Contato, edição para Abril de 2014: Um mundo em crise

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MUDE SUA VIDA.

MICROCOSMOS Mude o seu

A água Uma criança faz a diferença

Páscoa —ontem, hoje e eternamente O significado da ressurreição

MUDE O MUNDO.


Volume 15, Número 4

C O N TATO P E S S OA L a superação de crises Você anda preocupado com o futuro? Tem aquela impressão de “meu mundo caiu”? Sente-se incapaz de reagir, deprimido, isolado ou solitário? Se a resposta para alguma dessas perguntas for sim, saiba que não uma exceção. Infelizmente, são os desafios com os quais gente de todo o mundo tem de lidar. E os evangelhos nos dizem que pouco depois de Jesus ser morto, Seus seguidores tiveram sentimentos similares de incerteza e apreensão. Se já se perguntou como devem ter se sentido os discípulos de Jesus nos dias entre Sua crucificação e a Ressurreição, vai gostar de ler “Páscoa —ontem, hoje e eternamente”, artigo assinado por Peter Amsterdam, nas páginas 10 a 12 desta edição. No caso dos primeiros cristãos, a solução foi entender que o Mestre ainda estava com eles e que poderiam continuar contando com Ele. Essa percepção demorou a se formar, mas ver o Cristo ressurreto colocou tudo em perspectiva e confirmou para aqueles seguidores que Ele tinha o poder para lhes dar toda ajuda que precisassem. O mesmo vale para nós. Jesus não prometeu que a vida seria um céu de brigadeiro: bela, azul e sem turbulências. Contudo garantiu que jamais nos deixaria,1 e que sempre nos amaria.2 Mesmo que a viagem não seja sempre das mais fáceis,3 não estamos sós no caminho. Se não deixarmos as provações e os caminhos tortuosos nos vencer, mas os usarmos para fortalecer nossa conexão com Aquele que nos dá esperança, alegria e paz,4 superaremos nossas dificuldades e crises, tornando-nos cada vez mais fortes, como aconteceu aos discípulos de Jesus. Mário Sant’Ana Editor

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Editor Mário Sant'Ana Design Gentian Suçi Diagramação Angela Hernandez Produção Samuel Keating

© 2013 Aurora Production AG. www.auroraproduction.com Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Tradução: Mário Sant'Ana e Tiago Sant'Ana A menos que esteja indicado o contrário, todas as referências às Escrituras na Contato foram extraídas da “Bíblia

1. Ver Mateus 28:20; Hebreus 13:5 2. Ver João 14:21. 3. Ver João 16:33. 4. Ver Romanos 15:13. 2

Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.


Microcosmos Joyce Suttin

Lembro-me de aprender sobre a palavra “microcosmo” na 5ª série. Como

tarefa de casa, nosso professor deu a cada um de nós uma cordinha com 90 centímetros de comprimento e nos disse para fazer um círculo no chão, observar tudo que estivesse dentro dele e ver o que vivia nesse pequeno mundo. Isso me deixou fascinada com pequenos mundos. Passava horas sentada na grama, criando ambientes para formigas e outros insetos. Fazia cadeiras com folhas e vestidos de pétalas. Construía minúsculas estradas e casas com pauzinhos. O que mais fazia, contudo, era observar. Levava minha cordinha para onde quer que eu fosse e, de repente, via o

mundo com novos olhos. Gramados, pedras cobertas com musgo… Eu só tinha de traçar um círculo para criar um mundo. Na verdade, não os criava, modificava os que existiam para tentar melhorá-los. Hoje, ouço de tragédias nos noticiários e as manchetes me fazem chorar. Assisto aos debates políticos e me pergunto se chegará o dia em que as pessoas concordarão, ou se, por estarem tão absorvidos por seus argumentos, jamais verão o que têm em comum. Gostaria de poder mudar o mundo. Gostaria de deixá-lo mais limpo e mais bonito, acabar com a guerra e com a violência. Esses pensamentos me ocorriam enquanto caminhava de manhã e me lembrei da menina da 5ª série.

