Turma de Programa 4 pós-graduação 6 vai formar em linguística registra pós-graduandos maioria de estudantes surdos
para atividade docente na graduação
TV Unesp fecha 12 acordo com associação que dará
alcance nacional a suas produções
Roberto Rodrigues / ACI Unesp
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA • ANO XXXIV • NÚMERO 347 • SETEMBRO 2018
CONFÚCIO COM DNA UNESPIANO Fruto de convênio pioneiro no país, assinado em 2008, Instituto Confúcio na Unesp celebra dez anos em expansão, com perspectiva de fortalecimento das relações culturais e acadêmicas entre Brasil e China e integrando-se cada vez mais às estratégias institucionais de internacionalização. Renovada por mais cinco anos, parceria possui atualmente cerca de 2.000 alunos matriculados nos cursos ofertados em 13 câmpus, e já extrapolou os muros da Universidade, com sala recém-aberta no Maranhão. páginas 8 e 9. Pró-Reitora Gladis Entenda por que De visual novo, 2 Massini-Cagliari 3 o suicídio virou 12 plataforma defende estratégias um grande desafio Unesp Aberta inovadoras na graduação
global de saúde pública
oferece cursos online com certificação
Há lugar para a 16 poesia no ensino da matemática, diz vencedor da medalha Fields
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Artigo
Inovação na graduação: uma questão de atitude
Temos que preparar os alunos para a fluência de um mundo apoiado por metodologias digitais, sem perder no horizonte uma formação humanística e cidadã, voltada à diversidade
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reestruturação de qualquer curso de graduação é tarefa altamente complexa, mesmo quando há imposição legal. A complexidade aumenta quando a motivação surge da vontade de atualização de conteúdos e de formatos de disciplinas, em um contexto de busca da inovação e da personalização curricular. O termo “inovação”, quando relacionado à educação, nem sempre tem sido visto com bons olhos, sobretudo porque costuma vir associado à ideia de inovação tecnológica, algo que não se encaixa na maior parte das pesquisas e usos advindos das ciências humanas. Para Figueiredo (2011, p. 19-20), a dificuldade em inovar, no contexto da educação (incluindo a superior), transcende em muito as Humanidades, porque os sistemas educativos podem ser vistos como redes de atores estreitamente ligadas: professores, alunos, currículo, disciplinas, formação dos professores, avaliação dos alunos, avaliação dos professores, avaliação do sistema, sindicatos e manuais. Para o autor, “tratando-se de um sistema com fortes tradições, os nós desta rede tendem a reforçar-se mutuamente, em configurações estáveis que tendem a eternizar-se”; “todos se conjugam e reforçam mutuamente no sentido de robustecer uma estabilidade que torna impossível a inovação”. Entretanto, interessa-me aqui perscrutar outra possibilidade de consideração do termo “inovação”, liberto do adjetivo, tal como aparece nos dicionários de língua portuguesa, em acepção não técnica: “ação ou efeito de inovar; aquilo que é novo, coisa nova, novidade” (Houaiss, 2004, p. 1622). Nesse sentido, o objetivo é investigar a possibilidade de compreender inovação também em termos de adoção de novas metodologias, novas práticas pedagógicas e, logo, de produção de conhecimento com a participação mais ativa do aluno. Visto desta maneira, o ato de inovar tem mais a ver com
inventar do que com descobrir. Neste sentido, no contexto da proposição de um currículo de graduação, inovar é uma questão principalmente de atitude, de ousar pensar uma maneira diferente de organizar os conhecimentos e conteúdos necessários para a formação sólida e de qualidade oferecida aos nossos alunos. Ou, nos dizeres de Singh (2018, p. 1), trata-se de uma necessidade de “pensar, agir e se desempenhar diferentemente”, agregando valor de volta ao ato de ensinar. Nessa direção, a pergunta a ser feita é: inovar para que e por quê? De maneira geral, a qualidade dos cursos de graduação da Unesp é bem reconhecida. Então, de onde surge a necessidade de inovar? Surge do fato de que a Universidade não pode ficar alheia às transformações da sociedade na qual se integra e para a qual temos como missão formar cidadãos globalmente engajados, com sensibilidade para os grandes problemas mundiais, e profissionais bem preparados, com capacidade de solucionar problemas complexos de uma sociedade em constante transformação de maneira flexível e inovadora. Quando se pretende formar um profissional capaz de se adaptar às mudanças futuras e imprevisíveis pelas quais a sociedade passa e continuará a passar, a personalização curricular priorizada pelo curso e a presença relevante de atividades práticas que assegurem mais sentido à formação, aliadas a uma imprescindível fundamentação teórica sólida, constituem-se nos alicerces da formação de profissionais autônomos, criativos, críticos, éticos, cooperativos e sensíveis a questões complexas de diversidade, líderes nas suas áreas de atuação, que vislumbramos aos egressos da Unesp. Assim, o ideal é atingir uma formação que possibilite ao aluno, futuro egresso, ao mesmo tempo boas perspectivas de realização profissional e pessoal. Por este motivo são tão importantes iniciativas de personalização da formação, uma
vez que, ao permitirem algumas escolhas por parte do aluno na composição de seu currículo, promovem sua autonomia. Nesse sentido, possibilitar a creditação de atividades diversas de ensino, pesquisa e extensão, além de intercâmbios internacionais, permite ao aluno avançar nessa direção. O perfil do atual aluno é muito diferente daquele que nos procurava há vinte anos. Os ingressantes atuais foram criados no mundo da internet. No entanto, como lembram Diamandis e Kotler (2012, p. 223), “fatos podem ser encontrados no Google. Mas criatividade, colaboração, pensamento crítico e resolução de problemas são uma história diferente”. Assim, temos que prepará-los para a fluência de um mundo apoiado por metodologias digitais, sem perder no horizonte uma formação humanística e cidadã, voltada à diversidade. Encontrar o equilíbrio entre esses vetores, no entanto, nem sempre é uma tarefa fácil. No contexto da graduação, muitas vezes o termo “inovação” tem sido confundido com a adoção de ensino a distância (tratado em tom até jocoso), ou seja, ensino envolvendo disciplinas que se utilizam de tecnologias digitais que permitem que alunos e professores interajam a distância. Entretanto, a utilização de tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) como apoio pedagógico em sala de aula vai muito além de meramente substituir aulas presenciais por atividades a distância, surgindo como um suporte ampliador de conhecimentos e formatos que podem ser acessados pelo professor e disponibilizados aos alunos, ampliando as trocas e os formatos de diálogos possíveis entre eles, aproximando ainda mais alunos e professores. Neste sentido, a utilização das TDIC não vem em detrimento das boas práticas pedagógicas que já vêm sendo adotadas, mas como apoio necessário à formação de cidadãos profissionais inseridos em um mundo digital. Assim concebida, a utilização das TDIC nos
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Gladis Massini-Cagliari
É preciso dar perspectivas de realização pessoal e profissional espaços de aprendizagem torna cada vez mais imprescindível a atuação de professores engajados e bem preparados, para que possam contribuir cada vez mais e melhor para favorecer a formação sólida, plural, ética e cidadã, cuja oferta aos alunos é obrigação moral da universidade. Enfim, a inovação na graduação requer a utilização de novos formatos de disciplinas presenciais, além da boa exploração das tecnologias digitais (que não se confunde com enviar tarefas aos alunos para que as façam a distância quando não se pode dar aulas presencialmente), cuja utilização deve ser motivada pedagogicamente e apoiada por metodologias de ensino e práticas pedagógicas adequadas, advindas não de uma injeção artificial com o objetivo de atingir uma pátina moderna, mas de uma nova concepção da organização didática e do conhecimento. Como linguista, aprendi desde cedo na minha formação que a riqueza das línguas está na diversidade: quanto mais uma língua varia, mais viva e rica ela é, mais falantes ela tem, mais espaços ela alcança. Por acreditar que a diversidade é uma riqueza não apenas no plano linguístico, mas da natureza e do ser
humano, acredito que o melhor caminho é oferecer aos alunos as mais variadas possibilidades em termos de formatos e de conteúdo. É desta maneira que estaremos preparando nossos egressos para a dinamicidade que deles será exigida no futuro. REFERÊNCIAS DIAMANDIS, P. H.; KOTLER, S. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. São Paulo: HSM, 2012. FIGUEIREDO, A. D. Inovar em educação, educar para a inovação. In: FERNANDES, D. (Org.). Avaliação em educação: olhares sobre uma prática social incontornável. Pinhais: Melo, 2011. p. 13-28. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1ª reimpr. alt. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. SINGH, W. Has teaching in higher education become redundant? University World News, n. 513, 6 jul. 2018. Disponível em: https:// bit.ly/2xHehtf>. Acesso em: 20 jul. 2018. Gladis Massini-Cagliari é pró-reitora de Graduação da Unesp.
Artigo
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Do amarelo ao vermelho
Apesar do evidente aumento das taxas de suicídio em toda a população masculina do Brasil, não se nota nenhuma iniciativa das autoridades para sua prevenção José Manoel Bertolote Divulgação
O DIA MUNDIAL DA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO O Supre começou por reunir peritos em Suicidologia de diversas partes do mundo num Comitê Internacional de Peritos em Prevenção do Suicídio que ajudou a OMS a estabelecer diretrizes nesse sentido. Uma das primeiras constatações desse Comitê foi a grande disparidade, diversidade e dispersão de ações preventivas do suicídio, muitas das quais, aliás, sem nenhuma evidência de eficácia e eficiência. A partir daí, no início de 2003, a OMS, com o apoio da IASP (Associação Internacional de Prevenção do Suicídio – na época presidida por Diego De Leo), idealizou a criação da observância do dia 10 de setembro como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. O objetivo dessa iniciativa era, primordialmente, chamar a atenção para o problema mundial que o suicídio representava (e continua representando). Mais especificamente, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio almejava: 1. Organizar atividades multissetoriais globais, regionais e nacionais que aumentem a correta percepção dos comportamentos suicidas e sua prevenção eficaz. 2. Fortalecer a capacidade de cada país para desenvolver políticas e planos de prevenção do suicídio.” Ou seja, desde o início, a preocupação com a prevenção do
Suicídio está entre as dez principais causas de morte de homens suicídio tinha a mesma importância que a ventilação do tema. O primeiro Dia Mundial da Prevenção do Suicídio foi observado em 10 de setembro de 2003, a partir de uma sessão na sede da ONU (Organização das Nações Unidas), acompanhada de diversas atividades em países de todos os continentes. Mais tarde, esse período foi flexibilizado para todo o mês de setembro, em virtude de feriados e datas especiais em alguns locais. Atualmente, o Setembro Amarelo é sistematicamente observado em mais de cinquenta países. A Austrália e os Estados Unidos da América foram alguns dos países que já em 2004 tiveram seu Setembro Amarelo. [...] O SUICÍDIO NO BRASIL Embora as taxas de suicídio no Brasil, com um todo, sejam relativamente baixas, devido ao tamanho da população brasileira, estamos entre os dez países com maior número de mortes por suicídio no mundo. Com cerca de 11 mil suicídios por ano, temos um suicídio a cada 45 minutos. [...] O suicídio está entre as dez principais causas de morte de homens (mas não de mulheres). O fato de o país ocupar a vergonhosa posição de campeão mundial de mortes por homicídios e acidentes entre os homens faz com que as mortes por suicídio não recebam a devida a atenção. No Brasil, como na maior parte do mundo, as taxas de suicídio são mais elevadas entre homens do que entre mulheres (na proporção aproximada de 2,5 homens para cada mulher) e, para ambos os sexos, aumentam
2. As mudanças macroeconômicas observadas nesse período. Embora o aumento do suicídio seja frequentemente associado à piora de condições macroeconômicas, há exemplos bem documentados também de aumento de taxas de suicídio em situações de crescimento macroeconômico (p. ex.: na Noruega e na Suíça). 3. A transformação do sistema de saúde mental. A Reforma Psiquiátrica, iniciada informalmente em 1992 e acelerada, por força de lei, a partir de 2003, fechou inúmeros leitos psiquiátricos sem criar concomitantemente estruturas e equipamentos terapêuticos eficazes, e em número suficiente, para dar conta da demanda crescente por serviços de atenção à saúde mental. [...]
