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Desenvolver a economia azul para um futuro mais verde e próspero

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Desenvolver a economia azul para um futuro mais verde e próspero

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A economia do mar representa cerca de 5% do PIB português, 5% das exportações nacionais e 4% dos empregos. Portugal tem a vigésima maior Zona Económica Exclusiva do mundo, o que ancora a ambição de dilatar o contributo do mar para o desenvolvimento do país. Para pôr este mar a render mais e melhor, ao serviço das pessoas e sem comprometer o ecossistema, conta-se com os 252 milhões de euros que o Plano de Recuperação e Resiliência português atribuiu à chamada economia azul. Fomentar o investimento na inovação é também o que pretende o projeto Inovsea, que nos mostra o que Portugal está a fazer ao nível das atividades relacionadas com o mar.

Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR

Durante um mês, no verão de 2018, quem passou na times Square sentiu a força do mar português. As ondas gigantes da Nazaré foram projetadas num ecrã de 30 metros da emblemática praça de times Square, em Nova iorque, para promover Portugal como destino de surf. Resultado: o turismo de Portugal conseguia, assim, pôr Portugal num mapa para muitos que desconheciam a sua localização ou que sequer identificavam como destino de surf. “Portugal passou a ser o destino mais clicado na internet na pesquisa sobre surf”, como assinalou Miguel toscano, diretor de inovação do evento Ericeira WSR+10 – Ericeira Reserva Mundial de Surfing, a única na Europa, quando falava das vantagens de aliar o surf a outras atividades, durante as "Jornadas inovsea", projeto sobre a economia do mar promovido pela Associação Empresarial de Viana do castelo (AEVc) e pela Associação comercial e industrial da Figueira da Foz (AciFF), que juntou no passado dia 9 de outubro, na Figueira da Foz, vários especialistas em diferentes atividades ligadas ao mar. destas atividades, o surf foi das que mais se desenvolveu nos últimos anos, contagiando outras áreas e fomentando outros negócios. A Nazaré e a Ericeira são disso exemplo.

A AEVc e a AciFF acreditam que muitas outras atividades inerentes ao mar podem crescer e querem que as PME acelerem esse crescimento. O inovsea pretende fomentar “a inovação nas PME que integram a Economia do Mar das regiões costeiras do Alto Minho e Baixo Mondego, tendo como base a cooperação e o incremento de competências em fatores críticos de competitividade, como sejam a economia circular, a transformação digital, a literacia financeira e internacionalização, que permitam potenciar a valorização destas atividades e a progressão nas cadeias e valor”.

As primeiras Jornadas do projeto colocaram o foco sobre vários setores e juntaram vários especialistas e empresários de diferentes fileiras: novos usos e recursos do mar; recreio, desporto e turismo; construção, manutenção e reparação naval, portos e transporte e logística; pesca, aquicultura, transformação e comercialização dos seus produtos. dono da vigésima maior Zona Económica Exclusiva do mundo,

Portugal pode sonhar com uma economia azul mais rentável. A encerrar as jornadas inovsea, Ricardo Serrão Santos, Ministro do Mar, fez as contas: “A esta audiência, estou certo de que não preciso sinalizar o relevo que a economia do mar tem para Portugal. cerca de 5% do nosso PiB, 5% das exportações nacionais e 4% dos empregos dependem do mar. A minha vontade é que este contributo do Mar para a economia nacional aumente. com inovação, podemos multiplicar aquilo que se consegue produzir a partir do mesmo conjunto de recursos, sejam eles humanos, energéticos, financeiros ou materiais. Em Portugal, na última década, a ciência, a inovação e a tecnologia assumiram um papel primordial para dar corpo a um tecido empresarial de base tecnológica, com reforço do emprego qualificado. Entre 2014 e 2019, a despesa em i&d na economia do mar representou 3,6% do total das despesas de i&d nacionais (433,6 milhões de euros). As instituições do ensino superior representaram 64,4% deste valor, seguindo-se o Estado (20,7%), as empresas (14,7%) e as instituições Privadas sem Fins lucrativos (0,2%).” O ministro assegura que a aposta na investigação é reforçada na nova Estratégia Nacional para o Mar, relativa ao período 2021-2030, publicada este ano, e que visa “garantir que a economia azul contribui de forma decisiva para a recuperação económica do país”, tendo como um dos seus objetivos estratégicos “Estimular o conhecimento científico, desenvolvimento tecnológico e inovação Azul”. O conhecimento científico é essencial “para identificarmos formas de proteger espécies e ecossistemas vulneráveis, e de salvaguardar o património cultural”, assim como “a segurança marítima, por ser determinante para a defesa do ambiente marinho e do seu capital natural, e para o desenvolvimento das atividades económicas”, como a pesca, “uma atividade que nos últimos anos evoluiu pouco e carece de valorização e modernização”, a aquicultura, a biotecnologia, a engenharia oceânica nos seus múltiplos aspetos, o transporte marítimo e várias outras.

