Estudo Socioeconomico das Comunidades de Tite e Fulacunda

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Estudo Socioeconómico das Comunidades de Tite e Fulacunda Região de Quínara, Guiné-Bissau

ACEP Associação para a Cooperação Entre os Povos (Portugal) RA Rede Ajuda - Cooperação e Desenvolvimento (Guiné-Bissau)



Estudo Socioeconómico das Comunidades de Tite e Fulacunda

Edição

Em parceria com


Ficha Técnica Título: Estudo Socioeconómico das Comunidades dos Sectores de Tite e Fulacunda Coordenação da Equipa de Estudo: Tânia Santos (ACEP) e Danilo Altair (RA) Com participação de João Gibril Fati e Lamine Mané Tratamento de Dados e Elaboração de Gráficos: Rui Dias Oliveira e Sónia Sousa Edição: ACEP - Associação para a Cooperação Entre os Povos (Portugal), com RA - Rede Ajuda (Guiné-Bissau) Apoio Financeiro: IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento Criação Gráfica: Sónia Sousa Fotografia da Capa: Liliana Azevedo ISBN: 978-989-96229-7-5 Outubro de 2010


Índice CONTEXTO ........................................................................................................................... 7

METODOLOGIA DE TRABALHO ................................................................................. 9

ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS ....................................................................... 11 Infra-Estruturas ................................................................................................................ 11 Actividades Económicas ................................................................................................. 19 Produção Agrícola ............................................................................................................ 21 Campo Comunitário ........................................................................................................ 28 Distribuição e Comércio .................................................................................................. 39 Formação ........................................................................................................................... 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 43

GLOSSÁRIO ......................................................................................................................... 45

ANEXOS ................................................................................................................................ 47



Contexto O estudo que se segue enquadra-se no projecto de “Reforço das Organizações Comunitárias e das suas Iniciativas de Apoio às Actividades de Produção, Transformação e Comercialização nos Sectores de Tite e Fulacunda”, co-financiado pelo IPAD. Tem como principal objectivo reforçar o conhecimento disponível sobre a realidade social e económica das populações em causa, mas também reunir informação que possa posteriormente ser disponibilizada para acções futuras dos vários actores que actuam na região. A Guiné-Bissau ocupa o 173º lugar, em 182 países que integram o Relatório de Desenvolvimento Humano 2009 do PNUD. Os cíclicos sobressaltos políticos e militares que o país tem vivido sobretudo após o conflito armado de 1998-99, explicam em grande parte a degradação dos principais indicadores socioeconómicos e os resultados limitados dos esforços de construção do bem-estar e do desenvolvimento. Estima-se a população da Guiné-Bissau em 1.300.000 habitantes, dos quais 52% aproximadamente são mulheres e 48% são homens, 40% são muçulmanos, 10% cristãos e 50% animistas, pertencentes a mais de 20 etnias. A maioria da população vive em meio rural (cerca de 61%), tendo-se observado um forte êxodo rural para Bissau e consequente surgimento de bolsas de pobreza nos bairros periféricos da capital, fruto do processo de concentração urbana acelerada. 7


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A prevalência da pobreza é muito acentuada no país: cerca de 64% da população vive com menos de dois dólares americanos por dia, e a esperança média de vida não chega aos 50 anos (47 para as mulheres e 43 para os homens). O tecido produtivo assenta essencialmente no sector primário, no qual se destaca a exportação da castanha de caju (30% do RNB). A crise alimentar de 2008/2009 demonstrou os riscos das apostas feitas no cajú e da consequente dependência das importações de arroz do sudeste asiático na segurança alimentar das populações da Guiné-Bissau, tendo o preço do saco de arroz duplicado em alguns meses. No entanto, a Guiné-Bissau tem excelentes condições para o desenvolvimento da agricultura, das pescas e do turismo, bem como um elevado potencial para exploração de recursos minerais, exploração que representa simultaneamente um risco e uma oportunidade. Neste contexto, importa colocar o enfoque na dimensão local da economia: produção local para a satisfação de necessidades locais, defesa e valorização do património genético endémico, estruturas agro-ecológicas, agricultura camponesa, familiar, todos eles elementos que garantem a soberania alimentar das populações. Há, além disso, uma grande assimetria entre os níveis de vida em Bissau e o resto do país, em todas as áreas - acesso à saúde, educação e rendimento. É com a consciência destas assimetrias e também do potencial atrás referido que a zona escolhida para intervenção deste projecto está situada no Sul da Guiné, na região de Quínara. Esta região tem cerca de 52135 habitantes e está dividida em quatro sectores: Buba, Empada, Tite e Fulacunda, sendo os dois últimos os mais ocidentais da região

8


Metodologia de Trabalho Grupo Alvo e Critérios de Selecção As tabancas inquiridas foram seleccionadas dentro dos sectores de Tite e Fulacunda e tiveram em conta três critérios fundamentais: - Representatividade dos dois Sectores envolvidos; - Existência de um interveniente (líder comunitário ou representante de grupos de mulheres) com conhecimento ou noção geral dos dados para os poder facultar; - Distribuição geográfica o menos concentrada possível (por uma questão de representatividade e ter uma amostra mais fidedigna). Assim, foram inquiridas 18 tabancas: 9 do sector de Tite – Foia, Iussi, Miningue, Enxude, Nã Balantana, Nova Sintra, Ponta Sadja, Salanca, e Tite; e 9 do sector de Fulacunda – Bissassema, Braia, Cubadjal, Fulacunda, Gamol, Lamane, M’Bam, M’Bassa e Nhala (ver croquis em Anexo 1 e 2). As referidas tabancas têm dimensões bastante variadas (variam entre 137 e 3000 habitantes por tabanca) e têm em comum todas terem agrupamentos de mulheres, mais ou menos organizados, que ajudaram ao apuramento dos dados constantes neste estudo.

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Métodos e Instrumentos de Trabalho e Procedimentos Para atingir os objectivos estabelecidos, a recolha de dados junto das tabancas foi feita com o auxílio de um questionário, aplicado durante uma entrevista presencial individual. Esta entrevista pré-estruturada tinha como guião de suporte o questionário (Anexo 3), o qual era composto por um conjunto de perguntas fechadas e abertas. Optou-se pelo preenchimento presencial do questionário devido à fraca taxa de adesão que se verifica quando os questionários são enviados e posteriormente recolhidos, devido aos diversos constrangimentos existentes (falta de infra-estruturas e de meios de contacto) e também porque facilita o diálogo entre inquiridor e inquirido, dando oportunidade de esclarecer e aprofundar certas questões, que de outra forma seria impossível. A elaboração dos questionários e a especificação das questões pertinentes a apurar tiveram lugar no primeiro ano do projecto (2008). Procedeu-se depois à recolha dos dados (aplicação dos questionários) por um elemento da RA (ONG parceira do projecto). A análise e sistematização dos dados foram feitas durante o 2º ano do projecto (entre Novembro de 2009 e Outubro de 2010). As informações recolhidas foram organizadas numa base de dados construída no programa SPSS e depois foram alvo de análise estatística. Constituiu-se igualmente uma base de dados em Excel, para as respostas abertas. Os resultados destas análises encontram-se reunidos no presente relatório. A par do inquérito foi também levado a cabo um levantamento das tabancas de cada sector e respectivos croquis (Anexos 1 e 2).

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Análise de Dados Infra-Estruturas A) Estradas de Acesso Um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento económico de uma região e/ou país é a rede de ligações infra-estruturais existente entre diferentes zonas e países. No caso particular da Guiné-Bissau, um país em desenvolvimento, esta preocupação é essencial, dado que pode ser um catalisador de desenvolvimento económico, principalmente num contexto rural. De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, verificamos que a maior percentagem das tabancas inquiridas tem apenas Caminho de Terra (50%) ou Caminho e Estrada de Terra (22,2%), o que demonstra o peso bastante acentuado de acessos de fraca qualidade nas tabancas e é revelador de algum atraso a nível de infra-estruturas, tendo consequências relativamente à condição económica e cultural das tabancas. Apenas duas das tabancas inquiridas têm estrada de alcatrão, o que significa que a entrada de veículos motorizados de porte médio e grande está altamente condicionada nas restantes tabancas. Por fim, importa realçar a não existência de acessos em três tabancas (16,7% dos inquiridos). 11


A falta de infra-estruturas é sinónimo de isolamento, cultural, político, e económico – este último, talvez, o mais premente e comprometedor. Quadro 1 - Estrada de Acesso à Tabanca Tipo de Estrada

