Fábrica de Amostras de 6 Medicamentos para
no estudo da mastite 4 Avanço
para regenerar ossos 5 Opção
Pesquisa Clínica
123RF
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA • ANO XXXIII • NÚMERO 338 • NOVEMBRO 2017
CENÁRIO DESAFIADOR Especialistas do país e do exterior encontram-se no Simpósio de Pesquisa em Relações Internacionais (SimpoRI 2017) para discutir questões como imigração, os efeitos das ideias da Revolução Russa e a política externa do presidente Donald Trump. páginas 8 e 9.
10
Pesquisa vai ao mercado
11
Melhor gestão energética
15
Avanço no Índice das Universidades Empreendedoras
O valor da diversidade
A importância de abrir espaços de participação. Edição disponível apenas on line em: <http://www.unesp.br/jornal>.
2
Novembro 2017
Artigo
Revolução Russa – da esperança à tragédia Fim do socialismo real abalou a práxis e os ideais do socialismo, além de legitimar, por tempo imprevisto, o capitalismo José Antonio Segatto
Reprodução
H
á um século, em outubro de 1917, o processo revolucionário desencadeado na Rússia em fevereiro – com o colapso do império czarista – sofreu drástica inflexão e ganhou um curso imprevisto sob a direção do partido bolchevique. Ainda no calor da hora, um jovem militante socialista italiano, Antonio Gramsci, escreveu um pequeno e instigante artigo intitulado “A revolução contra O Capital”. Segundo o autor, a conquista do Estado pelos bolcheviques contrariava as diversas tendências do movimento socialista europeu e também russo (mencheviques e socialistas revolucionários). A leitura que faziam do livro de Karl Marx (que, aliás, completava 50 anos da publicação de seu primeiro volume, em 1867) presumia que a revolução democrático-burguesa e o consecutivo desenvolvimento do capitalismo seriam pressuposto básico e necessário para o socialismo. Para ele, as agruras da guerra teriam criado condições (vontade coletiva), de maneira célere e inusitada, para a tomada do poder pelos bolcheviques num país atrasado, de capitalismo incipiente, como a Rússia. Sem dúvida, a guerra potencializou a crise estrutural que já era latente em todo o imenso Império Russo, abarcando inúmeros problemas acumulados secularmente: dominância tirânica da autocracia czarista, subjugação de nacionalidades não russas, brutal opressão do campesinato, bloqueios à organização da sociedade civil, inexistência de direitos mínimos (tanto civis como políticos), etc. Em 1917 a crise irrompe com tal força que desintegra o todo-poderoso império czarista, criando uma situação caótica, que se agrava com a constituição de um governo provisório privado de credibilidade dirigente e impotente para enfrentar as graves circunstâncias. Estavam criadas as condições – vazio de poder, revolta e fúria popular, anomia, desorganização econômica, etc. – para que um pequeno partido de vanguarda, resoluto e com propostas que
O fim trágico do socialismo real revelou para a esquerda em geral uma situação dramática atendiam aos anseios imediatos das classes subalternas (pão, paz e terra), se apoderasse dos aparatos do Estado, sem resistência, em nome dos sovietes (conselhos). Conquistado o Estado – onde ele era tudo e a sociedade civil, nada –, os bolcheviques logo trataram de recompor o poder, em meio a uma devastadora guerra civil, consolidando-se como “ditadura do proletariado” e com a edificação de um Estado demiurgo sob a direção do partido único. No decorrer da década de 1920 – envolto em disputas e concepções variadas – foi-se corporificando um protótipo de socialismo que seria fixado nas décadas seguintes e cujas características gerais podem ser sintetizadas, topicamente, como segue: 1) Estatização dos meios de produção e circulação, planejamento ultracentralizado da economia, industrialização extensiva, coletivização da agricultura, abolição da economia de mercado, métodos de gestão burocráticos e coercitivos; 2) estatização dos sovietes, sindicatos, imprensa e outros órgãos; 3) inexistência de normas democráticas – as facções e as dissensões foram
criminalizadas com o banimento (gulags), ou mesmo com a eliminação física, e o Estado-partido chegou, em alguns momentos, a ganhar caráter terrorista; 4) os problemas das nacionalidades, étnicos e religiosos, tratados com coerção, anexações, remoções e russificação; 5) o marxismo-leninismo tornado ideologia ou doutrina oficial, como um sistema de dogmas que tudo explicava e justificava; 6) conformação de estratos sociais privilegiados, os donos do poder: dirigentes partidários, alta burocracia estatal, oficialidade militar e outros. Desde o primeiro momento, houve a tentativa de universalizar o modelo bolchevique de socialismo. Em 1919 foi criada a III Internacional Comunista (IC), para impulsionar o processo revolucionário na Europa (em especial na Alemanha). O insucesso desse intento levou a IC a investir em sua eclosão nos países coloniais ou dependentes (Ásia, América Latina e África), com caráter anti-imperialista e de libertação nacional. Esse modelo teve seu momento áureo no pós-guerra, com sua expansão no Leste Europeu e no Oriente.
Entretanto, já nesse período começou a dar sinais de exaustão, pelo acúmulo de problemas e de contradições irresolvidas. Um grupo dirigente do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) procurou ainda, sob o comando de Mikhail Gorbachev, renovar o socialismo real, para preservá-lo, por meio de reformas econômicas e da democratização do Estado (perestroika e glasnost). Mas, ao fazer isso, despertou forças e energias, interesses e ideologias que estavam latentes, porém adormecidas ou contidas – estas ganharam uma dimensão e uma dinâmica incontroláveis, que levaram à sua derrocada. No terceiro quartel do século 20, o socialismo real entrou numa crise irreversível, que acarretou sua ruína na União Soviética, no Leste Europeu e em outras partes do mundo, de forma fulminante e até inesperada, expondo o seu caráter autoritário-burocrático em toda a sua crueza. Se no limiar do século 20 e nas décadas seguintes a História parecia indicar que o capitalismo estava condenado e o futuro seria do socialismo – que prometia o paraíso terreno e/ou a emancipação dos pobres
e oprimidos –, em seu término a situação se inverteu totalmente. Ele passou a ser identificado com autoritarismo e opressão. O fim trágico do socialismo real revelou para a esquerda em geral (comunistas, socialistas ou social-democratas, trabalhistas, cristãos, etc.) uma situação dramática e trouxe em seu bojo problemas e elementos capazes de abalar não só a práxis do movimento, mas os próprios ideais do socialismo, além de legitimar, por tempo imprevisto, o capitalismo. Gramsci, se vivo estivesse – no ensejo do sesquicentenário da obra capital de Marx –, provavelmente advertiria que estaríamos carecendo de uma revolução não contra, mas a favor de O Capital.
José Antonio Segatto, é professor titular de Sociologia da Unesp Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo <http://opiniao.estadao.com. br/noticias/geral,revolucaorussa-da-esperanca-atragedia,70002059051>
Entrevista
Novembro 2017
3
Marco da era moderna Sociólogo ressalta influência política, econômica e cultural da Revolução Russa e sua importância como referência para a construção de uma sociedade mais igualitária Oscar D’Ambrosio
Reprodução
D
outor em Sociologia pela USP, professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos da Globalização (GPEG) da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília, Agnaldo dos Santos é membro do Núcleo de Estudos d’O Capital. Nesta entrevista, o sociólogo comenta a influência da Revolução Russa nos campos da política, da economia e da cultura e acentua a importância da experiência soviética – com seus acertos e erros – para a esquerda pensar uma nova alternativa de ordem social.
JU: Qual é o legado político? Santos: Apesar de evidente, merece ser destacada a vitória do Partido Bolchevique. Sob a liderança de Vladimir I. Lenin, apontou os caminhos que as organizações de esquerda deveriam seguir a partir de então. Não que a fórmula adotada pelos comunistas russos fosse de aplicação universal: ela só pode ser compreendida sob as circunstâncias históricas em que se desenvolveu. A Rússia dos czares, apesar de ter alguns núcleos urbanos industrializados de aspecto ocidental, trazia ainda muitos elementos da tradição feudal. A abolição da servidão ocorrera apenas no final do século 19, e o país era, em grande medida, rural. Ainda assim, os comunistas souberam aproveitar a crise do czarismo, acentuada
Mesmo parcialmente isolado do resto da economia mundial, o bloco soviético experimentou o mesmo crescimento econômico que os demais países pelo fracasso militar na Primeira Guerra, para ganhar a hegemonia do processo político. Como eles foram proscritos e perseguidos pelo regime, adotaram uma forma de organização extremamente disciplinada e militarizada, que foi fundamental na resistência e posterior vitória em 1917. JU: E na esfera econômica? Santos: Mesmo parcialmente isolado do resto da economia mundial, o bloco soviético experimentou o mesmo crescimento econômico que os demais países que viveram os “trinta anos gloriosos” (1945-1973), e isso se refletiu nas condições de vida dos trabalhadores. A geração que viveu a infância ou nasceu na URSS após a Segunda Guerra chegou à idade adulta gozando de um padrão de vida pouco mais modesto que o da classe média ocidental, mas bem mais confortável que o de seus pais e avós. E a corrida espacial fazia essa percepção de otimismo aumentar: o lançamento do satélite Sputnik I e o envio da
cadela Laika ao espaço em 1957, além do voo do cosmonauta Yuri Gagarin em 1961, confirmavam a superioridade tecnológica espacial soviética frente ao Ocidente. JU: A cultura também sofreu grande influência da revolução, não? Santos: As artes plásticas, a música, a literatura, o cinema, os comportamentos, tudo foi colocado sob contestação. E boa parte dessa vanguarda estava no Leste Europeu, e encontrou na nascente União Soviética um local de experimentalismos, antes do regime stalinista. A ideia mestra era que a arte deveria servir às necessidades concretas e intelectuais da sociedade, e não ser uma mera forma abstrata apartada do mundo. Esse mesmo espírito cultural possibilitou também a ascensão do forte protagonismo feminista nesse período, com a construção de grandes creches, lavanderias e restaurantes públicos, de modo a livrar as mulheres dos grilhões do trabalho doméstico
imposto pelo patriarcalismo. Ainda que o realismo socialista do stalinismo após os anos 1930 e o cultivo das formas tradicionais da arte tenham sido a marca dos anos posteriores, a influência dos primeiros anos revolucionários estava presente. Não só por meio da grande participação das mulheres na vida acadêmica e nas artes, como também por meio da adoção de elementos gráficos na sinalização de trânsito, nos edifícios, etc. E o teatro e o cinema da segunda metade do século XX são declaradamente tributários dessa influência, como podemos ver por exemplo em nosso teatro de resistência, música de protesto e outras manifestações durante a ditadura militar. JU: Em síntese, qual é o legado da Revolução Russa? Santos: Mesmo com a tônica da grande mídia, e parte da produção acadêmica, em apontar a experiência soviética como um “grande equívoco” que teria sido evitado se as elites russas fossem mais hábeis, o fato é que seu legado
Divulgação
Jornal Unesp: Qual é a sua avaliação da Revolução Russa? Agnaldo dos Santos: Olhando em retrospectiva, podemos dizer que foi o acontecimento mais marcante da era moderna, pois definiu a política, a economia e a cultura de todo o século passado, até seu fim melancólico em 1991. Quase sempre se fala do papel da União Soviética na resistência ao nazifascismo durante a Segunda Guerra, ou da Guerra Fria e a ameaça nuclear que marcaram as quatro décadas que sucederam o conflito mundial findado em 1945. Mas a verdade é que o legado da Revolução de Outubro vai além desses eventos de caráter bélico, ainda que fundamentais para compreender sua história.
