Contato, edição de março de 2014: Para a vida valer a pena

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MUDE SUA VIDA.

HOJE, SEMENTES; AMANHÃ, FLORES Visão de longo prazo

A pulseira verde Uma cadeia de generosidade

Vela no candelabro Luz para um mundo em trevas

MUDE O MUNDO.


Volume 15, Número 3

C ON TATO PE S S OA L en con t r an do sen t i do Uma das questões centrais sobre a qual filósofos e teólogos se debatem há milênios se relaciona ao mistério sobre o que dá sentido à vida. Todos querem ser felizes e se sentir realizados, mas como podemos dizer o que é e de onde vem a verdadeira felicidade? Os gregos da Antiguidade acreditavam que a fonte da felicidade fosse interna e alimentada por um viver digno. Chamavam esse estado eudaimonia, descrito por Aristóteles como a participação de atividades que exercitam nossos talentos e desafiam nossas habilidades, trazendo benefícios para os outros e guiando nossas vidas por princípios e virtudes. Não basta simplesmente ter uma habilidade ou disposição. A eudaimonia deve necessariamente se materializar em ações. Na carta que escreveu aos cristãos em Éfeso, Paulo lhes implorou que vivessem com a dignidade compatível com a vocação que haviam aceitado1 e esclareceu que para isso deveriam ser humildes, bem educados, pacientes, tolerantes, amorosos e viver em paz uns com os outros. Apesar de reconhecermos o valor de uma vida virtuosa orientada por princípios, nossa natureza imperfeita muitas vezes nos impede de viver assim apenas pelos nossos esforços. Na condição de crentes, entretanto, podemos nos valer do poder de Deus para transcender nossas limitações. “É Deus que me arma de força e aperfeiçoa o meu caminho.”2 Salomão, considerado por muitos o maior sábio de todos os tempos também reconheceu a futilidade da vida que tem por centro o próprio indivíduo e se orienta dos valores deste mundo, para o que apontou a solução. No final de sua busca por sentido e felicidade chegou a um entendimento com o qual encerra o Livro de Eclesiastes: “De tudo o que se tem ouvido, a conclusão é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos, pois isto é todo o dever do homem.”3 Quanto mais aprendermos a dar prioridade a Deus e ao bem-estar dos outros em nossos pensamentos e ações, mais sentido e propósito nossas vidas terão.

Contamos com uma grande variedade de livros, além de CDs, DVDs e outros recursos para alimentar sua alma, enlevar seu espírito, fortalecer seus laços familiares e proporcionar divertidos momentos de aprendizagem para os seus filhos. Para adquirir nossos produtos, obter mais informações, ou se tornar um assinante da Revista Contato, visite nossos sites, escreva-nos ou ligue gratuitamente para nossa central de atendimento. Assinaturas, informações e produtos: www.activated.org/br www.contato.org www.lojacontato.com.br E-mail: revista@contato.org Endereço postal: Contato Cristão Caixa Postal 66345 São Paulo — SP CEP 05311-970

Editor Mário Sant'Ana Design Gentian Suçi Diagramação Angela Hernandez Produção Samuel Keating

© 2013 Aurora Production AG. www.auroraproduction.com Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Tradução: Mário Sant'Ana e Tiago Sant'Ana

Mário Sant’Ana Editor

A menos que esteja indicado o contrário, todas as referências às Escrituras na Contato foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.

1. Ver Efésios 4:1. 2. Salmo 18:32 3. Eclesiastes 12:13 2


Terapia Valerie Anna Theresa Koltes

Era um daqueles perfeitos dias de primavera. Uma brisa

gentil, a temperatura amena e o coaxar de sapos à distância anunciavam que chegara a estação e todos à minha volta estavam de bom humor. Mas é muitas vezes em dias assim que Deus tende a nos surpreender com pequenas lições. Naquela manhã, recebi uma carta de um amigo com notícias péssimas o bastante para pôr termo à minha felicidade e a de mais alguns que estavam por ali. De repente, a alegria dos que estavam por perto começou a me irritar. Meu desejo era que fossem embora e levassem o sol com eles. Minha mente estava inundada com pensamentos ruins quando minha vizinha me ligou. “Minha consulta médica foi remarcada para o início da tarde, mas não tenho com quem deixar Valerie. Dá para você ficar com ela até eu voltar?”

