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Reportagem
by Acervo A4
Apesar de representar menos de 2% de toda a energia produzida no Brasil: a energia fotovoltaica vem se tornando referência no país
Placas instaladas em residência de Santa Cruz do Sul.
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Madhiele Scopel
madhiscopel@gmail.com
Paula Schoepf
paulaschoepf11@gmail.com
Apreservação dos recursos naturais vem sendo pauta no mundo todo. E, se falando em geração de energia, a busca por fontes sustentáveis se tornou uma grande aliada quando se pensa em cuidado com a natureza. É sabido que a energia elétrica não polui o ar, mas seus impactos ambientais são enormes, levando em consideração a quantidade de água que precisa ser represada para mover as turbinas das hidrelétricas. Nesse sentido, a energia solar é aliada do meio ambiente e se torna muito rentável, principalmente nesse período de pandemia. Com o surgimento do vírus da Covid-19, no início de 2020 foram intensificados os cuidados relativos à saúde humana, sendo o isolamento social uma das formas de prevenir o contágio. Os escritórios e as salas de aulas foram trocados pelos cômodos das casas. Com isso, houve também o aumento da utilização de energia elétrica, o que gerou impacto na vida e no bolso dos brasileiros. Carlos Corrêa da Rosa, morador do bairro Universitário, em Santa Cruz do Sul, por exemplo, já havia buscado informações sobre a instalação de energia solar há cerca de um ano, mas com o tempo o assunto ficou em segundo plano, até que, em decorrência do tempo ficado em casa com o isolamento, essa utilidade foi levantada novamente. “Em função da pandemia, da necessidade de meus familiares ficarem mais tempo em nosso apartamento, da necessidade da preparação de alimentos, e do maior número de pessoas na residência, houve um aumento no uso e no custo da energia elétrica”, Comenta Carlos. Segundo Rosa, que mora com a sua esposa e a filha em um apartamento, no inverno o custo com a energia elétrica ultrapassou o valor de R$500. Foi então que ele resolveu instalar as placas solares. Bastaram novas pesquisas para que ele encontrasse o melhor custo benefício.
Com um pouco mais de dois meses de utilização desse tipo de energia, Carlos nota a diferença, a parcela de mais de R$500 passou para R$72, uma baixa de aproximadamente 85% no valor pago pela energia. Como a instalação foi financiada, a parcela paga por ele pelo financiamento é de R$230, somado com a taxa da energia de R$72, sua despesa é em média R$300,00 ao mês. Ainda assim, Carlos teve uma baixa de 44% no valor da energia. E, após pago o financiamento, as placas terão uma “sobrevida” de aproximadamente 15 anos. Nesse período, ele volta a pagar somente o valor da taxa. Confira a reprodução de custos, com base nos gastos e investimento do Carlos (Gráfico 1). Assim como Rosa, mais brasileiros optaram por investir em energia limpa e renovável. De acordo com pesquisa realizada na UniversidaGráfico 1 de de Santa Cruz do Sul (Unisc), no Rio Grande do Sul, a produção de energia solar passou de 6 kW, em 2013, para 32.000 kW em 2018, com uma média de 4,4 novas unidades consumidoras conectadas dia. Dados mais recentes da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), mostram que a potência instalada de geração solar fotovoltaica no país apresentou crescimento de cerca de 1 GW entre janeiro e maio de 2020. Segundo dados da ANEEL (até dezembro de 2018), o Rio Grande do Sul está em terceiro lugar no ranking dos estados com maior penetração de energia fotovoltaica, sendo Santa Cruz do Sul o município que lidera o ranking estadual no número de conexões e em potência instalada. Em relação ao Brasil, Santa Cruz está em quinto lugar em número de unidades consumidoras. De acordo com o estudo, em 2019 houve em média 13 instalações por dia, gerando uma cadeia produtiva no município. Confira o gráfico 2. Ainda conforme o estudo, a ação promovida pela cooperativa de crédito Sicredi-Vale do Rio Pardo, foi um dos elementos decisivos para desencadear a expansão dos sistemas fotovoltaicos na Região do Vale do Rio Pardo. Em 2017 eles lançaram uma linha de financiamento específica para a instalação de sistemas fotovoltaicos, seguidos posteriormente do Banrisul, que também disponibiliza financiamentos especiais. Até dezembro de 2018, foram concedidos mais de 300 financiamentos em nove municípios da região, somando 35 milhões de reais in-
