Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

Realização

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ACESSO ARTE CONTEMPORÂNEA www.acessoartecontemporanea.com.br


Acesso Arte Contemporânea

SENTADO À BEIRA DO TEMPO,

a Poética de Murilo Mendes

Acesso Arte Contemporânea - 7a edição, através da

Acesso Arte Contemporânea nasceu, em 2012, da

sua curadoria convidou 56 artistas do Rio de Janeiro,

preocupação das artistas visuais, Lúcia Avancini e

Juiz de Fora, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo, Porto

Marilou Winograd, em ocupar espaços para reunir em

Alegre e Lisboa a fazer um mergulho na obra de Murilo

um mesmo evento diversas linguagens e expressões

Mendes.

artísticas, em clima lúdico e de total liberdade.

A contemporaneidade deste poeta genial norteou a

Esta prática de ocupação, um exercício experimental

pesquisa dos artistas no momento em que o planeta

de extrema liberdade, produz sua própria potência

está.

transformadora, necessária a novas ideias, significados e suas relações com as instituições e com o próprio

“Sentado à beira do tempo Olhando o meu esqueleto Que me olha recém-nascido Tenso espírito do mundo, Vai destruir e construir Até retornar ao princípio. O motor do mundo avança.” Murilo Mendes Cada artista escolheu um poema/aforismo/verso

pensamento. Uma ação política, um ato artístico. A proposta do Acesso é romper os limites, ampliando à escolha temática, um desafio ao diálogo, ao contato, às interseções e às correspondências entre as obras. Ao propor uma referência para o criar, a exposição transforma-se em espelho facetado do tema, onde as imagens compõem um caleidoscópio de significados e questionamentos.

para contextualizar, através da sua poética pessoal, o

Ao longo dos anos, o Acesso Arte Contemporânea

pensamento muriliano no seu trabalho visual.

escolheu, como tema para cada exposição, obras/

A proposta curatorial é provocar questionamentos e reflexões sobre um poeta irrequieto, ao mesmo tempo, mostrar como os artistas contemporâneos reagem a

artistas, que deslocaram o fazer artístico para uma área do pensamento mais instigante e ousada. Um projeto baseado em pesquisa e informação.

essa reflexão e revelar ao público uma outra dimensão

A exposição segue em itinerância para o Museu De

da arte contemporânea através da poesia.

Artes Murilo Mendes em Juiz de Fora, MG. Para a

Nenhum poeta brasileiro teve uma relação tão intrínseca com as artes plásticas como Murilo Mendes, ele próprio um crítico de arte e grande colecionador de

participação de artistas mineiros nesta homenagem ao poeta de Minas Gerais, o Acesso convidou o artista curador Petrillo.

obras.

Marilou Winograd, Gilda Santiago e Aline Toledo

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

SENTADO À BEIRA DO TEMPO,

a Poética de Murilo Mendes

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CENTRO CULTURAL CORREIOS, RJ

MUSEU DE ARTE MURILO MENDES

5 de maio 2021 a 20 de junho de 2021

23 de novembro 2021 a 6 de março 2022

de terça a sábado, das 12h às 19h

de terça a sexta, das 09h às 18h sábado e domingo, das 13h às 18h

Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro Corredor Cultural - 20010-976 Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2253-1580

Rua Benjamin Constant, 790 Juiz de Fora - MG CEP: 36015-400 - Tel: (32) 3229-9070

Apoio:

Realização: Acesso Arte Contemporânea


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

O

filósofo e sinólogo François Julien justifica seu interesse pela questão da alteridade acentuando

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sua formação híbrida. Afirma: “jovem helenista, na Escola normal superior, comecei a aprender o

chinês para ler melhor o grego...”. Lê-se melhor Murilo Mendes se se abandonar passageiramente tanto os prefácios de revistas como os manifestos de vanguarda dos anos 1920, e começar a ler o Novo Testamento ou I fioretti di San Francesco. Desde o poema de abertura de seu quarto e definitivo livro, Tempo e eternidade (1934), Murilo anuncia que seus versos passam a ser escritos por “um novo olhar”. Olhar que vem a ser outro pela presença fulgurante em sua vida do artista plástico Ismael Nery, a quem o livro é dedicado. Uma pequena parcela do mundo, o transitório, é suplementada pela totalidade do mundo, o essencial. O pintor reformata em imagens o imaginário amoroso do poeta. Meu novo olhar é o de quem transpõe as musas de passagem E não se detém mais nas ancas, nas nucas e nas coxas, Mais se dilata à vista da musa bela e serena. A que me conduzirá ao amor essencial. A relação do espectador e leitor brasileiro ao espaço singular e único da vanguarda histórica — espaço pré-determinado por um movimento externo, de que são exemplos os manifestos do Futurismo italiano, duplicados por um movimento nacional, interno, de que se tornará exemplo o “Manifesto antropófago”, — terá de ser desconstruída pela experiência de outro(s) lugar(es)


Acesso Arte Contemporânea

QUAL VANGUARDA HOJE? SILVIANO SANTIAGO Ensaísta, romancista, crítico, contista e poeta.

de criação. Eles brotam e crescem nas fendas férteis do

Como nunca, cada sensibilidade está hoje estacionada à

“paideuma vanguardista”, para retomar a expressão dos

distância (en écart) de outra sensibilidade, como carros

poetas e artistas concretos nos anos 1950.

distintos num estacionamento imaginário. Em virtude da pandemia nossa sensibilidade é obrigada a sobreviver no

Murilo e Ismael convidam o artista brasileiro a frequentar

espaço de dentro do carro. Não desça a janela. Achtung!

espaços exteriores à certeza vanguardista de nosso

Cada sensibilidade se reduz ao espaço íntimo e exclusivo

Modernismo. Certa Itália intervala a imaginação criadora

que é o seu.

do artista modernista. Ismael e Murilo convidam à experiência dos espaços

O leitor dos poemas de Murilo — não importa

exteriores, aqueles que, ao guardar a alteridade como força

a época nem o lugar — é convidado a visitar não a Itália

associativa (ou comunitária), convidam perigosamente

futurista de Marinetti, mas a medieval e fraterna de

à aproximação, à fusão com o outro e diferente, que fora

Francisco de Assis. O próprio poeta dirá que a mentalidade

minimizada pela vanguarda histórica e tem sido proibida

moderna, em seus textos, se associa ao catolicismo

pelas restrições de ordem sanitária.

primitivo. Em livro emprestado a ele por Ismael e corresponsável pela conversão, pode-se ler: “Mas será

A partir da suplementação da mente moderna pelo

que durante nossa vida não haverá um espaço livre para

catolicismo primitivo, Murilo Mendes oferece – a seus

a Itália, para essa autêntica, real, simples e profunda Itália

leitores e aos artistas visuais que queiram se hospedar em

que, noutro dia, no mosteiro de Fonte-Colombo, chamei

sua obra poética – a possibilidade de trabalhar a heteropia,

de Itália franciscana!”

para retomar o conceito de Michel Foucault ao teorizar sobre outros espaços. Murilo — o poema de Murilo —

Ismael e Murilo ganham inesperada dimensão por terem

provém a teoria de carne. A sensibilidade reclusa chega

provido o movimento modernista (vale dizer: nossa

a uma aproximação en écart de sua própria intimidade,

atualidade artística) com a experiência da alteridade

cuja liberdade lhe é tolhida por motivações racionais que

cultural. Experiência da diferença. Da distância (écart),

escapam à sua compreensão do mundo e da época que

como quer o filósofo/sinólogo François Julien. Justifica-

lhe tocou viver.

se ele: “Por que aprender o chinês? Por que a China? Não tinha, na família e por formação, realmente nada a ver com a China. Mas por isso mesmo a escolhi...”.

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RETRATO DE MURILO MENDES POR GUIGNARD

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A

s

relações

poesia

e

entre as

a

artes

ligado ao signo verbal, e depois

para

estendido

ao

signo

a

construção

de

certos

plástico,

poemas. Além disso, é importante

visuais manifestam-se

constitui um elemento importante

destacar que foi através da visão

de diversas maneiras,

para a relação com as artes visuais.

que Murilo Mendes estruturou

principalmente pelas associações

O contrário também ocorre. Em

grande parte de seu universo

convergentes

muitas

poético,

elementos,

entre

pela

seus

poesias

verbalizam-se

manifestando

contaminação

formas, cores e texturas, além da

interesse

de conceitos próprios de cada

presença de estruturas de espaço,

visualidade.

uma das áreas, e, ainda, pelas

contraste e ritmo. Lembramos

confluências de interesses entre

também

poetas e artistas. Sabemos que

e processos criativos frutificam

essa

aproximação

que

muitos

diálogos

interartística

e são mantidos no interesse de

vem ocorrendo há muitos anos

poetas pelo trabalho de artistas e

ao longo da história, tornando-se

vice-versa.

acentuada nos tempos modernos e contemporâneos, com inovações

Na obra de Murilo Mendes, as

e alterações radicais nas formas de

associações entre poesia e artes

produção e processamento das

visuais são de grande amplitude

obras literárias e das linguagens

e evidenciam-se, sobretudo, nas

artísticas.

analogias

entre

próprios

a

procedimentos

cada

uma

pelas

grande

questões

da

O prazer, a sabedoria de ver, chegavam a justificar minha existência. Uma curiosidade inextinguível pelas formas me assaltava e assalta sempre. Ver coisas, ver pessoas na sua diversidade, ver, rever, ver, rever. O olho armado me dava e continua a me dar força para a vida. (Murilo Mendes)

das

É sempre relevante enfatizar que o

linguagens, na organização e na

As revelações visuais são diversas

conceito de leitura, originalmente

inclusão de elementos gráficos

junto

ao

poeta.