Foi a última pá de cal sobre o que começara como um feliz dia primaveril. Cuidar de criança? Eu?!? Não tinha a menor intenção de poluir a inocência de uma menina com meu humor estragado. Tentei me esquivar, mas, por fim, aceitei. Tadinha da garota! Em questão de minutos lá estava eu, no apartamento vizinho, estressada e ranzinza. Valerie investiu: “Eu tenho lápis de cor novos!”. Ela estava sorrindo e me obriguei a fazer o mesmo. “Você quer … colorir?” Acenou positivamente com a cabeça e desapareceu por uns instantes, para voltar com uma maleta vermelha carregada com materiais para desenho. Para ser franca, não sou chegada a colorir, mas fazendo de conta de que gostava, ajudei a menina a virar sobre a mesa todo o conteúdo da tal

maleta. E assim, ao som de um CD de Tchaikovsky, pusemo-nos a pintar uma mulher com aspecto selvagem e cabelos esvoaçantes multicoloridos. Para minha surpresa, o tempo voou enquanto me deixei envolver pela utopia da música clássica e da arte. Bem, não sei se dá para chamar de “arte”, talvez se aproxime mais de “terapia”. Passadas três horas, havíamos criado algumas obras de arte abstrata, escutado todo o Lago do Cisne e eu havia reencontrado a paz. Com a mente clareada, entendi que mesmo quando são grandes as decepções ou enfrentamos catástrofes, sempre há solução. A que encontrei foi simples, inesperada, refrescante e altamente recomendável. Anna Theresa Koltes é escritora freelance e globetrotter. ■ 3


Hoje, sementes; amanhã, flores Peter van Gorder

Enquanto caminhava por um jardim botânico em Calcutá, na Índia, fiquei

fascinado pelas cores vibrantes e vívidas das flores daquele lugar. Por algumas horas, senti que havia sido transladado do corre-corre da cidade para um mundo de beleza. Na saída, passei pelo escritório da administração para cumprimentar a equipe pelo belo trabalho que fizeram na distribuição e cuidado das plantas. O diretor do parque me atendeu e com satisfação me falou do lugar. 1. arbusto de cuja casca se produz a quinina, fármaco usado no tratamento da malária 4

Aprendi que foi o missionário William Carey que começara a instituição —a mais antiga desse tipo no país— em 1820, com a meta de ajudar os agricultores locais de uma forma prática. Ao observar que usavam sementes de qualidade inferior e técnicas de cultivo ineficazes, quis melhorar a renda das famílias e ajudar os indianos a entender que, nas palavras do próprio Carey, “a capacidade do solo para enriquecer uma nação é quase infinita.” A visão do missionário inglês ia muito além do plantio e exibição de belas flores. Reuniu ali espécies quase extintas e as cultivou nos jardins da sociedade, para que fossem preservadas para o futuro. Incluiu ali também

diferentes tipos de milho, algodão, ervas para chá, cana-de-açúcar e cinchona1, vindos de vários países, introduzindo assim o conceito da produção agrícola organizada nessa parte do país. Outros abraçaram a ideia e a instituição por ele fundada ajudou a iniciar diversas culturas de grãos, agricultura para fins comerciais, frutas, legumes, etc. Impressionei-me ao ver como o legado de Carey se mantém há quase dois séculos. Começar o jardim botânico foi um conceito completamente inédito e provavelmente teve de lidar com muitos desafios e oposição. Contudo, Carey perseverou, enquanto cuidou de sua esposa enferma, traduziu a Bíblia em vários idiomas locais e


FA Z E N D O A D I F E R E N Ç A A vocação de todo homem e mulher é servir os outros. —Leo Tolstoy (1828–1910) “Gostaria de somar alguma beleza à vida” —comentou Anne com ares sonhadores. “Não quero necessariamente que as pessoas saibam mais … apesar de ser nobre essa ambição … mas adoraria se pudesse tornar seus momentos mais agradáveis … ter um pouco de alegria ou algum pensamento feliz que jamais existiria se eu não houvesse nascido.” —Anne Shirley personagem do livro Anne’s House of Dreams, de Lucy Maud Montgomery (1874–1942)

trabalhou para abolir a prática do sati (autoimolação de viúvas). O jardim mudou de lugar várias vezes até finalmente se instalar onde hoje se encontra, em 1870. Sobreviveu a guerras, revoltas, secas e desastres naturais. A vasta gleba onde se encontra é agora a área mais valorizada no Centro da cidade e tenho certeza de que muita gente gostaria de vê-la usada em empreendimentos mais lucrativos. Contudo, o jardim se tornou um patrimônio valioso da comunidade e é pouco provável que se submeta à ganância. Tentar hoje realizar um projeto dessa natureza no mesmo local seria uma tarefa monumental —se não, impossível. Foi a visão de longo prazo do missionário britânico e seu trabalho árduo há tantos anos que possibilitou que as pessoas hoje desfrutassem um pouco de céu na terra.

