original com esta: O placar unânime do julgamento surpreendeu integrantes do movimento negro, que não esperavam votos favoráveis dos dez ministros que se manifestaram sobre a questão.

O emprego da expressão “até mesmo”, no texto do jornal, não é fundamental para veicular a informação de surpresa, mas manifesta algo sobre quem escreve o texto. Explique o quê. 4. Releia um trecho do parágrafo 2. [...] a reserva de vagas em instituições de ensino público busca a chamada “igualdade material”: a criação de oportunidades para quem não as tem em situações normais.

Compare com esta versão: a reserva de vagas em instituições de ensino público busca a “igualdade material”.

Em qual das duas versões a igualdade material é vista como algo que existe simplesmente e que não está em discussão? Em qual ela é vista como algo que alguns reconhecem e nomeiam? 80

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5. Releia outro trecho do parágrafo 2. Depois de dois dias de julgamento, prevaleceu a tese de que a reserva de vagas em instituições de ensino público busca a chamada “igualdade material” [...]. a) Ao dizer que determinada tese prevaleceu, o que o texto deixa implícito? b) Ao dizer que uma tese prevaleceu, o texto está avaliando se ela era justa ou incoerente? Explique. 6. No parágrafo 1, há a seguinte passagem: As cotas raciais em universidades brasileiras são constitucionais, decidiram ontem, por unanimidade, ministros do Supremo Tribunal Federal.

Compare o emprego do verbo “decidir” com o emprego de “concluir”. Qual dos dois sugere maior subjetividade por parte dos ministros? Explique. 7. Leia o texto principal da p. C4, transcrito a seguir. Gilmar Mendes faz ressalvas a cotas raciais 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes votou a favor das cotas, mas foi o único a fazer críticas ao sistema adotado pela UnB. Mendes afirmou que o critério racial não é o melhor para definir quem deve ser beneficiado pela reserva de vagas e que um modelo incluindo a renda seria mais apropriado. Ele citou “distorções e perversões” que poderiam ser geradas pela atual política. Entre elas, a possibilidade de um aluno negro e rico, que sempre estudou em escola particular, entrar na universidade por cotas, enquanto um pobre, porém branco, não. Mendes disse que suas críticas eram apenas um “registro” e ressalvou que a existência de falhas é natural, porque a UnB adotou a política afirmativa de forma pioneira. O clima entre os ministros era tranquilo, apesar da briga ocorrida na semana anterior entre Joaquim Barbosa e Cezar Peluso. Após uma entrevista em que Peluso chamou Barbosa de “inseguro”, o ministro, que é negro, disse ser vítima de racismo no tribunal. A calmaria do julgamento só foi quebrada quando Araju Sepeti, índio guarani que assistia à sessão no plenário, começou a se manifestar em voz alta durante o voto de Luiz Fux, o que é proibido. “Igualdade é para todos, não é só para um”, gritava, reclamando da ausência de menções aos indígenas nas falas dos ministros. Mesmo após ser advertido pelo presidente Carlos Ayres Britto, Sepeti continuou a falar alto. Britto mandou, então, que os seguranças o expulsassem. Ele resistiu e foi arrastado para fora do plenário. Como aplaudir não é permitido no Supremo, cada voto era comemorado pelos presentes com um sinal equivalente ao utilizado pelos deficientes auditivos, em que as mãos são erguidas e movimentadas como chocalhos. Ao final da sessão, sonoros aplausos foram ouvidos, principalmente após a emocionada fala do ministro Ayres Britto. Gilmar Mendes faz ressalvas a cotas raciais. Folha de S.Paulo, 27 abr. 2012.

a) O que fica salientado pelo título e pelo início do texto? b) Em que parágrafo o texto apresenta o contraponto que o próprio ministro Gilmar Mendes fez

às suas afirmações?

8º ano

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c) Esse contraponto, em vez de neutralizar, reforça a visão de que a política de cotas é um equí-

voco. Por quê? d) Suponha que fosse necessário escolher, para o trecho a seguir, expressões mais neutras do que

as que foram grifadas. Sugira uma nova versão. Britto mandou, então, que os seguranças o expulsassem. Ele resistiu e foi arrastado para fora do plenário. e) Inicialmente, pode-se dizer que o adjetivo “sonoros”, atribuído a “aplausos”, é redundante e

que poderia ser eliminado na linha fina. Por que se pode afirmar que no último parágrafo esse adjetivo veicula uma informação necessária? 8. No boxe “Conhecer mais”, você estudou os efeitos criados pela utilização da palavra “mas”. Leia o texto a seguir, um dos que compõem a reportagem, e avalie o emprego dessa palavra. Cotista critica estereótipo de inferioridade em universidade 1

2 3 4 5

6 7 8 9

Alvo de uma das ações julgadas pelo STF ontem, contra cotas raciais nas universidades, a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) adotou há cinco anos o sistema que reserva 30% das vagas para egressos de escolas públicas e estudantes que se declaram negros. Os universitários cotistas da UFRGS relatam que o exemplo pessoal ajudou a mudar o pensamento dos colegas em relação às cotas na universidade. Mas, em cursos considerados mais elitizados, o preconceito, mesmo velado, ainda é forte. Adriana Correa, 24, que entrou no curso de Biomedicina da UFRGS em 2009, na segunda turma de cotistas, diz nunca ter sofrido racismo, mas ouvia reclamações por ter “roubado” a vaga de colegas que entraram em segunda e terceira chamadas. “As pessoas entram muito com a ideia de que o cotista é inferior, porque entrou com uma nota menor. Os cotistas fazem com que as pessoas mudem a opinião”, diz Adriana. Em medicina, alguns alunos reclamam de discriminação. “É um curso elitista. Tem o estereótipo de que o estudante de medicina tem que ser branco, rico e, se você não pertence a este grupo, é tratado com inferioridade”, afirma um estudante que pediu para não ser identificado. No vestibular deste ano, a UFRGS modificou o cálculo para correção das provas de redação, o que aumentou o número de estudantes nos cursos mais concorridos. Neste ano, entraram 21 alunos pelo sistema de cotas no curso de Medicina. A mudança gerou polêmica e motivou protestos nas redes sociais. O modelo de cotas na universidade está sendo revisto neste ano. Até a publicação do edital do próximo vestibular, o que deve ocorrer em julho, o Conselho Universitário deve aprovar o novo sistema. A pró-reitora de Graduação da UFRGS, Valquíria Bassani, afirma que a posição da administração da universidade é pela manutenção do atual modelo de cotas. CASSOL, Daniel. Cotista critica estereótipo de inferioridade em universidade. Folha de S.Paulo, 27 abr. 2012.

Que ideias ficam ressaltadas nos parágrafos 2 e 3 com o emprego do “mas”? 82

Língua Portuguesa


9. Em “Repercussão”, a reportagem registra quatro falas de pessoas ligadas à questão. Leia-as.

Repercussão “Lamentável essa decisão [do Supremo]. Quem perdeu a vaga na universidade pública por causa da cor vai se sentir como? A única maneira de tornar as coisas iguais é pelas cotas sociais [por renda]” José Roberto Militão – negro e advogado “Acho que [os cotistas] têm vergonha de dizer claramente como ingressaram na Uerj. Também vejo que formam grupos separados, andam juntos e conversam mais entre si” Tuane Mattos, 20 – estudante de Letras da UERJ (Estadual do Rio de Janeiro) “À medida que se veem mais médicos, engenheiros e advogados negros [no país], eles deixam de ser vinculados ao trabalho braçal. É preciso acelerar o processo para colocar o negro na universidade” Christiano Jorge Santos – promotor de Justiça “A nossa sociedade há cem anos acorrentava os negros. É inegável que eles largam atrás numa corrida profissional com os brancos [...]. A decisão [do STF] é certa” Gustavo Rene Nicolau – doutor em Direito pela USP a) No jornal, as duas primeiras falas foram diagramadas do lado esquerdo e as duas últimas, do lado

direito. O que a primeira dupla de frases tem em comum quanto ao conteúdo? E a segunda dupla?

b) Apresente uma razão para o fato de apenas a primeira fala fazer referência à raça em que seu

autor se inclui: “negro e advogado”.

10. Leia a entrevista a seguir, que integra a reportagem.

“Sistema é maquiagem”, diz estudante Responsável por uma das ações julgadas pelo STF, Giovane Pasqualito Fialho, 23, diz que não esperou o julgamento porque “o prejuízo teria sido maior”. Ele já se formou em outra faculdade. Reprovado ao disputar vaga no curso de Administração da UFRGS (Federal do RS), em 2008, ele tinha nota maior do que ingressantes pelo sistema de cotas. Fialho cursou música no Centro Universitário Metodista, em Porto Alegre. Ele diz que as cotas promovem segregação. Leia abaixo. Folha O que fez enquanto aguardava o julgamento? Giovane Pasqualito Fialho No momento em que entrei com a ação, estava pronto para entrar na faculdade. Hoje, já sou formado. Infelizmente, o sistema é tão lento que, se fosse aguardar a decisão, o prejuízo teria sido maior. Folha Por que você é contrário ao sistema de cotas raciais? Giovane Pasqualito Fialho Políticas afirmativas são importantes. Precisamos aproveitar o momento econômico para começar uma recuperação dos setores excluídos. Mas as cotas não são uma política saudável, porque mudam o contexto do vestibular, que é uma competição intelectual. Se alguém tem dificuldade para competir, o correto é dar condições para isso. Ser negro não chega a ser desvantagem. Sou pardo, mas estudei em escola particular. As cotas, em vez de melhorar a qualidade da competição, fazem segregação. Folha Por que o fato de ser pardo não lhe faz favorável às cotas? Giovane Pasqualito Fialho A situação mudou bastante. Há 15 anos existia preconceito bem nítido e assisti a isso com minha família. Mas esse tipo de política não é uma correção real. É maquiagem, um improviso, e um pouco injusto com quem se prepara para o vestibular. Folha de S.Paulo, 27 abr. 2012. C4.

8º ano

83


A entrevista divulgada manifesta uma ideia presente também no texto “Repercussão”. Esclareça qual. 11. O texto sob o título “Análise” foi escrito por um especialista convidado a comentar o fato, e não por um jornalista da instituição. Leia o que ele escreve. A direção de como agir foi dada pelos ministros do STF A Constituição proíbe preconceito de raça. Por isso, o DEM diz que o sistema de cotas da UnB é inconstitucional. Por que os ministros decidiram que o privilégio a negros e pardos para o ingresso na universidade é constitucional? O STF não se baseou no conceito biológico de raça. Vendo-se a linhagem, de 1500 até hoje, 60% dos brasileiros brancos tiveram mãe índia ou negra. Somos mestiços. Como defendeu Jorge Amado e sua Gabriela. Como se definir raça num país mestiço? Difícil. Os ministros disseram que é categoria histórico-cultural. Mas o que é isso? Difícil. Fácil, no entanto, é constatar que milhões de brasileiros descendentes de negros têm menor acesso à educação superior. Não se define o que é raça, mas constata-se a imensa ausência de negros nas universidades. E basta para o Supremo orientar a sociedade sobre como agir. Agir em que direção? Em direção à ampliação da democracia, o regime onde, cada vez mais, todos são mais iguais. Não bastam direitos iguais. Deve-se ter iguais condições e facilidades para exercer direitos iguais. Argumenta-se que cidadão sem acesso à educação, saúde ou trabalho não é tão cidadão. Aí os ministros disseram: dar privilégios, por certo tempo, para incluir e ampliar a democracia, é discriminação positiva. Portanto, constitucional. Ficou fundamental questão: quem vai dizer qual candidato merece o privilégio da cota? Só pode haver uma resposta: o bom senso dos vestibulandos, com a autodeclaração, e a capacidade da universidade e da sociedade de controlar abusos. A direção de como agir foi unanimemente dada pelo Supremo. Joaquim Falcão é professor de Direito Constitucional da FGV Direito-Rio FALCÃO, Joaquim. A direção de como agir foi dada pelos ministros do STF. Folha de S.Paulo, 27 abr. 2012.

a) Em sua decisão, o STF não considera a raça no sentido biológico. Por quê? b) Como o STF considera a raça, ao determinar que negros têm direito a cotas especiais na uni-

versidade pública? c) Em que o STF se baseou para tomar sua decisão? d) Explique a participação que o Estado deve ter nesse processo, segundo o autor do texto. e) Que dificuldade o autor do texto enxerga para encaminhar uma política de cotas raciais nas

universidades públicas? f) Como ele propõe resolver o impasse? PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site

Os jornais e a verdade

Em linguagem acessível, o autor desmitifica a possibilidade de a imprensa ser imparcial e apresenta os critérios que precisam ser levados em conta para que a informação divulgada pela imprensa seja confiável. FIORIN, José Luiz. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos/11/artigo248033-1.asp>. Acesso em: 2 out. 2012.

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Língua Portuguesa


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86

Língua Portuguesa


UNIDADE 2

Arte



Capítulo ARTE

1

Que movimentos são esses?

Q

uando entramos em contato com a arte, podemos notar como a produção é diversa. Se observarmos as manifestações artísticas ao longo do tempo, são evidentes as mudanças e variações na música, nas artes visuais, no teatro e na dança. Isso ocorre tanto na forma de apresentação e nos materiais utilizados como em seus propósitos. Neste capítulo abordaremos o poder de transformação das linguagens artísticas e o potencial da arte como mobilizadora da sociedade.

RODA DE CONVERSA

Observe a imagem e o poema a seguir. Beinecke Rare Book and Manuscript Library, Yale University

[...] Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! [...] MARQUES, Edson. Mude. São Paulo: Panda Books, 2004.

Saul Steinberg. Sem título (1948). Desenho. Disponível em: <www.saulsteinbergfoundation. org/gallery/gallery_untitled1948-tn.jpg>. Acesso em: 4 set. 2012.

Após a leitura do poema e a observação do desenho, reflita sobre as questões a seguir e discuta-as com seus colegas: 1. Como você interpreta as mudanças em sua vida? 2. A ideia de mudança e transformação lhe é agradável? 3. Que relações você percebe entre arte e movimento? 4. Você já ouviu falar em movimentos artísticos? Conhece algum deles? 8º ano

89


A INQUIETAÇÃO NA ARTE

GLOSSÁRIO

É difícil pensar em arte sem pensar em movimento, pois o dinamismo é uma de suas qualidades mais evidentes. Se observarmos a linha do tempo da história da arte nas diferentes partes do mundo, é possível notar um sucessivo desenrolar de nomes que indicam movimentos, estilos e escolas.

O QUE GERA O DINAMISMO NA ARTE?

Escolas: doutrinas, teorias ou tendências de estilo ou pensamento, conjuntos de pessoas que seguem um sistema de pensamento, uma doutrina, um princípio estético. Determinados conjuntos de princípios seguidos por artistas. Estilos: maneiras particulares de se expressar. Conjuntos de características formais que indicam uma obra ou um artista. Movimentos: atividades (artística, política, filosófica) promovidas por um grupo de pessoas.

Para respondermos a esta questão, precisamos nos lemFonte: HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss Eletrônico. São Paulo: Objetiva, 1999. brar de que a arte é uma atividade humana. Por isso, ela está sujeita a toda sorte de mudanças e transformações vividas pelas sociedades em que é produzida. As alterações sociais ocorridas ao longo do tempo refletem diretamente não apenas sobre sua temática (o quê) como também sobre suas formas de expressão (como). Quanto mais dinâmica for uma sociedade, maiores e mais diversas serão essas transformações. A arte é reflexo da sociedade que a produz. Os artistas e artesãos, produtores de arte, são tocados pelas transformações e, por sua vez, também provocam a sociedade com suas inovações. Assim, o percurso da arte no tempo é marcado por tradição e rupturas. Nas sociedades mais estáveis, a manutenção das tradições é mais forte e, naquelas mais sujeitas às transformações, as rupturas são mais frequentes.

LER IMAGENS

Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Coleção Mário de Andrade/Instituto de Estudos Brasileiros, USP, São Paulo

Observe as duas imagens com atenção.

Arthur Timótheo da Costa. Autorretrato (1919). Óleo sobre tela, 86 × 79 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

90

Arte

Anita Malfatti. O homem amarelo (1915). Óleo sobre tela, 61 × 51 cm. Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP).


1. O que elas têm em comum?

2. E o que têm de diferente?

3. Observe as datas em que foram pintadas. Em sua opinião, qual das duas obras foi mais inovadora

para a época, provocando maior impacto e significando uma ruptura para a arte brasileira? Justifique a sua resposta.

CONHECER MAIS Leia a seguir alguns dados biográficos sobre os autores que produziram as obras analisadas na atividade “Ler imagens”. Verifique se esses dados confirmam a resposta que você deu à última questão.

Anita Catarina Malfatti (1889-1964) Pintora, desenhista, gravadora e professora brasileira. Estudou arte na Alemanha entre 1910 e 1914 e nos Estados Unidos entre 1915 e 1916, tendo contato com expoentes do Modernismo. A partir dessa experiência, seus quadros ganham novas cores e traçados, compondo retratos e paisagens livres e arrojadas. De volta ao país, expôs em São Paulo em 1919, mas suas obras foram duramente criticadas por Monteiro Lobato. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna expondo vinte telas, entre elas O homem amarelo.

Arthur Timótheo da Costa (1882-1922) Pintor, desenhista, cenógrafo, entalhador e decorador brasileiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Em 1907, participou da Exposição Geral de Belas Artes, na qual recebeu como prêmio uma viagem a Paris. Seus estudos na capital francesa influenciaram bastante sua obra, que, aos poucos, foi se aproximando do Impressionismo. Embora seus temas continuassem privilegiando a pintura acadêmica, Arthur passou a ter pinceladas largas e figuras sem contorno. Em seu Autorretrato (1919), mantém os efeitos de profundidade e de luz e sombra, embora com algumas inovações. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Belas Artes no Rio de Janeiro. .

Você conhece esse objeto? Já o viu em outra situação antes? Conhece algum objeto parecido? Observe-o bem. Note suas formas, suas linhas, sua cor e tente identificar o material de que é feito e qual é sua função. Trata-se de uma peça com design, embora não saibamos quem a concebeu.

The Israel Museum, Jerusalém/Vera Arturo Schwarz. Collection of Dada and Surrealist Art. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

DESESTABILIZAR PARA TRANSFORMAR Marcel Duchamp (1887-1968). Fonte (1917). Ready-made, cerâmica, 36 × 48 × 61 cm. The Israel Museum, Jerusalém/Vera Arturo Schwarz. Collection of Dada and Surrealist Art.

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É um exemplar entre centenas ou milhares vendidos pela empresa norte-americana Mott Works durante a segunda década do século XX. Foi justamente nessa época em que a arte moderna já havia rompido grandes barreiras e o mundo ocidental enfrentava um de seus piores momentos: a Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos da América viviam uma época de grande agitação cultural provocada pelos artistas europeus. Foi nesse país que eles se refugiaram das atrocidades da guerra e lá divulgaram suas obras e criaram sociedades artísticas como as que existiam em Paris. A peça que você observou ganhou notoriedade nesse cenário cultural estadunidense. Foi em 1917, durante a montagem de uma exposição da recém-criada Society of Independent Artists (em português, Sociedade dos Artistas Independentes), que ela surge com uma assinatura – R. Mutt – e com o título de Fonte. A comissão organizadora ficou animada e curiosa: Quem teria enviado tal obra? Seria o Sr. Mutt um associado? Confirmada sua inscrição na sociedade, criou-se a polêmica: como expor um urinol corriqueiro em uma mostra de arte? O que a obra comunicava? Seria uma brincadeira ou um protesto? Depois de muita polêmica, a peça foi abandonada num canto e não fez parte da exposição. No entanto, durante a abertura do evento, um dos artistas membro do comitê organizador da mostra distribuiu uma revista que trazia uma fotografia da obra Fonte. O artista em questão era Marcel Duchamp (1887-1968) e a revista chamava-se The Blind Man (em português, O homem cego). Na revista, Duchamp faz uma apaixonada defesa da obra e de seu criador, conferindo-lhe notoriedade: Se o senhor Mutt fez ou não com as próprias mãos Fonte, isso não tem importância. Ele a escolheu. Ele pegou um objeto comum do dia a dia, situou-o de modo a que seu significado utilitário desaparecesse sob um título e um ponto de vista novos – criou um novo pensamento para o objeto. DUCHAMP, Marcel. Em defesa de Richard Mutt, The Blind Man, Nova York, maio 1917, apud TOMKINS, Calvin. Duchamp.São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 208-209. A reprodução da página da revista está disponível em: <http:// sdrc.lib.uiowa.edu/dada/blindman/2/05.htm>. Acesso em: 24 set. 2012.

Mas na verdade Fonte era do próprio Duchamp, que a inscreveu na exposição sob o pseudônimo de R. Mutt. A obra foi perdida logo após o encerramento da exposição, mas o artista fez outras versões que hoje estão expostas em museus nos Estados Unidos, no Canadá, na Inglaterra e na França. Assim como fez com o urinol invertido de 60 GLOSSÁRIO cm, que é um mictório de banheiro público, MarReady-made: termo criado por Marcel Duchamp a partir de duas palavras da líncel Duchamp se “apropriou” de outros objetos cogua inglesa (ready, que significa pronto, letados aleatoriamente e os denominou objetos de e made, que significa feito). Passou a ser aplicado a obras em que o artista utiliza arte, criando a categoria dos ready-mades. objetos de uso cotidiano, produzidos industrialmente, e os expõe como obras Duchamp fazia parte de um movimento intitude arte. Assim, objetos utilitários sem lado Dadaísmo, formado por artistas e intelectuais nenhum valor estético são retirados de seus contextos originais e elevados à que expressavam sua indignação pelos horrores da condição de obra de arte simplesmente ao ganhar uma assinatura e um espaço em guerra e sua revolta contra as instituições políticas exposições. e sociais. Também questionavam a tradição na arte, 92

Arte


The Israel Museum, Jerusalém/Vera Arturo Schwarz. Collection of Dada and Surrealist Art. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone

propondo o que chamavam de contra-arte. O conceito dadaísta de deslocar os objetos de seu contexto familiar e apresentá-los como arte alterou radicalmente as convenções da arte visual, rompendo com a ideia de que o artista deveria ser sempre um habilidoso artesão. Para Duchamp e os outros dadaístas, a ideia e o conceito eram mais importantes que o fazer. Nesse caso, a rebeldia, sempre frequente nos movimentos artísticos, rompeu com padrões culturais vinculados à arte, e os reflexos do trabalho de Marcel Duchamp podem ser observados ainda hoje, como apresentaremos ainda neste capítulo. A atitude de Duchamp e os ideais do movimento dadaísta são alguns dos muitos exemplos de como a arte, tocada por fatores sociais e políticos, tem o poder de questioná-los, mobilizar a sociedade e propor uma nova ordem estética.

Marcel Duchamp. Roda de bicicleta (1913/1964). Ready-made, madeira e metal, altura de 126 cm. The Israel Museum, Jerusalém/Vera Arturo Schwarz. Collection of Dada and Surrealist Art.

Em 1995, o artista brasileiro Nuno Ramos (1960-) produziu o livro-arte Balada, publicado pela Editora 34. Trata-se de uma obra sem palavras. No centro de todas as suas páginas há um furo. É que, depois de encadernados, os livros tiveram suas páginas em branco perfuradas por um tiro de revólver. Para ler este livro-arte precisamos, além de observá-lo, considerar a época e o lugar onde foi produzido. Com base no texto e na sua observação da imagem do livro-arte de Nuno Ramos, responda às questões a seguir.

Eduardo Ortega Estudio Foto

LER IMAGEM

Nuno Ramos. Balada: livro e bala (1995). Livro branco perfurado por um tiro, 32 × 20 × 7 cm. Edição 200.

1. Apesar de não conter palavras, a obra em questão carrega uma mensagem. Como você a interpre-

ta? De que fala esse livro? 2. A obra lhe causa algum impacto? Escreva o que achou dela. 3. O que existe em comum entre os ready-mades de Marcel Duchamp e essa obra de Nuno Ramos? 4. O que você imagina que tenha motivado as pessoas a comprar o livro-arte Balada? 5. O livro-arte Balada foi produzido em série. Você conhece outras obras produzidas da mesma maneira? 8º ano

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GRAVURA: A ARTE MULTIPLICADA

Teylers Museum, Haarlem

Vimos na atividade anterior que o livro-arte de Nuno Ramos foi produzido em série. Muita gente acredita que uma das condições para que um objeto seja chamado de obra de arte é a sua singularidade, ou seja, que não exista nenhum objeto igual a ele, que ele seja único. Mas há determinadas técnicas de produção artística que permitem questionar essa ideia e conceber a existência de uma arte que é reproduzida, que pode ser fabricada em série e ser usufruída por muitas pessoas em diferentes contextos. E uma dessas técnicas é a gravura. Apesar de o termo muitas vezes ser aplicado a qualquer imagem, a gravura é caracterizada como uma técnica específica e bastante antiga. No Ocidente, ela foi introduzida juntamente com a invenção da imprensa no século XV, embora na China, muitos séculos antes, a gravura já fosse usada como a técnica para estampar a seda. A gravura permitiu ampla difusão do conhecimento científico, histórico, religioso e cultural, pois, com a invenção da imprensa e o consequente uso do papel, era possível obter várias cópias da mesma matriz. Dessa maneira, as cópias percorriam o mundo. A introdução da gravura ocasionou uma verdadeira revolução na transmissão de informações. A partir de então, muita gente podia se inteirar de assuntos diversos, inclusive os analfabetos, já que a gravura apresentava imagens. Apesar de serem obras múltiplas, as gravuras são assinadas uma a uma pelo artista que a produziu. Ele pode determinar a tiragem (ou série) que fará e quantos exemplares haverá em cada série. A numeração, a assinatura e a datação da obra são Rembrand Harmenszoon van Rijn. Ourives (1639). Gravura com ponta-seca, 25,4 × 20,3 cm. Teylers Museum, Haarlem. convenções mundiais.

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Arte


CONHECER MAIS

Gravura: técnicas e materiais

Andy Crawford/Dorling Kindersley/Getty Images

O processo da litografia se dá pela rejeição da água pela gordura e vice-versa. O artista trabalha sobre uma pedra especialmente preparada, desenhando com um lápis oleoso sobre sua superfície, que é depois umedecida. Para fazer as cópias, é aplicada tinta oleosa sobre a pedra, a tinta adere à região em que foi feito o desenho com o lápis, mas é rejeitada pela superfície molhada. Na serigrafia, a tela de náilon é sensibilizada com produtos químicos que vedam as áreas que não receberão a tinta e serão impressas. É um processo largamente utilizado nas indústrias e também conhecido como silk-screen. Em todas as técnicas mencionadas, para cada cor, o artista prepara uma matriz.

Marco Antonio Sá/Pulsar Imagens

A gravura é uma técnica de impressão. Ao utilizá-la, o artista trabalha sobre a matriz, que pode ser feita de diversos materiais. A partir desse material, a técnica ganha um “complemento” no nome: • xilogravura (xylo significa “madeira” em grego): quando a matriz é feita em madeira; • lineogravura: quando a matriz é feita em uma placa emborrachada chamada linóleo; • calcogravura: quando a matriz é feita em placa de metal; e, dependendo da forma como as incisões são feitas sobre o metal, há outras técnicas chamadas de “água-tinta”, “água-forte” ou “ponta seca”. Em todas as técnicas, a matriz é trabalhada por meio de incisões (sulcos) feitas com ferramentas apropriadas ou ácidos que criam baixo-relevos. Em seguida, é preciso passar tinta sobre a matriz. Após essa etapa, o papel é colocado sobre ela e pressionado. Dessa maneira, ela funciona como um carimbo e a imagem gravada é impressa no papel. Os baixo-relevos, áreas que não receberam tinta, resultam, sobre o papel, nas áreas claras, fazendo contraste com as áreas escuras que receberam tinta.

Exemplo de xilogravura: o artista faz a matriz em madeira.

Duas outras técnicas de impressão, mais recentes entre nós, utilizam matrizes e processos diferentes. São elas a litografia (lito significa “pedra” em grego) e a serigrafia. Em ambos os processos não há gravação em matriz. Assim, não podemos dizer serigravura nem litogravura.

Bertrand Rieger/Hemis/Corbis/Latinstock

Exemplo de preparo de impressão serigráfica.

Exemplo de matriz de litografia.

OS CLUBES DE GRAVURA Se a arte representa o seu tempo, retrata a sociedade e tem poder de mobilização, nada mais justo que seus produtos sejam acessíveis ao povo. Foi esse o pensamento que orientou o artista gaúcho Carlos Scliar (1920-2001) a organizar Clubes de Gravura, nas cidades de Porto Alegre e Bagé (no Rio Grande do Sul), nas décadas de 1940 e 1950. 8º ano

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É propósito do Clube dos Amigos da Gravura não só o desenvolvimento dessas técnicas entre os nossos artistas, como a divulgação do gosto pela gravura entre camadas cada vez mais vastas de nosso povo. Pela sua própria técnica é a gravura, de todas as artes plásticas, a que está economicamente mais ao alcance do público. SCLIAR, Carlos. Notícias do Clube de Gravura. Encarte especial no interior da revista Horizonte. Porto Alegre, ano II, n. 6, p. I-VIII, jun. 1952.

Coleção particular

Os artistas participantes dos Clubes de Gravura desejavam democratizar a arte. Para eles, a gravura era o meio ideal para isso, já que possibilitava a reprodução da obra. Por não ser uma obra única, torna-se mais barata possibilitando que mais pessoas possam adquiri-la. Os associados podiam receber gravuras regularmente em troca de uma contribuição mensal. A técnica era ainda ideal para a reprodução dos trabalhos em cartazes, livros, jornais e revistas atendendo à divulgação pretendida pelos artistas que defendiam a arte figurativa como forma de politização. Eles exploravam temas relacionados aos trabalhadores e às causas sociais, dando um cunho político claro às suas obras e à associação. Os princípios dos Clubes de Gravura gaúchos motivaram artistas de outros estados que aderiram ao movimento, criando outros Clubes de Gravura no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Santos e no Recife.

Glênio Bianchetti. Olaria (1951). Linoleogravura, 17 × 25,9 cm [mancha], 23,8 × 32,3 cm [papel]. Coleção particular.

CONHECER MAIS

Arte figurativa versus arte abstrata No século XX, diante da diversidade de meios e formas de expressão, grande número de artistas libertava-se da tradição de copiar a realidade e dedicava-se à abstração, fazendo muitas experiências nesse sentido. Porém havia uma parte que se mantinha fiel à figuração para poder retratar os temas populares e, por meio deles, divulgar causas sociais. O chamado Realismo Socialista, movimento nacionalista soviético, chegou a dominar nos países pertencentes à antiga União Soviética entre 1930 e 1950 e seu caráter figurativo, regido por regras oficiais. O movimento foi ado-

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tado pelo Estado em detrimento da arte abstrata, que acabou perdendo espaço. Dessa forma, artistas que a haviam adotado como expressão emigraram para outros países. No Brasil, muitos artistas se envolveram com os temas relacionados à pobreza e às injustiças sociais e viram no socialismo uma esperança. No entanto, podemos dizer que, apesar de ter havido certa influência quanto à temática, não houve por aqui um Realismo Socialista. Tanto a arte figurativa como a abstrata desenvolveram-se lado a lado.


Pablo Picasso. Pomba. Desenho. Coleção particular.

Ilustrações digitais: Estúdio Pingado

Você também poderá divulgar suas ideias utilizando a técnica da gravura. 1o passo: a ideia Pense em mensagens que deseja transmitir a um grande número de pessoas. 2o passo: a criação Transforme essas mensagens em imagens, recorrendo aos símbolos que possam representá-las. Picasso, por exemplo, utilizou a pomba como símbolo da paz em algumas de suas obras. Até hoje, seus desenhos são estampados sobre diversos produtos que transmitem essa mensagem. 3o passo: a escolha da técnica e a produção da gravura Escolha a técnica que vai usar para esta atividade. As técnicas tradicionais de gravura requerem materiais próprios. Se você tiver acesso a eles, poderá utilizá-los; caso contrário, poderá fazer adaptações, introduzindo ou substituindo esses materiais e mantendo o princípio da técnica: uma matriz e diversas cópias. Em tempos de reaproveitamento de materiais como princípio de sustentabilidade, é possível usar placas de isopor de bandejas de supermercados como matriz. Sobre elas, podemos trabalhar com qualquer objeto pontiagudo (como lápis, caneta, pregos e tesoura). Se a bandeja tiver abas, recorte-as, transformando-a em uma placa plana. Em seguida, trace seu desenho sobre a placa utilizando os instrumentos pontiagudos que selecionou. É interessante que os sulcos produzidos por eles sobre a placa tenham profundidade e que não sejam muito finos, pois são eles que resultarão em linhas em suas cópias. Além das linhas, você poderá fazer texturas em algumas áreas, perfurando ou raspando a placa para obtê-las. Lembre-se de que a matriz atuará como um carimbo; portanto, ao imprimir as cópias o desenho sairá ao contrário. Se desejar escrever algo, as letras deverão ser desenhadas espelhadas, ou seja, “ao contrário”. Depois do desenho pronto, use um rolinho de espuma para pintura para passar uma camada fina

Coleção particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone. Licenciado por AUTVIS, São Paulo, Brasil, 2012 – Succession Pablo Picasso, 2013

PARA CRIAR I

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Ilustrações digitais: Estúdio Pingado

de tinta guache sobre toda a superfície da placa. Você poderá usar mais de uma cor lado a lado, conseguindo multiplicar os efeitos obtidos de acordo com as combinações que fizer. Fique atento também à quantidade de tinta empregada. Não exagere, pois tinta em excesso pode entrar nos sulcos, impedindo a definição do desenho sobre o papel. Por último, carimbe sobre uma folha de papel, pressionando levemente com as mãos. Pronto! Você terá sua primeira cópia e poderá retomar o trabalho na matriz, para aperfeiçoar sua definição, caso julgue necessário.

Depois de realizar essas etapas, experimente, crie, faça novas combinações. Use tipos diferentes de papel. Não haverá limites para sua experimentação. Não se esqueça de assinar e numerar suas cópias. 4o passo: a divulgação Para divulgar suas gravuras, distribua suas cópias para as pessoas a quem deseja transmitir sua mensagem. Troque suas cópias com as de outros colegas da turma. Você poderá ainda transformar suas cópias em cartões, enviando-as pelo correio.

EU PROTESTO! A arte tem sido veículo e forma de protesto e denúncia em muitos períodos da história da humanidade. O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) pintou o painel Guernica para denunciar ao mundo os horrores da Guerra Civil espanhola. Picasso não pintou o bombardeio, mas a dor de quem o viveu. Em preto, branco e cinza, as imagens distorcidas atingem-nos em cheio e provocam nossos sentidos. Sua mensagem é tão forte que a obra virou um símbolo dos movimentos pela paz, fazendo-se presente em faixas e cartazes de passeatas e manifestações em diferentes partes do mundo. 98

Arte


Pablo Picasso. Guernica (1937). Óleo sobre tela, 349 × 776 cm. Museu do Prado, Madri.

O que pensa que é um artista? Um idiota, que só tem olhos, quando pintor, só ouvidos, quando músico, ou apenas uma lira para todos os estados de alma, quando poeta, ou só músculos, quando lavrador? Pelo contrário! Ele é simultaneamente um ente político que vive constantemente com a consciência dos acontecimentos mundiais destruidores, ardentes ou alegres e que se forma completamente segundo a imagem destes. Como seria possível não ter interesse pelos outros homens e afastar-se numa indiferença de marfim de uma vida que se nos apresenta tão rica? Não, a pintura não foi inventada para decorar casas. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo. PICASSO, Pablo. In: WALTHER, Ingo F. Picasso. Trad. Ana Maria Cortes Kollert. Colônia: Benedikt Taschen Verlag, 1994. p. 70.

Museu do Prado, Madri. Licenciado por Autvis, São Paulo,Brasil, 2012 – © Succession Pablo Picasso, 2013.

CONHECER MAIS Entre 1936 e 1939, uma violenta guerra civil dominou a Espanha. Em abril de 1937, uma esquadrilha de aviões enviada pela Alemanha (em apoio ao ditador espanhol Francisco Franco) lançou pesado bombardeio à cidade de Guernica, no norte do país. Em um curto espaço de tempo, toda a cidade foi tomada pelas chamas e seus habitantes, dizimados. Não restou uma só construção em pé na cidade e a maioria de seus habitantes morreu no trágico 26 de abril de 1937.

PARA REFLETIR I

Com base nas informações do texto, responda às questões propostas a seguir. 1. Picasso é um dos artistas que demonstram preocupação com os aspectos políticos e sociais. Que

ideias ele rejeita em seu depoimento?

2. Como o artista se posiciona em relação à arte?

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3. Em que aspectos o propósito de sua arte se assemelha ao dos artistas brasileiros dos Clubes de Gravuras?

4. Você compartilha de suas opiniões? Justifique sua resposta.

A ERA DAS METÁFORAS Entre os anos de governo militar no Brasil, de 1964 a 1986, muitos artistas brasileiros manifestaram sua indignação com a repressão a que o país estava submetido. Faziam arte por meio de imagens, músicas, textos, teatro, dança ou outras linguagens, pronunciando-se, assim, contra o regime. É claro que muitos desses protestos foram feitos de forma mais ou menos velada, já que o país vivia sob censura. Para driblar a censura e manter sua segurança pessoal, os artistas usavam vários recursos para se expressar, principalmente as metáforas. Era preciso fazer isso pois os que se opunham ao regime podiam ser interrogados, presos, torturados e mortos.

Metáfora De origem grega, o termo metáfora significa transposição. Consiste em transpor o sentido objetivo de uma palavra a outro figurado, permitindo o estabelecimento de uma comparação. Veja o exemplo: O Jornal do Brasil (periódico carioca), após o endurecimento do regime, anunciou na coluna destinada às previsões meteorológicas: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”. Na realidade, não se tratava de uma previsão meteorológica, mas de uma referência à situação política do país.

Todo tempo de grande opressão é tempo de grandes sutilezas.

Pedro Escosteguy (1916-1989), poeta e artista plástico, combinou palavra e imagem em muitas de suas produções plásticas. Na obra Linha de força (ação), a imagem de uma roda dentada de uma engrenagem pode nos remeter tanto a um instrumento de tortura como à situação dos operários e trabalhadores durante a ditadura. As pernas suspensas sugerem a morte e referemse aos desaparecidos políticos. 100

Arte

Coleção particular

FERNANDES, Millôr. In: MORAIS, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos arte: 801 definições sobre arte e o sistema da arte. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 187.

Pedro Escosteguy. Linha de força (ação). 1965. 150 × 120 cm. Técnica mista sobre madeira. Coleção particular.


Observe como as palavras estão dispostas na obra. A palavra “Libertação” foi dividida em duas: “libert” e “ação”, com formas diferentes de escrita, indicando que a liberdade requer ação e união. Note ainda que as letras vermelhas estão escorrendo, tal qual as pinturas apressadas sobre muros, ou ainda como se tivessem sido escritas com sangue. Já a palavra “Ação” é mais racional e ordenada. LER CANÇÃO

Na música, tivemos também muitos exemplos da resistência pela arte. Em 1970, o compositor Chico Buarque (1944-) escreveu “Apesar de você”, com uma letra que, aos desavisados, poderia ser apenas um desaforo à mulher amada, mas que na realidade se referia diretamente ao poder estabelecido. Ouça a música e leia atentamente sua letra. Apesar de você Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Eu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Esse samba no escuro Você que inventou a tristeza

Ora tenha a fineza De desinventar Você vai pagar, e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar Apesar de você Amanhã há de ser outro dia Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir E esse dia há de vir Antes do que você pensa

Amanhã há de ser Outro dia Você vai se dar mal etc. e tal La, laiá, la laiá, la laiá Apesar de você. Apesar de você (compacto), Polygram/Philips, 1970.

Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear De repente Impunemente Como vai abafar Nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Apesar de você

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1. A que gênero musical a letra da música se refere? 2. Que sentimentos estão expressos na canção? 3. A quem o autor da música se dirige? 4. Interprete os versos “Ainda pago pra ver/ o jardim florescer” e reescreva-os mantendo o mesmo sentido. Como surgiu a canção “Apesar de você” Foi uma mudança brusca depois de um ano e meio fora. Foi um susto chegar aqui e encontrar uma realidade que eu não imaginava. Encontrei o Brasil da Copa do Mundo, aquela coisa de 1970. Aqueles carros atulhados com o “Brasil, ame-o ou deixe-o” ou ainda o “Ame-o

ou morra” nos vidros de trás. Mas eu não tinha outra. Muito bem, é aqui que eu vou viver. Então fiz o “Apesar de você”, uma música que não tem valor em si mesma, mas que para mim tem, porque foi a minha resposta a tudo o que vi. Aí começou a rotina da perseguição.

BUARQUE, Chico. Trecho de entrevista concedida à revista Playboy em fevereiro de 1979. Disponível em: <www.chicobuarque.com.br/texto/mestre.asp?pg=entrevistas/entre_playboy_79.htm>. Acesso em: 24 set. 2012.

A charge política que, desde o Segundo Império, já tinha tradição na imprensa brasileira, também desempenhou um importante papel nos tempos da ditadura. Com muito humor, sarcasmo e ironia, os cartunistas criaram espaços e produziram críticas inteligentes. Em 1969, o lançamento do periódico O Pasquim foi um marco. Suas páginas se abriam para dezenas de cartunistas de grande talento, como Jaguar, Fortuna, Ziraldo, Zélio, Millôr Fernandes e Henfil. A irreverência foi uma das marcas do periódico que, contestando o conservadorismo da classe média da época, criticava o poder dominante.

A VOZ DO TEATRO Um dos setores que mais sofreram com a censura na ditadura militar foi o teatro. Charge de Henfil, 1984. Mas nem por isso deixou-se de produzir e montar peças que criticavam o regime. Se a palavra era visada, recorriam ao gesto para dizer o que queriam. Mesmo sob censura, muito se fez quando pouco era permitido. Apesar da resistência de diversos setores da sociedade, a censura interditou muitas manifestações culturais importantes. Isso afetou a formação de gerações in102

Arte

Ivan Cosenza de Souza (henfil@globo.com)

HUMOR GRITANTE


teiras, uma vez que afastou delas produções de grande relevância à formação da identidade cultural do país.

UMA GRANDE REVOLUÇÃO TROPICAL Ainda que os tempos não fossem fáceis, um movimento artístico sacudiu a cultura brasileira, provocando grandes alterações. Mais do que um movimento, o Tropicalismo foi verdadeiramente uma explosão criativa, um momento de liberdade. MORAIS, Frederico. Artes plásticas: a crise da hora atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. p. 98.

O Teatro do Oprimido Na década de 1960, partindo do princípio de que o teatro é algo que existe dentro de cada ser humano e de que somos todos atores e espectadores ao mesmo tempo, Augusto Boal (1931-2009) criou o Teatro do Oprimido, que, por meio de jogos e exercícios teatrais, pretendia ajudar as pessoas a discutir sobre seu cotidiano, estimulando a criatividade e fortalecendo a autoestima, condições necessárias à busca de alternativas e soluções aos problemas por elas vivenciados. No exílio, Boal continuou seu trabalho, difundindo-o em outros países. Inicialmente desenvolvidas para camponeses e operários, técnicas teatrais criadas por ele agora são utilizadas por professores, psicoterapeutas, assistentes sociais, estudantes nas ruas, ONGs, comunidades, teatros, prisões. O Teatro do Oprimido oferece aos cidadãos os meios estéticos de analisarem seu passado, no contexto do presente, para que possam inventar seu futuro, ao invés de esperar por ele. O Teatro do Oprimido ajuda os seres humanos a recuperarem uma linguagem artística que já possuem, e a aprender a viver em sociedade através do jogo teatral. Aprendemos a sentir, sentindo; a pensar, pensando; a agir, agindo. Teatro do Oprimido é um ensaio para a realidade. BOAL, Augusto. Trecho do texto Manifesto do Teatro do Oprimido. Disponível em: <www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&contro le=112>. Acesso em: 24 set, 2012.

César Oiticica Filho

Tudo começou com o trabalho do artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980) intitulado Tropicália, de 1967. Essa obra não apenas inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar a estética do movimento tropicalista na música brasileira. Tratava-se de uma instalação “penetrável” que contava com plantas, areia, araras, tecidos, sons e até um aparelho de televisão. A intenção, segundo o artista, era que as pessoas percorressem (“penetrassem”) a obra como se estivessem percorrendo as favelas e suas quebradas, entrando e saindo, como se fosse uma brincadeira, um jogo de descobertas. Ao apresentar esse trabalho, Oiticica considerou ser a “primeiríssima tentativa consciente de impor uma imagem ‘brasileira’ ao contexto da vanguarda”.

CONHECER MAIS

Hélio Oiticica, Penetráveis, instalação no Museum of Contemporary Art, Chicago, 2005.

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A obra imediatamente encontrou eco no cinema com Glauber Rocha (19391981), no teatro do grupo Oficina e na música com Caetano Veloso (1942-) e Gilberto Gil (1942-), entre muitos outros. Nasceu o Tropicalismo, movimento cultural que valorizava a cultura brasileira, mas abria-se para o novo e para o experimental, e tudo com uma forte crítica aos valores da sociedade brasileira, ainda muito conservadora. Sem dúvida, foi um movimento revolucionário que ainda produz eco em nossos dias.

SÃO VÁRIOS E MUITOS OS MOTIVOS Não apenas contra as injustiças sociais e a política protestam os artistas. Frans Krajcberg (1921-), artista nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, vem há anos, com sua arte, defendendo a natureza ameaçada pela insensibilidade dos seres humanos. Brevemente haverá apenas uma natureza vencida pelo homem, uma natureza destruída pelo homem, assassinada pelo homem. KRAJCBERG, Frans. Disponível em: <www.investarte.com.br/site_new/noticias/ setembro2011/krajcberg.asp>. Acesso em: 24 set. 2012.

Krajcberg transforma seu temor em revolta e a revolta em arte, utilizando o que sobra da destruição para criar suas obras. Transforma em poesia o que o ser humano destrói. Sua obra é muito conhecida e respeitada no Brasil e no exterior. Assim, a mensagem que carrega tem impressionado e comovido pessoas sensíveis à arte e ao equilíbrio do planeta. Com minha obra, exprimo a consciência revoltada do planeta. Coleção do artista

KRAJCBERG, Frans. Revolta. Rio de Janeiro: GB Arte, 2000. p. 165.

Frans Krajcberg, Flor do Mangue, anos 1970. Madeira, 300 × 900 cm. Coleção do artista.

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Arte


A arte movimenta e é movimentada pela sociedade e, por informar, alertar e protestar, atua politicamente. É claro que nem toda arte tem esses propósitos, mas qualquer que seja sua proposta a ela está colada a ideia de movimento. PARA REFLETIR II

1. Imaginemos que você seja um artista que vê em sua arte uma forma de manifestação de insatisfa-

ções, de denúncia ou de protestos da sociedade em que vive. Que causas você gostaria de defender ou quais seriam seus temas hoje?

2. De que forma (música, dança, teatro, pintura, escultura, fotografia, cinema etc.) os representaria?

3. Que características teria sua obra?

4. Que impactos desejaria que suas obras causassem na sociedade?

PARA CRIAR II

Além de uma brincadeira popular, a mímica é também um gênero teatral em que os movimentos e gestos são a principal forma de expressão. Acredita-se que a mímica tenha sido utilizada mesmo antes da palavra pelo homem primitivo, pois o ato de “mimicar” é inerente ao ser humano. Tanto no Oriente como no Ocidente, essa linguagem foi incorporada ao teatro e também ao cinema quando a tecnologia da época ainda não permitia a combinação de som e imagem. No cinema mudo, os gestos eram fundamentais na condução da narrativa. No teatro, o gênero mímica tem se renovado e vai emocionar e alegrar plateias para sempre. Nessa oficina, você e seu grupo poderão exercitar e se comunicar por gestos. Poderão usar outros recursos como: música, efeitos sonoros, roupas, maquiagem e adereços. 8º ano

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1o passo: o tema Baseando-se no que aprendeu sobre a arte como manifestação de caráter ético, estético e político, sobre questões relacionadas ao nosso viver, desenvolva com seu grupo um tema a ser trabalhado, como violência urbana, desemprego ou saúde pública. 2o passo: o roteiro A partir da escolha do tema, pensem em uma cena que o represente (tema) e que evidencie os seus aspectos principais. Elaborem, então, o roteiro da mímica. 3o passo: os elementos de marcação Música e efeitos sonoros são importantes porque, além de valorizar a apresentação, funcionam como marcações para os atores. Selecionem a música e os sons para a apresentação. 4o passo: os papéis e as funções Determinem os papéis e as funções. Nem todos os participantes do grupo precisam ser atores; não se esqueçam do sonoplasta (encarregado do som), do diretor e de outros participantes. 5o passo: os ensaios Ensaiem algumas vezes, até que tenham certeza de que a mensagem esteja clara e o grupo, bem coordenado. 6o passo: a divulgação Divulguem a apresentação. Escolham um nome para o evento e façam cartazes para divulgá-lo, utilizando a técnica da gravura. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros Arte e sociedade no Brasil A coleção revela como a reforma agrária, a ditadura militar e a Guerra Fria se refletiam no cotidiano brasileiro e na sensibilidade dos artistas. AMARAL, Aracy A. Arte e sociedade no Brasil. São Paulo: Instituto Callis, 2005. 3 v.

Cale-se: a MPB e a ditadura militar

Reforça a ideia de que a música serviu como uma importante ferramenta de comunicação. Apresenta as músicas censuradas e as que não foram censuradas que carregam mensagens de oposição ao regime. PINHEIRO, Manu. Cale-se: a MPB e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2011.

História da Arte

Guia de história da arte para conhecer mais sobre os movimentos e as transformações da arte ao longo da história da humanidade. PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 2010.

Tropicalismo, bananas ao vento no coração do Brasil Livro da coleção “Ponto de Apoio”, que traça um painel completo e didático sobre o Tropicalismo.

PAIANO, Enor. Tropicalismo, bananas ao vento no coração do Brasil. São Paulo: Scipione, 1996.

1968: o ano que não terminou

O autor reconstitui os acontecimentos de 1968 no Brasil e revela os dramas e as paixões de uma geração que se viu calada pelo governo militar. VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.

106

Arte

Filme O Pasquim, a subversão do humor

Disponível na internet, este documentário apresenta como um grupo de intelectuais brasileiros criou uma forma de comunicação com o povo e resistiu ao regime militar. Direção de Roberto Stefanelli. Brasil, 2004. 44 min.

Sites Itaú Cultural

Portal que abriga a Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Ela apresenta um grande número de textos e imagens relacionados aos artistas nacionais. Disponível em: <www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm>. Acesso em: 14 mar. 2013.

Memórias Reveladas

O portal reúne informações – em forma de vídeos, livros, fotos e depoimentos – sobre o período da ditadura militar no Brasil. Disponível em: <www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br>. Acesso em: 14 mar. 2013.

Nuno Ramos

Portal do artista brasileiro Nuno Ramos, que apresenta suas produções artísticas (artes plásticas, livros, canções e ensaios). Disponível em: <www.nunoramos.com.br>. Acesso em: 14 mar. 2013.


Capítulo ARTE

2

Que espaço a arte ocupa em nossas vidas?

V

Rogério Reis/Pulsar Imagens

ocê já percebeu como escolhas simples de nosso cotidiano envolvem a estética? A forma de vestir, o penteado, os movimentos do corpo ao caminhar, as entonações da voz, os gestos ao falar, a organização dos espaços são alguns exemplos de como o prazer estético está presente em nosso dia a dia mesmo que, muitas vezes, não tenhamos a clara percepção disso. São muitas as ações e as decisões de caráter estético que tomamos e que compõem nossa identidade, nossa forma de ser e de nos comunicarmos com os outros. Somos, portanto, seres instintivamente estéticos, ou seja, quando organizamos nossas próprias maneiras de nos relacionar com o mundo, buscamos fazê-lo levando em conta a beleza. Nessa organização e formação de nossa identidade, a arte desempenha um papel essencial. Além de nos oferecer inúmeros meios e formas de expressão, a arte nos coloca em contato com representações de tempos e espaços diversos, possibilitando que nos tornemos mais sensíveis a tudo que nos cerca. Ao mesmo tempo, permite também que aprimoremos a consciência que temos de nós mesmos e de nosso grupo social. As referências que construímos e as que herdamos de nossos antepassados fazem parte do que chamamos de patrimônio cultural. Neste capítulo, vamos abordar o papel da arte e suas relações com esse patrimônio.

O que é patrimônio? A palavra patrimônio tem sua origem no termo pater, que significa pai ou paterno. Ou seja, está relacionada aos valores ou aos bens que são deixados pelo pai a seus filhos, ou pelos antepassados aos seus descendentes. Essa noção de repasse estendeu-se às tradições e aos bens materiais que compõem a identidade de um indivíduo, de um grupo social ou de um povo. Hoje, já se fala até em identidade planetária.

Brincantes de Bumba-meu-boi, São Luís, Maranhão, 2008.

A arte é o espelho da pátria. O país que não preserva seus valores culturais jamais verá a imagem de sua própria alma. CHOPIN, Frédéric (1810-1849). Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/ 2012/03/joao-candido-portinari-fala-sobre-o-projeto-portinari-e-sua-trajetoria.html>. Acesso em: 18 set. 2012.

8º ano

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RODA DE CONVERSA

É fácil se lembrar de um conjunto de coisas que têm sentido especial em sua vida com um pequeno esforço de memória. As coisas que você ganhou, coletou, comprou ou construiu e que guarda com especial cuidado são imagens que lhe agradam muito e representam bens de valor simbólico que fazem parte de sua identidade. São fotografias, lembranças, receitas, presentes, cartas, cartões-postais, aquele ingresso de um show inesquecível. É só dar uma olhada em suas gavetas para encontrar muito do que constitui seu patrimônio pessoal. Selecione, entre esse conjunto de coisas, as que você considera mais significativas quanto à composição de sua identidade. Perceba seu valor estético e organize-as segundo esse critério. Faça composições, arrumando-as de acordo com seu gosto pessoal. Para isso, poderá utilizar uma caixa, uma gaveta ou outra coisa que as acomode e que possa também conter um valor simbólico, como uma mala, caso você seja natural de um local diferente daquele em que você vive hoje. Perceba quantos desses objetos referem-se ao seu modo de vida, ao seu passado ou ao seu presente. Em que medida eles representam sua cultura? De que forma eles o conectam com o mundo em que vive? Como eles o relacionam com sua família, com sua turma, com seu grupo social, com sua comunidade? Exponha sua composição aos colegas. Se não for possível carregá-la consigo, fotografe-a para poder apresentá-la. Durante a exposição das composições, perceba o que há em comum entre elas, note os elementos que as unem e também aqueles que as individualizam, e aquilo que só diz respeito a você mesmo. Ainda observando sua composição e as de seus colegas, procure em quais dos elementos expostos é possível perceber a arte. Discuta com seus colegas e anote suas observações.

O PATRIMÔNIO E SUA PRESERVAÇÃO O modo de vida, os costumes e os marcos físicos (objetos e imagens) podem guardar muito do nosso passado como seres humanos. São heranças que recebemos das mais diversas maneiras e que mantêm viva a memória e, consequentemente, a nossa história. Falamos de patrimônio comum. Assim, a preservação da memória é a preservação de nossa identidade coletiva. Por meio da apreciação e do estudo dos vários tipos de patrimônios, podemos compreender a diversidade e a multiculturalidade. Organizações mundiais, nacionais, estaduais e locais têm se dedicado a estudar, catalogar e criar regras para garantir a sobrevivência de manifestações culturais no mundo todo. A Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization; em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) é um órgão da ONU que, entre outras atribuições, cria programas para a proteção dos patrimônios culturais de todo o mundo, envolvendo desde a pesquisa até as técnicas e políticas de preservação. No Brasil, o órgão oficial que cuida da preservação do patrimônio brasileiro é o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), criado em 1937. 108

Arte


Para muitas pessoas, especialmente as minorias étnicas e os povos indígenas, o patrimônio imaterial é uma fonte de identidade e carrega a sua própria história. A filosofia, os valores e formas de pensar refletidos nas línguas, tradições orais e diversas manifestações culturais constituem o fundamento da vida comunitária. Num mundo de crescentes interações globais, a revitalização de culturas tradicionais e populares assegura a sobrevivência da diversidade de culturas dentro de cada comunidade, contribuindo para o alcance de um mundo plural.

O pioneiro Mário de Andrade O escritor modernista Mário de Andrade (1893-1945) foi um grande estudioso dos costumes e das produções culturais brasileiras. Para conhecê-las, viajou por todo o país, documentando as festas populares, as músicas, o linguajar de diferentes locais. Suas concepções sobre patrimônio sempre foram muito avançadas e com frequência ele tinha de debater com representantes da elite e com setores do governo que desconsideravam as manifestações populares. No final da década de 1930, participou da criação do Iphan, em uma época em que o governo desejava criar um programa de integração nacional, resgatando elementos para a consolidação de uma identidade brasileira. Nem todas as suas ideias foram adotadas na época. Na verdade, muitas delas só foram reconhecidas muito tempo depois, quando a Unesco incluiu como patrimônio a categoria de bens imateriais, incorporada, posteriormente, pelo Iphan. Veja o que ele disse na década de 1930: Alguns autores nossos, preocupados de folclore, têm classificado de boçais, sem sentido ou coisa parecida certas poesias de danças cantadas nossas, cocos, sambas, etc. [...] É não compreender a coisa folclórica. Não se trata aqui de poesia cantada, não se trata propriamente de poesia, mas de música. A música domina soberana. Como porém o instrumento usado pra fazer música é a voz humana, a palavra se ajunta necessariamente, não à música, mas à voz humana, e a melodia é preenchida com palavras. E sempre palavras necessárias. Arquivo/Agência Estado

A definição atual de patrimônio estabelece a existência de duas categorias distintas, apresentadas a seguir. Patrimônio material (tangível): obras e conjuntos arquitetônicos, monumentos (esculturas ou pinturas), objetos de arqueologia, sítios arqueológicos e todo artigo ou conjunto que tenha valor universal do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Também se incluem nessa categoria os elementos da natureza ou obras conjugadas do ser humano com a natureza. Patrimônio imaterial (intangível): práticas, costumes, representações, expressões, conhecimentos e técnicas que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Incluem-se nessa categoria as bebidas, as comidas, as danças, as músicas, os rituais religiosos, as festas tradicionais e muitas outras manifestações, além de instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados. Os bens imateriais são ainda mais vulneráveis que os materiais, pois sua transmissão baseia-se na oralidade e no “saber fazer”, podendo se perder se não forem devidamente estudados, registrados e protegidos. O tocar dos sinos nas igrejas de Minas Gerais, considerado um patrimônio nacional, depende do ofício de sineiro, que é transmitido de uma pessoa para outra, de maneira informal. Mesmo sendo pouco conhecidas nacionalmente, muitas manifestações culturais são consideradas patrimônio nacional. A maneira pela qual é feita a viola de cocho de Mato Grosso é uma delas: da escolha da madeira ao acabamento da viola, que tem desenho e sonoridade especiais, o conhecimento que guia o artesão é aprendido de geração a geração.

In: Revista do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional, n. 30, 2002, p. 99.

Disponível em: <www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/ intangible-heritage>. Acesso em: 18 set. 2012.

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A proteção do patrimônio cultural brasileiro é garantida por lei. A Constituição Federal estabelece que o poder público, com a cooperação da comunidade, deve promovê-lo e protegê-lo. Além disso, a Unesco atua com o governo brasileiro para que sejam garantidos os cuidados necessários à preservação do patrimônio considerado de valor universal. É por meio da observação do patrimônio valorizado e preservado que podemos nos reconhecer como povo. E, para isso, é preciso um esforço de todos para sua conservação. APLICAR CONHECIMENTOS

O local em que você vive ou já viveu anteriormente contém muitos aspectos que constituem a cultura local e que, portanto, podem ser categorizados como patrimônio cultural. Identifique-os, verificando sua importância para a construção da identidade da comunidade desse local. Depois de relacioná-los, classifique-os em: Patrimônio material

Patrimônio imaterial

Dos aspectos relacionados acima, identifique aqueles que considera artísticos, grife-os e, em seguida, compare suas anotações com as de seus colegas, verificando o que existe em comum ou não entre elas.

A ARTE COMO PATRIMÔNIO Em sua seleção e classificação, você deve ter identificado a presença da arte e percebido suas relações com o patrimônio. Pense agora nos registros que o ser humano já fez sobre pedras, peles de animais, blocos de argila, tecidos, folhas de papel, discos de vinil e meios digitais. São milhares de mensagens – textos e imagens – que constituem nossa memória e são testemunhos da história da humanidade. Pense também nas construções e suas técnicas, nos monumentos, nas músicas, nas danças, nas dramatizações e perceba o quanto expressam sobre a existência humana desde os tempos mais remotos. Como linguagem universal, a arte nos une e nos diferencia. Ela é parte significa110

Arte


tiva da construção de nossa identidade coletiva e individual, possibilitando-nos a noção de pertencimento a uma sociedade, a um povo, a um país. Não há cidadania sem memória. E não há memória sem arte… PORTINARI, João Candido. Disponível em: <http://redeglobo.globo.com /globouniversidade/noticia/2012/03/joao-candido-portinari-falasobre-o-projeto-portinari-e-sua-trajetoria.html>. Acesso em: 18 set. 2012.

CONHECER MAIS

A arte dos Wajãpi

“Nós Wajãpi estamos muito felizes porque ganhamos o prêmio da Unesco que escolheu nossa cultura como patrimônio imaterial da humanidade. (...) Nós Wajãpi nunca vamos deixar nosso modo de vida, como (...) as nossas

festas, a nossa pintura corporal [arte kusiwa]. Nós nunca vamos esquecer nossa cultura porque continuamos ensinando nossos filhos e netos na escola e no dia a dia, através da nossa tradição oral. (...) Se os não índios não respeitam a nossa cultura, até os nossos próprios jovens podem começar a desvalorizar nossos conhecimentos e modo de vida. Por isso, nós queremos apoio para continuar esse trabalho com nossos parceiros de formação dos Wajãpi, e também de formação dos não índios, para entender e respeitar os povos indígenas.” Disponível em: <www.museudoindio.gov.br/informativos/ jornal_n25_site.pdf>. Acesso em: 18 set. 2012.

Wajãpi/NHII – USP

Em novembro de 2003, a Unesco reconheceu alguns bens de natureza imaterial como obras-primas da humanidade. Entre elas estava a arte kusiwa, produzida pelos índios da nação Wajãpi (lê-se uaiãpi), que vivem no norte do Amapá. Trata-se de um sistema de representação gráfica construído por essa nação indígena que sintetiza seu modo de vida, suas crenças, suas formas de agir sobre o meio em que vivem. É por meio dessa linguagem, aliada à linguagem verbal, que transmitem conhecimentos estéticos, culturais e religiosos de geração a geração. Acreditam que todos os animais e as plantas têm alma e vivem em uma organização muito semelhante à dos humanos e que todos, homens e animais, são donos dos espaços da Terra e de sua diversidade e que uma ruptura nesse mundo pode ser fatal a toda a humanidade. Em seu repertório de códigos estão imagens de jabutis, jacarés, cobras, peixes, borboletas e outros animais, além de padrões geométricos sofisticados. Cada padrão gráfico tem um nome próprio e é reconhecido por todos, independentemente da aldeia em que vivem. Para as pinturas corporais, os Wajãpi contam basicamente com as cores obtidas com pigmentos extraídos do urucum (vermelho claro), suco de jenipapo (preto) e resinas de cheiro e urucum (vermelho escuro). Mas hoje em dia eles já têm seus grafismos expandidos e reproduzidos em utensílios e sobre folhas de papel, utilizando outros materiais para a pintura, inclusive canetas. Assim, não são os materiais que tornam essa arte tão significativa, mas o grande acervo de imagens e a criatividade das composições que são sempre variantes dos padrões tradicionais. Trata-se de uma tradição com grande valor estético e caráter criativo. A seguir, reproduzimos um trecho do discurso dos Wajãpi na cerimônia de reconhecimento da arte kusiwa como obra-prima da humanidade pela Unesco, em 7 de novembro de 2003:

A arte kusiwa é patrimônio imaterial. Trata-se de uma técnica de pintura corporal e grafismos, própria da população indígena Wajãpi, do Amapá.

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PARA REFLETIR

1. Como você avalia a importância do reconhecimento da arte kusiwa como obra-prima da huma-

nidade? Que valor esse título pode ter para os índios Wajãpi? E para a humanidade?

2. Que manifestações culturais de sua cidade ou região contribuem para a formação de sua identidade?

DANÇAR PARA PRESERVAR Você já ouviu falar das danças samba de roda, tambor de criola e jongo? Já assistiu a alguma apresentação dessas danças ou já dançou alguma delas? Essas são algumas das danças que fazem parte do nosso patrimônio cultural e estão registradas no Iphan como tal. Originadas entre os escravos, permanecem vivas graças às pessoas e comunidades que as praticam em festas e comemorações. Algumas delas são ligadas à religiosidade, outras são simples brincadeiras. As danças de origem africana têm raízes nos batuques dos terreiros e ganharam características e gingas particulares nas diferentes regiões em que se desenvolveram. Ao longo do tempo, fazem frente ao preconceito das pessoas racistas, à perseguição religiosa e à ação da indústria cultural, mantendo-se como genuínas manifestações culturais do povo brasileiro. A formação em roda, as batidas fortes e ritmadas e os movimentos corporais fortemente marcados são as características das danças afro-brasileiras. Algumas são conhecidas como danças de GLOSSÁRIO Indústria cultural: trata-se de um conjunto “umbigada”, termo popular adotado também por estudiode instituições, redes de mídia ou organizações locais, nacionais ou internacionais sos de nossa música popular (entre eles, Mário de Andraque visam a produção e a divulgação cultural como produtos de consumo geradode). O nome deve-se à forma como o dançarino que se res de lucros. Para isso, adotam padrões encontra ao centro da roda convida outro que está fora que agradem às massas, não permitindo ou estimulando o seu caráter crítico e para entrar e dançar: a “umbigada” refere-se ao fato de um reduzindo a arte a mera mercadoria. Um bom exemplo é a telenovela. tocar a barriga do outro. 112

Arte


Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

O tambor de criola é tradicional no Maranhão. Só as mulheres, vestidas com saias rodadas e coloridas, dançam, enquanto os homens cantam e batem tambores. Com algumas semelhanças, o samba de roda, tradição no Recôncavo Baiano, recebeu o acréscimo de outros instrumentos como o berimbau, de influência africana, e a viola e o pandeiro, ambos de influência portuguesa. O samba, referência nacional e uma das marcas do Brasil no exterior, teve suas raízes ligadas a três outras danças: • o samba de roda praticado origiJohann Moritz Rugendas (1802-1858). Lundu (1835). Biblioteca Nacional, nalmente na Bahia, principalmenRio de Janeiro. te no Recôncavo Baiano, que foi introduzido no Rio de Janeiro por escravos vindos da Bahia; • o lundu, que é uma dança de forte sensualidade e chegou a estremecer a sociedade no período colonial brasileiro. Foi a primeira manifestação da época em que um casal dança mantendo contato corporal; • o jongo, dança de caráter espiritual executada em roda com um casal ao centro, representando a fertilidade e acompanhada de diversos tambores representando os ancestrais.

Danças e lutas O frevo e a roda de capoeira tiveram suas origens ligadas à violência e à resistência. Ou seja, não são apenas bens imateriais. Ambos têm outras características em comum. A capoeira nasceu como luta entre os escravos, que disfarçaram a prática proibida com música e muita ginga. Assim, a luta era disfarçada como uma dança sob os sons do berimbau ou de instrumentos de percussão, como pandeiros, atabaques, ganzás e caxixis. O frevo originou-se dos antigos desfiles quando era preciso que alguns capoeiristas fossem à frente, armados, para defender os músicos das multidões, dançando ao ritmo dos dobrados. Os movimentos da capoeira associados ao ritmo das músicas executadas pelas bandas deram origem ao passo. As sombrinhas coloridas representam as armas que os passistas usavam como defesa.

Coleção Banco Central do Brasil, Brasília

CONHECER MAIS

Candido Portinari. Frevo, 1956. Óleo sobre tela, 198 × 168 cm. Coleção do Banco Central do Brasil, Brasília.

GLOSSÁRIO

Dobrados: composições musicais de ritmo marcial, executadas em desfiles e evoluções. Passo: dança do frevo.

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LER CANÇÃO

O município de Cachoeira, situado no Recôncavo Baiano, foi considerado monumento nacional em 1972. Famosa pela produção de charutos, a cidade que teve seus tempos de glória nos séculos XVII e XVIII preserva, com suas construções barrocas, a imagem do Brasil Império. Leia a letra de um samba de roda e responda às questões propostas a seguir. Graças a Deus que as coisa’ melhorou Dalva Damiana de Freitas Samba de roda da Suerdieck (Cachoeira)

Graças a Deus Que as coisa’ melhorou As festas de Cachoeira Todas elas levantou Foi chegado o patrimônio Consertando o bangalô Me traga de volta o trem Me traga de volta o vapor Graças a Deus Que as coisa’ melhorou As festas de Cachoeira Todas elas levantou Nossa Cachoeira é bela É joia, é diamante Só falta voltar agora A Festa dos Navegantes Graças a Deus Que as coisa’ melhorou As festas de Cachoeira Todas elas levantou

GLOSSÁRIO

Que as coisa’ melhorou: o uso do apóstrofo indica a omissão da letra s. Note que o substantivo “coisa” e o verbo “melhorou” estão no singular, não concordando, assim, com o “as”, artigo no plural (as). É uma forma bastante comum da linguagem verbal. Suerdieck: nome de uma das fábricas de charuto do município de Cachoeira.

Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/ baixaFcdAnexo.do?id=723>. Acesso em: 18 set. 2012.

1. A letra diz que as coisas melhoraram. A que coisas ela se refere? A que se deve a melhoria mencionada? 2. Como você interpreta a expressão “consertando o bangalô”? Leve em conta que a palavra bangalô,

originalmente empregada para nomear casas de madeira, é empregada nesse samba com sentido figurado, referindo-se a casas em geral. 3. Apesar da satisfação pelas melhorias, há um saudosismo expresso na letra por coisas que já não

existem na cidade. Identifique-as, classificando-as como patrimônio material ou imaterial.

A CIDADE COMO IMAGEM Se você vive em uma cidade, é mais fácil observar de quantos elementos visuais ela é constituída. Os espaços urbanos concentram inúmeras referências que revelam sua história e a de seus habitantes: prédios, traçados de ruas e praças, monumentos, igrejas, parques, entre muitos outros exemplos. 114

Arte


Rubens Chaves/Pulsar

As cidades constroem e reconstroem uma imagem reveladora de sua identidade, sejam elas novas ou antigas. No entanto, a manutenção respeitosa dessa imagem nem sempre é garantida. Os grandes centros urbanos, como as capitais brasileiras, correm o risco de perder muito de seu significado e de sua essência por conta do rápido e desordenado crescimento a que estão submetidos. Isso impede que haja uma relação positiva entre o indivíduo e seu ambiente. Em obra intitulada Conjunto arquitetônico do largo do Rosário no centro histórico de Ouro Preto (MG), 2011. História da arte como história da cidade, o estudioso Giulio Carlo Argan (1902-1992) afirma que Como proteger tal crescimento pode gerar, por rejeição, atos de vandalismo. SeOs procedimentos para a proteção de bens culturais comgundo ele, muitos comportamentos sociais indesejáveis podem preendem algumas ações listaocorrer por falta de identidade do ser humano com o ambiente das a seguir. em que vive. • prevenção contra a deterioração, atos de vandalismo, furtos Imaginemos quanto é derrubado, rearranjado ou refore roubos; mado em nossas cidades todos os dias. A especulação imobi• preservação das condições liária e a ideia equivocada de progresso têm erguido construpor meio de limpeza e cuidados específicos para os edifícios, ções que nem sempre carregam valores estéticos coerentes por exemplo; com o local e com a comunidade onde são instaladas. Cons• restauração de detalhes e truções que revelam períodos importantes de nossa história características perdidas com o são muitas vezes derrubadas para dar lugar a estacionamentempo, respeitando-se o projeto original, feita sempre por profistos, por exemplo. sionais especializados; No Brasil e no mundo, muitas cidades têm seus centros his• revalorização: no caso de tóricos ou parte de suas construções reconhecidas e preservadas edifícios, trata-se de preservar suas características, mas conferindodevido ao seu valor cultural. Algumas cidades brasileiras foram -lhes novas funções, tornando-os declaradas pela Unesco Patrimônio da Humanidade. São elas economicamente viáveis. Isso já Ouro Preto (MG); os centros históricos das cidades de Goiás foi feito em alguns imóveis que foram transformados em centros (GO), São Luís (MA), Salvador (BA), Olinda (PE); e o Plano Piculturais; loto de Brasília (DF). Outras ainda estão pleiteando esse título, • reprodução de peças para como é o caso de Parati (RJ). garantir sua conservação se estiverem ameaçadas pelo local em Essa declaração implica a manutenção dos bens tombados. que se encontram. Embora forte, a palavra tombamento, nesse caso, nada tem a Nesse último caso, a peça ver com destruição. Na verdade, ela significa o contrário, já que original pode ser removida para um local mais adequado e, em o tombamento é um ato administrativo que visa proteger bens seu lugar, colocada uma réplica, de valor histórico, artístico, arquitetônico, ambiental e também recompondo-se a concepção oriafetivo para uma população ou para a toda a humanidade. ginal do espaço. 8º ano

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Essa conduta é tomada pelos órgãos municipais, estaduais ou pelo Iphan (que é o órgão federal brasileiro) ou pela Unesco (que é o órgão internacional) para a preservação de bens materiais. É possível tombar florestas, cascatas, cidades, ruas, edifícios, obras de arte, documentos, mobiliários, fotografias e utensílios. Um bem tombado deve manter suas características inalteradas, e muitas vezes esse ato garante também que o entorno (o que está bem próximo) do imóvel não possa ser alterado. A arquitetura e os monumentos de uma cidade constituem sua imagem. É preciso que entremos em contato com os marcos da cidade, observando-os com atenção para tentar compreendê-los.

PESQUISAR

Como o estudo do patrimônio é bastante importante para conhecermos melhor a história de nossa região, vamos imaginar que você seja um agente de um órgão de proteção ao patrimônio. Faça um levantamento em seu bairro, em sua cidade ou em uma cidade vizinha, de uma construção que seja considerada de valor cultural: casas de comércio, centros de lazer, templos religiosos, residências, praças, monumentos etc. O bem pode já ter sido ou não tombado pelo Iphan ou outro órgão responsável pela preservação do patrimônio. Escolha um deles como seu objeto de estudo. Para realizá-lo, você deverá responder a alguns itens, procurando informações nos arquivos da cidade, entrevistando moradores, fazendo buscas em livros e sites. Veja os itens que precisam ser respondidos. Localização da construção: área urbana ou área rural

Data da construção:

Estado de conservação: (

Endereço: A construção já foi tombada? Quando? Justificativas para seu tombamento.

Identificação dos materiais empregados na construção.

Identificação do uso atual da construção. A construção se encontra isolada ou faz parte de um conjunto arquitetônico?

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Arte

) Bom

( ) Regular (

) Ruim


Já sofreu reformas que tenham alterado suas características originais?

Sugestões para a revalorização da construção. Pesquise fotos das imagens da construção e apresente o resultado a seus colegas.

CONHECER MAIS

Templo da Discórdia (século V d.C.), na cidade de Agrigento. Embora seja localizada na atual Sicília (Itália), a cidade de Agrigento foi fundada pelos gregos em 581 a.C. Rubens Chaves/Folhapress

As construções representam a época em que foram erguidas. E também são resultados do espaço geográfico em que foram concebidas e dos materiais disponíveis na região onde foram erguidas. As técnicas construtivas e o design de edifícios nos permitem identificar as tradições e os conceitos que os edifícios carregam. Ajudam também a situar em que época foram construídos. Mas precisamos também olhar com cuidado, pois há “migrações” de formas arquitetônicas tradicionais, isto é, há edifícios que parecem ser de determinada época, mas na verdade estão “imitando” o estilo desse período. É o caso, por exemplo, da arquitetura neoclássica e suas variações, encontradas em muitos prédios públicos e até em residências brasileiras. Vejamos um exemplo desse tipo de arquitetura. Entre os séculos VII a.C. e IV a.C., os gregos desenvolveram sua arquitetura monumental, com colunas, frontão triangular e simetria marcantes. Para construir grandes espaços abertos e ventilados capazes de proteger suas gigantescas esculturas do sol e da chuva, os gregos recorreram às colunas, que passaram a ser sua marca arquitetônica. Já os romanos, que herdaram muito da cultura grega, construíram o arco, elemento que aparece em praticamente todas as construções romanas. Os elementos usados por essas duas civilizações antigas – a grega e a romana – ficaram conhecidos como clássicos. Retomados séculos depois, deram origem ao que chamamos de neoclássico. É incrível como, mesmo depois de mais de dois mil anos, é possível encontrar construções bem mais recentes que trazem esses elementos. Isso ocorre por tais elementos carregarem uma forte simbologia ligada à nobreza, austeridade, sobriedade e autoridade.

Stefano Paterna/Alamy/Glow Images

Migração de estilos

Palácio Karnak, em Teresina, na sede do governo estadual piauiense. A fachada foi inspirada na arquitetura clássica.

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NEOCLÁSSICO VERSUS BARROCO

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

AS MARCAS E OS MARCOS DA ARQUITETURA

O estilo neoclássico foi introduzido no Brasil pelos arquitetos da missão artística francesa, trazida por dom João VI em 1816. O intuito do monarca era tornar a cultura brasileira “mais europeia”, o que, na época, significava “mais clássica” ou “mais civilizada”. Até meados do século XIX, o estilo que predominava no Brasil era o barroco. Fora introduzido pelos portugueses, mas recebera, ao longo dos anos e dependendo do local, características próprias, tanto pela absorção de elementos brasileiros como também pela adaptação das construções à paisagem. Existem variantes criativas desse estilo em todos os cantos do país. Mas é claro que os arquitetos da missão artística as consideravam de “segunda classe” e acreditavam que a arquitetura deveria privilegiar o estilo neoclássico, tão largamente usado na Europa. Afinal de contas, o Brasil agora tinha um rei! Fachada da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), construída no século XVIII a partir do projeto de Antônio Foram os modernistas que, no início do sécuFrancisco Lisboa, o Aleijadinho (1730?-1814). lo XX, revalorizaram o barroco como elemento formador de nossa identidade e trataram de incentivar sua preservação. Os arquitetos Lucio Costa (1902-1998) e Oscar Niemeyer (1907-2012), responsáveis pelo projeto arquitetônico de Brasília, chamado “plano piloto”, destacaram-se pelos seus estudos sobre o barroco brasileiro.

ARQUITETURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA O início do século XX ficou marcado como uma época de realizações de grandes projetos de infraestrutura (rede de esgotos, iluminação elétrica, implantação de bondes, entre outros) e de grandes projetos urbanísticos e arquitetônicos em muitas cidades brasileiras. Isso permitiu um rápido desenvolvimento de determinadas regiões do país, e tais transformações ocorreram em um Brasil que ainda tinha quase toda sua população vivendo no campo. Movidas pela industrialização e pelo contínuo fluxo de imigrantes, as cidades iam ficando cada vez mais populosas. Estilos arquitetônicos europeus predominavam nas obras públicas e particulares, e mesmo as vilas operárias recebiam projetos cuidadosos. As construções de taipa de pilão, tão comuns até o fim do século XIX, foram cedendo lugar às de tijolo. Posteriormente, as de tijolo foram substituídas pelos edifícios de concreto armado, 118

Arte


Instituto Moreira Salles

como destaca o arquiteto Benedito Lima de Toledo em sua obra São Paulo: três cidades em um século. As escolas públicas construídas nessa época receberam em seus acabamentos detalhes dignos de palácios: vitrais, paredes com pinturas decorativas, grandes portas e janelas em madeira nobre, portões em ferro fundido. Tudo era muito bem cuidado para que os alunos tivessem contato com padrões de higiene, limpeza e beleza e se sentissem estimulados a cuidar melhor de suas residências. Em 1935, um grupo de jovens Casa Lebre, na esquina das duas principais ruas da cidade de São Paulo: a rua arquitetos foi contratado pelo então Direita e a rua XV de Novembro, em 1905. ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (1900-1985), para projetar o prédio que sediaria o ministério, no centro do Rio de Janeiro. Entre eles, estavam Lucio Costa e Oscar Niemeyer, que convidaram outros artistas para o trabalho. Roberto Burle Marx (1909-1994) foi quem desenhou e executou os jardins, que contaram com escultura de Bruno Giorgi, e Candido Portinari pintou grandes painéis em azulejos. Essa obra foi um dos marcos de uma nova arquitetura brasileira que abandonava os exageros, mas não a qualidade estética. Esses profissionais foram precursores de uma arquitetura que levava em conta a valorização da paisagem brasileira.