Ainda

muito


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ENTRE POESIA E IMAGEM RICARDO CRISTOFARO SUPERINTENDENTE DO MAMM MUSEU DE ARTE MURILO MENDES

O PRAZER, A SABEDORIA DE VER, CHEGAVAM A JUSTIFICAR MINHA EXISTÊNCIA. UMA CURIOSIDADE INEXTINGUÍVEL PELAS FORMAS ME ASSALTAVA E ASSALTA SEMPRE. VER COISAS, VER PESSOAS NA SUA DIVERSIDADE, VER, REVER, VER, REVER. O OLHO ARMADO ME DAVA E CONTINUA A ME DAR FORÇA PARA A VIDA. MURILO MENDES 9

jovem, manifesta fascínio pelas ilustrações de livros e

artistas contemporâneos. A mostra acolhe trabalhos em

deslumbra-se com a passagem do Cometa Halley e com

diálogo com a poesia muriliana por afinidades eletivas,

o bailarino Nijinski. Ao longo se sua vida e de sua atuação

evidenciando inquietações, conexões, sobreposições e

como poeta, intelectual, escritor e professor, estará

desdobramentos poéticos. São trabalhos que reafirmam

sempre em contato com importantes artistas brasileiros

que nada existe de estanque no entrecruzamento de

e estrangeiros, tornando-se colecionador e crítico de arte.

poesia e artes visuais. De um artista a outro, de uma

Tal relação com a visualidade e, mais especificamente,

obra a outra, é possivel justapor e revelar camadas de

com a produção artística e as linguagens modernas, irá

experiência, abrindo novos cruzamentos férteis e mutáveis

acentuar-se e manifestar-se em muitas obras de Murilo.

entre poesia e imagem.

“Ao longo de vários livros a organização do poema corria paralela à colagem e a assemblage dos surrealistas, nos livros finais, tal organização se aproxima de princípios dos construtivismos.” (Júlio Castañon). No momento em que a Universidade Federal de Juiz de Fora comemora simultaneamente os 25 anos da chegada da Coleção Murilo Mendes ao Brasil e os 15 anos de existência do Museu de Arte Murilo Mendes, tornase relevante ler e reler, ver e rever o poeta por múltiplos olhares. Através de uma parceria com o Acesso Arte Contemporânea, o museu recebe a exposição “Sentado à Beira do Tempo - A Poética de Murilo Mendes”, reunindo um conjunto extremamente significativo de


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Adriana Tabalipa

Fabrício Carvalho

Alexandre Dacosta

Fernanda Chemale

Alexandre Murucci

Fernanda Cruzick

Alexandre Sá

Francisco Brandão

Amador Perez

Gilda Lima

Ana Durães

Gilda Santiago

Analu Nabuco

Isabela Frade

Anderson Rosa

Jabim Nunes

Anna Braga

John Nicholson

Augusto Herkenhoff

Julia Vitral

Cláudia Lyrio

Laura Bonfá Burnier

Cris Cabus

Lígia Teixeira

Cristina Lapo

Lucas Soares

Eduardo Mariz

Lúcia Avancini (In Memoriam)

Enéas Valle

Luiz Badia


Acesso Arte Contemporânea

ARTISTAS Márcia Clayton

Raïssa de Góes

Marcus Neme

Ricardo Cristofaro

Maria Clara Contrucci

Ricardo Muniz de Ruiz

Marilena Moraes

Shala Felippi

Marilou Winograd

Shirley Paes Leme

Mario Camargo

Silvia Santiago

Mark Engel

Solange Escosteguy

Monica Mansur

Valeria Campos

Myriam Glatt

Vânia Barbosa

Ney Valle

Vinícius Balarini

Nina Mello

Walter Goldfarb

Osvaldo Carvalho

Yolanda Freyre

Pedro Hugo Vilanova Pedro Rangel Petrillo

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LÚCIA AVANCINI

(IN MEMORIAM)

Conviver com a artista Lúcia Avancini foi penetrar nos questionamentos da arte e da vida, mergulhar na ousadia e se superar em criatividade. Lúcia foi um ser político, engajada em seu tempo, irrequieta, buscava o novo, o audacioso e vivia na arte toda sua metamorfose. Transitou na multiplicação de olhares do cenário artístico, da pintura figurativa ao videoarte, passando pelas artes gráficas, construindo objetos e montando instalações, usando o corpo como suporte e como ação, tudo para ecoar sua fala, sua força e sua arte. Acesso Arte Contemporânea

“Não consigo e nem quero classificar a minha obra. Uso a fotografia e não sou fotógrafa, filmo sem ser cineasta, faço ações performáticas sem ser atriz, e assim por diante... Sou uma artista visual contemporânea.

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O processo é mental, é experimental, é de apropriações e é político no sentido amplo. A obra é reflexo de tudo isto”. Lúcia Avancini

Só não existe o que não pode ser imaginado. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA “Damas” Tabuleiro de damas, saltos altos de sapatos femiinos e caixa de acrílico 42x42x25 cm Acervo de Aline Toledo


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Acesso Arte Contemporânea

ADRIANA TABALIPA Estes desenhos-colagens de Adriana Tabalipa se relacionam ao poema “Filiação” do poeta Murilo Mendes. O espaço, o tempo, o ar, o mar. No horizonte do desenho maior se contempla a energia da presença ou presença da energia criadora, primordial. Na composição dos menores não deixa de se ver as “bandeiras”. A lua e os corpos celestes. O vazio e o múltiplo nesta atmosfera metafísica entre o poema, a ficção, o sonho , e as utopias. Como o poema revela “Do amor que unirá todos os homens”... Adriana Tabalipa

Filiação 15

...Eu sou da raça do Eterno, Fui criado no princípio E desdobrado em muitas gerações Através do espaço e do tempo Sinto-me acima das bandeiras... Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Perpétuo continuo Técnica mista, desenho e colagem. Dimenção variável. Montados como uma mini-instalação. 2021.


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ALEXANDRE DACOSTA Meu contato com a poesia de Murilo Mendes se deu em casa, meus pais eram amigos do escritor e falavam muito nele e na sua poesia metafísica. Ainda possuo as edições de seus livros na época que foram lançados. Não o conheci pessoalmente, pois ele já morava no exterior. Em 1975, quando fui à Europa com minha mãe, estávamos em Roma e ela foi visitá-lo, me chamou para ir, mas preferi fazer outro passeio pela cidade, que pena. Escolhi para elaborar um trabalho plástico-conceitual, o poema “Grafito Para Sergei Eisenstein” de 1962, do livro “Convergência”, por ter uma afinidade plástica com a obra do cineasta russo desde adolescente e me identificar com suas composições de quadros-planos ao assistir no cinema o filme “Alexandre Nevsky” na década de 1970. Também em fevereiro de 2020, compus melodia para o 16

poema Muriliano “Metade-Pássaro” de 1953, do livro “O Visionário” (1930/1933), e criei imagens para a canção realizando um vídeo, um “CLIPOEMA”, com desenhos de minha mãe, a pintora Maria Leontina. O trabalho que realizei para este poema, é uma transparência de planos, linhas, ventosas e fotogramas dos filmes de Eisenstein entrevistos no recorte de uma tela de um vidro temperado e emoldurado por alumínio preto. Construção preta e branca, concreta e volátil, vértices e diagonais flutuam quase liquefeitas, como alude o poema-corte-seco de Murilo Mendes. Transcrevo o poema na íntegra como foi publicado no livro “Convergência” pela Editora Duas Cidades em 1970.

Grafito Para Sergei Eisenstein A imagem macho & fêmea Num ritmo prêto & branco Caminha Em cortes progressivos Dentados antagônicos De linhas paralelas Diagonais monumentais. O horizonte do filme Cresce, a consciência Marcha em nós, mil, de Partícipes imediatos, da Cooperativa que somos Ou deveríamos ser, De contrastes que portamos Em giro, visão & sangue. A imagem sobe, escandindo Átono ou esdrúxulo O canto coral do homem, Luta do múltiplo contra uno, Torna-se fato, medida Do ótico que subsiste Em cada espectador, Épico, Espéculo.

Alexandre Dacosta Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Grafito Para Sergei Eisenstein Alumínio, vidro, plástico, metal, borracha e celulóide. 47,5 cm x 43 cm x 5 cm 2020 / 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Certamente, a relação com o tempo não é igual para

dependente emocional, a ilusão de todo amante.

todas as pessoas.

Nossa relação não é de amor platônico ou sereno, onde a contemplação é a dinâmica. Somos amantes

Há os que aproveitam a vida urgentemente, há os

convulsivos, brigamos, gritamos, mas as noites

que se arrastam por ela longinquamente, há os que,

de paixão são intensas e mútuas. E como vassalos

atrasados, não o veem terminar ou aqueles que nem

fingimos parar o tempo, num gozo sem respiro.

reconhecem o tempo como o supremo soberano de nossas vidas.

E assim, ele por mim perpassa, como uma flecha !

Para alguns, como eu, o Tempo é um amante

Alexandre Murucci

voluntarioso. Não o controlo, mas tenho-o como

 FICHA TÉCNICA O Amante Objeto / Taça de cristal e adesivo recortado 21,5 cm x 8,0 cm 2020


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ALEXANDRE MURUCCI

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A Flecha O motor do mundo avança: Tenso espírito do mundo, Vai destruir e construir Até retornar ao princípio. Eis-me sentado à beira do tempo

Olhando o meu esqueleto Que me olha recém-nascido. Belas mulheres que amei Ensaiam o vestido de terra Para o sono familiar Na pedra que não se move. O motor do mundo avança. Murilo Mendes


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

ALEXANDRE SÁ Há uma verve política na poesia de Murilo Mendes que merece atenção. Aqui, o poema Teorema das compensações erige o paradoxo visual e sarcástico que define parte da História do Brasil, talvez endossando o continuum inevitável e extremamente mal resolvido. Alexandre Sá

Teorema das compensações O bicheiro é vereador. Depende do presidente Da Câmara Municipal.

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O Presidente é meio pobre, Arrisca sempre na sorte, Ai! depende do bicheiro.

