Banco Central: 50 anos
“A cultura do BC é baseada em ética, excelência, compromisso, foco em resultados, transparência e responsabilidade social” Alexandre Tombini, presidente
edição
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Abr/Maio
Fundação iFHC
Fórum que transcende as fronteiras nacionais
Pesquisa ACREFI/TNS
Consumidor revela moderação ao contratar crédito
Rubens Ricupero “Ninguém torce pelo insucesso da equipe econômica”
Foto: Divulgação
conteúdofinanceiro
5 Editorial
10
10 Entrevista do mês
Foto: Arquivo COAF
Alexandre Tombini, presidente do BC, trata dos desafios enfrentados pelas diversas gestões nas cinco décadas de fundação da instituição
16 Homenagem
Diploma de Mérito COAF
16 20
18 Pesquisa
Consumo com moderação
20 Evento
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Orientação financeira
26 Debates ACREFI 34 Conjuntura
Rubens Ricupero
38 Gestão de ativos
Escreva o seu e-mail, faça seu comentário: acrefi@acrefi.org.br
Foto: Mário Bock
Cassiopae
34 abril/maio 2015 financeiro
3
conteúdofinanceiro 40 Informações estratégicas TNS Brasil/James Conrad
42 Segurança digital
40 46
46 Harley-Davidson Divirta-se no trânsito. É possível
50 Fundação iFHC
Fórum para falar e ouvir o mundo
Foto: Maíra Acayaba/Piratininga Arq.
Foto: Rogério Montenegro
44 Painel Cetip
55 Galeria Rabieh Arte que instiga reflexões sociais e políticas
57 Informe Fractal Artigos 24 Denise Campos de Toledo Jornalista
29 Ricardo Diniz Bank of America Merrill Lynch
30 Pedro Henrique Pessanha Rocha
Foto: Mário Bock
Confederação Nacional das Instituições Financeiras
50 4 financeiro abril/maio 2015
33 Aquiles Leonardo Diniz ACREFI
37 Dorival Dourado Jr. Boa Vista SCPC
66 Nicola Tingas ACREFI
editorial
O primeiro
passo Érico Sodré Quirino Ferreira: presidente da ACREFI
Foto: Mário Bock
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Brasil passou por uma espécie de “tempestade perfeita” no primeiro trimestre, quando as más notícias se acumularam dia após dia. Felizmente, no entanto, o cenário começou a ficar menos nebuloso em abril, tanto no campo político quanto no econômico – o que não significa que nossos graves problemas estejam encaminhados no sentido positivo. Ao contrário, os desafios ainda são muito grandes e requerem ações imediatas no sentido de superá-los, sob pena de o País continuar a conviver com baixas taxas de crescimento e com todos os prejuízos que elas trazem para todos. Sinais positivos começaram a aparecer no segundo trimestre tanto pelo lado político quanto pelo econômico, mas certamente ainda há muito a fazer, com destaque para a urgente necessidade de retomar os investimentos em infraestrutura. Não se pode falar em crescimento sustentável sem que os investimentos voltem e é preciso que os aportes sejam feitos prioritariamente em infraestrutura, cujas carências saltam aos olhos. Esse ponto é quase uma unanimidade quando se fala na volta do crescimento. Ao mesmo tempo, no entanto, surge uma dúvida: de que maneira atrair esses aportes? Não há uma resposta simples a essa pergunta, mas é certo que os recursos não virão sem o restabelecimento da credibilidade. Sem dúvida, o Brasil deu passo importante nessa direção com a escolha
de Joaquim Levy como ministro da Fazenda. Desde o anúncio do nome dele, e mais ainda com as iniciativas de Levy no comando da economia, o País passou a ser considerado como uma alternativa mais confiável pelos investidores e, entre outras boas notícias, manteve o grau de investimento. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Ninguém faz aportes sem a certeza de que regras e contratos serão respeitados. Quando o Brasil demonstrar que adotará essa postura para valer, a estrada estará pavimentada para que os investimentos voltem. Esse é um filme a que já assistimos: os recursos voltam quando o investidor, tanto daqui quanto do exterior, constata que um país tem estabilidade e respeita as regras. E com os aportes o Brasil pode iniciar um novo processo de crescimento, em que o crédito reconhecidamente ocupará lugar de destaque, embora isoladamente não seja (nem queira ser) a solução de todos os problemas. Tendo como pano de fundo a volta da credibilidade, estaremos no caminho certo. Claro que não é fácil, mas é uma meta que podemos alcançar, como mostra nossa história recente. O Brasil precisa dessa retomada porque não pode se dar por satisfeito com um crescimento pífio ou negativo. O tamanho e a importância de nossa economia exigem que o desenvolvimento volte, para que tenhamos um país melhor e mais justo, em linha com o que pede e merece a nossa sociedade. f
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João ficou surpreso quando teve crédito concedido rapidamente para a compra do seu carro. Agora, ele pode fazer suas entregas e fazer seu negócio prosperar. O que o João e muitos brasileiros não sabem é que a Cetip trabalha em parceria com as instituições financeiras, trazendo agilidade e segurança para o consumidor. Para conhecer esta e outras histórias, acesse o site: www.cetip.com.br/financiamentos
AGILIDADE PARA O JOÃO FINANCIAR. SEGURANÇA PARA O BRASIL CRESCER.
expediente
ISSN 1809-8843 Publicação da acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Líbero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br Presidente Érico Sodré Quirino Ferreira Vice-presidentes Aquiles Leonardo Diniz, Décio Carbonari de Almeida, Felicitas Renner, Fernando Marsella Chacon Ruiz, José Luiz Acar Pedro, Leonardo Marcondes Dadalto, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa e Rubens Buttion Diretor Tesoureiro José Garcia Neto Diretores regionais Carlos Alberto Samogim, Edmar Casalatina, Eliseu Colman, Leonardo Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Rosa, Paulo Henrique P. Guimarães e Romeu Zema Neto Diretores executivos Alexandre Teixeira, Gabriel José Gama Ferreira, João dos Santos Caritá Júnior e Ronaldo Rondinelli Montadoras Edson Fróes Castilho, Edson Tadashi Ueda, Eduardo Tavares Nobre Varella, Gunnar Alejo Ramos Murillo, Joelcyr Carmello Filho e Nelson Dias de Aguiar Diretores conselheiros José Carlos Alves, Ricardo Janini e Roberto Jabali Conselho consultivo Alkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Alarico Assumpção Júnior, Alencar Burti, Décio Carbonari de Almeida, Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavarez e Miguel José Ribeiro de Oliveira (membros) Conselho fiscal Domingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos) e Geraldo Lima Wandalsen (suplente) Diretor superintendente Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Consultora Jurídica Lívia Esteves Economista-chefe Nicola Tingas Assessoria contábil AG Silveira Contabilidade Assessoria de imprensa Tamer Comunicação Empresarial
Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP - Tel.: (55.11) 3031.2388 - CEP: 01451-000 – www.tamer.com.br Publisher Sergio Tamer Redação Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida Editor assistente Gustavo Girotto Fotografia Gabriel Kosman, Mário Bock e Rogério Montenegro Arte Moacyr MW e Rafael Pascoal Revisor Vicente dos Anjos Impressão Eskenazi Gráfica As matérias e artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.
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PORTOCRED S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO PORTOSEG S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SANTINVEST S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SANTANA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SAX S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SENFF S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SOCINAL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO SOROCRED CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. SUL FINANCEIRA S.A.- CRÉDITO, FINANCIAMENTOS E INVESTIMENTOS
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entrevistadomês
Fotos: Divulgação
“A nossa missão é assegurar o poder de compra da moeda e manter um sistema financeiro sólido e eficiente”
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Há 17 anos ocupando diversos cargos no BC, o presidente Alexandre Tombini fala sobre a instituição, que acaba de comemorar 50 anos de fundação
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uncionário de carreira do Banco Central, Alexandre Tombini assumiu a presidência da instituição, em 2011, sucedendo a Henrique Meirelles, um dos mais longevos executivos no cargo, posto que ocupou por oito anos. Isso, porém, estava longe de ser um problema para o homem indicado pela Presidente Dilma Rousseff para a vaga. Considerado austero e disciplinado, Tombini já tinha conquistado a admiração dos colegas e do mercado financeiro em seus 17 anos dedicados ao BC. Tanto que, na recente comemoração dos 50 anos do Banco Central, ele conseguiu promover um feito inédito: a reunião de dez ex-presidentes da instituição. Nesta entrevista exclusiva à revista Financeiro, o comandante do BC aborda diversas questões relacionadas às cinco décadas da criação do banco. Ele trata, sem rodeios, das turbulências enfrentadas pelas diversas gestões, dos desafios transpostos, da estabilização monetária, da transparência das informações compartilhadas com o mercado, do sistema de metas de inflação, entre outros temas. A seguir, leia a íntegra da sua entrevista. abril/maio 2015 financeiro
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entrevistadomês Revista Financeiro – Em sua opinião, por que o Banco Central do Brasil só começou a operar em 1965, quando a maioria dos países da América Latina já tinha esse tipo de instituição?
Alexandre Tombini – A criação dos bancos centrais foi o resultado final de processos institucionais em suas respectivas jurisdições. Tendo em conta as diferenças entre nações, não há sentido em se comparar tais processos em ambientes distintos. No caso brasileiro, o processo de criação do Banco Central passou por uma etapa intermediária, com a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), criada em 1945, já com a feição inaugural de autoridade monetária, atingindo sua maturidade em 1964, com a edição da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Como essa lei estabelecia a entrada em vigor em 90 dias, nosso Banco Central começou a operar em 31 de março de 1965.
RF – Não faltaram turbulências nesses 50 anos do Banco Central. Fazendo um balanço geral desse período, como o senhor analisa a atuação do BC em meio a esse cenário agitado?
Tombini – Nesse período tivemos vários desafios. O primeiro foi estruturar o próprio Banco Central na década de 60. Tivemos crises internacionais, como o choque do petróleo na década de 70 e a gestão do balanço de pagamentos e do endividamento externo nos anos 80. No início dos anos 90, tivemos, por um lado, o início de um processo bem-sucedido de estabilização monetária, mas enfrentamos, por outro lado, uma crise bancária de grandes proporções, debelada de forma eficaz por meio de um processo de intervenção conduzido pelo BC para o saneamento do Sistema Financeiro Nacional. Mais recentemente, enfrentamos os efeitos da crise financeira internacional de 2008, a maior em nível global desde o crash de 1929. O que se pôde constatar em todas essas situações, foi a atuação do Banco Central de forma prudente e com a serenidade exigida para os momentos mais tensos. Para isso, nos apoiamos em uma missão e em processos de trabalho bem definidos, em um corpo funcional altamente capacitado e em uma cultura organizacional baseada em seis valores: ética, excelência, compromisso com a instituição, foco em resultados, transparência e responsabilidade social. Esse arcabouço corporativo foi construído pelas gerações de servidores que por aqui passaram nesses 50 anos.
RF – Em sua avaliação, qual tem sido o grau de transparência do Banco Central do Brasil? O se-
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“A transparência é um dos valores que cultivamos no Banco Central. Esse conceito se desdobra e permeia as nossas atividades e o nosso relacionamento com todos os stakeholders”
nhor avalia que o nível de transparência do BC é adequado?
Tombini – Como disse, a transparência é um dos valores que cultivamos no Banco Central. Esse conceito se desdobra e permeia as nossas atividades e o nosso relacionamento com todos os stakeholders. O regime de metas para a inflação, por exemplo, é um arcabouço de política monetária que demanda transparência, de modo a promover a ancoragem das expectativas, fator-chave de sucesso desse modelo. Desde 2012, passamos a divulgar os votos de cada um dos membros do Comitê de Política Monetária, o Copom. Mas é certo que, dadas as responsabilidades do Banco Central e a repercussão, por vezes ampliada, de cada
pronunciamento de suas autoridades, e o fato de lidarmos cotidianamente com informações sensíveis e protegidas, a transparência não pode ser confundida com ausência de critérios e cuidados com o que se pode e se deve ser tornado público; isso significa que a comunicação do Banco Central deve ser calibrada e gerida, de modo a não prejudicar o cumprimento de nossa missão institucional. Analisando essas e outras facetas da questão, considero que o Banco Central tem hoje nível adequado de transparência, sem prejuízo de continuarmos evoluindo nesse quesito.
RF – O Brasil já completou 15 anos de adoção do sistema de metas de inflação, em que o Banco Central tem papel de destaque. Qual é a sua ava-
liação quanto à atuação do BC para que esse sistema fosse bem-sucedido?
Tombini – Fiz parte do grupo que criou o regime de metas de inflação em 1999 e tenho grande satisfação por ter participado desse trabalho, cujo resultado veio num momento, também de dificuldade, quando o País havia perdido o referencial da âncora cambial. O regime de metas veio substituir esse referencial. Na prática, ele fixa um objetivo a ser perseguido pelo Banco Central e é definido conjuntamente com outras políticas macroeconômicas, como a disciplina fiscal e a adoção de um regime de câmbio flutuante. A combinação desses elementos, o chamado tripé macroeconômico, possibilita maior previsibilidade em relação às ações dos entes públicos, no que diz abril/maio 2015 financeiro 13
entrevistadomês substanciadas em nossa missão institucional: “assegurar o poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente”. O cumprimento dessa missão é fator fundamental para a manutenção das estabilidades monetária e financeira. Essa missão, por si só, já atrai interesse de grandes talentos de várias carreiras, como economistas, contadores, advogados, engenheiros, matemáticos e administradores. Nós temos também uma política de capacitação permanente e contínua bastante forte. Dos quatro mil funcionários que temos hoje, cerca de mil têm pós-graduação, em torno de 800 têm mestrado e outros 200, doutorado. Há também um programa voltado a incentivar nossos servidores de nível médio a concluírem sua primeira graduação, além de um plano anual de capacitação dos servidores ativos, formatado e administrado por nossa universidade corporativa, a Unibacen. Esse esforço de formação e treinamento também nos ajuda a lidar com problemas complexos em um ambiente dinâmico. O cenário econômico e o nosso universo regulado estão em constante mutação. É preciso um elevado grau de análise do corpo técnico. E isso nós reforçamos com treinamento. Enfim, não basta a experiência do trabalho, embora essa seja também de grande relevância, já que o Banco Central tem competências exclusivas e necessita desenvolver conhecimento e tecnologia próprios.