Percebi que, apesar de não poder mudar o mundo todo, posso tornar meu pequeno mundo um lugar melhor. Não posso mudar o coração de todos, mas consigo influenciar a pessoa que está caminhando ao meu lado. Posso criar um microcosmo de paz em um mundo de tempestades. Posso fazer de minha casa um abrigo de paz em meio às tormentas da vida. Posso trabalhar para tornar meu entorno mais bonito. Deus não me incumbiu de mudar um mundo enorme, mas posso encontrar maneiras de encher meu pequeno mundo com o amor de Deus cada dia. Joyce Suttin é professora e escritora. Vive em San Antonio, nos EUA. ■ 3


VER JESUS Marie Story

Em uma série de experiências conduzidas faz alguns anos, cachorros deviam

obedecer à ordem de “balançar”. E eles balançavam, quer ganhassem algum tipo de recompensa, quer não. Entretanto, os pesquisadores observaram que se, os cães vissem somente um sendo recompensado, os não premiados começavam a hesitar em obedecer ao comando e, com o tempo, paravam totalmente de cooperar. Sabiam quando estavam sendo tratados de forma desigual e não 1. “Estudo descobre que cães entendem injustiça e têm ciúmes” (http://www.npr. org/templates/story/story. php?storyId=97944783) 2. Fonte: http://www.wright-house. com/religions/christianity/motherteresa.html 3. Ver Mateus 25:45 (NVI). 4

gostavam nada disso.1 Se até animais podem entender quando algo não é justo, quanto mais as pessoas, quando não são tratadas como deveriam! Deuteronômio 25:13–14 nos adverte: “Não terás dois pesos na tua bolsa, um grande e um pequeno. Não terás duas medidas em tua casa, uma grande e uma pequena.” Em outras palavras, Deus está dizendo que devemos tratar os outros com equidade e jogar limpo. Mas, creio que há uma aplicação mais ampla. Com que frequência andamos por aí com pesos diferentes na bolsa? Quantas vezes somos generosos com nossos atos de bondade para com os que amamos, mas não com quem não nos damos ou não conhecemos tão bem? Quão comum é sermos parciais com algumas pessoas e indiferentes com outras? Sorrimos e somos gentis com um amigo, mas ignoramos o colega que nos incomoda.

Estamos prontos para ajudar um parceiro que precisa, mas temos agendas lotadas quando o pedido de socorro vem de alguém que não caiu em nossas graças. Temos prazer de emprestar ou até dar dinheiro para um amigo na hora do aperto, mas tentamos não ver aquele morador de rua instalado na esquina. Há motivos para não ajudarmos ou tratarmos todos da mesma forma sempre. Nem sempre é possível e, muitas vezes, simplesmente nos tornamos presas do parcialismo. Em vez de pensarmos “Por que eu deveria ajudar essa pessoa?” ou “Por que eu deveria ser bondoso com esse que me pede ajuda?” deveríamos nos fazer outra pergunta: “Por que não?”. Faz sentido entender que Jesus tivesse um relacionamento mais estreito com Seus discípulos, por exemplo, do que com as outras pessoas. Mas quando lemos Sua biografia, vemos que tratava todos da mesma forma. De oficiais do governo a


leprosos segregados, de líderes religiosos a trabalhadores da base da pirâmide socioeconômica, todos dEle recebiam respeito e consideração. O que mais impressiona é a equidade e bondade que conferia aos que O tratavam mal, que O desprezavam e faziam troça dEle. Foi assim inclusive com os que O mataram! Tenho dificuldades para ser imparcial, porque para isso teria de esquecer de mim mesma completamente. É da natureza humana constantemente avaliar e pesar as coisas, mesmo que subconscientemente, para determinar o possível retorno de cada investimento que fazemos. Nossa inclinação atual é dar preferência àqueles de quem há maior probabilidade de recebermos algo em troca, na forma de preferência, favores ou bondade. Se entendermos que alguém oferece pouca ou nenhuma possibilidade de recompensa pelo investimento, afastamo-nos com facilidade dessa pessoa.

Madre Teresa é alguém que não fazia esse tipo de cálculo. Suas doações iam para os mais pobres dos pobres —que nada tinham para oferecer em troca de tudo que fazia. Também interagia com celebridades e chefes de estado, mas algo que impressionava em sua vida era como tratava cada um com o mesmo amor e respeito. Não reservava maior deferência aos que o mundo considera mais “importantes”. Certa vez perguntou a um bispo que a visitava: “Gostaria de ver Jesus?” E o levou para conhecer um homem deitado em um estrado preto. Doente e magérrimo, o corpo do infeliz estava tomado por vermes. Diante do bispo assombrado, Madre Teresa se ajoelhou, abraçou o pobre e, enquanto o segurava, disse ao religioso: “Aqui está Ele. Não foi o que disse: ‘os menores na terra?’”2 Ela considerava todos igualmente