Agnaldo dos Santos: professor da Unesp em Marília é inquestionável. Em que pesem todos os erros e crimes que foram cometidos em nome do socialismo, a tentativa de construir uma ordem social mais igualitária e civilizada teve também bons frutos. Qualquer projeto futuro de uma agenda política de esquerda terá que considerar, de forma honesta, os erros e os acertos daquela geração que levantou e consolidou as sete décadas do experimento soviético. Mais informações em artigo publicado em: <https://goo.gl/dvh8g9>
4
Novembro 2017
Ciências Agrárias
Avanço no estudo da mastite Equipe testa fármaco e descreve nova subespécie de agente causador da doença em vacas Divulgação
P
esquisa realizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, Câmpus de Botucatu, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e o National Research Council, da Itália, descreveu uma nova subespécie de agente causador da mastite bovina. O microrganismo pertence ao gênero das prototecas, algas aclorofiladas (sem clorofila) que vivem em ambientes de muita umidade e matéria orgânica, como as propriedades rurais. Por ter sido encontrada no Brasil, a nova subespécie foi batizada de Prototheca blaschkeae subespécie brasiliensis. A descoberta foi resultado da tese de doutorado de Ana Carolina Alves, do programa de pós-graduação em Medicina Veterinária da FMVZ, com a orientação do professor Marcio Garcia Ribeiro. O trabalho gerou um artigo publicado este ano na revista International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, uma das mais respeitadas publicações internacionais de classificação taxonômica de microrganismos.
Descoberta é resultado de tese de doutorado de Ana Carolina Alves
A mastite bovina é um processo inflamatório da glândula mamária das vacas causado principalmente por microrganismos. A doença causa prejuízos como redução da produção leiteira, piora da qualidade do leite e descarte do produto, além da inutilização e da morte de animais. Entre os principais causadores da mastite estão as prototecas, sendo as espécies mais frequentes a P. zopfii e a P. wickerhamii. No entanto, na última década, a P.
blaschkeae também foi registrada na Alemanha, em Portugal e na Itália. "Além da primeira descrição da subespécie, o trabalho realizou a primeira descrição da espécie nas Américas", enfatiza Ribeiro. Embora essas algas sejam conhecidas há décadas, ainda não há um fármaco com ação eficaz e segura para tratamento por via intramamária ou parenteral. A fim de obter um produto para combater as prototecas, foi desenvolvida a
partir de 2013 a tese de Ana Carolina, “Caracterização genotípica e concentração algicida mínima in vitro da guanidina em linhagens de Prototheca zopfii isoladas de vacas com mastite clínica e subclínica”, realizada com financiamento da Capes e finalizada em 2016. A guanidina é um fármaco da nova geração de antissépticos/ desinfetantes utilizado com ação microbicida em piscinas de uso humano. Na pesquisa, a guanidina revelou ação algicida in vitro (em laboratório), em baixas concentrações, diante de 75 estirpes de P. zopfii, obtidas de animais de quatro Estados do Brasil. “O resultado indicou que a guanidina pode ser utilizada com ação antisséptica ou desinfetante em propriedades com casos de prototecose mamária em vacas, como produto para soluções antissépticas de imersão dos tetos na pré ou pós-ordenha, utilizadas na profilaxia da mastite, ou mesmo para estudos futuros no tratamento intramamário”, comenta Ana Carolina. O professor Ribeiro
acentua que a próxima etapa do estudo envolve estudos in vivo, ou seja, com animais infectados pela mastite. O doutorado também tinha como objetivo investigar a presença de P. blaschkeae, até então não identificada no Brasil. Para isso, a equipe entrou em contato com os especialistas do National Research Council, na Itália, liderados por Stefano Morandi, a fim de auxiliar na caracterização genotípica de 27 prototecas estocadas no Laboratório de Microbiologia da FMVZ, provenientes do serviço de Diagnóstico de Mastite sob a responsabilidade do professor Ribeiro e suporte do técnico em laboratório Fernando José Paganini Listoni, além de cinco isoladas cedidas pelo professor Geraldo Márcio Costa, da UFLA. O grupo brasileiro já havia constatado que quatro amostras apresentavam características distintas da P. zopfii. Os testes na Itália demonstraram que tais prototecas, apesar da similaridade com a P. blaschkeae, não eram compatíveis com as prototecas conhecidas. Essa constatação fundamentou a descrição da nova subespécie.
Aplicativo é premiado em evento de agroinformática Desenvolvido na FCA, "Orvalho" avalia conforto térmico nos recintos dos animais de produção Sérgio Santa Rosa
Divulgação
U
m aplicativo para smartphone e tablet que mede e avalia os índices de conforto térmico nos recintos dos animais de produção, desenvolvido na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Câmpus de Botucatu, foi premiado na 11ª edição do Congresso Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro 2017), realizado de 2 a 6 de outubro, no Centro de Convenções e Casa do Lago da Unicamp, em Campinas (SP). O aplicativo “Orvalho”, desenvolvido como parte da dissertação de Mestrado de Arilson José de Oliveira Júnior, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura, da FCA, sob orientação da professora Silvia Regina Lucas
Silvia e Oliveira: equipamento muito útil
de Souza, do Departamento de Engenharia Rural, foi o primeiro colocado na categoria profissional de um concurso de aplicativos realizado no evento. Instalado no smartphone
ou no tablet, o aplicativo faz o cálculo dos índices de conforto térmico. “O usuário pode inserir os dados manualmente ou de forma automatizada. Se for manualmente, é só escolher
o animal listado no aplicativo, e inserir ali os dados, como temperatura medida por qualquer termômetro comum, umidade relativa do ar e outros. O software faz o cálculo e informa se o ambiente está confortável para cada espécie”, explica Arilson. O pós-graduando também desenvolveu um dispositivo portátil que faz medições de temperatura, umidade relativa e temperatura de globo negro (que considera a radiação solar). “Pelo dispositivo portátil, eu conecto o aplicativo via bluetooth e determino os períodos de coleta de dados. O dispositivo transmite os dados na frequência de tempo estipulada e, ao final do período, ele faz uma média e oferece o resultado do cálculo dos índices. O dispositivo foi
feito para levar a tecnologia mais precisa ao produtor. Mas não impede que ele use a forma manual com ótimos resultados.” Para Sílvia, o equipamento pode ser muito útil para quem produz em pequena e média escala. “Com ele, o produtor tem a condição de visualizar do seu celular, em tempo real, se as instalações de seus animais estão confortáveis ou não.” Segundo a docente, um equipamento de medição deve custar em torno de R$ 1.200. Já o dispositivo poderá estar à disposição por cerca de R$ 400.
O aplicativo pode ser baixado gratuitamente no Google Play, no endereço: <https://apporvalho. wordpress.com/>.
Ciências Biológicas
Novembro 2017
5
Opção para regenerar ossos Cevap associa selante de fibrina e células-tronco em tratamento de ratas com osteoporose Fotos Divulgação
O
time do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), do Câmpus da Unesp de Botucatu, tem obtido destaque internacional por suas investigações com o selante de fibrina, um produto derivado da peçonha de cobra e do sangue de búfalo. Uma das pesquisas recentes da equipe envolveu o uso do selante de fibrina associado a células-tronco mesenquimais com o objetivo de acelerar a regeneração óssea. Nesse estudo, o selante serviu como arcabouço tridimensional (isto é, como estrutura) que garantiu a reprodução das células-tronco mesenquimais – aquelas que podem gerar diversas outras células do organismo, como células musculares, neurônios, etc. No caso, elas produziram células ósseas que promoveram a regeneração de lesões no fêmur de ratas, nas quais havia sido induzido um processo de osteoporose. O trabalho foi realizado durante
Produto em estudo abre a perspectiva de terapias celulares
o pós-doutorado de Patricia Orsi, feito com a supervisão do professor Rui Seabra Ferreira Junior, que lidera o grupo de pesquisa Selante de Fibrina e Células Tronco. “O selante de fibrina fixou as células-tronco mesenquimais no local da lesão, garantindo que elas recuperassem o tecido lesionado”, esclarece Patricia. “Essa metodologia permite uma nova abordagem na terapia celular, pois mantém estas
células viáveis no local da lesão por 20 dias ou mais”, comenta o professor Seabra. A pesquisa de Patricia, realizada entre 2014 e 2017 com apoio da Fapesp, utilizou 80 ratas, divididas em três grupos: o primeiro foi tratado com o selante de fibrina associado a células-tronco mesenquimais não diferenciadas; o segundo, com o selante associado a células-tronco mesenquimais diferenciadas em linhas osteogênicas (que
atuam na formação óssea); e o terceiro, o grupo controle, em que a lesão não foi tratada. “O grupo tratado com selante de fibrina associado a células-tronco mesenquimais diferenciadas em linhas osteogênicas apresentou a melhor recuperação”, afirma a pesquisadora. O produto em estudo no Cevap abre a perspectiva de terapias celulares para males como a osteoporose, já que os atuais tratamentos e cirurgias têm
efeitos indesejados. “A associação que desenvolvemos não apresenta efeitos adversos ou toxicidade para as células”, assinala. O estudo gerou o artigo “A unique heterologous fibrin sealant (HFS) as a candidate biological scaffold for mesenchymal stem cells in osteoporotic rats”, publicado na Stem Cell Research & Therapy, um dos mais respeitados periódicos da área de terapia celular. O selante de fibrina do Cevap foi recentemente licenciado para a empresa Kaivo, que pretende colocar o produto no mercado assim que os testes clínicos forem finalizados e seu registro autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O artigo da Stem Cell Research & Therapy está acessível no endereço <https://goo.gl/1axt3R>.
Estudo identifica alterações genéticas de tumor Resultados contribuem para prognóstico e busca de alvos terapêuticos Peter Moon – Agência Fapesp Fotos Divulgação
E
ntre os diversos tipos de tumores cerebrais cancerígenos, 70% são astrocitomas, cuja fatalidade pode chegar a 90% dos casos. O astrocitoma se desenvolve a partir das maiores e mais numerosas células do sistema nervoso central, os astrócitos. Pesquisa desenvolvida pela bióloga Valeria Valente, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Câmpus da Unesp de Araraquara, com apoio da Fapesp, busca identificar os mecanismos que tornam os astrocitomas tão agressivos e encontrar formas de melhorar o tratamento de cada paciente. Realizado no âmbito do Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fapesp, o estudo identificou as alterações genéticas com maior potencial de promover agressividade, revelando potenciais biomarcadores de prognóstico e genes candidatos a alvos terapêuticos.