A economia do mar avançou na última década, graças “ao crescimento das atividades favorecidas pela proximidade do mar, beneficiando do dinamismo observado na atividade turística a nível nacional”, indica Ricardo Serrão Santos, comentando que “não houve um desenvolvimento tão forte em setores de inovação e produção quanto seria desejável”. O ministro advoga que “a diversificação de modelos e atividades económicas, a inovação, a formação profissional e a facilitação da mobilidade entre profissões ligadas ao mar, como a pesca, o transporte marítimo, a aquicultura, o turismo e a nova bioeconomia azul, afiguram-se como instrumentos cruciais para a resiliência das comunidades e para o desejável crescimento económico, sustentável e inclusivo”. Acresce que “a articulação entre setores tradicionais e emergentes da economia do mar, como por exemplo do setor da pesca com a aquicultura e a biotecnologia azul ou a robótica, e a sua inovação e desenvolvimento alinhado com os objetivos de sustentabilidade ambiental, permitirá também incrementar a segurança alimentar do país, o seu desenvolvimento económico e a sua coesão social e territorial.”

A pandemia que enfraqueceu várias destas atividades traz uma luz, o mecanismo de recuperação e resiliência europeu: “O Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal (o PRR) tem uma componente dedicada ao Mar com 252 milhões de euros de investimentos, podendo as empresas destes setores beneficiar de vários outros apoios transversais, de outras componentes, que totalizam 6,6 mil milhões de euros”. Esta componente do PRR, integra a criação de um Hub Azul: “Este Hub Azul, que é essencialmente uma rede de parques tecnológicos e empresariais junto ao mar, incluirá um conjunto de infraestruturas em terra, em zonas portuárias, quatro infraestruturas no mar com o acesso a novos equipamentos de monitorização marinha e aos seus dados, e disponibilizará acesso a horas de navios de investigação oceanográfica para bioprospecção, mapeamento e conhecimento científico, assim como para alavancar a experimentação de soluções inovadoras em contexto real, no mar. Nestes polos, teremos zonas reservadas às empresas, ao seu desenvolvimento tecnológico e à respetiva propriedade intelectual específica, mas também zonas de interação entre empresas, entre empresas e centros de investigação, entre empresas, universidades e polos formativos, para facilitar e incentivar a fertilização cruzada e a transferência de conhecimento. Existirão também zonas de trabalho coletivo e partilhado que permitam dar escala a pequenas startups e PME, que, sozinhas, não poderão alcançar tais investimentos, maximizando, assim, o impacto do investimento público no setor privado, permitindo múltiplas utilizações de cada infraestrutura e estimulando a inovação.” Este hub deverá integrar também “grandes empresas como faróis de fomento ao desenvolvimento procurando no ecossistema empresarial as soluções necessárias para os seus negócios, atuando como clientes das empresas de menor porte e dinamizando novas cadeias de valor”. Pretende-se “capacitar um ecossistema nacional para suporte e dinamização da economia azul de base descarbonizante, sustentável e tecnológica, potenciando as ligações entre atores do ecossistema e a transferência de tecnologia da academia e centros de interface para as empresas e o mercado”.

O ministro frisa a necessidade de mudar de paradigma: “É fundamental descarbonizar a economia, desenvolver processos de produção mais limpos e tornar a economia circular, aumentar a sua eficiência no uso de recursos e de energia, e assegurar um aproveitamento sustentável dos recursos naturais, dentro dos limites regenerativos dos ecossistemas. Este novo paradigma é uma obrigação moral no contexto mundial em que vivemos e constitui uma oportunidade para Portugal liderar pelo exemplo, desenvolver novas tecnologias e exportá-las.”

Outro programa lançado este ano é o “Portugal Blue”, explica o governante: “trata-se de um fundo de fundos resultante de um acordo celebrado entre o Fundo Azul do Ministério do Mar e o

Inovsea, um projeto para impulsionar a inovação nas PME

No Alto Minho e no Baixo Mondego, as atividades ligadas ao mar faturam 329 milhões de euros, e 131 milhões de euros em exportações. As associações empresariais locais acreditam que estes números podem crescer se as PME investirem mais em inovação e criaram o projeto Inovsea para a impulsionar. Manuel Cunha Junior, presidente da AEVC, e Nuno Lopes, presidente da ACIFF, explicam como.

Quais são os objetivos das vossas associações para o projeto Inovsea?

As regiões costeiras do Alto Minho e do Baixo Mondego apresentam setores económicos ligados à economia do mar de grande importância. As duas associações empresariais, que têm vasta experiência nesta área ao serviço das PME, decidiram unir esforços para estimular a sensibilização e capacitação dos fatores imateriais de competitividade. O mar e os seus recursos são ativos estratégicos para as regiões costeiras do Alto Minho e do Baixo Mondego, representando um conjunto de atividades económicas com enorme potencial e condições para uma alavancagem para maiores níveis de inovação e valor acrescentado. As regiões são muito semelhantes: possuem uma importante faixa litoral com excelentes praias e beleza paisagística, as quais são procuradas para a prática de pesca desportiva, náutica de recreio, surf, vela, mergulho e turismo marítimo; Viana do Castelo e Figueira da Foz têm importantes portos que contribuem para o dinamismo empresarial das regiões e a construção naval faz parte da tradição de ambas as cidades; e, entre outras características, possuem entidades de investigação e transferência de conhecimento com potencial para potenciar a inovação nas empresas da economia do mar.

