Financeiro 101/ Janeiro 2017

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EDIÇÃO

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JANEIRO 2017

A ChaMA DA

confiança Palestrantes do 11º SIAC e pesquisa ACREFI/TNS sinalizam que a recuperação da economia será lenta, mas o País deve seguir em ritmo ascendente nos próximos dois anos. Empresários demonstram otimismo



editorial

A hora dos propósitos convergentes

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ntramos em 2017 com a é necessário priorizar, checar as certeza de que teremos despesas e receitas e onde é posmais um ano repleto de sível racionalizá-las. Trata-se de desafios. Por um lado, observafazer um diagnóstico, um “check mos um pequeno aumento da up” completo da empresa. confiança dos agentes econômiAlém disso, precisamos estar cos, embora ainda prevaleça a atentos para a onda de pessimiscautela. De outro, cresce a apremo que cada vez mais toma conta ensão com o ritmo da retomada do País. Com tantas pessoas vatido crescimento, que para a maiocinando que não vai dar certo, ria ainda está mais lento do que a profecia tende a se autorrealise previa inicialmente. zar. O antídoto a essa situação é Essa percepção sobre uma acreditar que o Brasil tem jeito e Hilgo Gonçalves: suposta demora na retomada que essa verdade não se baseia presidente da ACREFI ganhou mais força em novembro, em um pensamento ingenuamenquando foi divulgado que o PIB te positivo. Temos um país com apresentou retração de 0,8% no terceiro trimestre. muitos e muitos pontos positivos, frequentemenO clima foi de decepção para a maioria da socieda- te esquecidos em razão das dificuldades que de. É compreensível que tenha havido essa reação, enfrentamos, mas que precisam ser lembrados e mas não se pode deixar de ponderar que o País enfatizados, e que vão nos ajudar a sair da crise. está vivendo um período, que começou no ano pasPara ter êxito nessa empreitada temos que sado e irá até 2018, no qual teremos, todos nós, de ter o pensamento e a ação sempre voltados para fazer uma grande e necessária lição de casa para propósitos convergentes. Em um cenário de tanque o Brasil volte aos trilhos, ao mesmo tempo em tas dificuldades, não cabe o individualismo nem a que teremos que refrear nossa ansiedade por uma busca por soluções que atendam a um determimelhora rápida da economia brasileira. nado grupo. O momento é de convergência, todos A tarefa é árdua, mas precisamos nos empe- tendo como prioridade número um os interesses nhar para cumpri-la. Nesse sentido, é importante do Brasil. que cada um de nós assuma o protagonismo que Como se vê, serão muitos os obstáculos a a situação exige. Os problemas são grandes e, enfrentar neste ano. No entanto, não podemos alguns deles, complexos, mas não se pode atribuí- esquecer de que já convivemos com outros perí-los aos “outros”. Uma frase define a postura odos de crise e saímos deles, por mais intranscorreta a adotar nesse caso: “É comigo mesmo!”. poníveis que parecessem os obstáculos. Entre as Não se pode terceirizar nossa responsabilidade, lições que aprendemos dessas situações, ficou nem podemos nos omitir frente às dificuldades. É claro que cada um deve fazer sua parte, sempre preciso arregaçar as mangas e partir para a ação, pensando no conjunto. Dessa forma teremos, sim, e fazer a nossa parte nesta retomada. um país consciente, forte e sustentável, como Em períodos como este que estamos vivendo merecem o Brasil e as gerações futuras. também é fundamental fazer um diagnóstico dos Desejamos um 2017 de realizações e que ele nossos negócios. Deve-se definir, por exemplo, seja melhor que 2016. quais são os pilares mais importantes, o que Todos pelo Brasil, pois juntos venceremos. f

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3 Editorial 10 11 SIAC º

Evento internacional da ACREFI mostra que o Brasil começa a entrar nos trilhos

Hilgo Gonçalves: presidente da ACREFI

27 SIAC na Mídia

Palestrantes Da esq. para a dir.: Massimo Volpe, Marcos Troyjo, James Conrad, Otaviano Canuto e Eduardo Gianetti da Fonseca

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Foto de capa: Luciano Piva

28 Entrevista do mês Gustavo Marrone,

secretário nacional de Justiça e Cidadania, fala sobre iniciativas que podem minimizar a sobrecarga do Poder Judiciário com ações contra inadimplência

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Escreva o seu e-mail, faça seu comentário: acrefi@acrefi.org.br

Isaac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC, trata dos efeitos positivos dos diversos programas oficiais que ajudam as pessoas a usar o crédito com equilíbrio

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Foto: Divulgação

32 Orientação Financeira

36 Seminário Fraude em Debate 40 The First Fintech Day

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44 Seminário Recuperação de Crédito 46 Inovação: ACREFI 2.0 47 Livros 48 Painel Cetip

40 Artigos 35 José Cláudio Securato Saint Paul Escola de Negócios

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43 Jackson Bastos

Siegen Consultoria

50 Nicola Tingas

Consultor econômico da ACREFI

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expediente ISSN 1809-8843

Publicação da acrefi - Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Líbero Badaró, 425 - 28°andar - São Paulo - SP - Tel: (11) 3107-7177 - www.acrefi.org.br Diretoria - Biênio 2016-2018 Presidente Hilgo Gonçalves Vice-presidentes Aquiles Leonardo Diniz, Celso Luiz Rocha, Décio Carbonari de Almeida, João Carlos Gomes da Silva, José Luiz Acar Pedro e Rubens Bution Diretores Tesoureiros João dos Santos Caritá Jr. e José Garcia Netto Diretores Secretários André de Carvalho Novaes e Rodnei Bernardino Diretores executivos Álvaro Augusto Vidigal, Edmar Casalatina, José Tadeu da Silva, Marcelo de Castro Villela, Roberto Willians da Silva Azevedo e Wanderley Vettore Diretores regionais Carlos Alberto Samogim, Felicitas Renner, Leonardo Lima Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Teixeira da Rosa e Romeu Zema Diretores conselheiros Alexandre Teixeira, Eliseu Cézar Colman, Giorgio Rodrigo Donini, José Carlos Alves, Marcos Westphalen Etchegoyen e Ricardo Albuquerque Montadoras Alessandra Reis Rollo, Américo da Costa Martins, Edson Fróes Castilho, Edson Tadashi Ueda, Eduardo Tavares Nobre Varella, Gunnar Alejo Ramos Murillo e Nelson Dias de Aguiar Conselho consultivo Membros Natos Alkindar de Toledo Ramos, Érico Sodré Quirino Ferreira e Manoel de Oliveira Franco Membros Alarico Assumpção Júnior, Antonio Carlos Botelho Megale, Gilson de Oliveira Carvalho, Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares Pereira Filho e Miguel José Ribeiro de Oliveira Conselho fiscal Domingos Spina, Geraldo Lima Vandalsen e Cláudio Messias Ferro Diretor superintendente Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Consultora Jurídica Lívia Esteves Consultor de Regulação e Compliance Sérgio Odilon dos Anjos Auditoria Megacont Auditoria e Assessoria Contábil Contabilidade Conaupro Consultoria e Contabilidade Ltda. Assessoria de imprensa

Publisher Sergio Tamer Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida Editor assistente Gustavo Girotto Arte Moacyr Mw Revisor Vicente dos Anjos Impressão Eskenazi Gráfica As matérias e artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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nossasassociadas AGORACRED S.A. SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. BANCO A.J. RENNER S.A. BANCO AGIPLAN S.A. BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. BANCO CBSS S.A. BANCO CETELEM S.A. BANCO CSF S.A. BANCO CITIBANK S.A. BANCO CNH INDUSTRIAL CAPITAL S.A. BANCO DAYCOVAL S.A. BANCO DO BRASIL S.A. BANCO FIDIS S.A. BANCO GMAC S.A. BANCO HONDA S.A. BANCO INTERMEDIUM S.A. BANCO ITAUCARD S.A. BANCO ITAÚ UNIBANCO S.A. BANCO LOSANGO S.A. BANCO PAN S.A. BANCO PAULISTA S.A. BANCO PSA FINANCE BRASIL S.A. BANCO RODOBENS S.A. BANCO SAFRA S.A. BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. BANCO SEMEAR S.A. BANCO TOYOTA DO BRASIL S.A. BANCO TRIÂNGULO S.A. (TRIBANCO) BANCO VOLKSWAGEN S.A. BANCO YAMAHA MOTOR DO BRASIL S.A. BMW FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO BRB CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

BRICKELL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO BV FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO CAIXA ECONÔMICA FEDERAL CARUANA S.A. SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO DACASA FINANCEIRA S.A. SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO ESTRELA MINEIRA CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. FINAMAX S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO FINANCEIRA ALFA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS HS FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS KREDILIG S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO LECCA CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS MIDWAY S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO OMNI S.A. CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO PORTOCRED S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO PORTOSEG S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SANTANA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SANTINVEST S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SAX S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SENFF S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SOCINAL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SOROCRED CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. SUL FINANCEIRA S.A.- CRÉDITO, FINANCIAMENTOS E INVESTIMENTOS janeiro 2017 FINANCEIRO

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Discreto otimismo Fotos: Luciano Piva

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inda não é o momento de comemorar, mas na percepção dos palestrantes e dos 620 convidados que participaram do 11º SIAC, evento anual realizado pela ACREFI, o Brasil parece ter reencontrado o caminho da estabilização econômica para ingressar novamente na trilha ascendente em busca do desenvolvimento sustentável. Reconhecido pelo mercado financeiro como uma espécie de sinalizador do que poderá ocorrer no próximo ano, o encontro organizado dia 22 de novembro de 2016 no Teatro Cetip, em São Paulo, reuniu: Eduardo Giannetti da Fonseca, economista e escritor; Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade Columbia; Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial; Otávio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação do Banco Central; Massimo Volpe, chairman do FIRAE (Forum for International Retail Associations); James Conrad, CEO da Kantar TNS Brasil; além do anfitrião Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI. Embora o atual momento do País ainda inspire cuidados, a percepção geral entre os participantes do 11º SIAC é de que temos uma importante tarefa macroeconômica a ser cumprida nos próximos dois anos, mas nada impede que voltemos a ter dias melhores. A seguir, acompanhe uma síntese das palestras apresentadas durante o evento. f

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Hilgo Gonรงalves: presidente da ACREFI

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palavradopresidente

“A sustentabilidade da economia só será conquistada se cada brasileiro fizer a sua parte”

