CINZAS Exposição de Miguel Valle de Figueiredo

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FOTOGRAFIA DE

MIGUEL VALLE DE FIGUEIREDO

GALERIA ACERT 24 DE FEVEREIRO | A 31 DE MARÇO DE 2018


Associação Cultural e Recreativa de Tondela Rua Dr. Ricardo Mota, 14; 3460-613 Tondela www.acert.pt

Estrutura financiada por

Apoiaram a exposição


O Miguel, na sua proposta, não quis usar os artifícios da fotografia para criar um discurso artístico, mas sim para ilustrar de forma marcante a nossa memória colectiva, numa lógica de prevenção e proteção da identidade de um território que urge preservar. Além do mais quis também dar o seu contributo enquanto criador, para a reconstrução possível das vidas destruídas. Por isso, o resultado desta exposição será objeto de uma venda solidária para recolha de fundos para apoio às vitimas dos incêndios.

Miguel Torres

Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Tondela


© J.A. MALATO DE SOUSA

Miguel Valle de Figueiredo é fotógrafo profissional desde 1986, desenvolvendo a sua atividade nas áreas industrial, de engenharia/ arquitetura e editorial. Foi cofundador da revista Volta ao Mundo e diretor de fotografia da Evasões. Em 1997 foi galardoado com o Fuji-European Press Award na categoria de Grande Reportagem. No plano editorial, o seu trabalho pode ainda ser visto em diversas publicações nacionais e internacionais.


A ACERT ajudou a produzir e acolhe a primeira apresentação desta mostra, que terá depois, uma circulação nos espaços de mostra de artes visuais da região de Tondela. Tratase de um projeto/proposta de um fotógrafo de créditos firmados no país e com raízes na região. Foi dessa particular relação que nasceu a vontade de dar corpo fotográfico a uma devastação que afetou a região onde a ACERT está inserida e é o berço do fotógrafo. Cinzas, o projeto fotográfico documental agora apresentado, pretende ser um contributo para que a memória das consequências dos incêndios de 15 de outubro de 2017 não se apague e uma modesta ajuda para aqueles que mais diretamente sofreram os seus efeitos.



Este trabalho reveste-se de um carácter solidário as obras serão vendidas a instituições e empresas sendo o resultado entregue à causa solidária da região de Tondela. PREÇÁRIO 50 x 75 cm · · · · · · · 40 x 60 cm · · · · · · · 30 x 45 cm · · · · · · · 24 x 36 cm · · · · · · ·

500€ 300€ 200€ 120€

Todas as fotografias são numeradas e assinadas. Para mais informações miguelvf@mac.com













































3 PERGUNTAS A MIGUEL VALLE DE FIGUEIREDO Miguel Valle de Figueiredo em Dezembro de 2017 respondeu à Sara Figueiredo Costa no lançamento da exposição “Cinzas” na Galeria da ACERT.

Esta exposição nasce na sequência dos incêndios que deixaram um rasto de destruição no concelho de Tondela e em vários outros concelhos da região. O que te motivou a agarrar na máquina, disparar e fazer, depois, uma exposição? Toda a ajuda é pouca e há, obviamente, várias formas de ser solidário neste caso. A intenção desta exposição e outras iniciativas que dela possam nascer, é não deixar cair no esquecimento a tragédia e as suas consequências directas. Pretende-se uma, mais uma, chamada de atenção para os enormes problemas decorrentes dos incêndios de 15 e 16 de Outubro na região, através do que se pode designar como fotografia documental. Simultaneamente a verba obtida com a venda das fotografias a empresas e, eventualmente, a particulares, reverte na totalidade para quem mais precisa, eliminando

alguma burocracia que se sabe existir na garantia dos apoios tão necessários, tentando alguma rapidez na ajuda possível.

Como é que se regista um território devastado pelo fogo, sabendo que esse território é mais do que uma porção de terra e que a geografia inclui gente, hábitos, tradições, necessidades e muitos outros elementos não quantificáveis em metros quadrados ardidos? É uma questão complexa a que vou tentando responder a cada momento. O resultado tem de implicar a tomada de consciência do observador das imagens que lhe permita mudar a forma como encara determinado acontecimento, podendo ajudar a prevenir ou alterar


[…]

certos comportamentos. É-me evidente que a memória colectiva de um acontecimento da gravidade e extensão como o trágico incêndio que assolou, entre outros, o Concelho de Tondela, merece um registo fotográfico sem artifícios, um olhar que transmita a devastação do território e do património natural e construído, que mostre a brava resistência e força dos atingidos, uma visão que se cruze entre o foto-jornalismo mas sem o imediatismo e alguma da sua urgente espetacularidade e a fotografia dita de autor, evitando exercícios de estilo artísticos que nos afastariam um pouco da realidade. Quero nesta exposição prestar uma singela homenagem a todos os que sofreram com maior ou menor intensidade este flagelo e que os vindouros possam ter a noção do que se passou neste território e com estas populações.

Entre o teu olhar no local e a imagem que fazes e decides mostrar, que passos se dão? Ou seja, como é esse processo de ver, sentir, tentar compreender e chegar, depois, a uma imagem?

No caso destas imagens que tenho captado a explicação é que se trata de um reflexo quase psicanalítico, se posso dizer assim. Desde miúdo que os fogos me são fortemente perturbadores, quase tanto como a sirene angustiada dos abnegados Voluntários de Tondela a chamá-los para a missão. Fartei-me de ver a Serra do Caramulo e o Concelho a arder – posso agora revelar que ajudei um bocadinho no combate de um ou noutro à revelia da família…– e pensei sinceramente que depois de 2013 algumas medidas profundas iriam ser tomadas para evitar a destruição mas, pelos vistos,enganei-me redondamente. Também por isto, a vontade de ajudar com aquilo que posso fazer. Respondendo mais diretamente, penso que ver e sentir deve ser um processo automático e simultâneo, enquanto a compreensão vem do conhecimento que se tem do que se vai fotografar e/ou da informação que se consegue no momento, ou seja e neste caso, conhecendo o território, as suas gentes e património, natural ou edificado, e tendo uma noção mínima do que é um incêndio, juntando o fim a que se destina determinada fotografia (nem sempre existe esse fim), a “tarefa” parece quase natural.


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