Quanto vale o mar para cada uma das duas regiões?

A economia do mar representa cerca de 5% do PIB nacional e 4% do total do emprego. Nestas duas regiões costeiras, devido à importância do turismo, da construção naval e do setor da pesca e da aquicultura, o peso da economia do mar é substancialmente superior. No Alto Minho, a economia do mar abrange mais de 300 entidades, as quais representam um volume de negócios de 204 milhões de euros, exportações de 91 milhões de euros e um VAB de 62 milhões de euros. No Baixo Mondego, integra mais de 200 entidades, significando uma faturação anual a rondar os 125 milhões, expor-tações de 40 milhões e um VAB de 27 milhões de euros. Os serviços turísticos, de alojamento e de restauração, são os mais exportadores, seguido pelos produtos alimentares e oriundos da pesca. De uma forma global, as empresas da economia do mar representam 4,5 mil milhões de euros em exportações. As atividades mais características da economia do mar, a pesca e aquicultura, a salicultura, a construção naval, a atividade portuária, os transportes marítimos, as obras costeiras, a náutica, etc. representam 45,8% do total do VAB e mais de metade do emprego (51,2%).

Quantas pessoas emprega a fileira do mar nestas regiões e em que áreas?

A nível nacional, a economia do mar representa quase 200 mil empregos diretos. As fileiras do turismo e da pesca e da aquicultura são as maiores empregadoras. Em cada região esta tendência mantém-se, ainda que possa haver pequenas diferenças, em função dos setores mais dinâmicos em cada uma. O Alto Minho emprega diretamente cerca de 2.000 pessoas, e no Baixo Mondego mais de 1.100 pessoas trabalham em empresas da economia do mar.

Quais são as atividades mais importantes desta fileira nas duas regiões?

A economia do mar nestas regiões é bastante diversa incorporando um vasto leque de atividades, com um

peso económico muito significativo, destacando-se no Alto Minho a construção, a manutenção e a reparação naval, mobilizado essencialmente pela construção de embarcações e estruturas flutuantes metálicas, enquanto que no Baixo Mondego se verifica uma forte especialização na transformação dos produtos da pesca e da aquacultura, devido ao forte peso de algumas empresas industriais da região. Em ambas as regiões, a fileira dos transportes marítimos, portos e logística é marcada por várias atividades, direta ou indiretamente ligadas ao respetivo Porto, com destaque para a organização do transporte. O turismo ligado ao mar nestas duas regiões ainda se encontra concentrado na motivação sol & mar, predominando as atividades de alojamento turístico, havendo um potencial de diversificação e qualificação por explorar. Nas duas regiões, esta fileira é aquela que apresenta o maior número de entidades associadas, sejam de natureza empresarial ou associativa, sendo o segundo agregado mais representativo em termos de emprego criado.

Quais são as áreas com maior potencial de desenvolvimento?

Os objetivos do Inovsea passam por dinamizar e estimular todas as fileiras do setor, considerando o potencial global disponível. Importa recordar que a zona económica exclusiva (ZEE) portuguesa é uma das maiores do mundo, com mais de 2.000 quilómetros de linha de costa, com um extraordinário potencial ao nível dos recursos marinhos e das atividades de turismo, lazer e recreio. Considerando as principais vantagens de Portugal neste setor económico, existem ainda inúmeras possibilidades em atividades específicas como a aquacultura, os portos marítimos, a construção naval e a energia. O investimento e a especialização das regiões em novas atividades emergentes são importantes, enquanto motor para um posicionamento dianteiro na valorização económica do mar e pela sua importância futura na produção sustentável, em quantidade, qualidade e segurança de alimentos e energia ou novos produtos para a saúde, entre outros. A este nível, o Alto Minho destaca-se pelo seu papel pioneiro e peso da atividade de produção de energias renováveis no VAB e volume de negócios da economia do mar. Não obstante o potencial destas atividades ser também relevante no Baixo Mondego, nesta região as empresas existentes são ainda muito jovens, carecendo de um maior amadurecimento para se poderem afirmar na economia do mar.

Quais são os principais desafios para esta fileira?

Os objetivos estratégicos do projeto passam por fortalecer a posição marítima das regiões, através de um tecido empresarial mais dinâmico e competitivo; aumentar o valor acrescentado e o volume de negócios das empresas da fileira do mar; aumentar a capacidade de inovação, graças a uma massa crítica de empresas inovadoras; promover o desenvolvimento das atividades emergentes, inovadoras e qualificadas, ajudando as empresas a ganhar maturidade e escala; e preparar as empresas da economia do mar para alcançarem uma maior penetração em mercados internacionais e atrair investimento para o setor.

Como pretendem dinamizar um maior interesse por parte de empresários e empreendedores em torno desta fileira?