Ismar Ingber/Pulsar Imagens

J. L. Bulcão/Pulsar Imagens

À esquerda, painel de Portinari no Ministério da Educação e Saúde. Seu detalhe, à direita, retrata motivos marinhos. Hoje o edifício é conhecido como Palácio Gustavo Capanema e continua sendo de propriedade do Estado brasileiro.

8º ano

119


King Ho Yim/Dreamstime.com

A construção de Brasília reuniu novamente esses artistas e arquitetos e, a eles, outros se juntaram para criar amplos espaços, avenidas largas, grandes jardins. Niemeyer projetou os edifícios públicos da nova capital sem grades ou muros, abertos ao espaço externo como se fossem extensões das praças que os circundam. As linhas da arquitetura de Niemeyer estão presentes em diversas cidades brasileiras e também em cidades de países como França, Estados Unidos, Itália, Portugal, Argélia, Noruega, Rússia, Inglaterra, Espanha, Nicarágua, Senegal e Cuba.

O edifício do Congresso Nacional é um dos cartões-postais da capital federal (DF).

Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein. NIEMEYER, Oscar. Disponível em: <www.museuoscarniemeyer.org.br/permanentes.htm>. Acesso em: 18 set. 2012.

A arquitetura contemporânea tem suas bases no modernismo recente. Suas linhas e formas estão presentes em muitas das construções públicas como estações de metrô, centros culturais, pontes, hospitais, museus, escolas e também em projetos que buscam revitalizar espaços antigos ou degradados. A utilização cada vez maior de inovações tecnológicas e a preocupação com a sustentabilidade se revelam nessas construções. 120

Arte


Hans Von Manteuffel/Opção Brasil Imagens

Imagem panorâmica da Praça Rio Branco, marco zero de Recife (PE), revitalizada.

ARQUITETURA IMIGRANTE E ARQUITETURA POPULAR Com a chegada dos imigrantes, a construção civil no Brasil ganhou experientes mestres de obras e arquitetos que se instalaram nas cidades em expansão, principalmente São Paulo. Mas foi a arquitetura popular trazida pelos imigrantes que marcou a paisagem dos locais em que eles se fixaram. Nas colônias de imigrantes (alemães, italianos, poloneses) dos estados da região Sul, é possível encontrar construções erguidas segundo as tradições de seus países de origem. Não importava aos colonos que por aqui não nevasse; continuavam a fazer suas casas com telhados inclinados tal como faziam na Europa; afinal, a casa era um elemento concreto que os conectava à sua terra natal. Além disso, a cumeeira alta – parte mais alta do teto – dava lugar ao sótão, local ideal para manter longe da umidade a colheita de grãos e cereais. Os alemães construíam utilizando a técnica de enxaimel, combinando pedra, madeira e argamassa. Os italianos adaptaram sua técnica ao material disponível no local em que se instalavam: pedra, madeira ou tijolos. Muitas dessas construções, hoje protegidas e tombadas pelo patrimônio histórico local, estadual ou nacional (Iphan), fazem parte da identidade das cidades e lugarejos em que foram erguidas. Nas cidades brasileiras convivem, lado a lado, heranças de múltiplos estilos arquitetônicos. São registros da memória urbana, de suas aspirações, de suas conquistas, de suas histórias. Vivemos em mundo dominado por imagens e, por isso, 8º ano

121


GLOSSÁRIO

Cultura visual: trata-se de uma área de estudos que procura compreender o papel das referências visuais na transmissão de saberes e valores e também na formação de nossa identidade.

Edu Lyra/Pulsar Imagens

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

reconhecer a origem ou a importância desses componentes de nossa cultura visual nos torna cidadãos. Assim, podemos ter uma postura mais crítica no sentido da interação com nosso meio, da preservação de valores estéticos e também da reivindicação de direitos por garantias de qualidade de vida.

Memorial da Imigração Polonesa, em Curitiba (PR), 2011. Edificada nas clareiras do Bosque do Papa, a casa que abriga o memorial apresenta um modelo arquitetônico típico na Polônia.

Casa no estilo enxaimel na zona rural do município de Pomerode (SC), 2012.

CONHECER MAIS

Fachadas populares A fotógrafa carioca Anna Helena Mariani Bittencourt (1935-) registrou, em suas viagens aos sertões do Brasil, as fachadas e platibandas – muro ou grade que emoldura a parte superior de uma construção – de casas populares que revelam uma estética quase instintiva. A origem desse tipo de fachada pode ter sido um estilo acadêmico que, sem dúvida, foi desenvolvido pelos construtores e moradores de cidades e pequenos lugarejos do Recôncavo Baiano. A variedade de combinações geométricas impressiona. A maioria delas, pintadas com cal, tem as cores de aquarela, doces e singelas. E foi assim que, preparado pela embriaguez da festa e da dança, eu vi pela primeira vez que as fachadas das pobres casas populares eram, como as roupas vestidas pelos Negros-dançarinos, protestos contra a miséria, a cinzentice, a feiura, a rotina e a monotonia de suas vidas. [...] Texto que Ariano Suassuna escreveu para o obra Pinturas e platimbandas, de Anna Mariani. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.

122

Arte

[...] Para mim, são coisas íntimas. Casas que eu conheço por dentro. Em Santo Amaro, onde nasci, no Recôncavo Baiano, as pessoas pintam suas casas a cada fevereiro para as festas da padroeira: é como comprar um vestido novo. A cidade fica toda endomingada, como se fosse um cenário de teatro ingênuo, com todas as casas recém-pintadas. É simples: é a alegria de viver, a vontade de ser mais bonito. Aos olhos do próximo, aos olhos de Deus. [...] Os homens que desenvolveram esse estilo visual numa região tão pobre do Brasil nos fazem ver que há muitos níveis insondados, muitos estágios misteriosos nas relações entre as massas e o que se convencionou chamar de modernidade. Texto de Caetano Veloso para o catálogo da exposição de fotos de Anna Mariani, realizada em Paris, França, em 1988 e intitulada Des maisons comme des tableaux (As casas como os quadros).


DEBATER

Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre arquitetura, organize um debate com seus colegas sobre a importância da estética na qualidade de vida dos moradores dos centros urbanos. A proposta é que a turma construa um painel que contenha as principais observações e constatações do grupo, não se esquecendo da estética de sua apresentação. Vocês poderão utilizar diversos materiais: canetas coloridas, giz de cera e tinta. O que se espera da turma é que façam um trabalho comunicativo. Em grupo, identifiquem os problemas relativos à estética em sua cidade e que poderiam ser solucionados com projetos de arquitetura e urbanismo.

DOS MONUMENTOS À ARTE PÚBLICA Desde a Antiguidade, a arquitetura é a arte dos espaços, e ruas e praças podem ser o espaço da arte. Hoje em dia, esculturas em pedra ou bronze descansam sobre pedestais compondo a estética de nossas cidades. Você já se perguntou sobre o significado dos monumentos de sua cidade ou de seu entorno? Podem ser os mais variados, mas em geral homenageiam figuras ilustres ou referem-se a fatos históricos. Constituem-se quase sempre em marcos de cidadania que incorporamos em nosso cotidiano. Além dos monumentos tradicionais, as ruas e praças podem abrigar outras manifestações que democratizem cada vez mais a arte. É o caso dos painéis, dos grafites, das apresentações musicais e teatrais, da dança e da literatura colocadas ao alcance de todos. Não queremos enclausurar as nossas obras em museus, onde só os que dispõem de tempo podem ir vê-las e não, seguramente, os trabalhadores. Se o povo não consegue visitar museus, faremos as exposições nas ruas, nos lugares de encontro dos operários. Pintaremos os muros das ruas, as paredes dos edifícios públicos, dos sindicatos, de todos os cantos onde se reúna gente que trabalha. Convite do artista mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974) aos seus amigos artistas, in: MORAIS, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos arte: 801 definições sobre arte e o sistema da arte. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 222.

A arte pública hoje, longe de se restringir a esculturas, é feita com a preocupação de “falar” à comunidade, interagir com os cidadãos. Podem tanto expressar temas políticos, tratar de assuntos relativos à comunidade, como também realizar intervenções estéticas na cidade. Arte pública é arte de graça, é arte que você não paga para ver, é arte que as pessoas têm acesso sem ter que pagar ingresso. Arte pública é arte sem mercantilização. É aquilo que está na rua, na praça ou em exposição aberta. São as formas de arte acessíveis à maioria da população que não tem grana e que pode, então, conviver com aquilo. Não precisa estar na rua, mas não pode prescindir do fato de ser de graça. No Brasil, rola muito menos do que deveria rolar. Depoimento do poeta e músico Arnaldo Antunes para o site Trópico. Disponível em: <www2.uol.com.br/tropico/emobras_6_956_1.shl >. Acesso em: 18 set. 2012.

8º ano

123


Há várias definições de arte pública. Antes, era só uma escultura em uma praça e hoje é um movimento em si – o que é mais complexo, porque implica em obras que se relacionam interativamente com o público. Considero que é a participação do visitante que faz a própria obra. Depoimento da artista plástica Fabiana de Barros para o site Trópico. Disponível em: <www2.uol.com.br/tropico/emobras_6_956_1.shl >. Acesso em: 18 set. 2012.

Ismar Ingber/Pulsar Imagens

O projeto “Um piano pela estrada”, criado pelo pianista Arthur Moreira Lima (1940-), leva a música erudita a todo o país desde 2003. Um “caminhão teatro” é o meio utilizado para transportar os pianos de cauda do músico, além de outros instrumentos necessários para as apresentações Brasil afora. O caminhão se transforma também em palco para a realização de concertos em praças públicas. O projeto conta com patrocinadores, o que viabiliza sua existência e manutenção. Outra iniciativa interessante foi a do chileno Jorge Selaron (1947-2013), pintor autodidata que viveu no Rio de Janeiro. Ele transformou a antiga escadaria que liga os bairros da Lapa e Santa Tereza em um dos marcos da cidade quando resolveu cobri-la de mosaicos, em 1990. Hoje, a escadaria é chamada pelo seu nome – Selaron – e faz parte do roteiro turístico da capital carioca. Em 2005 foi tombada como patrimônio cultural do município.

Escadaria do Convento de Santa Tereza, também conhecida como Escadaria do Selaron. Rio de janeiro (RJ), 2012.

A instalação ou apresentação de uma obra de arte pública deve atender às expectativas ou necessidades do público, inserindo-o e estimulando-o, independentemente de sua natureza: visual, musical ou cênica. A indiferença e a rejeição não são, de forma alguma, os objetivos da arte pública. 124

Arte


Patrícia Santos/Agência Estado/AE

As intervenções de arte pública podem ser duradouras ou temporárias, e um bom exemplo disso é a obra Pets, do artista paulistano Eduardo Srur (1974-). Em 2008, ele colocou garrafas gigantes às margens do rio Tietê (SP). Seu desejo era alertar todos que por ali passavam sobre o descarte inadequado de embalagens plásticas que provocam verdadeiras ilhas flutuantes de plásticos e outros dejetos nos rios e mares do mundo. Desmontada a intervenção, todo o plástico utilizado na obra foi reciclado e transformado em mochilas entregues aos alunos da rede pública.

Pets, de Eduardo Srur, na Marginal do rio Tietê, em São Paulo, em 2008.

Assim, a cidade é um dos melhores espaços para as representações. No espaço urbano, toda história toma forma e se manifesta, deixando suas marcas. Esse cenário é construído por todos que nela residem ou que por ela passam, dia a dia. A cidade é o espaço da manifestação e a arte, em suas mais diversas expressões, tem papel fundamental na integração das relações entre o individual e o público.

PARA CRIAR IDEIA, PESQUISA, AÇÃO!

Documentar como a arte se faz ou não presente em sua cidade é o tema central para esse trabalho, que deverá ser realizado em grupo. Os assuntos abordados no capítulo poderão lhe sugerir muitas ideias e, a partir delas, você e seus colegas realizarão um pequeno documentário. Documentário é um gênero cinematográfico que registra fatos relacionados à realidade. É importante que você assista a alguns documentários antes de iniciar a produção do seu filme. Só assim poderá entender e perceber como são estruturados e como cativam a atenção do espectador. Algumas sugestões 8º ano

125


de documentários interessantes são: Lixo extraordinário (2002), dirigido por João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker, e Edifício Master (2010), do grande documentarista brasileiro Eduardo Coutinho. Vejamos os passos a seguir para a realização do documentário. 1o passo: o tema O grupo de trabalho deverá discutir sobre os aspectos que deseja mostrar ao público, como a relação dos habitantes com os monumentos da cidade, as festas populares, o significado da dança para a comunidade, aspectos da arquitetura da cidade, grupos musicais em praça pública, entre outros muitos exemplos e possibilidades. 2o passo: a pesquisa Definido o tema, é necessário que o grupo pesquise sobre os assuntos a serem documentados. 3o passo: o roteiro É necessário construir um roteiro básico definindo se haverá ou não entrevistas, se o documentário será narrado e outros aspectos que serão definições importantes para a produção do vídeo. A narração garante que o espectador receba informações que não consiga captar diretamente das imagens, ou seja, é preciso ser clara e direta. O tempo de duração é determinante para a construção de um roteiro. É importante pensar em um filme de curta duração (de três a dez minutos é o suficiente). O roteiro pode ser dividido em três partes – início, meio e fim. No início, espera-se que seja apresentado o tema de forma clara e interessante. Pode-se, por exemplo, começar com perguntas ou pela apresentação de uma coisa nova ou inesperada, com o objetivo de criar expectativas. No meio, são apresentadas informações que poderão ser contrárias ou a favor do tema tratado. Entram aí as entrevistas, se houver. E, no fim, espera-se uma conclusão, uma mensagem do que quiseram apresentar ou destacar no tema tratado. 4o passo: a filmagem Para a realização de um documentário vocês deverão contar com um equipamento para filmagem: filmadora, máquina fotográfica com função de filmadora ou até seu próprio telefone celular. Se for filmar com seu telefone, é importante que conheça seus recursos de ajustes de luz e de cor. Ao filmar pessoas falando, procure sempre fazê-lo bem de perto (plano fechado), tentando detalhar o máximo possível os elementos da cena e tomando cuidado com os movimentos bruscos. Tente não abusar de recursos como o zoom, pois pode interferir na qualidade da imagem. Para que o filme não fique tremido, o ideal é segurar o aparelho com as duas mãos e, se possível, manter os cotovelos apoiados até mesmo no próprio corpo. Caso haja entrevistas, cuidado com a duração delas e com a dicção do entrevistado, pois poderão ficar cansativas ou incompreensíveis ao público. Um recurso interessante é dividi-las e intercalá-las com imagens e narração. É possível fazer isso quando for editar o filme. 126

Arte


5o passo: a edição Para essa etapa, você vai precisar de um programa de edição. Certamente, encontrará um em seu computador pessoal. A edição deve ser dinâmica, então, tome cuidado para não estender as cenas. Para dar ritmo ao filme, escolha uma trilha sonora pertinente e, ao final, não se esqueça dos créditos – nomes dos realizadores, agradecimentos, entre outros nomes que o professor certamente poderá lembrá-lo. 6o passo: a finalização Concluído o vídeo, é preciso salvá-lo em formato AVI e armazená-lo em portais na internet para que todos possam assisti-lo. 7o passo: a apresentação Organize um “cine fórum” (exibição dos filmes com debates), em sua escola ou em sua sala. Caso o filme seja postado na internet, divulgue o link por mensagem eletrônica ou de texto via celular, para que muitos possam acessá-lo. Sucesso a todos nessa empreitada! PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos

O livro reúne reflexões sobre memória, patrimônio e museus. É bastante abrangente na abordagem de questões relativas à nova concepção de patrimônio. CHAGAS, Mário; ABREU, Regina (Orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

Pinturas e platibandas

Livro de fotografias de Anna Mariani, resultado de suas investigações sobre as casas com platibandas decorativas no Nordeste brasileiro. MARIANI, Anna. Pinturas e platibandas. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.

São Paulo: três cidades em um século

Nessa obra, o autor apresenta as transformações da cidade de São Paulo, que, como o próprio título da obra indica, em cem anos foi três cidades diferentes: a cidade de taipa de pilão foi substituída pela de tijolos e, em seguida, pela de concreto armado. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Filmes Edifício Master

Durante sete dias uma equipe de cinema filmou depoimentos de moradores do Edifício Master, em Copacabana, Rio de Janeiro. Com um tom bastante intimista, o filme revela a vida privada de moradores de um prédio de uma grande cidade.

nario.net>, traz informações detalhadas sobre a produção, exibição e premiações recebidas pelo documentário. Direção de João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker. Brasil, 2002. 95 min.

Patrimônio Imaterial do Brasil

Documentário produzido para o programa Ação, da Rede Globo. Apresenta diversos exemplos de cultura imaterial e inclui entrevista com o Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari, arqueólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=MCx2-3-ZA1o>. Acessado em: 15 ago. 2012. 21 min.

Sites Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

Contém muitas informações sobre o patrimônio cultural brasileiro. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 21 jan. 2013.

Programa Documenta, do Ministério da Cultura O programa visa a recuperação e preservação do patrimônio cultural brasileiro. Disponivel em: <www.monumenta.gov.br>. Acesso em: 21 jan. 2013.

Revista Museu ao Vivo, do Museu do Índio Site que contém material sobre os índios Wajãpi.

Direção de Eduardo Coutinho. Brasil, 2010. 110 min.

Disponível em: <www.museudoindio.gov.br/informativos/jornal_n25_site.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2013.

Lixo extraordinário

Unesco

Filmado ao longo de dois anos, o documentário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz (1961-) em contato com catadores de lixo do aterro do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. O processo revela o poder transformador da arte. O portal oficial do filme, <www.lixoextraordi-

Portal da sucursal da Unesco no Brasil que inclui, além de informações sobre patrimônio, a lista de bens tombados em todo o planeta. Disponivel em: <www.unesco.gov.br>. Acesso em: 21 jan. 2013.

8º ano

127


Bibliografia

ARTE A METRÓPOLE e a Arte. São Paulo: Prêmio, 1992. AMARAL, Aracy A. Arte e sociedade no Brasil. São Paulo: Instituto Callis, 2005. v. 1, 2 e 3. ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como História da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995. CHAGAS, Mário; ABREU, Regina. (Orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: Cosac Naify, 2003. FARIAS, Agnaldo. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. GONDRA, José G. Modificar com brandura e prevenir com cautela, racionalidade médica e higienização da infância. In: FREITAS, Marcos C. de; KUHLMANN JR., Moysés. (Orgs.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002. GUERRA, Abílio (Org.). Arquitetura brasileira: viver na floresta. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2010. MARIANI, Anna. Pinturas e platibandas. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010. MINK, Janis. Duchamp. Colônia: Tashen, 1996. SCLIAR, Carlos. Os clubes de gravura no Brasil. São Paulo: Publicação da Pinacoteca do Estado – Secretaria de Estado da Cultura São Paulo, 1994. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. São Paulo: Edusp, 2010. SILVA, Orlando da. A arte maior da gravura. São Paulo: Edição Espade, 1976. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Cosac Naify, 2007. ZANINI, Walter. Duas décadas difíceis: anos 60 e 70. In: AGUILAR, Nelson. Bienal Brasil séc. XX. São Paulo: Fundação Bienal, 1994.

128

Arte


UNIDADE 3

LĂ­ngua Estrangeira Moderna



Capítulo LÍNGUA INGLESA

1

Understanding diversity

E

Paul Brown/Demotix/Corbis/Latinstock

ste capítulo se propõe a aprimorar seus conhecimentos básicos da língua inglesa. Nele você encontrará textos em inglês relativamente mais longos, bem como informações gramaticais. Tenha sempre em mente os princípios básicos que vêm norteando os capítulos desta obra: tente entender, confie em sua capacidade de dedução e lembre-se de que há diversos tipos de leitura, que requerem diferentes níveis de compreensão. Algumas vezes, você terá uma compreensão geral do texto; outras, será necessário buscar determinada informação. Não se recrimine por não compreender uma palavra ou outra e procure não consultar todos os termos no dicionário. Se não conhecer alguns, continue lendo até o fim do texto. Essa atitude o ajudará a compreender melhor, em uma segunda leitura, o que faltou na primeira. Entremeadas aos textos, você encontrará algumas explicações gramaticais e atividades. Siga atentamente as instruções para a realização das atividades, pois a intenção é auxiliá-lo tanto na compreensão do que está proposto como na sua realização, proporcionando a você as bases para uma boa aprendizagem da língua inglesa.

Participantes da parada gay de Londres estendem a bandeira do movimento, em 2012. O tema deste capitulo é a diversidade. Como você relacionaria a imagem da foto com esse tema?

8º ano

131


VOCÊ SABE O QUE É DIVERSIDADE? Quando o tema da diversidade refere-se às sociedades e aos grupos humanos, isso implica reconhecer que tanto as sociedades como os grupos que as compõem são plurais e variados. Em vez de grupos idênticos ou homogêneos, compreende-se que a identidade de um povo é diversa e a sua humanidade se manifesta de formas concretas e variadas. Nas atividades de leitura, abordaremos o que é diversidade e como ela pode se manifestar em nossa sociedade. Estão presentes alguns elementos que possibilitam o debate e a compreensão da necessidade de reconhecer, valorizar e respeitar as diferenças. O mesmo sentido de reconhecimento e de respeito também pode ser utilizado quando nos referimos ao ambiente e às atitudes de preservação de sua diversidade, como veremos no texto a seguir.

LER TEXTOS INFORMATIVOS

Neste capítulo, você vai ter contato com textos um pouco mais longos e praticar duas habilidades de leitura: buscar informações específicas em um texto e compreender textos de maneira global. Leia o texto a seguir e depois responda às questões propostas. Lembre-se de que para ler em inglês é preciso: • saber que cada tipo de texto tem uma função (dar informação, explicar, instruir etc.); • dependendo da função do texto, ele apresentará diferentes características linguísticas; • averiguar se há imagens associadas ao texto que podem ajudar a compreendê-lo ou inferir qual é o assunto principal; • pensar no que você já sabe sobre o assunto; • observar as palavras cognatas (aquelas que são parecidas com as palavras em português e têm o mesmo sentido); • buscar no dicionário apenas as palavras que são importantes para entender o texto. Diversity Diversity is a word that may be applied to different areas of human life, always to introduce the idea of difference. The important thing to remember is that it brings up the notion of tolerance, of accepting other people’s choices and values, so that they can accept ours. It can only happen when we recognize diversity. Here we present three types of diversity: biodiversity, ethnic diversity, and sexual diversity. Biodiversity is related to ecosystems, the various habitats of living things on Earth, and to the way they relate to create a harmonious natural environment. Ethnic GLOSSÁRIO diversity refers to the different human social groups with particular physical and Other: outro(a). cultural characteristics (religions, languages, values, beliefs, and traditions) that exist Brings up (to bring up): in the world. Sexual diversity, in turn, encompasses the various choices, orientations trazer à tona, demonstrar. and biological definitions of males and females in terms of their sexuality.

Biodiversity Biodiversity hit the news as a result of the United Nations Conference on Environment and Development, held in Rio de Janeiro in 1992. 132

Língua Inglesa


What is biodiversity? Biological diversity, or “biodiversity”, refers to the variety of all life on Earth, and the complex relationships among living things and between living things and their environment. Biodiversity includes genetic variety, species diversity, and variability in ecosystems and landscapes. Its recognition involves considering the threats to it, and to our very existence.

Why is biodiversity important?

Canadian Biodiversity Institute

Biodiversity sustains the environments in which we live and on which our lives and those of every other living creatures on Earth depend on. Thanks to biodiversity, we are able to obtain necessary goods such as food, clothing, medicine, and fuel. Equally important are the things that diverse ecosystems provide, such as clean air and drinkable water. Brazil is very important in this regard because many extremely significant ecosystems exist here, some of which are unique in the world. If we destroy our living habitat in order to profit financially or simply for our personal convenience, we are not respecting the way nature provides us with all we need to live a healthy life. Suppose we cut down a tree in our street because we are tired of sweeping leaves every day. It is one less tree to provide us with oxygen and with the means to clean up air pollution. Also, when somebody puts down vast amounts of forests in order to produce timber and doesn’t replace them, he is contributing to the elimination of thousands of animals and insect species, as well as GLOSSÁRIO endangering the water in that area, which is fundamental for the existence Amounts: grandes of life. And when we throw litter everywhere at home or in public spaces, quantidades. we are helping to spread diseases and cause floods. Think about it and try Floods: enchentes. to figure out why many people are saying that we are destroying our world! Landscapes: paisagens.

Biodiversity in Brazil Brazil has the richest biodiversity in the world. The Amazon Rainforest is the largest ecosystem in the world. It sprawls across the states of Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Acre, Mato Grosso, and Tocantins. To the east there is the Atlantic Rainforest, stretching from the northeastern coast of Brazil down to the Uruguayan border, including islands such as Ilha de Santa Catarina and Ilhabela (the largest) and the Fernando de Noronha Archipelago, far out into the ocean. There are also the Wetlands – Pantanal, in Portuguese. It is the world’s largest freshwater wetland – 68,000 square miles. The Pantanal Freshwater Wetland has become famous for being the world’s largest ecosystem of its kind. Fonte: Texto elaborado para fins didáticos.

8º ano

133


Maurício Simoneti/Pulsar Imagens

Palê Zupani/Pulsar Imagens

Brazilian fauna species: Tuiuiú.

Brazilian fauna species: vitória-régia.

1. No texto “Diversity”, assinale os tipos de diversidade que são mencionados. (Observe que, neste

caso, a pergunta é sobre uma informação específica. Procure pela informação pedida: tipos de diversidade mencionados.)

2. Releia o texto “Biodiversity”. Observe títulos, subtítulos e imagens. Procure cognatos em cada pa-

rágrafo, tentando antecipar o assunto geral do texto. (Neste caso, a leitura deverá ser mais global, com base em informações em destaque, a fim de identificar o assunto geral do texto.)

Os itens a e b requerem a busca de informações específicas. Escreva as respostas completas, em português, e depois transcreva (em inglês) frases, trechos ou palavras do texto que fundamentem sua resposta. a) Quando o assunto biodiversidade ganhou importância mundial?

b) Por que o Brasil está relacionado a esse tema?

VERBO TO BE – GERÚNDIO (-ING) O verbo to be tem muitos usos em inglês. Como temos visto ao longo do curso, um dos usos comuns é o de verbo auxiliar para formar o gerúndio. Esse tempo verbal mostra que uma ação está acontecendo no momento em que ela é descrita. Observe os exemplos retirados do texto:

TO BE (AM / IS / ARE) + ING We are helping to spread diseases and cause floods. Think about it and try to figure out why many people are saying that we are destroying our world! He is contributing to the elimination of thousands of animals and insect species. 134

Língua Inglesa


Na negativa podemos acrescentar not ou usar as formas contraídas – aren’t e isn’t. We are not respecting the way nature provides us with all we need to live a healthy life.

OUTROS USOS DO VERBO TO BE O verbo to be é comumente usado para identificar e definir coisas e pessoas. Observe os exemplos retirados do texto que lemos. Nesses exemplos encontramos a definição de diversidade e a identificação de biodiversidade e do Brasil de acordo com alguma característica: Diversity is a word that may be applied to different areas of human life. Biodiversity is related to ecosystems, the various habitats of living things on Earth. It is the world’s largest freshwater wetland – 68,000 square miles. Brazil is very important in this regard.

Para fazer perguntas, o verbo to be não necessita de auxiliares. Ele é colocado no início da frase ou logo após as question words (what, when, why, how etc.). Why is biodiversity important? What is biodiversity?

O verbo to be também pode ser utilizado com a palavra able para dar a ideia de que alguém ou alguma coisa é capaz ou consegue fazer algo. Geralmente, o verbo que o segue vem no infinitivo, ou seja, acompanhado de to. Veja o exemplo retirado do texto: We are able to obtain necessary goods such as food, clothing, […]

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Abaixo há vários exemplos de uso do verbo to be. Classifique as sentenças em 3 grupos:

(A) to be

(B) to be + ing

(C) to be + able

a) Ecology is becoming one of the most important branches of biology. (

)

b) My program is able to download those large files from the localhost. (

)

c) Government is encouraging single moms to go back to school. ( d) We are developing our new website! (

)

)

e) The maintenance of organisms is still an important part of biological research. ( f) What laws are protecting the African elephant? (

)

g) Some are able to turn a profit by turning their homes into corporate housing. ( h) Silicon Valley and Hollywood are working together pretty well. ( i) Is cleaning your roof necessary? (

) )

)

) 8º ano

135


j) Researchers are studying the effects of nicotine on driving. (

)

k) Maureen is a psychology major conducting a study on memory. (

)

l) The initial source of this energy is the environment outside of the organism. (

)

m) The number of people who say they are able to speak the Irish language has fallen to

1.77 million. (

)

2. Escolha alguns verbos das sentenças da questão anterior e escreva uma frase para cada tipo de uso

do verbo to be.

SUPERLATIVO Um aspecto gramatical que aparece com frequência nos textos é o superlativo. Ele é bastante usado com o verbo to be para descrever algo no qual o assunto abordado se destaca. A seguir veremos exemplos que descrevem itens definidos como os maiores em alguma coisa e o Brasil como o mais rico em biodiversidade: The Amazon Rainforest is the largest ecosystem in the world. The Pantanal Freshwater Wetland has become famous for being the world’s largest ecosystem of its kind. It is the world’s largest freshwater wetland – 68,000 square miles. Brazil has the richest biodiversity in the world.

Em inglês, o superlativo é formado de dois modos: uma estrutura para adjetivos considerados curtos e outra para adjetivos longos. Os exemplos anteriores mostram os adjetivos curtos, com a estrutura “the + adjetivo + est”. Para os adjetivos longos usamos “the + most + adjetivo”: The most ambitious project ever conceived on the Internet. Water, a key element of life, has always been one of the most exploited natural resources.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Circule no texto a seguir, retirado da Enciclopédia Britânica, exemplos de superlativo como os que

estudamos. Although examining counts of species is perhaps the most common method used to compare the biodiversity of various places, in practice biodiversity is weighted differently for different species, the reason being that some species are

136

Língua Inglesa


deemed more valuable or more interesting than others. One way this “value” or “interest” is assessed is by examining the diversity that exists above the species level, in the genera, families, orders, classes, and phyla to which species belong. For example, the count of animal species that live on land is much higher than the count of those that live in the oceans because there are huge numbers of terrestrial insect species; insects comprise many orders and families, and they constitute the largest class of arthropods, which themselves constitute the largest animal phylum. Disponível em: <www.britannica.com/EBchecked/topic/558672/biodiversity>. Acesso em 21 jan. 2013.

2. Anote as sentenças com formas superlativas encontradas no texto e escreva no quadro se a estru-

tura pertence ao adjetivo curto ou longo e também se é usado com o verbo to be:

Sentença

Curto ou longo

Verbo to be (sim ou não)

3. Reescreva os adjetivos a seguir usando o superlativo. a) Different species b) Interesting species c) High count d) Huge numbers

CONHECER MAIS

A expressão such as A expressão such as é usada quando queremos dar exemplos sobre algo anteriormente mencionado, de forma geral para dar mais clareza. Leia os exemplos e observe que tudo o que vem após such as se refere ao assunto anterior: Equally important are the things that diverse ecosystems provide, such as clean air and drinkable water.

We are able to obtain necessary goods such as food, clothing, medicine, and fuel.

Stretching from the northeastern coast of Brazil, down to the Uruguayan border, including islands such as Ilha de Santa Catarina and Ilhabela.

8º ano

137


A preposição in A preposição in é frequentemente usada com o significado de “em” (como no português). Veja nos exemplos a seguir alguns modos de usá-la. Com o que é usada

Exemplo

Nome de Estado, país, cidade, ano e mês

Biodiversity hit the news as a result of the United Nations Conference on Environment held in Rio de Janeiro in 1992.

Lugares

Biodiversity includes genetic variety, species diversity, and variability in ecosystems and landscapes. When we throw litter everywhere at home or in public spaces, we are helping to spread diseases.

Lugares precedidos Suppose we cut down a tree in our street because we are tired of sweeping leaves every por pronome day. Pronomes demonstrativos this e that

He is contributing to the elimination of thousands of animals and insect species, as well as water, which are fundamental for the existence of life in that area. Brazil is very important in this regard because it is here that many extremely significant ecosystems exist.

A palavra world

Because it is here that many extremely significant ecosystems exist, some of which are unique in the world. Brazil has the richest biodiversity in the world. Ethnic diversity refers to the different human social groups with particular physical and cultural (religions, languages, values, beliefs, and traditions) characteristics that exist in the world.

Além dos usos mostrados, in também é bastante usado na expressão in order to, que significa “para”, “com a finalidade de”. Also, when somebody puts down vast amounts of forests in order to produce timber without replacing them, he is contributing to eliminating thousands of animals and insect species. If we destroy our living habitat in order to profit financially or simply for our personal convenience, we are not being tolerant.

APLICAR CONHECIMENTOS III

Complete as sentenças usando as palavras a seguir: such as

in order to

in the world

in

a) The biologist needs to observe diversity b) Many of the richest ecosystems c) The Brazilian rainforest is well represented d) There are different kinds of creatures

138

Língua Inglesa

to understand the ecosystem. are located in Brazil. this area. insects, reptiles and mammals.


LER TEXTOS EM INGLÊS

Agora vamos ler alguns textos publicados em uma enciclopédia digital. A Wikipédia é um exemplo de enciclopédia colaborativa on-line, ou seja, ela pode ser editada por qualquer pessoa que queira contribuir com informações para deixá-la mais completa. Para ler uma página da Wikipedia, você pode usar as mesmas estratégias de leitura que temos discutido ao longo do curso, como: • Procurar entender o título, considerando as palavras cognatas e refletir sobre o possível • • •

assunto. Observar as imagens e ver quais dicas elas dão sobre o assunto do texto. Ao ler o texto observar, junto com a informação que você tiver sobre o assunto, as palavras cognatas, os nomes e os números. Quando estiver lendo textos on-line, lembre-se de que as palavras grafadas em azul costumam ser links para outras páginas; portanto, você pode obter mais informação sobre o assunto ao clicar sobre elas. Quando for importante para sua compreensão, utilize um dicionário.

Leia o texto a seguir e depois responda em português às perguntas propostas. Search

Ethnic diversity We live in a world of differences, of infinite diversity and variety. Think of planet Earth and you will find that most countries or regions have a predominant set of characteristics that define them physically and culturally. People from the Far East, like the Japanese and the Chinese, have more elongated eyes, whereas in Brazil and Latin America people tend to have eyes that are more round-shaped. And yet, we also see that there are Brazilians, as well as Bolivians, for instance, who have elongated eyes. That happens because different ethnic groups have met and mixed around the world. Mulattoes in Brazil are another good example, or think of samba and remember that its distant origins lie in African drumming.

What is ethnic diversity then? It is a mix of physical and cultural characteristics that constitutes a socially diverse population. Once we accept diversity, we learn to tolerate and live constructively with ourselves and with each other, here and everywhere. The recognition of diversity exposes to us our differences. If diversity did not exist, we would all be the same person − and let’s face it, life would be pretty boring. Diversity makes relationships between people much more interesting because of the possibility of exchanging experiences. However, not everybody accepts differences easily. It requires courage to face our prejudices, to accept mistakes in the way we may have treated people different from us, to work to open your mind to what is new and diverse, to change attitudes. Think of your own beliefs, which have been with you most of your life and may have never been questioned by you. What would it take for you to challenge them? What would it take to change them if you decided to?

Jon Feingersh/Image Source/Folha Imagem

Talk

Palê Zupani/Pulsar Imagens

Main Page

Children of different ethnic origins.

Fonte: Texto elaborado para fins didáticos.

8º ano

139


1. Qual é o assunto do texto? 2. Em sua opinião, por que o assunto tratado é relevante?

3. Observe as pessoas de sua classe e converse com um colega sobre os diferentes tipos de caracterís-

ticas que você percebeu. Como essas diferenças são apresentadas no texto?

4. O último parágrafo do texto aborda problemas sobre essas diferenças. Quais são esses problemas?

O que você pensa sobre isso?

Main Page

Talk

Search

Language and diversity Why are we studying English right now? Could it be because it is important if we wish to communicate in today’s international world? Or is it because it opens up possibilities for cultural exchange between different ethnical groups? Or both? English is spoken by millions of people, but there are thousands of languages in the world. Language is one characteristic of an ethnical group, but there can be diversity even within a group that speaks the same language. Linguistic diversity is rarely discussed in English classes, so students tend to think they shouldn’t speak until they speak very well. Maybe it is time to change attitudes. Communicating efficiently is more important than the accent you have or the grammar mistakes you may make. Communicating efficiently means understanding the message and using the adequate language for the appropriate context. Not very long ago, the idea of speech communities was the basis for the study of language variation or diversity. Linguists studied the differences − the varieties − of the languages of different communities, called speech communities. But things have changed. With communication via internet, the borders of speech communities are open. It is no longer necessary for one group to physically enter the speech community of the other. We can communicate on the web and be part of a community without being there. Of course, certain academic studies may need to be done in loco, so that linguists can examine carefully the environment and social context of a speech community. The language used for communication via the web is sometimes criticized. People who criticize it say that the internet is changing language because orthographic and grammatical rules are often not followed. That may well be, but language changes, and this is not new, it is a historical fact. It is possible that a new variety of language is emerging because we are starting to read, write and communicate in a different way. However, we cannot forget that critics argue that this new language may become so widespread that will eliminate diversity. It may cause the opposite effect of what some may wish for. Fonte: Texto elaborado para fins didáticos.

140

Língua Inglesa


5. Assinale abaixo os assuntos abordados pelo texto:

( ( ( ( (

) A base dos estudos sobre a variação e a diversidade linguística é a noção de comunidades de fala. ) A linguagem utilizada em diferentes comunidades não influencia a cultura e a compreensão. ) A internet permite que possamos nos comunicar sem estar fisicamente presentes. ) Não há discussão ou problemas com a linguagem, principalmente a ortografia na comunicação via internet. ) O texto afirma que a linguagem utilizada na internet pode ser algo novo, mas devemos ter cuidado para não eliminar a diversidade linguística.

6. Você acredita que a linguagem, e não só a língua, influencia nosso modo de pensar e nos leva

inclusive a formar comunidades, como propõe o texto? Explique.

7. No texto, discute-se sobre o inglês falado como língua estrangeira por pessoas que estão apren-

dendo a língua, como você faz agora. Releia o texto e sublinhe a parte que trata desse assunto. Escreva um parágrafo sobre o tema. 8. Observe a imagem a seguir. Ela mostra uma conversa na internet. Escreva em poucas palavras o

que você compreendeu do texto. Ilustração digital: Luciano Tasso

Observe, no diálogo na internet, como as palavras são abreviadas ou modificadas, seja para ganhar tempo, seja para soar como se fala. Pode-se perceber, também, a tentativa de transmitir feições e sentimentos. De tão comuns, sinais como :-), por exemplo, que indica um sorriso, já podem se transformar automaticamente em . Um exemplo interessante de jogo de sons com a língua inglesa, uma questão de ambiguidade entre som e escrita, é o nome do famoso grupo de rock irlandês U2. Veja o duplo sentido do som: • A letra U pronuncia-se como a palavra you (você ou vocês). • O número 2 se fala two, que tem som igual à palavra too, que significa “também”. Assim, em inglês, ao se dizer “U2”, estamos dizendo “vocês dois”, “você também” ou “vocês também”.

9. Compare a linguagem utilizada na internet e a utilizada, geralmente, fora da internet, e escreva

sobre as vantagens e desvantagens de cada uma. 8º ano

141


VERBOS MODAIS Os verbos modais utilizados como auxiliares são dois: will e would.

WILL Esse verbo é utilizado para expressar compromissos, consentimento, promessas ou previsões, indicando fatos que acontecerão no futuro. Por exemplo: We will campaign for the environment.

Agora, veja alguns exemplos de manchetes sobre o Brasil, que indicam fatos futuros: Brazil and China will sign agreements in agricultural area. The government will give Brazil’s environmental protection agency (Ibama) $7 million. Brazil will encourage expanded ethanol production. Brazil will become a major exporter of ethanol to the USA.

Para usar will em sentenças negativas, acrescentamos not, formando a contração won’t. Por exemplo: Many animal species won’t survive unless we protect them. Some global leaders won’t sign treaties to reduce pollution.

WOULD Esse verbo é utilizado para fazer pedidos com alto grau de polidez, além de indicar condicional. Veja alguns exemplos de uso do modal would como indicador de condicional: If diversity did not exist, we would all be the same person — and, let’s face it, life would be pretty boring. We would all be the same person = nós seríamos todos a mesma pessoa Life would be pretty boring = a vida seria muito chata

Tanto will como would são utilizados como forma de polidez em perguntas para oferecer ou pedir favores, sendo que would expressa um grau ligeiramente mais alto de polidez. • Em pedidos: Will you please close the window? Would you please help me with the packages? Will you turn down the TV, please? Would you call me back tomorrow, please? 142

Língua Inglesa


• Como oferecimento (a fórmula would you like?): Would you like some coffee? Would you like me to drive? Would you like me to help you? Would you like a glass of wine?

APLICAR CONHECIMENTOS IV

• Em duplas, tentem determinar o significado dos trechos em destaque nas frases a seguir. Not very long ago, people believed that all the different immigrant cultures would blend together into one big popular culture. Think of your own beliefs. What would it take for you to challenge them? What would it take to change them if you decided to? It would be hard to justify intolerance to sexual orientation as something constructive.

LER ENTREVISTA EM INGLÊS

Agora que você já conhece os textos enciclopédicos, vamos trabalhar com um novo tipo de texto, as entrevistas. Em entrevistas, além dos tempos verbais que já estudamos – o presente, o passado e o verbo to be –, vamos encontrar também os verbos modais. Leia os textos com um colega e atentem para os diferentes usos desses verbos. Para ajudá-lo a compreender o texto, procure pensar sobre o que você sabe a respeito de direitos civis e diversidade sexual, o tema da nossa entrevista. Lembre-se também das palavras cognatas e do vocabulário que já conhecemos. Righting past wrongs – defending the right to sexual diversity in Cuba Cuban sexologist Mariela Castro shocked the world, and a good number of people in Cuba, this year when she announced a proposed legal reform in this socialist Caribbean island nation which would include the full recognition of the rights of gays, lesbians, transsexuals, transvestites and transgender persons. The director of the National Centre for Sex Education (CENESEX), Castro has followed a strategy of awareness-raising on sexual diversity in Cuba since 2004, and is one of the few people in Latin America and the Caribbean to carry out a campaign of such magnitude on this issue from a government institution. The CENESEX proposals include non-discrimination on the basis of sexual orientation or gender identity, recognition of de facto unions between same-sex couples, the right of same-sex couples to adopt children, and the responsibilities of families and society towards transsexuals, transvestites and transgender persons. In an interview with IPS correspondent Dalia Acosta, the niece of Cuban leader Fidel Castro and daughter of acting President Raúl Castro said that although amending current laws would not imply an automatic change in social attitudes, it GLOSSÁRIO would lay the foundations for such a change and prompt the country’s Followed (to follow): seguiu. institutions to move towards guaranteeing the rights of sexual minorities.

8º ano

143


IPS: What stage is your proposal at? MARIELA CASTRO: We have three draft proposals. The first is a Ministry of Public Health resolution to implement integral health care for transsexual persons, including the creation of a clinic to provide care, from diagnosis and hormonal treatment to sexchange operations and post-operative follow-up. The second is to include sexual orientation and gender identity in a reform of the Family Code of 1975, and the related changes needed in other bodies of law. For instance, the Ministry of Labour and Social Security would need to pass a specific resolution to guarantee employment for transvestite or transsexual people, which is often difficult to find. And lastly, we are preparing the arguments for a draft law on gender identity which will address, among other aspects, the fact that a transsexual person need not necessarily undergo an operation to change their gender identity. IPS: The reform of the Family Code was in the hands of the Political Bureau of the ruling Communist Party in June. What is its status now? MC: It’s going through a consultation process. The guidance we were given by the Party was that we should go ahead with educating the public before the draft reforms are set before the people. So right now we are focusing on an educational strategy, through the media. IPS: Is the recommendation to prepare the public a good sign? MC: I think it’s positive. The importance of the draft law has evidently been understood, but the feeling is also that the people deserve to be informed in advance, so that they do not take offence. IPS: Will the proposal come before the ordinary session of parliament this December, or will it have to wait until next year? MC: It’s still too soon. Perhaps it will be ready by July 2008. I’d like that, and that’s why we’re preparing the ground to work quickly and intensively with the population on the issues of gender identity and sexual orientation. [...] IPS: Absence of information about sexual diversity in the Cuban media has contributed to ignorance, and therefore prejudice. How would you describe the present situation? MC: The media are beginning to discuss the issue, but only timidly as yet. They are overcoming their fear of addressing these subjects, which they evidently know very little about. We are willing to offer advice, and we are proposing soap operas, radio plays, documentaries, and films. Different ways of making the issues visible and gradually informing people have to be found. I’m sure that as it becomes more natural to talk about these issues, under the protection of the law, government agencies will also become more flexible. Everything has to happen gradually. [...] GLOSSÁRIO

Disponível em: <www.other-news.info/2007/12/righting-past-wrongs-defendingthe-right-to-sexual-diversity-in-cuba/>. Acesso em: 20 mar. 2013.

Employment: empregabilidade. Go ahead: seguir, continuar, ir em frente.

1. Qual é a função dos quatro primeiros parágrafos no texto? Assinale

a resposta correta. a) Explicar o governo cubano. b) Discutir a diversidade sexual em Cuba. c) Introduzir o assunto da entrevista e apresentar a entrevistada.

144

Língua Inglesa

Prejudice: preconceito. Quickly: rapidamente.


2. Observe os usos das palavras a seguir em trechos retirados do texto e, com um colega, responda: a) “We have three draft proposals.”

“What stage is your proposal at?” “Will the proposal come before the ordinary session of parliament?” A palavra proposal tem dois significados usuais: proposta e pedido de casamento. Em qual dos dois significados você acredita que proposal está sendo usada nos exemplos? Como chegou a essa conclusão?

b) “The importance of the draft law has evidently been understood.”

“And lastly, we are preparing the arguments for a draft law on gender identity.” A palavra draft significa rascunho. A palavra law geralmente significa lei. No entanto, as duas palavras juntas significam projeto de lei. Você sabe o que é um projeto de lei?

c) Encontre e sublinhe no texto a expressão draft law; depois explique o que a expressão tem a

ver com o tema da entrevista. d) “The media are beginning to discuss the issue.”

“There are the issues related to sexual orientation.” “It’s going through a learning process on these issues.” A palavra issue pode ser usada como verbo significando emitir, publicar; ou como substantivo, significando questão, edição, entrega. Nos exemplos ela é usada como verbo ou como substantivo? Qual é o significado de issue nos exemplos e no texto? Como você chegou a essa conclusão?

3. Complete as sentenças abaixo usando will, would, was e were. a) The Ministry of Education

have to write a proposal on improving

education if they were to do a serious job. b) Diversity issues c) The Ministry of Labour

the top subject of discussion in Congress. plan hard actions to better employment

conditions next year. d) Cuban media

like to include sexual diversity debates in their agenda.

e) The draft law

important for minorities in the past and a new law

to protect diversity

be planned for the near future.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Sites Greenpeace

Site de uma organização global que protege o ambiente. Disponível em: <www.greenpeace.org/international/>. Acesso em: 24 jan. 2013. (Em inglês.)

International rivers

Página da ONG que apoia métodos para suprir a necessidade de água e proteger as pessoas de inundações. Disponível em: <www.internationalrivers.org/en/about-international-rivers>. Acesso em: 24 jan. 2013. (Em inglês.)

Museu de zoologia da USP

Site sobre o museu que promove estudos sobre animais (faunas da América do Sul e da América Central). Disponível em: <www.mz.usp.br>. Acesso em: 24 jan. 2013.

WWF brasil

Site dedicado à conservação da natureza. Disponível em: <www.wwf.org.br/index.cfm>. Acesso em: 24 jan. 2013.

8º ano

145


Capítulo LÍNGUA INGLESA

2

Land occupation and environment

C

Werner Rudhart/dpa/Corbis/Latinstock

omo os outros países e povos veem o Brasil, suas potencialidades e seu desenvolvimento? Quais os problemas sociais e as questões que afetam a vida de milhões de brasileiros? Pelos meios de comunicação, informações sobre nosso modo de vida, economia, política, cultura e sociedade chegam a diferentes cantos do mundo. Para este capítulo, escolhemos duas questões que vêm sendo amplamente discutidas pela sociedade brasileira e acompanhadas no mundo todo por meio de documentários, filmes, jornais, programas de TV, produção literária e científica. Trata-se do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da proteção das reservas florestais brasileiras.

Homem usa motosserra para cortar árvore em Itacoatiara (AM), em 2010. A proteção das reservas florestais brasileiras é um dos temas deste capítulo.

Por esses assuntos fazerem parte do cotidiano do país, muitas das informações trazidas nos textos já são conhecidas. As notícias não são recentes, e essa escolha foi feita pelo fato de você possivelmente já estar familiarizado com o assunto, o que vai ajudar na compreensão. Entretanto, não podemos perder de vista o principal objetivo deste material: aprender inglês. Assim, antes de ler, pense no que você sabe sobre essas questões, o que estudou, as histórias e os fatos que já ouviu e as pessoas conhecidas nesse contexto. 146

Língua Inglesa


Algumas notícias foram reproduzidas apenas parcialmente. O texto completo pode ser acessado nos endereços eletrônicos fornecidos como fontes. Para acessar essas informações, ler e compreender os textos, utilize estratégias e guie-se por estas dicas: • Os temas deste capítulo estão organizados em duas partes. A primeira

• • • • •

tem como título “The Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: land reform”. Há subtítulos que adiantam o assunto de cada trecho. Os textos trazem informações sobre a origem e as formas de organização desse movimento social. A segunda tem como título “Environmental protection”. Também está dividida em trechos que abordam temas como as florestas brasileiras e os riscos da devastação dessas áreas. Os subtítulos adiantam o que cada trecho aborda. Ao final de cada parte, encontram-se manchetes e pequenas notícias publicadas nos Estados Unidos e na Inglaterra. Observe as fotografias e as legendas dispostas nos textos. Identifique palavras cognatas, recorrendo a seu glossário pessoal, e adivinhe significados de certas palavras desconhecidas. Localize palavras-chave que fornecem a ideia central do texto. Use o dicionário, se necessário. Seja persistente, siga em frente na leitura, sempre tentando entender o texto como um todo. Lembre-se de que, em um primeiro momento, você não precisa conhecer todas as palavras para compreender a mensagem que se quer passar.

Para começar, o que você sabe a respeito do MST? O que acha que vai encontrar no texto a seguir? Observando as imagens, reflita sobre o que as pessoas estão fazendo, onde trabalham e em quais condições.

LER TEXTO INFORMATIVO EM INGLÊS I

The Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: land reform Across Brazil, thousands of poor people risk their lives in order to gain access to land and be able to produce what they need to live. Organizing through the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (Landless Workers Movement) which started in the early 1990’s, many families occupy and begin to cooperatively cultivate food on soil whose property is concentrated in the hands of a few. The Landless Workers Movement exists within a larger historical context of the effects of political and economic actions that led to the concentration of wealth in Brazilian society. Brazil has one of the most inequitable land distribution GLOSSÁRIO patterns in the world: five hundred families (about 2,500 people) control Food: comida. 43% of agricultural land, compared to a universe of about 4,5 million Landless: sem-terra. Lead (to lead): levou, conduziu. landless workers.

8º ano

147


This situation has been aggravated by globalization. As more and GLOSSÁRIO Lose (to lose): perde. more food is produced for export, the local population becomes dependent Major: principal. on food imports and the majority of people lose access to land. They flee to urban areas in search of work. A large percentage of Brazil’s rural population experienced a major expulsion from agricultural activities and migrated to urban areas during the last 45 years of the last century. Now, over 77% of Brazil’s population lives in major urban areas. Furthermore, urban workers who have been left out of work because of the same process at the end of the twentieth century and beginning of this, started to look at the movement as an opportunity to solve their difficult economic situation. Cristiano Machado/Folhapress

Fonte: Texto elaborado para fins didáticos.

Eduardo Knapp/Folhapress

MST settlement and rural workers in Fazenda São Luís, Presidente Bernardes (SP), 2007.

MST settlement and rural workers in Engenho de Açúcar Serraria (PB), 1998.

148

Língua Inglesa


1. Leia o texto rapidamente, observe os números mencionados e responda: a) Em que ano começou o movimento? b) Qual é a porcentagem de terra controlada por apenas quinhentas famílias? c) Qual é o número de sem-terras existentes no Brasil? d) Qual é a porcentagem de pessoas vivendo em áreas urbanas atualmente?

2. Com um colega, leia o primeiro parágrafo novamente e responda às questões a seguir; proceda do

mesmo modo nas questões 3, 4 e 5: a) Para que as pessoas arriscam suas vidas no Brasil?

b) O que muitas famílias começaram a fazer no início dos anos 1990?

3. De acordo com o segundo parágrafo, por que a distribuição de terra no Brasil é desigual?

4. O terceiro parágrafo explica que os trabalhadores rurais se deslocam para as áreas urbanas. Por

que isso acontece, de acordo com o texto?

ATIVIDADE COM ÁUDIO

Organization: the key to the MST success The Landless Workers Movement (MST) is considered to be one of the largest social movements in Latin America. The success of the Movement comes from its high degree of organization. It puts pressure on the state by appealing to a particular land policy in the Brazilian Constitution,

GLOSSÁRIO

Appealing (to appeal): apelando. Policy: política.

8º ano

149


Edson Silva/Folha Imagem

which requires that “land that does not perform a social function must be expropriated for agrarian reform”. Areas that are unproductive or identified as having illegitimate owners will be targeted for occupation. Furthermore, the Movement supplies its members with technical advice, transportation, tents, tools, and seeds.

GLOSSÁRIO

Targeted (to target): ser alvo.

Fonte: Texto elaborado para fins didáticos.

Agora vamos ouvir o texto que acabamos de ler. Anote em seu caderno todas as palavras que conseguir entender. Depois, com um colega, compare e troque anotações. Veja se há palavras diferentes e discuta se conseguiria saber o assunto do texto conhecendo somente as palavras anotadas. CONHECER MAIS

A basic principle of the MST “Agrarian reform is a necessary condition for democracy, as well as a way to solve hunger and high rates of unemployment.” LINHARES, M. Y.; SILVA, F. C. T. da. Terra prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 209. (Tradução da autora.)

Landless workers’ march. Ribeirão Preto (SP), 2003.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. O texto sobre o MST mostra os fatores que contribuíram para o sucesso do movimento e explica

por que ele é um dos maiores do mundo. Com base no parágrafo, decida se as afirmações são verdadeiras ou falsas e explique como chegou a essa conclusão (se usou as palavras cognatas, o glossário, seu conhecimento prévio do assunto etc.) a) O movimento é desorganizado. (

)

b) O movimento se apoia na Constituição brasileira, que afirma que terras que não forem produ-

tivas devem ser expropriadas. (

)

c) O movimento não dá apoio aos participantes, apenas indica quais terras devem ser invadidas. (

150

Língua Inglesa

)


2. Pesquise o termo “expropriação”. Explique como e por que esse termo é usado.

LER NOTÍCIAS ON-LINE

MST Activist in Boston

O texto abaixo também fala sobre o Movimento dos Sem Terra, porém em vez de ser um texto informativo como o anterior, é uma notícia em uma página da internet. Ele traz a manchete com a data, quem o publicou (em vermelho) e o assunto do texto. A vantagem de ler notícias on-line é que temos acesso a links para outras notícias e para vídeos, como vemos abaixo. Do lado esquerdo temos um quadro que traz links para outras notícias sobre o MST e do lado direito, há um quadro com vídeos sobre o assunto. Vamos ler e descobrir mais sobre esta página.

MST News and Events Political Education: The experience of MSTin Brazil Ana Justo, Florestan Fernandes National School, The Brazilian Landless Workers Movement (MST) Ana Justo has been a leader of Brazil’s Landless Workers Movement (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST) for 23 of its 25 years. The largest social movement in Latin America, the MST has 1.5 million members. The MST struggles for land reform, access to healthcare, schools, organic production and infrastructure by promoting ground-up sustainable development based in the needs of all Brazilians. Ana coordinates the Secretariat of the MST’s Florestan Fernandes National School located in Guararema, Sao Paulo. Thursday, July 8th @ 6pm GLOSSÁRIO

Healthcare: cuidado médico. Struggles: lutas.

Encuentro 5 33 Harrison Ave. Boston, MA near Chinatown Station – Orange Line) Translation and refreshments will be provided. Disponível em: <www.mstbrazil.org/news/mst-activist-boston-thursday-july-8-2010>. Acesso em: 20 jan. 2013.

8º ano

151


1. Observe o quadro do lado esquerdo da notícia sobre o MST e responda: a) Quantos tópicos podem ser pesquisados em “News and Updates”? b) Ao lado dos itens, há números em parênteses; o que podem significar esses números? c) O que você acha que “News and Updates” significa? d) Quais assuntos são apresentados no quadro? 2. Agora leia a notícia no centro da página e responda: a) Há quanto tempo Ana Justo é a líder do MST? b) Quantos membros o movimento tem de acordo com a notícia? c) O texto menciona três pontos principais pelos quais o movimento luta. Quais são eles? d) De acordo com o texto, o MST procura promover o desenvolvimento sustentável para todos

os brasileiros. O que você sabe sobre desenvolvimento sustentável? Converse com um colega sobre o assunto e anote as principais ideias levantadas. 3. Observando o lado direito da página, podemos ver quatro quadros. Um deles mostra como al-

guém pode apoiar o MST. Leia os quadros e anote como é possível apoiar a causa. Lembre-se de que há muitas palavras cognatas (que parecem com o português e têm o mesmo significado) para ajudá-lo.

VERBOS VERBO TO BE Observe os exemplos a seguir: As more and more food is produced for export, the local population becomes dependent on food imports. The Landless Workers Movement (MST) is considered to be one of the largest social movements in Latin America. Areas that are unproductive or identified as having illegitimate owners will be targeted for occupation.

O verbo to be, diferentemente da maioria dos verbos em inglês, varia de acordo com o sujeito e se presta a muitas funções como auxiliar. Temos três formas para o verbo to be no presente: am, is e are. Veja no quadro a seguir como e com quais pronomes (sujeito) ele é usado: Affirmative I am a teacher. You are a student. He is exhausted. She is good in Mathematics. It is cold. We are Brazilian. You are good students. They are interested in sports.

152

Língua Inglesa

Atenção: Nem sempre a forma plural é marcada em inglês, como fazemos em português. Um exemplo é o pronome you, que serve tanto para “você” como para “vocês”. Só será possível saber se está sendo usado no singular ou no plural em função da observação do contexto.


Nos exemplos do quadro, o verbo to be é usado para identificar ou definir: you are a student (você é um estudante); she is good in Mathematics (ela é boa em Matemática). No entanto, considerando seu uso nos dois primeiros exemplos, retirados dos textos que lemos, o verbo to be funciona como auxiliar para formar a voz passiva, mostrando que algo é feito ou definido por alguém ou alguma outra coisa. Retomando nosso exemplo, temos: As more and more food is produced for export, […] The Landless Workers Movement (MST) is considered to be one of the […]

Nesse caso, usamos o verbo to be mais o particípio passado do verbo que o segue. Nos verbos regulares, formamos o particípio passado ao acrescentar a terminação -ed ao verbo, por exemplo: to produce – produced; to listen – listened. No caso dos verbos irregulares, não há uma regra. Consulte a tabela que apresentamos mais adiante em “Verbos irregulares”. Vamos ver mais alguns exemplos? How much work is done by the gravitational force? Locks that are acquired for operations on XML data.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Leia as sentenças e assinale as que estão utilizando o verbo to be na voz passiva. Sublinhe os verbos

dessa estrutura: a) They are hard working men. (

)

b) English is used for communication in most countries. ( c) Cars are designed to be comfortable. (

)

)

d) The MST members and leaders are good citizens who deserve respect. (

)

2. Complete as sentenças utilizando as palavras do quadro a seguir: are abandoned

are used

is based

are

is

are

a) Sustainable agriculture and other preservation methods b) Land owners c) Ana d) Rural areas e) Many properties f) The invasion of certain areas

by the MST.

greedy at times. the leader of MST in Brazil. because of the bad work condition. huge and unproductive. on a Brazilian Constitution amendment.

8º ano

153


OUTROS VERBOS − REGRA GERAL Nos textos que lemos, há dois tempos verbais muito comuns e tipicamente usados para dar informação: o presente e o passado simples. Isso acontece porque geralmente ao descrevermos o que aconteceu usamos o passado e para mostrar como está hoje, usamos o presente. Veja como usar esses tempos verbais.

PRESENTE SIMPLES A estrutura da frase da língua inglesa é igual à da portuguesa. A ordem é sujeito, verbo e predicado. Exemplo: Brazil has one of the most inequitable land distribution patterns in the world.

Brazil: sujeito has: verbo one of the most inequitable land distribution patterns in the world: predicado Entretanto, há particularidades para a formação de sentenças negativas e de perguntas: usam-se verbos auxiliares para formar sentenças interrogativas e sentenças negativas. No tempo verbal presente simples, o verbo auxiliar é do ou does, para a terceira pessoa do singular (ele, ela, uma casa, o Brasil etc.). Para sentenças afirmativas, acrescenta-se um s à 3a pessoa. Para formar sentenças negativas, coloca-se not após o verbo auxiliar (do ou does). Para formar sentenças interrogativas, colocam-se os auxiliares do (para I, you, we, they) e does (para he, she, it) na frente da sentença. Veja alguns exemplos de sentenças no afirmativo, no negativo e no interrogativo. Observe que o mesmo verbo auxiliar e a mesma regra se aplicam a todos os verbos. Does the President live in São Paulo? No, he does not live in São Paulo. He lives in Brasília What language do they speak in Jamaica? They speak English in Jamaica. Does the teacher speak English well? Yes, she speaks very well.

Lembre-se: As formas negativas podem ser contraídas: do not passa para don’t. A regra é juntar a palavra not ao verbo auxiliar e substituir a letra o por um apóstrofo. Essa regra vale para quase todas as formas verbais. É comum ver as formas do verbo to be grafadas como isn’t (is + not) ou aren’t (are + not). Quando você se deparar com a forma n’t grafada junto ao verbo, saberá que se trata da forma negativa contraída.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Releia o texto “MST activist in Boston” da seção “Ler notícias on-line” e encontre os verbos que

estão no presente. Escreva sentenças com eles. 2. Leia os dois conjuntos de sentenças a seguir e explique a diferença entre os verbos de cada conjunto.

You know she’s really hurt when she starts ignoring you. He goes to school on foot. I’m only happy when it rains. 154

Língua Inglesa


The local companies have to compete with the foreign companies for customers. I got to hear lots of girls talk about what they wanted in their future husband. Celebrities get festive for Christmas.

PASSADO SIMPLES As regras para formar o passado simples são bastante semelhantes e até mais simples que as do presente: usam-se verbos auxiliares para formar sentenças interrogativas e para formar sentenças negativas. No tempo verbal “passado simples”, o verbo auxiliar é did – e não há diferença para a terceira pessoa do singular, como no presente. Para sentenças afirmativas, coloca-se o verbo principal no passado. Quando o auxiliar did é utilizado (em perguntas e na forma negativa), o verbo principal fica no presente: Aborigines did not grow crops. Forma contraída: did + not = didn’t: Aborigines didn’t grow crops.

Para fazer perguntas no passado, colocamos o verbo auxiliar no início da sentença ou logo após a Wh question: Did Aborigines grow crops? Why did Aborigines grow crops?

Observe, no parágrafo a seguir, que trata da diversidade sexual, várias formas de passado utilizadas em perguntas: Some people say that sexual orientation and gender identity is a choice. But think about it. Did you choose to have same-sex attraction? Did you choose your gender identity at birth?

Na forma afirmativa, o sufixo -ed é usado para indicar que um verbo (regular) está no passado: Captain Cook explored Australia.

O sufixo -ed também é utilizado para o particípio passado: Brazil was colonized by the Portuguese.

E para adjetivos:

India is the second most populated country in the world.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

Em dupla, procure nos textos sobre o MST exemplos do uso do sufixo -ed e discuta-os. Faça anotações. 8º ano

155


VERBOS IRREGULARES Alguns verbos têm a forma do passado irregular. Veja uma lista de alguns deles. Infinitive form

Past participle

Tradução (infinitivo)

to be

was/were

been

ser/estar

to beat

beat

beaten

ganhar/vencer

to become

became

become

tornar-se

to begin

began

begun

começar/iniciar

to break

broke

broken

quebrar

to bring

brought

brougth

trazer

to build

built

built

formar/construir

to burn

burnt

burnt

queimar

to buy

bought

bought

comprar

to can

could

could

poder/conseguir

to catch

caught

caught

apanhar/captar

to choose

chose

chosen

escolher

to clothe

156

Past tense

clothed/clad

clothed/clad

vestir, cobrir

to come

came

come

vir

to cost

cost

cost

custar

to cut

cut

cut

cortar

to do

did

done

fazer (também funciona como verbo auxiliar)

to drive

drove

driven

dirigir

to eat

ate

eaten

comer

to fall

fell

fallen

cair

to feel

felt

felt

sentir

to fight

fought

fought

lutar

to find

found

found

achar/encontrar

to fly

flew

flown

voar

to forget

forgot

forgotten

esquecer

to get

got

got

obter

to give

gave

given

dar

to go

went

gone

ir

to grow

grew

grown

crescer

to have

had

had

ter

to hear

heard

heard

escutar

to hide

hid

hidden

esconder

to hit

hit

hit

bater

to hold

held

held

segurar

Língua Inglesa


Infinitive form

Past tense

Past participle

Tradução (infinitivo)

to hurt

hurt

hurt

ferir

to keep

kept

kept

manter/guardar

to know

knew

known

conhecer/saber

to learn

learnt

learnt

aprender

to leave

left

left

deixar/partir

to lend

lent

lent

emprestar

to let

let

let

deixar/permitir

to light

lit

lit

acender

to lose

lost

lost

perder

to make

made

made

fazer

to mean

meant

meant

significar

to meet

met

met

encontrar/conhecer alguém

to pay

paid

paid

pagar

to put

put

put

pôr

to read

read

read

ler

to ride

rode

ridden

montar (cavalo) ou andar de moto/bicicleta

to ring

rang

rang

tocar/dar o sinal

to run

ran

run

correr/gerenciar/dirigir

to say

said

said

dizer

to see

saw

seen

ver

to sell

sold

sold

vender

to send

sent

sent

enviar

to shine

shone

shone

brilhar

to show

showed

showed

mostrar

to shut

shut

shut

fechar

to smell

smelt

smelt

cheirar

to spend

spent

spent

gastar

to stand

stood

stood

ficar/permanecer

to steal

stole

stolen

roubar

to take

took

taken

pegar ou, dependendo do caso, levar tempo para fazer algo

to teach

taught

taught

ensinar

to tell

told

told

contar/informar

to think

thought

thought

pensar

to throw

threw

thrown

atirar/jogar (fora)

to wake

woke

woken

acordar

to wear

wore

worn

vestir

to win

won

won

vencer/ganhar

to write

wrote

written

escrever

8º ano

157


LER TEXTOS INFORMATIVOS EM INGLÊS II

Agora, tal como foi sinalizado no início do capítulo, falaremos um pouco sobre uma questão ambiental importantíssima para os brasileiros: a proteção das reservas florestais. Faça a leitura do texto da atividade a seguir com um colega. Observem as formas verbais estudadas e, ao final, escrevam resumidamente o que compreenderam do texto. Para facilitar a compreensão, não se esqueçam das estratégias de leitura citadas no início do capítulo. Environmental protection Environment is the sum of nature (air, soil, temperature, fauna, and flora) and human culture (principles, values, and attitudes). One does not exist without the other. If we do not understand the subject in this way, we will never be able to deal with the challenges facing us today in respect of the preservation of life on Earth.

The forests of the world The protection of the remaining forests of the world is a well known subject, and a crucial part of environmental considerations. In Brazil, where some of the last reserves are located, attentions are concentrated on the tropical rainforests, along the Atlantic coast and the Amazon. The reasons to worry are justified in numbers. In 500 years (particularly in the twentieth century), 93% of the Brazilian rainforest has disappeared.

GLOSSÁRIO

Challenge: desafio. Rainforest: floresta tropical.

Ilustração digital: Maps World

Atlantic Forest in 1500

N O

L

0

543

1 086 Km

S

Fonte: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 17.

158

Língua Inglesa


Ilustração digital: Maps World

Map of Atlantic Forest today

N O

L

0

543

1 086 Km

S

Fonte: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 17.

The Amazon forest could vanish fast The destruction of the Amazon rainforest, which constitutes 50% of the biodiversity of the Earth, could be irreversible in less than a decade, according to James Alcock, of Pennsylvania State University. He says that within half a century, the forest could virtually disappear.

GLOSSÁRIO

Greenhouse effect: efeito estufa.

Alex Almeida/Folha Imagem

Forests are important because they shelter biodiversity, genetic material for the evolution of species, regulate the climate (temperatures and rains), hold carbon dioxide reducing the greenhouse effect (global warming), protect the soil and store water for human and animal consumption, besides preventing floods. Did you know that of the total amount of water in the globe, only a little less than one per cent can be used by us to drink and produce food? And did you know that about one third of the world population does not have access to potable water? Also, did you know that the lack of drinkable water is responsible for more infant deaths than all wars and diseases put together? Think of it and of what you could do to preserve water.

The Amazon forest (AM), 2007.

8º ano

159


Point of no return If we don’t take immediate action to change current agricultural, mining and logging practices, Alcock says, the Amazon forest could get into the point of no return in 10 to 15 years. Besides, the model indicates that the forest could disappear within 40 or 50 years.

Risks are imminent Another consequence the US Scientist foresees is the extinction of many creatures that depend on the forest for survival and vice versa. “There are already a large number of species that are endangered, because the forest itself is endangered”, said Alcock. “We might be able to keep a few animals at the zoos, but we would surely lose a lot of amphibians, reptiles and insects.” Insects, in fact, are crucial for the maintenance of the megabiome GLOSSÁRIO of the Amazon because of their importance to plant survival. Plants, of Endangered: em risco de extinção. course, are crucial to protect water sources and streams. For the world Foresees (to foresee): as a whole, the main implication of the disappearance of the Amazon is antever, prever. not its production of oxygen, as many people believe. The forest produces Logging (to log): corte de enough oxygen for its own consumption. The real problem is that it would árvores para venda. become a vast desert with unthinkable consequences to world climate and water preservation. Fonte: Texto elaborado para fins didaticos.

1. Observando os dois mapas e a fotografia, responda: a) O que mudou na Mata Atlântica (Atlantic Forest) de 1500 para a atualidade? b) Que tipo de floresta aparece na fotografia? 2. Como o ambiente (environment) é constituído? 3. No texto encontramos a informação sobre o desaparecimento das florestas tropicais. Quanto já

desapareceu em pouco mais de 500 anos?

4. O texto explica que apenas 1% da água do planeta pode ser usado para beber. Em sua opinião e

considerando o que você leu, qual é a implicação disso?

5. No final há algumas consequências do desmatamento. Releia o parágrafo, reflita e responda: a) O que aconteceria se os insetos dessas florestas desaparecessem? b) Você já quis que algum tipo de espécie de animal ou inseto desaparecesse? O que aconteceria

se seu desejo se realizasse?

LER TEXTO JORNALÍSTICO EM INGLÊS

Brazil’s crackdown on deforestation of the Amazon Brazil’s environment agency Ibama has cracked down on deforestation – but in some regions it is on the rise again From the veranda of his farmhouse on the outskirts of this isolated riverside settlement, Gilvan Onofre can hear the helicopters coming, their rotors slicing through the humid Amazon air. 160

Língua Inglesa

“There is no longer any way of hiding,” sighed Onofre, a 70-year-old cattle rancher who moved to the region in the 1970s seeking his fortune and admits to having destroyed huge tracts of rainforest. “Everyone knows


that Ibama is photographing us and what we are doing from two metres above.” Ibama is Brazil’s environmental protection service, the group tasked with monitoring, catching and punishing those responsible for the plunder of the Amazon rainforest. Boca do Acre, a cattle-ranching town in the deep south of Amazonas state, is one of the new frontlines of the government’s war on illegal deforestation. When Onofre arrived here on 23 December 1972, there was hardly a cow to be seen. Boca do Acre was a tiny community of rubber-tappers surrounded by dense jungle accessible only by river. Since then the landscape has changed beyond recognition. It now has the largest cattle herd in Amazonas and much of the virgin rainforest has gone, replaced with dozens of sprawling cattle ranches, dotted with white zebu cows and the occasional cowboy. “In 30

or so years, we have gone from zero to 400,000 [heads of cattle],” boasted Onofre, president of the local ranchers’ association. “Nowadays everybody says we have to preserve the forest. But when we arrived nobody knew we had to protect anything; we had to deforest. We chopped the trees down so we could feed our animals, our cattle.” Amazonas remains by far the bestpreserved of Brazil’s nine Amazon states, with about 97% of its original forest cover intact. But environmentalists and government officials fear the state’s southern limits are becoming a new frontier for deforestation, with ranchers and loggers looking to push north into the untouched forests. PHILLIPS, Tom. The Observer. Disponível em: <www.guardian.co.uk/environment/2011/may/21/ brazil-crackdown-deforestation-amazon-ibama>. Acesso em: 22 fev. 2013.

1. Quem é Gilvan Onofre? Quando ele chegou à Boca do Acre? Por que ele foi morar lá? 2. Como é descrita a cidade de Boca do Acre no texto? 3. Em qual estado a floresta está mais bem preservada? Em sua opinião, por que isso acontece? 4. No terceiro parágrafo do texto é mencionada a progressão da criação de gado na região. Como

ela acontece? 5. Por que o governo e os ambientalistas estão preocupados com relação ao desmatamento? 6. Como o assunto do texto está relacionado à biodiversidade, conforme discutido no capítulo ante-

rior? Mostre quais partes desse texto têm relação com o assunto. 7. Converse com um colega e escreva duas sugestões que poderiam contribuir para evitar o desma-

tamento. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site

Brazil foundation

O site apresenta informações sobre projetos sociais no Brasil. Disponível em: <www.brazilfoundation.org>. Acesso em: 28 jan. 2012.

8º ano

161


Capítulo

3

LÍNGUA E S PA N H O L A

¿Te gusta el chocolate?

C

BjØrn Hovdal/Dreamstime.com

omo probablemente ya has notado, el mundo hispánico, debido al grande y variado número de países que lo componen, es muy rico en varios aspectos: música, literatura, arte, costumbres, tradiciones etc. Con la culinaria no sería diferente. Cada país, a su manera y a partir de los ingredientes naturales de cada lugar, fue creando los más variados y exquisitos platos. Y no es de espantarse que un mismo plato tenga diferentes formas de preparo, dependiendo del país que lo hace. En este capítulo conocerás aspectos de la cultura y de la historia mexicana y, evidentemente, su influencia en la culinaria. Hablaremos un poco sobre algunas delicias que nos brindan los hispánicos con su culinaria, todo como motivo para hablar y aprender a expresar nuestros gustos y preferencias en español. ¿Te apetece?

¿Te gusta el chocolate? ¿Conoces algo de su origen? ¿Crees que tiene alguna relación con el mundo hispánico?

LEER TEXTO LITERARIO

A continuación vas a leer fragmentos de la novela Como agua para chocolate, de la escritora mexicana Laura Esquivel. Esta novela cuenta la historia de Tita, que por una tradición familiar está condenada a permanecer soltera, cuidando de su madre. Ella y Pedro se aman y él, para mantenerse cerca de ella, se casa con su hermana, Rosaura. “Estar como agua para chocolate” es estar a punto de explotar de rabia o de pasión amorosa y, así, a lo largo de la novela, Tita elabora recetas que van a marcar los momentos de su vida, señalados por la presencia o ausencia de Pedro. 162

Língua Espanhola


Chocolate y rosca de reyes

Alfonso de Tomás/ Dreamstime.com

Ingredientes: 2 libras cacao Soconuso 2 libras cacao Maracaibo 2 libras cacao Caracas Azúcar entre 4 y 6 libras según el gusto

Manera de hacerse: La primera operación es tostar el cacao. Para hacerlo es conveniente utilizar una charola de hojalata en vez del comal, pues el aceite que se desprende de los granos se pierde entre los poros del comal. Es importantísimo poner cuidado en este tipo de indicaciones, pues la bondad del chocolate depende de tres cosas, a saber: de que el cacao que se emplee esté sano y no averiado, de que se mezclen en su fabricación distintas clases de cacao y, por último, de su grado de tueste. […] Tita extrajo sólo media cucharadita de este aceite para mezclarlo con aceite de almendras dulces y preparar una excelente pomada para los labios. GLOSARIO En invierno se le partían invariablemente, tomara las precauciones que Averiado: estragado, avariado. tomara. Cuando era niña esto le causaba gran malestar, pues cada vez Charola de hojalata: forma de lata. que se reía, se le abrían sus carnosos labios y le sangraban produciendo Comal: forma de barro ou de metal un intenso dolor. Con el tiempo lo fue tomando con resignación. Y usada para tostar grãos de café ou de cacau. como ahora no tenía muchas razones que digamos para reír, no le Cucharadita: colheradinha. preocupaba lo más mínimo. Emplee: empregue. […] Prefería tratar de no atormentarse más y procurar desviar los Extrajo: extraiu. pensamientos de su mente hacia cosas más triviales como la preparación Grado de tueste: grau de tostagem. de una buena pomada. Para eso no hay como crema de cacao. Hacia: em direção a.

ESQUIVEL, Laura. Como agua para chocolate. Barcelona: Mondadori, 1990. p. 143-144.

Sano: saudável.

1. De acuerdo con la estructura y los datos que están en el texto que acabas

de leer, se puede afirmar que se trata de un texto: ( ) descriptivo

( ) narrativo

( ) informativo

( ) argumentativo

2. En el siguiente trecho: “la bondad del cacao depende de tres cosas”, ¿qué significa la palabra

bondad en este contexto? ¿Cómo la traducirías?

3. Busca en el texto una expresión que pueda ser sustituida por “no le gustaba”.

8º ano

163


INVESTIGAR I

1. ¿Sabes dónde surgió el chocolate: en América del Sur o en América Central? ¿Crees que tiene alguna

relación con los pueblos indígenas? ¿Por qué no investigas el tema para responder a estas preguntas? 2. La rosca de reyes mencionada en el texto de la actividad anterior es un pan dulce consumido en

países hispanoamericanos para celebrar el Día de los Reyes Magos (6 de enero). ¿Por qué no investigas el origen de esta costumbre y cómo se celebra este día en México?

Billy foto/Dreamstime.com

ACTIVIDAD CON AUDIO I

En esta fotografía aparecen algunos de los ingredientes de la receta que hemos escuchado. ¿Sabes cómo se llaman?