Essa experiência me ensinou que o que fazemos pode ter um tremendo impacto no futuro e nas gerações por vir. O trabalho de Carey no jardim é um exemplo do legado que podemos deixar. Seguiu sua visão e produziu muito fruto, inclusive no sentido figurado da palavra. Às vezes, não valorizamos completamente a magnitude de nossa influência. Cada alma que tocamos ou ajudamos produzirá um efeito de propagação para a eternidade, mas é preciso quebrar o solo e nele colocar a primeira semente para se fazer um jardim. Curtis Peter van Gorder é roteirista, mímico (http:// elixirmime.com/) em Mumbai, Índia, e membro da Família Internacional . ■

Imagine o agricultor ao fim de um ano difícil, preocupado com o que está por vir. Será melhor a próxima colheita? Por mais desconsolado que se sinta, não pode ficar em casa olhando para a xícara de chá à mesa da cozinha. Tem de pensar no futuro de sua propriedade e de sua família. Então se levanta e sai, intrépido, para semear. Sopram os ventos, caem as chuvas e o sol não se faz ausente. Passado o tempo certo, é hora de nova colheita. E o homem vem para casa muito mais feliz, com os frutos de sua seara guardados na segurança do seu celeiro. Se não tivesse conseguido visualizar os resultados, não teria semeado. Se não tivesse saído, não haveria uma colheita. Deixemos nossas zonas de conforto, mesmo quando for difícil. É assim que faremos uma diferença. —Chris Hunt ■ 5


a pulSe ra verdE Mila Nataliya A. Govorukha

Jamais esquecerei a primeira vez que fui ao Exit Rock Festival —evento anual

realizado nas proximidades de um lindo castelo em Novi Sad, uma linda cidade sérvia às margens do Danúbio. Havia palcos em toda parte, as ruas estavam tomadas pelas multidões e das imensas vilas formadas por barracas se ouviam todos os estilos de música que se misturavam aos aromas de chevapi —um prato à base de carne, típico daquele lugar. Era uma atmosfera de fraternidade, caos e liberdade. Mas parecia que eu não ia participar de tudo aquilo. Eu e um amigo da Dinamarca viajáramos da Bósnia para o festival e encontramos colegas fora da área do evento que organizavam projetos humanitários na Sérvia e Kosovo. O plano era formar um grupo de 50 voluntários excêntricos, para, por meio da música, alcançar os jovens com o amor de Deus e, ao mesmo 6

tempo, lhes levar uma mensagem antidrogas e antiviolência. Haviam nos prometido entrada franca, mas isso infelizmente não se materializou. A administração ofereceu um desconto, mas não pôde nos isentar completamente da taxa de ingresso. Meu companheiro e eu não sabíamos o que fazer. O preço do ingresso não era tão alto, mas nosso dinheiro era pouco. Se pagássemos as entradas, talvez ficássemos sem o suficiente para a viagem de volta. A alternativa era retornar para a casa imediatamente sem fazer nada para o que fôramos ali. Estávamos morrendo de inveja daqueles que estavam usando pulseiras verde-brilhante que lhes garantiam acesso ao evento. De repente, uma mulher, que jamais havíamos visto, se aproximou e começou a conversar conosco. Quando nos apresentamos, ela exclamou: “Ouvi falar de seu trabalho em

Sarajevo! Esperem só um pouquinho que vou buscar uma coisa.” Minutos mais tarde, Maria voltou com duas pulseiras verdes, uma para cada um de nós. Ao colocá-las em volta dos nossos pulsos, comentou: “Eu ia comprar umas lembranças para levar para casa, mas prefiro possibilitar a entrada de vocês.” E assim começou o tempo maravilhoso no Exit. Cantamos nas ruas e nas praças, distribuímos literatura cristã, encenamos esquetes com mensagens, conversamos com inúmeras pessoas de todas as idades e nacionalidades. Oramos com centenas de pessoas e passamos dias inesquecíveis entre amigos. Obrigado, Maria, por sua generosidade. Mila Nataliya A. Govorukha é professora de inglês e voluntária em uma ONG em Kharkov, na Ucrânia. ■


