MUDE SUA VIDA.
MEUS (ANTI) HERÓIS Gente comum com histórias extraordinárias
O sal da terra Não seja insosso
O vencedor Reflexões sobre um jogo de futebol
MUDE O MUNDO.
Volume 15, Número 9
C O N TATO P E S S OA L
e m busca de h eróis
Adoro histórias sobre heróis e sei que não sou o único. Da Epopeia de Gilgamesh, uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial; passando pelas aventuras de Aquiles, decantadas por Homero; ao idealismo do Quixote de Cervantes; e à abnegação de Peri, de José de Alencar, os feitos incríveis de bravura, generosidade e sabedoria dos protagonistas desses clássicos inspiraram e continuam inspirando outros escritores, pintores, músicos e pensadores. Por outro lado, esses ícones das mais nobres virtudes desejadas pelos homens parecem estar em um patamar excessivamente alto para serem imitados pela maioria dos mortais comuns que não frequenta os pódios do mundo da ficção. Dentre estes, contudo, há muitos cujos cotidianos se encontram repletos de atos de abnegação e coragem. São os bombeiros, os paramédicos, os que lutam pela causa dos pobres e excluídos, assim como os professores, os jornalistas, os voluntários, as mães e tantos outros. O fato é que cada ser humano tem dentro de si um pouco de herói. Mesmo sem os poderes do Super-Homem, o estoque de engenhocas do Batman ou o estilo impecável do James Bond, enfrentamos problemas muito mais complexos que as situações binárias, preto-no-branco, do bem contra o mal das histórias de ficção. O mundo real tem uma demanda constante de gente disposta a defender o que é certo e se mobilizar em favor dos que mais precisam. Dizem que o antônimo de herói não é vilão, mas omisso. A linha que costura os artigos nesta edição da Contato é a postura daqueles que se recusaram a ficar olhando quando a necessidade se apresentou. Tomaram uma atitude — grande ou pequena — e, quando foi preciso, deixaram suas impressões digitais nas vidas dos que cruzaram seus caminhos. E como isso afeta a você e a mim? Vamos ver que, para nossa felicidade, ser um herói ou uma heroína pode ser mais fácil do que se imagina. Mário Sant’Ana Editor
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Contamos com uma grande variedade de livros, além de CDs, DVDs e outros recursos para alimentar sua alma, enlevar seu espírito, fortalecer seus laços familiares e proporcionar divertidos momentos de aprendizagem para os seus filhos. Para adquirir nossos produtos, obter mais informações, ou se tornar um assinante da Revista Contato, visite nossos sites ou escreva-nos. Assinaturas, informações e produtos: www.activated.org/br www.contato.org www.lojacontato.com.br E-mail: revista@contato.org
Editor Mário Sant'Ana Design Gentian Suçi Diagramação Angela Hernandez Produção Samuel Keating
© 2014 Activated. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Tradução: Mário Sant'Ana e Tiago Sant'Ana A menos que esteja indicado o contrário, todas as referências às Escrituras na Contato foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.
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xícaras de chá
Alexander Sichrovsky
Logo após concluirmos o Ensino Médio, dois amigos e eu
decidimos viajar pelos países da margem oeste do Mediterrâneo. Era 1969 e as ruas da Europa fervilhavam com jovens que perambulavam em busca de sentido para suas vidas. Tomamos o trem em Nápoles, Sul da Itália, e depois passamos a noite em uma balsa que nos levou à Tunísia. Em seguida, viajamos pelo litoral norte da África pegando carona em caminhões e automóveis. Em determinada ocasião, no meio do nada, sem nenhum sinal de uma vila ou mesmo uma aldeia, vimo-nos envolvidos pela noite. Sem alternativa, fomos para a praia e esticamos os sacos de dormir sobre a areia morna, para aí dormirmos. Bem cedo na manhã seguinte, enquanto nos preparávamos para seguir viagem, vimos um homem de
idade avançada caminhar lentamente em nossa direção. Percebi então uma choupana na qual não reparara na noite anterior. O velho maltrapilho trazia na mão uma bandeja. Vai querer nos vender alguma coisa, pensei. Enganei-me. Ele trazia três xícaras de chá de hortelã. Aos dezoito anos, eu era imaturo e inexperiente, mas fiquei profundamente sensibilizado. Por que aquele velho, que com grande esforço conseguia sobreviver naquele lugar inóspito, faria chá para oferecer a estranhos? Não fazia ideia de quem éramos nem jamais sequer nos havia visto, mas entendia que tinha o dever de demonstrar hospitalidade. Enquanto saboreávamos agradecidos a doce e aromática bebida, pensávamos como retribuir a bondade daquele homem. Oferecer-lhe dinheiro seria um insulto. Revirando as mochilas, encontramos algumas