Frequência

Percentagem

Caminho de Terra

9

50

Caminho de Terra, Estrada de Terra

4

22.2

Caminho de Terra, Estrada de Alcatrão

1

5.6

Estrada de Terra e Estrada de Alcatrão

1

5.6

Não Tem

3

16.7

Total

18

100

B) Acesso à Água Na análise das condições de vida das tabancas existem outros dados importantes. Um deles é o tipo de acesso à água, tendo em conta a tipologia representada no inquérito: água do rio, poço tradicional, poço tradicional melhorado e poço mecanizado. Por poço tradicional entendeu-se um poço rudimentar feito sem recurso a materiais (apenas mão de obra) e consistido num buraco cavado na terra para captação de água (tapado ou não); por poço tradicional melhorado considerou-se um poço feito manualmente aperfeiçoado com o uso de outros materiais como o betão e o cimento (podendo ter também uma alavanca). Como se pode verificar no Quadro 2, uma percentagem bastante significativa das tabancas inquiridas (22,2%) não têm acesso à água de todo. Das tabancas que têm acesso à água o meio mais frequente é o poço tradicional (22,2%), seguido de água do rio e poço tradicional melhorado (16,7%). No total, existem 6 tabancas que usam o poço tradicional melhorado. Apenas duas tabancas (11%) declararam a existência de poço mecanizado. Apesar de, também neste aspecto haver ainda muitas fragilidades – com a existência de tabancas que não têm qualquer tipo de acesso á água, o facto de a maioria já ter algum tipo de acesso parece ser um aspecto positivo e revelador de alguma evolução deste tipo de infra-estruturas. Quadro 2 - Acesso à Água Tipo de Acesso

Frequência

Percentagem

Poço Tradicional

4

22.2

Água do Rio, Poço Tradicional Melhorado

3

16.7

Poço Tradicional, Poço Tradicional Melhorado, Poço Mecanizado

2

11

Poço Tradicional, Poço Tradicional Melhorado

2

11.1


Poço Tradicional Melhorado, Água do Rio, Poço Tradicional

1

5.8

Não tem

4

22.2

Não sabe / Não responde

1

6

C) Loja A próxima questão analisada foi a existência de lojas (que poderíamos definir como comércio tradicional ou ponto de venda de produtos) e caso exista qual o tipo de produtos vendidos. Ao analisar o Gráfico 1 podemos constatar que quase metade das tabancas inquiridas (46%) não tem lojas, o que é demonstrativo de falta de comércio tradicional e que, aliado à falta de acessos às tabancas, revela algum isolamento, preocupante, dificultando a acesso a produtos fundamentais (como o açúcar, óleo, etc), que se torna premente tentar resolver, numa perspectiva económica mas também, igualmente importante (ou talvez ainda mais), numa perspectiva social.

Gráfico 1 - A Tabanca Tem Loja?

13 46%

15 54%

Sim Não

Nas tabancas onde existem lojas, os produtos que indicaram dispor para venda são alimentares: (34%), frutas (3%) e bebidas (11%), conforme Gráfico 2. Duas das inquiridas indicaram ter loja mas não especificaram os produtos vendidos na mesma. Gráfico 2 - Que Produtos as Lojas Têm para Venda 2 22% 3 34%

Alimentares Frutas

1 11%

Bebidas

3 33%


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D) Mercado A par do estudo sobre a existência de lojas, importa perceber a dinâmica relativa aos mercados municipais. Assim, as tabancas foram inquiridas sobre a existência de mercado e, no caso de existir, a frequência semanal com que se realiza. Como se verifica no Gráfico 3, a maioria indicou que não tem mercado (78%). Apenas 4 tabancas têm mercado, sendo que em 3 delas o mercado ocorre diariamente e uma delas não especifica a frequência com que ocorre.

Gráfico 3 - Número de Vezes que há Mercado por Semana 3 17% Todos os dias

1 5%

Tem mas não especifica Não tem 14 78%

E) Infra-Estruturas De seguida, vão ser apresentados alguns dados relativos a outro tipo de infra-estruturas de teor comercial, cultural e social, nomeadamente a existência de “Banco de Cereais”, “Comité de Estado” (governo regional), “Mesquita”, “Polícia”. Como se pode observar no Gráfico 4, a infra-estrutura que existe com maior frequência é a Mesquita (14). Polícia ou Comité do Estado só existe em duas tabancas e Banco de Cereais apenas em uma. Gráfico 4 - Existência de Infra-Estruturas 16

14

14 12 10 8 6 4 2

1

2

2

Banco de Cereais Comité do Estado Mesquita Polícia

0 Banco de Comité do Mesquita Cereais Estado

14

Polícia


Com base nestes dados, é possível retirar algumas conclusões, a saber: a falta de trabalho local na produção de cereais, o que tendo em conta as lacunas ao nível dos acessos e locais de venda é um factor negativo relevante; outro factor importante é a falta de polícia nas tabancas, que parece ser um factor de alguma insegurança; no sentido inverso, é de realçar a forte presença das mesquitas nas tabancas. F) Escolas A par da importância de algumas infra-estruturas, capitais para o desenvolvimento das tabancas, está a educação, que principalmente em zonas tão desfavorecidas é um elemento que ganha uma importância ainda maior. Como podemos ver no Gráfico 5, a percentagem de tabancas que têm escolas é de 61% face a 39% sem escola.

Gráfico 5 - Existência de Escolas na Tabanca 7 39%

Sim Não

11 61%

Dentro das tabancas com escolas, procurou-se inquirir que tipos de escolas existiam, entre as seguintes opções: “escola pública, escola madrassa (islâmica), escola madrassa e escola evangélica”. Verifica-se no Quadro 3 que: 4 das tanbancas tem apenas escola pública, 2 tem apenas escola popular, uma tem apenas escola madrassa. No entanto há 4 tabancas que registam mais do que uma escola: 2 têm simultaneamente pública e madrassa, 1 tem popular e madrassa e uma tem pública, popular., madrassa e evangélica. Sete das tabancas inquiridas não responderam a esta questão. Quadro 3 - Que Tipo de Escolas Estão a Funcionar na Tabanca Tipo de Escola

Frequência

Percentagem

Escola Pública

4

22.2

Escola Popular

2

11.1

Escola Madrassa

1

5.6

Escola Pública, Escola Madrassa

2

11.1

Escola Popular, Escola Madrassa

1

5.6

Escola Pública, Escola Popular, Escola Madrassa e Escola Evangélica

7

38.9

Não Sabe / Não Responde

1

5.6

Total

18

100


Estudo Diagnóstico das ONG São Tomé e Príncipe

G) Saúde O próximo ponto a analisar assenta na área da saúde, mais concretamente numa questão sobre à existência de hospitais e centros de saúde e respectiva existência de activos humanos e materiais de apoio (mais concretamente, medicamentos). Considera-se hospital uma unidade de saúde com alguma capacidade de diagnóstico e alguma capacidade para receber pessoas que necessitem de ficar em observação. Centros de Saúde são unidades que dispõem de medicamentos e podem prestar alguns pequenos serviços (p.e. campanhas de vacinação). Duas das tabancas inquiridas indicaram a existência de hospital: em Tite e Lamane (Fulacunda). Ao analisar o Gráfico 6 verificamos que apenas uma tabanca indica ter médico, enfermeira e medicamentos sempre, e outra indica que dispõe destes meios raramente. Quase metade das tabancas inquiridas indicaram não saber ou não respondeu a esta questão o que empobrece de certa forma a análise deste ponto, impedindo que se possam tirar conclusões (dentro do universo em estudo) mais alargadas. Gráfico 6 - Serviços de Saúde - Hospital 20 15

8

8

8

10

Não sabe/Não responde Nunca

5

8

8

8

0

1 1

1 1

1 1

Médico

Enfermeira

Medicamentos

Raramente Sempre

Relativamente a Centros de Saúde, apenas uma tabanca indicou existir sempre a existência de médico, enfermeira e medicamentos e uma tabanca indicou haver enfermeira e medicamentos algumas vezes. Mais uma vez houve uma elevada percentagem de “não respostas”. Gráfico 7 - Serviços de Saúde - Centro de Saúde 20 15 10 5 0

11

10

10

Não sabe/não responde Nunca

6

6

Algumas vezes

1

1 1

1 1

Sempre

Médico

Enfermeira

Medicamentos

6

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H) Meios de Comunicação Relativamente às condições de comunicação, procurou-se perceber a capacidade das tabancas ao nível dos meios de comunicação, mais concretamente se têm rede de telemóvel (uma vez que não há infra-estruturas para telefone fixo), televisão, rádio, se jornais e internet. São perguntas simples mas cujo estudo se revela de grande importância pois permite compreender se existem ou não meios de contacto entre as tabancas e o resto do país e do mundo. A primeira questão incidiu, então, sobre a existência de rede de telemóvel. Como se vê no Gráfico 8, apenas 33% indica ter sempre, 39% tem algumas vezes, 22% raramente e 6% nunca. Gráfico 8 - Rede de Telemóvel 1 6% 6 33%

4 22%

Sempre Algumas vezes Raramente Nunca

7 39%

Relativamente aos outros meios de comunicação analisados, cujos resultados estão expostos no Gráfico 9, podemos verificar que a situação se complica mais do que relativamente à existência de telefone, visto que apenas 8 tabancas têm acesso a rádio sempre, no que respeita a televisão, uma delas tem sempre e outra algumas vezes e não há acesso de todo a jornais e a internet. Gráfico 9 - Outros Meios de Comunicação 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0