PARA QUEM? Gene Kato

Houve vezes em que senti que estava fazendo de conta que era uma boa pessoa. Um exemplo disso foi quando

me apresentei como voluntário para trabalhos humanitários após a ocorrência do terremoto seguido por tsunami que devastou Tohoku, no Japão, em 2011. Parte de mim queria sinceramente ajudar e fazer uma diferença, mas eu também sabia o que eu “deveria” querer fazer e gostava de ser visto como uma das pessoas que queriam ajudar. Dediquei-me de corpo e alma àquele trabalho humanitário. Fazer o bem produzia em mim algo bom e ser reconhecido era ainda melhor. Não demorou, comecei a questionar por que os outros não se dedicavam tanto e passei a olhar para eles com certo desprezo. Foi a partir daí que as coisas começaram a se complicar para mim. O ponto crítico se deu quando, numa dada manhã, ironicamente, não

acordei à hora certa. Estava escalado para ser o motorista em um comboio que partiria para Tohoku às seis horas, e fui acordado por um telefonema nervoso às seis e quinze. Saltei da cama, arrumei-me o mais rápido possível, enquanto me perguntava como pude ter deixado aquilo acontecer. Minha namorada estava planejando vir também, mas eu estava com tanta pressa que não quis esperar e saí sem ela. Tão logo peguei a estrada, comecei a ter a impressão de que algo não estava certo, mas uma dor de cabeça de lascar e um carro lotado de voluntários ansiosos que não paravam de me fazer perguntas me ajudaram a não dar muita bola àquele questionamento interior. Depois de uma hora de viagem, recebi uma ligação de minha namorada e uma sequência de mensagens de texto carregadas de ira, que terminou com um “Eu te odeio”. Cinco horas ao volante me deram

oportunidade para pensar em tudo aquilo. E quanto mais pensava, mais me odiava. Nos últimos meses eu havia “deixado para trás” outras pessoas, porque não conseguiam acompanhar meu ritmo ou porque eu queria ficar sozinho lá na frente. Liguei para minha namorada naquela noite e pedi perdão. Fizemos as pazes. Depois passei algum tempo conversando com Jesus, pedi Seu perdão também. Gosto de pensar que algumas coisas mudaram desde aquele dia, não tanto com respeito ao que faço, mas na maneira como passei a fazer as coisas. Tenho muitas metas e ainda existe muito que quero fazer. Mas o que quer que eu faça, quero que seja da maneira como Jesus faria: com amor e bondade. Só assim o que eu fizer perdurará e terá algum significado. Gene Kato é membro da Família Internacional no Japão. ■ 7


Sonia Purkiss

Anjo ou não Em Hebreus 13:2 lemos: “Não vos esqueçais

da hospitalidade, pois por ela alguns, sem o saber, hospedaram anjos.” Conheço esse versículo desde criança e me lembro de imaginar que as pessoas com quem eu interagia seriam anjos disfarçados e, por isso, tentava ser educada e simpática na maior parte das vezes. Infelizmente, conforme fui crescendo, ficou mais fácil bancar a durona e manter os outros a certa distância. Aos 17 anos, entretanto, tive um experiência interessante que deu vida a esse e a outros versículos relacionados à bondade. Morávamos em Taiwan na época e eu tinha uma consulta médica marcada em um hospital. Era para meu pai me encontrar lá para fazer as vezes de intérprete, pois eu não dominava o idioma bem o suficiente para entender os termos médicos. Contudo, ele se atrasou e percebi que teria de me virar sem ele, algo que me parecia muito intimidador. Enquanto me batia para preencher um formulário em chinês, um jovem que falava inglês fluentemente se aproximou e perguntou se eu precisava ajuda. Eu estava agitada e sob pressão, então agi como se estivesse 1. Colossenses 3:12 NVI 2. Ver Tito 3:1–2. 8

incomodada, mas com precisava ajuda, aceitei sua oferta. Depois de os formulários estarem preenchidos, o jovem me levou à sala de espera para minha consulta. Suspirei aliviada quando ele se foi e liguei para meu pai para avisar onde deveria me encontrar, mas chegou minha hora de ser atendida sem que ele aparecesse. Ao entrar no consultório, perguntei ao médico se ele falava inglês. A resposta foi negativa. Muito desapontada, preparava-me para ir embora quando o mesmo jovem ressurgiu oferecendo-se para ser meu intérprete. Eu sabia que deveria estar grata, mas não consegui ocultar meu constrangimento com toda a situação. Terminada a consulta, ele disse: “É melhor eu ficar até seu pai aparecer, caso você precise da minha ajuda” —disse o jovem quando saímos do consultório. Em vez de conversar com ele, fiquei de braços cruzados, calada e de cara fechada. Quando meu pai por fim chegou, os dois rapidamente começaram a conversar e quando chegou a hora de irmos, despediram-se apertando as mãos. Estendi