com a idade, sendo muito mais altas em pessoas de 70 anos ou mais do que em qualquer outra faixa etária. Chama a atenção também o impressionante aumento de 60% dos suicídios entre 1980 e 2014, com um aumento de quase 30% entre os jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos. Nesse período, suicidaram-se mais de 70 mil jovens nessa faixa etária. É justamente nessa faixa que se concentra a maioria da população colegial e universitária. [...] Entretanto, a inferência de dados de outros estudos que indicam a relação inversa entre nível educacional e taxas de suicídio permite supor que esse crescimento possa ter sido maior ainda em populações de jovens com menos escolaridade e menor nível de renda. O aumento do suicídio de jovens do sexo masculino no Brasil entre 2000 e 2014 não tem ainda uma explicação plausível; todavia, três hipóteses têm sido aventadas por especialistas no assunto:
Admitidamente, nenhuma das três dá conta do fato de que houve um aumento apenas das taxas referentes aos jovens do sexo masculino, o feminino permanecendo indene a elas. Talvez devêssemos começar a nos perguntar não por que os jovens do sexo masculino se matam mais do que as do sexo feminino, mas por que as do sexo feminino se matam menos do que os do masculino. Além do mais, sendo o suicídio um fenômeno complexo, com múltiplas causas individuais (genéticas e psíquicas) e ambientais (culturais, sociais, históricas etc.) não devemos nos iludir com explicações simplistas, sobretudo quando ignoram o peso relativo de fatores predisponentes (distais) e precipitantes (proximais)
1. A deterioração de valores sociais, sobretudo da estrutura da família. É notória a perda da autoridade dos pais e professores sobre adolescentes e jovens, e até mesmo sobre crianças. O estado de saúde mental de professores dos níveis básico e médio acusa considerável dano, em grande parte atribuível à indisciplina e violência de alunos e de seus pais. Durkheim não hesitaria em chamar essa situação de anomia, por ele considerada como a principal causa de suicídio.
A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NO BRASIL Apesar da existência no Brasil de uma política de prevenção do suicídio bastante abrangente e consentânea às recomendações da OMS, publicada oficialmente pelo Ministério da Saúde em 2006 (Portaria nº 1.876, de 14 de agosto de 2006), ela nunca saiu do papel, em parte devido à frequente troca dos ocupantes da cadeira de ministro da saúde, o que impede a consecução de qualquer política em médio e longo prazo.
Já o Setembro Amarelo chegou relativamente tarde no Brasil, e de baixo para cima. Como exemplo, já no início de 2005, um município de tamanho médio do interior do estado de São Paulo, Botucatu, havia adotado uma lei que instituiu o Setembro Amarelo no seu calendário de eventos oficiais. Nesse mesmo ano, uma iniciativa do CVV (Centro de Valorização da Vida) foi encampada pelo Conselho Federal de Medicina e pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e disseminou o Setembro Amarelo por diversas partes do território nacional. Apesar do evidente aumento das taxas de suicídio em toda a população masculina do Brasil, não se nota nenhuma iniciativa concreta e eficaz de autoridades sanitárias educacionais ou outras para a sua prevenção. O que temos são meritórios exemplos de indivíduos e organizações de voluntários (p. ex., o CVV, no âmbito nacional, e iniciativas locais, como a Rede de Valorização da Vida, em Botucatu) remando contra a maré das taxas e esperando que vagas promessas de apoio se transformem em ondas sustentáveis. Divulgação
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e acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio é um grave problema global de saúde pública. Afora as causas naturais de morte, no âmbito mundial, a cada ano morre-se mais de suicídio do que de todas as outras mortes de causas não naturais juntas, incluindo homicídios, acidentes e guerras. Nas populações masculina e feminina de 20 a 30 anos, o suicídio está entre as três principais causas de morte. A evidenciação da magnitude e da gravidade do problema levou a OMS, já em 1989, a criar um Programa Global de Prevenção do Suicídio (Supre), que tive a honra de dirigir durante quase vinte anos.
Bertolote: política de prevenção brasileira não saiu do papel José Manoel Bertolote é professor do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp. A íntegra deste artigo está disponível no “Debate Acadêmico” do Portal Unesp, no endereço [inserir]
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Ciências Humanas
Alunos surdos na pós
Disciplina de pós-graduação em Araraquara registra maioria de estudantes com surdez e presença de professores do exterior e intérpretes Jorge Marinho Fotos Angélica Rodrigues
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disciplina Linguística de Línguas de Sinais do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (PPGLLP) do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp, câmpus de Araraquara, teve 46 alunos matriculados, dos quais 24 são surdos, oriundos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco, Ceará, Goiás e do Distrito Federal, além de alunos ouvintes de Roraima, Amapá e Piauí. Segundo a professora da FCL, Angélica Rodrigues, esse é um marco na história da Unesp e das universidades paulistas, uma vez que não há registros de participação de tantos surdos em uma disciplina de pós-graduação no estado de São Paulo, quiçá no Brasil. A professora argumenta que, recentemente, por determinação da legislação brasileira (Lei nº 10.436/2012 e Decreto nº 5.626/2005), o Brasil vive um movimento de inclusão dos surdos nos espaços acadêmicos. Angélica afirma que o tema da linguística de línguas de sinais é uma área ainda incipiente no país, mas que os surdos que estão se formando na área de Letras e Linguística sentem uma grande necessidade de aprofundar seus conhecimentos nesse campo. Para a docente, a iniciativa institucional tem um papel importante na atração de alunos surdos para a disciplina. “O fato de o Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa e a direção da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara terem garantido a contratação de intérpretes português-inglês/libras para todas as atividades da disciplina é o que certamente garantiu a presença dos surdos na disciplina”, argumenta a especialista. “Sendo assim, a temática do curso e a garantia da acessibilidade foram os fatores decisivos para a adesão dos surdos à disciplina.” Com ajuda de um intérprete, três alunos surdos do curso falaram sobre sua participação na disciplina. Os vídeos com as declarações dos alunos estão disponíveis no Portal Unesp (goo.gl/6oyn7D).
Aula com Ivani Fusellier-Souza, da Universidade Paris 8: disciplina concentrada em cinco dias
Alunos da turma: surdos buscam aprofundar conhecimento em linguística de línguas de sinais Thiago Ramos de Albuquerque, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), disse que levará consigo muitas coisas que irão ajudá-lo em pesquisas futuras. Ele declarou ainda que não esperava que as aulas provocassem tanta reflexão, tantos comentários dos colegas. Albuquerque também expressou sua gratidão à Unesp pela oportunidade de participar do curso. Já Valdo Ribeiro Resende da Nóbrega, da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), comentou que gostaria que a duração do curso fosse um pouco maior, porque foi corrido, mas acrescentou que vai pegar o que aprendeu na Unesp para aplicar nas aulas que ministra na Paraíba.
Doutorando da Unesp, Rimar Ramalho Segala relatou que a experiência foi incrível, por causa da quantidade de estudantes surdos pós-graduandos, dos professores estrangeiros e do intercâmbio linguístico e de conhecimento que ocorreu. Para ele, é muito importante que a Universidade ofereça outras ações como essa. A DISCIPLINA A atividade integra o rol de disciplinas regulares dos cursos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa, mas foi oferecida pela primeira vez. Puderam participar alunos regularmente matriculados e oriundos de programas
de pós-graduação de outras instituições de ensino superior. Já os que não estavam matriculados em nenhum programa foram registrados como alunos especiais. A disciplina, coordenada pelas professoras Angélica Rodrigues e Alessandra Del Ré, do Departamento de Linguística, contou com a participação de três professoras convidadas: Ivani Fusellier-Souza, da Universidade Paris 8; Aliyah Morgenstern, da Universidade Paris 3; e Alessandra Jacqueline Vieira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com 30 horas, a disciplina foi realizada de forma concentrada em cinco dias para aproveitar as professoras visitantes da França e do Rio
Grande do Sul, que foram para Araraquara no dia 27 de agosto para participar do III Colóquio da Unesp sobre Línguas de Sinais e Libras e XVI Ciclo de Conferências em Aquisição da Linguagem. As aulas foram ministradas em três línguas: inglês, português e libras, com a presença de intérpretes todos os dias. A professora Ivani Souza, que trabalha há vinte anos como linguista da língua de sinais, contou que uma das preocupações dos professores foi o ordenamento dos alunos em sala de aula, de tal modo que os surdos tivessem conforto no ambiente de ensino. “Os surdos sentaram-se no círculo mais interior, enquanto os ouvintes colocaram-se mais timidamente atrás dos círculos. Nós posicionamos assim porque, em língua de sinais e quando damos aula com esse recurso, é preciso ter a questão do ângulo de visão em foco. Existe toda uma adaptação visio-gestual que é muito rica e permite até desacelerar o ritmo, compreender, saber quem fala e quem não fala”, explica a professora da instituição francesa. “Eu acho que, para os ouvintes que estavam presentes, a experiência foi muito rica e os surdos sentiram-se à vontade porque, quanto mais são numerosos, mais a interação acontece. Foi uma experiência excelente e estou pronta para voltar”, avaliou a pesquisadora. Desde 2017, o PPGLLP tem um aluno surdo no doutorado frequentando as aulas com a participação de intérpretes. A direção da FCL tem garantido acessibilidade para o aluno nas aulas, mas ainda é um grande desafio assegurar a sua participação nas demais atividades acadêmicas, como eventos, reuniões de grupos de pesquisa e orientação. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação, em conjunto com a Pró-Reitoria de Planejamento Estratégico e Gestão e a direção da FCL de Araraquara têm apoiado acadêmica e financeiramente os alunos surdos com a contratação de intérpretes de língua brasileira de sinais, para que possam assistir às aulas e se comunicar com os orientadores.
Extensão
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Uma rica troca de ideias
Graduandos do câmpus de Registro interagem com alunos do ensino fundamental e médio de escola de Cananéia em evento sobre importância dos manguezais Jorge Marinho
ALÉM DAS EXPECTATIVAS Graduanda da Unesp, Fernanda Avellar informa que, durante as rodas de conversa, percebeu que os alunos da escola local têm muito conhecimento a passar para os universitários, em função do convívio diário com a atividade pesqueira. “Eu não tinha noção nenhuma da pesca tradicional, esportiva e da interação do manguezal com o ecossistema inteiro. O envolvimento dos alunos com a construção da árvore de sentidos do manguezal ultrapassou minhas expectativas, porque cada um pôde deixar a
CONHECENDO A REGIÃO A ação teve apoio financeiro dos projetos de extensão universitária “Conservação da Zona Costeira: conectando sociedade ao ambiente” e “Caiu na Rede!”, da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), ambos ligados ao convênio Unesp-Santander e coordenados pela professora Lignon. Da mesma forma que os universitários, os alunos da escola de Cananéia consideraram como muito positiva essa troca de experiências: “Na minha opinião, a conversa com os universitários e a exposição nos deram um ensinamento e um conhecimento do qual não tínhamos consciência. Mesmo morando e vivendo em Cananéia, sabíamos muito pouco sobre nossa região. Isso nos fez refletir sobre a nossa cidade, que é muita rica em peixe, e é essa riqueza que sustenta muitas famílias”, declarou Elisa Pedro Mandira, aluna do 1º ano do ensino médio.
