Encontro Agência promove internacional 4 treinamento e 7 ressalta importância da competição para educação sexual nas escolas
contemplados em edital de inovação
Congresso de Iniciação 10 Científica reúne 400
projetos e homenageia orientadores
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA • ANO XXXIII • NÚMERO 339 • DEZEMBRO 2017
MOMENTO PARA A RENOVAÇÃO DO ENSINO Workshop promove reflexão sobre o ensino de graduação, com o objetivo de destravar e atualizar os currículos dos cursos, buscando a incorporação de atividades ainda não devidamente creditadas para a formação acadêmica, além do acréscimo de novas ferramentas e tecnologias às práticas pedagógicas. páginas 8 e 9.
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Evento preparatório da Bienal Afro-Brasileira do Livro debate diversidade étnica
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Novo sistema do GridUnesp expande processamento e armazenamento de dados
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Parceria com Santander foca áreas que vão do empreendedorismo à sustentabilidade
Apoio à diversidade
O papel da educação sexual na sociedade. Edição disponível apenas on-line em <http://www.unesp.br/jornal>.
2 Bitcoin é um Bem de Giffen ou uma bolha especulativa? Dezembro 2017
Artigo
Maior ameaça ao valor da moeda virtual viria de uma tecnologia que permitisse aumentar a oferta da moeda em circulação ou que criasse dúvidas em relação a sua autenticidade José Alcides Gobbo Junior
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ecentemente temos visto uma discussão sobre se a Bitcoin é uma bolha especulativa. Bitcoin e suas imitações são moedas criptografadas, compostas por uma série de protocolos de software para a geração de códigos digitais e para o rastreamento de transações. À medida que a Bitcoin se valorizou mais de 11 vezes neste ano e que ultrapassou os 10 mil dólares por unidade, eu continuo a pensar que a mesma está se comportando como um Bem de Giffen. Bens de Giffen são muito raros e têm uma rara curva de demanda inclinada para cima. Eles podem ser definidos como bens para os quais a quantidade de demanda aumenta na medida em que os preços aumentam. Isso é o oposto da maioria dos bens que conhecemos – à medida que os preços aumentam a quantidade demandada cai. Economistas muitas vezes discordam da própria existência dos Bens de Giffen, sendo o exemplo mais recorrente o da grande fome na Irlanda do século XIX. Cerca de 1 milhão de pessoas morreram de fome e doenças epidêmicas entre 1846 e 1851, e cerca de 2 milhões de pessoas emigraram (principalmente para os EUA) em menos de uma década (1845-55). As batatas constituíam uma parte significativa da dieta das pessoas nesse país, em conjunto com porções menores de vegetais e carne. O preço das batatas passou a subir demasiadamente, por causa da infestação por um oomiceto (anteriormente considerado como um fungo – Phytophthora infestans), que destruiu massivamente as plantações de batatas. Considerando que a carne era mais cara do que as batatas, quando o preço das batatas subiu houve uma mudança na preferência das pessoas. Isso levou à redução brutal no consumo de carne e a um maior consumo de batatas (um alimento mais nutritivo). O mais problemático
O software do Bitcoin garante que sempre ocorra uma oferta limitada de moedas à disposição nessa série de eventos é que, enquanto grupo, os irlandeses não poderiam ter comido mais, simplesmente porque haveria menos batatas. Talvez essa explicação se aplicasse a alguns grupos sociais no país. Sendo verdadeira ou não essa explicação histórica, alguns fatos são relevantes. Bens de Giffen são bens inferiores para os quais o efeito renda domina o efeito substituição. Inferioridade é uma necessidade para um Bem ser de Giffen. O bem inferior é um bem para o qual uma redução na renda é seguida de um aumento na quantidade consumida, ou seja, os bens inferiores têm elasticidade – renda negativa. Adicionalmente, para ser um Bem de Giffen, algum bem normal deve ter sido
deslocado pelo bem inferior na medida em que o aumento de preço reduz a renda real. No caso do Bitcoin, está claro para mim que, na medida em que os preços aumentam, maior tem sido a demanda por Bitcoins, assim como no caso do Bem de Giffen. O que somente se adiciona a esse cenário são as rendas historicamente baixas obtidas por títulos financeiros. Os bens normais que têm sido deslocados são os ativos nos portfólios financeiros. Isso faz sentido porque as pessoas examinam Bitcoin (e outras criptomoedas) para ver se elas cabem em seu portfólio ou não, na medida em que buscam por mais rentabilidade. A alta rentabilidade do Bitcoin somente traz mais euforia
para o mercado, que antes era considerado exclusivo de desenvolvedores de softwares. A curva de oferta de Bitcoins, assim como no caso das batatas, é uma curva de oferta muito inelástica. O software do Bitcoin garante que sempre ocorra uma oferta limitada de moedas à disposição. A mineração da moeda é custosa em tempo, e em recursos computacionais e eletricidade. O que pode levar ao fim dos aumentos de preços? Assim como na grande fome da Irlanda e com a falta de bens substitutos para as batatas, a emergência de novas criptomoedas pode retroceder o valor do Bitcoin. Novas tecnologias que permitam a mineração de forma mais rápida e com menor custo
também poderiam levar à derrocada dos preços. Outra ameaça potencial ao status de Bem de Giffen pode vir dos hackers. Uma série de ataques já foi observada de roubos de Bitcoin, mas a maior ameaça viria de uma tecnologia que permitisse aumentar a oferta da moeda em circulação ou que viesse a criar dúvidas em relação a sua autenticidade. E a Bitcoin é uma bolha especulativa? Sim, provavelmente!
José Alcides Gobbo Junior é professor da Faculdade de Engenharia de Bauru/Unesp. Contato: <gobbo@feb.unesp.>br
Entrevista
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Facebook com outra face Especialista propõe modelo no qual dados de usuários não devem ser usados pela rede Oscar D’Ambrosio Shutterstock
Divulgação
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xiste uma alternativa ao modelo de funcionamento do Facebook? A rede é gratuita para os usuários, mas utiliza as informações que eles postam para auxiliar empresas a tornar seus anúncios mais eficazes entre o público alvo. Mark W. Datysgeld acredita que outra opção é possível, com mais privacidade dos dados pessoais, e argumenta a favor de sua proposta. Mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), Datysgeld é especialista nos temas de governança da Internet e impacto da tecnologia na formação de políticas públicas e privadas. É ainda fundador do curso Governance Primer, iniciativa gratuita de ensino de governança da Internet na América Latina. Toda sua produção está disponível em: <www.markwd. website>. Jornal Unesp: Num momento em que as relações entre as pessoas, empresas e nações são cada vez mais marcadas pelas mídias sociais, qual é a sua avaliação, como especialista na área dos dados que cada um de nós disponibiliza no Facebook? Mark W. Datysgeld: Já se discute até certo ponto a prática de diversas empresas que prestam serviços na Internet de coletar os dados de seus usuários de maneira massiva, para que depois possam utilizá-los na otimização da exibição de propagandas e sugestões em suas plataformas, de um modo que elas estejam mais alinhadas com o perfil de cada um. Isso se tornou uma máxima replicada por toda a rede. Por consequência, isso permite que serviços como Facebook e Google cobrem mais de cada anunciante, já que eles têm a possibilidade de conectar produtos que empresas querem vender com os interesses de potenciais compradores. Em tese, essa é a contrapartida recebida pela prestadora de serviços em troca do produto que ela oferece sem custo monetário a seu usuário, que pode ser um portal de buscas, mídias sociais, provedor de e-mail, ou qualquer outro.
Datysgeld: internautas ignoram valor de informações pessoais
Para pesquisador, modelo apresentado não permite que usuário decida como interagir com serviço
JU: Qual seria uma alternativa realista ao modelo apresentado por essas prestadoras de serviço? Datysgeld: Isso pouco se discute. Ela existe? Será o caso de que a Internet possui alguma característica inata que força os serviços oferecidos nela a serem gratuitos, pois não seriam atraentes para os usuários se tivessem um custo monetário? JU: O senhor tem alguma alternativa? Datysgeld: Imagine a opção de uma versão paga do Facebook, totalmente opcional, na qual os dados pessoais do usuário não sejam utilizados para qualquer fim além daqueles explicitamente voltados à interação social. Isso significaria, inclusive, que a empresa não poderia conduzir nenhum dos testes de comportamento que regularmente faz, como quando em 2014 foram manipulados os posts vistos por cerca de 700 mil usuários, para que eles fossem expostos só a posts tristes ou felizes, assim podendo
analisar se isso alterava o estado emocional das pessoas. A propósito, a resposta é que existe uma correlação direta entre o que é visto e o que se posta na plataforma. JU: Qual seria o valor necessário para que a inclusão dessa opção fizesse sentido para a empresa? Datysgeld: Segundo dados apresentados pela Facebook para o governo estadunidense em novembro de 2017, se fatura em média US$ 5 por usuário por quartil – a cada três meses. Os usuários da América do Norte são o ponto fora da curva, gerando US$ 21 por quartil. Isso poderia nos levar a imaginar que um valor entre US$ 5 e US$ 15 poderia ser cobrado universalmente. Talvez ainda melhor do que isso, um valor diferente poderia ser pensado para cada região, como já é praticado por algumas lojas de bens digitais, que, ao invés de cobrarem a partir do preço em dólares dos produtos, levam em conta o perfil econômico de cada região. Assim, na América
Latina se poderia pagar US$ 5, enquanto no norte global poderiam pagar US$ 15. JU: Mas há outras variáveis que complicam a questão, não? Datysgeld: Problemas sérios existem, no entanto: primeiro, o produto principal da Facebook não é a plataforma de conteúdo na qual os usuários fazem seus posts, mas sim o algoritmo que está por trás desse sistema. Qualquer programador qualificado pode criar uma interface de mídia social, mas é a maneira como a Facebook minera os dados de seus usuários e como consegue revendê-los que tem valor real. Segundo, a auditoria do não uso dos dados para usuários pagantes teria de ser feita por uma parte externa independente. Considerando que o algoritmo utilizado pela Facebook é considerado por ela como secreto e restrito por propriedade intelectual, todo tipo de controvérsia iria emergir desse conflito de interesses, e qualquer restrição imposta pela
empresa poderia significar uma brecha para ser explorada e fazer uso dos dados do mesmo jeito. Por fim, não parece existir grande interesse das pessoas em proteger seus dados caso isso implique o gasto de dinheiro. Afirmo isso com base em diversos eventos e palestras dos quais já participei, seja como orador ou ouvinte. Levantei a ideia perante mais de cem estudantes de ensino médio latino-americanos durante um evento de engajamento com jovens. Dentro dessa demografia chave para o Facebook, muitos consideraram importante a existência da opção, mas apenas dois ou três dos cem concordaram que pagariam por ela. JU: Qual seria então o “x” da questão? Datysgeld: Enquanto não for desenvolvida uma mentalidade dentro da sociedade de que existe um valor monetário real e quantificável para as informações pertinentes ao nosso comportamento, padrões e ações, permaneceremos sem controle sobre essas informações, pois elas continuarão a parecer para a grande maioria como uma boa moeda com a qual pagar serviços na Internet. Não é uma questão de esse não ser um modelo válido, mas sim de ser o único modelo apresentado, não permitindo a autonomia do usuário em decidir como interagir com o serviço.