10 16

Não sabe/não responde 18

17

Nunca Algumas vezes Sempre

8 1 1 Televisão

Rádio

Jornais

Internet

Podemos concluir que a rádio é o meio de comunicação por excelência das tabancas, uma vez que é o que existe em maioria e o principal meio de acesso a informação, sendo este facto coerente com o aumento do número de rádios comunitárias nos últimos anos 17


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. I) Meios de Transporte De seguida passamos para a análise dos meios de transporte. É também uma questão importante, porque permite compreender a capacidade de mobilidade terrena, se pudermos colocar assim, face a um tipo de mobilidade mais global e não física, como os meios de comunicação que analisámos anteriormente. Temos vindo a perceber que existem imensas lacunas nas tabancas e que existe um grande desequilíbrio entre o que podemos considerar respostas positivas (elementos que constituem mais valias para as populações) e – para manter uma escala coerente – as respostas negativas (elementos que revelam as fragilidades das tabancas e respectivas populações, e que necessitam, portanto, de resolução). Como se verifica no Gráfico 10, relativamente aos meios de transporte que existem diariamente, apenas 4 tabancas indicaram a candonga, 13 dispõem de bicicleta, 4 de moto, 2 de carro, 2 de canoa e 3 de camião. Alguns dias por semana há candonga em uma tabanca, bicicleta em 3, moto em 1 e carro em 1 também. Das tabancas inquiridas 11 indicaram nunca ter candonga, 2 indicaram nunca ter bicicleta, 12 indicaram nunca ter moto, 12 indicaram nunca ter carro, 13 indicaram nunca ter canoa e 14 indicaram nunca ter camião. Gráfico 10 - Meios de Transporte 20 18 16

2

2

12

1

Não sabe/não responde 12

14 13

1 4 Candonga Bicicleta

Todos os dias

1 4

1 2

2

3

Moto

Carro

Canoa

Camião

0

Nunca Alguns dias por semana

13

6 2

3

12

11

8 4

3

3

14 10

1

Estes valores consubstanciam ainda mais a ideia de isolamento em que as tabancas destes dois sectores se encontram. Todos estes aspectos, enquadrados num contexto de falta de mercados de abastecimento e de falta de instituições de saúde, são um alerta para a dificuldade em que as populações das tabancas vivem, no que concerne às difíceis condições de vida.

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Actividades Económicas O próximo aspecto a analisar insere-se no âmbito das actividades económicas das tabancas. Este é um ponto importante, pois permite compreender melhor a dinâmica das tabancas e até que ponto podemos vislumbrar alguma independência económica e produtiva das mesmas e respectivos membros populacionais. A) Tipo de Actividades A primeira questão incidiu sobre as actividades económicas existentes nas tabancas. Como é possível verificar no Gráfico 11, a actividade que existe com maior frequência (nas 18 tabancas em análise) é a agricultura, seguindo-se a criação de gado (16), a pesca (14) e o comércio (5). As actividades relacionadas com a confecção e costura de roupas e com transportes existem apenas em uma tabanca. Gráfico 11 - Actividades Económicas Praticadas na Tabanca 20 18 16 14

Agricultura

18 16

Pesca

14

Criação de Gado

12 10

Comércio

8 6

5

Confecção e Costura de Roupas

4 1

2

1

Transportes

0

B) Actividades Geradoras de Rendimento Para compreender o peso que estas actividades têm nas tabancas, questionou-se também, quais as actividades, dentro do universo das que são praticadas, que permitem um maior fluxo de rendimento às diversas famílias das tabancas. Segundo as respostas obtidas, as actividades que geram mais rendimento são: agricultura (18), criação de gado (10) e pesca (9), havendo um nítido destaque para a agricultura (Gráfico 12). De realçar que, apesar de o comércio ser uma actividade existente em 5 tabancas, apenas duas a indicaram como uma das actividades mais geradoras de rendimento.Por fim, a confecção e costura de roupas, existente em uma tabanca não foi indicada como 19


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actividade geradora de rendimento.

Gráfico 12 - Actividades que Geram Mais Rendimento 20 18

Agricultura

18

Pesca

16 14 12 10

9

Criação de Gado

10

Comércio

8 6 4 2

Confecção e Costura de Roupas

2

1

Transportes

0

Podemos concluir que as tabancas permanecem ainda bastante dependentes do sector agrícola, principalmente se também incluirmos a criação de gado e pesca como principais actividades geradoras de rendimento para as famílias.

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Produção Agrícola Dada a importância do sector agrícola, o próximo ponto a analisar refere-se à produção de quatro produtos específicos e bastante significativos no contexto das tabancas: Arroz, Cajú, Produtos Hortícolas e Produtos Frutícolas. O objectivo desta parte do inquérito era a de inferir, em primeiro lugar, os meses de produção de cada um dos membros, atrás referidos, em segundo perceber qual o principal objectivo específico de cada um deles, em terceiro, a quantidade produzida no último ano e por fim duas questões relativamente à “evolução da produção” e a “evolução dos preços”. A) Meses de Produção Sobre a primeira podemos concluir que, no caso da produção de arroz (Gráfico 13), esta é feita no segundo semestre do ano, mais concretamente nos meses de Junho a Novembro, principalmente. Apenas uma das tabancas não respondeu a esta questão. Gráfico 13 - Meses de Produção de Arroz Não sabe/não responde Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro

1 6 13 17 18 18 17 11 6 5 3 3 4 5

10

15

20

Relativamente à produção de cajú, esta é feita apenas de Janeiro a Julho (Gráfico 14), sendo a maior incidência nos meses de Abril, Maio, Junho, em que a totalidade das tabancas que responderam a esta questão (16) faz produção de cajú. Gráfico 14 - Meses de Produção de Cajú Não sabe/não responde Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro

2

8 16 16 16 13 11 4 5

21

10

15

20


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Quanto à produção de produtos hortícolas, esta é feita de Setembro a Fevereiro, com maior frequência de Novembro a Janeiro (12) e em Outubro (11), como se observa no Gráfico 15. Gráfico 15 - Meses de Produção de Produtos Hortícolas Não sabe/não responde Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro

6 12 12 11 2

4 12 0

2

4

6

8

10

12

14

A produção de produtos frutícolas é feita durante todo o ano (Gráfico 16), com maior incidência nos meses de Junho (9), Maio (8) e Abril (7). Gráfico 16 - Meses de Produção de Produtos Frutícolas Não sabe/não responde Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro

6 2 3 4 4 3 6 9 8 7 6 6 4 2

4

6

8

10

B) Objectivos da Produção As tabancas foram inquiridas sobre a finalidade da produção de cada tipo de produtos que cultivam, com as seguintes opções: a produção é mais para venda; a produção é mais para consumo na família e troca directa por outros produtos; a terceira opção é uma combinação das duas opções anteriores, que denominamos ambas, para facilitar a leitura. Como é visível no Gráfico 17, a venda como finalidade da produção apenas foi apresentada relativamente aos produtos hortícolas (1) e frutícolas (1). O arroz é principalmente para consumo próprio e troca directa (13) e só em 3 das tabancas é produzido 22


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com ambas as finalidades – consumo e venda. O cajú é produzido para venda e consumo próprio simultaneamente em todas as tabancas que responderam (16). Os produtos hortícolas e frutícolas tanto são produzidos para venda como para consumo próprio. Gráfico 17 - Finalidade da Produção 16

14

13

14

Mais para venda

12 10 8 6 3

4 2

5

4 2

7

66

55

1

Mais para consumo na família e troca directa por outros produtos Ambas

1 Não sabe/não responde

0 Arroz

Cajú

Produtos Produtos Hortícolas Frutícolas

C) Quantidade da Produção Relativamente à quantidade da produção no último ano (ver gráfico 18) verificamos que existem enormes lacunas na recolha da informação, devido à percentagem elevada de respostas “Não sabe/não responde”. No entanto, dos dados de que se dispõe, podemos concluir que no caso do arroz há 2 tabancas que produzem menos de uma tonelada, 3 que produzem entre 1 a 5 toneladas e 2 que produzem mais de 15 toneladas. As restantes não responderam ou não têm dados viáveis. Relativamente ao cajú, 2 produzem entre 1 a 5 toneladas, 2 entre 5 a 15 e 3 mais de 15 toneladas. Nenhuma produz menos de 1 tonelada. As restantes não responderam ou não dispõem de estimativas. Os produtos hortícolas e frutícolas apresentam um padrão de respostas idêntico: 1 produz entre 1 a 5 toneladas, 13 não responderam e 4 não tinham dados viáveis.