Valéria: resultados publicados em revista internacional
A pesquisa teve como foco o glioblastoma, um dos quatro subtipos em que se classificam os astrocitomas e o mais agressivo: pacientes com esse tipo de tumor têm uma sobrevida média de 14 meses. Valente e a equipe trabalharam com células de astrocitoma coletadas de 55 pacientes no Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto buscando assinaturas de expressão gênica associadas ao tempo de sobrevida dos pacientes. Entre as amostras analisadas havia 42 células de glioblastomas
(tipo 4), seis de astrocitomas do tipo 3 e seis de astrocitomas do tipo 2, muito menos agressivas, porém ainda assim fatais. “Nessas comparações, encontramos 19 genes com a sua expressão significativamente alterada. Em alguns deles a expressão se encontrava reduzida. Mas na maioria dos casos a expressão estava muito aumentada. Alguns deles estavam até 100 vezes mais expressos no tecido tumoral do que no tecido sadio”, explica Valente. “Então, definimos assinaturas de expressão
gênica que representam essas alterações isoladas ou em todas as combinações possíveis e investigamos se havia correlação entre a presença da assinatura e a sobrevida dos pacientes.” Essa busca foi feita utilizando um conjunto de casos bem maior, cujos dados estão disponíveis publicamente. Uma vez detectadas as assinaturas genéticas nas amostras, os pacientes eram separados em dois grupos: aqueles que carregavam determinada assinatura e aqueles que não a carregavam. Após verificar o
tempo médio de sobrevida em cada grupo, foram identificadas as assinaturas relacionadas ao pior prognóstico. “Desenvolvemos uma estratégia para correlacionar as assinaturas gênicas com o comportamento tumoral, o que pode possibilitar a predição do prognóstico dos pacientes e impulsionar o desenvolvimento de novas terapias”, afirma Valente. Os resultados dessa investigação foram publicados em Tumor Biology, num artigo assinado por Juliana Ferreira de Sousa, Raul Torrieri, Rodolfo Bortolozo Serafim, Luis Fernando Macedo Di Cristofaro, Fábio Dalbon Escanfella, Rodrigo Ribeiro, Dalila Lucíola Zanette, Maria Luisa PaçóLarson, Wilson Araujo da Silva, Daniela Pretti da Cunha Tirapelli, Luciano Neder, Carlos Gilberto Carlotti, além de Valeria.
O artigo está acessível em <https://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/28378638>.
6 Fábrica de Amostras de Medicamentos para Pesquisa Clínica Novembro 2017
Ciências Biológicas
Lançamento de Pedra Fundamental ocorre em Botucatu, SP Tadeu Nunes Fotos Leandro Rocha
F
oi realizada na manhã de 1º de dezembro, a abertura do 1st Symposium of Clinical Research in Brazil: Not for begginers – Challenges, innovation and entrepeneurship e o lançamento da Pedra Fundamental da Fábrica de Amostras de Medicamentos para Pesquisa Clínica no Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp, Câmpus de Botucatu. A Fazenda do Lageado recebeu importantes autoridades e integrantes da Unesp, como o professor Carlos Frederico de Oliveira Graeff, pró-reitor de Pesquisa; o professor Rui Seabra Ferreira Junior, coordenador executivo do Cevap, professor Pasqual Barretti, diretor da Faculdade de Medicina de Botucatu/ Unesp (FMB); professor Carlos Antonio Caramori, coordenador do curso de Pós-graduação em Pesquisa Clínica da FMB; Camile Giaretta Sachetti, diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia; Marcelo Strama, subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do São Paulo; Ricardo Antonio Barcelos, vice-diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde; o prefeito de Botucatu, Mário Pardini; Edimilson Ramos Migowski de Carvalho, diretor-presidente do Instituto Vital Brazil; e o diretor executivo do Parque Tecnológico Botucatu, Carlos Alberto Costa. O deputado estadual Fernando Cury não pôde comparecer ao evento, mas enviou uma carta para deixar uma mensagem aos participantes do evento. Entre as atividades, foi apresentado um vídeo (disponível em: https://youtu. be/sI2mVXDqxIY) ressaltando o trabalho da Unesp, com os diversos projetos científicos realizados pela Unidade de Pesquisa Clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu (Upeclin), que disponibiliza uma grande infraestrutura para o
Evento: Fazenda do Lageado recebeu importantes convidados externos e da Unesp
Rui Seabra Ferreira Junior, coordenador executivo do Cevap: "Fábrica é um projeto audacioso e inovador"
desenvolvimento de todas as fases de ensaios clínicos de fármacos, procedimentos, equipamentos e dispositivos para diagnósticos, desde a descoberta até a aplicação, com uma abordagem multidisciplinar. O vídeo ainda destaca que, em alguns casos, os estudos são voltados para aprimorar a saúde pública do país. O prefeito Mario Pardini enfatizou a importância da fabricação do selante de fibrina, cuja pesquisa foi iniciada em Botucatu, no próprio Cevap. “O produto
ajuda pessoas que sofrem com feridas de difícil cicatrização, as chamadas úlceras. E podemos citar também a geração de empregos com a construção da fábrica. Ela vai gerar desenvolvimento e inovação na pesquisa científica e médica e continua colocando a cidade na vanguarda do desenvolvimento tecnológico e da medicina”, afirmou. Edmilson de Carvalho, do Instituto Vital Brazil, comentou que esse tipo de iniciativa demonstra que por trás das grandes
conquistas há pessoas dedicadas e competentes. “E as autoridades aqui presentes apoiando esta iniciativa fazem a diferença. Quando eu era estudante, a minha maior frustração era que nem sempre eu via as pesquisas saírem da bancada para o leito. E essa fábrica vai fazer com que os produtos saiam também do solo para o leito, com produtos naturais. Botucatu não é apenas a cidade dos bons ares, mas de excelentes pessoas e ótimos pesquisadores”, afirmou. Carlos Alberto Costa,
diretor do Parque Tecnológico Botucatu, afirmou estar honrado em participar do momento. “O Cevap cumpre seu papel e objetivo, trazendo para nós oportunidades e criando uma plataforma sólida para o desenvolvimento de novos medicamentos, fazendo com que o processo, desde o seu início, como ideia de criação, seja completo, chegando até o mercado”, disse. Ricardo Barcelos, vice-diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, frisou que a inauguração da fábrica seria um momento importante para a saúde pública do país. “A gente vê como o diálogo entre as instituições serve para a gente avançar, tanto na parte pública, como nas iniciativas privadas para desenvolver um Brasil que dá certo”, afirmou. Camile Sachetti, diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, se disse honrada em estar em Botucatu pela segunda vez, em um projeto tão importante. “Eu acredito que não bastam apenas recursos públicos, mas uma boa gestão também faz a diferença. A gente fica muito mais tranquila ao ver uma equipe comprometida com projetos de sucesso, como foi com o selante de fibrina. E esse projeto é importante para todo o país”, ressaltou. Carlos Caramori, coordenador do curso de Pós-graduação em Pesquisa Clínica da FMB, afirmou que a inovação de ideias mora num caminho que liga o sonho ao concreto. “Quando nós realizamos coisas, estamos transformando o que sonhamos em algo concreto. Mas é preciso acreditar. E esse grupo que aqui está, com o apoio de outros sonhadores, acreditava. Encontramos dificuldades e, como fruto delas, surgiram novas ideias. Ou seja, precisamos instalar um processo que faça
Ciências Biológicas
Novembro 2017
Fotos Leandro Rocha
tudo. Que consiga produzir medicamentos de interesse nacional, que possa produzir em lotes, que as indústrias muitas vezes não estão interessadas, e que isso possa ser aplicado em interesses públicos de populações e de doenças negligenciadas”, disse. Marcelo Strama, subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, saudou a todos os presentes e lembrou-se de uma fala de Dom Helder Câmara, que afirmou que quando sonhamos sozinhos, ele é apenas um sonho, mas quando sonhamos em conjunto, ele se torna realidade. “É exatamente isso que vemos aqui. Pessoas sonhando com um projeto que trará benefícios para a sociedade, principalmente quando a gente aplica isso para a área da saúde. Eu fiquei tão apaixonado por esse projeto que eu disse que faria questão de estar aqui neste lançamento”, frisou. Professor Rui Seabra, coordenador executivo do Cevap, se mostrou muito grato e se lembrou dos tempos de estudante e sua relação com a área científica. Relembrou conquistas como o selante de fibrina, a consolidação dos laboratórios de pesquisa, o reconhecimento mundial do periódico científico do Cevap, a consolidação da Unidade de Pesquisa Clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu e a construção da fábrica de produtos de pesquisas clínicas. “Com um projeto audacioso e inovador, inclusive para os padrões internacionais de desenvolvimento biotecnológico, este ambiente irá proporcionar muito mais do que a formação e a capacitação de lideranças em pesquisa. No Cevap, pretendemos desenvolver métodos e produtos para atuar diretamente no complexo industrial da saúde, promovendo a implementação de parcerias público-privadas no desenvolvimento tecnológico e na produção de produtos estratégicos para o Brasil ”, afirmou, ao citar o Tratado de Gratidão, de São Tomás de Aquino, para agradecer a todos os envolvidos no desenvolvimento da fábrica. Pasqual Barretti, diretor da FMB/Unesp, deu as boas-vindas a todos e destacou a presença de pesquisadores internacionais. “Nós vivemos um momento de grande instabilidade política e econômica
Cerimônia: apresentação de vídeo e fala de autoridades
Carlos Graeff, pró-reitor de Pesquisa da Unesp: "Estamos no caminho certo"
e é muito bom ver a Universidade cumprir o seu papel no desenvolvimento científico e tecnológico e também estabelecendo parcerias nacionais e internacionais que tornam viáveis essas ações. Os produtos que serão desenvolvidos aqui certamente trarão diversos benefícios para a saúde pública”, afirmou. Carlos Graeff, pró-reitor de Pesquisa da Unesp, representando o reitor da Universidade, professor Sandro Roberto Valentini, agradeceu a todos da mesa, assim como às autoridades presentes. “A Unesp vem crescendo, de modo contínuo, a sua produção científica. Estamos atingindo níveis de excelência em várias áreas do conhecimento e isso se deve ao trabalho de várias pessoas. Um dos grandes desafios da pesquisa nacional é que nos falta um maior impacto das nossas pesquisas. Com isso, a gente consegue uma internacionalização, e a presença de pesquisadores
internacionais mostra que estamos no caminho certo. Outro grande desafio é trazer a pesquisa básica para os
produtos efetivos para a população e nós estamos aqui representando um potencial de utilização de pesquisa
7
de forma muito efetiva. A Faculdade de Medicina de Botucatu é uma referência nacional de pesquisa e ensino e unir estas duas áreas num nível mais elevado está claramente sendo efetivado”, disse, agradecendo também ao Ministério da Saúde pelo apoio financeiro. Ao lado da Pedra Fundamental, Rui ressaltou a importância do momento. “Nós vivemos desafios diários e não podemos abaixar a cabeça. Nós recebemos ‘não’ desde que nos conhecemos por gente, mas vamos achando o nosso caminho e seguindo em frente”, contou. O professor ainda disse esperar que os alunos sintam-se motivados a desenvolver pesquisas para alavancar ainda mais o sucesso do projeto. A professora Leslie Boyer, da Universidade do Arizona, disse estar muito honrada por participar do histórico evento e afirmou que, antigamente, havia muitos empreendedores e poucas pessoas estudando os efeitos do veneno de cobra no ser humano. “E o Brasil foi praticamente o único. E ainda colocando empreendedores e pesquisadores lado a lado. O país acabou se tornando um exemplo para o resto do mundo por mais de cem anos nesta área. E esta fábrica será valiosa, não apenas para o país, mas para todo o mundo”, disse, ressaltando que vão ocorrer problemas e desafios, mas que eles serão superados e os estudantes terão honra de trabalhar e desenvolver pesquisas no local.
Fábrica de Medicamentos para uso em Pesquisa Clínica Para a construção da Fábrica de Medicamentos para uso em Pesquisa Clínica serão gastos cerca de R$ 12 milhões. Serão 1.470 metros quadrados, com 4 alas divididas em 2 andares. No nível superior, haverá uma ala fabril e outra de controle
de qualidade. No inferior, ficarão a administração, laboratórios de pesquisa, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Vital Brazil, administração e espaço co-working para biotech startups. O projeto foi desenvolvido pela arquiteta Camila Biondo
Ambrozi, do Grupo Técnico de Investimento em Obras e Equipamentos da Assessoria de Planejamento e Orçamento. O Grupo também é responsável pelos projetos complementares e pela maquete eletrônica que foi apresentada no vídeo do evento.