Os desafios relacionados com o modelo empresarial visam garantir a competitividade das atividades económicas e a sustentabilidade dos recursos a longo prazo, mas também a concretização das oportunidades e do potencial da economia do mar nas regiões do Alto Minho e do Baixo Mondego. Depois de elaborado um levantamento da capacidade instalada e de proposto um ambicioso plano de ação, o projeto Inovsea organiza, agora, quatro jornadas de inovação e transferência de conhecimento, subordinadas às temáticas das redes de inovação, de cooperação, de exportação e da competitividade, as quais irão decorrer, presencialmente, duas na Figueira da Foz e duas em Viana do Castelo. Está prevista a transmissão simultânea das jornadas através de streaming na Internet. Finalmente, o projeto Inovsea vai promover um conjunto de workshops temáticos, destinados a estimular a capacidade inovadora das empresas. Espera-se que, com estas atividades, seja possível promover o networking e a capacidade de criação de redes de cooperação entre os diversos agentes da economia do mar, com o objetivo de criar um setor mais sustentável e criador de riqueza e de emprego.

Que expectativas têm face aos 252 milhões de euros do PRR anunciados para investir na economia do mar? De que forma poderão as empresas e os projetos das duas regiões melhor potenciar estes apoios?

Tendo sido o PPR desenvolvido a partir da “Visão estratégica para o plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030”, onde o mar figura com proeminência, são vários os investimentos previstos neste plano que são da maior relevância para os vários setores da economia do mar. Serão iniciativas que não serão exclusivamente dedicadas à economia azul ou às pescas, mas que foram concebidas em alinhamento com a proposta de ENM, cujos objetivos estratégicos apresentam pontos de ligação evidentes com os roteiros do PRR, como é o caso dos roteiros do PRR relativos à descarbo-

nização e bioeconomia, à eficiência energética e renováveis (incluindo o hidrogénio e gases renováveis), às empresas 4.0 e à digitalização e à qualificação e transição digital. Igualmente fundamentais para atingir os objetivos estratégicos da ENM 2021-2030 (também nas áreas das pescas, aquicultura, transformação de pescado e portos) são as componentes das qualificações e competências do roteiro do potencial produtivo e emprego, e a componente das infraestruturas do roteiro da competitividade e coesão territorial. Ainda que não exista uma interligação direta com as empresas da economia do mar, acreditamos que o PRR vá impactar o setor e contribuir para o reconhecimento das empresas destas atividades junto dos poderes instalados.

Qual é a relação da Inovsea com as universidades locais?

Existem em Portugal universidades e centros de investigação, associações empresariais e regionais e várias instituições governamentais com forte capacidade para potenciar a I&D e a inovação e para apoiar as diversas atividades da economia do mar. A identificação e apresentação destas entidades, enquanto parte integrante deste estudo, assenta no pressuposto da sua importância na construção de uma economia baseada no conhecimento e inovação para a criação de valor acrescentado nas empresas associadas à exploração de recursos marítimos, com o claro compromisso do projeto Inovsea no fortalecimento de redes de transferência de conhecimento e tecnologia, que juntem e envolvam estas entidades com o tecido empresarial. Com efeito, as mudanças climáticas, a população global crescente, a evolução económica e geopolítica, os desenvolvimentos tecnológicos e a intensificação do conhecimento científico dos ecossistemas oceânicos e fundos marinhos terão impactos significativos na economia do mar, exigindo políticas de mitigação ambiental e adaptação à mudança global, carecendo da mobilização de todos num renovado paradigma de relação com o mar e os seus recursos. Assim, os vários documentos estratégicos defendem como áreas prioritárias fundamentais a serem trabalhadas ao longo da próxima década a inovação, o desenvolvimento de capacidades e aceleração da transferência tecnológica; a ciência; e a educação, pela disseminação da cultura oceânica (literacia oceânica).

Quantas empresas já estão associadas ao projeto Inovsea?

No âmbito do estudo desenvolvido, foram identificadas mais de 500 empresas nas duas regiões, as quais recebem informações regulares do projeto. O projeto inclui, ainda, quase uma centena de entidades essenciais ao ecossistema da economia do mar, entre organismos públicos, associações e instituições de ensino. A plataforma está, ainda, recetiva a inscrições de novas empresas ou de empresas que, por não terem nenhum CAE diretamente relacionado com a economia do mar não foram inicialmente identificadas.

Quais as principais conclusões dos estudos feitos na região?

Os estudos realizados indicam ser necessário aprofundar o modelo de desenvolvimento assente no conhecimento azul e na literacia do mar; enraizar uma cultura de baixo carbono e de economia circular em todas as atividades da economia do mar; promover a modernização e a inovação tecnológica, nomeadamente ao nível da digitalização e de uma maior incorporação de soluções da indústria 4.0; aumentar a penetração em mercados internacionais dos produtos e serviços associados ao mar; e disseminar conhecimentos de gestão financeira e apoiar as empresas a encontrar soluções de financiamento para realizarem investimentos infraestruturais, que potenciem a competitividade das atividades mais maduras ou crescimento consolidado de atividades mais emergentes com elevado potencial de desenvolvimento futuro.

Que balanço é possível fazer do projeto Inovsea?