jetados na economia regional. Gráfico 2
PROCESSO DE INSTALAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA ENERGIA SOLAR
O primeiro passo para quem está o cálculo do dimensionamento, de aproximadamente quatro anos pensando em investir nesse tipo como a potência do módulo, a ir- e meio. Contudo, é indicado que de energia é entender a sua con- radiação do local, orientação do você procure alguma empresa que ta de luz atual. De acordo com o telhado (norte, leste e oeste), tipo forneça o serviço e seja especialieletricista industrial, Marci Alves de telhado e angulação. zada nessa área, eles darão todo Machado, o cálculo base de custo Para um consumo de 400kWh/ o suporte em relação ao investipara saber quantas placas solares mês, utilizando módulos com po- mento, instalação e cuidados. serão necessárias para abastecer a tência de 400W, resultaria em um Assista ao vídeo no QR Code. residência ou empresa é realizado sistema de 10 módulos, ou seja, através da média anual de kWh. potência do sistema de 4,0kWp. O Engenheiro Eletricista, Elieser Este exemplo foi calculado penBastos explica que é necessário sando em uma situação ideal”, avaliar a conta de energia do clien- explica. Neste sistema, conforme te. “A conta nos informa o históri- Bastos, é necessário o investimenco de consumo, onde é calculado to de aproximadamente R$16 mil a média de 12 meses. Existem e o período para que se comece a outros fatores importantes para pagar somente a taxa de energia, é
RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Usar dos recursos naturais sem danificar o meio ambiente é o desejo de grande parte da população. Se falando em energia sustentável, na região Sul do país o recurso mais utilizado é a energia solar, em sua maioria, instalada através do investimento de empresas ou pessoas físicas. Mas, e quanto às pessoas que não têm condições de investir nesse recurso? Como elas podem contribuir para um desenvolvimento sustentável se nem oportunidade para isso elas têm? Adotado no ano de 2015 - por 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) – a agenda 2030 contempla os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e, dentre eles, o objetivo número sete tem como uma de suas metas “assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia”. O Brasil é um dos países que fez parte desse acordo. Nossos estados e cidades estão trabalhando para entregar essas metas. Mas como isso está funcionando na prática? De acordo com o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Vera Cruz/RS, Diego Halmenschlager, existem projetos de investimentos em energia renovável voltados a prédios públicos. “A prefeitura de Vera Cruz elaborou o projeto que consiste na implantação de usinas de geração de energia fotovoltaica ON GRID (conectado à rede de distribuição elétrica), em 27 unidades consumidoras do município de Vera Cruz, incluindo Secretarias, ginásios, Centro Administrativo, EMEI’s, unidades de saúde e a Estação de Tratamento de Água – ETA (Centro)”, pontua Diego. A instalação dessas placas está prevista para o mês de dezembro deste ano. Segundo Halmenschlager, essas fontes solares auxiliarão na economia das contas de luz do município e a prefeitura municipal de Vera Cruz prevê o retorno do valor investido em curto prazo, num período de 5 anos. Em relação à população, o secretário diz que “no momento não há nenhuma legislação municipal que prevê este incentivo. No entanto, a prefeitura pretende realizar maior divulgação quanto a alternativa de geração de energia fotovoltaica nas Feiras de Produção do município”.
SAIBA MAIS
Segundo estudo realizado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a primeira microusina fotovoltaica de Santa Cruz do Sul foi projetada e instalada pela empresa Solled Energia, em junho de 2014, para uma clínica médica, de lá pra cá, os municípios da região resolveram investir mais na tecnologia.