O bicheiro ganha sempre Na eleição pra vereador E “seu” Presidente acerta Muitas vezes na centena. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA A mar(é) Situação instalativa Dimensões variáveis Placas de oferta e espaço infinito 2021


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AMADOR PEREZ (...) o silêncio, a imobilidade, a precisão, a nitidez, a ordem e a geometria (...) o impreciso, o nuvioso (...) o branco que se autonomiza ou que se faz luz (...) Ausência se faz presença... Essas imagens criadas sobre meus desenhos por Frederico Morais em seu ensaio crítico para o livro Coleção do Artista (Editora Fraiha, 1999, RJ) - um resumo de 25 anos do meu trabalho -, relacionam-se com outras de Murilo Mendes em seu Texto Branco (A Invenção do Finito, 1960-70). Amador Perez

(...) O branco se mistura, separa, elimina. Corrige o temperamento do artista que tende a sobrepor-se à obra de arte (...) Branco é luz domada: dinâmica da nossa contemplação (...) Branco sobre branco: silêncio absoluto agindo (…)”

 FICHA TÉCNICA Série Um, Dois Díptico - 62 cm x 72 cm, cada sem moldura e 64 cm x 74 cm, cada com moldura 2010

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ANA DURÃES Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos…Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando. Murilo Mendes

Quando encontrei estes versos de Murilo Mendes me identifiquei de imediato. “Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando 24

debaixo da pele e sacudo os sonhos”. Toda esta atmosfera onírica encontra correspondência com as camadas e mais camadas que habitam minha pintura atual. Pinto como quem aplica peles ora finas e transparentes, ora em massas profundas e espessas. Os claros e os escuros que povoam a minha terra. A minha visão da minha terra. E as flores que represento nesta obra, as flores que toco, quero sim tocar nas almas, nos sons, à beira do tempo. Ana Durães

 FICHA TÉCNICA As flores à beira do tempo Acrílica e óleo sobre linho 100 x 80 cm 2021


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ANALU NABUCO O motor do mundo avança ...vai destruir e construir... Eis-me sentada a beira do tempo, enrolando os vestidos de festa dela Bela mulher que amei e admirei, minha mãe. Enrolei o direito e o avesso Numa tentativa de reconstruir no tempo, o glamour da sua existência Nos meus olhos restaram uma lágrima em meio ao sorriso da lembrança de sua alegria de viver. Analu Nabuco

A Flecha O motor do mundo avança: Tenso espírito do mundo, Vai destruir e construir Até retornar ao princípio. Eis-me sentado à beira do tempo Olhando o meu esqueleto Que me olha recém-nascido. Belas mulheres que amei Ensaiam o vestido de terra Para o sono familiar Na pedra que não se move.  FICHA TÉCNICA Enrolando Mamãe Tecidos, alfinetes em caixa de acrílico 38 x 27 x 23 cm. 2019

O motor do mundo avança Murilo Mendes

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

ANDERSON ROSA Há quem diga que o fim é agora, os corpos vão parar, cair feito maçãs maduras do pé, há alguma coisa no ar que nos impede de continuar a vida, o mundo nos consome, somos devorados por dentro e por fora. É chegada a hora. Eu sou o início de tudo, os olhos que pairam sobre as cabeças baixas, eu sou o desejo, o corpo, o barro e a memória.

A performance ENTREMEIO é o cruzamento da voz de Murilo Mendes mística, potente, atenta ao mundo e necessária com as minhas inquietações enquanto ator / pesquisador para a ancestralidade, as histórias que habitam em nós e as possibilidades da cena.

Anderson Rosa 28

Cantiga De Malazarte (...) Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.(...) Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Entremeio Performance Espaço 2/2 M 2021


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

ANNA BRAGA Numa leitura do poema de Murilo Mendes editado na Antologia “O Menino Experimental” encontro em “O Homem, a Luta e a Eternidade” o mesmo espírito e traços de inspiração que conduziram o trabalho que ora apresento nessa mostra em homenagem ao grande poeta. Essa obra pertence a uma série na qual desenvolvo inúmeras metáforas forjadas em dorsos e posições

O homem, a luta e a eternidade

de intimidação do homem em situações de ameaça.

Adivinho nos planos da consciência

Nesse caso específico trata-se de uma fila humana

dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos

no pátio de uma prisão cujas sombras rastejantes

mundo de planetas em fogo

sugerem outras verdades. Verdades que estão sendo realizadas nas imagens criadas pelo poeta entre a realidade, sonhos, temores e perplexidades do homem entre si e o outro, na vida e no tempo. Anna Braga

vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo. À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando! Um dia a morte devolverá meu corpo, minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins meus olhos verão a luz da perfeição e não haverá mais tempo. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Série Puro Álibi / Nadadores Reprodução de técnica mista em fine art. PI - Papel Hahnemuhle 143cm X 100cm 2018

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AUGUSTO HERKENHOFF Murilo Mendes tem uma bagagem vastíssima na leveza da poesia. Augusto Herkenhoff

O Ovo

de resto mais vizinho ao pensamento do

O ovo é um monumento fechado,

filósofo.

automonumento; plano-piloto, realizado agora, do germe inicial da criação.

O ovo, objeto concreto de alto coturno, caríssimo, quase inacessível: diamante do

A exemplo da torre de Pisa, o ovo não 32

pobre.

costuma sustentar-se em pé. Ninguém ignora que a torre gosta de emigrar durante

No meu tempo de infância, indo a noite

a noite. De resto, ela subsiste somente

alta de dois metros, eu já não ouvia mais o

porque amparada por uma pena num

tique-taque do relógio; antes, o pulsar do

quadro de René Magritte.

ovo na sua gema, nunca sua clara.

O mesmo pintor em outro quadro Les

Num tempo ainda mais recuado eu

vacances de Hegel mostra um guarda-

tinha medo do ovo. O medo: confere-nos

chuva aberto: em cima pousa um copo

uma téssera de identidade, fazendo-nos

contendo um líquido. Evidentemente

enfrentar algo de real, o próprio medo. O

todos os observadores sofrem uma ilusão

medo é o ovo da aventura posterior.

de óptica, trocando o copo por um ovo,

Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Desenho Amarelo Carvão e guache - papel 14 x 18 cm 1993


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

CLÁUDIA LYRIO O trabalho que apresento tem como referência o poema “O mundo inimigo”, de Murilo Mendes. Entre os belos e enigmáticos textos do poeta, esse me pareceu ser um dos que mais nos devolve as sensações que temos tido hoje.

Cláudia Lyrio

Entre os versos desse longo poema, destaco:

... O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem elementar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito. Os fantasmas vibram mensagens de outra luz nos olhos, expulsam o sol do espaço e se instalam no mundo. ... Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Mundo Inimigo Óleo e acrílica sobre tela sobre painel 120 cm x 100 cm 2019-2020

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

CRIS CABUS Poema “sampleado” - remixado - a partir da obra de Murilo Mendes, de forma a gerar o conceito de circularidade, eterno retorno, mas sempre mutável, mutante, diverso, tal qual a premissa de Heráclito - “Nada é permanente, exceto a mudança” - e que também se constitui como verso de Murilo Mendes em sua “Reflexão nº 1”.

A idéia de “sampleamento” é baseada no conceito MIxLit criado pelo escritor Leonardo Villa-Forte, autor de “Escrever sem escrever: literatura e apropriação no séc.XXI” (editora Relicário em co-edição com a editora da PUC-RJ) e do “Projeto Paginário”, em co-autoria com Rodrigo Lopes, uma intervenção urbana-literária.

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Cris Cabus

POEMA MixLit vazado na esfera:

“Só não existe o que não pode ser imaginado… trata-se de substituir o lado pelo centro...circulação e movimento infinito… até retornar ao princípio… múltiplo, nada me fixa nos caminhos do mundo”

 FICHA TÉCNICA Na Esfera da Poesia Objeto híbrido instalado Cerâmica em alta temperatura; poesia vazada; luz e sombra Esfera com ø= 30cm 2020


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

CRISTINA LAPO Parto de uma linha de pensamento estrutural e de movimento. Na intenção de transpor para o meu trabalho todo o deslocamento da realidade, do pensamento e do espaço. Um novo olhar. Murilo desobedecia ao sentido, ousava no pensamento e transgredia o solidificado. Um virar do avesso. O trabalho “substituir o lado pelo centro” foi pensado como um jogo que lembra o jogo popular “o come come”. O jogo em papel utilizando as palavras do texto Substituir Lado Pelo Centro, o trecho que chamou a minha atenção para a busca pela inclusão. Pensei-o em forma de jogo usando as palavras de Murilo. No objetivo que a palavra torna-se uma experiência inquisitiva e o poema sai da estrutura. O plano se expande fisicamente para o espaço expositivo. O trabalho por sua vez, provoca o deslocamento do corpo na intenção de causar uma

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reflexão de construir e desconstruir a forma e resgatar o lúdico. O próprio objeto construído é algo não definido, à medida que toma formatos diferentes. É lado, é centro, é fechado, é aberto, é parado, é móvel? Cristina Lapo

Pós-Poema ... Substituir o lado pelo centro ... Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Substituir o lado pelo centro Pequena instalação interativa 2020


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

EDUARDO MARIZ Unindo

diretamente

recortes

e

suas

referências

contextuais, Murilo conduz tensões confluindo elementos de cotidianos usuais em princípio dispares. Baila do concreto ao surreal entre sobressaltos e solavancos de subjetivações e, por fim, propõe seus cenários. Um exemplo disso acontece no poema O Mundo Inimigo. Minha referência ao poeta a faço através da série Otólitos e Murundus. Cupinzeiros se se exacerbam como analogia aos coletivos e suas organizações. São zelados por concreções orgânicas extraídas, responsáveis pelo equilíbrio postural dos organismos animais. Tecituras se dão ao sugerir leituras poéticas acerca dos arquétipos do equilíbrio. Assim, recombino, tal qual Murilo, aquilo que percebo a 40

partir de meus afetos. Eduardo Mariz

O Mundo Inimigo O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem elementar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito. Os fantasmas vibram mensagens de outra luz nos olhos, expulsam o sol do espaço e se instalam no mundo. Murilo Mendes


Acesso Arte Contemporânea

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 FICHA TÉCNICA Otólito e murundu 3 Fotomontagem digital impressa em papel fotográfico 67 x 100 cm 2019


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

ENÉAS VALLE Sentado À Beira Do Tempo Essa frase de Murilo Mendes é o título que eu procurava para a escultura ready-made MACHA, realizada com objetos abandonados em calçadas da Glória, bairro do Rio de Janeiro.