O lançamento oficial do projeto decorreu apenas no passado mês de julho, mas a equipa tem mais de um ano de trabalho acumulado. Os documentos disponíveis online documentam essas tarefas iniciais: identificar a oferta instalada no Alto Minho e no Baixo Mondego e propor um plano de ação capaz de incrementar e valorizar as atividades da cadeia de valor da economia do mar.

Que empresas inovadoras no âmbito da economia azul se destacam nas duas regiões?

O capital humano existente nas duas regiões tem assegurado a criação de diversos projetos inovadores a nível regional, nacional e mesmo internacional. Viana do Castelo e Figueira da Foz possuem vários exemplos de negócios que se destacaram, alguns dos quais estarão em análise nas Jornadas de Inovação e Transferência de Conhecimento. Só para citar dois casos, recordamos uma empresa da Figueira da Foz que, entre outras inovações, desenvolve alternativas ecológicas de substituição de silicones, pretrolatos e lanolina, a partir de produtos do mar, e em Viana do Castelo foi instalado o primeiro parque eólico offshore do país, o qual produz energia suficiente para mais de 60 mil famílias.

Windfloat Atlantic, o primeiro parque eólico flutuante da Europa Continental

“No mar há mais vento do que em terra, no alto mar há mais ainda e o recurso é mais limpo, menos turbulento, pelo que o seu potencial é enorme”, começa por afirmar José Pinheiro, responsável pelo projeto Windfloat Atlantic (uma empresa criada em 2019 pela EDP Renováveis para explorar a energia eólica no mar e que conta com a Repsol e a francesa Engie, entre outros, como parceiros). A última plataforma do WindFloat Atlantic foi ligada à rede e o parque já entrou em pleno funcionamento. As três unidades começam agora a injetar na rede elétrica de Portugal a energia produzida pelas suas turbinas de 8,4 MW, as maiores do mundo jamais instaladas numa plataforma flutuante. Em 2020 o primeiro parque eólico flutuante semi-submersível do mundo começou a injetar energia na rede elétrica portuguesa. O projeto funciona em Viana do Castelo, a 19 quilómetros da costa e a uma profundidade de 100 metros, e tem uma capacidade total instalada de 25 MW, podendo “gerar energia suficiente para abastecer o equivalente a 60 mil utilizadores por ano, poupando quase 1,1 milhões de toneladas de CO2”, de acordo com a EDP. José Pinheiro ressalva que a atual capacidade do projeto não é o maior triunfo: “Não é pelos 25 MW que produz que o projeto é importante, mas porque representa que o obstáculo foi vencido e prova que é possível explorar energia eólica, através de plataforma flutuante em alto mar até mil metros de profundidade, ao contrário de outros concorrentes que não o conseguem e fica longe da vista das comunidades. O desafio é que esta tecnologia seja mais barata. Para isso, precisa de escala e de industrializar a tecnologia. Seria uma pena não ver este projeto replicado por esse mar fora. Possibilita sinergias com a pesca e a aquicultura.” O projeto foi apoiado por fundos europeus e obteve financiamento de 60 milhões de euros pelo Banco Europeu de Investimento, informa José Pinheiro, acrescentando que este tipo de projetos “só avança em consórcio, dadas as avultadas quantias que envolve e as diferentes valências que requer”. O responsável pelo WindFloat Atlantic garante que “esta tecnologia pode ser mais barata se houver estratégia política e um plano”, adiantando que países como Espanha, Grécia e Itália estão a trabalhar nisso. Portugal liderou este projeto pioneiro e pode avançar a uma escala maior. “Temos é que saber o que queremos, porque existe capacidade”, assegura.

Blue invest Fund do Fundo Europeu de investimentos, em que cada parte entra com 25 milhões de euros até 2026, criando o Portugal Blue.” Gerido pelo Banco do Fomento Português, “o Portugal Blue pretende mobilizar mais de 75 milhões de euros entre capital privado, público e europeu para fomentar o ecossistema da economia azul portuguesa, disponibilizando capital de risco e expansão a mais de 30 empresas, em todos os estágios de desenvolvimento”.

O ministro salienta “o investimento na educação e na literacia do oceano é fundamental para todos os desígnios da Estratégia Nacional para o Mar”, envolvendo “a própria sociedade nesta transformação, em particular as crianças e jovens”, bem como para “atrair novos empreendedores para o mar”.

Transferir saber para as empresas

O que não se sabe sobre o mar é certamente mais do que o que já se conhece, pelo que a ciência e a investigação são os grandes aliados das empresas que querem apostar nos recursos marinhos. tiago Morais, do instituto de ciência e inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia industrial (iNEGi), contou como o projeto Genial G é disso exemplo: “O iNEGi colaborou com uma empresa nacional, a Algaplus, pioneira na criação de macroalgas, no desenvolvimento de um novo sistema de produção, que permitisse diminuir os custos de produção e aumentar a qualidade das macroalgas. O iNEGi ajudou a minimizar as necessidades de consumo energético, criou tanques eficientes para o crescimento das algas e um sistema modular hidráulico de apanha de algas.