“Com a exposição pude conhecer algumas coisas que não sabia do próprio lugar onde moro”, comentou Tamires Regina Barbosa da Silva, aluna do 2º ano do ensino médio. “Diante dessas novas informações, poderei cuidar melhor da minha cidade”. Para Evandro Cunha Mandira de Castro, aluno do 3º ano do ensino médio, a exposição trouxe uma visão nova sobre a localidade onde ele vive. “A Unesp fez um ótimo trabalho. Além de serem gentis e educados, souberam nos passar perfeitamente todas as informações. Para finalizar, tivemos a dinâmica da árvore, que superou nossas expectativas porque foi a parte que mais chamou nossa atenção”, destacou. EXPOSIÇÃO LÚDICA Os professores da escola estadual também aprovaram
a interação entre a Unesp e os ensinos fundamental e médio. “Os alunos do curso de Engenharia de Pesca foram muito prestativos e atenciosos com os alunos da escola na explicação dos conteúdos. Fiquei feliz de saber mais sobre o curso da Unesp, em Registro. Dessa forma, poderei incentivar os alunos do ensino médio, direcionando as futuras escolhas deles”, avaliou a professora de Matemática, Ciências e Biologia Ângela Maria Mateus Dias. “Achei interessante o fato de a exposição ter sido realizada de forma lúdica, envolvendo os alunos na aprendizagem de forma significativa. Mesmo sendo moradores de uma área rica em manguezais, como a nossa, muitos ainda desconhecem a real importância desse ecossistema. O conhecimento
é a chave para a preservação”, declarou a professora de Língua Portuguesa e Inglês, Fabiany Rios. “A socialização entre os alunos da Unesp e da Escola Estadual Geni Cunha em relação ao manguezal foi uma troca de conhecimentos e de experiências”, analisou o professor coordenador, Marcos Antônio Vianna. O trabalho foi realizado no Centro Comunitário do bairro Porto Cubatão, que é conhecido pela pesca esportiva e recreativa. A iniciativa contou ainda com a colaboração dos projetos da Unesp Museu Dinâmico da Mata Atlântica, coordenado pela professora Patrícia Gleydes Morgante, e Robalo, sob a coordenação do professor Domingos Garrone Neto, que forneceram materiais para a atividade. Divulgação
própria marca com uma palavra sobre o que o mangue representava para si. Assim, no final da tarde, aquelas árvores vazias do manguezal estavam lotadas de folhas, com um pedacinho de cada um”, explicou. “A roda de conversa com os alunos do ensino médio na Semana de Conservação dos Manguezais foi extremamente importante para a minha formação, pois, durante essa atividade, foi possível agregar muito conhecimento vindo das experiências dos alunos e compartilhar as minhas, adquiridas na Universidade, e, ao mesmo tempo, gerar uma atividade divertida e cheia de aprendizado para ambos”, disse Esthephany Konesuk Santos Miranda, aluna da Unesp. O futuro engenheiro de pesca João Damásio também destacou a troca de conhecimentos ocorrida. “A cada grupo novo que chegava eu me surpreendia com as coisas novas que aprendia”, relatou. “Em sua maioria filhos de pescadores ou com parentes na atividade pesqueira, eles mostraram ter conhecimento nas artes de pesca, sobre espécies marinhas e sobre o impacto que o uso incorreto da pesca causa no meio ambiente. Naquele dia, ambos os lados aprenderam algo novo.”
Apresentação de estudantes da Unesp: contato ajudou a divulgar curso de Engenharia de Pesca Divulgação
O
s estudantes do curso de Engenharia de Pesca da Unesp, câmpus de Registro, realizaram em setembro atividade prática sobre o papel dos manguezais para a pesca, com mais de cem alunos da Escola Estadual Geni Cunha, no bairro Porto Cubatão, em Cananéia (SP). Os estudantes eram do 9º ano do ensino fundamental e do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio. Os professores da escola também participaram do encontro. A atividade “Exposição e Roda de Conversa sobre a Importância dos Manguezais para a Pesca” foi preparada pelos próprios graduandos do curso de Engenharia, matriculados na disciplina optativa Ecossistema Manguezal e seus Recursos Naturais, ministrada pela professora Marília Cunha Lignon. A ação prática fez parte da Semana de Conservação dos Manguezais, organizada pela prefeitura de Cananéia. A professora Lignon classificou a iniciativa como muito rica, por ter havido troca de experiências entre os estudantes do curso de Engenharia de Pesca e os da escola estadual. “Os nossos alunos envolveram-se tanto com a preparação e troca de ideias com os participantes que ficou claro que não estavam preocupados com nota na disciplina. O mais importante foi o processo de aprendizagem, a consolidação de conceitos e a troca de experiências e de vida”, ressaltou a docente. “Como professora, fico feliz em ter promovido esse tipo de interação. Também foi uma forma de divulgar o curso de Engenharia de Pesca da Universidade para alunos da rede pública de forma divertida e prática.”
Um dos temas destacados nas exposições foi a importância dos manguezais para a região
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Ensino
Pós-graduandos poderão colaborar com a graduação
Selecionados terão treinamento no Centro de Estudos e Práticas Pedagógicas (Cenepp) Jorge Marinho Jorge Marinho
A
s Pró-Reitorias de Graduação (Prograd) e de Pós-Graduação (PROPG) lançaram no dia 11 de setembro o Programa de Aperfeiçoamento e Apoio à Docência no Ensino Superior (Paades) da Unesp. A iniciativa se destina à formação de pós-graduandos stricto sensu para a atividade docente na graduação. O programa foi lançado na reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). O presidente do conselho, o professor e vice-reitor Sérgio Nobre, destacou a importância da iniciativa para a complementação da formação acadêmica dos alunos de pós-graduação. Para Nobre, tais atividades contribuirão para uma integração ainda maior entre os alunos de graduação e pós-graduação, ajudando a despertar o interesse dos graduandos para a carreira acadêmica. O vice-reitor aproveitou para agradecer a participação de todos os envolvidos na discussão e aprovação da norma. A Resolução Unesp nº 18, de 29 de março de 2018, que criou programa, foi aprovada na Câmara Central de Pós-Graduação (CCPG), na Câmara Central de Graduação (CCG) e no Cepe no início do ano. O PROGRAMA “O Paades é um programa conjunto das Pró-Reitorias de Graduação e de Pós-Graduação que vem ao encontro de um anseio antigo dos alunos de
de exercícios, provas e projetos e na elaboração de material didático. Os alunos deverão também ministrar aulas na disciplina em que atuam, sob a supervisão do docente responsável, até o limite de 20% da carga horária da disciplina.
Gladis (ao microfone) e Sant’Anna debateram programa pós-graduação, que se ressentiam de não haver um programa semelhante a outras universidades aqui na Unesp”, explica a professora Gladis Massini-Cagliari, pró-reitora de graduação. “Ele é um programa voltado à formação dos pós-graduandos como docentes no ensino superior, que promove a integração entre os alunos de graduação e pós-graduação”. As atividades que os alunos de pós-graduação poderão realizar são classificadas em dois grupos. O grupo “A” poderá lecionar aulas na graduação, e o grupo “B” está voltado para ações de apoio à docência. Para as atividades do grupo “A” poderão se inscrever apenas doutorandos. Já do grupo “B” podem participar tanto mestrandos quanto doutorandos. Em ambos os casos, o candidato deverá ter cursado pelo
menos um semestre letivo do respectivo curso. O programa será desenvolvido em uma disciplina de graduação com até oito horas/aula semanais. Os participantes do Paades “A” desenvolverão práticas de ensino e de laboratório sob a supervisão de um docente responsável e, dentro do limite de horas estabelecido, realizarão plantões de dúvidas e auxiliarão em atividades de aulas práticas, de exercício ou de reforço, na elaboração e na correção de listas de exercícios, provas e projetos e ainda na elaboração de material didático. Já os integrantes do Paades “B” realizarão plantões de dúvidas, colaborando no planejamento da disciplina, auxiliando em aulas práticas, de exercício ou de reforço, atuando em atividades de elaboração e correção de listas
BENEFÍCIOS PARA OS ESTUDANTES Para a pró-reitora de graduação, a modalidade Paades “B” deve colaborar para o combate da retenção e da evasão dos estudantes nos cursos de graduação. “Nessa modalidade, alunos de pós-graduação poderão atuar como monitores dos docentes, fazendo um acompanhamento mais próximo dos estudantes de graduação e auxiliando o professor na preparação do material didático”, destaca. “É um programa que traz benefícios para os dois níveis de atuação, promovendo a integração e a qualificação da graduação e da pós”. Segundo o professor João Lima Sant’Anna Neto, pró-reitor de pós-graduação, esse programa é de muita importância para os alunos da pós-graduação, porque lhes oferecerá três novas possibilidades. “A primeira é ter a experiência didática útil para o futuro. Em segundo lugar, o pós-graduando terá um certificado e, com isso, poderá colocar no currículo que tem experiência didática e comprovar quando for exigido em concurso público de instituições de ensino
superior. Por último, uma parte dos alunos do Paades ‘A’, de doutorandos que vão ministrar disciplinas, poderá receber um auxílio financeiro da Universidade que será muito útil para o desenvolvimento das suas teses e atividades de pós-graduação”, declarou o pró-reitor. Todos os alunos de mestrado e doutorado interessados poderão participar do programa, mas é necessário fazer o treinamento didático-pedagógico que será realizado pelo Centro de Estudos e Práticas Pedagógicas (Cenepp) da Unesp. O pró-reitor de pós-graduação esclarece que no momento o Cenepp não tem condições de proporcionar o curso para todos de uma vez. “A cada ano nós vamos abrir em torno de cem a 150 vagas, escolhendo os melhores candidatos para as disciplinas dos diversos departamentos, das várias unidades da Unesp. Acreditamos que dentro de três a quatro anos poderemos atender a todos os alunos da pós-graduação”, explicitou Sant’Anna Neto. A publicação do edital foi feita na segunda quinzena de setembro, e as inscrições foram encerradas no fim do mesmo mês. Ao longo do mês de outubro a lista de inscritos por disciplina será enviada para os departamentos ou conselhos de curso para seleção . A expectativa é de que em novembro o Cenepp comece a preparação pedagógica dos alunos selecionados.
Livro traz experiências em iniciação à docência Obra reúne iniciativas da Universidade nos últimos quatro anos em subprojetos do Pibid
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stá disponível para download gratuito o livro Pibid/Unesp Forma(a)ação de professores: percursos e práticas pedagógicas em Ciências Exatas e da Natureza, publicado pela Oficina Universitária, do câmpus da Unesp de Marília. A obra é organizada pelos professores Sueli
Guadelupe de Lima Mendonça, Maria José da Silva Fernandes, Julio Cesar Torres e Maria Raquel Miotto Morelatti. O livro reúne um conjunto de dezessete capítulos que relatam atividades desenvolvidas nos últimos quatro anos por subprojetos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (Pibid) da Unesp da área de Ciências Exatas e da Natureza, com destaque para a valorização institucional da formação inicial e continuada de professores da educação básica no âmbito da Universidade. Nas palavras de Nilson de Souza Cardoso, da Universidade Estadual do Ceará,
no prefácio da obra, “o leitor encontrará a materialização do que defendemos nas ruas: uma formação de professores crítica e transformadora, cuja construção é feita junto com a escola, no espaço de atuação do professor, consubstanciada ao trabalho colaborativo entre sujeitos, espaço, práticas e
reflexões que ressignificam o processo de profissionalização inicial de futuros docentes”.
O e-book está disponível para download no endereço https://bit.ly/2DzWHwp
Pós-graduação
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Capes aprova doutorados
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Novas opções são Biociências em Assis, Física em Rio Claro e Fonoaudiologia, em Marília Jorge Marinho
Imagens divulgação
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CTC-ES (Conselho Técnico Científico da Educação Superior) da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) aprovou, em reunião realizada no início de setembro, a solicitação da Unesp para a implantação de mais três cursos de doutorado, que vão se somar aos outros 124 já existentes na Universidade. Os doutorados serão oferecidos pelos Programas de Pós-Graduação (PPG) em Biociências da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), câmpus de Assis; em Física do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), câmpus de Rio Claro; e em Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), câmpus de Marília. João Lima Sant’Anna Neto, pró-reitor de pós-graduação, afirma que a aprovação desses novos cursos terá um impacto regional imediato, com a abertura de vagas e formação de novos recursos humanos nessas três áreas do conhecimento. Ele ressalta que a prioridade da Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Da esq. para a dir.: Célia Maria, Sant’Anna, Carvalho e Rosana assinalaram importância da medida para a pós-graduação (PROPG) não é simplesmente ampliar o número de cursos de pós, mas garantir o aumento da qualidade dos programas existentes. “Uma das coisas mais importantes nesse sentido é exatamente abrir a modalidade de doutorado naqueles cursos onde só há o mestrado”, argumenta. “Com o doutorado, esses cursos vão ter um aumento de qualidade sem precedentes”. O PPG em Biociências, em Assis, iniciou as atividades em
2012 com o curso de mestrado para atender uma forte demanda regional de profissionais da área. Atualmente, o curso também tem estudantes do Paraná, do Mato Grosso e da Bahia. No início deste ano, o programa se tornou interunidades, integrando docentes do câmpus da Unesp de Bauru. Para a coordenadora da PPG em Biociências, professora Rosana Marta Kolb, a admissão do doutorado pela Capes é resultado da união de
esforços de todos os envolvidos com o programa. O coordenador do PPG em Física do IGCE, em Rio Claro, professor Ricardo Egydio de Carvalho, também ressalta que a conquista é fruto de um árduo trabalho, que começou com outros coordenadores do programa, para que se alcançasse a nota 4 no mestrado e, assim, fosse pleiteado o doutorado. Carvalho destaca ainda o apoio dos funcionários técnico-administrativos da unidade e
o empenho dos estudantes para que as dissertações de mestrado fossem de muita qualidade. A primeira turma de mestrado do PPG em Fonoaudiologia na FFC, em Marília, teve início em 2011, com nota 3 dada pela Capes. Já em sua primeira avaliação quadrienal, esse PPG recebeu nota 4. Sua coordenadora, professora Célia Maria Giacheti, concorda que só com o esforço e trabalho coletivos foi possível alcançar essa vitória na Capes.
