14 CANÇÕES DO ESPETÁCULO
A VIAGEM DO ELEFANTE TRIGO LIMPO TEATRO ACERT A PARTIR DO CONTO DE JOSÉ SARAMAGO
LUIS PASTOR
A COR DA LÍNGUA ACERT
14 CANÇÕES DO ESPETÁCULO
A VIAGEM DO ELEFANTE TRIGO LIMPO TEATRO ACERT A PARTIR DO CONTO DE JOSÉ SARAMAGO
MÚSICA LUIS PASTOR E A COR DA LÍNGUA ACERT POEMAS JOSÉ SARAMAGO
Título: 14 Canções do Espetáculo "A Viagem do Elefante" Poemas de José Saramago Música de Luis Pastor
LIVRO Fotografias de Carlos Teles e Ricardo Chaves Textos da Acert, Conservatório de Música de Coimbra, Fundação José Saramago, José Rui Martins, Luis Pastor e Pompeu José Desenho gráfico e ilustrações de Zétavares Produção Gráfica: Esferagráfica Impressão e acabamento: Raínho & Neves, L.da Isbn 978-972-97143-5-1 Depósito Legal 384512/14 1ª edição: Dezembro de 2014 Editor: Associação Cultural e Recreativa de Tondela R. Dr Ricardo Mota, 3460-613 Tondela Telef 232 814 400 © Associação Cultural e Recreativa de Tondela, Carlos Teles, Fundação José Saramago, Luis Pastor e Ricardo Chaves
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CD Produção Musical - Manuel Maio Produção Executiva – José Rui Martins e Miguel Cardoso Mistura - Manuel Maio e Quico Serrano Masterização - Quico Serrano Música - Luis Pastor Arranjos - A Cor da Língua Acert e Luis Pastor Colaboração nos arranjos dos músicos participantes; arranjos de sopros - Manuel Maio [2] [14] e Rui Lúcio e Adriano Franco [14] Músicos A Cor da Língua Acert Carlos Peninha, Luisa Vieira, Lydia Pinho, Miguel Cardoso e Rui Lúcio Participações especiais Adriano Franco, André Cardoso, Andrés Tarábbia (Pancho), Carlos Borges, Edu Pacheco, Flávio Martins, João Vilão, Jorge Campos, Jorge Cardoso, Lourdes Guerra, Manuel Maio, Pedro Santos, Renato Monteiro e Rui Ferreira (Caps) Gravado por Gonçalo Santos, Manuel Maio, Rui Ferreira (Caps) e Hélder Costa no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra e no Estúdio Novo Ciclo Acert entre Junho e Outubro de 2014. Guitarras dos temas [7] e [11] gravadas no estúdio Manitu, Madrid.
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A José Saramago, por nos ter dado o itinerário afetivo desta Viagem
Ao elefante Salomão, por fazer viver em nós a sua humanidade
Aos milhares de atores e músicos locais d’A Viagem do Elefante que participaram e que em nós deixaram pegadas memoráveis de talento e generosa amizade
ÍNDICE TEXTOS Págs. Acert 11 Luis Pastor 13 A Cor da Língua 15 Trigo Limpo teatro Acert 17 Fundação José Saramago 21 Consevatório de Música de Coimbra 23 Resumo do espetáculo 26
14 CANÇÕES (1) «Há-de haver» | 3’54’’ 28 30 (2) «Palma com Palma» | 3’52’’ No silêncio dos olhos | 2’40’’ 32 (3) Science-fiction II | 2’41’’ 35 (4) 36 (5) Poema a boca fechada | 3’09’’ (6) Alegria | 3’00’’ 38 41 (7) De paz e de guerra | 3’30’’ Amanhecer | 2’45’’ 42 (8) (9) Retrato do poeta quando jovem | 4’40’’ 45 (10) Intimidade | 3’19’’ 46 48 (11) «A ti regresso, mar…» | 3’54’’ Madrigal | 2’05’’ 51 (12) (13) Labirinto | 4’16’’ 52 (14) Balada | 3’39’’ 55
(15)
Sons de Cena | 4’58’’ 57
Ficha artística e técnica do espetáculo
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UM LIVRO/CD COM UM INTERIOR DE SONHOS COM MUITA GENTE DENTRO Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós*