O iNEGi está ainda a trabalhar no “desenvolvimento de estruturas inteligentes”, nomeadamente em “aumentar autonomia dos veículos autónomos em mar, para ficarem mais tempo a recolher informação”. Outra prioridade é desenvolver a durabilidade e resistência dos materiais que operam no mar. também no que se refere à investigação, Nuno lourenço, do cEiiA Ocean and Space – centro de Engenharia e desenvolvimento de Produto, falou de

Ericeira a potenciar o título de única Reserva Mundial de Surf da Europa

O Afeganistão e a Áustria não têm mar, mas têm campeonatos de surf. Onde? Na Ericeira, a vila localizada na zona oeste, a 35 quilómetros de Lisboa, considerada há 10 anos Reserva Mundial de Surf, por enquanto a única da Europa (no resto do mundo, existem as reservas da Califórnia, em Malibu e Santa Cruz, e outra na Austrália, em Manly Beach). Do galardão à organização de campeonatos de surf de países onda não há ondas, fazer da vila morada de estrangeiros e criar um evento que convoca cidadãos, empresas, a autarquia e ONGs é uma história protagonizada pelo clube de surf local, cujos responsáveis perceberam que a distinção “Ericeira Reserva Mundial de Surf” constituía uma oportunidade de desenvolvimento sustentável. “Surf não é só empurrar pranchas dentro de água e receber turistas”, sustenta Miguel Toscano, o diretor de Inovação do Ericeira Surf WSR+10 –um evento que celebra os 10 anos da atribuição do referido título e o percurso do Clube de Surf da Ericeira. Entre outras atividades, iniciadas em junho, o evento trouxe à vila situada, entre os dias 11 e 17 de outubro de 2021, onze comitivas com cerca de 200 representantes (dos quais, 150 com deficiência), vindos de dez países, entre os parceiros europeus envolvidos no evento, que é financiado pela Comissão Europeia, no âmbito do programa Erasmus+Sport 2020. O programa inclui “iniciativas multidisciplinares, de conferências a formações, passando por estudos científicos, como um Estudo do Impacto da Reserva na Ericeira ao longo dos últimos 10 anos, e workshops, promovendo a sustentabilidade através do surf”. Miguel Toscano participou na jornada de Inovação da Inovsea para explicar a visão que ancora este evento, resultante de uma história que anda há 10 anos a ser contada e trabalhada. Trata-se de “redefinir a estratégia em torno do surf e de posicionar o desporto como alavanca de desenvolvimento sustentável”. O departamento de inovação foi criado no clube para satisfazer necessidades do mercado e solucionar falhas. Para tal, muniram-se de competências e a equipa integra doutorados, que trabalham voluntariamente, tal é “o apego ao projeto”. Depois do título de reserva mundial de surf, o Ericeira Surf Club organizou-se no sentido de construir algo que preservasse este ecossistema, mantendo “a missão de desenvolver talento através da prática desportiva” e assumiu o papel de dinamizar também a vertente social e comunitária, já que “as atividades desportivas e outdoors podem ser instrumento de promoção da nossa terra, das nossas gentes, da cultura e a história” e agentes de crescimento e de desenvolvimento de várias atividades económicas, que beneficiam do facto de a Ericeira atrair praticantes de surf de todo o mundo, argumenta Miguel Toscano. Os 200 participantes no Ericeira surf WSR+10 conheceram a Tapada e o Palácio de Mafra, aprenderam a fazer o pão local, entre outras atividades. Não se perde a oportunidade de “conectar os jovens que nos visitam às nossas tradições e às nossas vantagens competitivas”, salienta. A Ericeira tem o mais importante, frisa o gestor: “Os primeiros surfistas que chegaram à Ericeira, na década de 70, chamaram à praia o pequeno Havai, maravilhados com o tipo de ondas”. No entanto, a vila não se transformaria num dos mais procurados destinos de surf, se não contasse com o forte apoio da comunidade local, acrescenta: “Um projeto desta natureza só poderia ser desenvolvido com base numa estratégia de eficiência coletiva. As empresas, as ONG, os cidadãos, as autarquias têm que entender o que ganham com isto. Temos que saber trabalhar em parceria.” Miguel Toscano assinala que trabalham numa lógica holística e têm a perceção que “o ciclo se retroalimenta”. O evento procura envolver e capacitar todo o ecossistema nesta lógica: “Sentimos que isto é uma oportunidade, só potenciada em conjunto. A ligação entre surf e o ambiente é obrigatória, já que se trata de manter as nossas condições para as gerações vindouras e essa é a nossa grande preocupação enquanto guardiões da Reserva Mundial de Surfing da Ericeira. Desenvolvemos formação em surf e sustentabilidade porque o surf é cool, 70% dos jovens europeus querem fazer surf. Nós trabalhamos para 23 milhões de fãs, cidadãos com uma consciência social e ambiental, que querem consumir produtos e serviços dentro desta lógica.”

