“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições
Alfonso Armada
A responsabilidade de contar. Países na sombra
A minha intervenção, que tentarei fazer no meu português "agalegado", será sobre a obrigação de nós jornalistas não nos submetermos ao ditame dos grandes meios que cada vez misturam de forma cada vez mais propositada a informação e a diversão (os conglomerados do entretenimento, enquanto não chega a hora de morrer), difundem a ideia de que não há nem espaço, nem forma de contar a historia toda, de tal forma que escamoteiam o seu sentido. Da necessidade de continuar a trabalhar contra a sociedade do espectáculo, que tudo transforma em espectacular impedindo a compreensão da causa das coisas, como denuncia Guy Debord, fazendo bom jornalismo, relatando o que acontece, com todas as ramificações que a rede permite, de que é exemplo a “fronterad” . E fazer emergir da sombra da inexistência países inteiros, afastados do curso das notícias porque não são influentes, e de como a relação entre jornalistas e ONG tem uma faceta perversa, de tal forma que muitas vezes os media não mandam enviados especiais se é uma ONG que assume os custos.
“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições
Natalie Fenton
Clonar Notícias: ONG, Novos Media e as Notícias num Contexto Crítico
A Prof. Natalie Fenton irá apresentar uma investigação empírica sobre a relação entre as ONG, as notícias e a democracia na era digital. Esta investigação sugere que, com o aumento substancial do espaço de publicação de notícias e a extrema velocidade actual das comunicações, as ONG vêem-se forçadas a “clonar notícias” para responder aos pedidos de uma indústria de comunicação que nunca foi tão rápida e ávida por notícias. Se as ONG optam por “clonar notícias”, dando aos jornalistas o que estes querem, então o que os jornalistas “querem” torna-se crucialmente importante. Se as ONG fazem simplesmente o trabalho do jornalista – juntando histórias bem documentadas, legalmente rigorosas, imparciais e objectivas, então que importa serem elas e não os profissionais das organizações noticiosas a produzirem as notícias? Faz qualquer diferença? Como podemos garantir que as ONG tenham acesso aos meios de comunicação dentro dos seus próprios termos?
“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições
José Kagabo
Quando os media se libertam sem deontologia num país pobre
Por todo o mundo, quando os media funcionam sem as regras que devem regular a profissão e as empresas de comunicação social, os jornalistas abusam da opinião pública e depois são os cidadãos quem mais sofre as consequências nefastas.
Quando isso acontece em países pobres, onde à pobreza se alia a ignorância, o risco de instrumentalização é bem real, até alimentar conflitos inextricáveis. O exemplo do Ruanda está aí para demonstrar como, em menos de quatro anos, os media nacionais, públicos e privados, conduziram grande parte da sociedade a um genocídio, em 1994.
A lição que a sociedade ruandesa pós-genocídio tirou desta experiência trágica é que não se pode deixar desenvolver empresas de media fora de qualquer controlo – um controlo exercido pela própria profissão e num quadro definido por lei. De outra forma, sem fé nem lei, como é que os media poderiam ter um papel chave na luta contra a ignorância e como estímulo para a população no acesso à informação e a um conhecimento propício ao seu desenvolvimento (cultural, económico e social)?
A minha intervenção, a partir de uma breve história dos media no Ruanda e de uma análise do período de crescimento anárquico da actividade dos media nos anos 19901994, demonstrará como os jornalistas, longe de contribuírem para a clarificação do debate político e da situação de guerra que predominava então, incendiaram a sociedade. A intervenção terminará com uma análise dos mecanismos de regulação dos media instalados nos últimos anos.