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ós precisamos ser protagonistas da nossa própria história.” Essa convocação foi sugerida por Hilgo Gonçalves, presidente da ACREFI, na sua saudação aos convidados do 11º SIAC. “Devemos aproveitar esse momento em que estamos juntos, para analisar os grandes temas nacionais e pensar de que forma contribuiremos diante dos desafios econômicos para que o Brasil volte a crescer de maneira sólida e sustentável, disse Hilgo. Esse poder de reação é essencial para evitarmos problemas maiores no longo prazo. “Temos que pensar no que fazer diante do crescimento negativo dos dois últimos anos; dos altos índices de desemprego e da situação preocupante do défice fiscal. Alguns avanços já foram alcançados: temos uma equipe econômica competente, a PEC dos gastos público foi aprovada e a reforma da previdência vem por aí. Felizmente, a confiança está sendo retomada, mas precisamos agir para que isso se perpetue”, lembrou o presidente da ACREFI. De acordo com Hilgo, a sustentabilidade da economia só será conquistada se cada brasileiro fizer a sua parte. “Não podemos terceirizar as nossas responsabilidades, devemos fazer as nossas escolhas, manter a transparência na relação com os colaboradores, parceiros e clientes. Não devemos abrir mão do senso de urgência. Não é só o governo que não pode gastar mais do que arrecada, também temos a obrigação de controlar o nosso orçamento”, ressaltou ele. Esse trabalho de conscientização

começa pela inclusão financeira da população, iniciativa que Hilgo fez questão de destacar, citando a contribuição do Banco Central por meio do Programa Cidadania Financeira, atividade que conta com o apoio integral da ACREFI. Em sua mensagem aos participantes do SIAC, Hilgo dedicou um agradecimento especial aos patrocinadores do evento: a Cetip, a CNseg, o Bradesco e a Credilink. Também estendeu seu reconhecimento aos apoiadores institucionais: a AmCham, a FEBRABAN, o IBEF, a Ordem dos Economistas do Brasil, a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, o Viva o Centro e o Poupa Brasil, associação da qual a ACREFI foi sua fundadora institucional. “Não posso deixar escapar esse momento para fazer uma homenagem póstuma a um profissional que tanto contribuiu para o fortalecimento do sistema financeiro, o companheiro Sergio Darcy, falecido em 2016. Ele, que trabalhou por quase 40 anos no BC, onde foi diretor de Normas e Organização, depois foi membro da Comissão de Compliance da ACREFI”, ressaltou Hilgo. Antes de concluir, ele sugeriu que os brasileiros façam uma corrente positiva, olhando o Brasil para a frente, com propósitos convergentes. “Vamos pensar no longo prazo, nas gerações futuras, por uma agenda única de compromisso com a sociedade e com o País. Cada um fazendo a sua parte de maneira mais consciente, forte e sustentável. Vamos fazer bem feito para não precisar refazer depois”, finalizou o presidente da ACREFI.

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“Acredito na recuperação do País,

como se olhássemos a evolução de um paciente”

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mbora o paciente – no caso, o Brasil – exija muitos cuidados, o economista, professor e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca mostrou-se otimista sobre o futuro do país durante sua palestra no 11º SIAC. Ele projeta para 2017 uma taxa nominal de juros ao redor de 10% ao ano, atualmente ela está em 13,75%. “Acredito que a proposta do Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, segue o ensinamento do provérbio português: devagar se vai ao longe”, lembrou o professor do Insper. No entanto, Giannetti não espera que o corte progressivo na taxa, administrado pelo BC, traga reflexos significativos nos juros praticados no mercado de crédito. A respeito do crescimento econômico, Giannetti espera para 2017 um avanço no desempenho nacional de 1,5% até 2%, embora faça questão de classificar a sua previsão como “cautelosamente otimista”. “Apesar de a expectativa com o futuro ser favorável, é preciso reconhecer que a economia real está demorando a responder. Esse é o ponto que mais nos preocupa, olhando para o cenário de curto prazo. Mas acredito na recuperação do País, como se olhássemos a evolução de um paciente que antes estava internado na UTI, passa agora pela convalescença e com uma boa chance de voltar à normalidade no ano que vem”, compara o economista. Outro ponto positivo: o Brasil está com o seu setor externo ajustado, com défice em conta-corrente praticamente zerado. “O setor exter-

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no está reagindo, as exportações dão sinais de estarem voltando... nesse aspecto, a vitória do Donald Trump na eleição dos Estados Unidos não foi de todo má para o Brasil e para os exportadores porque a desvalorização do real dá um gás adicional às negociações. Mais um fator positivo para a reabilitação do País, segundo Giannetti, é o uso do capital físico (máquinas e equipamento) e humano, que não está sendo plenamente utilizado, para a rápida ativação, desde que a confiança na economia retorne. “Esse crescimento não tem nenhum segredo, basta que haja uma expectativa de que as coisas comecem a melhorar.” A maior apreensão de Giannetti quanto ao futuro do Brasil está relacionada aos desdobramentos provocados pelos percalços gerados no ambiente político. “O momento é favorável, o trabalho da equipe econômica é positivo, o programa que norteia suas ações é correto. Porém, isso pode, sim, ser comprometido, caso as apurações da Operação Lava Jato revelem envolvimento da alta cúpula do governo Temer. Isso pode tirar a sua capacidade de liderança perante o Congresso e ao sistema político. Esse risco existe. O comprometimento poderia afetar as negociações da Reforma da Previdência e de outras reformas, inclusive microeconômicas, caso haja perda de capital político que abale a governabilidade”, alertou Giannetti. Mas nada disso deve abalar a nossa confiança de que 2017 caminhará progressivamente para dias melhores.


perspectivas2017

Eduardo Giannetti: economista, professor e escritor

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Marcos Troyjo: diretor do BricLab da Universidade Columbia

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megatendências

“O individualismo nacionalista

de Trump pode levar os Estados Unidos a entregar a chave da globalização para a China”

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o abrir a sua palestra no 11º SIAC, Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade Columbia, lembrou a tese dos cisnes negros (inspirada na indignação dos europeus ao descobrirem, no fim do século 18, que existiam cisnes negros no mundo), de Nassim Taleb, professor da Universidade de Nova York, sobre acontecimentos, aparentemente impensáveis, que se tornaram realidade. “O ano de 2016 foi um ano de muitos cisnes negros: o Bob Dylan ganhou o Nobel de literatura, o Reino Unido decidiu deixar a União Europeia e tivemos, ainda, a eleição de Trump. Acontecimentos, aparentemente impensáveis, que impõem desafios para quem faz projeções”, lembrou Troyjo. Se retrocedermos a 1991, sugere ele, o mundo encontrava-se às vésperas de uma globalização profunda. Mikhail Gorbachev, com a Perestroika, havia encerrado o período de hostilidade com os Estados Unidos, abriu a economia, a política e a sociedade soviética. O Japão liderava a Ásia na transição geoeconômica do mundo do Atlântico para o Pacífico. Inovação era sinônimo de reinvenção corporativa e os países pareciam dispostos a abrir mão da sua soberania para integração de processos econômicos, políticos e jurídicos. “Ao voltarmos aos tempos de hoje, perceberemos que essas quatro características passaram por uma metamorfose. A ideia de democracia representativa, como uma espécie de verdade intocável, abriu espaço para que países da África Subsaariana, do Sudeste Asiático e da Eurásia flertassem com sistemas de menor oxigênio democrático. O meridiano geoeconômico do mundo

mudou para a Ásia, mas o que toca isso agora é a China. As empresas transnacionais de tecnologia conquistaram valor gigantesco – o Uber, por exemplo, passou a valer mais que a Petrobras ou a GM. O Brexter e a eleição do Trump revelam que o mundo mudou de forma radical, colocando em risco o conceito de globalização”, alertou Troyjo. No entanto, o diretor do BricLab da Universidade Columbia, acredita que esse momento “desglobalizante” será curto, em ciclos de três ou quatro anos, abrindo espaço depois para a “reglobalização”. Essa retomada pode trazer efeitos favoráveis ao Brasil. “O individualismo nacionalista de Trump pode levar os Estados Unidos a entregar a chave da globalização para a China. Segundo o especialista, é preciso prestar a atenção também na Índia, que há dois anos tem crescido mais do que a China. Portanto, esse novo mundo que surge na Ásia pode trazer vantagens para o Brasil em exportações de commodities agrícolas e minerais. ‘Se esse Hamlet americano decidir que os Estados Unidos será uma potência mais ensimesmada, o vácuo deixado será ocupado por alguém. Outra característica que deve acontecer é a consolidação da chamada indústria 4.0. Países focados em talento, inovação, eficiência e produtividade devem se tornar as grandes economias do próximo quarto de século. Eu tenho a impressão de que, se além de fizermos a nossa lição macroeconômica, redirecionarmos a nossa nau e se levarmos em conta os vetores da ‘reglobalização’, o Brasil terá muito mais chance de atingir o tão desejado desenvolvimento sustentável”, finalizou Troyjo.