merecedores de amor, porque via Jesus em cada um. Jesus nos disse que tudo que fizéssemos (ou deixássemos de fazer) a “alguns destes mais pequeninos” faríamos (ou deixaríamos de fazer) a Ele.3 São raras as ocasiões em que somos chamados para amar em condições tão extremas como fazia Madre Teresa. Mais comuns são as situações em que somos tratados com indelicadeza pelos outros, ou temos de lidar com nossos preconceitos e indiferenças. Independentemente dos desafios que encontramos, devemos sempre buscar ter amor incondicional, para que Jesus esteja feliz quando nos disser: “O que você fez pelos outros, fez por Mim”. Marie Story é ilustradora freelance e designer. É membro da Família Internacional nos EUA. ■ 5


2100 Chris Hunt

Dois mil e cem! Não é uma data, mas um

número. Bono, vocalista da banda de rock U2 e também famoso por suas campanhas humanitárias, observa que é quantas vezes a pobreza é mencionada nas Escrituras: “É muito tempo de exposição.”1 Na introdução à Poverty and Justice Bible (Bíblia da Pobreza e da Justiça),2 a Sociedade Bíblia adiciona : “O interesse pelos pobres e a ênfase em comportamentos justos e igualitários fluem pela Bíblia como um rio. É uma coluna das leis do Antigo Testamento e ecoa nas palavras dos profetas. Está no cerne dos ensinamentos, das obras de Jesus e conforma as ações dos que O seguiram.” Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livra no dia do mal. —Salmo 41:1 Os pobres vêm a todos nós em diferentes formas. É preciso não lhes dar as costas, sempre que os encontrarmos. Dar as costas aos pobres é dar as costas a Jesus Cristo. —Madre Teresa (1910–1997) 1. Bono, On the Move, 2006 2. Ver http://www.povertyandjusticebible.org/. 3. Ver Deuteronômio 24:14–15. 4. Ver Levítico 23:22. 5. Ver Lucas 14:12–14. 6

Corações e mentes

Muitos dos atuais problemas de desigualdade e pobreza têm suas raízes na perda da empatia. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, “Quando nossa atenção se volta para nós mesmos, nosso mundo se contrai, pois nossos problemas e preocupações crescem aos nossos olhos. Quando nos interessamos pelos problemas das outras pessoas, nosso mundo se expande, nossos problemas migram para a periferia de nossas mentes, parecem menores e aumentamos nossa capacidade de nos conectar aos outros, ou seja, nossas ações passam a resultar da compaixão.” Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o ímpio não quer saber disso. —Provérbios 29:7

O vínculo com a justiça

Quando a Bíblia fala sobre “os pobres” não se refere apenas aos destituídos, mas aos oprimidos, indefesos e não representados. Há uma ligação clara em sua páginas entre pobreza e injustiça, assim como a justiça é obviamente vinculada à honestidade e à equidade. As Escrituras nos oferecem exemplos práticos, tais como: o pagamento de salários justos3 e partilha de parte da nossa receita.4 Jesus sugeriu que devemos ser amigos dos menos favorecidos.5


A esperança cristã […] capacita-nos a agir humilde e pacientemente, enfrentando injustiças visíveis no mundo ao nosso redor sem precisar da garantia que nossas habilidades e esforços erradicarão as desigualdades do mundo. A esperança cristã, afinal, não carece de ver o objeto de sua esperança (Hebreus 11:1). … Antes, exige apenas que confiemos que a maioria das ações aparentemente insignificantes produzam resultados. O copo de água fria dado à criança, a moeda da viúva oferecida no templo ou o ato de hospitalidade para com o estrangeiro não pareciam ter qualquer importância estratégica visível no contexto sociopolítico, mas contribuições assim são relevantes para a construção do reino de Deus, pois provocam a ação criativa de Deus e Sua soberana graça.—Craig M. Gay

Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra. —Deuteronômio 15:11 O Senhor pede de ti que pratiques a justiça e ames a misericórdia —Miqueias 6:8 RA O melhor indicador do caráter de uma pessoa é a maneira como ela trata aqueles que não podem lhe trazer nenhum benefício. —Abigail Van Buren (1918–2013)

O que posso fazer?