Só não existe o que não pode ser imaginado Não se trata de ser ou não ser Trata-se de ser e não ser Murilo Mendes As frases acima de Murilo Mendes casam bem com três filmes pictóricos de minha autoria (videoarte), cuja produção teve início em 2003, com a criação da série de pinturas em acrílica sobre tela GEÓPOLIS, apresentada em 2005 na Galeria Toulouse, no Rio de Janeiro, com curadoria de Marcus de Lontra Costa. As telas foram fotografadas por Marco Rodrigues e digitalizadas somente em 2011, quando obtive patrocínio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro para a realização da exposição individual TRANSFRONTEIRAS no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Com base nas imagens digitalizadas, Michele Andrade (VIDEODESIGN) usou o recorte e a animação dos softwares gráficos para criar UNIVERSO, GEÓPOLIS e URBANO, sob minha direção geral. Na exposição TRANSFRONTEIRAS, os vídeos foram apresentados juntamente com as telas que lhes deram origem. Enéas Valle

 FICHA TÉCNICA Sentado À Beira Do Tempo Objeto – boneca, adereços. Universo, Geópolis e Urbano 3 filmes (videoarte)

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

FABRÍCIO CARVALHO Cedo começou minha fascinação pelos dois mundos, o visível e o invisível. E não escreveu São Paulo que este mundo é um sistema de coisas invisíveis manifestadas visivelmente? Não vivemos inseridos num contexto de imagens e signos? Murilo Mendes, Olho Precoce

No livro “Idade do Serrote” Murilo Mendes explora sua infância em Juiz de Fora. Nesse trabalho apresento um registro de um passeio no parque da cidade quando meu 44

filho tinha cinco anos (2014). Por um lado, há um aspecto relacionado ao distanciamento, restrição do corpo, à ideia de liberdade e de espaço público ligados ao momento vivido agora. Por outro, há uma dimensão ligada à memória e à passagem do tempo. De modo geral tem a ver com corpos, sonhos, aventuras, imaginação, máquinas do tempo, máquinas desejantes, máquinas destrutivas, luz e sombra, escultura, desenho, celibatários e noivas.

Fabrício Carvalho

Não sou meu sobrevivente e sim meu contemporâneo Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Sem/título Vídeo 5min 2014


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

FERNANDA CHEMALE Diário de

de

Memórias

imagens

reúne

cotidianas.

uma

coleção

Compartilha

com

o espectador um saber sobre a gênese da imagem. É uma série longa. Emerge neste recorte um estudo sobre a sensualidade das formas. São achados relacionados à intimidade e ao dia a dia das coisas que eu encontro, nas relações que estabeleço comigo mesma, com o outro ou na busca pelo entendimento de realidades físicas ou emocionais.

Pós-poema Murilo Mendes inspira em sua poesia uma energia cotidiana. É capaz de ver no simples a beleza de uma realidade comum. Traz para a sua criação uma poética repleta de filosofia em busca do todo.

O anteontem - não do tempo mas de mim Sorri sem jeito E fica nos arredores do que vai acontecer 47

Fernanda Chemale

Como menino que pela primeira vez põe calça comprida. Não se trata de ilusão, queixa ou lamento, Trata-se de substituir o lado pelo centro. O que é da pedra também pode ser do ar.

O que é da caveira pertence ao corpo: Não se trata de ser ou não ser, Trata-se de ser e não ser. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Diário de Memórias 15 fotografias 20x20cm 2020


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

FERNANDA CRUZICK O caminho traçado pelo trabalho traz uma proposta de reflexão dirigida que perpassa pela “colagem” de três frases de poemas murilianos, indicadoras para um aprofundamento no ambiente de desconstrução de camadas no sentido de um vislumbre da essência do “Ser”.

A solução plástica eleita se deriva do próprio processo de desenvolvimento da série de objetos interativos que passa pelo convite lúdico ao diálogo face a face da “não dualidade” e investigação de rótulos internos e externos na construção do ego, recorrentes no legado de Budha. Fernanda Cruzick

...

48

Vai destruir e construir Até retornar ao princípio Desloco as consciências Trata-se de ser ou não ser. ... Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Falas Búdicas Objeto articulado em MDF/técnica mista 171cm X 17,5cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

FRANCISCO BRANDÃO A obra de literária de Murilo está bastante imbricada da

com

possibilidade

surrealista.

Ou

minha de

uma

melhor,

compreensão mineiridade seus

versos

despertam em mim a possibilidade de se imaginar no e com o cotidiano. Sua atenção ao banal, ao tradicional e suas palavras serrote, alimentam minha metodologia com o mundo e as ideias, essa possibilidade

Pós-poema

de coabitar as coisas, de modos distintos, nessa eterna possibilidade de ‘Ser e não

O anteontem - não do tempo mas de mim -

ser’: coisa, corpo, sujeito, tempo e tradição.

Sorri sem jeito Francisco Brandão

E fica nos arredores do que vai acontecer

Como menino que pela primeira vez põe calça comprida. Não se trata de ilusão, queixa ou lamento, Trata-se de substituir o lado pelo centro. O que é da pedra também pode ser do ar.

O que é da caveira pertence ao corpo: Não se trata de ser ou não ser, Trata-se de ser e não ser. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Brutus

Sem título

Pião de ferro fundido e enferrujado

Técnica mista – Foto comprada na Feira

90x60cm, 150kg

de antiguidades do Lavradio - RJ

2020

18x16cm 2021

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

GILDA LIMA Grafito numa cadeira Cadeira operada dos braços Fundamental que nem osso Não poltrona com pés de metal Antes cadeira no duro Cadeira de madeira

A Flecha O motor do mundo avança:

Cadeira quadrúpede. A cadeira quadrúpede é uma imagem surrealista e dentre todas trouxe a escolha da foto apresentada. O pensamento de que sentados, em uma, duas poltronas duras, estar à beira é

Tenso espírito do mundo, Vai destruir e construir Até retornar ao princípio.

sempre o equilíbrio nas pontas do tempo que vem chegando. 52

Gilda Lima

Eis-me sentado à beira do tempo Olhando o meu esqueleto Que me olha recém-nascido

Belas mulheres que amei Ensaiam o vestido da terra Para o sono familiar Na pedra que não se move. O motor do mundo avança. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA O motor e o passo Foto digital em papel algodão 100 cm X 74 cm. Edição única.


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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 FICHA TÉCNICA Retrato de uma Artista Objeto. Porta-retrato, seio de silicone e fio de cobre 25cm x 35 cm. 2020


Acesso Arte Contemporânea

GILDA SANTIAGO Homenagem à artista Lúcia Avancini, minha irmã escolhida. O seio, esquecido em minha casa,

marcou

sua

trajetória

artística

em

diversos trabalhos. Um grito feminista. Uma arma para marcar território, uma alegoria da sua presença. O seio encardido, agora esmagado, triturado e amassado, perdeu

Pré-história De tonta não mais olhou Para mim, para ninguém: Cai no álbum de retratos.

sua forma. Habita em um porta retrato para lembranças, dores e sorrisos de um tempo infinito. O poema

Saudação a Ismael Nery me

libertou. Murilo me deu coragem, caminho e sensibilidade para esta obra.

Em Liberdade Entretanto cada um deve beber no coração do outro. Todos somos amassados, triturados: O outro deve nos ajudar a reconstituir nossa forma

Gilda Santiago 55

Saudação a Ismael Nery Ele pensa desligado do tempo, As formas futuras dormem nos seus olhos.

A Irmã Sobrenatural És minha irmã escolhida Nāo pela herança do sangue. E nossas almas se abraçam harmonicamente Sem a sucessão dos tempos.

O Tempo O tempo cria um tempo, Logo abandonado pelo tempo Arma e desarma o braço do destino. Murilo Mendes


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

ISABELA FRADE A nuvem andante acolhe o pássaro Que saiu da estátua de pedra. Sou aquela nuvem andante, O pássaro e a estátua e a pedra. O extrato do poema publicado em 1938, no livro

A nuvem andante acolhe o pássaro Que saiu da estátua de pedra. Sou aquela nuvem andante,

Metamorfoses, nos faz ter sonhos de nuvens e de pedras.

O pássaro e a estátua de pedra.

Os pássaros somos nós, criaturas às quais sua poesia faz

Recapitulei os fantasmas,

elevar. Metamorfoseia-nos em tudo, e desde o estômago que arde, pleno, por ser chamado ao sono da razão. Razão que, levitando pelo devaneio, produz monstros alados, fugazes, ardorosos. 56

O Emigrante

Isabela Frade

Corri de deserto em deserto, Me expulsam da sombra do avião. Tenho sede generosa, Nenhuma fonte me basta. Amigo! Irmão! Vou te levar O trigo das terras do Egito, Até o trigo que não tenho. Egito! Egito! Amontoei Para dar um dia a outrem: A sombra fértil de Deus Não me larga um só instante. Levai-me o astro da febre: Eu vos deixo minha sede, Nada mais tenho de meu. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Um outro em Ser (ou A Pedra que Sonha em ser Nuvem) Objeto artístico. Pedra e fotografia em caixa de madeira 8 x 17 x 13 cm (caixa) e 2 x 17, 5 x 13 cm (tampa). 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

JABIM NUNES Meu olhar percorre bairros, ruas, becos e vielas,

buscando

transformar

fragmentos

da memória ao captar paisagens (in)visíveis e menos óbvias, originárias dos complexos estéticos de uma cidade real transitando entre o ideal e o imaginário. Conformismo

sem

parâmetros?

Cenário

decadente, ou obscuridades da indiferença? Assim, sou impulsionado pelo espectro do possível

vir-a-ser

da

intuição

imaginária.

Descomprometido com o Belo, e com o otimismo exacerbado. Lentes cor-de-rosa ou um realismo vigiado? Jabim Nunes

59

Nada me fixa nos caminhos do mundo Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Série: Morro do Rio Instalação Objeto com madeira descartada, aplainada e reutilizada. 67 x 57 x 16,6 cm 2021


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

JOHN NICHOLSON Essas passagens escrevem essências do meu processo

pictórico,

próprio

de

abstração

O Retrato Flutuante

lírica. É um processo criativo que provoca e

...Surges quando ninguém te espera,

admite acidentes para adicionar e incorporar o

Surges, gaivota em branco e negro,

inesperado na composição. É um processo com algo de Heráclito (assim como Murilo Mendes

Anunciando ao mesmo tempo

escreve no poema citado). O inesperado no

A vida mística e sensual.

meu processo de pintura e da minha linguagem criativa como um todo, deixa minha pintura

Desapareces deixando um vestígio Partes em pluma, nervosa dançarina, Cumprir tua invisível missão.” 60

conseguir a respiração própria como uma analogia ao ser vivo.

Picasso uma vez falou que o quadro só funciona quando se vive, palpita, e respira como a inefável

Reflexão No 1

gaivota dançarina com sua invisível missão de Mendes. Uma pintura preordenada e fixa desde

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho

seu início não consegue a ressonância com a

Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio

vitalidade própria do seu espectador. Portanto,

Ninguém ama duas vezes a mesma mulher Murilo Mendes

na ressonância da sua missão invisível, o cisne faz sua inefável procissão graciosa que intitula o Quadro.