Fórum San Tiago Dantas comemora 15 anos Unesp, Unicamp e PUC-SP oferecem Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais Genira Chagas
programa. Eles abordaram a formação proporcionada pelo San Tiago Dantas e os desafios do mercado de trabalho. Para concluir a atividade comemorativa, houve uma palestra do coordenador da área de Ciência Política e Relações Internacionais da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) Luiz Manuel Fernandes, da PUC-Rio. SOBRE O SAN TIAGO DANTAS Oferecido na capital paulista, o Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas foi o primeiro programa de estudos pós-graduados em Relações Internacionais da região Sudeste avaliado pela Capes. A iniciativa de três das principais instituições de ensino superior do Brasil é reconhecida
nos meios acadêmicos e nos órgãos da diplomacia. O programa resulta de projeto especial do edital San Tiago Dantas, aprovado pela Capes em 2002. As três universidades paulistas somaram esforços e iniciaram o mestrado em 2003 e o doutorado em 2010. O objetivo principal desse programa interinstitucional é formar profissionais capazes de responder, a partir de uma visão crítica e interdisciplinar, às exigências de análise das relações internacionais e de seus impactos sobre o Brasil. Esse compromisso foi assumido desde a primeira hora e está registrado no projeto inicial. O corpo docente é composto por pesquisadores que atuam como coordenadores de projetos de investigação e são também
responsáveis por áreas específicas de estudos. Na dinâmica do programa, em todos os projetos participam pesquisadores de
outras instituições de ensino superior – algumas estrangeiras –, alunos, ex-alunos e graduandos das três universidades. Genira Chagas
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ara comemorar os quinze anos de sua instituição, o Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, oferecido em conjunto por Unesp, Unicamp e PUC-SP, promoveu nos dias 17 e 18 de setembro o Fórum San Tiago Dantas. Nestes dois dias de atividades foram formadas quatro mesas, responsáveis por debater problemas e desafios pertinentes ao tema das Relações Internacionais. A primeira mesa reuniu alguns dos idealizadores do programa, entre eles os professores Tullo Vigevani, Luis Fernando Ayerbe, Sebastião Velasco, Flávia de Campos Mello e o coordenador Samuel Alves Soares. No segundo dia, na parte da manhã, foram duas mesas com doutorandos e egressos do
Da esq. para a dir.: Velasco, Flavia, Vigevani, Ayerbe e Soares
8 Parceria madura e em expansão Setembro 2018
Reportagem de capa
Instituto Confúcio na Unesp completa dez anos com convênio renovado e atividades em expansão, integradas às estratégias de internacionalização da Universidade Fábio Mazzitelli Roberto Rodrigues / ACI Unesp
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uem chegava à unidade da Unesp no Ipiranga, bairro da Zona Sul da capital paulista, na noite de 17 de setembro, ficava com a impressão de que poderia estar entrando em um portal de alguma Chinatown mundo afora. Cumprimentos e conversas em mandarim, adereços chineses dos mais diversos e uma ambientação que indicava a maturidade de um intercâmbio cultural assentado em uma década de parceria. A festa que marcou o aniversário de dez anos do Instituto Confúcio na Unesp, comemorados neste 2018, reuniu uma mostra do potencial e do alcance desse convênio firmado com o objetivo de divulgar a cultura e a história do país asiático e fortalecer o intercâmbio cultural, acadêmico e científico entre brasileiros e chineses. Na Unesp, o Instituto Confúcio, instituição ligada ao Ministério da Educação da China, tem hoje cerca de 2 mil alunos matriculados nos cursos ofertados, que já extrapolaram os limites da Universidade. As atividades são oferecidas em treze câmpus (Bauru, Marília, Assis, Presidente Prudente, Ilha Solteira, São José do Rio Preto, Jaboticabal, Franca, Araraquara, Botucatu, Itapeva, São José dos Campos e São Paulo) e em uma sala aberta neste semestre em São Luís, capital maranhense, em parceria com a Universidade Federal do Maranhão e com o governo daquele estado. A parceira acadêmica chinesa da Unesp no convênio é a Universidade de Hubei. “O Instituto Confúcio é hoje a principal plataforma de intercâmbio cultural e acadêmico entre a China e o mundo. Existem atualmente 525 Institutos Confúcio em 146 países”, afirma Luis Antonio Paulino, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) de Marília e diretor do Instituto Confúcio na Unesp. “Para uma universidade como a nossa, que hoje realiza um grande esforço de internacionalização de suas atividades, a existência do Instituto Confúcio na Unesp tem um sentido estratégico”, acredita o docente.
Brasileiros e chineses posam para foto conjunta em festa do aniversário de dez anos da parceria, em São Paulo HISTÓRIA Ao lado do então reitor da Universidade, Marcos Macari, Paulino foi um dos responsáveis pela formalização da parceria em 2008 e agora é um dos zeladores de sua longevidade. Em julho deste ano, o docente acompanhou o reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini, no ato de renovação do convênio por mais cinco anos. A prorrogação da parceria foi consumada durante viagem dos docentes a Pequim para a reunião anual do Conselho da Matriz do Instituto Confúcio (Hanban), do qual Sandro Valentini se tornou membro em dezembro do ano passado, sendo o único reprsentante da América Latina com assento no órgão. “A Unesp foi pioneira na criação dos Institutos Confúcio no Brasil e já recebemos o prêmio de melhor Instituto Confúcio do Ano em três ocasiões. Em visita em 2016, a então vice-primeira ministra da China, Liu Yandong,
afirmou que o Instituto Confúcio na Unesp era o melhor do mundo. O Conselho de Direção da Sede do Instituto Confúcio em Pequim possui dez membros efetivos, quatro reitores de universidades chinesas e seis reitores de universidades estrangeiras, sendo um deles o reitor da Unesp. Esses números demonstram o enorme prestígio e a importância que o governo da República Popular da China atribui à Unesp no contexto das relações globais da China com o resto do mundo”, diz Paulino. O Instituto Confúcio na Unesp tem dois eixos consolidados: o ensino de língua chinesa, apoiado pela união de expertises entre a Unesp e a universidade chinesa de Hubei, e o intercâmbio cultural entre o Brasil e a China, marcado por atividades como o Festival das Lanternas Chinesas no Parque do Ibirapuera e a Mostra de Cinema Chinês de São Paulo, ambas realizadas na capital paulista. Um terceiro eixo está
sendo introduzindo com a ampliação da parceria, que são os estudos temáticos sobre a China. Ao longo dos dez anos da parceria, já foram atendidos cerca de 11 mil estudantes, sendo aproximadamente 40% alunos da Unesp, 10% alunos de escolas do ensino médio e os outros 50% alunos de outras
instituições de ensino superior e da comunidade. Cerca de quatrocentos estudantes também já puderam viajar à China no decorrer desse período, realizando atividades de intercâmbio por meio de bolsas de estudo oferecidas pela Sede do Instituto Confúcio em Pequim para cursos que duraram de três semanas a um ano. Roberto Rodrigues / ACI Unesp
Reportagem de capa
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9 Roberto Rodrigues / ACI Unesp
Roberto Rodrigues / ACI Unesp
Professor Paulino, diretor do Instituto Confúcio na Unesp “Já temos egressos de nossos cursos realizando mestrado e doutorado em temas relacionados à China nas mais diversas áreas”, relata Paulino. Na área de cooperação empresarial, a parceria serve como referência a empresas chinesas que investem no Brasil nas mais diversas áreas da economia, intermediando a apresentação de oportunidades de trabalho que surgem nessas companhias a brasileiros com conhecimento da língua chinesa. “Pretendemos aprofundar essa cooperação, inclusive buscando apoio dessas empresas para expandir a oferta do ensino da língua chinesa não apenas para estudantes universitários, mas também para os alunos da rede pública de ensino, com a qual já temos cooperado em projetos-piloto, como o que se desenvolve atualmente no câmpus de Franca da Unesp”, afirma o diretor do Instituto Confúcio. EXPANSÃO Além de comemorar os resultados de uma década de parceria, o Instituto Confúcio na Unesp se fortalece como uma frente estratégica e em expansão de formação de uma geração de pesquisadores e profissionais com atuação mais eficiente no intercâmbio entre o Brasil e a China. Neste semestre, segundo o professor Luis Paulino, uma nova sala do Instituto Confúcio está sendo aberta no Câmpus Itapeva para impulsionar o trabalho de cooperação em andamento entre pesquisadores brasileiros e chineses no âmbito do Inbar (International Network for Bamboo and Rattan, ou em tradução livre “Rede Internacional de Bambu e Rattan”), com sede em Pequim. Além disso, em setembro foi realizado o VII Fórum Acadêmico de Alto Nível
China-América Latina, em Manaus, com participação do Instituto, no qual foram debatidos temas como cooperação científica e tecnológica, relações internacionais, economia, finanças e comércio internacional, entre outros. Na área editorial, o Instituto Confúcio na Unesp já publicou, com a Editora Unesp, traduções inéditas de dois dos mais importantes clássicos da filosofia chinesa: Os analectos de Confúcio, que resgata o pensamento original do filósofo chinês, e Dao De Jing, de Laozi, tradicional coletânea de provérbios chineses. Outra publicação dessa frente editorial é a Revista Instituto Confúcio, em edição bilíngue, distribuída em todos os países de língua portuguesa. Durante a festa de aniversário realizada no Ipiranga, estudantes do Instituto Confúcio do Brasil e alunos da Universidade de Hubei realizaram uma série de apresentações, prestigiadas por mais de uma dezena de autoridades chinesas, entre as quais a cônsul-geral da China em São Paulo, Chen Peijie, e o vice-reitor da universidade chinesa de Hubei, Jiang Tao. No ato solene que abriu a cerimônia estiveram presentes o reitor da Unesp, Sandro Valentini, o vice-reitor Sergio Nobre, o ex-reitor da Universidade Marcos Macari, o diretor do Instituto Confúcio na Unesp, Luis Paulino, o diretor-presidente da Fundação Editora Unesp, professor Jézio Hernani Bomfim Gutierre, e o secretário-chefe da Casa Civil do governo estadual, Aldo Rebelo, entre outras autoridades brasileiras.
