L ANÇAMENTO AGENDA PERPÉTUA 52 HISTÓRIAS POR FÁTIMA PROENÇA
PRESIDENTE DA ACEP
CONSTRUINDO UM ARQUIPÉLAGO
52 histórias é mais uma ilha no que já é um Arquipélago – título de uma colecção agregadora de projectos, iniciada pela ACEP há exactamente 10 anos. Com efeito, foi em Novembro de 2000 que teve lugar a primeira conversa/proposta com o jornalista Pedro Rosa Mendes, que veio a dar origem ao primeiro projecto, editado com o título “Ilhas de Fogo”, em que participou também o ilustrador Alain Corbel. E à medida que o arquipélago vai crescendo cresce também a confiança, a capacidade de arriscar, mas também a responsabilidade da confiança dos outros. Um projecto assim desmesurado nasce, por isso, de um desafio/voto de confiança, cresce depois amparado e alimentado por convicções, competências e cumplicidades de muitos.
Clarifiquemos alguns motivos para nele arriscar: Porque acreditamos que nos diz respeito – individual e colectivamente – o presente e o futuro dos outros, no mundo de que somos parte. Sermos ou não parte dos que acedem a um conjunto alargado de direitos não pode ser deixado a um acaso geográfico – como se uns tivessem direitos e outros necessidades: uns do lado errado, numa geografia de privação, outros num lado confortável, ocupados nos seus quotidianos.
E muros, novos velhos muros.
E perante isso, a nossa busca constante, de formas de alimentar o compromisso com um conceito e uma prática de cidadania e responsabilidade global.
E outros motivos também: Numa fase da nossa vida colectiva – nacional mas não só – em que leitores/ouvintes de meios de comunicação social são cada vez mais classificados como consumidores, a informação transforma-se em produto e o Outro, incluindo o seu sofrimento, num espectáculo de consumo, eventualmente gerador de comoções e solidariedades efémeras. Ou os seus feitos,
corajosos, de cada dia, são simplesmente ignorados, na pressão da hora do fecho ou no não tempo para escutar.
Um velho senhor escritor africano, Chinua Achebe, num dos seus livros, relata uma conversa de um velho com jovens, que lhe perguntam o que é mais importante numa batalha – se os tambores que chamam os guerreiros, se os próprios guerreiros ou os narradores. E a resposta é clara: todos são importantes, mas o que perdura para além da batalha é a narrativa, que irá impedir os nossos filhos de repetirem como cegos, os nossos erros. Por isso a
necessidade que sentimos de procurar valorizar o papel daqueles
intérpretes/intermediários do que acontece hoje no mundo – jornalistas, fotógrafos, ilustradores, documentaristas – que nos trazem narrativas inteligentes, responsáveis, curiosas, que se interrogam e que nos desafiam. Para eles o nosso respeito.
Grato, por isso, pela colaboração de mais de uma centena de pessoas, muitas invisíveis, aqui e em muitos pontos do mundo, que ajudaram de formas várias a construir, tijolo a tijolo, este projecto. Obrigada também a instituições que traduzem a sua responsabilidade social em apoio a ideias e iniciativas de outros.
Que estas 52 histórias e os seus intérpretes nos ajudem na construção de novas relações com o Outro, através das múltiplas imagens que dele aqui temos, na sua complexidade e delicadeza, nas suas circunstâncias – o tapete persa de que falava Kapuscinski.
Para que, como acredita a poetisa finlandesa Tua Forsström, no final, aquele que volta seja sempre outra pessoa.