latas de comida em conserva com as quais o presenteamos, como um sinal de gratidão. Não foi possível conversar muito com ele. Seu francês era ruim e o nosso, bem pior. Por isso, depois de lhe agradecer, pedimos licença e voltamos para a estrada. Os três ficamos em silêncio a maior parte do restante daquela manhã, ainda refletindo sobre o encontro com o homem bondoso que tanto nos impressionara. Do ponto de vista econômico, ele tinha muito menos que nós, mas de bom grado compartilhou do que dispunha. Éramos estrangeiros, não falávamos seu idioma, mas essas barreiras foram facilmente superadas por aquele coração generoso. Alexander Sichrovsky é fotógrafo freelancer em Taiwan. ■ 3
MEUS
(anti) HERÓIS Phillip Lynch
É comum os relatos históricos ou literários
romantizarem seus heróis. Seus defeitos — partindo do princípio que os tinham — não costumam chegar a esses textos. Contrastantemente, os livros bíblicos não conferem o mesmo tratamento aos protagonistas dos grandes feitos narrados em suas páginas. São descritos sem maquiagem, o que, a meu ver, acrescenta credibilidade à Bíblia. Na verdade, é marcante como seus “heróis da fé”, à exceção de Jesus, não tinham nada de perfeito.
1. Ver Marcos 3:13–19. 2. Marcos 14:71 3. João 21:20 4. Mateus 20:20–24 5. Marcos 9:33–34 6. Ver Lucas 8:2. 7. Gálatas 1:13 4
Ler sobre os discípulos de Jesus que Lhe eram mais próximos no tempo em que passou na Terra é especialmente animador para mim.1 Comecemos com Pedro. Tradicionalmente visto como o chefe dos apóstolos, destaca-se de forma menos honrosa pelo fato de haver negado sequer conhecer Jesus justamente na noite em que Ele mais precisou do seguidor. E fez isso três vezes. “Ele [Pedro] começou a praguejar e a jurar: ‘Não conheço esse homem de quem falais!’”2 Além de mentir, praguejou? Isso não parece uma atitude muito santificada. No Evangelho do qual é autor, João se autointitulou “o discípulo a quem Jesus amava”3, mas Mateus relata um incidente envolvendo João e o irmão deste, Tiago, de forma menos honrosa: “Então se aproximou dEle a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos e, adorando-O, fez-Lhe um pedido.
Perguntou Ele: ‘Que queres?’ Disse ela: ‘Concede que estes meus dois filhos se assentem, um à Tua direita e outro à Tua esquerda, no Teu reino.’ Jesus, porém, respondeu: ‘Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que estou para beber' ResponderamLhe: ‘Podemos’. Disse-lhes Jesus: ‘Na verdade bebereis o Meu cálice, mas o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda não Me pertence concedê-lo. Esses lugares pertencem àqueles a quem Meu Pai os preparou.’ Quando os dez ouviram isto, se indignaram contra os dois irmãos.”4 Não era a primeira vez que os discípulos discutiam entre si quem deveria ser o chefe do pedaço. “Chegaram a Cafarnaum. Estando Ele em casa, perguntou-lhes: ‘Que estáveis discutindo pelo caminho?’ Mas eles se calaram porque pelo caminho tinham discutido entre si qual era o maior.”5
Mateus era publicano. Os publicanos, ou coletores de impostos, eram universalmente considerados salafrários. Eram peças-chave no sistema romano de coleta de impostos, que leiloava os direitos de arrecadação nos territórios conquistados. O valor oferecido pelo arrematante era o que este deveria entregar anualmente ao tesouro imperial. Na prática, esses exatores privados tinham a liberdade de exigir do contribuinte tanto quanto quisessem e de ficar com a diferença entre o arrecadado e o entregue ao governo. Decidiam, portanto, quanto cada cidadão deveria pagar de imposto — um sistema cruel e injusto, especialmente pesado para os mais pobres. Segundo documentos históricos, alguns notáveis em Roma, tais como Bruto e Cássio, conspiradores do assassinato de Júlio César, tinham empresas dessa natureza, cujas operações terceirizavam, pois, tecnicamente, os romanos não podiam se envolver em um negócio tão sórdido.