Leia mais em: <https://goo.gl/qnUwMY>
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Ciências Humanas
Ciência contra o preconceito Encontro internacional em Rio Claro ressalta importância da educação sexual nas escolas e seu impacto para a sociedade Marcos Jorge
Fotos Marcos Jorge
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proximadamente 300 estudantes e pesquisadores estiveram em Rio Claro, entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, para a quarta edição do Congresso Internacional Sexualidade e Educação Sexual. A proposta do evento foi apresentar estudos sobre sexualidade sob uma perspectiva interdisciplinar, além de discutir as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da área nos dias de hoje. Para a professora Célia Regina Rossi, organizadora do congresso, o evento abre espaço para que educadores levem suas questões à comunidade e retornem ao seu espaço de trabalho com mais possibilidades de atuação, fortalecendo tais temáticas em suas instituições de ensino e colaborando para a redução da violência de gênero nesses espaços. “O encontro também pode levar pesquisadores ao entendimento da sexualidade como tema que possa ser abordado em outras áreas de investigação, estendendo essa discussão para diferentes setores e ajudando a promover mudanças significativas para a sociedade”, destaca. Ao todo, foram selecionados 146 trabalhos científicos, apresentados em sessões de pôster, apresentações orais, mesas temáticas e palestras. Seguindo a proposta do evento, as pesquisas envolveram direta ou transversalmente temas como sexualidade, gênero, educação, violência, direitos humanos, políticas públicas, saúde, mídia, heteronormatividade, entre outros. Para além da formação de pesquisadores e professores, Célia aponta como justificativa do encontro a necessidade de esclarecimento junto à sociedade de temas extremamente atuais, como educação para a sexualidade, preconceito, xenofobia, homofobia, transfobia, sexismo, exclusão contra pessoas negras ou contra imigrantes. A docente da Unesp de Rio Claro vê a escola como campo fértil para se incutir a educação
Interdisciplinar, congresso buscou também discutir dificuldades de profissionais da área
Evento: trabalhos expostos em sessões de pôster, apresentações orais, mesas temáticas e palestras
e a civilidade necessárias à vida em sociedade, mas adverte que para muitas mulheres, negros ou pessoas da população LGBT o ambiente escolar ainda está associado à exclusão e a violências de diversos tipos. “Gênero, sexualidade e identidade de gênero não são criações ideológicas. Eles existem, e o Brasil se nega a discutir esta realidade na sociedade e na escola. Atualmente, quando
elas entram para serem discutidas, muitas vezes é de maneira equivocada. Não discutir gênero vai contra diversos tratados internacionais assinados pelo Brasil”, aponta. ARGENTINA E URUGUAI O encontro é realizado a cada dois anos revezando-se a sede entre Brasil e Portugal. No congresso deste ano estiveram presentes representantes de
14 estados brasileiros, além de pesquisadores de Portugal, Espanha, Moçambique, Argentina, Paraguai e Uruguai. A perspectiva estrangeira do tema esteve presente na palestra de abertura do evento, proferida pela professora Graciela Morgade, decana da Universidade de Buenos Aires, da Argentina. A professora falou sobre as políticas públicas adotadas pelo país na questão da
educação sexual e os desafios ainda pendentes. Segundo Graciela, ainda prevalece no país um modelo que trabalha a sexualidade a partir de um viés médico-biologista, tratando principalmente de questões relativas a prevenção, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, sem aprofundar em questões de gênero, violência e direitos, por exemplo. A professora apontou como exemplo de uma barreira a ser superada a abordagem androcêntrica no conteúdo das disciplinas. O termo “androcêntrico” se refere à forma pela qual as experiências masculinas são consideradas como as experiências de todos os seres humanos e tidas como uma norma universal. “A construção social do corpo não é abordada pela Biologia. Prova disso é que ainda se ensina que existam hormônios masculinos e femininos, quando ambos são encontrados em todos os corpos, mas em concentrações diferentes”, exemplifica. O panorama da educação sexual no Uruguai foi apresentado em palestra realizada pelo professor Pablo Lopez Gómez, da Universidade Nacional de Montevideo. Goméz enfatiza que há no país uma tradição muito forte de debate político e na questão da sexualidade não foi diferente: a primeira vez que o assunto entrou na pauta parlamentar foi em 1906. O resultado de um longo período de idas e vindas de discussões resultou em uma política tida como progressista em comparação ao restante da América Latina. Nas escolas uruguaias, a Educação Sexual é abordada de forma separada da Educação para a Saúde, cujo conteúdo está mais relacionado à prevenção de doenças, algo incomum no continente. A Educação Sexual em geral não está enquadrada como uma disciplina por si só, mas sim apresentada aos alunos em formato transversal, ou seja, contextualizada dentro do currículo das demais disciplinas. Gómez, por outro lado, lembra que o país também
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vivenciou episódios de discussões sobre o recolhimento de livros didáticos por apresentarem conteúdos impróprios, como ocorreu no Brasil. Na opinião do uruguaio, esse processo faz parte de um debate democrático. A diferença, na visão de Gómez, é que no Uruguai as questões políticas levantadas sobre quem promove e como deveria ser a educação sexual dos filhos não foram pautadas em premissas religiosas. “O conceito de Estado laico é algo muito concreto no Uruguai”, assinala. DEBATE NO BRASIL Um consenso entre os participantes é que o Brasil vive um momento de retrocesso no debate sobre políticas públicas em temas relacionados à educação sexual e à sexualidade em geral. Muitas vezes, negar o debate é a estratégia para silenciá-lo, como mostra a pesquisa apresentada pela professora Cláudia Pereira Vianna. A docente da Faculdade de Educação da USP estudou a formulação dos Planos Estaduais de Educação (PEE) de 26 Estados e do Distrito Federal. O documento é responsável por estabelecer metas e políticas públicas a serem viabilizadas pelos Estados na área da educação e sua elaboração é obrigatória. Na pesquisa, ainda em fase inicial, Cláudia observa o tratamento dado ao termo gênero na formulação desses documentos. A professora observou que em cinco Estados – São Paulo entre eles – o termo foi alvo de debates acalorados entre educadores e representantes de setores conservadores da sociedade e completamente retirado do plano estadual. Em outros, a menção existe no sentido de impor controle às atividades. A professora da USP faz a ressalva de que, apesar dos embates, na maioria dos Estados, principalmente os do Nordeste, houve progressos na inserção e abordagem do tema entre as metas educacionais. CASO DA VACINA Um exemplo prático de como a adesão aos discursos conservadores pode ser prejudicial à sociedade foi apresentado pelo professor Fernando Seffner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O pesquisador abordou o debate em torno da vacinação contra o HPV (papilomavírus
Para Celia, é preciso debater temas como homofobia, sexismo e exclusão de negros
Cláudia analisa presença da questão de gênero em Planos Estaduais de Educação
Polêmica em torno da vacinação contra o HPV foi abordada por Seffner
Argentina evita discutir assuntos como gênero, violência e direitos, diz Graciela
No Uruguai, segundo Gómez, educação sexual não é pautada por religiosidade
Rogério aponta reação de setores conservadores contra emancipação da mulher
humano) adotada pelo Ministério da Saúde em 2014 e suas consequências no território gaúcho. A vacina imuniza o indivíduo contra quatro vírus associados ao alto risco de desenvolvimento de câncer e causadores de verrugas genitais benignas. Em 2014, a campanha do Ministério da Saúde orientou pela vacinação em meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos. A escolha da faixa etária se justifica pela maior eficácia da vacina em indivíduos que ainda não tiveram contato sexual e porque é nessa idade que o sistema imunológico apresenta melhor resposta ao medicamento. A campanha, entretanto, foi alvo de debates e acusações de estar incentivando a iniciação de adolescentes à vida sexual de forma precoce. “A faixa etária alvo da vacinação é escolhida por estatísticas que apontam o início da vida sexual”, afirma Seffner. “Os dados também apontam que a origem das famílias ou sua orientação religiosa não interferem nessa faixa etária.” Na esteira da polêmica, a aplicação da
vacina também foi associada a diversos efeitos colaterais, algo veementemente negado pelas autoridades médicas. Dados levantados pelo pesquisador junto ao SUS indicaram uma queda significativa entre o público coberto pela vacinação entre a primeira e a segunda dose. Em Porto Alegre, por exemplo, a primeira dose alcançou 100% da meta, já a segunda dose atingiu apenas 58,13%. Quedas semelhantes foram registradas em outros municípios e se repetiram novamente no ano de 2015. O DISCURSO CONSERVADOR Uma análise da origem e disseminação desse discurso conservador foi apresentada pelo pesquisador Rogério Diniz Junqueira, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Segundo ele, o discurso conservador que ganhou projeção nacional nos últimos anos em episódios como o cancelamento da exposição Queermuseu, em Porto Alegre, ou nas manifestações contra a visita
da filósofa Judith Butler ao Brasil, surgiu como uma resposta às Conferências do Cairo e de Pequim, realizadas nos anos 90. Os dois eventos representaram um momento histórico por colocarem a mulher no papel central da transformação da sociedade por meio da justiça social. Os encontros nas capitais egípcia e chinesa também foram importantes porque firmaram acordos internacionais entre os países participantes pela promoção da igualdade de gênero, pelo fim da violência contra a mulher e pela garantia de seus direitos reprodutivos. O Brasil participou de ambas as conferências e foi um dos países signatários. “Setores que representavam o conservadorismo católico saíram como os principais derrotados dessas conferências e organizaram sua reação”, aponta Rogério. Um reflexo dessa reação envolveu a promoção da Teologia do Corpo, um conjunto de catequeses formuladas pelo Papa João Paulo II no início dos anos 1980. Tal pensamento entende o corpo – e não o
espírito – como o ponto de partida de nossa sexualidade, rejeitando, portanto, a ideia de gênero como construção social. Outro dispositivo promovido por setores conservadores da Igreja foi a criação do termo “ideologia de gênero”, que visou combater o discurso feminista contemporâneo, um dos “vencedores” das conferências realizadas no Cairo e em Pequim. O argumento era que tal “ideologia” representava uma ameaça à família natural, à reprodução e ao futuro da sociedade. “Esta contraofensiva retórica está presente em mais de 50 países com discursos muito parecidos”, aponta Rogério, destacando uma maior penetração em regiões de forte presença da religião católica, como a América Latina. No encerramento do congresso, a pesquisadora portuguesa Teresa Vilaça anunciou a realização da quinta edição do Congresso Internacional Sexualidade e Educação Sexual para o ano de 2019, na Universidade do Minho, na cidade de Braga, em Portugal, em data ainda a ser definida.