“O Banco Central tem competências exclusivas e necessita desenvolver conhecimento e tecnologia próprios” respeito à estabilidade financeira do Brasil. A adoção do regime de metas é um marco para a economia brasileira. É um sistema transparente, de fácil entendimento e aferição, que explicita o objetivo de política monetária e o resume a um número, um intervalo, compreensível a toda a sociedade.
RF – O corpo técnico do Banco Central do Brasil é de alto nível, na análise da grande maioria do mercado. No entanto, o mercado é muito dinâmico e exige constante avaliação. De que maneira o BC se prepara para exercer seu importante papel em linha com as necessidades do mercado?
Tombini – O Banco Central tem responsabilidades nobres e, ao mesmo tempo, complexas, con-
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RF – A tecnologia cresce e se renova em velocidade espantosa. E para uma entidade como o Banco Central é essencial manter-se a par das inovações tecnológicas, seja do mercado, seja da própria instituição. De que maneira o BC tem sido orientado para atuar em um cenário como esse? Tombini – Traço característico da nossa cultura no Banco Central é a inovação, a sistematização dos processos de trabalho. Nós sempre procuramos estar à frente no que diz respeito à tecnologia. Essa postura é fundamental porque o mercado anda rápido. Sobretudo o brasileiro que, diante do histórico nacional de turbulências do qual tratamos há pouco, investiu muito no processamento de operações. O BC procurou sempre acompanhar o sistema financeiro para desempenhar bem suas missões. Mais que isso até, o Banco Central foi indutor de muitos aperfeiçoamentos tecnológicos no sistema financeiro. Na segunda metade dos anos 70, e no início dos anos 80, por exemplo, passamos de um período de encantamento, do milagre econômico, a um período econômico mais restritivo, de escassez de divisas. Demos passos importantes não só na área macroeconômica, mas na ins-
titucionalização do BC. Desenvolvemos o Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e o Sistema de Informações do Banco Central (Sisbacen), que revolucionou a forma de o BC se relacionar com os entes regulados. Temos uma preocupação contínua com a inovação. Já nos anos 2000, demos outro grande salto tecnológico com a criação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), que alavancou a segurança nas transações entre instituições reguladas e a solidez do sistema financeiro como um todo. Continuamos atentos para a disseminação das inovações tecnológicas no mercado. Atualmente, está em curso o processo de autorização de arranjos e de instituições de pagamento. Nunca perdemos de vista o futuro, as inovações ou mesmo as revoluções tecnológicas, que poderão redesenhar parte significativa do relacionamento entre clientes e instituições financeiras.
supervisão, tomando por referência também as melhores práticas internacionais, além de fiscalizar o cumprimento das normas estabelecidas. O modelo adotado no Brasil, segundo a Lei e as práticas internacionais, é baseado na realização de comunicações de transações ou situações com determinadas características, com atipicidades ou suspeitas pelos diversos segmentos obrigados ao Coaf. O trabalho de prevenção e combate à lavagem de dinheiro é resultado das ações coordenadas de todos os que integram esse sistema, cada um atuando segundo suas respectivas competências legais.
RF – A prevenção à lavagem de dinheiro é um
Tombini – Dos desafios que temos, eu sublinho
tema que tem importância cada vez maior. Qual tem sido a atuação do BC nesse assunto?
dois. Primeiro, precisamos consolidar o processo de inclusão financeira no País. Não basta a um sistema financeiro ser sólido. Ele tem de ser eficiente. Tem de estar acessível à maior parte da população do país. Nas últimas décadas, mais de 50 milhões de brasileiros entraram no sistema, demandando produtos e serviços financeiros. É importante assegurar que esse processo continue evoluindo. Para isso, precisamos de regulação adequada, que dê base para produtos e serviços compatíveis a esse novo contingente de clientes bancários. E precisamos proporcionar educação financeira a toda a população, não só desse novo cliente bancário. É uma ferramenta muito importante para que a expansão do sistema financeiro se dê com bases sólidas, sem reversões. Essa prioridade está no topo. Inclusão com educação, para que o processo se sustente ao longo do tempo. Outro desafio mais estrutural, colocado para todos os reguladores e supervisores nos fóruns internacionais, é a interseção do sistema financeiro com as novas tecnologias. Cada vez mais se torna menos nítida a distinção entre um agente financeiro, participante do sistema financeiro, e um não participante. Tem aumentado o número de atores entrando em áreas como o sistema de pagamentos, como a extensão de crédito. E isso é um desafio para todos os reguladores. Como disciplinar essa nova indústria, que derruba as barreiras entre instituições financeiras e não financeiras e, também, as fronteiras nacionais? Precisamos estar preparados para lidar com essas novas tecnologias. Já estamos atuando nesse processo e vamos nos aprofundar nele nos próximos anos. f
Tombini – No Brasil, a sistemática de prevenção à lavagem de dinheiro está instituída pela Lei nº 9.613, de 1998, que criou um sistema, no âmbito do Poder Público, do qual participam diferentes órgãos do Estado, entre eles o Banco Central. Esse sistema tem o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) como órgão central. Cabe ao BC regulamentar os comandos da Lei para as instituições do Sistema Financeiro Nacional sob sua Momento histórico Alexandre Tombini reúne dez ex-presidentes do BC Da esq. para a dir.: Paulo Cesar Ximenes Alves, Gustavo Loyola, Wadico Bucchi, Fernando Milliet, Persio Arida, Alexandre Tombini, Carlos Langoni, Henrique Meirelles, Ernane Galvêas, Armínio Fraga e Gustavo Franco
RF – Em sua visão, quais são as perspectivas do Banco Central do Brasil para os próximos anos? Existe alguma área que merecerá especial atenção do BC? Por quê?
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homenagem
ACREFI recebe o Diploma de Mérito COAF 2015 A honraria foi concedida a personalidades e instituições que se destacaram na prevenção à lavagem de dinheiro e no combate ao financiamento do terrorismo
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Érico Ferreira, da ACREFI, recebe o diploma de André Ortegal, representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
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Além da ACREFI, foram homenageadas mais 11 personalidades e instituições que se destacaram na prevenção à lavagem de dinheiro e no combate ao financiamento do terrorismo. Geraldo Magela Siqueira, secretário-executivo do BC; Oslain Campos Santana, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal; Vanessa Scarmagnani, procuradora da República em Minas Gerais; e Wilson Roberto Trezza, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência foram alguns dos nomes homenageados. Durante a cerimônia, o presidente do COAF, Antonio Gustavo Rodrigues, homenageou também os servidores com cinco e dez anos de serviços prestados ao órgão, em reconhecimento ao profissionalismo e dedicação empregados no exercício de suas funções. Além dos homenageados, a cerimônia de outorga contou com a par-
Fotos: Arquivo COAF
trabalho da ACREFI mereceu um novo reconhecimento do mercado. Desta vez, a entidade foi distinguida com o Diploma de Mérito COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) 2015, em cerimônia que aconteceu no dia 3 de março, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. “É uma honra para a ACREFI receber essa distinção do COAF, um órgão público, moderno e eficaz, voltado para a lisura das atividades financeiras”, destacou Érico Ferreira, presidente da ACREFI, ao receber título.
ticipação dos conselheiros do plenário do COAF, autoridades do Ministério da Fazenda e de outros órgãos da iniciativa pública e privada, bem como dos servidores do COAF e de seus familiares. f
pesquisa
Crédito consciente Pesquisa da ACREFI/TNS Brasil mostra que aumenta a fatia dos que podem fazer empréstimo pessoal, mas cai a porcentagem quanto ao crédito imobiliário
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evantamento inédito realizado pela ACREFI em parceria com a TNS Brasil, empresa global de pesquisa de mercado, revela que 76% dos consumidores não estão propensos a contratar um financiamento. No entanto, 51% disseram que poderão tomar empréstimo este ano para comprar um carro (mesmo índice de 2014) e 22% planejam fazer empréstimo pessoal (15% no ano passado). Apenas 8% querem fazer empréstimo consignado este ano, de acordo com o levantamento, em comparação a 12% na pesquisa de 2014. A queda foi maior na intenção de conseguir crédito para compra de eletrodoméstico (10% este ano e 17% em 2014). Quanto à intenção de conseguir empréstimo para compra de imóvel, o percentual recuou para 55% este ano (61% em 2014). A pesquisa ouviu mais de mil pessoas de todas as regiões do País, com idade entre 18 e 65 anos, sendo 54% mulheres e 46% homens. Captou o comportamento da população nos primeiros meses de 2015, e perspectivas de consumo, crédito e financiamento. Segundo o levantamento ACREFI/TNS Brasil, 85% dos entrevistados pretendem mudar o padrão de consumo, passando a economizar mais em 2015. Pensando na situação do Brasil em 2015, comparada ao ano passado, a percepção piorou em todos os itens. Quando questionados sobre a oferta de crédito em 2015, 62% dos pesquisados acreditam que vai piorar, 26% que ficará igual e somente 12% acreditam que vai melhorar. Em relação ao crescimento do País, 64% disseram que acreditam em piora – contra 31% em 2014. Além disso, 69% acreditam que o consumo das famílias também irá piorar e 80% dos ouvidos enxergam maior aumento da taxa de juros. Veja o gráfico 1.
18 financeiro abril/maio 2015
1
A preocupação em relação ao futuro aumentou 21 pontos percentuais em 2015, comparada ao ano passado: de 47% (em 2014) saltou para 68% (em 2015). Veja o gráfico 2.
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A pergunta sobre como ‘imagina sua situação em 2015’ também mostrou piora em todos os campos, quando comparada ao ano passado. Em relação à situação financeira, a sensação de piora aumentou 19 pontos percentuais (2014: 18% – 2015: 37%); padrão de vida (2014: 17% – 2015: 31%); capacidade de fazer compras para casa (2014: 23% – 2015: 41%); capacidade de fazer investimentos, como carro ou casa é o dado que mais chama atenção: o sentimento de piora aumentou 22 pontos percentuais (2014: 28% – 2015: 50%). Veja o gráfico 3. Entre os entrevistados, 66% classificaram a situação do Brasil como ‘ruim’ ou ‘péssima’, e o mesmo dado em 2014 registrou 37% – aumento de 29 pontos percentuais. Veja o gráfico 4. A pergunta “quem você acha que é responsável por essa situação?” mostrou que 73% responderam que é o Governo Federal, 61% o Congresso (Senadores e Deputados Federais) e 24% o setor privado. Veja o gráfico 5.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma agenda de mudanças Inflação e reforma política são as principais prioridades. Independentemente do voto. Persiste divisão na sociedade Em levantamento tão próximo da eleição é natural que o duro embate que permeou a eleição continue marcando tão determinantemente as expectativas, mas, por quanto tempo isso perdurará? Na incerteza, padrão de ação é economizar 75% dos consumidores declararam que pretendem mudar o padrão de consumo economizando mais em 2015. Sem clareza sobre os desdobramentos práticos do resultado da eleição, a população tende a parar (de consumir) e esperar.
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Pesquisa completa pode ser lida no link: www.acrefi.org.br/eventos/2014/9o-siac/ pesquisa-tns.pdf
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Prioridade
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Educação Financeira como Pilar da Estabilidade, evento promovido pela Acrefi, reforça o conceito de que uma população que sabe administrar seu orçamento doméstico contribui para o desenvolvimento da sociedade e do país
20 financeiro abril/maio 2015
nacional Fotos: Mário Bock
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esde criança, os avós costumam compartilhar com os netos uma sabedoria popular: “De grão em grão a galinha enche o papo”. Em outras palavras, é quando uma pessoa economiza, durante meses e, até anos, para conseguir concretizar a compra de alguma coisa. Simploriamente, esse seria um ensinamento incipiente de educação financeira, mas de fundamental importância para incutir, ainda na infância, a cultura do controle do orçamento pessoal. Com o propósito de difundir as noções do consumo consciente e de auxiliar em decisões de investimento, a ACREFI reuniu especialistas para debater o tema, dia 12 de março, no Hotel Renaissance, em São Paulo, iniciativa que aconteceu em sintonia com a programação oficial da 2ª Semana Nacional de Educação Financeira (ENEF).