Mateus era parte desse esquema, provavelmente na condição de subcontratado. Pelo que parece, tinha um ponto privilegiado em um dos portões da cidade, onde podia cobrar os tributos sobre as mercadorias que entravam e saíam por ali. Para os judeus devotos, esse relacionamento financeiro com os gentios tornava Mateus impuro do ponto de vista ritual e afastava dele qualquer chance de ser bem visto na sociedade judaica. E os demais discípulos? André, Tadeu, Felipe e Natanael (também conhecido por Bartolomeu) quase não aparecem nos Evangelhos. Simão fora integrante dos zelotes, facção revolucionária violenta que jurara expulsar os ocupantes romanos e derrubar os governantes fantoches de Israel. Tomé ficou famoso por haver duvidado da ressurreição de Jesus. Maria Madalena fora prostituta e
passou a acompanhar o grupo depois de Jesus exorcizar sete demônios que a possuíam6 — contudo, foi uma das primeiras pessoas a ver Jesus ressuscitado. E o que dizer do herói do Livro de Atos? Paulo era um fariseu convertido que, em suas próprias palavras, “sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava.”7 Mas esses discípulos — gente comum que se tornou extraordinária pela sua fé e lealdade a Jesus — são meus heróis e heroínas. Tornaram-se para mim fontes de inspiração por terem sido fiéis às suas vocações e realizado maravilhas por Deus e pelos outros, apesar de suas fraquezas e deficiências. Phillip Lynch é romancista e comentarista de assuntos espirituais e escatológicos. Vive em Atlantic, no Canadá. ■
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a AVALANCHE! Michael Sharp
Victor era carabinero
— policial — na remota praça alfandegária Los Libertadores, em um ponto elevado da Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Chile e Argentina. Por ter recebido treinamento especial para resgate nas montanhas, era comum ser destacado para áreas perigosas como essa. Gostava das montanhas, mas sentia saudades da sua família. Era 3 de julho — auge do inverno — a uma temperatura de -15º C, quando uma nevasca com ventos de 100 km por hora que causavam uma sensação térmica ainda mais rigorosa, açoitava o acampamento onde Victor e outras 57 pessoas estavam recolhidos para a noite. Subitamente, ouviu-se um estrondo. Instintivamente, Victor olhou para o relógio que marcava oito e trinta e oito. Como pequenos temores são comuns naquela região, não deu muita atenção no início até que o abalo se intensificou e as luzes se apagaram. Em questão de segundos, o telhado desabou e o policial se viu preso entre uma parede e um móvel pesado. A temperatura caía rapidamente e ele 6
começou a se perguntar se escaparia daquela situação, provocada pelos ventos que causaram a precipitação da enorme massa de neve acumulada em um pico próximo, acima do complexo aduaneiro. Victor conseguiu se desvencilhar dos escombros e abriu caminho pela neve até a superfície. Viu então que alguns dos outros prédios também haviam desabado. Ao ouvir um choro de criança, Victor revirou e cavou em meio aos escombros até que encontrou o bebê, que usava nada mais que fraldas e uma camiseta, mas sem nenhum ferimento. Abriu a jaqueta que vestia
e nela encaixou a criança que passou a receber o calor do tórax do policial. Sem aquecimento nem abrigo, os até então sobreviventes em pouco tempo congelariam até a morte. Antes da avalanche, o único meio de comunicação entre o acampamento e o resto do mundo era um rádio intercomunicador que tinha ficado totalmente destruído pelo deslizamento. Victor entendeu que demoraria dias até que alguém se desse conta do ocorrido, de forma que a única alternativa seria andar até o vizinho mais próximo — uma estação de esqui dois quilômetros dali — e organizar uma operação de resgate.