Vas a escuchar una grabación de un programa matinal de recetas, toma nota de las informaciones que te parezcan importantes para después responder a las preguntas que se te harán. 1. En el programa que hemos escuchado, nos presentaron la receta típica de un país hispanoameri-

cano. Escucha otra vez la grabación y marca los ingredientes que se utilizan en la preparación de esta exquisitez. ( ( ( ( (

) ajo ) tomate ) cilantro ) carne ) chile azteca

( ( ( ( (

) cebolla ) naranja ) sal ) aceite ) comino

( ( ( ( (

) vinagre ) limón ) pimiento ) azafrán ) pimienta cayena

( ( ( ( (

) azúcar ) perejil ) aguacate ) menta ) chile jalapeño

2. ¿Cuál es la receta que se enseña en la grabación y de dónde es? 3. En la grabación aparecen las palabras trocear, machacar, jugo, cilantro, comino, cucharada, cucha-

radita y pellizco. ¿Conoces sus significados? Consulta un diccionario y anota sus traducciones.

164

Língua Espanhola


EL VERBO GUSTAR Ilustración digital: Estúdio Pingado

Observa el siguiente diálogo y los verbos que están destacados.

¿Notas alguna diferencia en su uso en relación con el portugués? ¿Cómo dirías estas mismas frases en portugués? Cuando expresamos nuestros gustos en español, usamos el verbo gustar y es un poco diferente del portugués. Observa las siguientes frases: Me gusta mucho escuchar música. A mi novio también le gusta mucho escuchar música. A ellos les gusta mucho escuchar música. ¿Te gusta la música brasileña? Nos gusta la música brasileña. A aquellos italianos les gusta la música brasileña. A Marta le gustan las músicas agitadas. ¿A vosotros os gustan las músicas agitadas? No me gustan las músicas agitadas. ¿Te das cuenta de que en cada bloco el verbo gustar no está concordando con la persona, sino con la cosa de la que se está hablando? El verbo gustar solo varía entre las formas gusta y gustan, y lo que comanda esta variación es la cosa a la cual se está refiriendo el gusto y no a la persona.

8º ano

165


Si es un verbo en infinitivo o algo en singular, se usa gusta: Nos gusta leer. Me gusta la lectura.

Si es el algo en plural, se usa gustan:

Me gustan las películas románticas.

Se puede decir:

Me gusta estudiar. A mí me gusta estudiar.

Uso opcional (enfático)

Uso obligatorio

A mí

me

A ti

te

A él / a ella / a usted

le

A nosotros(as)

nos

A vosotros(as)

os

A ellos / a ellas / a ustedes

les

gusta → leer, oír música, la música clásica, la vida gustan → las flores, los niños

Ilustración digital: Estúdio Pingado

El uso de los pronombres de la segunda columna es obligatorio, pero de los de la primera es opcional porque cuando se usa me, te, nos o os, ya se indica a quien nos referimos. Normalmente cuando se trata de la tercera persona de singular o de plural es mejor usar los dos, si no se menciona con nombres, por ejemplo, para aclarar de quién estamos hablando. Este mismo esquema debe ser seguido también por los siguientes verbos: caer, dar, interesar, parecer, poner, preocupar, molestar, emocionar, alegrar, indignar, encantar etc., dependiendo del tipo de frase.

166

Língua Espanhola


APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Escribe frases con los elementos que se te ofrecen, como en el ejemplo:

gustar – ir al cine los fines de semana (1a persona singular) Me gusta ir al cine los fines de semana. a) gustar – la música tradicional mexicana (Juan) b) gustar mucho – estudiar español (1a persona plural) c) encantar – ganar calaveras de chocolate el Día de los Difuntos (los niños mexicanos)

d) interesar –los artículos sobre la pintura mexicana del siglo XX (¿?)(2a persona singular)

e) preocupar – la preservación de los puntos de interés turístico de la ciudad (mi hermana)

f) molestar – el ruido de las calles de Ciudad de México (mis abuelos)

g) emocionar – las historias sobre los pueblos antiguos de México (1a persona singular)

h) alegrar – estar entre amigos cuando viajamos (1a persona plural)

i) indignar – qué (¿?) (2a persona singular) 2. Imagina un turista de paseo por México y habla un poco de sus gustos y preferencias. Puedes

inventarle el nombre, nacionalidad etc. Debes usar los verbos que expresan gustos y sentimientos que estás aprendiendo en este capítulo. Te damos un ejemplo: “Pedro es un chileno de vacaciones en México. Le gustan mucho las civilizaciones antiguas y le molesta que la humanidad no se preocupe en conocer más sus orígenes.”

8º ano

167


CONJUGACIÓN DE VERBOS Lee el diálogo que sigue, en el cual está destacado el verbo preferir, conjugado en varias personas. Dos extranjeros están en una feria gastronómica en una ciudad de México: – Fabián, ¿te gustan las comidas picantes? – No mucho, prefiero las más suaves. Estoy probando de todo por aquí, pero pido poca pimienta. Y tú, ¿cómo las prefieres? – Yo, con mucha pimienta. María y yo preferimos que nos sirvan el guacamole, los tacos y los burritos con toda la pimienta a que tenemos derecho.

En este capítulo estamos estudiando los verbos de gustos y preferencias. Vimos al inicio que hay verbos que no se conjugan, porque no tienen sujeto, como gustar, encantar, parecer etc. Pero, existen verbos de expresión de sentimientos que tienen sujeto y que se conjugan normalmente: Preferir

Adorar

Odiar

yo

prefiero

adoro

odio

prefieres

adoras

odias

él/ella/usted

prefiere

adora

odia

nosotros(as)

preferimos

adoramos

odiamos

vosotros(as)

preferís

adoráis

odiáis

ellos/ellas/ustedes

prefieren

adoran

odian

APLICAR CONOCIMIENTOS II

Completa los diálogos que siguen con la forma adecuada de los verbos de los paréntesis: a) – ¿

(preferir – tú) tomar vino blanco o tinto?

(gustar) mucho vino tinto, pero hoy voy a tomar el blanco.

b) – ¿Es verdad que a Ana

(gustar) viajar en moto?

– Creo que no. Por lo que sé, ella c) – ¿Qué

(odiar) el viento en la cara. (parecer – tú) estos adornos de Navidad?

– Preciosos.

(encantar – yo) decorar la casa en esta época del año.

d) – Es sabido que a los mexicanos

(gustar) la comida picante.

– Es verdad, pero

(gustar - yo) nada, la verdad es que (odiar - yo) la pimienta.

e) –

(encantar - yo) la pintura de Frida Khalo.

(gustar - yo) también, pero a pesar de los colores fuertes,

hay un tono de tristeza en algunas de ellas. 168

Língua Espanhola


Ya que iniciamos el capítulo con recetas, vamos a ver cómo se llaman los alimentos en español. Para este ejercicio necesitarás la ayuda de un diccionario y también de internet para investigar el significado de las palabras.

Andrey Kislev/Dreamstime.com

INVESTIGAR II

1. Busca en esta sopa de letras los nombres de los siguien-

tes alimentos, pero en español: • Horizontales: alface – beterraba – cenoura – milho –

agrião – abobrinha – feijões • Verticales: pêssego – abacaxi – ameixa – abacate – mexerica • Diagonales: cebola – alho – salsinha A

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P

2. En la sopa de letras están algunos de los alimentos cuyos nombres son bien diferentes del portu-

gués. ¿Por qué no aprovechas para investigar otros nombres de alimentos en español y no montas tú una sopa de letras para que tus compañeros la resuelvan? 8º ano

169


3. Ahora, vamos a organizar estos alimentos. Tienes que preparar dos platos de verano ¿qué ingredien-

tes usarás? Utiliza las palabras que encontraste para hacer la lista de ingredientes que necesitarás: a) una ensalada bastante variada con condimento y todo. b) una macedonia (o ensalada de frutas) bastante exquisita y con muchas frutas. 4. Sabemos que en los países donde se habla el español a veces hay variantes para una misma pa-

labra. Busca las que tienen sinónimos e indica dónde se usa cada forma. Te damos un ejemplo y luego la traducción de las palabras que tienes que buscar. Para saber dónde se usa cada forma, necesitarás la ayuda de internet y también puedes preguntarle a tu profesor: En portugués

España

Hispanomérica

Batata

patata

papa

Milho Feijão Abóbora Abobrinha Pêssego Banana Abacaxi Morango Abacate

ANTES DE COCINAR – PRECIOS, PESOS, MEDIDAS Y TIPOS DE EMBALAJE La preparación de una comida ni siempre empieza dentro de la cocina. Antes, hay que comprar los ingredientes que se van a utilizar en el plato. Y para eso, hay que saber cómo pedir y cuánto cuestan determinadas cosas. Observa las siguientes situaciones.

EN UN SUPERMERCADO, EN LA FRUTERÍA: – Buenos días, ¿a cuánto está el kilo de naranjas? – Hoy está barato, señora, dos con cincuenta el kilo. – ¿Y las uvas? – Éstas están un poco más caras: doce el kilo. – Pues entonces, me llevo un kilo de naranjas. 170

Língua Espanhola


EN LA VERDULERÍA: – Hola Rosa, ¿qué tal? ¿Cómo están las verduras hoy? – Fresquitas como siempre, señora. – Bueno, entonces quiero un mazo de lechuga, dos cabezas de ajo, una calabaza pequeña, medio kilo de zanahorias y setecientos gramos de cebolla. – Ahora mismo. – Gracias, Rosa, y hasta la semana que viene.

En los diálogos que acabas de leer hay formas de decir precios y también pesos y medidas. Observa algunos usos de la lengua española a la hora de las compras: • R$ 2,45 = dos reales con cuarenta y cinco centavos / dos con cuarenta y cinco. • 1 kg = un kilo / un quilo • 100 g = cien gramos • 300 g = trescientos gramos • 500 g = quinientos gramos / medio kilo • 12 = una docena • 6 = media docena • 1/4 = un cuarto • 1/3 = un tercio

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. La madre de Lola le dejó una nota con la lista de compras. Completa los espacios con las palabras

del recuadro: latas

botellas

barras

brick

pieza

docena

paquete

gramos

Lola, necesito que compres para esta noche: dos de pan integral, un de arroz, seis de agua mineral, algunas de cerveza para tu padre y tu abuelo, un de leche entera y otro de leche desnatada. Media de huevos blancos, 500 de jamón York en lonchas y una de queso manchego. 8º ano

171


2. Imagina que tienes invitados para una comida de domingo y, porque es invierno, vas a preparar

una sopa riquísima. Para el postre servirás frutas con crema de leche o helado, a pesar del frío. Como no puedes salir, tendrás que pedirle a alguien que te haga la compra. Para que nada salga errado, elabora una lista de lo que necesitas, recuerda que tienes que colocar cuánto quieres de cada cosa.

Ilustración digital: Estúdio Pingado

CURIOSIDADES DE LA LENGUA

Por la cara de la mujer, aliñar una ensalada no debe de ser exactamente lo que la chica está pensando… ¿qué significará?

INVESTIGAR III

Veamos algunos falsos amigos que se refieren al momento de la alimentación. Busca la ayuda de un diccionario para resolver los siguientes ejercicios. 1. Relaciona las palabras de las dos columnas.

(A) vaso (B) cuchara (C) taza (D) tenedor (E) copas (F) copos (G) cuchillo (H) tapas (I) cubiertos

( ( ( ( ( ( ( ( (

) Con este objeto podemos saborear un delicioso café. ) con él comemos arroz, por ejemplo ) Los utilizamos al arreglar una mesa. ) En las de cristal fino tomamos los más ricos y sofisticados vinos. ) Salir a comerlas es un gusto y un hábito cultural. ) Con este objeto cortamos la carne y los alimentos más duros. ) Algunos alimentos como la avena, vienen en esta forma. ) Una sopa calentita, la tomamos con ella. ) En él se toma agua, leche, refresco, zumo etc.

2. Busca el significado de la palabra “taller”, que como ya observaste no es lo mismo que talher (en

portugués). 172

Língua Espanhola


PARA CONOCER MÁS

Un poco sobre México ¿Sabías que:

Frida Kahlo. Autorretrato, 1945. Óleo sobre lienzo, 41,5 × 56 cm.

Andrea Gomes/FoodPix/Getty Images

Coleção particular/De Agostini Picture Library/The Budgeman Art Library/Keystone.

• la grafía recomendada para escribir México, es con x, pero su pronunciación debe de ser con j? Esta aparente falta de correspondencia entre lo que se escribe y lo que se dice se debe a que la letra x conserva el valor de épocas antiguas del idioma, cuando representaba el sonido que hoy corresponde a la letra j. • en 1992 fue lanzada la película Como agua para chocolate, basada en la novela de la escritora mexicana Laura Esquivel, cuyo trecho está al inicio de este capítulo? • Frida Kahlo, al lado de Diego Rivera, con quien se casó, es uno de los grandes nombres de la pintura mexicana. En sus 47 años de vida intensa, Frida usó en sus cuadros – la mayoría autorretratos –, colores vibrantes para expresar sus dolores y sensualidad, además de las

posiciones políticas. A los diecisiete años, ella sufrió un gravísimo accidente de autobús, lo que le provocó una serie de graves fracturas que la llevaron a cirugías y a un largo y doloroso tratamiento. Con Diego Rivera vivió una también intensa y controvertida relación de amor? • en México, para calmar el calor y también tranquilizar el paladar después de un típico plato picante, se consumen las “aguas frescas”. Se trata de una bebida refrescante y fácil de preparar, hecha con frutas, agua y azúcar. Las frutas son las más variadas dependiendo de cada región del país y de la temporada, pero las aguas frescas más consumidas en todo el país son las de flores de Jamaica, de tamarindo y las de horchata? • buñuelos son un plato típico que no puede faltar en una cena navideña de México? Son frituras hechas de harina de trigo, endulzadas con miel de piloncillo. GLOSARIO

Piloncillo: tipo de doce parecido com a rapadura.

Buñelos mexicanos.

PARA REFLEXIONAR

Después de leer el texto de “Para conocer más” ya sabes que Frida Kahlo se casó con el pintor mexicano Diego Rivera. Por qué no investigas un poco sobre este pintor. ¿Cómo era su pintura? Has visto también que los buñuelos son un plato típico que se come en Navidad en México. ¿Y en Brasil, tenemos un plato típico? ¿Y en tu región? ¿Hay alguna diferencia con las demás regiones del país? ¿Se usa algún ingrediente local?

ACTIVIDAD CON AUDIO II

Ya aprendimos la pronunciación de las letras del alfabeto y vimos que hay que saber pronunciar bien la j y la r para evitar confusión de significados de las palabras. ¿Sabes la diferencia entre jamón y Ramón; jabón y rabón; cajera y carrera?

8º ano

173


1. Escucha y repite las siguientes palabras con atención a la pronunciación de la j: jamón

jabón

jalapeño

cajera

jengibre

jota

joven

jugo

jugoso

2. Escucha y repite las siguientes palabras con atención a la pronunciación de la r: Ramón

rabón

rábano

remolacha

rebanada

carrera

rojo

rico

remover

revolver

3. Ahora escucha, practica y dramatiza con un compañero de clase el siguiente diálogo: Ilustración digital: Estúdio Pingado

– ¡Juan Roberto! – ¡Ramón Jiménez! – ¿Jalea o jugo? – Jugo, de naranja, por favor. – ¿Y Ricardo? – Rico reciente, enrollado con Rosa… – ¿Rosa Rosales? – No, Rosa Rodríguez…

MOMENTO DE LA ESCRITURA

En este capítulo te pediremos que nos hables sobre tus gustos y preferencias. En un pequeño texto, vas a usar las estructuras aquí aprendidas para contarnos cuáles las cosas que te agradan, las que te indignan, las que te molestan, las que te encantan etc. Recuerda que hablamos de los alimentos, portanto tus gustos gastronómicos también deben aparecer en el texto. ¡Que lo disfrutes! Lo que hemos aprendido Además de los alimentos, ¿qué otras cosas aprendiste en este capítulo? • Sobre México, ¿qué cosas te llamaron la atención? ¿Conocías algo de este país? • ¿Conocías las formas de decir pesos y medidas en español? ¿Son muy diferentes del portugués? • ¿Te gusta cocinar? ¿Intentarías preparar una receta que estuviese escrita toda en español? ¿Crees que la comprenderías bien y que el plato sería un éxito? • ¿Y tus gustos y preferencias, ya los expresas en español con seguridad?

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Sitios web

Euroresidentes

En esta página encontrarás recetas típicas de varios países hispanoamericanos, basta con elegir el que más te agrade. Disponible en: <www.euroresidentes.com>. Acceso el: 18 ene. 2013.

Explorando méxico

Aquí encontrarás informaciones sobre el mundo mexicano, su cultura, gastronomía, literatura, pintura, turismo etc. Disponible en: <www.explorandomexico.com.mx>. Acceso el: 18 ene. 2013.

Las recetas de la abuela

Esta es una página dedicada a la cocina típica mexicana. En ella encontrarás lo más tradicional en México. Disponible en: <www.lasrecetasdelaabuela.com>. Acceso el: 18 ene. 2013.

174

Língua Espanhola


Capítulo

4

¿Vamos de compras?

Renata Mello/Pulsar Imagens

LÍNGUA E S PA N H O L A

Mercado de San Telmo, en Buenos Aires, Argentina, 2008.

“Ir de compras” es la expresión que se usa en español para decir que vamos a hacer compras, sea en el supermercado, en tiendas o centros comerciales. En las grandes ciudades (y en algunas no tan grandes también) es muy común la existencia de centros comerciales donde podemos encontrar casi de todo, desde ropas, electrodomésticos, aparatos electrónicos y muchas cosas más.

¡A HABLAR!

¿Cómo es en tu ciudad? ¿Hay muchos centros comerciales? ¿Tú los frecuentas? ¿Te gusta ir de compras? ¿Qué es lo que más te gusta comprar? ¿Qué te parecería ir de compras por Buenos Aires, en Argentina? ¿Crees que allí se puede realizar buenas compras? Pero, antes de pensar en las compras, vamos a conocer un poco de la cultura argentina. A continuación, leerás fragmentos de un poema del argentino Leopoldo Lugones sobre la ciudad de Buenos Aires. 8º ano

175


LEER POEMA

A Buenos Aires Primogénita ilustre del Plata, En solar apertura hacia el Este. Donde atado a tu cinta celeste Va el gran río color de león; Bella sangre de prósperas razas Esclarece tu altivo salvaje Pinta su nombre sazón. […] Joya humana del mundo dichoso Que te exalta a su bien venidero. Como el alba anticipa al lucero Aun dormida en su pálido tul, Cada vez que otro día dorado Te aproxima a la nueva ventura. Se diría que el sol te inaugura Sobre abismos más hondos de azul. […]

GLOSARIO

Alba: alvorecer. Aun: mesmo. Bien venidero: bem vindouro, que virá. Cinta: fita. Hacia: em direção a. Hondos: fundos; profundos. Lucero: luzeiro; astro brilhante. Mundo dichoso: mundo feliz. Plata: referencia ao Rio da Prata. Razas: raças. Sazón: madureza; ocasião.

LUGONES, Leopoldo. Disponible en: <www.los-poetas.com/c/lug1.htm#A%20BUENOS%20AIRES>. Acceso el: 8 mar. 2013.

1. Después de leer estos fragmentos del poema sobre Buenos Aires, ¿cómo crees que es la visión del

poeta sobre esta ciudad? 2. Busca en el texto las palabras que hacen referencia a colores.

INVESTIGAR I

1. Con la ayuda de un diccionario y también de internet, investiga el significado de las siguientes

palabras que se refieren al comercio en una ciudad y aprovecha para verificar qué cosas se puede hacer o comprar en estos lugares: a) grandes almacenes

d) joyería

b) tiendas

e) carnicería

c) panadería

f) taller

2. Ahora que ya sabes adonde ir, busca el significado de los siguientes productos: a) jamón: b) lonchas: c) rebanadas de pan: d) rosas, tulipanes y claveles: e) pantalones vaqueros: f) corbatas: g) faldas cortas y largas: 176

Língua Espanhola


ACTIVIDAD CON AUDIO I

Escucha los siguientes diálogos y luego relaciona las columnas de acuerdo con la situación de cada diálogo: Diálogo

Lugar

(1)

( ) una cafetería

(2)

( ) una tienda de ropas

(3)

( ) una floristería

(4)

( ) un supermercado

IR + A + INFINITIVO

Cariño, ¿por qué no vas a comprar queso y mermelada para la merienda?

Ilustración digital: Estúdio Pingado

Observa el siguiente diálogo:

No, ahora no. Voy a empezar a ver esta película.

¡Vale! Entonces vamos a tomar sólo café con pan. ¿Sabes cómo se expresan planes e intenciones en español? ¿Qué notas en las expresiones que están destacadas en el diálogo? ¿Hay alguna diferencia con el portugués? Para indicar una acción futura o invitar alguien o algo, en español usamos el verbo ir (en Presente de Indicativo) + la preposición a + un verbo en infinitivo. voy vas va vamos vais van

a

comprar queso empezar a ver tomar café

8º ano

177


APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Completa las frases a continuación con el uso adecuado de ir + a + verbo en infinitivo, de acuer-

do con el sujeto y la situación presentada: a) Cariño, ¿por qué no

?

(comprar las flores para adornar la mesa) b) Ahora no puedo hablar contigo.

.

(ir a pagar una cuenta en el banco – yo) c) Ana, ¿por qué no

?

(cenar con Carlos el próximo viernes – tú) ?

d)

(ir a tomar un café con pan y mantequilla en la panadería – nosotros) e) Quietos, ya

.

(empezar el concierto)

INVESTIGAR II

1. En la siguiente lista, circula las palabras que se relacionan exclusivamente al vestuario femenino.

Para realizar este ejercicio necesitarás la ayuda de un diccionario. pantalones

camiseta

falda

tacones

calzoncillos

bragas

vestido

jersey

panty

sujetador

calcetines

corbata

chaqueta

cinturón

camisón

2. Ahora, relaciona cada palabra a su definición:

(1) Corbata (2) Camisón (3) Falda larga (4) Tacones (5) Calzoncillos (6) Bragas y sujetador (7) Jersey (8) Panty

( ( ( ( ( ( ( (

178

Língua Espanhola

) Tira de tela que se coloca alrededor del cuello de la camisa. ) Ropa interior femenina. ) Ropa interior masculina. ) Parte exterior de un zapato, unida a la suela en la parte del calcañar. ) Prenda que las mujeres usan para dormir. ) Prenda de vestir de manga larga, que puede ser de punto de lana o de algodón. ) Prenda de vestir que cae desde la cintura hacia abajo. ) Prenda femenina de tejido elástico muy fino, que cubre las piernas desde los pies hasta la cintura.


3. Y, para terminar, busca en la lista del ejercicio 1, las palabras que corresponden a las siguientes

palabras, usadas en Argentina: a) bombacha: b) saco: c) pollera:

ACTIVIDAD CON AUDIO II

En este capítulo practicaremos la pronunciación de una manera general, utilizando para eso los colores. Lo primero que tienes que saber sobre colores en español es que “color” es una palabra masculina. Repite: el color

los colores

Hay colores que son fáciles de identificar porque son parecidos con el portugués. Escucha y repite: blanco

azul

verde

amarillo

marrón

rosa

lila

beige

naranja

Ahora, ve los colores que tienen nombres bien diferentes. Escucha y repite: rojo

morado

gris

CURIOSIDADES DE LA LENGUA FALSOS AMIGOS ¿Vamos de compras? Pero es mejor conocer antes algunos falsos amigos para no meter la pata en las tiendas. Observa este diálogo: – Buenas tardes, ¿tienen ustedes vaqueros y un saco negro en la talla 44? – ¿En qué tipo de tela quiere usted el saco, señor? – Una que sea fuerte, por favor.

Este señor está buscando pantalones hechos de un tejido fuerte de algodón, generalmente azul y que se usa de manera muy informal. Y también pide un saco, que es la palabra usada en algunos países de Hispanoamérica pare referirse a una chaqueta, o sea, una prenda de vestir con mangas largas, botones y que llega más abajo de la cintura. Y él la quiere en un tejido fuerte. 8º ano

179


INVESTIGAR III

Como ves, si no conocemos los falsos amigos, podemos no entender qué quería decir aquel señor que estaba en la tienda. ¿Y ahora, ya eres capaz de identificar el significado de los siguientes falsos cognatos? Puedes recurrir a un diccionario para ayudarte en la tarea. Escribe las palabras del recuadro en su figura correspondiente.

Oriontrail/Dreamstime.com

d)

e)

tarjeta

c)

f)

PRONOMBRES COMPLEMENTO Ya estudiamos los pronombres sujeto (yo, tú, él etc.). Ahora vamos a conocer los pronombres complemento y empezamos por los de objeto directo. Lee este recado que le deja Ángela a su hija que va de viaje a Buenos Aires y observa que están subrayados algunos elementos de las frases y también están destacados algunos pronombres complemento: 180

Língua Espanhola

Andrey Popov/Dreamstime.com

vaquero

Hong Chan/Dreamstime.com

b)

dependienta

Dragos Daniel Iliescu/Dreamstime.com

saco

Mikie11/Dreamstime.com

a)

cartón

Alexmax/Dreamstime.com

tela


Hija mía, En Buenos Aires encontrarás muchas cosas que hacer. Te indico algunos lugares que no puedes dejar de conocer. El arte y la cultura, los encontrarás en Caminito. Si lo que buscas es arquitectura e historia, las verás en San Telmo. Pero si lo que quieres es cultura, arquitectura, artes y espectáculos, los tienes que buscar en el Teatro Colón. Ahora bien, si el asunto es gastronomía, no hay mejor lugar para disfrutarla que el barrio de La Boca. Entonces, que disfrutes de tu viaje. Un beso, Mamá. PRONOMBRE COMPLEMENTO DE OBJETO DIRECTO Los pronombres complemento directo sustituyen una palabra o frase que, en la oración ejerce la función de objeto y, en este caso, el directo. Pronombres complemento de OD

Ejemplos

me te lo / la nos os los / las

Aquel libro, lo compré durante mi viaje a Argentina. María, estoy aquí para ayudarte a elegir los puntos turísticos de tu viaje. Me trataron muy bien en la Recoleta. ¿Y estas fotos? ¿Dónde las sacaste?

COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES • Los pronombres complemento deben ir antes del verbo: Mis ropas, las compraré en la calle Florida. • Sólo van después del verbo en tres casos: Con infinitivo: Necesito verte con urgencia. Con gerundio: ¿Sabes aquella novela? Estoy leyéndola ahora. Con imperativo: Cómprate unos alfajores en Buenos Aires que son muy buenos.

APLICAR CONOCIMIENTOS II

1. Forma frases juntando los elementos de las columnas, usando un de los pronombres complemen-

tos siguientes: lo / la / los / las. A mi novio Tus gafas de sol La llave del coche Mis apuntes de español

dejaste en casa. perdí, lo siento. guardaré en la mochila. conocí en una escuela de idiomas.

8º ano

181


2. Completa las frases con el pronombre complemento de objeto directo adecuado: a) Voy a un show de tango con mis amigos. Ellos

invitaron.

b) Compramos tantas cosas que no sabemos dónde poner c) La guía está hablando muy bajo, yo no

. escucho.

d) Mis primas llegaron de viaje. Quiero ver

pronto.

e) Deja tu pasaporte conmigo que yo

guardo para ti.

f) Hablé con Ana y ella va a recoger

en el aeropuerto. (a nosotros)

3. Responde a las preguntas sustituyendo el objeto directo destacado por el pronombre complemen-

to correspondiente: a) ¿Vas a visitar el Teatro Colón?

Sí,

ya en la primera semana.

b) ¿Por qué no llevas unos guantes para proteger tus manos del frío?

No voy a

porque en esta época no hace tanto frío en Argentina.

c) Pretendes visitar a tus parientes que viven cerca de San Telmo?

Sí, pero voy a

(llamar) antes para certificarme de que no

viajaron. d) Cuando viajas, ¿llevas muchas ropas?

No, prefiero

(comprar) allí.

ACTIVIDAD CON AUDIO III

Escucha los siguientes diálogos y luego repítelos oralmente. Diálogo 1 Ilustración digital: Estúdio Pingado

– Buenas tardes, ¿puedo ayudarla? – ¿Tienen ustedes jerseys de color verde? – Sí, los tenemos. ¿En qué talla? – La 42. – Aquí está. Este cuesta sólo 30 euros. – Bueno, entonces, lo llevaré.

182

Língua Espanhola


Ahora, sustituya la pieza mencionada por las que están indicadas a continuación, sin olvidarte de usar el pronombre complemento adecuado. corbatas rojas

zapatos negros

vestido largo.

Diálogo 2 – Cariño, ¿dónde están mis calcetines nuevos? – Los guardé en el armario. – Es que no los encuentro. – Pues si los encuentro yo, los escondo de ti porque están en el armario, ¡seguro! pantalones vaqueros

camisa blanca

pijama.

LA CULTURA HISPANOAMERICANA ARGENTINA ¿Qué sabes sobre Argentina? Lee las informaciones a continuación: • El fútbol tiene mucha importancia en Argentina. La selección nacional ya

ganó dos veces el campeonato mundial (1978 y 1986). Su representante más importante es Diego Maradona, un excepcional jugador, ídolo de la nación. • En el campo de la política, Eva Perón – la segunda esposa del presidente argentino Juan Perón – fue una importante líder en Argentina, desde 1946 hasta su muerte en 1952. • Entre 2 de abril y 14 de junio de 1982, hubo un conflicto entre Argentina y el Reino Unido por el control de un pequeño archipiélago en el Atlántico Sur, la Guerra de las Malvinas (llamada de Falklands por los británicos). • En la literatura, nombres como Jorge Luis Borges y Julio Cortázar son grandes representantes. • El cine argentino se hizo conocido, sobre todo en Brasil, con películas como Nueve reinas, El hijo de la novia y El secreto de sus ojos, entre otros que estuvieron durante mucho tiempo en cartelera por aquí. • La música está muy bien representada por Mercedes Sosa y Fito Páez, también viejos conocidos de nuestro país.

DEBATIR

De estas informaciones, ¿cuáles ya conocías? ¿Qué más sabes sobre el fútbol, la política, la literatura, la música y el cine argentino? Coméntalo con tus compañeros y luego podéis promover un debate con estas y otras informaciones sobre este país vecino tan cercano a nosotros.

8º ano

183


LEER TEXTO INFORMATIVO

Vas a leer un texto sobre una de las manifestaciones artísticas más populares y conocidas de Argentina. ¿Ya has bailado alguna vez el tango? ¿Qué sabes sobre su historia? ¿Conoces los nombres más importantes del tango? El tango Renato Granieri/Alamy/Glow Images

Como se sabe, el tango es el elemento más difundido y conocido de la cultura argentina. Según los registros existentes no hay una fecha precisa sobre su surgimiento y tampoco se puede indicar con seguridad su origen. Hay muchas teorías sobre eso, algunas indican raíces negras y otras lo dan como un producto inmigratorio. Pese a las polémicas sobre su origen, lo que no se puede discutir es el prestigio y reconocimiento internacional que tiene. No se puede pensar en tango sin citar al menos uno de sus más importantes nombres: el bandoneonista, pianista, director de orquesta, compositor y arreglador, Astor Piazzolla, que representa estupendamente a los artistas Bailarines de tango, Buenos Aires, 2012. que contribuyeron para divulgar el tango por el mundo y que es la gran referencia de las nuevas generaciones. Piazzolla nació el 11 de marzo de 1921 en Mar del Plata, Uruguay. En 1929, cuando vivía en Nueva York, empezó a estudiar bandoneón al ganar el instrumento de su padre, un aficionado de la música. El primer tango, “Paso a paso hacia la 42”, lo compuso en 1932. Después, su padre lo rebautizó como “La cantiga”. A lo largo de su carrera, Piazzolla grabó cerca de 50 discos. Víctima de una trombosis cerebral, el genio del tango se murió el 4 de julio de 1992, en Buenos Aires. 1. En el texto están destacados algunos pronombres. ¿Qué palabras o elementos de las oraciones

están sustituyendo? 2. De acuerdo con el texto, ¿se puede afirmar cuándo surgió el tango? 3. ¿Cuáles son las teorías sobre la origen del tango? 4. ¿Quién fue Astor Piazzolla y por qué él fue tan importante para la historia del tango? 5. ¿Qué tangos conoces? ¿Por qué no investigas los tangos más famosos y traes la letra y la canción

para compartir con tus amigos en clase? Puede ser un gran momento musical del grupo y alguien puede incluso atreverse a bailar. ¿Qué te parece?

184

Língua Espanhola


MÁS NUMERALES CARDINALES En el texto sobre Astor Piazzolla acabas de ver varias fechas indicando los días y años que marcaron la vida del artista. ¿Sabes cómo se dice 1929, 1932, 1992 etc.? Ya estudiamos hasta el número cien, vamos a ver cómo es la secuencia. 200

doscientos

600

seiscientos

1 000

mil

300

trescientos

700

setecientos

1 000 000

un millón

400

cuatrocientos

800

ochocientos

1 000 000 000

mil millones

500

quinientos

900

novecientos

1 000 000 000 000

un billón

COSAS QUE NECESITAS SABER PARA USAR BIEN LOS NÚMEROS EN ESPAÑOL • Sólo se usa la letra y entre decenas y unidades. Observa: cuarenta y cinco

sesenta y dos

ciento cinco

doscientos nueve

dos mil siete

ochenta y cinco

• 7 – 70 – 700 se escriben así: siete – setenta – setecientos

9 – 90 – 900: nueve – noventa – novecientos • A partir de millón, la secuencia es: mil millones, un billón, mil billones, un trillón… y así va. • No se usa coma (,) para escribir los numerales. Ejemplo: dos mil cuatrocientos treinta y dos. • Con porcentajes debemos usar el artículo el si se trata de un porcentaje exacto y el artículo un si se trata de algo aproximado. Y el verbo va siempre en singular, concordando con el artículo y no con el porcentaje. Ejemplo: De los 50 pasajeros, sólo el 10% confirmó la reserva, o sea, 5. Según la prensa local, habrá un 15% de aumento de turistas extranjeros en Bariloche este año.

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. A partir de las reglas que acabas de aprender, escribe por extenso los números que están en los

paréntesis: Se conocieron a finales de

(2006), durante un

examen de lengua extranjera. En enero de

(2007) él

la invitó a un concierto de música clásica y a partir de entonces, se inició la amistad que luego se convertiría en algo más. Él nació el

(18) de junio de (1962), ella, en mayo de

8º ano

185


(1965). A partir de (2008) empezaron a salir y ya vieron unas películas juntos, fueron a unos

(180) (38) restaurantes,

(104) conciertos y otros tantos lugares… Bueno, el final feliz de la historia, sólo el tiempo dirá cómo será, pero seguro que quieren estar juntos por lo menos por unos

(50)

años más. 2. Ahora, vamos a juntar tus conocimientos matemáticos a la escritura de los números en español.

Primero, escribe por extenso los números de los paréntesis, luego haz los cálculos solicitados y responde a las preguntas, con los números también por extenso: a) Algunos hoteles en Buenos Aires están haciendo promociones para el período de

(31) de diciembre de (este año). Quien haga la reserva ahora en uno de estos hoteles, tendrá descuento de un (30) por ciento. Si el precio de la diaria, con descuento, es de R$

(345,00), ¿cuánto pagará por la

habitación? ¿Cuál será el valor total por

(7) noches?

Respuesta: b) Como vimos en un texto anterior, Astor Piazzolla nació en

(1921), en su primer tango y se murió en

(1932) compuso (1992). ¿Cuántos años tenía

Piazzolla cuando compuso su primer tango? ¿Con cuántos años se murió el genio del tango? Respuesta:

MOMENTO DE LA ESCRITURA

En este capítulo aprendimos a expresar nuestros planes e intenciones futuros, a invitar y también a usar los pronombres complemento de objeto directo, además de conocer el vocabulario de las ropas. Entonces la propuesta para esta sesión es que escribas un texto a un(a) amigo(a) que vive en otra ciudad o país, invitándolo(la) a que venga a pasar unos días contigo. Vas a contarle tus planes e intenciones para cuando llegue y las cosas que van a hacer juntos. En tu texto deben aparecer planes de compras de ropas, para que uses el vocabulario del capítulo y también los pronombres complemento. Puedes decir algo como: Los alfajores que tanto te gustan, los vamos a comprar el sábado y… 186

Língua Espanhola


Lo que hemos aprendido Y como nos dedicamos al aprendizaje de los números, vamos a organizar los conocimientos adquiridos. Sobre los números, ya sabes: Escribir y decir cualquier número en español: ( ) sí ( ) no ( ) sólo algunos ( ) tengo dudas Preguntar y decir precios de productos: ( ) sí ( ) no ( ) sólo algunos ( ) tengo dudas Cómo decir las medidas y pesos en español: ( ) sí ( ) no ( ) sólo algunos ( ) tengo dudas Hablar e interpretar los porcentajes en un texto: ( ) sí ( ) no ( ) sólo algunos ( ) tengo dudas

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Sitios web

Los-poetas.com

En este sitio encontrarás la poesia de Leopoldo Lugones y otros nombres de la poesía argentina e hispanoamericana. Disponible en: <www.los-poetas.com/c/lug1.htm>. Acceso el: 28 ene. 2013.

Welcome argentina

El país tema de este capítulo fue Argentina y su mayor manifestación artística que es el tango. Para saber más, puedes consultar esta página. Disponible en: <www.welcomeargentina.com/tango/historia.html>. Acceso el: 28 ene. 2013.

8º ano

187


Bibliografia

LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA BECHARA, Suely Fernandes; MOURE, Walter Gustavo. !OJO! con los falsos amigos. Dicionário de falsos cognatos em Espanhol e Português. São Paulo: Editora Moderna, 1998. COLLINS English Dictionary. Collins Dictionary of the English Language. London: Collins, London & Glasgow, 1982. FLAVIAN, Eugênia; FERNANDEZ, Gretel. Minidicionário Espanhol/Português – Português/ Espanhol. São Paulo, Ática, 2008. HOLLET, Vicki; DUCKWORTH, Michael. Business Objectives. Oxford: Oxford University Press, 2003. IRVINE, Mark; CADMAN, Marion. Commercially Speaking. Oxford: Oxford University Press, 2003. KRASHEN, Stephen. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Oxford: Pergamon, 1982. LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How Languages are Learned. Hong Kong: Oxford University Press, 1993. MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global Editora, 2011. SECO, Manuel. Diccionario de dudas y dificultades de la lengua española. 9. ed. Madrid: Espasa Calpe, 1996. ________. Diccionario de la lengua española. 21. ed. Madrid: Real Academia Española, 1992.

188

Língua Estrangeira Moderna


UNIDADE 4

Hist贸ria



Capítulo HISTÓRIA

1

Primeira República: urbanização no Brasil das oligarquias

N

o fim do século XIX, o Brasil tinha pouco menos de 10 milhões de habitantes. No início do século XXI, a população brasileira atingiu 190 732 694 habitantes (segundo dados do Censo 2010 do IBGE). Em comparação com o Censo 2000, ocorreu um aumento de 20 933 524 pessoas. Esse número demonstra que o crescimento da população brasileira no período foi de 12,3%, inferior ao observado na década anterior (15,6% entre 1991 e 2000). Entre 1872, data da realização do primeiro censo populacional, e 2010, aumentou em quase 20 vezes o número de brasileiros vivendo em nosso território. Ao longo dessas décadas, o perfil dessa população foi se alterando segundo vários critérios; um deles é o local de residência. Se até 1960 o Brasil era um país com a maioria da população vivendo na área rural, a partir da década de 1970, as cidades passaram a concentrar a maior parte dos brasileiros. Evolução da população urbana e rural no Brasil

100%

54,92%

População rural 44,02%

32,30%

24,53%

18,77%

15,64%

90% 80%

81,23%

84,36%

Ilustração digital: Planeta Terra Design

População urbana

75,47%

70% 67,70% 60% 55,98%

50% 40%

45,08%

30% 20%

10% 0%

1960

1970

1980

1991

2000

2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/cotidiano/908759-urbanizacao-atinge-a-maior-taxa-da-historia-mostra-censo.shtml>. Acesso em: 27 fev. 2013.

8º ano

191


RODA DE CONVERSA

Se no início do século XIX menos de 5% da humanidade vivia em cidades, no início do século XXI, mais de 50% da população mundial vive em cidades. O Brasil está inserido em uma dinâmica mundial de crescimento do grau de urbanização. No entanto, a urbanização não ocorre da mesma maneira em todos os continentes. Reúna-se com seus colegas e façam a leitura do gráfico a seguir. Comparem as porcentagens de população urbana e rural nos anos de 1950 e 2011 e analisem as projeções para o ano de 2050. Anotem todas as observações de vocês. Debata com seus colegas as diferenças entre as porcentagens de urbanização das regiões em 2011. Levantem hipóteses sobre as razões dessas diferenças. Apresentem à classe as conclusões de vocês.

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Porcentagens de população urbana e rural Oceania América do Norte

2050

América Latina e Caribe Europa Ásia África Oceania América do Norte

2011

América Latina e Caribe Europa Ásia África Oceania América do Norte

1950

América Latina e Caribe Europa Ásia África

População Urbana Rural

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90% 100%

Fonte: Divisão de População da ONU. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wup/Analytical-Figures/Fig_2.htm>. Acesso em: 29 jun. 2012.

DAS PRIMEIRAS VILAS NO BRASIL AOS CENTROS URBANOS Quando essa tendência à urbanização se iniciou? A ocupação do Brasil, segundo o modelo europeu, começou com a fundação de pequenos núcleos urbanos, ainda no século XVI. No entanto, esses núcleos existiam muito mais em função de atividades rurais, como a agricultura e a pecuária, do que de atividades urbanas, como o comércio e a manufatura. A primeira vila a ser fundada foi São Vicente, em 1532, no litoral do atual estado de São Paulo, por Martim Afonso de Sousa. 192

História

GLOSSÁRIO

Vila: naquela época, vila era um arraial ou povoado que havia adquirido autonomia político-administrativa, pois contava com uma Câmara de Vereadores, pelourinho (coluna de pedra ou madeira colocada em lugar público onde eram punidos e expostos os criminosos) e cadeia pública, além de poder cobrar impostos e baixar leis, chamadas de posturas. Com o tempo, uma vila poderia tornar-se cidade, o que não implicava necessariamente grandes mudanças na organização política ou administrativa. Atualmente o termo vila não tem valor administrativo, sendo usado informalmente para se referir a localidades como bairros (Vila Carrão e Vila Madalena, ambas na cidade de São Paulo, são exemplos).


Durante o período colonial, foram fundadas várias vilas, principalmente ao longo do litoral brasileiro. A ocupação do interior do território foi feita lentamente durante os séculos seguintes.

Ilustração digital: Maps World

Ocupação territorial brasileira – Século XVIII

N O

L

0

500

1 000 km

S

Fonte: TEIXEIRA, Francisco M. P.; CHIANCA,Rosaly B. História: Ensino Fundamental EJA. São Paulo: Ática, 2005. p. 29.

Ilustração digital: Maps World

Ocupação territorial brasileira - Século XIX

N O

L

0

500

1 000 km

S

Fonte: CAMPOS, Flavio; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas de História do Brasil 2. ed. São Paulo: Scipione, 1994. p. 272 .

8º ano

193


Ao comparar os mapas da ocupação territorial do Brasil nos séculos XVIII e XIX, notamos que a maioria dos povoamentos concentrava-se na área litorânea. Regiões mais distantes, localizadas no interior brasileiro, permaneceram por mais de trezentos anos sem ser ocupadas pelo colonizador. Sobre os primeiros séculos de colonização portuguesa, o historiador Sérgio Buarque de Holanda observou: Os portugueses, esses criavam todas as dificuldades às entradas terra adentro, receosos de que com isso se despovoasse a marinha. No regimento do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, estipula-se, expressamente, que pela terra firme adentro não vá tratar pessoa alguma sem licença especial do governador ou do provedor-mor da fazenda real [...]. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p. 66.

A interiorização da ocupação intensificou-se a partir do século XVII, com a ação dos bandeirantes. Eles organizavam expedições para a exploração de riquezas em áreas até então desconhecidas dos colonizadores portugueses; procuravam pedras preciosas, ouro e indígenas para escravizar. A pecuária, desenvolvida desde o século XVI, favoreceu o povoamento do interior do Nordeste e do Sul do Brasil. Com a descoberta do ouro na região das Minas Gerais, lá foram criadas inúmeras vilas no século XVIII, em razão da atividade mineradora. A região Norte foi sendo ocupada a partir da extração das drogas do Sertão (produtos tropicais comercializados na Europa, como guaraná, castanha, urucum, cacau, entre outros). Segundo o levantamento feito pelo IBGE em 2010, havia no Brasil 5 565 municípios, que variavam muito em extensão territorial, população, economia e grau de urbanização. Por exemplo, em 2010, São Paulo era o município mais populoso do Brasil, com 11,2 milhões de habitantes; enquanto Borá (no oeste paulista) era o menor, com apenas 805 pessoas. Já Altamira, no Pará, era o maior município em extensão territorial, com mais de 159,5 mil km2; o menor município, de Santa Cruz de Minas (MG), tinha uma área de apenas 3,565 km2. Ainda de acordo com o Censo 2010, a região Sudeste era a mais populosa, com 80 353 724 habitantes. O Nordeste, com 53 078 137 habitantes, era a segunda região mais povoada. A região Sul somava 27 384 815 habitantes, enquanto a região Norte tinha 15 865 678. O Centro-Oeste era a região com a menor presença de pessoas, com 14 050 340 habitantes. Entre as unidades da federação, São Paulo era o estado com maior população: 41 252 160 pessoas. Por sua vez, Roraima era o estado menos populoso, com 451 227 habitantes. LER GRÁFICOS

Censo é a coleta de dados sobre os domicílios e seus habitantes, por amostragem, em todos os cantos do país. Assim, os recenseadores percorrem o território nacional coletando informações sobre uma quantidade selecionada de casas e

194

História


seus moradores. Com esses dados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elabora gráficos, tabelas, mapas e indicadores que servem para conhecermos aspectos do nosso país e podermos planejar políticas públicas. Leia os gráficos a seguir, elaborados pelo IBGE com base no Censo 2000 e projeções para a próxima década. Grau de urbanização segundo as grandes regiões do Brasil – 1991/2009 Ilustrações digitais: Planeta Terra Design

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40%

75,6%

81,3% 85,8%

30%

59,1%

69,9%

88,0% 90,5% 92,5%

77,1% 60,7%

74,1%

69,1% 76,2%

80,9% 86,6%

81,3%

86,7% 90,7%

20% 10% 0

Brasil

Norte

Nordeste 1991

Sudeste 2000

Sul

Centro-Oeste

2009

Fonte: Censo Demográfico, 2000, Caracteristicas da População e dos Domicílios. IBGE, 2001. Síntese de indicadores sociais. IBGE, 2010.

237,7

População residente, por situação do domicílio – Brasil – 1940/2000

138

200

Urbana Rural

1980

1990

2000

16,3

1970

31,8

1960

38,6

1950

52,1

1940

41,1

0

31,3 38,8

50

18,8 33,2

100

35,8

80,4

111

150

12,9 28,3

milhões de habitantes

250

2050*

*Projeção da ONU. Fonte: Tendências Demográficas, 2000. IBGE, 2001.

Com base nos gráficos, assinale as alternativas corretas: 1. Até qual década o Brasil tinha a maioria de seus habitantes vivendo na área rural?

a) 1950

b) 1960

c) 1970

d) 1980

e) 1990

2. Em qual década a população urbana do país passa a ser maior do que a população rural?

a) 1950

b) 1960

c) 1970

d) 1980

e) 1990

3. Qual região brasileira apresentava o maior grau de urbanização em 2000?

a) Nordeste

b) Sul

c) Norte

d) Centro-Oeste

e) Sudeste

4. Qual região brasileira apresentava o segundo maior grau de urbanização em 2009?

a) Nordeste

b) Sul

c) Norte

d) Centro-Oeste

e) Sudeste

5. Qual região era menos urbanizada em 1991?

a) Nordeste

b) Sul

c) Norte

d) Centro-Oeste

e) Sudeste 8º ano

195


6. E qual região era menos urbanizada em 2000?

a) Nordeste

b) Sul

c) Norte

d) Centro-Oeste

e) Sudeste

7. Qual é a tendência brasileira por situação de domicílio para as próximas décadas?

8. Você vive em qual região? Você mora na zona rural ou no centro urbano?

CIDADES DO BRASIL: DIVERSIDADE REGIONAL

CONHECER MAIS

O telégrafo

Coleção particular

Emmeci74 / Dreamstime.com

Como você caracterizaria uma cidade? Qual imaO telégrafo era o aparelho usado na gem lhe vem à mente? Para muita gente, quando falatransmissão de mensagens gráficas por mos em cidade, logo surgem imagens de grandes edimeio de códigos. Ele foi inventado pelos americanos Joseph Henry e Samuel Morfícios, pontes e viadutos, muitos carros e ônibus, cose, em 1832. A primeira linha telegráfica foi mércio de todos os tipos, enfim, muita gente circulando montada nos Estados Unidos em 1844. pelas ruas, praças e avenidas. Será que todas as cidades É anterior ao telefone. do Brasil são assim? E como algumas cresceram até se transformarem em grandes centros urbanos? Vamos percorrer a história de algumas cidades, conhecendo fatores que proporcionaram seu desenvolvimento. Até praticamente o século XIX, o Brasil era um país voltado às atividades rurais, como a agricultura, a pecuária e o extrativismo. Um dos motivos devia-se à sua situação de colônia. Para Portugal, a colônia brasileira servia para fornecer matérias-primas (como algodão, tabaco, entre outras) e produtos agrícolas, como o açúcar. Não era permitido, até o início do século XIX, a produção de manufaturas na colônia. Os produtos manufaturados vinham de Portugal. No entanto, especialmente após 1850, iniciou-se no Brasil um processo de industrialização e urbanização. Assim, nos primeiros quatrocentos anos de história, o Brasil foi um espaço essencialmente agrícola. Destacavam-se cidades administrativas, como Salvador (capital do Brasil até 1763) e Rio de Janeiro (capital até 1960), ou cidades comerciais, como Recife, principal entreposto do comércio de açúcar. Na região amazônica, também no fim do século XIX e início do XX, a produção e a exportação da borracha deram impulso ao crescimento urbano e à Cartão-postal de 1907 retrata a avenida Eduardo Ribeiro, em Manaus modernização das cidades de Belém (PA) e Manaus (AM). A cidade, no início do século XX, contava com equipamentos urbanos modernos, como linhas de bondes elétricos, que dividiam o (AM). Com a descoberta do processo de vulcanizaespaço das largas avenidas com as charretes. ção, pelo cientista estadunidense Charles Goodyear, 196

História


o interesse pela borracha aumentou, pois passou a ser utilizada na fabricação de pneus, mangueiras, sapatos, entre outras mercadorias. Empreendedores ingleses e estadunidenses, principalmente, financiavam a produção nos seringais e a extração do látex (seiva da seringueira), usando mão de obra local (na maioria indígena) e pagando os trabalhadores com produtos de subsistência. A produção da borracha estava ligada à economia internacional, já que o produto era vendido para o mercado externo. Por isso, a cidade de Belém era interligada a Londres (Inglaterra) por cabos submarinos que faziam a comunicação telegráfica com os compradores internacionais. Surgiu nas cidades de Manaus e de Belém uma elite econômica, que desejava desfrutar as mais novas descobertas e o luxo da época. Foi nesse período, conhecido como a belle époque amazônica, que foram construídos alguns símbolos da modernidade da região, como o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, em Manaus, e o Mercado Municipal Ver-o-Peso, de 1901, em Belém. Essa prosperidade durou até a década de 1910, quando se iniciou o declínio da economia da borracha. CONHECER MAIS

As cidades brasileiras nos costumes dos seus imigrantes, enfim, na vida da sua população. As cidades brasileiras são também marcadas pela desigualdade, geralmente com a segregação da população mais pobre nas periferias ou áreas degradadas. Fernando Bueno/Pulsar Imagens

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

As cidades a seguir são exemplos da diversidade dos centros urbanos brasileiros. Cada uma delas tem sua história, expressa na sua geografia, organização urbana, nos estilos arquitetônicos das edificações, no patrimônio histórico, nas atividades econômicas,

Zona portuária de Belém (PA), com destaque para o Mercado Ver-o-Peso, 2010.

Ernesto Reghran/Pulsar Imagens

Leo Caldas/Pulsar Imagens

Rua XV de Novembro, no centro de Blumenau (SC), 2012.

Cidade de Corumbá (MS) vista a partir do Rio Paraguai, 2010.

Praça Coronel João Guilherme, em Caruaru (PE), 2010.

8º ano

197


A partir do fim do século XIX, a cafeicultura fez surgir um novo centro de poder econômico: São Paulo. A riqueza gerada nas fazendas de café do interior paulista foi a responsável pela grande transformação urbana de São Paulo e pelos investimentos industriais. Os chamados barões do café eram fazendeiros que vieram morar na capital e investir na CONHECER MAIS industrialização e na modernização da Belle Époque cidade. Foi nessa época que o comércio O período entre o final do século XIX e o início da Prise desenvolveu, a energia elétrica chemeira Guerra Mundial (1914) é chamado pelos europeus de Belle Époque, ou seja, “bela época”. Durante esses gou para iluminar ruas e casas, girar os anos houve um grande desenvolvimento científico-tecnomotores das fábricas e mover os bonlógico, que levou à crença no progresso e na civilização. des. Ligando o interior ao litoral, foram Estimuladas sobretudo por um novo dinaconstruídas as ferrovias, que transpormismo no contexto da economia internacional, tavam o café para o porto de Santos. São essas mudanças irão afetar desde a ordem e as hierarquias sociais até as noções de tempo e Paulo cresceu rapidamente. Sua popuespaço, das pessoas, seus modos de perceber lação, que em 1872 era de menos de 20 os objetos luminosos, a maneira de organizar mil habitantes, chegou a quase 600 mil suas afeições e de sentir a proximidade ou o alheamento de outros seres humanos. na década de 1920, e ultrapassou 1 miSEVCENKO, Nicolau. Introdução. In: História da vida privada no Brasil. v. 3. p. 7. lhão de pessoas na década de 1930. Nas Nessa época surgiram, entre tantas outras coisas: os ruas, palacetes com jardins, parques e automóveis, os aviões, os eletrodomésticos, a fotografia, avenidas conviviam com os arranhao cinema, o telégrafo, o telefone, o rádio, a aspirina, os céus, trilhos dos bondes, vitrines das loelevadores, os arranha-céus, a esterilização, a anestesia e os refrigerantes. Hoje essas coisas nos são comuns, jas, chaminés das fábricas e imigrantes mas naquela época revolucionaram o modo de vida das europeus. A acanhada vila dava lugar ao pessoas, tanto na Europa como em outros continentes. que seria a metrópole do século XX.

PESQUISAR

Vamos conhecer um pouco mais sobre a cidade onde você vive. Caso você more no campo, escolha a cidade mais próxima ou a que você mais conheça. Para essa pesquisa, você precisa buscar informações históricas e geográficas. Alguns locais possíveis para essa coleta de dados são a Câmara Municipal ou a Biblioteca Municipal ou, ainda, o site do IBGE sobre as cidades brasileiras. Procure responder: 1. Quando a sua cidade foi fundada? Ela mudou de nome ao longo dos anos? 2. Sua cidade cresceu muito nos últimos anos? Por quê? 3. Quantos habitantes vivem na sua cidade? Eles estão concentrados na zona rural ou na urbana? 4. Você nasceu na cidade onde mora atualmente? Caso tenha migrado, informe de onde veio e o motivo. 5. Quantas escolas há na sua cidade? Qual é o grau de alfabetização da população? 6. Qual é a sua principal atividade econômica? Qual é o índice de desemprego? 7. Informe outros aspectos que você considere importantes sobre a cidade onde mora, como saúde,

habitação, transporte e lazer. 198

História


A PRIMEIRA REPÚBLICA E O PODER DOS CORONÉIS Se no fim do Brasil Império (1822-1889) nosso país iniciou um acanhado processo de industrialização, foi no início do período republicano, chamado de Primeira República, entre 1889 e 1930, que esse processo afirmou-se como tendência. Logo após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, formou-se um governo provisório, sob a liderança do marechal Deodoro da Fonseca. Ele era apoiado pela elite agrária que defendia o fim da monarquia. Em 1891, foi promulgada a primeira Constituição republicana, que afirmou o federalismo como forma de organização administrativa do país e o presidencialismo como regime político. Dessa maneira, os princípios federalistas garantiam aos estados autonomia em relação ao governo federal. Já segundo o presidencialismo, o governo deve ser equilibrado entre os Três Poderes – o Executivo (presidente e ministros), o Legislativo (senadores e deputados) e o Judiciário (magistrados do Superior Tribunal Federal e juízes). De acordo também com a Constituição de CONHECER MAIS 1891, os eleitores seriam apenas os brasileiros do sexo masculino, alfabetizados, acima de 21 anos. O que é oligarquia Esse perfil atendia somente 2,5% da população da Oligarquia é uma palavra de origem grega e significa governo de poucos. Na Grécia época. Podemos então afirmar que as eleições não Antiga, designava o governo dos ricos. Deseram verdadeiramente democráticas, já que a maiode a Antiguidade, a palavra tem um valor ria da população não escolhia seus representantes. negativo, pois indica que o governo (seja ele qual for) está controlado por uma minoria Constituiu-se, assim, uma república oligárda população e não representa os interesquica, governada pelos representantes dos cafeises coletivos da comunidade, mas apenas cultores que dominavam o cenário político e ecoos interesses desse grupo privilegiado. O Brasil foi governado pela oligarquia cafeeira nômico da época. entre 1889 e 1930, no período chamado de Entre 1889 e 1894, o Brasil foi governado por Primeira República. dois militares; primeiro pelo marechal Deodoro O que é democracia da Fonseca e depois pelo marechal Floriano PeiDemocracia também é uma palavra de xoto. Eles representavam os interesses dos agriculorigem grega e significa governo do povo. tores, especialmente os da elite cafeeira paulista. Na Grécia Clássica, em Atenas, quando surgiu a democracia, ela era entendida Durante as primeiras três décadas do sécucomo o governo dos cidadãos, isto é, dos lo XX, o governo brasileiro esteve nas mãos de um homens atenienses livres. Após a Revogrupo economicamente privilegiado, que goverlução Francesa (1789), democracia passou a significar um tipo de governo no nou o país de acordo com os próprios interesses. qual a estrutura de organização do poder O primeiro presidente civil – isto é, não militar era democrática, ou seja, representava a – foi Prudente de Morais, mas foi seu sucessor maioria da população. Na democracia, os representantes do povo são eleitos pelo – Campos Sales (1898-1902) – que inaugurou a voto direto ou indireto. Assim, os cargos chamada “política dos governadores”. políticos dos poderes Executivo e LegislaA “política dos governadores” foi um pacto tivo são escolhidos pela vontade popular. O Brasil viveu períodos alternados entre entre o governo federal e os governos estaduais. governos autoritários e a democracia e, Consistia no seguinte: o presidente da República desde 1985, estamos vivendo um regime dava apoio político aos governadores estaduais e republicano democrático. seus aliados (oligarquia estadual dominante) e, 8º ano

199


em troca, recebia dos governadores a garantia da eleição dos candidatos oficiais para o Congresso Nacional. Dessa maneira, deputados e senadores aliados do presidente aprovavam as leis de seu interesse. Evitava-se assim o conflito entre os poderes Legislativo e Executivo. O cientista político Renato Lessa, no artigo “Pacto dos Estados”, afirma: O sistema político, embora já configurado em termos formais GLOSSÁRIO pela Carta de 1891 – que estabelecia, como dispositivos fundamentais, a Carta de 1891: o termo refere-se à primeira constituição do Brasil República como forma de governo, o presidencialismo como sistema de Republicano. governo, o federalismo e a divisão dos poderes –, ganha contornos mais concretos através de um pacto não escrito entre o presidente e os chefes políticos estaduais. A formulação desse pacto trazia o reconhecimento, por parte de Campos Sales, da preexistência de uma distribuição natural do poder na sociedade brasileira. Embora as bases legais do poder político tenham sido estabelecidas pela Constituição de 1891, importava a Campos Sales considerar as suas bases reais, segundo ele contidas nos estados e em seus chefes políticos. LESSA, Renato. Revista de História da Biblioteca Nacional. n. 5, nov. 2005. Disponível em: <www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/republica/o-pacto-dos-estados>. Acesso em: 29 jun. 2012.

Segundo Lessa, a preocupação de Campos Sales era garantir ao presidente da República o controle sobre o Congresso, ambos escolhidos pelo voto direto dos cidadãos. No Manifesto Eleitoral, apresentado em outubro de 1897, Campos Sales defendia suas ideias: “os Estados são autônomos, o Parlamento é digno e fundamental, mas quem manda é o presidente. Para tal, uma vez eleito, é necessário entender-se com os chefes estaduais e controlar o Congresso.” Como esse pacto era viabilizado? O voto naquela época não era secreto nem obrigatório. O eleitor era controlado pelos poderosos locais, os coronéis. O coronel era a figura de expressão, pois facilitava o acesso a empregos, concedia benefícios, apadrinhava famílias, mas também criava empecilhos a seus opositores. O coronel era informado por seus capangas sobre os votos dos eleitores, que eram forçados a votar nos candidatos indicados por ele. Era o “voto de cabresto”, já que o eleitor perdia seu poder de escolha e via-se constrangido a eleger os representantes da elite local. Para aqueles que seguiam as instruções dos coronéis, presentes e agrados eram oferecidos – como proteção, dinheiro, roupas e alimentos. Se alguém desafiasse seu poder, ameaças e agressões eram destinadas ao eleitor e a sua família. Dessa maneira, controlando os votos e inventando votos de eleitores inexistentes, as eleições eram fraudadas com a permissão dos próprios governantes, já que lhes interessava esse esquema. Renato Lessa, conclui que: A política que daí resulta recebe ampla aceitação dos chefes dos poderes estaduais. Ela garante aos grupos detentores do poder condições de eternização nos governos estaduais. Estavam definidas as bases do grande condomínio oligárquico caracterizado, segundo Rui Barbosa, pelo “absolutismo de uma oligarquia tão opressiva em cada um de seus feudos quanto a dos mandarins e paxás.

GLOSSÁRIO

Mandarins: títulos dados na China antiga aos altos funcionários. Paxás: títulos não hereditários de governadores e vizires, no antigo Império Otomano; popularmente usado para um homem poderoso.

LESSA, Renato. Revista de História da Biblioteca Nacional. n. 5, nov. 2005. Disponível em: <www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/republica/o-pacto-dos-estados>. Acesso em: 29 jun. 2012.

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História


Biblioteca Nacional (RJ)

Charge de Storni, revista Careta, 1927. Na imagem, o político (ao centro) leva o eleitor (chamado por ele de Zé Burro) para votar. O “coronel” dava a cédula com o voto já preenchido com o nome do seu candidato ao eleitor, que apenas o depositava na urna. O “voto de cabresto” era a maior fraude eleitoral praticada durante a Primeira República.

Segundo o historiador José Murilo de Carvalho: Até 1930, pode-se dividir o povo da República em três partes. Imaginemos um grande círculo contendo em si círculos menores. O grande círculo representa o total da população do país; os círculos menores, as parcelas dessa população dividida de acordo com sua participação política. Movimentando-nos do centro para a periferia, chamemos o círculo menor de povo eleitoral, isto é, aquela parcela da população que votava; o círculo seguinte, um pouco maior, representa o povo político, isto é, a parcela da população que tinha o direito de voto de acordo com a Constituição de 1891; o círculo seguinte é o do povo excluído formalmente da participação via direito do voto. CARVALHO, José Murilo de. Revista de História da Biblioteca Nacional. set. 2007. p. 2. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-pecado-original-da-republica>. Acesso em: 11 mar. 2013.

O historiador chama a atenção para o número de participantes na política, isto é, aqueles que realmente votavam nas eleições. Os cálculos feitos de acordo com o Censo de 1920 indicam que a maioria da população de eleitores era excluída do processo político: De acordo com os dados do Censo de 1920, teremos uma população total, representada Povo excluído pelo círculo maior, de 30,6 milhões. Este é o povo Povo político do censo que, pelo menos em tese, possuía direitos Povo eleitoral civis. Mas quantos desses cidadãos civis eram também cidadãos políticos, quantos pertenciam ao corpo político da nação? Para calcular esse número, temos primeiro que deduzir do total os analfabetos, proibidos por lei de votar. O analfabetismo, na época, atingia 75,5% da população. Feito o cálculo, restam 7,5 milhões. Depois, é preciso descontar as mulheres. Embora a lei não lhes negasse explicitamente o direito do voto, pela tradição não votavam. Ficamos com 4,5 milhões. Os estrangeiros também não tinham o direito do voto. Nosso número cai para 3,9 milhões. Finalmente, os homens menores de 21 anos também não votavam. Ficamos reduzidos a míseros 2,4 milhões de brasileiros legalmente autorizados a participar do sistema político por meio do voto. Ficam fora do sistema, excluídos, 28,2 milhões, 92% da população. CARVALHO, José Murilo de. Revista de História da Biblioteca Nacional, set. 2007. p. 3. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-pecado-original-da-republica>. Acesso em: 11 mar. 2013.

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Como você pôde perceber, foi a oligarquia agrária que apoiou o fim da monarquia e a instauração da República, já que esse grupo tinha interesses políticos e econômicos muito definidos – governar para si mesmos, garantindo a perpetuação dos seus privilégios e poder. O principal grupo econômico da oligarquia agrária eram os fazendeiros paulistas do café. Eles haviam despontado como potência econômica desde o fim do século XIX, quando as exportações de café cresceram e geraram lucros fabulosos. Dessa maneira, São Paulo assumiu uma posição de destaque no cenário político brasileiro. Os representantes dos cafeicultores reuniam-se no Partido Republicano Paulista (PRP). A Primeira República, basicamente, foi governada por dois partidos: o PRP e o Partido Republicano Mineiro (PRM). Muitos presidentes eleitos representavam os interesses das elites paulista e mineira. Esse revezamento no poder entre São Paulo e Minas Gerais ficou conhecido como a “política do café com leite”. Até 1930, esse esquema fraudulento, controlado pelas oligarquias agrárias, foi praticado no Brasil. Havia, porém, setores da sociedade que questionavam tal política e rebelaram-se contra essa ordem estabelecida, buscando novas formas de governo.

LER TEXTOS JORNALÍSTICOS

Leia trechos de duas notícias publicadas em 2008, no jornal Folha de S.Paulo, sobre as eleições daquele ano. Na cidade com menor renda, voto é trocado por telhas Segundo todos os candidatos na disputa, a intenção de voto para prefeito é trocada por uma porção de telhas e de tijolos em Centro do Guilherme (MA), município com menor renda e expectativa de vida do país, conforme o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). A primeira a dizer que há compra de votos é a prefeita candidata à reeleição, Maria Irene de Araújo Sousa, 49, (PRB). “O negócio são telhas, tijolos e cimento. Pode olhar o tanto de construções novas por aí na cidade”, diz a prefeita. A candidata Maria Deusdete Lima, 29, a Detinha (PR), vai na mesma linha. “Têm pessoas que dizem: Detinha, eu sei que realmente precisa de uma mudança [na prefeitura], mas eu vou votar em fulano porque ele me deu um metro de telha”, diz. Dizem: só [voto] se [eu receber as telhas] antes da eleição, porque depois eu não confio. Quer dizer, não acreditam que essa pessoa [candidato] vai lhe dar um milheiro de telha, que custa R$ 350, depois da eleição. Mas confia em entregar o município por quatro anos”, diz. [...] Dinheiro, além de tijolos e telhas, está entre as solicitações de eleitores, segundo a prefeita. “Eles pedem para pagar prestação de [antena] parabólica, de geladeira, de rádio e até de carro. Outro diz: só dou [o voto] se me der uma bicicleta. Outro diz assim: só vou votar se me der 2 mil telhas.” Folha de S.Paulo, 11 set. 2008. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1109200822.htm>. Acesso em: 19 jan. 2009.

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História


Eleições suspeitas Por decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral, tomada na semana passada, o tucano Cássio Cunha Lima perdeu o cargo de governador da Paraíba. Foram julgadas procedentes as acusações de que, no ano em que pleiteava a reeleição, Cunha Lima distribuiu recursos de um programa assistencial do governo, obtendo vantagem ilegítima sobre seus adversários na disputa. Cerca de 35 mil cheques foram prodigalizados à população, sem GLOSSÁRIO Prodigalizados: dados que legislação específica autorizasse a medida. Registraram-se casos de em grande quantidade. eleitores que, sem padecer de carência comprovada, receberam valores em torno de R$ 1 mil; houve um cidadão que embolsou R$ 56 500. [...] Compra de votos, abuso de poder político e outras irregularidades são suspeitas que não ocorrem apenas no processo eleitoral paraibano. Outros sete governadores podem ter seus mandatos cassados pelo TSE. Seja qual for o veredicto em cada caso, não deixa de ser positivo que processos desse tipo se multipliquem, chegando eventualmente ao extremo, sem dúvida traumático, que se abateu sobre o governador da Paraíba. O abuso de poder econômico e político vai deixando de ser visto como uma prática corriqueira no país. Se parece grande o número dos casos de irregularidades e das eleições sob suspeita, que o diminua a aplicação rigorosa da lei. Folha de S.Paulo, 27 nov. 2008. Disponível em:<www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2711200801.htm>. Acesso em: 19 jan. 2009.

Com base no que estudamos nesta parte do capítulo, responda às questões: 1. Qual é o assunto comum aos dois textos? 2. Há semelhanças com o processo eleitoral praticado durante a Primeira República? Quais? 3. O segundo texto afirma: “O abuso de poder econômico e político vai deixando de ser visto como

uma prática corriqueira no país”. Essa frase indica uma continuidade ou uma mudança na política brasileira? Por quê? 4. Você já presenciou alguma situação semelhante às descritas nos textos? Descreva o ocorrido. 5. Você concorda com essa prática dos políticos e dos eleitores? Justifique.

CRISE DA PRIMEIRA REPÚBLICA Vimos que durante a Primeira República os votantes não chegavam a 3% da população. No entanto, o historiador José Murilo de Carvalho chama a atenção para as várias manifestações populares que ocorreram tanto na área rural como na urbana. Foram vários os conflitos que agitaram a vida política brasileira nesse período. [...] Por fora do sistema legal de representação havia ação política, muitas vezes violenta. Entre os poucos que votavam, os que escolhiam não votar e os muitos que não podiam votar, havia o que chamo de povo da rua, isto é, a parcela da população que agia politicamente, mas à margem do sistema político, e às vezes contra ele. É difícil calcular o tamanho desse povo. Podemos apenas surpreendê-lo em suas manifestações. E podemos também dizer que ele existia tanto nas cidades como no campo. CARVALHO, José Murilo de. Revista de História da Biblioteca Nacional, set. 2007. p. 3. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-pecado-original-da-republica>. Acesso em: 11 mar. 2013.

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são representadas: o líder da revolta com seu séquito de bufões armados com bacamartes tenta impedir a República (representada pela figura feminina à direita) de passar.

[...] Calculou-se que 236 greves foram feitas na capital e no estado de São Paulo entre 1917 e 1920, envolvendo cerca de 300 mil operários. Em torno de 100 mil operários participaram da greve geral de 1917 no Rio de Janeiro. Outra novidade republicana foi a participação política dos militares, jovens oficiais e praças. A mais conhecida e mais dramática dessas manifestações foi a revolta dos marinheiros contra o uso da chibata, em 1910, em que se destacou o marinheiro João Cândido.

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História

IEB-USP

Logo no início do período republicano, eclodiu uma revolta no ser- GLOSSÁRIO Arraial: pequena aldeia, tão da Bahia: a Guerra de Canudos (1893-1897). O arraial de Canudos, lugarejo; acampamento temporário. na época, abrigava cerca de 25 mil pessoas, que viviam da agricultura e da pecuária, ambas voltadas para a subsistência. Identificados pelos republicanos como “fanáticos religiosos” e monarquistas, os habitantes da comunidade de Canudos – liderados por Antônio Conselheiro – eram vistos como uma ameaça à jovem República e, portanto, deveriam ser exterminados. Mesmo tendo resistido por muitos meses, os fiéis de Antônio Conselheiro, e ele mesmo, foram atacados militarmente, mortos e o arraial destruído. Na fronteira de Santa Catarina e do Paraná, aconteceu outro conflito: a Guerra do Contestado (1912-1916). Lá, na comunidade de Quadro Santo, fundada pelo monge José Maria, uma população de ex-trabalhadores da empresa estadunidense Brazil Railway Company vivia na extrema pobreza. Em sua maioria desempregados, esses ex-trabalhadores da ferrovia não tinham como sustentar suas famílias. A salvação foi atribuída às palavras do líder José Maria, que pregava a vinda de um salvador e o início de um período de abundância. Com a ameaça do exército, que temia a independência da comunidade, a população fugiu para a cidade de Faxinal do Irani, no Paraná (na região do Contestado). Após mais de dois anos de ofensiva militar, os revoltosos foram derrotados e mais de 2 mil pessoas mortas. Se na área rural surgiram movimentos que de alguma maneira ameaçaram os ideais republicanos, na área urbana os conflitos ocorreram para criticar a organização política da Primeira República e buscar maneiras mais democráticas de representar os diferentes setores da sociedade. Segundo José Murilo de Carvalho, a novidade no contexto político republicaCharge de Angelo Agostini, publicada na Revista Illustrada, c. 1896. A publicação, veículo de propaganda republicana, retratava Antônio no veio do movimento operário, em fase Conselheiro com seus seguidores. A crítica ao movimento de resistência ocorrido em Canudos aparece na maneira caricatural com que as personagens inicial de organização:


O efeito político das manifestações urbanas foi limitado porque elas se davam fora dos mecanismos formais de representação. O próprio movimento operário, na medida em que era orientado pelo anarcossindicalismo, sobretudo em São Paulo, fugia da participação eleitoral e nunca organizou um partido político duradouro até que fosse fundado o Partido Comunista, em 1922. CARVALHO, José Murilo de. Revista História da Biblioteca Nacional, set. 2007. p. 4. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-pecado-original-da-republica>. Acesso em: 11 mar. 2013.

Um exemplo de contestação à política das oligarquias agrárias partiu de alguns oficiais do exército. Os chamados tenentes criticavam duramente o sistema praticado e defendiam, entre outras coisas, o voto secreto, o combate à fraude eleitoral e à corrupção, liberdade de imprensa e limites ao federalismo. O movimento tenentista, como ficou conhecido, empreendeu várias rebeliões, como as do Forte de Copacabana (1922), no Rio de Janeiro, e a Revolução de 1924, na cidade de São Paulo. Essas revoltas tinham o apoio das classes médias urbanas e foram um dos fatores responsáveis pela crise da república oligárquica. Ainda em vigor, a política do café com leite excluía grande parte das camadas sociais e das elites dos outros estados brasileiros. Nessa tendência à contestação da política excludente, partidos políticos se formaram, em oposição à composição do PRP e PRM. Em São Paulo, formou-se o Partido Democrático (PD). No Rio Grande do Sul, formou-se a Aliança Libertadora (mais tarde, Partido Libertador). Cada um desses partidos fazia oposição às elites locais, há anos no poder. Nas eleições presidenciais de 1930, o revezamento no poder entre paulistas e mineiros não foi cumprido. São Paulo indicou um candidato paulista à Presidência – Júlio Prestes – ignorando a indicação de um candidato mineiro. A cisão na oligarquia abriu espaço para a tomada do poder pelos opositores. Em resposta à atitude dos paulistas, o governador mineiro apoiou a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas, pela Aliança Liberal, lançada por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Como era de esperar, eleições de março de 1930 confirmaram a vitória do candidato da situação, Júlio Prestes. No entanto, o presidente eleito GLOSSÁRIO não tomou posse do cargo. Em 3 de outubro de 1930, por meio de Golpe de Estado: expressão usada para situações em que um golpe de Estado, Getúlio Vargas assumiu o governo provisório. o poder é tomado à força, Esse movimento de mudança no governo, com a deposição das olidesconsiderando as leis e as vias institucionais, como as garquias agrárias e a ascensão de novas forças políticas, ficou coeleições. nhecido como a Revolução de 1930. Chegavam ao fim a Primeira República e o predomínio das elites cafeeiras. Uma nova República foi organizada e uma nova Constituição promulgada em 1934. Nos anos que se seguiram, Getúlio Vargas confirmou-se no poder. Porém, as expectativas de um governo mais democrático foram frustradas por sua longa permanência na Presidência.

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APLICAR CONHECIMENTOS

1. Enem (1999) Viam-se de cima as casas acavaladas umas pelas outras, formando ruas, contornando praças. As chaminés principiavam a fumar; deslizavam as carrocinhas multicores dos padeiros; as vacas de leite caminhavam com o seu passo vagaroso, parando à porta dos fregueses, tilintando o chocalho; os quiosques vendiam café a homens de jaqueta e chapéu desabado; cruzavam-se na rua os libertinos retardios com os operários que se levantavam para a obrigação; ouvia-se o ruído estalado dos carros de água, o rodar monótono dos bondes. AZEVEDO, Aluísio de. Casa de pensão. São Paulo: Martins, 1973.

O trecho, retirado de romance escrito em 1884, descreve o cotidiano de uma cidade, no seguinte contexto: a) a convivência entre elementos de uma economia agrária e os de uma economia industrial indicam o início da industrialização no Brasil, no século XIX. b) desde o século XVIII, a principal atividade da economia brasileira era industrial, como se observa no cotidiano descrito. c) apesar de a industrialização ter-se iniciado no século XIX, ela continuou a ser uma atividade pouco desenvolvida no Brasil. d) apesar da industrialização, muitos operários levantavam cedo, porque iam diariamente para o campo desenvolver atividades rurais. e) a vida urbana, caracterizada pelo cotidiano apresentado no texto, ignora a industrialização existente na época. 2. Enem (2011) Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais, nem revistas, nas quais se limitava a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos esporádicos, tem o patrão na conta de benfeitor. No plano político, ele luta com o “coronel” e pelo “coronel”. Aí estão os votos de cabresto, que resultam, em grande parte, da nossa organização econômica rural. LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ômega, 1978.(Texto adaptado.)

O coronelismo, fenômeno político da Primeira República (1889-1930), tinha como uma de suas principais características o controle do voto, o que limitava, portanto, o exercício da cidadania. Nesse período, esta prática estava vinculada a uma estrutura social: a) igualitária, com um nível satisfatório de distribuição da renda. b) estagnada, com uma relativa harmonia entre as classes. c) tradicional, com a manutenção da escravidão nos engenhos como forma produtiva típica. d) ditatorial, perturbada por um constante clima de opressão mantido pelo exército e polícia. e) agrária, marcada pela concentração da terra e do poder político local e regional.

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História


PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Canudos

O livro relata desde o desenvolvimento do arraial de Canudos, sua organização socioeconômica, os conflitos com a Igreja católica e os grandes proprietários de terras da região, até a guerra de 1896-1897, que mobilizou milhares de soldados. VILLA, Marco Antonio. Canudos: o campo em chamas. São Paulo: Saraiva, 2002. (Que história é essa?)

Sociedade e política na primeira república

Estudo sobre as primeiras décadas do período republicano, que enfoca a vida dos cidadãos brasileiros e das principais personagens do período. A abordagem permite identificar as raízes de alguns problemas atuais do Brasil. JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Sociedade e política na Primeira República. São Paulo: Atual, 1999.

Filmes

Guerra de canudos

Homenagem ao centenário da destruição do arraial de Canudos, o filme narra a saga de Antônio Conselheiro e a contradição entre os ideais republicanos e a vida no sertão da Bahia. Direção: Sérgio Resende. Brasil, 1997. 165 min.

Revolução de 30

Documentário baseado no filme Pátria Redimida (1930), de João Batista Groff. É um excelente material documental. Direção de: Sylvio Back. 1980. 118 min.

Sites

Ibge cidades

Mapa interativo com dados populacionais e históricos sobre as cidades brasileiras. Disponível em: <www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 24 ago. 2012.

Revista de história da biblioteca nacional

Revista com artigos sobre os diversos períodos e eventos da história nacional. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br>. Acesso em: 10 jun. 2012.

Tv escola

Videoteca com acervo de documentários sobre história. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 5 jun. 2012.