ENERGIA SOLAR, BENEFÍCIOS:
Casas que possuem energia solar fotovoltaica instalada podem gerar a sua própria energia renovável e, assim, economizar até 95% do valor da sua conta de luz; Sistemas fotovoltaicos valorizam a propriedade; Quanto mais energia solar instalada no Brasil, menor é a necessidade de utilizarmos as usinas termelétricas, que possuem um custo maior e, consequentemente, menor será a inflação na conta de luz; A indústria de energia solar no Brasil gera milhares de empregos todos os anos; A energia solar é totalmente renovável; A energia solar é infinita; Não faz barulho; Não polui; Possui mínima necessidade de manutenção; Baixo custo, considerando a vida útil de um sistema fotovoltaico; Fácil de instalar; Pode ser usado em áreas remotas onde não existe energia.
CULTURA COMO DIREITO Os desafios do cenário cultural em Santa Cruz do Sul seguem o que é apontado em pesquisas pelo Brasil: embora cultura seja direito, nem sempre essa é a realidade
Parque da Oktoberfest é um dos poucos espaços amplos para eventos do município
Ana Clara Seberino
anacseberino@gmail.com
Pablo Vargas de Melo
pablovargasdemelo@gmail.com
Todo brasileiro tem direito ao acesso à cultura e ao lazer defendido pelo artigo nº 215 da Constituição. O acesso às fontes de cultura nacionais e a valorização e difusão das manifestações culturais são instituídos pela carta magna, mais que isso, a cultura e o lazer são necessidades humanas. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a menção à cultura emerge no artigo 27º: todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar dos avanços científicos e de seus benefícios. Desde janeiro de 2019, início do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil deixa de ter um Ministério da Cultura, tornando-se este uma Secretaria Especial, dentro do Ministério do Turismo. O desmonte da Cultura atinge a sociedade como um todo, já que o acesso e a democratização de bens e expressões culturais é defendida por lei. Gabriela Felten da Maia, doutoranda em antropologia social, explica que pensar cultura como política pública não diz respeito apenas a realização de atividades como shows e apresentações para o público. A cultura deve ser pensada e entendida como lugar de valorização das expressões públicas como história, identidade e memória de cada grupo, construindo e constituindo uma coletividade dentro de identificações étnicas raciais, por exemplo. As expressões culturais como Oktoberfest e Enart, por exemplo, têm o caráter de valorização cultural em que as pessoas utilizam trajes típicos, danças e a culinária como forma de lembrança. Entretanto, como explica Maia, existem outros tipos de expressões culturais como o Slam e o Grafite como expressão cultural urbana. Nesses casos, a crítica social e o caráter contestatório são fortemente marcados.
Assim como na Oktoberfest, a arte urbana também traz uma forte significação de memória e identidade dos grupos que já foram, muitas vezes, marginalizados. Como lembra Maia, em muitos momentos da história, expressões e produções culturais foram reprimidas. No Brasil, durante a ditadura militar, obras de arte, músicas e produções audiovisuais foram censuradas por estarem em desacordo com a ideologia estatal da época. No regime nazista, milhares de livros foram queimados, pois não correspondiam com as ideias genocidas do regime. Segundo a psicóloga Carolina Schünke de Almeida, a cultura tem um papel importante na construção do indivíduo como parte da sociedade: “A cultura é o reflexo da sociedade em seus sentimentos, reflexões, ações e visão crítica da própria existência. A arte, por exemplo, incentiva a transformação das pessoas através das capacidades inventivas, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes de si e dos outros”. Almeida ainda afirma que a cultura contribui para a promoção da saúde mental ao estimular a subjetividade do ser humano de uma forma que propicia autonomia e oxigena ideias. “Na falta desse acesso, o ser humano não tem, por vezes, um “porto seguro” mental; um lugar para reabastecer, se libertar. Falta um espaço de sublimação e terapêutica”, completa a psicóloga. O parágrafo 3º do artigo 215 da Constituição aponta que a lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura visando o desenvolvimento cultural do país e à integração das ações do poder público que conduzem a: defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; produção, promoção e difusão de bens culturais; formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; democratização do acesso aos bens de cultura; valorização da diversidade étnica e regional.