Para Victor, andar dois quilômetros na neve seria tão fácil quanto atravessar sua sala de estar, mas naquelas circunstâncias — sob forte nevasca e à noite — o risco de morte era enorme para ele e para a criança que trazia em sua jaqueta. Victor perguntou se alguém era voluntário para acompanhá-lo, mas ninguém se dispôs. Por isso, partiu com o bebê em busca de socorro. Calçava sapatos especiais que o ajudavam a se deslocar sobre os enormes montes de neve, mas sofria a ação dos ventos fortes que arremessavam contra ele a neve fresca. A maior parte do tempo, Victor não podia ver
mais que um passo à frente. Quando saiu, sabia em que direção seguir para chegar à estação de esqui, mas, com visibilidade quase zero, entendia o risco de passar direto pelo vizinho, sem perceber. Oito horas mais tarde, Victor chegou trôpego e exausto à estação de esqui. Depois de entregar a criança aos que ali estavam, tomar um banho quente e fazer uma rápida refeição, estava pronto para guiar uma das três equipes de resgate em busca de sobreviventes. Como resultado de suas ações, 31 pessoas foram salvas. Quando ouvi Victor contar sua história meses depois do ocorrido, indaguei a respeito de um detalhe importante que me pareceu estar faltando no relato, mas ele se esquivou da pergunta. No dia seguinte, sua esposa me mostrou um álbum com recortes de jornais sobre a avalanche e como ele havia sido condecorado como herói pelo presidente chileno. Procurei nos artigos a resposta para minha pergunta, mas nenhum explicava como ele encontrara a estação naquela tempestade, em meio a uma
escuridão quase absoluta. Por fim consegui persuadir a esposa a me revelar o segredo. “Ele não fala muito disso, porque acha que as pessoas vão dizer que está louco”. Então fez uma pausa, provavelmente se perguntando se eu teria a mesma reação, e continuou. “Quando Victor estava atravessando a tempestade, surgiu uma luz brilhante de um lado, como se fosse a luz de um poste. Na medida que ele caminhava penosamente pela neve alta, a luz também avançava e iluminava o caminho, passando a parecer mais com um holofote. Ela o guiou direto à estação de esqui. Em diferentes ocasiões, afundou tanto na neve que não conseguia se levantar, mas toda vez sentiu alguém o segurar, levantá-lo e ajudá-lo a retomar o caminho. E tem mais: a luz que o guiou não era uma luz qualquer. Quando Victor olhava diretamente para ela, via o rosto de Jesus.” Michael Sharp é professor de inglês na Colômbia e membro da Família Internacional. ■ 7
Alcançando a
GRANDEZA Você talvez não se sinta um grande homem ou uma grande mulher por não ter, a seu ver, as qualidades que caracterizam os heróis. O
próprio Apóstolo Paulo se lamentou: “Tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.”1 Contudo, Deus pode nos ajudar a superar nossas limitações, se para isso recorrermos ao Seu Filho, Jesus. “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”2 [Um herói é] alguém admirado pelas suas realizações e nobreza de caráter. Digo sem hesitar que vivemos cercados de heróis que, diariamente, enfrentam desafios com grande integridade e humildade. — William D. Holland As maiores ações do homem são realizadas nas lutas do dia a dia. A vida, os infortúnios, a solidão, o abandono e a pobreza são campos de batalha que guardam seus próprios heróis — heróis discretos que, em muitos casos, são muito mais gloriosos que os ilustres. — Victor Hugo (1802–1885), francês, novelista, poeta, dramaturgo do Movimento Romântico 1. Romanos 7:18
Quem disse que os heróis têm de vestir capa e possuir superpoderes? — Josh Putnam, ao escrever sobre um projeto comunitário para tirar fotos que “celebrassem os heróis cotidianos, que vivem entre nós.”3 Meus heróis são os sonhadores, os homens e as mulheres que, por meio de pequenas ações ou grandes empreendimentos, tentam tornar este mundo um lugar melhor do que era quando aqui chegaram. Alguns alcançam êxito, outros fracassam, a maioria combina as duas coisas. Heróico é o esforço. Vençam ou não, admiro os que lutam a boa milícia. — George R. R. Martin (nascido em 1948), escritor americano, autor da série livros de fantasia épica As Crônicas de Gelo e Fogo
2. 1 Coríntios 15:57 3. http://www.charlotteviewpoint.org/ article/2709/Celebrating-the-everyday-heroes-in-our-midst 4. http://blog.richmond.edu/heroes/ 5. Ver Mateus 18:4. 8
A verdadeira grandeza e a verdadeira liderança não se manifestam quando os homens são reduzidos ao serviço de alguém, mas quando alguém os serve abnegadamente. — Autor desconhecido
Os heróis invisíveis talvez jamais cheguem aos livros escolares, ganhem páginas próprias na Wikipédia nem postem um vídeo no YouTube que se torne viral. Mas são indispensáveis membros da sociedade. Esses heróis anônimos são os mais essenciais que existem. —Scott T. Allison4 Guia os humildes no que é reto e lhes ensina o seu caminho. — Salmo 25:9
A cada dia, mais me convenço que todo indivíduo possui algumas qualidades dos heróis. Enfrentamos desafios e dificuldades. Todos encontramos, no curso de nossas vidas, momentos em que nos erguemos acima de nossos instintos primitivos para nos tornarmos anjos atendendo a um chamado dos céus. É nessas horas que nos tornamos heróis, no mais perfeito sentido da palavra. —William D. Holland
O que não preservar a humildade há de perder a grandeza. — São Francisco de Sales (1567–1622) Se o verso de uma canção uma lágrima secar, Ou como bálsamo aliviar a dor de um coração, Esteja certo que Deus não o há de olvidar E que a vida do cantor não terá sido em vão. — Walter Malone (1866–1915), advogado e poeta americano Ninguém que torna mais leve o fardo de outrem é inútil. — Charles Dickens (1812–1870), escritor inglês e crítico social.