Mais informações no site do Instituto Confúcio na Unesp: www.institutoconfucio.unesp.br :
Estudante brasileiro toca instrumento típico da China na festa: intercâmbio cultural
4ª Mostra de Cinema Chinês de São Paulo traz 12 filmes inéditos no Brasil
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Centro Cultural São Paulo (CCSP) recebe de 5 a 14 de outubro a 4ª Mostra de Cinema Chinês de São Paulo, realizada pelo Instituto Confúcio na Unesp. A programação deste ano reúne um total de doze filmes premiados em festivais internacionais e totalmente inéditos no Brasil. A entrada é gratuita. Com curadoria de Wang Yao, da Beijing Film Academy, a Mostra traz um panorama dos cineastas da Nova Geração da Mongólia Interior, região autônoma da China, além das retrospectivas dos diretores Liu Jie e Qiao Liang. Este último vem ao Brasil para participar de um bate-papo com o público. Eleito o melhor filme no Festival de Moscou em 2017, Ave rara, de Qiao Liang, abrirá a Mostra para convidados no dia 4 de outubro. O filme conta a história de um jornalista que, para fazer uma reportagem sobre o aparecimento de uma ave rara, retorna à cidade natal. Seu trabalho, porém, põe em risco uma fábrica que é fonte de renda para os habitantes locais. O conflito de interesses desperta a discussão sobre a degradação ambiental. Na Retrospectiva Qiao Liang, o público ainda poderá assistir aos longas Voar
(2006), Keelung (2014) e a A ex-mulher (2009), que terá sessão seguida de debate com o diretor no dia 6 de outubro (sábado) às 15 h. Já a retrospectiva do diretor Liu Jie exibirá os títulos Esconde-esconde (2016), A montanha nevada (2010), Juventude (2013) e De Lan (2015), vencedor do Festival Internacional de Xangai. De Lan se passa nos anos 1980, quando um jovem imaturo da etnia han se apaixona por uma mulher tibetana casada, envolvendo-se num intenso e complexo caso de amor. Completa a programação da Mostra de Cinema Chinês o panorama A Nova Geração da Mongólia Interior com os filmes Besta velha (2017), de Zhou Ziyang; A ira do silêncio (2017), de Xin Yukun; Dizer adeus (2015), de Degena Yun, vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Cinema de Tóquio e melhor longa no Festival de Torino, na Itália; e o documentário Da San (2018), de Tong Jiasheng, que fez parte da seleção oficial dos festivais internacionais da Austrália, de Pequim e de Montreal (Canadá) em 2018. A obra mostra a trajetória de um homem de um metro e dez centímetros de altura que sonha em escalar o Monte Everest. A Mostra de Cinema Chinês é uma realização do Instituto Confúcio na Unesp em parceria com o CCSP e a Spcine.
Sexta-feira, 5/10: 16h00 – De Lan 18h00 – A montanha nevada 20h00 – Esconde-esconde Sábado, 6/10: 15h00 – A ex-mulher 17h30 – Q&A 20h00 – Ave rara Terça-feira, 9/10: 16h00 – Juventude 18h00 – Dizer adeus 20h00 – Besta velha Quarta-feira, 10/10: 16h00 – Esconde-esconde 18h00 – A ex-mulher 20h00 – Da San Quinta-feira, 11/10: 16h00 – A montanha nevada 18h00 – Keelung 20h00 – Ave rara Sexta-feira, 12/10: 15h30 – Juventude 17h30 – Voar 19h30 – A ira do silêncio Sábado, 13/10: 15h30 – De Lan 17h30 – Voar 19h30 – A ira do silêncio Domingo, 14/10: 16h00 – Keelung 18h00 – Dizer adeus 20h00 – Besta velha
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Tecnologia
Projeto populariza prótese P
róteses de baixo custo fabricadas em uma impressora 3D vêm beneficiando pessoas com diversos tipos de deficiências. Essa iniciativa é resultado de uma parceria de docentes e alunos do Departamento de Design e do Programa de Pós-Graduação em Design da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac) da Unesp, câmpus de Bauru, com a Sorri, um centro especializado em reabilitação que atua em Bauru e toda a região. A cooperação entre as duas instituições também foi fundamental na organização da segunda edição do Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva, que reuniu em Bauru cerca de 350 participantes de quinze estados do país, entre os dias 12 e 14 de setembro. O Congresso foi realizado paralelamente a outro evento na cidade voltado para o mesmo público, o Encontro Regional de Atenção à Pessoa com Deficiência.
AÇÃO CONJUNTA Nesse trabalho colaborativo, a equipe da Unesp realiza estudos e desenvolve projetos de próteses a partir da demanda dos pacientes atendidos pela Sorri, que produz as peças numa impressora 3D. Com isso, a Universidade vem ampliando seu know-how no campo da tecnologia assistiva – que envolve os artefatos ou sistemas que ajudam a pessoa com deficiência visual, auditiva e de locomoção, por exemplo, a recuperar suas atividades cotidianas. “Sob demanda, fazemos um estudo de caso e usamos a estrutura técnica e de pessoal da Unesp para desenvolver a prótese”, explica o professor Fausto Medola, do Departamento de Design da Faac. “A personalização da prótese trabalha a aceitação dela pelo usuário, o que é sempre um desafio”, diz o docente. Outro coordenador da iniciativa, o professor Luis
Carlos Paschoarelli, também do Departamento de Design da Faac, enfatiza que a proposta beneficia os estudantes da Universidade. “O envolvimento nos estudos e na criação dos projetos ajuda os alunos a ficar mais próximos dos problemas da sociedade”, explica. As próteses têm como base uma tecnologia chamada de FDM (Fused Deposition Modeling). A impressão 3D ocorre por um sistema de filamentos utilizando plásticos de baixo custo (um quilo do material custa cerca de R$ 150) e apoiando-se em open source (projetos abertos). Os produtos sob demanda, em geral, são para os membros superiores e têm um funcionamento simples, fazendo o movimento de flexão do cotovelo. Mas a equipe da Unesp atua também em próteses para os membros inferiores, desenvolvendo uma capa para o componente tubular que a pessoa vai usar na perna.
Divulgação
Equipe da Unesp participa da produção de materiais e trabalha aceitação do usuário
Exemplo de prótese desenvolvida no curso de Design de Bauru EVENTOS Medola e Paschoarelli presidiram o comitê organizador do Congresso realizado em Bauru, um evento concebido pela Rede de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva, integrada pela Unesp, UFPR (Universidade Federal do Paraná), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Udesc (Universidade
do Estado de Santa Catarina) e UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Já o Encontro Regional de Atenção à Pessoa com Deficiência foi promovido pela Sorri em parceria com o câmpus de Bauru da Unesp, a Secretaria Municipal de Saúde de Bauru e a USC (Universidade do Sagrado Coração).
Biomaterial para implantes oculares Tecnologia adere melhor ao tecido do paciente, reduzindo risco de deslocamento do implante Tatiane Liberato
Agência Fapesp
U
m material vitrocerâmico capaz de devolver o volume perdido do globo ocular de pessoas portadoras de doenças como tumor, trauma ou glaucoma. Trata-se de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e da Unesp no LaMaV (Laboratório de Materiais Vítreos) da UFSCar. Segundo a UFSCar, a tecnologia foi patenteada e possibilitará a realização de cirurgias, preservando maior quantidade de tecido ocular necessário para o ser humano. O material foi desenvolvido pelos pesquisadores Oscar Peitl Filho e Edgar Dutra Zanotto, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, e Silvana Artioli Schellini e Simone Milani Brandão, da Unesp. Quando o conteúdo ocular é retirado de uma pessoa, ela perde completamente a visão, fazendo-se necessário substituir o volume por um implante.
Design da prótese contribui para que o organismo não a recuse Uma das principais características da nova tecnologia é ser um material integrável, ou seja, capaz de criar adesão ao tecido macio do paciente, reduzindo assim o risco de perda e deslocamento do implante intraocular. A adesão de uma cerâmica cristalina sintética aos tecidos moles (cartilaginosos) ainda não era possível até o surgimento desse material, denominado biosilicato. A patente começou a ser pensada há cerca de oito anos.
Na ocasião, os pesquisadores desenvolveram geometria cônica para prótese ocular com dimensão proporcional ao globo ocular de um coelho. A partir dos resultados, foi desenvolvida uma prótese para reposição do volume do globo ocular em face da retirada de tumores em seres humanos. A proposta de associar em uma prótese melhor adaptação cirúrgica, geometria compatível com o globo ocular humano (cônica em
vez de esférica) e adesão singular aos tecidos oculares – em uma tecnologia nacional – resultou em um design inovador. Entre o tempo de confecção da prótese e a realização do procedimento cirúrgico foram cerca de dois anos de pesquisa, além dos seis meses iniciais para a definição dos moldes, e mais um ano para a confecção e produção da primeira prótese com dimensões adequadas ao olho humano. Os testes foram feitos nos hospitais universitários da Unesp, em Botucatu, e da USP (Universidade de São Paulo), na capital paulista, em quarenta pacientes cegos. Segundo Peitl, pesquisador responsável pela tecnologia, atualmente a prótese mais utilizada para a substituição de olhos humanos é esférica, confeccionada com material plástico poroso (importado), cuja adesão permite que parte do tecido cresça dentro dos “poros”, fixando-a no corpo.
Para a nova tecnologia, os pesquisadores desenvolveram canais ao longo da prótese cônica, com o objetivo de diminuir o peso, para obter melhor resposta biológica e aumentar a área de contato do implante com o hospedeiro e, assim, a adesividade entre eles. Os resultados superaram a viabilidade porque a aplicação não apresentou nenhum problema técnico. Além disso, Peitl ressalta que o design da prótese, com canais e geometria que contribuem para que o organismo não a recuse, foi o principal diferencial da tecnologia. Buscar soluções com equipe multidisciplinar tornou o nosso resultado fantástico, pois um profissional isolado não resolve problemas sozinho”, disse em comunicado da UFSCar. Mais informações: https://bit.ly/2QfiriF
Planejamento e avaliação
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“Novatas” conhecem nova metodologia de planejamento A primeira fase de implantação é concluída com seminário que reuniu coordenadores de curso das novas unidades da Unesp
Fotos Jorge Marinho
Jorge Marinho
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primeira etapa do processo de implantação do novo paradigma de planejamento e avaliação departamental da Unesp chegou ao fim com a realização do nono seminário de treinamento realizado no Instituto de Física Teórica, em São Paulo, com coordenadores, vice-coordenadores e servidores técnico-administrativos das unidades universitárias e câmpus experimentais onde não há departamentos. O evento foi realizado sob a coordenação da Escola Unesp de Liderança e Gestão (EULG) e a organização da Comissão Permanente de Avaliação (CPA). “Concluímos o processo de orientação, debate e diálogo acerca da implantação do planejamento em todas as unidades. Também tivemos a oportunidade de conversar com aquela parcela da Unesp que é mais jovem, que está se integrando e lutando fortemente para implantar seus cursos de graduação, vários deles já também com pós-graduação em funcionamento”, afirmou Maria Encarnação Beltrão Sposito, presidente da CPA. Maria Aparecida Custódio Domingues, coordenadora da EULG, ressaltou que o processo contribui para que os integrantes da comunidade universitária possam enxergar o que outras pessoas da Unesp estão fazendo. “A grande pergunta é: o que cada departamento pode contribuir com o outro? Isso criará uma grande corrente interna, em que as pessoas poderão conectar e adicionar o próprio conhecimento e criatividade com o das outras da Unesp”, declarou. A primeira etapa da nova sistemática, aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), será relativa ao biênio 2018-2019, com base no que cada grupo realizou no biênio anterior. A metodologia busca contemplar as cinco dimensões do trabalho na Universidade: graduação, pós-graduação, pesquisa, extensão universitária e gestão, com pesos diferentes. Ela também se baseia em um movimento de mão dupla, segundo o qual a elaboração do planejamento se apoia em diagnóstico fundamentado no perfil
Encontro concluiu processo de orientação, debate e diálogo sobre a implantação da nova sistemática em todas as unidades do departamento, dos docentes e pesquisadores em função da trajetória de cada um na própria unidade departamental ou coordenação de curso. “Estou na Universidade há quatro anos e realmente sentia falta dessa forma de ver e de planejar. Hoje é sempre muito burocrático. Espero que, com essa metodologia, haja a oportunidade de trabalhar de forma coordenada e planejada”, comentou o coordenador do curso de Engenharia Aeronáutica do câmpus experimental de São João da Boa Vista, Elmer Mateus Gennaro. A vice-coordenadora do curso de Engenharia Ambiental do Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba, Renata Fracácio Francisco, também aprova o novo processo: “Eu acho que é uma iniciativa de inovação, pensando sempre no coletivo e com certeza vai integrar mais os professores”, avaliou. “A Universidade precisa desse tipo de planejamento e avaliação para se desenvolver e atingir novos patamares de excelência”, manifestou o coordenador do curso de Engenharia Industrial Madeireira do câmpus experimental de Itapeva, Alexandre Jorge Duarte Souza. Durante o encontro, a CPA disponibilizou a matriz departamental provisória, parcialmente preenchida, para que cada coordenador de curso ou representante pudesse se familiarizar com o instrumento. As informações sobre as atividades realizadas em 2016 e 2017 foram recolhidas e sistematizadas para
as variáveis comuns da matriz departamental, oriundas de vários bancos de dados (SisRH, SisGRAD, SisPG, SisProex, Sistema de Iniciação Científica da Prope, SCDI da Fapesp e Plataforma Lattes do CNPq). A presidente da CPA explicou que a prioridade foi dada para as informações sobre as variáveis comuns justamente porque serão escolhidas por todas as unidades departamentais da Unesp e coordenadorias de curso. Ela informou ainda que não foram recolhidas informações sobre as variáveis optativas por não se ter conhecimento prévio sobre quais serão selecionadas pelas unidades. Também não se poderiam prever as variáveis eletivas, que são aquelas que cada coordenação poderá incluir na matriz, se julgar adequado. Como anteriormente o trabalho coletivo não era o foco, os representantes das unidades preveem agora uma fase de aprendizado para todos os envolvidos na gestão das coordenações e dos departamentos da Universidade. “Vamos ter que aprender a lidar com os conflitos que podem surgir para chegarmos a um objetivo comum, que é conseguir que todos trabalhem em prol do departamento, porque o foco é o trabalho coletivo”, afirmou a coordenadora do curso de Engenharia de Pesca do câmpus experimental de Registro, Dariane Beatriz Schoffen Enke. Para a coordenadora do curso de Engenharia de Biossistemas do câmpus de Tupã, Juliane Cristina Forte, o maior desafio
será conseguir a concordância de todos os docentes para finalizar a planilha da melhor forma possível para o curso. “Acredito que será um desafio, mas não será impossível”, informou. “Eu acho que é uma mudança pró-ativa e o maior desafio será na hora da escolha dos indicadores, com todos participando da discussão. Conseguindo isso, será um sucesso”, revelou a responsável pela Seção Técnica de Apoio Acadêmico do câmpus experimental de São João da Boa Vista, Maria Luiza Sarubi Barreto. A CPA já está tratando as informações das matrizes departamentais que já foram remetidas pelas unidades treinadas em junho. A expectativa, segundo a presidente da CPA, é apresentar os primeiros resultados ao Cepe até o fim do ano e, na sequência, aos próprios departamentos. “A nossa avaliação é que esse primeiro momento de sistematização não dará um retrato fiel da Unesp, porque é o momento do planejamento. O que teremos
é clareza sobre as escolhas feitas pelos colegas, porque terão apresentado o que estão realizando e o que gostarão de fazer no decorrer do próximo biênio”, pronunciou Sposito. “É um desafio não deixar um critério muito aquém da nossa capacidade, tampouco muito além. Tem que ser pensado aquilo que o grupo conseguiu com algum sucesso e verificar seus pontos frágeis, para propor o que fazer em um horizonte de dois anos”, analisou o coordenador do curso de Administração da Faculdade de Ciências e Engenharia de Tupã, Timóteo Ramos Queiroz. O coordenador do curso de Engenharia Agronômica do câmpus experimental de Dracena, Evandro Pereira Prado, acredita que o novo sistema será benéfico para a Unesp. “Acho que todos devem estar cientes e também devem participar do planejamento, para que possamos estabelecer prioridades que representem bem as necessidades de cada unidade”, relatou.