minha mão também, mas o rapaz levantou as mãos e disse: “Absolutamente. Foi um prazer ajudar.” No caminho para casa, comecei a me sentir mal pela minha atitude. Por que fui tão rude com ele? Ele não tinha culpa pelo atraso de meu pai e foi muito gentil de sua parte se oferecer para me ajudar. Ocorreu-me que se ele fosse um anjo, certamente eu havia falhado em lhe demonstrar “hospitalidade”. Nos dias seguintes, pensei muito naquele encontro —não tanto para tentar determinar se ele seria ou não um anjo, mas avaliando de uma forma mais ampla a maneira como eu tratava as pessoas. Não faz diferença se aquele rapaz era ou não um mensageiro divino, pois aquela experiência me ajudou a lembrar do importante fato de que todos precisamos ser tratados com gentileza e respeito, independentemente de quem sejam e como nos sintamos. Alguém havia se dado ao trabalho de me ajudar e retribui com indiferença e esnobismo. Sequer lhe perguntei o nome. O que teria me custado ser gentil e demonstrar gratidão, como Jesus teria feito? Provavelmente apenas um bocado de orgulho.

Eu esperava reencontrar algum dia aquele rapaz, para pedir desculpas e dizer quão arrependida eu estava pela minha grosseria, mas nem sempre há uma segunda chance e, dessa vez, não houve. O que eu pude fazer, entretanto, foi decidir que aquela experiência me mudaria, para que eu me comportasse melhor da próxima vez, com outra pessoa, em alguma outra situação. Quer os outros sejam rudes, quer sejam simpáticos como aquele rapaz que me ajudou, a Palavra de Deus nos instrui a nos revestirmos de “profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência”1 em nossas interações com todos. Nossa bondade para com os outros não deveria depender de como nos tratam. Desde esse ocorrido no hospital, parei de procurar anjos disfarçados (apesar de reconhecer que seria divertido saber que encontrei um!) e tenho me concentrado em seguir o exemplo de Jesus, estar pronta para fazer o bem, sem falar mal de ninguém, sendo calma, pacífica e tratando todos com educação2—sejam eles anjos, ou não. Sonia Purkiss é administradora do site para jovens Just1Thing (http://just1thing.com/). ■ 9


VELA NO CANDELABRO Peter Amsterdam, adaptação

Manifestar o amor de Deus para aqueles que Ele coloca em nosso caminho cada dia é a essência da vida cristã. O Apóstolo Paulo

foi enfático ao explicar o porquê: “O amor de Cristo nos constrange”.1 Independentemente da forma como orienta cada um a alcançar sua respectiva parte do mundo com Seu amor, Deus nos chamou para sermos “a luz do mundo” e para deixarmos nossa luz brilhar diante dos homens para que vejam nossas boas obras e glorifiquem ao nosso Pai que está no céu.2 Ao longo dos séculos —na verdade desde os primórdios da cristandade— os cristãos muitas vezes influenciaram o mundo pela sua contribuição às comunidades das quais participavam. Mesmo quando os outros não necessariamente abraçavam o cristianismo ou 1. 2 Coríntios 5:14, ênfase adicionada 2. Mateus 5:14,16 3. 1 Pedro 2:12 NVI 4. Mateus 5:15 10

sequer o entendiam, e até em situações em que seus adeptos eram perseguidos e difamados, as obras de bondade dos seguidores de Cristo reluziam com força diante de todos, o que deixava muitos curiosos para saber o que tornava os cristãos tão diferentes de grande parte da sociedade. Como ensinou o apóstolo Pedro: “Vivam entre os [descrentes] de maneira exemplar para que, mesmo que eles os acusem de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus.”3 Ao ajudarmos nossos semelhante e participarmos de forma ativa em nossas comunidades, oferecendo assistência —espiritual, ou prática ou dos dois tipos— àqueles que Deus coloca em nosso caminho; conforme fizermos nossa parte para levar Seu amor aos outros e melhorar suas vidas de qualquer forma que pudermos, nosso exemplo crescerá e será como uma “vela em um candelabro.”4 Ao estender a mão aos que nos cercam e expressar nossas crenças em práticas tangíveis que expressem nosso amor

e interesse pelos demais, podemos nos tornar exemplos vivos do amor de Deus. Mesmo que você não tenha muito tempo e recursos, pode participar da sua comunidade, tomar iniciativas para, sempre que possível, atender a uma necessidade, mostrando solidariedade e interesse pelo bem-estar e qualidade de vida dos outros. Ao fazer assim, você estará traduzindo o amor de Deus em ações. Peter Amsterdam e sua esposa, Maria Fontaine, são diretores da Família Internacional, uma comunidade cristã. ■

Trate todos com educação, inclusive os que são rudes com você. Não faça isso porque as pessoas são boas, mas porque você o é. —Anônimo O menor ato de bondade vale mais que a maior das intenções.—Kahlil Gibran (1883–1931)