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“O ‘Trumpnomics’ pode nos atingir

é pela alteração da taxa de juros nos Estados Unidos”

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o ser indicado para falar no SIAC sobre mercados emergentes e economia global, Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial, tinha uma tarefa relativamente fácil até o dia 8 de novembro, quando Donald Trump foi eleito o novo presidente dos Estados Unidos. “Ele aumenta o grau de incerteza e entramos no terreno desconhecido”, pontuou Canuto. “Quando o Trump faz seu discurso da vitória, o mercado assiste a uma mudança de comportamento na negociação de ativos do portfólio global. Tivemos uma grande rotação, com um desmonte de posições em mercado de renda fixa redirecionado para compras de equities e ações de empresas norte-americanas. Decretando-se ali o fim dos mercados emergentes. Depois seguiu-se um período de estabilidade, mas nada impede que novos ciclos de negociações surjam à medida que a política econômica de Trump for implementada”, alertou o diretor do Banco Mundial. Ele ressaltou que o novo presidente do Estados Unidos pode trabalhar com uma política com aspectos mais liberais. Há quem acredite que Trump adote ações cosméticas, que permitam viabilizar promessas de campanha, como o aumento de segurança nas fronteiras, restrições e reajuste na tributação de produtos chineses, com efeito inflacionário imediato. Canuto espera que exista uma mudança na postura entre o posicionamento do candidato e as suas ações efetivas como presidente da nação mais poderosa do mundo. A respeito do futuro dos mercados emergentes, o diretor do Banco Mundial acredita que as chances de retomada de um crescimen-

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to expressivo e rápido estão comprometidas. A exceção é a Índia, que deverá manter taxas de expansão ainda significativas, superando, provavelmente em 2017, o crescimento chinês. Quanto aos demais países emergentes, as perspectivas, infelizmente, são incertas. “No nosso caso direto, a relação com os Estados Unidos não é tal que as ameaças protecionistas do Trump possam colocar em risco o nosso comércio. Até, ao contrário, se o boom de infraestrutura norte-americana acontecer, o nosso minério e até o aço, se eles não mudarem a política de protecionismo, podem ser beneficiados diretamente. O ponto em que o “Trumpnomics” pode nos atingir é pela alteração na taxa de juros do Estados Unidos, que subiu de patamar. Como nós temos uma situação corporativa de endividamento, em algum grau, ainda vulnerável, a alteração da taxa de câmbio pode gerar um dos pontos de preocupação”, analisou. Antes de finalizar, o diretor do Banco Mundial disse que não poderia apresentar em cenário mais preciso sobre a direção das taxas de crescimento de mercados emergentes e as variáveis macroeconômicas. “Mais do que nunca, a diferenciação entre mercados emergentes será importante. O conteúdo desse reajuste vai continuar dependendo do modo como se delineará a política econômica no governo Trump, porque só então teremos ideia de qual é o perfil do ‘Trumpnomics’. E também quão antirrepublicano e quão longe das tradições do livre comércio norte-americano estará o novo presidente”. Esse é, aliás um detalhe que o diferencia fortemente de Ronald Reagan”, concluiu Canuto.


mercadosemergentes

Otaviano Canuto: diretor executivo do Banco Mundial

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Otávio Ribeiro Damaso: diretor de Regulação do Banco Central

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bancocentral

“Impulsionado pela retomada da confiança, o sistema financeiro mostra-se pronto para viabilizar os negócios”

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ada como manter um contato direto entre o órgão regulador e os representantes do mercado financeiro foi o ponto que Otávio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação do Banco Central, destacou ao saudar o público do SIAC. “É uma grande oportunidade estar com vocês aqui hoje para falarmos sobre o sistema financeiro, as recentes inovações, os desafios e as oportunidades que temos pela frente”, disse Damaso. Ao iniciar sua apresentação, o diretor do BC ressaltou que o Brasil tem um sistema financeiro sólido, com bons níveis de capital, de liquidez e de provisão. E, com o ambiente favorável, impulsionado pela retomada da confiança entre os empresários e os consumidores, o sistema financeiro mostra-se pronto para viabilizar os negócios. Sobre a recente retração do crédito, que começou a ser verificada em 2013, acompanhada da falta de novos investimentos e do aumento do desemprego, Damaso afirmou que órgão regulador avalia como processo natural do ciclo econômico. “É normal que a instituições adotem um perfil mais conservador. O sistema, por sua vez, mostrou-se extremamente resiliente, adaptou-se a esse processo e, em nenhum momento, a estabilidade foi colocada em risco”, comentou. Com atmosfera de tecnologia que tomou conta do mundo dos negócios, Damaso lembrou que a demanda por novos produtos gerou um ambiente de inovação e de oportunidades. “A antiga necessidade de termos agências físicas, por exemplo, está, aos poucos, diminuindo. Na

visão do BC, o mais importante, neste momento, é embarcar nesse processo, discutir, conhecer e saber o que os outros países estão fazendo. Só para se ter ideia, na China existem cerca de quatro mil peer-to-peer lending, enquanto no Brasil temos apenas entre 15 e 20. O BC acompanha e vê com bons olhos todo esse processo de inovação. É importante, porém, que tanto os entrantes como os incumbentes observem as regras do sistema regulatório. Para nós, se for o caso, vamos aperfeiçoar o arcabouço legal e os regulatórios, o primeiro, naturalmente, deve passar pelo Congresso Nacional”, lembrou Damaso. O terceiro ponto que o diretor de Regulação do BC aproveitou o SIAC para comentar com o mercado foi a proposta apresentada ao Conselho Monetário Nacional a respeito da aplicação da regra prudencial, em relação ao tamanho e ao risco das instituições financeiras. De acordo com Damaso, os Estados Unidos estão bastante avançados nesse quesito, já Suíça, Canadá, Japão e União Europeia também vêm discutindo modelos de segmentação com regras prudenciais. “Esperamos com isso organizar e padronizar a segmentação prudencial. Os benefícios são a comparabilidade, a previsibilidade, a transparência e a visibilidade na aplicação das regras. Ela decompõe o sistema desde grandes instituições financeiras até chegarmos às menores, que terão regulação e regimes prudenciais mais simples. Sua implantação será muito importante, principalmente com o advento de Basileia III, que será concluído em 2019, para o planejamento das instituições”, finalizou Damaso.

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“O desafio não é mais comercializar produtos,

mas estabelecer uma conexão com o consumidor baseada em valores inovadores”

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or mais que procure estar conectado com os novos tempos, o mercado financeiro ainda mantém um perfil bastante conservador. Para ampliar esse horizonte multifacetado, que tem provocado mudanças na economia global, a ACREFI incluiu Massimo Volpe, chairman do FIRAE (Forum for International Retail Association Executives), entre os palestrantes de 11º SIAC. Sua missão foi explorar como acontecem atualmente as relações de consumo. “Para tentar definir o que as pessoas, efetivamente, desejam comprar é preciso saber lidar com quatro variáveis: a volatilidade do mercado, as incertezas do consumidor, a complexidade do cotidiano e as ambiguidades imediatas. Os legados são frágeis, a vida útil de qualquer tendência torna-se cada vez mais curta”, explicou Volpe. Por não sabermos o que vem por aí, o chairman do FIRAE recomendou a necessidade urgente de os empresários mudarem de postura de forma geral. Isso significa rever o espaço físico das lojas e a apresentação dos produtos, a maneira de abordar e se relacionar com os clientes, oferecendo uma experiência diferenciada de consumo e criando estratégias de engajamento com a marca. “O desafio não é mais comercializar produtos, mas estabelecer uma conexão com o consumidor baseada em valores inovadores. Caso contrário, existe o risco provável de perder espaço para a concorrência”, alertou o especialista, enquanto exibia a foto da fachada de um dos grandes ícones do consumo que não foi capaz de se reinventar: a rede Blockbuster. Os empresários que não estiverem atentos

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às mudanças podem ser surpreendidos, nos próximos anos, com o desaparecimento de algumas referências do universo corporativo, como, por exemplo, as estruturas dos escritórios convencionais e os serviços bancário e telefônico. São movimentos conduzidos pela vontade do consumidor. “Até bem pouco tempo não se imaginava que os ingleses optassem por deixar a zona do Euro ou mesmo que o Donald Trump pudesse vencer as eleições dos Estados Unidos”, exemplificou Volpe. Estamos vivendo um novo tempo. “As pessoas não têm mais tanta disposição para sair de casa, o comércio convencional perde força e espaço para as transações on-line, que se tornam mais seguras e confiáveis, além permitir que os clientes façam, em poucos minutos, uma intensa pesquisa de preço”, descreveu o chairman do FIRAE. “Hoje é preciso repensar sobre a relação das pessoas com o capital. É possível viver bem com menos dinheiro. Os consumidores e as empresas atualmente mudam de forma rápida e irreversível. É nesse cenário que surgem as oportunidades.” “Trilhando um caminho cada vez mais personalizado, com o uso eficiente dos dados armazenados na comunicação por mobile, nas transações on-line e nas informações contidas no big data, o varejo conseguirá encurtar os caminhos no relacionamento com o consumidor e, certamente, vai derrubar barreiras”, afirmou Volpe. “Essa forma de interação tem o poder de aproximar os dois públicos interessados. É o que chamamos de relacionamento sem bordas”, sintetizou o executivo.


varejoeconsumo

Massimo Volpe: chairman do FIRAE

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Pesquisa ACREFI/Kantar TNS

revela que o otimismo entre os brasileiros cresceu

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omo já se tornou tradição, o SIAC sempre abre espaço para a divulgação da pesquisa trimestral ACREFI/Kantar TNS Brasil sobre a percepção dos brasileiros em relação ao cenário econômico e ao ambiente político do País. Como já acontece há dois anos, a apresentação dos resultados coube a James Conrad, CEO da Kantar TNS Brasil. Apesar do aumento do otimismo entre as mil pessoas abordadas pelo instituto de pesquisa, o estudo revelou que a população ainda continua cética quando o assunto é o combate à corrupção. O levantamento, realizado após o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, entre os dias 20 e 28 de outubro, identificou um sentimento positivo diante do governo Michel Temer. “Após um período bastante turbulento, que levou à saída da Presidente Dilma, o tracking da pesquisa captou aumento do otimismo dos entrevistados em

Pensando na o situação do Brasil como avalia ...

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relação ao futuro, especialmente em questões relacionadas à oferta de crédito, ao crescimento do País e à taxa de juros em condições mais favoráveis”, comentou Conrad. “Pela primeira vez desde 2014, o indicador de otimismo apresentou crescimento, atingindo o patamar de 31%, sendo que em junho de 2016 esse número não ultrapassava os 18%”, justificou o executivo da TNS Brasil. Apesar dessa sensação favorável, 56% das pessoas consultadas ainda manifestam preocupação com o futuro, 54% acreditam que a oferta de crédito deve piorar e 35% apostam que o consumo das famílias sofrerá redução. A desconfiança estende-se também à capacidade do novo governo no combate da inflação: 38% não acreditam que a atual equipe seja capaz de reduzi-la. Veja a seguir os principais gráficos do estudo.


pesquisa

James Conrad: CEO da Kantar TNS Brasil

“Qual das seguintes palavras descreve melhor o seu sentimento em relação ao futuro?”

Em função das últimas medidas econômicas, você acha que o Brasil caminha na direção certa ou errada?

Certa

Errada

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Nesse contexto que discutimos, você se sente propenso a fazer um financiamento em 2016?

Como você avalia a situação do Brasil hoje?

Nesse contexto que discutimos, você se sente propenso a fazer um financiamento em 2016?

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Você tem dívidas?

Que tipo de dívidas você tem?