Luiz Edson Feltrim: Diretor da área de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central
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“É preciso entender a forma correta de transmitir sua mensagem. Ou seja, é preciso adaptar a linguagem da comunicação para os diversos públicos”
Luis Sergio Tamer: CEO da Tamer Comunicações
22 financeiro abril/maio 2015
Sérgio Tamer, CEO da Tamer Comunicação, expôs as tendências sobre a comunicação dos assuntos financeiros sob o ponto de vista do consumo de informações por parte das empresas e do público externo. “É preciso entender a forma correta de transmitir sua mensagem. Ou seja, é preciso adaptar a linguagem da comunicação para os diversos públicos. O principal veículo de comunicação visto pela população ainda é a TV — 95% assistem-na e 79% a usam para se informar. É o meio que atinge diretamente as pessoas. Portanto, é um espaço em que se deve explorar e investir em programas de educação financeira. As novelas deveriam tratá-lo de alguma forma, pois é um horário que atinge frontalmente o público”, ressaltou o CEO da Tamer. Para exemplificar um atrativo que facilita a compreensão de uma mensagem, Tamer exibiu um vídeo da Nike que mostra um confronto entre o tenista Roger Federer e o golfista Tiger Woods, dois exímios talentos individuais. “Eles nasceram com um dom, mas precisaram treinar muito para chegar
instituições nacionais”, mencionou Feltrim. Como anfitrião do evento, Érico Ferreira, presidente da ACREFI, encerrou o encontro, reforçando que o tema educação financeira é de extrema importância na agenda nacional. “O Brasil só será um país de primeiro mundo quando a educação for realmente a nossa primeira prioridade e, para levarmos a educação financeira, primeiro precisamos investir fortemente na base da educação do brasileiro. Somente assim teremos no futuro um diferencial competitivo”, finalizou. f
Hilgo Gonçalves: ex-presidente do Banco Losango
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Fotos: Mário Bock
à posição que ocupam. As empresas devem compreender seu papel empreendedor e social. Mais do que isso, precisam saber como transmitir e compartilhar suas ideias. Cada veículo de imprensa tem um público e um canal específico. É preciso saber se comunicar com cada um deles”, alertou. Hilgo Gonçalves, ex-presidente do Banco Losango, demonstrou que 50 milhões de brasileiros ganharam acesso a novos bens de consumo. “Ainda temos oportunidades, inclusive, mais de um terço da população brasileira não possui conta em banco. É importante poupar. Só que, atualmente, apenas três em cada dez pessoas conseguem poupar. É muito pouco. Esse movimento é importante para a educação financeira, diante de um quando que mostra que quatro, em uma amostra de cinco famílias, passam dificuldades para que o dinheiro dure até o fim do mês. É preciso estabelecer um equilíbrio entre a satisfação pessoal e a sustentabilidade financeira, saber identificar o necessário para evitar o desperdício”, pontuou o empresário. Ele mencionou que a empresa precisa ter transparência e respeito com o cliente. “Hoje a orientação está ligada ao consumo financeiro, dessa forma, precisamos levar a informação para que o consumidor decida sua compra evitando o superendividamento”, enfatizou Gonçalves. Luiz Edson Feltrim, diretor da Área de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, falou sobre a educação financeira como pilar de estabilidade. “Fizemos parte de um projeto com a Embaixada do Reino Unido, com a finalidade de entender como os países aplicam de forma eficiente esse conceito. A premissa é de que a autoridade financeira deve participar e, para fomentar, é preciso sempre focar em parcerias”, informou Feltrim. A missão institucional do BC, segundo o executivo, é assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda por meio de um sistema sólido e eficiente. “A alta direção do BC está focada neste tema em todos os sentidos. O programa Cidadania Financeira contribuiu para a eficiência do sistema financeiro e para a manutenção da estabilidade econômica do País. O efeito multiplicador é um desafio e queremos que o tema entre na grade de ensino das
“É preciso estabelecer um equilíbrio entre a satisfação pessoal e a sustentabilidade financeira, saber identificar o necessário para evitar o desperdício”
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artigo Denise Campos de Toledo
Economizar é a palavra de ordem
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Artigo enviado em 9/4/2015
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muito os riscos de assumir um esquisar antes de empréstimo, para cobrir eventucomprar, buscar proais rombos do orçamento, porque moções em superos juros também estão bem mais mercados, sacolões, reduzir altos, em decorrência da política gastos no dia a dia, diminuir implementada pelo Banco Central. o consumo de energia, cortar Desde 2013 o BC vem elevando a o lazer, planejar com muito taxa básica pra frear o consumo mais cuidado ou até adiar e, como consequência, inibir os compras maiores, como de aumentos de preços, na tentativa um carro ou de um imóvel. de garantir uma trajetória melhor Não temos uma hiperinflapara a inflação. ção, mas a disparada recente O problema é que a inflação dos índices está levando o não pesa só no bolso do consumibrasileiro a retomar práticas dor. As empresas também estão antigas, que a geração mais sentindo o efeito do tarifaço, sem nova nem conhecia, mas esquecer do dólar mais alto, e, em também está adotando. alguma medida, acabam repassaA inflação subiu muito Denise Campos de Toledo: do o custo maior para os preços. rápido e puxada por despejornalista, especializada em Mesmo com a demanda mais frasas básicas, como as tarieconomia, comentarista da Rádio ca, a inflação mostra resistência. fas de energia, transportes, Jovem Pan e do Jornal da Gazeta, A combinação fica mais percombustíveis e alimentos. autora do livro Assuma o Controle versa. Inflação alta, com juros De repente, até quem planedas suas Finanças e editora do site elevados, atividade em desaceja as despesas com cuidado www.economiaemfoco.com.br leração, o que está provocando e segue um orçamento, começou a sentir dificuldade para manter as contas maior desemprego. Para o consumidor o que resta equilibradas. Antes, até tínhamos os serviços e al- mesmo é apertar o cinto. Segurar as despesas, o guns preços subindo bastante. Afinal, a demanda máximo que puder, pra evitar desequilíbrios que leaquecida dava espaço para isso. Pagar ou não era vem a um endividamento exagerado ou mesmo à uma questão de opção. Agora a situação é diferente. inadimplência. O momento é de cautela. Claro que nem todo mundo está no sufoco. Mas Mantendo o consumo de sempre, você recebe a conta de luz e leva um susto. Enche o tanque do carro é importante tomar cuidado para não jogar dinheiro e acha que o frentista errou na quantidade. Vai ao fora, deixando que a inflação roube uma fatia maior supermercado e percebe que tem de gastar muito dos rendimentos. O controle de gastos pode até inimais pra levar o de sempre. Se gastar o que estava bir reajustes abusivos que acabam ocorrendo nesses períodos, em que todo mundo fica meio sem reacostumado sai com uma sacolinha “mínima”. Essa situação não deve mudar tão cedo. Ainda ferência do que seria um preço justo. Tudo bem que que, pontualmente, em um mês ou outro, tenhamos as empresas estão tendo aumento de custos, que uma inflação mais baixa, o ano deve fechar com o governo elevou tarifas, impostos, mas tem muito uma variação de mais de 8% do IPCA, que é a infla- abuso nas remarcações. E quem economiza pode ção oficial. Muito acima do teto da meta, do limite de poupar, investir e aproveitar o lado mais favorável tolerância, que é 6,5%. E não é só isso. Quem está da alta dos juros, que é o aumento da rentabilidade com as contas desequilibradas ainda tem de pesar das aplicações. f
pautadodia Ciclo de Debates
Apostas para o
A primeira edição do Ciclo de Debates ACREFI reúne os economistas Marcel Solimeo, da ACSP; Nicola Tingas, da ACREFI; e Celso Grisi, da FEA, para uma conversa franca sobre os rumos da economia nacional
A
nistração) da USP. O mediador retomada da econodo encontro foi Luis Sergio Tamia brasileira vai demer, CEO da Tamer Comunicapender da velocidação. Veja os principais trechos de com que o governo fará os dos temas debatidos por esse ajustes propostos pelo minisseleto grupo de especialistas. tro Joaquim Levy. Mesmo que CRESCIMENTO essas mudanças sejam impleMarcel Solimeo – A mentadas, é pouco provável perspectiva não é muito que o PIB reaja antes de 2016. animadora. O PIB deverá ter Esse cenário foi desenhado queda este ano e o desemna primeira edição do Ciclo de penho em 2016 vai depenDebates ACREFI, realizado em Celso Grisi: professor da FEA der do que se fizer em 2015. março, com a participação dos (Faculdade de Economia e Sem ajuste, haverá nova reeconomistas Marcel Solimeo, Administração) da USP tração no ano que vem. da Associação Comercial de São Paulo; Nicola Tingas, da ACREFI; e Celso Grisi, Nicola Tingas – Precisamos de ajustes, e quanprofessor da FEA (Faculdade de Economia e Admi- to mais rápido melhor. Se fizermos esses ajustes
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futuro Fotos: Gabriel Kosman
corretamente e no timing adequado é muito provável que a economia melhore. Deveremos fechar o primeiro semestre deste ano com PIB negativo e o desempenho na segunda metade de 2015 ainda é uma incógnita. Celso Grisi – É necessário, antes de mais nada, recuperar a confiança dos empresários. Só assim virão os investimentos e o País terá condições de voltar a crescer. Os ajustes são absolutamente necessários, como pressuposto para a retomada da economia.
INCERTEZAS Solimeo – O governo precisa emitir sinais de que
berto Campos, de que pequena inflação é como uma pequena gravidez. Ou seja, não existe. Tingas – Quando a moeda perde valor a renda é perdida e cria-se um drama para a sociedade. É importante criar formas de fugir da inflação e lembrar que o crescimento não é a única arma para combatê-la. É necessário ter um planejamento para o futuro, para escapar da armadilha de combater a inflação apenas com política monetária. Grisi – Por um tempo, prevaleceu a ideia errada de que “um pouco de inflação faz bem ao Brasil”. É um erro que não faz sentido. Entre outros problemas, essa ideia gerou a política monetária anticíclica e os perigos da volta da inflação elevada voltaram a surgir.
AJUSTES
fará sua parte nos ajustes, o que até agora não acon- Solimeo – Debelar a inflação é uma prioridade. teceu. É preciso anunciar que está vendendo ativos e Mas é preciso fazer mais. O Brasil é um país caro reduzindo o número de cargos de confiança. Soman- para o consumidor. Não concluímos o processo que do-se a isso o cenário político, temos até agora um teve como destaque a estabilidade da moeda. Foi uma conquista importante, quadro de incerteza. O empremas nada foi feito para ausário não tem ideia de como mentar a eficiência da ecoserá o futuro, assim como o nomia e melhorar o sistema consumidor que, retraído, reeducacional. Essas são iniduz o consumo. ciativas mais do que necesTingas – O Brasil vive um sárias. É preciso abrir a ecoaprofundamento da incertenomia, mas não como se fez za. A economia está rodando para importar bens de consuno curtíssimo prazo. Quanto mo. Abrir dessa forma, sem mais o governo puder dizer o importar o que impulsiona a que está fazendo efetivameneficiência, resulta apenas em te, melhor para a economia. sérios problemas no balanço Essa sinalização é vital para de pagamentos. que a incerteza se dissipe. Marcel Solimeo: Tingas – Conseguimos a Grisi – A incerteza predomieconomista da Associação estabilidade da moeda, mas na, principalmente, porque o Comercial de São Paulo falta ainda muita coisa. O País País continua desprovido de não adotou uma política fiscal correta, não está um planejamento de longo prazo. É preciso pensar o Brasil para 2030, 2040, 2050. Precisamos de re- conseguindo um superávit primário. E praticamenformas patrimonial, política, tributária, trabalhista, te nada foi feito para incentivar a produtividade. É necessário caminhar nessa direção. administrativa. Sem isso a incerteza se mantém. Grisi – A inflação é muito importante, mas tem caINFLAÇÃO Solimeo – Parece que predomina a percepção de ráter episódico. Necessitamos de um planejamento que a inflação não é um assunto muito importante. de longo prazo, que leve em conta as reais necessiTemos um centro de meta de inflação muito alto dades do País para as próximas décadas. Uma das (4,5% ao ano) e já estouramos o teto dessa meta. A prioridades deve ser um política industrial, assim leniência cria uma certa tolerância da sociedade com como deve-se ter planejamento para a educação e a inflação. Nessa hora vem à memória a frase de Ro- para o setor de tecnologia. abril/maio 2015 financeiro 27
pautadodia CRÉDITO E CONSUMO Solimeo – O governo ado-
Foto: Gabriel Kosman
Ciclo de Debates oportunidade e da situação global, principalmente nos tou por um período o cresEstados Unidos, na Europa cimento baseado no crédito. e na China. Para o investidor Mas no momento não é esse daqui, vai depender muito do o caminho. Agora, não adiantamanho da queda do PIB e de ta buscar estímulo ao conquando ela vai parar. sumo porque a confiança do Grisi – Temos ainda setores consumidor está baixa, ninque têm desempenho ao meguém compra. A estratégia nos satisfatório. Para o vareanterior provocou antecipajo, por exemplo, o primeiro Nicola Tingas: ção de consumo, mas agora trimestre não foi tão ruim. economista-chefe da ACREFI o cenário é outro. Ninguém O setor de saúde, principalvai comprar duas geladeiras, mente hospitais, continua dois fogões, etc. atraindo os fundos de private equity. O segmento Tingas – O modelo anterior foi até onde tinha que de cartões de crédito está prevendo crescimento de ir. O momento é outro. Supondo, por exemplo, que a 13% este ano e o setor imobiliário não tem retração China volte a crescer nos níveis de anos anteriores no segmento de luxo. E temos o agronegócio, com (o que é pouco provável), o Brasil teria mais divisas, preços de produtos importantes em recuperação e mas seria burrice repetir a fórmula anterior de usar bom desempenho no setor de carnes. esses recursos para aumentar o consumo. O País “SE EU FOSSE PRESIDENTE...” conseguiu fazer uma distribuição de renda, mas o A revista Financeiro perguntou aos três participrocesso tem que ser permanente. Devemos incenti- pantes do debate o que eles fariam se assumissem var o investimento de forma qualitativa. Não adianta a Presidência da República, contando com o apoio fazer política econômica “da mão para a boca”. Tem- do Congresso. As respostas: -se que olhar o longo prazo. Solimeo – Se tivesse a pouca sorte de assumir Grisi – Não pode ser o mesmo modelo. É preciso a Presidência daria prioridade às reformas estrupoupar mais e investir mais. O Brasil é forte em turais ‒ tributária, trabalhista e política. Buscaria commodities como soja e minério de ferro, mas é racionalizar o setor público, sem tanta sobreposipreciso verificar que lugar esses produtos devem ção de atividades. E também priorizaria um projeto ocupar nas cadeias internacionais de suprimento. amplo de infraestrutura. O parque industrial está sucateado, por erros da Tingas – Ter o apoio do Congresso é muito impolítica econômica e agora é necessário pensar em portante, mas é preciso também ter o apoio da poações como a importação de bens de capital para pulação. Faria uma sinalização para a construção ajudar na produtividade. A economia não está arti- de uma sociedade melhor e mais justa, levando em culada, não pensamos o País como um todo. conta não só o lado econômico, mas também o so-
O LADO BOM Solimeo – É preciso lembrar uma frase que, embora seja chavão, é verdadeira: o Brasil é maior que a crise. Quem já viveu tantas crises nos últimos 50 anos acredita que a atual crise será superada. O mercado interno é grande e dinâmico. Uma das incógnitas é o emprego. As sinalizações com base nos dados do CAGED e da PNAD são de que o desemprego tem tendência de aumentar. Mas não deveremos ter nível alto de desemprego. Tingas – O Brasil pode se manter atrativo para o investidor estrangeiro. Mas vai depender do custo/
28 financeiro abril/maio 2015
cial e o político. Buscaria construir um mínimo de consenso e colocar a juventude voltada para a inovação. Mais do que essa ou aquela medida, no entanto, sinalizaria a construção de um futuro melhor e coerente com as propostas de melhora do País. Grisi – Uma das prioridades seria, para mim, uma reforma educacional, que abrangesse desde o ensino básico até o universitário. Na saúde, seria “proibido” que um brasileiro morresse sem atendimento médico. E resgataria o planejamento econômico. O Brasil não tem como trilhar o caminho correto se não definir suas metas. f
artigo Ricardo Diniz
A hora é agora, o lugar é aqui
Artigo enviado em 15/4/2015
T
Equipes qualificadas em emos a percepção de que diversas áreas, principalmente a mudança da política em pesquisa, e a oferta de proeconômica, com ênfase dutos e serviços que facilitam no ajuste fiscal de longo prazo, transações internacionais são está levando investidores esalguns dos diferenciais que trangeiros em mercados emerapresentamos. Recentemengentes a voltar a enxergar o Brate, lançamos uma plataforma sil como um destino promissor Ricardo Diniz é vice-chairmam para câmbio, chamada Foreign para a aplicação de seus aportes. do Bank of America Merrill Exchange (FX), que é uma soluSomado a isso, o fato de o País Lynch do Brasil ção pioneira no Brasil capaz de possuir uma comunidade emoferecer baixos custos e redupresarial sofisticada, com alta capacidade de liderar em momentos controver- zir os riscos das partes envolvidas em operações sos, colabora para que a expectativa se mantenha para pagamentos de exportações, importações, royalties, dividendos e serviços, oferecendo câmpositiva em relação à recuperação da economia. Com presença global e conhecimento aprofun- bio comercial e financeiro. Trabalhamos também dado de mercados locais, o Bank of America Mer- com um dos sistemas de gestão de caixa mais rill Lynch leva sua experiência aos clientes com o sofisticados e transparentes do mercado, o que objetivo de ser o principal intermediador em nego- nos confere credibilidade e um relacionamento ciações entre empresas nacionais e internacionais, estreito com companhias locais e globais. Estamos atentos à percepção internacional sempre tendo como princípios o comprometimento com o País e o foco no cliente. Continuamos inves- em relação ao Brasil e mantemos a crença nas tindo no mercado brasileiro, sobretudo em iniciati- oportunidades que não param de surgir. Aproveivas que proporcionam sua integração com merca- tamos para convidar o leitor para juntos reafirdos de outras regiões do mundo, pois o Brasil e a marmos o potencial do País na retomada do cresAmérica Latina são praças importantes e estraté- cimento e do desenvolvimento de uma economia cada vez mais competitiva. f gicas para o desenvolvimento da nossa instituição.