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Ciências Exatas
Upgrade no GridUnesp Cluster de computadores quadruplica capacidade de processamento e dobra capacidade de armazenamento Ricardo Aguiar
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GridUnesp, abrigado no Núcleo de Computação Científica (NCC) da Unesp, atualizou seu sistema com novos equipamentos e aumentou sua eficiência de processamento e capacidade de armazenamento de dados. A capacidade de processamento do cluster central quadruplicou, passando de 17 teraflops (TFlops) para 77 TFlops, e o número de cores por worker node foi de 8 para 28. O armazenamento do cluster dobrou seu espaço, passando para quase 300 terabytes (TB). O GridUnesp permite a pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação de todas as áreas da Unesp realizar simulações e trabalhos que exigem grande capacidade de processamento e armazenamento de dados. Ele foi implantado inicialmente com oito centros de computação em diferentes câmpus da Universidade, sendo que o cluster central de computadores está localizado no Câmpus de São Paulo. O GridUnesp acumula mais de 130 milhões de horas processadas, e contribui hoje com mais de 75 projetos de pesquisa ativos e mais de 420 usuários. A partir desse upgrade, o cluster central deverá
UTILIZAÇÃO DO SISTEMA
Porcentuais de uso do GridUnesp, segundo áreas do conhecimento
Evolução do número de usuários e projetos, desde 2010 concentrar as tarefas que requerem computação de alto desempenho, enquanto as unidades do interior deverão compor uma estrutura de
cloud computing para a Universidade. Essa estrutura está sendo implantada em conjunto com a Assessoria de Informática da Unesp.
O projeto GridUnesp teve início em fevereiro de 2004, inspirado pelo trabalho desenvolvido no São Paulo Research and Analysis Center (Sprace), projeto temático financiado pela Fapesp. Aprovado em novembro de 2003, o Sprace colocou em operação o seu cluster (BR-SPSprace) em março de 2004, conectado ao Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), nos Estados Unidos, para processar dados do experimento DZero, do Tevatron. Desde setembro daquele ano, o projeto passou a fazer parte também da colaboração Compact Muon Solenoid (CMS), um dos principais experimentos do Large Hadron Collider (LHC), o acelerador de partículas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). Hoje é um Tier-2 do Worldwide LHC Computing Grid (WLCG), responsável por processar, analisar e armazenar os dados produzidos pelo LHC. Em 2006 o projeto “GridUnesp: A Integração da Capacidade Computacional da Unesp” foi aprovado pela Finep. Dois anos depois, o GridUnesp estabeleceu uma parceria oficial com o Open Science Grid (OSG), tornando-se a primeira
Virtual Organization (VO) do OSG fora dos Estados Unidos: a GridUnesp VO. O GridUnesp foi inaugurado em setembro de 2009 junto ao NCC como a primeira estrutura de computação acadêmica a utilizar a arquitetura de grid na América Latina. Em novembro do mesmo ano, a equipe do NCC bateu o recorde de transmissão de dados entre os hemisférios norte e sul a partir do datacenter recém-inaugurado, que foi interligado a servidores instalados em Portland, Oregon, nos Estados Unidos. Um primeiro recorde já havia sido estabelecido pelo Sprace em 2004, e o recorde de 2009 foi quebrado novamente em 2016, quando a equipe do NCC transferiu dados a taxas próximas a 100 Gbps de São Paulo para Salt Lake City, nos Estados Unidos.
Mais informações sobre o GridUnesp em: <https://goo.gl/BCyoF1>. Pesquisadores e estudantes da Unesp que queiram utilizar o GridUnesp podem obter informação no link <https://goo.gl/gbZWLi>.
Pesquisadores se reúnem para discutir teorias quânticas Escola e workshop aconteceram no ICTP-SAIFR e renderão edição especial de periódico Ivan Cardoso
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ntre os dias 23 e 28 de outubro, o Instituto Sul Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), localizado no prédio do IFT-Unesp, Câmpus de São Paulo, recebeu dois eventos de caráter internacional e interdisciplinar que discutiram Density Functional Theory (DFT – Teoria Funcional da Densidade) e Quantum Information Theory (QIT – Teoria da Informação Quântica). Primeiro, entre os dias 23 e 26, aconteceu a School on Density Functional Theory and Quantum Information Theory. Nela, estudantes e pesquisadores
puderam se familiarizar com conceitos fundamentais das duas teorias e com a interseção entre elas, além de apresentarem suas pesquisas em duas sessões de pôster. “A ideia foi trazer profissionais das duas áreas e que também trabalham na interface entre elas”, disse o professor Alexandre R. Rocha, do IFT. Giovanni Vignale, professor da University of Missoury (EUA), abordou em suas aulas a Informação Quântica. Christian Schilling, pesquisador da University of Oxford (Inglaterra), atacou os temas da DFT. Enquanto Irene D’Amico, professora da University of
York (Inglaterra), abordou a interface entre as duas áreas. Entre os dias 27 e 28, aconteceu a segunda edição do Workshop on Density Functional Theory and Quantum Information Theory, que almejou reunir especialistas em QIT, DFT e pesquisadores trabalhando nas suas possíveis interfaces, permitindo a discussão dos novos desafios e desenvolvimentos nas áreas. Os participantes da escola também estiveram no workshop, e os trabalhos apresentados nos dois eventos estão sendo selecionados para publicação
em edição especial do Brazilian Journal of Physics. INTERFACE A DFT é usada como método de cálculo de propriedades de materiais e da física de sólidos, como os sistemas de muitos corpos (many-body systems) e de cálculos de densidade eletrônica. Já a QIT trata de armazenamento de informações em sistemas quânticos, combinando conceitos da mecânica quântica com aplicações tecnológicas. Por exemplo, a possibilidade de computadores e simulações quânticas, “bem como projetar novas nanoestruturas que tenham
as propriedades corretas para o dispositivo quântico desejado”, disse a professora D’Amico. A professora D’Amico assinalou que a DFT proporciona ferramentas para calcular propriedades de sistemas quânticos de interação crescente, bem como prevê propriedades quânticas de novos nanomateriais – e ambas são preocupações teóricas da QIT. Em contrapartida, a QIT aborda medidas de grandezas e propriedades intrínsecas da mecânica quântica (como o emaranhamento) que devem estar contidas em qualquer aspecto da física de materiais, campo de atuação da DFT.
Tecnologia
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Inovações em disputa AUIN organiza treinamentos e competição para contemplados em edital de inovação Marcos Jorge Fotos Marcos Jorge
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sala do Conselho Universitário da Unesp, no prédio da Reitoria, em São Paulo, recebeu no dia 7 de novembro o Innovation Challenge Day, competição organizada pela Agência Unesp de Inovação (AUIN) que reuniu os projetos contemplados no edital Acelerador Tecnológico 2017. As vencedoras foram as doutorandas Ana Carolina Nazaré e Daiane Anselmo, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), Câmpus de São José do Rio Preto, com o projeto de desenvolvimento de substâncias para combate de pragas na cultura de cítricos. Elas foram orientadas pelo professor Luis Octavio Regasini. O segundo colocado, o doutorando João Victor Gomes dos Santos, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), Câmpus de Bauru, apresentou o protótipo de próteses transtibiais de baixo custo feitas a partir de bambu. Ele teve como colaboradores os professores César Renato Foschini e Marco dos Reis Pereira. As duas propostas receberam R$ 5 mil e R$ 2,5 mil, respectivamente, para serem investidos no projeto. Realizado pela primeira vez, o Innovation Challenge Day foi a conclusão de um processo iniciado com o lançamento do edital Acelerador Tecnológico, em julho. Promovido há seis anos, o Acelerador visa selecionar e financiar com R$ 25 mil seis pesquisas desenvolvidas por docentes e pesquisadores da Unesp para realização de uma prova de conceito. A prova garante que se agregue à proposta vencedora a avaliação de sua viabilidade mercadológica. “Nesta edição, decidimos ir além e reunimos os participantes dos seis projetos contemplados no edital para treinamentos de Canvas e uma oficina de pitch”, explica Guilherme Wolff, assessor da AUIN. O Canvas é uma ferramenta de planejamento estratégico que orienta o empreendedor para desenvolver um modelo
Banca de avaliadores foi formada por pessoas próximas do tema
de negócio, enquanto o pitch é o momento em que o empreendedor precisa apresentar de forma sintética e direta sua proposta de negócio para uma banca de potenciais investidores. Para a competição, cada equipe teve 2 minutos para a veiculação de um vídeo sobre o seu projeto e 3 minutos de pitch, seguidos por 10 minutos de perguntas feitas pela banca, totalizando 15 minutos de apresentação. Para julgar os participantes, o evento contou com uma banca “simbólica”. INOVAÇÃO COMO PRIORIDADE Na abertura do evento, o reitor Sandro Valentini destacou que a inovação é um tema prioritário em sua gestão e que tal estratégia encontra respaldo no Marco Legal Paulista, assinado pelo governador Geraldo Alckmin em setembro, e nas demandas dos próprios alunos. “A realidade do trabalho está mudando muito rapidamente e os jovens já sentem essa transição”, afirmou o dirigente, apontando que a inovação e o empreendedorismo podem também abrir novas perspectivas aos professores. “É possível para um pesquisador ou um docente da Unesp também gerarem empregos, e não só procurarem empregos.” A posição foi endossada pelo diretor-executivo da AUIN, professor Sidney Ribeiro. “A atuação da agência visa colocar de fato a inovação dentro da dinâmica e do cotidiano da Universidade”, comentou.
AVALIADORES A banca “simbólica” foi formada por pessoas próximas do tema da inovação, como o consultor do Sebrae Leandro
Queiroz. Responsável pelo treinamento do pitch dos candidatos, o consultor vê os projetos que saem das universidades como de alto índice de inovação, mas ainda desconectados do mercado. “Os projetos em geral olham muito a solução em si, mas não a entendem como um produto e pouco pensam no cliente”, aponta Queiroz. “O grande xis da questão é transformar esse conhecimento da inovação em um produto.” Afrânio Pereira, superintendente do Santander Universidades, que também compôs a banca avaliadora, enfatiza que há uma vocação natural do país pelo empreendedorismo e que a inovação faz parte
desse processo. “Ao mesmo tempo, existe uma demanda importante do mercado de trabalho que vem se transformando. Desse contexto surgem demandas por novas soluções e as universidades estão atentas a isso, embora ainda um pouco descoladas da realidade do mercado”, aponta. Ana Carolina e Daiane já haviam participado de outras competições de inovação, como o InovaCampinas ou o BiotaFapesp. “Os cursos organizados pela AUIN foram os momentos em que a gente mais aprendeu. Mesmo nosso orientador, o professor Regasini, nunca tinha tido contato com a metodologia Canvas e ou com essa proposta de pitch”, destaca Ana Carolina.
PROPOSTAS VENCEDORAS 1.ª COLOCAÇÃO Ana Carolina Nazaré (apresentadora), Daiane Bertholin e Luis Octavio Regasini O grupo apresentou o Projeto Citra, uma tecnologia que busca o controle do cancro cítrico – principal responsável pela perda de produtividade na cultura cítrica – sem agredir o ambiente. O Brasil é hoje um dos principais produtores de laranja do planeta, com uma safra estimada de 365 milhões de caixas (de 41 quilos) para o próximo ano, gerando 200 mil empregos diretos. Há mais de 40 anos, o principal instrumento de combate é um composto produzido a partir do cobre, que causa alto impacto ambiental e tem sua eficácia diminuída ao longo do tempo. A tecnologia desenvolvida pelas doutorandas do Ibilce foi criada a partir da triagem de mais de 40 compostos químicos avaliados de acordo com a eficácia no combate às bactérias que causam o cancro cítrico e com a segurança para seres humanos, hortaliças e insetos polinizadores, como as abelhas. 2.ª COLOCAÇÃO João Victor Gomes dos Santos (apresentador), César Renato Foschini e Marco dos Reis Pereira
Ana Carolina (dir.) e Daiane: proposta contra cancro cítrico
Santos (centro), Foschini (dir.) e Pereira: prótese transtibial Amparado nos dados de que 80% das pessoas com deficiência são de baixa renda e 80 mil brasileiros são amputados anualmente, o projeto visa desenvolver próteses transtibiais de baixo custo construídas a partir do Bambu Laminado Colado (BLaC), um material leve, sustentável e dez vezes mais
barato que o das próteses convencionais. O desenvolvimento do protótipo, que obedece aos requisitos de segurança da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Organização Internacional de Normalização (ISO), envolveu pesquisadores das áreas de design, fisioterapia e engenharia do Câmpus de Bauru.