Qual ou quais desses itens você financiaria ou utilizaria?


imprensa

11º SIAC na Mídia Tradicional evento da ACREFI atrai mais de 620 convidados e gera expressiva exposição na grande imprensa. Foram 105 reportagens, em pelo menos 45 veículos nacionais e internacionais − jornais, TVs, rádios, portais e blogs

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Em entrevista exclusiva à Financeiro, Gustavo Marrone, secretário nacional de Justiça e Cidadania, diz, entre outras coisas, que para evitar a sobrecarga do Poder Judiciário as instituições financeiras devem ingressar com ações contra inadimplentes que, na prática, possam gerar benefícios concretos

Como boa parte dos devedores inadimplentes não tem condições econômicas para firmar acordos amigáveis com as instituições financeiras, qual seria uma saída razoável e possível para evitarmos as ações que se eternizam no Poder Judiciário? O primeiro passo para evitar as ações de cobrança é ter mecanismos de controle no momento das concessões de crédito ou na liberação de limites nos cartões de crédito. O maior cuidado na análise das 28 FINANCEIRO janeiro 2017

informações do consumidor ou tomador de crédito evitaria uma inadimplência alta. É o que hoje está sendo chamado de crédito responsável. Passado esse momento, se mesmo assim a inadimplência ocorrer, a ponderação sobre qual a efetividade do ingresso de ações de cobrança contra devedores insolventes deve ser realizada de forma criteriosa. Muitas vezes são ajuizadas ações apenas para atender a requisitos de “compliance” interno ou para ter direito a algum benefício fiscal. Assim, na

Foto: Luciano Piva

“A política de crédito responsável é o instrumento para minimizar a atuação de má-fé de alguns devedores”


entrevistadomês política do custo/benefício, deve-se ingressar com ações que, na prática, tragam benefícios concretos às instituições financeiras. Essa triagem é essencial para que ações infrutíferas não sobrecarreguem o Poder Judiciário, deixando este livre para julgar as que realmente beneficiem a sociedade como um todo. Como coibir a má-fé de devedores menores, que deixam que seus débitos cheguem a cifras estratosféricas, para depois de longo tempo fecharem acordos por valores quase simbólicos? Entendo que implantado um programa de crédito responsável, em que exista a preocupação não só com a concessão, mas também com o acompanhamento dos contratos de crédito, a possibilidade de inibir esse problema torna-se factível. As dívidas tornam-se estratosféricas muito pelo fato de a instituição financeira não acompanhar a evolução dela. Normalmente, muitos desses casos são de consumidores com dívidas em cartões de crédito e que já mostram dificuldades na adimplência quando começam a utilizar o instrumento do pagamento mínimo. E se a instituição financeira não faz uma intervenção nesse processo, a dívida, até porque os juros desse produto são elevadíssimos, atinge-se tamanho vulto que o consumidor não mais consegue quitá-lo. Assim, não resta outra saída à instituição financeira do que firmar acordo pelo valor que o consumidor consegue pagar. E esse procedimento gera a possibilidade de oportunistas, conhecedores das práticas de mercado, aproveitarem para se beneficiar. Portanto, a política de crédito responsável é o instrumento para minimizar a atuação de má-fé de alguns devedores que enxergam na fragilidade do processo atual um meio para conseguirem vantagens financeiras. Os bancos não deveriam dedicar ainda mais tempo na avaliação dos bens oferecidos em garantia dos créditos? O processo de avaliação de bens oferecidos em garantia de crédito é passo importante no movimento de crédito responsável. Quanto melhor essa avaliação, menor é o risco de inadimplência, haja vista que o capital emprestado está garantido. Entendo que a maioria dos bancos já deva ter processos cuidadosos com relação aos bens ofertados em ga-

rantia. Os que não têm, deveriam perseguir esse processo. Além da diminuição do risco de inadimplência, um bom contrato com bem dado em garantia diminui o custo no momento de eventual execução. Não faltam medidas administrativas mais eficientes que possam conter a enxurrada de processos judiciais relacionados à inadimplência? Pelo que vejo no mercado, não acho que faltem medidas administrativas postas que possam conter a enxurrada de processos judiciais relacionados à inadimplência. O que falta é incentivo para que as medidas sejam adotadas. Hoje já existe uma discussão a respeito da necessidade da busca de medida pré-propositura de ações judiciais para que a parte, seja ela devedora ou credora, possa se socorrer dos serviços do Poder Judiciário. Em outros países, somente após a passagem por meios administrativos de solução de conflitos é que surge o interesse de agir que possibilita o ingresso no Poder Judiciário. No Brasil, esse pressuposto para a propositura de ações judiciais ganhou o nome de “teoria da pretensão resistida”. Somente quando essa teoria for abarcada pelos tribunais do País é que o incentivo às medidas administrativas será amplo. Resumindo: não precisamos de mais meios alternativos de solução de conflitos, mas sim de incentivos para que sejam utilizados. Não é preciso rever o prazo prescricional de cinco anos dos débitos em aberto? Não acho necessário, até porque tenho convicção de que prazos prescricionais muito alongados trazem mais insegurança jurídica. O prazo prescricional de cinco anos para a cobrança de débitos em aberto regulado pelo Código Civil é suficiente para que instituições financeiras possam analisar o caso e decidir por qual via ela fará valer o seu direito. Lembrando que a ação judicial proposta interrompe o transcurso do prazo prescricional. Ausência de riscos financeiros à parte litigante não é fator facilitador para a propositura de ações com pouca fundamentação? Esse é outro ponto importante na discussão sobre o excesso de demandas que hoje aflige o Poder

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entrevistadomês Judiciário. Obviamente que a ausência de riscos tradicional, necessita de regras específicas. Outro financeiros para a parte que ingressa com ações ponto importante é a existência de procedimentos sem fundamentação incentiva a busca por direitos eficientes para definir quanto aquele consumidor/ que, muitas vezes, já se sabe inexistentes no iní- tomador de crédito pode captar sem comprometer cio do processo. Aqui é de suma importância re- seu orçamento. Necessita, portanto, de um banco visitar dois institutos processuais: justiça gratuita de dados que contenha informações individualizae litigância de má-fé. O primeiro das e precisas dos consumidoA FEBRABAN tornou-se algo padrão em nosso res/tomadores de crédito para desenhou em sistema de justiça. Não existem que esse novo canal transaciocritérios para conferi-la. Em alnal não se torne uma grande seu sistema de gumas justiças especializadas causa de ações judiciais. autorregulação ela é regra. Isso incentiva pleitos procedimento Muito tem se falado em edusem fundamentação alguma. Por cação financeira, não faltaria, obrigatório a ser essa razão, aliás, tramitam no porém, uma campanha mais Congresso Nacional alguns proseguido pelas robusta e coordenada sobre as jetos de lei que buscam regular instituições responsabilidades do credor? a concessão da gratuidade, com Educação financeira é responfinanceiras destaque para o Projeto de Lei sabilidade de todos. Devemos participantes no 5.900/2016, de autoria do depulembrar que o acesso ao crédito tado Paes Landim. O segundo, li- momento da oferta se tornou real nos últimos quintigância de má-fé, por outro lado, e contratação de ze anos. Muitos consumidores é pouco utilizado pelos magistracrédito por meios experimentaram pela primeira dos. Deveria ser utilizado como vez serviços e produtos finanremotos inibidor de condutas processuais ceiros sem estarem preparadesleais, tanto por parte do autor dos para tal. Isso gerou a necomo do réu. Assim, uma melhoria nesses dois institutos ajudaria, também, a não cessidade de programas de educação financeira judicialização de situações em que o direito não urgentes para tentar diminuir essa assimetria de informações. Aí entendo importante o papel dos subsiste ao primeiro e sumário crivo. credores, principalmente no treinamento de sua Embora a tecnologia tenha revolucionado os ser- força de trabalho. Estudos mostram que as inforviços bancários, a oferta de crédito não deveria mações são mais bem absorvidas pelos consumiestar mais protegida nas transações on-line? dores quando esses estão realizando transações, A tecnologia está presente em todos os ramos eco- pois desperta o interesse no assunto. Campanhas nômicos e sociais de nosso tempo. Assim, parece- genéricas, muitas vezes caras, não trazem o de-me normal a possibilidade de contratação de cré- vido retorno. Assim, a própria força de trabalho dito por meio de instrumentos on-line ou virtuais. pode fazer esse papel de educador no momento Todavia, concordo que no caso de crédito alguns da oferta ou da contratação do crédito. Seria mais mecanismos extras de controle devem ser adota- racional e efetivo. Por outro lado, entendo necesdos, principalmente quando da oferta por essas sário que as próximas gerações já cheguem ao plataformas. A FEBRABAN desenhou em seu sis- mercado de consumo com os conceitos da edutema de autorregulação procedimento obrigatório cação financeira enraizados. Aí entra o papel do a ser seguido pelas instituições financeiras parti- Estado, de fomentar essa disciplina nas redes de cipantes no momento da oferta e contratação de ensino fundamental, capacitando professores e crédito por meios remotos. É claro que a preocupa- produzindo matérias que possam auxiliar nessa ção com essa contratação de crédito, por meio não formação. f

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Isaac Sidney Ferreira: diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central

“A maneira correta de inserir os mais vulneráveis em programas de orientação financeira é entender as suas necessidades” Isaac Sidney Ferreira, diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, fala à Financeiro sobre as conquistas alcançadas pelos programas de educação financeira, o estímulo às negociações para evitar a judicialização dos litígios Há anos a educação financeira é tratada como uma das prioridades do Banco Central e das instituições financeiras. Quais foram as principais conquistas alcançadas? De fato, há muito tempo o Banco Central vem priorizando a educação financeira. Para ser mais preciso, desde o início dos anos 2000. Considero um marco que, já em 2013, a implantação do Programa Cidadania Financeira foi concebido para promover o bem-estar financeiro do cidadão. A cidadania financeira é uma abordagem recente e moderna do BC que trata dos direitos e deveres do cidadão quando o assunto é a sua vida financeira. E, para o Banco Central, inclusão financeira, educação financeira e proteção ao consumidor bancário são os pilares do que enxergamos no conceito de cidadania financeira. Entre as iniciativas que destaco estão o site “Cidadania 32 FINANCEIRO janeiro 2017