1st Symposium of Clínical Research: not for beginners O 1st Symposium of Clínical Research: not for beginners foi realizado em 1 e 2 de dezembro, nas dependências do Cevap e no Salão Nobre da FMB. O evento tratou de temas para modificações de
conceitos e paradigmas locais, regionais e nacionais, comuns a todos os profissionais da área de saúde e correlatas. As mesas-redondas abordaram assuntos como os aspectos do cenário
da pesquisa clínica nacional; os grandes desafios mundiais; o empreendimento nacional; o desenvolvimento de habilidades específicas; e os novos modelos de cooperação.
8
Novembro 2017
Reportagem de capa
ANÁLISE DA CENA MUNDIAL Especialistas do país e do exterior encontram-se no Simpósio de Pesquisa em Relações Internacionais (SimpoRI 2017) para discutir questões como imigração, os efeitos das ideias da Revolução Russa e a política externa do presidente Donald Trump Oscar D'Ambrosio Fotos Roberto Rodrigues
O
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas – Unesp, Unicamp, PUC-SP, em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizou o Simpósio de Pesquisa em Relações Internacionais (SimpoRI 2017), entre os dias 7 e 10 de novembro de 2017, na sede do Programa (Praça da Sé, 108), em São Paulo (SP). “O objetivo fundamental do evento é reforçar o debate acadêmico de pesquisas em andamento dos pós-graduandos em Relações Internacionais e o intercâmbio entre pesquisadores e professores de instituições e regiões diversas do Brasil e do exterior. Isso inclui diversas atividades, entre mesas, grupos de trabalho, workshop doutoral, minicursos e homenagem ao jornalista e professor Oliveiros S. Ferreira, do San Tiago Dantas, que faleceu em outubro último”, disse, na abertura do evento, Samuel Alves Soares, coordenador do Programa. A abertura, dia 7, teve apresentação do Trio de Violões do Instituto de Artes da Unesp e a presença do pró-reitor de Pesquisa da Universidade, João Lima Sant’Anna Neto, que representou o reitor Sandro Roberto Valentini. “Esse programa vem obtendo amplo reconhecimento em sua área e mostra como é possível trabalhar em conjunto entre diversas instituições”, afirmou o pró-reitor. “Trata-se de um excelente modelo, do qual somos parceiros”, completou Paulo Velasco, que compôs a mesa de abertura em nome da UERJ. Completaram a mesa a coordenadora do evento, Karina Pasquariello Mariano, e a representante dos pós-graduandos, Livia Peres Milani. O moderador da conferência de abertura foi o professor da Unesp Tullo Vigevani, que lembrou o fato de o mundo estar vivendo um momento de ampla complexidade, sem respostas fáceis. O
Objetivo do evento: reforçar debate acadêmico de pesquisas em andamento
palestrante foi o embaixador Gelson Fonseca Júnior, diretor do Centro de História e Documentação Diplomática da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), que discorreu sobre o “Papel do Brasil na reconfiguração da ordem internacional”. Fonseca apontou que analisar o mundo hoje é uma tarefa muito difícil, pois as reconfigurações políticas constituem um desafio intelectual. “Vivemos uma realidade multiplex. É como se houvesse várias salas de cinema, com vários dramas sendo exibidos ao mesmo tempo. A questão é que o pós-Guerra Fria se configurou de uma maneira que poucos
esperavam. Não há polarizações simples entre direita e esquerda ou capitalismo/socialismo como antes”, afirmou. Para o embaixador, o fim da Guerra Fria foi peculiar por alguns aspectos. A então União Soviética, por exemplo, embora perdedora, ao contrário do que ocorreu em outros conflitos, como foi o caso da Alemanha na I e na II Guerras Mundiais, não perdeu seu potencial bélico, enquanto a potência vencedora, os EUA, não tinha dessa vez um plano de reconstrução do mundo. “Não surgiram novas instituições, conferências globais ou modelos econômicos. Houve avanços nas áreas de direitos humanos e de meio ambiente, mas um otimismo
Kupchan e Soares: conferencista e coordenador do Programa de Pós-graduação
inicial no rumo de que todos os países do mundo seriam democracias após a queda do Muro de Berlim, em 1989, não se concretizou”, comentou. Vigevani destacou que a palestra de Fonseca tratou de questões fundamentais para os próximos anos. “A fala do embaixador mostra as qualidades de um grande intelectual, que são a de sempre ter dúvidas e colocá-las em debate. Esse é um ponto essencial dos debates que este Simpósio suscita em sua diversidade de temas e abordagens”, avaliou. Um ponto alto do evento foi, dia 8, a mesa "Estrangeiros em condições de vulnerabilidade social no Brasil”, com a moderação de João Brígido Bezerra Lima, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que lembrou uma pergunta essencial: “Como formular uma política em relação a essas pessoas se não as conhecemos?”. Apontou ainda que o assunto refugiados será desenvolvido pela escola de samba Portela no carnaval do próximo ano. “Isso pode ser ótimo para livrar deles um pouco do preconceito que sofrem, que os associa sempre a imagens de tristeza e dor”, argumentou. Professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Observatório de Imigrações Internacionais (OBMigra), Leonardo Cavalcanti discorreu
sobre a nova Lei de Migração, proposta por meio do Projeto de Lei do Senado (PLS 288/2013), do senador licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), para substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980), adotado durante o regime militar. O texto já foi aprovado em 2015 no Senado e remetido à Câmara dos Deputados. Em dezembro de 2016, retornou para a análise do Senado. “Em maio de 2017, a nova Lei de Migração foi sancionada com uma série de vetos. Seu objetivo é definir os direitos e os deveres do migrante e do visitante no Brasil, regulando a entrada e a permanência de estrangeiros e estabelecendo normas de proteção ao brasileiro no exterior. A Lei 13.445/2017, com os vetos, foi publicada no Diário Oficial da União de 25/5/2017 e espera a assinatura do presidente Temer no mês de novembro”, relatou. Maria Beatriz Nogueira, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), lembrou que há 65 milhões de migrantes forçados no mundo, mas destacou que os números variam por questões de registro e de metodologia. “Algumas questões são preocupantes, como os campos de acolhimento temporário, que muitas vezes acabam se tornando locais fixos de residência. E não são poucos os refugiados que esperam uma repatriação digna e segura. No Brasil, estima-se a existência de
Reportagem de capa
Novembro 2017
9
Fotos Roberto Rodrigues
10 mil refugiados, havendo mais de 50 mil pedidos, sendo 16 mil apenas da Venezuela”, comentou. Larissa Leite, da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), instituição que há mais 30 anos atua em prol de estrangeiros que precisam fugir de seus países, discutiu o termo “vulnerabilidade”, discorrendo sobre sua experiência de cinco anos no contato com refugiados, lembrando que esse é um universo em que não há fluxos e rotinas fixas. “Uma questão muitas vezes deixada de lado é que o Brasil não é apenas um país de destino do imigrante. Pode ser um país em trânsito. Se o entrevistado percebe que isso incomoda o entrevistador, começa a falsear informações para atingir o seu objetivo”, disse. Outra questão apontada está na diferença entre o imigrante voluntário, que viaja com uma estrutura e apoio, e aquele que é obrigado a partir, principalmente por questões políticas, que chega ao Brasil sem documentos. “Além de vulnerabilidades mais evidentes, como a língua, por exemplo, há aquelas que o país que os recebe cria, como dificuldades burocráticas excessivas para abrir uma conta em banco ou se tornar empreendedor”, pontuou Larissa. Ainda nessa mesa, Carolina Claro, do IPEA, discorreu sobre o livro Perfil sociodemográfico dos refugiados no Brasil (1998–2014), lançado pelo Instituto. Num universo de 10 mil refugiados, foi possível conhecer quem são, o que auxilia a tomar decisões sobre como e onde atuar. Constatou-se que 35% deles estão na Região Sul, são um grupo majoritariamente constituído por homens, solteiros, de escolaridade média, originários principalmente da África e
do Oriente Médio, geralmente ligados à área de serviços, originários de Síria, Angola, Congo, Libéria e Colômbia, que chegaram ao Brasil por transporte aéreo. “E há particularidades, claro. Entre os angolanos, chama atenção o número de adultos de baixa escolaridade”, aponta. “Nosso próximo passo é trabalhar num índice de vulnerabilidade, algo pioneiro no Brasil, para traçar uma fotografia dos solicitantes de refúgio que auxilie a entender o seu perfil, construindo dados que sejam importantes parâmetros para a tomada de decisões”, comentou Carolina. Dia 9 de novembro, ocorreu a mesa “100 anos da Revolução Russa e seus impactos na ordem internacional”. O moderador Gilberto Marangoni, da UFABC, destacou que a Revolução Russa não acabou. Provas disso seriam os numerosos eventos para discuti-la neste ano, com grande presença de público. “Ela mudou a geopolítica mundial e traz para a discussão temas como a planificação da economia. Isso sem contar sua importância nas artes gráficas e mesmo na cinematografia, com ampla produção, que inclui desde as obras de Eisenstein até filmes célebres, como parte da série sobre o espião 007, que se dá na Guerra Fria”, apontou. “A Revolução Russa era contra aquilo que existia. Sofreu cerco ideológico interno, dos latifundiários, por exemplo, que preferiam matar suas criações e queimar suas colheitas a entregá-las ao Estado, e externas, é claro.” Wollfgang Leo Maar, da UFSCar, destacou que a Revolução Russa afetou toda a dinâmica do mercado econômico global, com a discussão de uma ordem mundial baseada na ideia de
Mesa discute "Estrangeiros em condições de vulnerabilidade social no Brasil"
uma sociedade internacional. No entanto, teria prevalecido um mundo regido por corporações. “É necessário preservar o contexto ético da Revolução de 1917. Infelizmente o espírito ético da sociedade vem sendo substituído pela negação da configuração de uma sociedade internacional e pela construção de uma sociedade que é uma soma de indivíduos que vivem uma socialização capitalista competitiva em que os preconceitos de raça, gênero e cor persistem”, afirmou. Reginaldo Nasser, professor do San Tiago Dantas, iniciou sua fala afirmando que existe uma ampla bibliografia sobre a Revolução de 1917, mas não especificamente sobre as relações internacionais que a União Soviética estabeleceu com o mundo. “O fato é que a direita soube se internacionalizar melhor e de maneira mais organizada e sistematizada do que a esquerda. Cabe aos estudantes de relações internacionais não ficar apenas no frontstage, aquilo que se vê
e que se diz, mas mergulhar no backstage, nos bastidores e documentos de difícil acesso.” A Conferência de Encerramento, dia 10, teve como convidado Charles Kupchan, da Georgetown University. Ele abriu a sua fala, intitulada “The United States, Europe and the world order: continuities and changes”, comentando que acorda todo dia pensando que os EUA estão vivendo um pesadelo e esperando os polêmicos tweets do presidente Trump. “Um fato importante é que o mundo está mudando na área econômica e, quando isso acontece, as influências militares também se alteram. Trump não vem trabalhando negociações ganha-ganha, mas parece acreditar que ou se vence ou se é derrotado. Nessa perspectiva, todos perdem”, comentou. Mesmo nesse cenário, Kupchan se mostrou otimista sobre o futuro dos EUA. “Temos grandes universidades, alta tecnologia, pesquisas na fronteira do conhecimento
caracterizadas pela inovação e uma sociedade cada vez mais multicultural. Os eleitores de Trump estão entre as faixas mais velhas da população, o que me leva a crer numa recuperação do senso de democracia e num debate político mais qualificado, restaurando a civilidade sem antagonismos exacerbados.” Houve ainda exposição com estandes de diversas instituições, como Instituto Global Attitude, Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU), IPEA, Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI), Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI) e Observatório de Regionalismo (ODR). “Todas as atividades foram organizadas com competência, simpatia e cordialidade pelos nossos pós-graduandos. A cada ano conseguimos fazer um evento que supera os anteriores, com importantes contribuições teóricas que trazem novas ideias imediatamente ou que amadurecem ao longo do tempo”, concluiu, no encerramento, Samuel Soares, coordenador do Programa. (Com informações da Comissão Organizadora SimpoRI – 2017.)