Há muito que a criação musical acompanha o percurso artístico do Trigo Limpo teatro Acert. Concretize-se: desde 1976. Mais de uma centena de espetáculos tiveram música original e cinco edições discográficas perduram no tempo. Pelos resultados obtidos no processo de criação e apresentações ao vivo da música de cena na digressão do espetáculo “A Viagem do Elefante”, o Trigo Limpo teatro Acert decidiu gravar e editar as 14 canções, algumas só interpretadas parcialmente, para corresponder aos momentos teatrais. Pretende-se a valorização da música de cena e dos criadores musicais, cujas obras se mantêm tão desconhecidas e ignoradas. A música portuguesa fica enriquecida com novas alternativas que revelam experimentalismo artístico dos músicos portugueses. Na presente edição, assinale-se a partilha com Luis Pastor, cantautor espanhol com grande afinidade com a música e músicos de Portugal. A criação de suportes editoriais onde a música dialoga com poetas, atores, técnicos, fotógrafos, gráficos é uma prática que desejamos continuar a exercer. Este trabalho evidencia também o relevo e a importância da sua edição resultar do processo que gera o espetáculo antes do registo discográfico. Os músicos amplificam os resultados artísticos na vivência direta com as plateias. Dignificamos o público que, ao ter assistido aos espetáculos ao vivo, impulsionou os criadores a produzirem esta edição para perpetuar encontros de autenticidade partilhada. Que esta edição possa perdurar na memória de quem sonhou, participou, assistiu ao espetáculo “A Viagem do Elefante”, ou, tão naturalmente, para todos aqueles que gostam de música. Acert - Associação Cultural e Recreativa de Tondela
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José Saramago, Todos os Nomes, 1997
AQUÍ SEGUIMOS JOSÉ
Aquí seguimos, José a los pies de tu olivo Donde ya eres ceniza, tierra y árbol al qué abrazamos. Aquí seguimos, José. Poniendo música a la vida en tus poemas. A lomos de Salomón. Viajeros en el tiempo dispuestos a llegar donde siempre alguien nos espera. Lisboa, Valladolid, Padua, Viena. Camino andado, camino desandado, camino por recorrer. Plazas que a la noche son ciudades. Encuentros de luz, música y poesía. La magia del teatro en tantos corazones... Trigo Limpo, Cor da Língua
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Aquí seguimos José. A lomos de Salomón, recorriendo tus calles, reviviendo tus plazas. Forjando en granito la memoria viva de tu voz y tu palabra hecha teatro. El viaje continúa. Y con él, la vida de esta gran familia que es Acert. Luis Pastor Tondela 22/10/2014
Um passo após outro passo, somamos dias e anos.* Muitos foram os compositores e instrumentistas que criaram e interpretaram música de cena para o Trigo Limpo teatro Acert, contribuindo para que muitas das canções ganhassem vida e perdurassem para além dos espetáculos teatrais para que foram concebidas. Esta edição é também o momento de reconhecimento pelos seus memoráveis e talentosos trabalhos. O nosso empenho é prosseguir condignamente o que já foi realizado. O projeto do Trigo Limpo “A Cor da Língua Acert” , bem como os músicos