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Capítulo HISTÓRIA

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Movimentos sociais no Brasil

P

Cristiano Machado/Folha Imagem

asseatas, greves, revoltas, comícios... Enfim, você já deve ter ouvido falar de manifestações como essas, além de tantas outras. Todas são maneiras de a sociedade se organizar para expor seus desejos, necessidades e descontentamentos. No sentido mais amplo, movimentos sociais são todas as ações coletivas, seja de pessoas, seja de entidades, que buscam expressar suas ideias publicamente.

Sem-terra marcham em protesto a favor da reforma agrária em Presidente Prudente (SP), 2008.

RODA DE CONVERSA

E você, qual é a sua participação social? Converse com seus colegas sobre as seguintes questões: 1. Você participa ou já participou de algum movimento social? Qual(is)? 2. Como você avalia os resultados (positivos e/ou negativos) desse(s) movimento(s)? Por quê? 208

História


3. Você considera importante a sociedade se organizar para reivindicar ou protestar sobre determi-

nado assunto? 4. Que movimentos sociais atuais você simpatiza ou apoia? Quais você não defende? Exponha

suas razões. 5. Agora, comente suas respostas com seus colegas e debata com eles as experiências relatadas.

O respeito pelas diferentes opiniões é fundamental para o debate e a troca de experiências.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA

Guilhermo Giansanti/UOL/Folhapress

Daniel Augusto Jr./Pulsar Imagens

Em uma sociedade democrática, na qual os direitos dos cidadãos são respeitados e há a possibilidade da livre manifestação, algumas formas de agir são legítimas e reconhecidas pela Constituição. Já outras manifestações ferem direitos garantidos por lei e, por isso, são consideradas ilegais, isto é, passíveis de repressão e condenação. Cada movimento social reúne parte da sociedade de acordo com determinado motivo ou objetivo. Os movimentos sociais não agradam a todos, pois expressam uma opinião e não contemplam todos os indivíduos, já que cada grupo social tem interesses específicos, busca metas distintas e defende ações diferenciadas. Por exemplo, a greve sempre desagrada a quem fica privado do serviço que foi suspenso; porém, ela é garantida por lei, desde que seja comunicada com antecedência e não desrespeite a legislação. Já as invasões de propriedades são condenadas e consideradas um crime contra o patrimônio. Assim, há manifestações que são aceitas pela sociedade – ou por parte dela – e outras que são vistas como ameaças à ordem social e/ou política do país, pois ferem a Constituição federal. Ao longo dos séculos, populações organizaram-se de diferentes modos e escolheram maneiras de exigir, protestar e conquistar seus direitos. Algumas foram mais localizadas e menos traumáticas; outras foram palcos de conflitos e de derramamento de sangue.

Em abril de 1984, no vale do Anhangabaú, no centro da cidade de São Paulo, aconteceu uma das maiores manifestações públicas de rua da história do Brasil. Mais de 1,5 milhão de pessoas participaram do comício pelas Diretas Já, campanha que exigia eleições diretas para presidente.

A Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) defende direitos iguais aos homossexuais e o fim do preconceito, discriminação e violência em razão das orientações sexuais e identidades de gênero. Rio de Janeiro, 2012.

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Seja por direitos políticos, econômicos, sociais ou religiosos, por insatisfações com o preço dos alimentos, por melhoria na qualidade de ensino, contra o preconceito sexual ou racial, pela igualdade de condições de vida ou emprego, pelo direito à moradia ou à terra, pela deposição de um presidente, pela preservação ambiental, por direitos humanos, seja contra a violência urbana ou a globalização, em diferentes épocas, a sociedade brasileira (e também a mundial) reuniu-se e levantou bandeiras em prol de uma causa comum. As manifestações sociais fazem parte da história e, geralmente, são momentos marcantes que acabam trazendo mudanças de comportamento e transformações nas mais diversas esferas da vida pública e privada.

PARA REFLETIR

Você já ouviu falar em ciberativismo ou netativismo? O termo usado para essa forma de ativismo social faz menção ao uso de ferramentas na internet – ciber ou net. Atualmente, as novas tecnologias da informação têm desenvolvido um papel muito importante na organização de movimentos populares, usando as redes sociais. São novas maneiras de expressar opiniões, denunciar irregularidades e/ou atos ilegais, encontrar pessoas com os mesmos pontos de vista, agendar encontros entre cidadãos solidários às mesmas causas, angariar assinaturas e fundos a favor ou contra uma ideia, protestar contra uma decisão tomada ou fato ocorrido, enfim, novos canais de manifestação política e social. Você já participou de algum movimento desse tipo? Você tem acesso às redes sociais? Como faz uso das novas tecnologias? Qual seria o possível impacto da internet para os movimentos sociais? Converse com seus colegas sobre essa forma de expressão de ideias e de organização de movimentos sociais, considerando os dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE: A proporção de domicílios com acesso à internet também teve um crescimento expressivo de 2004 a 2009, passando de 14,2% para 31,5%. A posse de computador dobrou no mesmo período, alcançando 39,3% dos lares urbanos do país e mais de 45% dos domicílios nas regiões Sudeste e Sul. Embora a região Norte apresente as menores proporções de domicílios com computador, foi nesta região que o indicador apresentou o maior crescimento proporcional, de 2004 a 2009, 175%, contra 96,6%, na região Sudeste, e 102,6%, na região Sul.

Domicílios urbanos com computador, acesso à internet e posse de telefone celular por pelo menos um morador (Brasil – 2004/2009) 83,1% 2004

52,6%

39,3% 18,9%

Telefone celular

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Computador

31,5% 14,2% Acesso à internet

2009

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004/2009.

IlustraçãPlaneta Terra Design

Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS2010.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2012.


MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS NA PRIMEIRA REPÚBLICA

Lewis Wickes Hine/Corbis/LatinStock

Logo após o fim da Monarquia e a proclamação da República, vários conflitos ocorreram na área rural. Entretanto, esses movimentos de contestação não foram exclusivos do campo, também atingiram os centros urbanos. Com o início da industrialização, a partir do fim do século XIX, a população urbana teve novas opções de emprego, já que as dezenas de fábricas, que se instalaram nos arredores dos bairros mais centrais, ofereciam vagas para operários. Em 1852, existiam 21 fábricas de chapéu no Brasil, a principal atividade industrial daquela época. Já em 1889, o país contava com mais de 600 indústrias, de diferentes ramos, que empregavam mais de 50 mil operários. No fim, do século XIX foram fundadas empresas como a Companhia Melhoramentos (em 1883, para fabricação de papel), o Cotonifício Crespi (1887, para fabricação de tecidos), a Cervejaria Antártica (1888), a Santa Marina (1897, para fabricação de vidros), entre outras. Mesmo sendo ainda pequeno o número de produtos industrializados que eram consumidos nas primeiras décadas do século XX, a produção nas fábricas crescia, fazendo surgir novas necessidades e alterando costumes. As indústrias multiplicavam-se. No entanto, as condições de trabalho nas fábricas brasileiras eram péssimas, pois não havia ainda uma legislação que regulasse a relação entre patrões e empregados. Para se ter uma ideia, eram admitidos castigos físicos, os salários eram miseráveis e a jornada de trabalho ultrapassava 14 horas diárias. Também não havia direito a férias remuneradas, aviso prévio, licença-maternidade e o trabalho infantil era permitido. Além do trabalho inadequado à idade, as crianças não usavam equipamentos de segurança e Meninos trabalhando na tecelagem Cherryville Manufacturing Company, no eram expostas a situações de insalubriestado da Carolina do Norte (EUA), em 1908. Era comum contratar crianças e adolescentes para trabalharem nas fábricas, tanto nos Estados Unidos como na dade, como excesso de ruídos, poeira Europa e em outros países da América, como o Brasil. e umidade. Elas também eram impedidas de frequentar a escola. Contra a precariedade das condições de trabalho e reivindicando melhores salários e benefícios, já no início do século XX foram organizadas as primeiras associações de trabalhadores no Brasil. Em 1906 foi realizado o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, o qual colaborou para a formação de organizações operárias, que reuniam trabalhadores de um mesmo ramo de atividade industrial. Era o início dos sindicatos. Assim, formaram-se associações dos ferreiros, dos tecelões, dos alfaiates, dos vidreiros, dos ferroviários, dos carpinteiros, entre outros. Reunindo várias dessas associações, criaram-se organizações mais nacionais, como 8º ano

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a Confederação Operária Brasileira (COB), de 1908. Tais organizações tinham como objetivo organizar greves e lutar pelos direitos dos trabalhadores urbanos. Grande parte dos operários era de imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis, e foram eles que trouxeram para o Brasil ideias que influenciaram e caracterizaram o movimento operário em nosso país, como o anarquismo e o comunismo. Como forma de atuação sindi- GLOSSÁRIO Anarquismo: palavra de origem grega que indica “sem governo”. No senso comum, cal, os anarquistas realizavam greo termo anarquia recebe uma conotação negativa, relacionada a bagunça, desordem. Porém, entende-se por anarquismo, segundo o sociólogo Norberto Bobbio, o ves, protestos públicos e diminuíam movimento que atribui ao homem como indivíduo e à coletividade o direito de usufruir a produção e o ritmo de trabalho. toda a liberdade, sem limitação de normas, de espaço e de tempo. Os movimentos anarquistas rejeitavam o poder do Estado, as leis e todas as formas de autoridade. Adotavam todos os meios possíveis Comunismo: sistema econômico e doutrina política e social que propõe a criação para pressionar o patrão a conceder de uma sociedade baseada na propriedade comum dos meios de produção e a abolição da propriedade privada. A sociedade não seria dividida em classes, o que benefícios, como diminuição da jorlevaria a uma igualdade entre os homens. Nesse sistema, o Estado é desnecessário e seria extinto. Após a Revolução Russa de 1917, surgiu no mundo uma nova nada de trabalho e melhoria salarial. possibilidade de organização política e de governo. Os operários russos tomaram Entre 1900 e 1920, várias manifestao poder, depuseram o czar (monarca russo) e criaram instituições e organizações baseadas na ideia da propriedade comunitária, oposta à concepção capitalista de ções ocorreram e agitaram a vida nas propriedade privada. cidades recém-industrializadas. O governo reprimiu o movimento operário, fechando CONHECER MAIS jornais operários, destruindo sedes de sindicatos, censurando a imprensa e controlando as atividades dos líderes Greve de 1917 sindicalistas. Ao mesmo tempo, os patrões demitiram traEm 1917, na cidade de São Paulo, ocorreu a primeira greve balhadores sindicalizados. geral de trabalhadores no Brasil. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro O movimento grevista ini(PCB), sob a influência do pensamento socialista origináciou-se pelas indústrias têxteis dos bairros da Mooca e Ipiranrio da Rússia após a Revolução de 1917. Logo, o PCB foi ga, durante o mês de junho, e posto na ilegalidade. O medo do comunismo alastrou-se contou com o apoio de outras no governo, que aprovou em 1927 a Lei Celerada para categorias. Seguiram-se manifestações de rua, as quais foram combater tal doutrina. duramente reprimidas pela poO movimento operário foi perdendo força e, com a lícia. Milhares de pessoas aderiram ao movimento, que se subida ao poder de Getúlio Vargas, em 1930, e a instiespalhou também por outras cituição de um governo autoritário – com o Estado Novo dades. Os conflitos resultaram (1937-1945) –, os sindicatos autônomos foram destruídos na morte do sapateiro anarquista José Iñeguez Martínez. e substituídos pelos sindicatos controlados pelo Estado. Após o ocorrido, intensificaAlém do movimento operário, as cidades foram ram-se as manifestações, que palco de outras manifestações sociais. No início do quase acabaram por paralisar a cidade de São Paulo, com greséculo XIX, o crescimento desordenado dos centros ves e agitações políticas. urbanos, especialmente do Rio de Janeiro, acabou por Apesar da organização do levar a uma marginalização das camadas mais pobres operariado, o Estado – governado pela oligarquia agrária – não da população. Estas foram obrigadas a abandonar o se sensibilizou totalmente e centro da cidade e ocupar a periferia, cujas áreas geatendeu apenas a algumas reiralmente eram alagadiças e sem as mínimas condições vindicações dos grevistas. de saneamento. 212

História


Biblioteca Nacional (RJ)

O Rio de Janeiro tinha uma população de mais de 1 milhão de habitantes e era na época a maior cidade do Brasil. Importante centro portuário, além de ser a capital da República, a cidade carioca tinha uma situação social contrastante, marcada pela existência de grupos da oligarquia econômica e por uma maioria miserável, composta basicamente de ex-escravos e pequenos trabalhadores. Essa população pobre era considerada uma ameaça à ordem social e vivia em casarões decadentes da região central, sem higiene. A cidade era atingida por epidemias de dengue, tuberculose, tifo, febre amarela e varíola. Essa situação prejudicava a imagem da cidade no exterior, fato que não agradava à elite econômica republicana, desejosa de modernização. Para sanar esses problemas, o prefeito Pereira Passos (1902-1906) promoveu uma série de reformas urbanas, iniciadas com a demolição de centenas de moradias populares da região central. Essa operação ficou conhecida como “bota-abaixo” e deixou milhares de famílias desabrigadas, as quais não receberam nenhuma indenização pela desapropriação das suas casas.

Charge ironizando as políticas de demolição das moradias populares e de saneamento da cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: revista Nossa História, ano 2, n. 13, nov. 2004. p. 79.

Em 1904, ocorreu uma revolta contra uma política pública de vacinação, imposta pelo governo federal para combater a varíola. A população mais pobre foi forçada a aderir à campanha e reagiu com barricadas nas ruas. O governo reprimiu os manifestantes e o episódio ficou conhecido como a Revolta da Vacina. Em 1910, ocorreu a Revolta da Chibata, em que marinheiros rebelaram-se contra os maus-tratos. LER TEXTO CIENTÍFICO

Leia o texto a seguir, escrito pelo historiador Nicolau Sevcenko, sobre as revoltas ocorridas durante a Primeira República. 8º ano

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Tanto o episódio de Canudos quanto o da Revolta da Vacina, com suas evidentes afinidades, são dos mais exemplares para assinalar as condições que se impuseram com o advento do tempo republicano. Um tempo mais acelerado, impulsionado por novos potenciais energéticos e tecnológicos, em que a exigência de acertar os ponteiros brasileiros com o relógio global suscitou a hegemonia de discursos técnicos, confiantes em representar a vitória inelutável do progresso e por isso dispostos a fazer valer a modernização “a qualquer custo”. As ações concretas desencadeadas por esses discursos, como visto nesses dois exemplos, se traduziram em formas extremas de opressão quando voltadas para as populações destituídas de qualquer educação formal e alheadas dos processos decisórios. Casos como esses se multiplicaram, como se sabe, em outros episódios trágicos como, apenas para ilustrar, a Guerra do Contestado (1912-1916) na fronteira entre o Paraná e Santa Catarina ou o bombardeamento desumano da população paulista quando da Revolta de 1924, seguido de execuções sumárias de imigrantes. SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 27.

1. Se você não souber o significado de alguma palavra do texto, procure no dicionário o significado.

Em seguida, releia o texto. 2. Que movimentos sociais são citados pelo autor? Quais aconteceram no campo e quais ocorreram

nos centros urbanos? 3. Segundo o autor, o que caracterizava o início do período republicano? Sublinhe no texto o trecho

que se refere ao advento da República. 4. Que grupo social foi mais atingido pelas ações do governo em busca do progresso?

MOVIMENTOS SOCIAIS EM GOVERNOS AUTORITÁRIOS A partir de 1889, o Brasil ingressou no período republicano. Nessa ordem, sucederam-se governos oligárquicos (como na Primeira República), governos mais democráticos e governos autoritários. Vamos conhecer como os movimentos sociais foram tratados durante os períodos em que a democracia não era praticada e a repressão era a única maneira de o governo se relacionar com os manifestantes. Após a Revolução de 1930, iniciou-se a chamada Era Vargas. Entre 1930 e 1945, o presidente Getúlio Vargas governou o Brasil. Chegou ao poder por meio de um golpe de Estado e apenas em 1934 ele foi eleito pelo Congresso Nacional como presidente constitucional, ou seja, escolhido legitimamente, de acordo com as leis previstas para o processo eleitoral. Em 1937, Vargas deu um golpe de Estado e uma nova Constituição entrou em vigor, dando plenos poderes ao presidente, destituindo as câmaras legislativas, suspendendo as garantias individuais e perseguindo opositores do governo. Tinha início o Estado Novo (1937-1945), um novo período da Era Vargas, no qual os direitos democráticos não foram respeitados. Nessa época, por exemplo, por serem considerados subversivos, ou seja, ameaçarem a ordem social e política, alguns intelectuais foram perseguidos 214

História


CONHECER MAIS

Fascismo, nazismo e integralismo No período entre a Primeira Guerra Mundial (1914-1919) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), surgiram na Europa líderes políticos que pregavam, entre outras coisas, o nacionalismo extremo, o expansionismo militar (conquista de outros territórios), o corporativismo (sindicatos controlados pelo governo) e a necessidade de governos centralizados como forma de solução para a crise econômica. Na Itália, o fascismo surgiu com o líder Benito Mussolini. Na Alemanha, o nazismo foi praticado por Adolf Hitler, que também pregava o racismo e a superioridade racial. Tais doutrinas inspiraram chefes políticos que levaram a Europa à guerra. Só com o término do conflito mundial os governantes autoritários foram depostos e substituídos por governos democráticos. Esses governos totalitários (no qual a sociedade é controlada em todas as esferas, sejam elas públicas ou privadas) contribuíram para o surgimento da Ação Integralista Brasileira (AIB), em 1932. O integralismo seguia as principais ideias do fascismo e do nazismo, propondo uma sociedade hierarquizada e disciplinada, uma valorização do nacionalismo e o combate ao comunismo. A defesa de um governo forte influenciou governantes de outros países, como Getúlio Vargas, no Brasil.

Acervo Iconographia

e encarcerados, como a artista plástica Pagu (que foi presa e torturada) e o escritor Graciliano Ramos (que escreveu Memórias do cárcere durante a sua prisão). Com o golpe de Estado de 1930, Getúlio Vargas instaurou um governo provisório, que deveria convocar uma Assembleia Nacional para promulgar uma nova Constituição. No entanto, Vargas demorou a tomar tal decisão, o que desagradou profundamente à sociedade, em especial alguns setores da elite paulista. Em 1932, São Paulo liderou um conflito armado, de inspiração constitucionalista, para pressionar Vargas. Esse movimento ficou conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932. Apesar de não ter vencido militarmente, os paulistas conseguiram que o presidente convocasse a Assembleia em 1933 e promulgasse uma nova Constituição em 1934. Esta ficou em vigor por pouco tempo, já que em 1937 foi substituída por outra. A Constituição de 1937 confirmava o poder ditatorial do presidente e tinha claramente inspiração fascista. Vargas criou instituições para controlar a sociedade, como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939, responsável pela censura aos meios de comunicação (como jornais, rádio, revistas, cinema) e seleção das informações que podiam ser veiculadas. Era o DIP também que organizava os desfiles do 1o de Maio, Dia do Trabalhador. Era uma manifestação cívica, nos moldes dos grandes desfiles fascistas na Itália, e tinha como objetivo construir uma imagem simpática de Getúlio Vargas. Nessas ocasiões, diante de milhares de trabalhadores, Vargas anunciava medidas sociais, Nos desfiles do como a Consolidação das Leis do Dia do Trabalhador, milhares Trabalho (CLT), anunciada em 1o de pessoas se de maio de 1943. Essa campanha reuniam em estádios de futebol garantiu a Vargas o apelido de “Pais e aguardavam o pronunciamento dos Pobres”. Os desfiles faziam pardo presidente te da estratégia governamental do Getúlio Vargas sobre alguma Estado Novo de ganhar o apoio política social dos trabalhadores e desmobilizar que favorecesse as classes mais os sindicatos autônomos, de tenpobres. Rio de Janeiro (RJ), 1951. dência comunista ou anarquista.

8º ano

215


PESQUISAR

Se você trabalha e tem um emprego formal, procure saber quais são os seus direitos garantidos pela CLT. Faça uma lista das garantias e benefícios encontrados. Escreva um parágrafo sobre o que tais garantias significam na sua vida particular, profissional e na relação trabalhista. Leia para os colegas o seu texto.

OS MILITARES NO PODER Outro período de extremo autoritarismo e desrespeito aos direitos dos GLOSSÁRIO cidadãos foi iniciado com o golpe de 1964 em que se sucederam no poder Exilaram-se: foram mandados para local isolado, banidos, expatriados. vários presidentes militares até o ano de 1985. O período de 1964 a 1979 foi Habeas corpus: termo jurídico conhecido como “anos de chumbo”, quando os movimentos sociais foram que indica ação judicial com o objetivo de proteger o direito de duramente reprimidos e a sociedade teve pouco espaço para manifestar liberdade de locomoção lesado as suas frustrações, críticas e/ou desejos. Professores, artistas, cantores, esou ameaçado por ato abusivo de autoridade. critores, jornalistas, estudantes, operários, advogados, entre outros, foram perseguidos, presos, torturados e mortos pelas forças policiais do Estado. Muitos, para fugir da repressão, deixaram o Brasil e exilaram-se em outros países, como a França e a Itália. Todos foram considerados criminosos, por terem contestado o poder militar, mostrado sua insatisfação com a ditadura e lutado pela volta da democracia. Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar. Sem conseguir reunir forças para reagir, deixou o país e exilou-se no Uruguai. Logo em seguida, em 11 de abril de 1964, o general Castelo Branco foi eleito novo presidente da República pelo Congresso Nacional. Ele governaria até 1966, quando eleições presidenciais por voto direto deveriam acontecer. Não só isso não ocorreu, como nos anos seguintes o regime ditatorial passou a perseguir de maneira cada vez mais dura todos que a ele se opusessem. Ainda em 1966, Costa e Silva, então ministro da Guerra, foi eleito presidente pelo Congresso Nacional. Ele pertencia à chamada linha dura do exército e defendia uma ação rigorosa contra os opositores do regime. Em dezembro de 1968, foi decretado o Ato Institucional no 5 (AI-5), que suspendeu o direito de habeas corpus para os crimes políticos e dava o direito de o Poder Executivo intervir nos estados e municípios, decretar estado de sítio sem autorização do Congresso Nacional e também suspender direitos políticos por dez anos de qualquer cidadão. Com isso, nos anos que se seguiram, muitos opositores do governo foram perseguidos, presos, torturados e mortos. Contra os abusos do poder ditatorial, foi criado em São Paulo, em 1975, o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), que reunia mães, esposas e companheiras de presos políticos. Esse foi o embrião de um movimento maior, que ganhou apoio de amplos setores da sociedade – o Movimento pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, consolidado a partir de 1978. A anistia consistiu no ato de prescrever as condenações dos presos políticos e libertá-los, revogar demissões e aposentadorias forçadas, permitir o retorno dos exilados e extinguir a prática da tortura política, entre outras medidas. 216

História


O movimento social pela Anistia foi importante para o processo de redemocratização. Embora não tenho sido ampla e irrestrita, em 28 de agosto de 1979, foi aprovada a Lei no 6.683, a Lei da Anistia. Nesse mesmo ano, retornaram do exílio personagens da história do Brasil, como Leonel Brizola, Fernando Gabeira, Darcy Ribeiro, Luís Carlos Prestes, entre tantos outros.

MOMENTO DA ESCRITA

A Lei da Anistia perdoou crimes praticados durante o período da ditadura militar. Segundo alguns juristas, ela também beneficiou torturadores e agentes do Estado envolvidos em crimes contra os direitos humanos, já que foi uma “anistia de mão dupla”, isto é, beneficiou todos os envolvidos, independentemente da sua atuação e/ou posição política. Com base no texto transcrito a seguir, elabore um parágrafo sobre o tema, expondo argumentos que fundamentem seu ponto de vista sobre o assunto, seja ele contra o perdão aos crimes de tortura, seja a favor da anistia a todos os envolvidos. A Lei da Anistia (6.683/79) contempla os crimes praticados por motivação política, os chamados crimes conexos, mas muitos entendem que crimes de tortura não prescrevem nunca. Essa é a opinião da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Organização das Nações Unidas (ONU). “É preciso que todos os torturadores e ditadores saibam que seus crimes jamais serão impunes, jamais serão objeto de anistia. Este é o conceito mais moderno do mundo. Se Idi Amin Dada soubesse disso, jamais faria o que fez em Uganda. Se Baby Doc soubesse disso, jamais faria o que fez no Haiti. O que preocupa a OAB é que no Brasil ainda parece que os ditadores dos outros são feios e os nossos são bonitos e perdoáveis”, critica o ex-presidente da OAB Cezar Brito. O advogado vincula a tortura do passado à praticada no presente. “Se nós perdoamos o torturador, se aceitamos a tortura, vai acontecer o que ainda acontece nas delegacias brasileiras. A tortura ainda como objeto de prova válida, estimulada por parte da sociedade, quando tem um objeto seu roubado.” Agência Câmara de Notícias. Disponível em: <www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITOS-HUMANOS/ 417023-DEPUTADOS-E-JURISTAS-DIVERGEM-SOBRE-A-PUNICAO-DE-TORTURA-PRATICADA-NA-DITADURA.html>. Acesso em: 5 jul. 2012.

LER DOCUMENTOS

Leia os dois textos e responda às questões a seguir. Abaixo o silêncio Manifestação popular contra comemoração dos 48 anos do golpe militar reforça a necessidade de uma discussão ampla e clara sobre os tempos da ditadura Na tarde desta quinta (29), cerca de 300 militares se reuniram para comemorar os 48 anos do golpe militar de 1964, na sede do Clube Militar, no Centro do Rio de Janeiro. A reunião dos oficiais da Reserva incitou uma manifestação de centenas de civis, que se dirigiram à frente do clube, munidos de fotos de desaparecidos políticos, aos gritos de “torturadores” e “golpe não é revolução”. 8º ano

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[...] Setores do atual governo tentam restaurar a discussão sobre a impunidade dos crimes contra a humanidade, e movimentos sociais se esforçam para garantir indenizações aos familiares de presos políticos, exilados e torturados à época. Uns comemoram a vitória política que obtiveram em 1964, os projetos políticos e econômicos então viabilizados, a anistia que satisfez uma parcela considerável da oposição, os meios que utilizaram para garantir o essencial da ordem que desejavam. Demandas diferentes, causas distintas e objetivos contrários que compõem a sociedade brasileira, motivo pelo qual a ditadura não durou 20 dias, a anistia foi legítima, assim como qualquer manifestação contemporânea e pacífica em nome da verdade. DAHAS, Nashla. 30 mar. 2012. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/abaixo-o-silencio>. Acesso em: 4 jul. 2012.

Deputados e juristas divergem sobre a punição de tortura praticada na ditadura A punição do crime de sequestro de militantes da esquerda por agentes da repressão também vem sendo questionada [...] Nessa arena em que pela retórica se digladiam os “mais velhos” surge um vento novo: um movimento jovem que está levando às ruas o repúdio à violação dos direitos humanos no país à época da ditadura. O movimento Levante Popular da Juventude está organizado em 17 estados e pratica o “esculacho”. “O esculacho consiste em denunciar os torturadores para seu círculo social. Dizer para essas pessoas que eles são torturadores, estupradores e assassinos também em alguns casos”, explica o estudante de tecnologia da computação Edson Rocha Junior, que integra o movimento. “A ideia de uma movimentação desse tipo é abrir diálogo com a sociedade civil sobre o período da ditadura militar. Sobre a importância da Comissão da Verdade e de saber de fato o que aconteceu nesse período. Então não consiste apenas sobre ações como esculacho. A gente quer investir no diálogo com a juventude que tem sua história roubada por quem quer os arquivos fechados”, explica o estudante. TRAMARIM, Eduardo. 11 maio 2012. Disponível em: <www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITOS-HUMANOS/417023DEPUTADOS-E-JURISTAS-DIVERGEM-SOBRE-A-PUNICAO-DE-TORTURA-PRATICADA-NA-DITADURA.html>. Acesso em: 5 jul. 2012.

1. No texto “Abaixo o silêncio”, há pontos de vista divergentes sobre o ocorrido em março de 1964?

Exponha as posições que você identificou.

218

História


2. Que objetivos têm os movimentos relatados nos dois textos transcritos? Há semelhanças entre

eles? Quais?

3. Os movimentos sociais abordados nos textos usam que estratégias de manifestação?

4. Você acha legítimo o protesto relatado no primeiro texto? Você concorda com as denúncias rela-

tadas no segundo texto? Justifique-se.

5. Após responder individualmente, compartilhe suas opiniões com os colegas e argumente em de-

fesa das suas ideias.

MOVIMENTOS SOCIAIS NA ATUALIDADE Após mais de duas décadas de governo militar, o processo democrático voltou ao Brasil. Em 1989 foram realizadas as primeiras eleições diretas para presidente após o fim do regime ditatorial. Na disputa em segundo turno, eram candidatos: Fernando Collor de Mello (ex-governador de Alagoas) e Luiz Inácio Lula da Silva (líder sindical e do maior partido de esquerda do país). Collor acabou eleito e tomou posse em 1990. Dois anos depois, o presidente foi acusado de atos de improbidade administrativa, isto é, mau uso do dinheiro público, além de envolvimento com esquemas de corrupção. Em meados de 1992, a sociedade civil começou um movimento para pedir a saída do presidente do cargo, o impeachment. Várias passeatas, reunindo milhares de pessoas, percorreram as principais cidades brasileiras. Jovens saíram nas 8º ano

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ruas com o rosto pintado com as cores da bandeira nacional – verde e amarelo. Os caras-pintadas, como foram chamados, marcaram a luta da população pelo afastamento do presidente, aprovado no Congresso Nacional em 29 de setembro daquele ano. No início de outubro, Collor renunciou ao cargo, antes de ser condenado pelo Senado. Ele ficou inelegível por oito anos, mesmo tendo sido inocentado da acusação de corrupção passiva.

LER IMAGENS

Carlão Limeira/AGÊNCIA ESTADO/AE

Analise as duas imagens e responda às questões a seguir.

Ed Alves/Esp. CB/D.A Press

Os caras-pintadas organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Rio de Janeiro (RJ), 1992.

Manifestação em frente à Esplanada dos Ministérios. Estudantes reivindicam o investimento de 10% do PIB no Plano Nacional de Educação (PNE). Brasília, 2011.

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História


1. Identifique o local e a data de cada fotografia. 2. Descreva cada uma das imagens (local, pessoas, objetos, dizeres etc.). 3. Que semelhanças são observadas entre as duas manifestações? 4. Você já participou de alguma passeata ou de algum outro movimento social? Qual foi o motivo

da sua participação?

PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA Mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais são impulsionadas pela ação dos movimentos sociais. Dependendo da época, dos objetivos e das estratégias, seus manifestantes expressam causas mais específicas ou mais gerais, podendo assim conquistar um apoio significativo da maioria da sociedade. Entre os movimentos sociais que ganharam força no período pós-ditadura, podemos mencionar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), fundado em 1984, que luta pela reforma agrária no Brasil. Os integrantes desse movimento, que reúne trabalhadores sem-terra de muitos lugares do país, defendem que sejam desapropriados os latifúndios improdutivos com a finalidade de redistribuí-los a famílias que não possuem terras para plantar e poder sobreviver dos ganhos da atividade agrícola. Como forma de pressão pela reforma agrária, são realizadas grandes marchas camponesas e também ocupações de latifúndios considerados improdutivos pelos sem-terra. Em 2008, conforme dados do próprio MST, havia cerca de 150 mil famílias acampadas em terras, reivindicando sua desapropriação para a reforma agrária. Entre 1988 e 2011, conforme dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), foram assentadas 1 235 130 famílias. É importante lembrar que a luta pela terra cria situações de muita tensão. De um lado, estão os proprietários de terras que reivindicam seu direito de propriedade, desejando mantê-las a qualquer custo, mesmo que improdutivas; de outro, estão os camponeses que reivindicam a desapropriação dessas terras para fins de reforma agrária. Em muitas situações, ainda ocorrem conflitos armados entre fazendeiros e camponeses. Além do MST, existem vários outros movimentos que lutam pela reforma agrária no Brasil, com diferentes orientações políticas e estratégias de atuação. Alguns deles são: União dos Trabalhadores Sem Terra (Uniterra); Movimento Terra Viva (MTV); Associação Renovada Sem Terra (ARST); Movimento Nova Força (MNF); e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil (MTRSTB).

LER TEXTO JORNALÍSTICO I

Leia o texto a seguir sobre o encontro do Fórum Social Mundial (FSM), realizado na cidade de Belém (PA), em janeiro de 2009, e o quadro sobre o FSM. Em seguida, responda às questões.

8º ano

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Fórum Social termina com agenda de mobilizações

Ana Flor, enviada especial a Belém João Carlos Magalhães, da Agência Folha, em Belém

Na tentativa de combater a principal crítica que sofre desde sua criação, em 2001, a de ser pouco resolutivo, o Fórum Social Mundial terminou com uma “assembleia das assembleias” que definiu uma agenda de mobilizações para 2009. Como a organização do evento tem em sua carta de princípios a decisão de não adotar posições oficiais, para não forçar um consenso, a assembleia final ouviu movimentos sociais e outras entidades. Os protestos serviriam para “marcar posição” e tentar influenciar governos para que optem por alternativas a políticas consideradas globalizantes e neoliberais. Dentre as ações que devem ocorrer ainda neste ano estão um ato pelo direito das mulhe-

res, no dia 8 de março; uma semana de protestos contra a guerra e o capitalismo, entre 28 de março e 6 de abril; e uma ação em defesa do ambiente e dos índios, em 12 de outubro. Fora do Brasil também devem ocorrer manifestações durante o Fórum Mundial das Águas, a ser realizado em Istambul, na Turquia, e para pressionar países a agir contra as mudanças climáticas, durante a próxima Conferência do Clima da ONU. Cândido Grzybowski, um dos organizadores do Fórum e diretor do Ibase (Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica), fez uma avaliação do evento, que teve 133 mil participantes de 142 países. [...] Folha de S.Paulo, 2 fev. 2009. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/ fc0202200909.htm>. Acesso em: 2 set. 2012.

Fórum Social Mundial O FSM é um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. [...] O Fórum Social Mundial se caracteriza também pela pluralidade e pela diversidade, tendo um caráter não

confessional, não governamental e não partidário. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa da sociedade civil mundial. O Fórum Social Mundial não é uma entidade nem uma organização. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br/main.php?idmenu=19&cdlanguage=1>. Acesso em: 2 set. 2012.

1. Qual é o objetivo da “assembleia das assembleias” do Fórum Social Mundial? 2. As ações marcadas pelos movimentos sociais para o ano de 2009 defendem o quê? 3. Quem participou do FSM em 2009? 4. Com base no texto do quadro, o que é o FSM? 5. Para você, qual é a importância da realização de eventos como esse? Justifique a sua opinião.

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História


APLICAR CONHECIMENTOS

1. Enem (2011) No mundo árabe, países governados há décadas por regimes políticos centralizadores contabilizam metade da população com menos de 30 anos; desses, 56% têm acesso à internet. Sentindo-se sem perspectivas de futuro e diante da estagnação da economia, esses jovens incubam vírus sedentos por modernidade e democracia. Em meados de dezembro, um tunisiano de 26 anos, vendedor de frutas, põe fogo no próprio corpo em protesto por trabalho, justiça e liberdade. Uma série de manifestações eclode na Tunísia e, como uma epidemia, o vírus libertário começa a se espalhar pelos países vizinhos, derrubando em seguida o presidente do Egito, Hosni Mubarak. Sites e redes sociais – como o Facebook e o Twitter – ajudaram a mobilizar manifestantes do norte da África a ilhas do Golfo Pérsico. SEQUEIRA, C. D.; VILLAMÉA, L. A epidemia da Liberdade. Istoé Internacional. 2 mar. 2011. (Adaptado.)

Considerando os movimentos políticos mencionados no texto, o acesso à internet permitiu aos jovens árabes: a) reforçar a atuação dos regimes políticos existentes. b) tomar conhecimento dos fatos sem se envolver. c) difundir ideias revolucionárias que mobilizaram a população. d) manter o distanciamento necessário à sua segurança. e) disseminar vírus capazes de destruir programas dos computadores. 2. Enem (2007) São Paulo, 18 de agosto de 1929. Carlos [Drummond de Andrade], Achei graça e gozei com o seu entusiasmo pela candidatura Getúlio Vargas – João Pessoa. É. Mas veja como estamos... trocados. Esse entusiasmo devia ser meu e sou eu que conservo o ceticismo que deveria ser de você. [...]. Eu... eu contemplo numa torcida apenas simpática a candidatura Getúlio Vargas, que antes desejara tanto. Mas pra mim, presentemente, essa candidatura (única aceitável, está claro) fica manchada por essas pazes fragílimas de governistas mineiros, gaúchos, paraibanos [...], com democráticos paulistas (que pararam de atacar o Bernardes) e oposicionistas cariocas e gaúchos. Tudo isso não me entristece. Continuo reconhecendo a existência de males necessários, porém me afasta do meu país e da candidatura Getúlio Vargas. Repito: única aceitável. Mário [de Andrade] LEMOS, Renato. Bem traçadas linhas: a história do Brasil em cartas pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 305.

Acerca da crise política ocorrida em fins da Primeira República, a carta do paulista Mário de Andrade ao mineiro Carlos Drummond de Andrade revela: a) a simpatia de Drummond pela candidatura Vargas e o desencanto de Mário de Andrade com as composições políticas sustentadas por Vargas. b) a veneração de Drummond e Mário de Andrade ao gaúcho Getúlio Vargas, que se aliou à oligarquia cafeeira de São Paulo.

8º ano

223


c) a concordância entre Mário de Andrade e Drummond quanto ao caráter inovador de Vargas, que fez uma ampla aliança para derrotar a oligarquia mineira. d) a discordância entre Mário de Andrade e Drummond sobre a importância da aliança entre Vargas e o paulista Júlio Prestes nas eleições presidenciais. e) o otimismo de Mário de Andrade em relação a Getúlio Vargas, que se recusara a fazer alianças políticas para vencer as eleições. CONHECER MAIS

Neste capítulo, estudamos alguns movimentos sociais da história do Brasil, que conseguiram – ou ainda batalham para conseguir – conquistas importantes para alguns grupos e para toda a sociedade. Além dos já estudados, vale destacar a organização das mulheres negras na luta por direitos e por oportunidades iguais. As mulheres, em geral, começaram a ampliar significativamente a sua participação no mercado de trabalho e nas decisões políticas e econômicas do país a partir da década de 1960. No entanto, quando falamos nas trabalhadoras negras, devemos lembrar que desde a época do regime escravista, quando exerciam trabalhos forçados, elas desempenharam ocupações fora das obrigações de “dona de casa”. Mesmo após a abolição, as negras continuaram a exercer trabalhos no ambiente da rua, como cuidar dos filhos e da casa das outras ou atuar como vendedoras. Atualmente, as maiores lutas das mulheres negras são conseguir oportunidades iguais no mercado de trabalho e combater o preconceito. Diversos estudos mostram que as mulheres enfrentam dificuldades para conseguir trabalho e, quando encontram, ganham menos do que os homens que ocupam cargos semelhantes ou que têm a mesma escolaridade. Entre as mulheres negras, a situação se agrava. Leia o exemplo dado pelas autoras do texto a seguir. Com a criação do movimento feminista e depois de muitas lutas, as mulheres conquistaram alguns direitos e de certa forma algumas barreiras sociais foram quebradas, porém a mulher ainda hoje é inferiorizada dentro da sociedade. No mercado de trabalho as mulheres ainda ocupam cargos inferiores em relação aos homens, isto se comprova através de estudos recentes, revelando que para elas alcançarem os mesmos cargos que os homens, em empregos formais, necessitam de uma vantagem de cinco anos de escolaridade. Esses dados agravam-se quando relacionados a mulheres negras, que necessitam de oito a onze anos de estudo a mais em relação aos homens. CELESTINO, Leia; ADRIANA, Elaine. Jornalismo e sensacionalismo: Entrevista Wanda Chase. In: Geledés Instituto da Mulher Negra. Disponível em: <www.geledes.org.br/ em-debate/colunistas/1785-jornalismo-e-sensacionalismo>. Acesso em: 3 ago. 2009.

224

História

Jorge Araújo/Folhapress

O movimento das mulheres negras no Brasil

Sueli Carneiro, filósofa, militante do movimento negro e diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra.

Assim, muitas mulheres negras sentiram necessidade de se unirem, em organizações não governamentais (ONGs) e em organizações sociais, para promover esse debate na sociedade. Além disso, elas fazem denúncias contra o racismo, promovem cursos, palestras, entre outras ações. Um exemplo de espaço onde esse assunto é discutido é o site do Geledés Instituto da Mulher Negra, cujo endereço é: <www.geledes.org.br>. Acesso em: 22 abr. 2013. É importante ainda destacar que muitas mulheres negras hoje em dia ocupam lugares de destaque na sociedade, seja na televisão, no Poder Judiciário, no Legislativo, no Executivo, na música, nas universidades, na imprensa, entre outros espaços de prestígio. Em parte, essa situação é decorrente das ações do movimento de mulheres negras. Mesmo assim, ainda há muito o que fazer até que as oportunidades sociais sejam equiparadas. Vale lembrar que, no caso dessas lutadoras, há duas barreiras a serem vencidas: a dificuldade de ser mulher em uma sociedade machista e a de ser negra em uma sociedade racista.


LER TEXTO JORNALÍSTICO II

Leia um trecho da notícia a seguir sobre a presença de negros em cargos de nível executivo no Brasil. [...] os números a respeito da presença de negros em cargos de nível executivo nas maiores companhias brasileiras – apenas 3,5%, segundo pesquisa do Ibope com o Instituto Ethos – chamam a atenção para um cenário que empresas e profissionais se acostumaram a tratar com naturalidade. Mas os negros são 49,5% da população do país. [...] Para as mulheres negras, a situação é ainda mais cruel, já que elas sofrem um duplo preconceito. De acordo com o levantamento Ibope/Instituto Ethos, feito em 2007, não chega a 0,5% a porcentagem de negras em cargos executivos. Folha de S.Paulo, 11 maio 2008. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u400738.shtml>. Acesso em: 3 set. 2012.

1. Comparando o percentual de homens negros em cargos executivos e o percentual de negros na

sociedade brasileira, o que se pode concluir? Justifique. 2. Comparando o percentual de mulheres negras em cargos executivos com o de homens negros,

pode-se dizer que elas têm as mesmas oportunidades? O que explica essa diferença? 3. Faça uma pesquisa em jornais, revistas e na internet sobre mulheres negras que ocupam lugares de

destaque na sociedade brasileira. Elabore uma lista com alguns nomes e profissões. Com base nos resultados, você acha que o movimento de mulheres negras obteve conquistas importantes? Justifique.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

A era vargas

A autora apresenta a trajetória de Getúlio Vargas para que o leitor avalie os legados dos seus governos nos dias atuais. D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vargas. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2004.

História da vida privada no brasil

A coleção História da vida privada no Brasil chega ao século XX e aborda as amplas transformações tecnológicas do fim do século XIX, momento de tantas mudanças em tão pouco tempo. SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. República: da Belle Époque à Era do Rádio. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Indústria, trabalho e cotidiano

O livro oferece a reprodução comentada de documentos de época (textos oficiais, cartas, letras de música, artigos de jornal e fotos, entre outros) para expor temas relevantes da vida brasileira, como a economia cafeeira e a indústria do século passado; as condições de trabalho nas fábricas, as reivindicações salariais e a formação do operariado brasileiro; os movimentos anarquistas, socialistas e comunistas e seus efeitos sobre a classe operária. DE DECCA, Maria Auxiliadora. Indústria, trabalho e cotidiano. Brasil: 1889 a 1930. 11. ed. São Paulo: Atual, 1991.

A república do progresso

Neste livro, o Rio de Janeiro serve de palco para uma análise contundente que aponta o papel disciplinador de instrumentos aparentemente neutros; a ciência, a moda, o saneamento e a engenharia. SOUZA, Iara Lis Schiavinatto Carvalho. A República do progresso. São Paulo: Atual, 1994. (A vida no tempo)

8º ano

225


Capítulo HISTÓRIA

3

Século XX: capacidade produtiva e capacidade destrutiva

A

The Granger Collection, New York/Other Images

passagem do século XIX para o século XX no Brasil foi caracterizada pela mudança da Monarquia para a República, pela abolição da escravatura, a chegada de imigrantes assalariados, pelas tentativas de industrialização e pelo crescimento urbano. E o que estava acontecendo em outras partes do mundo? Como a realidade brasileira estava inserida no contexto mundial? Que transformações ocorreram no fim do século XIX? Que consequências essas mudanças trouxeram para o século XX?

Progresso do século, litografia da companhia Currier & Ives, 1876. A imagem condensa alguns dos resultados do progresso científico-tecnológico ocorrido no século XIX. Podemos ver o telégrafo elétrico e a locomotiva, símbolos da velocidade na comunicação e no transporte, respectivamente. Qual seria a importância de descobertas como essas para os séculos XX e XXI?

226

História


RODA DE CONVERSA

Você já parou para pensar na origem dos produtos que consome e dos objetos que utiliza? Você sabe quando eles foram inventados? Você consegue imaginar como seria o seu cotidiano antes dessas invenções? No quadro a seguir, grife as palavras que se referem às invenções do século XIX e circule as do século XX. Se precisar, faça uma pesquisa. Compartilhe com seus colegas suas respostas e, com a orientação do professor, converse com o grupo sobre o impacto dessas invenções para as populações desses períodos. Geladeira

Automóvel a gasolina

Telefone

Escada rolante

Lâmpada elétrica

Computador

Anestesia

Televisão

Forno de micro-ondas

Fotografia

Avião

Elevador

Palito de fósforo

Rádio

Cinema

Penicilina

Relógio de pulso

Caneta esferográfica

Pneu

Plástico

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA Foi no século XIX que ocorreu a chamada Segunda Revolução Industrial ou a Revolução Científico-Tecnológica. No século anterior, por volta de 1780, uma série de transformações inaugurou uma economia industrializada, baseada no ferro, no carvão e nas máquinas a vapor. Na Inglaterra surgiram as primeiras unidades produtivas (as fábricas), especialmente as de tecidos manufaturados de lã e de algodão. Elas marcaram o início da Revolução Industrial. As fábricas produziam em grande escala, concentravam centenas de trabalhadores – os operários – e máquinas movidas a energia hidráulica e, mais tarde, a energia a vapor. O carvão e o ferro eram matérias-primas para a produção e o funcionamento das máquinas. A introdução das “máquinas-ferramentas”, isto é, um conjunto de ferramentas articuladas e movidas a energia motriz (vapor), expandiu a produção, pois elas eram capazes de produzir em ritmo acelerado, sendo o operário apenas seu operador. O ritmo de trabalho nas fábricas era o ritmo da máquina. As cidades atraíam populações em busca de trabalho; no entanto, sem infraestrutura para recebê-las, os centros urbanos eram locais de miséria, povoados de cortiços e focos de doenças. As chaminés eram vistas por toda a paisagem. 8º ano

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CONHECER MAIS

Universal History Archive/UIG

Máquinas de fiar

Mulher operando a spinning-jenny em fábrica inglesa. Xilogravura, c. 1880.

Em 1765, o inglês James Hargreaves inventou a máquina de fiar, conhecida como spinning-jenny. Com capacidade de tecer dezoito vezes mais rápido que o

tear manual, ela produzia maior quantidade de fios utilizando menor número de trabalhadores. Em 1771, Richard Arkwright criou o tear hidráulico. Em 1778, Samuel Crompton desenvolveu a chamada “mula”, uma combinação da spinning-jenny com o tear hidráulico. Em 1784, James Watt patenteou sua invenção: uma máquina movida a vapor. Ela utilizava água e carvão para movimentar suas engrenagens e era mais eficiente na produção de fios de algodão. Em 1785, Edmund Cartwright criou o tear mecânico, que aplicava a energia a vapor na indústria têxtil. Essa série de invenções no fim do século XVIII demonstra a velocidade com que as transformações se davam na Inglaterra durante a Revolução Industrial. GLOSSÁRIO

Patenteou: registrou uma invenção; assegurou ao autor de uma invenção, modelo de utilidade, ou desenho industrial, a propriedade e uso exclusivos de seu invento. Têxtil: relativo a tecelagem; produção de tecidos.

Os transportes tornaram-se mais rápidos, com os trens a vapor cruzando territórios e levando as mercadorias para seus consumidores. Além das estradas de ferro, os navios também passaram a usar o carvão nos seus motores e eram utilizados para percorrer grandes distâncias entre os centros produtores e os centros consumidores dos produtos industrializados. Assim, para atender às novas demandas do mercado, desenvolveramFriedrich Engels -se novas técnicas de metalurgia e mineração, para a obtenção do ferro e do carvão mineral. Teórico alemão que fundou no século XIX, junto com Karl Os operários concentravam-se nos subúrbios, bairros Marx, o socialismo científico densamente habitados, com casas pequenas e sem confor(ou marxismo). Escreveu vários livros analisando a societo. Leia a descrição feita por Friedrich Engels sobre esses dade industrial e dedicou-se a locais nos anos 1840:

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora em Inglaterra. Lisboa: Afrontamento, 1975. p. 59.

228

História

Erich Lessing/Album/Album Art/Latinstock

Esses “bairros de má reputação” são organizados em toda a Inglaterra mais ou menos da mesma maneira, as piores casas na parte mais feia da cidade; a maior parte das vezes são construções de dois andares ou de um só, de tijolos, alinhadas em longas filas, se possível com caves [porões] habitadas e quase sempre irregularmente construídas. Estas pequenas casas de três ou quatro divisões e uma cozinha chamam-se cottages e constituem vulgarmente em toda a Inglaterra, exceto nalguns bairros de Londres, as habitações da classe operária.

pensar criticamente a situação dos trabalhadores nas cidades europeias.


Coleção particular

Percy William Justyne retrata a cidade de Manchester. Gravura, 1840. As cidades inglesas, como a de Manchester e de Sheffield, desenvolveram-se em torno das fábricas, que empregavam centenas de operários. A paisagem era marcada pelas chaminés, que expeliam grande quantidade de fumaça escura, deixando o ar poluído. Naquela época não havia a preocupação com os danos ambientais causados pelas atividades industriais.

No século XIX, a expansão da economia industrial desencadeou o segundo momento da industrialização, com a intitulada Segunda Revolução Industrial. O historiador Nicolau Sevcenko caracterizou essa etapa: [...] a Revolução Científico-Tecnológica na realidade é muito mais complexa, ampla e profunda do que um mero desdobramento da primeira, como o nome poderia sugerir. Ela representa de fato um salto enorme, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos, em relação à primeira manifestação da economia mecanizada. Resultando da aplicação das mais recentes descobertas científicas aos processos produtivos, ela possibilitou o desenvolvimento de novos potenciais energéticos, como a eletricidade e dos derivados do petróleo, dando assim origem a novos campos de exploração industrial, como os altos-fornos, as indústrias químicas, novos ramos metalúrgicos, como os do alumínio, do níquel, do cobre e dos aços especiais, além de desenvolvimentos nas áreas de microbiologia, bacteriologia e da bioquímica, com efeitos dramáticos sobre a produção e conservação de alimentos, ou na farmacologia, medicina, higiene e profilaxia, com um impacto decisivo sobre o controle das moléstias, a natalidade e o prolongamento da vida. SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 8-9.

8º ano

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LER IMAGEM

Universal History Archive/UIG

Com base nas informações sobre a Revolução Industrial, analise a imagem a seguir e responda às questões.

Paul-Gustave Doré. Londres: uma peregrinação. Gravura, 1872. O desenhista e ilustrador francês representou os bairros operários nos subúrbios de Londres (Inglaterra) no fim do século XIX.

1. Identifique o local e as personagens da cena representada. 2. O que o autor buscou ressaltar nessa imagem? 3. Como você imagina que seria a vida dessas pessoas? Retome as informações do capítulo para

compor sua narrativa. 4. Há semelhanças entre o que foi retratado e as periferias dos atuais centros urbanos? Exemplifique.

IMPERIALISMO A criação de um sistema fabril mecanizado proporcionou uma produção em larga escala, não mais dependente da demanda real, mas de um novo mercado consumidor, criado para receber a crescente produção industrial. A segunda etapa da Revolução Industrial marcou o crescimento da industrialização, ultrapas230

História


sando as fronteiras da Europa e chegando aos Estados Unidos e ao Japão. Foi a consolidação do capitalismo em escala mundial. Nas palavras do historiador inglês Eric Hobsbawm: A economia capitalista, como não poderia deixar de ser, tornou-se global. Ela consolidou essa sua característica de forma mais intensa durante o século XIX, à medida que foi estendendo suas operações para regiões cada vez mais remotas do planeta, transformando assim essas áreas de modo mais profundo. Sobretudo, essa economia não reconhecia fronteiras, funcionando melhor onde nada interferia na livre movimentação dos fatores de produção. O capitalismo era assim não só internacional na sua prática, mas internacionalista na sua teoria. HOBSBAWM, Eric. The age of empire. p. 41. In: SEVCENKO, Nicolau; NOVAIS, Fernando (Orgs.). História da vida privada no Brasil. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 8.

Com o desenvolvimento industrial, um novo panorama mundial configurou-se, dividido entre um bloco de países industrializados e outros de países de economia agrícola. O primeiro bloco, formado por países como Inglaterra, França e Bélgica, tornou-se o impulsionador do progresso, dominando as tecnologias e a produção industrial. O segundo bloco era tido como um potencial mercado consumidor e, a partir do século XIX, seus domínios foram disputados pelas nações europeias. Esse processo de disputa de áreas fornecedoras de matérias-primas e consumidoras dos produtos industrializados foi chamado de imperialismo. As nações imperialistas europeias usaram diferentes estratégias para impor seus valores, das negociações políticas às anexações territoriais. O domínio econômico, político e cultural de regiões não industrializadas, para exploração econômica dessas potências capitalistas, foi designada como neocolonialismo, isto é, uma nova etapa de “colonização” dos continentes asiático, americano e africano. Foi nesse período, iniciado na segunda metade do século XIX e que se estendeu até as primeiras décadas do século XX, que países europeus dominaram outros povos. Por exemplo, a Inglaterra passou a controlar a Índia e estendeu seu domínio até a Birmânia, ambas na Ásia, além de dominar regiões como Egito, Quênia, Uganda, Sudão e Nigéria, no continente africano; a Itália dominou a Líbia, a Eritreia e a Somália, todas no norte da África; a França conquistou a Indochina, na Ásia, e a Argélia, a Tunísia, a Costa do Marfim e o Marrocos, na África; o Japão estabeleceu seu poder sobre a Coreia, na região do sul asiático; Portugal manteve como colônias Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde, na África; a Bélgica apossou-se do Congo Belga, atual Zaire, e a Alemanha do Togo, Camarões e a África Oriental. O neocolonialismo retirou dos povos conquistados um direito inalienável – a liberdade – pois as nações perderam sua soberania e independência. Diversos movimentos de resistência eclodiram no continente africano, por exemplo, mesmo eles estando em desvantagem em relação aos armamentos bélicos europeus. 8º ano

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Shanaka Wijesooriya/ Dreamstime.com

Angola

Iakov Filimonov/ Dreamstime.com

Kgtoh/Dreamstime.com

Cabo Verde

São Tomé e Príncipe Shanaka Wijesooriya/ Dreamstime.com

Timor Leste Kheng Guan Toh/ Dreamstime.com

Brasil

Portugal Kheng Guan Toh/ Dreamstime.com

Há no mundo atualmente mais de 200 milhões de pessoas que falam a língua portuguesa, de diferentes países dos continentes europeu (Portugal), americano (Brasil), africano (Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) e asiático (Timor Leste). São os chamados países lusófonos (luso = português). O idioma espalhou-se pelo mundo em um processo de colonização portuguesa, iniciado ainda no século XVI e que se estendeu até o século XIX. Durante os séculos XX e XXI, os países historicamente ligados a Portugal estabeleceram relações diplomáticas e de parceria cultural, criando instituições como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tem como objetivos gerais: acordos político-diplomáticos entre seus Estados-Membros, nomeadamente para o reforço da sua presença no cenário internacional; a cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social; a materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa. A Guiné Equatorial decretou, em 2010, que o português é uma de suas línguas oficiais, ao lado do espanhol e do francês. No entanto, a CPLP não aceitou o pedido de ingresso na comunidade, porque o país teria problemas relacionados à violação dos direitos humanos. Consulte um mapa-múndi e localize os países citados.

Kheng Guan Toh/ Dreamstime.com

Países lusófonos

Shanaka Wijesooriya/ Dreamstime.com

CONHECER MAIS

Moçambique

Guiné-Bissau

LER TEXTO ACADÊMICO

A história é sempre contada a partir de um ponto de vista. Por muito tempo, foram os europeus que contaram a história da conquista do continente africano, em uma visão eurocêntrica, isto é, tendo a Europa como agente privilegiado das narrativas históricas. O processo neocolonialista aconteceu de maneira impactante, mas não sem oferecer resistência dos povos africanos. Leia o texto extraído da coleção História geral da África, publicada pela Unesco, e responda às questões a seguir. Em resumo, praticamente todos os tipos de sociedade africana resistiram, e a resistência manifestou-se em quase todas as regiões de penetração europeia. Podemos aceitar isso como um fato que não mais precisa de demonstração. Cumpre-nos agora passar da classificação para a interpretação; em vez de nos restringirmos à tarefa de provar que houve resistência, cabe-nos determinar e explicar os diversos graus de intensidade em que ela ocorreu. Historiadores de certos territórios nacionais têm-se preocupado em comprovar a existência de movimentos de resistência nessas áreas, relacionando-os à tradição de oposição local. Ora, isso é sempre possível, já que houve resistência em praticamente todo lugar. Essa visão parcial, contudo, pode ocultar o fato de que a resistência apresenta gritantes diferenças de intensidade de uma região para outra. Na Rodésia do Norte (atual República de Zâmbia), houve movimentos de resistência armada, mas em nada comparáveis, em amplitude e duração, aos organizados na Rodésia do Sul (atual República do Zimbábue), os quais, por sua vez, não se podem comparar, do ponto de vista da “organização”, aos movimentos de resistência contra os portugueses no vale do Zambeze. Faltam-nos, é certo, estudos regionais comparativos mais precisos. RANGER, Terence O. Iniciativas e resistência africanas em face da partilha e da conquista. In: BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. ed. rev. Brasília: Unesco. 2010. p. 54.

232

História


1. Qual é o assunto do texto?

2. Que considerações o autor faz sobre os estudos africanos?

3. Os movimentos citados aconteceram de maneira semelhante? Justifique.

4. Que carência nos estudos é apontada pelo autor?

5. Levante hipóteses sobre as possíveis causas da carência de estudos sobre a história africana.

O BREVE SÉCULO XX As descobertas e criações tecnológicas ocorridas no fim do século XIX incentivavam os cientistas, empreendedores e investidores a criar novas possibilidades para a produção industrial. O consumo crescera e as invenções ofereciam possibilidades antes inimagináveis para a vida cotidiana, como a lâmpada elétrica, o telefone, o rádio, a fotografia e o cinema, entre tantas outras. No início do século XX, o ser humano pensava em conquistar também o Universo. O curta-metragem Viagem à Lua, do cineasta francês Georges Méliès, filmado em 1902, retratava a viagem espa-

8º ano

233


Méliès/Album Cinema/Latinstock

cial. A chegada do homem à Lua aconteceu muitas décadas mais tarde, em 1969. Em 2002, por ocasião do seu centenário, o filme de ficção científica gravado em preto e branco foi considerado patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O fascínio pelas máquinas e a crença no progresso humano não viabilizaram apenas a realização de sonhos. A busca por novos territórios, iniciada com o neocolonialismo, trouxe outra configuração às relações de poder, o Nesta cena do filme Viagem à Lua (França, 1902, dir. Georges Méliès), vemos a que ocasionou uma série de conflitos nave pousando na Lua, numa representação bem-humorada do acontecimento. pelo estabelecimento do poder político-econômico entre as nações industrializadas nos primeiros anos do século XX. Paralelamente, o progresso tecnológico também criou armas de destruição com impactos desastrosos, como as armas químicas, metralhadoras, tanques e submarinos de guerra, aviões bombardeiros e munições. O aumento da capacidade produtiva ocasionou o aumento da capacidade destrutiva. O equilíbrio de forças entre os países capitalistas passou a depender do arsenal bélico de cada um dos envolvidos nas disputas territoriais. A corrida armamentista ficou conhecida como paz armada. Em 1914, a Europa era o continente mais poderoso economicamente, sendo responsável por 62% das exportações mundiais de produtos industrializados e por 80% de todos os investimentos externos. Grã-Bretanha, França e Alemanha disputavam os mercados coloniais e regiões com potencial consumidor para seus produtos. As discórdias entre as nações europeias remontam à segunda metade do século XIX, quando Estados eslavos – Sérvia, Montenegro, Bulgária e Romênia – na região dos Bálcãs, tornaram-se independentes do Império Turco-Otomano. A Rússia, aliada da Sérvia, procurou dominar a região, mas os sérvios pretendiam também estender seu domínio a regiões do Império Austro-Húngaro, o qual os alemães desejavam dominar. A Alemanha, que saíra vitoriosa da Guerra FrancoPrussiana (1870), tomara dos franceses a região da Alsácia-Lorena, rica em carvão utilizado pelas indústrias. A França recebeu apoio dos russos e aliou-se aos britânicos contra as ofensivas alemãs. Resumindo, as tensões entre as nações europeias impuseram alianças na tentativa de equilibrar as forças entre as lideranças políticas. Formaram-se, assim, dois blocos políticos. De um lado, a Tríplice Entente (França, Rússia e Inglaterra) e, de outro, a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália). A desconfiança entre ambos alimentou a chama dos conflitos que deram início à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 234

História


O estopim da guerra foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, durante uma visita a Sarajevo, capital da Bósnia, na região dos Bálcãs. A Áustria sentiu-se ameaçada e exigiu da Sérvia uma investigação do assassinato. Os russos apoiaram os sérvios, temendo uma invasão austríaca. Em 28 de julho de 1914, o governo austro-húngaro declarou guerra à Sérvia. A Alemanha declarou guerra à Rússia e à França. Temendo o avanço do poder alemão, a Inglaterra declarou guerra à Alemanha. Edward Grey, então secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, disse que “as luzes se apagam em toda a Europa”, enquanto observava Whitehall (rua onde está instalado o governo britânico, em Londres) na noite em que a Grã-Bretanha e a Alemanha foram à guerra. “Não voltaremos a vê-las acender-se em nosso tempo de vida”. Tempos obscuros se abateram sobre grande parte do mundo. Como escreveu o historiador inglês Eric Hobsbawm: A Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, dos Países Baixos, dos três países da Escandinávia e da Suíça. E mais: tropas do ultramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora de suas regiões. HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 31.

Para Hobsbawm, o “breve século XX”, como ele o denominou, foi marcado pelas guerras, iniciadas em 1914. Outras a sucederiam. Ilustração digital: Sonia Vaz

Divisão política da Europa até a Primeira Guerra Mundial

N O

L

0

380

760 km

S

Fonte: ARRUDA, José Jobson. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2007.

8º ano

235


A Primeira Guerra Mundial se desenrolou entre 1914 e 1918 e teve várias fases de conflitos. A guerra durou mais do que o esperado pelos exércitos da época e matou milhões de militares e civis. A guerra de trincheiras foi adotada entre 1915 e 1916. Valas foram escavadas em uma extensão de 640 quilômetros, protegidas por cercas de arame farpado e com túneis e abrigos subterrâneos para os soldados. Nessa época a guerra avançava vagarosamente. Por exemplo, em 1915 a França conseguiu avançar cerca de cinco quilômetros no território inimigo; no entanto, mais de 1 milhão de soldados morreram durante as batalhas. As trincheiras protegiam da luta corpo a corpo, mas não evitavam as mortes por projéteis e lançamento de gases tóxicos. Os soldados entrincheirados conviviam com lama, chuva e frio, além de cadáveres e de companheiros feridos. Eles permaneciam semanas nessas valas e túneis escavados, o que causava doenças. As antigas baionetas (armas de fogo com punhal adaptado na frente do cano de disparo, que permitia a luta corpo a corpo) foram substituídas pelas metralhadoras, com um poder de alcance e disparo muito mais letal.

Bettmann/Corbis/Latinstock

Tropas francesas fazem a guarda de trincheira durante os combates da Primeira Guerra Mundial. c. 1914-1918.

LER DEPOIMENTOS

Com base nos fragmentos de depoimentos de dois soldados, um inglês e outro alemão, que participaram da Primeira Guerra Mundial, compare as situações vividas por eles nas trincheiras. 236

História


A mesma velha trincheira, a mesma paisagem, Os mesmos ratos, crescendo como mato, Os mesmos abrigos, nada de novo, Os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma, Os mesmos cadáveres no front, A mesma metralha, das duas às quatro, Como sempre cavando, como sempre caçando, A mesma velha guerra dos diabos. (soldado inglês)

Estamos tão exaustos que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A melhor coisa que poderia acontecer seriam os ingleses avançarem e nos fazerem prisioneiros. Ninguém se importa conosco. Não seremos substituídos. Os aviões lançam projéteis sobre nós. Ninguém mais consegue pensar. As rações estão esgotadas – pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há uma única gota de água. É o próprio inferno. (soldado alemão)

GLOSSÁRIO

Front: frente de batalha.

MARQUES, Adhemar Martins et al. (Orgs.). História Contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 2000. p. 118 e 120. Retirados de questão adaptada da UFRJ.

FIM DA GUERRA O ano de 1917 redefiniu o rumo dos combates. Os Estados Unidos da América entraram na guerra ao lado da Tríplice Entente, causando um desequilíbrio de forças desfavorável à Alemanha, já que eles eram os principais fornecedores de suprimentos aos ingleses. A Rússia estava internamente passando por revoltas socialistas, que ficaram conhecidas como a Revolução de 1917. Os russos assinaram com os alemães o tratado de Brest-Litovsk, em 1918, e retiraram-se oficialmente da Primeira Guerra, aceitando as exigências que lhe foram impostas pelo governo da Alemanha, como a perda do controle sobre territórios ricos em carvão e petróleo. Ainda em 1918, os ingleses, auxiliados pelas tropas francesas, usando tanques de guerra, romperam as defesas alemãs. A guerra chegava ao seu desfecho. A derrota abalou os alemães, o imperador Guilherme II abdicou do trono, foi decretado o cessar-fogo e o armistício foi assinado em novembro de 1918. Em janeiro de 1919, representantes dos países aliados reuniram-se em Paris (França) para redigir os termos do tratado de paz. O presidente estadunidense Woodrow Wilson elaborou um programa com 14 pontos considerados fundamentais para a garantia da paz mundial, que exigia da Alemanha, entre outras coisas, sua retirada imediata dos territórios ocupados e a eliminação do seu poderio bélico. Foi criada a Liga das Nações, com sede em Genebra, na Suíça, cujo objetivo era cuidar para que novos conflitos não ocorressem no mundo. Em julho de 1919, foi assinado o Tratado de Versalhes, na cidade francesa de mesmo nome, no qual os países da Entente impunham uma série de condições à Alemanha, como: pagamento de indenizações aos vencedores, renúncia às colônias ultramarinas, GLOSSÁRIO Armistício: acordo que reconhecimento da independência da Polônia, cessão da Alsácia-Losuspende temporariamente as hostilidades entre os rena à França para exploração mineral e limite de 100 mil soldados lados envolvidos numa luta, disputa ou guerra; trégua. para as forças armadas alemãs. Essas resoluções, somadas aos efeitos Bélico: relativo à guerra. da guerra, levaram a Alemanha a uma profunda crise econômica. 8º ano

237


A Primeira Guerra Mundial teve como saldo mais de 9 milhões de mortes entre civis e militares, além dos mais de 30 milhões de feridos. A Liga das Nações não conseguiu evitar novos conflitos e o tratado de paz, na verdade, acendeu a chama da vingança. Os anos que se seguiram foram marcados por movimentos nacionalistas totalitários, que pretendiam reerguer as potências derrotadas. GLOSSÁRIO

Totalitários: referente a totalitarismo; diz-se da doutrina ou do regime político que, sem admitir qualquer forma legal de oposição, tolera apenas um partido (ao qual se subordinam todas as demais instituições), exigindo usualmente completa subserviência do cidadão ao Estado.

CONHECER MAIS

Brasil no conflito Em 1914, o governo brasileiro decidiu manter-se neutro, não impedindo que suas exportações, especialmente do café, sofressem restrições. No entanto, com os anos que se seguiram, a postura oficial do governo mudou e, em 1917, o presidente Venceslau Brás revogou a neutralidade brasileira e declarou guerra à Alemanha, aderindo às forças aliadas, ao lado dos Estados Unidos. O Brasil enviou uma equipe médica para a zona de combate e colocou à disposição da Tríplice Entente seus barcos de guerra para missões de patrulha no Atlântico sul. Embora com uma tímida participação, o Brasil foi o único país latino-americano a se envolver diretamente no conflito. A guerra acabou antes que forças expedicionárias brasileiras fossem enviadas à Europa. Com a assinatura do Tratado de Versalhes, o Brasil foi indenizado pela Alemanha pelo bombardeio a navios mercantes brasileiros e por carregamentos de café perdidos nos naufrágios; para tanto, o governo brasileiro confiscou mais de quarenta embarcações alemãs que estavam nos portos do Brasil.

LER MAPA

Compare este mapa com o mapa da Europa antes da Primeira Guerra Mundial reproduzido anteriormente. Identifique as alterações das fronteiras, a fragmentação de antigos impérios e o surgimento de novos países. Registre suas observações. Ilustração digital: Conexão Editorial

Divisão política da Europa depois da Primeira Guerra Mundial

N O

L

0

460

920 km

S

Fonte: ARRUDA, José Jobson. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2007.

238

História


SURGIMENTO DO TOTALITARISMO As imposições do Tratado de Versalhes à Alemanha visavam impedir que novos conflitos armados ocorressem. Mas não foi o que aconteceu. Derrotados na Primeira Guerra Mundial, os alemães enfrentaram uma crise econômica, política e social sem precedentes, com desemprego, desvalorização da moeda, aceleração da inflação e empobrecimento geral da população. Com a queda do Reich (Império Alemão), formou-se uma nova República alemã, na cidade de Weimar. A partir de 1919, a República de Weimar tornou-se parlamentarista, com um governo social-democrata, de posição moderada, ou seja, um governo que buscava minimizar as desigualdades sociais causadas pelo capitalismo. A vida política dos alemães dividia-se em partidos com perfis bem distintos, variando dos conservadores (Partido Nacional Alemão) aos mais radicais (Partido Comunista Alemão). Evolução do preço da fatia de pão na Alemanha 1918

0,63 marcos

1922

163,15 marcos

Janeiro/1923

250 marcos

Julho/1923

3 465 marcos

Setembro/1923

1 512 000 marcos

Novembro/1923

201 000 000 000 marcos

Fonte: História do século XX: 1919/1934. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 1 190.

Na cidade de Munique, foi fundado em 1919 o Partido Nazista, que passou a ser chamado de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) a partir de 1920. Sob a liderança de um ex-cabo da Primeira Guerra Mundial, Adolf Hitler, o NSDAP defendia a superioridade da raça ariana (ancestrais dos germânicos) e o antissemitismo (perseguição aos judeus), negava as instituições da democracia liberal, combatia o comunismo internacional, apoiava o totalitarismo, a luta pelo expansionismo alemão e o nacionalismo. Tal doutrina veio a ser denominada nazismo – termo originário da abreviação da palavra alemã Nationalsozialist.

CONHECER MAIS

Arianos Os arianos não são uma raça, mas um antigo grupo linguístico, o indo-europeu, originário da Ásia Central. É um conceito surgido no século XIX e que hoje está completamente desacreditado. “A raça ariana seria supostamente a linhagem ‘mais pura’ dos seres humanos, constituída apenas por indivíduos altos, fortes, claros e inteligentes, representando assim, de acordo com critérios arbitrários, uma raça superior às demais”, afirma o biólogo Danilo Vicensotto, da Universidade de São Paulo (USP). [...] Em meados do século XIX, o diplomata e escritor francês conde de Gobineau propôs o conceito de “raça ariana”, defendendo a superioridade dos brancos sobre negros, amarelos e semitas. Gobineau classificava como “arianos” os povos nórdicos e germânicos, que para ele representavam o ápice da civilização, sendo responsáveis por todo o progresso da humanidade ao longo da história. As ideias do conde francês tiveram aceitação na Europa da época, em especial entre intelectuais alemães. Na Alemanha do século XX, o conceito foi assimilado pelo Partido Nazista e por seu líder Adolf Hitler, servindo de base para a política de extermínio de judeus e de outros “povos não arianos”. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), porém, o conceito de Gobineau foi totalmente repudiado pelos antropólogos. “No campo biológico, as supostas qualidades da ‘raça ariana’ não fazem sentido. O próprio conceito de raça é equivocado. No século XIX, acreditava-se que os seres humanos poderiam ser classificados em raças de acordo com sua característica física, mas na verdade o conceito de raça não pode ser aplicado aos humanos”, afirma Danilo. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-e-a-raca-ariana>. Acesso em: 20 set. 2012.

GLOSSÁRIO

Democracia liberal: também chamada de democracia constitucional, indica uma forma de governo fundamentada na representação democrática, com base nas regras constitucionais e que promove os interesses da maioria do povo.

8º ano

239


Bettmann/Corbis/Latinstock

O partido do nacional-socialismo tinha um discurso nacionalista e trazia consigo ideias extremamente autoritárias associadas à defesa do extermínio racial dos judeus, considerados os inimigos dos nazistas. Hitler atribuía a eles todas as ideias que odiava – liberalismo, comunismo, internacionalismo, arte moderna, parlamentarismo, individualismo. Historiadores afirmam que Hitler aproveitou-se desse sentimento antissemita, fundado no milenar conflito religioso entre judaísmo e cristianismo na Europa Ocidental, para convocar os alemães a aceitar sua proposta. Em 1933, Adolf Hitler foi escolhido primeiro-ministro. Políticos de outros partidos foram para a ilegalidade, e a Alemanha caminhou para a constituição de um governo totalitário, isto é, o povo deveria seguir fielmente as ordens do seu líder, que teria controle total sobre todos os aspectos da vida pública e privada da nação. Hitler proclamou o Terceiro Reich (um novo império) e, em 1934, tornou-se a autoridade máxima do Império Alemão, o Füher (que significa líder, condutor), após a morte do presidente Hindenburg. Paralelamente, na Itália o modelo de governo que se configurava também tinha caráter totalitário e nacionalista. Em 1919, em Milão, surge o Fascio di Combattimento (Feixe de Combate). Dele originou-se o Partido Nacional Fascista (PNF) em 1921, sob o comando de Benito Mussolini, um ex-líder socialista que pregava contra o liberalismo e o republicanismo, além de condenar veementemente o comunismo e a democracia. Grupos paramilitares fascistas – conhecidos como camisas-negras por causa da cor do seu uniforme – recebiam apoio dos conservadores e de setores da classe média. O primeiro grande movimento de mobilização da população italiana, liderado pelos fascistas, foi a Marcha sobre Roma. Esse episódio levou Mussolini ao poder. O rei Vitor Emanuel III, da Itália, incumbiu-lhe de formar um novo governo, e o Parlamento concedeu-lhe plenos poderes. Estava aberto o caminho para a instauração de um regime totalitário. Chamado de Duce (líder, em italiano), Benito Mussolini tornou-se ditador fascista em 1926. Em 1938, Adolf Hitler iniciou a campanha militar expansionista alemã. O primeiro território a ser anexado foi a Áustria, seguida da Tchecoslováquia. Em 1o de setembro de 1939, os alemães invadiram a Polônia. Era o início da Segunda Guerra Mundial. Poucos dias foram necessários para o exército polonês ser derrotado e a PoÀ esquerda, Mussolini assiste a uma parada militar acompanhado por Hitler, que lônia ser anexada pelos alemães. A perporta no antebraço a suástica, símbolo nazista. Munique (Alemanha), 1937. 240

História


seguição nazista foi colocada em prática: os judeus poloneses foram expulsos de suas terras. Rapidamente os alemães ocuparam outras regiões da Europa: Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Iugoslávia, Grécia e parte da França, além do Egito, no norte da África. Em 1940, foi a vez de a Inglaterra ser bombardeada, mas as forças britânicas impediram uma vitória nazista. Em 1941, as forças políticas no mundo organizaram-se em dois blocos antagônicos, com alianças motivadas por interesses nacionais específicos. De um lado, os países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão; de outro, os países Aliados: França, Inglaterra e, depois, Estados Unidos. Os estadunidenses entraram no conflito após a base militar de Pearl Harbor, no oceano Pacífico, ser atacada pelos japoneses, que pretendiam expandir seus domínios no Oriente. O Japão CONHECER MAIS recebeu a declaração de guerra do presidente dos Estados A formação da URSS Unidos, Franklin Delano Roosevelt, em dezembro de 1941. Em 1917, a Rússia passou por Ainda nesse ano, a Alemanha resolveu invadir a União uma revolução que depôs a tradiSoviética. Apesar de sua superioridade militar e tecnolócional monarquia czarista e instaurou um regime socialista. Após gica, os nazistas não ultrapassavam o bloqueio das forças enfrentar resistência de grupos aliadas que impediam seu avanço. Os soviéticos conseguiantirrevolucionários, em dezembro ram, aos poucos, retomar as áreas que se encontravam sob de 1922, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas o domínio alemão. Uma grande derrota foi imposta aos (URSS), uma federação que reunia países do Eixo na Batalha de Stalingrado, considerada a sete repúblicas: Rússia, Transcaumais sangrenta de todas. Estudiosos estimam que mais de cásia, Ucrânia, Belarus, Uzbequistão, Turquemenistão e Tadjiquis850 mil soldados do Eixo morreram ou foram feridos. Do tão, localizadas nas regiões centro lado soviético, as baixas somaram mais de 1 milhão, entre e norte da Europa e da Ásia. A Rússia era o maior Estado entre elas. soldados e civis. CONHECER MAIS A perseguição aos judeus renderia um dos episódios mais horríveis da história da humanidade: o holocausto. Durante a ditadura nazista, mais de 6 milhões de judeus foram mortos, a maioria em campos de concentração. Verdadeiras “fábricas da morte”, esses campos exterminavam cruelmente seus prisioneiros. Um dos métodos usados eram as câmaras de gás para solucionar definitivamente “o problema judaico”. Cerca de dois terços da população judaica europeia foi morta, entre eles 1,5 milhão de crianças. O mais conhecido campo de extermínio foi o de Auschwitz, na Polônia, transformado depois em museu e memorial. Na porta de entrada havia uma enorme placa com a frase em alemão “Arbeit macht frei” (o trabalho nos faz livres), que simboliza, para a maioria, o cinismo dos nazistas. A inscrição também figurava na entrada dos campos de Dachau, Gross-Rosen, Sachsenhausen, Theresienstadt e Flossenburg. Fabricada por um prisioneiro polonês, em 1940, o ferreiro Jan Liwacz, a inscrição de Auschwitz é de aço, mede 5 metros e tem uma particularidade: a letra “B” da palavra Arbeit está invertida. Segundo uma interpretação perpetuada pelos sobreviventes, o “B” invertido simbolizava insubmissão e a resistência à opressão nazista.

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Holocausto

Turistas visitam o museu e memorial de Auschwitz, na Polônia, em 2011, após mais de sessenta anos do fechamento desse campo de extermínio. Na entrada, a placa com os dizeres que simbolizavam a crueldade dos nazistas com seus prisioneiros.

8º ano

241


Os Aliados ganharam força com a entrada dos Estados Unidos na guerra. Os estadunidenses não sofriam ataques diretos ao seu território, e sua potente indústria bélica recebia ainda mais investimento, já que a produção de armamentos era fundamental para a vitória. O grande marco da vitória das forças aliadas foi o desembarque de tropas na Normandia (França), em 6 de junho de 1944. Essa data ficou conhecida como o Dia D. Mais de 185 mil soldados e 20 mil veículos aéreos, marítimos e terrestres participaram da invasão, que resultou na retomada dos territórios do norte da França e na libertação da capital Paris do domínio nazista. Até o início do ano seguinte, os Aliados bombardearam várias cidades alemãs e aproximaram-se da capital Berlim, deixando os nazistas cercados. Na Itália, Mussolini foi capturado por combatentes da resistência italiana e fuzilado. Em abril de 1945, com a iminente chegada das tropas soviéticas a Berlim, Hitler suicidou-se. Dias depois, a Alemanha anunciava sua rendição incondicional. Era o fim da guerra na Europa.