PRODUÇÃO, PROMOÇÃO E DIFUSÃO DE BENS CULTURAIS E VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE ÉTNICA E REGIONAL
Em Santa Cruz do Sul, poucos eventos culturais são abertos ao público. Entre eles, o Brique da Praça, que reúne, aos sábados, artesãos locais e, aos domingos, entidades, venda de antiguidades e produtos de alimentação, na praça Getúlio Vargas. Na mesma praça uma vez por ano, ocorre também a Feira do Livro, que além da presença dos livreiros, conta com diversas apresentações como: música, contação de histórias e teatro. Outro evento oferecido gratuitamente pela prefeitura é a Christkindfest, que traz diversas apresentações durante o mês de dezembro, culminando na chegada do Papai Noel, também na mesma praça. O carnaval de rua tradicional, com desfiles de escolas de samba da cidade, não obteve apoio da prefeitura desde 2016. A partir de 2019, a prefeitura, junto com outros apoiadores, realiza o carnaval em outro formato na rua Borges de Medeiros, no centro, sob o nome de “Bailinho da Borges”, que conta com atrações como bandas de marchinhas de carnaval e barracas de bebidas e alimentação de estabelecimentos do centro da cidade. Outras festas de grande porte também acontecem na cidade. Porém, o acesso às mesmas é mediante o pagamento de entradas, mesmo com o apoio da prefeitura. No caso da Oktoberfest (que só tem entrada franca no primeiro dia), o preço varia de acordo com o dia ou a atração. No mesmo parque acontece, em novembro, o Enart (Encontro de Artes de Tradição Gaúcha), evento que evidencia a cultura tradicionalista gaúcha.
CURIOSIDADES
1) Não há a seção “cultura” entre os links principais dos portais de notícias mais relevantes de Santa Cruz do Sul. Vê-se apenas a seção “cinema” ou “cinema e séries”, ademais, as pautas culturais costumam se diluir na seção variedades.
2) Em 2019 foi inaugurada a Secretaria de Cultura no município de Santa Cruz do Sul. Antes disso, não havia uma pasta específica para o setor.
3) A lei Aldir Blanc que prevê auxílio financeiro ao setor cultural durante a pandemia foi sancionada apenas em agosto, somente cinco meses após a parada do setor. Dividido em quatro categorias: Subsídios Espaços Culturais; Premiação Trajetórias Culturais; Aquisição de Bens, Serviços e Eventos Culturais e Fomento à Cultura - Produção Artística e Cultural, os recursos somam um total de 1 milhão e 70 mil reais, contemplando até 141 artistas ou empresas.
DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AOS BENS DE CULTURA E DEFESA E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO
A democratização do acesso à cultura é defendida por lei, entretanto, grande parte dos brasileiros sequer reside em municípios em que há presença de uma sala de cinema. Em 2019, um levantamento da Ancine apontou que quase 90 milhões de brasileiros vivem em cidades que não têm cinema. Ao observar mais de perto, é possível perceber que brasileiros com menor grau de escolaridade têm ainda mais dificuldade de acessar cinemas e museus, por exemplo. Segundo o IBGE, aproximadamente metade dos brasileiros com menor grau de instrução vivia em municípios que não têm cinema, 40,3% em municípios sem museu e 39,7% em cidades sem teatro. Além do grau de escolaridade, a diferença também aumenta quando analisada a etnia: 44% dos pretos ou pardos residiam em cidades sem salas de cinema, enquanto 35% dos brancos viviam em municípios sem a presença de cinemas. Essas diferenças também são possíveis de serem visualizadas em outras manifestações culturais: nos museus, os brancos eram 25,4%, já a população preta e parda, 37,5%. Nos teatros ou salas de espetáculo eram 35,2% pretos ou pardos ante 25,8% para brancos. Em 2018, a Folha de São Paulo realizou o levantamento Cultura nas Capitais. De acordo com os dados, o cinema lidera o ranking de frequência, somando 64% das estimativas. Logo em seguida, aparecem os shows e festas populares. Teatro e museus apresentam a mesma porcentagem: nas 12 capitais em que foi realizada a pesquisa, ambas atividades aparecem com 31% de frequência.