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Reportagem de capa
POR UM NOVO ENSINO Workshop em Bauru voltado à reflexão sobre o ensino de graduação propõe movimento para revisão e modernização dos currículos Marcos Jorge Fotos Marcos Jorge
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Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) promoveu nos dias 16 e 17 de novembro, em Bauru, o Workshop Ensino da Graduação na Unesp – Refletindo a nossa Graduação: Possibilidades e Desafios. O evento reuniu aproximadamente 160 pessoas entre coordenadores de cursos, servidores técnico-administrativos e diversos parceiros da Prograd para uma análise aprofundada do conhecimento oferecido aos graduandos e também para iniciar um movimento de revisão da estrutura curricular dos cursos da Universidade. Entre os principais pontos em debate está a intenção de destravar e atualizar os currículos dos cursos de graduação visando à incorporação de atividades relevantes para a formação acadêmica que ainda não são devidamente creditadas, bem como o esforço para agregar novas ferramentas e tecnologias às práticas de ensino. “Eu gosto de usar a palavra movimento porque esse é um processo dinâmico, que tem começo, mas que não tem necessariamente um fim. Nós não esperamos que cesse a busca pela inovação e pela qualidade no currículo dos alunos”, ressaltou a professora Gladis Massini-Cagliari, próreitora de Graduação. “Nesse contexto, é fundamental ressaltar a importância dos coordenadores de cursos e seu papel como gestores. São eles os responsáveis por levar a proposta de volta para seus respectivos departamentos e promover esse debate.” Para o reitor Sandro Roberto Valentini, que também esteve presente ao evento, a modernização do currículo não foca na preparação do aluno para o mercado, uma vez que a instituição não tem capacidade de projetar como será esse mercado de trabalho daqui a dez anos. “A Universidade precisa se preocupar em formar jovens que saibam resolver problemas concretos
Encontro reuniu cerca de 160 pessoas, entre coordenadores de cursos, servidores técnico-administrativos e parceiros da Prograd
e que sejam flexíveis. A personalização do currículo irá ajudar a formar esse profissional capaz de se adaptar ao mercado”, aponta. Além de docentes, estiveram presentes servidores das Diretorias Técnico-Acadêmicas e das Seções Técnicas de Graduação, membros da Câmara Central de Graduação (CCG), além de diversos parceiros da Prograd, entre os quais o Cenepp, o NEaD, a TV Unesp, a CGB, a AUIN e a AREX.
UM CASO NA UNESP Rever a estrutura curricular não é tarefa fácil, mas o evento em Bauru apontou alguns caminhos para a revisão curricular por meio da apresentação de experiências bem-sucedidas dentro e fora da Universidade. Uma dessas experiências foi relatada pelo professor Antônio César Germano Martins, do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) do Câmpus de Sorocaba da Unesp. Em 2011, os docentes
iniciaram uma discussão para alterar o Projeto Político-Pedagógico (PPP) do curso de Engenharia Ambiental. Uma das motivações principais foi a revisão da carga horária dos estudantes, tida como muito pesada e um obstáculo para que os alunos realizassem outras atividades fora da sala de aula, como projetos de iniciação científica ou de extensão. Em 2014, um grupo de professores do curso foi contemplado em um edital de
Coordenadores de cursos se reuniram para discutir temas e propor iniciativas de revisão curricular
visita docente para observar práticas e propostas inovadoras na graduação no âmbito do Programa de Graduação Inovadora da Prograd. A viagem incluiu visitas a instituições renomadas como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a Universidade de Yale e a Universidade de Princeton. “Nós vimos algumas coisas interessantes que trouxemos para o curso, mas principalmente notamos que os currículos naquelas universidades eram muito mais enxutos que os nossos”, explica Martins, que há 15 anos leciona na unidade. “Isso deu força à proposta de revisão no sentido de mostrar como eram os currículos nas melhores universidades de Engenharia do mundo.” A proposta, concluída em 2016, incluiu enxugamento do currículo para uma carga horária total do curso de 3.600 horas, sendo um máximo de 26 horas semanais, além de creditar a Iniciação Científica como uma disciplina. Antes da reforma, os alunos chegavam a ter oito horas de aula em alguns dias da semana. Também foi criado um mecanismo que contabiliza o envolvimento do estudante em atividades culturais, esportivas, sociais ou de extensão, exigindo 150 horas dessas atividades ao longo dos cinco anos de curso.
Reportagem de capa REVISÃO NA USP E UNICAMP Outro exemplo de revisão curricular foi apresentado pelo professor Luiz Fernando Ferraz da Silva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. A proposta também visou à diminuição da carga horária total do curso, que acabou reduzida de 11.800 para 8.400 horas. A iniciativa também diminuiu a oferta de disciplinas de 109 para apenas 42. “A conscientização e o envolvimento dos professores foi o fator mais determinante para que essa revisão curricular tivesse sucesso”, apontou. A discussão da reforma foi um processo que durou quase quatro anos até a implantação e envolveu, por exemplo, a integração de disciplinas, que passaram a ser ministradas por mais de um professor, e a incorporação de tecnologias que deram autonomia aos alunos, como a disponibilização dos conteúdos de todas as disciplinas na plataforma gratuita do Google Class. As reformas nos cursos de Engenharia Ambiental do ICT da Unesp e de Medicina na USP tiveram em comum o longo período desde sua elaboração até a aplicação. A questão do tempo no processo de inovação curricular foi abordada pela professora Beatriz Jansen, que participou de processo semelhante no curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Para a docente, o caminho daquilo que é vigente até chegar ao objetivo imaginado não é simples nem tampouco costuma seguir fielmente um planejamento. “Existe um período de transição que envolve tempos diferentes das pessoas envolvidas e da Instituição. Esse tempo é necessário para que as pessoas possam se acostumar e, mais que isso, aderir ao projeto e se sentirem pertencentes ao mesmo”, explica Beatriz, que também participou do projeto de elaboração dos cursos do Câmpus de Limeira da Unicamp. TECNOLOGIAS A inserção de novas tecnologias na oferta curricular foi o assunto abordado pelo professor Klaus Schlünzen Junior. Para o coordenador de Gestão do Núcleo de Educação a Distância (NEaD) da Unesp, vivemos um momento especial, porque nunca houve tantos e tão acessíveis recursos para
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Caso bem-sucedido de Sorocaba foi analisado por Martins
Para Silva, apoio docente garantiu revisão na Medicina da USP
Schlünzen abordou inserção da tecnologia em mudança curricular
Segundo Beatriz, adesão de pessoas a novo projeto exige tempo
Inovação no currículo é processo contínuo, enfatiza Gladis
Valentini apoia formação flexível, voltada para questões concretas
serem aplicados à educação. “Antigamente, o professor era nosso principal meio de acesso à informação. Hoje, as tecnologias assumem esse papel”, argumenta o coordenador, indicando que, ao passo que abre oportunidades, esse novo cenário também impõe desafios ao professor para inovar na forma de ensinar. Durante o encontro, foi apresentada a estrutura disponível no NEaD, com destaque para a possibilidade que o Núcleo oferece para os professores elaborarem disciplinas ou cursos oferecidos por meio de um ambiente virtual de aprendizagem, o Moodle. Klaus explica que o recurso hoje é bastante utilizado para o ensino de Libras para os cursos de licenciatura, conteúdo exigido por meio de decreto federal desde 2005. “O oferecimento da disciplina era muito complicado não só pela viabilidade econômica de uma universidade multicâmpus como a nossa, mas pela dificuldade de encontrar esse profissional de Libras”, aponta. Nesse caso, a solução encontrada pela Prograd para superar essas dificuldades foi a criação do curso, que está atualmente em sua sétima edição, com 900 alunos matriculados.
MOBILIDADE VIRTUAL Klaus admite que o processo de aproximação direta entre o NEaD e o docente ainda depende muita da iniciativa dos professores de procurarem o Núcleo, que em seguida oferece o apoio técnico e tecnológico para viabilizar a oferta do curso ou disciplina via Moodle. Foi o que fez o professor José Carlos Oliveira, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) do Câmpus de Franca da Unesp. O professor de Direito leciona a distância, via Moodle, um curso de Ciências Jurídicas e Sociais para duas turmas de Engenharia de Ilha Solteira e São João da Boa Vista, num total de 75 alunos. A disciplina, semestral, é obrigatória e tem carga horária de 36 horas/aula. “A legislação ambiental é muito extensa, mas nós fazemos um recorte específico para esse grupo em que os alunos aprendem normas, resoluções e, principalmente, onde buscar essas informações, instrumentalizando esse estudante”, explica Oliveira, que pretende ampliar a oferta para outros cursos no próximo ano. O professor acredita, inclusive, que a forma a distância fornece mais
competências ao aluno que a presencial. “O nosso formato de curso remoto exige que o estudante, a cada duas semanas, participe de debates com os colegas via chat, em ambientes onde é estimulado o debate por um tutor”, explica Oliveira. Antes da disciplina de Ciências Jurídicas e Sociais, o docente lecionou um curso de capacitação sobre licitações para servidores técnico-administrativos da Universidade, usando a mesma ferramenta Moodle. CONCLUSÕES E PRÓXIMOS PASSOS Ao término do evento, os coordenadores de cursos foram reunidos em grupos para discutir os temas tratados no workshop e propor iniciativas de revisão curricular. Algumas inquietações surgiram a partir desse debate, como a necessidade de destravar processos burocráticos que envolvem a revisão dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP), da mesma forma que foi apontado que a crise econômica não deve ser o motor da revisão desses projetos. Outra questão levantada pelos grupos é que, se por um lado a formação do aluno deve priorizar conceitos de cidadania e ética ao invés da preparação para o mercado,
alguns cursos demandam a presença nos departamentos desses profissionais atuantes no mercado. Para fomentar as iniciativas de revisão curricular, a Prograd tem tornado o SisGrad mais flexível, permitindo, por exemplo, que estudantes se matriculem em disciplinas de outros cursos e a oferta de cursos virtuais, semipresenciais ou outros formatos de disciplinas (concentradas nos períodos de férias, por exemplo). Em sua fala final, a pró-reitora Gladis afirmou que o debate da revisão curricular continuará, inclusive envolvendo outros pró-reitores, por exemplo, na questão de melhor creditação de atividades de extensão e pesquisa e na integração com a pós-graduação. Esse debate se concretizará na realização de um segundo workshop geral, previsto para abril ou maio de 2018, que deverá ser seguido por um trabalho mais focado setorialmente, em áreas específicas. “Este é um processo que demora um certo tempo, mas que deve congregar todos os docentes e envolver também o corpo discente, afinal o foco da nossa reforma deve ser sempre o aluno”, concluiu.