CONHECER MAIS

Getúlio Vargas flertou com o Eixo Getúlio Vargas era o presidente do Brasil quando a Segunda Guerra Mundial aconteceu. Nosso país vivia o Estado Novo, período de 1937 a 1945, iniciado com o golpe de Estado de Vargas e caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo. O governo brasileiro desenvolveu uma política pragmática no fim dos anos 1930, isto é, tirou proveito do cenário político internacional, estreitando as relações diplomáticas com os Estados Unidos e a Alemanha, o que suscitou dúvidas sobre o posicionamento do presidente da República. Além do perfil centralizador da política de Vargas, ações como a extradição de militantes comunistas judeus de origem germânica para o regime nazista e a importação de produtos alemães sinalizavam uma aproximação com os países do Eixo. No entanto, em 1942 Vargas aliou-se aos Estados Unidos e declarou guerra ao Eixo. Acordos econômicos com os estadunidenses definiram a posição do Brasil em relação ao conflito mundial. Um empréstimo de mais de 20 milhões de dólares foi feito para a construção da usina siderúrgica no país; em troca, os americanos estabeleceram bases militares no território brasileiro. Em 1944, partiram as primeiras tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar na Europa ao lado dos Aliados. Dos mais de 25 mil pracinhas enviados, como eram chamados os soldados brasileiros, 450 morreram em combate.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Em 2008, a Europa entrou em uma crise econômica grave. Os chefes políticos dos Estados europeus buscaram manter a unidade da chamada “zona do euro” como fator importante para a retomada do crescimento econômico. Leio o texto a seguir, que trata sobre esse assunto, e responda às questões.

França e Alemanha exaltam Europa no aniversário da reconciliação bilateral O presidente da França, François Hollande, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se encontraram neste domingo por ocasião do 50o aniversário da reconciliação entre os dois países e fizeram um apelo sobre a necessidade

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História

de que a Europa se mantenha unida para realizar o “trabalho hercúleo” GLOSSÁRIO de superar a crise ecoHercúleo: excepcional, nômica. fenomenal, grande esforço.


Em cerimônia realizada em Reims − cidade do norte da França onde no dia 8 de julho de 1962 o chanceler Konrad Adenauer e o general Charles de Gaulle selaram oficialmente a amizade entre as duas nações −, os dois líderes aproveitaram a oportunidade para reforçar os laços diplomáticos e pedir avanços no caminho traçado ao continente. “O desafio da Europa já não é sua reconstrução, mas sua transição”, disse Hollande em seu discurso, no qual destacou que o atual desafio da União Europeia (UE) “não é o primeiro nem será o último, mas pode representar um novo ponto de partida”. Para ele, os países integrantes da UE devem apostar em “aliar competitividade e solidariedade, soberania nacional e compromisso europeu”, e aumentar o ritmo que conduza à união política e permita que “a Europa vá mais longe”. [...] Com este encontro, deu-se por inaugurada uma série de atos com as quais ao longo do próximo ano se vai celebrar essa

reconciliação oficial dos dois países, ocorrida 17 anos depois do final da Segunda Guerra Mundial. “Quero que a esta celebração se unam todos os parceiros”, disse o presidente francês, para quem França e Alemanha “não querem dar lições, mas simplesmente dar exemplo”, com o objetivo de “reforçar seus vínculos para ser mais fortes juntos”. [...] “Nenhuma força obscura vai alterar a amizade franco-alemã”, destacou Hollande, que encorajou a chanceler a escrever juntos “uma nova página” na história comum de seus países, que perdure além de seus mandatos. O ato foi sobretudo, segundo Hollande, uma homenagem a De Gaulle e Adenauer, “dois visionários em política”, cujo gesto histórico, como acrescentou a chanceler, “só pode ser apreciado em sua justa medida olhando o longo caminho percorrido”. Revista Veja, 8 jul. 2012. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ internacional/franca-e-alemanha-exaltam-europa-no-aniversario-dareconciliacao-bilateral>. Acesso em: 5 set. 2012.

1. O encontro entre as lideranças francesa e alemã ocorreu em qual ocasião? 2. O que os chefes políticos ressaltaram em relação à história comum dos dois países? 3. A homenagem aos antigos líderes políticos relembrou um “longo caminho percorrido”. A que se

refere tal expressão? 4. Comente a afirmação do presidente francês Hollande, sobre a necessidade de “aliar competitividade e

solidariedade, soberania nacional e compromisso europeu” entre os países-membros da comunidade. 5. Faça um levantamento de artigos publicados nos jornais sobre a comunidade europeia e a crise.

Escreva um parágrafo sobre o que você leu. Compartilhe-o com a classe.

O MUNDO SOBREVIVE À SEGUNDA GUERRA No Oriente, o Japão continuava com seu projeto de conquista territorial. Já no fim do século XIX, tropas japonesas haviam invadido a China e conquistado parte do seu território. Outras expedições militares do Japão ao longo do século XX demonstravam o projeto nipônico de se tornar uma potência no Oriente e garantir a posse de territórios que assegurassem o fornecimento de recursos naturais, como minérios, borracha e petróleo, além dos mercados consumidores asiáticos. Para isso, o Japão contou com o apoio da Alemanha para a ocupação de antigas colônias europeias na Ásia, como a colônia francesa da Indochina (atuais Vietnã, Laos e Camboja). O Japão avançou também sobre as ilhas da Polinésia, a Indonésia, a Malásia e a Birmânia, ameaçando inclusive a Índia e a Austrália. 8º ano

243


Conhecido como o Império do Sol Nascente, o Japão nunca havia perdido uma batalha em 2 mil anos de história. Para os japoneses, a derrota era inaceitável, já que lutavam em nome do imperador Hirohito, considerado uma divindade. Uma das últimas estratégias adotadas foram os kamikazes – pilotos suicidas que se lançavam com seus aviões carregados com bombas contra a frota naval estadunidense. Para deter os japoneses, os Estados Unidos usaram armas com poder letal muito mais destrutivo. O presidente estadunidense Henry Truman ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre cidades japonesas. A primeira delas caiu sobre Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945. Três dias mais tarde, a segunda bomba destruiu Nagasaki. As cidades japonesas bombardeadas ficaram praticamente em ruínas. No dia 15 de agosto de 1945, o imperador Hirohito anunciou a rendição do Japão. Chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial. O número de mortos no mundo passou de 45 milhões de pessoas. Para o historiador inglês Eric Hobsbawm, na realidade, a Europa viveu em permanente guerra durante a primeira metade do século XX. Nas suas palavras: A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoronou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender o Breve Século XX sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam. Sua história e, mais especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem começar com a da guerra mundial de 31 anos [o autor refere-se aos anos entre 1914 e 1945]. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 30.

Mortos na Segunda Guerra Mundial (números aproximados, entre militares e civis) União Soviética

21 milhões

Alemanha

9,1 milhões

Polônia

5,8 milhões

Indonésia

4 milhões

Japão

2 milhões

Romênia

985 mil

Hungria

750 mil

França

620 mil

Grécia

574 mil

Áustria

525 mil

Inglaterra

450 mil

Estados Unidos

418 mil

Itália

400 mil

Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Bilan_humain_de_la_Seconde_Guerre_mondiale>. Acesso em: 9 jul. 2012.

244

História


Para substituir a Liga das Nações – instituída no fim da Primeira Guerra –, foi criada em 1945 a Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de regular as relações entre nações e viabilizar alternativas diplomáticas para conflitos, impedindo assim novas guerras mundiais. A ONU, com sede em Nova York (Estados Unidos), ainda tem essa função, apesar da ineficácia de sua atuação em muitos episódios da atualidade.

MOMENTO DA ESCRITA

Para sistematizar os conteúdos trabalhados ao longo do capítulo, produza um texto comentando o seu título “Século XX: capacidade produtiva e capacidade destrutiva”.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Enem (2010) A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder. DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. (Adaptado.)

Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX? a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre-iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenharia e da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene. 2. Enem (2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores; a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo. FOUCAULT, M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In: Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

8º ano

245


O filosofo Michel Foucault (século XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é: a) combater ações violentas na guerra entre as nações. b) coagir e servir para refrear a agressividade humana. c) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados. d) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação. e) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

A primeira guerra mundial

Uma síntese dos conflitos ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial, das causas até o Tratado de Versalhes. BRENER, Jayme. A Primeira Guerra Mundial. 2. ed. São Paulo: Ática, 2000.

A segunda guerra mundial

Uma obra crítica que analisa não apenas o surgimento das ideologias nacionalistas e totalitárias, típicas do início do século XX, mas a herança deixada por esses movimentos, mesmo com a derrocada dos regimes nazifascistas, após a Segunda Guerra Mundial. PEDRO, Antonio. A Segunda Guerra Gundial. 10. ed. São Paulo: Atual, 1994. (Discutindo a história.)

Site

Comunidade dos países de língua portuguesa

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa mantém noticiário atualizado sobre as questões que envolvem a comunidade lusófona e as trocas culturais entre os países participantes. CPLP. Disponível em: <www.cplp.org>. Acesso em: 5 set. 2012.

Filmes

Nós que aqui estamos por vós esperamos

Filme realizado a partir da montagem de imagens históricas, mostrando as grandes transformações do século XX. Direção: Marcelo Mazagão. Brasil, 1998. 55 min.

Tempos modernos

Clássico do cinema, o filme faz uma crítica à modernidade e à sociedade industrial da primeira metade do século XX. Direção: Charles Chaplin. Estados Unidos, 1936. 87 min.

246

História


Bibliografia

HISTÓRIA BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. 7. ed. Brasília: Ed. UNB, 2007. D’ARAUJO, Maria Celina. A era Vargas. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. DE DECCA, Maria Auxiliadora. Indústria, trabalho e cotidiano: Brasil – 1889 a 1930. 11. ed. São Paulo: Atual, 1991. DOLHNIKOFF, Miriam; CAMPOS, Flávio. Atlas História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Scipione, 1994. JANOTTI, Maria de Lourdes M. Sociedade e política na Primeira República. São Paulo: Atual, s.d. HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. MCEVEDY, Colin. Atlas da História Moderna. São Paulo: Verbo, 1990. NOVAIS, Fernando A.; SEVCENKO, Nicolau (Orgs.). História da vida privada no Brasil: República – da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. v. 3. SEVCENKO, Nicolau. Pindorama revisitada: cultura em tempos de virada. São Paulo: Peirópolis, 2000. (Brasil Cidadão). SOUZA, Iara Lis Schiavinatto Carvalho. A república do progresso. São Paulo: Atual, 1994. (A vida no tempo). VIZENTINI, Paulo Fagundes. As guerras mundiais (1914-1945). Porto Alegre: Leitura XXI, 2003.

8º ano

247



UNIDADE 5

Geografia



Capítulo

1

GEOGRAFIA

Dinâmicas naturais e espaço geográfico

A

Friedrich von Horsten/Alamy/Glow Images

diversidade do espaço geográfico resulta da grande variedade de domínios naturais e ações humanas. Ao longo do tempo, ao organizar o espaço geográfico, as sociedades foram se apropriando da natureza. Dessa forma, cada vez mais o meio natural foi se transformando em espaço social ou humano. Florestas e savanas deram lugar a cultivos agrícolas e pastagens, enquanto os rios passaram a servir para abastecimento de água, geração de energia ou como via de transporte. São usos e finalidades definidos pelos grupos humanos. Entretanto, vêm crescendo nas últimas décadas os questionamentos sobre o modo como os recursos naturais são utilizados. Em especial após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aumentou em todo o planeta a percepção de que os recursos naturais necessários à sobrevivência humana podem ficar comprometidos, ou pelo seu esgotamento ou pela sua degradação. É o que veremos a seguir.

Girafas no Parque Nacional Kruger, localizado na África do Sul, 2011. A criação de unidades de conservação tem sido uma medida adotada para conter a devastação dos biomas.

RODA DE CONVERSA

Com seus colegas, converse sobre o uso dos recursos naturais disponíveis na Terra. Para orientar a discussão, siga este roteiro:

8º ano

251


1. Quais são os elementos oferecidos pela natureza no planeta? 2. Como os seres humanos vêm utilizando os recursos naturais disponíveis ao longo do tempo? 3. Cite exemplos de usos adequados que não esgotam nem comprometem os recursos naturais, e

cite também situações em que ocorre poluição, devastação ou degradação desses recursos. Tome como exemplo o que acontece em seu município ou região. 4. Com os colegas, apresente exemplos de práticas que conservam os recursos para as gerações futuras.

Com a ajuda do professor, participe da elaboração de um texto coletivo na lousa com as principais conclusões da turma.

A INCORPORAÇÃO DOS SISTEMAS NATURAIS À VIDA HUMANA A incorporação da natureza aos espaços deu-se com as novas técnicas (ou as novas tecnologias) e o trabalho humano. De um lado, isso reduziu a dependência humana em relação ao mundo natural: os seres humanos domesticaram plantas e animais, mudaram o curso dos rios e ocuparam suas várzeas, passaram a extrair e utilizar recursos minerais e, em boa medida, desenvolveram novas maneiras de prever efeitos de fenômenos naturais e prevenir-se. Com os cultivos, por exemplo, deixaram de depender única e exclusivamente do que conseguiam obter com a caça, a pesca ou a coleta de frutos e outros alimentos. De outro lado, em especial nos últimos 250 anos, quando a humanidade ingressou definitivamente na era urbano-industrial, os recursos naturais começaram a ser utilizados em maior escala. Com as ações humanas, passou a ocorrer o uso mais intensivo e integrado dos recursos naturais, tanto em relação aos chamados recursos renováveis como os não renováveis. Mas sobre quais bases naturais ocorrem as ações humanas? Veja o esquema a seguir. LER ESQUEMA I

Ilustração digital: Luciano Tasso

A interação entre os grandes conjuntos naturais

Atmosfera

Hidrosfera Biosfera

Litosfera

Fonte: DREW, David. Processos interativos homem-meio ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. p. 21.

252

Geografia


Reúna-se com alguns colegas, conversem sobre o esquema e procurem levantar hipóteses para responder às seguintes questões: 1. Quais sistemas formam as bases naturais do planeta Terra? Converse com seus colegas e, com a

ajuda do professor, caracterize cada um deles.

2. O que permite que eles funcionem?

3. Em qual dos sistemas está situada a vida humana? 4. Junto com seu grupo, deem exemplos que mostrem o funcionamento e a interação desses siste-

mas naturais.

SISTEMAS NATURAIS Um modo de compreender o funcionamento do planeta Terra é por meio da noção de sistemas naturais. Tais sistemas consistem basicamente em um conjunto interligado de componentes do mundo natural, que operam como uma unidade. Eles formam as bases naturais do espaço geográfico. A Terra pode ser vista como uma gigantesca máquina natural integrada, um enorme sistema subdividido em sistemas naturais menores, ou subsistemas: a atmosfera (camada de ar que envolve o planeta), a litosfera (rochas, superfície sólida do planeta Terra) e a hidrosfera (conjunto das águas). É na intersecção ou junção dessas três esferas que surge a biosfera, a esfera da vida. O que permite a existência e o funcionamento dessa “máquina” integrada chamada Terra é a energia proveniente da radiação solar. Ela dá origem aos climas, à disponibilidade de água, à formação do relevo, à distribuição das plantas e animais etc. Com a entrada e a saída nesses sistemas, a energia solar flui e acumula-se nos elementos, por períodos mais longos (no caso do petróleo) ou mais curtos (como nos solos e nos animais). Vale lembrar que os sistemas naturais são parcialmente independentes, mas fortemente vinculados entre si, como veremos a seguir. 8º ano

253


LITOSFERA Vimos que os sistemas naturais só podem ser compreendidos se levarmos em conta as relações entre eles. Assim, por exemplo, as formas de relevo não podem ser explicadas sem considerar o clima, o papel das águas e dos ventos e a presença de plantas em sua formação. Relevo é tudo o que se refere às formas da crosta terrestre, como planícies, depressões, escarpas de planalto ou altas montanhas. Trata-se da parte externa da litosfera, a parte solidificada do planeta (lito = pedra). Essas formas não resultam apenas dos chamados agentes externos, como o clima e a ação das águas. Elas derivam também de movimentos internos, como os terremotos e o vulcanismo, que provocam dobras, falhas e elevações nos terrenos. Os blocos continentais e os oceanos existentes hoje resultam de movimentos ocorridos há pelo menos 250 milhões de anos. Os estudos sobre a formação da Terra indicam que antes havia uma única massa de terra – chamada Pangeia –, GLOSSÁRIO que depois foi se fragmentando. Isso demonstra que a crosta terrestre não Abalos sísmicos: tremores repentinos da crosta terrestre, associados à movimené um bloco compacto e contínuo. Ao contrário: ela é formada de grandes tação das placas tectônicas e às falhas no placas dispostas lado a lado, que “flutuam” sobre o magma, a grande masinterior da crosta terrestre. Tectônicos: refere-se às forças que insa pastosa do interior do planeta. São as chamadas placas tectônicas. No terferem na movimentação das camadas contato entre as placas estão áreas mais sujeitas a abalos sísmicos. internas da crosta terrestre. Sobre o tema, realize a atividade a seguir.

LER MAPA I

Observe e compare os mapas a seguir. Depois, responda às perguntas:

Ilustração digital: Sonia Vaz

Placas tectônicas

N O

L

0

2 300

4 600 km

S

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004, p. 66.

254

Geografia


Ilustração digital: Sonia Vaz

Zonas sísmicas e vulcões

N O

L

0

2 400

4 800 km

S

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004, p. 66.

1. Quais continentes ou subcontinentes estão no interior de placas tectônicas? E quais estão frag-

mentados em várias placas?

2. Qual é a posição do Brasil em relação ao contato entre placas? Quais podem ser os efeitos disso?

3. Comparando os mapas, é possível afirmar que há coincidência no contato entre as placas e as

áreas de ocorrência de terremotos e vulcanismo? Cite dois exemplos.

4. Observe a costa oeste do continente americano. Com base nos mapas, o que é possível afirmar

sobre as atividades tectônicas nessa área?

8º ano

255


TECTÔNICAS

Muitos pontos da superfície terrestre recebem os efeitos dos movimentos e do contato entre as placas tectônicas. São comuns, por exemplo, tremores de terra no Japão e terremotos de grande intensidade em vários pontos da Ásia. Abalos e vulcanismo também são frequentes na costa oeste do continente americano. O tsunami, um grande maremoto que atingiu o sul da Ásia em 2004 e o Japão em 2011, foi produto do choque entre placas nas profundezas do oceano Índico. Como o território brasileiro está afastado do contato entre placas, não ocorrem no país abalos de grandes proporções, embora pequenos tremores possam acontecer. De modo geral, esses movimentos demonstram que o processo de formação natural da Terra ainda está acontecendo. Como não é possível controlar essas forças naturais, cabe às sociedades desenvolver métodos e técnicas para prever esses fenômenos e preparar-se para a sua ocorrência.

FORMAS DE RELEVO Fatores externos, como água, ventos, geleiras ou variações de temperatura, também contribuem para modelar as formas de relevo. Entre as mais habituais estão os planaltos, as planícies, as depressões e as cadeias montanhosas, constituídas de rochas de diferentes origens e pro256

Geografia

O perigo dos tsunamis O nome tsunami, de origem japonesa, significa “onda de porto” – e talvez não represente todo o seu potencial destrutivo. Desde o primeiro registro, no litoral da Síria, por volta de 2000 a.C., milhares de tsunamis já levaram à morte mais de meio milhão de pessoas, quase a metade delas no oceano Índico em 2004. A maioria das ondas gigantes se origina na bacia dos oceanos Pacífico e Índico, ao longo de falhas no fundo do mar [...] nas quais a colisão das placas tectônicas provoca terremotos. Em minutos, as ondas alcançam os litorais próximos, como o do Japão em 2011; em horas, elas atravessam o oceano. Os japoneses estavam preparados – mas não para uma onda tão forte quanto a que devastou parte do litoral. As ondas superaram as barreiras no mar; na cidade de Sendai, elas avançaram 3 km terra adentro. Muitos ignoraram os avisos para que fugissem. National Geographic Brasil, São Paulo, Abril, ano 12, n. 143, fev. 2012, p. 100-101. Kyodo/Xinhua Press/Corbis/Latinstock

MOVIMENTOS DAS PLACAS

Tsunami: ondas gigantescas atingem cidade litorânea de Natori, no litoral japonês, em 2011.

A cidade que tem de viver com terremotos Secas no Nordeste, enchentes no Sul e no Norte. Brasileiros de várias cidades precisam adaptar a rotina a fenômenos climáticos. Mas Montes Claros, em Minas Gerais, tem um desafio diferente: seus habitantes têm de aprender a conviver com terremotos. Enquanto isso, chegam a morar no quintal – e mesmo no carro. É pelo menos um abalo por ano – são 23 desde 1995, segundo o Observatório Sismológico de Brasília. O mais forte, contudo, ocorreu em 19 de maio de 2012, atingiu 4,5 graus na escala Richter [que mede a intensidade de tremores e vai até o grau máximo de 8] e foi sentido em toda a cidade. [...] Os sismos são mais comuns do que se imagina em território brasileiro. Segundo pesquisadores, no último século foram registrados pelo menos 50 tremores com magnitude acima de 4,0 na escala Richter, em áreas que vão de Mato Grosso ao litoral do Nordeste. O Estado de S. Paulo, 27 maio 2012, p. C5. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-cidadeque-tem-de-viver-com-terremotos-,878417,0.htm>. Acesso em: 11 jun. 2012.


cessos de formação. Veja um exemplo: as serras baixas da faixa litorânea brasileira são feitas de rochas muito antigas, já desgastadas. Por essa razão, muitas montanhas nessa área têm o topo arredondado, em formato de meia-laranja. Em outros pontos, como na Cordilheira dos Andes, as grandes elevações são formadas por montanhas mais jovens. Muitas das encostas são paredões rochosos com forte inclinação. Temos, assim, grande diversidade de formas e níveis de altitude. Confira esses dados num planisfério físico e em mapas físicos do Brasil. Ao desgaste pela ação de fatores externos dá-se o nome de erosão, processo caracterizado pela retirada e pelo transporte de fragmentos de rochas da superfície. Sob ação da água e de outros fatores, o material retirado é depositado em partes mais baixas dos terrenos. As atividades humanas podem acelerar esse processo, por exemplo, ao retirar a vegetação e deixar os solos expostos ou ocupar encostas íngremes. Isso está na base de eventos como desmoronamentos ou deslizamentos de terras em áreas urbanas. Do mesmo modo, ocorre o assoreamento do leito dos rios e córregos. Outro fator que merece atenção é a extração mineral. Recursos minerais de grande valor e utilidade são retirados sistematicamente do solo, como ferro, alumínio, cobre, chumbo, manganês e ouro. Essa é uma atividade de grande impacto, pois provoca, entre outros efeitos, a devastação da vegetação e alterações no curso de rios ou na composição química da água. Isso coloca em debate as reais necessidades de obtenção desses recursos, pois muitos deles são extraídos apenas para atender ao crescimento ilimitado da produção de bens de consumo e aos interesses imediatos de empresas.

HIDROSFERA Cerca de 70% da superfície terrestre está recoberta pelos oceanos. Os 30% restantes correspondem aos continentes. Assim, cerca de três quartos da superfície do planeta estão recobertos pelas águas. Para observar com mais atenção essa distribuição, consulte a distribuição dos continentes e oceanos na superfície terrestre. Do total das águas no planeta, 97,5% correspondem aos oceanos. A água salinizada é imprópria para beber e para outros usos humanos. Já existem tecnologias para retirar o sal da água e utilizá-la nas lavouras ou para uso doméstico. Isso ocorre em países do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Mas trata-se de um processo ainda muito caro e utilizado apenas em casos extremos, quando não há disponibilidade de água na superfície terrestre e as chuvas são raras. Apenas os 2,5% restantes são de água doce. Desse total de água doce, 88% estão no estado sólido, em geleiras e cumes de montanhas, 11% estão no subsolo e apenas 0,36% na superfície, em rios, lagos e pântanos. Esse porcentual pode pa-

8º ano

257


recer insignificante, mas estima-se que, se bem usado, pode atender de seis a sete vezes às necessidades mínimas de cada habitante do planeta. Nesse quesito, o Brasil encontra-se em posição privilegiada, pois dispõe de cerca de 12% da água doce do mundo, embora o acesso de indivíduos e grupos a esse recurso seja desigual. A região Sudeste, por exemplo, concentra a maior parte da população do país, mas tem somente 6% da reserva superficial de água, e o Nordeste possui muitas áreas com clima semiárido, em que a água é escassa durante boa parte do ano. A água está entre os mais importantes recursos naturais da humanidade. Sem ela, não é possível existir vida. Sua insuficiência (como nos desertos) ou excesso (caso de terrenos alagadiços, como várzeas e pântanos) acaba condicionando o povoamento e a distribuição das populações e atividades humanas. Além disso, muitas vezes o abastecimento de água prioriza as atividades econômicas, dificultando o acesso das populações ao recurso. Para compreender a importância da água e o funcionamento da hidrosfera, é importante analisar sua distribuição na Terra e compreender o ciclo hidrológico, que é o caminho das águas na superfície terrestre e na atmosfera.

LER MAPA II

Observe o mapa a seguir e identifique as regiões do planeta com abundância ou escassez de água. Destaque também como é a disponibilidade de água no território brasileiro.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Distribuição dos recursos hídricos no mundo

N O

L

0

2 300

S

Fonte: FAO-ONU. Aquastat on line databases. In: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 66.

258

Geografia

4 600 km


LER ESQUEMA II

Formação de nuvens

Ilustração digital: Luis Moura

O ciclo hidrológico

Precipitação Evaporação

Evaporação

Transporte Infiltração

Fonte: Cetesb. Secretaria do Meio ambiente do Estado de São Paulo. Disponível em: <www.cetesb.sp.gov.br/agua/aguas-superficiais/28-ciclo-das-aguas> Acesso em: 11 jun. 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. A partir da precipitação, quais são as próximas etapas do ciclo hidrológico?

2. Dessas etapas, quais se dão na atmosfera? E quais ocorrem na superfície terrestre?

3. Em quais momentos do ciclo pode ocorrer a saída de vapor d’água para a atmosfera?

4. Com base no esquema, cite um exemplo de intervenção humana no ciclo hidrológico. Quais eta-

pas são afetadas por essa intervenção? Explique sua resposta.

8º ano

259


CICLO HIDROLÓGICO

Edson Grandisoli/Pulsar Imagens

Considere, de início, que as etapas do ciclo hidrológico apresentam variações de acordo com as características naturais de cada região. A precipitação resulta da agregação do vapor d’água na atmosfera, que forma nuvens. Com isso, ocorre a chuva ou a neve, que devolve água à superfície e alimenta rios, lagos e mares. Isso garante a umidade dos ambientes. Na superfície terrestre, uma parte dessa precipitação fica GLOSSÁRIO retida nas coberturas vegetais e no solo e outra parte integra Gravidade (terrestre): força que atrai todos os corpos ou objetos para o centro o escoamento, retornando aos rios, lagos e mares pela força da Terra. da gravidade. Uma terceira parte dessa água penetra nos solos (infiltração), armazenando-se nas camadas subterrâneas. Esse processo contribui para irrigar o solo e oferecer água às raízes das plantas. Com o aquecimento pela radiação solar, ocorre a evaporação da água dos oceanos, rios e lagos, liberando vapor d’água para a atmosfera. Esse vapor também é emitido pela transpiração dos seres vivos. Em conjunto, constituem os processos de evapotranspiração, que interferem na umidade da atmosfera. Daí, formam-se nuvens e reinicia-se o ciclo, numa constante troca de energia. Determinadas intervenções humanas podem CONHECER MAIS interromper ou modificar o ciclo. Um caso extremo O mundo dos rios é o da impermeabilização dos solos com asfalto ou Poucas terras não são atingidas pela força de edificações, que pode provocar a drástica redução um curso d’água. Mesmo as regiões mais secas guardam as marcas de efêmeras correntezas fluda infiltração e armazenagem de água no subsolo e viais. Os rios criam seus próprios canais, recolhenaumentar o escoamento superficial. Isso explica, em do água da chuva, neve ou degelo que escorre pelo parte, a ocorrência de enxurradas e enchentes. A reterreno, conduzindo-a por declives, graças à força da gravidade, até o mar. Essa jornada faz dos rios tirada de coberturas vegetais também condiciona os insuperáveis modeladores da Terra, escavando os processos de evapotranspiração e deixa os solos cânions e vales e criando solos férteis por meio da expostos à ação dos ventos e das chuvas. Contudo, deposição de sedimentos. [...] Os rios e os lagos acumulam menos de 0,5% da água doce do planea construção de barragens e represas em usinas hita, mas são vitais: em suas margens as pessoas se drelétricas aumenta a evapotranspiração local – fixaram, cultivaram a terra, ergueram cidades. onde está situado o reservatório da usina – e, conNational Geographic Brasil, São Paulo, Abril, ano 10, n. 121, abr. de 2010. Encarte especial. sequentemente, a oferta de água para a atmosfera. Esses são exemplos de intervenções moderadas e grandes no ciclo hidrológico, que não deixam dúvidas quanto à interligação dos sistemas naturais. O relevo e o clima, por exemplo, interferem de forma decisiva no percurso da água. O relevo define a orientação dos rios e a velocidade das águas correntes. O clima, por sua vez, condiciona o volume de água dos rios e as cheias e vaSilves (AM), 2011. O Brasil está entre os países que possuem zantes, de acordo com o regime de chuvas. Assim, as maiores reservas superficiais de água doce no mundo. Igarapé na região amazônica. alterações em uma das etapas do ciclo hidrológico podem trazer grandes repercussões às demais. 260

Geografia


Além disso, certos usos da água comprometem as reservas desse recurso. É o caso da contaminação química, do despejo de esgotos domésticos e de resíduos industriais nos rios, entre outros.

ATMOSFERA

Ilustração digital: Luis Moura

A camada de ar que envolve a Terra, a atmosfera, apresenta uma dinâmica associada a fatores que produzem diferentes características climáticas. Mas o que é clima? Como ele pode ser definido? Clima é o comportamento comum e habitual das condições atmosféricas em dada área. À variação diária dos elementos do clima (chuvas, temperatura, ventos, umidade do ar etc.), damos o nome de tempo. Assim, quando dizemos que um local é quente e chuvoso, significa que temperaturas mais elevadas e precipitação constante são duas características marcantes do clima dessa região. Ao dizer que hoje as temperaturas serão elevadas nesse local, estamos nos referindo à variação do tempo. Por que existem diferenças climáticas entre as regiões do planeta? Por causa de inúmeros fatores, como a radiação solar, a irradiação terrestre, a posição dos lugares (sua latitude) e a distribuição de superfícies sólidas e líquidas na Terra. A radiação solar atinge a superfície do planeta de forma desigual, em razão do eixo inclinado da Terra. Assim, latitudes mais baixas, ou seja, próximas à linha do Equador, recebem radiação solar mais intensa. A energia solar atravessa a atmosfera e chega à superfície da Terra. Esta absorve uma parte da energia e libera outra parte, aquecendo as camadas mais baixas da atmosfera. Para a irradiação, contam também a tonalidade da superfície, conhecida como índice de albedo (áreas mais claras = maior reflexão e menor absorção; áreas mais escuras = maior absorção e menor reflexão), e a distribuição das superDinâmica do calor atmosférico fícies líquidas e sólidas. Nesse caso, vale dizer que terra e água comportam-se de maneira diferente do ponto de vista térmico. A água se Irradiação aquece e se resfria mais de calor lentamente que a terra Radiação solar firme. Portanto, armazena calor por mais tempo, enquanto a terra devolve o calor recebido de forma mais rápida. Observe o esquema ao lado: Absorção de calor Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

8º ano

261


Vimos que a irradiação terrestre é a responsável pelo aquecimento da parte baixa da atmosfera. Isso tem relação direta com os movimentos das massas de ar. O ar aquecido fica mais leve e menos denso, realizando movimento ascendente (de subida). Ao subir, esfria-se novamente e desce em outras regiões, onde não haja subida de ar. As áreas onde o ar aquecido sobe são os centros de baixa pressão atmosférica. Os pontos onde o ar desce (ar subsidente) são centros de alta pressão. Esses movimentos e fatores estão na base dos deslocamentos das massas de ar, que são grandes volumes de ar com características físicas (pressão, temperatura, umidade etc.) mais ou menos uniformes. Quanto à sua origem, as massas de ar podem ser equatoriais, tropicais ou polares. Em seu movimento, carregadas de energia e umidade, estão entre as principais responsáveis pelas variações do tempo. As massas de ar se deslocam do Equador para os polos e no sentido inverso. As áreas de contato entre as massas chamam-se sistemas frontais ou frentes. Por exemplo, à medida que uma massa de ar frio polar — mais densa e mais pesada — avança para as regiões tropicais e encontra uma massa quente e úmida, forma-se uma frente. O contato provoca o deslocamento do ar quente para cima. Ao subir, a umidade da massa de ar quente condensa-se, gerando precipitação. Veja as cartas a seguir, com o deslocamento de uma frente fria no Brasil numa sequência de dois dias. Essas representações são chamadas de cartas sinóticas. Ilustrações digitais: Conexão Editorial

Carta sinótica — Deslocamento de frente fria no Brasil

A B

A

A

A A B A

N O

L

0

550

1 100 km

S

Fonte: OLIVA, J. & GIANSANTI, R. Espaço e modernidade: temas da geografia mundial. São Paulo: Atual, 1995. p. 274.

O tema das mudanças climáticas e do aquecimento global é presença constante nos principais fóruns de debate internacionais. Entre os fatores que estariam provocando alterações, está o aumento das emissões de gases estufa, como o dióxido de carbono (CO2), gás metano e dióxido de enxofre (SO2), especialmente pelas indústrias e pela queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. Como há muitas incertezas sobre as consequências disso, o que pesquisadores e entidades internacionais recomendam é a drástica redução da emissão desses gases. 262

Geografia


BIOSFERA A biosfera refere-se ao conjunto formado pelos seres vivos de toda a zona terrestre, aérea ou aquática, onde é possível a sua reprodução. A biodiversidade — ou diversidade da vida — da superfície terrestre está associada a distintas combinações entre os elementos da natureza. Dessa forma, os solos, as coberturas vegetais e a fauna apresentam extrema variação em sua distribuição. Eles compõem os sistemas naturais mais intensamente incorporados e alterados pelas sociedades. Vamos saber um pouco mais sobre isso, com destaque para os elementos da superfície terrestre. Os solos constituem uma fina camada da litosfera, tão essencial para a vida quanto o ar e a água. Compostos por fragmentos de minerais e organismos vegetais e minerais, formam a interface entre o mundo orgânico e o inorgânico. A formação dos solos se dá em camadas sobrepostas em longos processos, que às vezes levam milhares de anos. É importante destacar a forte interação existente entre solo, vegetação e fauna. Ao se decompor, plantas e animais devolvem ao solo os nutrientes necessários à reprodução das formas de vida, acumulando-se na camada mais superficial, o húmus. Veja a figura a seguir. Ilustração digital: Luciano Tasso

Perfil de solo

Camada de restos orgânicos

Horizonte de pedras e argila, ferro ou alumínio

Horizonte de acumulação

Material intemperizado

Rocha sã

As coberturas vegetais também estão em estreita relação com os demais elementos que formam as bases naturais do espaço geográfico. O clima é um fator decisivo para a presença, o porte e o número de espécies em uma cobertura vegetal. Em áreas muito frias, como a Antártida, as baixas temperaturas impedem a formação de solos e o desenvolvimento de plantas em boa parte do continente. Entretanto, em áreas quentes e úmidas, como as de diversas áreas tropicais e equa8º ano

263


toriais, temos a formação de densas florestas, como a Amazônia, a Mata Atlântica ou as matas da África central e da Indonésia, na Ásia. De acordo com as características naturais de cada região, surgem coberturas nas quais predominam espécies de três estratos diferentes: o arbóreo (árvores – caso das florestas), arbustivo (arbustos baixos – caso de parte do Cerrado e da Caatinga) e herbáceo (de erva, vegetação rasteira – caso dos campos naturais). A esses conjuntos naturais estão associadas inúmeras espécies de animais que cumprem um importante papel ao disseminar sementes de plantas e devolver nutrientes aos solos. Existem no mundo alguns redutos de grande diversidade de mamíferos, aves, répteis e peixes. São exemplos brasileiros a Mata Atlântica, onde se estima que vivam mais de 130 espécies de mamíferos; o Pantanal, a maior concentração de espécies de aves no mundo (em torno de 650), e os manguezais, considerados berços naturais da vida marinha. Observe nos mapas a seguir a distribuição das coberturas GLOSSÁRIO vegetais no mundo e as áreas de megadiversidade, ou seja, de Endêmicas: diz-se de organismos, espécies ou grande biodiversidade de flora e fauna, com ocorrência de espopulações que ocorrem pécies endêmicas. Vale ressaltar que, justamente por isso, elas apenas em uma área. requerem um grande esforço de preservação. LER MAPAS III

Com um colega, observe e compare os mapas a seguir. Em seguida, responda às questões propostas:

Ilustração digital: Maps World

Distribuição da vegetação no mundo

N O

L

0

2 475

4 950 km

S

Fonte: MARTINELLI, Marcello. Atlas geográfico natureza espaço da sociedade. São Paulo: Ed. do Brasil, 2003. p. 70.

264

Geografia


Ilustração digital: Sonia Vaz

Florestas originais e florestas remanescentes

N O

L

0

2 475

4 950 km

S

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 62.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Nível de biodiversidade

N O

L

0

2 475

4 950 km

S

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 63.

1. Quais são os temas retratados nos mapas? Quais recursos da cartografia foram utilizados na ela-

boração dessas representações? 2. Com base nos mapas, cite um exemplo de área recoberta por: floresta temperada, floresta tropical

ou equatorial, savana, deserto quente e frio, vegetação de altitude e por mangues. 3. Localize as áreas recobertas por florestas tropicais e temperadas. O que ocorreu com essas flores-

tas ao longo do tempo? 4. Cite cinco países que possuem elevado nível de biodiversidade. Dentre eles, quais possuem climas

quentes e úmidos e florestas tropicais? 5. Vimos que é fundamental a preservação da megadiversidade. Em sua opinião, por que isso deve

ser feito? Discuta a resposta de sua dupla com a classe. 8º ano

265


DEVASTAÇÃO × PRESERVAÇÃO Os mapas de vegetação que aparecem em livros e atlas reproduzem as coberturas tal como se apresentavam originalmente. Mas deve-se sempre considerar que são ambientes ou sistemas naturais já alterados pelas ações humanas. E isso não ocorre apenas nos países pobres. Nos Estados Unidos e na Europa ocidental, por exemplo, grande parte das florestas temperadas já foi devastada. No Brasil, restam somente 7% da Mata Atlântica. Muito pouco sobrou das florestas de araucária, no sul do país. A floresta amazônica e o Cerrado do Planalto Central brasileiro estão sob forte ameaça. Mesmo assim, ao lado da Índia, México, Colômbia e Indonésia, o Brasil é um dos países que apresentam grande diversidade de espécies de plantas e animais. O desmatamento da Amazônia é um caso exemplar de devastação. Ele vem obedecendo a um circuito perverso: madeireiros, muitas vezes de forma ilegal e clandestina, retiram árvores nobres da floresta; estradas e caminhos são abertos e rapidamente a área transforma-se em pastagens, posteriormente convertidas em cultivos agrícolas (como da soja para exportação). Participam desse circuito os “grileiros”, pessoas que invadem as terras, geralmente públicas, apropriam-se delas e “fabricam” títulos de propriedade. Mesmo que esse processo fosse interrompido, não seria possível recuperar ou reconstituir os ambientes originais. Portanto, em algumas áreas, a delicada interação e interdependência entre os elementos do ambiente natural estão irremediavelmente comprometidas. Contudo, já se sabe que existem outros usos que mantêm a floresta “em pé” e são viáveis economicamente. É o caso da coleta e do processamento de produtos florestais (frutas, látex), da pesca artesanal e do ecoturismo. Os chamados serviços ambientais – benefícios que coberturas vegetais como as florestas podem oferecer às sociedades, se mantido o seu equilíbrio ecológico – também podem gerar renda para povos indígenas, comunidades ribeirinhas e outros grupos. Por essas e outras razões, surgiram nas últimas décadas inúmeras entidades, organizações e movimentos sociais que lutam pela preservação ou conservação dos recursos naturais e ambientes. Apesar da diversidade de práticas e ações, essa verdadeira constelação de entidades e movimentos partilha algumas ideias comuns. Vejamos algumas delas. • Considerando que a natureza continuará sendo utilizada pelas socie-

dades, deve-se optar por usos sustentáveis, que amenizem impactos e mantenham os recursos para as gerações futuras. • Está em questão o modo de vida consumista e individualista vigente nas sociedades capitalistas modernas, pois a produção e o consumo de bens em grande escala (em especial por quem pode adquiri-los) estão entre os grandes responsáveis pelo virtual esgotamento ou comprometimento dos recursos naturais. 266

Geografia


• É preciso desenvolver fontes de energia alternativas, limpas e baratas,

de modo a conter a emissão de gases estufa, os riscos de aquecimento global e os problemas daí decorrentes. Do mesmo modo, para preservar os ambientes, os países devem compartilhar essas preocupações, mas com papéis e responsabilidades diferentes. Para muitas pessoas, os países ricos e industrializados devem pagar a maior parte dessa conta. • Devem-se criar mecanismos para a gestão da água, evitando desperdícios, o consumo excessivo e o comprometimento das reservas existentes. • As sociedades devem exigir dos Estados a formulação de políticas públicas voltadas à criação ou à ampliação de unidades de conservação (parques, reservas, estações ecológicas) para preservar ambientes e espécies. Assim, garantir terras e reservas para populações tradicionais (como os povos indígenas) que são hoje afetadas pelo avanço das sociedades modernas. • As novas tecnologias, medidas e políticas públicas devem favorecer as populações mais pobres, que são as mais afetadas pelas questões sociais e ambientais, tanto no campo como nas cidades. São urgentes em países como o Brasil as melhorias nos serviços de coleta e processamento do lixo e de saneamento básico. A legislação ambiental no Brasil tem avançado muito, assim como os mecanismos e as políticas de preservação dos recursos ou de contenção de impactos ambientais. Mas isso não significa que a sociedade não deva ficar alerta para sinais de degradação ambiental. Um recurso disponível hoje é o dos sofisticados sistemas de informação via satélite para acompanhar as queimadas e o desmatamento. Cabe lembrar que o país já foi sede de Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 (a Rio-92). Em 2012, foi novamente a sede dessa conferência, intitulada Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também realizada no Rio de Janeiro (RJ). Portanto, o fato de sediar esses eventos faz aumentar ainda mais a responsabilidade em relação às ações de proteção ambiental. Cresce também a percepção de que é preciso investir mais em práticas urbanas sustentáveis, restringindo o uso do automóvel, valorizando o transporte público coletivo e realizando a coleta seletiva de lixo. Entretanto, ainda há muito a fazer, buscando o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental.

MOMENTO DA ESCRITA

Com base no que você estudou neste capítulo, escreva um texto que discuta os atuais limites para o uso e o aproveitamento dos recursos oferecidos pela natureza. Procure ilustrar o texto com dados, fotografias e esquemas explicativos (veja indicações no final deste capítulo). Apresente os resultados para sua turma e participe de uma roda de conversa sobre o tema.

8º ano

267


APLICAR CONHECIMENTOS

1. Escreva com suas palavras o significado dos termos a seguir: a) sistemas naturais

g) ciclo hidrológico

b) litosfera

h) relevo

c) hidrosfera

i) erosão

d) atmosfera

j) uso sustentável

e) biosfera

k) preservação

f) recurso natural 2. Examine as fotos a seguir e escreva um texto dissertativo discutindo os impactos das atividades

Juca Martins / Pulsar Imagens

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

retratadas no solo, nas formas de relevo e na vida das plantas e dos animais.

Máquinas trabalhando em mina de calcário a céu aberto, no município de Caçapava do Sul (RS), 2011.

Garimpo de ouro em Serra Pelada (PA), na década de 1980.

3. Desafio National Geographic (2011). Sobre a distribuição e disponibilidade de água no Brasil, é

correto afirmar que:

a) há grande oferta de água no país, mas ela está distribuída desigualmente pelo território. b) apesar de se localizar em área tropical, o Brasil apresenta baixa oferta do recurso. c) das bacias hidrográficas do país, apenas a Amazônica conta com grande oferta de água. d) devido ao clima úmido, há abundância de água nas diversas bacias hidrográficas brasileiras. 268

Geografia


4. Com base no que você estudou no capítulo, comente o trecho a seguir: Elas cobrem apenas 30% da área do planeta. Ainda assim, abrigam 80% da biodiversidade terrestre mundial. As florestas também são diretamente importantes para a sobrevivência dos humanos. Estima-se que 1,6 bilhão de pessoas dependem delas para garantir o seu sustento. Além disso, muitas das necessidades mais básicas para a sobrevivência do homem na Terra vêm das interações entre as espécies de plantas e animais com os ecossistemas, como a polinização de safras agrícolas, os solos saudáveis, os remédios, o ar puro e a água doce. Apesar de terem tanta importância, a devastação vem destruindo as florestas. [...] FRANCO, Marina. Planeta Sustentável, 2 fev. 2011. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/ noticia/ambiente/10-florestas-mais-ameacadas-mundo-617593.shtml>. Acesso em: 6 set. 2012.

5. Desafio National Geographic (2011) Leia um trecho de entrevista a seguir. National Geographic Brasil: Vale a pena desmatar a Floresta Amazônica em nome do desenvolvimento? Björn Stigson*: Diria que a Amazônia vale mais em pé, como uma floresta em produção. É preciso entender que 30% de todas as emissões de carbono provêm do desmatamento para criação de gado e produção de carne. No Brasil, essa é uma questão importante. Estamos olhando para o mundo no futuro, quando vamos deparar com desafios relativos à oferta de alimentos para a população mundial. Se a dieta em lugares como a China, Índia e outros países em desenvolvimento for modificada para o consumo de muita carne, teremos problemas. *Presidente do World Business Council for Sustainable Development, entidade que reúne duzentas empresas de vinte países, incluindo o Brasil. Fonte: National Geographic Brasil, n. 125, ago. 2010, p. 34.

Sobre o tema da entrevista, considere os seguintes itens: 1. Estimular a coleta e o processamento de bens da floresta, como o látex e a castanha-do-pará. 2. Investir na produção agropecuária, criando campos de cultivo e pastagens na Amazônia Legal. 3. Retirar a mata para produzir alimentos e etanol à base de cana, garantindo a segurança alimentar e combatendo o efeito estufa no planeta. 4. Incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de produtos baseados em óleos e essências nativas da flora amazônica. 5. Criar unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável na região Norte. Reforçam os argumentos do entrevistado o que está exposto nos itens: a) 1, 4 e 5.

b) 2, 3, 4 e 5.

c) 2, 3 e 4.

d) 1, 3 e 5.

8º ano

269


PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

A conservação das florestas tropicais

Caracteriza biomas e ecossistemas e os usos e a ocupação de florestas tropicais, com destaque para Amazônia e Mata Atlântica. ANGELO, Sueli A.; Nucci, João C. A conservação das florestas tropicais. São Paulo: Atual, 1999.

O atlas da água

Apresenta textos, mapas e gráficos sobre distribuição, disponibilidade e usos da água no mundo. CLARKE, Robin; KING, Jannet. O atlas da água. São Paulo: Publifolha, 2005.

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

Almanaque brasil socioambiental

Dados, mapas e figuras sobre biomas, ecossistemas, questões ambientais, situação de povos indígenas e outras populações tradicionais, usos da água e outros temas. Contém glossário e índice remissivo. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008.

Oceanos

Edição especial sobre fauna marinha e situações de degradação dos oceanos pelas ação humana. NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Oceanos. São Paulo: Editora Abril, 2010 (Edição especial).

Água: o mundo tem sede

Edição especial sobre a configuração dos grandes rios e aquíferos do mundo e usos e consumo dos recursos hídricos. _______. Água: o mundo tem sede. São Paulo, Editora Abril, ano 10, n. 121, abril 2010 (Edição especial).

Sites

Centro de previsão de tempo e estudos climáticos do instituto nacional de pesquisas espaciais (cptec)

Portal com previsão do tempo, circulação atmosférica e as dinâmicas de diferentes fenômenos climáticos, como o El Niño e o La Niña. Traz também imagens de satélite, notícias e publicações. Disponível em: <www.cptec.inpe.br>. Acesso em: 6 set. 2012.

Planeta sustentável

Notícias, artigos e entrevistas sobre ambiente e sustentabilidade. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br>. Acesso em: 6 set. 2012.

Filmes

Vídeos educacionais (inpe)

Vídeos e animações sobre formação da Terra, terremotos, relevo, clima e mudanças climáticas, entre outros. Disponível em: <http://videoseducacionais.cptec.inpe.br>. Acesso em: 6 set. 2012.

Planeta terra, planeta água

Documentário sobre o ciclo da água na natureza. Produção: Núcleos Manuelzão; Pampulha Viva (MG). Disponível em: <www.youtube.com/watch?V=C-U6wg8xcC7g>. Acesso em: 6 set. 2012.

270

Geografia


Capítulo

2

GEOGRAFIA

Energia, natureza e sociedade

O

s grupos humanos vêm utilizando ao longo do tempo os recursos da natureza para atender a suas necessidades. Entre eles estão a água, as plantas, os animais, os minerais, entre outros. Assim, cada vez mais, a natureza foi sendo convertida em espaço geográfico, criando-se objetos com usos ou finalidades definidos pelas diferentes sociedades e culturas. Neste capítulo, vamos estudar como os seres humanos se apropriam de tais recursos com um objetivo específico: a obtenção de energia. É uma forma de compreender como se dão as relações sociedade-natureza no mundo contemporâneo. Trata-se também de um tema central para a comunidade internacional, já que se vincula a questões relacionadas ao desenvolvimento econômico, ao bem-estar social e à proteção ambiental.

LER IMAGENS

Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

João Prudente/Pulsar Imagens

Este primeiro exercício servirá como um levantamento das questões relacionadas à energia no Brasil e no mundo. Observe as imagens e responda às perguntas propostas. Em seguida, converse com os colegas sobre os resultados que você encontrou.

Vertedouro da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz de Iguaçu (PR), 2006.

Usina nuclear de Angra dos Reis (RJ), 2008.

8º ano

271


Ricardo Azoury/Olhar Imagem

Ricardo Azoury/Pulsar Imagens

Usina de açúcar e etanol em Piracicaba (SP), 2007.

Maurício Simonetti/Pulsar Imagens

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Painel de energia solar em São João da Tapera (AL), 2007.

Refinaria de petróleo em Paulínia (SP), 2005.

Parque de energia eólica em Osório (RS), 2008.

1. Descreva o que há em cada uma das fotografias e anote os nomes dos lugares retratados. Utilize

as informações das legendas. 2. Quais recursos naturais estão sendo utilizados para obter energia em cada uma das situações

apresentadas? 3. Quais imagens retratam fontes de energia renováveis? Quais mostram fontes não renováveis?

As fotos mostram diferentes fontes de energia utilizadas nos dias de hoje. Repare que em algumas delas o objetivo é aproveitar recursos da natureza para gerar energia elétrica — caso da usina hidrelétrica, que funciona a partir da água, e da usina nuclear, movida à base de urânio, um minério radioativo. Em outros casos, a finalidade principal é obter combustíveis para veículos, a exemplo da gasolina, feita a partir do refino do petróleo, e do etanol (o álcool combustível), extraído da cana-de-açúcar ou do milho, principalmente. 272

Geografia

GLOSSÁRIO

Radioativo: substância ou elemento químico que emite radiações com propriedades diversas. A radioatividade é uma forma de energia nuclear, presente em minerais como urânio, rádio e tório.


O petróleo gera também inúmeros subprodutos, como óleo diesel, plásticos, parafina, lubrificantes e outros. Para compreender a diversidade e a importância das fontes de energia, bem como os riscos que seu uso traz, vamos examinar as matrizes e fontes de energia.

MATRIZ ENERGÉTICA A primeira forma de energia utilizada pelo ser humano foi a do próprio corpo, a energia muscular. Em seguida, ele aprendeu a utilizar a lenha, a tração animal, o vento e as águas correntes. Depois, foram criadas novas técnicas para melhor aproveitar a energia natural, como os moinhos de vento e as rodas-d’água. Mas o grande avanço técnico nesse campo ocorreu na Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do século XIX, quando houve um extraordinário acréscimo de energia para a produção de novos bens industriais. A principal matriz energética desse período na Europa foi o carvão mineral. Mais tarde, na segunda metade do século XIX, surgiria a fonte de energia que mudaria definitivamente a face da humanidade: o petróleo — muito utilizado nos transportes, em máquinas industriais e na geração de uma infinidade de derivados. O marco inicial do uso dessa fonte foi a perfuração de um poço na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1859. No Brasil, apenas alguns anos depois, pesquisas já estavam sendo feitas no estado da Bahia. Um modo útil de entender a montagem dos sistemas de geração de energia é a partir da ideia de matriz energética. Ela se refere à energia disponível em fontes diversas para ser transformada, distribuída e utilizada, tanto no consumo doméstico como nos mais diferentes setores de atividade. As fontes de energia, por sua vez, incluem as chamadas fontes primárias ou naturais e as fontes secundárias ou artificiais. As fontes primárias referem-se aos recursos oferecidos pela natureza na sua forma direta, como os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural), urânio, energia hidráulica (a força das águas), lenha, produtos da cana (como o bagaço), energia eólica, energia solar e, de forma geral, os resíduos vegetais e animais. Essas fontes revelam o potencial de cada país ou região quanto à obtenção de energia, face às características naturais dos territórios. As fontes secundárias de energia são aquelas resultantes dos diferentes processos de transformação criados pelas sociedades, que têm como destino o consumo final ou outros centros de processamento ou transformação. São consideradas fontes secundárias o grande conjunto formado pelos derivados do petróleo (gasolina, óleo diesel, nafta – um composto usado na indústria petroquímica –, querosene para aviação, gás de cozinha, o GLP, e outros), eletricidade, etanol à base de cana-de-açúcar, milho e outras matérias-primas vegetais, biodiesel e outros. Vale lembrar também que, considerando o uso e a disponibilidade, as fontes energéticas podem ser de dois tipos:

8º ano

273


1. Renováveis — aquelas que a natureza

consegue repor rapidamente, segundo as escalas de tempo da vida humana: águas correntes de um rio, biomassa (matéria de origem orgânica usada na geração de energia, como lenha, carvão vegetal, bagaço ou palha de cana etc.). 2. Não renováveis — aquelas que, após se-

rem usadas, levam um tempo de reposição natural muito superior aos limites de tempo humanos, como o petróleo e o carvão mineral. Portanto, correm o risco de se esgotar em função do uso intensivo. Associados ao período carbonífero, uma fase da história geológica da Terra ocorrida há mais de 360 milhões de anos, esses combustíveis fósseis levaram em torno de 70 milhões de anos para se formar. Vamos examinar a seguir como é atualmente a oferta e o consumo de energia no mundo e no Brasil, de acordo com a fonte.

CONHECER MAIS

As origens do petróleo Do latim petroleum, a palavra petróleo significa “óleo de pedra”. É um combustível líquido, escuro ou amarelo-esverdeado, formado por mistura de hidrocarbonetos (com os elementos carbono e hidrogênio), ausência de oxigênio e traços de enxofre. O petróleo é, de modo geral, encontrado no subsolo, de onde é extraído a partir de sondagens. As rochas porosas são as que podem conter petróleo embebido, como areias, arenitos, calcários etc. [...] Segundo os indícios mais frequentes, a presença mais constante de fósseis animais e vegetais nas jazidas petrolíferas constitui um argumento a favor de suas origens orgânicas — restos de animais e vegetais depositados no fundo de lagos e oceanos e que sofreram transformações químicas ao longo de milhares de anos. [...] Desde a mais remota antiguidade foi utilizado como combustível. Conhecido como “ouro negro”, hoje é uma matéria-prima de grande valor. Sua importância é grande pelos produtos que dele se obtêm: gasolina, querosene, solventes, óleos lubrificantes, parafina, plásticos etc. Fonte: GUERRA, Antonio T.; GUERRA, Antonio José T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 482.

LER GRÁFICO E TABELAS

Oferta mundial de energia por fonte Fonte Não renovável Petróleo e derivados Carvão Nuclear Renovável Biomassa Hidráulica Outras (*) Total (em MTep**)

1973 87,5% 46,0% 16,0% 0,9% 12,5% 10,6% 1,8% 0,1% 6 111,0

(*) Inclui energias geotérmica, solar, eólica e térmica. (**) Milhões de toneladas equivalentes de petróleo. Fonte: Agência Internacional de Energia, 2008. World Energy Outlook, 2008.

274

Geografia

2009 87,1% 32,8% 20,9% 5,8% 12,9% 10,2% 2,3% 0,8% 12 150,0

Consumo mundial de energia segundo a fonte em toneladas equivalentes de petróleo

Total 11 177 335 outros* 526 carvão 1 290 biomassa 1 758 gás natural

Total 4 200

2 263 eletricidade

5 005 petróleo 1971

2002

2010**

2030**

(*) Inclui energia solar, eólica e geotérmica (**) Estimativas da Agência Internacional de Energia Fonte: Agência Internacional de Energia, 2008. World Energy Outlook, 2008.

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Com base nos dados do gráfico e das tabelas a seguir, responda ao que se pede. Após terminar a atividade, explique suas respostas para um colega, destacando o modo como chegou às principais conclusões. Peça a ele que também explique as respostas para você. Dessa forma, ambos poderão verificar o modo como foi feita a leitura do gráfico e das tabelas.


Os dez maiores produtores de petróleo no mundo – 2011 (*) País

Mil barris por dia

1

Arábia Saudita

11 153

2o

Rússia

10 229

3o

Estados Unidos

10 128

4

China

4 289

5o

Irã

4 234

6o

Canadá

3 600

7

Emirados Árabes Unidos

3 088

8o

México

2 959

9o

Brasil

2 687

Kuwait

2 682

o

o

o

10o

Fonte: US Energy Information Administration. Disponível em: <www.eia.gov/countries/index.cfm>. Acesso em: 3 dez. 2012.

Até 2030, o petróleo será responsável por 40% de toda a energia consumida no planeta, segundo estimativas da Agência Internacional de Energia. Em relação às energias renováveis, estima-se grande crescimento do consumo de produtos da biomassa até 2030 (como a cana-de-açúcar, matéria-prima do álcool combustível).

(*) A produção está associada aos investimentos feitos para possibilitar a extração e o processamento do petróleo. Assim, um país pode ter grandes reservas e não figurar entre os maiores produtores. Além disso, utiliza-se o cálculo de reservas provadas, que são aquelas cujos reservatórios já estão em produção ou os fluidos neles contidos já foram testados quanto à sua qualidade e capacidade de produzir.

1. O que se pode afirmar sobre a oferta de energia no mundo atual? 2. Como foi a evolução do consumo de energia no período apresentado? Quais são as estimativas

para as próximas décadas? 3. Como é hoje a participação das fontes consideradas limpas e renováveis na oferta e no consumo

mundial de energia? 4. Segundo as previsões, qual deverá ser a fonte mais utilizada nas próximas décadas? Na sua opi-

nião, quais consequências isso pode ter para a vida humana? 5. Quais são as principais regiões produtoras de petróleo no mundo? Qual é a posição do Brasil

nesse quadro? O gráfico mostra que vem aumentando o consumo mundial de energia, qualquer que seja a fonte considerada. Então, houve – e continuará havendo nas próximas décadas – aumento da oferta e da demanda por energia no mundo. De fato, os recursos energéticos passaram a ser cada vez mais exigidos em todo o planeta. Isso se deve, entre outros aspectos, à expansão das atividades econômicas, ao aumento da mobilidade de pessoas e mercadorias e à construção de obras de infraestrutura. Os dados sobre oferta e consumo de energia segundo a fonte mostram de maneira clara a predominância dos combustíveis fósseis – principalmente, o petróleo – entre as diversas fontes de energia. O petróleo possui alto teor de energia e pode ser retirado, estocado e processado de modo flexível. Responde por cerca de 40% da oferta de energia no mundo e continuará sendo a fonte de energia mais usada nas próximas décadas. Isso traz inúmeras consequências para as sociedades e os países como um todo. É importante analisar aspectos centrais dessa composição da matriz energética mundial.

8º ano

275


COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS O petróleo é uma fonte de energia não renovável. Apesar de ainda existirem grandes reservas e de novas estarem sendo descobertas, se forem mantidos os atuais níveis de consumo, ele deverá durar apenas mais algumas décadas. O consumo de petróleo e derivados é responsável por três quartos da emissão de gases na atmosfera que podem intensificar o efeito estufa. GLOSSÁRIO Efeito estufa: fenômeno em que ocorre a Apesar de o tema gerar controvérsias, diversos pesquisadoentrada de energia num sistema – radiação solar, por exemplo –, provocando a res afirmam que esse efeito poderá alterar as temperaturas elevação da temperatura interna. A conmédias na Terra, trazendo consequências imprevisíveis. centração de CO2 e outros gases estufa cria uma camada em torno do planeta, Num quadro de incertezas, o que se recomenda é a redução dificultando assim a saída do calor da do consumo de combustíveis fósseis e a busca por fontes alsuperfície para a atmosfera. ternativas de energia. Do mesmo modo, devem-se buscar novas alternativas para os transportes. Em muitos países, como Brasil e Estados Unidos, a frota de veículos individuais cresce a cada dia, o que contribui para o aumento do consumo de combustíveis fósseis e da poluição atmosférica. Isso também cria transtornos nas dinâmicas da atmosfera no nível local, como no caso das cidades. Com o risco do esgotamento, vêm ocorrendo no mundo disputas pelas principais jazidas de petróleo. As maiores reservas e os maiores produtores estão no Oriente Médio, além da Rússia e dos Estados Unidos. Como veremos adiante, o Brasil caminha a passos largos para figurar entre os países com grandes reservas e que se tornaram grandes produtores de petróleo. A região do Oriente Médio tem sido palco de inúmeros conflitos – quase sempre com a participação dos Estados Unidos. Esse país, apesar de grande produtor, é um dos maiores consumidores mundiais e não possui reservas suficientes para atender às suas necessidades (marcadas pelo alto consumo). Assim, em 2003, os estadunidenses invadiram o Iraque, um dos grandes produtores mundiais de petróleo. CONHECER MAIS

O nó do carvão mineral A epopeia do carvão culminou na jornada da sociedade industrial. E, desde o século XVIII, a ação humana vem liberando no ambiente o carbono acumulado nos combustíveis fósseis. [...] Boa parte disso se deve às usinas termelétricas, que produzem eletricidade com base no carvão mineral. Apesar de pouco utilizada no Brasil (representa apenas 1,5% de nossa matriz energética), o carvão é a principal fonte geradora de energia elétrica no planeta. Em torno de 41% da eletricidade consumida no mundo é originada de termelétricas movidas a carvão.

A culpa, em parte, é da disponibilidade e do baixo custo de sua exploração. O carvão mineral é o mais abundante dos combustíveis fósseis – bem mais do que o petróleo e o gás natural. [...] As reservas [apresentam] quantidade suficiente para atender à produção atual por 130 anos. Além disso, as reservas estão espalhadas em vários pontos do planeta. Os maiores consumidores são China, Estados Unidos, Índia, Japão, África do Sul e Rússia. Todos – exceto o Japão – estão entre os maiores produtores.

MEDAGLIA, Thiago. National Geographic Brasil. O nó do carvão. São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 84 (Edição especial Energia).

276

Geografia


BIOMASSA Quando falamos em biomassa, estamos nos referindo a qualquer matéria de origem orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica. De acordo com sua origem, a biomassa pode ser florestal (madeira e outros resíduos), agrícola (soja, cana-de-açúcar, milho, arroz e outras) e rejeitos urbanos ou industriais (entre eles, resíduos líquidos ou sólidos, como lixo, esgotos, palha da cana, casca de arroz etc.). Entre as formas convencionais de uso dessa fonte estão o da madeira de origem florestal e outros resíduos vegetais, cuja queima é usada para obtenção de energia. De acordo com dados do Atlas de energia elétrica da Aneel, elas se caracterizam pela baixa eficiência, ou seja, são necessárias grandes quantidades de matéria-prima para a geração de pequenas quantidades de energia. Além disso, potencialmente podem representar a exploração predatória de coberturas florestais, como ocorre na produção de carvão vegetal no Brasil. As exceções são o aproveitamento de resíduos combinados a processos industriais ou agroindustriais. Isso já ocorre, por exemplo, em usinas de açúcar e álcool no Brasil, que obtém energia elétrica a partir da queima de palha, bagaço e outros resíduos. A casca do coco do babaçu serve também como um carvão vegetal sustentável. Entretanto, um setor que vem apresentando crescimento contínuo – embora ainda com pequena participação no total mundial – é o de aproveitamento da biomassa originária da produção agrícola para gerar biocombustíveis, ou agrocombustíveis como preferem alguns. Por diferentes técnicas e processos, pode-se obter biodiesel ou álcool combustível (etanol) a partir de variados bens agrícolas, como cana-de-açúcar, milho, beterraba, dendê, soja e outros. Entre os destaques estão o etanol de cana-de-açúcar, largamente utilizado no Brasil como combustível para veículos, inclusive misturado à gasolina, e o álcool de milho produzido nos Estados Unidos. Dados recentes mostram que o etanol brasileiro apresenta maior produtividade que o estadunidense. Entre os maiores produtores mundiais de biodiesel estão: Alemanha, França, Itália, Malásia e Estados Unidos. Uma crítica comum é que uma alternativa como o etanol, renovável e mais limpa que os combustíveis fósseis (mas que utiliza água e largas extensões de solos férteis), acaba sendo utilizada por veículos individuais. Beneficia, portanto, aqueles que dispõem de recursos para possuir e usar um automóvel e contribui para intensificar congestionamentos nas grandes cidades. Em relação ao biodiesel, há críticas também aos processos que resultam na devastação de florestas em ilhas da Indonésia para a produção do dendê, que gera biodiesel importado e utilizado por países da Europa. Portanto, trata-se de um sistema perverso, apesar da fonte ser renovável, pois ela é limpa no destino e de exploração predatória na origem. Um caminho distinto vem sendo testado e implantado em diversas iniciativas, como o uso de biodiesel de variadas origens e diferentes escalas de produção em

8º ano

277


transportes coletivos (ônibus, trens) e o uso de misturas entre derivados do petróleo e produtos de origem vegetal em combustíveis, como os da aviação. Por fim, vale lembrar que diferentes processamentos de matérias de origem orgânica (incluindo tratamento de lixo e esgotos) dão origem ao biogás, que pode ser usado tanto para gerar energia elétrica como abastecer geradores, máquinas industriais e veículos – incluindo os que operam no transporte urbano, a exemplo do que já ocorre em diferentes países, como no Brasil.

Produção mundial de etanol

140

Outros União Europeia Brasil Estados Unidos

120 Bilhões de litros

Analise os dados contidos no gráfico ao lado. Com base neles, escreva um texto que explique o papel e a posição de países e regiões na produção mundial do etanol. Indique qual é a situação do Brasil no setor, apontando benefícios e eventuais prejuízos para o país que podem surgir a partir da geração da fonte energética em questão.

100 80 60 40 20

* Previsão

0

2000

2001

2002

2003

2004

2005 2006

2007 2008* 2009* 2010* 2011* 2012*

Fonte: União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única). In: Aneel. Agência Nacional de Energia Elétrica. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008, p. 68.

OUTRAS FONTES Os dados apresentados mostram que também está havendo crescimento no consumo de energia baseada em fontes renováveis, como a hidrelétrica e as chamadas fontes alternativas (eólica e solar, principalmente). Fontes como a solar e a eólica têm baixo impacto, mas sofrem restrições devido ao seu custo de implantação, que ainda é relativamente elevado. Isso não tem impedido alguns países de investirem largamente nelas, dadas as possibilidades de ganhos ambientais. É o caso da China, que vem investindo alto tanto na criação de parques de geração eólica como na instalação de painéis solares nas cidades e no campo. Voltaremos ao tema mais adiante, ao examinar a situação dessas fontes no Brasil. A energia nuclear, por sua vez, não traz grande impacto na instalação, mas existe o risco de vazamentos ou acidentes com os rejeitos radioativos. Ainda estão vivos na memória da humanidade os efeitos do vazamento no Japão, em 2011, após forte terremoto e o tsunami que atingiu a costa nordeste desse país. Países da Europa estão cancelando novos projetos de geração nuclear e outros estão substituindo essa fonte por outras renováveis, limpas e seguras, como é o caso da Alemanha. 278

Geografia

Ilustração digital: Planeta Terra Design

MOMENTO DA ESCRITA


CONHECER MAIS

Como o gás do resíduo sanitário vira combustível para automóveis A experiência está sendo testada em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em Franca (SP), operada pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O conceito do projeto, inédito no Brasil e criado em parceria com o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, é aproveitar a grande quantidade de biogás gerada – e desperdiçada – durante o tratamento do esgoto. Após ser filtrado e purificado diversas vezes [...] para não exalar mau cheiro ou danificar o motor dos veículos, o gás se transforma em biometano ou gás natural veicular

(GNV). Quando tudo estiver funcionando, acredita-se que a estação possa gerar 2 mil metros cúbicos de biometano ao dia. Cada metro cúbico equivale a um litro de gasolina. O projeto ainda está no início, mas o objetivo é fazer com que o combustível produzido alimente a frota de 50 veículos da Sabesp de Franca. Se tudo der certo, mais à frente, outros automóveis da cidade paulista também poderão circular por ruas e estradas movidos a esgoto. National Geographic Brasil. Energia no esgoto. São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 48 (Edição especial Energia).

PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL Nas últimas décadas, houve um importante conjunto de transformações na matriz energética nacional. Para começar a analisar o que ocorreu, examine os gráficos a seguir: Ilustrações digitais: Planeta Terra Design

3,3%

Oferta total de energia (2011)

Cana-de-açúcar 18,2%

Outras renováveis Petróleo 36,9%

10,2%

Gás natural Carvão mineral Nuclear Hidráulica

13,9% 1,3%

Fontes de energia elétrica (2012)

5,7%

10,6%

1,2% 1,6% 1,5% 7,3%

Importação Gás

6,5%

Fontes: Empresa de Pesquisa Energética; Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). In: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 28 (Edição especial Energia).

Hidráulica Petróleo

10,6%

5,7%

Carvão vegetal

Carvão mineral 65,6%

Nuclear Biomassa Eólica

Os gráficos destacam, de um lado, que ainda há uma presença importante de combustíveis fósseis na matriz energética nacional. Como veremos adiante, isso poderá ser reforçado com as novas descobertas do pré-sal, que podem elevar a produção nacional em até 70% do que é obtido atualmente. De outro lado, é preciso salientar que pelo menos 45% da oferta nacional vêm de fontes renováveis, como a hidráulica e a de biomassa (em verde, no primeiro gráfico). 8º ano

279


Observando os resultados da geração de eletricidade, no segundo gráfico, é possível perceber o predomínio da energia hidráulica, em função da grande disponibilidade de água em diversas bacias hidrográficas brasileiras. Não é por outra razão que o Brasil é considerado uma espécie de “Arábia Saudita da energia hidrelétrica”. A energia hidrelétrica é renovável, e se dá a partir da vazão dos rios; entretanto, ela não está livre de impactos. Novos projetos de grandes usinas na Amazônia, como a de Belo Monte (no rio Xingu), vem despertando muitas controvérsias. Parte da eletricidade gerada e consumida no país vem também do gás natural (nacional ou importado de vizinhos como a Bolívia) e de fontes alternativas e renováveis, como a biomassa, energia solar e eólica – embora as duas últimas ainda representem um percentual pequeno do total das fontes. No caso do gás natural, menos poluente que os demais de origem fóssil, houve aumento na oferta tanto no Brasil como no mundo nos últimos anos. Com as tecnologias apropriadas, ele é obtido juntamente com a exploração de reservatórios de petróleo. Como já vimos anteriormente, expandem-se fontes alternativas e renováveis como a de biodiesel a partir de espécies vegetais nativas ou produzidas no Brasil: mamona, palma-de-dendê, girassol, babaçu e outras − ainda sem produção em escala suficiente para substituir as fontes convencionais.

O PRÉ-SAL Nos últimos anos, a produção nacional de combustíveis fósseis cresceu com a exploração na bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro. Novas áreas foram descobertas no litoral de São Paulo, como as do campo de Tupi. Há também descobertas recentes importantes de gás natural na bacia de Santos. Apesar de o país já ser autossuficiente em petróleo, permanece o risco trazido pela emissão de gases estufa, como já vimos antes. Diversos pesquisadores têm apontado também possibilidades de “carbonificar” a matriz energética brasileira – que se tornou conhecida no mundo por ser diversificada e contar com a presença de fontes limpas, seguras e renováveis.

LER TEXTO, MAPA E ESQUEMAS

Observe o texto, o mapa e os esquemas gráficos a seguir. Depois, responda com mais um colega às questões propostas. Um mergulho no distante pré-sal O subsolo do litoral do sudeste brasileiro abriga uma [...] gigantesca reserva de um tipo de petróleo mais leve, menos poluente e altamente valioso – o do pré-sal. Foram anos de pesquisa e investimentos em novas tecnologias até a Petrobras confirmar, em 2005, a existência de petróleo e gás natural abaixo de camadas de rochas salinas, em uma área com 800 km de extensão e 200 km de largura entre Santa Catarina e Espírito Santo (veja o mapa com os principais blocos de exploração). [...] 280

Geografia


Há previsão de reservatórios de 100 bilhões de barris ou mais (cada barril equivale a 159,8 litros). A descoberta dessa riqueza, gerada há milhões de anos, quando o oceano Atlântico ainda estava em formação, coloca o Brasil em uma posição privilegiada no cenário internacional.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Brasil: blocos de exploração do pré-sal

N O

N L

O S

0

100

Fonte: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012. (Edição especial Energia).

200 km

L

S

Produção de petróleo no Brasil (em milhões de barris por dia) 2000

1,27

2005

1,71

2011

2,3

2015

3,3

(*) Petróleo e gás natural

Fonte: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012. (Edição especial Energia – Adaptado)..

8º ano

281


Ilustração digital: Luis Moura

Navio-plataforma

GLOSSÁRIO

Nesta unidade de produção e armazenamento de petróleo, o óleo é separado do gás e da água. Daqui o petróleo é levado por navios aliviadores ou por dutos submarinos. Pesa 50 mil toneladas, tem a altura de um prédio de 30 andares e a largura de três campos de futebol.

0m

Cabos de ancoragem

Lâmina d’água (0-2 200 metros) Risers

2 200 m

Um dos grandes desafios para a exploração de petróleo no pré-sal é vencer a lâmina d’água (entre a superfície e o solo marinho) com mais de 2 mil metros de profundidade. Outra dificuldade é manter centenas de trabalhadores a cerca de 300 quilômetros da costa, em alto-mar.

“Árvore de Natal”

Risers: Tubos flexíveis que transportam óleo, água e gases da árvore de natal até os navios-plataforma. Cabo de ancoragem: cabos de aço que fixam o navioplataforma no subsolo do oceano. Eles evitam que o navio oscile com o balanço do mar durante a extração do óleo. Rochas carbonáticas: rochas sedimentares compostas de elementos chamados de carbonatos. Entre elas, estão o calcário e a dolomita.

Fundamental para a extração de petróleo, trata-se de um conjunto de válvulas que centraliza as tubulações conectadas ao poço e à unidade de produção na superfície. No fundo do mar, controla a pressão e a vazão da mistura de óleo, água e gases vinda do subsolo marinho.

3 000 m

Camada pós-sal (2 200 – 3 000 metros)

Até a descoberta das reservas do pré-sal, o petróleo produzido no Brasil era extraído da camada pós-sal. Na bacia de Campo, a área mais explorada da costa brasileira, o petróleo se encontra principalmente nessa camada – formada de rochas sedimentares, como calcário e arenito.

Camada de sal (3 000 – 5 000 metros)

5 000 m

Com até 2 mil metros de espessura, essa camada é formada de rochas evaporítica, taquidrita, halita e carnalita. Ao ser perfurada, na busca de petróleo abaixo dela, há o risco de o poço se fechar em função da natureza instável do sal. Corrosiva, a rocha salina pode danificar o aço usado na operação.

Camada pré-sal (5 000 – 7 000 metros)

7 000 m

Broca de perfuração

Fontes: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 32 (Edição especial Energia).

Constituída de rochas carbonáticas, concentra petróleo de alta qualidade, mais leve e mais fácil de ser refinado do que o encontrado na camada póssal. Além da costa brasileira, sabe-se da ocorrência de petróleo sob o sal no litoral oeste da África, no Japão, no mar Cáspio e no golfo do México.

Cabo de perfuração

A escavação do poço (orifício de 20 a 50 centímetros de diâmetro) é feita com o auxílio do cabo de perfuração, com a broca na frente. Além do cabo, estão em estudos linhas de injeção para capturar e fixar abaixo da terra o dióxido de carbono (CO2) emitido no processo de extração – que, de outro modo, ficaria na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa.

1. Com base nas informações, explique com suas palavras o que é a exploração da camada do pré-sal. 2. Qual é a localização dos reservatórios da camada do pré-sal no litoral brasileiro? Quais estados

serão diretamente beneficiados pela exploração? Se necessário, peça ajuda ao professor para responder. 3. Qual é a profundidade da camada de onde será retirado o óleo? No processo de retirada, qual é

o papel dos navios-plataforma, cabos de ancoragem e do sistema chamado de “árvore de natal”? 4. Do ponto de vista do potencial das reservas do pré-sal, compensa extrair petróleo e gás natural de

grandes profundidades no oceano? Quais são as previsões a respeito disso? 5. Converse com um colega e escrevam juntos um texto que discuta as vantagens e os riscos ou

prejuízos que podem resultar da exploração na camada do pré-sal, incluindo eventuais impactos ambientais. 282

Geografia


ENERGIA EÓLICA A energia eólica refere-se ao aproveitamento da força dos ventos para geração de energia elétrica. Diversos países já aproveitam essa fonte primária limpa, renovável e abundante, como Estados Unidos, Índia, Alemanha, Espanha e Dinamarca. Dados do final da primeira década do século XXI indicam que a geração eólica supria cerca de 20 milhões de casas nos Estados Unidos e atendia mais de 30 milhões de pessoas na Alemanha. O Brasil e a China são dois países que também apresentam bom potencial eólico. O rendimento da energia eólica depende bastante da velocidade e do regime dos ventos, a uma altitude média de 50 metros acima da superfície. Os ventos acima de 7 m/s são os de melhor potencial. Hoje, China e Estados Unidos são os dois países que mais investem no setor.

LER MAPA

Observe o mapa a seguir sobre o potencial eólico do Brasil em condições distintas, como zonas costeiras, campos abertos, morros e montanhas. O mapa foi elaborado com base em pesquisas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e universidades. Ilustração digital: Sonia Vaz

Brasil – Geração eólica (2011)

N O

Fonte: ANEEL. In: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 67 (Edição especial Energia).

L

0

470

940 km

S

Com base no mapa, indique as áreas de maior potencial e de aproveitamento da força dos ventos para gerar eletricidade. Discuta os resultados com seus colegas, analisando a participação da energia eólica em seu município ou sua região.