Financeira”, que disponibiliza gratuitamente cursos a distância e material didático com conteúdo sobre serviços financeiros e finanças pessoais; e o programa de formação de facilitadores em Gestão de Finanças Pessoais, que pode ser realizado de forma presencial e on-line. Esse programa é resultado de uma parceria com o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) e seu modelo já está sendo replicado para outras instituições, como o Exército Brasileiro. E por falar em parcerias, cabe destacar, a atuação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). O objetivo da estratégia é, justamente, a realização de ações coordenadas voltadas a fortalecer a cidadania, disseminar a educação financeira e promover a tomada de decisões financeiras conscientes e autônomas. O Banco Central vem atuando fortemente em diversas das atividades


da ENEF, como a inserção do tema educação financeira nos currículos das escolas públicas, ensinos fundamental e médio. Por exemplo, em 2016, a 3ª Semana ENEF alavancou quase 1,3 milhão de cidadãos, por meio de ações presenciais em quase todos os Estados brasileiros. Em termos de mudanças observadas, é importante destacar que ações educacionais têm um prazo longo de maturação, ou seja, o impacto dessas ações será mais bem percebido com o passar dos anos. Além desse aspecto, uma medição confiável dos resultados precisa passar por um processo estatístico de avaliação de impacto. Essa avaliação é uma preocupação nossa, aqui no Banco Central, e um dos pontos que consta do nosso plano de ações. De todo modo, mesmo sem uma medição quantitativa mais apurada, alguns avanços já são visíveis quanto ao acesso da população às informações de qualidade e ao uso dos materiais e cursos disponíveis. Nossos cursos on-line já tiveram mais de 30 mil alunos. A Calculadora do Cidadão, considerando só o site, já foi utilizada em quase 4 milhões de cálculos. A versão do aplicativo já teve 430 mil downloads. Na minha opinião, é certo que as pessoas que concluíram esses cursos ou utilizam os materiais e as calculadoras disponíveis estão mais preparadas para lidar com suas finanças e com as instituições financeiras. Os brasileiros de menor renda são os que mais tomam crédito. De que forma será possível inserir essas pessoas nos programas de orientação financeira? As populações mais vulneráveis são uma preocupação não só do Banco Central, mas, também, da Estratégia Nacional de Educação Financeira. Por essa razão, decidimos estabelecer dois públicos prioritários, que são os aposentados e pensionistas do INSS, os quais recebem até dois salários mínimos por mês, e as mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família. Cada ação deve ser pensada e construída baseada nas características do público que irá recebê-la. Para os públicos do ensino fundamental e do ensino médio das escolas públicas, por exemplo, foi feito um projeto piloto. Esse projeto tem como característica a criação de um material baseado em situações didáticas, calcado em situações do dia a dia das crianças e dos adolescentes. Além disso, os livros possuem um visual moderno e colorido. Esses fatores aproximam o tema finanças da realidade desse público, facilitando a assimilação dos conceitos. Outro

exemplo seriam os clientes de cooperativas e seus familiares. Pare esse público, fizemos, como já pontuei, uma parceria com a OCB/Sescoop, que já está sendo replicada para outras instituições. Veja que o sistema cooperativo possui conhecimento sobre os cooperados e tem uma boa capilaridade para levar o conhecimento a eles, além do conhecimento sobre cooperativismo em si, tema que foi agregado ao treinamento original. Assim, por meio dessa parceria, foi possível aliar a existência de um curso de gestão de finanças pessoais de qualidade, com o conhecimento sobre cooperativismo e a capilaridade para levar o curso a um maior número de pessoas. Na sua avaliação, qual o principal impacto da “desjudicialização” do sistema financeiro para as instituições financeiras e para o consumidor? Bem, logo de início é bom destacar que a judicialização não é desejável sob nenhum ponto de vista. Para as instituições financeiras, representa custos e uma indisposição com seus próprios clientes, que pode impactar seus negócios. Sob o ponto de vista do consumidor, além do desgaste e do custo que representa um processo judicial, a solução para seu problema se dá de forma mais morosa do que por outras vias. Portanto, os benefícios da não judicialização são claros e significativos. Neste sentido, o Banco Central e o Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, estão em tratativas para firmar um acordo de cooperação técnica com o objetivo de customizar o Sistema de Mediação Judicial para o uso na resolução de litígios envolvendo as instituições supervisionadas, para troca de informações e ainda para a potencialização do uso da mediação no meio das instituições financeiras. O Banco Central deverá trabalhar estimulando as instituições financeiras a se vincularem ao Sistema de Mediação Digital do CNJ. Apesar de já haver previsão na Resolução nº 4433, de 2015, sobre a atribuição do ouvidor das instituições financeiras na mediação de conflitos, na prática isso vem ocorrendo ainda com timidez. De que forma a mediação pode contribuir para a ampliação da educação financeira? O processo de mediação pode auxiliar a educação financeira de algumas maneiras. Pode, por exemplo, coletar diversos insumos, com base nos casos que são tratados, para servir de subsídios às ações janeiro 2017 FINANCEIRO 33


orientaçãofinanceira de educação financeira. Mas, na O BC tem procurado dialogar A melhor maneira minha visão, a maior contribuicom as instituições financeiras de ensinar gestão para tornar cada vez mais efição do processo de mediação na de finanças para a caz o atendimento aos clienampliação da educação financeira pode ser obtida se utilizarmos população adulta é tes. Por sua vez, as instituições financeiras também têm trabao momento da mediação para por meio da oferta lhado nesse sentido. Em sua oferecer ao cidadão informação avaliação, tem havido evolude informação no e orientação financeira sobre o ção no relacionamento com os melhor uso do produto ou ser- momento próximo à clientes? viço que gerou aquele conflito. tomada de decisão Nossa percepção é de que tem O ato da mediação é um mohavido um claro processo de mento em que o cidadão estará melhoria nos serviços prestados mais disponível e aberto para o recebimento daque- pelas instituições financeiras. Atualmente, as reclale aprendizado. É o que os especialistas chamam de mações de cunho mais operacional, como débitos momento de aprendizagem ou teachtable moment, não autorizados e cobranças inadequadas de tariem inglês. Os especialistas internacionais em edu- fas, embora ainda sejam muito relevantes, possuem cação financeira enfatizam que uma das melhores tendência geral de queda. Isso se dá em função da maneiras de ensinar gestão de finanças para a po- melhoria de controles das instituições financeiras. pulação adulta é por meio da oferta de informação Por outro lado, questões de natureza mais comercial no momento próximo à tomada de decisão ou duran- como transparência nas negociações, adequação te o uso do produto em si. Por exemplo, o momento de produtos aos clientes, etc. começam a ganhar em que a pessoa decide que vai comprar um imóvel maior relevância. Essa é a discussão em voga neste seria o momento mais adequado para fornecer infor- momento. Como garantir que os clientes entendam mações sobre financiamento imobiliário. Da mesma aquilo que estão contratando? Que mecanismos de maneira, como mencionei, ao oferecermos durante o incentivo realmente estimulam os funcionários a processo de mediação informações sobre o melhor fazer uma venda de qualidade e quais são aqueles uso do produto ou serviço que gerou aquele conflito, que os levam a não ter transparência no momento podemos evitar futuras compras ou uso inadequado da venda? As instituições financeiras, de forma gedaquele produto ou serviço, gerando um efeito casca- ral, passaram os últimos anos dispendendo grandes ta positivo para o círculo de influência daquele clien- esforços pensando essas questões e implantando te, como família e amigos. políticas, projetos e processos com o objetivo de traOs consumidores têm se queixado da pouca eficiência do ombudsman das instituições financeiras na solução de suas queixas e demandas. De que maneira essa questão pode ser melhorada? As ouvidorias das instituições financeiras têm um papel diferenciado para atuar na causa-raiz dos problemas que estão tratando, uma vez que o ouvidor é parte da estrutura corporativa das instituições financeiras, com acesso à sua alta administração e podem induzir melhorias nos processos. Assim, eu acredito que o seu trabalho deve ser fortalecido. Algumas sugestões que eu poderia dar seriam o aumento do patrocínio da alta administração das instituições financeiras às ouvidorias, a legitimação do papel da ouvidoria como agente de mudança de processos de negócios e maior autonomia para que a ouvidoria solucione reclamações. 34 FINANCEIRO janeiro 2017

tar esses pontos. E foi também pensando nisso que o Conselho Monetário Nacional, o CMN, acaba de aprovar a Política de Relacionamento das instituições financeiras com clientes e usuários elaborada pelo Banco Central. Essa política nasceu da necessidade que percebemos de se estabelecer uma disciplina geral que sirva de norte para a definição de procedimentos e rotinas interdependentes e coesas no relacionamento mais ético e transparente com clientes e usuários. Ela busca estimular maior conscientização e responsabilização da alta administração quanto à matéria, aprimorar o relacionamento com clientes e usuários, assegurando que a oferta de produtos e serviços financeiros seja feita de forma mais adequada ao perfil do consumidor e, é claro, está alinhada às recomendações e a melhores práticas internacionais. f


artigo*

Melhora do Brasil

José Cláudio Securato

ainda não é refletida nos números

Enviado em 26/12/2016

H

á três fatores que ditam o ritmo de retomada da economia brasileira: fatores políticos, econômicos e as investigações sobre corrupção, como a Operação Lava Jato. Embora os dois primeiros quesitos tenham melhorado substancialmente do governo Dilma para o governo Temer – não quero dizer que estejam bons, mas melhoraram, repito – , ainda não há reflexo nos números e nas métricas de performance do País em sua plenitude. Fatores políticos Não será fácil desmontar o presidencialismo de coalização e permitir ao Brasil uma nova dinâmica entre os Poderes Executivo e Legislativo. O orçamento público, os recursos das empresas estatais e das instituições de economia mista ainda são um risco a ser monitorado pela moeda de troca que representam no Congresso. Por outro lado, dadas as regras do jogo, reorganizar os grupos de poder e garantir governabilidade para que o País avance em reformas é um ganho gradativo do governo Temer que não pode ser desprezado. Divido o governo Temer em quatro eixos. Primeiro: o Presidente Michel Temer em si. Segundo: a equipe econômica, composta pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pelo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Terceiro: o apoio à equipe econômica, com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o secretário executivo de Programas de Parcerias de Investimento, Moreira Franco. Quarto: os ministérios para governabilidade, nos quais se concentram os demais ministérios. Dada a nova dinâmica política pós-impeachment e a evolução das operações da Polícia Federal (delações, Lava Jato, etc.), os ministros relacionados à governabilidade são constantemente questionados. Até o momento, quatro ministros caíram e há chances de outros se perderem até o fim do mandato. A maioria não foi chamada pelo seu notório saber na pasta que ocupa. Esse é o preço que o Presidente Temer paga para garantir apoio do legislativo para aprovar, dentro do possível, reformas estruturais que o Executivo propõe, e que o país tanto precisa.