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Tecnologia
Guiando a nova ciência Congresso de Iniciação Científica da Unesp reúne 400 trabalhos e homenageia orientadores Marcos Jorge Fotos Marcos Jorge
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cidade de Bauru recebeu nos dias 22 e 23 de novembro a 29.ª edição do Congresso de Iniciação Científica (CIC) da Unesp. O evento reuniu 401 projetos e foi a fase final de um processo que envolveu 3.607 estudantes de todas as unidades da Universidade. Além de prêmios para os dez melhores trabalhos em cada área, o CIC 2017 também homenageou os orientadores que obtiveram mais bolsas nos últimos dez anos. Presente na abertura do evento, o vice-reitor Sergio Nobre ressaltou que a iniciação científica é um momento em que os estudantes podem exercitar a criatividade científica. “É na cabeça dos jovens onde brilham as melhores ideias. Esse momento de inspiração científica deve ser aproveitado porque é por meio dela que a ciência avança”, apontou o gestor. Maria Isabel Camargo, assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa, trabalha há 20 anos no CIC e esteve em Bauru representando o pró-reitor Carlos Graeff. “Em todos esses anos noto muita coisa que mudou no CIC, exceto a qualidade dos trabalhos e a paixão dos alunos pela pesquisa”, afirmou. ORIENTADORES HOMENAGEADOS Este ano, a organização do CIC prestou homenagem aos docentes que mais tiveram bolsas captadas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do CNPq, nos últimos dez anos (2008-2017). Luiz Carlos Paschoarelli, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), em Bauru, foi apontado na área de Humanas (22 bolsas aprovadas), Jorge Luis Akasaki, da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS), foi o homenageado na área de Exatas (22 bolsas) e Carlos Alberto de Souza Costa, da Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr), foi o escolhido na área de Biológicas (20 bolsas). Souza Costa soma 142 orientações em iniciação científica, entre alunos contemplados com bolsas
ou não. “Muitas vezes no decorrer do curso esse aluno se interessa por outra área, mas é importante que ele aplique os conceitos que você transmite de forma ética e responsável onde ele estiver. Nem todos serão docentes ou pesquisadores, mas certamente serão melhores profissionais”, aponta. Neste ano, dois de seus orientandos estiveram em Bauru, na fase final do CIC, sendo que Filipe Koon Wu Mon conquistou o primeiro lugar na área de Biológicas [ver box].
Evento apresentou 401 projetos, finalizando processo que envolveu 3.607 estudantes de toda Unesp
VENCEDORES
BIOLÓGICAS Engenharia tecidual na recuperação da polpa dentária Filipe Koon Wu Mon foi o vencedor na área de Biológicas com um projeto que envolve reparação da polpa dentária e biocompatibilidade de materiais dentários. “A área da saúde tem englobado, ultimamente, conhecimentos multidisciplinares no intuito de promover a regeneração de um tecido danificado de uma forma mais eficiente. Um deles é a engenharia tecidual, foco do meu trabalho, que se baseia em três pilares: o uso do biomaterial, as células precursoras e a substância bioativa”, afirma. O estudante, que está no segundo ano na Faculdade de Odontologia (FO), Câmpus de Araraquara, avaliou o potencial de um biomaterial à base de quitosana associado a uma droga bioativa (sinvastatina) para atrair células-tronco que auxiliam na deposição de uma barreira mineralizada protegendo o remanescente da polpa dentária prejudicado pela cárie. Atualmente, a recuperação da polpa utiliza o hidróxido de
cálcio, que promove a necrose do tecido, um tratamento agressivo para o organismo. Essa foi a primeira vez que Filipe participou do CIC. Ele integra o grupo de pesquisa Propriedades Físico-Química, Mecânica e Biológica dos Materiais Dentários, liderado pela professora Josimeri Hebling Costa e pelo professor Souza Costa.
EXATAS Transporte da lama no desastre do Rio Doce O primeiro lugar na área de Exatas abordou a tragédia ambiental que atingiu a cidade de Mariana, em Minas Gerais, em 2015. “Modelos de transporte de massa aplicados ao desastre do Rio Doce” é o nome do projeto apresentado pela aluna Camila Marques dos Reis da Silva, do terceiro ano de Engenharia Ambiental, de Rio Claro, sob orientação do professor Nelson Caligari Jr. e a colaboração do professor Jamil Viana Pereira. “Esses modelos matemáticos são aplicados
para prever o tempo que uma substância qualquer leva para ser transportada pelo rio ou pelo ar, por exemplo”, afirma a aluna, que levantou dados junto à Agência Nacional de Águas (ANA), ao Ibama e em pesquisas bibliográficas para preencher os 25 parâmetros exigidos pelo modelo. Os modelos foram precisos em apontar, por exemplo, o tempo em que a lama chegaria à foz do rio, mas encontrou discrepâncias quanto ao prazo necessário até o rio estar limpo novamente: enquanto um modelo apontou 10 anos, o outro registrou apenas dois meses. “Quando a gente fala de modelagem, é preciso entender que sua função é simplificar a realidade e traduzi-la em equações matemáticas para conseguir interpretar essas informações”, afirma Camila, que pretende ainda fazer mestrado e doutorado.
HUMANAS Atratividade e escolha da tatuagem Recém-formado no curso
de Design na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, em Bauru, Thiago Pestillo Seles investigou por meio da aplicação de questionários e entrevistas a preferência estética e simbólica por determinados estilos de tatuagem em três grupos de participantes: indivíduos sem tatuagem; indivíduos com uma a três tatuagens e indivíduos com mais de três tatuagens. O trabalho foi feito sob orientação da professora Luana Maribele Wedekin e motivado pelo interesse do aluno por tatuagem e pelo campo da pesquisa. Para Thiago, o tema da tatuagem lida com o corpo e a sua exposição dentro de uma série de implicações, como sua função social e o estabelecimento de diálogos não-ditos, além de ser permeado por critérios subjetivos. “Assim como os gêneros musicais, por exemplo, o tipo de tatuagem também está bastante sujeito ao seu tempo”, explica. Ao longo do desenvolvimento do projeto, Thiago buscou bibliografia na área de semiótica, sociologia, história da arte e até dermatologia. “Eu realmente não esperava o prêmio, mas aprendi muito com essa experiência em pesquisa. Eu vejo como mais uma oportunidade que a Unesp me deu pra tentar um mestrado”, aponta.
Cultura
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África que ecoa no Brasil Seminário Preparatório da Bienal Afro-Brasileira do Livro debate valor da diversidade étnica Oscar D’Ambrosio Fotos Amanda Fernandes
Nascimento, Maria Cecília e Gabriel interpretam o Hino Nacional
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ias 13 e 14 de dezembro, o auditório da Editora Unesp, em São Paulo (SP), recebeu o Seminário Preparatório para a Bienal Afro-Brasileira do Livro, evento que tem como objetivo alavancar a leitura de escritores que em seus textos retratam o imaginário, a história e a universalidade de elementos da cultura brasileira. O tema dos debates foi “Educação para a Diversidade”. “A Bienal busca promover a consciência sobre a diversidade étnica e o reconhecimento da contribuição dos povos africanos na formação da identidade nacional, conforme as políticas públicas que visam ao combate à discriminação racial, ao apoio à igualdade de oportunidades e às reparações, como contempla a Lei 10.639/2003”, diz Eufrasio Nascimento, diretor social da Fundação Novos Baianos e coordenador do evento. “Com apoio da Secretaria Estadual da Cultura, esse projeto vem para fortalecer a cidadania contemplando várias heranças culturais, chamando a atenção para questões sociais atuais e para defender a preservação das nossas expressões artísticas nas mais diferentes linguagens e formas de manifestação”, complementa a professora Cintia Gabriel, que coordenou a mesa de debates realizada dia 13 de dezembro. A programação teve palestras, rodas de conversa e apresentações musicais que desenvolveram e aprofundaram
assuntos étnico-raciais do cotidiano e das manifestações artísticas populares, com foco na necessidade de estimular e fomentar o processo literário e a formação de novos talentos. POLÍTICA DE COTAS Na abertura, o percussionista Dinho Nascimento, acompanhado da esposa Maria Cecilia, e de Gabriel Nascimento, tocou o Hino Nacional Brasileiro em arranjo para berimbau e percussão. No dia seguinte, o casal realizou uma breve apresentação e participou de uma roda de conversa. Assessor da Pró-reitoria de Extensão Universitária, Juarez Xavier representou a pró-reitora Cleopatra da Silva Planeta no seminário e lembrou que esse tipo de evento é parte da reparação dos saberes e fazeres da cultura negra. “É significativo que este seminário ocorra na Unesp, pioneira na política de cotas
Faustino (esq.) e Camargo destacaram papel da literatura africana entre as universidades estaduais públicas paulistas”, disse. “As cotas foram transformadoras para nós, num contexto em que acreditamos que a diversidade é uma nova forma de visualizar o mundo. Nesse sentido, a gestão que assumiu a reitoria da Unesp em janeiro último criou o projeto ‘Educando para a Diversidade’, que tem alguns pilares”, completou. Entre esses pilares, Juarez destacou a convicção de que a universidade não é o único espaço para construção do conhecimento. “Mapear terreiros de candomblé, rodas de capoeira e grupos organizados da sociedade brasileira que lidam com os produtores de saberes negros, por exemplo, é muito importante para nós”, declarou. ÁFRICA, FONTE DE INSPIRAÇÃO Primeiro conferencista do dia, o escritor Oswaldo Camargo
Roda de conversa debateu questões como fomento à literatura
discorreu sobre o tema “África: mãe e tema na literatura negra brasileira”. Camargo alertou para os preconceitos existentes na imagem disseminada da África pagã e rústica, inserida num contexto de ocultamento do homem, inclusive da existência, na Bíblia, de um profeta negro, Sofonias. Na sua fala, o escritor louvou escritores negros e autores que se referem à África, trazendo à tona histórias escondidas. “O descontentamento é uma fonte de criação. Nesse sentido, Luis Gama (1830 -1882) pode ser considerado o iniciador da literatura negra no Brasil, enquanto grandes escritores, como Machado de Assis e Mário de Andrade, não discutiram essa questão de identidade”, disse Camargo, que no dia seguinte lançou o livro Luz e breu. O jornalista e escritor Oswaldo Faustino, por sua vez, tratou do tema “Reeducando o olhar para a africanidade: entre griots e baobás”. Discutiu a resiliência da cultura negra no sentido de mostrar a capacidade de se superar e de converter o trágico em alimento para ter mais força e orgulho das origens. Faustino apontou ainda o papel da literatura para dar visibilidade às muitas Áfricas que existem, com suas histórias e culturas, incluindo a diáspora. “Observo a ausência de crianças negras na literatura infantil, por exemplo. Quem não se vê não se reconhece nem se identifica, mergulhando na baixa estima e no desinteresse por si mesmo e
pelo outro”, analisou. “Isso explica o sucesso da literatura periférica, que lança um outro olhar sobre o Brasil e obriga a refletir sobre conhecimentos cristalizados.” IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE Dia 14 de dezembro, ocorreu a conferência com Hélio Santos. Fundador do Instituto Brasileiro da Diversidade, ele assinalou que nunca se falou tanto em diversidade e, paradoxalmente, nunca ela teria sido tão desrespeitada. “A escola pode e deve atuar para que os cidadãos reconheçam e valorizem a enorme diversidade brasileira”, comenta. Santos finalizou argumentando que a diversidade não aparece nos livros didáticos, que têm como padrão as crianças brancas, reforçando a ideia de que o país é harmonioso e feliz, não havendo qualquer tipo de preconceito. “Livros didáticos são essenciais. Deixam marcas para toda a vida. Por isso, a Bienal do próximo ano é muito importante. Ela pode ajudar a pensar as relações entre aqueles que são diferentes”, finalizou. Ao encerrar o evento, Juarez Xavier mencionou a importância de a universidade estar atenta para a pluralização de saberes. “Um berimbau, por exemplo, tem envolvidas em sua concepção questões físicas, culturais e simbólicas. Por isso, sugiro que seja o símbolo da Bienal, programada para novembro próximo, e que as discussões tenham como um de seus eixos a mulher negra, vinculada, é claro, à imagem da África como mãe da humanidade”, concluiu.