O diretor de Inovação do Ericeira surf WSR+10 insiste que é preciso explicar bem o que todos podemos ganhar: “Se as pessoas não entenderem elas não se envolvem. Esse é o trabalho mais desafiante, o de convencer as empresas que nunca pensaram em sustentabilidade em ecologizar os produtos e serviços para satisfazer os nossos fãs (praticantes), que querem pranchas feitas com macroalgas, cortiça, produtos sustentáveis. O surf é das atividades mais despoluentes do mar e as empresas têm que se adaptar se não vão perder clientes.” Integrar as empresas na equação é fundamental: “O surf é mercado para artigos desportivos, escolas de formação, turismo, economia local. A pequena mercearia, a padaria, todos estes negócios beneficiam pelo facto de sermos um destino que atrai surfistas.” Alinhar a cadeia de valor é relevante e é fundamental, frisa Miguel Toscano, destacando a importância social do projeto: “Queremos introduzir na sociedade estilos de vida saudáveis, geradores de maior qualidade de vida e acima de tudo uma sociedade mais inclusiva. Enche-nos a alma ver deficientes a surfar.” O gestor salienta ainda a importância de trabalhar em rede e de fomentar parcerias: “Fazemos parte da rede mundial de surf cities e reservas de surf, que congregam operadores de 14 países (23 cidades) de quatro continentes e todos partilhamos inovação, conhecimento e boas práticas, para saber se o que estão os outros a fazer se adapta a nós. O segredo já não é a alma do negócio, é a partilha.” Conscientes de que o trabalho em benefício da sustentabilidade terá que ser contínuo, este clube da Ericeira abraça o desafio de criar uma surf knowledge innovation community para poder “replicar em Portugal a inovação da Austrália e eles a nossa”. Outro desafio é a criação de um hub de surf a nível europeu, capaz de “conectar a cadeia de valor à saúde, ao território à cidadania, etc”. O gestor conclui que todo este trabalho está a ser monitorizado, num estudo que avalia o impacto do surf na Ericeira: “Mais do que os resultados importa saber em que medida esta atratividade foi benéfica ou não para a região e como trabalhar no futuro. Queremos uma reserva mais inteligente, inclusiva e mais sustentável. Mais do que um produto, queremos oferecer um conceito e aproveitar a matéria-prima local.” alguns dos projetos de recolha de dados ligados ao mar em curso: satélites, plataformas de cartografia e veículos robotizados com o lander, que pode ficar um ano submerso até três mil metros a recolher dados.

O hub do mar é tão extenso quanto quisermos que ele seja”, observa Armindo Frias, em representação do centro de investigação Naval (ciNAV), que destacou o projeto MarlEM (a iniciar daqui a um ano), uma plataforma colaborativa entre indústria, academia e autoridades. O ciNAV integra o hub digital defence4tech, no âmbito da economia de defesa europeia.

No domínio dos transportes e logística, tiago A. Santos, engenheiro naval do centro Engenharia e tecnologia Naval e Oceânica (cENtEc), evidenciou que Portugal tem condições para dinamizar o transporte de mercadorias por via marítima. um dos projetos de investigação do cENtEc “permite determinar para que zonas europeias é mais competitivo usar cadeia de transporte terrestre, camião ou comboio, e para que zonas é preferível o transporte marítimo, permite avaliar se é competitivo e como melhorar a sua competitividade, em linha com a uE, que quer promover as autoestradas do mar.” O cENtEc avalia também a questão dos custos portuários, para perceber como influencia o transporte de mercadorias dos concelhos à volta, ou seja quais os portos com os quais seriam mais rentável trabalhar.

A “dinamização dos transportes marítimos em benefício do país” e implica “políticas claras e coerentes para o fazer”, sustenta também luís Baptista, da Escola Superior Náutica infante d. Henrique, falou do reforço da capacidade de investigação na área de simulação, graças a um projeto de dois milhões de euros para novos simuladores de ponta para a área de navegação, que permitirão dar salto significativo na área de simulação marítima. No âmbito do PRR, a escola vai receber “7,5 milhões de euros para modernizar laboratórios, investir em simuladores e informática, um investimento que nunca se fez e que permitirá dar um salto qualitativo”. A instituição integra ainda o consórcio de um projeto “Entre tejo e mar”, que prevê um investimento de 10 milhões de euros (financiados pelo PRR) em formação e reconstrução de instalações educativas. “Nunca tivemos uma oportunidade como esta para desenvolver a investigação e formação na escola”, remata.

Se a costa portuguesa assume um papel determinante no turismo, importa lembrar que o nível das águas do mar está a subir, ameaçando uma boa parte das zonas costeiras, como alertou João Paulo Jorge, da Escola Superior de turismo e tecnologia do Mar (instituto Politécnico de leiria). Este avanço do mar é flagrante em zonas como a Barra, Mira e costa da caparica, por exemplo. O especialista defende uma política de antecipação destes cenários, o que implica “nalguns casos o aceitar do recuo, noutros a proteção, sobretudo nas praias de maior importância turística”. Estão previstas “medidas que têm a ver com prevenção, como interdição de construção”, também “a alimentação artificial de praias como sucede na costa da caparica, com sedimentos da dragagem do porto de lisboa” e também casos de “recuo planeado, com

