Outras Importâncias" Exposição de Delfim Ruas

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Outras Importâncias Delfim Ruas 26 Fev — 19 Abr 2022 Galeria ACERT


Autor: Delfim Ruas Texto: Sara Figueiredo Costa Impressão: V. Coutinho SA Produção: ACERT Montagem vinil: Bruno Cardoso Agradecimentos: Nuno Coutinho, Sá Pinto Encadernadores Galeria ACERT 26 de Fevereiro a 19 de Abril de 2022 Novo Ciclo ACERT Rua Dr. Ricardo Mota, 14 3460-613 Tondela www.acert.pt

O Novo Ciclo ACERT integra a rede de teatros e cineteatros portugueses

A ACERT é uma estrutura financiada por


Outras Importâncias

nasceu de um convite da ACERT a Delfim Ruas, natural de Tondela, e a resposta foi uma obra pensada especificamente para o espaço desta galeria, compondo uma peça única e efémera que reflecte sobre a ideia de mitologia, históricatexto edit e pessoal. Nas paredes, reconhecem-se elementos históricos e paisagísticos do concelho de Tondela, mas o que se vê está mais próximo de um olhar sobre o tempo e as convulsões da História do que de uma cartografia do espaço que habitamos. São histórias atravessadas por uma ideia universal que cruza espaço, tempo e narrativa, conflitos e recomeços, para dar forma ao mundo em que cada geração vive.


1 As paredes e o lugar são parte integrante de Outras Importâncias, assumindo-se enquanto corpo de uma linha narrativa onde o tempo histórico e a geografia de Tondela são pontos de partida para uma construção mais ampla, que se expande sem balizas cronológicas nem fronteiras geográficas. No princípio era o mito e dele nasceram as visões lendárias de um mundo em construção e expansão, fazendo da consciência da morte um fiel de balança entre o mistério e a necessidade de nos organizarmos socialmente. Às pinturas rupestres sucederam-se monumentos e memoriais, povoados como o Castro dos 3 Rios antecedendo o modelo romano que haveria de expandir-se por tão vasto território, parecendo sólido para a eternidade, como todas as ilusões.


2 Nesta cronologia não necessariamente rigorosa cabem lugares e momentos que reconhecemos, mas cabe sobretudo a ideia de uma continuidade histórica que deve tanto aos episódios que a abalam como ao modo afectivo (e tantas vezes baseado nos nossos próprios mitos) como a vamos narrando, uns aos outros e a nós mesmos. O Império Romano fez da crise uma ruína, mas também permaneceu, e outros impérios vieram ocupar-lhe o lugar de poder. Lendários ou não, os besteiros que deram nome ao território viram as suas armas proibidas pelo papado e a Igreja assumiu-se como base e topo, assumindo a reconstrução de um poder à prova de abalos como quem reinicia a história – e ainda assim, da Igreja de Canas de Santa Maria, só restou a fachada.


3 Entre equilíbrios instáveis e jogos de poder, a grande História sempre se contou do ponto de vista dos mais fortes, dos mais ricos, dos mais poderosos. Nenhum império dura para sempre, nenhum modelo é imune à vontade de mudança, por vezes em forma de revolução. E entre os mortos e feridos da guerra, de todas as guerras, tendemos a fixar os nomes dos generais, mas talvez sejam os soldados rasos e aqueles e aquelas que, em casa, aguentaram o embate do conflito, a guardar-nos as narrativas que o futuro quererá relembrar. A morte, afinal, não é exclusivo dos cenários bélicos e é provável que a capacidade de contarmos histórias seja o único gesto eficaz perante a disfunção do mundo e a nossa efemeridade.


4 O mundo, no entanto, vive-se e vê-se de qualquer ponto da sua trama e a grande História nunca foi a história toda. Visto de Tondela, o mundo ganhará raízes no território, mas não perde a imensidão nem a complexidade da sua existência. Os factos que aprendemos como indiscutíveis são, aqui, da mesma matéria que as histórias contadas de forma diferente por diferentes pessoas, as ilusões sobre a durabilidade de impérios e domínios, a capacidade de resistência à opressão que nos assiste sempre ou a rememoração de episódios como o da revolta popular que exigiu a distribuição dos cereais armazenados em Tondela (aqui mesmo, no lugar onde hoje é a ACERT). Aqui como em toda a parte, desequilíbrios imaginários e mitificações tentam furar a parede do tempo e a sua passagem inexorável. Às vezes, parecem conseguir e, se assim parece, é capaz de ser verdade. Sara Figueiredo Costa Fevereiro 2022


Delfim Ruas Delfim Ruas nasceu em 1989, em Viseu, quatro dias antes da queda de um muro, e cresceu em Tondela. Licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2012, tendo completado posteriormente o Mestrado em Ilustração pelo ISEC de Lisboa, em 2015. Atualmente, trabalha como ilustrador e concept artist e expõe regularmente, tanto a título individual como colectivo, desde 2009. Concilia a prática da Ilustração com um outro lado sempre presente: o da investigação histórica. Colabora com editoras nacionais como a Leya, a Porto Editora ou a Patológico e com revistas como a Visão História e marcas como a Yorn. Também fez posters para cinema e integrou expedições que levantaram património natural e cultural, de Trás-Os-Montes a Marrocos, no âmbito das actividades desenvolvidas pela associação Grupo do Risco. Em 2019 ganhou o primeiro prémio do 12º Encontro Internacional de Ilustração de S. João da Madeira e, em 2021, o de Melhor Cartaz do Festival Caminhos do Cinema Português.


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