Gráfico 18 - Quantidades Produzidas por Ano (estimativa) 13

14

13

12 10

8

8

menos de 1 tonelada

8

entre 1 e 5 toneladas entre 5 e 15 toneladas

6 4 2

2

3

2

3

22

4

3 3 1

4 1

mais de 15 toneladas não sabe/não responde Não tem dados viáveis

0 Arroz

Cajú

Produtos Hortícolas

23

Produtos Frutícolas


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D) Evolução da Produção Por fim, vamos analisar a evolução, nos dois últimos anos, de dois dados importantes: da produção e dos preços, dos respectivos produtos em estudo. Relativamente às quantidades produzidas, no caso do arroz, 6 tabancas julgam ter aumentado, 9 dizem ter diminuído e em 2 manteve-se igual. No caso do cajú, 14 tabancas dizem que a produção tem diminuído, enquanto 3 responderam que tem aumentado. Quanto aos produtos hortícolas, 8 dizem ter aumentado, 1 diz ter diminuído, 3 dizem ter-se mantido igual. No que respeita aos produtos frutícolas 5 dizem ter aumentado, 3 dizem ter diminuído, 4 dizem ter-se mantido igual. Gráfico 19 - Evolução da Produção 16

14

14 12 9

10 8 6

Tem aumentado

8

6

6

4

2

2

3

5

3

1

6 3

Tem diminuído

4

Manteve-se igual Não sabe/não responde

1

1

0 Arroz

Cajú

Produtos Produtos Hortícolas Frutícolas

Quanto à questão da evolução dos preços, para o arroz e cajú têm aumentado (à excepção de uma tabanca que respondeu que o preço do arroz se manteve igual). Para os produtos hortícolas 1 tabanca diz terem aumentado, para 6 têm diminuído e para 5 mantiveram-se iguais e para os frutícolas a tabanca também diz terem aumentado, para 4 têm diminuído e para 7 mantiveram-se iguais. Gráfico 20 - Evolução dos Preços 18 16

17

16

14 12 Tem aumentado

10 8

6

6

5

7

6 4

4 2

1 1

1

1

6

1

0 Arroz

Cajú

Produtos Produtos Hortícolas Frutícolas

24

Tem diminuido Manteve-se igual Não sabe/não responde


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E) Qualidade da Produção Após a análise da evolução de alguns produtos importantes para a economia rural das tabancas, vamos tentar aprofundar um pouco mais o sector da agricultura, nomeadamente, no estudo da produção de sementes, de controlo de pragas, de utilização/ necessidade de utensílios, principais dificuldades sentidas, entre outros. Centrando-nos agora na multiplicação de sementes verificamos a maioria das tabancas (83%) recorre a esta prática (Gráfico 21). Gráfico 21 - Multiplicação de Sementes 15 83%

Não Não sabe/não responde

2 11%

Sim

1 6%

Das 15 tabancas que indicaram fazer multiplicação de sementes, o tipo de sementes com que o fazem são maioritariamente de arroz (56%), mandioca (16%), milho (8%) e tomate (8%), como se constata no Gráfico 22. É feita ainda por duas tabancas a multiplicação de sementes de badjiki (rosela) e candja (quiabos). Assim, a única semente que a generalidade das tabancas utilizam é a do arroz, enquanto as outras sementes são típicas de tabancas específicas. A generalização da semente do arroz faz sentido se atentarmos que é um alimento essencial para a subsistência das famílias. Gráfico 22 - Multiplicação de Sementes - De que Produtos Milho 2 8%

Tomate

2 8% 1 4% 1 4%

14 56%

4 16% 1 4%

25

Badjiki/ Rosela Candja/Quiab os Mandioca Alface Arroz


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Relativamente à enxertia de plantas (Gráfico 23) percebemos que na maioria das tabancas que respondeu a esta questão não há enxertia de plantas (8 tabancas) e nas quatro em que é feita é apenas de mangas. Gráfico 23 - Enxertia das Plantas 6 33%

8 45%

Não há Enxertia das Plantas (frutas) Mangas Não sabe/não responde

4 22%

O próximo ponto analisado foi o controlo de pragas por métodos naturais (ver Gráfico 24) que consiste numa tentativa de compreensão da evolução de alguns métodos de preservação da qualidade da produção. Ao analisar o quadro percebemos que, antes de mais, 44,4% dos resultados são “não respostas” (Não sabe/não responde). Apenas a restante percentagem dos inquiridos respondeu a esta questão tendo 22,2% dito que não há controlo, 16,7% fazem-no através de casca de bissilão, 11,1% através de produtos naturais e 5,6% através de fezes de animais e casca de bissilão. Ao observar os dados verificamos que a prática de controlo de pragas não é, de todo, alargada às tabancas, o que é denotativo de algumas fragilidade produtiva e baixa disseminação de práticas produtivas. Gráfico 24 - Controlo de Praga através de Métodos Naturais 2 11.1%

4 22.2%

Não há controlo Através de casca de bissilão Através de fezes e casca de bissilão

3 16.7%

8 44.4%

Não sabe/não responde Uso de produtos naturais

1 5.6%

F) Instrumentos Existentes Temos vindo a verificar a importância da produção de arroz, tanto de um ponto de vista comercial, mas também, e igualmente importante, para a subsistência das famílias. Nesse sentido, a próxima abordagem aos inquiridos foi no sentido de perceber a existência generalizada, ou não, de equipamentos de descascadora de arroz. Pela análise das respostas vemos que existe uma percentagem esmagadora de tabancas que não tem descascadora de arroz (83%), face a apenas 11% (que correspondem a duas tabancas) que respondem positivamente à questão colocada. 26


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Gráfico 25 - Equipamentos: Descascadora de Arroz 2 11%

Não tem

1 6%

Tem Não sabe/não responde

15 83%

Ao mesmo tempo, foi inquirido, de forma mais genérica, a existência e proliferação de instrumentos e máquinas agrícolas nas tabancas. Relativamente aos instrumentos agrícolas, verificamos pelas respostas apresentadas no gráfico 26, que enxadas (16), catanas (15) e ancinhos (11) são os que existem nas tabancas de forma mais generalizada. Seguidamente foram indicados os baldes (5), regadores (4) e arado, que existe em apenas uma das tabancas. Gráfico 26 - Instrumentos Agrícolas Arado

1

Regador

4

Baldes

5

Enxada

16

Catana

15

Ancinhos

11 0

5

10

15

20

Quanto às máquinas agrícolas, como se verifica no Gráfico 27, apenas uma tabanca das 18 inquiridas dispõe de uma. Ora, isto significa que as técnicas de trabalho produtivo são bastante manuais e, nesse sentido, parece ser mais um factor explicativo para o aumento dos preços do arroz, para a produção no sentido principal de subsistência dos agregados familiares, paralelo à ideia de dificuldades comerciais nas tabancas, que os dados parecem indicar e comprovar. Gráfico 27 - Máquinas Agrícolas 16 88.9%

Não tem Tem 1 5.6% 1 5.6%

27

Não sabe/não responde


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Campo Comunitário O próximo ponto a analisar incide sobre a existência e funcionamento de campos comunitários. A) Existência de Campo Comunitário Como exposto no Gráfico 28, 94% das tabancas revelaram a existência de campos comunitários nas mesmas. Gráfico 28 - Existência de Campo Comunitário

1 6%

Sim Não

17 94%

B) Propriedade do Campo Relativamente à propriedade do campo comunitário (campo de cultivo) foi estabelecida a seguinte tipologia: “é da propriedade do grupo comunitário” ou “é da propriedade de alguns membros do grupo comunitário”. Verificou-se uma maior incidência percentual na primeira opção da com 89% de percentagem de respostas, o que imprime, nos grupos, uma concepção valorativa de índole democrática que parece ser positiva. Gráfico 29 - Propriedade do Campo Comunitário 2 11%

É da propriedade do grupo É da propriedade de alguns membros do grupo 16 89%

C) Tamanho O próximo subponto assenta na tentativa de perceber o tamanho dos campos de cultivo. A tipologia que pareceu mais apropriada, de forma a ter uma percepção mais generalizada, foi a de dividir as respostas em: “Não tem medida exacta”, “de 150 metros quadrados até 300 metros quadrados” e “mais de 300 metros quadrados”. Estabelecida a tipologia de agrupamento das respostas podemos então verificar que a metade dos in28


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quiridos não sabe ou não respondeu a esta questão, e 33% respondeu que não tem medida exacta, o que demonstra e resulta numa falta de conhecimento acerca do tamanho real dos campos comunitários de cultivo. Apenas 3 tabancas souberam informar sobre o tamanho exacto dos campos, tendo 2 delas campos com um tamanho entre 150 e 300 metros quadrados e a última um campo com mais de 300 metros quadrados. Gráfico 30 - Tamanho Aproximado do Campo