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artigo Pessanha Rocha
A
representação sindical patronal é fundamental para a defesa de interesses do setor empresarial. Assim como as entidades laborais cumprem importante papel na defesa dos direitos dos trabalhadores, as confederações patronais exercem papel estratégico para a representação dos variados setores econômicos. No caso do setor financeiro, a Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) é legítima representante para a discussão de temas Pedro Henrique Pessanha que afetam tanto as empresas, quanto o ambienRocha: é gerente de te de negócios. A CONSIF possui registro sindical Relações Institucionais no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) desda Confederação de 2002, estando habilitada constitucionalmente Nacional das Instituições a representar os diversos segmentos do setor Financeiras (CNF) perante o Poder Executivo, o Congresso Nacional e os Tribunais Superiores. A entidade participa de importantes representações em diversos colegiados oficiais instituídos pelo Poder Executivo com a missão de discutir e fomentar políticas públicas trabalhistas, tributárias, financeiras, jurídicas e outras tantas. Além disso, a entidade também atua nos conselhos, grupos de trabalho, comitês, comissões e outros, no âmbito do Ministério da Fazenda, do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério das Cidades, do Ministério da Justiça, entre outras pastas, cooperando tecnicamente para o alcance dos interesses das instituições financeiras no plano nacional. Outra atividade relevante é a articulação com as demais confederações patronais e entidades da sociedade civil organizada, para atuação conjunta em temas de interesse comum que impactam todo o setor produtivo. Semanalmente, as confederações realizam reuniões para discutir e definir estratégias de atuação coordenada no Poder Legislativo e no Poder Executivo. Temas como terceirização, planos econômicos, capitalização de juros, estabilidade da relação empregatícia, correspondentes no País e tantos outros, são questões enfrentadas pela confederação, sempre sob a ótica de se garantir a higidez do sistema financeiro, bem como o desenvolvimento equilibrado e harmônico da economia nacional. Nesse sentido, em 2011, o Conselho de Representantes da CONSIF instituiu estrutura denominada “Desen-
30 financeiro abril/maio 2015
volvimento Associativo”. O objetivo é garantir que todo o sistema sindical do setor financeiro esteja em ordem e em bom funcionamento, para continuar defendendo essa categoria econômica. Outro papel importante é ampliar a sinergia, na esfera associativa, entre os diversos segmentos do setor financeiro, fortalecendo a interação com as entidades associadas. Realizado o diagnóstico, foi percebida a necessidade de se fortalecer institucionalmente as entidades sindicais que integram o sistema. O Brasil consagrou, na Constituição da República em 1988, o sistema sindical piramidal, no qual os sindicatos patronais estão na base. Ao se unirem cinco sindicatos da mesma categoria, constitui-se uma federação, seja nacional ou interestadual. Organizadas pelo menos três federações, o setor tem a prerrogativa de constituir uma confederação, respeitados os princípios da unicidade e da liberdade sindical. No caso da CONSIF, são quatro as federações: Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalização (Fenaseg), Federação Nacional das Empresas Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (Fenadistri), Federação Interestadual das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi) e Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Cada entidade articula questões afetas a seu setor no âmbito da confederação. Assim, é cada vez mais importante que no âmbito do desenvolvimento associativo as empresas participem sempre mais das atividades do sistema sindical do setor financeiro, apresentando suas demandas, seus problemas e suas necessidades. Aliás, indubitavelmente, a legitimidade da representação institucional da confederação se aperfeiçoa na participação das empresas que fazem parte do setor que representa. Atualmente, o nosso sistema sindical é composto por 24 sindicatos, que compõem quatro federações e, no topo da pirâmide, sustentam a confederação. A CONSIF articula atualmente a criação de três novos sindicatos, a regularização cadastral de cinco entidades e a filiação de mais um sindicato. Além de dar suporte técnico, auxilia na constituição e nos trâmites jurídicos. Para a CONSIF, é imprescindível essa proximidade com as federações, com os sindicatos e com as empresas, tanto quanto a maior participação das empresas para o fortalecimento institucional do sistema sindical patronal do setor financeiro. f
Artigo enviado em 31/3/2015
Sistema sindical do setor financeiro: estrutura, importância e necessidades
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artigo Aquiles Leonardo Diniz
Brasil S.A., ficção ou solução?
Artigo enviado em 11/3/2015
“
V
ocê pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único”, disse John Lennon na memorável canção Imagine. Mais que um sonho, a ideia do Brasil empresa, regido pelas leis da meritocracia, da eficiência, da livre concorrência e da busca constante por melhores resultados é totalmente viável. Essa é a discussão que pretendo levantar. Um país onde os seus acionistas, o povo brasileiro, que paga seus impostos, exija o devido retorno em volumosos dividendos, com a melhor educação, saúde e segurança pública do mundo. Os sentimentos que temos são de que no Brasil nada funciona de verdade, tudo está errado, em todas as instâncias, do municipal ao federal, nos níveis executivo, legislativo e judiciário. Nada escapa da total ineficiência das leis, da incompetência, do desgoverno em que nada funciona e impera a roubalheira generalizada. Nesse quadro nefasto, só vejo uma solução: focar no Brasil S.A., um país pensado para o futuro, em longo prazo e não como solução imediatista eleitoral a cada quatro anos. Teríamos, então, que começar do zero, rasgando a Constituição Federal e produzindo uma nova com poucos itens, semelhante à dos Estados Unidos. O Brasil gerador de riqueza cuidará com eficiência das áreas da saúde, educação, segurança pública e estabilidade da moeda. O restante será privatizado, com a iniciativa privada tomando conta, sem a interferência do Estado. O empresariado brasileiro é forte e competente, basta que se criem as condições e o ambiente adequados. Para funcionar, a meritocracia deve ser buscada a qualquer preço. O primeiro passo é reduzir toda a estrutura de poder a no máximo 10% do que existe atualmente. No campo político, tomamos, como exemplo, um Estado do porte de Minas Gerais, com 853 municípios. A ideia é que, em média, cada trinta municípios elejam ou indiquem um representante. Esses “trinta” representantes escolheriam um presidente. Está constituído o órgão municipal descentralizado que administraria cada conjunto de trinta municípios. Com a reforma, seriam eliminados milhares de cargos de vereadores, secretários, vice-
-prefeitos, desobstruindo e desonerando a máquina burocrática municipal. Cada um dos trinta órgãos municipais indicaria um representante, formando o órgão estadual de trinta representantes, que teria também um presidente. O mesmo modelo seria adotado em nível federal com a escolha por Estado, de três representantes, dois deputados e um senador, constituindo assim o Congresso Nacional. Toda a equipe de governo, nos três níveis, pode ser mudada a cada seis meses se não apresentar resultados satisfatórios. Esses governantes, exercendo cargo público, serão altamente remunerados, incluindo ganhos sobre o PIB crescente. Pagando bem a quem governa, orientados pelos princípios da meritocracia, com resultados e eficiência do trabalho, a corrupção será enfim extirpada de vez. Reduzindo drasticamente a interferência na administração pública com as privatizações, o Brasil dará o salto de excelência desejado e o nível necessário para competir com os demais 205 países da lista de Estados soberanos do mundo. Se pensarmos o país nos próximos cem anos, que país vencerá a batalha de criação de empregos, produção de bens e exportações que revertam no desejado bem-estar do seu povo? Será aquele país que implantou a meritocracia na sua administração, que conseguiu ser eficiente, e equilibrou economia com câmbio e inflação, com menor desgaste e menos perdas. Com o Estado mínimo e a máquina governaAquiles Leonardo Diniz: diretormental enxuta em todos os níveis, comexecutivo do Banco Intermedium e petitiva e eficiente, com a implantação vice-presidente da ACREFI de uma reforma política como nunca houve em lugar nenhum do mundo, o País sairá na frente em todos os sentidos. O ex-presidente norte-americano Ronald Reagan tem uma frase famosa: ”Quando uma pessoa ou uma empresa gasta mais do que ganha, ela vai à falência. Quando o governo gasta mais do que arrecada, ele te manda a conta”. Não custa nada sonhar com um BRASIL S.A. f abril/maio 2015 financeiro 33
conjuntura
O dispendioso preço do poder Rubens Ricupero recebe a Financeiro e descreve um quadro cristalino sobre o entrave do atual sistema político-econômico do País Por Gustavo Girotto
O
embaixador Rubens Ricupero é detentor de uma capacidade única de conhecimento dos percalços da economia e dos acontecimentos mais importantes da história do Brasil. Logo no começo da conversa, disparou: “não tenho problema de falar em ‘on’ ou em ‘off’, uma vez que já dei muitas entrevistas na carreira. Sei como funciona!”, argumentou. Em 1994, quando era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Ricupero ia regularmente à televisão esclarecer as dúvidas da população sobre a implantação do Plano Real. Em uma dessa aparições ao vivo, antes de entrar no ar, ele deixou escapar a seguinte frase ao jornalista Carlos Monforte, da TV Globo: “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”, sem saber que o áudio já estava sendo captado pela emissora. Mesmo com o vazamento daquele ‘off’, que o levou a perder o posto, seu prestígio internacional e respeito nunca tiveram um downgrade; pelo contrário, ganhou ainda mais proeminência. Em uma sala espartana na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), onde dá expediente, desde 2005, como diretor da Faculdade de Economia, apresentou à equipe da Financeiro uma visão cristalina sobre o entrave do atual sistema político-econômico do País: “Recordo-me que
34 financeiro abril/maio 2015
quando assumi o Ministério da Fazenda, a inflação do País estava em quase 55% ao mês. Foi um período difícil”, destacou Ricupero, relembrando que foi chamado até de sacerdote do Plano Real pelo presidente Itamar Franco”. Mas enfatizou uma diferença do período, comparando com o atual momento: a população nos apoiava em bloco, hoje em dia essa condição não existe. Vivemos hoje uma situação mais complicada”. Para ele, a intensidade e a duração do tempo da recessão vão depender muito do cenário político e econômico que se desenhará nos próximos meses. “Ninguém torce pelo insucesso da equipe econômica. O Joaquim Levy, da Fazenda, Nelson Barbosa, do Planejamento, e o Alexandre Tombini, do Banco Central, são pessoas sérias e estão fazendo um bom trabalho, um esforço até heroico, ninguém está empurrando os problemas com a barriga”, afirmou Ricupero. “Eles podem estar até cambaleando, mas não por culpa deles, e sim porque recebem uma rasteira daqui outra de lá. Se eles se mantiverem de pé e, aos poucos, arrumarem as coisas, acho que poderemos ter uma queda menor do PIB (Produto Interno Bruto)”, sustentou o embaixador. “O Brasil tem um certo dinamismo e todos desejamos que não haja recessão”, garantiu. Ricupero relatou que o Brasil preci-
Fotos: Mário Bock
sa criar condição para crescer de 3,5 a 4% ao ano, o que seria a única forma de conseguir avançar socialmente. “O País inteiro precisa estabelecer uma união sagrada em benefício do crescimento. É por isso que, para mim, não são importantes essas divergências entre PT, PMDB e PSDB. O fundamental é ter uma união nacional em favor da superação dos problemas da conjuntura econômica. Não há razão nenhuma que condene o Brasil ao crescimento baixo, acho mesmo que não vamos ter um crescimento equivalente ao da Índia ou da China. Até porque, o Brasil já ultrapassou essa fase de crescimento demográfico baixo, evoluir 3,5% ou 4% é a mesma coisa que crescer antigamente 8% ou 9% ao ano. Não acho retomada de crescimento, uma vez que o problema é basicamente
Rubens Ricupero: diretor da Faculdade de Economia da FAAP
político, até mais que econômico”, frisou. Ele exemplificou que uma solução política nos possibilitaria avançar mais rapidamente. Quando questionado sobre o cenário contrário, Ricupero é franco: “se não houver, pode acontecer aquilo que é o pior dos mundos, que o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, até mencionou – você faz o ajuste e pode não haver investimento, o que é terrível. É o caso da Grécia, ou da própria Itália, que agora está melhorando um pouco, mas é uma situação mais parecida com a nossa e, devido à divisão interna, à resistência nos trabalhos, eles não conseguem deslanchar”. Em contraponto, segundo ele, a grande vantagem dos países do norte da Europa é um consenso social que nasce da negociação. “Na Alemanha, na Holanda, na Escandinávia, eles reúnem governo, patrões e trabalhadores – e conseguem fazer uma negociação em que, às vezes, os trabalhadores até aceitam contenção salarial. Eles têm essa capacidade de um tipo de capitalismo por negociação, em que não há conflito. Embora para nós seja mais difícil, precisamos ter essa posição de bom senso”, exemplificou, lembrando que o Brasil não pode se satisfazer com crescimento baixo. Ricupero pontuou que não se pode pensar em uma solução da crise econômica sem a questão da resolução política. “O PT tem muita dificuldade de aceitar alternância de poder. Digamos que, teoricamente, eles aceitam, mas eles, como muito dos regimes com que têm afinidade, acham que precisam ficar no poder um tempo muito grande para poder consolidar mudanças estruturais. Aliás, o grupo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também tinha um pouco essa ideia, tanto que foi por isso que mudou a regra constitucional para permitir a reeleição abril/maio 2015 financeiro 35
conjuntura do poder executivo. No caso do PT, há uma convicção ideológica, uma vez que eles acreditam que para mudar as estruturas você precisa de mais tempo e acabaram ganhando as eleições. Não vou discutir como, uma vez que é complicado, mas ganharam e agora estão com essa herança terrível – que é ruim para o País”, analisou. Para ele, a atual plataforma do que é necessário fazer, como oposição, seria mais legítima. “A oposição teria ganhado com essa plataforma, teria mandato, o povo teria dado esse mandato. No caso da Presidente Dilma é o contrário, ela teve mandato para não fazer – agora ela está tentando persuadir as pessoas, dizendo que o mundo mudou, mas já tinha mudado no ano passado. Esse ponto é muito importante, por mais que você o queira subestimar. A grande parte da perda de credibilidade dela (Dilma) e do PT é que eles foram eleitos com uma plataforma,
“Não é de surpreender que muita gente esteja inconformada, porque quando se ganha a qualquer custo, fica mais difícil de reconciliar” e estão colocando em prática a plataforma da oposição”, avaliou. Sobre os movimentos sociais, nos últimos meses, que ocuparam as ruas do País na luta por direitos, Ricupero foi enfático. “A minha impressão é de que houve uma soma de vários elementos. Uma
parte considerável dessas pessoas são as que ficaram frustradas porque votaram em mudanças e elas não vieram. São pessoas que não se conformaram porque a campanha foi com recursos muito discutíveis, tanto de marketing como de falsear a verdade, destruir adversários com falsidades. É uma campanha que deixou uma ferida. Não é de surpreender que muita gente esteja inconformada, porque quando se ganha a qualquer custo, fica mais difícil de reconciliar”, pontuou Ricupero, finalizando que um dos “piores problemas, além da corrupção, é a volta da inflação e a destruição da Petrobras, que vai ter que se reconstruir e ressuscitar, porque hoje no mundo inteiro ela é desprezada pelos outros participantes do mercado de petróleo: olha-se como se fosse a PDVSA, ou até pior. Corrupção, a herança amarga da eleição e a inflação – que já está pesando – motivam as pessoas a irem para rua”. f
posse
Alencar Burti volta a presidir Associação Comercial de São Paulo Alencar Burti: novo presidente da Associação Comercial de São Paulo
“N
ão vou ler um discurso, apenas transmitirei as palavras do meu coração”, disse o empresário Alencar Burti, ao assumir as presidências da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), durante sessão solene na Assembleia Legislativa de São Paulo, arrancando aplausos da plateia, composta de autoridades e empresários. “Sinto-me em casa quando estou aqui, nessa posição”, declarou. A cerimônia foi conduzida pelo presidente da Alesp, deputado Fernando Capez, no plenário Juscelino Kubitschek. Burti recebeu os cargos do
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empresário Rogério Amato, que presidiu as entidades durante os biênios 2011/2013 e 2013/ 2015. Durante o evento também foi realizada sessão de posse dos eleitos para os órgãos diretivos das duas entidades. Burti, eleito para o biênio março 2015/março 2017, destacou a importância da entidade e do seu papel de liderança em momentos decisivos da sociedade. “Liderar é ouvir, entender, e ficar a serviço das pessoas que você lidera. É uma permanente troca de ideias, com determinação e entusiasmo. É assim que me colocarei à frente da entidade durante meu mandato”, ressaltou. f
artigo Dorival Dourado Jr.