Mesmo com recursos limitados, é sempre possível fazer uma diferença. Podemos doar nosso tempo, ser íntegros em nosso trabalho, defender a causa daqueles cujas vozes não são ouvidas. Quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. O jejum que Me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os seus parentes. … Se acabarem com todo tipo de exploração, com todas as ameaças e xingamentos; se derem de comer aos famintos e socorrerem os

necessitados, a luz da Minha salvação brilhará, e a escuridão em que vocês vivem ficará igual à luz do meio-dia. —Isaías 58:6–7,9–10 NTLH Querido Senhor, Ajude-nos a seguir o Seu exemplo, atentos aos que cada dia se sentem marginalizados, que não encontram esperança, que acreditam que têm pouco a oferecer e são vencidos pelos desafios da pobreza. Ajude-nos a ampliar nossos horizontes, a fazer espaço para o estrangeiro, a estar atentos aos que se sentem invisíveis, a dedicar tempo para os de fora, a conversar com aqueles que enfrentam o silêncio, a restaurar a justiça e o valor. Dê-nos a coragem para abraçar essa causa, a determinação para nos unir aos outros para ver a graça de Deus em cada rosto humano e a fé para lançar mão das oportunidades. —Uma oração por justiça, do Church Urban Fund (www.cuf.org.uk) Chris Hunt mora na Grã-Bretanha e é leitor da Contato desde a sua primeira edição, publicada em 1999. ■ 7


A ÁGUA Anônimo

Aquela época do ano estava quente e seca. Não

chovia fazia um mês e as culturas estavam morrendo, as vacas não produziam mais leite, os riachos secaram e nós, como os outros agricultores daquela área, temíamos a falência, que somente a chuva poderia evitar. Eu estava na cozinha preparando o almoço quando vi meu filho de seis anos, Billy, caminhando resoluto e cuidadoso para a mata. Só conseguia ver suas costas. Minutos depois voltou correndo. Continuei fazendo os sanduíches, mas o notei indo outra vez para a mata, como quem sabia o que estava fazendo e procurando ter muito cuidado com algo. Depois de algumas dessas idas e vindas, decidi segui-lo, 8

sem que me notasse, em sua próxima incursão à mata. Ele parecia não ver a necessidade de evitar pequenos galhos e espinhos no caminho que o arranhavam. De repente, diante de mim, a cena mais impressionante: vários cervos grandes, na direção dos quais Billy avançou sem titubear. Quase gritei para o menino se afastar, pois um macho com chifres belos e grandes estava muito perto. Mas o animal não o ameaçou. Sequer se moveu quando Billy se ajoelhou diante de um filhote deitado no chão, obviamente sofrendo de desidratação e exaustão. Com grande esforço, o animalzinho levantou a cabeça para lamber a água que meu menino havia trazido nas mãos em concha.

Quando a água acabou, Billy voltou correndo e se escondeu atrás de uma árvore. Segui-o e o encontrei agachado diante da torneira que havíamos isolado para que não recebesse água. Depois de abrir o registro ao máximo, capturava com as mãos as poucas gotas que ainda escorriam da tubulação. Lembrei-me da bronca que ele havia levado por brincar com a mangueira, quando lhe disse para não desperdiçar água. Foi por isso que não pedira ajuda para socorrer o animalzinho. A tubulação estava praticamente sem água e demorava muito para que aquelas gotinhas enchessem seu “copinho” de transporte. Quando por fim se levantou, deparou-se comigo. Com os olhos rasos d’água, justificou-se: "Não estou desperdiçando".


INVESTIR NA ETERNIDADE Michael French

Abrir mão das coisas que desfrutamos ou desejamos

Com um nó na garganta, dei para Billy um copo cheio de água da cozinha e juntos voltamos para a mata. Deixei-o cuidar do animalzinho, orgulhosa de ver meu filho salvar uma vida. Lágrimas rolaram pelo meu rosto e caíram no chão, onde encontraram outras gotas… e mais gotas… e mais gotas... e mais. Olhei para cima e vi o céu escuro e barulhento. Billy e eu mal chegamos em casa antes de desabar o maior temporal. Alguns talvez digam que não passou de uma tremenda coincidência, que cedo ou tarde choveria de qualquer jeito. Tudo que posso dizer é que aquela chuva salvou nossa fazenda, assim como as ações de um garotinho salvaram uma vida. ■