Lembrando Martha Joyce Suttin

Minha vizinha faleceu esta semana, depois de uma longa luta contra enfisema. Vou sentir sua falta

e tenho pensado muito nela nos últimos dias. Quando meu marido Dan e eu mudamos para a vizinhança, Martha nos convidou para tomar chá com biscoitos. Sentamos em sua sala impecável, falamos sobre nossa família e sobre o trabalho voluntário que fazíamos no México. Sentimo-nos em casa e fiquei feliz por morar perto de alguém como ela, que fez questão que nos sentíssemos bem-vindos. Olhei pela janela quase que diariamente nos últimos oito anos e orei por Martha. Sentia a responsabilidade de estar atenta ao seu bem-estar e de me fazer presente sempre que precisasse de mim. Ela vivia só. Não teve filhos e seu marido já havia morrido. Sua saúde

decaiu ao longo do último ano, pelo que Dan coletava o jornal e o colocava perto da porta para que ficasse mais fácil para ela. Um dia, notei que o jardineiro estava cortando a grama de sua casa. Quando o barulho da máquina ficou mais forte, vi que passara a cortar nossa grama. Martha fez sinal para mim de sua porta, indicando que era uma forma de ela agradecer a gentileza de Dan. O jardim de Martha era perfeito e eu me senti honrada quando me pediu que cuidasse de suas plantas, certa vez em que saiu de férias. Aquelas plantas eram como mascotes para ela. Ela não poupava amor e carinho no seu cuidado, ao que respondiam com beleza e saúde. Outro dia, visitou-me sua melhor amiga. Conversamos alguns minutos e ela explicou que Martha nomeara um administrador para seus bens e que um banco tomaria posse da

casa. Perguntei sobre as plantas e ela me aconselhou a recolhê-las e cuidar delas, porque depois que o banco isolasse a propriedade, tudo no jardim dos fundos seria perdido. Mais uma vez, senti-me honrada. As plantas que trouxeram tanta alegria para Martha agora fariam o mesmo por mim e minha família. Minha amiga me ensinou muito e quero me assegurar que seu legado de bondade e amizade, como suas plantas, continue vivo. Daqui para frente, vou fazer questão de dar boas-vindas às pessoas que se mudarem para nossa vizinhança. Não vou me intrometer em suas vidas, mas quero que saibam que, se precisarem de algo, poderão contar comigo. É sempre bom ter vizinhos amigos. Joyce Suttin é professora e escritora. Mora em San Antonio, EUA. ■ 11


O VALOR DA VIDA SAUDÁVEL Maria Fontaine, adaptação

Permanecer saudável não é algo que acontece automaticamente. Requer esforço

e, em geral, uma dose de sacrifício. É preciso realinhar prioridades e se abster de certas coisas que são agradáveis, mas prejudiciais. A saúde prolongada depende de investimentos de longo prazo e fazê-los é a opção mais sensata. É preferível investir um pouco cada dia para fortalecer nossos corpos a negligenciá-los e sofrer sérios problemas de saúde. Como de costume, Deus não fará por nós o que podemos e devemos fazer. Espera que cuidemos bem de 12

nossos corpos e, geralmente, não anulará as consequências negativas resultantes de não termos feito as escolhas saudáveis que estavam ao nosso alcance. Regras básicas Felizmente, Deus definiu regras bem claras para a boa saúde, agrupadas em três categorias principais: espiritual, emocional e física. A chave para a saúde espiritual é andar em retidão perante Ele, encontrar e seguir Seu plano para sua vida tão bem quando lhe for possível. O segredo para o bem-estar emocional é ter uma atitude

confiante, que reduz o estresse, a preocupação, o medo e quaisquer outras emoções negativas, as quais prejudicam tanto nossa condição física quanto nossa felicidade. O aspecto físico se resume a “comer direito, dormir direito e exercitar-se direito”, fatores que alguns especialistas consideram fundamentais ao bem-estar. “Comer direito” depende de respeitar algumas poucas diretrizes. A fórmula é simples, mas a prática nem sempre fácil. É preciso determinação e planejamento para mudar maus hábitos de alimentação, mas, por outro lado, surpreende descobrir com


que rapidez é possível desenvolver o gosto pelos tipos certos de alimentos e perder o desejo de comer os menos recomendáveis. “Dormir direito” pode não parecer algo difícil, mas, atualmente, muitas pessoas tentam conviver com o déficit de sono. É verdade que há pessoas que precisam dormir menos que outras e, em muitos casos, essa necessidade diminui com o avançar da idade, mas as pressões da vida moderna têm levado muitos a sobrecarregar seus dias e dormir menos do que seria necessário para manter o corpo em sua melhor condição. Trata-se de uma troca nada inteligente, pois produzimos mais quando estamos descansados. As pessoas que não têm o hábito de se exercitarem regularmente facilmente negligenciam a prática. É mais difícil abrir mão do sono, porque os efeitos da falta de dormir são sentidos imediatamente. Por outro lado, muitas das consequências de uma dieta inadequada e os efeitos ruins da falta de exercícios, apesar de mais lentos, são certos. Os exercícios físicos dão ao nosso corpo a capacidade de se autolimpar e de autoregeneração. Além disso, a atividade física fortalece os músculos, os ossos, os órgãos internos e melhora nosso sistema imunológico. Praticamente cada célula viva em nossos corpos se beneficia quando o