As recompensas da humildade e do temor do Senhor são a riqueza, a honra e a vida. — Provérbios 22:4 (NVI)
Anseio por realizar tarefas grandiosas e nobres, mas é meu principal dever realizar as humildes como se fossem
grandiosas e nobres. O mundo gira, não pela força dos empurrões dos seus heróis, mas pela soma dos pequenos impulsos dados pelos trabalhadores honestos. — Helen Keller (1880–1968), escritora, conferencista e ativista social americana. Foi cega e surda desde a infância. O mundo mede a grandeza em riqueza acumulada, eloquência, habilidade intelectual ou até mesmo pelas façanhas no campo de batalha. Mas assim a mede o Senhor: “Aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.”5 — John Henry Jowett (1864–1923), pastor e escritor inglês O verdadeiro heroísmo é incrivelmente sóbrio e nada dramático. Não sente a necessidade de superar todos os outros custe o que custar, mas serve os demais, sem hesitar. — Arthur Ashe (1943–1993), tenista profissional afroamericano, ganhador de três títulos Grand Slam.
Cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes — 1 Pedro 5:5 Não confunda notoriedade e fama com grandeza. Muitas celebridades do mundo de hoje não conseguiram fama e fortuna por méritos. Por outro lado, vi grandes homens e mulheres desempenhando os papéis menos reconhecidos. A grandeza é a medida do espírito de uma pessoa, não o resultado de uma classificação segundo parâmetros humanos. Ninguém, especialmente os meros seres humanos, pode atribuir grandeza a outra pessoa, pois não é um prêmio por realizações. A grandeza pode coroar a cabeça de um servente tão rapidamente quanto a de alguém nos altos escalões de uma organização. — Sherman G. Finesilver (1927–2006), juiz federal dos Estados Unidos. Agora permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor, mas o maior destes é o amor. — 1 Coríntios 13:13 ■ 9
O sal da terra
Peter Amsterdam, adaptação
“Vós sois o sal da terra.” —
Mateus 5:13 Por sermos cristãos, procuramos ser agentes de mudanças na vida das pessoas e, de forma mais ampla, na sociedade. Isso pode significar que vamos criar dificuldades e nadar contra a corrente. Nem sempre o que os cristãos fazem e valorizam estará em harmonia com o status quo. Há mais de uma década, exortando universitários sobre a necessidade de superar a tentação da mediocridade e conformidade, o Papa João Paulo II disse: “Ao seguir Cristo, o Rei 1. Pronunciamento ao Congresso UNIV 2002 em Roma, conforme notícia veiculada pela agência de notícias Zenit, 25/03/2002. 2. Colossenses 4:5–6 3. 1 Pedro 3:15 4. Marcos 9:50 5. Ver Mateus 5:13–14. 10
crucificado, os crentes aprendem que reinar é servir, buscar o bem dos outros e descobrem que o verdadeiro significado do amor é expresso no sincero dom de si.” Viver nesse espírito torna o cristão no “sal da terra”.1 Os que seguem Jesus são chamados para dar sabor às coisas com o tempero da fé que levamos aos outros. Em Colossenses, Paulo disse: “Sejam sábios na sua maneira de agir com os que não creem e aproveitem bem o tempo que passarem com eles. Que as suas conversas sejam sempre agradáveis e de bom gosto, e que vocês saibam também como responder a cada pessoa!”2 O conselho apresenta um equilíbrio entre a necessidade de aproveitarmos as oportunidades para dividir com os outros a mensagem da nossa fé, mas também de sermos agradáveis e interessantes na maneira como falamos e no conteúdo de
nossa conversa, temperando nossa fala com o sal da fé e do exemplo cristão. É isso que, segundo Paulo, nos possibilitará oferecer a todos uma resposta, como também admoestou Pedro: “Estejam sempre prontos para responder a qualquer pessoa que pedir que expliquem a esperança que vocês têm.”3 Não seja insosso Caio Plínio Segundo, o naturalista romano que viveu no primeiro século, escreveu em uma de suas enciclopédias: “Nada é mais útil que o sal e o sol.” Jesus disse: “O sal é bom. Mas se o sal se tornar insípido, como retemperá-lo?” E advertiu: “Tenham sal em vocês mesmos.”4 Cabe a cada um conservar em si as qualidades do sal, para que possamos temperar o mundo à nossa volta com Seu sabor. O objetivo é manter um
O sal é uma necessidade da vida e um mineral usado desde os tempos antigos em muitas culturas como tempero, conservante, desinfetante, em ofertas cerimoniais e até como unidade de troca. A Bíblia faz muitas referências ao sal. Em vários contextos, é usado metaforicamente para expressar permanência, lealdade, durabilidade, fidelidade, utilidade, valor e purificação. — John L. McKenzie (1910–1991), teólogo católico americano.