Maria Encarnação: prioridade para dados sobre variáveis comuns
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Comunicação
Conteúdo da TV Unesp terá alcance nacional
Contrato disponibiliza produção da Universidade para emissoras legislativas de todo país
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Unesp firmou no dia 29 de agosto uma parceria com a Astral (Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas) que disponibilizará o conteúdo produzido pela TV Unesp para as emissoras legislativas espalhadas por todo o país, uma iniciativa que, sem custos para a Universidade, ampliará a divulgação de suas ações para um alcance nacional. Fundada em 2003, a Astral reúne hoje emissoras de dez assembleias estaduais e mais 24 câmaras municipais distribuídas por todas as regiões do país, além da Câmara e Senado federais, marcando presença tanto em capitais quanto nos municípios no interior dos estados. Para o vice-reitor Sergio Nobre, esse é um passo importante para projetar ainda mais as atividades da Universidade. “Nós estamos ampliando o canal de divulgação do estado para o país. Isso fortalece nossas pesquisas e os grupos que produzem esses trabalhos”, apontou. O diretor da TV Unesp, professor Francisco Machado Filho,
lembra que o canal já acumula mais de sete anos de produção e quase 5 mil programas, material que será disponibilizado para o uso das emissoras legislativas sem custo adicional para a Unesp. “A um custo zero para a Universidade, nós teremos a divulgação de pesquisas e ações extensionistas em locais como o interior do Maranhão, do Pará ou do Rio Grande do Sul, além de diversas capitais do Brasil”, afirma o diretor, lembrando que o conteúdo das emissoras legislativas é transmitido em sinal aberto de TV. Além dele, a assessora Priscila Pacheco de Lima também representou a TV Unesp na reunião. A parceria também é importante para as TVs legislativas, que têm como uma de suas maiores dificuldades a produção de conteúdo de fôlego e qualidade. É o que afirma o diretor técnico da Astral, Marcelo Malacrida, que representou a entidade ao lado da secretária-geral Luciana Rivelli. “Para a Astral, o acordo é um divisor de águas, porque vai ajudar as emissoras a preencher
Marcos Jorge
Marcos Jorge
Da esq. para a dir.: Malacrida, Luciana, Nobre e Machado analisaram vantagens da iniciativa a grade de programação com conteúdos de qualidade e de total interesse para o cidadão, como ciência, tecnologia e educação”, celebrou. Antes do acordo com a Astral, a TV Unesp já havia estabelecido uma parceria com emissoras legislativas, como a TV Câmara de Bauru. A equipe de jornalismo dos dois veículos produz em parceria o programa semanal
Bauru em Debate, que vai ao ar todas as terças-feiras, às 22h15, e discute temas importantes para o desenvolvimento do município com jornalistas, especialistas da Universidade e representantes do poder público. Além de compartilhar os conteúdos, TV Unesp e Astral vão desenvolver projetos educacionais em conjunto, visando promover uma educação social
e política, construindo uma democracia mais consciente e participativa. Os programas produzidos pela TV Unesp contemplam, por exemplo, temas educativos sobre diversidade, como o “Educando para a diversidade”, ecologia, como o “Ecoideias”, e educativos, como o “Dicas de Enem”, especial sobre “Ciência e tecnologia”, além de telecursos.
Site Unesp Aberta passa a oferecer dois cursos com certificação Plataforma ganha nova identidade visual e disponibiliza 73 cursos gratuitos a distância
O
site Unesp Aberta está com uma nova identidade visual, mais moderna e facilitadora para o usuário. Além disso, a partir de setembro, a plataforma passou a oferecer dois de seus 73 cursos on-line com certificação. O Unesp Aberta é um ambiente de aprendizagem on-line e gratuito que oferece a oportunidade de formação e aperfeiçoamento nas áreas de humanas, exatas e biológicas. É uma iniciativa da reitoria da Unesp (no âmbito das Pró-Reitorias de Graduação, Pós-Graduação e Extensão) com o Núcleo de Educação a Distância (NEaD).
O Unesp Aberta oferece 73 cursos livres com mais de 2 mil materiais e mais de 300 mil inscritos. Para começar a aprender, basta que o internauta se cadastre. Os cursos podem ser iniciados e terminados em qualquer data, sem a necessidade de aguardar a abertura de turmas ou de observar um prazo para finalizar as atividades. O usuário tem autonomia para administrar o próprio tempo e local de estudo. Os cursos que possuem certificado são identificados com um ícone no canto inferior direito e legenda “Curso
com certificação”. Atualmente, Avaliação da Aprendizagem no Ensino Superior e as Tecnologias Educacionais (http://bit. ly/2Nry3ib) e Práticas Pedagógicas e Metodologias Ativas (http://bit.ly/2BS2ooA) oferecem esta opção. Neles, o usuário pode escolher se quer cursá-los com ou sem certificação. Caso opte pelo documento, o certificado será fornecido para o cursista que obtiver aproveitamento mínimo de 50% na avaliação final, responder a pesquisa de satisfação e realizar o pagamento da taxa de emissão. Caso não queira, poderá acessar o
conteúdo da mesma forma. O cursista pode ainda ativar a opção da certificação no decorrer do curso. Segundo o coordenador do NEaD, Klaus Schlünzen Junior, a ideia é que, ao longo dos próximos meses, novos cursos ganhem a opção de certificação. As novidades serão informadas pelo Portal Unesp e pelo Facebook do NEaD (https://bit. ly/2Dwmfuq). “Essa é uma parceria estabelecida com a Pró-Reitoria de Extensão (Proex) com o intuito de adequar as normas da Universidade, rever nossa legislação
e contemplar essa modalidade de curso”, aponta. O NEaD foi criado em 2012 com o intuito de oferecer, gratuitamente e em um ambiente virtual, cursos produzidos por professores da Unesp, disponibilizando-os para qualquer pessoa com acesso à internet. “Esse espaço vai ao encontro do que tem sido feito pelas principais universidades do mundo, que disponibilizam seus cursos no formato on-line, de forma que o conhecimento produzido na academia seja cada vez mais democratizado”, destaca Schlünzen. O Unesp Aberta tem atualmente mais de 319 mil usuários cadastrados.
Ciência Agrárias
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Foco na praga do trigo D
ois artigos elaborados por pesquisadores da Unesp em parceria com importantes instituições nacionais e internacionais ganharam destaque em revistas de prestígio na área de doenças de plantas. Os trabalhos consolidam o conhecimento que se tem sobre a doença brusone, que afeta o trigo. A devastadora enfermidade surgiu pela primeira vez no Brasil em 1985 e se espalhou rapidamente pelas áreas de cultivo de trigo não apenas no país, mas na Bolívia, no Paraguai e na Argentina, tornando-se a praga de maior impacto na produção dessa cultura na região. Dois artigos publicados na Annual Review of Phytopathology e na Molecular Plant Pathology resumem o estado atual do conhecimento sobre a brusone do trigo, com o objetivo de identificar as lacunas mais importantes na compreensão
da doença. Os trabalhos foram desenvolvidos na Unesp em parceria com Ufla (Universidade Federal de Lavras), UFV (Universidade Federal de Viçosa), Embrapa Trigo (subsidiária da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e ETH/Universitaet Neuchâtel, da Suíça. “Nesses artigos nós também propomos uma agenda de pesquisa que visa melhorar o manejo da brusone e limitar a ameaça que ela representa para a produção mundial de trigo”, explica Paulo César Ceresini, professor da Unesp de Ilha Solteira e principal autor dos artigos. A pesquisa vem sendo financiada desde 2013 com recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Embrapa e Swiss Science Foundation.
AMEAÇA O docente explica que até 2016 a doença estava restrita à América do Sul, quando uma série de exportações de grãos do Brasil levou a um surto de brusone de trigo em Bangladesh, no sudeste da Ásia. “A detecção da brusone em Bangladesh é alarmante para a segurança da produção de trigo no sudeste da Ásia, especialmente se atingir Índia e Paquistão. Por isso, compreender a biologia e epidemiologia dessa doença, incluindo suas causas e consequências, é urgente”, afirma Ceresini. A brusone do trigo é causada pelo fungo ascomiceto Pyricularia graminis-tritici (Pygt), uma espécie geneticamente distinta da Pyricularia oryzae, que causa a brusone do arroz. Acredita-se que o patógeno se recombine principalmente em outras gramíneas hospedeiras, dando origem à população
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Trabalhos sobre a doença brusone são publicados em revistas de prestígio na área
Artigos resumem estado atual do conhecimento sobre doença de Pygt altamente diversa observada nos campos de trigo do Brasil. Os artigos reúnem conhecimentos passados e atuais sobre história, etiologia, epidemiologia, fisiologia e genética do fungo da brusone do trigo e discute a necessidade futura de estratégias de manejo integrado da doença. “A necessidade atual
mais urgente é fortalecer regulamentações de quarentena e biossegurança para evitar a disseminação adicional do patógeno em países livres de doenças. Serão necessários esforços internacionais de melhoramento para desenvolver variedades de trigo com resistência mais duradoura”, afirma o pesquisador da Unesp.