6 33%

Não tem medida exacta De 150 até 300 metros quadrados

9 50%

Mais de 300 metros quadrados Não sabe/não responde

1 6%

2 11%

D) Organização do Trabalho Por fim, importava perceber quais as condições das mulheres ao nível da sua participação no trabalho (aspecto quantitativo) e a forma como esse trabalho se desenvolve (aspecto qualitativo) para ter uma pequena ideia da dinâmica que as mulheres têm dentro do trabalho comunitário. Relativamente à questão, “Quantas mulheres trabalham no campo comunitário?” (ver Gráfico 31), 44,4% respondeu “entre 1 a 50 mulheres”, 16,7% respondeu “entre 50 a 100 mulheres, e apenas 2 tabancas responderam “entre 100 a 150 mulheres” e “mais de 150 mulheres”. De realçar que, à semelhança da questão anterior, uma percentagem significativa de tabancas (27,8%) não soube responder a esta questão. Gráfico 31 - Nº de Mulheres que Trabalham no Campo Comunitário 1 1 5.6% 5.6%

5 27.8%

3 16.7%

Não sabe/não responde Entre 1 a 50 mulheres Entre 50 a 100 mulheres Entre 100 a 150 mulheres Mais de 150 mulheres

8 44.4%

29


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Quanto à forma de organização do trabalho (Gráfico 32) a totalidade das tabancas que respondeu (16) indicaram que cada mulher cultiva uma parcela. Existia no inquérito a opção “cada mulher trabalha no campo e depois dividem os produtos”, mas nenhuma das inquiridas escolheu esta opção. Gráfico 32 - Organização do Trabalho no Campo Comunitário 2 11%

Cada mulher cultiva uma parcela Não sabe/não responde 16 89%

E) Frequência de Utilização De um ponto de vista mais genérico, importa conhecer a dinâmica de trabalho das tabancas e dos respectivos grupos. Assim, as tabancas foram questionadas sobre em que meses do ano trabalham na horticultura. Como se constata no Gráfico 33, os meses em que mais tabancas trabalham em horticultura são Outubro, Novembro e Dezembro (12 tabancas), seguindo-se de Janeiro (7), Fevereiro (4), Setembro (4), Julho (3) e Agosto (3). No mês de Março apenas 2 tabancas desenvolvem actividades nesta área e em Abril e Maio apenas uma. Gráfico 33 - Meses do Ano em que se Trabalha na Horticultura 14

12

12

12

12

10 8 6 4 2

7

6 4 2

3 1

3

4

1

0

Continuando na mesma a lógica, a próxima pergunta colocada foi a disponibilidade para trabalhar mais tempo, caso fosse necessário, no campo comunitário. Dividiu-se numa tipologia que incluia as respostas “Sim, até 6 horas”, “Sim, até 9 horas”, “Sim, mais de 9 horas”, “Sim, mas não específica o número de horas”, “Não sabe/não responde” e “Não”. De acordo com os dados recolhidos, percebe-se que, apesar de haver uma frequência 30


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elevada de “Não sabe/não responde” (5), ninguém responder que não estaria disposto a rtabalhar mais horas caso fosse necessário. Das respostas positivas obtidas 7 tabancas estariam dispostas a trabalhar até 9 horas a mais, 3 até 6 horas a mais, 2 mais de 9 horas e 1 delas respondeu que sim sem especificar o número de horas que estaria disposta a trabalhar. Gráfico 34 - Se fosse necessário, poderiam trabalhar mais horas no campo comunitário? Sim mas não especifica o nº de horas

1

Sim, mais de 9 horas

2

Sim, até 9 horas a mais

7

Sim, até 6 horas a mais

3

Não sabe/não responde

5 0

1

2

3

4

5

6

7

8

F) Tipo de Produtos Uma questão importante, que não poderia deixar de ser estudada, é “Quais os hortícolas que são produzidos no campo comunitário?” É uma questão relevante pois permite ter uma ideia concreta da dinâmica produtiva, especialmente no que concerne os principais produtos que são produzidos no âmbito específico do cultivo comunitário. Como pode ser analisado no Gráfico 35, existe uma grande variedade de produtos hortícolas produzidos, que variam de tabanca para tabanca. Os que são mais comummente produzidos em tabancas diferentes são: o Tomate (8), Candja (6), Badjiki (5), Arroz (5), Cebola (5) e Djagatu (4). São ainda produzidos: Alface (2), Mandioca (2), Sukulbembé (2), Pimentão (2), Repolho (2), Cenoura (1), Malagueta (1), Mancarra (1), Feijão (1) e Milho (1). Gráfico 35 - Hortícolas Produzidos Cenoura

1

Pimentão

2

Repolho

2

Malagueta

1

Cebola

5

Sukulbembé

2

Mancarra

1

Feijão

1

Milho

1

Mandioca

2

Arroz

5

Djagatu

4

Badjiki/Rosela

5

Candja/Quiabos

6

Alface

2

Tomate

8 0

1

2

3

4

31

5

6

7

8

9


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G) Finalidade da Produção Depois de analisar o tipo de produtos produzidos, tornou-se necessário também analisar qual a finalidade desta produção. Os resultados desta questão encontram-se expostos no Gráfico 36, podendo algumas tabancas acumular várias finalidades: 12 tabancas produzem para consumo na família, 11 para troca directa por outros produtos, 6 para venda e 6 não responderam a esta questão. De realçar que das 18 tabancas inquiridas apenas 6 afirmam produzir hortícolas com o objectivo de venda, o que mostra, mais uma vez a falta de dinamismo económico. Gráfico 36 - Finalidade dos Produtos Produzidos no Campo Comunitário 14 12 10 8 6 4 2 0

12

11 6

Consumo na Família

6

Troca Directa Venda N.S./N.R.

Consumo na Família

Troca Directa

Venda

N.S./N.R.

H) Sementes A multiplicação de sementes no campo comunitário também foi abordada no questionário. Numa primeira fase, as tabancas foram questionadas sobre se faziam ou não multiplicação de sementes? Como se verifica no Gráfico 37, metade (50%) das tabancas inquiridas indicaram fazer multiplicação de sementes, 33% indicou não fazer e 17% não respondeu. Gráfico 37 - Multiplicação de Sementes 3 17% Sim 9 50%

Não Não sabe/não responde

6 33%

Quanto à questão “Se sim, quais são as sementes que multiplica?”, das 9 tabancas que disseram fazer multiplicação de sementes todas indicaram o tipo de sementes de que faziam multiplicação, estando os resultados estão apresentados no Gráfico 38. Há 32


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uma grande diversidade do tipo de sementes multiplicadas, sendo as que aparecem com mais frequência as de tomate (25%), Arroz (25%), Candja (15%), Milho (10%) e Djagatu (10%). É ainda feita a multiplicação de sementes de Badjiki, Sukulbembé e Mandioca. Gráfico 38 - De Que Sementes é Feita Multiplicação 2 10% 5 25%

1 5%

Tomate

1 5%

Candja Djagatu

1 5%

Arroz Milho Badjiki 3 15%

Sukulbembé Mandioca

5 25% 2 10%

A par da multiplicação das sementes, colocou-se também a questão relativa a multiplicação de plantinhas e “Se sim, quais as plantinhas que costumam comprar?” Conforme o Gráfico 39, apenas uma das tabancas indicou fazer multiplicação de plantinhas, e quando questionada sobre o tipo de plantinhas de que fazia multiplicação citou somente a manga. Gráfico 39 - Multiplicação de Plantinhas

1 8%

12 92%

Sim Não

O último grupo deste ponto incluía as questões: “Costuma comprar sementes?” e “Se sim, quais as sementes que costuma comprar?”. Relativamente à primeira questão, apenas 3 tabancas disseram comprar sementes (Gráfico 40). A maioria (55%) indicou não comprar e 28% não respondeu a esta questão. 33


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Gráfico 40 - Compra de Sementes

Sim

5 28%

10 55%

Não Não sabe/não responde 3 17%

Quanto ao tipo de sementes que costumam comprar, cujos resultados se apresentam no Gráfico 41, as 3 tabancas que compram sementes compram de cebola e 2 delas compram de candja e tomate. As sementes de repolho, pimentão, pimenta e badjiki são apenas adquiridas por uma das tabancas. Quando questionadas sobre onde costumavam comprar as sementes todas responderam Bissau. Gráfico 41 - Que Sementes Compram 3.5 3

3 Cebola

2.5

2

2 1.5 1

2

Repolho Pimentão

1

1

1

1

Candja Pimenta

0.5

Badjiki

0

Tomate

As tabancas foram ainda questionadas sobre a compra de plantinhas, mas dado que a totalidade das inquiridas não respondeu, não foi possível tirar conclusões sobre este ponto.