Além disso, a Folha também questionou o tipo de atividade que as pessoas realizavam: gratuitas ou pagas. 32% dos respondentes afirmaram frequentar apenas atividades gratuitas e 40% disseram frequentar mais atividades gratuitas do que pagas. A questão econômica não deve ser desconsiderada quando analisados os números. Em Santa Cruz do Sul, onde se tem dois cinemas, o ingresso da sessão 2D custa R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia). Já a sessão 3D custa R$28,00 (inteira) e R$14,00 (meia). Museus e teatros também aparecem como atividades culturais nas pesquisas do IBGE e da Folha. Em Santa Cruz do Sul, a presença de tais espaços e espetáculos não é muito expressiva.
MUSEUS E EXPOSIÇÕES
O Museu do Colégio Mauá é um dos únicos do gênero na cidade. O acervo possui peças arqueológicas da região (a maioria são artefatos históricos referentes a imigração alemã; etnográficas de grupos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, adquirido sob permuta dentro do Projeto Rondon, na década de 70; numismática; ciências naturais; pequena pinacoteca de artistas locais; coleção de armas. O museu tem foco principalmente na parte educacional: a maioria dos visitantes são turmas de escolas. O preço do ingresso para estudantes é de R$1,50 e para o público em geral o preço é de R$3,00. O museu se encontra na Rua Marechal Floriano, número 274, no centro de Santa Cruz do Sul. Outro espaço cultural é a Pró-Cultura - Casa de Artes Regina Simonis (foto). O espaço é destinado para exposição de manifestações artísticas e culturais com ênfase nas artes plásticas. A Casa de Arte visa a promoção, divulgação e incentivo à arte, mantendo a cultura viva, em âmbito municipal e regional. Além das exposições, a Casa de Arte promove oficinas e cursos. As exposições são temporárias e o público tem acesso gratuito. O espaço se encontra na Rua Marechal Floriano, número 651, no centro de Santa Cruz do Sul.
TEATROS
Assim como os museus, os espaços destinados a apresentações teatrais são poucos. O Teatro do Colégio Mauá é o que conta com a maior estrutura na cidade. Fica junto à estrutura da escola e possui capacidade para receber 711 pessoas. Além das produções desenvolvidas pelo Colégio, o espaço também recebe espetáculos externos. O Grupo de Teatro Espaço Camarim foi fundado em 2002 e se encontra no centro da cidade, na Rua Marechal Floriano, número 331. O local conta com palco italiano, plateia (com espaço para 200 pessoas), salas para oficinas, biblioteca e camarim. A escola de teatro (Ins)Pirados surgiu em 2007 na cidade de Venâncio Aires, mudando para Santa Cruz do Sul em 2010. Na época, as aulas e apresentações ocorriam no Centro de Cultura Jornalista Francisco José Frantz, na antiga estação férrea da cidade. Em 2018, o grupo conseguiu adquirir seu próprio espaço com o intuito de também trazer profissionais de outras áreas da arte, criando e fomentando o movimento artístico da cidade. Paola Simonetti, atriz e professora do (Ins)Pirados, conta que a intenção da companhia sempre foi descentralizar a arte e tornar o teatro menos elitizado, também levando-o para espaços em que não havia sua presença: “é preciso desmistificar a ideia do teatro como um espaço elitizado, às vezes as pessoas se sentiam intimidadas por acreditarem que deveriam usar uma roupa formal em grandes casas de espetáculos, por exemplo, e isso precisa mudar”. Simonetti contou que sente a população santacruzense engajada com o teatro. Em todos os eventos promovidos pelo Grupo (Ins)Pirados, as pessoas buscam pela apreciação da arte. Entretanto, a atriz afirma acreditar que ainda faltam políticas públicas concretas que democratizam o acesso a eventos como o teatro na cidade. Mesmo com a inauguração da Secretaria de Cultura, a atriz acredita que ainda faltam ações concretas que valorizem a cultura na cidade. Ela reconhece que a criação da pasta é de extrema importância, porém, quer ver ações que visem resultados reais. Além das políticas públicas para levar a cultura a todas as camadas da sociedade, Paola também cita a falta de incentivo à categoria: “existe um incentivo, porém ele ainda se faz muito presente na parte da cultura germânica pela cidade. Esse incentivo vem muito com a ideia de que cultura em Santa Cruz é apenas Oktoberfest e Enart”. Para Simonetti, essa ideia deve ser mudada, já que a cidade possui uma grande diversidade artística com profissionais muito qualificados em diversas áreas dentro da cultura. Ela cita que a arte de rua com o hip hop, grafite, a dança, música, teatro e até mesmo o circo devem ser vistos e valorizados. A atriz ainda contou sobre a diferença no modo de operação durante a pandemia de Covid-19. A classe artística foi uma das primeiras a parar e, como expôs Simonetti, uma das últimas a voltar segundo as normas municipais. “Nunca imaginamos fazer aulas online justamente porque o teatro é a troca, a energia, o contato e o olho no olho”, afirmou. Porém, a necessidade de manter o espaço e o grupo fez com que o (Ins)Pirados tivesse que remodelar a forma de dar aula após terem sido pegos de surpresa.