1 relacionamento vivo, profundo e significativo com Jesus, manifestar um exemplo cristão, ser um praticante de Seus ensinamentos e trabalhar em união com os outros. É isso que significa ser o sal da terra, a luz do mundo e uma cidade edificada sobre o monte, pois atrai os outros para Deus, dando-lhes a oportunidade de conhecê-lO, amá-lo e ajudar os demais a fazerem o mesmo.5 A busca por praticar e defender os verdadeiros valores cristãos nos permite cumprir a incumbência que Ele nos deu de sermos o tempero da vida neste mundo, de acrescentarmos sabor e sentido à vida dos outros, a preservar as boas qualidades e dividir com os demais a nossa fé. Peter Amsterdam e sua esposa, Maria Fontaine, são diretores da Família Internacional, uma comunidade cristã. ■
Nos tempos bíblicos, o sal era uma commodity preciosa. Dava sabor aos alimentos, era um importante conservante, deixava as pessoas com sede de algo mais. Jesus queria que Seus discípulos dessem sabor ao mundo usando para isso Seus ensinamentos, que preservassem a verdade que Ele proclamou e deixassem todos com sede de mais. ... Se nós, Seus discípulos, fizermos isso, também seremos “a luz do mundo”, ou seja, espalharemos por todo lugar a luz que vem do alto, para lutar contra a escuridão criada pelo mal e pelo pecado, que tantas vezes gera ignorância, preconceitos e egoísmo. Quanto mais olharmos para o rosto de Jesus, mais luz veremos e mais seremos transfigurados por ela. As obras dos discípulos os tornam uma boa influência para o mundo. — Thomas Rosica (nascido em 1959), CEO da Canada's Salt + Light Television network
1 Como o sal tem a propriedade de temperar os alimentos quando usado em poucas quantidades e de forma dispersa, os cristãos também devem dar sabor ao mundo dispersando-se nas várias nações da Terra. Ao viver segundo os ensinamentos divinos, os cristãos também preservam a Terra, diminuindo a velocidade da degradação moral nas sociedades em que se encontram. — Extraído do site Wiki Answers ■ 11
O
Vencedor Autor desconhecido
Eu assistia a umas crianças jogar futebol. Tinham
uns cinco ou seis anos de idade, mas o jogo era para valer. Além dos respectivos técnicos, as duas equipes contavam com o apoio de suas pequenas torcidas, formadas por pais que acompanhavam a partida. O jogo estava bem equilibrado e como eu não tinha nenhum vínculo especial com nenhum dos jogadores, pude relaxar e desfrutar da partida sem a distração e a ansiedade de ganhar ou perder. Seria bom se aqueles pais conseguissem fazer o mesmo. O placar permaneceu intacto no primeiro tempo. Os atletas eram cômicos. Desajeitados e intensos como somente as crianças conseguem ser, tropeçavam nas próprias pernas e até na bola, a qual, com frequência, os pezinhos ansiosos erravam na hora do chute. Mas nada disso interessava. Eles estavam se divertindo! 12
No segundo tempo, o técnico do Time Um tirou os titulares, com exceção do melhor jogador e do goleiro, e colocou os reservas. O jogo mudou radicalmente. Acho que vencer é importante até para alguém de cinco anos, porque o técnico do Time Dois manteve seus melhores jogadores em campo, que deram um baile no segundo quadro da equipe adversária. O Time Dois deu muito trabalho ao goleiro do outro, que, mesmo demonstrando ser excepcionalmente talentoso para alguém da sua idade, não conseguiu fazer frente aos três e às vezes quatro atacantes, igualmente bons. E o Time Dois inaugurou o placar. O jovem arqueiro fez de tudo e se atirou corajosamente para tentar impedir que a bola passasse. O Time Dois abriu dois pontos na frente.