John Nicholson

 FICHA TÉCNICA As the Swan in the Morning Moves over the Lake Acrílica sobre tela 110cm X 100cm 2020


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

JULIA VITRAL Na provocação que acontece do encontro entre palavras e objetos, a possibilidade de criação é apenas uma tentativa de retratar uma realidade subjetiva. O texto e o antitexto de Murilo Mendes atordoam ao mesmo tempo que impelem ao trabalho, entretanto, a sincronia entre palavra e imagem resiste à clareza, insiste no mistério e se manifesta na incompletude daquilo que é criado.

É nesse menabó, micro ou macro, que o poeta, como que usando um pretexto, nos guia, dirige, conduz e faz discursar ou suprimir um discurso. Cativada, persigo e sou perseguida por esse texto.

Julia Vitral 63

“O texto é micromenabó do poeta ou o poeta o macromenabó do texto?”

1

“A palavra “menabó” justaposta a micro e macro não foi encontrada em português. É, portanto, um neologismo criado por Murilo Mendes. A provável primitiva dela foi encontrada em francês – menable – significando, guiável, conduzível. Também foi detectada com sentido similar no verbo 2 italiano – menare – guiar, dirigir e na acepção de produzir.” 1

2

Murilo Mendes, ”TEXTO DE CONSULTA”, 1965, in Poesia Completa e Prosa, RJ, ed. Nova Aguilar S.A., 1995.

Rita de Cassia Santos/UnB1, “SINTAXE: A LAPIDAÇÃO DA LINGUAGEM”

https://2014.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1003/1320/2131.pdf

 FICHA TÉCNICA Menabós Cerâmica, Instalação em parede 80cm x 80cm 2020


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

LAURA BONFÁ BURNIER Versos de Murilo Mendes que muito me tocaram e se encaixam diretamente ao meu trabalho

– “Nada me

Fixa nos Caminhos do Mundo”. Nele,

conecto

os

fragmentos

encontrados

nos

caminhos de estradas e ruas, como um arqueólogo que junta peças para reconstruir histórias passadas. E numa ação inversa, com os pedaços de demolição, eu crio uma nova narrativa onde o acaso e o tempo entram como protagonistas. Laura Bonfá Burnier

64

Tenso espírito do mundo, Vai destruir e construir Até retornar ao princípio. ... Nada me fixa nos caminhos do mundo. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Nada me prende nos caminhos do Mundo Instalação de parede; chapa ferro, acrílica, gesso, cola, fragmentos de parede 26,5 x 96 cm cada, 96 x 115 cm total 2021


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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LÍGIA TEIXEIRA A escolha do poema “Mulher”, de Murilo Mendes, deu-se, sobretudo, por ser A Mulher e o Universo Feminino o tema central da minha obra.

No poema, a mulher é retratada enquanto figura idealizada, misteriosa e assustadora. Contraditória e admirada, é fonte de sofrimento e de indagação constante sobre os desígnios da condição humana.

Em meu trabalho, o gesto, o corte e a fenda sobre a escritura, emprestam volume e carnalidade à ideia de potência do Feminino.

Lígia Teixeira

Mulher Mulher, o mais terrível e vivo dos espectros, Por que te alimentas de mim desde o princípio? Em ti encontro as imagens da criação: És pássaro e flor, pedra e onda variável... Mais que tudo, a nuvem que volta e se consome, Dormir, sonhar – que adianta, se tu existes? Se fosses forma somente! És idéia também. Ah, quando descerá sobre mim a paz antiga. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Mulher Objeto - Livro 21 x 29,5 x 3cm 2021

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

LUCAS SOARES Mergulho

de

cabeça

nestas

palavras

de

Murilo Mendes sabendo da incapacidade de transbordar este mundo. Ainda assim, firmo aqui o desejo – tal como o poeta – de fundir o imaginário e o cotidiano, o onírico e o intramundano, bem como o eterno e o contingente. Eran

òrún,

pescoço”,

em

se

Iorubá

materializa

“carne

do(e)

enquanto

um

gesto frente a uma dessas ditas colunas da realidade. A violência colonial histórica e do cotidiano vivido condiciona nossas percepções,

saberes,

corpos

e

Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem

olhares.

desequilíbrio de forças,

Todavia, em Iorubá, òrun também é céu,

matéria em convulsão ardendo pra se definir.

mundo espiritual. Olhar para cima em busca 68

O Homem, A Luta e A Eternidade

de diferentes estrelas ou cometas no céu ensolarado que nos toca, é um prenúncio de procura de outros mundos. Talvez, no momento de encontro destes, “não haverá mais tempo”.

Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo.

Lucas Soares

À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando! Um dia a morte devolverá meu corpo, minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins meus olhos verão a luz da perfeição e não haverá mais tempo. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Eran òrùn Fotografía digital 63,4 cm x 46,0 cm 2021


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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LUIZ BADIA Basicamente meu trabalho de pintura aglutina imagens díspares e desconexas sobre um plano abstrato criando um efeito efêmero de signos aleatórios. Algo entre a Pop Art e o surrealismo, se a intenção for catalogar por estilos. Resultado da poluição visual do cotidiano, no excesso de mídias e na velocidade contemporânea. O contraste e a oposição são uma característica da formação das imagens, uma construção compositiva que leva ao antagonismo de significados, assim como a ação plástica que se opõe, tal como: claro e escuro, a figuração e abstração, o informal e o formal, o clássico e o contemporâneo. Uma teia de significados que montam uma plataforma onírica, como lembranças que aparecem sem ser convidadas. A obra de Murilo Mendes e sua poesia surrealista puderam servir de espelho para minha representação pictórica. Achei seu poema Abismo cheio de imagens plásticas e inquietantes, perfeitas

para

meu

universo

de

criação.

Abismo Todos me indicam o caminho contrário. Bebi na música E fechei-me a sós com o sonho. Quando acordei Haviam destruído os gramofones E a treva anterior envolvia a cidade. O mar passava nos braços Uma pulseira de mortos. Abri um pé de magnólia

Luiz Badia

Dando sombra ao Minotauro. Desde então Meu peito é zona de guerra, Fiz um eixo com as estrelas. Poesia em pára-quedas Tanto desce como sobe. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Abismo Mágico Acrílica sobre tela 120 x 100 cm

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

MÁRCIA CLAYTON Março de 2019, dois ex-estudantes da Escola Estadual Prof. Raul Brazil, Suzano/SP, perpetram um massacre na instituição deixando dez mortos e se suicidando em seguida. As falas dos assassinos publicadas dias antes na internet foram bordadas em duas camisas escolares com os nomes dos protagonistas na parte interior da gola. ‘NÃO DIZ PORQUE DIZER É UM DESERTO’, MM, foi o verso escolhido como título/alento da artista paulistana e sobretudo, como um alerta social.

‘NASCER É MUITO COMPRIDO’, MM, foi pinçado para o título da instalação com 11 bengalas e rodas acopladas. É um outro deslocamento que a artista realiza, subvertendo a função de apêndice para a locomoção humana, e propondo suposições no tempo-espaço. 72

Márcia Clayton

 FICHA TÉCNICA Não diz porque dizer é um deserto, Murilo Mendes Instalação performática com camisas bordadas e carteiras de estudante Dimensões variadas 2020

‘Nascer é muito comprido’, (Reflexão N1, ‘Mundo Enigma’, Murilo Mendes) Instalação com bengalas, rodas e tubo de aço 115cm x 100cm x 15cm 2019


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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 FICHA TÉCNICA “TRANSVERSAL - Uma leitura Antropofágica do universo Murilo Mendes” Videoinstalação – vídeo 1:50 min./ véu transparente de 1500 cm X 80 cm


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MARCUS NEME Buscando referência em sua obra, entrevistas e no documentário “Murilo Mendes - A poesia em pânico” (fotografia de João Carlos Horta / Mário Gianni e roteiro e direção de Alexandre Eulalio) pude colher imagens preciosas para elaboração do vídeo e argumento poético para compor o conceito

(1) - CANTIGA DE MALAZARTE

da videoinstalação.

No vídeo, uma assemblage de imagens do artista

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,

em tempos distintos se relacionam com diversos

ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.

aspectos da sua vida sobre as letras manuscritas do poeta.

Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.

O porta-retrato digital de 12 pol. é o suporte para o vídeo de 1:50 min. que se repete por tempo

Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.

indeterminado ao observador.

Desloco as consciências, O aparelho se apresenta sob um véu transparente de 1500 cm X 80 cm preso a parede.

a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida.

O véu de musseline é uma falsa renda impressa (sublimada) sobre a transparência do tecido onde nos revela o verso “Eu sou o olhar que penetra nas

Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos

camadas do mundo” do poema Cantiga de Malazarte

e a pedir desculpas ao mendigo.

(1) fazendo referência ao espírito dialético do poeta e

Sou o espírito que assiste à Criação

a sua busca pela lógica oculta entre a sensualidade

e que bole em todas as almas que encontra.

e (2),

cristianismo, conforme

Marcus Neme

racionalismo as

palavras

e

do

irracionalismo próprio

poeta.

Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. nada me fixa nos caminhos do mundo. Murilo Mendes

(2) - Sou um espírito dialético, eu busco a lógica oculta entre a sensualidade e cristianismo, racionalismo e irracionalismo. Murilo Mendes , em entrevista à Revista Veja, em setembro de 1972.

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

MARIA CLARA CONTRUCCI O trabalho foi criado a partir de diversas frases retiradas do livro “Poliedro”, de Murilo Mendes.

A performance é um vocabulário de gestos e ações que se ligam diretamente às frases expostas, tornando visível no corpo a geometria invisível da poesia de Murilo. Tanto as ações quanto as frases falam da própria

Diversas frases retiradas e rearranjadas do “Setor Texto Délfico” do livro Poliedro:

ideia de poliedro que o livro evoca: múltiplas faces, oposição e convergência, concretismo e mistério.

No corpo da pessoa o enigma se contempla e se autodestrói. O convexo da poesia é o corpo, o côncavo do corpo é a poesia. Maria Clara Contrucci

O invisível esconde-se no visível. Paciência, enquanto fabricam o inédito no além. Sem esperança, não surge o inesperado.

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O côncavo do convexo, o convexo do côncavo. Paralelas e tangentes alegrias da construção geométrica. As esferas dormem, os triângulos vigiam. O quadrado não voa, a esfera sim. Rotação, contato, ambiguidade, tangência, polivalência. O umbigo do mundo. A cem metros de qualquer ponto está o oriente. Dancemos o oriente.