tipo certo de exercício físico é feito com regularidade. Programa personalizado As regras básicas são universais, mas devido ao processo de envelhecimento e pela grande diversidade de biótipos e preferências pessoais, as alternativas para se obter os melhores resultados variam de pessoa para pessoa. Além disso, as necessidades dos indivíduos também variam com o tempo e outros fatores. Então, como saber o que é bom para você? Muitos “entendidos” no assunto oferecem informações e conselhos conflitantes e, às vezes, algumas dietas e tipos de exercícios são altamente aclamados por um tempo, mas, depois, desacreditados. Que programa você deve seguir? Somente o seu Criador sabe de fato o que é melhor para você e quer trabalhar com você para lhe proporcionar a saúde ideal. Por que não O consultar sobre sua dieta e rotina de exercícios? Uma das maneiras que Ele tem para se comunicar com você é pelo seu corpo. Se as dores musculares ficarem continuamente piores, pode ser um sinal que você está exagerando ou não realizando o exercício corretamente.

adequados hábitos permanentes, e não algo que se faz por alguns dias ou semanas para eliminar “pneus” e reduzir medidas. Os quilos perdidos logo voltarão, se os hábitos errados que fizeram que se acumulassem não forem corrigidos. Tipicamente, as dietas e exercícios que prometem soluções instantâneas não têm êxito porque se concentram em resultados imediatos em vez de mudanças de longo prazo. Em alguns casos, talvez a pessoa precise adotar um programa com efeitos rápidos para se tornar saudável ou perder peso, mas para manter essas conquistas terá de formar hábitos saudáveis duradouros. Se estiver de fato determinado a adotar um estilo de vida mais saudável, deve se fazer duas perguntas: “Como posso transformar em práticas diárias a maneira saudável de me alimentar, dormir e me exercitar?” e “Que programa é o melhor para mim?” Determinação, estudo e planejamento são essenciais para substituir hábitos ruins por saudáveis, mas a maior vitalidade que isso gera é o que torna o processo autossustentável. O bem-estar que sentimos é tal que queremos continuar fazendo as coisas que nos fazem sentir bem.

Manter-se em forma é um estilo de vida A meta é tornar a boa alimentação, o sono apropriado e os exercícios

Maria Fontaine e seu marido, Peter Amsterdam, são diretores da Família Internacional, uma comunidade cristã. ■ 13


Iris Richard

Quando ninguém notava O dia estava monótono e chuvoso. Sentada à janela em Leicester, na Inglaterra, eu observava a chuva

formar pequenos “rios” no vidro da janela. Um amigo me deixou ficar em sua casa enquanto ele estava em viagem e eu cuidava de um membro da família doente, em seus últimos dias. Da casa até a Leicester Royal Infirmary, onde a pessoa estava internada, era meia hora de ônibus e era ali que eu passava a maior parte dos meus dias. Eu havia economizado para essa viagem e tirei duas semanas de licença não remunerada do meu trabalho, prevendo uns dias extra, caso eu precisasse ficar algum tempo a mais, até que chegasse um parente que me substituísse. Mas as duas semanas se transformaram em três e meu substituto não havia chegado. Minhas economias começaram a escassear e, secretamente, comecei a me preocupar 14

quanto tempo eu conseguiria me manter com tão pouco dinheiro. Naquela noite, liguei para minha amiga, Myriam, e expliquei a situação. “Estou indo para aí!” —foi sua reação. “Posso tirar uma semana de férias e terei prazer em ficar com você.” Encontrei Myriam no terminal rodoviário na noite seguinte. Chovia torrencialmente, mas eu estava tão agradecida por vê-la que quase nem notei o mau tempo. Sua chegada foi uma resposta à oração. Senti que, pela presença de minha amiga, Deus estendera a mão para mim e para a pessoa a que eu estava assistindo. Além de me ajudar financeiramente —fez compras de supermercado e alugou um carro que facilitou nosso deslocamento entre a casa e o hospital e ainda possibilitou que levássemos a paciente para passeios curtos—, Myrian foi generosa com o tão necessário apoio moral. Eu estava emocionalmente