que o integram, assumem que o teatro é um espaço de excelência onde a música evolui na relação intensa que estabelece com a obra dramática e seus intérpretes. Sentimo-nos honrados por ter podido viver um processo de tão intensa riqueza afectiva e artística com os nossos companheiros atores e músicos que em nós deixaram, ao vivo e em estúdio, tão afetuosas marcas humanas. Ao Manuel Maio — artesão sonoro que tratou as músicas como renda de bilros —, só temos a dizer que este Cd tem a sua marca distintiva. Dedicação, profissionalismo e amizade de consanguinidade. Ao André Cardoso: “tu és um de nós; mais nada!…” A José Saramago, a nossa gratidão indefinível, pelas preciosidades dos poemas que nos legou e confiou para esta musical aventura. A Luis Pastor, nosso Mestre e camarada de luta e de encantos, obrigado por nos ensinares que a generosidade e o trabalho geram talento e que a coerência e os valores humanos, proporcionam afinação. José Rui Martins A Cor da Língua ACERT
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José Saramago, “Os Poemas Possíveis”, 1966
“A VIAGEM DO ELEFANTE” ESPETÁCULO TEATRAL DE RUA DO TRIGO LIMPO TEATRO ACERT A cena… Lemos o conto “A Viagem do Elefante” que gerou em nós o sonho de o adaptar a teatro. José Saramago deu sentido ao nosso desejo: “As pessoas não escolhem os sonhos que têm, são, pois, os sonhos que escolhem as pessoas”. Humanas criaturas e o elefante Salomão queriam saltar das páginas para o teatro. Associámos vontades para que tão envolvente metáfora humana acontecesse. O mais delicado seria fazer sair do livro o já também nosso Salomão… Agigantá-lo era um justo merecimento e fizemos de Tondela sua índica morada. Atores, músicos, técnicos e construtores criaram magias partilhadas. Em Junho de 2013, estreámos em Figueira de Castelo Rodrigo. O roteiro cultural “O Caminho de Salomão” foi percorrido. O espetáculo deixou pegadas em nove localidades de Portugal e Espanha. Em 2014, o espetáculo percorreu o território Viseu Dão Lafões, ganhando vida nas suas catorze comunidades. Pela circulação de uma criação artística, uniram-se territórios na valorização de identidades locais de gente boa e bonita. Em cada uma das vinte e três semanas em que habitámos nos dois anos, os ensaios ganharam as ruas, as casas e as emoções. Cada arquitetura local foi adaptada às situações teatrais, para que a epopeica viagem, de Lisboa a Viena de Áustria, ganhasse todas as suas geografias. Cada espetáculo foi uma renovada estreia. As populações recebiam o elefante Salomão com uma hospitalidade ímpar… Permitiram também sermos sua pertença. Nos vários portos de ancoragem, mais de um milhar de participantes locais compartilharam connosco a sua entrega entusiasta: Generosos, talentosos e imprescindíveis para atingir os resultados artísticos. Muitos milhares de espetadores deram-nos sinais do seu encantamento. Uma digressão da dimensão do nosso Salomão. Maravilhosa. Artística e humanamente gratificante. Memórias que marcam um coletivo para sempre. 17
“O fim de uma viagem é apenas o começo de outra”. Pois claro, José Saramago, a nossa viagem nunca acabará. Esta edição comprova a continuidade de utopias urgentes.