pode parecer um sacrifício, mas quando chegarmos ao céu e virmos tudo na devida perspectiva, sentiremos vergonha de não termos nos sacrificado com mais alegria. Mesmo agora me sinto mal, lembrando-me dos trabalhos dos quais me esquivei, das discussões em que tive a última palavra, das vezes em que fui mais rápido e peguei o pedaço maior do bolo. Estou começando a ver quão efêmeras essas coisas são e o que realmente contou foi quando abri mão de alguns minutos do meu tempo de folga para ajudar alguém, não retruquei a um comentário mais áspero, ajudei alguém a salvar as aparências e guardei o maior pedaço de bolo para outra pessoa. Em outras palavras, as ocasiões em que dei quando poderia ter tomado, ou ajudei alguém a ter um dia um pouco melhor. Não parece mais ser um sacrifício tão grande abrir mão dessas coisas de

pouca importância, quando penso que estou investindo na eternidade. Como tanto me foi dado, Também devo dar: Por Tua benignidade, Cada dia devo amar. Dividirei as dádivas recebidas Com todo irmão que encontrar Que de mim precisar. Fui abrigado e alimentado, Por Tua grande bondade, Não posso ver a carência Sem usar de boa vontade E compartilhar meu pão, Minha casa e calor, E dar a alguém consolação. Muito amor recebi, De Você, meu Senhor, Uma riqueza sem par Para dividir com amor, Tanto em palavra como em ação Com todos que precisarem, Assim demonstrarei minha gratidão. —Grace Noll Crowell (1877–1969) ■ 9


Páscoa — Ontem, Hoje e Eternamente! Peter Amsterdam, adaptação

Qual foi o sentido da ressurreição para os primeiros discípulos, para todos

aqueles que O conheceram e nEle creram durante Sua passagem na Terra? E o que significa para nós hoje? Quando Jesus partiu o pão com os discípulos pela última vez, na Páscoa judaica, poucas horas antes de ser preso, para depois ser julgado e morto, eles já haviam entendido que Jesus era o Messias (Salvador) do qual falaram os profetas do Antigo Testamento. Entretanto, interpretavam Seu messianismo de uma forma diferente de como o entendemos atualmente. 1. Ver Marcos 10:35–38,41. 2. Ver Atos 1:6. 3. Ver João 12:13. 4. Ver João 12:12–18; Mateus 21:6–11. 5. Ver Lucas 24:17–21. 6. João 11:48 7. Ver Mateus 26:63–66. 8. Mateus 27:37 10

No primeiro século, o povo judeu na Palestina acreditava que Deus enviaria um messias, mas segundo a interpretação que faziam das Escrituras, ele seria um rei que libertaria Israel da opressão e dominação que, havia séculos, eram impostas por outras nações. Na maneira deles de entender, o reino por vir seria terreno. A forma como os discípulos viam Jesus até o momento da Sua morte ainda se baseava nessa interpretação. Esperavam que fosse o rei ungido do Israel físico. Foi o que teria motivado o pedido dos irmãos Tiago e João (filhos de Zebedeu), para se sentarem um à direita e o outro à esquerda de Jesus, quando Ele subisse ao poder.1 Em outras palavras, queriam ocupar posições privilegiadas quando Jesus governasse Israel. Mesmo após a Sua ressureição, Seus seguidores Lhe perguntaram quando Ele libertaria Israel e restauraria o reino físico.2 Os eventos dos dias anteriores à Páscoa judaica aumentaram essa

expectativa. Deve ter sido muito emocionante para os discípulos verem a multidão presente em Jerusalém para a festa da Páscoa dos judeus segurando folhas de palmeira e indo ao encontro de Jesus proclamando-O rei!3. Quando os peregrinos que não sabiam quem Ele era ou não entendiam o que estava acontecendo perguntavam sobre tudo aquilo, os que concorriam a Ele explicavam: “Este é o profeta Jesus.”4 Durante todo Seu ministério, curou multidões, alimentou milhares milagrosamente e transmitiu a palavra de Deus com autoridade. Fazia pouco tempo, ressuscitara Lázaro, Seu amigo. Sua popularidade estava no auge e, aparentemente, muitos tinham esperança que Ele fosse o tão esperado Messias. No entanto, de uma hora para outra, tudo parecia ter dado errado. Em questão de dias, Jesus foi morto – acusado injustamente, executado em um ato de barbárie e de uma maneira degradante. Esperava-se que o Messias trouxesse os pagãos à