I) Acesso à Água O próximo ponto a abordar, as condições de acesso à água para irrigação dos campos comunitários: tipo de acesso e frequência. Como se verifica no Gráfico 42, quando questionadas sobre o tipo de acesso à água de que dispunham para irrigação dos campos comunitários cultivados, 10% respondeu que era através de poço tradicional, 11% através de poço tradicional e melhorado e 5% através de poço melhorado. 28% das inquiridas não respondeu a esta questão. 34


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Gráfico 42 - Tipo de Acesso à Água Poço tradicional

5 28%

Poço melhorado

2 11%

10 56%

Poço tradicional e poço melhorado Não sabe/não responde

1 5%

Sobre a questão de terem acesso à água durante todo o ano, 56% das tabancas indicou que não, 22% declarou que sim, e igual percentagem não respondeu (Gráfico 43). Gráfico 43 - Acesso à Água Durante Todo o Ano 4 22%

4 22%

Sim Não Não sabe/não responde 10 56%

Às tabancas que referiram não ter acesso durante todo o ano, foi também perguntado quais os meses em que não têm água para irrigar o campo. Conforme exposto no Gráfico 44, podemos observar que 13 tabancas indicaram não ter água em Abril e Maio, 11 não têm em Junho, 9 não têm em Março, 8 em Julho, 6 em Fevereiro e 3 em Janeiro, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Gráfico 44 - Se Não Tem Acesso Todo o Ano, Quais os Meses em que Não Tem Água para Irrigar o Campo 13

13 11

9

8

6 3

3

3

Outubro

Novembro

Dezembro

N.S./N.R.

3

Setembro

Julho

Maio

Abril

Março

Fevereiro

Junho

35

3

Agosto

5

3

Janeiro

14 12 10 8 6 4 2 0


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Esta situação é reveladora da dificuldade que existe em termos de cultivo, pois não havendo acesso à água para irrigar os campos dificilmente se consegue aumentar e melhorar a produção agrícola e, como vimos anteriormente, a agricultura é fundamental para a subsistência das tabancas. J) Práticas Utilizadas A par da preocupação em perceber as condições de acesso à água para a produção e para a vivência das populações, importa de seguida compreender o tipo de práticas que utilizam para o labor agrícola, para perceber de que forma as práticas usadas afectam também a eficácia da produção. Em primeiro lugar, foi colocada a questão de como adubavam a terra e que tipo de fertilizante era utilizado. Das 18 tabancas em análise, apenas 8 indicaram adubar a terra e todas indicaram como tipo de fertilizante “Fezes de Vaca” (Gráfico 45). Gráfico 45 - Se Usa Fertilizantes e De Que Tipo

Fezes de vaca

8 44%

10 56%

Não sabe/não responde

Também 8 tabancas afirmaram ter práticas de combate ás pragas. Destas 4 indicaram usar casca de bissilão, 2 usam plantas medicinais, 1 cinzas e as restantes não responderam (Gráfico 46). Gráfico 46 - Tipo de Práticas Naturais Utilizadas 12 10 8 6 4 2 0

11

4 1 Casca de Bissilão

Cinzas

2

Plantas medicinais

Não sabe/não responde

K) Instrumentos Existentes Mantendo-nos na linha do trabalho no campo comunitário, a seguinte questão colocada no inquérito remete para “Quais as ferramentas que utilizam no campo?” Esta questão incluía uma série de opções de resposta e pela análise dos dados pudemos chegar à conclusão (gráfico 47) de que os utensílios utilizados são catanas (12), enxadas (11), ancinhos (9), baldes (7), regadores (3) e pás (2). 36


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Gráfico 47 - Ferramentas Usadas no Trabalho no Campo 14 12

12 10

11

9

8

7

6 4 2

2

3

2

0 Ancinhos

Catanas

Enxadas

Baldes

Pás

Regadores N.S/N.R.

A par desta preocupação, existe outra que é a de compreender a “propriedade dos instrumentos de trabalho”, dentro de opções de resposta que incluía “cada mulher é dona dos seus instrumentos de trabalho”, “os instrumentos de trabalho pertencem a todo o grupo” e “são emprestados por outras pessoas/organizações”. Podemos averiguar que existe uma distribuição equilibrada (Gráfico 48) entre as três opções de resposta, com 22% para a primeira opção e 28% para a segunda e terceira opções e 22% de não respostas (“Não sabe/não responde”). Isto demonstra que sensivelmente metade dos instrumentos de trabalho são pertença ou das mulheres ou, pelo menos, de grupos específicos, o que nos pode levar a aferir que existe alguma autonomia no que concerne à posse de instrumentos de trabalho. Se atentarmos ainda ao facto de a agricultura, como temos vindo a concluir, ser muito tradicional ou até familiar – como se sugeriu atrás – revela um aspecto positivo já que a capacidade de trabalho endógena tem alguma relevância. Gráfico 48 - Propriedade dos Instrumentos de Trabalho 4 22%

4 22%

Cada mulher é dona dos seus instrumentos de trabalho Os instrumentos de trabalho pertencem a todo o grupo São emprestados por outras pessoas/organizações

5 28%

5 28%

Não sabe/não responde

A questão posterior consiste na “necessidade de quantas ferramentas de trabalho” dos grupos comunitários nas tabancas. Dentro do conjunto de respostas possíveis, apresentadas na grelha de inquérito, era pedido que indicassem a quantidade específica para cada instrumento. O que se verificou, de modo generalizado, foi que a maioria das res37


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postas – maioria esmagadora, importa referir – demonstra a necessidade de ferramentas de trabalho mas não especifica a quantidade, o que é demonstrativo de duas coisas: uma primeira, e a mais óbvia e imediata, a necessidade comum de obter mais ferramentas para o trabalho no campo comunitário; a segunda, e esta de índole mais alargada, a falta de capacidade para se numerar quantitativamente as necessidades, ou seja, existe uma enorme dificuldade, que temos vindo a descrever ao longo do estudo, em, a par da percepção das dificuldades, informar de forma detalhada as lacunas existentes na tabanca, o que, naturalmente, dificulta a obtenção de uma visão conceptual, valorativa e empírica das necessidades e obstáculos das tabancas. L) Dificuldades Sentidas As dificuldades da produção agrícola não se encontram apenas na falta ou não de ferramentas, apesar de naturalmente, e dentro do contexto especifico das tabancas, ser um elemento de estudo importante. Nesse sentido, procurou-se alargar um pouco mais a discussão e estudo sobre as principais dificuldades, ao colocar-se a questão “Quais as principais dificuldades que encontram na produção agrícola (hortícola/frutícola)?” . Analisando o Gráfico 49, vamos em primeiro lugar s começar pelas dificuldades com maior frequência de respostas: as opções “falta de ferramentas” (16), “dificuldades no combate às pragas” (16), “dificuldades no acesso à agua” (16), “falta de sementes” (15) e “falta de estacas” são as mais citadas, logo são as dificuldades mais comummente sentidas pelas tabancas inquiridas. A falta de ferramentas, de sementes ou de acesso à água influi directamente no volume da produção, fazendo com que a quantidade produzida seja inferior à que potencialmente poderia ser produzida. A dificuldade no combate às pragas é, também uma questão fundamental e constitui um obstáculo enorme, pois pode alterar significativamente a qualidade e quantidade da produção, podendo ser muito prejudicial para a estrutura económica, já de si débil, das tabancas. São também citadas dificuldades de outro tipo: “falta de tempo para plantar”(2), “má qualidade da terra”(2) e “falta de terras disponíveis”(1). Gráfico 49 - Principais Dificuldades encontradas na Produção Agrícola 18 16 14

16

16

16 15 Dificuldades no Acesso à Água

13

Dificuldades no combate às Pragas

12

Falta de Ferramentas Falta de Sementes

10

Falta de Estacas 8

Falta de Tempo Para Plantar Má Qualidade da Terra

6

Falta de Terras Disponíveis para Cultivar

4 2

2

2

2 1

0

38

N.S./N.R.


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Distribuição e Comércio Este ponto pretende explorar o que acontece aos produtos após a fase de produção: o armazenamento, o tipo de produtos vendidos, os mercados onde estes são vendidos e como são transportados. A) Armazenamento Os resultados a seguir apresentados são importantes no sentido de serem demonstrativos da natureza familiar da produção agrícola, se não vejamos: à questão “Onde são armazenados os produtos hortícolas/frutícolas?” (Gráfico 50) 78% respondeu “em casa da família”. Uma das respostas recai ainda sobre o armazém da família e outra num armazém comunitário. Gráfico 50 - Onde são armazenados os produtos hortícolas/frutícolas 2

Em casa da família

1 11% 6% 1 5%

Num armazém da família Num armazem comunitário Não sabe/não responde

14 78%

B) Tipo de Produtos Vendidos Quanto ao tipo de produtos de que as tabancas dispõem para venda, estes são muito diversos (Gráfico 51), destacando-se o tomate (6) e a cebola (6) como produtos que mais tabancas têm disponíveis para venda. Gráfico 51 - Tipo de Produtos para Venda Sukulbembe Cenoura Repoulho Caju Pimenta Banana Limão Abóbora Feijão Batata Nhambi Baguitchi Mandioca Mancarra Arroz Djagatu Candja Alface Cebola Tomate