Neste inusitado ano, a procura por consertos de instrumentos foi impressionantemente grande, segundo o Luthier (profissional que conserta instrumentos), Claudenir Pedroso, ou “Drurys”, como ele prefere ser chamado, “pessoas que tinham esquecido o violão num canto, por anos, apareceram lá na luthieria pedindo para que eu arrumasse para eles”, comenta. A venda de instrumentos novos alavancou no mundo inteiro com a pandemia. Em Santa Cruz do Sul, não foi diferente. Alex Mentz, atendente da maior loja de instrumentos da cidade, conta que foi muito Jair Giacomini, professor do curso de Produção em Mídia Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), conta que o audiovisual no Brasil passa por um dos piores momentos no que diz respeito a financiamentos. “A política de perseguição ao cinema e ao audiovisual implantada pelo governo Bolsonaro está sendo catastrófica para todo o setor. Há, por exemplo, editais que já deveriam ter liberado os recursos e, se o compromisso tivesse sido honrado, as produções já estariam em andamento, gerando empregos e renda. Se nem o que já deveria ter sido pago, imagine-se o lançamento de novos editais e programas de fomento. É um cenário desolador”, desabafa. Além disso, o professor ainda expõe que em Santa Cruz do Sul não há uma política municipal de incentivo ao setor audiovisual, entretanto, há uma crescente produção na cidade. Giacomini explica que o curso universitário existe há 18 anos formando profissionais da perceptível o aumento da procura por instrumentos musicais (foto). Inclusive pelos de maior preço. “Acho que, pelo fato das pessoas não estarem gastando com viagens (por conta da pandemia), nem com saídas a bares e lancherias, resolveram ocupar seu tempo livre aprendendo a tocar um instrumento”, conta
Alex. área que, consequentemente, aumentam o número de produtoras na região que ampliam a produção e qualidade dos filmes. “Também temos os filmes produzidos no próprio curso da Unisc, que têm conquistado seleções e premiações em mostras e festivais Brasil afora”, salienta o professor. A formação de profissionais qualificados na área é indispensável para que o setor cresça, como exibe Jair Giacomini. Por fim, o professor universitário ainda cita os eventos que visam a formação de plateia na cidade: entre eles, o Festival Santa Cruz de Cinema, de âmbito nacional, e a Mostra em Cartaz circular a produção acadêmica de filmes para a comunidade. Ambos eventos são gratuitos e contribuem para a disseminação das produções locais e para a democratização da cultura na região. Embora exista uma lei que defenda a democratização do acesso a produções culturais, diversidade étnica e incentivo à cultura, ao analisar a cena nacional, e assim a santa-cruzense, é possível observar que as políticas públicas deixam a desejar. O acesso à cultura ainda é enxergado como luxo e não como bem essencial. Como dito, as expressões culturais não são apenas uma forma de entretenimento, mas também de identificação e resgate histórico. O fim do Ministério da Cultura deixa um questionamento: de que forma estamos formando e deixando um legado como nação? O Brasil é um país com uma pluralidade cultural admirável e Santa Cruz do Sul não é diferente. O que se está dizendo para a população quando apenas um tipo de expressão é valorizada? Ao poder público cabe criar oportunidades e fiscalizá-las para que todo brasileiro possa ter pleno acesso à cultura e todos os grupos culturais e étnicos tenham espaço para se expressarem.