O defensor da cidadela do time em desvantagem foi à loucura e passou a berrar, correr e pular nas bolas com todo vigor, mas não pôde impedir o terceiro gol. Logo percebi quem eram os pais do goleirinho. O homem, ainda de gravata, obviamente tinha ido direto do escritório. Ele e a mãe torciam e procuravam animar o garoto, mas, depois do terceiro gol, a atitude do rapazinho mudou. Viu que seus esforços eram inúteis e que não podia fazer frente ao ataque oponente. Não desistiu, mas sua frustração estava estampada no rosto.
O pai também mudou. Deixou de animá-lo, de gritar conselhos para o filho e de pedir que se esforçasse mais. Passou a dizer para o garoto que tudo estava bem e que deveria ficar firme. Então veio o quarto gol. Eu sabia qual seria a próxima cena. Já vi acontecer antes. Aquela criança precisava muito de ajuda, mas não havia ajuda disponível. Pegou a bola no fundo da rede, mandou-a para o meio do campo e desatou a chorar. As lágrimas corriam sem parar pelo seu rosto. Caiu de joelhos. O pai se levantou, mas a esposa o puxou e disse: “Não faça isso! Você vai envergonhá-lo.” O homem não quis saber. Entrou em campo de terno, gravata e sapato social, correu até o filho e o tomou nos braços para que todos soubessem que aquele era o seu menino. Depois o abraçou, beijou e chorou com ele. Nunca tive tanto orgulho de um homem. O pai tirou o garoto do campo e, próximo à lateral, disse-lhe: — Filho, estou muito orgulhoso de você! Você jogou muito bem! Quero que todo o mundo saiba que você é meu filho.
— Papai — falou o menino aos soluços — não consegui impedir os gols. Tentei muito, mas mesmo assim eles fizeram quatro gols em mim. — Não interessa quantos gols você levou. Você é meu filho e tenho orgulho de você. Quero que volte lá e termine o jogo. Sei que tem vontade de desistir, mas não pode. Eles vão fazer mais gols, mas não importa. Agora, vá. Isso fez uma diferença importante para o rapazinho. É muito importante saber que, mesmo levando muitos gols, ainda somos amados. O goleiro voltou ao campo. O adversário marcou mais duas vezes, mas tudo estava bem. Levo gol todo dia. Tento de tudo. Pulo em todas as direções e me esfolo todo. Esbravejo e vocifero. Luto com todas as minhas forças, e quando as lágrimas chegam, caio de joelhos desconsolado. É quando entra em campo meu Pai celestial e, diante de toda a multidão que ri e caçoa, Ele me pega, abraça e diz: “Estou orgulhoso de você! Você está jogando muito bem! Quero que todos saibam que você é Meu filho! E Eu o declaro vencedor!” ■
Vede quão grande amor nos concedeu o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. E somos mesmo Seus filhos! — 1 João 3:1 Deus é amor. Ele não precisava de nós, mas nos quis mesmo assim. E isso é simplesmente extraordinário. — Rick Warren (nascido em 1954), pastor e escritor americano
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Tributo a uma
Borboleta
Anna Perlini
Andja nasceu em 1962, na República da Bósnia e Herzegovina, antiga Iugoslávia. Quando a guerra foi
deflagrada nos anos 1990, a família de Andja fugiu para Vojnic, uma pequena cidade croata. Seu marido ficou mentalmente traumatizado pelas atrocidades da limpeza étnica e teve de ser permanentemente hospitalizado. Com isso, Andja passou a criar três filhos sozinha e, ao mesmo tempo, tinha de lidar com o diabete e a psoríase, que lhe maltratavam o corpo. Vivia do cultivo da terra e com a ajuda de organizações humanitárias. Foi assim que nos conhecemos em maio de 2000. Ficamos amigas e a visitei por muitos anos. Apesar de todas as dificuldades, Andja sempre nos recebeu sorridente. Seu entusiasmo pela vida era de tal forma contagioso que começamos a trazer para sua casa pessoas que sofriam com depressão, 14
como uma forma de terapia. Bastava conhecê-la para que começassem a se sentir muito melhor! Passado um tempo, Andja decidiu que deveria fazer algo, a título de contrapartida pelo que recebia de nós. Então passou a colher batatas, abobrinhas e outros legumes de sua horta para “devolver para a comunidade”. Em 2005, o governo deu uma casa em um novo terreno para sua família. Apesar de a construção não estar terminada, era muito melhor que a choupana na qual viveram por anos. Ela estava entusiasmada com o que parecia ser o início de uma vida melhor, mas o avanço da doença lhe impôs a perda da visão de um dos olhos. No ano seguinte, o mesmo aconteceu ao outro. Andja foi hospitalizada várias vezes entre 2005 e 2012. Suas chances de sobrevida eram muito pequenas, mas sua alegria e paixão pela vida venceram a batalha. Mesmo com as duas pernas