O novo consumidor
Artigo enviado em 16/4/2015
O
e o crédito
consumidor não é mais o mesmo. Tampouco o cenário macroeconômico. Há muito aguardamos que o consumidor seja protagonista de sua vida financeira e se torne o que costumamos denominar de consumidor positivo, aquele que entende a relação entre o seu comportamento de consumo e as condições de crédito que lhe são oferecidas. E as mudanças recentes no cenário determinaram modificações importantes no comportamento dos consumidores. O consumidor de hoje já passou pela experiência da grande expansão do crédito ocorrida na última década, beneficiou-se e abusou das facilidades nas aprovações. E ainda aprendeu com as angústias da inadimplência. Em meio à última crise internacional de 2008/2009, assistimos ao incentivo do uso do crédito como instrumento propulsor do consumo das famílias. O objetivo era gerar efeitos multiplicadores a partir do aumento do consumo, principalmente de bens duráveis. Uma vez que a produção nacional se voltasse ao mercado interno, o País se protegeria dos impactos da crise. De início, tudo aconteceu como o planejado. O crédito impulsionou o consumo das famílias, que, por sua vez, alavancou o resultado da atividade econômica, manteve o mercado de trabalho aquecido e os avanços sociais oriundos da estabilidade monetária, durante um período em que o resto do mundo amargava as consequências da crise norte- americana. Mas nem tudo são flores. Os concedentes nunca haviam emprestado tanto e os consumidores não estavam tão acostumados com a utilização desse instrumento financeiro. A consequência imediata foi a escalada da taxa de inadimplência, que chegou ao pico em setembro de 2012. Ou seja, apesar das variáveis macroeconômicas se recuperarem da crise, a inadimplência começava a andar na contramão. Esse cenário, que ficou conhecido como a “ressaca do crédito”, foi importante para forjar um consumidor amadurecido, cauteloso e preocupado em evitar os mesmos erros. O aprendizado, na prática, foi intensificado pelas ferramentas de educação financeira disponíveis que proliferaram por diversos ambientes. Pelo lado das empresas concedentes de crédito, hou-
ve a adoção mais generalizada de soluções que atenuassem o aumento da inadimplência, como melhores técnicas de análise de crédito e migração da carteira de crédito para modalidades menos arriscadas. Nesse momento, os birôs de crédito ganharam importância pela inDorival Dourado Jr.: corporação de modelos de inadimplênpresidente da Boa cia com melhor capacidade preditiva. Vista SCPC A Boa Vista SCPC fez a sua parte nesse processo, lançando novas ofertas e soluções inovadoras, com destaque para a campanha de sustentabilidade do crédito “Acertando as suas Contas”. Com maior qualidade na oferta de crédito e maior cautela da demanda, a inadimplência cedeu significativamente e estabilizou-se em patamares mais baixos. Mas o ambiente econômico está mudando. A piora observada nas principais variáveis macroeconômicas abalou diretamente a confiança de empresários e consumidores. A atividade econômica entrou em tendência de desaceleração, a inflação rompeu o teto da meta, a política monetária retomou trajetória restritiva e o crédito desacelerou. No período mais recente, mesmo o mercado de trabalho e a inadimplência, que até então equilibravam esse abatido cenário, começaram a se deteriorar. Mas há luz no fim do túnel; o consumidor agora é outro, conforme demonstrado na pesquisa Hábitos de Consumo da Classe C, realizada pela Boa Vista SCPC em parceria com o programa Finanças Práticas da Visa. O baixo crescimento econômico, a perda de ganhos reais, o aumento do desemprego e o encarecimento do crédito encontraram famílias mais preparadas e experientes quanto à gestão de suas finanças, e capazes de repensar o consumo em prol do planejamento financeiro. O novo consumidor demanda menos crédito, consome de forma mais planejada, preocupa-se mais com o equilíbrio de seu orçamento doméstico e é bem mais criterioso em suas novas decisões financeiras. O simples acesso facilitado ao crédito não é mais suficiente para atraí-lo. Finalmente, o aparecimento do “consumidor positivo”, protagonista de sua história financeira, é cada vez mais uma realidade. f abril/maio 2015 financeiro 37
Tecnologia
Um “Lego” para gerenciar produtos financeiros Em evento organizado pela ACREFI, Georges Legrand, CEO da Cassiopae na América Latina, apresentou a empresa ao mercado e falou sobre os benefícios e a flexibilidade da ferramenta global desenvolvida pela multinacional que permite administrar diversos serviços a partir de uma única plataforma
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Fotos: Mário Bock
S
empre atenta às novidades que podem melhorar a performance dos processos no mercado financeiro, a ACREFI promove encontros periódicos para apresentar as inovações aos associados. No dia 26 de fevereiro, a reunião foi em torno da solução Cassiopae, empresa líder mundial de software de gestão de ativos financeiros. Antes de falar sobre os benefícios da ferramenta, que já está instalada em mais de 350 clientes em 36 países, Georges Legrand, CEO da Cassiopae na América Latina, fez questão de ressaltar os 28 anos de expertise da empresa em desenvolvimento de software para gestão de financiamento de ativos. “Atendemos às instituições financeiras tanto nas demandas de pessoas físicas como também nas exigências corporativas”, destacou Legrand. “A nossa ferramenta abrange o ciclo completo da negociação de crédito. Começamos na captura, passamos depois pela fase de cotação, avaliação de risco, assinatura do contrato e até chegar ao gerenciamento”, descreveu o CEO da Cassiopae na América Latina. Além da sua grande experiência internacional, a Cassiopae conhece bem o cenário brasileiro. Embora a empresa tenha chegado ao País há dois anos, sua história por aqui traz na bagagem 30 anos de vivência no mercado nacional. Isso porque antes de cravar sua bandeira dentro das nossas fronteiras, a Cassiopae comprou a Disoft Crédito, que já atendia 14 clientes no Brasil, a maior parte de bancos. Totalmente familiarizado com a realidade bra-
Georges Legrand: CEO da Cassiopae na América Latina
Rodrigo Botas: diretor de vendas da Cassiopae
sileira, Legrand revela que os bancos por aqui trabalham com até sete sistemas que controlam centenas de produtos financeiros. Além disso, existe grande complexidade dos requisitos legais, que são constantemente atualizados. E as regras são aplicadas de forma diferente de Estado para Estado, causando maior complexidade e lentidão nos processos administrativos e operacionais. “A solução da Cassiopae permite consolidar todas essas variáveis em uma única plataforma”, garante Legrand. “A nossa ferramenta é global, flexível e on-line, pode atender tanto um grande banco
como uma pequena empresa de crédito. Ela funciona como um “Lego”, o produto é montado de acordo com o perfil e as necessidades do cliente. Não há também a barreira da língua, podendo ser adaptada a dezenas de idiomas”, explicou o CEO da Cassiopae. Segundo Rodrigo Botas, diretor de vendas da Cassiopae, o software da empresa é multitudo, pois atende e identifica multicarteiras, multiativo, multimoedas, multitaxas, multipaíses, entre outras especificidades. “É possível gerenciar, a partir de uma única plataforma,
Problemas enfrentados no mercado brasileiro
empréstimos corporativos, financiamentos de máquinas e de equipamentos, créditos rotativos, gestão de frota e de patrimônio, entre demais segmentos de produtos financeiros. Tudo on-line, em qualquer parte do planeta”, ressalta Botas. “São benefícios que refletem diretamente no aumento da competitividade dos clientes, pois racionalizam processos, otimizam negócios, reduzem os riscos operacionais e favorecem o gerenciamento das regras de compliance”, ponderou o diretor de vendas da Cassiopae. f
Solução unificada para todos os produtos financeiros
Legislação com regras diferenciadas por Estado Maior complexidade dos processos administrativos Maior número de produdos financeiros Maior complexidade dos requisitos legais Mudanças constantes da legislação
Problemas comuns enfrentados por nossos clientes (mundo) Corrida atrás da compliance Sistema heterogêneo e complexo Custos elevados Riscos operacionais Dificuldade para otimizar os processos de negócios Falta de competitividade
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Foto: Rogério Montenegro
inteligência
James Conrad: diretor e principal executivo da TNS no Brasil
Insights para construção de estratégias James Conrad, principal executivo da TNS no Brasil, uma das líderes mundiais na área de pesquisa, diz que a principal missão da empresa é ajudar os clientes a crescer e desbravar novos mercados
A
unidade brasileira da TNS, uma das líderes mundiais na área de pesquisa, encara 2015 como um ano especialmente importante. É que a empresa começa a colher este ano, desde janeiro, os resultados da reestruturação implantada no ano passado, com a divisão por áreas de expertise e o lançamento de novas ferramentas e soluções para atender ao mercado brasileiro. Até agora, a companhia tem tido boas notícias com
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relação a essa iniciativa. “Nossos diferenciais estão sendo cada vez mais compreendidos e aceitos pelos clientes de vários segmentos, como o financeiro”, afirma James Conrad, diretor e principal executivo da TNS no Brasil. Conrad explica que a empresa trabalha principalmente para ajudar seus clientes a crescer e desbravar mercados, utilizando pesquisas como uma de suas ferramentas. Para isso, oferece inteligência, que se origina de seus especialistas, responsáveis por extrair informações estratégicas dessas pesquisas que servem como “guia” para a caminhada rumo ao crescimento.
especialistas para que se faça a ‘leitura’ adequada do cenário”, afirma o diretor da TNS. “Temos uma equipe de especialistas que conhece bem a área financeira, no Brasil e no exterior, e assim podemos oferecer soluções adequadas e inovadoras para a montagem de estratégias dessas companhias”. Na visão de Conrad, a TNS é uma das pioneiras na adoção dessa postura, que deverá ganhar força no futuro também em outras empresas de pesquisa. Ele afirma que o ambiente de negócios está cada vez mais sofisticado e competitivo, o que cria demanda crescentemente exigente por parte dos clientes dessas companhias.