Fatores econômicos Os avanços econômicos conquistados pelo governo Temer são gigantes, como: a nova equipe econômica, que gera confiança e é alinhada com a Presidência; a busca pela retomada do tripé macroeconômico; o reposicionamento do Brasil na América Latina, longe de Venezuela, da Bolívia, do Equador e de Cuba – embora não seja em si uma mudança econômica, deve estimular vinda de capital estrangeiro ao País; o fim do Estado como motor da economia; as questões econômicas tratadas com transparência; o investimento como pauta principal para retomada da economia; a agenda simultânea (e inédita) de reformas: trabalhista, previdenciária, fiscal e tributária. Lava Jato O conjunto de operações da Polícia Federal, como a Operação Lava jato, traz ao País ganhos inéditos como combate à corrupção e diminuição da impunidade. Não me interpretem mal, pois sou a favor da Lava Jato e outras operações do gênero, mas constato que ela dificulta a estabilização da governabilidade, pois exclui – com razão – atores do Executivo e do Legislativo que fazem parte da nova engrenagem montada para dar dinâmica de aprovações aos projetos de cunho econômico. Claro que isso é um bem necessário, mas retardará, em última análise, o crescimento econômico do Brasil. Posto isso, concluo: o Brasil caminha para crescimento econômico, geração de empregos, inflação controlada, superávit nos âmbitos internos e externos no médio prazo e dinâmica do PIB impulsionada pelos investimentos. Há barreiras enormes a serem superadas, mas o momento exige serenidade para observar que os ganhos políticos, econômicos e de combate à corrupção ainda não são refletidos nos dados econômicos e no bem-estar da população. Quanto mais profundos forem esses ajustes, mais fortes nos reergueremos. f

*Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

José Cláudio Securato: presidente da Saint Paul Escola de Negócios e do IBEF-SP

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seminário

Menos fraude e

maior produtividade Por Gustavo Girotto

Debate promovido pela ACREFI mostra que, entre outras coisas, os crimes de falsificação de documentos ou roubo de identidade e de dados pessoais devem ser combatidos com autenticação de processos e com os recursos da biometria

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rimes contra a ordem econômica, invariavelmente, representam um grande dano à sociedade. Ciente do problema e sempre pronta a discutir possíveis saídas relacionadas ao tema, a ACREFI reuniu, dia 3 de novembro de 2016, no Hotel Renaissance (SP), especialistas para participarem do evento Fraude em Debate. Participaram do encontro Marco Antônio Gouveia, diretor de Risco na Fidelity Information Services; Fabio Moraes Benedito, executivo do Bradesco; André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos; e Agnaldo Prado, superintendente executivo da Bradesco Financiamentos. A iniciativa da ACREFI foi patrocinada pela Cetip e CNseg. Em sua palestra, Marco Antônio Gouveia, da Fidelity Information, enfatizou que uma forma de

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Marco Antônio Gouveia: diretor de Risco na Fidelity Information Services


Fotos: Luciano Piva

Fabio Moraes Benedito: executivo do Bradesco

prevenir a fraude é fazer a autenticação dos processos. “Toda operação financeira de qualidade envolve processo, tecnologia e pessoas. Identificar a fraude no mundo transacional requer um customer service eficiente. É preciso ter uma visão 360º do seu macrofluxo, com sinergia das operações, para

minimizar os riscos de fraudes nas empresas”, explicou Gouveia. Para Fabio Moraes Benedito, executivo do Bradesco, que trabalha no setor de Prevenção à Fraudes Eletrônicas da instituição, o problema é sério. “De acordo com um levantamento da Serasa, o consumidor a cada 14,8 segundos está sujeito a uma tentativa de fraude. Por isso, antecipar a prevenção e o combate a esse crime é um importante desafio”, ressaltou. O executivo exibiu uma reportagem, gravada no Centro da capital paulista, que evidenciou o quão fácil é obter um documento falso. “As inúmeras formas de confecção de um RG, que envolve 50 diferentes formas de denominação de UF, 70 brasões diferentes, 250 órgãos emissores, 180 institutos de identificação, 700 formatos para o número do RG, 420 datas de expedição, 560 formatos de data de nascimento, 420 formatos de CPF e 1.700 assinaturas de diretores, são elementos que impõem variáveis complexas na detecção. Temos um departamento integrado que trabalha na prevenção, sendo a biometria uma grande aliada no processo. É um desafio diário”, pontuou o execujaneiro 2017 FINANCEIRO 37


seminário

André Perfeito: economista-chefe da Gradual Investimentos

tivo, mencionando que “quanto mais enriquecida a base de dados de uma instituição, melhor será seu processo de prevenção”. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, disse que também em corretoras há riscos de fraudes e o combate é um desafio. Mas sua palestra no evento da ACREFI foi direcionada ao tema “Precificando Temer: a origem econômica da crise política brasileira’’. “Temos o salário real apontando para baixo, o PIB caindo e um dos principais problemas gerados pelo governo Dilma foi o aumento da inflação. A PEC, agora do atual governo, trabalhará com ajuste e corte de gastos públicos, mas vejo a possibilidade de aumento de tributos e o PIB crescendo lentamente. O cenário de curto prazo mostra o desemprego ainda subindo e as famílias praticamente sem renda. Isso está queimando poupança 38 FINANCEIRO janeiro 2017

da população. O dado positivo é que a confiança dos empresários subiu, mas a ociosidade da indústria nunca esteve tão elevada”, analisou. Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, o governo aposta suas fichas em que haverá uma melhora muito significativa do investimento e, assim, teríamos uma recuperação geral da economia ancorada na confiança. “De fato a ociosidade da indústria permite-nos imaginar um crescimento não inflacionário, mas justamente essa ociosidade mina a eficiência marginal do capital e impede novos investimentos. A queda de custos de produção, notadamente salários reais e custo de capital, pode criar um efeito tonificante nos investimentos, mas, sem demanda para acompanhar, acreditamos que será uma recuperação lenta do nível produtivo”, ressaltou. Antes de finalizar o evento, Agnaldo Prado, superintendente executivo da Bradesco Financiamentos, proferiu algumas palavras aos convidados, em que destacou a importância do debate promovido pela ACREFI, apresentando estratégias e ferramentas desenvolvidas pelo sistema financeiro para combater e minimizar as fraudes. f

Agnaldo Prado: superintendente executivo da Bradesco Financiamentos


Foto: Maurício Nahas

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2013


seminário

Caminho traçado

pela inovação Seminário organizado pela ACREFI revela o potencial das fintechs, como as instituições estão se preparando para esse novo player do mercado e o trabalho do BC para monitorar o setor e superar eventuais gaps regulatórios

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que atuam apenas em determinados nichos do universo financeiro; e por último são as questões ligadas à regulação. “Pessoas com até 30 anos, nativas da internet, buscam acessar serviços financeiros de maneira mais transparente e mais rápida, mais contextualizados ao ciclo de vida do cliente. No Brasil, 50% da força de trabalho já é composta por nativos digitais”, explica Freitas. Em sua apresentação, o gerente de Inovação e Tecnologia do Bradesco apresentou três grandes temas que devem revolucionar o sistema financeiro nos próximos anos: a IoT (internet

Fernando Moraes de Freitas: gerente de Inovação e Tecnologia do Bradesco

Fotos: Luciano Piva

S

empre atenta aos temas que chamam a atenção do mercado financeiro, a ACREFI realizou dia 5 de dezembro de 2016, no Renaissance São Paulo Hotel, o seminário The First Fintech Day. Isso porque estima-se que existam no Brasil mais de 130 plataformas digitais de serviços financeiros, que têm alcançado milhões de brasileiros, inclusive os “desbancarizados”. Participaram do encontro: Fernando Moraes de Freitas, gerente de Inovação e Tecnologia do Bradesco; Jochen Mielke de Lima, diretor de Sistemas de Negociação, Arquitetura e Canais Digitais da BM&FBOVESPA; Roberto Dagnoni, vice-presidente da Unidade de Financiamentos e diretor-executivo de Novos Negócios da Cetip; e Mardílson Queiroz, executivo do Departamento de Normas (Denor) do Banco Central. O evento foi patrocinado por Bradesco, Cetip, Credilink e CNseg. De acordo com Fernando Moraes de Freitas, do Bradesco, o espaço que as fintechs estão conquistando faz parte de um movimento estruturado que é saudável para o sistema financeiro e para os clientes. Sua ação é impulsionada por quatro vetores que estão pressionando as margens dos bancos: a mudança no comportamento das novas gerações; as novas tecnologias, que impactam todos os setores da economia; a entrada de concorrentes


das coisas), a Inteligência Artificial e o blockchain (sistema que garante a segurança das operações realizadas por criptomoedas). Segundo o executivo, essa colisão de tecnologias está obrigando as instituições financeiras a entregar um produto melhor para seus clientes. Na visão do Bradesco, as fintechs tendem a crescer cada vez mais no Brasil. “Olhando especificamente para o crédito, é preciso ficar muito atento. É uma questão de algoritmos, o quanto efetivamente esses novos entrantes conseguirão atender mais bem os clientes, se terão força para se manter no longo prazo”, alertou Freitas. Na análise de Jochen Mielke de Lima, da BM&FBOVESPA, as fintechs cometem um erro de posicionamento ao tentar vender tecnologia quando deveriam focar em agilidade, rapidez e capacidade de inovar. “A grande maioria delas, no entanto, procura melhorar a experiência do serviço oferecida aos clientes, algumas procuram atender demandas que nem os próprios clientes percebem que têm”, avalia Lima. Com os avanços provocados pelas fintechs, a BM&FBOVESPA também tem procurado atuar de forma mais estruturada, a partir do conceito do empreendedorismo corporativo, abrindo canais para novas linhas de negócios e de receita, direcionados aos interesses da instituição. “Uma das propostas implantadas foi a oficina de inovação, um espaço reservado ao fluxo de ideias e à discussão de propostas”, conta Lima. “Promovemos também maratonas de programação e de informação, um

tipo de hackathon, em que reunimos programadores, designers e profissionais de novos negócios da própria Bolsa para desenvolver ideias durante um fim de semana. ” Entre os assuntos que mobilizam atualmente a BOVESPA estão blockchain; big data e analytics; computação cognitiva; digitalização; segurança da informação; financiamento alternativo; e pagamentos, dos quais apenas os dois últimos atraem, por enquanto, as fintechs. Para a Cetip, empresa integradora do mercado financeiro, a onda das fintechs também veio para ficar. Por se identificar como um grande conector entre instituições financeiras, consórcios, fundos, administradoras e com a sociedade, eles criaram o programa Foresee, um guarda-chuva dedicado à inovação, em que é possível, por meio do network da Cetip, enxergar o mercado com um novo olhar, antecipar tendências e antever o futuro. “Só se