A música de cena e os poemas Se o teatro assume uma missão de deslumbramento pela capacidade de não dispensar a meiguice de todas as artes, é indesmentível que a odisseia da criação não dispensaria a música e a poética numa narrativa teatral. A música caminhou de mão dada com a adaptação teatral. Sublinhou as intenções teatrais emotivas de cada passo da viagem: festiva, cerimonial, epopeica, contemplativa, bélica, comovedora; enfim, moldável à multiplicidade sentimental dos paradoxos humanos. Mais do que canções, o pretendido era música de cena. As composições não poderiam ser uma redundância da filigrana do conto feito teatro. Que poemas para as composições criadas por Luis Pastor para dançar nas palavras de um conto de um criador de livros e de sonhos como José Saramago? Às vezes para um eureka! basta que digamos “em som, as coisas que calados, no silêncio dos olhos confessamos”. José Saramago, não contente por nos dar o privilégio de viajar no seu elefante, ofereceu-nos a sua poesia como agasalho para que o seu conto feito teatro também cantasse. Muitos dos que assistiram ao espetáculo, acharam que as canções integravam o texto do conto. A verdade é que foi nas obras de José Saramago, Os Poemas Possíveis (1966) e Provavelmente Alegria (1970) que estava o sítio, a espera e a chegada. Os poemas pularam, quase quarenta anos depois, para “A Viagem do Elefante” como se tivessem sido escritos como antevisão do escritor para este seu conto feito teatro. Depois disto, ainda haverá quem duvide que “sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam?” . Trigo Limpo teatro ACERT
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“(…) Obrigada amigos da Acert, por nos deixarem participar na aventura de deixar pegadas ao lado de pegadas. Com o elefante, convosco, os sonhadores deste tempo.” Pilar del Río, no texto para o catálogo do espetáculo.
PALMA COM PALMA Ao fim de duas temporadas, A Viagem do Elefante faz o devido balanço das emoções, das partilhas, das trocas de palavras que destes mais de 20 espectáculos resultaram. E dele faz parte o Livro/Cd que agora se edita e que contém os sons que acompanharam os mais de 1000 participantes de cada um e de todos os espectáculos representados. Em todos eles, a par do passo lento e determinado de Salomão, das palavras ditas e sussurradas, sempre esteve presente a música, os sons e a voz de Luis Pastor que, acompanhado pelos músicos do “A Cor da Língua”, trazia outras palavras de José Saramago, fragmentos da sua obra poética que enquadravam e davam corpo às cenas que se apresentavam. Terminada a Viagem ficava a curiosidade de saber como seriam de facto estas músicas, que percursos encerrariam. Com o objecto que agora se edita, esta curiosidade é desfeita e nasce um novo corpo que, não esquecendo a sua origem – como o cornaca Subhro também não esqueceu – assume uma identidade que lhe permite perdurar para além das futuras apresentações, que se desejam, do espectáculo. Assente no diálogo entre a tradição e a contemporaneidade, uma outra marca distingue este trabalho: a sua orgânica, como se um novo corpo se levantasse e se preparasse para fazer, palma com palma, o seu caminho. Mantê-lo na nossa memória será sempre um dos objectivos da Fundação José Saramago. Sérgio Machado Letria Director da Fundação José Saramago
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Sempre chegamos ao sĂtio aonde nos esperam JosĂŠ Saramago, A Viagem do Elefante
UM RESUMO DO ESPETÁCULO “A VIAGEM DO ELEFANTE” COM INDICAÇÃO DAS 14 CANÇÕES (1)