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 6 6 0

1

2

3

39

4

5

6

7


C) Meios de Transporte Utilizados Foi colocada, também, na grelha de inquérito a pergunta “Como transportam os produtos hortícolas/frutícolas para vender?” A maior percentagem incide na opção “a pé” com 33,3% (Quadro 4). Este dado compreende duas concepções, a primeira transmite a percepção das dificuldades que existem em os produtores estabelecerem planos de negócio, por mais basilares que sejas, devido a dificuldades logísticas; ao mesmo tempo, encontramos paralelismos com outros dados estudados atrás e consubstanciam a noção de economia muito débil e deficitária na Guiné. Quadro 4 - Como Transportam os Produtos Hortícolas para Vender Tipo de Transporte

Frequência

Percentagem

A pé

6

33.3

De canoa

1

5.6

A pé e de carro

1

5.6

Não sabe / Não responde

6

33.3

Pé, Canoa

1

5.6

A pé, de carro e canoa

3

16.7

Total

18

100

D) Mercados de Venda Tentou, ainda, apurar-se, em que mercados os produtos atrás referidos eram vendidos. No entanto, 78% dos inquiridos não respondeu a esta questão, não sendo possível chegar a conclusões relevantes. Podemos, apesar disso, observar que das 4 tabancas que responderam 3 vendem os produtos em Bissau e 1 delas vende em Buba e Bissau simultaneamente. Gráfico 52 - Mercados Onde Vendem os Produtos 3 17% 1 5%

Bissau Buba e Bissau Não sabe/não responde

14 78%

E) Dificuldades Sentidas Quando questionada sobre as dificuldades sentidas ao nível da comercialização dos produtos, mais uma vez a maior parte não respondeu (Gráfico 53). As que responderam citaram dificuldades como: falta de transporte (3), produção insuficiente para venda (2), falta de clientes (1) e o preço elevado dos transportes (1).


Gráfico 53 - Dificuldades de Venda 0

2

4

Não têm transporte até aos mercados

6

8

10

12

3

A produção não chega para se poder vender

2

Não há clientes para os produtos

1

O transporte para os mercados é muito caro, não tem espaço para vender no mercado

1

Não sabe/não responde

11

Formação No âmbito de apurar necessidades de formação, segundo a percepção das inquiridas, foi ainda feita uma questão sobre o tipo de experiências que gostariam de visitar, se fosse possível. Apenas uma das tabancas inquiridas não respondeu a esta questão. Das 16 tabancas que responderam, 16 gostariam de visitar produções hortícolas e frutícolas, 13 de multiplicação de sementes, 12 gostariam de visitar produções de arroz e 4 de multiplicação de plantinhas. Esta forte expressão das inquiridas relativamente a esta questão, demonstra que de facto há uma consciência sobre a falta de conhecimento que existe em matéria de técnicas e práticas produtivas, que poderiam melhorar a produtividade agrícola das tabancas. Gráfico 54 - Tipos de Experiências que Gostaria de Visitar 18 16 14 12

16 12

Produção hortícola e Frutícola

13

Produção de arroz,

10 8 6 4 2 0

4

Multiplicação de sementes Multiplicação de Plantinhas



Considerações Finais O presente estudo reveste uma utilidade concreta imediata, tendo possibilitado um melhor conhecimento em relação à organização comunitária e actividades económicas das populações de dos Sectores de Tite e Fulacunda, que não tinham sido alvo de qualquer intervenção de desenvolvimento depois da independência, até 2008, ano em que decorre a primeira fase do “Projecto de reforço das organizações comunitárias e das suas iniciativas de apoio às actividades de produção, transformação e comercialização nos Sectores de Tite e Fulacunda”. Irá ser útil quer para todos os actores que estejam ou venham a intervir na região, servindo de base para diagnósticos de necessidades em futuros projectos. Importa aqui salientar os elementos mais prementes do estudo como a falta de infra-estruturas (estradas de acesso às tabancas, poço melhorado ou mecanizado, lojas ou mercados) e o difícil acesso a serviços de saúde, escolas públicas, meios de comunicação e meios de transporte. Estas condições concorrem para o isolamento económico, político e cultural da região. No que concerne o acesso à informação, é de realçar o papel fundamental desempenhado pelas rádios comunitárias, sendo a rádio o meio de comunicação e informação mais difundido nos Sectores em estudo. As principais actividades económicas são a agricultura, a criação de gado e a 43


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pesca – tendo em conta que Tite está situado nas margens do Rio Geba e uma parte do Sector de Fulacunda é banhada pelo Rio Grande de Buba. Cajú e arroz são os principais cultivos, sendo o arroz produzido sobretudo para consumo das famílias. Uma parte da produção hortícola e frutícola é para venda, mas não é significativa. A produção é baseada em técnicas rudimentares que limitam a produção em maiores quantidades bem como o potencial gerador de rendimentos. Aliada à falta de métodos de produção eficazes e de conhecimentos sobre o processo produtivo, há igualmente uma escassez de equipamentos e instrumentos de produção, até para os produtos em que se baseia a actividade agrícola das tabancas. Os campos comunitários existentes na generalidade das tabancas têm aqui um papel importante porque permitem que a comunidade tenha uma parcela para cultivar (mesmo que sejam produtos para consumo próprio) e alivia de certa forma uma das dificuldades citadas, que é a falta de terrenos para cultivar. Não foi possível apurar o tamanho destes campos, mas existe um elevado número de mulheres a trabalhar em cada um, cultivando cada uma a sua parcela. Os tipos de alimentos que são cultivados nestes são basicamente os mesmos que são cultivados nos campos particulares e as dificuldades são também semelhantes (acesso à água, falta de instrumentos, etc). Além dos constrangimentos do processo produtivo, estes existem também no que se refere ao armazenamento (sendo este feito nas casas de família), de distribuição (a forma de transporte para venda é feita maioritariamente a pé) e na venda (afastamento dos principais mercados e falta de infra-estruturas). Apesar disso, há uma consciência generalizada, nas comunidades e tabancas de que realmente as actividades económicas poderiam ser melhoradas e dinamizadas com recurso a mais materiais e formação e a novos métodos de combater tanto os fenómenos naturais (como as pragas) como as condições passíveis de alteração através de intervenção humana (falta de infra-estruturas, utensílios, informação, etc). Há, então, noção de que apesar dos elevados níveis de pobreza e das condições de subsitência que se vivem em zonas mais isoladas, há ainda muito por e para fazer por forma a melhorar a vida das comunidades das tabancas.

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Glossário Bagigna, baguitchi, candja, djagatu, nhambi, sukulbembé: diferentes tipos de produtos hortícolas Bissilão: Khaya senegalensis (nome científico) árvore de grande porte Bolanha: campo de cultivo de arroz inundado Candonga: transporte colectivo Madrassa: escola de aprendizagem em língua árabe Mancarra: amendoim Tabanca: aldeia

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Anexos

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Anexo I - Croqui de Tite

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Anexo 2 - Croqui de Fulacunda

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Anexo 3 – Questionário QUESTIONÁRIO DE LEVANTAMENTO I – Caracterização do Agrupamento de mulheres 1. Nome do Grupo__________________________________________ 2. Nome do responsável do grupo______________________________ 3. CONTACTO do responsável do grupo________________________ 4. Actividades da Associação _______________________________________ 5. Data de criação do grupo ___/________________/_________ 6. ESTATUTO__________ 6.1 Legalização Sim____ Não____ 7. Breve historial da criação do grupo (objectivos, afinidades entre os membros). 7.1 Quantos membros tem o grupo? 7.2 Quando formaram o grupo? 7.3 Porque decidiram formar o grupo? 7.4 Quem pode entrar / fazer parte do grupo? II Tabanca 1. Nome da Tabanca _________________________________ 2.Nº aproximado de famílias que vivem na tabanca _________ 3. Nº aproximado de pessoas que vivem na tabanca ________ 4. Nº de pessoas por família (aproximado) ________________ 5. A Tabanca tem? Infra-Estruturas

Sim

Não

Que Tipo?

Estrada de acesso à tabanca

Qual o tipo de estrada de acesso à tabanca? - Caminho de Terra __ - Estrada de Terra __ - Estrada de Alcatrão __

Acesso à água

Qual tipo de Acesso a água existe na tabanca? Água do rio __ Poço Tradicional __ Poço Tradicional melhorado __ Poço Mecanizado __

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Loja

Que produtos a Loja tem para Venda?

Mercado

Numa semana quantas vezes há mercado?