Mais informações sobre o evento: <https:// www.facebook.com/ events/197536380765350/>. E-mail: <simposiostd@ gmail.com> ou <contato. simposiostd@gmail.com>.
100 anos de Revolução Russa em debate
Vigevani e embaixador Fonseca Júnior
10
Novembro 2017
Tecnologia
Pesquisa vai ao mercado Evento convida acadêmicos a apresentar às empresas a tecnologia que desenvolveram Marcos Jorge Marcos Jorge
P
ela primeira vez na carreira, pesquisadores da Unesp puderam apresentar as tecnologias que desenvolveram diretamente às empresas numa rodada de negócios. O convite foi uma iniciativa do InovaCampinas, evento de empreendedorismo e inovação realizado no dia 25 de outubro, no Expo D. Pedro, em Campinas. Antes do evento, Unesp, UFSCar e Unicamp foram convidadas a inscrever suas tecnologias. Ao todo, 46 foram selecionadas, sendo 18 da Unesp. A escolha e submissão das tecnologias foi papel da Agência Unesp de Inovação (AUIN). A docente Luciana Francisco Fleuri, do Instituto de Biociências de Botucatu, apresentou um método para obter a enzima lípase a partir de resíduos do suco de laranja. “Essas enzimas são biocatalizadores com preço alto no mercado. Obter essas enzimas
Apresentação de tecnologia em Rodada de Negócios em Campinas, SP a partir de resíduos reduz o custo e as torna menos onerosas para a empresa”, explica. A professora ressalta que a enzima lípase tem aplicações em diversos tipos de indústria, o que refletiu no número de conversas no evento. “Conversamos com Novozymes, multinacional da área de biotecnologia; Cargil,
que tem um setor específico de nutrição animal; Duas Rodas Ingredientes, da indústria alimentícia; Gilvaudan, multinacional suíça especializada em fragrâncias, entre outras empresas”, detalha. No evento, em formato de rodada de negócios, pesquisadores e representantes
de empresas conversam por 20 minutos. Nesse tempo, a tecnologia é apresentada aos representantes, que avaliam seu potencial. Os “encontros” são definidos a partir da manifestação de interesse das empresas pelas tecnologias. Antes do evento, a AUIN orientou os pesquisadores para o diálogo com os representantes de modo a discutir demandas e soluções. “O papel principal da AUIN acontece depois que houve o match, ou seja, depois de estabelecido um interesse mútuo da empresa e do pesquisador”, explica Rita Costoya, gerente de Transferência de Tecnologia da agência. “A partir daí assessoramos na assinatura de um contrato de confidencialidade com a empresa para que detalhes da patente possam ser discutidos com profundidade, mas garantindo a sua propriedade intelectual”, acentua. A agência também
oferece apoio no processo de licenciamento da patente ou no desenvolvimento conjunto de uma nova tecnologia. O professor Rondinelli Herculano, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Câmpus de Araraquara, levou ao evento o projeto de uma membrana à base de látex natural cuja porosidade pode ser controlada, uma característica que interessou aos representantes por facilitar o processo de cicatrização e ser conveniente no processo de liberação controlada de substâncias. Herculano aprovou o formato de apresentação da tecnologia como rodada de negócios. “Já fomos procurados por empresas pequenas, que visitaram nosso laboratório. Porém, para conversarmos com empresas grandes, esse formato me parece a melhor opção, pois elas não necessariamente se deslocam para o nosso laboratório”, aponta.
Origens da atomtrônica Prêmio Nobel de Física apresenta panorama histórico de técnicas de estudos de átomos Ivan Cardoso
Divulgação
N
o dia 13 de outubro, o auditório do IFT-Unesp recebeu a ICTP-SAIFR Distinguished Lecture, evento organizado pelo Instituto Sul-americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), tendo como convidado o físico norte-americano William Phillips. Phillips é professor da University of Maryland e pesquisador no National Institute of Standards and Technology (NIST), nos Estados Unidos, onde investiga condensados de Bose-Einstein, informação quântica e resfriamento de átomos com laser. Esse último trabalho lhe rendeu, juntamente com Steven Chu (Stanford University – California) e Claude Cohen-Tannoudji (École Normale Supérieure – Paris), o Prêmio Nobel de Física pelo desenvolvimento da técnica que permitiu desacelerar o movimento de átomos em estado gasoso. Em sua palestra, intitulada “Manipulando átomos com luz: da espectroscopia à atomtrônica”, Phillips traçou
Palestra de Philips: “Manipulando átomos com luz: da espectroscopia à atomtrônica”
um panorama da evolução dos estudos dos átomos a partir do uso da luz e de sua polarização, em 1897, quando Pieter Zeeman descobriu que raios de luz interagem com campos magnéticos. Em 1933, Otto R. Frisch demonstrou que a pressão de radiação da luz de uma lâmpada de sódio
era capaz de defletir um feixe de átomos de sódio, ou seja, que a luz pode exercer força mecânica em átomos. Com o advento de lasers, Arthur Ashkin reconheceu, em 1970, seu potencial para a manipulação de um átomo, e em 1972 os primeiros experimentos demonstrando a deflecção de
feixes atômicos com lasers vieram à tona. Em 1975, três trabalhos independentes propuseram uma forma de reduzir a velocidade de íons pela técnica de resfriamento de átomos a laser, demonstrada por Ashkin em 1978. Um fóton que colide com um átomo pode transferir seu impulso para esse átomo. Para que isso aconteça, o fóton deve ter a energia certa, o que significa dizer que a luz deve ter a frequência, ou a cor, certa. Quando o átomo se move em direção a essa luz e é atingido por um feixe de fótons, ele os absorve, trocando energia e momento com cada um deles, emitindo um novo fóton e diminuindo sua velocidade. Depois de absorções suficientes, o átomo reduz sua velocidade consideravelmente. Os trabalhos de Phillips, Chu e Cohen-Tannoudji levaram adiante essa técnica nas décadas de 1980 e 1990, permitindo não apenas desacelerar íons, mas também
átomos neutros. Conseguindo atingir temperaturas próximas do zero absoluto (–273 oC) com o uso de lasers, e atingindo o estado da matéria conhecido como condensado Bose-Einsten, os grupos dos três cientistas cruzaram feixes laser organizados em círculo, de forma a desacelerar o átomo na intersecção dos raios e mantê-lo lá. Com a aplicação do momento angular orbital da luz a átomos em uma estrutura de anel, em 1995, foi possível, após desacelerá-los, movimentá-los numa direção determinada. Para isso, é necessário que a matéria esteja no estado de condensado Bose-Einstein. Esse foi o início da atomtrônica, área que permitiu o desenvolvimento de circuitos atomtrônicos, o análogo atômico dos circuitos elétricos supercondutores. A manipulação de átomos neutros imita o comportamento de elétrons em fios e transistores, criando redes ópticas em que os átomos podem ser empurrados e pressionados.
Cooperação
Novembro 2017
11
Melhor gestão energética Projeto com Secretaria de Energia e Mineração prevê que Unesp economize R$ 5 milhões/ano Renato Coelho
A
Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo e a Unesp assinaram, no dia 8 de novembro, um protocolo de intenções pelo qual a Secretaria dará suporte técnico à contratação de empresa que realizará estudos de viabilidade para a migração dos contratos de energia da Universidade para o mercado livre e medidas de eficiência energética que impactarão na redução do consumo de energia elétrica de suas 34 unidades. A Unesp tem uma despesa anual de R$ 30 milhões com energia elétrica. “A expectativa é que somente com a mudança para o mercado livre a Unesp tenha uma economia de 20% na conta, o que representa cerca de R$ 5 milhões”, explicou o secretário de Energia e Mineração, João Carlos Meirelles. A Universidade realizará uma chamada pública que definirá
Meirelles e Valentini: assinatura de protocolo de intenções a proposta mais vantajosa para a contratação de empresa especializada em serviços de consultoria, assessoria e gestão energética. “Ações como essa são importantes num contexto de fomento de triangulações no qual
a universidade e o setor privado fortaleçam o Estado como uma instância empreendedora. O Estado investe na inteligência das universidades; e isso pode trazer repercussões no setor empresarial, principalmente em São Paulo, que tem um sistema único com a
autonomia de três universidades públicas (USP, Unesp e Unicamp), que cobrem 33 cidades paulistas, tendo a Fapesp como amálgama desse conhecimento”, disse o reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini. Somando todos os câmpus da
Universidade, o consumo anual chega a 60 gigawatt-hora (GWh). “A Unesp poderá alcançar uma economia anual ainda maior com a aplicação de outras ações, como a substituição da iluminação atual por lâmpadas de led, e modernização dos equipamentos de refrigeração e a instalação de geradores para os horários de ponta”, explica o subsecretário de Energias Renováveis, Antonio Celso de Abreu Junior. A Secretaria apoiará também o estudo de projetos de geração distribuída a partir de fontes renováveis, como solar fotovoltaica, biogás, biomassa e outras alternativas nos diversos câmpus da Universidade. Ouça podcasts com o reitor Valentini e com o secretário Meirelles: <https://goo.gl/CkVyQ3>. <https://goo.gl/vHznzd>.