justiça, não que sofresse violência e injustiça nas mãos deles. É possível imaginar como essa inesperada reviravolta nos acontecimentos foi devastadora para os discípulos! O professor que seguiam – o amado Mestre que tinham certeza ser o Messias – estava morto. Ficaram confusos e desanimados, como se percebe no diálogo entre dois deles no caminho para Emaús, no dia da ressurreição. Ressuscitado, Jesus se aproximou desses discípulos e passou a caminhar com eles. Quando lhes perguntou sobre o que falavam, ficaram quietos e tristes por um instante. Quando por fim relatavam sua história, disseram: “Esperávamos que fosse Ele quem redimisse a Israel.” Com esperanças estilhaçadas, os discípulos estavam profundamente entristecidos pela Sua morte.5 Mas a ressurreição mudou tudo! Deus ressuscitou o Messias supostamente “fracassado”. Os judeus

não contavam que Ele ressurgisse dos mortos, de modo que nem os discípulos nem o povo em geral estavam esperando para ver se Jesus cumpriria alguma promessa bíblica a isso relacionada. Um pouco antes disso, os principais sacerdotes chegaram à conclusão de que Jesus deveria morrer. Disseram: “Se o deixarmos prosseguir assim, todos crerão nele, e virão os romanos e tomarão o nosso lugar e a própria nação.”6 Durante o julgamento de Jesus, o sumo sacerdote indagou-Lhe se Ele era o Cristo, o Messias. Ao ouvir a resposta afirmativa acompanhada de citações do livro de Daniel sobre o Filho do Homem sentado à destra de Deus, acusaram Jesus de blasfêmia, uma ofensa punida com a morte segundo a lei judaica.7 Pôncio Pilatos, o procurador romano, condenou Jesus à morte com base na sua afirmação de ser rei. Não parecia considerá-lO uma ameaça,

mas devido à insistência da multidão e das autoridades judaicas, optou por crucificá-lO, em conformidade com as leis anti-sedição de Roma. A placa que Pilatos colocou na cruz dizia: “Este é Jesus, rei dos judeus.”8 Jesus foi executado porque fora rejeitado pelos líderes judeus e os romanos disseram que nenhum rei não autorizado podia viver. No entanto, Sua extraordinária e inesperada ressurreição anulou os vereditos dos judeus e do procurador romano. Apesar das leis do império segundo as quais os que se arvoravam reis deviam ser mortos e de os líderes judeus acreditarem que Jesus não fosse o Messias, o próprio Deus ignorou os julgamentos, confirmando Jesus como Rei e Messias ao ressuscitá-lO. Isso, por sua vez, validou tudo o que Jesus ensinara sobre Si mesmo e Deus Pai, sobre o reino de Deus e a salvação. A ressurreição, que provava que Jesus era de fato o Messias, junto 11


com a vinda do Espírito Santo, estabeleceu uma nova compreensão de Deus. A importância da ressurreição na época de Jesus foi que ela confirmou o que Ele dissera a Seu próprio respeito Até então, os discípulos não entendiam completamente o que Jesus lhes dizia sobre Sua morte e ressurreição. No entanto, durante os 40 dias que passou com eles depois de ressurgir dos mortos e antes de subir aos céus, Jesus lhes explicou as Escrituras, as quais Seus seguidores passaram então a entender.9 Por entenderem que pela encarnação, morte e ressurreição de Jesus a salvação estava disponível a todos, os apóstolos pregaram o Cristo ressuscitado, como lemos em todo o Livro dos Atos. Foi por isso que os autores do Novo Testamento escreveram que a ressurreição provava que Jesus era o Filho de Deus. 9. Ver Atos 1:3; Lucas 24:27,32. 12

Cinquenta dias depois da ressurreição, quando Jesus já havia ascendido aos céus, o Espírito Santo se manifestou no mundo também de uma nova maneira, passando a habitar nos crentes. Esses eventos motivaram os discípulos e a Igreja Primitiva a divulgar essa notícia por todo o mundo conhecido na época. Espalharam a boa nova de que, por meio de Jesus e do Seu sacrifício na cruz, a humanidade podia se reconciliar com Deus. Para os discípulos de então e para nós, hoje, a Páscoa é o fundamento da fé e da esperança cristã. Eles, inicialmente, ficaram desesperançados por causa de suas expectativas equivocadas, mas logo perceberam que, como Jesus havia ressurgido dos mortos, tudo o que Ele havia feito, dito e prometido era verdade. E isso continuou pelos séculos até o dia de hoje. Ao morrer por nossos pecados e ressuscitar dos mortos, o Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade

deu provas da Sua divindade e de que podemos confiar nEle. Sabemos que todas as Suas Palavras são verdadeiras porque Ele morreu por nossos pecados e depois ressuscitou. Sim, temos a salvação, a vida eterna; o Espírito Santo habita em nós; temos a promessa de resposta à oração, e de que se Lhe pedirmos, Ele vai nos guiar e orientar. Foi construída uma ponte entre nós e Deus. Somos Seus filhos, com Ele viveremos para sempre. A ressurreição nos dá a garantia da salvação, as forças de uma vida cheia de Cristo e a honra de vivermos com Deus para sempre. Regozijemo-nos no verdadeiro significado da Páscoa – ontem, hoje e eternamente. Feliz Páscoa! Peter Amsterdam e sua esposa, Maria Fontaine, são diretores da Família Internacional, uma comunidade cristã. ■


A BONDADE DE ESTRANHOS Katrin Prentice

Faz um ano, sofri uma forte

torção no tornozelo quando saía do cinema, pelo que precisei ir ao hospital para fazer uma radiografia e colocar uma tala. Felizmente, não houve fratura, mas o inchaço durou vários dias e demorou algum tempo para que pudesse voltar a andar normalmente. Refletindo posteriormente sobre aquele acidente, o que mais chamou minha atenção foi a bondade de pessoas que não conhecia. Veja ao que me refiro: Quando caí nas escadas, a dor que senti foi excruciante. Além disso, fiquei muito assustada. Imediatamente, um homem apareceu —nunca o havia visto até então, mas na hora certa ele estava no lugar certo — e ajudou meu marido, Brian, a me levar até o carro. Enquanto isso, conversava comigo

e procurava me animar com uma voz muito tranquilizadora. Quando chegamos ao carro, desapareceu, tão repentinamente como havia surgido. Então, quando discutíamos o caminho para o pronto-socorro, um jovem casal, que tampouco conhecíamos, aproximou-se em seu carro e se ofereceu para ir à frente, mostrando o caminho. Ao chegarmos ao hospital, os dois ficaram conosco até depois da radiografia, para ver se eu não precisaria de mais alguma coisa, especialmente porque meu marido não é fluente no idioma local. Vale ressaltar que já passava da meia-noite e aquelas eram pessoas que nunca havíamos visto. Foi reconfortante tê-los ali, para conversar. Além de tudo isso, o momento em que tudo isso aconteceu foi muito significativo para mim. Era véspera do

feriado de Páscoa e não pude deixar de relacionar a “bondade de estranhos” manifesta nessa minha experiência ao que Jesus fez pela humanidade naquele dia, há tanto tempo. No Seu acaso, porém, Ele não ajudou a levar alguém para o hospital ou lhe fez companhia até ter certeza que tudo estaria bem, mas foi o estranho que não mediu esforços e deu Sua vida por pessoas quem sequer O conheciam. Foi quando O reconheci nos braços fortes do homem que ajudou meu marido a me levar até o carro e nos sorrisos calorosos de Martin e Anastasia, que ficaram conosco noite adentro até terem certeza que tudo estaria bem. Ele vive em cada ato de bondade. Katrin Prentice é Coach sênior credenciada e mentora de coaches. Mora na Bulgária. ■ 13


s a d -se

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Sérgio estava passando por uma grave crise financeira e de tal forma se afundara em dívidas que, mesmo se vendesse duas vezes todos seus bens, não poderia honrar seus compromissos. Contraíra um empréstimo elevado em moeda estrangeira, cujo valor cresceu absurdamente em função de uma desvalorização repentina e violenta da moeda brasileira — e isso era somente parte do que devia. Seu sogro e principal credor chamou Sérgio para uma conversa: “Sei que está passando por um momento difícil e quero ajudar. Não precisa mais fazer os pagamentos mensais referentes ao que me deve. Na verdade, gostaria de dar a dívida por paga.” Isso daria a Sérgio o fôlego financeiro necessário para renegociar a dívida que tinha com o banco e manter sua empresa funcionando, mas recusou a oferta. — Não posso fazer isso. É uma questão de princípios. Pago o que devo. 14

s a d i dív M

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— O que você vem pagando por mês não cobre os juros do que lhe emprestei. Além disso, você é casado com minha única filha. Quando eu morrer — o que não deve demorar — tudo que tenho será dela e seu. Você não está se agarrando a princípios, mas a um orgulho burro. Irredutível, Sérgio manteve a decisão e continuou em sua tentativa vã de devolver ao sogro o que lhe tomara emprestado. Em pouco tempo, tornou-se insolvente, perdeu a empresa e quase tudo que possuía. Com certeza devemos pagar nossas dívidas, mas Sérgio agiu como muitos que recusam o perdão que Deus tão generosamente oferece à humanidade e insistem em tentar “equilibrar suas contas”. Com suas boas obras, sacrifícios e atos abnegados, tentam pagar o impagável, quando poderiam facilmente virar uma página e começar a escrever nova história para suas vidas, aceitando o pagamento que Ele fez pelos seus erros.