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Geral
Parceria Unesp/Santander foca cinco áreas Empreendedorismo, diversidade, língua inglesa, saúde e sustentabilidade são destaques Renato Coelho Xxxxxxxx
Encontro de representantes da Unesp e do banco: colaboração de R$ 11 milhões é fruto de diálogo que beneficia a Universidade e a comunidade em que ela se insere
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mpreendedorismo e Inovação, Educação para a Diversidade, Saúde, Fomento ao Domínio da Língua Inglesa e Sustentabilidade Energética são os principais temas dos cinco projetos resultantes de parceria entre a Unesp e o Banco Santander, assinada em agosto, que envolve R$ 11 milhões. “A gestão financeira de cada programa vem sendo feita por uma plataforma semelhante à do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Universidade. Isso garante transparência em todo o processo, que envolve metas mensuráveis, planejamento de ações, forma de implementação e prazos”, diz Carlos Eduardo Vergani, chefe de Gabinete da Unesp e gestor da parceria. PROMOVER A CULTURA DO EMPRENDEDORISMO E INOVAÇÃO NA UNESP O Programa consiste em difundir e incentivar a cultura empreendedora e inovadora dentro da Unesp, visando preparar a comunidade universitária para atuar em um mundo global altamente complexo, dinâmico e competitivo, que demanda criatividade, inovação e empreendedorismo. “Nossas prioridades são ampliar e difundir a cultura empreendedora e inovadora junto aos alunos, professores e pesquisadores, visando inspirar, conectar e capacitar agentes para atuar em ações que englobam o
desenvolvimento da extensão tecnológica, do ensino inovador e empreendedor e de uma pesquisa aplicada e próxima às necessidades da sociedade”, diz o gestor do Programa, Guilherme Wolff Bueno, da Agência Unesp de Inovação. No momento, o Programa está voltado para o diagnóstico das ações e dos atores que atuam com empreendedorismo e inovação na Unesp, a estruturação de uma proposta de disciplina de Empreendedorismo e de um edital com competições científicas para graduação e pós-graduação em 2018. PROGRAMA EDUCAR PARA A DIVERSIDADE O Programa entende o multiculturalismo como um imperativo ético imprescindível para as universidades de classe internacional. “A pluralidade de ideias, opiniões, pontos de vista e concepções estimula a pesquisa e a investigação científicas, propicia a educação e a cultura para a diversidade e promove a igualdade de pessoas vítimas de estereótipos de gênero, étnico-racial, religião, origem, idade, situação social, econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero, como pessoas travestis, transexuais e com deficiências”, afirma o gestor do programa, Juarez Tadeu de Paula Xavier, assessor da Pró-reitoria de Extensão Universitária. Os objetivos do Programa incluem ressoar em todas
as dimensões da gestão os processos de aprendizagem, com foco na educação para a diversidade; identificar os grupos sociocêntricos de pessoas autodeclaradas; e mapear os recursos tangíveis e intangíveis para a educação e a cultura da diversidade. As prioridades são a criação do Portal da Diversidade; a realização da pesquisa sobre as ocorrências de ações violentas; e a instalação dos Centros de Apoio às Vítimas de Intolerâncias, Discriminações e Ameaças nos câmpus com maior incidência de registros. PROGRAMA BEM VIVER PARA TOD@S O objetivo do Programa é oferecer a todas as unidades universitárias e câmpus experimentais da Unesp, de maneira criativa, inovadora e cooperativa, oportunidades para a construção do “bem viver” como um valor junto a toda a comunidade unespiana. “Será implementado por meio de ações específicas no ambiente de trabalho e de formação, que promovam a saúde, a integração social, os relacionamentos interpessoais e o desenvolvimento das capacidades humanas”, informa a gestora do Programa, a pró-reitora de Extensão Universitária, Cleopatra da Silva Planeta. O projeto envolve ações integradas de atividades esportivas, culturais e de educação em saúde no sentido de aprimorar as vivências dos servidores e discentes
nos câmpus da Unesp, numa perspectiva de promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida. PROGRAMA LÍNGUA INGLESA NA UNESP O Programa tem como principais objetivos aumentar o nível de proficiência dos alunos da Unesp para que possam compreender textos em inglês com mais facilidade, apresentar suas pesquisas em congressos internacionais, interagir com pesquisadores estrangeiros e participar de intercâmbios internacionais. “Além dos alunos, o programa também oferecerá cursos específicos para servidores docentes e técnico-administrativos”, informa a gestora Paula Tavares Pinto, coordenadora do Programa Idioma Sem Fronteiras. PROGRAMA SUSTENTABILIDADE – GESTÃO ENERGÉTICA DA UNESP O Programa tem como principais objetivos implantar um sistema de gestão energética na Unesp, baseado na aquisição de energia no ambiente de contratação livre – mercado livre; educar os usuários para o uso inteligente da energia, definir padrões técnicos para equipamentos, implementar ações de eficiência energética, mitigar o desperdício e inserir fontes renováveis de energia elétrica na matriz da Universidade. “O programa de gestão
energética consiste em uma série de ações e medidas de caráter técnico, gerencial e comportamental, que visam diminuir o consumo de energia e buscam a sustentabilidade energética da Unesp”, explica o gestor do programa, o pró-reitor de Planejamento Estratégico e Gestão Leonardo Büll. Entre as ações em andamento, o pró-reitor destaca a contratação, via licitação, de consultoria especializada para elaboração de estudo de viabilidade econômica para migração futura das unidades consumidoras da Unesp para o ambiente de contratação livre – mercado livre; e a elaboração e a publicação de manual para aquisição de aparelhos de ar-condicionado, com alta eficiência energética e normatizados pelo Inmetro; e de manual técnico para substituição de lâmpadas fluorescentes por lâmpadas LEDs. “Essas ações mostram como uma empresa pública, como a Unesp, e uma privada, como o Santander, com histórias, crenças e culturas distintas, podem criar espaços para o entendimento e o acordo, selando relações duradouras e que tragam benefícios não apenas para a Universidade, mas para a comunidade na qual ela se insere. Os cinco projetos frutos dessa parceria contribuem para o fortalecimento da comunidade acadêmica em todas as dimensões, da pessoal à profissional”, conclui o reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini.
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Conselho Universitário homenageia reitores
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Unesp tem novos membros na Academia de Ciências Divulgação
Fotos Amanda Fernandes
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ois acadêmicos que ocuparam o cargo de reitor da Unesp foram homenageados pelo Conselho Universitário no dia 7 de dezembro, na Reitoria, em São Paulo. Na cerimônia, ocorreu o descerramento na Galeria dos Reitores do retrato do professor Julio Cezar Durigan, falecido no dia 8 de setembro, cujo mandato se estendeu de 2013 a 2016. Houve também a concessão de título de professor emérito a Antonio Manoel dos Santos Silva, que esteve à frente da Reitoria entre 1997 e 2000. Durigan formou-se engenheiro agrônomo em 1975 pela Faculdade de Agronomia de Jaboticabal, que se tornaria um dos institutos integrantes da Unesp. Realizou o mestrado na Universidade e o doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, especializando-se na área de ervas daninhas. Entre outros cargos, ocupou a direção da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal e a vice-presidência da Associação Universitária Iberoamericana de
Pósgrado. Foi membro titular do Conselho da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais, do Conselho da Rede de Administradores de Universidades Iberoamericanas e dos conselhos curadores do Memorial da América Latina–São Paulo e da TV Cultura da Fundação Padre Anchieta. Formado em Letras pela Universidade Federal do Paraná, em 1965, Antônio Manoel inicialmente atuou como professor na rede pública daquele Estado. Dois anos depois, ingressou como docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto (FAFI), que viria a fazer parte da Unesp em 1976. Em 1972, tornou-se doutor em Letras, e, em 1979, livre-docente em Literatura Brasileira, pela Unesp, onde atingiu o status de professor titular em 1983. Foi o principal articulador da proposta de criação do curso de bacharelado em Letras com Habilitação de Tradutor, no Câmpus de São José do Rio Preto.
Antonio Manoel, ao lado da filha e da esposa, durante a homenagem
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Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) deu posse a 24 novos membros, numa cerimônia realizada dia 13 de dezembro, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na capital paulista. Entre os empossados estão dois pesquisadores da Unesp: Carlos Frederico de Oliveira Graeff, pró-reitor de Pesquisa e professor da Faculdade de Ciências (FC) do Câmpus de Bauru, e Maria Valnice Boldrin, docente do Instituto de Química (IQ), Câmpus de Araraquara. A Aciesp reúne cerca de 400 cientistas, que são responsáveis por convidar os novos membros. O pró-reitor Graeff diz que recebeu com grande satisfação o convite dos colegas. “A Aciesp está num processo de transformação, buscando aumentar a representatividade da pesquisa no Estado de São Paulo”, comenta. “Para isso, convidou nomes que têm dado sua contribuição tanto do ponto de vista científico quanto da gestão da ciência.” A professora Valnice ressalta que a Academia reúne os mais destacados cientistas do Estado. “O convite para integrar a Aciesp é o reconhecimento por um trabalho de pesquisa que tem impacto internacional, de geração de conhecimento e de formação de recursos humanos”, afirma. “Também me sinto orgulhosa por ter sido convidada sendo uma cientista, já que as pesquisadoras ainda são menos reconhecidas em nosso país, embora a situação esteja mudando.” A mesa da cerimônia foi
Graeff: entidade tem convidado cientistas e gestores da ciência composta por Orlando Bolçone, presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação da Alesp; Marcos S. Buckeridge, presidente da Aciesp; Vanderlan Bolzani, professora do IQ da Unesp de Araraquara, vice-presidente da Aciesp e da SBPC; Hamilton Varela de Albuquerque, diretor-executivo da Aciesp; além da homenageada da noite, Helena Nader, presidente de honra da SBPC. Daniel Patire
Familiares descerram retrato de Durigan, na Galeria dos Reitores
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Convite mostra reconhecimento crescente de mulheres, diz Valnice
SEMPRE UNESP
Livro aborda prática clínica com equinos Divulgação
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o final de 2017, foram lançadas as versões e-book e impressa do livro Manual of Clinical Procedures in the Horse, que tem como uma de suas organizadoras a médica veterinária Lais Rosa Rodrigues Costa, ex-aluna e residente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, Câmpus de Botucatu. Lançada pela editora Wiley Blackwell, a obra é um
Laís, ex-aluna e residente da FMVZ, com o professor Aguiar guia detalhado para a prática clínica com equídeos. O livro apresenta informações sobre
80 procedimentos clínicos, desde princípios básicos de contenção até procedimentos especializados. Em cada procedimento estão incluídas informações sobre potenciais complicações, utilização de equipamentos e métodos de contenção recomendados. Mais de 1.100 imagens ilustrativas estão distribuídas pelas 680 páginas da publicação. Lais Costa graduou-se em Medicina Veterinária pela
FMVZ em 1987. Foi residente na área de Cirurgia de Grandes Animais da Faculdade. Atualmente, é médica veterinária de equídeos no William Pritchard Veterinary Medical Teaching Hospital, da School of Veterinary Medicine da University of California – Davis, nos Estados Unidos. Sua parceira na organização da obra é a médica veterinária Mary Rose Paradis, professora na Cummings School of Veterinary Medicine da
Tufts University, em Massachusetts, nos Estados Unidos. O professor Antonio José de Araujo Aguiar, do Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ, é autor de três capítulos do livro.