Cooperação pelo ensino Unesp participa de parceria com a Prefeitura de São Paulo e o Instituto Ayrton Senna Renato Coelho
A
Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, e o Instituto Ayrton Senna assinaram no dia 14 de novembro um memorando de entendimentos com a Unesp, visando formar futuros professores para o desenvolvimento das competências para o século XXI, como colaboração, criatividade e resolução de problemas. O objetivo é que os professores ainda em formação inicial possam desenvolver novas competências profissionais e conhecer as ferramentas necessárias para sua prática na sala de aula. O projeto deverá ser implantado a partir de 2018, em caráter piloto, e envolverá um curso de extensão com duração de 100 horas, que será oferecido na modalidade de educação a distância para alunos do curso de licenciatura em Pedagogia, ofertado pela Unesp, e de outras licenciaturas que também utilizam os polos da Universidade nos Centros Educacionais Unificados (UniCEUs). Hoje, os UniCEUs disponibilizam cursos
Ações previstas incluem a elaboração conjunta de instrumentos de acompanhamento em parceria com 12 instituições públicas de ensino superior, sendo que a Unesp oferece um curso de licenciatura em Pedagogia, por meio de convênio com o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB/Capes), com aulas presenciais ministradas nos polos do UniCEU. Foi firmado ainda um protocolo de intenções entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação Capes, a Unesp e o Instituto Ayrton Senna para constituição de uma comissão que deverá apresentar, em até 60 dias, uma proposta de Residência Pedagógica, com
foco em Educação Integral, no âmbito do Programa de Residência Pedagógica, anunciado recentemente pelo MEC. A intenção dessa parceria é reunir esforços e proporcionar a troca de experiências entre a Universidade, o terceiro setor e o setor público, para que todos contribuam com a missão de apoiar e aperfeiçoar a formação de educadores no país. “A Unesp tem muito a contribuir com a Prefeitura Municipal e também com o Instituto Ayrton Senna, uma vez que nós temos mais de 50 licenciaturas na Universidade e também uma experiência muito
grande com a educação híbrida, ou seja, além do presencial, com o ensino a distância”, argumenta o reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini. COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS A Prefeitura e o Instituto Ayrton Senna firmaram ainda um acordo de cooperação com o objetivo de desenvolver projeto-piloto visando à incorporação das competências socioemocionais à política de educação da cidade, já previstas no novo currículo municipal. “As habilidades socioemocionais
são fundamentais para definir o aluno que queremos formar, ético, responsável e solidário. E a parceria é um apoio importante nesta jornada”, diz o secretário de Educação, Alexandre Schneider. Para a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, a educação brasileira precisa dar um salto quântico que a tire do século XIX e a leve para o século XXI. “Para isso, as escolas deverão ir além do desenvolvimento cognitivo, que é ensinar a ler, escrever, fazer contas e conhecer os conteúdos disciplinares. Elas deverão preparar os estudantes de forma realmente plena, o que também envolve o desenvolvimento socioemocional”, afirma. Dentre as ações previstas, destaca-se a elaboração conjunta de instrumentos de acompanhamento e análise de indicadores de sucesso. A parceria também buscará implementar na prática a integração do conteúdo das áreas de conhecimento (Matemática, Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) com o desenvolvimento de competências para o século XXI.
12 Parceria com a Receita Novembro 2017
Geral
Parceria sugere propostas para doação e reutilização de produtos apreendidos pelo órgão federal Amanda Fernandes
N
o dia 31 de outubro, membros da Receita Federal e da Unesp se reuniram na Reitoria da Universidade, em São Paulo (SP), para discutir uma colaboração entre as instituições. A parceria visa criar opções para doação e reutilização de produtos apreendidos pela Receita. Alguns itens, como cigarros, apresentam hoje um estoque bastante elevado nos depósitos do órgão federal e o desenvolvimento de projetos sustentáveis para o uso dessa mercadoria foram pauta da reunião. Foram discutidas ainda propostas para o uso de
perfumes apreendidos, por meio de um projeto desenvolvido pela professora Vera Lucia Borges Isaac. Pelo projeto, os perfumes serão reutilizados para produção de um gel antisséptico, que depois integrará um projeto social de melhoria das condições de higiene de crianças. “Vamos trabalhar no desenvolvimento do gel antisséptico a partir de perfumes apreendidos pela receita”, informa professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara. Outra pauta foi a educação fiscal, em que a Unesp poderá oferecer disciplinas optativas e cursos para os servidores
Café da manhã ocorreu na Reitoria da Unesp técnicos e administrativos. Com essas iniciativas, a Universidade também pretende receber doações dos mais diversos materiais apreendidos pela Receita.
“Ações como essa, que estimulam a sustentabilidade, já eram apontadas em nosso plano de gestão e se concretizam nesse tipo de parceria”, afirmou no encontro o reitor da Unesp,
Sandro Roberto Valentini. Além do reitor, estiveram presentes o chefe de Gabinete, Carlos Eduardo Vergani; os assessores do reitor, Edson A. Capello Sousa e José Paes de Almeida Nogueira Pinto; os assessores da Pró-reitoria de Planejamento e Gestão, Alvaro Martim Guedes e Renata Frajácomo. Representando a Receita Federal estiveram o superintendente-substituto, Marcelo Barreto de Araújo; o representante regional de Educação Fiscal da 8ª Receita Federal, Matheus Marinho de Moura; e o chefe substituto do Serviço de Gestão de Mercadorias Apreendidas, Luis Fernando Simonetti Pereira.
Sérgio Nobre, agora Cidadão Rio-Clarense Divulgação
A
Câmara Municipal de Rio Claro prestou, no dia 23 de novembro, homenagem ao vice-reitor da Unesp Sérgio Roberto Nobre, agora Cidadão Rio-Clarense, e ao ex-presidente da Casa, Manoel José Silva, que recebeu título de Cidadão Emérito. A solenidade, presidida por André Godoy (DEM), teve a presença do vereador Val Demarchi (DEM) na mesa principal, ao lado dos vereadores Geraldo Voluntário (DEM) e José Pereira (PTB), do vice-prefeito e secretário municipal de Segurança e Defesa Civil Marco Antônio Melli Bellagamba, do deputado estadual Aldo Demarchi e do reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini. Natural de Campinas, Sérgio Nobre ingressou na Unesp como auxiliar de ensino em 1986. É membro efetivo da Academia
Internacional de História da Ciência (Paris–França) e Editor da Revista Brasileira de História da Matemática. Manoel Silva atuou como vereador em Rio Claro, presidiu a Câmara no final da década de 1970, foi chefe de Gabinete do Executivo entre 1993 e 1996 e presidiu a Associação Comercial e Industrial de Rio Claro (ACIRC). “A trajetória acadêmica de sucesso do professor Sérgio Nobre fala por si só. Por méritos, hoje ele atua como vice-reitor da Unesp”, destacou André Godoy. Val Demarchi apontou as realizações em prol da cidade feitas por Nobre e por Manoel Silva. “O município ganha um cidadão iluminado”, observou o parlamentar sobre o vice-reitor. Para o ex-prefeito Nevoeiro Junior, ao entregar títulos para Nobre e Silva, a Câmara
Sergio Nobre (terceiro da esq. para dir.): reconhecimento reconhece aqueles que deram sua contribuição para a ciência e a cidade de Rio Claro. “Que essas pessoas possam servir de referências àqueles que ainda estão por vir, uma bússola do norte verdadeiro a ser seguido”, completou. Aldo Demarchi citou a importância do título concedido a Sérgio Nobre. “Você é merecedor, professor, dessa honraria. Hoje,
você responde pela vice-reitoria da Unesp por méritos”, sinalizou. Representando o prefeito João Teixeira Junior, o vice-prefeito Bellagamba salientou que as homenagens a Nobre e Manoel Silva retratam o serviço prestado por eles à comunidade ao longo de décadas. “Parabenizo-os em nome da adminstração municipal”, pontuou. O reitor Sandro Valentini
externou a felicidade da comunidade acadêmica pela homenagem a Sérgio Nobre. “É uma satisfação testemunhar este ato, o melhor presente que o município pode oferecer a um cidadão que escolheu este local para viver e criar sua família”, assinalou. Também participaram da solenidade os vereadores Julinho Lopes (PP) e Ruggero Seron (DEM); Paulo Zemuner, secretário de Habitação de Santa Gertrudes; Willian Bento, vereador de Santa Gertrudes; Cláudio José Von Zuben, diretor do Instituto de Biociências, da Unesp de Rio Claro; Antônio Carlos Simões Pião, superintendente da Fundação Vunesp; João Walter Marcondes, presidente do PSDB de Rio Claro; e Benedito Costa, presidente do PRB Rio Claro, entre outras autoridades.
Dicas para pesquisadores
A
Pró-reitoria de Pesquisa (Prope) da Unesp acaba de criar a série Propetips, disponível no menu à esquerda de sua página web, com o intuito de fornecer informações rápidas e pontuais (dicas) a seus docentes, discentes e pesquisadores. O objetivo da iniciativa é garantir maior visibilidade da produção científica
– o que, consequentemente, resultará em maior prestígio internacional para a Unesp. No momento, há seis Propetips, com orientações sobre a produção científica, em aspectos relativos a afiliação institucional, apresentação do nome do autor, autocitações, palavras-chave em publicações e colaboração com pesquisadores
estrangeiros, e ainda sobre a importância de inscrição do pesquisador no ORCID (Open Researcher and Contributor ID). A série Propetips será alimentada periodicamente, a partir de aspectos importantes por ela detectados, bem como a partir de sugestões e necessidades oriundas da comunidade acadêmica.
As Propetips podem ser acessadas em: <https://goo.gl/LAHPkN>. Solicitações de informações e esclarecimentos, bem como envio de críticas e sugestões, podem ser feitos pelo email: <guima@reitoria. unesp.br>, com cópia para <prope@reitoria.unesp.br>.
Gente
Livro debate rumos da educação básica Renato Coelho
13
Novembro 2017
Docente recebe Prêmio Professor Emérito Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo, e Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp Renato Coelho
O
Voorwald (à esq.), com Jezio Gutierre, diretor-presidente da Editora Unesp
P
rofessor titular da Unesp, onde ocupou o cargo de reitor, e titular da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo entre 2011 e 2015, Herman Jacobus Cornelis Voorwald acaba de lançar o livro A educação básica pública tem solução?, publicado pela Editora Unesp. Houve uma apresentação e pré-lançamento do livro dia 25 de outubro, na Secretaria de Estado da Educação, com a participação da secretária adjunta de Educação Cleide Bochixio, seguido de sessão de autógrafos, e lançamento na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo (SP), em 6 de novembro. Voorwald questiona se seria utópico pensar em um sistema de educação pública brasileiro entre os 25 melhores do mundo em um horizonte não tão distante. O livro debate os aperfeiçoamentos que ainda são imprescindíveis, mas também aquilo que não pode ser descartado, as experiências que já enfrentaram com sucesso o crivo da realidade daqueles que trabalham diariamente pela educação no Estado, dentro
e fora da sala de aula. A obra, redigida com base na experiência do autor junto aos profissionais da rede pública de educação, tem como objetivo mostrar a viabilidade de uma construção conjunta com a rede de uma política pública de educação de qualidade. “A educação pública de qualidade é uma demanda histórica da sociedade brasileira. Mas, acompanhando essa demanda, ecoa a pergunta: como realizar o desafio de viabilizar aos nossos estudantes um aprendizado que, além de lhes possibilitar manejar com desenvoltura os conteúdos curriculares, permita-lhes exercer em sua plenitude sua cidadania? O foco principal nessa batalha deve ser o movimento espontâneo que vem da base, o confronto das ideias com a realidade cotidiana de quem ensina e de quem aprende”, diz o professor da Unesp.
Mais informações sobre o livro em: <https://goo.gl/DBY7yo>.
professor e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2003-2006) Roberto Rodrigues recebeu no dia 17 de outubro o Prêmio Professor Emérito 2017 – Troféu Guerreiro da Educação – Ruy Mesquita, concedido em conjunto pelo Centro Integração Empresa–Escola (CIEE) e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Rodrigues atuou como professor do Departamento de Economia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias (FCAV) da Unesp, Câmpus de Jaboticabal. Com centenas de trabalhos sobre agricultura, cooperativismo e economia rural, o professor é autor de uma dezena de livros sobre os temas. Hoje, é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV) e embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para o cooperativismo. “Desde jovem me convenci que a forma de dar um sentido à vida seria ajudar a fazer um mundo melhor”, disse Rodrigues durante a cerimônia. “Vindo de uma família de agricultores e agrônomos, concluí que a melhor maneira de dar essa contribuição seria aprender o máximo sobre essa área e ensinar o que sei ao maior número possível de pessoas.” “Como ministro da Agricultura e professor universitário, Roberto Rodrigues tornou-se uma referência nacional nos temas de agronegócio e cooperativismo”, declarou Sandro Roberto Valentini, reitor da Unesp. “O presente prêmio é um reconhecimento pelo que fez em todas as áreas de atuação, da sala de aula à administração pública.” O presidente do Conselho Administrativo do CIEE, Luiz Gonzaga Bertelli, destacou o papel proeminente de
Rodrigues: referência nacional Rodrigues na formulação e realização de políticas setoriais que transformaram o agronegócio em uma atividade moderna e relevante na composição do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Roberto Rodrigues foi um dos mais notáveis ministros da Agricultura de todos os tempos no Brasil”, disse Bertelli a O Estado de S. Paulo. O diretor de Jornalismo do Grupo Estado, João Caminoto, destacou que Rodrigues é uma referência nacional quando o assunto é agricultura. “Ele construiu sua carreira em quatro frentes, como agricultor, cooperativista, político e acadêmico”, disse Caminoto. O embaixador Rubens Ricupero, que recebeu o prêmio em 2016, afirmou que Rodrigues “traz nas veias o DNA da agricultura paulista e brasileira”. “A vida e a carreira de Roberto Rodrigues se confundem com as transformações da agricultura brasileira, que com sua força se tornou a vanguarda da renovação do Brasil contemporâneo”, disse.