Jesus oferece perdão para todo homem, mulher e criança na face da Terra. Só precisamos aceitá-lo. Mário Sant’Ana é editor da Contato, fundador e diretor do Projeto Resgate, em Joinville SC. www.projetoresgate.org.br. ■

Receba o perdão gratuito que Deus oferece. Para isso, basta convidar Seu filho, Jesus, a entrar em sua vida: “Obrigado, querido Jesus, por morrer por mim e me perdoar. Abro meu coração para Você e aceito Sua dádiva.” Assumiu uma dívida que não era sua; Eu tinha uma dívida que não podia pagar; Precisava de alguém que meus pecados lavasse. Cristo Jesus pagou uma conta que eu jamais quitaria. —Ellis J. Crum


MOMENTOS DE QUIETUDE Abi May

Louvor de Páscoa

Imagine uma semente minúscula e dura, mais parecida a uma

pedra, presa em um lugar escuro. A chuva cai, o sol brilha e, no interior da semente, células começam a se multiplicar. Logo, um broto verde de vida desponta. É uma nova planta em crescimento. Agora pense em um pintinho ainda não nascido, confinado em uma concha dura e desconfortável, na qual surge uma rachadura, de tanto a pequena criatura bicar e arranhar. Sai então uma coisinha amarela, cheia de vida e fofinha. Estas são apenas algumas manifestações da nova vida que testemunhamos, na sequência das estações, ano após ano. É comum contarmos com o surgimento da nova vida, mas não que o que morre volte a viver. Depois de morto, o pássaro não voltará à vida. Contudo lemos na Bíblia que muitos testemunharam a ressurreição de Jesus: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E foi visto por Cefas, e depois pelos Doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos.”1 Como aquelas primeiras testemunhas, somos tomados pelo assombro. Como um corpo sem vida, machucado daquela forma, deitado em uma tumba fria e escura poderia ressuscitar? O milagre da ressurreição de Cristo desafia a ordem natural e está para lá da compreensão humana. Contudo, o milagre não termina aí. Como C. S. Lewis (1898–1963) escreveu: “Jesus abriu à força uma porta trancada desde a morte do primeiro homem. Enfrentou e derrotou o rei da morte. Desde então, tudo se tornou diferente.” Abi May é escritora freelance e educadora na Grã-Bretanha. ■ 1. 1 Coríntios 15:3–6

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a Sua grande misericórdia, Ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês. —1 Pedro 1:3–4 NVI Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o sempre! —Jesus, Apocalipse 1:18 A melhor notícia que o mundo já recebeu veio de um cemitério. —Anônimo As barras de ferro são quebradas, Cristo, antes morto, ressurgiu para a vida, Vida gloriosa, vida imortal Nesta sagrada manhã de Páscoa: Cristo triunfou e conquistamos Pela Sua maravilhosa façanha, Com Ele a vida eterna Pela Sua ressureição, somos renascidos. —C. Wordsworth (1807–1885) ■ 15


Com amor, Jesus

PRÍNCIPE DA PAZ Certa vez, quando Eu atravessava o Mar da Galileia com Meus discípulos, nossa embarcação foi tomada por uma tempestade que ameaçava naufragá-la. Meus companheiros ficaram assustados, mas ordenei que a tempestade cessasse: “Cala-te, aquieta-te!” E o vento e as ondas Me obedeceram.1 Assim será em breve, quando Eu disser “basta” e fizer com que todas as tempestades cessem e secar as lágrimas dos oprimidos e dos que hoje são cruelmente atormentados Até lá, você pode ter paz verdadeira e permanente no seu coração, capaz de suportar qualquer coisa. Basta Me receber como Salvador e recorrer a Mim, o Príncipe da Paz, na sua hora de necessidade. “No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo.2 Sempre estarei com você. 1. Ver Marcos 4:35–39 2. João 16:33


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