Jochen Mielke de Lima: diretor de Sistemas de Negociação, Arquitetura e Canais Digitais da BM&FBOVESPA


seminário

consegue entender esse sistema se efetivamente você estiver presente nele, explica Roberto Dagnoni, diretor-executivo de Novos Negócios da Cetip. Mardílson Queiroz: Foi a partir do Foresee executivo do Departamento que a Cetip estabeleceu de Normas (Denor) do a parceria com o Cubo, Banco Central espaço de coworking criado pelo Itaú e pela Redpoint para fomentar soluções inovadoras. Antes disso, a empresa realizou o fórum interno KNOW, com o objetivo de estimular a troca de conhecimento dos colaboradores com os empreendedores apoiados pelo Foresee. Além disso, a Cetip participa do Up Innovation Lab, iniciativa que aproxima startups com produtos já validados por grandes corporações, e está à frente da Vertical Fintech Acate, ação que promove o desenvolvimento do segmento das fintechs, e ainda participa do Darwin Starter, em Florianópolis, método que seleciona e acelera dez startups com bons projetos direcionados ao setor financeiro. “No entanto, em 2017, a Cetip planeja ampliar sua participação na área de inovação em Belo Horizonte, considerado um polo muito forte em empreendedorismo, e em Recife, com o Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos de inovação do Brasil”, anunciou Dagnoni. Na palestra de encerramento do seminário The First Fintech Day, a ACREFI recebeu Mardílson Queiroz, executivo do Denor – Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, que disse que a principal autoridade monetária do Brasil vê as fintechs como uma iniciativa inevitável e irreversível. Isso porque, entre outras coisas, aumenta a eficiência do serviço prestado à sociedade. Além disso, essas tecnologias ajudam na aderência dos requerimentos regulatórios. “ Para 42 FINANCEIRO janeiro 2017

isso, o Banco Central vem mantendo diálogo franco com as fintechs e reuniões laterais ou multilaterais com associações do setor”, contou Queiroz. “Também estamos tentando disseminar essa cultura de inovação dentro do BC e, ao mesmo tempo, enfrentar o desafio de enfrentar eventual gap regulatório”, disse o executivo. Queiroz lembrou que alguns grandes centros financeiros, como Hong Kong, Singapura, Reino Unido, Austrália, Canadá, o tema das fintechs estão uns três passos à frente do que o BC já evoluiu na abordagem do assunto. Isso porque são países em que o sistema jurídico é o common law – diferente das implicações do sistema romano – facilitando o trabalho dos reguladores ao ligar com essas inovações do mercado financeiro. Em relação aos demais países, o executivo do BC garante que estamos no mesmo patamar, pois temos como parâmetros os organismos internacionais dos quais o Brasil é membro, como o FSB (Financial Stability Board), o SDDS (Special Data Dissemination Standard) e o IOSCO (International Organization of Securities Comission). “E a recomendação geral é monitorar, aprofundar conhecimento, mapear, identificar potenciais impactos e gaps que exijam algum tipo de intervenção das autoridades monetárias”, finalizou o executivo do BC. f

Roberto Dagnoni: vice-presidente da Unidade de Financiamentos e diretor-executivo de Novos Negócios da Cetip


artigo* Jackson Bastos

A retomada da indústria automobilística em 2017

Enviado em 4/1/2017

A

tingida pela crise econômica, a indústria O cenário mostra que o pior já passou. Mas automobilística busca alternativas para ainda há um longo caminho pela frente. Basta se reerguer. Depois de amargar quedas lembrar que em 2016 a produção de veículos superiores a 40% desde 2013, o setor finalmente não deve ter ultrapassado 2 milhões de unidaenxerga retomada a partir do segundo semestre des, o pior resultado desde 1987. Para veículos de 2017. Essa melhora deverá ser pesados, a previsão é de 80 mil modesta, mas, diante do que aconunidades, o nível mais baixo desteceu nos últimos anos, não deixa de 1999. O tsunami causado pela de ser um alento e um sinal de que atual crise vai afetar a indústria isso pode ser contornado. Devereautomotiva por mais uma década, mos ter neste ano um desempenho pelo menos, para que voltemos a semelhante ao de 2016, mas com produzir 4 milhões de unidades uma diferença extremamente imde veículos leves. portante: desta vez, pode-se conPara chegar a esse nível, é tar com o aprendizado que a crise fundamental manter cautela, proporcionou. conservadorismo nas projeEntre essas lições, ganha desções, agressividade nas vendas, taque a proximidade entre as redução nos custos, melhoria Jackson Bastos: montadoras e seus fornecedores de processo e maior produtividiretor da para que sejam criadas alternatidade. Com esses pontos incluconsultoria Siegen, vas e soluções a fim de melhorar sos no planejamento, é possível especializada em o cenário. Disciplina, comunicação que essas empresas possam se gestão estratégica aberta e transparente, informarecuperar, uma vez que o reméde negócios ções corretas e o trabalho em condio amargo já foi tomado. Agora junto começam a ganhar força e é hora de cuidar da recuperaajudam a pavimentar o caminho rumo à retoma- ção, reerguendo-se mais forte e mantendo da. Observamos melhoras também no setor fi- sempre atenção às cicatrizes para que não nanceiro. Os bancos mostram-se cada vez mais haja uma recaída. Todos aprenderam e têm empenhados em conhecer de maneira mais pró- aprendido com a crise. As exigências aumenxima a indústria automotiva e em atendê-la de tarão, porém, acreditamos que o processo maneira personalizada. O governo federal emite de mudança cultural no País levará o setor sinais positivos, a partir do maior entendimento, automobilístico, um dos principais da cadeia para apoiá-la com maior eficiência. produtiva do País. f

*Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

janeiro 2017 FINANCEIRO 43


seminário

Mais eficiência

na negociação com inadimplentes No último dos seus 20 eventos realizados em 2016, a ACREFI trouxe especialistas que mostraram que informação e relacionamento on-line ajudam no êxito de acordos de débitos em atraso

M Godofredo Barros: CEO da Ipanema Credit Management

44 FINANCEIRO janeiro 2017

issão cumprida. É assim que se encara o fecho da sua programação de 2016, quando foram realizados 20 eventos, diversos deles fora de São Paulo, em que os principais assuntos que movimentam o mercado financeiro foram debatidos por competentes especialistas. O último evento da temporada, organizado dia 8 de dezembro, no Renaissance São Paulo Hotel, tratou do tema Recuperação de Cré-


Fotos: Luciano Piva

dito – Desafios do Cenário Atual e reuniu Godofredo Barros, CEO da Ipanema Credit Management; Jefferson Frauches Viana, presidente do Conselho de Administração do Instituto GEOC; e Nicola Tingas, consultor econômico da ACREFI. Com expansão do crédito por quase dez anos, seguido de outros dois anos de recessão, o perfil do consumidor mudou e a sua relação com as instituições financeiras também mudou. Diante dessa nova realidade e com o crescimento da inadimplência, provocada, em boa parte, pelo desemprego, as empresas especializadas em cobrança precisam atualizar a maneira como atuam. “Foi-se o tempo em que se pressionava o cliente com a ajuda de motoqueiros fortes. A tecnologia atualmente permite encontrar formas mais inteligentes e eficientes de abordar o cliente”, explica Godofredo Barros, da Ipanema Credit Management. “É preciso individualizar o processo de cobrança. Não adianta fazer 30 ligações por semana. O sucesso e o desafio estão no modelo usado para realizar a cobrança. Alguns respondem melhor por meio de SMS, outros preferem negociar pelo site. No envio das informações por carta, até a cor do envelope pode influir no êxito da negociação”, lembra Barros. Além de todos esses cuidados, o CEO da Ipanema diz que não adianta repassar as pendências

Jefferson Frauches Viana: presidente do Conselho de Administração do Instituto GEOC

dos inadimplentes para uma assessoria especializada se a empresa não acompanhar o dia a dia das negociações. “É preciso conhecer antes o perfil do consumidor, qual é o seu histórico, qual é a sua capacidade de pagamento... a partir de uma base sólida de dados, o processo de cobrança torna-se mais inteligente, eficiente e com custo menor”, garante Barros. Após essa visão atualizada sobre como as empresas podem conquistar maior sucesso nas ações de cobrança, Jefferson Frauches Viana, do Instituto GEOC (Gestão de Excelência Operacional em Cobrança), apresentou uma pesquisa que revela que, entre fevereiro e novembro de 2016, em relação ao mesmo estudo realizado no ano anterior, o consumidor tomou mais crédito pessoal (48,7%/43,4%) e consignado (25,5%/18,4%), reduziu as dívidas com cartão de crédito (58,2%/66,4%) e com as parcelas dos veículos (19,2%/23,4%), passou a atrasar mais as contas domésticas (39,8%/34,2) e as amortizações do financiamento imobiliário (15,2%/5,6%). O levantamento do GEOC ouviu 176 mil consumidores inadimplentes, distribuídos nas cinco regiões do País. Assim como Godofredo Barros, Viana acredita que a melhor maneira de ter sucesso em uma negociação de dívida é por meio de uma abordagem consultiva. “É preciso entender o problema do inadimplente e como é possível ajudá-lo a equacionar a dívida, atrelada a cada tipo de cliente, a segmentação por contrato, pelo tamanho do débito, de acordo com o tempo de atraso do pagamento”, detalha o presidente do Conselho de Administração do GEOC. Além disso, Viana apresentou aos convidados da ACREFI, que acompanhavam o seminário, os diversos perfis do inadimplentes: o amigável (costuma ser simpático, tenta ludibriar o operador e procura prolongar o pagamento da dívida); o irritado (tenta ignorar todos os tipos de contato e não permite que o operador exponha suas considerações); o viciado (muitas vezes não possui problemas financeiros, mas seu subconsciente o leva a atrasar os pagamentos); o ocasional (procura manter as contas em dia, mas por um

janeiro 2017 FINANCEIRO 45


seminário situação é semelhante à de uma corrida de obstáculos. Mesmo com a recessão, começamos a nos desvencilhar de um mar de lama. Já estamos de pé, mas 2017 ainda será um ano de transição e de recuperação lenta e gradual”, sinaliza Tingas. “Estamos por força da crise, reduzindo custos e buscando aumento da produtividade. A nossa previsão é de que o crescimento em 2017 deva ser da ordem de 0,5%. No entanto, um investimento mais significativo e a expansão da economia só devem acontecer em 2018, 2019 ou até mesmo em 2020”, concluiu o consultor da ACREFI. f