8º ano

283


O mapa destaca algumas faixas do território brasileiro que apresentam grande potencial de aproveitamento da energia eólica. Entre elas, estão o trecho costeiro Ceará-Rio Grande do Norte-Paraíba, chapadas ou serras no interior da Bahia e de Pernambuco e os litorais capixaba, fluminense e gaúcho. O parque eólico de Osório (RS), inaugurado em 2006, está entre os maiores da América Latina. No país, 72 novas usinas foram encomendadas pela Aneel em 2011. A geração eólica já abastece integralmente o porto de Mucuripe, em Fortaleza (CE). Apesar de não emitir poluentes, os campos de geração eólica trazem alterações na paisagem, podem apresentar riscos às aves migratórias, emitir certo nível de ruído e interferir em transmissões de televisão. Outra questão é a da relação custo-benefício desses projetos, que pode apresentar desvantagens em regiões de vento inconstante ou intensidade variável. Mesmo assim, suas vantagens como fonte limpa e renovável são incontestáveis.

Quase todas as fontes de energia — biomassa, eólica, das marés, hidráulica etc. — são formas indiretas de energia solar, pois dependem da recepção dos raios solares. A necessidade de iluminação e aquecimento de residências e locais de trabalho pode ser atendida em parte pela penetração e absorção de luz e calor naturais. Segundo estudo da Insolação diária em diferentes partes do território brasileiro Aneel, a disponibilidade de radiação solar depende de certas condições da atmosfera (nebulosidade, umidade relativa do ar etc.), da latitude, da hora do dia e da estação do ano. Assim, a incidência de raios solares varia de acordo com as regiões da Terra e os períodos do ano. Entretanto, ela varia menos nas faixas próximas à linha do Equador. O próximo mapa 0 320 640 km destaca a insolação diária nas diferentes parFonte: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, jun. 2012, p. 67 (Edição especial Energia), com base em: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Atlas Brasileiro de Energia Solar. tes do território brasiN

O

L

S

284

Geografia

Ilustração digital: Sonia Vaz

ENERGIA SOLAR


leiro, o que indica potencial de aproveitamento de determinadas localidades. As áreas coloridas com tons que vão do vermelho ao amarelo-claro são as de maior potencial. Os painéis e coletores solares podem ser instalados nos telhados de edificações (residências, órgãos públicos, hotéis, restaurantes etc.) para ajudar a aquecer a caixa-d’água. Para suprir uma residência de três quartos ou quatro moradores, é necessário instalar uma placa coletora de cerca de 4 m2. Trata-se, portanto, de um aproveitamento térmico. Existem projetos desse tipo em funcionamento em Belo Horizonte e Governador Valadares (MG) e na Ilha do Mel (PR). Para gerar energia elétrica em maior escala, é preciso instalar vários conversores de radiação solar em energia elétrica feitos à base de silício, um mineral abundante na natureza. Para esse aproveitamento comercial, o principal obstáculo tem sido o custo elevado dos equipamentos. Mas já há instalações no Norte-Nordeste que servem comunidades rurais com luz elétrica e energia para irrigação, bombeamento de água, iluminação pública, entre outros usos. Algumas usinas solares importantes estão instaladas em Macaé (RJ) e Tauá (CE). Trata-se de uma boa solução técnica para obtenção de energia em áreas rurais ou em regiões onde ocorrem quedas constantes na rede de energia elétrica. Uma pergunta que se faz habitualmente é: “E quando não tem sol?”. Com efeito, isso impede o pleno aproveitamento dessa fonte. Mas já existem soluções técnicas disponíveis, como o uso de catalisadores que funcionam com água, e que fazem com que a energia capturada durante o dia possa ser assim armazenada, garantindo a iluminação noturna. Vimos ao longo do capítulo a importância de se buscar alternativas para suprir as necessidades de energia da população. Apesar da riqueza do território nacional e da ampliação das redes de energia elétrica, dados de 2011 revelam que o país ainda possui 728 mil domicílios sem conexão com a rede elétrica, grande parte deles no Norte-Nordeste. Deve-se diversificar ao máximo os componentes da matriz energética. Entre as fontes de energia disponíveis, existem as de maior rendimento, mas que trazem prejuízos ambientais e sociais, como é o caso dos combustíveis fósseis. Tais investimentos devem estar associados também a mudanças estruturais em outros setores, como a expansão dos transportes coletivos e o uso de meios alternativos de deslocamento, como as bicicletas – como já ocorre em grandes cidades do mundo, como Nova York, Pequim, Amsterdã e Berlim. O Brasil vem se destacando na construção de opções energéticas limpas, renováveis ou de menor impacto e de custos aceitáveis, casos da energia hidrelétrica e do etanol. E esse parece ser o desejo de grande parte da sociedade brasileira. Nesse contexto, é um direito da população ser consultada e decidir sobre quais são as melhores opções de energia e transportes a serem adotadas, de modo a beneficiar o conjunto da sociedade e das regiões do país.

8º ano

285


APLICAR CONHECIMENTOS

1. Com suas palavras, explique o que significam os termos a seguir. a) matriz energética:

b) fonte de energia primária:

c) fonte de energia secundária:

d) fonte de energia renovável:

e) fonte de energia não renovável:

2. Com base nos dados expostos no capítulo, caracterize a situação atual da matriz energética mun-

dial e da matriz energética brasileira.

286

Geografia


3. A partir do que você estudou no capítulo, escreva um texto que discuta os dados apresentados no

texto a seguir: China tem papel dúbio na crise ambiental que atinge o mundo Com a maior população do mundo e uma economia que cresce 10% ao ano há três décadas, a China desempenha simultaneamente os papéis de mocinho e bandido na crise ambiental: é o maior poluidor e consumidor de energia do mundo, mas também é o que mais investiu nos últimos três anos no desenvolvimento de fontes renováveis de energia. [...] Plantas eólicas e solares e pequenas hidrelétricas já são responsáveis pela geração de 133,5 GW, valor que supera toda a capacidade instalada do Brasil, que está em 117,14 GW. A cifra coloca a China na liderança global do ranking de energias renováveis, à frente dos EUA e da Alemanha. Em 2009, os chineses estavam atrás dos americanos. Mesmo assim, o consumo de carvão cresceu em 2011 e sua queima representou 72,4% de toda a energia consumida na China. Mais poluente dos combustíveis fósseis, o carvão degrada a qualidade do ar e sua produção exige grande quantidade de água. A dependência do carvão e as dimensões e a velocidade de crescimento da segunda maior economia do mundo fazem com que a transformação da matriz energética do país seja uma corrida em esteira ergométrica. TREVISAN, Claudia. O Estado de S.Paulo, 10 jun. 2012. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/ impresso,pais-tem-papel-dubio-na-crise-ambiental-que-atinge-o-mundo-,884401,0.htm> . Acesso em: 26 jun. 2012.

4. Desafio National Geographic Brasil (2011) Sobre a efetiva exploração de petróleo e gás natural no

subsolo oceânico no Brasil, considere as afirmações a seguir:

I – Apesar da riqueza, da qualidade e do volume das reservas nas diferentes camadas do subsolo oceânico, o país não possui tradição e tecnologias adequadas para explorá-las. II – Apenas os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, os mais desenvolvidos do país, serão beneficiados com a exploração das reservas de petróleo e gás natural do pré-sal. III – A posição dos blocos de exploração do pré-sal revela a riqueza e a disponibilidade de reservas de petróleo e gás natural existentes na faixa litorânea brasileira, em especial no Sudeste. Está correto o que foi afirmado em: a) I, II e III. b) III, apenas.

c) I e III.

d) I, apenas.

5. Comente o texto a seguir. Se necessário, consulte os assuntos e dados vistos no capítulo. Até 250 anos atrás, nossos antepassados dependiam inteiramente das fontes naturais de energia. Os animais puxavam arados, moinhos de vento trituravam os grãos e a principal força motora da sociedade era o músculo humano. Agora, os músculos contribuem com menos de 1% do trabalho realizado nos países desenvolvidos, e os bens e serviços de que dispomos dependem do uso cada vez maior de combustíveis fósseis – carvão, gás e petróleo. A prosperidade do mundo industrializado foi sustentada por eles, e durante décadas agimos como se esses recursos fossem inesgotáveis. Atualmente, estamos mais cautelosos. As guerras e as crises políticas revelaram a fragilidade de nossas fontes de combustíveis, e tomamos consciência do impacto ambiental causado por nossa dependência de energia. A era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim, e historiadores do futuro poderão considerá-la uma anomalia – uma época de consumo insustentável. Nas próximas décadas, vamos precisar romper nossa dependência dos combustíveis fósseis. A transição pode não ser fácil e terá consequências profundas em nossas vidas. WALISIEWICZ, Marek. Energia alternativa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 4.

8º ano

287


6. Desafio National Geographic Brasil (2011) Sobre as áreas de produção de energia eólica para ge-

rar eletricidade no Brasil, é correto afirmar que: a) Diversas áreas da faixa oriental do país apresentam condições naturais para a geração eólica. c) As áreas de potencial eólico do país restringem-se ao litoral gaúcho e à região Nordeste. b) Estão ausentes do território nacional as condições naturais necessárias para a geração eólica. d) O território nacional como um todo apresenta condições naturais favoráveis à geração eólica. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

Almanaque brasil socioambiental

Dados, mapas e figuras sobre biomas, ecossistemas, questões ambientais, situação de povos indígenas e outras populações tradicionais, usos da água e outros temas. Contém glossário e índice remissivo. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008.

Dossiê Terra: por uma vida sustentável no século xxi

Publicação com textos, mapas e gráficos sobre urbanização, consumo, energia, transportes, economia, inovações tecnológicas e serviços ambientais oferecidos pelos biomas e ecossistemas, entre outros. NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Dossiê Terra: por uma vida sustentável no século XXI. São Paulo: Abril, 2007.

Energia

Edição especial sobre fontes e matrizes energéticas no mundo e no Brasil. Analisa potencialidades e desvantagens das fontes em operação na atualidade. NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Energia. São Paulo: Abril, jun. 2012 (Edição especial).

Energia alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de biocombustíveis

Destaca origens, técnicas e tecnologias e usos das diferentes fontes de energia, com destaque para as consideradas limpas e renováveis. WALISIEWICZ, Marek. Energia alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de biocombustíveis. São Paulo: Publifolha, 2008.

Sites

Agência nacional de energia elétrica (Aneel)

Dados, notícias e publicações sobre energia elétrica no país. O atlas contém apresentações sobre cada uma das fontes em operação no Brasil, seu uso e consumo por setores e sua participação na matriz energética nacional. Disponível em: <www.aneel.gov.br>. Para consultar o Atlas de Energia Elétrica da Aneel, visite: <www.aneel.gov.br/visualizar_texto.cfm?idtxt=1689>. Acesso em: 10 set. 2012.

Ministério das minas e energia

Portal com notícias, dados, programas, publicações e ações do ministério. Disponível em: <www.mme.gov.br/mme>. Acesso em: 10 set. 2012.

Petrobras

Animação com riqueza de dados e informações sobre a camada de pré-sal e sua exploração. Disponível em: <www.petrobras.com.br/minisite/presal/pt/cada-vez-mais-fundo>. Acesso em: 10 set. 2012.

Energia renovável

Dados, reportagens, mapas e esquemas gráficos sobre fontes de energia renováveis. Tópicos Estadão (O Estado de S.Paulo): energia renovável. Disponível em: <http://topicos.estadao.com.br/energia-renovavel>. Acesso em: 10 set. 2012.

Filmes

Sangue negro

Riqueza e conflitos marcam a vida de uma família que descobre petróleo nos Estados Unidos na virada do século XIX para o século XX. Direção: Paul Thomas Anderson. EUA, 2007. 158 min.

Syriana: a indústria do petróleo

O drama enfoca a influência global da indústria do petróleo, cujos efeitos são percebidos por um agente da CIA, a agência de inteligência estadunidense, um advogado, um analista de energia e um jovem de um país árabe. Direção: Stephen Gaghan.EUA, 2005, 96 min.

288

Geografia


Capítulo

3

GEOGRAFIA

Gestão da água no Brasil e no mundo

J

á estudamos a distribuição e a disponibilidade natural da água no mundo, quesito em que o Brasil se encontra em situação confortável, se comparado a outros países, como os localizados em áreas desérticas. Examinamos também as etapas que compõem o ciclo hidrológico na natureza (evapotranspiração, formação de nuvens, precipitação, escoamento superficial, infiltração) e a importância da energia hidrelétrica, fonte energética limpa e renovável baseada no aproveitamento das águas correntes. Agora, neste capítulo, vamos debater como se dá o uso da água no Brasil e no mundo e quais as medidas e práticas sociais a serem adotadas para evitar desperdício ou comprometimento dos recursos hídricos. Em outras palavras, vamos examinar procedimentos relativos a uma gestão sustentável da água pelos diferentes atores sociais. João Prudente/Pulsar Imagens

Nessa imagem panorâmica da cidade de Barra Bonita (SP) é possível ver o rio Tietê sendo navegado por embarcação. O rio quase sempre é associado à poluição por conta do trecho que atravessa a região metropolitana da capital paulista. Em Barra Bonita, porém, além de ser navegável, o rio é usado para a pesca e constitui, por sua beleza, um dos pontos turísticos da cidade.

8º ano

289


RODA DE CONVERSA

Para participar de uma conversa sobre o uso da água, prepare uma lista que mostre situações em que você utiliza água no dia a dia, em sua casa ou no trabalho: lavar as mãos e o rosto, escovar os dentes, tomar banho, cozinhar, lavar objetos etc. Em seguida, converse com seus colegas e inclua na lista usos da água que não estão diretamente ligados ao seu cotidiano, mas a outras atividades, como limpar espaços públicos, irrigação agrícola, uso industrial da água, entre outros. Apresente os resultados para sua turma. Com o apoio do professor, converse com os colegas sobre a importância da água para a vida humana, refletindo sobre as seguintes questões: é importante economizar e evitar desperdício de água? Por quê? Como as pessoas, as empresas e o poder público podem fazer isso? Quais medidas ajudam a aumentar a oferta de água potável no campo ou nas cidades? Após os debates, participe com seus colegas da elaboração de um texto-síntese na lousa, organizado pelo professor.

O USO DAS ÁGUAS NO BRASIL E NO MUNDO A distribuição da água na superfície é desigual, seja em função da sua distribuição nos continentes e oceanos, seja pelas diferenças nas características naturais na superfície terrestre: existem áreas áridas e outras com grande disponibilidade desse recurso em função de chuvas frequentes e rios com grande volume de água. É importante destacar que a disponibilidade de água para consumo humano também está ligada ao modo como ela é usada e à presença ou não de infraestruturas, como redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos. Assim, alguns países e regiões enfrentam situação de estresse hídrico, ou seja, lugares em que o uso excede a oferta natural do recurso. Ou, ainda, com usos que comprometem as reservas existentes, gerando escassez. Vamos examinar isso em detalhes, considerando as características e a disponibilidade da água doce na superfície terrestre e da água salgada dos mares e oceanos. Para isso, realize a atividade a seguir.

LER GRÁFICOS

Usos da água no mundo

Usos da água no Brasil

23%

Humano 460 milhões m3/ano

Humano

7% 70%

Agropecuária 1 400 milhões m3/ano

22%

Industrial 140 milhões m3/ano

59%

Agropecuária

19%

Industrial

Fontes: Aquastats (Relatório FAO-ONU de 2003); World Development Indicators (Relatório do Banco Mundial, de 2003); CLARKE, Robin e KING, Jannet. O atlas da água. São Paulo: Publifolha, 2005, p. 24.

290

Geografia

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Observe os gráficos a seguir e, em seguida, responda às perguntas:


Ilustração digital: Caco Bressane

COMO UTILIZAMOS A ÁGUA AGROPECUÁRIA Volume máximo de água para produzir 1 kg de alimento

USO DOMÉSTICO Como a água é utilizada em nas nossas casas

LIMPEZA DA CASA

69%

500 L BATATA

900 L TRIGO

1 100 L 1.100 SORGO

1 900 L 1.900 SOJA

1 900 L 1.900 ARROZ

3 500 L 3.500 AVES

15 000 L 15.000 CARNE BOVINA

COZINHAR E BEBER

LAVAR ROUPA

USO INDUSTRIAL

Quantidade de água utilizada na indústria (m3 / habitante)

DESCARGA

21% HIGIENE PESSOAL

10%

22.102 102

97% da água do país Guiana

1.716 1 716

11.104 104

1.033 1 033

1.028 1 028

Iraque Equador Bulgária Canadá

942 942

779

553

502

62

Irã

EUA

Índia

França

Brasil

18% da água do país

Fontes: Aquastats (Relatório FAO-ONU de 2003); World Development Indicators (Relatório do Banco Mundial, de 2003); CLARKE, Robin e KING, Jannet. O atlas da água. São Paulo: Publifolha, 2005, p. 24.

1. Como é o uso da água no mundo e no Brasil? Qual setor de atividade econômica é o que mais

utiliza esse recurso?

2. De acordo com os dados, há diferença no uso da água na agricultura e na criação de animais?

3. Observe os dados do consumo doméstico (humano) da água. Quais atividades utilizam maior

quantidade desse recurso?

4. Estabeleça diferenças entre os países quanto ao consumo de água pelo setor industrial. Explique

por que ocorrem essas diferenças.

8º ano

291


MODALIDADES DE USO E CONSUMO DA ÁGUA

João Prudente / Pulsar Imagens

Os dados contidos nos gráficos mostram os diferentes usos e formas de consumo da água no mundo e no Brasil. Em ambos os casos, o maior consumo se dá na agropecuária, em especial para a irrigação e para a criação de animais. Estimase que para cada 10 mil m2 de plantação, que representa mais ou menos a área de um quarteirão de uma cidade (uma área pequena em termos de cultivos agrícolas ou criação de animais), a quantidade de água utilizada serviria para atender às necessidades domésticas de cerca de 300 pessoas. Vale notar que, muitas vezes, o elevado consumo agrícola da água se deve à adoção de tecnologias e equipamentos que utilizam mais água que outros. Grandes extensões de cultivo em fazendas modernas costumam usar equipamentos como os pivôs centrais, estruturas que se movimentam e lançam água sobre as plantações. Sistemas de canos que irrigam os cultivos por gotejamento, utilizados em extensões menores, costumam gastar menos água.

Irrigação com pivô central em canavial na zona rural de Penedo (AL).

Existem basicamente dois tipos de consumo de água: o consumo direto, em que o recurso é efetivamente gasto, como a água para beber e para a irrigação das plantas; e o consumo indireto, ou uso sem consumo, com situações em que não há gasto da água, como a geração de energia hidrelétrica. Entre outras formas de uso e consumo indireto da água, estão o transporte hidroviário, a pesca e o lazer. 292

Geografia


Outro uso importante é o doméstico, destinado aos afazeres diários de residências. Para isso, a água precisa ser captada, armazenada e tratada, o que a torna potável e pronta para o consumo. O mesmo se dá com os setores de comércio e serviços, geralmente concentrados nas cidades. As indústrias demandam água para seus processos como matéria-prima dos bens que fabricam ou ainda para a refrigeração das máquinas. É nas práticas industriais que estão as maiores fontes de contaminação da água por resíduos químicos. Outras formas de contaminação derivadas da atividade industrial são a poluição térmica (água superaquecida) e a radioativa. Os usos e o consumo da água diferem entre grupos sociais, povos e nações. E isso não ocorre apenas por causa da oferta natural de água. Há sociedades em que o desperdício e o consumo excessivo são evidentes, enquanto outras já aprenderam a conviver com a escassez. Por exemplo, cada membro da tribo Masai, na África, vive com 5 litros de água por dia. Em contrapartida, cada membro de uma família de classe média de Los Angeles (Estados Unidos) gasta até 500 litros de água por dia. Vale lembrar também que, em muitos países, os rios que atravessam as grandes cidades recebem esgotos domésticos e industriais, contaminando a água. Um caso dramático é o da bacia do rio Tietê, no trecho do rio Tietê e afluentes que atravessa a Região Metropolitana de São Paulo (também conhecida como Grande São Paulo). Situações como essa impedem os demais usos. Nos trechos mais distantes da nascente e mais próximos de sua foz, o rio Tietê passa por uma autodepuração, ou seja, um processo de limpeza que resulta em água de melhor qualidade. Se um rio é visto como manancial para abastecimento de água potável, isso não impede outros usos, como atividades de lazer, esportes e entretenimento em suas margens. São usos mais sustentáveis, com maior capacidade de mantê-lo em condições de ser aproveitado no futuro.

LER TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E MAPA I

O texto e o mapa a seguir retratam situações de estresse hídrico no mundo, em que a disponibilidade de água é afetada por usos insustentáveis, como o consumo excessivo ou o comprometimento dos mananciais de água doce. De volta à fonte De onde vem a água que consumimos? A torneira de casa é só a última parada. Dependendo do local, o suprimento pode vir de lençóis freáticos, lagos, rios e reservatórios ou mesmo do mar dessalinizado. Em muitas cidades do Ocidente, vazamentos em encanamentos usados há séculos podem levar à perda de mais de um décimo do líquido. Porém, nos países em desenvolvimento, os sistemas de abastecimento têm melhorado. De acordo com um relatório divulgado em 2008 pela ONU, “suprimentos de água melhorados”, ou seja, aqueles protegidos de alguns tipos de contaminação – “agora atendem 87% da população mundial, 1,6 bilhão de pessoas a mais do que em 1990. 8º ano

293


[Entretanto, há muito que melhorar em diversas regiões do planeta]. Em grande parte da África, o fornecimento de água potável às pessoas é prejudicado pela falta de infraestrutura. Instituto Internacional de Gerenciamento da Água. In: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, ano 10, n. 121, abril de 2010, p. 36-37 (Edição Especial Água: o mundo tem sede).

Ilustração digital: Sonia Vaz

Disponibilidade e uso da água no mundo – 2010 (*)

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(*) O mapa está baseado na proporção entre a disponibilidade de água na superfície e a quantidade necessária para o consumo humano e o meio ambiente saudável. As áreas são aquelas nas quais o uso excede o suprimento natural renovável. Fonte: Instituto Internacional de Gerenciamento da Água. In: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, ano 10, n. 121, abril de 2010, p. 36-37 (Edição Especial Água: o mundo tem sede).

Com um colega, assinale as áreas mais afetadas por situação de estresse hídrico e levante hipóteses que ajudem a explicar tais situações. Escreva com seu colega as principais considerações feitas pela dupla sobre o tema.

ÁGUAS OCEÂNICAS: USOS E ABUSOS Sabemos que 97,5% da água da Terra estão nos mares e oceanos. Ou seja, trata-se de água salgada, carregada de sais minerais nela dissolvidos. A água salinizada é imprópria para beber e para outros usos humanos, como o agrícola. Mesmo assim, os oceanos são importantíssimos para o equilíbrio da vida no planeta e também comportam outros usos. É importante lembrar que as águas oceânicas estão em constante movimento. Um deles é o das correntes marinhas frias ou quentes. Elas são como “rios” dentro dos oceanos, com propriedades específicas, como temperatura e densidade. Deslocam-se em determinadas direções e contribuem para as dinâmicas climáticas nas áreas continentais e na atmosfera. Além desse, existem os movimentos 294

Geografia


NASA

CONHECER MAIS das marés e das ondas nas faixas litorâneas. Assim como nos rios e lagos situados na superfície terrestre, nos oceMar plastificado anos também ocorre a evaporação das águas, a partir do Os mares do mundo foram invadiaquecimento dos raios solares. O calor retido nas águas dos por uma praga quase invisível, o é uma energia que transforma uma parte do líquido em lixo plástico, em boa parte arrastados das cidades pelo curso dos rios. Os vapor d’água, que sobe e se mistura à atmosfera, contriresíduos não chegam a formar ilhas buindo para o equilíbrio térmico nas diferentes regiões flutuantes, mas uma fina camada de do planeta. fragmentos está presente [...] entre o Rio de Janeiro e a ilha de Ascensão, Além disso, os oceanos são riquíssimos uma possessão britânica. Em viagens em vida, com inúmeras espécies de plantas e GLOSSÁRIO pelos maiores giros oceânicos do animais que, ao longo do tempo, sustentam Resiliência: capacidade mundo [observa-se que] o que varia que um sistema natural é a densidade de fragmentos. diferentes comunidades humanas. Sobre os tem de suportar perturbaO lixo é mais nocivo do que apações, mantendo suas esoceanos, deve-se salientar também que esrenta. Enquanto viaja, o plástico entra truturas e padrões gerais tão entre os ambientes naturais com mais reem contato com os poluentes orgânide comportamento. cos persistentes (POPs), uma categosiliência. Mas isso não justifica formas preria de contaminantes de longa duradatórias de exploração e a utilização dos oceanos como ção no ambiente – caso do pesticida se fossem verdadeiras “latas de lixo”. DDT [...]. Pobre do animal que engolir a mistura indigesta: não conseguirá Regiões como a do mar do leste da China e do mar metabolizar o plástico e sofrerá os Báltico, na Europa, vêm sendo comprometidas pelo desefeitos da contaminação. pejo de produtos químicos agrícolas, levados ao oceano National Geographic Brasil, ano 11, n. 133, abr. 2011, São Paulo: Abril, p. 19. pelos rios. No mar do Norte, também na Europa, o intenso movimento dos navios, da extração de petróleo no GLOSSÁRIO subsolo oceânico, dos gasodutos e da chamada sobreMetabolizar: transformações, num organismo pesca (a pesca além dos limites de reposição natural das vivo, de substâncias. Tais processos permitem, por exemplo, a liberação de energia para espécies) vêm provocando a eliminação de exemplares manter suas funções vitais, como respirar. de espécies e o deslocamento de outras, além de alterações locais nas relações oceano-atmosfera. Há também verdadeiras ilhas de lixo nos oceanos, como as manchas formadas por resíduos sólidos, por exemplo, materiais plásticos, nas médias latitudes no oceano Pacífico (próximo às linhas dos trópicos) e em faixas do Atlântico sul. Os oceanos têm sido atingidos também por vazamento de petróleo, como o grave acidente no Golfo do México em abril de 2010. Provocado pela explosão de um oleoduto ligando o assoalho (ou fundo) oceânico à superfície do mar, este foi considerado o pior acidente do tipo na história dos Estados Imagem de satélite mostra mancha de óleo resultante de vazamento no Golfo do México, em 2010. Unidos e talvez do mundo.

8º ano

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A situação atual dos oceanos exige a criação de mecanismos que evitem impactos ambientais. Isso demandará grande esforço da comunidade internacional, em especial no que se refere à pesca, de forma geral, à caça de baleias e à exploração de recursos naturais nos ambientes marinhos, sobretudo de petróleo e gás natural. Além disso, é preciso criar novos refúgios de vida marinha para proteger plantas, animais e recifes de corais, bem como proteger os manguezais nos litorais, já que eles são berçários de espécies da vida marinha. Hoje, quase 12% das terras emersas do planeta estão protegidas de alguma forma, contra apenas 1% da totalidade das águas marinhas. Deve-se lembrar também que os sistemas de proteção dos oceanos garantem a possibilidade de obter água para processos de dessalinização. Isso já acontece em diversos países, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, e em grandes cidades, como Barcelona (Espanha) e Perth (Austrália).

ÁGUAS CONTINENTAIS: USOS E ABUSOS Para compreender o significado da distribuição, disponibilidade e uso da água nas áreas continentais, é preciso considerar que ela aparece de duas formas: como águas superficiais e como águas subterrâneas. As primeiras são encontradas em rios, lagos e na forma de escoamento superficial das águas das chuvas. Há duas possibilidades para o caminho das águas superficiais: a infiltração (penetração da água nas camadas interiores do subsolo, atingindo os lençóis subterrâneos) e o escoamento (quando a água escoa pela superfície, sempre em direção às áreas mais baixas, atingindo córregos, rios e lagos). É importante destacar que uma área geográfica cujo destino final de todo o escoamento é determinado rio recebe o nome de bacia hidrográfica. Assim, uma bacia hidrográfica é um conjunto de terras drenadas (banhadas, abastecidas) por um rio principal e sua rede de afluentes. Em uma área mais elevada (morro, montanha) a água pode escoar para lados diferentes. Desse modo, a elevação do terreno “divide” as águas, enviando-as para bacias hidrográficas diferentes. Assim, os pontos mais elevados são chamados de divisores de águas. Um rio possui diferentes partes: • Curso superior ou alto curso – parte do rio mais próxima de suas cabe-

ceiras ou nascentes, onde o rio executa mais fortemente o trabalho de erosão das encostas que formam o seu vale. • Médio curso – parte intermediária entre o alto e o baixo curso. Nessa faixa, as encostas do rio estão mais rebaixadas e modeladas. O rio exerce um trabalho importante de transporte de sedimentos.

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Geografia


• Curso inferior ou baixo curso – área próxima da foz ou desembocadu-

ra do rio, onde ocorre a deposição das águas e dos sedimentos que elas carregam para outro rio ou lago ou mesmo para o mar. Muitas das grandes civilizações humanas instalaram-se às margens de rios, como ocorreu no Egito antigo, na Índia, na China e na Mesopotâmia (atual Iraque). Nas superfícies dos continentes existem muitos rios de grande porte e bacias hidrográficas, como o Nilo (percorre o continente africano, da parte central à parte norte-oriental), o Amazonas (na América do Sul, em especial no território brasileiro), o Mississípi-Missouri (nos Estados Unidos), o Yang-Tsé ou rio Azul (China) e o Congo (África central), todos com mais de 5 mil quilômetros de curso.

PESQUISAR

Com um grupo de colegas, consulte um atlas geográfico e localize os rios e as bacias citados nos itens anteriores. Indique também a localização de outros rios de grande extensão, como Danúbio, São Lourenço, Ob, Ienissei, Volga, Lena, Ganges, Tigre e Eufrates. Anote as localizações. Pesquise também a posição do Brasil segundo o seu potencial hídrico.

LER TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E MAPA II

O texto e o mapa a seguir trazem dados sobre as bacias hidrográficas e os aquíferos brasileiros, assim como o aproveitamento das águas no país. Com um colega, examine os dados e responda às questões a seguir: Doze mil rios escorrem pelo território brasileiro – mais de 70% deles na bacia Amazônica – formando 12 bacias hidrográficas (a extensão de terras drenadas por um rio e seus afluentes). No subsolo, dois aquíferos – Guarani e Alter do Chão – guardam quase 120 mil km3 de água. Esse conjunto sustenta boa parte do consumo per capita dos brasileiros, que nas duas últimas décadas mais que dobrou. Cerca de 68% da matriz energética brasileira (para geração de eletricidade) vem da água dos rios que são barrados em usinas hidrelétricas. Leve-se também em conta que os brasileiros teriam à sua disposição cerca de 34 milhões de litros de água, considerando-se toda a reserva de rios, lagos e aquíferos do país. Porém, 10% da população brasileira, ou 19 milhões de pessoas, ainda não têm acesso à água tratada, e 35 milhões de pessoas vivem sem coleta de esgoto. O país tem grande potencial hidroviário, mas ele ainda é subaproveitado. Prova disso é que a hidrovia Tietê-Paraná, a mais bem estruturada do país, transporta apenas um quarto do volume de carga permitido por sua capacidade atual. Agência Nacional de Águas (ANA); Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); Ministério da Ciência e Tecnologia. In: National Geographic Brasil, ano 11, n. 133, abr. 2011, São Paulo: Abril, p. 54-55 (Texto adaptado).

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Ilustração digital: Sonia Vaz

Brasil: aquíferos e regiões hidrográficas

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Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA); Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); Ministério da Ciência e Tecnologia. In: National Geographic Brasil, ano 11, n. 133, abr. 2011, São Paulo: Abril, p. 54-55.

1. Identifique as grandes bacias hidrográficas brasileiras e seus rios principais. Quais são as duas

maiores bacias hidrográficas do país? 2. O que se pode dizer sobre a distribuição e a disponibilidade de água no Brasil? É correto afirmar

que há abundância desse recurso em todas as regiões do país? Explique sua resposta. 3. O que é a transposição do rio São Francisco? Quais estados estão diretamente ligados a esse pro-

jeto? Em sua opinião, quais os benefícios e as desvantagens do projeto para a região em questão? Se necessário, peça ajuda ao professor para responder. 4. Com base no texto e no mapa, responda: quais são os usos atuais da água disponível nos rios e nos

aquíferos existentes no território nacional?

ÁGUAS SUPERFICIAIS: INTERFERÊNCIA HUMANA Assim como ocorre com as águas oceânicas, as águas superficiais também são afetadas por interferências humanas que geram diversos problemas. Entre eles estão a poluição das águas dos rios e córregos pelo despejo de resíduos sólidos e

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esgotos domésticos, assim como a contaminação por resíduos químicos provenientes da agropecuária e da atividade industrial. O volume de água e a vazão dos rios também são afetados pela retirada das matas ciliares, que protegem suas margens. Isso é bastante comum no Brasil, com o avanço da agropecuária em regiões como a do Cerrado. Esse foi justamente um dos pontos mais debatidos em 2012 no projeto de reforma do Código Florestal brasileiro, lei que indica o percentual a ser preservado nas margens dos rios e as chamadas Áreas de Preservação Permanente (topos de morros, encostas com elevada declividade etc.), de modo a proteger as nascentes e o curso d’água como um todo. Como vimos antes, os usos da água não podem ser incompatíveis entre si. Projetos de geração hidrelétrica ou o uso do rio como hidrovia não podem confrontar atividades de comunidades ribeirinhas ou povos indígenas que vivem da pesca e outros recursos oferecidos por rios e lagos. Do mesmo modo, é preciso expandir os serviços de saneamento básico para impedir a deterioração da água e seu aproveitamento para consumo humano, algo que ainda é muito frequente nas grandes áreas urbanas. Nas cidades, outro problema a se evitar é a progressiva pavimentação do solo, que impede a infiltração da água e acelera o processo de escoamento superficial. Sem condições de dar vazão ao volume de água recebido das precipitações, os rios e córregos já assoreados transbordam e provocam enchentes, perdas de vidas humanas e prejuízos econômicos.

CONHECER MAIS

Água abaixo A maior parte da água doce em estado líquido está no subsolo do planeta, formando os aquíferos que resultam da precipitação infiltrada no terreno e acumulada em camadas de areia, cascalho e rocha permeável. Há lençóis freáticos por toda parte, em profundidades variadas. Desde meados do século XX, o aproveitamento dessas reservas aumentou muito, muitas vezes em ritmos insustentáveis.

O recarregamento desses depósitos depende das precipitações, da geologia e da topografia. E eles podem dar origem a fontes na superfície, que constituem a nascente de muitos rios e, em alguns casos, seu principal suprimento. Estima-se que até 40% do volume do rio Mississipi seja originário de lençóis freáticos. National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, ano 10, n. 121, abr. 2010. (Encarte especial).

Água no Mercosul Imagine uma caixa-d’água. Coloque dentro dela areia. A água vai preencher os poros entre os grãos. Cubra com concreto, deixando livres as bordas. Geologicamente, essa poderia ser uma simplificação do aquífero Guarani, o imenso reservatório de água subterrânea que se estende por mais de 1 milhão de km2 pelas fronteiras do Mercosul, antiga área ocupada

pelo povo guarani e que hoje abrange os territórios brasileiro, argentino, uruguaio e paraguaio. Coberto por uma gigantesca estrutura de basalto sobre uma espessa camada de areia, o Guarani contém cerca de 33 mil km3 de água [...]. É um conjunto de rocha arenítica saturada de água – e não um rio subterrâneo, como muita gente imagina.

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Ilustração digital: Luis Moura

O aquífero Guarani

Mata Atlântica e Cerrado

Terra roxa

Camada de basalto

Água e arenito

Sedimentos antigos

Fonte: National Geographic Brasil, São Paulo: Abril, ano 10, n. 121, abr. 2010, p. 82.

Onde agora é água, um dia foi deserto. Movimentos tectônicos criaram uma área de baixada, em que se acumulou areia de erosão. Quando o basalto vulcânico cobriu essa área, a água ficou confinada. Em alguns locais, o aquífero pode estar mil metros abaixo do solo.

Disputas pela água Como a água é um recurso indispensável à vida, já ocorrem em várias partes do mundo conflitos e disputas por esse recurso. Há conflitos no rio Jordão, entre Israel, Síria e Jordânia; no rio Eufrates, envolvendo Turquia, Síria e Iraque; ou na bacia do rio Okavango, no sudoeste da África, entre Namíbia, Angola e Botsuana, ou na Ásia central, envolvendo populações do Casa-

quistão, Uzbequistão e Turcomenistão pelas águas dos rios Syr Daria e Amu Daria. Temos também um exemplo nacional, o do rio São Francisco. Com o projeto de transposição de suas águas para as bacias hidrográficas situadas ao norte da região, começam a ocorrer debates e disputas entre os estados do Nordeste pelas águas do “Velho Chico”.

ENERGIA HIDRELÉTRICA As usinas hidrelétricas utilizam a força das águas para movimentar turbinas e gerar energia elétrica. Para isso, é preciso construir barragens e reservatórios no curso dos rios. Entre os grandes produtores mundiais desse tipo de energia estão Canadá, Brasil, China, Estados Unidos e Rússia. 300

Geografia


A produção de hidreletricidade no Brasil ganhou impulso a partir da década de 1960, com a criação das grandes usinas estatais, caso de Itaipu Binacional, no rio Paraná, e de Tucuruí, no rio Tocantins. Na primeira metade da década de 1980, a energia hidráulica tornou-se a principal fonte de energia primária do país. Em 2012, passou a representar quase 66% da oferta total de energia elétrica no país – opção bastante reconhecida e valorizada em todo o mundo. Dados referentes de 2012 apontam que estavam em funcionamento no Brasil, nesse ano, 180 grandes usinas, responsáveis por quase 70% da produção nacional de energia elétrica. Isso elevou o país ao posto de segundo maior produtor mundial de energia hidrelétrica, atrás apenas da China. Há pouco mais de 70 novos projetos de instalações de usinas em andamento, entre os quais o da usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará – que tem causado grande repercussão nacional e internacional e provocado forte resistência dos povos indígenas que habitam a região onde ela será instalada. Como se baseia na força das águas, a energia hidrelétrica é considerada uma fonte limpa e renovável, que não causa poluição atmosférica. Entretanto, não está isenta de outros impactos. A construção de barragens e reservatórios provoca o deslocamento de populações, a perda de coberturas vegetais e solos para a agricultura e alterações no regime dos rios e nos ciclos de vida de peixes e outros seres vivos. Populações que dependem desses recursos podem ser seriamente afetadas. A experiência brasileira recente demonstra que o melhor caminho é a construção de usinas de menor porte, as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), com menor área de alagamento e redução da alteração no regime dos rios – tradição rompida por projetos como o de Belo Monte. Como vimos, a água também não se distribui igualmente pelo território brasileiro, pois está associada às características das bacias hidrográficas. Como a energia gerada não pode ser estocada, depende de fortes investimentos nas redes de transmissão e subestações elétricas. A situação vivida em 2001 no Brasil, conhecida como “apagão”, mostrou que é preciso investir de forma permanente nesse sistema. Apesar desses aspectos, a energia hidrelétrica constituiu uma opção energética viável, barata e de grande rendimento, ainda mais num país com a configuração natural do Brasil. Em razão das novas demandas por energia no país, instalaram-se em regime de urgência nos últimos anos usinas termelétricas movidas a gás natural ou óleo derivado do petróleo. Críticos apontam para a “carbonificação” da matriz energética brasileira, ou seja, estaríamos caminhando de fontes mais limpas e renováveis para outras mais “sujas”, baseadas em combustíveis fósseis. Vale notar que tal decisão deveria ser objeto de ampla consulta e debate junto à sociedade nacional, o que inclui compor a matriz energética nacional com fontes como eólica, solar, à base de biomassa e as hidrelétricas de pequeno porte.

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CONHECER MAIS

Belo Monte desconsidera direitos indígenas, dizem antropólogos O processo de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), não tem levado em conta os direitos e a voz dos povos indígenas e das comunidades tradicionais da região. A crítica é de antropólogos e lideranças indígenas. A resistência dos índios Kayapó e de comunidades ribeirinhas, que desde a década de 1980 protestam contra a instalação de projetos hidrelétricos no Xingu, não foram considerados pelo governo quando o projeto foi retomado, de acordo com o líder indígena Marcos Terena.

“Os governos não compreendem a linguagem indígena. Uma hidrelétrica dessa envergadura agride o presente e o futuro das comunidades”, disse hoje (7) durante seminário em Brasília. Segundo o antropólogo e assessor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Ricardo Verdum, a questão indígena foi negligenciada durante o processo de negociação de Belo Monte e a decisão de levar adiante a construção da usina sem o consentimento dos Kayapó fere tanto a Constituição quanto regulamentações internacionais sobre direitos dos índios.

Dida Sampaio/Agência Estado/AE

LOURENÇO, Luana. Agência Brasil, 7 dez. 2011. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticias/ belo-monte-desconsidera-direitos-indigenas-dizem-antropologos-617920.shtml> Acesso em: 3 jul. 2012.

Vista aérea do local previsto para a instalação da Usina Hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Rio Xingu, em Altamira (PA), 2010.

GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA A gestão sustentável da água supõe a adoção de medidas que preservem os estoques mundiais de água, permitindo também o abastecimento e combatendo a escassez – em especial para os setores menos privilegiados das populações. Muitos especialistas assinalam que estaríamos mesmo diante de uma crise mundial de água. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO-ONU) indicam que, no final da primeira década do século XXI, cerca de 1,2 bilhão de pessoas eram atingidas pela escassez de água. Esse número poderá chegar a 2,5 bilhões de pessoas até o ano de 2025, caso não sejam tomadas as medidas necessárias. 302

Geografia


Outros dados apontam também que em torno de 2,6 bilhões de pessoas no mundo não têm sido atendidas por serviços e infraestruturas de saneamento básico, o que afeta em especial crianças, vítimas de doenças infecciosas transmitidas por meio da água insalubre. A gestão mais sustentável e racional dos recursos hídricos, que não são infinitos, vai depender de um conjunto de medidas e ações, como: • Reduzir os níveis de consumo e evitar desperdícios de água. Indivíduos podem fazer isso no consumo doméstico e nos locais de trabalho, por exemplo, diminuindo a água usada na higiene pessoal por meio da redução do tempo de banho. Reduzir o consumo de energia também contribui para diminuir a necessidade de instalar novas usinas geradoras de energia. • Expandir a rede de saneamento básico, o que inclui a coleta e o processamento do lixo, a rede de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, evitando o comprometimento dos mananciais de água. • Água de reúso. Empresas de diferentes setores podem operar com a chamada água de reúso. Ela é produzida pelas estações de tratamento de esgoto, podendo ser utilizada para diferentes finalidades, como refrigerar máquinas e equipamentos, gerar energia, ser usada como fluido em indústrias químicas e como água de banheiro nas empresas, fazer a limpeza de espaços públicos, como praças, vias e calçadas, compor reservas para combate a incêndios e outros, incluindo a irrigação agrícola. Com isso, há economia de água potável destinada ao abastecimento público. • Revitalização de rios, córregos e lagos, reconstituindo matas ciliares e desenvolvendo técnicas de recuperação da qualidade da água, medidas já implantadas há décadas em cidades da Europa, como Londres e Paris. • Planejamento integrado. A gestão sustentável da água supõe também um planejamento integrado das atividades econômicas, urbanização e proteção do ambiente (incluindo unidades de conservação como parques nacionais e reservas biológicas). Isso pode ser feito a partir das bacias hidrográficas e com plena participação popular. Tal sistema já existe no Brasil. MOMENTO DA ESCRITA

Com base no que foi visto no capítulo, reúna, com um pequeno grupo de colegas, dados sobre a obtenção e o consumo da água no seu município. Anote também como é a condição geral dos rios e córregos da região e os principais vetores de contaminação e poluição, se houver. Informe também como é a condição das coberturas vegetais e se existem unidades de conservação que preservam flora, fauna e recursos hídricos locais. Se necessário, peça apoio ao seu professor.

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Individualmente, selecione e organize as informações mais relevantes, utilizando-as para escrever um texto dissertativo sobre o estado atual das águas disponíveis em seu município ou sua região. Apresente os resultados para sua turma. Com os colegas, participe da elaboração de um quadro-síntese sobre o tema, sob a supervisão do professor.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Cite dois usos que consomem água e dois usos que não a consomem. 2. A agropecuária é o setor de atividade humana que mais consome água, tanto no mundo como no

Brasil. Cite dois aspectos que contribuem para essa característica. 3. Desafio National Geographic Brasil (2009) Com mais um colega, responda o teste a seguir. Se

necessário, consulte um atlas geográfico. Estima-se que a principal disputa no planeta nos próximos 50 anos não será por petróleo, ouro ou carvão – mas por água. O alerta consta do relatório divulgado pela ONU no Dia Mundial da Água. O risco é maior entre países que convivem com a escassez e compartilham o uso de rios e lagos. • Pelo uso das águas da bacia, israelenses, palestinos, sírios e jordanianos estão em confronto (1). • Não muito longe dali, a Síria disputa com a Turquia e o Iraque o uso da bacia em questão (2). • Na América do Norte, foi feito um acordo entre Estados Unidos e México para compartilhar a água do rio (3), já que os mexicanos passaram a receber um fio de água minguado e salinizado. Fonte: Planeta Sustentável. Líquido precioso. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/ noticia/ambiente/conteudo_345575.shtml>. Acesso em: 12 set. 2012 (Texto adaptado).

Os números indicam as bacias hidrográficas ou os rios principais em disputa, que são, respectivamente: a) Rio Jordão, rios Tigre e Eufrates e rio Colorado. b) Rio Jordão, rios Tigre e Eufrates e rio Mississípi. c) Rio Mekong, rio Ganges e rio Colorado. d) Rios Tigre e Eufrates, rio Okavango e rio Hudson. 4. Faça um exercício para saber como está o consumo de água em sua casa. Considere o seguinte roteiro:

Obtenha contas de água de sua residência dos últimos quatro meses. Localize na conta a anotação do item consumo (em m3). Verifique se houve aumento ou diminuição do consumo ao longo dos meses. Faça uma lista com os principais usos da água realizados em sua casa e procure identificar situações de gasto excessivo ou desperdício de água que podem ter resultado em aumento recente do consumo. • Com base nas informações, responda: a sua família ou as pessoas que vivem na sua casa têm usado corretamente a água, evitando consumo excessivo ou desperdício? O que pode ser feito para melhorar a situação? • • • •

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PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros, atlas e revistas

O atlas da água

Apresenta textos, mapas e gráficos sobre distribuição, disponibilidade e usos da água no mundo. CLARK, Robin; KING, Jannet. O atlas da água. São Paulo: Publifolha, 2005.

Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar unidade “nosso futuro comum”, que analisa usos dos recursos naturais e situações de degradação ambiental. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente

Publicação com verbetes sobre meio ambiente, recursos naturais e desenvolvimento sustentável. ______. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.

Almanaque brasil socioambiental

Dados, mapas e figuras sobre biomas, ecossistemas, questões ambientais, situação de povos indígenas e outras populações tradicionais, usos da água e outros temas. Contém glossário e índice remissivo. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008.

Oceanos

Edição especial sobre fauna marinha e situações de degradação dos oceanos pelas ações humanas. NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Oceanos. São Paulo: Abril, 2010 (Edição especial).

Água: o mundo tem sede

Edição especial sobre a configuração dos grandes rios e aquíferos do mundo e usos e consumo dos recursos hídricos. ______. Água: o mundo tem sede. National Geographic Brasil, São Paulo, Abril, ano 10, n. 121, 2010 (Edição especial).

Energia

Edição especial sobre fontes e matrizes energéticas no mundo e no Brasil. Analisa potencialidades e desvantagens das fontes em operação na atualidade. ______. Energia. National Geographic Brasil. São Paulo: Abril, junho de 2012 (Edição especial).

Sites

Agência nacional de águas (ana)

Dados, notícias e publicações sobre distribuição, disponibilidade e usos da água no Brasil. Disponível em: <www.ana.gov.br>. Para consultar o atlas de abastecimento urbano da água da agência, visite <http://atlas.ana.gov.br/atlas/forms/home.aspx>. Acesso em: 12 set. 2012.

Planeta água

Vídeo produzido por professores da universidade de São Paulo e pelo programa Ciência à Mão sobre ciclo da água e o uso sustentável do recurso. Disponível em: <www.cienciamao.if.usp.br/tudo/exibir.php?midia=von&cod=_biologiaecologiaplanetaa>. Acesso em: 12 set. 2012.

Sabesp: água de reúso

Destaca sistemas de reúso da água a partir de sua captação, do seu tratamento e retorno às atividades industriais no estado de São Paulo. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=131>. Acesso em: 12 set. 2012.

Sistema nacional de informações sobre recursos hídricos Disponível em: <http://portalsnirh.ana.gov.br/>. Acesso em: 12 set. 2012.

Filmes

A vingança de manon

Continuação do filme Jean de Florette, sobre disputa em torno de manancial de água em zona rural da França. Direção: Claude Berri. França, 1986, 113 min.

Erin brockovich

O filme trata da contaminação da água por uma indústria, afetando a vida de uma comunidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e provocando doenças em seus moradores. Baseado em fatos reais. Direção: Steven Soderbergh. EUA, 2000, 131 min.

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Bibliografia

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Geografia


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8º ano

307



UNIDADE 6

Ciências



Capítulo CIÊNCIAS

1

Corpo humano, sexualidade e reprodução

A

reprodução é essencial para a sobrevivência de todas as espécies de seres vivos. No caso dos seres humanos, a reprodução está associada a um conjunto de sentimentos, valores e normas. Para mulheres e homens, o assunto vai muito além dos instintos biológicos!

RODA DE CONVERSA

Hoje em dia, o sexo e a sexualidade são temas muito frequentes nas conversas e nos meios de comunicação. 1. Você acha que a maior frequência de conversas sobre sexo contribui para que mulheres e homens

tenham uma vida sexual mais saudável, segura e prazerosa? 2. Que dúvidas você tem sobre sexualidade e reprodução? Leia os subtítulos desse capítulo e veja se

Monkey Business Images/Dreamstime.com

há correspondência entre os temas abordados no livro e as dúvidas apresentadas por você e por seus colegas de turma.

Casal de idosos em momento afetuoso. A sexualidade não envolve apenas o sexo: integra também aspectos da vida social e afetiva dos seres humanos.

8º ano

311


A sexualidade é uma característica humana que faz parte de todas as fases da vida. Ela é construída desde dos primeiros contatos corporais e as primeiras experiências afetivas da criança. A amamentação e os cuidados que o bebê recebe já fazem parte do desenvolvimento de sua capacidade de sentir prazer e construir vínculos afetivos. Durante toda a infância, a sexualidade tem o importante papel de despertar a curiosidade e o desejo de aprender, começando pelo conhecimento do próprio corpo. Somente a partir da puberdade a sexualidade começa a adquirir o sentido erótico que possui na vida adulta. Na vida dos seres humanos, o desejo sexual não é limitado à finalidade da procriação, nem ao período fértil da mulher, como acontece com outros animais. A sexualidade está associada ao prazer e envolve muito mais do que o sexo, porque integra aspectos biológicos, afetivos e sociais. Cada pessoa vive a sexualidade de uma forma singular, embora todas as sociedades criem regras morais, religiosas ou científicas para os comportamentos sexuais. Como as pessoas convivem com esses valores e normas desde a infância, imaginam que eles são “naturais”. Sendo assim, a sexualidade é influenciada por fatores biológicos, afetivos e amorosos e, ao mesmo tempo, segue valores e costumes que variam de acordo com a época e o lugar.

CONHECER MAIS

Comportamentos sexuais Na cultura ocidental e cristã, que foi dominante na formação de nossa sociedade, o único comportamento sexual tido como adequado era o relacionamento entre um homem e uma mulher, ou seja, um relacionamento heterossexual. O sexo só era considerado um valor positivo quando realizado dentro do casamento e com finalidade de procriação. Existia, porém, tolerância com comportamentos masculinos que não seguissem esse padrão, como se os homens tivessem instintos animais menos controláveis. Essa ideia marca a nossa cultura até os dias de hoje, estando associada às relações de poder entre homens e mulheres na sociedade. Mas, a partir da metade do século XX, essas regras começaram a ser abertamente questionadas. Os anos 1960 foram um marco histórico nesse sentido, havendo grande mudança de costumes. AP Photo/Imageplus

A SEXUALIDADE NA VIDA

No anos 1960, movimentos organizados por jovens em vários países passaram a questionar as atitudes morais rígidas sobre a sexualidade. Miami (EUA), 1968.

DEBATER I

Em pequenos grupos, troque ideias com seus colegas a respeito das questões a seguir: 1. Comparando os costumes de sua geração com a geração de seus pais ou avós, você percebe gran-

des diferenças na forma de viver de homens e mulheres? Quais são as semelhanças e diferenças mais marcantes? 2. Será que as mulheres nascem com tendência natural para cozinhar e os homens com tendência

natural para sustentar a família? 312

Ciências


CONHECER MAIS

Desigualdade de gênero O censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil já é 35%. Essa porcentagem inclui um número significativo de mulheres casadas que são as principais responsáveis pelo sustento da família, além de mulheres solteiras, separadas ou viúvas. Apesar disso, cuidar da casa e dos filhos continua sendo tarefa assumida principalmente pelas mulheres, mesmo pelas que trabalham fora de casa. No Brasil, as mulheres são mais da metade da população e já tem escolaridade maior que os homens, mas ainda têm menos chances de emprego e ganham menos que os homens,

mesmo quando trabalham nas mesmas funções. Vivemos em uma sociedade em que as mulheres têm menos oportunidades e menos recursos em todos os âmbitos da vida social. Isso se chama desigualdade de gênero – e não entre os sexos – porque ela não pode ser justificada por diferenças biológicas e é apoiada exclusivamente em normas sociais injustas. Em resumo: Sexo refere-se às características biológicas que identificam uma pessoa como sendo homem ou mulher. Gênero refere-se às normais sociais que definem expectativas e comportamentos considerados femininos ou masculinos.

LER TEXTO CIENTÍFICO

Leia o texto e procure avaliar se as situações apresentadas correspondem às suas experiências ou às experiências das pessoas com quem você convive. Responda às perguntas e, depois, debata sua opinião com os colegas. O mito da superioridade masculina [...] Homem que é homem deve exibir coragem, audácia, agressividade, mostrar-se mais forte que os outros, ainda que para isso faça uso da violência. Todos nós estamos familiarizados com a cena do menino que apanha na rua, volta machucado para casa e é estimulado pelo pai a revidar para recuperar a honra. O homem que se submete aos comandos do estereótipo masculino é o supermacho que ainda hoje povoa a imaginação das massas. A imagem do caubói duro, solitário, viril e impassível, do Exterminador ou do Rambo, ainda povoa a imaginação de milhões de homens (e de mulheres) no mundo inteiro. [...] Na verdade, esse estereótipo masculino é inacessível aos homens de carne e osso, o que provoca tensão entre o ideal coletivo e as possibilidades dos homens reais. A imagem mítica de sucesso, potência, controle e força acaba fazendo com que os homens tenham a sensação de que são incompletos, insuficientes. Tal sentimento é fonte de angústia e leva muitos homens a lutar continuamente para provar a própria superioridade, agredindo outros homens e, sobretudo, agredindo e humilhando as mulheres. Provar virilidade exige que o homem, com frequência, manifeste brutalidade, explore as mulheres, tenha reações rápidas e agressivas. O modelo de masculinidade dominante é prejudicial não só para as mulheres, mas também para os próprios homens, pois eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos, ser ativo e passivo. A proibição de satisfazer essas necessidades é prejudicial ao seu bem-estar físico, emocional e mental. O medo do fracasso e a necessidade de provar a masculinidade empurram os homens para comportamentos compensatórios potencialmente perigosos e destruidores: os homens tendem a assumir mais riscos que as mulheres (bebem mais, andam em motos e automóveis em alta velocidade, envolvem-se, com mais frequência, em brigas e disputas violentas etc.). [...] Embora

8º ano

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traga opressão e sofrimento aos homens, o mito da onipotência masculina proporciona-lhes também satisfações fantasiosas. Assim, o mito persiste, graças à cumplicidade dos próprios homens (e das mulheres) que são por ele oprimidos. BALEEIRO, Maria Clarice et al. Sexualidade do adolescente: fundamentos para uma ação educativa. Salvador: Fundação Odebrecht; Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, 1999. p. 152-154. (Adaptado.)

1. O que significa a expressão “estereótipo masculino”, usada no texto?

2. Comparando as expectativas sociais para homens e mulheres em nossa sociedade, que caracterís-

ticas você poderia incluir no “estereótipo feminino”?

3. Mito pode ser entendido como uma ideia fantasiosa, inverídica, inventada. Explique, com suas

palavras, por que a ideia da superioridade do homem em relação à mulher é um mito.

4. De acordo com o texto, quais são as consequências negativas desse mito na vida dos homens?

Você concorda com essa ideia?

5. Esse mito tem consequências negativas na vida das mulheres?

MOMENTO DA ESCRITA

“Machismo” é uma expressão usada para designar a opressão da mulher pelo homem, seja ela exercida na forma de violência física, psicológica ou social. No caderno, escreva um texto expressando sua opinião sobre o machismo. 314

Ciências


DIVERSIDADE Conforme sua atração amorosa e sexual, as pessoas podem ser consideradas heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Essas diferentes possibilidades de manifestação do desejo indicam a orientação sexual da pessoa, que corresponde a uma característica espontânea. Um(a) homossexual não opta por sua orientação, assim como a pessoa heterossexual não escolhe sentir atração sexual por indivíduos do outro sexo. A discriminação de pessoas em razão de sua orientação sexual é considerada um crime em muitos países.

LER IMAGEM

Muitos grupos organizados da sociedade civil têm desempenhado um importante papel na defesa dos direitos de cidadania das pessoas que são discriminadas por causa de sua maneira de viver a sexualidade. Qual é o significado da bandeira multicolorida usada como símbolo dos movimentos em defesa dos direitos sexuais de todas as pessoas? Discuta com seus colegas. Lalo de Almeida/ Folhapress

Imagem da Avenida Paulista, em São Paulo (SP), durante a Parada do Orgulho GLBT, 2011. O evento ocorre anualmente em várias cidades no mundo e reúne milhares de pessoas com o objetivo de combater o preconceito e lutar pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais.

8º ano

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O DESENVOLVIMENTO REPRODUTIVO E SEXUAL A puberdade é a fase da vida marcada por um aumento acentuado da produção de hormônios sexuais masculinos ou femininos. Geralmente, a partir de 9 ou 10 anos na mulher, e um pouco mais tarde no homem, tem início o desenvolvimento de novas características corporais, chamadas caracteres sexuais secundários. É quando, nas meninas, a gordura começa a se acumular nas nádegas, surgem os pelos nas axilas e na região genital, crescem as mamas e começa a ocorrer a menstruação. Nos meninos, os pelos aparecem em muitas partes do corpo, a voz torna-se mais grossa e começa a se formar a barba. Verifica-se o aumento dos testículos, do pênis e da massa muscular, ocorrendo o início da produção de espermatozoides. Nessa fase ocorrem os fenômenos que marcam nossa entrada na fase madura para a reprodução: nelas, a menstruação; neles, a ejaculação. A puberdade é apenas o início da adolescência. A sexualidade começa a se manifestar na forma de desejo por outras pessoas. Inicia-se um período de experimentação da capacidade de atrair e ser atraído(a) sexualmente. São tantas as mudanças no corpo, nos sentimentos, nos desejos e na vida social que essa fase corresponde a uma crise do desenvolvimento humano. A duração da adolescência é variável, pois as formas de encarar essa fase da vida estão associadas à cultura de cada época e lugar. Os adolescentes podem ser muito diferentes, dependendo das características individuais, de sua história pessoal e familiar e de suas condições socioeconômicas. O conjunto de mudanças físicas e psicológicas da adolescência é acompanhado por uma intensificação do desejo CONHECER MAIS sexual, e começa a existir a possibiMasturbação lidade da procriação. As mudanças No passado, pensava-se que a masturbação causava no corpo e no comportamento são problemas sexuais, sendo associada à loucura e ao crescicomandadas por transformações no mento de pelos nas mãos, ao aparecimento de espinhas, cérebro e causadas pelos hormônios. à fraqueza e à palidez. Mas essas ideias foram refutadas. A masturbação e os jogos sexuais entre crianças e adolescenA construção da identidade pessoal tes da mesma idade podem fazer parte do conhecimento como jovem inserido em seu grupo do corpo e do desenvolvimento sadio da sexualidade. Ascomeça a entrar em jogo, ao mesmo sim, a manipulação dos genitais pode acontecer desde a infância, como parte da descoberta do corpo. O que ocorre tempo em que a maturidade reproé que, nessa fase da vida, não há o sentido erótico e de dutiva se estabelece. excitação sexual que adquire a partir da adolescência. DEBATER II

Com seus colegas, converse sobre as questões a seguir. Em seguida, anote as suas conclusões. 1. Você sabe o que são hormônios? Faça uma hipótese antes de prosseguir seus estudos. 2. Comente a seguinte frase: “O ser humano é integrado pelas dimensões biológica, social e cultural,

e todas interferem em sua saúde e em seu bem-estar”.

316

Ciências


Os sistemas genital masculino e feminino são responsáveis por várias funções relativas à sexualidade e à reprodução. As células sexuais masculinas e femininas, chamadas gametas, são formadas em órgãos que também funcionam como glândulas: os testículos e os ovários. Nos homens, a produção de células sexuais (os espermatozoides) é contínua: começa na puberdade e se mantém pelo resto da vida. Os espermatozoides são produzidos em grande quantibexiga urinária dade: numa pequena gota do líquido seminal, eliminado uretra durante a ejaculação, podem Glândula seminal ser encontrados cerca de 100 corpos mil deles. Nos mamíferos, cavernosos ânus para que sejam produzidos glândula bulbouretral espermatozoides, os testícupróstata pênis los precisam ficar em temduto deferente peratura mais baixa que o epidídimo corpo. É por isso que, nos hotestículo mens, os testículos “descem” prepúcio glande escroto para a bolsa escrotal, logo na Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) infância. Órgãos sexuais masculinos. Com as mulheres é diferente: quando elas nascem, tuba uterina já têm todos os seus óvulos primitivos dentro de folículos, localizados nos ovários. Quando a menina chega à bexiga urinária puberdade, esses óvulos coovário osso púbico meçam a amadurecer e, aproximadamente a cada 28 dias, ocorre a ovulação: um óvulo maduro é liberado pelo ovário útero clitóris e captado pela tuba uterina, na qual permanece vivo por cergrandes lábios ânus ca de 24 horas. Durante esse pequenos lábios vagina período, ele pode ser fecundado por um espermatozoide, Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) Órgãos sexuais femininos. iniciando-se uma gravidez.

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Ilustrações digitais: Luciano Tasso

SISTEMA GENITAL MASCULINO E FEMININO

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CICLO OVULATÓRIO E CICLO MENSTRUAL O ciclo ovulatório e o ciclo menstrual incluem as alterações que acontecem, em média, de 28 em 28 dias, acompanhando a liberação de determinados hormônios no corpo da mulher. Em cada ciclo, enquanto ocorre o amadurecimento de um óvulo, o útero se prepara para uma possível gravidez, e sua camada interna fica mais grossa por causa do aumento da irrigação sanguínea e da multiplicação das células da mucosa uterina. Quando a mulher tem uma relação sexual nessa fase do ciclo (chamada período fértil), os espermatozoides podem encontrar esse óvulo maduro, fertilizando-o e dando início a uma gestação. Quando não ocorre esse encontro, porque a mulher não teve relação sexual ou porque usou algum método para evitar a gravidez, a camada interna do útero começa a descamar e é eliminada na forma de sangramento (a menstruação). O primeiro dia da menstruação marca o início de um novo ciclo, e o processo se repete por toda a fase reprodutiva da mulher, que tem fim, geralmente, por volta dos 50 anos.

PARA REFLETIR

Será então que o corpo da mulher funciona como um relógio, repetindo o mesmo ciclo a cada 28 dias, sem qualquer alteração? É possível saber exatamente qual é o período fértil de cada mulher durante um ciclo ovulatório ou menstrual? Troque ideias com os colegas da turma a esse respeito.

CONHECER MAIS

É possível saber quando a mulher está fértil? Alterações emocionais, doenças ou quaisquer mudanças importantes na vida podem interferir na produção de hormônios. Em algumas situações, a mulher pode ovular em períodos completamente diferentes do ciclo. Pode, também, ter dois óvulos maduros liberados no mesmo ciclo. Nesse caso, poderá ficar grávida de gêmeos, como se fossem duas gestações ao mesmo tempo. As variações também são muito grandes de uma mu-

lher para a outra. Dependendo da pessoa o ciclo mestrual pode repetir-se a cada 26 dias, de 30 em 30 dias, ou pode ser bastante irregular. O mais comum é que os ciclos sejam irregulares na adolescência, tornando-se periódicos com o passar dos anos, voltando a ficar irregulares entre 45 e 50 anos, quando a produção de hormônios femininos começa a diminuir. Todos esses processos são regulados por diversos hormônios, que atuam de forma coordenada.

A MENOPAUSA E A ANDROPAUSA Por volta dos 45 a 50 anos de idade, as mulheres começam a apresentar alterações nos ciclos menstruais, que podem se tornar irregulares até que a menstruação pare completamente de ocorrer. Isso se deve à diminuição da produção de hormônios sexuais femininos, o que marca o final do período reprodutivo. Esse período da vida da mulher é chamado de climatério. Somente quando a mulher para de menstruar por um ano inteiro é que se considera que ela está na menopausa. O interesse sexual nessa fase da vida está 318

Ciências


muito relacionado a fatores psicológicos e dependerá, em grande parte, da maneira como cada mulher ou casal vive e compreende sua sexualidade. Em razão da queda abrupta na produção de hormônios na fase do climatério, muitas mulheres sentem ondas de calor, conhecidas como fogachos, e podem ter secura na vagina, insônia, sudorese noturna intensa, depressão e irritabilidade. Para melhorar a qualidade de vida nesse período, métodos que promovem o relaxamento ajudam bastante. Exercícios, especialmente as caminhadas, previnem a osteoporose, perda de massa óssea que fragiliza os ossos. Para algumas mulheres, as terapias de reposição hormonal são eficazes. Mas o uso de hormônios também pode ter efeitos indesejados, como a predisposição a doenças graves, por exemplo, o câncer de mama. Seu uso indiscriminado pode trazer riscos e prejuízos à saúde, e, por isso, é importante que cada mulher possa avaliar, com acompanhamento médico, se a reposição hormonal é indicada para ela. Nos últimos anos, passou-se a estudar também a andropausa, nome dado à fase de diminuição da produção de diversos hormônios pelo homem, especialmente hormônios sexuais. O fenômeno é muito diferente da menopausa, pois não representa o final do período reprodutivo. A testosterona é o mais importante hormônio masculino, e o homem adulto a produz todos os dias. A redução na produção desse hormônio começa geralmente a partir dos 50 anos. Com o tempo, pode ocorrer diminuição do interesse sexual ou da capacidade de ereção, insônia, irritabilidade e menor capacidade de concentração. A partir dessa fase da vida, também pode haver perda de massa muscular e diminuição dos pelos. Mas, nos homens, a queda hormonal nem sempre é significativa e ocorre de forma bem lenta ao longo dos anos. Por isso, essas alterações podem aparecer bem mais tarde, como parte do conjunto de mudanças próprias do envelhecimento. CORPO HUMANO: AS CÉLULAS E SUA INTEGRAÇÃO Sabemos, atualmente, que nosso corpo é formado por bilhões de células de dezenas de tipos, especializados em diferentes funções. As células são as menores estruturas que formam o corpo humano e outros seres vivos. Há células especializadas em todos os órgãos do corpo humano. As células de um mesmo tipo se reúnem em tecidos, que formam os órgãos, como o cérebro, o pulmão e o coração. Os órgãos, por sua vez, são integrados em sistemas, e cada um deles tem seu papel específico no funcionamento geral do organismo. Por exemplo: o sistema genital tem a função de perpetuar a espécie; o cardiovascular, do qual participam o coração, as veias, as artérias e o sangue, de transportar várias substâncias; o esquelético e o muscular, de nos dar sustentação e movimento. Toda essa sofisticada estrutura é formada por células reunidas em tecidos biológicos.

8º ano

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Ilustração digital: Luis Moura

tecido nervoso

tecido muscular

tecido glandular

tecido epitelial

tecido conjuntivo

A figura mostra alguns órgãos e tecidos e suas células. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) Fonte: www.ocorpohumano.xpg.com.br/celulas_e_tecidos.htm

Dependendo do tecido a que pertencem, as células são diferentes na forma e na função. Veja alguns exemplos. Tecido epitelial: as células epiteliais formam a parte viva mais externa da pele, a qual é considerada o maior órgão do corpo humano, com suas várias camadas de células vivas (internamente) e mortas (externamente). As células da epiderme têm forma achatada, o que ajuda a realizar sua função de revestimento. 320

Ciências


Tecido nervoso: as células fundamentais do tecido nervoso são os neurônios, que possuem corpo celular relativamente pequeno em relação a seus prolongamentos. Esses prolongamentos estão presentes na pele. Por meio deles percebemos temperaturas altas e baixas e recebemos estímulos, por exemplo, de pressão ou de uma picada de agulha. Os sinais captados são conduzidos por uma rede de nervos até chegarem ao cérebro, que interpreta a informação e desencadeia a tranmissão de respostas. Células nervosas formam os nervos presentes em todo o corpo e estão ligadas ao sistema nervoso central, nome dado ao conjunto formado por encéfalo e medula. Tecido muscular: as células musculares têm a capacidade de contrair e relaxar, que é a função básica dos músculos. Dependemos do funcionamento muscular para a realização de todos os movimentos do corpo, da respiração à corrida. Os músculos são classificados em voluntários e involuntários. Os primeiros, como o próprio nome já diz, se contraem de acordo com a vontade do indivíduo. Já as glândulas e os músculos que envolvem o tubo digestório ou formam o coração são comandados pelo sistema nervoso autônomo e não respondem ao controle consciente do indivíduo. As células musculares têm formato alongado e são atravessadas por pequenas fibras, capazes de encolher ou distender, produzindo assim o efeito de relaxamento e contração do músculo como um todo. Tecido ósseo: é formado por três tipos de células e uma matriz óssea intercelular, que acumula minerais e torna o osso resistente. No interior da matriz óssea estão os osteócitos, células de forma ovalada com muitas expansões finíssimas para o interior da matriz, o que ajuda em sua função de manter a matriz óssea mineralizada. Tecido sanguíneo: todo o sangue do corpo humano circula dentro de vasos de diferentes calibres, sendo os menores deles chamados de capilares sanguíneos. O sangue é um tecido rico em água e, por isso, é líquido. O vermelho do sangue se deve à maior quantidade de glóbulos vermelhos (hemácias), células responsáveis pelo transporte de gás oxigênio (do pulmão para todas as células) e de gás carbônico (das células para o pulmão). As hemácias têm forma redonda achatada, com uma depressão no centro. Isso porque, durante sua formação, as hemácias perdem o núcleo celular, o que aumenta o espaço para transporte de gases. O sangue é formado também por outras células e substâncias, cuja função é a defesa do corpo contra doenças. Também no sangue são encontrados os nutrientes, que são captados no sistema digestório e que vão nutrir todas as células do corpo, além das toxinas recolhidas em todos os teci8º ano

321


dos, resultado do funcionamento das células. Muitas toxinas são filtradas pelos rins e eliminadas do corpo por meio da urina. Tecido glandular: seu nome completo é tecido epitelial glandular, pois muitas glândulas formam-se a partir das células epiteliais, quando ainda somos fetos. As células glandulares têm a função de secretar substâncias que regulam o corpo; algumas fabricam hormônios. De modo geral, as glândulas têm formato arredondado; igualmente, suas células também são arredondadas, o que garante contato entre elas e os capilares sanguíneos. Esse contato é essencial na garantia do transporte dos hormônios.

SECREÇÕES, HORMÔNIOS E A INTEGRAÇÃO DO CORPO Como você pode perceber, o corpo funciona como um todo integrado. Por exemplo, se você está com fome, a visão e o aroma de um alimento provocam salivação. Durante um jogo de bola, o corpo permanece em situação de alerta, o coração bate depressa e está pronto para uma corrida rápida. Em cada situação, o corpo funciona de um modo específico e adaptado para o momento. Como tudo isso é possível? Existem algumas formas de integração entre o corpo e o ambiente e, internamente, as células também possuem mecanismos de integração e comunicação. A porta de entrada das sensações do ambiente são nossos órgãos dos sentidos, que possuem células nervosas especializadas na captação dos estímulos. Mas os nervos estão no corpo todo. Eles captam e conduzem as sensações obtidas até o cérebro, que processa a informação e comanda a resposta, por meio de outros nervos. Essa resposta atinge especialmente os músculos e as glândulas. Os músculos, como sabemos, realizam os movimentos. E as glândulas, o que são e o que fazem? As glândulas são órgãos formados por células que secretam determinadas substâncias, com diferentes funções, que regulam o funcionamento do organismo. A salivação diante de uma comida apetitosa é um exemplo do funcionamento da glândula salivar, isto é, a glândula que lança a saliva para a boca. As glândulas sudoríparas trabalham de forma semelhante, pois seu produto, o suor, sai da glândula para a parte externa do corpo. Glândulas como essas são chamadas exócrinas. Contudo, diversas outras glândulas lançam seus produtos na corrente sanguínea e não os percebemos, pois somos capazes apenas de identificar alguns de seus efeitos. São as glândulas endócrinas. Elas também secretam substâncias chamadas hormônios, que são mensageiros químicos do corpo humano, pois, ao serem transportados pelo sangue, atuam em órgãos distantes da glândula que os produziram. Observe na figura as glândulas endócrinas e depois veja as informações sobre suas principais funções. 322

Ciências


glândula tireoidea

glândula paratireoidea

hipófise

glândula tireoidea

glândula paratireoidea

adrenais pâncreas

Ilustrações digitais: Luis Moura

hipófise

adrenais pâncreas

ovários

testículos

Glândulas endócrinas.

Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Hipófise: localizada acima do palato (céu da boca) e na base do cérebro, essa pequena glândula tem papel de comando do sistema endócrino, fabricando hormônios que orientam as demais glândulas a trabalhar mais intensamente ou mais devagar. Partem da hipófise os hormônios que determinam, na puberdade, o amadurecimento dos testículos e dos ovários. Ela produz o hormônio do crescimento, que estimula o desenvolvimento durante a infância e a adolescência. Também a prolactina, que estimula o funcionamento de glândulas mamárias, bem como a oxitocina, hormônio envolvido na amamentação e fundamental nas contrações do parto, além de ter outras funções em ambos os sexos, sendo também chamado hormônio do amor. Testículos: funcionam como glândula dos hormônios sexuais masculinos e produtores das células sexuais masculinas. Produz o hormônio testosterona, responsável, na puberdade, pelo desenvolvimento dos órgãos do sistema genital masculino e pelo aparecimento das características sexuais secundárias (pelos faciais e corporais, desenvolvimento mais intenso da musculatura e voz grossa). A testosterona e os demais hormônios masculinos continuam atuando na idade adulta, mantendo o funcionamento dos órgãos genitais e as características sexuais do homem. 8º ano

323


Ovários: são as glândulas produtoras de hormônios femininos e os órgãos produtores dos óvulos. Os caracteres sexuais secundários, bem como a regulação dos ciclos ovulatório e menstrual, dependem desses hormônios. Glândula tireoidea: produz hormônios que contêm o elemento iodo, que trabalha controlando o ritmo das atividades básicas das células (chamado metabolismo), ou seja, o consumo de glicose (alimentação das células) e de oxigênio (respiração das células). A deficiência desses hormônios, denominada hipotireoidismo, causa sonolência, cansaço, pele seca, baixa frequência cardíaca. No sentido inverso, o hipertireoidismo é caracterizado por nervosismo, agitação e emagrecimento, em função do metabolismo celular muito acelerado. Glândula paratireoidea: seus hormônios regulam a entrada e saída de fósforo e cálcio das células, muito importantes para os ossos e os músculos. Pâncreas: é uma glândula mista, cuja parte exócrina produz substâncias que vão para o intestino e atuam na digestão dos alimentos. A parte endócrina é produtora de insulina, hormônio que ajuda na alimentação da célula, mais especificamente, na passagem de glicose do sangue para as células. Adrenais ou Suprarrenais: localizadas sobre os rins, fabricam vários hormônios, entre eles a adrenalina, que faz o coração bater mais rápido em resposta a situações de estresse, preparando o organismo para a luta ou a fuga Outros hormônios regulam o balanço de água e sais no organismo, agindo diretamente sobre os rins. A aldosterona, por exemplo, estimula a presença de sódio no sangue e, consequentemente, a retenção de água, levando ao aumento da pressão arterial e à formação de urina mais concentrada.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Coloque as estruturas do corpo apresentadas a seguir em ordem de grandeza, do menor para o

maior. sistemas

tecidos

órgãos

células

Faça desenhos e esboços dessas estruturas, com base em figuras desse livro ou de figuras pesquisadas na internet e em outros livros. 2. O tecido sanguíneo é comparável a qual meio de transporte: aéreo, fluvial ou terrestre? Justifique

sua resposta. 3. Em alguns momentos percebemos o tubo digestório se movimentando dentro do abdome. Pode-

mos controlar essa movimentação de acordo com a nossa vontade? Explique. 4. Há quem pense que os ossos são tecidos mortos, por serem duros. Isso é verdade? Justifique. 324

Ciências


5. Complete o esquema a seguir com os seguintes termos: suor, lágrima, oxitocina, glândulas,

adrenalina, sebo, endócrinas, hormônio do crescimento, exócrinas. Atenção: mais de uma palavra pode ser incluída no mesmo quadro.

6. O que o sangue fornece para as células, de modo geral? E o que recebe delas? Responda à questão

considerando as seguintes substâncias: hormônio, toxinas, nutrientes, oxigênio. 7. A puberdade é a fase da vida marcada por um aumento acentuado da produção de hormônios

sexuais masculinos ou femininos. Quais glândulas são diretamente ligadas a essas atividades no homem e na mulher? 8. Faça um desenho mostrando, em esboço, os dois sistemas de integração do corpo: sistema ner-

voso e sistema endócrino. CONHECER MAIS

Brookebecker/Dreamstime.com

É uma característica da pele negra a maior quantidade de pigmentos da família da melanina, distribuídos no interior das células epiteliais. Esses mesmos pigmentos podem ser estimulados pelos raios solares em pessoas de pele clara, que ficam bronzeadas, enquanto há outras que nunca ficam bronzeadas porque não são dotadas da capacidade de produzir melanina. Além dos pigmentos, a pele negra tem algumas peculiaridades: é mais lisa e suave ao toque, sendo mais rica em oleosidade. Isso porque possui, em média, maior número de glândulas sebáceas, bem como mais glândulas sudoríparas. Em virtude dessas características, os negros geralmente formam menos rugas do que os brancos. Contudo, a pele negra tem mais facilidade de formar queloides, uma forma de cicatrização com marca saliente. Então, uma recomendação para quem tem pele negra: vale um cuidado especial quando você se machucar para evitar cicatriz do tipo queloide.

Paul Hakimata/Dreamstime.com

Pele negra

Quais são as características especiais da pele escura e da pele clara?

8º ano

325


AS CÉLULAS E A REPRODUÇÃO DOS SERES VIVOS

Ilustração digital: Luis Moura

Um ser vivo pode possuir bilhões de células, que se dividem em dezenas de tipos diferentes. Mesmo sendo tão diferentes, elas têm muito em comum: sempre se alimentam e respiram, consumindo glicose e oxigênio. Assim, certos processos químicos das células permitem a liberação de energia do alimento e também a realização de tarefas próprias dos tecidos a que pertencem. As células são dotadas de algumas estruturas internas – as organelas celulares – que desempenham tarefas importantes. São exemplos de organelas as mitocôndrias, responsáveis pela respiração celular (liberação de energia com consumo de oxigênio e formação de dióxido de carbono), e os ribossomos, nos quais a célula fabrica as proteínas. O conjunto das organelas se membrana encontra em meio ao citoplasma, celular uma região da célula distinta do núcleo. Este, por sua vez, é caracterizado como o local onde se encontram os cromossomos, na ribossomos célula de animais, vegetais e fungos. Os cromossomos existem aos pares em número típico, conforme cada espécie de organismo vivo. Contêm a herança genética da espécie nas moléculas de DNA – simitocôndria citoplasma gla em inglês que significa ácido desoxirribonucleico –, uma moNesse esquema simplificado, vê-se uma célula animal com sua membrana lécula que trabalha como fonte de externa, o citoplasma, as mitocôndrias e os ribossomos. No núcleo, os cromossomos estão invisíveis. informação das várias proteínas Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) que as células precisam fabricar. E os gametas, você sabe o que os torna especiais? Eles têm apenas metade do número típico de cromossomos da espécie. Diz-se, então, que suas células têm n cromossomos e são haploides. Assim, as células sexuais, após a fecundação − união do óvulo da mulher com o espermatozoide do homem −, restabelecem o número dos cromossomos típicos da espécie, pois a célula – ovo volta a ter o número total 2n de cromossomos, como ocorre em células diploides.