 FICHA TÉCNICA O côncavo do convexo, o convexo do côncavo Performance 2021


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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MARILENA MORAES As ideias e reflexões escolhidas e impressas nas placas visam provocar novos pontos de vista, mesclando o universo de Murilo Mendes ao do espectador, ao se alterar a ordem das frases. Entre delírio e lucidez, a lógica de cada um torna realidade o que pode ser imaginado.

Mas a pandemia trouxe restrições: não se pode tocar, não se pode interagir.

Palavras dissolvidas, atadas, contidas. A quietude espreita e desafia.

É quando a arte se impõe, rasga o silêncio, quebra barreiras.

O artista solta a voz. Sobreviver é preciso.

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Marilena Moraes

Só não existe o que não pode ser imaginado Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Palavras Cruzadas Objeto: quadro imantado e placas impressas com as seguintes frases de Murilo Mendes: prefiro o inferno definitivo à dúvida provisória / é necessário conhecer seu próprio abismo e polir sempre o candelabro que o esclarece / o anjo pousa de leve no quarto onde a moça pura remenda a roupa dos pobres / só não existe o que não pode ser imaginado / escrevo para me tornar invisível, para perder a chave do abismo /habitei tua sombra e tu sabias que só juntos podíamos respirar quadro de 60x90cm e 26 placas de 2cm de altura e larguras diversas 2021


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

MARILOU WINOGRAD Não sou meu sobrevivente e sim meu contemporâneo Murilo Mendes

Este aforismo impresso na parede do Museu Murilo Mendes iniciou meu “coup de foudre” com o poeta.

dores, sobrevivência, resistência e desejos de liberdade em um mundo ora profundamente conturbado.

Seu dom de assimilar e fundir elementos ímpares e díspares, seu interesse pelo finito e infinito, sua obsessão pelo Alfa e Ômega me emocionam e provocam.

A arte, a cultura, o imprevisível, as associações impossíveis nos falam através de Murilo Mendes de imaginação em liberdade para “não ser meu sobrevivente e sim meu contemporâneo.”

Na Trilogia das Impossibilidades Possíveis, a precariedade dos objetos construídos com sedas e agulhas enfiadas, refletidos em labirintos espelhados, falam de memórias,

Marilou Winograd

 FICHA TÉCNICA Trilogia das Impossibilidades Possíveis 80

3 caixas de espelhos, fotocolagens impressas sob seda, agulhas de tapeceiro 35 x 45 x 20 cm


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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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MARIO CAMARGO Labirinto em ouro é a visão poética / estética de uma utopia, que é a vida.

Ao nascer, somos jogados no labirinto da vida e ficamos diante de nossa total impotência.

Não sobreviveremos sem ajuda de nossos pais para nos alimentar e nos proteger.

No mundo animal somos o mais vulnerável dos animais, ao nascer.

No labirinto da vida, só após a puberdade, começaremos a ter escolhas próprias.

Nem sempre estas escolhas serão douradas e mesmo assim aprenderemos a sobreviver com os nossos acertos e erros e a buscar a felicidade.

A obstinação é a nossa maior arma, nada pequeno nos fará desistir da busca de nossos ideais e, principalmente, dos nossos momentos em ouro.

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Viver é um Labirinto muito comprido..

Mario Camargo

Reflexão No 1 Ainda não estamos habituados com o mundo Nascer é muito comprido. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Labirinto em ouro Pintura acrílica com costuras 100x140cm


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

MARK ENGEL Em sua obra, “Carambolas, ora bolas #3”, Mark Engel retrata de forma abstrata a sátira e o bom humor do poema “Canção do Exílio” de Murilo Mendes onde o autor usa desse artifício literário para ressaltar a visão utópica no poema homônimo de Gonçalves Dias.

Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. Gonçalves Dias Conectando com o poema de Murilo Mendes e refletindo sua própria situacão de auto-exílio que se estende há mais de três décadas, Mark 84

desenvolve um trabalho que remete a sua história pessoal e memórias de um Brasil longínquo. O resultado final dá seguimento a sua trajetória artística pessoal, tendo realizado trabalhos com temas similares e processos digitais desde 1995, e resulta numa obra onde a memória que resta se evanesce. Mark Engel

Canção do Exílio Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Carambolas, ora bolas #3 C-Print digital montado em metacrilato Edição de 5 e 2 provas de artista 120x100cm 2021


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MONICA MANSUR Monica Mansur dedica-se, há tempos, a experimentos

Encontrou eco no trabalho de Murilo Mendes, poeta

dentro do mundo da fotografia estenopeica (sem lente/

visionário em busca de romper com os limites do

pinhole), desenvolvendo seu processo, com interesse

espaço e do tempo, ultrapassando e indo mais além do

na formação e percepção da imagem como ideia e sua

horizonte: o tempo e a eternidade se esvaem no universo

apresentação como a de um real possível e mutável,

do improvável e do invisível.

efêmero e atemporal. Ao perseguir a pesquisa sobre captura de imagens e sua ocupação no espaço em torno

Monica Mansur

do observador, além do caminho da luz, seu trabalho alargou-se, para fora dos cantos e paredes transbordou, envolveu os olhos e os corpos, tornou-se a própria paisagem.

87

Pertenço à categoria não muito numerosa dos que se interessam igualmente pelo finito e pelo infinito. Atraem- me a variedade das coisas, a migração das ideias, o giro das imagens, a pluralidade de sentido de qualquer fato, a diversidade dos caracteres e temperamentos, as dissonâncias da história. Que vemos? Como é que vemos? Quando vemos? Eu me encontrei no marco do horizonte Onde as nuvens falam. Onde os sonhos tem mãos e pés E o mar é seduzido pelas sereias.  FICHA TÉCNICA Entre o céu e a Terra... Vídeo, fotografias pinhole impressas em vegetal, caixa de vidro 2017

Murilo Mendes


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

MYRIAM GLATT Como dizia Manoel Bandeira sobre Murilo Mendes, ele era “o conciliador dos contrários”. Essa definição me fez dar uma volta ao meu trabalho e tecer uma linha nas questões que a colagem apresenta: partes que se juntam, contrários que se unem e também na minha pintura que ora é espontânea, ora é precisa, ora esconde o suporte, ora revela o material.

Dentro desse conceito, escolhi 4 poemas que tocam nessas dicotomias dialéticas. A seguir, destaco alguns versos.

Myriam Glatt

Pós-poema não se trata de ser ou não ser, trata-se de ser e não ser. 88

Salmos#3 te proclamo grande porque te fazes minúsculo na eucaristia.

No Espelho o céu investe o outro céu...não apenas no fim, mas no princípio Mas quem me vê? Eu mesmo me verei?

Somos todos poetas sou todos e sou um. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Poema Escondido Colagem de pintura acrílica no canvas sobre madeira 55X45cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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 FICHA TÉCNICA Olho para tudo com o olhar ambíguo de quem vai se despedir do mundo Díptico - fotografias digitais - impressão fine art sobre papel Bamboo 290g fosc 57 x 20,5 cm [2 fotos com moldura preta] 2020


Acesso Arte Contemporânea

NEY VALLE Tirando partido do diálogo entre a poesia de Murilo Mendes e as artes visuais, esse díptico traz duas fotos-quasepinturas inspiradas e ressignificadas pelos versos do poeta que dão título ao trabalho: “Olho para tudo com o olhar ambíguo de quem vai se despedir do mundo”. Nas imagens, os quatro elementos – água, terra, fogo e ar –, tão caros a Murilo, fazem um jogo surrealista e irônico de tempo e espaço: o que é reflexo, o que é espelho? O que é antes, o que vem depois? O que é verdade? Onde começa? Onde termina? Como continua? O que é o quê? Conciliando contrários, este díptico-elegia é o resultado do entrelaçamento livre entre o meu trabalho e a poesia de Murilo Mendes, aquele que nos disse que “o oposto sempre existe”. Ney Valle

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

NINA MELLO Os mistérios das coisas visíveis que desperta Murilo Mendes para a poesia, quando ele vê o cometa de Halley com nove anos de idade em 1910. No poema “Nova cara do mundo” anterior a 1930 nos diz de sua inquietação... “O cometa me traz o anuncio de outros mundos/ e de noite eu não durmo/ atrapalhado com os mistérios das coisas visíveis.” Me trouxe o que em mim desperta a fotografia, a princípio como registro

Nova Cara Do Mundo

fidedigno e ao longo do meu envolvimento com o

O cometa de Halley vai passar

fotográfico ela vem se mostrando como um grande

Toda a cidade acorda para ver o cometa

mistério, repleta de multiplicidades, pluralidades, atravessamentos, construções e possíveis realidades. Uma imagem contém muitas vezes o que nela não

destrói idades pensamentos de homem.

está representado, não está enquadrado, mas o que

O mundo muda a cara quando ele passa

ela suscita. O que o visível nos inquieta? O que vemos

e meninas desmaiam no fundo do sertão.

naquilo que o visível nos olha? 92

Ele é enorme e fabuloso

Nina Mello

O cometa passa e arrasta um pouco da minha alma. Fiquei triste, triste, jururu! Em vão minha tia Virgínia Amália Monteiro de Barros repete no piano com tanto sentimento a Valsa Transiberiana, meu xodó naquele tempo. Qual valsa, qual nada! O cometa me traz o anúncio de outros mundos e de noite eu não durmo atrapalhado com os mistérios das coisas visíveis. No rabo imenso do cometa passa a luz, passa a poesia, todo o mundo passa!

Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA S/título Colagem fotográfica Colagem 20 x 30 cm / Trabalho final 33 x 43 cm 2020/2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

OSVALDO CARVALHO A lagartixa como companheira de infância é algo que temos em comum, pois gostava de observálas caminhando pelas paredes, e sempre achava que elas estavam me olhando de volta, era como se nós buscássemos entender um ao outro, em silêncio, em gestos, em olhares; uma dinâmica contemplativa e respeitosa, em que o movimento de um implicava o movimento do outro, sem saber se era dança ou fuga. Osvaldo Carvalho

A Lagartixa Sentado ao sol num banco de jardim romano observo uma lagartixa no seu contínuo vaivém. Tento inutilmente agarrá-la; mesmo que sim, ela escorregaria logo das minhas mãos; digo escorreria porque a lagartixa tem algo de líquido (...). Falando lagartixa, falo infância onde lagartixa foi doce companheira das minhas horas juiz-foranas, nos jardins e pomares daquele tempo. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Still Life #6 Acrílica sobre tela 80 X 60 cm 2014

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

PEDRO HUGO VILANOVA A atmosfera de nostalgia obtida em alguns poemas de Murilo Mendes convida a um olhar sobre o eu de outro tempo. Um encontro com um eu mais profundo, uma consciência atemporal que não pode ser alcançada com a presença da restritiva razão, a mesma razão que limitaria um corpo d’água a se distribuir horizontalmente. A pintura busca retratar esse breve encontro nas águas abismais do inconsciente, o encontro com o eu mais verdadeiro alcançado em uma imersão parcial, como um devaneio, sem o mergulho completo no mundo dos sonhos. Pedro Hugo Vilanova

Pós-Poema O anteontem - não do tempo mas de mim Sorri sem jeito

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E fica nos arredores do que vai acontecer Como menino que pela primeira vez põe calça comprida. Não se trata de ilusão, queixa ou lamento, Trata-se de substituir o lado pelo centro. O que é da pedra também pode ser do ar. O que é da caveira pertence ao corpo; Não se trata de ser ou não ser, Trata-se de ser e não ser. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Submerso Óleo sobre tela 30x40cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

PEDRO RANGEL Imaginar é ação que vislumbra o novo, força motriz das transformações do real. Casada ao conhecimento dos meios e determinações da realidade, é possível criar novas formas. Quando forças reacionárias decadentes tentam impossibilitar o conhecimento e findar nossa capacidade imaginativa, criativa, logo, de humanização da nossa realidade e relações, é preciso lembrar desse poder único da humanidade. É a partir disso que a poética de Murilo Mendes e a minha se encontram, seu escrito chama a atenção para a força intrínseca da imaginação, que por princípio se apresenta como possivelmente ilimitada. Em diálogo com o poeta, meu trabalho traz de forma iconográfica e esquemática, um ensaio provocativo de uma radical transformação que realize de forma plena o sentido na frase de Murilo. Pedro Rangel 99

Só não existe o que não pode ser imaginado. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Por uma outra imaginação Óleo e acrílica sobre tela, 5 telas 81 x 71cm


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

PETRILLO Ao propor uma narrativa visual sobre um excerto da obra Muriliana, me rendi às indagações contemporâneas nas quais estamos vivendo. A inércia dos movimentos e o isolamento – seja ele de afetos, social ou físico - mapeiam nossos próprios mundos

interiores,

constroem

novas

indagações e devolvem novas interjeições. Nossas de

certezas

nossas

suspensão

do

viraram

certezas, tempo,

incertezas

como hora

e

uma lugar...

O mundo em constante mutação, de cabeça para baixo. Sem lugar. “Na pedra que se move/O motor do mundo avança.” 100 Petrillo

A Flecha O motor do mundo avança: Tenso espírito do mundo. Vai destruir e construir Até retornar ao princípio. Eis-me sentado à beira do tempo Olhando o meu esqueleto Que me olha recém-nascido. Belas mulheres que amei Ensaiam o vestido de terra Para o sono familiar Na pedra que se move O motor do mundo avança Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Onde nossas certezas, viraram incertezas de nossas certezas... Objeto caixa – globo terrestre e escalas humanas 40x15x20cm 2021 Onde nossas certezas, viraram incertezas de nossas certezas... Desenho s/papel e colagem 23x80cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

RAÏSSA DE GÓES Atraem-me a variedade das coisas, a migração das ideias, o giro das imagens, escreve Murilo Mendes em Poliedro. Variedade, migração e giro; coisas, ideias e imagens.

Posso dizer que compartilho essa atração e

através dela que me aproximo de seus versos. Tento a migração da palavra poética para uma gira de imagens. Imagem que encarna o poema. Será isso possível? Atravessamos um tempo no qual imagens e palavras se tornaram rivais, disputam a ficção e a verdade. Ando cansada de disputas, os braços dos traços, o corpo que risca, vê e pensa é este que escreve e pinta. Gesto na superfície de algodão, cor e olhos. É olho sem deixar de ser ouvido. O olho escuta o que lhe sussurra o ouvido: um poema. Raïssa De Góes

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A Corda O navio amarrado. O pássaro amarrado. A pedra amarrada. O Homem. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Arquipélagos Óleo sobre tela Díptico 30 x 40 cm e 40 x 30cm 2021


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

RICARDO CRISTOFARO E

então

compreendemos

o

novo

salto

de

agora:

vislumbrada a perfeição circunscrita no poliedro, o poeta mais almeja. Por que não imaginar e contemplar e inter-analisar a perfeição aberta do lado de fora do poliedro, nos outros contatos possíveis de seus planos interseccionados? (Eliane Zagury) Ricardo Cristofaro

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O invisível esconde-se no visível Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Projeto para um Poliedro Óleo sobre silicone 33x25cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

Sou o espírito que assiste à Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. - Murilo Mendes

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Giro com o texto a tiracolo. Sem o texto. Não decifro o itinerário. - Murilo Mendes


Acesso Arte Contemporânea

RICARDO MUNIZ DE RUIZ Murilo é Minas. Minas é Mundo. Minas é Trem. Historicamente Minas é terra de andarilhos. Não foi por acaso que Mendes caminhou pelos quatro cantos do mundo. Parece-me que viajar inspirou o poeta escrever a Cantiga de Malazarte, de onde selecionamos os versos para mesclarem-se à primeira foto. A fusão tem a intenção de criar o Poema Conceito, como definido por Wladimir Dias Pino: “imagem e texto devem fundir-se tornando-se inseparáveis”. A segunda obra tem o título Texto de Consulta, outro poema de Murilo, que inicia com a questão: “A página branca indicará o discurso. Ou a supressão o discurso?” Poeta, identifico-me com Murilo Mendes desde o ginásio quando fui apresentado à sua obra. Fotógrafo vi nos trilhos do trem os caminhos do andarilho. Minha ponte

Sou o espírito que assiste à Criação

para as artes plásticas foi forjada na poesia visual

e que bole em todas as almas que encontra. Ricardo Muniz De Ruiz

Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. Murilo Mendes

Giro com o texto a tiracolo. Sem o texto. Não decifro o itinerário. Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Poema Conceito I: Cantiga de Malazarte

Poema Conceito II: Texto de Consulta

100 x 60 cm

100 x 60 cm

2021

2021

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

SHALA FELIPPI Imagética Muriliana É um recorte das imagens/objetos presentes na obra de Murilo Mendes. Poeta que escreveu nas linhas do humor modernista, do surrealismo e da poesia religiosa. Aproximou a realidade material ao transcendente em poemas de prosa e de frases. Como disse João Cabral de Melo Neto “a poesia de Murilo me foi sempre mestra, pela plasticidade e novidade da imagem. Sobretudo foi ela quem me ensinou a dar precedência à imagem sobre a mensagem, ao plástico sobre o discursivo”. Shala Felippi

Tempos Duros E a morte vem recolher A parte da lucidez Que durante tanto tempo Escondera sob os véus.

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Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Imagética Muriliana Manequim feminino de plástico, mosquiteiro, vestido longo de veludo preto, viseira canina, chapéu de feltro, objetos variados Instalação com 190 cm de altura por 100 cm de largura 2021


Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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 FICHA TÉCNICA Sem Título Bronze com frases


Acesso Arte Contemporânea

SHIRLEY PAES LEME A frase “Este povo coisando na durocracia” produzida em bronze é retirada do poema “Grafito Para Mário De Andrade”, e tem uma relação com o tempo. Escrita por Murilo Mendes em 1964, durante a ditadura militar do Brasil, é hoje atualíssima. O povo brasileiro continua sofrendo com a dureza da vida e a burocracia institucionalizada. A invenção da palavra durocracia é fenomenal no contexto atual e atemporal. A outra frase, “Ideograma da fome”, é retirada do mesmo poema e pode ser lida de diversas maneiras, pois ideograma é um símbolo gráfico ou desenho que representa um objeto, ideia ou conceito abstrato. É também um símbolo composto pela combinação de dois ou mais outros caracteres, formando um novo sinal representativo, a partir de palavras com sentido relacionado. A frase remete a diferentes carências, desde a falta de alimento, à escassez de cultura, de informação, ou a impotência e manipulação de políticas públicas que exacerbam o sofrimento do povo, especialmente durante a pandemia e crise no país. Shirley Paes Leme

Grafito Para Mário De Andrade 1 Sofro de brasilite , Mísero télamon Para suportar nos ombros o BR: Esmaga-me concreto Ainda mesmo à distância . Ninguém situa o BR Inaferrável . • BR difícil multívago Oscilando / Coisa maior Entre mocambo e arranha-céu Entre molusco e caviar Entre a inácia e a gateza . BR : IGUALMENTE CANDIDATO AO DOMÍNIO DO UNIVERSO / MAIAKÓVSKI E AOS TRABALHOS FORÇADOS Nos teus porões aportam diariamente Enormes caixas de problemas-coisas . BR –– Entre utopia / realidade Personalismo / afetividade

Deposita-se o futuro . “Será tempo de esfôrço caudaloso , Será humano e será também terribilíssimo .” 2 Teus rios Dioscuros Tuas diáboas Êste povo coisando na durocracia Ásperos contrastes O imenso ideograma da fome O guaiar do Nordeste goderando No polígono do abichorno Sol mecânico . 3 Planificaremos a fatalidade ? Poremos tôdas as vírgulas no lugar ? Exorcizaremos o dólar ? Solancas-te . Solavancas-te . Esquematizas . Estilhaças-te Esperando o traumaturgo . • A cada um sua xícara de café .

A cada um aloprado Sua mínima ração de morte cotidiana . 4 BR / minha raiz / minha insônia : O pássaro-telégrafo Adia o anúncio da aurora Aeroplanada . • Avante fôrça do homem . Paz no BR e no mundo . Avante música do homem , Paz no BR e no cosmo . Paz a Mário de Andrade no seu osso Distante das Erínias . Avante epos do homem , Avante plano-pilôto Contra o autosatisfeito Caos . Avante / Coisa maior Avante / Coisa maior Sursum corda Sursum Sur –––––––––––––– Murilo Mendes

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

SILVI A SA NTIAGO Tudo que vem da natureza me atrai, me atiça ou me cai aos pés . Uma concha, uma folha, uma borboleta morta, uma pedra, um osso, uma pena, uma casa de abelha... Recolho tudo e guardo esses meus segredos, meus mistérios, meus momentos. Gosto de juntar texturas contrastantes e inesperadas. Misturo, como o poeta , a realidade e o sonho, a natureza e a emoção, o linho e o ferro. Bordo com pontos imperfeitos os elementos para criar um trabalho. O desigual me encanta. A imperfeição me enfeitiça.