Banco de Cereais

O Banco de Cereais está a funcionar? - Sim :__ - Não __

Comité do Estado Mesquita Polícia Outras. Quais ___________________

5.1 A tabanca tem escola? Sim__ Não___ 5.2 Que tipo de escolas estão a funcionar na Tabanca? Escolas a funcionar na Tabanca Escola pública Escola popular Escola madrassa Outra. Qual _______________________ 5.3 Acesso a cuidados de saúde Onde fica Como se desloca Hospital

Quanto tem- Tem médico po demora Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Tem enfermeira Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Tem medicamentos Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Sempre __ Algumas vezes __ Raramente __ Nunca __

Posto de Saúde

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5.4 Na tabanca há acesso a: Meios de comuni- Sempre cação Telefone Rede de Telemóvel Televisão Rádio Jornal Internet Outro. Qual? ___________

Algumas vezes

Raramente

Nunca

5.5. Quais os meios de transporte disponíveis para deslocações? Meios de transporte Candonga Bicicleta Moto Carro Canoa Camião Outro. Qual? _________

Todos os Alguns dias dias por semana

Um dia por semana

Duas vezes por mês

1 vez por mês

Nunca

6. Actividades Económicas na Tabanca 6. 1 Quais as actividades económicas que são praticadas pelos moradores da tabanca? Tipos de actividades Económicas Agricultura Pesca Criação de gado Comércio Confecção e costura de roupas Construção civil Artesanato Transportes 52

XX


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Outra. Qual? _________________ 6.2 Das actividades praticadas, quais as que geram mais rendimento para as famílias? Tipos de actividades Económicas Agricultura Pesca Criação de gado Comércio Confecção e costura de roupas Construção civil Artesanato Transportes Outra. Qual? _________________

XX

6.3 Quais os produtos agrícolas produzidos na tabanca? Produtos Agrícolas Meses do ano em produzidos na que se faz trabalha na tabanca produção

A produção é + para venda

A produção é + para consumo na família e troca directa por outros produtos?

1. Arroz 2. Caju 3 Hortícolas 4. Frutícolas 5. 6. 6.4 Que quantidades foram produzidas no último ano, dos produtos? Produtos Agrícolas produzidos na tabanca 1. Arroz 2. Caju 3. Hortícolas 4. Frutícolas 5. 6.

Quantidade produzida no último ano (estimativa)

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6.5 Qual a evolução da produção ao longo dos últimos 2 anos? Produtos Agrícolas pro- Tem aumentado duzidos na tabanca 1. Arroz 2. Caju 3. Hortícolas 4. Frutícolas 5. 6.

Tem diminuído Manteve-se igual

6.6 Qual a evolução dos preços ao longo dos últimos 2 anos? Preços dos produtos agrícolas vendidos 1. Arroz 2. Caju 3. Hortícolas 4. Frutícolas 5. 6.

Tem aumentado Tem diminuído Manteve-se igual

6.7 No trabalho agrícola, na tabanca, é feita: Tipos de práticas Multiplicação de sementes Enxertia das plantas (frutas) Pesticidas Controlo de praga através de métodos naturais Outros? Quais

Sim

Não

Quais?

6.8 Na tabanca existe: Equipamentos Descascadora de arroz Instrumentos agrícolas Máquinas agrícolas (tractores, etc.) Outras. Quais? ______________

Sim

Não

54

Quais?

Quantas?


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7. Trabalho em Campo comunitário do Grupo 7.1 O Grupo tem um campo comunitário? Sim __ Não __ 7.2 A quem pertence o campo comunitário? Propriedade do campo de cultivo 1. É propriedade do grupo 2. É propriedade de alguns membros do grupo 3. É da comunidade, tendo sido cedido ao grupo 4. É do Estado, tendo sido cedido ao grupo 5. Outro. Qual_________________

XX

7.3 Qual o tamanho aproximado do campo 7.4 Quantas mulheres trabalham no campo comunitário 7.5 Como se organiza o trabalho das mulheres no campo comunitário Organização do trabalho no campo comunitário 1. Cada mulher cultiva uma parcela 2.Cada mulher trabalha no campo e depois dividem os produtos 3. Outro. Qual___________________

XX

7.6 Quanto tempo trabalham na horticultura? Tempo de trabalho no campo comunitário Todos os dias 3 dias por semana 1 dias por semana 2 vezes por mês Menos de 2 vezes por mês

Meses de Bolanha

Meses sem trabalho na Bolanha

7.7 Quais os meses do ano em que trabalham na horticultura

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7.8 Se fosse necessário, poderiam trabalhar mais horas no campo comunitário? Multiplicação de plantinhas Sim Outra. Qual?______________________________ Quantas mais horas poderiam trabalhar? __ Não Assinatura do Animador Rural do Projecto ________________________ Assinatura dohortícolas Responsável Grupo________________ 7.9 Quais os quedo cultivam no campo comunitário (dizer primeiro os que produzem mais até aos que menos produzem) Nome do Produto

Meses de cultivo

Meses de colheita

1º 2º 3º 4º 5º 7.10 Os produtos produzidos no campo comunitário são para: Nome do Produto (copiar os nomes do quadro acima)

Para venda

Para troca por outros produtos

Para consumo na família

1º 2º 3º 4º 5º 7.11 Fazem multiplicação de sementes? Sim __ Não ___ 7.12 Quais as sementes que fazem multiplicação? __________________________ 7.13 Fazem multiplicação de plantinhas? Sim __ Não ___ 7.14 Quais as plantinhas que fazem multiplicação? __________________________ 7.15 Costumam comprar sementes? Sim

Quais as sementes que compram? ______________________________

56

Onde? ________________________


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Não 7.16Costumam comprar plantinhas? Sim

Quais as plantinhas que compram? ______________________________

Onde? ________________________

Não 7.17 Qual o acesso a água que usam para regar no campo comunitário Tipo de acesso a água

XX

Quantos

Qual a capacidade de água que têm (estimativa)

1. Poço tradicional 2. Poço melhorado 3. Fontanário público 4. Transporte de água a partir do rio 5. Reservatório de água 5. Outro. Qual __________________ 7.18 O grupo tem acesso a água ao longo de todo o ano para regar o campo comunitário? Sim __ Não ___ 7.19 Se não têm acesso todo o ano, quais os meses em que Não tem agua para irrigar o campo?_______________________________________ 7.20 Como adubam a terra? Tipo de adubos Fertilizante natural Fertilizante sintético / químico Não usa adubos

XX

Que tipo de adubos

7.21 Que práticas usa para combater as pragas? Tipo de combate a pragas Pesticidas sintéticos Plantas próprias Outras práticas naturais

XX

Que tipo?

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Não usa práticas de combate às pragas 7.22 Quais as ferramentas que usam no trabalho no campo? Ferramentas 1.Catanas 2.Enxadas 3.Pás 4.Ancinhos 5.Regadores 6.Baldes

XX

Quantas têm

7. Carrinhos de mão 8.Outro. Qual__________________

7.23 A quem pertencem os instrumentos de trabalho? Instrumentos de trabalho 1.Cada mulher é dona dos seus instrumentos de trabalho 2.Os instrumentos de trabalho pertencem a todo o grupo 3.São emprestados por outras pessoas / organizações 4.Outro. Qual? ________________

XX

7.24 Quais as ferramentas de trabalho de que necessitam? Ferramentas 1.Catanas 2.Enxadas 3.Pás 4.Ancinhos 5.Regadores 6.Baldes 7.Carrinhos de mão 8. 9.

Quantas

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7.25 Quais as principais dificuldades que encontram na produção agrícola (hortícolas / frutícolas) Dificuldades Falta de sementes Má qualidade das sementes Falta de estacas Má qualidade das estacas Dificuldades em combater pragas Falta de terras disponíveis para cultivar Diminuição das chuvas Má qualidade da terra Dificuldades no acesso a água Falta de tempo para plantar Falta de ferramentas Outra. Qual? ________________________

XX

Observações

7. Distribuição e Comércio dos produtos 7.26 Onde são armazenados os produtos hortícolas / frutícolas? Local de armazenamento dos produtos Em casa da família Num armazém da família Num armazém comunitário Outro. Qual? _____________________

XX

7.27 Dos produtos que cultivam no campo comunitário, quais são os produtos que vendem? Nome do Produto

Onde vendem

Nenhum 1º 2º 59

Preço de venda


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3º 4º 5º 7.28 Como transportam os produtos hortícolas / frutícolas para vender? Não transportam A pé De Carro De bicicleta De camião De moto De canoa Outro. Qual______________

7.29 Quais os mercados onde vendem os produtos? Mercados

Qual o transporte que usam

Qual o preço do transporte?

Quanto tempo demoram até ao local de venda?

1. Buba 2. Bissau 3.

7.30 Quais as principais dificuldades na venda dos produtos Dificuldades na venda dos produtos Não têm transporte até aos mercados O transporte para os mercados é muito caro Não tem espaço para vender no mercado A produção não chega para se poder vender Não há clientes para os produtos Os produtos ficam estragados no transporte

XX

Outras. Quais? _____________________________

8. Formação 8.1 Se pudesse fazer visitas a outros locais para conhecer experiencias de trabalho em agricultura, que tipos de experiencias gostariam de conhecer? Tipos de locais a visitar Produção hortícola e frutícola Produção de arroz Multiplicação de sementes

XX

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Com o apoio financeiro de:

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