No séc. xvi, no reinado de D. João iii, rei de Portugal e dos Algarves, transportado pelos mares, chega a Lisboa, Salomão, um elefante indiano nascido em Goa, acompanhado do seu tratador, o cornaca Subhro. Esteve em Belém para ser visto por todos mas passado algum tempo apenas dava trabalho e despesa e o rei, em conversa com a rainha Catarina de Áustria, decide oferecer o animal, como prenda de casamento, ao Arquiduque Maximiliano II da Áustria que se encontrava em Valladolid como regente de Espanha. Escreve ao primo Maximiliano a perguntar se ele aceita. (2) O rei D. João III visita o elefante pela última vez. (3) Ao encontrá-lo sujo e abandonado ordena que o lavem. Entretanto o Arquiduque responde a aceitar o presente. O rei ordena que preparem a expedição. Em 1551, o elefante parte, à pata, de Lisboa para Viena de Áustria acompanhado do seu tratador, de um grupo de ajudantes, de um carro de bois para transporte da água e da forragem e de um pelotão de cavalaria. E lá se vai a caravana. (4) Numa primeira paragem, junto a uma aldeia, vão requisitar uma outra junta de bois e a população curiosa vai ver o elefante. Deslumbrados ouvem a explicação de Subhro sobre a religião hinduísta mas, quando subentendem que deus é elefante, vão acordar o padre. (5) Ao ouvir as queixas da população decide voltar ao local do acampamento para exorcizar o animal. Recebe em troca uma patada. A população, para o curar, leva-o à bruxa. A caravana prossegue viagem e cansada, chega a Figueira de Castelo Rodrigo. (6) Enquanto aguarda os austríacos, o pessoal da intendência, como vai deixar de ser necessário, despede-se de Salomão. Chegam os couraceiros austríacos. (7) Os militares austríacos entram em confronto com os militares portugueses pois querem levar o elefante sozinhos até Valladolid. O alcaide de Castelo Rodrigo intervém diplomaticamente e consegue que aceitem ir os dois juntos entregar o elefante ao Arquiduque. (2) Chegados a Valladolid, a primeira coisa que o Arquiduque faz, ao vê-los, é mudar o nome a Subhro e a Salomão que passam a ser Fritz e Solimão. O comandante português despede-se com tristeza e regressa a Lisboa enquanto a caravana prossegue a viagem para a Áustria. 26
(8) Pouco tempo depois de partir, a caravana é obrigada a parar porque o elefante precisa de descansar durante a primeira metade da tarde, o que irrita o Arquiduque que ordena que o elefante descanse apenas uma hora. (9) No porto de Rosas, passam de barco para Itália. Uma atribulada viagem onde todos suportam o cheiro imundo das necessidades fisiológicas do elefante. Já em Pádua, e a pedido do clero local, Salomão faz um milagre, ajoelhando-se à porta da basílica. Valendo-se do êxito do milagre, Subhro aproveita para vender pelos de elefante. O Arquiduque, informado do sucedido pelo seu comandante, dá um valente “puxão de orelhas” ao cornaca. Prosseguem viagem. Ao chegarem a Trento, está a arder a imagem de um elefante, o que assusta o Arquiduque. Percebe depois que aquilo estava a ser feito em homenagem à sua passagem pela cidade. (10) Atravessam os Alpes. O frio e a neve tornam ainda mais difícil a travessia dos desfiladeiros mas acabam por passar sãos e salvos. (11) No dia 6 de Janeiro de 1552 chegam à Áustria. Um novo milagre. Uma criança foge do colo do avô e vai abraçar a tromba do elefante, assustando toda a gente; mas o animal devolve a criança sã e salva. (12) O Arquiduque cumprimenta agradecido o cornaca que é aclamado pela multidão. O elefante morre em Dezembro de 1553. (13) Semanas depois, chega à corte portuguesa uma carta do Arquiduque com a notícia da morte de Salomão. Informado pelo secretário, o rei manda chamar a rainha que, ao perceber o sucedido, grita fechando-se no quarto, onde chora o resto do dia. (14)
Canção Canção Canção Canção Canção Canção Canção
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(1) “Há-de haver…” (2) “Palma com palma” (3) “No silêncio dos olhos” (4) “Science-fiction II” (5) “Poema a boca fechada” (6) “Alegria” (7) “De paz e de guerra”
(8) Amanhecer” (9) “Retrato do poeta quando jovem” Canção (10) “Intimidade” Canção (11) “A ti regresso, mar…” Canção (12) “Madrigal” Canção (13) “Labirinto” Canção (14) “Balada” Canção
Canção
«Há-de haver…»
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Em “Os Poemas Possíveis”, 1966
Há-de haver uma cor por descobrir, Um juntar de palavras escondido, Há-de haver uma chave para abrir A porta deste muro desmedido. Há-de haver uma ilha mais ao sul, Uma corda mais tensa e ressoante, Outro mar que nade noutro azul, Outra altura de voz que melhor cante. Poesia tardia que não chegas A dizer nem metade do que sabes: Não calas, quanto podes, nem renegas Este corpo de acaso em que não cabes.