Mais informações sobre o livro em: <https://goo.gl/ZJCen2>.
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Alunos
Prêmio na França Doutoranda destaca-se em evento sobre nanomateriais em Paris e é homenageada em Araraquara Divulgação
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luna de doutorado do programa de pós-graduação em Química do Instituto de Química (IQ) da Unesp de Araraquara, Ana Flávia Suzana obteve o prêmio de melhor apresentação oral na International Conference on Novel Nanomaterial: engineering and properties, evento que aconteceu em Paris, na França, entre 18 e 20 de outubro. Pela premiação, Ana Flávia recebeu homenagem da Câmara Municipal de Araraquara, no dia 31 de outubro. “Eu fiquei muito feliz com a premiação; vejo isso como uma maneira de divulgação científica do nosso trabalho
e espero que possa, de alguma maneira, motivar outras pessoas”, afirma a pós-graduanda. “Ainda mais num momento como esse no Brasil, no qual a abrupta redução no investimento em ciência e tecnologia tem nos preocupado cada dia mais.” Ana Flávia é orientada pela professora Sandra Helena Pulcinelli, do Departamento de Físico-Química do IQ, e por Florian Meneau, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas. Em seu doutorado, ela trabalha com a radiação sincrotron – energia que compreende uma ampla faixa do espectro eletromagnético, desde radiação infravermelha
Ana Flávia analisa nanopartículas de ouro com radiação sincrotron até raios X – para o estudo de nanopartículas de ouro que são utilizadas como catalisadores. Ana Flávia explica que os catalisadores são usados para aumentar a velocidade de uma reação química. “Estima-se
que 90% dos produtos gerados na indústria química utilizam catalisadores em alguma etapa da sua produção, o que torna necessária a constante aprimoração no processo de produção de catalisadores”, assinala. Em seu doutorado, analisa o uso das nanopartículas de ouro como catalisadores que provocam a oxidação do monóxido de carbono (CO), um gás tóxico gerado pelos automóveis e indústrias, entre outros fatores, para a produção de CO2, que pode ser depois transformado em produtos de alto valor agregado. A professora Sandra ressalta que a proposta do trabalho é promover a catálise à base de
nanopartículas de ouro para compreender o mecanismo da transformação do CO em CO2. “Esse conhecimento poderia levar à compreensão de outros processos semelhantes”, destaca. A orientadora também assinala as implicações ambientais do trabalho: “Nós livramos a atmosfera de um gás tóxico, o CO, produzindo o CO2, gás que é transformado pelas plantas em oxigênio, restaurando a atmosfera de que o ser humano necessita”. Atualmente, Ana Flávia realiza um Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), financiado pela Fapesp no Synchrotron Soleil em Saint-Aubin, na França, onde permanece até meados de 2018.
As muitas atividades de Estudante faz TCC sobre um jovem pesquisador sua deficiência Divulgação
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mbora em início de sua carreira, Renan Antônio da Silva é um pesquisador de intensa atividade. Em dezembro, por exemplo, foi publicado o Dossiê Especial “Gênero, Educação e Humanização”, da revista Humanidades & Inovação, da Universidade Estadual do Tocantins, organizado pela professora Maria Cecília de Souza Minayo, da Fiocruz, e por Silva, que também participou com o artigo “Grito silenciado em arquivos e guetos: sistema educacional brasileiro e a homossexualidade”. Recentemente, o doutorando em Educação Escolar do Câmpus da Unesp de Araraquara já havia lançado o livro Brasil e suas histórias: ética, política e cidadania, em coautoria com Fabrício Rita e Claudiomir Santos Silva, professores do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais. “Nesse livro, falamos sem esgotamento do período pré-cabralino, do pós-cabralino, do joanino, do Império, da Regência, do Império de novo e da bizarra República”, comenta o pesquisador. Ele também acaba de ser convidado para integrar o Conselho Editorial da revista Journal of Contemporary Educational Research (JCER). Silva ressalta que se sente honrado, “uma vez que tal convite é um
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Homossexualidade e história do Brasil estão entre temas de Silva reconhecimento de minha capacidade técnica e científica, humildemente construída como aluno e pesquisador da Unesp”. O doutorando, que já é consultor ad hoc de várias publicações científicas, propõe uma reflexão sobre o papel da informação científica. “Muitos artigos, mesmo que publicados em revistas com Qualis A1, são deixados de lado, não por falta de interesse de graduandos, mestrandos, doutorandos, mas sim por estarem, muitas vezes, em ‘guetos’ acadêmicos”, critica. Em seu doutorado, Silva desenvolve o tema “Escola E-Jovem/ LGBTTT de Campinas, Piracicaba, São Paulo e São Vicente: projeto pedagógico e resultados para seus alunos”, com orientação dos professores João Manuel Calhau de Oliveira (Instituto Universitário de Lisboa, Portugal) e Regina Rossi (Unesp/Araraquara).
rimeira aluna com baixa visão a se formar no curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências, Câmpus de Bauru, Giovana do Carmo Facioli defendeu, no final de 2017, seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que teve como tema “Alunos com baixa visão na escola: recursos e aprendizagem”. Giovana ressalta que no ensino básico teve acesso a recursos de aprendizagem, como lupas. No entanto, adverte que estudantes como ela normalmente não conhecem seus direitos: “Eu, por exemplo, não sabia que tinha direito a Sala de Atendimento Educacional Especializado, que deve ser oferecido pelos governos”, assinala. Em seu TCC, ela analisou os recursos disponíveis para estudantes com baixa visão em uma escola estadual e outra municipal em Botucatu, onde reside. Giovana, aliás, é filha de uma funcionária do Câmpus da Unesp na cidade: Marlene do Carmo Facioli. Em seu estudo, a estudante constatou que existiam recursos para alunos com baixa visão, como lupa, textos em Braile e materiais adaptados. “No entanto, ao
mesmo tempo verifiquei que os professores do ensino regular não têm conhecimento sobre esses recursos ou não sabem manuseá-los”, afirma. Giovana trabalha como professora auxiliar numa escola de Botucatu. “Pretendo me especializar em Educação Especial e no futuro trabalhar com alunos com deficiência visual”, conta. A pedagoga foi orientada pela professora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, vice-
-diretora da FC, que lembra que a Universidade tem recebido muitos estudantes que são o público alvo da Educação Especial. “As instituições de ensino superior podem aprender com esses alunos como ensinar melhor crianças e jovens que apresentam esse tipo de deficiência na escola”, diz. “E, no futuro, os profissionais formados terão melhores condições para trabalhar com alunos com baixa visão, por exemplo.” Divulgação
Giovana (dir.) e Vera Lucia: estudo na área de Educação Especial
Geral
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AGÊNCIA UNESP DE INOVAÇÃO
Agência duplica transferência de tecnologia
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Agência Unesp de Inovação (AUIN) tem intensificado suas ações e criado novas iniciativas no sentido de aproximar a Universidade do setor produtivo privado. Essas ações incluem a exposição das patentes e invenções da Unesp para potenciais empresas, investidores e parceiros interessados em firmar contratos de desenvolvimento e licenciamento dessas tecnologias. Em 2017, o setor de transferência de tecnologia da AUIN duplicou o número de contratos de licenciamento de patentes. Foram sete tecnologias licenciadas entre 2009, ano de criação da Agência, e 2016 e, em 2017,
houve 14 licenciamentos. Nesse processo de avanço com contratos de desenvolvimento e licenciamento, destacam-se as áreas de saúde humana, ciências agrárias e engenharias. Exemplos de acordos mais recentes entre empresas e pesquisadores da Unesp incluem tecnologias relacionadas a regeneração celular, produção de malha de nylon para próteses, software de eletromecânica e novos compostos químicos para atuação como herbicidas. Esses licenciamentos ocorrem num cenário em que um dos grandes desafios para a Universidade está na transferência do conhecimento e tecnologia produzidos pelos pesquisadores e estudantes.
GOVERNADOR: Geraldo Alckmin SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SECRETÁRIO: Márcio França
Nesse contexto de produção e de valorização econômica do conhecimento, são cada vez mais centrais os debates sobre o papel das universidades e sobre a apropriação do conhecimento produzido e a difusão do conhecimento para a sociedade. Um dado importante é a média de 3% em royalties negociados nos contratos, sendo que a média entre as Universidades e empresas está em 1,0%. Fatores como a competitividade e a necessidade por inovação em tempos de crise aumentaram a busca pela Universidade como fonte de soluções oferecidas na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) aplicados.