SEMPRE UNESP
Em constante contato com a Unesp
O
ex-aluno da Unesp Marcel Sabino Miranda foi premiado pela melhor apresentação oral de estudante de pós-graduação no X Congresso Latino-americano de Malacología (X CLAMA), realizado em Piriápolis, no Uruguai, entre os dias 1º e 6 de outubro. Marcel apresentou o trabalho “O gênero Falcidens (Aplacophora, Caudofoveata, Chaetodermatidae) no Sudeste brasileiro: descrição de mais uma nova espécie”, versando
Divulgação
sobre uma possível espécie ainda desconhecida para a ciência que ele estudou em seu mestrado, em co-autoria com seu orientador, Flávio Dias Passos, professor da Unicamp. A pesquisa foi realizada com bolsa da CAPES e financiamento do programa Biota-Fapesp. Atualmente, Marcel é doutorando no programa de pós-graduação em Biologia Animal da Unicamp, também sob orientação do professor Passos, desenvolvendo tese sobre a taxonomia e ecologia dos moluscos Aplacophora, com
bolsa da Fapesp. Marcel foi aluno do Câmpus do Litoral Paulista (CLP) da Unesp entre 2008 e 2012, fazendo o bacharelado em Ciências Biológicas, com habilitação em Biologia Marinha e Gerenciamento Costeiro. Seus dois TCCs foram orientados pela professora Iracy Lea Pecora. Marcel garante que não esperava ganhar o prêmio. “Ele é muito importante para mim, tanto pelo currículo como pelo reconhecimento na área, especialmente porque trabalho
com um grupo taxonômico no qual quase não há especialistas no mundo, e por ser em um congresso internacional”, assinala. O pesquisador considera que no CLP teve experiências que o ajudam profissionalmente até hoje. “Outro fator que acho importante destacar é a valorização que os docentes do CLP têm pelos seus egressos, pois sou sempre muito bem recebido quando estou lá, sendo chamado inclusive para diversos trabalhos em colaboração.” (Colaborou Amanda Fabiane Perón)
Miranda: valorização dos egressos
14
Novembro 2017
Alunos
Foto ganha concurso da ONU Aluno disputou com concorrentes de 73 países mostrando imagem de integrante de cooperativa Gabriel Alves Bezerra Divulgação
L
uis Gustavo Cavalheiro venceu o Concurso de Fotografia sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2017, lançado pelo Centro de Informações das Nações Unidas para o Japão e pela Universidade de Sophia. A foto feita pelo estudante do curso de História no Câmpus da Unesp de Assis disputou com outras mil imagens de 73 países. Intitulada “Mulher de Coocassis”, a fotografia vencedora retrata a atividade de Paula, uma das trabalhadoras da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (Coocassis). A Cooperativa é uma iniciativa
autogerida que proporciona renda para centenas de famílias de cooperados de Assis e região, separando o lixo reciclável e fazendo disso uma fonte de renda, além de contribuir para a preservação ambiental. A Coocassis tem o propósito de promover a inclusão de catadores e outros trabalhadores desempregados, com assessoria de professores e estagiários dos cursos da Faculdade de Ciências e Letras de Assis. “Mulher de Coocassis” faz parte de uma exposição organizada pela Contemporânea – Empresa Júnior de História, administrada pelos estudantes de História, que buscam estreitar
vínculos entre a Universidade e a comunidade com serviços de assessoria no manuseio de documentos. Cavalheiro diz que retratou o cotidiano das mulheres que trabalham na Coocassis, no intuito de evidenciar, com a foto, a importância de seu trabalho diário. Para o estudante é de grande valia vencer um concurso internacional de fotografia. “Além de trazer reconhecimento ao meu trabalho como fotógrafo, me deixa satisfeito por dar visibilidade ao trabalho dessas coletoras e coletores de recicláveis, conscientizando parte da população sobre o valor desse trabalho ecológico”, conclui.
Cavalheiro: trabalho de fotógrafo ganha visibilidade
Alunas obtêm bolsas de Equipe é vice-campeã da programa do Santander Competição Aerodesign Marcos Jorge
T
rês alunas da Unesp foram contempladas pelo programa Fórmula Santander e irão receber uma bolsa de estudos para realizar seis meses de intercâmbio no exterior. Maria Emília Fernandes, Vanessa Pavelski e Vitoria Possignolo estão entre os cem estudantes contemplados na oitava edição do programa, que teve mais de 27 mil estudantes inscritos em todo o Brasil. A cerimônia de entrega dos prêmios foi realizada no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, durante o GP Brasil de Fórmula 1, que aconteceu entre os dias 10 e 12 de novembro. Maria Emília está no terceiro ano do curso de Engenharia Ambiental no Câmpus de Sorocaba. “Assim que entrei, estabeleci essa meta de estudar na Alemanha e comecei a fazer aulas de alemão para ir me preparando”, afirma. Ela irá estudar na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde será colega de Vanessa. Aluna do terceiro ano de Artes Visuais, em Bauru, Vanessa aproveitará o intercâmbio para expandir seu aprendizado para outras áreas, como filosofia e arqueologia bizantina. “Sempre gostei muito de teoria e já há alguns anos venho me interessando por filosofia”, explica.
Intercâmbio no exterior Estudante do terceiro ano de Engenharia de Produção, em Bauru, Vitória construiu um plano de estudos que contempla disciplinas dos cursos de Administração e de Economia. A aluna está de malas prontas para a Espanha, onde estudará na Universidade de Santiago de Compostela. Ao todo, são cem bolsas de 5 mil euros para um semestre de estudos. Na cerimônia, o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, destacou a importância da vivência internacional na vida dos jovens, em mensagem gravada em vídeo. “Este vai ser o momento em que vocês vão vivenciar a diversidade em sua essência, conhecendo outros povos e indivíduos que lhe mostrarão experiências de vida diferentes das suas”, destacou.
E
ntre os dias 26 e 29 de outubro, foi realizada a 19ª Competição SAE Brasil AeroDesign, com a participação de mais de mil universitários de 16 Estados e do Distrito Federal, além do México e da Venezuela. O evento reúne aeronaves radiocontroladas, projetadas e construídas para essa disputa, que aconteceu no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos (SP). A Unesp foi representada pela equipe Aerofeg, da Faculdade de Engenharia do Câmpus de Guaratinguetá (FEG), que foi a vice-campeã na Classe Regular, concorrendo com 61 equipes (a equipe da USP de São Carlos tornou-se a campeã). “Foi um resultado
muito bom, levando em conta que a disputa foi muito acirrada”, assinala o professor Marco Valério Ribeiro, coordenador da Equipe Aerofeg. Com o resultado, a Aerofeg garantiu o direito de participar da SAE Aerodesign East Competition, entre os dias 9 e 11 de março de 2018, na Flórida (EUA). Essa será a terceira vez que o time da Unesp participará do evento nos Estados Unidos: em 2012, obteve o terceiro lugar e, em 2016, sagrouse campeão da disputa. Em São José dos Campos, a aeronave da Aerofeg carregou quase seis vezes o próprio peso, além de ser a mais leve de sua classe, pesando pouco mais de 2 kg. “Nossa equipe é sempre elogiada pela qualidade construtiva das aeronaves; atingimos um nível excelente de
construção”, ressalta Valério. Além do docente, a Aerofeg é formada por estudantes dos cinco cursos de Engenharia da FEG, sendo uma da Engenharia Civil (Carolina Massae Ishii), uma da Engenharia de Materiais (Ana Karoline dos Reis), um da Engenharia de Produção (Pedro Pugliesi Rivaben), dois da Engenharia Elétrica (Ivanna Castelli e Leandro Silva de Deus) e seis do curso de Engenharia Mecânica (Maysa da Cruz Liberatti, capitã da equipe, Alexandre Henrique Sobolewski Michel, João Pablo de França Araujo Castro, Leonardo Paciullo Rodrigues, Lucas de Andrade Gonçalves e Mariele Cristina de Oliveira Faria). O piloto é Thiago Henrique Pinheiro Barbetta, ex-aluno de Engenharia Mecânica. Divulgação
Marcos Jorge
Ótimo resultado em competição muito acirrada
Geral
Novembro 2017
15
AGÊNCIA UNESP DE INOVAÇÃO
Unesp avança no Índice das Universidades Empreendedoras 2017
F
oi divulgado o Índice das Universidades Empreendedoras 2017. A Unesp ocupa a 6ª posição, sendo que no ano anterior estava em 13º lugar. Alexandra Mendonça, presidente do Núcleo das Empresas Juniores da Unesp, comemora o resultado: “Estudar na Unesp e ter a oportunidade de me envolver com empreendedorismo de tantas formas me faz ter ainda mais orgulho da minha Universidade! O crescimento incrível que tivemos no ranking das Universidades Empreendedoras demonstra o resultado de muito trabalho de inúmeras áreas, principalmente da Agência de Inovação da
Unesp (Auin), do Núcleo Unesp e da Reitoria. Ainda há muito o que ser trabalhado e melhorado, mas com certeza estamos no caminho certo para tornar nossa querida Unesp uma universidade cada vez mais empreendedora, que possibilita ao aluno as experiências mais diversificadas, com participação que vai das empresas juniores às pesquisas científicas, fazendo com que ele tenha uma formação cada vez mais completa! Orgulho de ser Núcleo Unesp e fazer parte dessa história, orgulho de ser Unesp!”, diz. “Ao longo do ano nossa Universidade trabalhou com algumas ações para desenvolver o empreendedorismo, e muito foi aliado ao movimento
GOVERNADOR: Geraldo Alckmin SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SECRETÁRIO: Márcio França
empresa júnior e à parceria com o Núcleo”, completa. Ela destaca, além do resultado no índice o X XIII EnejUnesp, que aconteceu em outubro, reunindo mais de 400 pessoas em Ilha Solteira, com a presença do reitor Sandro Valentini e da pró-reitora de Extensão Universitária Cleopatra da Silva Planeta. O encontro é considerado o maior evento de empresas juniores da Unesp e revelou alguns projetos impactantes.