“Temos uma equipe de especialistas que conhece bem a área financeira, no Brasil e no exterior, e assim podemos oferecer soluções adequadas e inovadoras para a montagem de estratégias dessas companhias”. Para dar força a essa estratégia, a TNS optou por fazer uma reestruturação por área de expertise e adotou soluções globais, um diferencial importante, tendo em vista as necessidades dos clientes. Na avaliação da TNS, essa atuação voltada para fornecer insights na construção de estratégias traz excelentes resultados e coloca por terra a máxima de que pesquisa é apenas uma commodity. “Contar com essa inteligência e com o trabalho de uma equipe integrada de especialistas é fundamental para os clientes e vai muito além de um trabalho tradicional de pesquisa”, garante o executivo. Ele prevê que esse tipo de aproximação com os clientes seja o futuro do mercado de pesquisa, que também deve utilizar cada vez mais as mídias sociais para aumentar a proximidade com o mercado. A estratégia da TNS, que abrange todos os segmentos da economia, tem grande valia para o setor financeiro, assegura Conrad. Para ele, mais e mais as instituições financeiras precisam estar perto de seus clientes e compreendê-los – uma necessidade que abrange bancos de varejo, financeiras, bancos de investimento e todos os demais segmentos do setor. “Para conseguir esse objetivo, que é fundamental para os negócios do setor, é necessário interagir com as pessoas, saber o que elas pensam e ter o apoio de
O constante diálogo entre a unidade brasileira e as outras subsidiárias da TNS no mundo é apontado por ele como diferencial de mercado, já que integração é a palavra de ordem em todas as unidades da companhia, e a empresa conta com capilaridade. A TNS está presente em mais de 80 países e é parte do Grupo Kantar, um dos maiores do setor no mundo e que faz parte do WPP, líder mundial em publicidade e serviços de marketing. James Conrad constata que o mercado brasileiro mostra crescente aceitação desse tipo de trabalho, realizado pelas maiores empresas de pesquisa. Por isso, está otimista em relação ao crescimento da TNS no País, mesmo com as previsões de que as dificuldades e ajustes vão prevalecer na economia do Brasil em 2015. O otimismo dele baseia-se também em experiências anteriores que teve ao trabalhar em países, como Argentina e Colômbia, conhecidos pelas difíceis travessias econômicas que foram obrigados a fazer. O caso colombiano é, na avaliação de James Conrad, um exemplo de que um país pode vencer obstáculos que, a princípio, parecem intransponíveis: “O Brasil vencerá suas dificuldades, com certeza. O País tem uma economia grande e diversificada, acostumada a conviver com desafios. Estamos otimistas”, garante. f abril/maio 2015 financeiro 41
digital
Segurança acima de tudo As instituições financeiras utilizam, cada vez mais, ferramentas que garantem o fluxo adequado das informações encaminhadas ao conselho de administração
A
governança corporativa ganha cada vez mais espaço nas instituições financeiras e o Brasil, nesse quesito, é destaque no cenário global. Por ser diretamente ligada ao risco, até pelo volume e pela velocidade de transações com que trabalha, o setor financeiro tem privilegiado a governança e nessa estratégia dedica especial atenção aos conselhos de administração. Esses conselhos desempenham papel fundamental no processo de gestão de empresas, já que defendem os interesses dos acionistas, definindo estratégias de longo prazo. São, assim, de grande relevância para a governança corporativa, mas enfrentam problemas para desenvolver seu trabalho. Pesquisa global da Consultoria McKinsey, com 1.597 conselheiros, mostrou que eles são muito menos preparados do que deveriam. De olho nessa constatação, cresceu o debate nas instituições financeiras para melhorar o desempenho dos conselhos de administração e chamou atenção a necessidade de ter agilidade e segurança das informações que circulam entre seus membros. “O setor financeiro é particularmente sensível à segurança das informações estratégicas, como as que fazem parte do trabalho dos conselhos de administração”, constata André Bodowski, diretor geral no Brasil da Diligent, que desenvolveu um portal voltado especificamente para esses conselhos. Nesse contexto, uma das maiores preocupações das empresas em geral, e do
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André Bodowski: diretor geral da Diligent Boardbooks na América Latina setor financeiro em particular, é a segurança com que os dados discutidos pelos conselhos são tratados. Os riscos relacionados à segurança cibernética, por exemplo, estão no topo da preocupação dos membros desses grupos. O fluxo das informações também preocupa. “Precisamos estar bem informados para tomar decisões”, lembra o presidente do conselho de administração da Localiza, Salim Mattar. Para atender a essa necessidade, as instituições financeiras trabalham para, cada vez mais, utilizar ferramentas que garantam o fluxo adequado das informações encaminhadas ao conselho. E nesse trabalho têm reduzido o uso de papel para a transmissão desses dados. “É preciso privilegiar a segurança”, diz André Bodowski. “O setor financeiro, pela complexidade,
pela velocidade e pelo volume de transações com que trabalha é um dos mais regulamentados no Brasil e no mundo. Além disso, a cultura da governança corporativa é forte no País, particularmente nas instituições financeiras. Diante desse quadro, ter segurança em relação aos dados dos conselhos de administração é fundamental”. O uso da tecnologia ajuda, mas também preocupa as empresas brasileiras. Recente levantamento mostrou que três em cada quatro companhias brasileiras se sentem vulneráveis a ataques cibernéticos, que têm entre seus alvos informações estratégicas importantes para os conselhos de administração. No entanto, segundo André Bodowski, o vazamento das informações acontece, na maioria dos casos, por responsabilidade das pessoas (por acidente ou por leviandade) e por falta de sistemas adequados. Assim, longe de ser um entrave, a tecnologia pode ser uma solução para melhorar o trabalho dos conselhos de administração. Com as ferramentas adequadas, é possível decidir como e quando é possível ter acesso a informações importantes para as reuniões desses grupos. “É por isso que essas ferramentas ganharam rapidamente espaço no mundo das finanças. Todos os maiores bancos de varejo e de investimento do planeta e os mais importantes fundos de private equity estão optando por essas inovações”, garante André Bodowski. “O mais importante, nesse processo, é contar com opções de comprovada segurança e de fácil utilização”. f
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Financiamentos de veículos somam 1,4 milhão de unidades no primeiro trimestre
No ano, as vendas financiadas de automóveis leves novos acumulam queda de 16,8%
O
volume de financiamentos de veículos no Brasil, no primeiro trimestre, somou 1.394.053 unidades, queda de 8,6% em relação ao mesmo período de 2014. Em março, os financiamentos de veículos aumentaram 7,7%, na comparação anual, e somaram 497.622 unidades, sendo 228.358 unidades novas e 269.264 usadas. Os números levam em consideração os automóveis de passeio, comerciais leves, motos e pesados. O levantamento é da Unidade de Financiamen-
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tos da Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), base integrada de informações que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil. O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja suscetível a fraudes sistêmicas. “Por dia útil, os financiamentos de automóveis leves novos somaram 6.142 unidades em março, alta de 4,9% em relação a fevereiro. Porém, no
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
painelcetip
acumulado do ano, o volume totalizou 387.138 unidades, queda de 16,8%. As principais razões para essa desaceleração são o desaquecimento da economia e o baixo índice de confiança do consumidor, que atingiu em março o menor nível histórico”, afirma Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da Unidade de Financiamentos da Cetip. Em março, os financiamentos de veículos, entre autos leves, motos e pesados, atingiram 22.619 unidades por dia útil, alta de 2% em relação a fevereiro. Já na comparação anual, o volume caiu 7% por dia útil. No primeiro trimestre, os financiamentos de automóveis leves usados somaram 708.277 unidades, acumulando queda de 1,1% em relação ao mesmo período de 2014. f
A partir de outubro de 2013, a Cetip adotou nova metodologia para calcular os recursos liberados para financiamentos de veículos. São consideradas apenas inclusões de gravames de automóveis leves, com financiamento de até R$ 200 mil, e cujos prazos não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante limite é de R$ 50 mil, com prazo de 90 meses. A metodologia também limita em R$ 500 mil e prazo de até 150 meses as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as práticas do mercado.
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supermáquinas
Uma Harley
sua para chamar de
Por Rafael Gratieri
Reconhecida pelo ronco clássico dos seus motores, a emblemática marca de motos investe em clientes de perfil mais urbano e lança no Brasil a Street 750, um modelo mais amigável ao trânsito dos grandes centros
O
s tempos modernos e o novo panorama econômico mundial tornaram os países emergentes em alvos obrigatórios das grandes marcas. No universo das motos não foi diferente. Prova disso é a Harley-Davidson, que pretende lançar no Brasil até o fim do ano o modelo Street 750, concebido para circular no trânsito dos grandes centros, sem perder seu arrojo e esportividade. Seu custo será de US$ 7.499, cobrados nos Estados Unidos. Em declaração recente, Mark-Hans Richer, vice-presidente de marketing da Harley-Davidson, afirmou: “Será uma linha com preço competitivo, mas vamos manter a qualidade premium”. A 750 é mais amigável para o trânsito do que as outras da marca – em geral mais robustas –, característica que pode pesar na decisão de quem mora em cidades como São Paulo e não quer abrir mão de um produto requintado. Seu motor V2 750, refrigerado a água, rende 6,01 kgfm de torque. O acabamento é impecável e recebe tons de preto, os quais dão harmonia e remetem à tradição, esta selada com o logotipo da fabricante colada no tanque. A Harley-Davidson promete esquentar o mercado de motocicletas no Brasil com as outras novidades que está trazendo para comercializar ainda este ano no País. Conheça as recentes atrações em duas rodas.
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Sportster Iron 883
Fotos: Divulgação
Clean, minimalista e retrô. Com visual predominantemente preto, os para-lamas recortados e o garfo dianteiro ajudam a dar o ar desafiador e agressivo dessa moto old-school. O que confirma essa característica é o guidão, cuidadosamente pensado para se apresentar sem excessos. Com 6,7 kgfm de torque, o motor é um Revolution. O preço do modelo é de R$ 34.900.
DYNA Low Rider Você não precisa olhar duas vezes para identificar essa moto como uma autêntica Harley-Davidson. O motor Twin Cam 96 tem um tratamento preto e cromado e é o coração dessa Low Rider de acabamentos primorosos e rodas de aço cromado. Começando com o preço de R$ 46.600, tem como cor padrão a Vivid Black, mas pode variar de cor e preço nas opções Brilliant Silver e Amber Whisky. Tudo isso coroado com o motor Twin Cam 96 e torque de 12 kgfm.
Softail Breakout O estilo é clássico. Mas o acabamento em flocos de metal, rodas grandes e com potência moderna, pintura premium brilhante e cromada, colocadas sob um design inspirado em motos dos anos 50 mostram que a nova Breakout não é apenas um veículo – é uma declaração de independência. O modelo sai por R$ 58.700 iniciais e tem motor V2 com torque de 11,8 kgfm. O que também rouba a cena é o clássico e apaixonante emblema em 3D no tanque, inserido em meio a coloridos impactantes à escolha do freguês, como o QuickSilver Flake, Superior Blue, Mysterious Red Sunglo, Charcoal Pearl e o Vivid Black.
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supermáquinas V-Rod Muscle
Touring Street Glide Special Absolutamente tudo chama a atenção nessa moto. A começar pelo desenho. A carenagem recebe o apelido de “asa de morcego”, devido ao formato. As “saddlebags” (como são chamados os compartimentos laterais) são práticas, espaçosas por dentro e possuem trava integrada ao fecho, para não estragar a pintura premium. Também marca presença o painel touch screen que combina funcionalidade e design elegante. O motor, um Twin Cam 13, rende 14,4 kgfm de torque. Seu preço inicial é de R$ 76.000.
Touring Ultra Limited Compartilha algumas semelhanças com a Touring Street Glide, mas o modelo – o mais caro anunciado pela Harley-Davidson para o Brasil em 2015 –, tem seus diferenciais. Mais robusta, a moto comporta combustível de seis galões e é revestida por uma aparência elegante. Além das “saddlebags”, a parte traseira conta com uma estrutura de armazenamento batizada de tour-pak, com capacidade para até dois capacetes fechados. Atenção, passageiro! Você não vai querer sair da garupa. Com acabamento aperfeiçoado, o assento de trás é delicadamente feito de couro e possui contornos e texturas que vão proporcionar um conforto indescritível. O motor é um Twin Can 103 com 14,3 kgfm de torque. O preço? Algo próximo de R$ 87.000, podendo chegar a R$ 89.000, caso sejam escolhidos dois tons de cor.
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Fotos: Divulgação
Se o modelo pudesse ser resumido em uma palavra, esta certamente seria ‘imponência’. Leve, mas com motor extremamente potente, a moto tem um pneu traseiro com largos 240 mm de comprimento. Os garfos invertidos completam o visual moderno e fazem jus à designação “muscle”. O painel triplo contribui para o visual diferenciado e transmite a preocupação da marca com todos os detalhes. O motor Revolution é um V2 refrigerado a líquido, que garante 11,9 kgfm de torque. O preço inicial é de R$ 59.000.
cultura
Uma usina
de conhecimento Por Gilberto de Almeida
Criada há quase 11 anos, a Fundação iFHC produz regularmente 35 grandes eventos anuais, que discutem temas que transcendem as fronteiras nacionais, além organizar exposições e preservar e digitalizar um acervo que supera os 100 mil documentos
Foto: Mário Bock
O Sergio Fausto: superintendente-executivo da Fundação iFHC
bom professor é aquele que não esquece o seu compromisso com a formação das futuras gerações. Mesmo limitado por seus afazeres nacionais e internacionais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não abre mão dos seus encontros informais com os estudantes. Esse hábito, aliás, FHC mantém desde antes ainda de ingressar firme na vida pública, quando era pesquisador do CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), nos anos 1970, e abria sua agenda, sem dificuldade, para ouvir e interagir com os jovens. Hoje, esses bate-papos, cerca de dez por ano, fazem parte da extensa e rica programação da Fundação iFHC. “Não existe nenhum tema preestabelecido, eles trocam ideias sobre tudo: os benefícios gerados pelo Plano Real, o Bolsa Família, a maioridade penal, a legalização da maconha, assim por diante”, explica o cientista político Sergio Fausto, superintendente-executivo da Fundação iFHC. “No início, a conversa começa formal, os estudantes chamam o presidente de senhor, mas da terceira pergunta em diante, eles esquecem o protocolo e passam a tratá-lo por você, o que é muito bom”, conta Fausto.
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Embora o ex-presidente tenha brincado, em seu rápido contato com a equipe da Revista Financeiro, que, aos 83 anos, não tenha mais condições de trabalhar e todas as iniciativas da fundação são realizadas por sua equipe de colaboradores, esse simples diálogo com os estudantes é apenas amostra do conhecimento do qual ele está à frente, gerado pela usina de cultura da Fundação iFHC. Criado onde antes estava a elegante sede do Automóvel Club de São Paulo, no tradicional Edifício CBI-Esplanada, esquina da Praça Ramos de Azevedo com a Rua Formosa, no Vale do Anhangabaú, o espaço da fundação, concebido pelo escritório Piratininga Arquitetos, também é uma forma de contribuir com a recuperação e a revitalização do centro da capital. Seu mobiliário inglês, que decorava os salões do antigo clube, foi restaurado e adaptado às novas funções.