Tradução de livro sobre Goethe ganha Jabuti Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
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m cerimônia realizada no dia 30 de novembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) promoveu a entrega dos Prêmios Jabuti aos três vencedores de cada uma das 29 categorias concorrentes. Mário Luiz Frungillo ganhou o primeiro lugar pela tradução de Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida: 1823-1832, de Johann Peter Eckermann. Nietzsche considerava esse livro o melhor já escrito em alemão. Walter Benjamin, um dos maiores livros de prosa de todo o século XIX. Resultado das zelosas anotações diárias e de argutas observações de seu secretário particular Eckermann, Conversações definiu a imagem de Goethe para a posteridade. A imersão no cotidiano do grande poeta em seus últimos nove anos de vida possibilita conhecer melhor tanto o literato quanto a sua época. Entre comentários sobre assuntos variados – literatura, pintura, música, teatro, filosofia, ciências, religião, política –, surgem as frases que se tornariam referências para toda a cultura ocidental. “Fico muito feliz em receber
REITOR: Sandro Roberto Valentini VICE-REITOR: Sergio Roberto Nobre PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E GESTÃO: Leonardo
Theodoro Büll PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO: Gladis Massini-Cagliari PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: João Lima Sant’Anna Neto PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA:
Cleopatra da Silva Planeta PRÓ-REITOR DE PESQUISA: Carlos Frederico de Oliveira Graeff SECRETÁRIO-GERAL: Arnaldo Cortina CHEFE DE GABINETE: Carlos Eduardo Vergani ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA : Oscar D’Ambrosio ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE INFORMÁTICA :
Edson Luiz França Senne ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA JURÍDICA :
Edson César dos Santos Cabral ASSESSOR-CHEFE DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO:
José Roberto Ruggiero ASSESSOR-CHEFE DE RELAÇÕES EXTERNAS:
José Celso Freire Júnior ASSESSOR ESPECIAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:
Rogério Luiz Buccelli DIRETORES/COORDENADORES-EXECUTIVOS DAS UNIDADES UNIVERSITÁRIAS:
Max José de Araújo Faria Júnior (FMV-Araçatuba), Wilson Roberto Poi (FO-Araçatuba), Luis Vitor Silva do Sacramento (FCF-Araraquara), Elaine Maria Sgavioli Massucato (FO-Araraquara), Cláudio César de Paiva (FCL-Araraquara), Eduardo Maffud Cilli (IQ-Araraquara), Andréa Lúcia Dorini de Oliveira (FCL-Assis), Marcelo Carbone Carneiro (FAAC-Bauru), Jair Lopes Junior (FC-Bauru), Luttgardes de Oliveira Neto (FE-Bauru), Carlos Frederico Wilcken (FCA-Botucatu), Pasqual Barretti (FM-Botucatu), Maria Dalva Cesario (IB-Botucatu), José Paes de Almeida Nogueira Pinto (FMVZ-Botucatu), Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo (FCAT-Dracena), Célia Maria David (FCHS- -Franca), Mauro Hugo Mathias (FE-Guaratinguetá), Enes Furlani Junior (FE-Ilha Solteira), Antonio Francisco Savi (Itapeva), Pedro Luís da Costa Aguiar Alves (FCAV-Jaboticabal), Marcelo Tavella Navega (FFC-Marília), Edson Luís Piroli (Ourinhos), Marcelo Messias (FCT-Presidente Prudente), Patrícia Gleydes Morgante (Registro), Cláudio José Von Zuben (IB-Rio Claro), José Alexandre de Jesus Perinotto (IGCE-Rio Claro), Guilherme Henrique Barris de Souza (Rosana), Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira (Ibilce-São José do Rio Preto), Estevão Tomomitsu Kimpara (ICT-São José dos Campos), Valerie Ann Albright (IA-São Paulo), Marcelo Takeshi Yamashita (IFT-São Paulo), Marcos Antonio de Oliveira (IB/CLP-São Vicente), Eduardo Paciência Godoy (ICT-Sorocaba) e Danilo Fiorentino Pereira (FCE-Tupã).
EDITOR: André Louzas REDAÇÃO: Marcos Jorge COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Genira Chagas, Ivan Cardoso,
Frungillo e Gutierre: prêmio enobrece catálogo da editora
este prêmio com o livro, que é o reconhecimento de nosso trabalho para preencher uma lacuna em nossas estantes”, disse Frungillo na ocasião. Segundo o diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, Jézio Hernani Bomfim Gutierre, “só posso dizer que, no caso específico do livro vencedor e que estreou a série Goethe, organizada pelo Mário Frungillo, o prêmio enobrece tanto o nosso catálogo como o catálogo dos clássicos nacionais. Pretendemos com essa série fazer algo que jamais foi feito em língua portuguesa. Isso não apenas é confirmado com o prêmio, mas por ele estimulado, para que
continuemos nessa empreitada, que vai trazer para a Editora Unesp um novo patamar de excelência na área de traduções”. Os vencedores das 29 categorias foram escolhidos entre as 2.346 obras inscritas, por júris especialistas de cada categoria.
Ricardo Aguiar, Sérgio Santa Rosa (texto); Amanda Fernandes, Daniel Patire, Renato Coelho (foto) EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Phábrica de Produções Alecsander Coelho e Paulo Ciola (direção de arte); Daniela Bissiguini, Érsio Ribeiro, Kauê Rodrigues, Marcelo Macedo e Rodrigo Alves (diagramação) REVISÃO: Maria Luiza Simões PRODUÇÃO: Mara Regina Marcato APOIO ADMINISTRATIVO: Thiago Henrique Lúcio TIRAGEM: 3,5 mil exemplares Este jornal, órgão da Reitoria da Unesp, é elaborado mensalmente pela Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI). A reprodução de artigos, reportagens ou notícias é permitida, desde que citada a fonte. ENDEREÇO: Rua Quirino de Andrade, 215, 4.º andar, Centro, CEP 01049-010, São Paulo, SP. Telefone: (11) 5627-0323. HOME PAGE: http://www.unesp.br/jornal E-MAIL: jornalunesp@reitoria.unesp.br IMPRESSÃO: 46 Indústria Gráfica
A lista completa dos ganhadores está disponível no site: <www.premiojabuti.com.br> Confira o álbum com as fotos do evento e assista ao vídeo da entrega do prêmio em: <https://goo.gl/Keifo7>
VEÍCULOS Unesp Agência de Notícias: <http://unan.unesp.br/>. Rádio Unesp: <http://www.radio.unesp.br/>. TV Unesp: <http://www.tv.unesp.br/>.
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Memória Fotos reprodução
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GUARDADOR DA HISTÓRIA Livro sobre acervo do intelectual Lívio Xavier marca comemorações de 30 anos do CEDEM Genira Chagas
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ntre tantas atividades, Lívio Barreto Xavier foi também um guardador de papéis. Ele próprio assim se definiu em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 1979. Quando os jornalistas Nilzo Scalzo e Frederico Branco lhe perguntaram sobre seu hábito de guardar informações ele respondeu: “Acho que sou apenas um arquivista”. Foi muito mais do que isso. Lívio Xavier notabilizou-se um influente intelectual do século XX. Por tais razões, ao completar 30 anos de fundação, o Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da Unesp, responsável pela guarda de seu acervo documental, presta-lhe homenagem com o lançamento do livro Sobre a arte de guardar: Reflexões a respeito do acervo de Lívio Xavier, ocorrido em 13 de novembro. A edição é da Cultura Acadêmica Editora. Organizado pelas professoras Sonia Troitiño, coordenadora do CEDEM, e Tania Regina de Luca, da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, Câmpus de Assis, a coletânea de seis artigos inclui um afetuoso depoimento do crítico literário Antonio Candido, falecido em 12 de maio de 2017. “O que espantava na conversa do Lívio, além dos conhecimentos de história, literatura e política, era a grande informação sobre música e os espetáculos em geral”, disse o amigo. No artigo que abre a
coletânea, “Na biblioteca de Lívio Xavier – lembranças de um jovem pesquisador”, José Castilho Marques Neto, professor aposentado da Unesp, discorre sobre a biografia de Lívio. Formado em Direito, advogou principalmente na área trabalhista. Enquanto jornalista, trabalhou por 39 anos em O Estado de S. Paulo. Influenciado pela Revolução Soviética de 1917, filiou-se ao PCB, em 1927. Junto com o amigo revolucionário Mário Pedrosa, deixou o partido e passou a militar na Oposição Internacional de Esquerda e, posteriormente, seguiu as posições de Leon Trotsky. Lívio traduziu obras importantes para o português, entre as quais O príncipe, de Maquiavel; Enciclopédia de Ciências Filosóficas, de Hegel; Minha vida, de Trotsky. A propósito do acervo de Lívio Xavier, Elisabete Marin Ribas, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, elaborou um panorama sobre arquivos pessoais de escritores, tema que intitula seu artigo, no qual destaca diversas instituições que se dedicam à salvaguarda de arquivos dessa natureza. Para a autora, o que diferencia um arquivo de escritor dos de outros profissionais são as marcas da produção literária, entre as quais os originais de manuscritos de obras já editadas, as marcas de temporalidade, caracterização dos personagens
Em documento, Trotsky declara que Xavier é a única pessoa autorizada a trabalhar com seus textos no Brasil
Xavier (de óculos) e Pedrosa (de branco): militância e tradução de obras filosóficas e políticas que ilustram os romances, ou seja, “os bastidores da criação literária”, assinala a autora. No artigo “Apenas um arquivista: a formação do arquivo de Lívio Xavier”, Sonia Troitiño mostra as coincidências entre a história de vida de Lívio e as informações guardadas por ele. Lívio “guardava documentos das mais variadas origens: marcas de atuação profissional, vestígios de relações pessoais e sinais de interesses particulares”, escreve a autora. A rede de relações dele incluía Mário Pedrosa, Raquel de Queiroz, Antonio Candido, Jorge Amado, Di Cavalcante, Villa-Lobos. “Aventurar-se nesse universo é um convite à produção do conhecimento”, adverte Sonia. No artigo “Potencialidades da correspondência no acervo de Lívio Xavier”, Tania de Luca expõe a abrangência do círculo de interação desse intelectual. Para ela, “a volumosa correspondência, em grande parte ainda inexplorada, é uma entrada privilegiada para reconstruir as redes de sociabilidade de que participou. Fosse como militante político ou crítico literário”. No texto, Tania lembra que parte significativa da trajetória da esquerda no Brasil encontra-se nessas cartas, principalmente as trocadas com Mário Pedrosa. A partir de 1935, Lívio dedicou-se com mais afinco à crítica literária e ao jornalismo cultural. Para a Revista das
Obra é organizada por Sonia Troitiño e Tania Regina de Luca Revistas, suplemento de O Estado de S. Paulo, assinou cerca de 400 artigos, muitos dedicados ao Modernismo. Esse tema foi tratado pela professora Sílvia Maria Azevedo, da Unesp, Câmpus de Assis. Lívio não poupava críticas ao movimento, como mostra a autora: “Embora ‘O legado do Modernismo na crítica de Lívio Xavier’ se concentre na produção de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, o crítico nunca escondeu suas antipatias em relação a Oswald, quanto à sua atuação política e literária. Já Mário era visto como estudioso, consequente, empenhado em suas pesquisas estéticas, mesmo que Lívio discordasse da proposta da ‘língua brasileira’ e do caráter experimental de sua poesia”. Já na coleção iconográfica de
seu acervo é possível perceber o interesse de Lívio por amigos e familiares, cenas cotidianas e de paisagens. “São poucas as imagens que o representam em atividades profissionais”, discorre Telma Campanha de Carvalho Madio, no artigo “Fotografias: rastros de uma trajetória”. Professora da Unesp, Câmpus de Marília, Telma avalia que as fotografias do fundo “revelam relações mais profundas, sentimentais e saudosistas, justificando sua guarda e plausíveis conexões com o todo da documentação”. Fundo Lívio Xavier – A documentação que compõe o Fundo Lívio Xavier foi depositada no CEDEM sob custódia em 1994 pelo Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa. Desde 2002, o acervo é propriedade da Unesp. São cerca de 4 mil livros escritos em francês, espanhol, português e inglês, muitos deles classificados como obras raras; 95 títulos de periódicos; cerca de 400 fotografias; 222 postais; cartas; relatórios, teses, resoluções de congressos. “Apesar da reconhecida biografia e da importância de Lívio Xavier no cenário político e intelectual brasileiro de sua época, esse é um acervo relativamente pouco explorado, diante do potencial de informações nele preservadas”, diz Sonia Troitiño.