LUIS PASTOR - Voz ANDRÉ CARDOSO - Guitarra Portuguesa CARLOS PENINHA - Viola de Fado LUÍSA VIEIRA - Flauta, Coros LYDIA PINHO - Violoncelo, Coros MIGUEL CARDOSO - Contrabaixo, Coros RUI LÚCIO - Bateria, Coros 28
CORNACA Minhas senhoras e meus senhores! O primeiro passo da extraordinária viagem de um elefante à Áustria que nos propusemos narrar foi dado nos reais aposentos da corte portuguesa de dom João, o terceiro, rei de Portugal (aparece Rei) e dos Algarves, e de dona Catarina de Áustria (aparece a Rainha), sua esposa e futura avó daquele dom Sebastião que irá a pelejar a Alcácer‑Quibir e lá morrerá ao primeiro assalto, (Rei e Rainha reagem) ou ao segundo, embora não falte quem afirme que se finou por doença na véspera da batalha.
REI
O senhor Estribeiro-Mor tomará a responsabilidade de organizar a expedição.
ESTRIBEIRO-MOR
Dois homens para ajudarem o cornaca no seu trabalho! Uns quantos mais para se encarregaram do abastecimento de água e de forragens! Um carro de bois para o que for necessário…
POPULARES
Hã?
ESTRIBEIRO-MOR
… transportar a dorna, por exemplo
REI
E um pelotão de cavalaria… para o improvável caso de alguém pretender roubar o nosso Salomãozinho.
ESTRIBEIRO-MOR
E, em remate, um pelotão de cavalaria.
COMANDANTE PORTUGUÊS
(Apresentando-se com os seus cavaleiros) Às suas ordens Alteza!
Science‑fiction II
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Em “Os Poemas Possíveis”, 1966
Não há praias nesta vida Nem horizontes abertos: Há dois muros apertados, De noite e dia cobertos. Há sombras e vagalumes Que nos fazem companhia: São as nossas ilusões, Ai de quem nelas se fia. Porque os cacos de garrafa De que os muros são forrados, Quando corremos por elas, Nos deixam mal retalhados. Que estará do outro lado Dos muros que nos limitam? Quem sabe se, doutra gente, Olhos agudos nos fitam? Um passo após outro passo, Somamos dias e anos. Serão as praias lá fora A vida dos marcianos? LUIS PASTOR - Voz, Timple ANDRÉ CARDOSO - Guitarra Portuguesa CARLOS PENINHA - Guitarra Nylon, Viola Braguesa LOURDES GUERRA - Coros LUÍSA VIEIRA - Flauta, Coros MIGUEL CARDOSO - Baixo RUI LÚCIO - Bateria, Percussão, Coros RUI FERREIRA (CAPS) - Percussão 35
© Fundação José Saramago
Sons de cena
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Sonoridades do espetáculo ao vivo
"Sempre chegaremos ao lugar aonde nos esperam. No fundo é isso, o destino final é a morte, já sabemos disso mas entretanto vamos vivendo, e viver é uma forma, talvez a mais natural, de negar a morte. A nossa vida opõe-se com todas as suas forças à morte.” Voz-off de José Saramago com que termina o espetáculo. Na reportagem da SIC. "Saramago na Rota Portuguesa de Salomão" - Sofia Arêde e Humberto Candeias, 19 de junho de 2009
LUÍS VIEGAS - Captação ao vivo MIGUEL CARDOSO - Montagem 57
Da esquerda para a direita: Carlos Peninha André Cardoso Luis Pastor Miguel Cardoso Rui Lúcio Lydia Pinho Luisa Vieira
ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA DE TONDELA R. DR RICARDO MOTA, S/N; 3460-613 TONDELA TELEF. 232 814 400; WWW.ACERT.PT PARCERIA NA EDIÇÃO
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