Banco de dados sobre atropelamento de fauna em acesso livre
Para professor de Rio Claro envolvido no projeto, pesquisas estão entrando na era do big data Divulgação
A
mortalidade por colisão com veículos é o impacto mais visível das rodovias na fauna silvestre. Essa nova ameaça à conservação da biodiversidade levou vários centros de pesquisa, universidades e concessionárias de rodovias a registrar quais são os animais afetados e onde esses atropelamentos ocorrem. Nesse sentido, a Ecology, a principal revista científica de ecologia no mundo, tornou público um banco de dados com 20 mil registros de atropelamentos no Brasil de 450 espécies de vertebrados terrestres. O estudo contou com a participação de cem pesquisadores e conservacionistas do Brasil e do exterior. “Estamos colocando o Brasil na era do big data”, afirma Milton Ribeiro, pesquisador da Unesp de Rio Claro envolvido no projeto. O objetivo do banco de dados é avaliar o impacto nas populações de animais silvestres e orientar os empreendedores (públicos e privados)
Boa informação garante diretrizes para conservar biodiversidade e órgãos ambientais a adotar medidas para reduzir as taxas de atropelamento. No entanto, esses estudos são onerosos, o que limita os monitoramentos a apenas alguns segmentos da rede de rodovias e a curtos períodos. A iniciativa envolveu a ecóloga de estradas e pesquisadora de Portugal, Clara Grilo. “Essa publicação põe à disposição os dados brutos de dezenas de pesquisas e abre caminho para uma análise nacional dos
impactos das rodovias na biodiversidade”, comenta. “Essa informação é especialmente importante no Brasil, onde vários biomas com elevada riqueza de espécies coincidem com os planos de expansão da rede rodoviária”, declarou Andreas Kindel, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e líder do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf-UFRGS). Para Kindel, um dos principais corresponsáveis
pela organização do banco de dados, “somente com dados de acesso livre poderemos fazer análises em escalas mais amplas e com maior detalhamento”. NA ERA DO BIG DATA Do ponto de vista de compartilhamento de dados, o Brasil está passando por uma importante mudança. Historicamente, muita informação sobre biodiversidade acabava apenas nas prateleiras das universidades, ou mesmo nem se tornava pública. O artigo Brazil road-kill (“Atropelamentos de fauna no Brasil”) faz parte de uma série de publicações na Ecology desde 2017. Sob a liderança dos professores Milton Ribeiro e Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Unesp de Rio Claro, milhares de informações sobre aves, mamíferos terrestres, morcegos, armadilhamento fotográfico, plantas e dados ecológicos já foram publicados em forma de
artigos científicos. As séries “Brazil”, “Atlantic” e “Neotropical” já contam com mais de 2 mil pesquisadores, e a iniciativa vem agregando cada vez mais adeptos da política do open data. “As séries fazem parte de um processo de organizar dados sobre biodiversidade por temas ou regiões. Com isso, para toda a Mata Atlântica já existem cerca de dez data papers (batizamos de Atlantic Series) e mais uns dez em organização”, afirma Ribeiro. O conceito de data paper envolve a disponibilização de dados inéditos e já publicados para o uso de cientistas e tomadores de decisões. “Somente com informações de excelente qualidade e em quantidade suficiente conseguiremos avançar para um melhor entendimento de nossa fauna, para então traçar diretrizes mais eficientes para a conservação da biodiversidade”, comenta Ribeiro, também coautor do artigo.
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Ciência Agrárias
Unesp presente no Aqua 2018 Universidade teve trabalho de pós-graduação premiado e professor Wagner Valenti participou com destaque em discussões sobre produção sustentável Divulgação
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esquisadores da Unesp tiveram presença de destaque em um dos mais importantes encontros mundiais na área de aquicultura, o Aqua 2018. A conferência, que nesta edição foi realizada entre os dias 25 e 29 de agosto na cidade de Montpellier, na França, é organizada a cada seis anos e reúne especialistas de mais de sessenta países. O encontro é organizado pela European Aquaculture Society e pela WAS (World Aquaculture Society), duas das mais importantes entidades da área. Entre as participações da Universidade no evento, destaca-se a presença do diretor da Agência Unesp de Inovação (Auin), o professor Wagner Valenti, além do prêmio recebido pelo doutorando Inácio Mateus Assane (veja box). Segundo a organização do encontro, a aquicultura é hoje uma das mais importantes indústrias de produção de alimentos, contribuindo para a saúde global com eficiência e respeito ao ambiente. Nesse sentido, o Aqua 2018 buscou refletir sobre os quatro desafios-chave para a nutrição alimentar global, nas perspectivas da percepção pública, das novas tecnologias, da produção
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Valenti (de gravata) integrou a comitiva da Universidade que esteve presente na conferência sustentável e da variabilidade climática. O professor Valenti falou sobre a sustentabilidade na aquicultura, dentro do painel intitulado “Ensuring sustainable aquaculture production” (“Assegurando uma produção sustentável na aquicultura”, em tradução livre), que foi parte de um workshop promovido pela União Europeia sobre a criação de alimento e valor no oceano Atlântico.
Além disso, Valenti também colaborou como palestrante convidado no fórum “Aquaculture and long term prospective” (“Aquicultura e perspectiva em longo prazo”, em tradução livre), em que focou as previsões para a aquicultura para os próximos vinte anos, e apresentou as perspectivas para a aquicultura brasileira nas próximas três décadas. “Para mim, a presença no evento foi muito boa porque,
além de encontrar vários velhos amigos, trocar novas informações e restabelecer contatos, pude falar em palestras sobre as projeções da aquicultura no Brasil e sobre as necessidades para o desenvolvimento de sistemas multitróficos de aquicultura”, analisou o professor Valenti. Nos sistemas multitróficos, resíduos alimentares de uma espécie se tornam fertilizantes e alimento para outra espécie.
PROSPECÇÃO DE PARCERIAS O Aqua 2018 também foi uma oportunidade para realizar contatos com pesquisadores europeus, como Joel Aubin, do Inra (Instituto Francês de Pesquisa na Agricultura), responsável pela rede de pesquisa Imta-Effect (The Integrated Multitrophic Aquaculture for Efficiency and Environmental Conservation) (Aquicultura multitrófica para a eficiência e a conservação ambiental), que estuda sistemas integrados de aquicultura. Valenti também conversou com Trevor Telfer (University of Stirling), que coordena o projeto financiado pelo Tapas H2020 (Tools for Assessment and Planning of Aquaculture Sustainability – Horizon 2020) (Instrumentos para avaliação e planejamento de sustentabilidade em aquicultura), cujo foco é a transformação da aquicultura europeia em uma indústria mais sustentável. O Horizon 2020 é atualmente o maior programa de pesquisa e inovação da União Europeia, com cerca de € 80 bilhões disponíveis durante sete anos (de 2014 a 2020) para financiamento de pesquisas. Segundo o professor Valenti, os dois programas de pesquisas oferecem possibilidade de interação com a Unesp.
O
doutorando Inácio Mateus Assane foi um dos indicados ao prêmio de melhor resumo do Aqua 2018, promovido pela WAS (World Aquaculture Society) e realizado na cidade de Montpellier, na França, entre 25 e 29 de agosto. Inácio também obteve a segunda colocação na apresentação oral do artigo. O trabalho apresentado pelo aluno do Programa de Pós-Graduação do Centro de Aquicultura da Unesp (Caunesp) foi orientado pela professora Fabiana Pilarski, do Laboratório de Parasitologia e Microbiologia do Centro. Intitulado Combination of antimicrobials as an approach to reduce their use in aquaculture: example of using thiamphenicol with
florfenicol against Aeromonas hydrophila, o trabalho aborda a possibilidade de combinação de antimicrobianos como uma alternativa para reduzir a quantidade dessas substâncias na aquicultura, sem perder a sua eficácia terapêutica. “No final do estudo, verificamos que as bactérias estudadas eram sensíveis aos dois antimicrobianos isolados e combinados, e que a terapia com os antimicrobianos combinados possibilitava reduzir em 62,5% a dose de antimicrobiano atualmente usada para tratar aeromonose em tilápia-do-nilo”, explica o doutorando. A PESQUISA Inácio afirma que o trabalho é importante porque
propõe uma solução para reduzir a quantidade de antimicrobiano utilizado no tratamento de uma das principais doenças que acometem peixes cultivados no mundo, a aeromonose. O uso excessivo de antimicrobianos na aquicultura e o surgimento de bactérias resistentes aos antimicrobianos disponíveis na medicina veterinária e humana são um dos principais problemas enfrentados atualmente nessas áreas. No Brasil, o trabalho tem relevância ainda maior, visto que atualmente só um antimicrobiano (o FFC) é legalizado para o tratamento da aeromonose na tilápia-do-nilo. Além disso, essa espécie de peixe é a segunda mais cultivada no mundo, segundo dados
da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, e a mais cultivada no Brasil, segundo o IBGE. Natural de Moçambique, Inácio veio ao Brasil em 2016, por meio do programa PEC-PG. O programa tem por objetivo a concessão de bolsa para cidadãos oriundos de países com os quais o Brasil mantém acordo de cooperação educacional, cultural ou de ciência e tecnologia, para realização de estudos de pós-graduação. O trabalho apresentado pelo aluno no Aqua 2018 fez parte da sua pesquisa do mestrado, realizada com a bolsa do CNPq. Atualmente, Inácio faz o doutorado no Programa de Pós-Graduação do Caunesp, com bolsa da Capes.
Divulgação
DOUTORANDO É PREMIADO POR PESQUISA PARA REDUÇÃO NO USO DE ANTIMICROBIANOS NA AQUICULTURA
Assane estuda produtos contra bactéria que ataca tilápia-do-nilo
Geral
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AGÊNCIA UNESP DE INOVAÇÃO
Pré-Conecta debate articulação dos ambientes de inovação da Unesp
GOVERNADOR: Márcio França SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SECRETÁRIO: Jânio Francisco Benith
Gabriele Alves
N
o dia 11 de setembro, a Agência Unesp de Inovação (Auin), em parceria com o Escritório de Inovação e Tecnologia do Instituto de Biociências (Ibit) da Unesp de Botucatu, promoveu o evento Pré-Conecta, um encontro com representantes dos ambientes de inovação e incubadoras que fomentam o empreendedorismo na Unesp. O encontro teve dois objetivos principais: 1) apresentar a estruturação do espaço de inovação na unidade dos presentes e situar os processos em andamento ou ainda não iniciados; e 2) apontar desafios e impactos de ações desenvolvidas e as possíveis metas a serem realizadas em conjunto pelos espaços de inovação e incubadoras. O Pré-Conecta antecede o Conecta Unesp, que será realizado no primeiro semestre de 2019 com objetivo de conectar alunos, docentes e empresas às crescentes iniciativas de empreendedorismo e inovação.
AÇÕES NOS INSTITUTOS Cada docente presente expôs os desafios do ambiente de inovação de sua unidade em formato de pitch, por cinco minutos. Todos puderam apresentar e tirar dúvidas. Entre os pontos semelhantes das apresentações, destaca-se a necessidade de integrar o universo empreendedor com o ambiente de ensino. “Nós precisamos respirar o empreendedorismo, não para montar só um negócio, mas para que ele [aluno] entre em uma empresa e possa observá-la com o olhar empreendedor”, ressaltou a professora Cynthia
Ludovico, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), do câmpus de Botucatu, durante sua apresentação. Além disso, a ideia de união das diferentes instâncias acadêmicas também convergiu entre as exposições. “Estamos com uma proposta de escritório, para juntar organizações estudantis, professores que trabalham com isso e fazer com que essas pessoas idealizem juntas e criem soluções”, descreveu o professor Darío Palmieri, da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), câmpus de Assis. Os ambientes de inovação também surgem para serem interligados com outras iniciativas de empreendedorismo que gerem impactos positivos para o ecossistema local. De acordo com a professora Luciana Fleuri, no Ibit todos os integrantes fazem parte do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação (NEI), que é ligado ao Parque Tecnológico de Botucatu. “Esse núcleo engloba tanto as universidades estaduais como as universidades particulares e diversos setores do município de Botucatu. Nele, são traçadas metas que se voltam para a cidade de maneira geral”, explica Fleuri.