Nicola Tingas: consultor econômico da ACREFI

problema eventual não consegue arcar com o compromisso); e o compulsivo (atinge cerca de 3% da população, chega a não pagar contas essenciais para gastar com supérfluos) . “Diante de perfis tão diferentes, é essencial investir não só em treinamento como também em uso de métricas e na realização de campanhas para atrair o inadimplente”, ensina Viana. Para finalizar o evento, Nicola Tingas, consultor econômico da ACREFI, descreveu um panorama das condições do País para 2017. “A nossa

inovação

A

ACREFI 2.0

ACREFI inova com a implantação da plataforma de vídeo conferência e colaboração Zoom, por meio da sua

46 FINANCEIRO janeiro 2017

distribuidora oficial WebSlA. Trata-se de uma solução diferenciada com alto nível de segurança, que permite a integração com qualquer hardware de vídeo conferência, incluindo dispositivos de alta definição de áudio e vídeo Logitech. A interação pode ser através de notebook, smartphone, tablet, PC e TV Multi-touch Apek. A tecnologia ajuda no compartilhamento de arquivos e ideias, de forma simples e intuitiva, além facilitar em eventual coautoria de conteúdo e colaboração. f


livros A Carta de

Pero Vaz de Caminha

E

mbora se saiba que Pedro Álvares Cabral não foi o primeiro navegador a chegar ao Brasil, seu desembarque converteu-se numa espécie de cerimônia de posse oficial, em nome de Portugal, das terras brasileiras. Entre os textos que relatam o feito, a carta de Caminha é, sem dúvida, o mais interessante. O recente trabalho de Douglas Tufano consegue transpor para o leitor os relatos do navegador em português moderno, acompanhados por comentários e ilustrações que ajudam a esclarecer o contexto histórico. f

Autor: Douglas Tufano Editora: Moderna (Coleção Travessias)

Política −

A

Para não Ser Idiota

obra trata dos temas: participação na vida pública; embate entre liberdade pessoal e bem comum; os vieses das escolhas e dos constrangimentos; o descaso dos mais jovens em relação à democracia; e a importância da ecocidadania. Além dessas questões, são apontadas ações ligadas ao papel da política na educação e no dia a dia das escolas, como Autores: Renato Janine Ribeiro encontrar caminhos para a soe Mario Sergio Cortella lução de conflitos e criar estraEditora: Papirus tégias de consenso. f

Sistema Financeiro Nacional

Mídias Sociais Transformadoras − Ação e

O

Mudança no Terceiro Setor

s dois autores abordam nesse trabalho a estrutura e a organização do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Eles buscam esmiuçar a importância e a regulamentação das instituições que movimentam o setor. Os assuntos são analisados em quatro diferentes eixos: acadêmico, aplicabilidade, exigência em concursos públicos e certificações financeiras. f Autores: Lucas Silva e Edgar Abreu Editora: Método

B

Autores: Beth Kanter e Allison Fine Editora: Évora

eth Kanter e Allison Fine revelam às entidades não governamentais os benefícios de atuarem por meio de ações cada vez mais conectadas com o ambiente digital. As mídias sociais, além de ferramentas de gestão e de contato social, são instrumentos que contribuem como multiplicadores das iniciativas realizadas pelo terceiro setor. f janeiro 2017 FINANCEIRO 47


painel cetip Financiamentos de veículos somam 404,7 mil unidades em novembro

O

volume de financiamentos de veículos no Brasil somou 404.737 unidades em novembro. O resultado apresentou queda de 0,1% em relação ao mesmo período de 2015. Desse total, entre autos leves, motos e pesados, as unidades usadas tiveram melhor desempenho em relação às novas. No mês foram financiados 266.006 veículos usados, aumento de 12,3% ante novembro do ano passado, enquanto os novos somaram 138.731 unidades, recuo de 17,6%, na mesma base de comparação. O levantamento é da Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), base integrada de informações que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil. O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja suscetível a fraudes sistêmicas. ” As vendas financiadas por dia útil de autos leves novos avançou 7,9% em novembro em relação a outubro. Foi o melhor desempenho do ano”, disse Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da Cetip.

Volume de financiamento de veículos por categoria Autos Leves

Motos

Volume de financiamento de veículos (Nov/16)

Pesados

Entre os automóveis leves, foram financiadas 89.505 unidades novas em novembro, queda de 15,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as vendas a prazo de carros usados totalizaram 245.390 unidades, alta de 12,5% na mesma base de comparação.

48 FINANCEIRO janeiro 2017


Vendas a prazo de autos leves novos recuam 3,3% na comparação anual Entre as faixas etárias dos autos leves, com exceção dos novos, todas apresentaram crescimento em relação a novembro de 2015. Os seminovos, com até 3 anos de uso, que até outubro mostravam queda nas vendas financiadas, avançaram 2,1% em novembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, com 77.334 unidades negociadas. Entre as modalidades de financiamento, a participação do CDC nas vendas financiadas passou de 81,7% para 83,1% em novembro de 2016, em relação ao mesmo mês do ano passado. A modalidade continua sendo a mais utilizada pelos consumidores. No período, foram vendidos a prazo 336.188 veículos por meio do CDC, aumento de 1,6% em relação ao mesmo período de 2015.

Modalidades de financiamento de veículos (Nov/16)

Financiamento por tempo de uso

2015 Novembro

2016 Novembro

O prazo médio de financiamento de autos leves com 9 a 12 anos de uso aumentou de 40,7 para 41,7 meses em novembro, em relação ao mesmo mês de 2015. Já o prazo para carros com mais de 12 anos recuou de 37,5 para 36 meses, na mesma base de comparação. f Prazo médio de financiamento por tempo de uso

O levantamento também aponta que, considerando apenas os autos leves usados, a utilização do CDC aumentou 12,9% em novembro, ante o mesmo mês do ano passado, somando 217.953 unidades comercializadas a prazo. Já o consórcio cresceu 14,2%, na mesma base de comparação, com 25.054 carros vendidos a crédito.

janeiro 2017 FINANCEIRO 49


artigopalavrafinal

2017: ANO DE TRANSIÇÃO entre crises políticas e busca da recuperação econômica

P

50 FINANCEIRO janeiro 2017

Artigo concluído em 11/12/2016

Foto: Mário Bock

ara a economia brasileira o ficitário de fontes de arrecadação. ano de 2017 será de transição, O governo indica que irá tomar mecom busca de condições para didas em tópicos, como: simplificação gradual recuperação do crescimento tributária, redução da burocracia nos econômico. Contudo, essa trajetónegócios, liberação de compulsórios ria desejada poderá ser inibida pela para utilização específica, medidas recorrência de crises políticas e inspara reestruturação de dívidas e novos titucionais de magnitude e riscos imacessos a linhas de crédito existenprevisíveis. Mesmo assim, analistas tes, flexibilização de leis trabalhistas, Nicola Tingas: políticos estimam que por pior que facilitação do processo de licitações, Consultor econômico seja o quadro, não há “plano B”; e o medidas na renegociação de dívidas da ACREFI governo Temer terá apoio no “ajusestaduais e o esperado ciclo de corte te econômico” e terá “lastro político” da taxa básica de juros. para conduzir o País até as eleições de 2018, sem De fato, avaliamos que a economia precisa de ocorrência de ruptura política, institucional, social. gatilhos de curto prazo que impulsionem a recupeApesar das crises, avanços ocorreram. A “PEC do ração. No “lado financeiro” há duas frentes princiTeto de Gastos” avançou, a “Reforma da Previdência” pais: 1) reestruturação do “passivo financeiro” de foi encaminhada para futura aprovação no Congres- empresas e famílias que poderá ter “efeito anaboliso. Essas medidas são parte importante da “âncora zante” no curto prazo, propiciando a restauração do fiscal” que promove a perspectiva de sustentabilida- fluxo de lucro (PJ) e renda (PF) na economia; 2) rede da dívida pública, dução agressiva da taxa básica de juros, hoje amplamelhora as notas mente possível pela convergência da inflação para o de crédito soberano teto da meta em 2016 (6,5%) e perspectiva de ficar brasileiro e facilita abaixo da meta em 2017 e/ou em 2018. Assim, em acesso a capital ex- conjunto com outras medidas que o governo possa terno para financiar tomar, haverá crescente possibilidade de estimular a agenda de proje- a economia para uma recuperação mais rápida e tos de infraestrutu- volta gradual do crescimento econômico. f ra. Além disso, houve ajuste de preços NOTA DA REDAÇÃO relativos, de taxa de Parabéns, Tingas! câmbio, redução de Em evento organizacustos, melhoria de do pelo Valor PRO, serviço em tempo real do jornal gestão e aumento Valor Econômico, foi anunciado dia 12 de janeiro de produtividade. que Nicola Tingas, consultor econômico da ACREFI, foi um dos seis economistas, entre 38 profissionais Mesmo assim, ao longo de 2016 o governo Temer consultados pelo veículo, que acertaram a mão ao foi acuado por diversas crises, inclusive dentro de apostar que o Comitê de Política Monetária cortaria sua própria base de poder e capacidade de gestão, mais agressivamente a taxa Selic na primeira reuresultando em fragilidade e riscos para a governabinião de 2017 — 0,75 ponto percentual para 13% ao lidade. Em consequência estabeleceu recentemente ano. Os demais economistas que acertaram o númesua reação na busca de medidas de curto prazo para ro foram Cristiano Oliveira (Banco Fibra), Fábio Silestimular a economia para sair mais rapidamente da veira (MacroSector), Fábio Astrauskas (Siegen), Máenorme crise recessiva e seus efeitos sobre a popurio Mesquita (Itaú Unibanco) e Solange Srour (ARX). lação, sobre as empresas e sobre o setor público de-


Viva o Centro 25 anos

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