FHC despacha com sua assistente na ala privativa da fundação Essa atmosfera, aparentemente formal, não inibe em nada o clima franco, transparente e gentil que permeia os 35 grandes encontros anuais organizados pelo iFHC, além de diversos seminários, mesas-redondas e palestras. Os temas variam desde a análise dos recentes movimentos sociais, passando pela reforma do sistema eleitoral, a crise
Foto: Carol Carquejeiro/iFHC
FHC recebe alunos do colégio Monteiro Lobato debatidos nos eventos – diz que três importantes assuntos chamarão atenção especial, ainda este ano, na programação do iFHC: a economia do mar, a curva ascendente da mulher na sociedade, o papel e a influência dos Estados Unidos e da Alema-
Foto: Carol Carquejeiro/iFHC
Foto: Mário Bock
hídrica, os atentados de Paris, a segurança pública, o relacionamento do Brasil com os países vizinhos, até os desafios internos e externos da China. “A nossa intenção é que as discussões aqui transcendam as fronteiras nacionais. Procuramos reunir
Debate “Dilemas da Economia”: Edmar Bacha, André Lara Rezende, FHC e Gustavo Franco pessoas, representantes da sociedade, líderes de associações e formadores de opinião dispostos a falar e ouvir o mundo”, pondera Sergio Fausto. George Legmann – responsável pela agenda de palestras do ex-presidente, pelos projetos incentivados da Lei Rouanet, pela edição dos livros e pela formatação de alguns temas que serão
Bill Clinton: ex-presidente dos EUA, em visita ao iFHC, 2004
nha, após a Segunda Guerra Mundial, no cenário internacional, analisando a presença do Brasil nesse contexto. “Sempre procuramos montar os debates a partir de um olhar diferente, que fuja do convencional”, comenta Legmann, colaborador de FHC desde os tempos de CEBRAP. Em meio à intensa agenda da fundação, que abril/maio 2015 financeiro 51
Fotos: Arquivo iFHC
cultura
Foto: Mário Bock
Exposição Plano Real: mais de 6.000 jovens por ano conhecem a história da estabilização da moeda no Brasil
George Legmann: responsável pelos projetos incentivados da Fundação iFHC
quase sempre atrai personalidades internacionais, os estudantes, alguns degraus abaixo, agitam diariamente o 5º andar do CBI-Esplanada, espaço adquirido pelo iFHC em 2007, para abrigar desde 2010 a exposição “Um Plano Real: A história da estabilização do Brasil”, projeto de Marcello Dantas, o mesmo que idealizou o Museu da Língua Portuguesa. Por ano, mais de 6.000 jovens de escolas de ensino médio e de universidades interagem com jogos, projeções, assistem depoimentos e observam arquivos que revelam de maneira lúdica como aconteceu o processo de controle da inflação e da estabilização da moeda – desde o movimento das Diretas Já, o período da redemocratização do País, até a implantação do Plano Real. Mas não é incomum que Clarissa Reche e Ricardo Melo, monitores da mostra, recebam no espaço autoridades e até mesmo ex-ministros da Fazenda, como já aconteceu com Maílson da Nóbrega e Rubens Ricupero. No 6º andar, onde está a recepção da fundação, o visitante, antes de ser recebido em reunião, pode
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conhecer duas interessantes exposições internas. Uma delas de dedicatórias feitas em livros que o ex-presidente ganhou ao longo da vida. São mensagens deixadas por Bill Clinton, Nelson Mandela, Tony Blair, Mário Soares, Gabriel García Márquez, Nélida Piñon, Boris Fausto, sua esposa, D. Ruth Cardoso (falecida em 2008), entre outros nomes ilustres. No salão ao lado, antigo espaço do restaurante do Automóvel Club de São Paulo, está montada a mostra FHCharges, que reúne charges políticas publicadas em jornais e revistas, entre 1993 a 2002, algumas são obras originais dos humoristas. Se ainda tiver tempo, é possível conhecer também peças selecionadas, entre as lembranças recebidas de autoridades internacionais, durante seus dois mandatos de Presidente. Mas, isso é apenas um fragmento do acervo do iFHC, que abriga mais de 100 mil documentos, dos quais cerca de 60% estão digitalizados, entre livros, fotos, negativos, vídeos, fitas cassete, objetos, etc., mantidos em dois subsolos climatizados do edifício CBI. Tudo coordenado e administrado
Mostras internas: ao lado, lembranças que FHC ganhou de chefes de Estado durante a Presidência da República e, abaixo, a coleção de dedicatórias de amigos ilustres
Foto: Nelson Kon/Piratininga Arq.
Fotos: Mário Bock
a fundação preserva também a documentação deixada por Joaquim Ignácio Batista Cardoso (1860-1924) e a Leônidas Cardoso (1889-1965), respectivamente, avô e pai do ex-presidente, e os arquivos doados pelas famílias dos ex-ministros Sergio Motta (1940-1998) e Paulo Renato Souza (1945-2011). “Para quem se interessa pela história do País, o acervo da fundação oferece um material riquíssimo para pesquisadores e estudantes”, avalia Sergio Fausto. Quem vê tantas atividades certamente deve se perguntar: de onde vem o dinheiro que mantém essa usina de conhecimento? É simples, não tem mistério. As verbas da Fundação iFHC saem de algumas fontes, como doações de pessoas físicas, apoio financeiro da iniciativa privada, eventos e atividades patrocinados e de projetos que recebem incentivos da Lei Rouanet. No final, as contas são auditadas pela PricewaterhouseCoopers. Gostou? Se quiser, entre no site da fundação (www.ifhc.org.br) e mergulhe ainda fundo nesse universo de sabedoria. . f
Gabinete de FHC: visão do cartão postal do Vale do Anhangabaú pela curadora e socióloga Danielle Ardaillon, pessoa de extrema confiança do ex-presidente desde o tempo em que ele era professor da Universidade de São Paulo. Além manter os itens de FHC e de D. Ruth,
Fundação iFHC Rua Formosa, 367, 6º andar, São Paulo-SP Tel.: (11) 3359.5000 www.ifhc.org.br
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artesplásticas
Olhar contemporâneo Fotos: Divulgação
Em um espaço moderno e charmoso, no corredor da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, em São Paulo, a Galeria Rabieh reúne artistas capazes de surpreender o público e de instigar reflexões sociais e políticas
A
Alameda Gabriel Monteiro da Silva é uma das principais referências em São Paulo, em design e decoração de interiores. É exatamente nessa via tão charmosa que, há cinco anos, Lourdina Jean Rabieh, uma libanesa que chegou ao Brasil aos 14 anos e depois se naturalizou, abriu sua galeria de arte na cidade. Embora trabalhe no mercado das artes há 30 anos, com passagem pelas casas de leilões Renato Magalhães Gouvêa, sua principal escola, e a respeitada Christie’s de Londres, Lourdina cultivava o sonho de abrir um espaço dedicado exclusivamente à arte contemporânea. “Minha intenção sempre foi descobrir novos talentos, apresentá-los ao mercado, difundi-los e mesclá-los com nomes já consagrados, em exposições e grandes feiras nacionais e internacionais”, explica Lourdina. Agora na sua Galeria Rabieh, a marchand conseguiu colocar de pé esse velho sonho. O projeto ficou ainda mais completo no fim do ano passado, quando concluiu a obra de duplicação do espaço idealizada pela arquiteta Simone Mantovani, que passou a ter 600 m² de área para exposição, um jardim e deck em sua cobertura e estrutura para eventos, facilitando a integração entre os artistas, os curadores, os arquitetos e os colecionadores.
Mesmo com um espaço de trabalho mais atraente e confortável, Lourdina não pretende ampliar seu elenco de artistas que, atualmente, conta com nomes como de Eduardo Srur, Denise Milan, Sonia Guggisberg, Nina Chanel Abney, Cris Bierrenbach, Gil Vicente, Helen Faganello, Katja Loher, Lídia Lisboa, Marga Puntel, Ronaldo Grossman e Rosângela Dorazio. “É preciso selecionar, trabalhar com artistas que tenham algo a dizer, que sejam capazes de surpreender o público e que instiguem reflexões sociais e políticas”, resume Lourdina. “Essa é a essência do nosso trabalho”. f
Lourdina Jean Rabieh: proprietária da Galeria Rabieh
Galeria Rabieh Al. Gabriel Monteiro da Silva, 147, São Paulo – SP Tel.: (11) 3062.7173 www.galeriarabieh.com.br abril/maio 2015 financeiro 55
bancodedados
Informe
Celso Grisi: diretor-presidente da Fractal – Forma, Acaso e Dimensão
Fractal F
oi muito honroso receber o convite da ACREFI para ocupar o espaço deixado pela INEPAD, após tantos anos de profícua colaboração com essa revista. Não se trata de missão tão fácil, sobretudo quando somos privados das informações produzidas pela inteligência e o talento do nosso colega de universidade, o Prof. Dr. Alberto Borges Mathias. Trata-se, portanto, de desafio e responsabilidade incomensuráveis a que nos expomos ao sucedê-lo nessa tarefa. Nesse sentido, a Fractal preparou um novo formato para esse espaço editorial, dividido em três seções, que correspondem às vocações naturais de uma empresa voltada à construção e análises de grandes bases de dados relacionadas ao sistema financeiro, sobretudo àquelas nascidas das pesquisas com consumidores e usuários desse sistema. Teremos, então, três seções: (1) Leading indicators, tratando de assuntos relacionados à análise e à produção de indicadores sociais, demográficos, econômicos e financeiros, com recortes geográficos e setoriais; (2) Painel da indústria financeira, registrando mudanças e evoluções de comportamento de consumo e de uso de produtos e serviços financeiros, a partir das pesquisas conhecidas como PIFs e que cobrem todos os segmentos de pessoas físi-
cas e jurídicas. Será possível, aqui, acompanhar os movimentos relativos à desintermediações financeiras, introdução e desempenhos de produtos, acompanhar a evolução dos empréstimos e as participações de financeiras, cooperativas de crédito, factorings, bancos, etc.; (3) Fractal ABC – Analytics Business Consulting, apresentando um rico conjunto de análises multivariadas, aplicado aos resultados da pesquisa, com foco nos relacionamentos mantidos entre respondentes e suas instituições financeiras, bem como nos produtos dirigidos a esses segmentos de mercado. Entre os assuntos mais relevantes, estaremos apresentando casos de uso de analytics em mercados de crédito. Temos a intenção, sempre, de favorecer o entendimento e o uso das informações pelos textos, ora maiores, ora menores, que acompanharão tabelas, gráficos e figuras. Disponibilizamos nosso site (www.fractalconsult.com.br) para quaisquer esclarecimentos adicionais que o leitor deseje. Pedimos apenas que se cadastre nele, se houver interesse em também receber nossas newsletters. Agradecemos à ACREFI, na figura de seu presidente, o Dr. Érico Sodré Quirino Ferreira, pelo convite feito e esperamos cumprir a missão que nos foi por ele confiada.
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bancodedados LEADING INDICATORS
Análise: Celso Miori
Agronegócio Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (IBGE), as duas principais culturas do agronegócio brasileiro — milho e soja — apresentaram na safra 2013/2014 (dado mais recente disponível) valores próximos em termos de quantidade produzida (aproximadamente 80 milhões de toneladas). O último balanço de oferta e demanda mundial da safra de milho 2013/2014, publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, apontou que a produção mundial foi de 966,6 milhões de toneladas de milho. Nesse período, a produção norte-americana respondeu por 353,7 milhões de toneladas. O consumo mundial foi estimado em 943,3 milhões de toneladas e as exportações em 114,4 milhões de toneladas, resultando num estoque de 151 milhões de toneladas, 17,4% superior ao do ano safra 2012/13. Quanto à soja, o balanço de oferta e demanda 2013/2014 registrou a produção mundial de 287,7 milhões de toneladas, das quais 89,5 nos Estados Unidos, 90 milhões de toneladas no Brasil e 54 milhões de toneladas na Argentina. O consumo doméstico mundial está estimado em 269,3 milhões de toneladas e a exportação em 109,3 milhões de toneladas. O estoque final, nesse caso, aumentou
de 58,7 em 2012/13 para 73,0 milhões de toneladas em 2013/14. Contudo, o valor da produção da soja foi, naquele ano, cerca de 2,6 vezes maior (R$ 69 bilhões ante R$ 27 bilhões). Além disso, a evolução desse valor da produção, no período 2007-2013, foi bem mais favorável para a soja, decorrente do aumento, em moeda corrente, que 89% para a soja e apenas 11% para o milho. Para 2015, as estimativas falam de uma redução de área cultivada nos Estados Unidos em relação à safra anterior de 3,6%, embora mantendo o resultado da produção levemente superior (355,2 milhões de toneladas) ao volume colhido em 2013/14. Os números divulgados reforçam a expectativa de baixa nas cotações internacionais do cereal no ano de 2014. Para a safra de soja norte-americana 2014/15, estima-se aumento de 3,9% na área plantada, equivalente à produção de 96,6 milhões de toneladas. Por essas razões a média da cotação internacional do grão em 2014 ficará menor do que a média de 2013. Essa produção pressionará os preços da soja durante todo o ano.
Gráfico 1
58 financeiro abril/maio 2015
Gráfico 2
Economia mundial: indicadores em destaque O gráfico 3 apresenta a evolução (desde 2011) do Bloomberg Commodity Index que sintetiza a evolução dos preços das commodities agrícolas e minerais, das quais a balança comercial brasileira é fortemente dependente. Os sinais de declínio são evidentes. Entre outras, a principal razão para explicar essa tendência é a
Gráfico 3
desaceleração do crescimento da economia chinesa e a própria mudança de seu modelo de desenvolvimento, que deixa de ser impulsionado pelos grandes investimentos, especialmente em infraestrutura, e procura recuperar o consumo do mercado interno. Para o Brasil, essa queda compromete a conta de transações correntes. Por outro lado, o gráfico 4 mostra uma evolução
Gráfico 4
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bancodedados
do Dollar Index Spot desde 2011. A forte valorização do dólar no mercado internacional, frente a uma cesta de moedas, especialmente a partir de maio/2014, adiciona novas preocupações para os formuladores de política econômica e traz oportunidades e problemas para a vida empresarial. Apesar das pressões inflacionárias que possam decorrer desse movimento, a valorização da moeda norte-americana estimula as exportações brasileiras e inibe as importações de maneira geral. Demografia Segundo estimativas do US Census Bureau, a população mundial aumentará, no período 2013-2050, em 2,3 bilhões de habitantes (ou 32%). O segmento de maior destaque é o das pessoas com 65 anos ou mais, com crescimento de 170%. Tabela1
Gráfico 5
60 financeiro abril/maio 2015
Enquanto isso, a população de jovens até 14 anos crescerá módicos 4,4%. Isso prenuncia uma transformação radical na economia de todos os países, em especial daqueles mais alinhados com essa macrotendência (entre os quais encontram-se Japão, Itália, China e Brasil). Em particular, no Brasil, segundo estimativa do IBGE, as taxas anuais de crescimento populacional, já decrescentes desde a década de 60, se tornarão negativas a partir de 2044. Dessa forma, de acordo com essa previsão, a população, nesse ano de 2044, atingirá um pico de 218 milhões e, a partir daí, decrescerá. Os impactos sobre a economia são preocupantes e produzirão suas maiores consequências nos seto-
Taxasde crescimento populacional Médias móveis de 10 anos, 1882-2050 Fonte: IBGE
Gráfico 6
res da saúde e da previdência. Domicílios Segundo a PNAD (IBGE), o Brasil contava, em 2013, com quase 61 milhões de domicílios particulares permanentes. No período 2001-2013, os grupos de domicílios com maior velocidade de crescimento anual foram os das classes de rendimento mensal domiciliar entre 1 e 2 salários mínimos (4,2% ao ano) e entre 2 e 3 salários mínimos (4,4% ao ano). Observe-se que essas taxas de crescimento declinaram nos últimos seis anos para 3,0% e 3,3% ao ano, respectivamente. De toda forma, a observação deste gráfico mostra que, para as faixas de renda acima de 10 salários mínimos, o número total de domicílios declinou.