amputadas, cantava e conversava com muito ânimo. Como um rapaz de 17 anos definiu: “Ela tem a habilidade de ver o copo meio cheio, mesmo quando ele está praticamente vazio!” Faz alguns meses, Andja morreu enquanto dormia, “como uma borboleta” — alguém nos disse. Foi impressionante ver quantas pessoas vieram ao seu funeral. Mesmo sendo “apenas” uma dentre os muitos refugiados naquela pequena cidade, havia influenciado a vida de muitos. Qualquer um que teve o privilégio de conhecer Andja chora e sorri ao mesmo tempo, quando fala dela. Andja jamais será esquecida. Anna Perlini é cofundadora da organização humanitária Per un Mondo Migliore (http:// www.perunmondomigliore. org/), ativa na região da antiga Iogoslávia desde 1995. ■
CORAGEM SOB O FOGO Momentos de quietude Abi May
Podemos dizer que há vários tipos de heroísmo.
Existem os atos heroicos do cotidiano realizados por anônimos que entram em cena e salvam o dia das formas mais inusitadas. Há também os admirados heróis famosos, como os pioneiros da medicina, os defensores da paz e da justiça, os campeões da fé. Então, em uma categoria à parte, está o maior super-herói de todas as eras: Jesus, que conquistou a morte para Seu benefício e de todos que creem.1 Diferentemente dos protagonistas das histórias de ficção, Jesus não reserva Seus poderes para Seu uso próprio, mas os compartilha com Seus seguidores. “Aquele que crê em 1. Ver 1 Coríntios 15:25–26; João 5:25; 11:25–26. 2. João 14:12 3. 2 Coríntios 12:9 4. Efésios 1:19
Mim também fará as obras que Eu faço.”2 E isso nos traz de volta às questões cotidianas. Onde encontrar a coragem quando nos virmos sob o fogo dos desafios diários? Quer as chamas venham na forma de doenças, dificuldades financeiras, fim de relacionamentos, desemprego, luto ou qualquer uma das muitas dificuldades, enfrentá-las exige heroísmo, fé, trabalho incessante e que ajudemos os outros, apesar dos tumultos em nossas próprias vidas. Talvez admiremos os famosos heróis da história e nos inspiremos com seus exemplos. Todavia, para encontrar a força para o heroísmo que se faz necessário no dia a dia, precisamos da ajuda do nosso Superherói que promete: “A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza,”3 ou, como o apóstolo Paulo expressou, “a incomparável
grandeza do seu poder para conosco, os que cremos.”4 Querido Jesus, Que Sua paz me possibilite suportar os desafios; Que Sua compaixão me dê o poder para cuidar dos que me cercam; Que Sua alegria seja minha fonte de ânimo; Que Seu exemplo me inspire a servir; Que Sua bondade me energize para eu ser boa com os outros; Que Sua determinação me encha de ousadia para fazer o máximo com minha vida. Conceda-me coragem sob o fogo da dificuldade, E que Sua graça salvadora me envolva com a paz que vem de Deus. Abi May é escritora freelancer e educadora na Grã-Bretanha. ■ 15
Com amor, Jesus
Minha criação especial Lembro de quando o criei e o grande zelo e atenção especial que lhe dispensei. Escolhi a dedo cada talento, cada característica, cada fibra do seu ser, as combinações e proporções foram exatas e perfeitamente sincronizadas para que o Meu propósito fosse alcançado. Lembro-Me também do momento em que soprei em você o alento da vida. Tão intenso foi o amor gerado que não pude Me conter. Eu sabia a alegria que você Me traria e as vidas que tocaria em sua grande jornada da vida. Meus olhos têm estado sobre você desde o princípio. Tenho estado com você a cada passo do caminho, observado e cuidado de você. Você nunca esteve fora da Minha vista. Eu o amarei por toda a eternidade. Ouça no seu coração a Minha voz e Eu lhe mostrarei o Meu grande amor por você, o qual é maior que o oceano e vai além do horizonte. Nem mesmo todo o universo pode conter o Meu amor por você. Ele excede a todo entendimento e ultrapassa o infinito e a eternidade!