REPRODUÇÃO SEXUADA Na reprodução sexuada de uma espécie animal, o encontro das células femininas com as masculinas acontece dentro do corpo da fêmea ou fora dele, em ambiente aquático. Esse encontro dá origem à primeira célula de um indivíduo. Na medida em que cada gameta possui n cromossomos, a fecundação realiza a soma dos dois n e reconstitui-se o número próprio da espécie. 326

Ciências


Ilustração digital: Luis Moura

PalêZuppani / Pulsar Imagens

Nicolas Raymond / Shutterstock

No caso dos vegetais, as flores correspondem às estruturas sexuais. O encontro de uma célula sexual feminina com outra, masculina, também será necessário para que se forme o embrião de uma nova planta. Há espécies de plantas com flores que reúnem as partes masculinas e femininas; em outras espécies, as flores têm os sexos separados. As pétalas coloridas envolvem essas estruturas sexuais e funcionam para atrair animais, que, como veremos a seguir, têm grande importância Lhamas em cópula. no ciclo reprodutivo das plantas. Nas estruturas masculinas das flores, numerosos e minúsculos grãos de pólen coloridos ficam presos a delicadas hastes e são protegidos pelas pétalas. Esses grãos contêm as células reprodutivas masculinas e se dispersam no ar com a ajuda do vento ou são transportados por insetos e pássaros, chegando até a estrutura feminina (da mesma flor ou de outra flor). As células sexuais femininas – ou óvulos – localizam-se na parte mais protegida da flor, a sua base, dentro do ovário. Quando os óvulos da Flor de canela-de-ema. planta se juntam às células masculinas, começa a formação das sementes. Em várias espécies de plantas, como a maçã, a pera e o abacate, essa é a origem dos frutos, que abrigam as sementes em seu interior. Observe o ciclo de plantas que têm flores e frutos no esquema a seguir.

polinização

crescimento da planta e formação de flores

germinação da semente formação do fruto

Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

8º ano

327


REPRODUÇÃO ASSEXUADA No conjunto dos seres vivos, a reprodução nem sempre depende de dois indivíduos de sexos diferentes. A reprodução assexuada é comum em vegetais e microrganismos, ocorrendo com menor frequência entre os animais. No caso de microrganismos unicelulares, a reprodução assexuada é o processo mais comum: uma célulamãe dá origem a duas células-filhas. Populações de bactérias se formam rapidamente durante uma infecção por meio dessa forma eficiente e rápida de reprodução.

Os seres vivos provenientes de reprodução assexuada são todos iguais entre si e ao indivíduo de origem. Já os seres que nascem de reprodução sexuada possuem herança genética combinada do pai e da mãe, o que contribui para o aumento da diversidade entre os indivíduos

de uma mesma espécie. Essa diversidade de características dos organismos-filhos beneficia a preservação das espécies, pois, com a variedade da prole, é mais fácil haver aqueles com mais capacidade de sobreviver aos desafios do meio.

Dennis Sabo / Shutterstock

Ilustração digital: Luciano Tasso

A reprodução também é assexuada quando o ramo, a raiz ou outra parte de uma planta dá origem a um novo indivíduo. Pessoas que cultivam vegetais utilizam essa propriedade para a produção de mudas ou de novas safras. Entre alguns animais, um único organismo-mãe também pode dar origem a descendentes por meio da reprodução assexuada. Os zangões, por exemplo, desenvolvem-se a partir dos óvulos maternos, sem a participação de células masculinas. Em certas serpentes ocorre o mesmo: seus óvulos não precisam ser fecundados para dar origem à nova geração. Já no caso das esponjas do mar e das minhocas, uma parte separada do corpo do animal pode regenerar-se, formando um novo indivíduo.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Organismo unicelular se dividindo.

328

Ciências

Esponja do mar.


APLICAR CONHECIMENTOS II

1. No núcleo celular encontram-se as moléculas que fornecem informação para a produção de pro-

teínas. Como se chamam essas moléculas? 2. Por que o processo de produção de proteína pertence à herança genética? 3. Qual é o papel dos gametas em relação à herança genética? Dê exemplos de seres vivos que pro-

duzem gametas. 4. Faça um esquema sobre a fecundação em três etapas: antes, durante e depois do momento em que

um espermatozoide se funde a um óvulo fértil. 5. Compare a reprodução sexuada e assexuada considerando exemplos das duas formas de reprodu-

ção nos reinos dos seres vivos apresentados (bactérias, fungos, animais e vegetais).

CONHECER MAIS

Frutas e frutos As frutas que consumimos têm diferentes origens. O morango, por exemplo, é uma reunião de vários frutos bem pequenos com sementes ainda menores, que podemos identificar a olho nu. O abacaxi não é um fruto verdadeiro, pois não tem semente e resulta da fusão de flores. Há frutos verdadeiros que foram

selecionados artificialmente para ficar sem sementes, como o limão-taiti. E as bananas são um caso peculiar: suas flores femininas não se abrem, mas mesmo assim formam frutos. Os pequenos caroços pretos que vemos dentro das bananas correspondem a óvulos não fecundados.

A REPRODUÇÃO HUMANA Ilustração digital: Luis Moura

Durante uma relação estágio de 2 células sexual entre um homem e estágio de 4 células útero uma mulher, milhares de estágio de 8 células espermatozoides são expelidos no momento da ejaculação. Eles podem permanecer vivos no corpo da mulher por até três dias. embrião Vários espermatozoides vão ao encontro do óvulo, mas endométrio apenas um ultrapassa sua ovário implantação membrana protetora e realiza a fecundação (fertilizaFecundação de um óvulo. ção). Esse encontro geralFonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.) mente ocorre em uma das tubas uterinas, depois de o óvulo maduro ter sido liberado pelo ovário. Forma-se assim a chamada célula-ovo, que origina o embrião, o qual é carregado até o útero pelo movimento dos cílios que revestem a tuba uterina. 8º ano

fertilização

óvulo

329


A GESTAÇÃO Três semanas após a fecundação, quando se fixa na parede do útero, o embrião começa a ser nutrido pela placenta, por meio do cordão umbilical. Alguns testes de gravidez são baseados na medida de um hormônio que começa a ser produzido quando o óvulo fecundado já começou a se desenvolver e se instalou no útero. Esse hormônio (chamado gonadotrofina coriônica) é produzido em quantidade tão grande que o excesso é eliminado pela urina. Quando ele está presente na urina, o teste é considerado positivo.

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA A idade considerada adequada para a gravidez está relacionada à cultura de cada sociedade. No Brasil do século passado, por exemplo, a faixa etária entre 12 e 18 anos não tinha o caráter de passagem da infância para a vida adulta, e as adolescentes eram consideradas aptas para o casamento e para a procriação. Atualmente, a nossa sociedade considera que adolescentes e adultos jovens estão numa fase de desenvolvimento psicológico e social, de formação escolar e de preparação profissional. Considera-se que é preciso atingir a maioridade, terminar os estudos, ter trabalho e rendimentos próprios para só então estabelecer uma relação amorosa duradoura e ter filhos. A gravidez e a maternidade ou a paternidade na adolescência rompem essa trajetória considerada “natural” e são vistas como um problema a ser evitado. Então, por que será que tantos adolescentes tornam-se mães e pais, nos dias de hoje, em nosso país? Uma pesquisa sobre o comportamento sexual dos brasileiros revelou que a idade média para o início do relacionamento sexual é 15 anos. O uso da camisinha entre adolescentes brasileiros está crescendo bastante, principalmente para prevenir a aids. Mesmo assim, muitas adolescentes ainda têm dificuldade para negociar o uso do preservativo com seus parceiros. Por outro lado, a gravidez pode ser desejada, associada ao desejo de conquistar autonomia, espaço no mundo adulto e valorização social. Nas situações em que a gravidez não é desejada, será que os adolescentes não estão conseguindo ter acesso aos métodos contraceptivos? Ou será que não têm informações corretas sobre o seu uso antes de começar a ter relações sexuais? DEBATER III

Participe de um debate com sua turma, procurando apresentar argumentos relativos às questões a seguir. 1. De quem é a responsabilidade por prevenir uma gravidez não desejada: da mulher, do homem ou

de ambos? 2. O que é necessário para que adolescentes possam exercer o direito de ter ou não ter filhos no

momento desejado? 330

Ciências


CONTRACEPÇÃO Contracepção quer dizer a ação voluntária de evitar a gravidez. Os métodos anteconcepcionais, ou contraceptivos, são recursos utilizados para isso. Todos eles buscam impedir a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Existem diversos métodos conhecidos, mas nenhum deles é perfeito; todos têm vantagens e desvantagens. Por isso, o método precisa ser escolhido de acordo com as características e a fase da vida da pessoa ou do casal. E deve ser responsabilidade de homens e mulheres. Mesmo com limitações, os métodos existentes permitem a escolha do momento de ter filhos desejados. Isso não quer dizer que sejam 100% seguros. Todos podem falhar, mesmo que a chance seja muito pequena.

MÉTODOS NATURAIS (OU DE COMPORTAMENTO)

1o dia Menstruação

16o dia Ovulação

30o dia Fim do ciclo

Ilustração digital: Luiz Moura

Esses métodos consistem na abstinência sexual durante o período fértil da mulher. A diferença entre esses métodos está na forma de observar o ciclo para prever o período fértil.

14 dias

descamação do endométrio

óvulo na tuba

Esquema representando um ciclo menstrual de 30 dias

Fonte: Elaborado pelos autores. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

O período que vai da ovulação até a menstruação é de catorze dias. Como o óvulo pode viver cerca de 24 horas e os espermatozoides podem permanecer vivos no corpo da mulher por até três dias, considera-se que o período fértil começa quatro dias antes e termina quatro dias depois da ovulação. Se houver a fecundação, a menstruação seguinte não ocorre.

A tabelinha é o método de comportamento mais utilizado e baseia-se na abstinência sexual no período que vai desde quatro dias antes da ovulação até quatro dias depois. Mas como saber quando está acontecendo a ovulação? Sabemos que depois da ovulação, a mulher leva 14 dias para menstruar. Então o cálculo tem que ser feito de trás para frente. Outros métodos que podem ser citados são a temperatura basal, o muco cervical e o coito interrompido. Esse último consiste em retirar o pênis da vagina antes da ejaculação. A maioria das pessoas considera que essa prática prejudica a qualidade da relação sexual. O controle do momento preciso para a retirada do pênis pode ser difícil e, geralmente, causa tensão no casal durante o ato sexual. Quando a ejaculação ocorre perto da vagina, a mulher pode engravidar, mesmo que seja virgem. Alguns espermatozoides (assim como o vírus da aids) estão presentes no líquido eliminado pelo pênis antes da ejaculação. 8º ano

331


A (in)segurança dos métodos de comportamento Como se apoiam na abstinência periódica, todos os métodos de comportamento exigem muita motivação do casal, restrições ao comportamento sexual, disciplina e conhecimento do corpo por parte da mulher, além da observação do período fértil. Além de todas essas condições, é preciso que a mulher tenha um ciclo rigorosamente regular. E mesmo que tenha um ciclo regular, deve-se levar em conta que mudanças na vida causadas por emoções, enfermidades ou

viagens podem provocar alterações no funcionamento do organismo feminino. Por todos esses fatores, tais métodos falham com muita frequência. Não são seguros, especialmente para adolescentes, que geralmente ainda apresentam muita variação em seus ciclos ovulatórios e menstruais. É importante lembrar que nenhum dos métodos de comportamento protege contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST) ou a aids.

MÉTODOS MECÂNICOS (OU DE BARREIRA) São vários os tipos de barreiras físicas usadas para impedir a passagem dos espermatozoides para dentro do corpo da mulher, evitando seu encontro com um óvulo. Preservativos masculino e feminino

B. BoissonNet/BSIP/Imageplus

Também conhecido como condom ou camisa de vênus, o preservativo masculino é um envoltório de borracha fina colocado no pênis para recolher o esperma durante a relação sexual. É considerado um método muito seguro, pois, além de ser eficaz na prevenção da gravidez, é o único método que previne a transmissão das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e aids. O preservativo feminino também cumpre essa função, mas ainda é caro e de difícil acesso. A camisinha é a maneira mais fácil e eficiente de impedir o contato com sangue, esperma e secreção vaginal, fluidos que podem transmitir DST e aids. Ela deve ser usada em todas as relações sexuais, desde o início da vida sexual. Verifique sempre a data de validade da camisinha na embalagem. Para guardá-la, prefira locais frescos e secos. Caso fique por muito tempo na carteira ou na bolsa, por exemplo, a camisiÀ esquerda, a camisinha masculina. À direita, a camisinha feminina: um tubo de poliuretano que possui dois anéis flexíveis. Um deles fica dentro do tubo nha pode perder a validade e romper para facilitar a colocação no fundo da vagina e o outro protege os grandes lábios, do lado de fora da vagina. quando usada. 332

Ciências


Como usar corretamente o preservativo Tirando o preservativo Abra a embalagem com cuidado – nunca com os dentes – para não furar o preservativo. Coloque o preservativo somente quando o pênis estiver ereto.

Ilustrações digitais: Luis Moura

Colocando o preservativo

Após a ejaculação, retire o preservativo com o pênis duro. Feche a abertura com a mão para evitar o vazamento do esperma.

Dê um nó no meio do preservativo e jogue-o no lixo. Nunca use o preservativo mais de uma vez. Usar o preservativo duas vezes não previne contra doenças e gravidez.

Desenrole o preservativo até a base do pênis, mas antes aperte a ponta para retirar o ar. Use sempre preservativo lubrificado. Caso queira maior conforto, use apenas gel lubrificante à base de água (principalmente na relação anal). Não utilize vaselina e outros lubrificantes à base de óleo.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia)

Dicas de segurança • Confira a data de validade na embalagem do preservativo. • Nunca utilize dois preservativos ao mesmo tempo, pois o atrito entre eles pode provocar sua ruptura. • Se o preservativo romper durante a relação, retire o pênis imediatamente e coloque uma nova.

Outro método de barreira bastante seguro, mas ainda relativamente pouco usado no Brasil é o diafragma. Trata-se de uma meia esfera de borracha fina e flexível que é introduzida na vagina para cobrir a entrada do útero e impedir a passagem dos espermatozoides. O diafragma é encontrado em vários tamanhos: sua medida precisa ser tomada por um médico ou outro profissional preparado. Ele é colocado antes da relação sexual e retirado depois de no mínimo seis horas. Após cada uso, deve ser lavado e guardado limpo e seco. Assim, poderá ser usado muitas vezes e por alguns anos, desde que esteja íntegro.

Eduardo Knapp/Folhapress

Diafragma

Diafragma: pequena capa de borracha ou de silicone introduzida pela mulher na vagina antes de cada relação sexual, obstruindo o colo do útero.

8º ano

333


CONHECER MAIS

Vantagens e desvantagens dos métodos de barreira A grande vantagem dos métodos de barreira é que não interferem no funcionamento do organismo e raramente produzem efeitos indesejados (como alergias à borracha). O preservativo e o diafragma são muito eficazes quando usa-

dos corretamente. Sua desvantagem: precisam ser utilizados em todas as relações sexuais. A camisinha é o único método associado ao sexo seguro, porque oferece dupla proteção: contra a gravidez não desejada e contra as DST e a aids.

MÉTODOS HORMONAIS Anticoncepcionais orais (pílulas)

São medicamentos à base de hormônios sexuais. Existem diversos tipos de pílulas que variam de acordo com o tipo e a quantidade de hormônios que contêm. Por isso, uma pílula que é eficiente e adequada para uma mulher pode ser imprópria e causar efeitos indesejados em outras. Cada mulher deve escolher a pílula que usará com o médico e, se for preciso, trocá-la até encontrar o tipo mais adequado. Os comprimidos devem ser tomados todos os dias, de preferência na mesma hora. Os hormônios contidos nos anticoncepcionais orais podem impedir a ovulação e alterar o muco, dificultando o acesso dos espermatozoides às tubas uterinas. Podem também causar alguns efeitos indesejáveis, como náuseas, vômitos, aumento de peso e de sensibilidade nos seios. Existem também anticoncepcionais injetáveis, que têm o mesmo efeito das pílulas. As injeções devem ser aplicadas uma vez por mês, a cada três ou seis meses, dependendo do tipo e da quantidade de hormônios que contêm.

Chassenet/BSIP/Imageplus

Dispositivo intrauterino (DIU)

O DIU é um pequeno objeto feito de material flexível, envolvido em cobre, podendo ter diversos formatos. Ele é colocado dentro do útero pelo médico ou outro profissional qualificado, quando a mulher está menstruada. O DIU evita a gravidez pela ação do cobre sobre a vitalidade e a movimentação dos espermatozoides. Quando está no útero, o DIU também altera o muco e a movimentação das tubas uterinas, impedindo a fixação de algum óvulo que venha a ser fecundado. É um método bastante DIU, dispositivo intrauterino: pequena peça eficaz, sendo indicado preferencialmente para mulheres com hastes de cobre ou polietileno, inserido que já tiveram filhos. dentro do útero por um profissional habilitado. Dificulta a fecundação principalmente pela ação A principal vantagem do DIU, além da eficácia, é que espermicida do cobre. pode ser mantido no útero por vários anos, sem que seja necessária nenhuma outra medida para evitar a gravidez. Entre suas desvantagens, as mais importantes são: para muitas mulheres provoca aumento do fluxo menstrual e pode facilitar a ocorrência de infecções. 334

Ciências


CONHECER MAIS

Vantagens e desvantagens dos métodos hormonais Os métodos hormonais são muito eficientes para evitar a gravidez, pois oferecem eficácia próxima de 100%. Por outro lado, interferem no funcionamento do organismo, alterando o ciclo ovulatório e outras funções reguladas pelos hormônios sexuais. O uso de hormônios pode ser contraindicado e perigoso para mulheres

que têm certos problemas de saúde, como dificuldade de circulação. Além disso, mulheres que fumam e fazem uso desses anticoncepcionais correm risco muito maior de sofrerem doenças vasculares, como derrames. É essencial que as pílulas e injeções hormonais sejam utilizadas com acompanhamento médico.

MÉTODOS CIRÚRGICOS Ligadura de trompas ou laqueadura

Ilustração digital: Luis Moura

Nesse método, considerado definitivo, as tubas uterinas (antigamente chamadas de trompas de Falópio), canais de passagem do óvulo, são amarradas e cortadas. Os óvulos continuam amadurecendo, mas, como não há passagem, não são alcançados pelos espermatozoides. O Brasil é campeão mundial em esterilizações femininas, realizadas, às vezes, muito precocemente.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Laqueadura: secção das tubas uterinas.

Vasectomia

É a esterilização masculina, realizada mediante uma pequena cirurgia, na qual os canais deferentes, por onde passam os espermatozoides no caminho para a saída do pênis, são amarrados e cortados. Dessa forma, essas células reprodutoras 8º ano

335


Ilustração digital: Luis Moura

não passam para o líquido que é eliminado na ejaculação. Na cirurgia, usa-se anestesia local e a recuperação é rápida, não sendo necessária internação hospitalar. A vasectomia não interfere na produção dos hormônios masculinos nem no desempenho sexual. Assim como a ligadura de trompas, é considerada um método definitivo. Mas já estão sendo desenvolvidas e aplicadas técnicas para restabelecer a passagem nos canais deferentes.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Vasectomia: corte dos canais deferentes.

QUANDO OS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS FALHAM Apesar de todo cuidado, às vezes os métodos adotados para evitar a gravidez podem falhar. Quando isso ocorre, ainda é possível evitar uma gravidez não desejada. Contracepção de emergência (a pílula do dia seguinte)

É um método hormonal indicado para situações em que outro método tenha falhado ou quando há risco de gravidez em consequência de violência sexual (estupro). Um exemplo de indicação para seu uso é o rompimento da camisinha. A pílula do dia seguinte não é um método abortivo, porque não interrompe uma gravidez já estabelecida. Atua impedindo a ovulação, a fecundação do óvulo ou sua fixação no útero, e provocando a menstruação. Para evitar a gravidez, esse método deve ser usado o mais rápido possível, no máximo até 72 horas depois da relação sexual desprotegida. A eficácia dos métodos contraceptivos de emergência é bem menor do que a dos métodos contraceptivos de uso regular como a camisinha, o diafragma, a pílula ou o DIU. Além disso, esses comprimidos contêm altas doses de hormônio e podem trazer alterações ao ciclo menstrual, enjoos e vômitos. A contracepção de emergência não substitui os métodos de uso regular e não protege contra as DST e a aids. 336

Ciências


APLICAR CONHECIMENTOS III

Utilizando as informações sobre os métodos anticoncepcionais conhecidos, escolha um dos métodos descritos e escreva vantagens e desvantagens do método escolhido.

PESQUISAR

Entre os seres humanos, existe a possibilidade de escolher entre ter ou não ter filhos ao manter relações sexuais. Essa oportunidade de escolha faz parte dos direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e homens. Entreviste diferentes pessoas sobre o uso de métodos anticoncepcionais. Algumas questões que podem ajudar na entrevista: • Qual é o método anticoncepcional mais usado por você? • Quais são os métodos que gostaria de conhecer melhor? • O uso desse método anticoncepcional foi decidido de que maneira?

Se houver entrevistados que estão em idade fértil e optam por não usar anticoncepcionais, investigue as causas dessa escolha. Depois, debata os resultados da entrevista com seus colegas de classe. CONHECER MAIS

O aborto No Brasil, o aborto é uma prática proibida, exceto em casos especiais, quando há risco de vida para a mãe ou quando a gravidez é consequência de um ato de violência contra a mulher. Como o procedimento é ilegal, torna-se difícil saber o número de abortos realizados no país. Mas as complicações que resultam de abortos inseguros, feitos em condições precárias de higiene, levam um número muito grande de mulheres aos pronto-socorros todos os dias. E muitas delas vêm a falecer. As complicações e as mortes decorrentes de abortos feitos de forma insegura mostram que, no

Brasil, o aborto é praticado por milhares de mulheres e é um grande problema de saúde Nos países em que o aborto é legal nas primeiras semanas da gravidez, ele é realizado por profissionais de saúde, em boas condições de higiene, e não traz os mesmos riscos à vida e à saúde da mulher. Mas em nenhum lugar do mundo ele é considerado um método anticoncepcional. É um recurso de retaguarda, em caso de falha do método contraceptivo em uso e, nesses países, sua utilização para a interrupção da gravidez é uma opção pessoal. As estimativas vão de 750 mil a 1,4 milhão de abortos realizados por ano no mundo.

DEBATER IV

Em grupo, leia o trecho a seguir e discuta as questões. Depois, debata o tema com toda a turma. A primeira coisa de que não se pode esquecer, quando se fala de violência sexual, é que estupro não tem nada a ver com sexo. Estupro é pura violência. SOCIEDADE Brasileira para o Progresso da Ciência. Sexualidade: desejo e cultura. Ciência Hoje na Escola. São Paulo: Global; SBPC, v. 2, 2000, p. 53.

1. Quais são as formas de violência sexual mais comuns em seu meio social? 8º ano

337


2. Quem são as vítimas desse tipo de violência? 3. A violência sexual pode ocorrer por meio de palavras, atitudes e gestos? Explique. 4. O que podemos fazer para prevenir esse tipo de violência? Que medidas cabem a todos e quais

são as responsabilidades das instituições da sociedade?

VIOLÊNCIA SEXUAL Ao contrário do que se costuma imaginar, a maior parte dos casos de violência sexual não é praticada por tarados e psicopatas que atacam mulheres desconhecidas em lugares desertos. Tanto no Brasil como em outros países, as pessoas que praticam violência sexual são quase sempre conhecidas da vítima e até parentes próximos, como pai, padrasto, tio, o próprio marido ou um vizinho. Frequentemente, mas nem sempre, as vítimas são do sexo feminino, e muitas delas são menores de idade. Os casos de violência sexual raramente são denunciados, seja por medo, seja por motivos afetivos. A violência sexual é um dos graves problemas sociais de nosso país. A legislação brasileira garante os direitos sexuais e prevê medidas de proteção para as vítimas de todas as formas de violência sexual. Mas as vítimas, muitas vezes, não conhecem seus direitos ou os caminhos para buscar proteção. Muito lentamente, essas leis estão sendo colocadas em prática. Cabe a todos os municípios, por exemplo, instalar conselhos tutelares e conselhos de direitos da infância e da adolescência, que têm a responsabilidade de proteger crianças e adolescentes vítimas de todos os tipos de violência. Já foram criadas muitas delegacias da mulher e organizações não governamentais voltadas para a proteção das vítimas de violências. Para preveni-las, é preciso que aconteça, ao mesmo tempo, uma grande transformação cultural. Ainda hoje, muitas mulheres não denunciam situações de violência porque vivem um grande conflito quando são vítimas de seu próprio parceiro, por exemplo. Em outros casos, as mulheres temem ser consideradas responsáveis pela violência sexual cometida contra elas, ou seja, têm receio de serem acusadas de terem facilitado ou mesmo motivado a agressão.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Defina, com suas palavras, o que é violência sexual.

338

Ciências


2. Quais são as dificuldades que a sociedade tem encontrado para enfrentar esse problema?

CONHECER MAIS

Direitos humanos, sexuais e reprodutivos Os direitos sexuais e os direitos reprodutivos fazem partes dos Direitos Humanos Básicos. Dizem respeito a muitos aspectos da vida: o poder sobre o próprio corpo, a saúde, a liberdade para a vivência da sexualidade, a maternidade e a paternidade. Mas podemos dizer que dizem respeito, antes de mais nada, à cidadania e aos acordos para a vida em sociedade, para reduzir as violações à autonomia pessoal, integridade física e psicológica e garantir os meios necessários para cada ser humano alcançar seu bem-estar sexual e reprodutivo. Direitos reprodutivos são os direitos básicos de todo casal e toda pessoa de escolher o número de filhos(as), o espaçamento entre um e outro; a oportunidade de ter filhos(as), de ter informação e meios de assim o fazer, gozando dos mais elevados padrões de saúde sexual e reprodutiva. Veja a seguir alguns desses direitos: • Mulheres e homens têm direito de decidir livre e conscientemente se querem ou não ter filhos, em que momento de suas vidas, e quantos filhos desejam ter. • Mulheres e homens têm direito de tomar decisões sobre a reprodução, livres de discriminação, coerção ou violência.

• Mulheres e homens têm direito de participar com iguais responsabilidades na criação dos(as) filhos(as). Direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos. Incluem os direitos de: • Viver a sexualidade sem medo, vergonha, culpa, falsas crenças e outros impedimentos à livre expressão dos desejos. • Viver a sexualidade independente do estado civil, idade ou condição física. • Escolher o(a) parceiro(a) sexual sem discriminações e com liberdade e autonomia para expressar a orientação sexual. • Viver a sexualidade livre de violência, discriminação e coerção, e com respeito pleno pela integridade corporal do(a) outro(a). • Praticar a sexualidade independentemente de penetração ou reprodução. Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Cadernos de Atenção Básica, n. 26.) Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/ cadernos_ab/abcad26.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2012.

APLICAR CONHECIMENTOS V

1. Quais são as menores estruturas constituintes de órgãos e sistemas do corpo humano? Essas es-

truturas têm semelhanças e têm diferenças? Quais são elas? 2. Dizemos que as células possuem formas que as ajudam a realizar suas funções. Dê exemplos desse

fato. 3. De que modo os bilhões de células do corpo humano se mantêm integradas? 4. O que são hormônios? Dê exemplos considerando a glândula produtora, o nome ou a ação do

hormônio por ela produzido. 8º ano

339


5. Conforme se afirma no capítulo, a sexualidade envolve muito mais do que o sexo, sendo uma ca-

racterística específica do ser humano. Indique as características da atividade sexual humana que a diferenciam da de todos os outros animais. 6. Descreva o momento da fecundação considerando as características dos gametas e a herança

genética na célula-ovo. 7. O que são métodos contraceptivos ou anticoncepcionais? Dê exemplos.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Sites

Jairo Bouer

Essa página da internet, dirigida a adolescentes e jovens, é dedicada à educação em saúde e sexualidade, incluindo notícias, enquetes e uma seção de perguntas e respostas. Disponível em: <http://doutorjairo.uol.com.br>. Acesso em: 14 nov. 2012.

Instituto Papai

ONG que atua com base em princípios feministas e defende a ideia de que uma sociedade justa é aquela em que homens e mulheres têm os mesmos direitos. Essa organização desenvolve atividades voltadas para promover o envolvimento dos homens jovens na promoção dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos e produz vídeos, livros e manuais. Diversos materiais podem ser acessados on-line. Disponível em: <www.papai.org.br>. Acesso em: 14 nov. 2012.

Dermatologia na Pele Negra Disponível em: <www.portaleducacao.com.br/estetica/artigos/4654/dermatologia-na-pele-negra>. Acesso em: 14 nov. 2012.

Filme

Minha Vida de João

Desenho animado sem palavras que acompanha a vida de João e ilustra aspectos de uma educação sexista, situações de violência doméstica, primeira experiência sexual, gravidez de sua namorada, primeiro emprego, entre outras histórias da vida de muitos homens jovens. Produção: ECOS, Instituto PAPAI, Instituto Promundo. Brasil. 2001. 23 min.

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Ciências


Capítulo CIÊNCIAS

2

As doenças sexualmente transmissíveis, a aids e o sistema imunitário

O laço vermelho é o símbolo da luta contra a aids. Ele representa a solidariedade e está presente em quase todas as campanhas de conscientização e combate à doença. Na foto, ele aparece decorando o Edifício Terraço Itália, localizado no centro de São Paulo (SP), em dezembro de 2011.

Joel Silva/Folhapress

No ano de 1980, uma doença nova surgiu no mundo. Logo se percebeu que ela era causada por um vírus até então desconhecido e que podia ser transmitida por meio de uma relação sexual. Essa doença recebeu o nome de aids e rapidamente tornou-se uma pandemia, isto é, uma epidemia que atinge vários países e continentes. Nesse capítulo, você poderá aprender mais sobre a infecção pelo HIV, a aids e as demais doenças sexualmente transmissíveis. Poderá, também, conhecer o funcionamento do sistema de defesa do organismo contra essas e outras infecções. 8º ano

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RODA DE CONVERSA

1. Quem pode pegar uma doença sexualmente transmissível (DST) ou aids? Complete as frases a seguir. a) Mulheres que... b) Homens que... c) Qualquer pessoa que... d) Crianças que... 2. Compartilhe com seus colegas as frases que você escreveu e veja se todos estão de acordo sobre as

formas de transmissão das DST e da aids.

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são causadas por microrganismos que passam diretamente do corpo de uma pessoa a outra por meio da relação sexual. Uma única relação sexual pode ser suficiente para a transmissão de uma doença de um homem para uma mulher, de uma mulher para um homem ou entre pessoas do mesmo sexo. Observe as duas listas a seguir, sobre os modos de transmissão de DST. Doenças sexualmente transmissíveis Assim pega

Assim não pega

• Sexo vaginal sem camisinha. • Sexo anal sem camisinha. • Sexo oral sem camisinha (ou, no caso da mulher, sem uma barreira de proteção, que pode ser feita com um filme plástico). • Uso da mesma seringa ou agulha de injeção por mais de uma pessoa. • Transfusão de sangue contaminado. • Mãe infectada pode passar o HIV para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação. • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

• Sexo, desde que se use corretamente a camisinha. • Masturbação a dois. • Beijo no rosto ou na boca. • Suor e lágrima. • Picada de inseto. • Aperto de mão ou abraço. • Talheres/copos. • Assento de ônibus. • Piscina, banheiros. • Pelo ar. • Doação de sangue. • Sabonete, toalha, lençóis.

Fonte: Biblioteca virtual em saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/153assim_pega_assim_nao_pega.html>. Acesso em: 1 mar. 2013. (Adaptado.)

LER TEXTO LITERÁRIO

Desde a década de 1990, a epidemia de aids está crescendo mais entre as mulheres que entre os homens no Brasil. Entre adolescentes, 60% dos casos novos de aids atingem pessoas do sexo feminino. Isso está gerando a necessidade de incentivar as mulheres a ficarem atentas para as medidas de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, tomando iniciativas para garantir sua proteção e a de seus parceiros e filhos. O “Cordel das DST” é uma expressão cultural voltada para esse propósito. Leia-o 342

Ciências


Cordel das DST Minha amiga, minha ouvinte, Um recado para você Agora vou te contar O que é DST

Mata homem, mata mulher, Mata moça, mata criança E enquanto a cura não tem Não se mata a esperança.

Parece complicado Mas nada é tão impossível DST é doença Sexualmente transmissível

Na hora da injeção Peça uma agulha novinha Essa já é condição Pra continuar bem vivinha.

Gonorreia, cancro mole, Sífilis, crista de galo, Nomes feios e engraçados Se transmitem como eu falo:

Na hora da transfusão Exija sangue testado Crie muita confusão Se isso te for negado.

Você pega pelo homem Que pegou de outra pessoa E é melhor ficar atenta Que pegar, se pega à toa.

E na hora de ir pra cama É camisinha outra vez Pode ser com namorado, Amigo, noivo, freguês.

Pode ser uma coceira Ou ardência no lugar Pode ser um molhadinho Mais difícil de secar.

E se o cabra reclamar, Explique a situação, Branco, preto ou chinês, O negócio é dizer não.

Também pode ser ferida O modo que ela aparece E assim dá pra se ver Quando a doença acontece.

Se você desconfiar Que o marido te traiu Manda ele usar camisinha Sabe lá com quem saiu?

Tudo isso aborrece Mas se pode controlar Consultando o doutor Sem vergonha de mostrar.

Ele pode ter doença E você não quer pegar Por maior que seja a crença Não resolve só rezar.

Melhor mesmo é prevenir Do que só remediar E é usando a camisinha Que a coisa chega pra lá. Se o homem não quiser Você deve dizer não Vá embora pro seu canto E deixa ele ficar na mão. Sua vida é importante Pode me acreditar Nem segundo, nem instante, Não deixe de se cuidar. Assim fica bem melhor Com o que eu vou te revelar Tem a aids que é pior Porque essa é de matar.

Agora você já sabe O jeito é prevenir Seguro morreu de velho E a vida tem de seguir. E pro rumo continuar Do jeito que a gente quer Tem que ter muita coragem E orgulho de mulher. Amiga, não vá já não, Não precisa ficar brava A aids não pega na mão No beijo ou na palavra. Se você conhece alguém Que tenha a enfermidade Seja amiga e vá além Dê a solidariedade. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Cordel das DST [s/d].

8º ano

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1. Quais são as DST citadas no texto? 2. Quais são as sugestões apresentadas às mulheres para que elas se previnam das DST e da aids?

3. De acordo com o cordel, quais são as formas de contato que não transmitem aids?

COMO SABER SE TEMOS UMA DST? Muitas pessoas com uma DST ou com o vírus da aids não apresentam nenhum sintoma e, sem saber, transmitem essas doenças quando mantêm relações sexuais. Por isso, é importante a realização do acompanhamento médico anual. Quando desconfiam que têm uma DST, algumas pessoas tomam remédios por conta própria ou fazem tratamentos indicados em farmácias, às vezes por vergonha ou dificuldade de consultar um médico. Isso pode aumentar ainda mais o risco de complicações e de transmissão da doença, pois, frequentemente, não se usa o medicamento correto ou não se segue o tratamento até o fim. A automedicação e o uso de remédios errados podem não levar à cura e, assim, a cadeia de transmissão das doenças não é interrompida.

DEBATER

Você sabe quais são os sinais das DST? Eles são iguais para mulheres e homens? Faça uma lista dos sinais conhecidos por você e seus colegas antes de continuar a leitura. Assim, poderá conferir o que sabe sobre essas doenças.

SINAIS E SINTOMAS DAS DST • Feridas (úlceras): aparecem nos órgãos genitais ou em qualquer parte

do corpo. Em alguns casos, essas úlceras podem doer. • Corrimentos: aparecem no homem e na mulher, no canal da uretra, vagina ou ânus. Podem ser esbranquiçados, esverdeados ou amarelados, como pus. Alguns têm cheiro forte e ruim. As mulheres costumam ter uma umidade vaginal de cor clara ou transparente que tem cheiro e 344

Ciências


• • • •

varia de quantidade conforme a pessoa, ficando mais intensa durante a excitação sexual. Isso é normal e não deve ser confundido com os corrimentos provocados por doenças sexualmente transmissíveis. Dor ao urinar ou durante a relação sexual. Verrugas. Ardência ou coceira, principalmente ao urinar ou nas relações sexuais. Dor e mal-estar abaixo do umbigo (na parte baixa da barriga) ao urinar, evacuar ou nas relações sexuais.

Todas as pessoas que descobrem ter uma DST precisam informar a(s) pessoa(s) com quem mantiveram relações sexuais, pois elas também podem precisar do tratamento. Essa é a única forma de interromper a cadeia de transmissão dessas doenças. Quando não são tratadas, as DST podem desaparecer por algum tempo, tornando-se difícil saber se foram curadas ou não. São doenças graves, que podem causar alguns tipos de câncer, esterilidade (incapacidade de gerar filhos), aborto, nascimento de bebês prematuros ou até a morte. Além disso, quando a mulher que tem uma DST fica grávida, a transmissão para a criança pode causar graves problemas de saúde no feto, como deficiência física ou mental. Uma pessoa com uma DST também tem mais chances de pegar outras, inclusive aids. Apesar de ainda serem muito frequentes, as doenças sexualmente transmissíveis podem ser completamente evitadas, pois os tratamentos conhecidos são eficazes para curar ou pelo menos controlar sua evolução e diminuir as chances de transmissão para outras pessoas. E lembre-se: o uso do preservativo protege contra todas as doenças de transmissão sexual.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. O que a mulher pode sentir quando tem uma DST? 2. Como pode ser interrompida a cadeia de transmissão das DST? Explique com suas palavras e

acrescente informações que considerar importantes.

AIDS, UMA DST ESPECIAL A aids ou sida (sigla de síndrome da imunodeficiência adquirida) tornou-se conhecida a partir da década de 1980 e rapidamente se alastrou por todos os continentes. Trata-se de uma DST provocada por um vírus que ataca os linfócitos – células do sangue especializadas na produção de anticorpos, os quais combatem as infecções. Por isso, a pessoa que tem aids fica com baixas defesas orgânicas para responder a outros vírus, bactérias ou fungos. 8º ano

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VIVER COM O HIV E SEM AIDS Desde o início da epidemia, já foram diagnosticados mais de 600 mil casos de aids no Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde em 2012. Uma das dificuldades do controle da epidemia é que o vírus pode ter um longo período de incubação, que corresponde ao intervalo de tempo entre a infecção e o aparecimento da doença. Durante anos, a pessoa infectada pode não apresentar nenhum sintoma, embora possa transmitir o vírus em relações sexuais ou no compartilhamento de seringas. É por isso que estão sendo feitas tantas campanhas de incentivo à realização do teste do HIV. O diagnóstico precoce da infecção é muito importante para evitar as complicações, o principal problema dessa doença. Com o tratamento, a pessoa que tem a infecção pode melhorar muito sua resistência, evitando ou retardando o aparecimento da doença. O resultado é que hoje muitas pessoas vivem com o HIV, cuidam-se e não desenvolvem a aids. Ainda não existe cura para a aids, nem vacina que a previna. Mas o uso de diversas drogas combinadas tem contribuído muito para a diminuição dos problemas de saúde dos portadores do vírus. Com o uso desses medicamentos, apesar de seus efeitos colaterais indesejados, o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV melhoraram bastante. Graças a isso, estamos vendo crescer uma geração de crianças e jovens que estão resistindo à infecção sem apresentar os sintomas mais graves da doença. No entanto a melhor forma de proteção ainda é a prevenção. Está cada vez mais claro que não se trata de uma doença que atinge apenas certos grupos de pessoas. A prevenção e a solidariedade tornaram-se um assunto de todos. Para mobilizar as pessoas para prevenção e tratamento, o Ministério da Saúde desenvolve a campanha Fique Sabendo. Obtenha mais informações no site www. aids.gov.br/fiquesabendo. Acesso em: 1 mar. 2013.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Por que é tão importante incentivar as pessoas a fazer o teste de HIV? 2. Saber que tem a infecção, mesmo que não tenha manifestado a doença, pode trazer benefícios à

pessoa? Explique. 3. Você conhece serviços de saúde onde é possível fazer esse teste gratuitamente e de forma sigilosa?

A RESPOSTA BRASILEIRA A ESSA PANDEMIA O Brasil foi um dos países mais atingidos pela epidemia da aids. Entretanto, desde o aparecimento dos primeiros casos da doença, iniciou-se uma grande mobilização nacional e um amplo programa de saúde para enfrentar a epidemia em diversas frentes: campanhas de prevenção, realização gratuita dos testes para o diagnóstico, 346

Ciências


garantia do tratamento para todos os portadores do vírus no Sistema Único de Saúde (SUS), distribuição de seringas aos usuários de drogas injetáveis etc. As ações para enfrentar o preconceito e incentivar a solidariedade em relação às pessoas que adquiriram o HIV também foram e continuam sendo muito importantes. Criaram-se centenas de organizações não governamentais em torno dessa luta e ainda estão ocorrendo grandes batalhas internacionais para romper os monopólios de algumas indústrias farmacêuticas sobre a produção dos remédios essenciais para o tratamento. Testes e medicamentos passaram a ser oferecidos nos serviços públicos e novas leis foram aprovadas para a proteção dos portadores do HIV, principalmente na escola e no trabalho. Mais recentemente, a testagem para o HIV no pré-natal e o tratamento das gestantes infectadas fizeram com que a transmissão vertical (da mãe para o bebê) diminuísse de forma drástica em nosso país. Todas essas ações combinadas serviram de exemplo para outros países em todo o mundo. No Brasil, a epidemia foi controlada, mas não desapareceu. Com o maior acesso à prevenção, à testagem e ao tratamento, muitas pessoas infectadas podem controlar o desenvolvimento da doença. Mas a aids continua afetando pessoas que vivem em todos os cantos do país e ainda exige a adoção de medidas de prevenção por parte de toda a população. Os desafios para o sistema público de saúde continuam crescendo, em razão do grande número de pessoas vivendo com o HIV e da necessidade de garantir a participação de toda a sociedade civil na resposta à epidemia. PARA REFLETIR I

Quando foram identificados os primeiros casos de aids, nos anos 1980, a doença foi associada aos homossexuais e à promiscuidade, isto é, ao relacionamento sexual com diversos parceiros. Isso fez com que ela fosse considerada uma doença restrita a certos grupos da população, como profissionais do sexo, homossexuais e usuários de drogas injetáveis. Essa ideia só reforçou os preconceitos e gerou a falsa noção de que as demais pessoas não tinham chances de adquirir a doença. Tal crença acabou contribuindo para alastrar a epidemia de aids entre mulheres e homens heterossexuais, jovens e crianças de todos os grupos sociais e graus de instrução, moradores de grandes centros urbanos e de cidades pequenas, pessoas com diferentes estilos de vida e costumes sexuais. Mais de trinta anos depois do aparecimento dos primeiros casos da doença, a situação da epidemia mudou bastante no Brasil. A infecção pelo HIV está crescendo entre as mulheres adolescentes ou adultas e casadas, inclusive muitas que só tiveram um parceiro sexual durante toda a vida. Está aparecendo cada vez mais, também, em pessoas idosas. Entretanto, muita gente ainda acha que a aids é um problema que só afeta “os outros”. Por que essa doença ainda é cercada de preconceito? De que formas o preconceito está prejudicando toda a sociedade?

8º ano

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PARA CRIAR

Suponha que você seja um funcionário do serviço de saúde pública e tenha de elaborar um cartaz para uma campanha de prevenção da aids, que será distribuído para as turmas de EJA das escolas de seu município. Faça isso em grupo, procurando incluir desenhos e dicas que você considerar mais importantes para as turmas de EJA. Quando terminarem, organizem uma exposição dos cartazes elaborados e procurem observar a reação das pessoas que visitarem a exposição. Os cartazes produziram o efeito desejado?

O SISTEMA IMUNITÁRIO HUMANO O organismo humano é dotado de um sistema de defesa contra microrganismos e toxinas que causam doenças ou intoxicações. Esse sistema funciona como um conjunto de barreiras, sendo a primeira delas a pele, que é o maior órgão do corpo. A camada mais externa da pele é constituída por células mortas que servem de alimento para inúmeros microrganismos que não podem transpô-la. Além disso, todos os orifícios do corpo são revestidos por um tecido mucoso, muito macio e rico em vasos sanguíneos, que produz ou recebe secreções capazes de combater os possíveis invasores. A lágrima e a saliva, por exemplo, possuem substâncias que eliminam algumas bactérias e por isso são consideradas antibióticas. Esse conjunto constitui a segunda barreira que protege o corpo humano. Contudo, agentes causadores de doenças podem penetrar no organismo através de, por exemplo, um corte na pele, do ar que respiramos ou da água e do alimento que ingerimos. Nesses casos, eles serão combatidos pelo sistema imunitário. No contato desses agentes com o sangue, entra em ação o exército das células brancas, ou leucócitos. Alguns tipos de leucócitos podem simplesmente “comer” os invasores; outros podem neutralizá-los lançando substâncias que tem ação específica contra os microrganismos, chamadas anticorpos. Quando tudo isso acontece em uma região específica do corpo, por exemplo, na pele ferida, ocorre a “resposta inflamatória”: a pele fica inchada, com líquido acumulado. O surgimento do pus, matéria morta que reúne restos de leucócitos e bactérias, comprova o combate. No caso da aids, o vírus da imunodeficiência humana ataca o próprio sistema imunitário. Assim, a pessoa se torna mais sujeita a doenças comuns, causadas por outros microrganismos, como tuberculose e alguns tipos de câncer que não afetariam os indivíduos com boa capacidade de resposta imunológica.

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Ilustrações digitais: Luis Moura

lâmina metáica

bactéria

células e líquidos se encaminham para o tecido

mensageiros químicos

fagócitos vaso sanguíneo

hemácia

glóbulo branco Fonte: ROBBINS, S. L. et al. Patologia estrutural e funcional. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1996, p. 77. (Adaptado.) (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Na primeira figura, vê-se a entrada de um material cortante na pele, que também carrega pequenas bactérias. Mensageiros químicos do corpo já são acionados. Na figura do meio, a área ferida já está cicatrizada e o combate pelas células brancas tem início, com sua saída do capilar sanguíneo para o tecido da pele, que está inchada pela acumulação de líquidos. Na última figura, a cicatrização vai cedendo lugar ao tecido são, enquanto os leucócitos completam sua função de eliminar bactérias.

A MEMÓRIA IMUNOLÓGICA Quando os agentes causadores de doenças penetram em nosso organismo, um conjunto de sinais químicos é disparado no interior do corpo, de modo que esses microrganismos são localizados e identificados. Caso a pessoa já tenha sofrido o mesmo tipo de infecção, as células do sistema imunitário terão memória para esses agentes, podendo rapidamente produzir os anticorpos para o combate. Algumas doenças ocorrem apenas uma vez na vida porque, quando acontece uma nova infecção, essa memória entra em ação e estimula o organismo a combater os microrganismos já conhecidos. É o caso da rubéola ou da poliomielite. Por meio da amamentação, as crianças também adquirem os anticorpos maternos, que as protegem enquanto seu sistema imunitário vai adquirindo repertório. As vacinas são feitas com vírus ou bactérias mortos ou vivos e modificados em laboratório, de forma a se tornarem capazes de ativar a resposta imunitária sem produzir a doença. Assim, o sistema imune da pessoa vacinada sabe fabricar os anticorpos específicos da doença quando a pessoa sofrer infecção pelo mesmo agente.

8º ano

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AS VACINAS DE JENNER E PASTEUR O médico inglês Edward Jenner (1749-1823) viveu a infância no campo. Notou que camponesas que ordenhavam vacas apresentavam pústulas na mão – bolhas na pele, muito doloridas, próprias de várias doenças virais, entre elas, a varíola. Era de conhecimento geral que elas não pegavam varíola, uma doença muito grave nos humanos. No Brasil, a varíola foi conhecida como bexiga, pois a pele do doente ficava coberta por pústulas e, depois, caso o doente sobrevivesse, elas deixavam muitas marcas na pele. Jenner fez pesquisas durante anos com animais e fez sua experiência decisiva em 1796. Ele retirou o conteúdo da pústula da mão de uma ordenhadora e injetoua no braço de um garoto de 8 anos. O menino nunca contraiu a varíola. Naquela época, os vírus eram desconhecidos e não se sabia como a vacinação funcionaria. Entretanto, isso não impediu Jenner de fazer as aplicações da vacina para prevenir a terrível doença. Ao mesmo tempo, estavam em andamento estudos com microscópios e os microrganismos começavam a ser investigados. Um grande estudioso de microrganismos e doenças associadas a eles foi o francês Louis Pasteur (1822-1895). Uma das doenças pesquisadas por Pasteur foi o antraz (ou carbúnculo), uma doença causada por bactéria, que afeta herbívoros – de criação ou selvagens – e o ser humano. Em humanos, atinge a pele, o sistema gastrointestinal ou os pulmões; neste último caso, é mortal para a maioria dos doentes. Pasteur enfraquecia os bacilos aquecendo-os lentamente até 42 °C. Em seguida, inoculava esses bacilos em ovelhas, que se tornavam resistentes à doença. Em 1881, o cientista realizou uma apresentação pública, separando as ovelhas em dois lotes. De um lado estavam as ovelhas vacinadas e do outro, as não vacinadas. Dois dias depois, as ovelhas do lote vacinado continuavam vivas e gozando de boa saúde, enquanto a maior parte do segundo lote já tinha morrido. APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Podemos dizer que nosso corpo possui barreiras contra a invasão de microrganismos ou substân-

cias estranhas. Quais são as duas primeiras barreiras? Como elas funcionam? 2. Se agentes patogênicos ou toxinas entram no corpo, são combatidos pelo sistema imunitário. De

quais formas acontece o combate? 3. Quando uma pessoa vai viajar para lugar onde há febre amarela endêmica, é necessário tomar

vacina com dez dias de antecedência. Por que tomar a vacina na véspera da viagem é ineficaz? 4. A memória imunitária só passa a existir quando tomamos vacinas? Explique. 5. Na história da vacina têm destaque os dois grandes cientistas citados no texto, entre outros que

contribuíram para essa saga da ciência. Sabe-se, contudo, que os chineses já aplicavam raspas de cicatrizes frescas de varicela na pele da pessoa sã, para obter a imunização. Esse procedimento se assemelha mais ao de Jenner ou ao de Pasteur? Justifique. 350

Ciências


PARA REFLETIR II

No Brasil, contamos com três tipos de calendário de vacinação. Um deles é destinado às crianças; outro, aos adolescentes; e o terceiro aplica-se a adultos e idosos. Consulte os calendários destinados a adolescentes, adultos e idosos para responder às questões. Calendário de vacinação do adolescente Idade

Vacina

11 a 19 anos

Dose

Doenças evitadas

Hepatite B1 vacina Hepatite B (recombinante)

Três doses

Hepatite B

Duplo tipo adulto (dT)2 vacina adsorvida difteria e tétano − adulto

Três doses e reforço a cada 10 anos

Difteria e tétano

Febre amarela3 vacina febre amarela (atenuada)

Uma dose a cada 10 anos

Febre amarela

Tríplice viral (SCR)4 vacina sarampo, caxumba e rubéola

Duas doses

Sarampo, caxumba e rubéola

Nota: Mantida a nomenclatura do Programa Nacional de Imunização e inserida a nomenclatura segundo a Resolução de Diretoria Colegiada–RDC no 61 de 25 de agosto de 2008 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Fonte: Portal da Saúde/Ministério da Saúde

Orientações importantes para a vacinação do adolescente 1. Vacina hepatite B (recombinante): administrar em adolescentes não vacinados ou sem comprovante de vacinação anterior, seguindo o esquema de três doses (0, 1 e 6) com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose. Aqueles com esquema incompleto, completar o esquema. A vacina é indicada para gestantes não vacinadas e que apresentem sorologia negativa para o vírus da hepatite B após o primeiro trimestre de gestação. 2. Vacina adsorvida difteria e tétano – dT (Dupla tipo adulto): adolescente sem vacinação anteriormente ou sem comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é de sessenta dias e no mínimo de trinta dias. Os vacinados anteriormente com três doses das vacinas DTP, DT ou dT, administrar reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Em caso de gravidez e ferimentos graves, antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada há mais de cinco anos. Ela deve ser administrada pelo menos vinte dias antes da data provável do parto. Diante de um caso suspeito de difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema de três doses. Nos comunicantes com esquema de vacinação incompleto, este dever completado. Nos comunicantes vacinados que receberam a última dose há mais de cinco anos, deve-se antecipar o reforço. 3. Vacina febre amarela (atenuada): indicada uma dose aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios desses estados, buscar as Unidades de Saúde.

8º ano

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No momento da vacinação, considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a vacina dez dias antes da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Precaução: A vacina é contraindicada para gestante e mulheres que estejam amamentando. Nestes casos buscar orientação médica do risco epidemiológico e da indicação da vacina. 4. Vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: considerar vacinado o adolescente que comprovar o esquema de duas doses. Em caso de apresentar comprovação de apenas uma dose, administrar a segunda dose. O intervalo entre as doses é de trinta dias. Disponível em:< http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=21463>. Acesso em: 4 jan. 2013.

Calendário de vacinação do adulto e do idoso Idade

Vacina

20 a 59 anos

60 anos e mais

Dose

Doenças evitadas

Hepatite B1 (grupos vulneráveis) vacina Hepatite B (recombinante)

Três doses

Hepatite B

Dupla tipo adulto (dT)2 vacina adsorvida difteria e tétano adulto

Uma dose a cada dez anos

Difteria e tétano

Febre amarela3 vacina febre amarela (atenuada)

Uma dose a cada dez anos

Febre amarela

Tríplice viral (SCR)4 vacina sarampo, caxumba e rubéola

Dose única

Sarampo, caxumba e rubéola

Hepatite B1 (grupos vulneráveis) vacina hepatite B (recombinante)

Três doses

Hepatite B

Febre amarela3 vacina febre amarela (atenuada)

Uma dose a cada dez anos

Febre amarela

Influenza sazonal5 vacina influenza (fracionada, inativa)

Dose anual

Influenza sazonal ou gripe

Pneumocócica 23-valente (Pn23)6 vacina pneumicócica 23-valente (polissacarídica)

Dose única

Infecções causadas pelo pneumococo

Dupla tipo adulto (dT)2 vacina adsorvida difteria e tétano adulto

Uma dose a cada dez anos

Difteria e tétano

Nota: Mantida a nomenclatura do Programa Nacional de Imunização e inserida a nomenclatura segundo a Resolução de Diretoria Colegiada – RDC no 61 de 25 de agosto de 2008 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Fonte: Portal da Saúde/Ministério da Saúde

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Ciências


Orientações importantes para a vacinação do adulto e idoso 1. Vacina hepatite B (recombinante): oferecer aos grupos vulneráveis não vacinados ou sem comprovação de vacinação anterior, a saber: Gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; trabalhadores da saúde; bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários; caminhoneiros, carcereiros de delegacia e de penitenciárias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; agentes funerários, comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue; homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo (HSH e MSM); lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT); pessoas reclusas (presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, dentre outras); manicures, pedicures e podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundido; profissionais do sexo/prostitutas; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas; portadores de DST. A vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para as pessoas imunodeprimidas e portadores de deficiência imunogênica ou adquirida, conforme indicação médica. 2. Vacina adsorvida difteria e tétano – dT (Dupla tipo adulto): adultos e idosos não vacinados ou sem comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é de sessenta dias e no mínimo de trinta dias. Os vacinados anteriormente com três doses das vacinas DTP, DT ou dT, administrar reforço, dez anos após a data da última dose. Em caso de gravidez e ferimentos graves antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada a mais de cinco anos. Ela deve ser administrada no mínimo vinte dias antes da data provável do parto. Diante de um acaso suspeito de difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema com três doses. Nos comunicantes com esquema incompleto de vacinação, este deve ser comple-tado. Nos comunicantes vacinados que receberam a última dose há mais de cinco anos, deve-se antecipar o reforço. 3. Vacina febre amarela (atenuada): indicada aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios destes estados, buscar as Unidades de Saúde. No momento da vacinação, considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a vacina dez dias antes da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Precaução: A vacina é contra indicada para gestantes e mulheres que estejam amamentando; nos casos de risco de contrair o vírus, buscar orientação médica. A aplicação da vacina para pessoas a partir de 60 anos depende da avaliação do risco da doença e benefício da vacina. 4. Vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: administrar uma dose em mulheres de 20 a 49 anos de idade e em homens de 20 a 39 anos de idade que não apresentarem comprovação vacinal.

8º ano

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5. Vacina influenza sazonal (fracionada, inativada): oferecida anualmente durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso. 6. Vacina pneumocócica 23-valente (polissacarídica): administrar uma dose durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso, nos indivíduos de 60 anos ou mais que vivem em instituições fechadas como: casas geriátricas, hospitais, asilos, casas de repouso, com apenas um reforço cinco anos após a dose inicial. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=21464>. Acesso em: 4 jan. 2013.

1. Você está se beneficiando das vacinas disponíveis para ativar o seu sistema imunitário de forma a

prepará-lo para agir em caso de infecção, evitando o aparecimento de doenças? 2. Conforme sua faixa etária, escolha um dos calendários anteriores para verificar se sua vacinação

está em dia. 3. Você conhece os serviços de saúde nos quais pode atualizar o seu esquema de vacinas?

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Por que a aids recebe o nome de “síndrome da imunodeficiência adquirida”? 2. Por que pessoas acometidas por uma DST podem mais facilmente adquirir outra DST ou serem

infectadas pelo HIV? 3. Indique ao menos cinco medidas que podem ser tomadas por toda a sociedade brasileira para

evitar que a aids continue sendo um grande problema de saúde pública.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Sexualidade

A coleção Ciência Hoje na Escola reúne os artigos publicados originalmente em Ciência Hoje das Crianças, que é dirigida também ao público jovem. Todos podem aproveitar seus textos de divulgação científica, em estilo jornalístico. SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA. Sexualidade: corpo, desejo e cultura. São Paulo: SBPC, 2001. (Ciência Hoje na Escola)

Sites

Departamento de DST, aids e hepatites virais

Um bom caminho para indicação de informações sobre sexualidade e prevenção das DST e da aids. Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em: 21 nov. 2012.

Promundo

Site de organização não governamental, cuja missão é promover masculinidades e relações de gênero não violentas e equitativas. Contém vídeos, livros e cartilhas especialmente destinados a homens jovens, incentivando o envolvimento de homens na paternidade e em papéis de cuidado. Disponível em: <www.promundo.org.br>. Acesso em: 21 dez. 2012.

Sexualidade humana

Programa destinado a ensinar aos adolescentes, professores e outros profissionais das áreas da Saúde e Educação, de uma forma simples, assuntos e conceitos relacionados à sexualidade humana. Anatomia e fisiologia masculina e feminina, gravidez, adolescência, sentimentos, métodos anticoncepcionais, aids, doenças sexualmente transmissíveis e mitos e tabus relacionados à sexualidade são os temas apresentados por meio de animações. Disponível em: <www.virtual.epm.br/cursos/apresentacao/apresentsex.htm>. Acesso em: 21 dez. 2012.

354

Ciências


Bibliografia

CIÊNCIAS BALEEIRO, Maria Clarice et al. Sexualidade do adolescente: fundamentos para uma ação educativa. Salvador: Fundação Odebrecht; Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Adolescentes e jovens para a educação entre pares: SPE. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <www.aids.gov.br/ publicacao/adolescentes-e-jovens-para-educacao-entre-pares-spe>. Acesso em: 4 mar. 2013. CORDEL das DST. s.l.: Ministério da Saúde; UNDCP, s.d. [folheto]. PEZZI, A.C.; GOWDAK, D. O.; SIMÕES DE MATTOS, N. Biologia. São Paulo: Editora FTD, 2010. RAW, I.; SANT’ANNA , O. A. Aventuras da microbiologia. São Paulo: Haecker Editores/Narrativa Um, 2002. PROMUNDO. Trabalhando com homens jovens: sexualidade e saúde reprodutiva. Rio de Janeiro: Instituto Promundo, ECOS, Instituto PAPAI, Salud y Gênero, 2006. Disponível em: <www.promundo.org.br/wp-content/uploads/2010/04/SexualidadeeSaudeRep.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2013. PROMUNDO. Trabalhando com mulheres jovens: empoderamento, cidadania e saúde. Rio de Janeiro: Promundo, 2008. Disponível em: <www.promundo.org.br/ wp-content/uploads/2010/03/trabalhando-com-mulheres-jovens.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2013. SBPC. Ciência hoje: corpo humano e saúde. Rio de Janeiro: Instituto Ciência Hoje, 1999. _______. Ciência hoje na escola: sexualidade, corpo, desejo e cultura. São Paulo; Rio de Janeiro: Global; SBPC, 2001. v. 2. SOLOMON, E.; BERG, L. R. The World of Biology. Florida: Saunders College Publishing, 1995. VALADÃO, M. Saúde e sexualidade. In: CENPEC. Desafios e descobertas. Brasília: CNI-Senai, 2002. (Diálogo e Ação, 3). VALADÃO, M. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2003. 6º ano

355


356

CiĂŞncias


UNIDADE 7

Matemรกtica



Capítulo

1

M AT E M ÁT I C A

Uma linguagem universal

E

xpressamos nossas ideias de diferentes maneiras. Muitas vezes, utilizamos a linguagem oral; outras vezes, utilizamos linguagens escritas, musicais, gestuais. Os diferentes povos utilizam símbolos para se comunicar por meio da escrita. Esses símbolos são muito variados: gregos: chineses: árabes:

Γ, Δ, Ε, Φ, δ, α, β 丈, 丐, 丕, 丮, 乕

Em Matemática, as pessoas empregam linguagens formadas por símbolos que comunicam ideias e significados. Essas linguagens podem ser consideradas quase universais, pois são utilizadas, em quase todos os países, sempre com os mesmos significados.

Bojan Brecelj/Corbis/Latinstock

Antigas civilizações já utilizavam símbolos como uma forma de comunicação. Os egípcios usavam mais de 6 mil sinais, chamados hieróglifos.

8º ano

359


RODA DE CONVERSA

Você conhece alguns símbolos matemáticos? Escreva-os para seus colegas e ensinem uns aos outros os significados de alguns deles. Comente também onde costuma usá-los.

USO DE SÍMBOLOS Muitos são os símbolos usados na linguagem universal da Matemática. Por exemplo: • algarismos indo-arábicos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 • símbolos de associação: ( ), [ ], { } • símbolos de relações: =, ≠, +, –, ×, ÷ • símbolos em Geometria: , , Δ O uso de símbolos em Matemática, muitas vezes, permite mostrar que ideias ou relações que são verdadeiras para alguns casos particulares podem também ser verdadeiras para um universo mais amplo. Ou seja, os símbolos possibilitam uma representação de alguma generalização. Acompanhe a seguinte situação: Todos os dias, nos telejornais e nos noticiários radiofônicos é possível vermos ou ouvirmos boletins sobre o tempo. Um tipo de informação sobre tempo é a temperatura de alguma localidade. Por exemplo, no dia 4 de setembro de 2012, foram registradas as temperaturas mínimas e máximas nas seguintes capitais brasileiras: Temperaturas (°C)

Capitais

Mínima

Máxima

Porto Alegre

12,8

25,3

Florianópolis

14,1

21,6

Curitiba

10,6

15,0

São Paulo

14,0

20,4

Rio de Janeiro

15,2

24,1

Vitória

19,5

23,4

Belo Horizonte

16,2

25,4

Brasília

17,1

30,1

Disponível em: <www.ons.org.br/operacao/boletim_meteorologico_diario.aspx#temperaturas>. Acesso em: 11 out. 2012.

Se a temperatura em alguma dessas capitais for representada pela letra T em algum momento do dia, então podemos escrever, para a cidade de Curitiba, que: T °C ≥ 10,6 °C (graus Celsius ) e T °C ≤ 15,0 °C

A expressão T °C ≥ 10,6 °C pode ser lida assim: a temperatura T °C é maior que ou igual a 10,6 °C. 360

Matemática


Enquanto a expressão T °C ≤ 15,0 °C pode ser lida assim: a temperatura T °C é menor que ou igual a 15,0 °C. As duas últimas expressões podem ser reunidas na seguinte forma “mais concisa”: 10,6 °C ≤ T °C ≤ 15,0 °C

ou simplesmente: 10,6 ≤ T ≤ 15,0

Observando as últimas “desigualdades”, afirma-se, em Matemática, que os valores T da temperatura em Curitiba no dia 4/9/2012 estão no intervalo cujo valor mínimo é 10,6 e cujo valor máximo é 15,0. Por sua vez, o intervalo: 10,5 °C < T °C < 15,1 °C

ou simplesmente: 10,5 < T < 15,1

significa que a temperatura representada por T é simultaneamente maior que 10,5 e menor que 15,1 e T não pode ser igual a 10,5, nem igual a 15,1. APLICAR CONHECIMENTOS I

Releia a tabela sobre as temperaturas de algumas capitais brasileiras e responda às questões: 1. Verifique em quais delas cada temperatura T a seguir poderia ocorrer. a) T = 13,0 b) T = 18,6 c) T = 25,9 d) T = 10,0 e) T = 30,2 2. Qual é o intervalo em que a temperatura T é válida para todas aquelas capitais no dia 4 de setem-

bro de 2012?

8º ano

361


3. Complete a tabela a seguir com as expressões ou suas leituras. Expressão

Leitura

x<y m é maior que ou igual a n p>q

EXPRESSÕES ALGÉBRICAS Acompanhe a situação a seguir: Para se obter 10% de uma quantidade, basta multiplicar essa quantidade por 0,1 ou dividir essa quantidade por 10. Se representarmos a expressão “quantidade” pela letra q, então essa generalização poderá ser escrita na seguinte forma simbólica: 10% de q = 0,1 · q ou 10% de q = q ÷ 10 =

q 10

De forma análoga: Para obter 25% de uma quantidade, basta multiplicar essa quantidade por 0,25, ou multiplicá-la por 25 e dividir o resultado por 100. Se representarmos a expressão “quantidade” pela letra n, então poderemos escrever: 25% de n = 0,25 · n ou 25% de n = n · 25 ÷ 100 = n × 25 100

As expressões: 0,1 · q; q ÷ 10; 9 ; 0,25 · n; n · 25 ÷ 100 e n × 25 10 100

são denominadas expressões algébricas. As expressões 0,1 · q e 0,25 · n podem ser escritas também nas seguintes formas: 0,1 · q ou 0,1q e 0,25 · n ou 0,25n

As letras são as variáveis das expressões algébricas e representam um número qualquer. Veja agora outras situações nas quais é comum usar letras para representar números e como é possível construir expressões algébricas. 362

Matemática


1. Se y representa um número qualquer, então: • o triplo do número y pode ser representado por: 3 · y ou 3y ou y · 3; • um quarto de y pode ser representado por: y 1 · y ou y ÷ 4 ou 4 ou 0,25 · y 4 2. a + b significa a soma dos números representados por a e por b. 3. 6 · (p – q) significa o produto de 6 pela diferença entre os números repre-

sentados por p e q.

4. Para escrever um número qualquer na forma de porcentagem, basta mul-

tiplicar esse número por 100 e acrescentar o símbolo %.

Podemos representar a expressão “número qualquer” por uma letra, por exemplo, n, e escrever essa generalização da seguinte forma simbólica: (100 ∙ n)% ou, simplesmente, 100 · n%

A letra n está representando um número, que é o número que queremos escrever na forma de porcentagem. Mas, afinal, qual é a utilidade prática da generalização e do uso de símbolos? Uma pessoa que sabe generalizar consegue ampliar o exercício de sua cidadania, pois pode tirar conclusões a respeito de algumas de suas experiências ou de experiências de outras pessoas. Já o uso de símbolos (matemáticos ou outros) nos permite certa economia nos textos, isto é, permite-nos expressar determinada ideia de uma forma direta, objetiva, abreviada. Cientistas e estudiosos usam símbolos em suas generalizações para poder comunicar suas conclusões a um maior número de pessoas, mesmo que essas pessoas não falem a mesma língua. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Complete este quadro, escrevendo uma expressão algébrica para cada frase e uma frase para cada

expressão algébrica Expressão algébrica

Frase O quádruplo de um número representado por n. A diferença entre os números representados por a e por b.

1 ·a 3 a+2·a

8º ano

363


2. Xexéu, Yara, Zezé e Mário são irmãos.

Yara tem a metade da idade de Xexéu. Zezé é 10 anos mais velha do que Xexéu. Mário tem o dobro da idade de Xexéu. Utilize a letra x para representar a idade de Xexéu. Agora, escreva as idades de Yara, Zezé e Mário com essa mesma letra.

LINGUAGEM ALGÉBRICA Fernando Favoretto/Criar Imagem

Em regiões de concentração comercial e de escritórios nos grandes centros urbanos brasiPreço kg R$ 13,00 leiros, é comum haver restaurantes de comida por quilo. Esse tipo de restaurante surgiu em meados dos anos 1980 para atender as pessoas que precisavam almoçar fora de casa e não queriam gastar muito. Em um restaurante de comida por quilo, consumidores podem escolher entre vários tipos de saladas, carnes e massas, paFachada de restaurante de comida por quilo em São Sebastião (SP), em 2011. Veja que, no alto, está gando de acordo com o peso em indicado o preço do quilo: R$ 13,00. quilograma (quilo) consumido. As refeições são apresentadas no estilo “sirva a você mesmo” (self-service). A quantidade de comida produzida diariamente nesses restaurantes é muito grande. É possível que você já tenha ouvido um cozinheiro dizer: Hoje tenho muitas coisas para fazer.

Essa frase pode significar que essa pessoa planeja fazer um grande número de atividades, tais como: lavar verduras, descascar legumes, temperar carne, cozinhar arroz e feijão, preparar massa da torta, fazer doces para a sobremesa. 364

Matemática


Algumas vezes, a mesma frase pode ser expressa assim: Hoje tenho n coisas para fazer.

Nessa última expressão, a letra n está representando um número, que é o número de atividades do cozinheiro naquele dia. Quando usamos uma letra para representar um número, dizemos que essa letra é uma variável. Além de usar letras para representar números, também podemos usar expressões e palavras como variáveis em expressões algébricas. Acompanhe a seguinte situação: Em certo restaurante por quilo, as pessoas pagam uma quantia fixa de R$ 2,00 mais R$ 13,00 por quilograma de comida consumido em cada prato, com direito a um suco e uma sobremesa. Qual será o gasto de um cliente que consumiu: a) 0,400 kg?

b) 0,500 kg?

c) 0,750 kg?

d) 1,100 kg?

e) n kg?

Vamos anotar, em uma tabela, o gasto de um cliente conforme a quantidade de comida consumida. Quantidade de comida (kg)

Gasto = quantia fixa + 13 reais × quantidade consumida de comida (kg)

0,400

2,00 + 13,00 × 0,400 = 2 + 5,20 = 7,20

0,500

2,00 + 13,00 × 0,500 = 2 + 6,50 = 8,50

0,750

2,00 + 13,00 × 0,750 = 2,00 + 9,75 = 11,75

1,100

2,00 + 13,00 × 1,100 = 2,00 + 14,30 = 16,30

n

2,00 + 13,00 · n

Para calcular o gasto de um cliente, é preciso considerar a quantidade de comida consumida por essa pessoa e fazer o seguinte cálculo: Gasto =

2,00 quantia fixa

+ 13,00 preço por kg

×

quantidade consumida de comida para cada valor da quantidade consumida, há um único valor para o Gasto

Você pode, por exemplo, usar a letra G para representar simbolicamente o Gasto de um cliente e a letra q para representar a quantidade consumida de comida. Então, a expressão do Gasto passa a ser escrita assim: G = 2,00 + 13,00 · q

8º ano

365


Nesse caso, dizemos que você está escrevendo em linguagem algébrica. Observe outros exemplos: 1. Considere os produtos por outros números inteiros. 1×0=0

1×1=1

1×2=2

1×3=3

O número 1 multiplicado por um número qualquer sempre resulta nesse número. Podemos escrever esse fato representando um número qualquer pela letra n: 1∙n=n

2. Considere que a soma de dois números inteiros, a e b, seja igual a 18.

Esse fato pode ser representado por: a + b = 18

Quais são os valores de a e b? Vamos representar na tabela alguns pares de números inteiros cujas somas são iguais a 18. a

−5

−2

0

8

15

18

21

24

b

23

20

18

10

3

0

−3

−6

a+b

18

18

18

18

18

18

18

18

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Utilizando o serviço de táxi de uma cidade, uma pessoa paga uma bandeirada de R$ 3,50 e mais

R$ 1,50 por quilômetro percorrido. a) Escreva o valor de uma corrida de táxi, se a viagem tiver:

366

• 8 km

• 16,5 km

• 12 km

• 20,3 km

Matemática


b) Observe que, para calcular o valor de uma corrida de táxi, é necessário saber quantos quilô-

metros o veículo irá percorrer. Esse cálculo pode ser escrito assim:

valor de uma corrida de táxi = 3,50 + 1,50 × distância percorrida pelo táxi

Represente o valor da corrida de táxi por uma variável (letra), a seu critério, e a distância da corrida por outra letra. Escreva essa situação utilizando linguagem algébrica.

2. Uma empresária deseja vender produtos congelados durante um evento que vai de terça-feira a do-

mingo. Para isso, ela foi a uma agência de promoções de eventos e encontrou as seguintes condições: • aluguel de um estande (espaço reservado a

cada participante): R$ 300,00 por dia; • taxa fixa de R$ 100,00 para despesas com manutenção. a) Complete a tabela para calcular o valor a ser

pago pela empresária pelo uso desse espaço a cada dia. b) Qual é o valor a ser pago pelo uso de um estande

por um mês? c) Represente por uma variável (letra), a seu crité-

Tempo (em dias) 1 dia

Valor a ser pago (em R$) 300 × 1 + 100 =

2 dias 3 dias 4 dias 5 dias 6 dias

rio, o valor a ser pago pelo uso de um estande e, por outra variável, o número de dias durante os quais o estande vai ser alugado. Em seguida, escreva essa situação utilizando linguagem algébrica.

3. Em outra agência de promoção de eventos, o valor a ser pago pelo uso de um estande, em reais,

foi expresso em linguagem algébrica de acordo com a sentença: V = 200 · t + 150, na qual V representa o valor a ser pago e t representa o tempo, em dias, pelo uso de um estande. a) Preencha a tabela a seguir com a quantia a ser paga pelo aluguel de 1, 2, 3, 4, 5 e 6 dias de es-

tande nessa agência. Tempo (em dias)

Valor a ser pago (em R$)

Tempo (em dias)

1 dia

4 dias

2 dias

5 dias

3 dias

6 dias

Valor a ser pago (em R$)

8º ano

367


b) Qual desses dois planos é mais vantajoso para a locatária do estande? Justifique sua resposta.

FÓRMULA: SÍNTESE DE UMA GENERALIZAÇÃO Acompanhe a seguinte situação: O salário mensal de um mecânico é R$ 1 200,00. Ele reserva todo mês R$ 180,00 para as despesas com transporte. Quanto por cento de seu salário essa quantia representa? Vamos lembrar? Para determinar quanto por cento 180 é de 1 200, dividimos 180 por 1 200. 180 ÷ 1 200 = 0,15

Em seguida, representamos esse resultado sob a forma de porcentagem: 0,15 = 15 = 15 × 1 = 15 × 1% = 15% 100 100

15% é chamado índice porcentual ou taxa porcentual ou, simplesmente, porcentual. De um modo geral: Para calcular “quanto por cento” um número qualquer é de outro número qualquer, dividimos o primeiro pelo segundo e transformamos o resultado da divisão em uma porcentagem (%). Essa generalização pode ser expressa por meio de uma fórmula. Representando o primeiro número pela letra p, o segundo número pela letra s e o índice porcentual pela letra i, podemos dizer que, para calcular o índice porcentual ou taxa porcentual entre o número p e o número s, com s ≠ 0, basta dividir p por s e transformar o resultado da divisão em %. p

  i% = [(p ÷ s)∙100]% ou i =  s ∙ 100 %

Observe que s não pode ser zero porque é o divisor de p. Veja como calcular quanto por cento 180 é de 1 200 aplicando essa fórmula. Atribuímos o valor 180 à variável p (despesas com transporte) e o valor 1 200 à variável s (salário mensal). 368

Matemática


i% =  180 × 100 % = (0,15 × 100)% = 15%  1 200 

Acompanhe outro exemplo: Em uma classe de Educação de Jovens e Adultos (EJA) com 28 estudantes, 21 são mulheres. Qual é o porcentual de alunas dessa classe? Atribuímos o valor 21 à variável p (número de mulheres) e o valor 28 à variável s (número de estudantes). i% =  21 × 100 % = (0,75 × 100)% = 75%  28 

Logo, o porcentual de alunas nessa classe é 75%.

GEOMETRIA E FÓRMULAS Expressões algébricas também podem ser usadas para indicar algumas fórmulas em Geometria. Veja os exemplos. Área de um retângulo

A área de um retângulo é o produto da medida do comprimento pela medida da largura. Representando a medida do comprimento por c, a medida da largura por e a área do retângulo por A, então a área pode ser calculada pela fórmula:

c

A=c∙

Os lados perpendiculares de um retângulo recebem, às vezes, os nomes base e altura, que podem ser associados ao seu comprimento e à sua largura. A variável b é comumente usada para representar a medida da base e a h, para a medida da altura. Então, a área do retângulo pode ser escrita assim:

h

b

A=b∙h

8º ano

369


Qual é a área de um retângulo cuja base mede 5 cm e cuja altura mede 3 cm? A = 5 cm × 3 cm = 15 cm2

Portanto, 15 cm2 é a área do retângulo com essas medidas. Essa área é o valor numérico da expressão A = b ∙ h, para b = 5 cm e h = 3 cm. Área de um paralelogramo

A figura abaixo é a representação de um paralelogramo: D

A

h

B

H

A

C b D

D

A

h

h B I

H

C

H

I

C b

Fazendo um corte no paralelogramo na altura AH, decompomos o paralelogramo em um triângulo e um trapézio e, em seguida, formamos com essas figuras o retângulo AHID. Como o retângulo foi construído a partir do paralelogramo, sem perda nem ganho de área, então a área do paralelogramo é igual à do retângulo. Representando a área do paralelogramo por A, então a sua área pode ser calculada pela fórmula: A=b·h

Área de um triângulo

A figura ao lado é a representação de um triângulo. Os pontos identificados pelas letras A, B e C são os seus vértices. O lado BC está sendo considerado como base do triângulo e b representa sua medida. Qualquer lado do triângulo pode ser considerado como sua base. O segmento de reta AH, perpendicular à base BC, é chamado altura do triângulo relativa a essa base e h representa sua medida. 370

Matemática

A

h

B

C

H b


A área desse triângulo é igual ao produto da medida da base BC pela medida da altura AH, dividido por 2. Representando a área do triângulo por A, então essa área pode ser calculada pela fórmula: A=b∙ h 2

B

A seguinte ilustração justifica a fórmula que se usa para calcular a área desse triângulo. Observe: A Com dois triângulos iguais compomos um paralelogramo. Como os triângulos são iguais, então podemos concluir que a área de cada triângulo é a metade da área desse paralelogramo. h Assim, para calcular a área de um triângulo em que uma base mede 12 cm e a altura relativa H C a essa base mede 10 cm, atribuímos a b o valor b 12 cm e a h o valor 10 cm. Calcule a área de um triângulo, sabendo que uma base mede 12 cm e a altura relativa a essa base mede 10 cm. Calculamos a área desse triângulo atribuindo a b o valor 12 cm e a h o valor 10 cm. A = 12 cm × 10 cm = 120 cm2 = 60 cm2 2

2

Portanto, 60 cm2 é a área do triângulo com essas medidas. APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Um trabalhador que recebia um salário de R$ 1 150,00 obteve um reajuste de 2,5%. a) Qual foi o valor do reajuste do salário?

b) Qual é o novo salário?