Acesse o relatório das Universidades Empreendedoras em: <http://bit.ly/indice2017>
Unesp atinge 50 mil teses e dissertações defendidas João Lima Sant’Anna Neto, pró-reitor de Pós-Graduação da Unesp
N
o dia 20 de novembro, a Unesp ultrapassou mais uma marca histórica em sua trajetória de sucesso. Atingiu o total de 50 mil teses e dissertações defendidas em nossos programas de pós-graduação, desde 1977. Foram 32.711 dissertações de mestrado acadêmico, 1.004 dissertações de mestrado profissional e
16.285 teses de doutorado. Esses dados têm um enorme significado acadêmico. Além de serem pesquisas de elevada qualidade e impacto que culminaram com os trabalhos finais aprovados, também demonstram a capacidade da Unesp em formar mestres e doutores em todas as áreas de conhecimento, melhorando a qualificação profissional no Estado de São Paulo e no Brasil.
O fato traz a oportunidade para divulgar que a Propg – Pró-reitoria de Pós-graduação, a partir de 2018, instituirá a premiação das melhores teses de doutorado defendidas em 2017, cujo edital foi apresentado aos coordenadores por ocasião do II Fórum da Pós-graduação, realizado entre os dias 27 e 28 de novembro no IB de Rio Claro.
Theodoro Büll PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO: Gladis Massini-Cagliari PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: João Lima Sant’Anna Neto PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA:
Cleopatra da Silva Planeta PRÓ-REITOR DE PESQUISA: Carlos Frederico de Oliveira Graeff SECRETÁRIO-GERAL: Arnaldo Cortina CHEFE DE GABINETE: Carlos Eduardo Vergani ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA : Oscar D’Ambrosio ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE INFORMÁTICA :
Edson Luiz França Senne ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA JURÍDICA :
Edson César dos Santos Cabral ASSESSOR-CHEFE DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO:
José Roberto Ruggiero ASSESSOR-CHEFE DE RELAÇÕES EXTERNAS:
José Celso Freire Júnior ASSESSOR ESPECIAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:
Rogério Luiz Buccelli DIRETORES/COORDENADORES-EXECUTIVOS DAS UNIDADES UNIVERSITÁRIAS:
Max José de Araújo Faria Júnior (FMV-Araçatuba), Wilson Roberto Poi (FO-Araçatuba), Luis Vitor Silva do Sacramento (FCF-Araraquara), Elaine Maria Sgavioli Massucato (FO-Araraquara), Cláudio César de Paiva (FCL-Araraquara), Eduardo Maffud Cilli (IQ-Araraquara), Andréa Lúcia Dorini de Oliveira (FCL-Assis), Marcelo Carbone Carneiro (FAAC-Bauru), Jair Lopes Junior (FC-Bauru), Luttgardes de Oliveira Neto (FE-Bauru), Carlos Frederico Wilcken (FCA-Botucatu), Pasqual Barretti (FM-Botucatu), Maria Dalva Cesario (IB-Botucatu), José Paes de Almeida Nogueira Pinto (FMVZ-Botucatu), Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo (FCAT-Dracena), Célia Maria David (FCHS- -Franca), Mauro Hugo Mathias (FE-Guaratinguetá), Enes Furlani Junior (FE-Ilha Solteira), Antonio Francisco Savi (Itapeva), Pedro Luís da Costa Aguiar Alves (FCAV-Jaboticabal), Marcelo Tavella Navega (FFC-Marília), Edson Luís Piroli (Ourinhos), Marcelo Messias (FCT-Presidente Prudente), Patrícia Gleydes Morgante (Registro), Cláudio José Von Zuben (IB-Rio Claro), José Alexandre de Jesus Perinotto (IGCE-Rio Claro), Guilherme Henrique Barris de Souza (Rosana), Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira (Ibilce-São José do Rio Preto), Estevão Tomomitsu Kimpara (ICT-São José dos Campos), Valerie Ann Albright (IA-São Paulo), Marcelo Takeshi Yamashita (IFT-São Paulo), Marcos Antonio de Oliveira (IB/CLP-São Vicente), Eduardo Paciência Godoy (ICT-Sorocaba) e Danilo Fiorentino Pereira (FCE-Tupã).
EDITOR: André Louzas REDAÇÃO: Marcos Jorge COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Ivan Cardoso, João Moretti
Junior, Maristela Garmes, Sérgio Santa Rosa, Tadeu Nunes (texto); Leandro Rocha, Renato Coelho, Roberto Rodrigues e Amanda Fernandes (foto) EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Phábrica de Produções Alecsander Coelho e Paulo Ciola (direção de arte); Daniela Bissiguini, Érsio Ribeiro, Kauê Rodrigues, Marcelo Macedo e Rodrigo Alves (diagramação) REVISÃO: Maria Luiza Simões PRODUÇÃO: Mara Regina Marcato APOIO ADMINISTRATIVO: Thiago Henrique Lúcio TIRAGEM: 3,5 mil exemplares Este jornal, órgão da Reitoria da Unesp, é elaborado mensalmente pela Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI). A reprodução de artigos, reportagens ou notícias é permitida, desde que citada a fonte. ENDEREÇO: Rua Quirino de Andrade, 215, 4.º andar, Centro, CEP 01049-010, São Paulo, SP. Telefone: (11) 5627-0323. HOME PAGE: http://www.unesp.br/jornal E-MAIL: jornalunesp@reitoria.unesp.br
ERRAMOS A matéria intitulada “Incertezas do mercado”, publicada na página 14 do Jornal Unesp n.º 337, edição do mês de outubro, apresentou dois erros ao abordar a dissertação de Érika Regina da Silva Gallo: 1) O pressuposto da
REITOR: Sandro Roberto Valentini VICE-REITOR: Sergio Roberto Nobre PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E GESTÃO: Leonardo
economia comportamental que ela destaca no agente que opera na bolsa de valores é o de “aversão à perda” e não “aversão ao risco”, como foi publicado no texto. Érika foi premiada pelo Conselho Federal de Economia justamente por
enfatizar essa subjetividade (“aversão à perda”) nos agentes. “Aversão ao risco” não expressa a novidade que a sua pesquisa apresenta e que motivou o prêmio. 2) Na legenda da foto, Érika é também erroneamente chamada de Raquel.
IMPRESSÃO: 46 Indústria Gráfica
VEÍCULOS Unesp Agência de Notícias: <http://unan.unesp.br/>. Rádio Unesp: <http://www.radio.unesp.br/>. TV Unesp: <http://www.tv.unesp.br/>.
16
Novembro 2017
Trabalho
123RF
Necessidade de mais estudo na área
TRABALHO SEM PROTEÇÃO Tese avalia avanço do número de diaristas no novo panorama do serviço doméstico do país Maristela Garmes e Oscar D'Ambrosio
E
m seu doutorado, Francilene Soares de Medeiros Costa promoveu uma reflexão sobre o aumento do contingente de trabalhadoras domésticas que atuam como diaristas no Brasil e as repercussões do maior acesso dessa mão de obra ao sistema de proteção social, tendo em vista a recente ampliação de direitos sociais e trabalhistas das empregadas domésticas por meio da aprovação da Lei Complementar nº 150 de 2015. Defendida em agosto na Unesp de Presidente Prudente, a tese se intitula “Trabalho doméstico remunerado no Brasil: dilemas contemporâneos para a proteção social”. A pesquisa destaca inicialmente as relações entre a regulamentação do trabalho doméstico remunerado no Brasil e a desproteção social das diaristas. O estudo utiliza fontes documentais e bibliográficas – além de dados e estatísticas da Organização Internacional do Trabalho e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, entre 2004 e 2014, além de entrevistas com diaristas em Belém (PA) e São Paulo (SP). Os dados mostram que, em 2014, 6,5 milhões de pessoas, ou 6,5% da população economicamente ativa,
estavam ocupadas nos serviços domésticos no Brasil, sendo que 94% são mulheres. Revelam ainda uma precariedade nas condições de trabalho que pode ser vista, por exemplo, no baixo percentual de pessoas nessa atividade que têm seus contratos de trabalho formalizados por meio da carteira assinada (30% na média nacional). Somente 12% contribuem para a Previdência Social, “que é uma possibilidade de acesso ao sistema de proteção social tanto por parte das trabalhadoras que deveriam ter, mas não têm, a sua carteira de trabalho assinada, quanto para a trabalhadora diarista, que é autônoma”, afirma Francilene. A tese, orientada pelo professor Marcelo Dornellis Carvalhal, da Unesp/ Ourinhos, aponta que a Lei Complementar nº 150/2015 não traz uma definição direta de diarista, mas de empregado doméstico, que é considerado no Art. 1º “[...] aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana”. “Até então esse limite de dois dias não estava fixado. Com essa delimitação fica claro que a lei não se aplica às diaristas
e que essas não têm acesso aos direitos conquistados, pois não são empregadas domésticas”, argumenta a pesquisadora. Professora na Universidade Federal do Pará, Francilene acrescenta que a regulamentação recente do trabalho doméstico no Brasil é um avanço inegável. No entanto – diz – o aumento do número de diaristas em curso no país pressupõe a realização autônoma da prestação de serviço, a qual não é regulada por normas do Direito do Trabalho. Na interpretação de Francilene, a reforma trabalhista tem uma tônica que se alinha com um discurso de flexibilização das leis trabalhistas. “No limite, o que subjaz a esse discurso é a deslegitimação de um princípio básico do Direito do Trabalho no Brasil e no mundo: o direito do trabalhador à proteção social e trabalhista frente aos desgastes laborais e às insuficiências decorrentes de períodos em que o mesmo esteja impossibilitado de trabalhar (por exemplo, licenças, descansos remunerados, aposentadorias, pensões, dentre outros)”, afirma. DADOS Em 2014, 31,5% das trabalhadoras domésticas do país eram diaristas. Essa média tem uma variação entre os
Estados. No Pará, por exemplo, na região Norte, esse percentual era de 24%. Em São Paulo, na região Sudeste, já atingia 34%. Mas foi nos Estados da região Sul que os dados apontaram para percentuais mais elevados: 42% no Paraná e em Santa Catarina e 41% no Rio Grande do Sul. Os dados da PNAD mostram diferenças salariais em todas as regiões. Por exemplo, em 2014, a renda média mensal declarada pelas diaristas em São Paulo foi de R$ 944,80. Já no Pará, essa média foi de R$ 601,60. Ainda segundo o PNAD, em 2014, 94% das pessoas ocupadas no trabalho doméstico remunerado eram mulheres, a maioria com mais de 30 anos. Quase metade (46%) não conseguiu concluir o ensino fundamental e apenas 20% chegaram a concluir o ensino médio. Na média nacional, somente 2,5% de todas as trabalhadoras domésticas eram sindicalizadas em 2014. No caso das diaristas, a sindicalização é praticamente inexistente. De todos os segmentos econômicos, os serviços domésticos são onde se registram os menores rendimentos médios mensais. Em relação ao aumento do número de diaristas nos últimos 20 anos, Francilene afirma que há vários fatores
envolvidos. “Em alguns casos, as próprias domésticas encontram no serviço diarizado uma chance de estar em uma relação de trabalho menos subserviente e de auferir maiores rendimentos mensais, apesar de fazerem isso ao custo de ficarem desprotegidas no que se refere à seguridade social, pois poucas contribuem individualmente para a Previdência”, avalia. Além disso, acrescenta a pesquisadora, na percepção das diaristas entrevistadas, a aprovação da nova Lei levou muitos empregadores a uma maior propensão a adotar serviços por diárias, para evitar a burocracia ou o aumento dos custos com a assinatura da carteira de trabalho. “A identificação desses fatores aponta para a necessidade de que mais estudos sejam realizados, para que possamos ter análises mais diretivas acerca dos motivos que determinam a expansão do trabalho por diárias no país”, conclui Francilene.
Contato com a pesquisadora: <francilenesoares@yahoo. com.br>.