arrasada depois de dias testemunhando o sofrimento na ala de oncologia. “Como posso retribuir?” — perguntei-lhe quando a abracei para me despedir. “Nem pense nisso! Estou feliz que pude ajudar.” Quando pensei que ninguém notava meu desespero, Deus mostrou que estava atento, ao tocar o coração de uma amiga que veio em meu socorro. Essa experiência me lembrou de que há muita gente muito boa. Na próxima vez que Deus tocar meu coração para eu ser uma “boa samaritana”, sei que me sentirei mais inspirada para atender ao chamado, lembrando quanto a ajuda de Myrian significou para mim. Iris Richard é conselheira no Quênia, onde é ativa em trabalhos comunitários e voluntários desde 1995. ■


Nem todos podem realizar grandes feitos. Mas podemos fazer pequenos atos com grande amor. —Muitas vezes atribuído à Madre Teresa (1910–1997) O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso? —Romanos 9:21 NVI

Momentos de quietude

Abi May

PARA VALER A PENA VIVER Muito provavelmente não seremos chamados como Abraão para ser o pai de nações.1 Não há muitos com força

comparável à de Sansão para trazer à justiça os perpetradores do mal.2 É raro que recaia sobre a alguém a responsabilidade que teve Ester, de salvaguardar o povo de sua nação.3 A maioria não seria destemida como o profeta Daniel que pôs a vida em risco pela fé4 nem temos o vigor do apóstolo Paulo, que evangelizou quase todo o mundo conhecido de seus dias.5 De um modo geral, identificamonos mais com os anônimos que 1. Ver Gênesis 12. 2. Ver Juízes 6.

povoam os relatos dos Evangelhos, como os homens e mulheres sentados na relva escutando Jesus, desfrutando o almoço à base de pães e peixes e, de preferência, deixando que Suas palavras lhes penetrassem o coração e mudassem suas vidas.6 Não é preciso fazer algo extraordinário ou incrivelmente visível para que a vida tenha sentido. O segredo é identificar o chamado de Deus para nós e como podemos realizá-lo. Algumas das vidas mais cheias de significado se constroem por pequenas e inúmeras ações.

Querido Deus, conceda-me a fé para acreditar, o amor para preferir os outros a mim mesma, a confiança de compartilhar com os que estão em necessidade, a força para fazer o que precisa ser feito, a paciência para escutar e a bondade de dar atenção àqueles que me cercam. Gostaria de ser uma pessoa mais altruísta e mais atenciosa, como Você. Por favor, entre em minha vida e encha-me com o Seu Espírito de Amor, para eu aprender a pensar mais nos outros. Ajude-me a dar sentido à minha vida, não por meio de grandes realizações, mas pelo acúmulo de pequenos atos de relevância, um dia após o outro —não para buscar glória ou recompensas, mas porque quero seguir Seu exemplo, Aquele que foi por toda parte fazendo o bem.7

3. Ver Ester 4. 4. Ver Daniel 6. 5. Ver Atos 13–15,18. 6. Ver Mateus 14. 7. Ver Atos 10:38.

Abi May é escritora freelance e educadora na Grã-Bretanha. É também ativa na promoção do cuidado com a saúde. ■ 15


Com amor, Jesus

RESERV E T EMPO PARA AS PESSOAS É fácil ser uma boa pessoa, mas continuar presa ao seu pequeno mundo. Afinal, você já tem mais trabalho e outras responsabilidades do que acha que dá conta. Não surpreende que sobre tão pouco tempo para ajudar os outros. Quando Eu estava na terra, também era ocupado, especialmente a partir de quando me envolvi com o público. Tinha aproximadamente três anos e meio para realizar Minha missão, mas mesmo assim tinha tempo para as pessoas, algumas das quais não valiam Meu tempo. Deixei que as crianças viessem a mim, conversei com a samaritana à beira do poço, notei Zaqueu sobre a árvore e perguntei se podia ir à sua casa naquela noite. Também me detive para

encorajar milhares de outras pessoas. Foram conversas tão numerosas e aparentemente tão corriqueiras que sequer aparecem nos evangelhos, mas que tiveram um tremendo impacto na vida daquelas pessoas. Dediquei tempo para mostrar um pouco de amor, bondade e compreensão àqueles que Me cercavam e você pode fazer o mesmo. Conforme você manifestar amor nas coisas pequenas, derramarei mais do Meu amor para você, para que tenha mais para dar e mais para desfrutar. Você vai descobrir que doar “a mais” não é nenhum sacrifício. Eu mais que recompensarei e lhe darei inspiração e outras bênçãos, e assim farão também aqueles a quem você dedicar tempo.


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