8º ano

371


c) Escreva uma fórmula para determinar o novo salário do trabalhador, representando o novo

salário por N e o salário antigo por A.

d) Em seguida, determine o novo salário do trabalhador atribuindo à variável A o valor do salá-

rio antigo e compare com o valor que você encontrou no item b).

2. Qual é a área de um terreno retangular em que o comprimento mede 56 m e a largura mede 14,5 m?

3. No triângulo ABC, o segmento de reta AH é a altura relativa ao

C

A

lado BC. Calcule a área desse triângulo, sabendo que o lado BC mede 2,5 cm e a altura AH mede 1,4 cm.

H

B

EXPRESSÕES ALGÉBRICAS: FORMAS REDUZIDAS OU SIMPLIFICADAS Muitas vezes, é possível transformar uma expressão algébrica, ou parte dela, em outra que lhe é equivalente e que pode ser considerada mais simples que a original. Isso é conveniente na resolução de problemas que envolvem linguagens matemáticas. Veja os exemplos a seguir: 1. A figura ao lado é a representação

de um quadrado. Como representar o perímetro e a área desse quadrado usando expressões algébricas? 372

Matemática


Veja como representaríamos o perímetro e a área de um quadrado se as medidas dos lados fossem conhecidas: 3 2 1 1

1

2

2

3

3

1 2 3

Medida de cada lado = 1 cm Perímetro = (1 + 1 + 1 + 1) cm Perímetro = 4 × 1 = 4 cm Perímetro = 4 cm

Medida de cada lado = 2 cm Perímetro = (2 + 2 + 2 + 2) cm Perímetro = 4 × 2 = 8 cm Perímetro = 8 cm

Medida de cada lado = 3 cm Perímetro = (3 + 3 + 3 + 3) cm Perímetro = 4 × 3 = 12 cm Perímetro = 12 cm

Área = 1 × 1 cm2 Área = 12 = 1 cm2 Área = 1 cm2

Área = 2 × 2 cm2 Área = 22 = 4 cm2 Área = 4 cm2

Área = 3 × 3 cm2 Área = 32 = 9 cm2 Área = 9 cm2

Se as medidas dos lados de um quadrado forem representadas por uma variável, por exemplo a, então: Perímetro = a + a + a + a

a

A expressão a + a + a + a pode ser transformada em outra equivalente mais simples: a+a+a+a=4∙a

a

a

a

Área = a ∙ a

A expressão a ∙ a pode ser pode ser transformada em outra equivalente mais simples: a∙a=a2

Logo, 4 ∙ a é uma expressão algébrica que representa o perímetro de um quadrado cujos lados medem a, e a2 é a expressão algébrica que representa a área desse quadrado. 8º ano

373


2. Represente o perímetro do retângulo ABCD, usan-

A

x

D

do uma expressão algébrica. y

y

Perímetro = x + x + y + y = 2 · x + 2 · y B

x

Logo, 2 · x + 2 · y é uma expressão algébrica que representa o perímetro desse retângulo. 3. Leila pensou em um número.

Somou esse número com o seu dobro e registrou o que fez na tabela: Número pensado

Dobro do número

Soma do número com o seu dobro

1

2

1+2=3=3·1

2

4

2+4=6=3·2

3

6

3+6=9=3·3

4

8

4 + 8 = 12 = 3 · 4

n

2·n

n+2·n =3·n

Leila concluiu que: A soma de um número com o seu dobro é o triplo do número. Ou seja: n+2·n=3·n

Vale lembrar que n = 1 · n. Assim: n+2·n=1·n+2·n=3·n

Outros exemplos: • A soma do dobro de um número com o seu quádruplo é o sêxtuplo do número. Ou seja, 2 · x + 4 · x = 6 · x. • A diferença entre o quíntuplo de um número e o seu dobro é o triplo do número. Ou seja, 5 · y – 2 · y = 3 · y. 374

Matemática

C


APLICAR CONHECIMENTOS V

1. Observe a primeira coluna deste quadro e assinale as formas reduzidas que correspondem às ex-

pressões algébricas dadas. Expressões algébricas

Forma reduzida

6·a+5·a

5·a

6·a

10 · a

11 · a

6·a+a

7·a

a

6·a

0

7·x+5·y

12 · x

12 · x · y

7·x+5·y

12 · y

19 · n – n

19 · n

16 · n

18 · n

17 · n

8 · y – 18 · y

10 · y

–10 · y

–18 · y

–26 · y

2. Escreva as expressões algébricas em forma reduzida, se possível: a) y + y + y + y + y + y = b) 6 · a + 5 · a – a = 3. Escreva, em uma forma reduzida, a expressão algébrica que representa o perímetro de um retân-

gulo cuja largura mede t e o comprimento mede o dobro da largura.

EXPRESSÕES ALGÉBRICAS: FORMAS FATORADAS Um número sempre pode ser escrito como um produto de dois ou mais números. Por exemplo, 18 pode ser escrito na forma dos seguintes produtos: 18 = 2 × 9 = 3 × 6 = 2 × 3 × 3 = 18 × 1

Dizemos que 2 × 9, 3 × 6, 2 × 3 × 3, 18 × 1 são formas fatoradas de 18 ou fatorações de 18. As expressões algébricas também podem ser escritas como um produto de duas ou mais expressões. Por exemplo, a expressão algébrica a seguir já está na forma fatorada: 6 × a × b × c = 6 · a · b · c = 6 · abc

A expressão 7 × (4 + 9), pode ser calculada da seguinte forma: 7 × (4 + 9) = 7 × (13) = 91

8º ano

375


Ou calculando a soma dos produtos 7 × 4 e 7 × 9: 7 × 4 + 7 × 9 = 28 + 63 = 91

Logo: 7 × (4 + 9) = 7 × 4 + 7 × 9. Veja o esquema seguinte:

7 × (4 + 9) = 7 × 4 + 7 × 9

Esse esquema ilustra a propriedade denominada propriedade distributiva da multiplicação com relação à adição. A propriedade distributiva é sempre verdadeira para os números racionais. Dizemos, então, que a expressão 7 × (4 + 9) é uma forma fatorada da expressão 7 × 4 + 7 × 9. A soma 3 · a + 3 · b também pode ser fatorada, isto é, transformada em produto de expressões algébricas. O 3 é um fator das expressões 3 · a e 3 · b. Por causa disso, dizemos que o fator 3 é fator comum a essas duas expressões. Se você utilizar a propriedade distributiva no sentido inverso, então irá obter:

fator comum

fator comum em evidência

3 · a + 3 · b = 3 · (a + b)

Nessa situação, dizemos que o fator comum 3 foi colocado em evidência. Outros exemplos: • n · (4 + 11 · t) é uma forma fatorada da expressão algébrica 4 · n + 11 · n · t. • 5 · a · (b – 3 · c) é uma forma fatorada da expressão algébrica 5 · a · b – 15 · a · c. • x · (1 + y) é uma forma fatorada da expressão algébrica x + x · y. • a · (1 – 3 · b) é uma forma fatorada da expressão algébrica a – 3 · a · b.

APLICAR CONHECIMENTOS VI

1. Classifique cada sentença a seguir como correta ou incorreta. Em seguida, corrija as incorretas. a) –m · n · p é uma forma fatorada da expressão algébrica –1 ∙ m ∙ n ∙ p.

376

Matemática


b) a · (1 + y) é uma forma fatorada da expressão algébrica 1 + a · y.

c) 4 · m · (2 – 5 · c) é uma forma fatorada da expressão algébrica 8 · m – 20 · c.

2. Fatore a expressão algébrica 2 · x + 5 · x · y, colocando um fator comum, diferente de 1, em evidência.

EXERCITANDO MAIS

1. Com um traço, ligue cada expressão algébrica da primeira coluna (indicada por números) com

a sua correspondente “tradução”, representada por uma frase, na segunda coluna (indicada por letras). Depois, anote as ligações que você formou. Veja o exemplo. 1) n + 12

A) A diferença entre 12 e n.

2) 3 · n

B) O quociente entre n e 10.

3) 5 · n

C) A soma de 21 com n.

4) 12 – n

D) A metade de n.

5) n2

E) O quíntuplo de n.

6) n – 10

F) A diferença entre n e 10.

7) n ÷ 10

G) A soma de n com 12.

8) 21 + n

H) O triplo de n.

1-G

2. Escreva as seguintes frases em linguagem algébrica: a) O dobro de um número (n) mais 1. b) A soma de um número (p) com 2. c) O produto de x e o seu dobro. d) Metade de um número (m) menos 2.

8º ano

377


3. Considere a e b como representações de dois números racionais cuja diferença é igual a 10. Esse

fato pode ser representado por: a – b = 10.

Complete a tabela seguinte atribuindo valor para a ou para b, de modo que a – b = 10. a

0

−3,7

b a–b

10

10

9,9 −5,2

9 4

10

10

10

20

10

10

110

11,1

–37 5

10

10

10

10

4. Observe o retângulo EFGH. E

b

a

F

H

a

b

G

a) Represente o perímetro desse retângulo utilizando uma expressão algébrica na qual a seja sua

largura e b seja seu comprimento.

b) Represente a área desse retângulo por uma expressão algébrica, usando as variáveis a e b.

c) Imagine que o perímetro desse retângulo seja 18 cm. Escreva uma expressão para representar

esse fato. 5. Calcule a área do triângulo representado na figura. 10,4 2,5 (medidas em cm)

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

378

Matemática

Álgebra

IMENES, Luiz Marcio; JAKUBOVIC, José; LELLIS, Marcelo. Álgebra. São Paulo: Atual, 1992. (Coleção Pra que serve Matemática?)


Capítulo

2

Novo emprego

M AT E M ÁT I C A

C

Ilustração digital: Estúdio Pingado

láudio ficou sabendo que havia vagas para escriturário em uma grande empresa próxima à oficina onde ele trabalha. Ele decidiu se inscrever para essas vagas, com o objetivo de mudar de carreira. A prova para as vagas consistia em responder a questões sobre atualidades, digitar um texto em um computador e resolver alguns problemas de Matemática. A maior dificuldade seria digitar o texto, já que isso ele nunca tinha feito. Mesmo assim, Cláudio resolveu ir em frente. Vamos acompanhar seu percurso.

GRANDEZAS DIRETAMENTE PROPORCIONAIS Ao fazer sua inscrição, Cláudio recebeu a ficha de número 30. Como havia apenas 5 vagas, ele concluiu, então, que até aquele momento, o número de candidatos por vaga era: 30 ÷ 5 = 6

o que era uma concorrência razoável. Para ter uma ideia de como essa concorrência poderia aumentar, ele construiu a tabela ao lado. Para calcular o número de candidatos por vaga, Cláudio dividiu cada valor do número de candidatos pelo número de vagas: 5.

Número de candidatos

Número de vagas

30

5

30 ÷ 5 =

31

5

31 ÷ 5 =

32

5

32 ÷ 5 =

33

5

33 ÷ 5 =

34

5

34 ÷ 5 =

35

5

35 ÷ 5 =

36

5

36 ÷ 5 =

37

5

37 ÷ 5 =

38

5

38 ÷ 5 =

39

5

39 ÷ 5 =

40

5

40 ÷ 5 =

Número de candidatos por vaga 30 5 31 5 32 5 33 5 34 5 35 5 36 5 37 5 38 5 39 5 40 5

8º ano

= 6,0 = 6,2 = 6,4 = 6,6 = 6,8 = 7,0 = 7,2 = 7,4 = 7,6 = 7,8 = 8,0

379


Nessas condições, o que ele fez foi relacionar duas grandezas: número de candidatos por vaga com número de candidatos. número de candidatos por vaga = número de candidatos ÷ 5 =

número de candidatos 5

Ou então: 1 número de candidatos por vaga = = 0,2 5 número de candidatos

As expressões número de candidatos por vaga e número de candidatos podem ser consideradas como variáveis numéricas. Como essas expressões são muito longas, é possível substituí-las por expressões mais simples. Por exemplo, se representarmos número de candidatos por vaga por V e o número de candidatos por N, então a relação entre as grandezas pode ser reescrita nas seguintes formas: V = N ÷ 5 = N = 1 ∙ N ou então: V = 1 = 0,2 5 5 N 5

Por causa dessa regularidade entre as duas grandezas (o cociente entre V e N é sempre o mesmo, constante), então elas são denominadas grandezas diretamente proporcionais. Veja o porquê: 6 6, 2 6, 4 6, 6 8, 0 1 = ... = = = 0,2 = = = ... = 30 31 32 33 40 5

O valor 51 = 0,2 é denominado constante de proporcionalidade ou razão de proporcionalidade. Essa relação entre as grandezas pode ser representada graficamente da seguinte forma: • Cada par de valores da tabela construída por Cláudio pode ser representado no plano cartesiano por um ponto cujas coordenadas são: (número de candidatos por vaga; número de candidatos)

380

Matemática


10,0 8,0 6,0

6,0

6,2

6,4

6,6

6,8

7,4

7,6

8,0

7,2

7,8

7,0

34

35

36

37

38

39

40

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Número de candidatos por vaga 12,0

4,0 2,0 0,0 30

31

32

33

Número de candidatos

Esse tipo de representação gráfica costuma ser nomeada por representação cartesiana. Acompanhe a situação a seguir. Um bom digitador consegue digitar uma lauda em cerca de 10 minutos. Uma lauda corresponde a 20 linhas com, aproximadamente, 70 caracteres por linha, ou seja, 1 400 caracteres por lauda. Partindo dessa informação, Cláudio registrou algumas conclusões sobre o desempenho de um bom digitador na seguinte tabela: Número de laudas

1

2

3

4

5

6

Tempo em minutos

10

20

30

40

50

60

Assim, ele pôde observar que aqui também existia uma relação constante entre o número de laudas e o tempo em minutos. Essa relação pode ser expressa na seguinte forma de cociente: 2 3 4 5 6 número de laudas = = = = = = ... = 0,1 20 30 40 50 60 tempo em minutos

Nessa relação, número de laudas e tempo em minutos também são duas grandezas diretamente proporcionais. É possível modificar a forma de expressar a relação entre as duas grandezas de: número de laudas = 0,1 tempo em minutos

8º ano

381


para: número de laudas = 0,1 × tempo em minutos

Podemos simplificar as duas últimas equações substituindo as variáveis numéricas número de laudas e tempo em minutos por expressões mais simples. Por exemplo, se representarmos a grandeza número de laudas pela letra N e a grandeza tempo em minutos pela letra T, então aquela relação pode ser reescrita da seguinte forma: N = 0,1 ou N = 0,1 × T T

A relação entre as grandezas número de laudas e tempo em minutos possui uma formulação inversa, que na sequência será denominada relação inversa: 10 20 30 40 T 60 tempo em minutos = = = = = = 10 = 1 2 3 4 N 6 número de laudas

Essa relação inversa pode ser escrita assim: T = 10 ou T = 10 × N N

GRANDEZAS NÃO DIRETAMENTE PROPORCIONAIS Para enfrentar a prova de seleção, Cláudio procurou melhorar seu desempenho exercitando digitação uma hora por dia. Acompanhe seu progresso analisando as informações que aparecem nesta tabela: Número de dias de treinamento

1

2

3

4

5

6

7

Número de laudas por dia

2

3

4

5

6

6

6

Neste caso, é possível perceber que o desempenho do Cláudio foi melhorando até o 5o dia, pois, à medida que a grandeza número de dias de treinamento foi aumentando, a grandeza número de laudas por dia também aumentou. A partir do 5o dia, o número de laudas digitadas ficou constante. Observando a tabela, é possível perceber que aquelas grandezas não são diretamente proporcionais, pois: 111111 222222 333333 444444 555555 666666 777777 ≠≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠≠ 222222 333333 444444 555555 666666 666666 666666 382

Matemática


APLICAR CONHECIMENTOS I

1. A secretária de uma pequena empresa do ramo de informática elaborou uma tabela que rela-

ciona o custo para produzir um componente para computadores com a quantidade semanal produzida: Produção semanal (em unidade) Custo de produção (real)

100

200

300

400

500

1 500

2 500

3 500

4 500

5 500

600

700

800

900

1 000

a) Determine, para os cinco pares de valores tabelados, o cociente entre o custo de produção

daquele componente, em real, e a correspondente quantidade semanal produzida. b) Que conclusão pode ser tirada sobre esses cocientes? c) Observando a tabela, é possível perceber que, para cada aumento de 100 unidades semanais

na produção, o custo de produção daquele componente aumenta R$ 1 000,00. Imagine que a relação observada seja a mesma para os demais valores da tabela. Com base nessa afirmação, complete a tabela. d) É possível escrever uma relação entre essas grandezas por meio de duas variáveis numéri-

cas, uma representando o custo de produção e outra representando a quantidade semanal produzida. Uma forma possível consiste em perceber a seguinte lei de formação: Sempre que a quantidade semanal produzida aumenta 100 unidades (1 centena de unidades), o custo de produção aumenta R$ 1 000,00. Vamos imaginar que, para cada aumento de 1 unidade na produção semanal, o custo aumenta 10 reais. Com base nisso, complete a tabela seguinte: Produção

Aumento na produção

Aumento no custo (em real)

Custo (em real)

100

1 500

200

100

10 × 100 = 1 000

1 500 + 10 × 100 = 2 500

300

200

10 × 200 = 2 000

1 500 + 10 × 200 = 3 500

400

300

10 × 300 = 3 000

1 500 + 10 × 300 = 4 500

500 600 700

8º ano

383


Se a grandeza custo for representada pela variável C e a grandeza produção for representada pela variável P, então, de acordo com a última tabela: 1 500 + 10 × P = C reais ou C = 10 × P + 1 500 reais e) Represente graficamente a relação entre as grandezas custo de produção e quantidade semanal

produzida obtida no item anterior.

2. Uma fábrica produz um tipo de peça para automóveis.

A tabela seguinte mostra as quantidades de peças produzidas em função das horas de trabalho dos operários. Tempo (em horas)

0

1

2

3

4

5

Peças produzidas

0

100

200

300

400

500

a) Essas grandezas são diretamente proporcionais? Por quê?

b) Represente graficamente as duas grandezas relacionadas na tabela.

384

Matemática


3. Mário, amigo de Cláudio, também se inscreveu no concurso.

Como Mário também estava se preparando uma hora por dia para a digitação de texto em computadores, Cláudio fez o seguinte levantamento sobre o desempenho do seu amigo: Desempenho de digitação por hora (em dia) Dicas 1o dia

2o dia

3o dia

4o dia

5o dia

6o dia

7o dia

Número de laudas

1

2

3

4

5

5

5

Tempo por lauda (em minutos)

60

30

20

15

12

12

12

Como aconteceu com o Cláudio, é possível perceber que o desempenho do Mário também foi melhorando até o 5o dia, conforme se vê na tabela. É possível afirmar, nesse caso, que as grandezas número de laudas por dia e tempo por lauda são diretamente proporcionais? Por quê?

GRANDEZAS INVERSAMENTE PROPORCIONAIS Para continuar seus exercícios de treinamento, Cláudio resolveu digitar um texto com 60 laudas. Antes de iniciar o trabalho ele pensou: “Quanto mais laudas eu conseguir digitar por dia, menos tempo vou levar para terminar de digitar o texto todo”. Para calcular o tempo para executar o trabalho, ele construiu a tabela seguinte dividindo o número total de laudas (60) pelo número diário de laudas digitadas: Número diário de laudas digitadas

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Tempo para executar o trabalho(em dias)

60

30

20

15

12

10

8,571428

7,5

6,6

6

Nesse caso, à medida que o número diário de laudas digitadas aumenta, o tempo em dias para executar o trabalho diminui. Além disso: 10 10 10 10 1111 2222 3333 4444 5555 6666 7777 ..., ..., ..., ... ... ...≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠... ≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠ ≠≠≠≠≠ ≠ ..., ≠≠≠≠... 60 60 60 30 30 20 15 12 30 20 20 15 15 15 12 12 12 10 10 10 8,571428 8,571428 8,571428 8,571428 60 30 20 10 6666

ou seja, as grandezas número diário de laudas digitadas e tempo para executar o trabalho não são diretamente proporcionais. 8º ano

385


Porém, essa relação possui uma característica que permite classificá-la, como veremos a seguir. 1 × 60 = 2 × 30 = 3 × 20 = 4 × 15 = 5 × 12 = 6 × 10 = 7 × 8,571428 = 8 × 7,5 = 9 × 6,6 = 10 × 6 = 60

Diferentemente do que ocorre com grandezas diretamente proporcionais, para as quais os cocientes entre valores correspondentes são iguais, para essas grandezas os produtos de valores correspondentes é que são iguais. As grandezas número diário de laudas digitadas e tempo para executar o trabalho podem ser representadas por variáveis numéricas. Por exemplo, se representarmos a grandeza número diário de laudas digitadas por N e a grandeza tempo para executar o trabalho por D, então a relação entre essas grandezas pode ser reescrita nas seguintes formas: N × D = 60 ou N =

60 60 ou D = D N

sendo que esta última é a formulação inversa da segunda. Por causa dessa regularidade entre as duas grandezas (o produto entre N e D é sempre o mesmo, ou seja, é constante), então elas são denominadas grandezas inversamente proporcionais. Essa relação entre as grandezas pode ser representada graficamente da seguinte forma: Número de laudas digitadas Ilustração digital: Planeta Terra Design

70 60 60 50 40 30 30 20 20

15

12

10

10 8,57 7,50 6,67 6 5,45

5 4,62 4,29 4

3,75 3,53 3,33 3,16

3

0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Tempo (em dias)

APLICAR CONHECIMENTOS II

• A representação gráfica a seguir mostra o tempo necessário para se produzir um componente

para computadores em relação ao número de trabalhadores que realizam essa tarefa. 386

Matemática


Ilustração digital: Planeta Terra Design

Tempo de produção (em minutos) 80

72

70 60 50 35

40 30

24 18

20

14,40

12,00

10

9

8

7,20

7

8

9

10

10 0 0

1

2

3

4

5

6

Número de trabalhadores

a) Verifique se as grandezas tempo de produção e número de trabalhadores são inversamente pro-

porcionais. Justifique sua resposta.

b) Determine o tempo de produção desse componente quando o número de trabalhadores é: • 11: • 12: • 13: c) Complete a tabela com os valores indicados no gráfico e com os valores que encontrou no

item b). Número diário de trabalhadores Tempo de produção (em minutos)

d) Escreva uma representação da relação entre essas duas grandezas, usando N para simbolizar o

número diário de trabalhadores e T para o tempo de produção.

EQUAÇÃO DE 1o GRAU É bem provável que você já tenha ouvido, algumas vezes, a palavra equação, ou a expressão equacionar o problema. 8º ano

387


Neste texto, alguns problemas já foram equacionados e algumas equações já apareceram: 1 N • V= ·N= 5

• N = 0,1 · T

5

60

• N= D

Vejamos agora algumas características das equações: • Pode-se dizer que uma equação é uma sentença formada por duas expressões conectadas pelo símbolo =. Lê-se: é igual a. • O símbolo = funciona, na sentença, para relacionar duas expressões que têm o mesmo valor. • As expressões conectadas por = são formadas por números, por operações com esses números e por símbolos genéricos, que representam números, denominados variáveis ou incógnitas. Chamaremos de primeiro membro da equação a expressão à esquerda de =, e a expressão à direita será chamada de segundo membro. Veja alguns exemplos: 1o exemplo Maria inscreveu-se no concurso de uma instituição que pretende preencher 25 vagas de emprego. Ela sabia que, no dia da prova, haveria 20 candidatos por vaga. Como ela poderia determinar o número de candidatos que iriam participar da prova? Uma forma rápida seria multiplicar 20 por 25. Outra forma para resolver esse problema consiste em usar a equação: N = V · 25

Nessa equação, V representa o número de candidatos por vaga e N representa o número total de candidatos. Se Maria atribuir à variável V o valor 20, então aquela equação se transformará em: N = 20 × 25

que é uma equação na qual ocorre a incógnita N. Essa equação é chamada equação de grau um ou equação de primeiro grau, porque a incógnita N tem como expoente (oculto) o número 1 (N = N 1). N = V × 25 primeiro segundo membro membro

2o exemplo Para treinar sua digitação para o concurso, Cláudio se dispôs a digitar um texto com 60 laudas, como já vimos antes. 388

Matemática


Sua ideia inicial era digitar 5 laudas por dia. Nessas condições, ele levaria 60 ÷ 5 = 12 dias para executar a tarefa. Mas, como ele tinha pressa, ele resolveu aumentar o número diário de laudas digitadas, de modo a reduzir pela metade o número previsto de dias para executar o trabalho, isto é, para 6 dias. Qual deverá ser o aumento no número de laudas por dia para alcançar sua nova meta? Se representarmos o novo número diário de laudas digitadas por n, então, o valor de n multiplicado por 6 deverá ser 60 laudas, pois as grandezas número diário de laudas digitadas e tempo para executar o trabalho são inversamente proporcionais. Uma equação que também é de grau 1 e representa esse problema é: 6 · n = 60

3o exemplo Em uma semana, Diana, uma colega de trabalho de Cláudio, digitou 226 laudas. Se ela digitou 14 laudas a mais que o dobro do número de laudas digitadas por Cláudio, quantas laudas Cláudio digitou naquela semana? Podemos representar o número de laudas digitadas por Cláudio por uma incógnita, por exemplo, L. O dobro do número de laudas digitadas por Cláudio pode ser expresso por 2 × L ou 2 · L. Como Diana digitou 14 laudas a mais que o dobro do número de laudas digitadas por Cláudio, então esse número pode ser expresso por: 2 · L + 14

Logo, uma equação de 1o grau que pode representar o problema é: 14 + 2 · L = 226

4o exemplo Diana participou de um concurso municipal que foi realizado em três etapas: • Na primeira etapa foram eliminados 32 candidatos. • Na segunda etapa foi eliminada a metade dos candidatos que sobraram na primeira etapa. • Na terceira etapa restaram 38 do total dos candidatos inscritos. Quantas pessoas participaram desse concurso? Podemos representar o número de inscritos, por exemplo, por n. 8º ano

389


O número de inscritos que passaram para a segunda etapa foi: n – 32

Na segunda etapa foi eliminada a metade dos inscritos que passaram para ela. Portanto, apenas metade deles passou para a terceira etapa. O número de inscritos eliminados na segunda etapa pode ser representado por: n − 32 2

Número de inscritos que passaram para a terceira etapa: (n – 32) –

n − 32 2

Como restaram 38 inscritos na terceira etapa, então uma equação de 1o grau que pode representar o problema é: (n – 32) –

n − 32 = 38 2

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Em cada problema seguinte, represente o termo desconhecido por um símbolo genérico (uma

incógnita) e escreva uma equação. a) O dobro de um número menos 10 é igual a 25. Que número é esse? b) Ao adicionar 52 a um número, obtenho 67. Que número é esse? c) O triplo de um número menos 5 é igual a 13. Que número é esse? 2. Redija um problema que possa ser representado por cada uma das equações a seguir. a) 2 · a + 1 = 7

390

Matemática


b)

b 2

-6=0

Ilustração digital: Estúdio Pingado

3. Observe a figura a seguir. Nela, os pratos da balança estão em equilíbrio.

a) Se forem trocados os pesos que estão no prato da esquerda com os que estão no prato da di-

reita, os pratos continuam equilibrados ou se desequilibram? b) Se for acrescentado o mesmo peso em cada prato, eles continuam equilibrados ou se desequi-

libram? c) Se for retirado o mesmo peso de cada prato, os seus pratos continuam equilibrados ou se de-

sequilibram?

PROPRIEDADES DAS EQUAÇÕES Vamos agora descrever alguns procedimentos para se obter a solução de uma equação, caso exista, ou soluções, caso existam. A solução de uma equação com uma única incógnita é um valor numérico que se atribui a ela de tal forma que a sentença assim obtida se torne verdadeira. 8º ano

391


A expressão “resolver uma equação” significa buscar suas soluções, caso existam. Para determinar uma solução de uma equação aplicamos algumas propriedades. Essas propriedades serão ilustradas ao resolvermos as seguintes equações, que já foram mencionadas antes: • 20 =

1 ·N 25

• 6 · n = 60

• 14 + 2 · L = 226 • (n – 32) –

n − 32 2

= 38

PRIMEIRA PROPRIEDADE DE EQUAÇÕES Se multiplicarmos ambos os membros de uma equação por um mesmo número diferente de zero ou por uma mesma variável, então obteremos uma nova equação cuja solução, se houver, será a mesma da equação original. Vejamos um exemplo. Por qual número seria conveniente multiplicar os dois membros da equação 20 = N para obter o valor da incógnita N, que é sua solução? 25 O número mais conveniente é 25, pois: 25 ×

N N = ×N=1×N=N 25 25

Logo, multiplicando ambos os membros da equação por 25, obtemos: 25 × 20 = 25 ×

N , que equivale a: 25 × 20 = N 25

Isto significa que: N = 25 × 20 = 500

Esta é a solução do problema da Maria, que desejava saber o número de candidatos que iriam concorrer com ela na prova para o concurso em que se inscreveu. Há outras formas de resolver esse problema. Porém, o objetivo aqui é o de mostrar alguns procedimentos sobre equações que poderão ser necessários em problemas mais elaborados.

SEGUNDA PROPRIEDADE DE EQUAÇÕES Se dividirmos ambos os membros de uma equação por um mesmo número diferente de zero ou por uma mesma variável, então obteremos uma nova equação cuja solução, se houver, será a mesma da equação original. 392

Matemática


Por qual número é conveniente dividir os dois membros da equação 6 × n = 60 para obter o valor da incógnita n? O número mais conveniente para isso é 6, pois, dividindo o primeiro membro da equação por 6, obtemos: (n × 6) ÷ 6 = n × (6 ÷ 6) = n × 1 = n 6 ou: 6 × n = ×n=1×n=n 6 6

Logo: (6 × n) ÷ 6 = 60 ÷ 6, ou seja, n = 60 ÷ 6 = 10

A solução dessa equação revela o número diário de laudas a serem digitadas por Cláudio para reduzir à metade o número de dias para digitar as 60 laudas. Logo, o aumento de laudas a serem digitadas por dia é: 10 – 5 = 5 laudas por dia.

TERCEIRA PROPRIEDADE DE EQUAÇÕES Se somarmos ou subtrairmos ambos os membros de uma equação por um mesmo número ou por uma mesma variável, então obteremos uma nova equação cuja solução, se houver, será a mesma da equação original. Qual o número conveniente para subtrair dos dois membros da equação 14 + 2 . L = 226 para obter o valor da incógnita L? O número mais conveniente para subtrair dos dois membros dessa equação é 14, que é o mesmo que somar os dois membros dessa equação com -14. Subtração

Adição

(14 + 2 . L) – 14 = 226 – 14

(14 + 2 . L) + (–14) = 226 + (–14)

(2 . L + 14) – 14 = 212

(2 . L + 14) + (–14) = 226 – 14

2 . L + (14 – 14) = 212

2 . L + [14 + (–14)] = 212

2 . L + 0 = 212

2 . L + 0 = 212

2 . L = 212

2 . L = 212

(2 . L) ÷ 2 = 212 ÷ 2

(2 . L) ÷ 2 = 212 ÷ 2

L = 106

L = 106

Então, na semana em que Diana digitou 226 laudas, Cláudio digitou 106. Em problema proposto anteriormente, dissemos que Cláudio desejava reduzir pela metade o número de dias para digitar as 60 laudas, ou seja, de 12 para 6 dias. Esse problema pode ser “equacionado” de outra forma. 8º ano

393


Acompanhe: • Cláudio deseja reduzir de 12 para 6 o número de dias que levará para digitar 60 laudas. Então, o número de laudas digitadas por dia para completar a tarefa deverá ser aumentado, pois as grandezas são inversamente proporcionais. • O novo número de laudas digitadas por dia pode ser expresso por: novo número de laudas por dia (n) = 5 + aumento no número diário de laudas digitadas • Se representarmos a grandeza aumento no número diário de laudas di-

gitadas pela variável a, então:

n=5+a

• Logo, podemos reescrever a equação anterior da seguinte forma:

6 × (5 + a) = 60

Nesse caso serão aplicadas a segunda e a terceira propriedades de resolução de equações. A equação 6 × (5 + a) = 60 pode ser resolvida de, pelo menos, duas maneiras. Acompanhe: 1. Divida ambos os membros da equação 6 × (5 + a) = 60 por 6 (segunda

propriedade). A nova equação é: 6 × (5 + a ) 60 = , ou seja, 5 + a = 10 6 6

O número conveniente que se pode subtrair de ambos os membros da última equação é 5 (terceira propriedade): (5 + a) – 5 = 10 – 5 (a + 5) – 5 = 5 a + (5 – 5) = 5 a=5

394

Matemática


2. Aplique a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.

A nova equação se torna: 6 × 5 + 6 × a = 30 + 6 × a = 60

O número conveniente que se pode subtrair de ambos os membros da última equação é 30 (terceira propriedade): (30 + 6 × a) - 30 = 60 - 30 (6 × a + 30) - 30 = 30 6 × a + (30 - 30) = 30 6 × a = 30

Divida ambos os membros da última equação por 6 (segunda propriedade): a = 30 ÷ 6 = 5

APLICAR CONHECIMENTOS IV

• Equacione e resolva cada uma das situações a seguir. a) A idade de Celso é a metade da idade de Cláudio. A soma das duas idades é 30. Qual é a idade

de cada um? b) Celso e Denise resolveram comprar uma TV de 14 polegadas no valor de R$ 570,00. Ambos

possuíam a mesma quantia em dinheiro para essa compra, mas, mesmo juntando, ainda assim faltavam R$ 120,00. Qual era o valor que cada um possuía?

RESOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO As propriedades das equações que foram mencionadas são trabalhosas quando são utilizadas na forma como foram exibidas. Mas é possível aplicá-las de uma forma um pouco mais prática. Para isso, vamos retornar à seguinte equação, que já foi utilizada, e ao problema que ela representa: (n – 32) – n – 32 = 38 2

Os termos dessa equação que possuem a incógnita n são denominados termos semelhantes. 8º ano

395


Vamos exibir duas resoluções dessa equação: Forma decimal A expressão n − 32 pode ser reescrita assim: 2

n – 32 = n – 32 = n n – 16 = 0,5n – 16 2 2 2 2

A equação pode ser expressa por: (n – 32) – n – 32 = (n – 32) – (0,5n – 16) = 38 2

Utilizando o conceito de oposto de um número, a última equação pode ser reescrita assim: n – 32 – 0,5n + 16 = 38

Reunindo os termos semelhantes e aplicando as propriedades de equações, vem: 0,5n – 16 = 38 ou 0,5n = 54

ou seja: n = 54 ÷ 0,5 = 54 ∙ 2 = 108

Forma fracionária Pode-se multiplicar os membros da equação por 2: n − 32   2 · ( n − 32) − = 2 · 38 2  

“Distribuindo” o fator 2 no primeiro membro da equação, obtém-se: 2n – 64 – 2 · n – 32 = 76 2 2n – 64 – (n – 32) = 76

396

Matemática


Utilizando o conceito de oposto de um número, a última equação pode ser reescrita assim:

2n – 64 – n + 32 = 76

Reunindo os termos semelhantes e aplicando as propriedades de equações, vem: n – 32 = 76 ou n = 76 + 32 = 108

APLICAR CONHECIMENTOS V

• Camila, amiga de Cláudio digita, em média, 20 laudas em 3 horas. Quanto tempo ela levará

para digitar 25 laudas, mantendo a mesma média? Mantendo a mesma média, a proporcionalidade entre o número de laudas digitadas e o tempo gasto para digitá-las é dada pela razão 20 para 3. Se Diana digita 20 laudas em 3 horas, então 25 laudas serão digitadas em t horas, ou seja: 20 25 = 3 t

Se você aplicar a propriedade fundamental das proporções na última equação, então obterá: 20 ∙ t = 3 ∙ 25

Resolva essa equação para obter o valor da incógnita t em horas e minutos. EXERCITANDO MAIS

1. A tabela a seguir relaciona a quilometragem percorrida por um automóvel com o seu consumo

de combustível: Quilometragem percorrida (km)

117,5

235

352,5

470

587,5

Consumo de combustível (litro)

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

a) Determine os cocientes entre a quilometragem percorrida por esse automóvel, em km, e o

correspondente consumo de combustível para os cinco pares de valores tabelados. Qual é a sua conclusão sobre esses cocientes? 8º ano

397


b) Suponha que sua conclusão continue sendo válida para os demais valores da tabela. Nessas

condições, complete-a. c) Qual é a sua conclusão sobre as grandezas quilometragem percorrida e consumo de combustível? d) Represente graficamente a relação entre as grandezas quilometragem percorrida e consumo de

combustível.

e) Escreva a relação entre as grandezas por meio de uma equação com duas variáveis numéricas,

uma representando a quilometragem percorrida e outra representando o consumo de combustível. 2. Em um concurso, as grandezas número de candidatos por vaga e número de candidatos foram re-

lacionadas nas seguintes formas: V=N÷5=

N 1 V 1 × N, ou então: = = = 0,2 5 5 N 5

a) Qual é a sua relação inversa? b) Faça uma representação gráfica dessa relação inversa. 3. A procura semanal por um equipamento de computador e seu preço de venda foram colocados

na tabela seguinte: Procura semanal (unidades)

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1 000

Preço de venda (R$)

500

250

166,66

125

100

83,33

71,428571

62,5

55,55

50

a) Verifique se as grandezas procura semanal e preço de venda são inversamente proporcionais

para os valores tabelados. b) Represente graficamente a relação entre as grandezas procura semanal e preço de venda. c) Escreva essa relação por meio de uma equação com duas variáveis numéricas, uma represen-

tando a procura semanal pelo equipamento e outra representando seu preço de venda.

4. Aplique as propriedades de equações e obtenha as soluções em cada caso: a) 15 + B = 65 4

b) 2,5 × D = 14 5 c) 4 × E - = 2 2

5. Maria foi às compras. Ela comprou um sapato, uma sandália e uma bolsa e gastou R$ 90,00. Os

sapatos e as sandálias custaram o mesmo preço e a bolsa custou R$ 15,00 a mais que as sandálias. Quanto ela pagou por cada item?

398

Matemática


Capítulo

3

Olhar matemático Fabio Colombini

M AT E M ÁT I C A

Indígena da tribo Sateré-Mawé exibe parte do processo de confecção de uma cesta com trançado de arumã. Manaus (AM), 2010.

A

s pessoas criaram e continuam criando diferentes maneiras para expressar o que consideram significativo na natureza. Entre as muitas formas de manifestar essas criações, estão a arte e a matemática. Isso pode ser visto em muitas obras humanas, de diferentes épocas, estilos e culturas: nas pinturas, nas esculturas, no artesanato, nas construções, em objetos do cotidiano. Descobrir relações matemáticas nas formas dos objetos, nos animais, nas flores pode transformar o modo como vemos o mundo à nossa volta.

RODA DE CONVERSA

Você já percebeu relações matemáticas em elementos naturais, construções ou objetos? Em caso positivo, relate-as para seus colegas. 8º ano

399


FORMAS GEOMÉTRICAS

400

Matemática

Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens

Fabio Colombini

O estudo da vida e organização das abelhas já despertou interesse de matemáticos, arquitetos e cientistas, em diferentes períodos da história da humanidade. Um dos aspectos que chama a atenção na vida desses insetos é a construção das colmeias. Os favos das colmeias são construídos de cima para baixo com a cera proColmeia de abelhas. duzida pelas próprias obreiras. Os favos são conjuntos de alvéolos. Com seis paredes iguais (forma conhecida como prisma hexagonal), os alvéolos possuem o espaço interno adequado para abrigar os insetos e os nutrientes Prisma hexagonal que alimentam a colmeia. Das formas geométricas possíveis para construir os favos, os prismas hexagonais são os que consomem a menor quantidade de cera e possibilitam o melhor aproveitamento do espaço. Em Matemática, as formas de objetos são chamadas formas geométricas, pois a Geometria é um campo de estudos que se preocupa com alguns objetos e suas formas. Assim, se você olhar ao seu redor, encontrará, as mais variadas formas geométricas. Pessoas que trabalham em supermercados lidam diariamente com embalagens, cada uma com sua forma, tamanho, cor e outras características. Quanto às formas, as embalagens podem ser pensadas como figuras geométricas espaciais ou figuras geométricas com três dimensões, chamadas sóli- Gôndola refrigerada em supermercado de São Paulo (SP). As embalagens que manipulamos diariamente representam sólidos geométricos. dos geométricos.


Peter Hansen/Dreamstime.com

As caixas que aparecem na imagem ao lado representam sólidos denominados poliedros. O prefixo “poli”, que já apareceu na palavra polígono, tem o mesmo significado: muitos. O sufixo “edro” significa face. Assim, um poliedro é um sólido formado por muitas faces. As faces de um poliedro são polígonos. Os lados das faces são denominados arestas do poliedro. Os vértices das faces são também os vértices do poliedro.

Essas caixas são poliedros, ou seja, são sólidos geométricos com muitas faces.

PARA REFLETIR

• Fabricantes de bens de consumo sabem que embalagens servem para proteger seus produtos

e também para torná-los atrativos para os consumidores. Traga para a sala de aula algumas embalagens ou objetos que lembrem sólidos geométricos. Reúna-se então com um grupo de colegas para discutir as seguintes questões: a) O que mais chama sua atenção em uma embalagem? b) Quais são as formas das embalagens que vocês recolheram? São todas parecidas? c) Combinem algum critério para separar essas embalagens em grupos. Depois, registrem o cri-

tério usado. d) Escolham uma embalagem qualquer e observem-na atentamente. Além de imagens, nome

do produto e dos dados de fabricação, as embalagens costumam exibir algumas informações numéricas. Identifiquem quais são essas informações numéricas e interpretem seus significados.

CLASSIFICAÇÃO DE FORMAS GEOMÉTRICAS POLIEDROS Prismas e pirâmides são figuras tridimensionais (possuem três dimensões). vértice

vértice aresta aresta

face

face Prisma

Pirâmide

8º ano

401


Essas dimensões costumam ser identificadas como largura, comprimento e altura. Os seguintes poliedros são denominados prismas.

Prisma retangular

Prisma hexagonal

Prisma triangular

As duas faces que dão nomes aos prismas também são chamadas de bases. Dentre os prismas, destacam-se os prismas retangulares, também chamados blocos retangulares ou paralelepípedos. Suas faces são retangulares, e, em alguns casos, quadradas. O cubo é um paralelepípedo especial, pois suas seis faces são quadradas.

Paralelepípedo retangular

Paralelepípedo quadrangular

Cubo

Os sólidos representados a seguir são pirâmides.

Pirâmide hexagonal

Pirâmide quadrangular

Pirâmide triangular

Nas pirâmides, a face que lhes dá o nome costuma ser considerada como sua base. 402

Matemática


Dentre as pirâmides, destacam-se as pirâmides triangulares, também chamadas tetraedros.

Tetraedro

CORPOS REDONDOS Além dos poliedros, há outros tipos de sólidos geométricos, como os corpos redondos. A esfera, o cone e o cilindro são três exemplos de corpos redondos.

Esfera

Cone

Cilindro

APLICAR CONHECIMENTOS I

• Observe as representações dos sólidos a seguir. Eles estão separados em duas coleções.

Em uma delas estão os poliedros e na outra estão os corpos redondos.

Poliedros

Corpos redondos

8º ano

403


a) Descreva as propriedades comuns aos sólidos representados em cada grupo.

b) Existe alguma característica nos corpos redondos que não aparece nos poliedros?

EXPERIMENTAR

Junte-se a um colega para realizar esta atividade que propõe planificar uma embalagem. Planificar uma figura tridimensional significa transformá-la em uma figura plana (bidimensional) sem perda de informações importantes sobre a figura original. 1. Escolham uma embalagem usada e vazia, que seja de papel ou papelão.

Desmontem-na, sem separar as partes que a formam. Assim, será possível apoiar essa embalagem “desmontada” sobre uma carteira. A embalagem aberta é uma planificação. 2. Desenhem a embalagem aberta em um pedaço de cartolina. Marquem todas as dobras. 3. Recortem o desenho, vinquem as dobras e fechem-no, prendendo com uma fita adesiva. Vocês obterão uma embalagem parecida com aquela que foi aberta.

VOLUME As medidas nos dão informações importantes do mundo ao nosso redor e ainda nos orientam na ocupação de espaços. Como todo corpo ocupa um lugar no espaço, muitas vezes temos necessidade de medir o espaço ocupado por um corpo, ou seja, seu volume. Para calcular o volume de um sólido, escolhemos um conveniente sólido que é utilizado como unidade de volume: um cubo. Quantos cubinhos como este ço ocupado pelo bloco A?

unidade

404

Matemática

, cujas arestas medem 1 cm, cabem no espa-

bloco A


Acompanhe um modo de realizar essa contagem.

bloco A

Considerando o cubinho como unidade de volume, verificamos que essa unidade cabe 32 vezes no espaço ocupado pelo bloco A. . Logo, dizemos que o volume do bloco A é 32 Veja como obter o volume do bloco A sem ter que “contar cubinhos”: Se considerarmos 1 cm como unidade de comprimento, então para o bloco A teremos, por exemplo: • medida do seu comprimento = 4 cm • medida da sua largura = 4 cm • medida da sua altura = 2 cm Lembre-se de que a expressão “medida da altura” poderá ser substituída pela palavra “altura” sempre que isso não causar confusão. O mesmo vale para “comprimento” e “largura”. Feito isso, o volume desse bloco pode ser calculado pela fórmula:

volume do bloco A = comprimento × largura × altura = 4 cm × 4 cm × 2 cm = 32 cm3

A última fórmula é válida para calcular o volume de qualquer bloco retangular cujas dimensões são expressas por números racionais. Veja ilustração a seguir. altura (h)

A largura (ℓ) comprimento (c)

Para calcular o volume de um bloco retangular como o da ilustração, sem contar cubinhos, podemos utilizar a fórmula: volume de um bloco retangular = comprimento × largura × altura = c × ℓ × h

O volume de um sólido é um número que depende da unidade de volume escolhida. 8º ano

405


A escolha de uma unidade de volume-padrão tem como um dos objetivos tornar a comunicação entre as pessoas mais universal. A unidade-padrão adotada para medir volume é o metro cúbico. Essa unidade é representada pelo símbolo m3.

CAPACIDADE Pode-se usar, também, o termo capacidade para designar o volume contido num recipiente. Por causa disso, é frequente utilizarmos, também, o litro como unidade de volume. Um litro é a capacidade de um cubo, cujas arestas medem 1 dm.

Ilustrações digitais: Estúdio Pingado

1 litro é o volume igual a 1 decímetro cúbico: 1 L = 1 dm3

1 dm

1 dm

1 dm

Para medir pequenos volumes, como geralmente são as dosagens de um remédio, litro pode não ser a unidade mais adequada. Nesses casos, usamos o mililitro (mL), que é um submúltiplo do litro. 1 L = 1 000 mL 1 mL = 1 cm3

406

Matemática


Ilustração digital: Estúdio Pingado

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Usando uma folha de cartolina, confeccione oito

cubos a partir do molde ao lado. Junte alguns desses cubos para formar prismas. a) Quais as características desses prismas?

b) Observe que todos os prismas formados têm três

dimensões: largura, altura e comprimento. Usando uma aresta do cubo pequeno como unidade de comprimento, determine as medidas das áreas dos sólidos que você desmontou.

c) Calcule o volume de cada prisma.

d) É possível formar outro cubo com alguns dos cubos originais? Em caso positivo, explique

como isso acontece.

2. Observe o prisma representado ao lado, cujas dimensões têm

como medidas a = 3 cm, b = 4 cm e c = 9 cm.

b

c

a

Calcule o volume desse prisma.

8º ano

407


3. Complete esta tabela determinando o volume de prismas ou as medidas de suas dimensões. Altura (cm)

Largura (cm)

Comprimento (cm)

4

2

5

3

1,5

2

4

4

Volume (cm3)

64

2,4 4,5

5

60

6

54

4. Uma caixa-d’água tem a forma de um cubo cujas arestas medem 1 m. a) Qual é o volume dessa caixa em m3? b) Qual é a capacidade dessa caixa em litro? 5. O que você costuma usar que é medido em mililitro? 6. Qual é o volume, em litro, de uma caixa em forma de prisma retangular cujas dimensões são 2 m,

OLHANDO AS SIMETRIAS Sentados à beira de um lago calmo, em um dia ensolarado, podemos apreciar as imagens dos morros e das árvores e seu reflexo nas águas. São duas paisagens quase idênticas: uma real e outra na superfície da água, como se esta fosse um espelho. 408

Matemática

João Prudente/Pulsar Imagens

2,8 m e 5 m?

Reflexo de araucárias em lago na Serra da Bocaina, no município de São José do Barreiro (SP), 2010.


Alslutsky/Shutterstock

Simetria nas asas de uma borboleta.

Rubens Chaves/Pulsar Imagens

Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens

Quando vemos as asas de uma borboleta, percebemos que cada asa em particular pode ser considerada a imagem da outra. Há simetria entre as duas asas. Desde os tempos antigos, os arquitetos buscavam simetrias em palácios e catedrais como um recurso estético. Muitas vezes, artistas plásticos utilizam simetrias em esculturas ou pinturas para expressar um tipo de harmonia em suas obras.

Simetria em construções: Igreja Sagrado Coração de Jesus, em Petrolina (PE), e pátio interno do palacete do Parque Lage, no Rio de Janeiro (RJ).

Em Matemática, existem estudos a respeito de simetrias. Um desses estudos vai ser abordado a seguir. t B Observe as figuras ao lado, que representam dois barcos, e a reta azul nomeada pela letra s. A C Num dos barcos está marcado um ponto A. Passando por esse ponto está a reta t perpenD s dicular a s. O D A reta t cruza a reta s no ponto nomeado O. A C Sobre a reta t fica determinado o ponto A1, cuja distância ao ponto O é igual à distância do B ponto A ao ponto O. Ambos os pontos foram nomeados pela letra A, porém uma delas vem acompanhada de um número, colocado à sua direita, para diferenciá-la do ponto A. Esse número à direita é denominado índice e, em geral, tem tamanho menor que a letra que ele está indexando e fica um pouco abaixo da linha de base da letra. O ponto A1 é denominado ponto simétrico do ponto A, com relação à reta s. Na figura, sobre o mesmo barco está o ponto B, para o qual se repetem todas as ações já descritas para o ponto A. Nesse caso, fica determinado o ponto B1, que é simétrico ao ponto B em relação à reta s. 1

1

1

1

8º ano

409


Repetindo-se o que foi feito com os pontos A e B para os demais pontos do mesmo barco, obtém-se uma reprodução fiel do desenho original. Essa nova figura é simétrica à figura original em relação à reta s. A reta s é denominada eixo de simetria, pois ela é a referência para que se determinem os pontos simétricos na imagem. Esses procedimentos para se obter uma imagem simétrica podem ser chamados de reflexão da figura original com relação à reta s. O eixo de simetria que foi traçado na folha em que foi desenhado o barco poderia até cruzar o barco e, mesmo assim, seria possível obter uma nova figura simétrica à primeira. Observe no exemplo a seguir, outra figura que tem simetria. Se for feita uma dobradura nesse desenho a partir da reta azul, as duas regiões em que a flor foi dividida irão se sobrepor.

Os pontos que, ao se realizar a dobradura no desenho, se correspondem, são simétricos. Por exemplo, os pontos A e A1.

Ilustração digital: Wagner Vargas

A figura a seguir representa uma flor. A reta azul, nomeada e desenhada sobre a flor, dividea em regiões “iguais”.

Em casos como esse, dizemos que a figura em questão (no caso, a flor) é uma figura simétrica ou que a figura tem simetria. A reta azul é o eixo de simetria da figura. Existem figuras que possuem mais que um eixo de simetria, como nos exemplos a seguir. Qualquer retângulo possui dois eixos de simetria.

410

Matemática


Qualquer quadrado possui quatro eixos de simetria.

Porém, existem figuras que não têm eixos de simetria, como as que aparecem a seguir.

PARA CRIAR

Ilustração digital: Wagner Vargas

Veja a seguir um método prático que, por meio de dobraduras, permite construir figuras que têm eixo de simetria.

Figura 2 Figura 1 Figura 3

Figura 4

1. Comece fazendo uma dobradura numa folha de papel (figuras 1 e 2). 2. Em seguida, desenhe uma figura qualquer (como a da figura 3, por exemplo) e recorte-a. 3. Ao abrir a folha, você terá um desenho simétrico (na figura 4, a imagem encontrada é o desenho

de uma tartaruga). 8º ano

411


APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Kirigami é um artesanato japonês cujo nome significa “cortar papel”. Que tal praticar um pouco de

kirigami? Para isso, você vai precisar de folha de papel, cola e tesoura. O papel a ser usado não pode ser nem muito grosso, pois é difícil dobrá-lo, nem fino demais, para não rasgar com facilidade. a) Na folha de papel, desenhe um quadrado cujos lados me-

çam 15 cm. b) Faça uma dobradura em um dos quadrados determinando

dois retângulos iguais. c) Desenhe a figura ao lado em um dos retângulos. Recorte a

figura e desdobre-a. d) Existe uma reta em relação à qual a figura fica dividida em

duas partes iguais. Destaque essa reta. Que nome se pode dar a essa reta? Por que ela tem esse nome? 2. Em uma folha de papel, desenhe dois círculos. a) Recorte um deles e obtenha um de seus eixos de simetria, utilizando dobradura. b) No outro, obtenha um de seus eixos de simetria, utilizando dobradura. c) Agora, conclua: quantos eixos de simetria tem um círculo? 3. Em um pedaço de folha de papel desenhe um retângulo e recorte-o.

Utilize dobradura para responder às seguintes perguntas: a) Quantos eixos de simetria tem qualquer retângulo? Marque esses eixos com vincos no retângulo de papel. b) A diagonal de um retângulo é um eixo de simetria? Justifique sua resposta. EXERCITANDO MAIS

1. Observe as representações de três sólidos geométricos.

Cubo

Prisma triangular

Priâmide hexagonal

Preencha a tabela a seguir com os números de vértices, faces e arestas de cada sólido. Cubo Vértices Faces Arestas

412

Matemática

Prisma triangular

Pirâmide hexagonal


2. Carlos trabalha produzindo caixas em forma de cubo. Para isso, ele usa um procedimento pareci-

do com o que você vai reproduzir a seguir. No trabalho de Carlos, ele usa diversas máquinas e materiais. Mas, para essa simulação, você vai precisar apenas de uma folha de papel sulfite, fita adesiva e uma folha de papel quadriculado. a) Divida a folha de sulfite em seis “quadrados” utilizando dobraduras. Siga as instruções abaixo:

Dobre a folha ao meio.

Dobre novamente a folha para obter três partes iguais.

Abra a folha e recorte-a nas dobras que você fez, obtendo, assim, os seis “quadrados”.

b) Com esses seis quadrados, você poderá formar muitas figuras planas.

Forme algumas de maneira que cada dois quadrados tenham, no máximo, um lado em comum. Registre no papel quadriculado as figuras formadas. Veja duas dessas figuras:

c) Tente montar um cubo com uma dessas figuras. Depois, desmonte e tente montá-lo com base

em outra figura. Cada montagem que você fizer, seguindo as instruções do item b, poderá ser uma planificação de um cubo. Quantas planificações do cubo existem? 3. Qual é o volume de cada sólido seguinte? a)

b)

c) 3,5 dm

4 dm 10,5 dm 1 cm

Cubo

0,2 m

8º ano

413


4. Trace todos os eixos de simetria das figuras a seguir.

5. Na malha seguinte está desenhada parte de uma figura simétrica e seu eixo de simetria é a reta e. a) Complete a figura de modo a formar uma figura simétrica com relação à reta e.

e

b) Destaque na figura formada dois pares de pontos simétricos e trace dois segmentos de reta

unindo um ponto e sua imagem (seu simétrico). Qual é a relação entre esses dois segmentos de reta e o eixo de simetria? c) Observe um dos pontos que você destacou e o seu correspondente (simétrico) em relação ao

eixo de simetria. Qual é a distância de cada um desses pontos ao eixo de simetria? d) Esses pontos são equidistantes do eixo de simetria?

414

Matemática


Capítulo

4

M AT E M ÁT I C A

O jornal

O

jornal é um meio de comunicação que traz uma visão da realidade. Ele se propõe a estimular a curiosidade, aguçar a vontade de investigar, questionar a própria realidade, conhecer opiniões diversas e defender ideias. Em alguns capítulos de Língua Portuguesa desta coleção, você tem estudado algumas características do jornal e o modo como ele é organizado. Neste capítulo, vamos investigar algumas relações que podem existir entre a Matemática e o modo como um jornal é produzido.

CONHECER MAIS

Você já observou como um jornal é organizado? Em um jornal: • manchete é o título de um dos assuntos principais tratados em cada edição. Geralmente, escolhe-se um título pelo impacto que ele provocará no leitor; • editorial é um texto por meio do qual o jornal expressa suas opiniões e posicionamentos. Não é assinado; • matérias informativas são aquelas que pretendem informar os leitores a respeito de fatos, versões e opiniões sobre determinado assunto; • matérias opinativas são aquelas que apresentam a análise de um determinado fato e que podem ser assinadas ou não; • artigos assinados são matérias que expressam opiniões de um articulista e não necessariamente do jornal.

Tiago Queiroz/Agência Estado/AE

Pesssoas trabalham na redação de um jornal impresso em São Paulo (SP), 2010. Que relações podem existir entre a elaboração de um jornal e os conhecimentos matemáticos?

8º ano

415


RODA DE CONVERSA

Reúna-se com seus colegas e discutam: Que relações vocês imaginam existir entre o conhecimento matemático e a elaboração de um jornal?

AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DE IMAGEM Ao observarmos atentamente um jornal, podemos identificar alguns elementos matemáticos. Alguns indícios aparecem logo na primeira página: números que indicam datas, tiragem, preço, previsão do tempo, cifras e quantidades que aparecem nas manchetes e notícias, as medidas de cada página, a disposição das colunas e suas formas. O comprimento e a largura da reprodução da primeira página do jornal Folha de S.Paulo de 26 setembro 2012, que está a seguir, representam um quarto ( 1 ) das me4 didas reais de uma folha de jornal convencional. Usando uma régua, você poderá constatar que as medidas da página reproduzida são 14 cm de comprimento por 8 cm de largura. Note que a página esta dividida em seis colunas (indicadas por linhas pontilhadas). A partir dessas informações, podemos obter as medidas reais da página: 14 cm × 4 = 56 cm (comprimento) e 8 cm × 4 = 32 cm (largura)

14 cm

A divisão de 32 cm por 6 permite calcular a medida da largura aproximada de cada coluna: 32 cm ÷ 6 = 5,333...≅ 5,5

Um padrão utilizado por muitos jornais é 0,5 cm para a largura das margens laterais e para cada espaço entre as colunas. 416

Matemática

8 cm

Folhapress

PRIMEIRA PÁGINA DO JORNAL


Descontados os espaços entre as colunas e entre as colunas externas e as margens da página, obtemos a medida para a largura de cada coluna.

5,5 cm – 2 × 0,5 cm = 5,5 cm – 1 cm = 4,5 cm

Em resumo: • 56 cm para o comprimento da folha; • 32 cm para a largura da folha; • 4,5 cm de largura para cada uma das seis colunas. Observe a foto da presidente Dilma cumprimentando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Suponhamos que o fotógrafo que fez a matéria entregou para o diagramador, que é o responsável pela montagem da página, uma foto com 50 cm de comprimento por 40 cm de largura. O espaço utilizado para a foto foi de três colunas, mais as distâncias entre elas, ou seja: largura destinada à foto = 13,5 cm + 0,5 cm + 0,5 cm = 14,5 cm

50 cm

40 cm

Assim, a foto foi reduzida para caber exatamente no espaço a ela reservado. Ao reduzi-la, o diagramador ficou atento às novas medidas para preservar a imagem original. Mas como é possível reduzir a foto original sem deformá-la? Para isso, é preciso manter a mesma razão entre as medidas originais, tanto na largura quanto no comprimento: as medidas da foto reduzida têm de ser proporcionais às medidas originais correspondentes.

O retângulo que representa a foto, com uma de suas diagonais.

Na marca de 14,5 cm, traçar um segmento perpendicular à base, até encontrar a diagonal.

14,5 cm A medida 14,5 cm corresponde à medida da largura das três colunas da página mais os espaços entre elas.

Traçar um segmento paralelo à base, passando pelo ponto de encontro da diagonal com a perpendicular. O retângulo pontilhado indica o tamanho da foto reduzida.

8º ano

417


Ilustrações digitais: Wagner Vargas

A computação gráfica oferece aos diagramadores outros recursos para reduzir e ampliar figuras, mas, no caso de figuras mais simples, é possível realizar essas transformações manualmente, usando uma malha quadriculada. Veja a figura de uma cruz de malta, que será chamada figura inicial, representada em uma malha quadriculada, abaixo à esquerda. Observe a seguir como a figura foi ampliada e reduzida sem ser deformada.

Figura inicial.

Figura ampliada.

Figura reduzida.

Isso aconteceu porque, tanto na ampliação quanto na redução, foi mantida a razão entre os elementos da nova figura e os elementos correspondentes na figura inicial. O que estamos identificando como elementos das figuras são, entre outras coisas, as curvas e os segmentos de reta que formam a cruz A razão utilizada para a ampliação da cruz de malta foi de 1 para 2, ou seja, cada elemento da figura ampliada é o dobro da correspondente medida na figura inicial. No caso da redução da cruz de malta, a razão foi de 2 para 1. Isso significa que cada um dos elementos da figura reduzida é metade do elemento correspondente na figura inicial. O que pode acontecer com uma ampliação ou uma redução quando não são mantidas as razões entre os elementos da imagem final e da figura inicial? Figura ampliada. No caso ao lado, a figura inicial foi ampliada, mas parece “esticada”, porque não foi mantida a mesma razão entre os seus elementos. 418

Matemática


Ilustração digital: Wagner Vargas

Observe a figura da cruz representada numa malha cujas linhas não são perpendiculares. Ela parece “deformada” porque não foram mantidas as medidas dos ângulos. Quando utilizamos procedimentos para ampliar ou reduzir qualquer imagem, podemos recorrer a conhecimentos da Geometria denominados transformações planas. Ao ampliar ou reduzir uma figura, estamos realizando uma transformação dessa figura em outra. Se desejarmos manter o mesmo asFigura ampliada. pecto da figura original na figura transformada, é conveniente estar atento a duas condições: • garantir a mesma razão entre os diversos elementos da figura inicial e os elementos correspondentes na figura transformada; • garantir que os ângulos da figura transformada tenham as mesmas medidas dos ângulos correspondentes na figura inicial. Se essas duas condições forem garantidas, pode-se dizer que as figuras são semelhantes. Em Matemática, para que duas figuras sejam semelhantes, não basta que sejam parecidas. Elas devem ter ângulos correspondentes de mesma medida e também elementos correspondentes proporcionais. Além de ser um recurso usado por diagramadores, a semelhança entre figuras planas pode ser aplicada na reprodução ampliada ou reduzida de textos, documentos ou fotos feitas por copiadoras. Podemos aplicar procedimentos aritméticos ou algébricos para resolver problemas envolvendo ampliação ou redução de figuras semelhantes. Acompanhe os seguintes exemplos: 1. Observe as imagens ao lado.

VAV8_MATC4_

Original

Warrengoldswain | Dreamstime.com

F002_NOVO Warrengoldswain | Dreamstime.com

A foto original tem as medidas de 3 cm × 4 cm. A outra corresponde a uma ampliação dessa foto. Qual foi a razão utilizada nessa ampliação? As medidas da foto original e da cópia ampliada são:

Ampliação

8º ano

419


Foto original: medida da largura = 3 cm Foto ampliada: medida da largura = 6 cm

medida do comprimento = 4 cm medida do comprimento = 8 cm

Quantas vezes a largura da foto original cabe na largura da foto ampliada? 6÷3=2

Quantas vezes o comprimento da foto original cabe no comprimento da foto ampliada? 8÷4=2

Ambos os cálculos tiveram 2 como resultado. Portanto, a razão entre as medidas da largura e do comprimento entre a foto original e a foto ampliada é 2. 2. Qual deve ser a medida do comprimento de uma foto ampliada que mede 6 cm de largura, para que seja proporcional à foto original que mede 3 cm de largura por 4 cm de comprimento? Representando a medida do comprimento da foto ampliada por x, podemos escrever a seguinte proporção: 6 3 = x 4

Aplicando a propriedade fundamental das proporções (em qualquer proporção o produto de extremos é igual ao produto dos meios), temos: 6·4=3·x

24 = 3 · x

x = 24 ÷ 3

x=8

Logo, a medida do comprimento da foto ampliada deve ser 8 cm.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Os lados de uma foto têm como medidas 36 cm e 45 cm. Um estúdio de fotografia recebeu um pe-

dido para reduzir e ampliar essa foto, de modo que a redução e a ampliação mantenham o mesmo aspecto da foto original, isto é, que sejam semelhantes à foto original. 420

Matemática


a) O menor lado da foto reduzida deverá medir 12 cm. Qual será a medida do outro lado para

que as fotos sejam semelhantes? b) Quais serão as dimensões da foto ampliada se as medidas correspondentes às da foto original

forem aumentadas em 25%? 2. Construa uma malha para reproduzir proporcionalmente a ilustra-

ção, primeiro ampliando-a e depois reduzindo-a. Indique, respectivamente, as razões de ampliação e de redução em relação à figura original que você utilizou. 3. Descreva um procedimento para ampliar o polígono da ilustração ao

lado, de modo que as medidas dos lados da figura ampliada sejam o dobro das medidas do polígono dado. O novo polígono construído é semelhante à figura original? Justifique sua resposta.

O jornal Liberdade está sendo lançado por uma turma de estudantes da Educação de Jovens e Adultos. O nome do jornal foi inspirado no movimento da Inconfidência Mineira, cujo símbolo era um triângulo contido em uma bandeira com os dizeres latinos Libertas quae sera tamen (“Liberdade ainda que tardia”). Observe, nesta ilustração, o logotipo que a turma criou para o jornal. Com o objetivo de anunciar o lançamento do periódico, os estudantes resolveram fazer cartazes para afixar na escola e na comunidade. Para tanto, eles tiveram de reproduzir o triângulo do logotipo em tamanho ampliado. Ao fazer essa ampliação, eles utilizaram um procedimento prático, aplicando alguns conhecimentos geométricos. Acompanhe passo a passo o trabalho do grupo. 1. Inicialmente eles desenharam um triângulo equilátero ABC, chamado triângulo inicial.

Governo do Estado de Minas Gerais

AMPLIAÇÃO DE TRIÂNGULOS

Liberdade

2. Em seguida, marcaram um ponto qualquer, fora do triângulo, o ponto O,

chamado de centro da ampliação. A O

B

C

8º ano

421


3. Depois, traçaram semirretas, partindo de O e passando pelos pontos A,

B e C.

A O

B

C

4. No próximo passo, foi construído o segmento OA1, sobre a semirreta OA,

cujo comprimento era o dobro do segmento OA.

5. Da mesma forma, foram construídos o segmento OB1, sobre a semirreta

OB, e o segmento OC1, sobre a semirreta OC, cujos comprimentos eram o dobro do segmento OB e do segmento OC, respectivamente.

A1 A O

B

B1

C C1

Utilizando esse procedimento, eles conseguiram ampliar o triângulo ABC, construindo um novo triângulo A1B1C1. Este é semelhante ao triângulo inicial, uma vez que ambos possuem medidas dos lados proporcionais e medidas dos ângulos correspondentes iguais. Nesse caso, a razão usada na ampliação foi de 1 para 2. Esses procedimentos produzem o mesmo resultado, qualquer que seja a posição do centro de ampliação O. Se duas figuras poligonais são semelhantes, então a razão entre as medidas dos segmentos de reta existentes em uma delas e as medidas dos segmentos de reta correspondentes da outra é denominada razão de semelhança das figuras. 422

Matemática


Quando a razão de semelhança entre duas figuras é igual a 1, ou seja, quando não há ampliação nem redução das medidas correspondentes, as figuras são congruentes. A transformação que leva uma figura a outra, congruente à primeira, chamase congruência. A congruência é um caso particular de semelhança. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Retome o mesmo triângulo equilátero ABC construído pelos estudantes do jornal Liberdade. a) Aplicando os procedimentos usados por esses estudantes, amplie a figura em uma folha à par-

te, construindo o triângulo A2B2C2, na razão 1 para 3.

b) Aplicando os mesmos procedimentos, construa um triângulo semelhante ao inicial, na pro-

porção 1 para 10, que é a proporção usada para a confecção dos cartazes. 2. Observe os triângulos ao lado. a) Quantos e quais são os triângulos semelhantes?

A

B

D

C

b) Identifique os triângulos congruentes, se houver.

DECOMPOSIÇÃO DE POLÍGONOS Diagramar uma página de jornal é como montar um quebra-cabeça com figuras geométricas. Para tanto, é preciso encaixar em um retângulo (a página) os textos, os gráficos, as imagens, os desenhos, as fotos, de modo a formar quadrados e retângulos, cujos lados sejam paralelos aos lados da folha do jornal. Em geral, o material a ser publicado não se encaixa perfeitamente nas colunas das páginas. Então, é preciso fazer ajustes. Um modo prático de fazê-los é por meio de recortes.

8º ano

423


Quadrados, por exemplo, podem ser decompostos em outros quadrados, em retângulos, ou em triângulos.

Retângulos, por sua vez, podem ser decompostos em outros retângulos, em quadrados, em triângulos e até em trapézios.

Triângulos também podem ser decompostos em outras figuras.

Qualquer polígono com mais de três lados pode ser decomposto em triângulos. Veja na ilustração a seguir alguns polígonos decompostos em triângulos.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Você conhece o tangram? Trata-se de um quebra-cabeça de origem chinesa, conhecido há mais de

quatro mil anos. Com suas peças, podem ser formados triângulos, retângulos, figuras de barcos, pássaros, velas, entre outras. Para construir as peças do tangram, providencie um quadrado de cartolina com 15 cm de lado, lápis, borracha e régua. a) Desenhe uma das diagonais do quadrado e, com uma tesoura, re-

corte-o em dois triângulos. b) Recorte um dos dois triângulos obtidos em dois triângulos iguais.

Identifique um deles por 1 e o outro por 2.

1 2

424

Matemática


c) No triângulo maior, marque o ponto médio dos seus lados menores, ou seja, divida cada um

deles em dois segmentos iguais. Depois, trace o segmento de reta paralelo ao maior lado do triângulo, de modo que suas extremidades sejam os pontos médios dos outros dois lados. Assim, devem ficar determinados um trapézio e um triângulo. triângulo trapézio

d) Recorte as figuras obtidas no item c) e identifique o triângulo por 3. 3

e) No trapézio, trace um segmento de reta para dividi-lo em dois trapézios iguais. Recorte-os.

f) Decomponha um dos trapézios para obter um quadrado e um triângulo. Recorte as figuras e

identifique o quadrado por 4 e o triângulo por 5. 5 4

g) No outro trapézio, trace um segmento de reta de modo que obtenha um paralelogramo e um

triângulo. Recorte as figuras e identifique o paralelogramo por 6 e o triângulo por 7. 7 6

2. Tente montar o quadrado inicial com as peças obtidas. 3. Verifique as possibilidades de construir figuras geométricas com o tangram.

Com base no quadrado inicial: a) desloque os dois triângulos maiores e componha um triângulo, com todas as peças; b) desloque uma só peça desse triângulo e faça surgir um retângulo; c) desloque mais uma peça para aparecer um paralelogramo; d) desloque uma peça desse paralelogramo para construir um trapézio; e) em seguida, desloque os dois triângulos maiores e componha um retângulo com todas as peças. 8º ano

425


4. Com as peças do tangram, verifique: a) É possível construir quadrados: com duas, três, quatro, cinco ou seis peças? b) Há diferentes possibilidades de compor um triângulo usando só duas peças? 5. Entre as sete peças do tangram, identifique os triângulos que são semelhantes. 6. Observe este grupo de polígonos convexos.

Paralelogramo

pentágono

hexágono

octógono

a) Traçando segmentos de reta internos aos polígonos com extremidades em seus vértices, de-

componha cada um deles em triângulos. Qual é o menor número de triângulos em que os polígonos podem ser decompostos? b) Registre suas observações em uma tabela como a que segue. E estenda suas conclusões para

um decágono (polígono com 10 lados) convexo. Polígono

Número de lados

Menor número de triângulos

c) Escreva um parágrafo explicando como é possível relacionar o número de lados de um polígo-

no e o menor número de triângulos em que esse polígono pode ser decomposto. Apresente sua conclusão para os colegas. Analise as conclusões de seus colegas. Discuta suas ideias e reformule ou complete seu texto, caso isso seja necessário.

CÁLCULO DE ÁREA DE TRIÂNGULOS ANUNCIANDO NO JORNAL Durante a elaboração do jornal Liberdade, os estudantes decidiram procurar comerciantes e empresas do bairro que estivessem interessados em um espaço para a divulgação de anúncios nas páginas do jornal. O preço dos anúncios seria simbólico: apenas R$ 0,10 pelo espaço de 1 cm2 na primeira página do jornal. Após a divulgação da ideia, eles receberam alguns anúncios para serem publicados. 426

Matemática


Panificadora Estrela

Imobiliária Realiza

Supermercados Souza e Souza

Com isso, apareceu um novo problema a ser resolvido: calcular a área de cada anúncio para determinar seu preço de publicação. Para calcular a área de retângulos e de triângulos, os estudantes recorreram a seus conhecimentos sobre fórmulas que permitem calculá-las. Um dos significados que o senso comum atribui ao termo “altura” é o de um segmento de reta vertical. Entretanto, em Matemática, o conceito de altura depende da figura considerada. Por exemplo, para retângulos e quadrados, qualquer lado pode ser considerado altura. Já no caso de triângulos, cada um possui três alturas. Cada altura de um triângulo é um segmento de reta perpendicular a um de seus lados e que tem origem no vértice oposto a esse lado. A Para o triângulo da figura: • AH1 é a altura relativa à base BC. H • BH2 é a altura relativa à base AC. H • CH3 é a altura relativa à base AB. b c A área do quadrado desenhado no anúncio, h cujos lados medem 16,5 cm, foi calculada pelos h h estudantes com base nesta fórmula: 2

3

1

2

3

A=b×b

B

C

H1 a

A letra A representa a área do quadrado e b representa a medida dos lados do quadrado. Logo: área do quadrado = 16,5 cm × 16,5 cm = 272,25 cm2

Como (272,25 cm2) × R$ 0,10 = R$ 27,225, é necessário fazer um arredondamento no preço do anúncio (pois não há moeda menor que R$ 0,01). Então, verificou-se que a Panificadora Estrela irá pagar R$ 27,22 para anunciar no jornal Liberdade. A área do retângulo foi obtida por meio da fórmula A = b × h, na qual A representa a área do retângulo e b e h representam as medidas dos seus lados. Logo: área do retângulo = 22 cm × 10 cm = 220 cm2

8º ano

427


Para esse tamanho de anúncio, a Imobiliária Realiza irá pagar R$ 22,00, pois (220 cm2) × R$ 0,10 = R$ 22,00. Para calcular a área do anúncio em forma de triângulo, os estudantes utilizaram esta fórmula: A=

b×h 2

A área do triângulo é representada por A, sendo b as medidas de um de seus lados (considerado como sua base) e h a medida da altura correspondente ao lado de medida b. A base do triângulo ocupa exatamente duas colunas do jornal, incluindo o espaço entre elas. Portanto, a medida da base é: 2 × 4,5 + 0,5 = 9,5 cm. Por sua vez, a altura relativa a essa base é de 8 cm. Logo: área do triângulo = (medida da base × medida da altura) ÷ 2 =

9,5 cm × 8 cm = 38 cm 2

Observando a imagem abaixo, é possível perceber, também, que a área de um triângulo é exatamente a metade da área do retângulo que o contém (a soma das áreas dos triângulos azuis é igual à área do triângulo que representa o anúncio).

Supermercados Souza e Souza

Como a área do retângulo é 9,5 cm × 8 cm = 76 cm2, então: área do triângulo = 76 cm2 ÷ 2 = 38 cm2

Apesar de a forma do anúncio do Supermercado Souza e Souza ser triangular, ele vai custar R$ 0,10 × 76 = R$ 7,60, porque o espaço que ocupará na página do jornal corresponde à área do retângulo que o contém.

428

Matemática


APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Considere o quadrado do tangram (identificado com o número 4) como uma unidade de área. a) Com base nessa unidade de área, calcule a área das outras peças do tangram, identificando as

que têm a mesma área. b) Com uma régua, verifique se as peças que têm a mesma área também têm o mesmo perímetro. 2. Com as peças do tangram, componha: a) duas figuras com áreas iguais e perímetros diferentes; b) duas figuras com o mesmo perímetro e áreas diferentes. 3. Construa um retângulo ABCD cujos lados medem 3 cm e 10 cm. Decomponha essa figura em

dois outros retângulos denominados ABEF (com lados medindo 3 cm e 4 cm) e EFCD (com lados medindo 3 cm e 6 cm). Verifique se: a) O perímetro do retângulo ABCD é a soma dos perímetros dos retângulos ABEF e EFCD.

b) A área do retângulo ABCD é a soma das áreas dos retângulos ABEF e EFCD. EXERCITANDO MAIS

1. Obtenha uma figura ampliada que seja semelhante à que aparece abaixo, de modo que sua cons-

trução caiba numa folha de papel sulfite ou do caderno. Para isso, use um centro de ampliação representado pelo ponto O. O

2. Em uma folha de papel, desenhe várias vezes as figuras ao lado. Depois, recorte-

as. Na sequência, essas figuras serão decompostas em outras figuras. a) Com um único segmento de reta (que não seja nenhuma de suas diagonais

e nenhum de seus lados), decomponha um dos quadrados em duas figuras, sendo uma delas um triângulo. Qual é a forma da outra figura? Compare sua resposta com a de seus colegas. b) É possível obter quatro triângulos iguais a partir de um dos quadrados cujas áreas são um

quarto da área do quadrado? E oito triângulos iguais, cujas áreas são Confirme suas respostas recortando os quadrados.

1 8

da área do quadrado?

c) Decomponha um dos retângulos em duas figuras iguais. Que tipos de figuras podem ser assim

obtidas? d) Que característica deve possuir um retângulo para que ele possa ser decomposto em exata-

mente dois quadrados? e) Recorte um retângulo em dois triângulos e com eles componha outro triângulo. 8º ano

429


3. Calcule a área das figuras a seguir e registre os procedimentos que você utilizou.

4. Determine as medidas do comprimento e da largura do piso da sua sala de aula e calcule a área. 5. Determine alguns procedimentos para calcular a área do terreno representado na figura a seguir. 85 m

50 m

80 m

6. A chuva danificou 30% do gramado de um campo de futebol com 100 m de comprimento por

68 m de largura e precisará ser reparado. Calcule a área do campo que foi danificada. 7. Calcule a área de um triângulo cuja base mede 6 cm e cuja altura relativa a essa base mede 4 cm.

Qual das opções a seguir corresponde à área do retângulo? a) 24 cm2

b) 10 cm2

c) 12 cm2

d) 14 cm2

e) 16 cm2

8. Este triângulo foi obtido pela decomposição de um retângulo que gerou duas figuras iguais. Cal-

cule a área do retângulo que deu origem ao triângulo.

4 cm

5 cm

9. Um quadrado cujos lados medem 3 cm foi decomposto em quatro triângulos iguais. Determine a

área de cada um deles. 430

Matemática


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432

Matemática


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