As luzes das abelhas me atraem para o inevitável -o ciclo da vida -, recolhendo madréporas e conchas. Esse é o meu encontro com a poesia Estudo Nº 6. Silvia Santiago

112

Estudo Nº 6 Tua cabeça é uma dália gigante que se esfolha nos meus braços. Nas tuas unhas se escondem algas vermelhas, E da árvore de tuas pestanas Nascem luzes atraídas pelas abelhas.

Caminharei esta manhã para teus seios: Virei ciumento do orvalho da madrugada, Do tecelão que tece o fio para teu vestido. Virei, tendo aplacado uma a uma as estrelas, E, depois de rolarmos pela escadaria de tapetes submarinos, Voltaremos, deixando madréporas e conchas, Obedecendo aos sinais precursores da morte, Para a grande pedra que as idades balançam à beira-nuvem. Murilo Mendes


Acesso Arte Contemporânea

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 FICHA TÉCNICA Onde moram as abelhas iluminadas Casa de abelha natural encrustada com bordado, em papel artesanal rústico, dentro de caixa acrílica 54x57x15cm 2020


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

SOLANGE ESCOTEGUY Solidão, silêncio são temas que circulam no meu imaginário há muitos anos. Na minha última exposição, silêncio e solidão sobressaíam dentre os sinais de alerta - meu tema. A

solidão

aprisionada

provoca

o

espectador,

ao

permitir

leituras

surpreendentes no revirar do inconsciente. Em pandemia, a incapacidade de agir, a liberdade de viver cerceada, o isolamento social aguçam ainda mais nosso inconsciente e nos defrontam com o ser ou não ser ou, mais profundamente ser e não ser do poeta. A ambiguidade nos invade. Murilo Mendes fala do verso e reverso da solidão, do seu visível e invisível, imagens e signos. Vemo-nos neles. Transportam-se à nossa realidade. E nessa vivência renascemos: a esperança e a cultura nos salvarão. Solange Escoteguy

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Solidão, és a paz ou a mina da guerra? Murilo Mendes

 FICHA TÉCNICA Solidão Tela, acrílico, fio de nylon e tachas 100x100cm 2019


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

VALERIA CAMPOS O projeto “Pour causa de Jandira” põe em diálogo a poesia de Murilo Mendes de mesmo nome e a imagem de um atlas anatômico escolar. Um jogo entre texto e imagem. Uma

imagem-texto

para

o

corpo-poema-

Jandira.

Valeria Campos

116

 FICHA TÉCNICA Pour causa de Jandira Banner – impressão sobre lona vinílica fosca 175X60cm 2021


Acesso Arte Contemporânea

117


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

VÂNIA BARBOSA A poesia é poderosa. Além de nutrir, canaliza imaginários levando a sensações internas que vão além do racional. Com palavras imagéticas, Murilo Mendes nos conduz a várias camadas do mundo. Esse homem múltiplo nos fala de cinema, de pintura, de música, de amores e angústias. Também nos fala do sagrado e do profano. Seduzido pela natureza humana de Cristo, manifesta nojo e tristeza “por viver num mundo aparentemente abandonado por Deus”. Da serenidade, flui repentinamente um tumulto de palavras que mais parecem um vulcão em erupção, entre vozes e corpos excitados e dilacerados. O trabalho HÓSTIAS PROFANAS está entre as duas margens, entre o visível e o invisível, onde o poeta transitava com tanta sabedoria e sedução. Vânia Barbosa

 FICHA TÉCNICA Hóstias Profanas Tule, hóstias escritas com fragmentos de poemas de Murilo Mendes, cola, fita dupla face, linha, cadarço e ilhós 75 x 130 cm 2021

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

VINÍCIUS BALARINI O que vem antes da ideia colocada em palavras, o que se é antes da forma firme e definida. O humano aqui ainda é uma dinâmica de forças divinas que se combinam para existir. Criam se justaposições de membros e signos, visuais que conversam com o surrealismo de Murilo Mendes. Vinícius Balarini

O homem, a luta e a eternidade matéria em convulsão ardendo pra se definir dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

121

 FICHA TÉCNICA Matéria é Performance 2021


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

(I) Estrelas “Há estrelas-peixes, estrelas pianos, estrelas-meninas, Estrelas-voadoras, estrelas-flores, estrelas-sabiás. Há estrelas que vêem, que ouvem, Outras surdas e outras cegas.”

(II) Mozart “Se levanta com quatro anos cantando Ó piano violino viola nuvem azul Ó flauta e paz”

(III) O Poeta Rompe o Sigilo ”Tingirá o abismo Com as sete cores que há na sua roupa Matará os sete pecados mortais Mostrando em todo seu esplendor as três virtudes teologais”

(IV) Carta Marítima “Achei uma fotografia linda Do veleiro que papai viajava”

Murilo Mendes

122

(I)

(II)


Acesso Arte Contemporânea

WALTER GOLDFARB A minha relação artística com Murilo e sua obra Andando no tempo Murilo e eu trememos Percebemos que nossas beiras em algum tempo São ladeiras, abismos Sentados quase que amarrados Trocamos nossas alquimias Nossos elementos

Nossa poesia Borda-se devaneios Sem intenção segura-se no porto Sentamos com tempo e remendos. É tremendo! Walter Goldfarb

 FICHA TÉCNICA O Fauno na Fauna de Flora I, II, III, IV, da série Os Quatro Elementos Bordado, laca, galalite, vernizes e nanquim sobre partitura 87x60cm 2020

123

(III)

(IV)


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

YOLANDA FREYRE Meu trabalho conecta-se à poesia de Murilo Mendes, sobretudo ao aspecto de religiosidade presente nas minhas performances e, em Murilo Mendes, principalmente no período da Segunda Geração do Modernismo, em “Tempo e Eternidade” ,1935, escrito em parceria com Jorge de Lima. Nesta exposição, a conexão se dá, pelo seu próprio título: “Sentado à beira do Tempo”, em referência ao poema A Flecha:

Eis-me sentado à beira do Tempo/Olhando o meu esqueleto/ Que me olha recém nascido. Murilo Mendes Inspirada neste poema realizei esta instalação “Brasil em três tempos”: Brasil Pré-Histórico; Brasil Colonial; Brasil Contemporâneo. Eu Yolanda, também “sentada a beira do tempo”, vejo o Brasil passar... Yolanda Freire

124


Acesso Arte Contemporânea

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 FICHA TÉCNICA Brasil em três tempos Instalação 2021 Utilização de duas redes industriais A primeira, com duas interferências de objetos em tecidos de algodão com inscrições pintadas (em uma delas) com desenhos rupestres e (em outra) bordado inspirado em objeto Marajoara. A seguinte, exibindo costura aparente com linha escura, fechando a rede , respeitando uma única abertura, de onde “jorra” lençol de algodão, intercalado por grandes nós. Utilização de uma rede de confecção indígena Única - apresentando quatro maracás feitos de cabaças por índios brasileiros (ignoramos a tribo) e uma reprodução, em cetim, de objeto de cerâmica pintado, com a forma do púbis feminino.


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

INDÍCE

ANNA BRAGA 30 – 31 AUGUSTO HERKENHOFF 32 – 33

126

INTRODUÇÃO

CLÁUDIA LYRIO

2–3

34 – 35

INTINERÂNCIA

CRIS CABUS

4–5

36 – 37

QUAL VANGUARDA HOJE? – SILVIANO SANTIAGO

CRISTINA LAPO

6–7

38 – 39

ENTRE POESIA E IMAGEM – RICARDO CRISTOFARO

EDUARDO MARIZ

8–9

40 – 41

LISTA DE ARTISTAS

ENÉAS VALLE

10 – 11

42 – 43

LÚCIA AVANCINI

FABRÍCIO CARVALHO

12 – 13

44 – 45

ADRIANA TABALIPA

FERNANDA CHEMALE

14 – 15

46 – 47

ALEXANDRE DACOSTA

FERNANDA CRUZICK

16 – 17

48 – 49

ALEXANDRE MURUCCI

FRANCISCO BRANDÃO

18 – 19

50 – 51

ALEXANDRE SÁ

GILDA LIMA

20 – 21

52 – 53

AMADOR PEREZ

GILDA SANTIAGO

22 – 23

54 – 55

ANA DURÃES

ISABELA FRADE

24 – 25

56 – 57

ANALU NABUCO

JABIM NUNES

26 – 27

58 – 59

ANDERSON ROSA

JOHN NICHOLSON

28 – 29

60 – 61


Acesso Arte Contemporânea

JULIA VITRAL

OSVALDO CARVALHO

62 – 63

94 – 95

LAURA BONFÁ BURNIER

PEDRO HUGO VILANOVA

64 – 65

96 – 97

LÍGIA TEIXEIRA

PEDRO RANGEL

66 – 67

98 – 99

LUCAS SOARES

PETRILLO

68 – 69

100 – 101

LUIZ BADIA

RAÏSSA DE GÓES

70 – 71

102 – 103

MÁRCIA CLAYTON

RICARDO CRISTOFARO

72 – 73

104 – 105

MARCUS NEME

RICARDO MUNIZ DE RUIZ

74 – 75

106 – 107

MARIA CLARA CONTRUCCI

SHALA FELIPPI

76 – 77

108 – 109

MARILENA MORAES

SHIRLEY PAES LEME

78 – 79

110 – 111

MARILOU WINOGRAD

SILVIA SANTIAGO

80 – 81

112 – 113

MARIO CAMARGO

SOLANGE ESCOSTEGUY

82 – 83

114 – 115

MARK ENGEL

VALERIA CAMPOS

84 – 85

116 – 117

MONICA MANSUR

VÂNIA BARBOSA

86 – 87

118 – 119

MYRIAM GLATT

VINÍCIUS BALARINI

88 – 89

120 – 121

NEY VALLE

WALTER GOLDFARB

90 – 91

122 – 123

NINA MELLO

YOLANDA FREYRE

92 – 93

124 – 125

127


Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

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Sentado à Beira do Tempo, a poética de Murilo Mendes

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Acesso Arte Contemporânea

Realização

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www.acessoartecontemporanea.com.br

Projeto Gráfico Catálogo Mark Engel, d’Art Inc.


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