REITOR: Sandro Roberto Valentini VICE-REITOR: Sergio Roberto Nobre PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E GESTÃO: Leonardo
Theodoro Büll PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO: Gladis Massini-Cagliari PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: João Lima Sant’Anna Neto PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA:
Cleopatra da Silva Planeta PRÓ-REITOR DE PESQUISA: Carlos Frederico de Oliveira Graeff SECRETÁRIO-GERAL: Arnaldo Cortina CHEFE DE GABINETE: Carlos Eduardo Vergani ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA : Fabio Mazzitelli de Almeida ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE INFORMÁTICA :
Ney Lemke ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA JURÍDICA :
Edson César dos Santos Cabral ASSESSOR-CHEFE DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO:
José Roberto Ruggiero ASSESSOR-CHEFE DE RELAÇÕES EXTERNAS:
José Celso Freire Júnior ASSESSOR ESPECIAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:
Rogério Luiz Buccelli DIRETORES/COORDENADORES-EXECUTIVOS DAS UNIDADES UNIVERSITÁRIAS:
Max José de Araújo Faria Júnior (FMV-Araçatuba), Wilson Roberto Poi (FO-Araçatuba), Luis Vitor Silva do Sacramento (FCF-Araraquara), Elaine Maria Sgavioli Massucato (FO-Araraquara), Cláudio César de Paiva (FCL-Araraquara), Eduardo Maffud Cilli (IQ-Araraquara), Andréa Lúcia Dorini de Oliveira (FCL-Assis), Marcelo Carbone Carneiro (FAAC-Bauru), Jair Lopes Junior (FC-Bauru), Luttgardes de Oliveira Neto (FE-Bauru), Carlos Frederico Wilcken (FCA-Botucatu), Pasqual Barretti (FM-Botucatu), Maria Dalva Cesario (IB-Botucatu), José Paes de Almeida Nogueira Pinto (FMVZ-Botucatu), Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo (FCAT-Dracena), Murilo Gaspardo (FCHS-Franca), Mauro Hugo Mathias (FE-Guaratinguetá), Enes Furlani Junior (FE-Ilha Solteira), Antonio Francisco Savi (Itapeva), Pedro Luís da Costa Aguiar Alves (FCAV-Jaboticabal), Marcelo Tavella Navega (FFC-Marília), Edson Luís Piroli (Ourinhos), Rogério Eduardo Garcia (FCT-Presidente Prudente), Patrícia Gleydes Morgante (Registro), Cláudio José Von Zuben (IB-Rio Claro), José Alexandre de Jesus Perinotto (IGCE-Rio Claro), Guilherme Henrique Barris de Souza (Rosana), Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira (Ibilce-São José do Rio Preto), Estevão Tomomitsu Kimpara (ICT-São José dos Campos), Valerie Ann Albright (IA-São Paulo), Marcelo Takeshi Yamashita (IFT-São Paulo), Marcos Antonio de Oliveira (IB/CLP-São Vicente), Eduardo Paciência Godoy (ICT-Sorocaba) e Danilo Fiorentino Pereira (FCE-Tupã).
PAPEL DA AUIN A Auin pretende colaborar com a articulação desses espaços de inovação por meio de sua plataforma on-line. A ideia é mapear os ambientes de inovação, bem como empresas juniores, disciplinas de empreendedorismo, startups e incubadoras nascentes e incluir todos os dados na plataforma para que possam ser consultados por qualquer pessoa, incluindo empresas que possam se interessar pelas produções tecnológica e científica da Universidade.
EDITOR: André Louzas REDAÇÃO: Fabio Mazzitelli, Marcos Jorge e Jorge Marinho REVISÃO: Andressa Picosque | Tikinet
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Gabriele Alves e Victoria Andrade (texto); Roberto Rodrigues e Tatiane Liberato (fotos). PROJETO GRÁFICO: Phábrica de Produções DIAGRAMAÇÃO: Natalia Bae | Tikinet APOIO ADMINISTRATIVO: Thiago Henrique Lúcio Este jornal, órgão da Reitoria da Unesp, é elaborado mensalmente pela Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI). A reprodução de artigos, reportagens ou notícias é permitida, desde que citada a fonte. ENDEREÇO: Rua Quirino de Andrade, 215, 4.º andar, Centro,
CEP 01049-010, São Paulo, SP. Telefone: (11) 5627-0323. HOME PAGE: http://www.unesp.br/jornal E-MAIL: jornalunesp@reitoria.unesp.br
Divulgação
O EVENTO Estiveram presentes representantes de institutos e faculdades das unidades de Botucatu, Jaboticabal, Registro, Assis, Ilha Solteira e Araçatuba. Os debates incluíram a determinação dos espaços físicos para estruturação dos ambientes de inovação, o desafio de recursos, os cursos e as disciplinas de empreendedorismo, a normatização do funcionamento dos espaços, o apoio da Auin e a importância da criação de uma Rede Unesp de Empreendedorismo e Inovação. O intuito da Rede, apoiada pelo programa Promover a Cultura do Empreendedorismo e Inovação na Unesp, do convênio Unesp-Santander,
é preparar a comunidade universitária para atuar em um mundo global altamente complexo, dinâmico e competitivo que demanda criatividade, inovação e empreendedorismo. Para o professor Guilherme Wolff Bueno, assessor da Auin, o fomento de ambientes propícios à inovação e ao empreendedorismo na Universidade permitirá que alunos, professores e funcionários possam se integrar, cada vez mais, com as demandas da sociedade e do mercado de trabalho, proporcionando uma troca de experiências e novas parcerias. “Inspirar e conectar estes atores são os principais objetivos da rede que estamos criando na Unesp”, comenta o professor. Muitas atividades desta natureza já vêm sendo desenvolvidas no ecossistema da Unesp, mas, devido à capilaridade e à distância das unidades acadêmicas, muitos eventos e atores ficam desconhecidos. A iniciativa da Rede Unesp de Empreendedorismo e Inovação busca minimizar esse problema nos ambientes de inovação.
Evento analisou temas como criação de uma rede de empreendedorismo e inovação na Universidade
VEÍCULOS Unesp Agência de Notícias: <http://unan.unesp.br/>. Rádio Unesp: <http://www.radio.unesp.br/>. TV Unesp: <http://www.tv.unesp.br/>.
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Ciências Exatas
Há lugar para a poesia e a beleza na Matemática
Ganhador da medalha Fields em 2006, Andrei Okounkov esteve no Brasil para encontro internacional e workshop no Instituto de Física Teórica
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encedor da medalha Fields em 2006, maior distinção da Matemática, Andrei Okounkov palestrou durante o ICM (Congresso Internacional de Matemática), evento mais importante da área, e esteve na Unesp para um dos seus eventos satélites, o Workshop on Mathematical Physics, organizado no início de agosto pelo Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental, localizado no Instituto de Física Teórica da Unesp, na Barra Funda, em São Paulo. Okounkov deixou a Rússia em anos difíceis para pesquisar nos EUA, passou por Princeton e atualmente divide seu tempo entre a Universidade Columbia, em Nova Iorque, e Moscou. Nesta entrevista, o matemático defende o ensino e a popularização da matemática usando a diversão como estratagema. Okounkov fala também sobre como tornar o ensino da disciplina atraente para os alunos e qual será a relação da matemática com o ser humano em uma sociedade cada vez mais computadorizada. *** Jornal Unesp: Existe um imaginário escolar de que matemática é sinônimo de tormento… Andrei Okounkov: A matemática não é um monstro, mas, de fato, é muito complexa. Acho que uma boa parte da sociedade é curiosa sobre matemática. Para estudantes e público, em geral, é muito importante a maneira como os matemáticos projetam a sua mensagem, o que é verdade não apenas para a matemática, mas para as outras ciências. As questões da ciência e da matemática constituem a essência da nossa vida. A ciência é o centro do que faz a sociedade funcionar. É muito importante despertar o interesse das crianças por esses temas. JU: Existe algo de diferente no ambiente cultural e intelectu-
al russo quanto ao ensino de ciências e matemática? Isso influenciou sua aproximação? Okounkov: Fui para a matemática porque gostava mais de matemática do que de economia. Eu não comecei na economia. Mas, na Rússia, há uma grande tradição dos círculos de matemática, química, física e as olimpíadas científicas, que, a meu ver, são uma contribuição para estimular nas crianças o gosto por matemática e ciências. Nesses ambientes, as crianças são desafiadas com problemas, enigmas, experimentos, bem diferente de fazer um dever de casa. Tanto nesses círculos como nas olimpíadas, as crianças estão em contato umas com as outras, com professores. A competição, até certo ponto, pode ser estimulante, mas não deve ser tratada como central. No processo de aprendizagem recebe-se tanto dos professores quanto dos pares. O mais importante nessas experiências é o elemento do desafio, porque nem todas as pessoas serão capazes de resolver todos os problemas, o que também acontece entre os matemáticos. JU: Além dessa componente do desafio, como despertar o interesse das crianças com a matemática, na escola? Okounkov: Um bom professor ajuda nesse sentido, mas as crianças têm que ter outros estímulos para continuar aprendendo. No caso da matemática, deveria ser mais divertida, mais como uma descoberta e menos obrigatória. Poderia ser apresentada como a música. Todos podem apreciar uma música tocada no violino, mas não será obrigado a tocar o instrumento. Da mesma maneira, nem todo mundo terá treinamento formal em matemática. Seria traumático se fosse obrigatório tocar violino na escola.
JU: Quando se trata de aproximação com o grande público, como a matemática se compara a outras ciências? Okounkov: Quando o que se tenta explicar é uma coisa extremamente complexa, surge o problema da falta de precisão. Não é intrinsecamente mais difícil divulgar matemática porque há certos temas, como teoria dos números, que poderiam ser explicados para qualquer um. Além de serem fáceis, são divertidos. Tomemos o exemplo da biologia, que também é uma área extremamente complexa, cheia de nomenclaturas complicadas, que podem demandar anos de aprendizado. Os biólogos fazem um trabalho melhor comunicando a biologia do que os matemáticos. Diria que a situação com a matemática não é muito diferente, mas os matemáticos precisam encontrar um caminho para se comunicar com a sociedade e mostrar que a complexidade da matemática pode ser algo excitante. JU: Qual o papel da matemática na sociedade? Okounkov: A sociedade é uma coisa complicada. Mas a relação da matemática e das ciências com a sociedade e com nossa vida se manifesta nas questões da tecnologia. Os telefones celulares que as pessoas usam cotidianamente têm por trás uma ciência avançada. Alguns abraçam as mudanças tecnológicas enquanto outros distanciam-se delas. Estou muito preocupado a esse respeito porque, talvez, nem todos serão capazes de participar e trabalhar no mundo tecnológico. Algumas pessoas serão o que se pode comparar a um analfabeto do século passado. É possível ser um membro de valor da sociedade sem saber matemática e ciências, mas minha preocupação é como
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Victoria Andrade
Para pesquisador, ensino da Matemática deve ser mais divertido isso vai acontecer ou como vai se desdobrar no futuro. JU: No futuro, os computadores serão melhores matemáticos que os humanos? Okounkov: Depende da definição de matemática adotada. Se for uma lista de procedimentos a serem memorizados, os computadores serão melhores em qualquer coisa que possa ser formalizada. Nós temos que abraçar essas mudanças. Não podemos lamentar o fato de que os carros são mais rápidos do que os humanos porque, afinal, a utilidade dos carros reside exatamente em serem mais rápidos. Há muitos fenômenos complexos na natureza que não podem ser desvendados sem a ajuda dos computadores, eles podem representar um número de cenários muito grande em muito menos tempo que nós. É difícil dizer algo sobre a equação de Einstein sem a ajuda dos computadores. Mas a matemática não é apenas uma lista de processos a serem memorizados.
JU: O que, então, distingue os humanos no fazer da matemática? Okounkov: Criatividade. Talvez criatividade não seja a melhor palavra, mas, sim, descoberta. O processo de descoberta na matemática é algo surpreendente. Os matemáticos não ficam sentados em seus escritórios tirando ideias brilhantes do nada. Eles têm de pensar em múltiplos exemplos, desenvolver a intuição e trabalhar em uma conjectura geral. JU: Matemática é ciência? Okounkov: Sem dúvida. E é arte. Mas ciência também é arte. Matemática não é como um laboratório de química, onde coisas são misturadas, previsões feitas e se espera para ver o que acontece. Matemática é relacionada à curiosidade humana, ao desejo de sistematizar o mundo, trazer uma noção geral sobre como ele é construído e como se desenvolve, mas ainda há lugar para a poesia e a beleza.