Gráfico 7
abril/maio 2015 financeiro 61
bancodedados Painel da Indústria Financeira PIF – Financeiras É uma pesquisa anual desenvolvida pela Fractal, em nível nacional, com pessoas de renda individual entre R$ 1.200,00 e R$ 4.000,00 por mês. Os resultados são comparados com os obtidos no mesmo período do ano anterior. Apontam para uma intensificação do relacionamento entre clientes e suas financeiras.
Distribuição por Renda Familiar (em%) R$
Já realizou um empréstimo pessoal, CDC, financiamento ou crediário? Você já tomou um empréstimo pessoal/ CDC/ financiamento/ crediário alguma vez na vida (em financeira ou loja)? Base: 3023
(% no ano de 2014)
Base 2014: 327 Base 2013: 285 %
Os principais produtos utilizados (em%)
Finalidade do empréstimo (em%)
Quais os produtos que foram utilizados, nos últimos 12 meses, por meio dessas financeiras?
O(s) empréstimo(s) pessoal(ais) e o(s) empréstimo(s) pré-aprovados(s) que você fez foi(ram) utilizado(s) para.
Base 2014: 327
%
%
Uso de crediário em lojas de varejo (em%)
Uso do cartão das lojas de varejo (em%)
Por favor, indique as lojas que você utilizou nos últimos 12 meses e pagou com crediário próprio da loja.
Por favor, indique as lojas que você utilizou nos últimos 12 meses e pagou com cartão de financiamento da loja.
%
62 financeiro abril/maio 2015
%
Oportunidades e desafios para bancos e financeiras no segmento pessoas físicas de alta renda
O
Análise: Rodrigo Neman
resultado mais recente do Painel da Indústria Financeira Pessoa Física, realizado com pessoas de renda superior a R$4.000,00 (PIF Alta Renda 2014) registra que uma grande parcela desses clientes bancários não apresenta contratação de produtos de crédito, investimento, seguros e previdência. Ao mesmo tempo, a análise dos clientes mais fidelizados e com maior mix de produtos e serviços financeiros, indica a necessidade da adoção de estratégias de cross-sell e de exploração de nichos de mercado. Com base nas 2.794 entrevistas aleatórias, realizadas com clientes bancários nas principais regiões metropolitanas do país, identificou-se 4.769 relacionamentos bancários (média de 1,7 bancos por respondente). A natureza desses relacionamentos, suas estruturas e composições são identificados e descritos de maneira a entender as contribuições para os negócios de cada um desses bancos. Os respondentes são caracterizados com suas características sócio-demográficas e pelos seus estilos de vida.
Os estilos de vida foram obtidos por meio dos testes conhecidos por AIOV (atividades, interesses, opiniões e valores). Os dados relativos à posse de produtos e serviços financeiros foram agrupados em cinco principais famílias (seguros, previdência, aplicações, cartões e empréstimos) e organizados graficamente segundo os quadrantes da tabela 1. O eixo vertical representa as famílias de produtos que o respondente tem no mercado, independentemente do banco. O eixo horizontal representa as famílias de produtos que o respondente tem no banco em que é correntista. Dessa forma, se um determinado respondente é correntista em dois bancos, A e B, no primeiro possuindo apenas cartão de crédito ativo e, no segundo, possuindo empréstimos e seguros, considera-se que o mesmo possui três produtos contratados no mercado (eixo vertical), um produto contratado no banco A e dois produtos contratados no banco B. Graficamente, seu relacionamento com o banco A estará presente no quadrante 3x1 e seu relacionamento
com o banco B estará presente no quadrante 3x2. O primeiro índice do quadrante refere-se à leitura do eixo vertical e o segundo índice, à leitura do eixo horizontal. A análise dos quadrantes revela o potencial do mercado a ser explorado por estratégias de aquisição de clientes e de venda cruzada de produtos: 14,3% das contas-correntes não apresenta produtos contratados (percentual de relacionamentos contidos na primeira coluna de quadrantes) e 30,4% das contas correntes apresentam apenas um produto contratado. Em outras palavras, 44,7% das contas-correntes são utilizadas de forma muito pontual pelos clientes e pouco exploradas pelos bancos. As contas com maior nível de cross-sell de produtos estão nos quadrantes contidos nas três colunas mais à direita (verdes) e representam 28,4% dos relacionamentos pesquisados. Apenas 1,9% das contas apresentam as cinco famílias de produtos contratadas no própio banco, conforme pode ser visto no quadrante 5x5. Além do posicionamento dos relacio-
Heatmap do mercado estudado, extraído da base de dados 2.014 da Fractal
Tabela 1
abril/maio 2015 financeiro 63
bancodedados
namentos bancários quanto ao número de produtos contratados, os quadrantes apontam as duas combinações de produtos mais frequentes em cada quadrante, denominadas Top1 e Top2, respectivamente. Assim, ao analisar os relacionamentos de clientes com um produto no mercado e um produto contratado no banco (quadrante 1x1), observa-se que cartão de crédito (C) aparece em 52,6% dos relacionamentos e aplicação (A) aparece em 30,9% dos relacionamentos. Esse quadro se inverte quando consideramos relacionamentos de clientes com cinco produtos contratados no mercado e apenas um no relacionamento (quadrante 5x1) em que a maior incidência é de produtos de aplicação com 35,7% dos relacionamentos contra cartões com 21,4%. A segunda coluna de quadrantes mostra que os produtos de aplicação costumam ser a porta de entrada para clientes com baixa fidelização. Os produtos de empréstimo, por outro lado, mostram-se relevantes nos quadrantes mais fidelizados (2x2, 3x3, 4x4
e mais quadrantes verdes). Nos relacionamentos presentes nos quadrantes da terceira coluna, ou seja, clientes com dois produtos contratados no banco, as combinações de empréstimo com cartões (EC) aparecem consistentemente com a segunda maior frequência nos quadrantes mais fidelizados da coluna. As estratégias que os bancos devem adotar para aumentar a fidelização de seus clientes e, consequentemente, aumentar a concentração de negócios dos mesmos com a instituição devem ser desenhadas de tal modo que possibilitem uma migração do relacionamento para a direita, ou seja, para quadrantes com produtos mais diversificados. Ilustrativamente, para desenvolver um relacionamento no quadrante 5x2 com aplicação e cartão de crédito (AC), a melhor oferta é um produto de empréstimo que seja compatível ao contexto de vida do cliente, dado que a aceitação da oferta posicionaria o cliente no quadrante 5x3 em que a combinação AEC é mais frequente com 33,9% de incidência.
As financeiras, por outro lado, podem otimizar seus esforços de marketing e relacionamento com os clientes, usando fontes de dados que permitam enquadrar seus prospects e clientes dentro dos quadrantes. Com isso, é possível proporcionalizar o investimento de recursos de acordo com o tamanho do mercado em cada quadrante/coluna para que seja maximizado o retorno esperado. No gráfico 1 está representada a proporção de respondentes, por faixa de renda mensal, que não possuem produtos e serviços financeiros além de conta-corrente (linha vermelha) ou conta corrente e cartão de crédito (linha verde). A linha azul totaliza ambos os casos e mostra que para renda mensal entre R$ 4 mil e o R$ 8 mil, mais de 14% dos respondentes não possuem produtos de empréstimo, crédito ou seguros contratados em bancos. Identificar esse grupo e atuar com com modelos analíticos para identificação de contexto de vida e de melhor próxima oferta/ação representa uma oportunidade tanto para bancos quanto para as financeiras.
Percentuais de clientes que não utilizam os produtos estudados, por faixa de renda
Gráfico 1
64 financeiro abril/maio 2015
Penetração de produtos de crédito e investimento, por faixa de renda
A independência financeira dos clientes pode ser avaliada a partir da penetração de produtos de crédito e empréstimos conforme a renda mensal aumenta. Na tabela 2 encontra-se a penetração dos produtos de crédito e investimento por faixa de renda mensal. Entre os produtos de crédito, crédito imobiliário e financiamento de autos apresentam maior penetração no público de maior renda. Com CDC a penetração decresce conforme a renda aumenta e para os demais produtos não há uma correlação pronunciada com a renda. No caso de produtos de investimento, a penetração de fundos e títulos cresce conforme a renda cresce.
Finalmente, o gráfico 2 apresenta a penetração das principais famílias de produtos por faixa de renda. O critétio utilizado foi considerar que o respondente possui a família, se este tem contratado pelo menos um produto da família nos bancos em que é correntista. Famílias de produtos para gestão de riscos (previdência, seguros e aplicacões) apresentam um crescimento de penetração mais acentuado conforme a faixa de renda cresce. A penetração das famílias de produtos de empréstimo e cartões também cresce à medida que a renda aumenta, porém com taxas de crescimento mais modestas. f
Tabela 2
Equipe de autores da Fractal Celso Grisi - Professor titular da FEA-USP e diretor-presidente da Fractal - Forma, Acaso e Dimensão Celso Miori - Consultor de empresarial, doutorando pela FEA-USP e professor dos cursos de MBA da Fundação Instituto de Administração Rodrigo Neman - Advisor da prática de Business Analytics da Fractal e professor de Gestão Analítica de Desempenho em programas de MBA
Penetração das famílias estudadas
Gráfico 2
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palavrafinal
Por Nicola Tingas: economista-chefe da ACREFI
A travessia da recessão e da incerteza
E
stamos em recessão! Pior, ainda não sabemos bem a intensidade desse retrocesso econômico e nem quanto tempo esse ciclo irá durar. Buscamos identificar elementos novos na conjuntura política e econômica que permitam projetar um “ponto de virada” em que a confiança e a capacidade perdidas pelo investidor e pelo consumidor sejam resgatadas; para que, assim, possa haver perspectiva efetiva de retomada do crescimento econômico e social. Nesse ambiente é insuficiente ficar apenas esperando e torcendo pela rápida recuperação da política e da economia. É imperioso e necessário criar resiliência suficiente para enfrentar os riscos do atual ciclo de contração econômica e mitigar as perdas financeiras e patrimoniais, a deterioração do mercado de trabalho, a fragilização do ambiente de negócios e do orçamento familiar. A recessão do ano de 2015 será significativa. Atualmente é estimada uma contração do produto interno bruto (PIB) de 1,2% a 1,5%. O consumo das famílias tem retração estimada de 0,5% a 0,9% do PIB, encerrando um ciclo benigno de expansão do emprego, da renda, do consumo e do crédito. O consumo da administração pública (APU) poderá ser positivo, mas em intensidade bem menor do que em anos anteriores, consequência do severo ajuste (fiscal) das contas públicas. PIB Consumo das Famílias
PIB – Produto Interno Bruto, em % anual
Fonte: IBGE, ACREFI.
A taxa de investimento (formação bruta de capital fixo), que teve uma queda de 4,4% do PIB em 2014, deverá ainda ter difícil reversão em 2015, ficando todos os esforços de governo concentrados em obter resultados mais significativos a partir de 2016. Pelo lado do setor externo, as importações continuarão em queda, em linha com a contração da economia; enquanto as exportações terão gradual incremento estimulado pela desvalorização acentuada da taxa de câmbio e também pela busca de mercados externos pe-
66 financeiro abril/maio 2015
las empresas com excesso de capacidade ociosa derivada da contração do mercado doméstico. Portanto, as projeções atuais indicam que a “demanda agregada” da economia terá, essencialmente, um vetor contracionista e de gradual e difícil recuperação neste e no próximo ano, conforme ilustra o gráfico. Ou seja, a recuperação do crescimento da economia deverá ser mais lenta e demorada que o esperado e desejado. Esse diagnóstico parece ser compartilhado pelo Governo (Fazenda, Planejamento e Banco Central) que tem indicado crescente adesão às estimativas e projeções da economia pelo mercado. Assim sendo, os “policy makers” do Governo têm buscado sinalizar ao mercado a premência de acelerar as ações e os atos de política econômica para avançar na agenda, resgatar expectativas dos agentes econômicos e favorecer a melhoria de desempenho da economia em menor tempo e de forma mais virtuosa. Por outro lado, é fato que a política econômica enfrenta, entre outros obstáculos, aqueles derivados do ambiente de crise política, que acaba por retardar a efetividade e a progressividade pretendida nessa “ação pró-cíclica” de resgate da economia. Em breve síntese, podemos identificar como sendo três as principais etapas da política econômica pretendida para restabelecer na economia, o crescimento virtuoso: 1 - Resgate fiscal e sinalização monetária (etapa de busca da credibilidade); 2 - Condicionamentos para atração de capital (etapa de busca do investimento); 3 - Realização de investimentos e produtividade (etapa de busca do crescimento). Como temos verificado nos meses recentes, o processo de recuperação econômica na atual conjuntura brasileira consiste em desafio amplo e diversificado, que poderá ser acelerado; mas, ainda assim, requererá tempo maior até atingir a fase três de crescimento econômico significativo. Caberá aos agentes econômicos – entidades, associações, empresas, famílias e indivíduos – buscar o pensar e agir de forma objetiva e focada em suas próprias atividades “micro”, sem esperar pela rápida recuperação “macro” da economia. Quer dizer, há um hiato de tempo entre alcançar efeitos amplos e substanciais da política econômica em curso e as necessidades cotidianas e de curto prazo dos agentes econômicos. Agora é momento de focar em inovação, produtividade e reinvenção na empresa e no orçamento familiar, para melhor enfrentar o período de recessão na economia. f
Artigo enviado em 10/4/2015
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