Karapau quer diminuir a distância entre pescadores e consumidores

Um quilo de sardinha pode ser vendido na lota a menos de um euro e no mesmo dia a quatro euros no supermercado. Esta realidade inspirou a criação do projeto Karapau, em Vila Nova de Gaia. Emanuel Bettencourt, o responsável pelo projeto, quer “aproximar o pescador do consumidor e resolver o fosso entre o que ganha quem pesca e o que vale o peixe” e “criar condições para que os pescadores possam livremente vender diretamente o pescado ao consumidor final”. A solução digital criada pela Karapau consiste numa plataforma tecnológica de apoio aos pescadores para que possam vender pescado diretamente aos consumidores, que assim poderão recebê-lo mais fresco e a preços mais justos para ambos: através da aplicação, o pescador comunica o que pescou; os consumidores (restaurantes, cantinas, hotéis e consumidores em geral) acedem à aplicação e compram diretamente esse peixe; assim que o peixe é verificado pelas entidades competentes, no momento da descarga, aciona-se o módulo delivery (entrega). “A plataforma indica há quanto tempo esse peixe foi descarregado, para que o consumidor saiba que está a comprar peixe fresco porque queremos realmente agregar valor a este projeto”, vinca Emanuel Bettencourt. O empresário adianta que “em 15 dias, 102 restaurantes aderiram ao projeto, dispostos a comprar diretamente aos pescadores”. O core business da Karapau está mais centrado na entrega e o gestor garante que “o prazo de entrega não excederá as três horas, em circuito urbano, e as sete horas para regiões do interior”, adiantando que “as entregas são feitas nas caixas laranja da Docapesca, seladas hermeticamente” e que a Karapau não chega a tocar no peixe. O empresário acredita que o projeto “pode ajudar a atenuar ou acabar com o estigma que há em relação à classe dos pescadores, profissão ingrata, de alto risco e mal remunerada”. Lamenta “não estar a ter abertura por parte das entidades oficiais”. O gestor quer “agregar mais parceiros para ter um maior impacto real” e defende que “os portugueses devem olhar para oceano de forma mais holística”.

demolição de estruturas”, como aconteceu em Esposende e Setúbal.

Madalena dinis, da Escola Hotelaria e turismo de Viana do castelo, assinala que estas escolas podem impactar a economia do mar também no domínio da transformação e comercialização de produtos do mar: “Formamos pessoas que vão inovar a forma como se vendem os produtos do mar. Este ano iniciámos departamento de inovação e empreendedorismo para ligar a escola e a indústria. Através dos nossos Open kitchen labs, a escola abre-se às empresas e disponibiliza os seus formadores ao serviço das empresas. Estamos a fazer trabalho de campo para detetar problemas e dignificar produtos como o carapau e a cavala. também, juntamente com restaurantes e chefes, queremos encontrar outras utilizações para estes produtos, através de fumeiros e conservas.

A professora salientou o papel destas instituições de ensino na formação de profissionais (antes de o serem e também em exercício) que possam elevar a qualidade dos serviços de turismo em Portugal. Apesar da elevada empregabilidade do setor, a precariedade tem dificultado a angariação de alunos, porque “a popularidade das profissões ligadas ao turismo e restauração caiu muito nos últimos tempos”.

A dificuldade de recrutar profissionais em Portugal porque “faltam as certificações necessárias para trabalhar a bordo” foi um dos problemas identificados por Hugo Bastos, gestor da douro Azul, que integra o grupo português Mystic invest. detentor também das empresas Atlas (EuA) e Nicko (Alemanha), a holding “opera a uma escala global” com a sua frota e graças às “parcerias em termos de fretamento de navios, espalhados a nível mundial”.

O grupo quer “chegar aos 340 milhões de euros em faturação para o ano e ter 1.700 colaboradores”. Hugo Bastos sublinha “a aposta na construção naval em Portugal”, desde que construíram “a primeira embarcação de madeira, logo no início do século”. O gestor frisa que há muita tecnologia portuguesa a bordo: “tudo o que podemos comprar em Portugal, compramos. louça, roupa, carpintaria, colchões.” de salientar a colaboração com a tecnoveritas, que

Navegar Sem poluir com a Solar Boat Builders

A necessidade de reduzir a poluição no mar e nos rios favorece soluções energéticas menos poluentes também no que se refere à navegação e essa é cada vez mais uma exigência dos turistas com uma consciência ambiental mais madura. A Solar Boat Builders, de Olhão, muniu-se da engenharia nacional e procura dar resposta a este mercado, começando em 2015 a construir barcos de recreio que se movem a energia elétrica e através de painéis solares. Manuel Costa Braz explica que estes barcos eletrosolares são autónomos: “Enquanto navegam de dia estão a carregar as baterias, que fornecem energia para pôr o motor e tudo no barco a funcionar, mas também podem carregar através do sistema plug in, como um carro elétrico, enquanto estão atracados.” O primeiro barco saiu em 2016 e atinge uma velocidade máxima é de 5/6 nós. O empresário frisa que se trata de “uma embarcação de recreio, para passear”. Com 20 barcos vendidos em todo o país, a empresa tem como principais clientes os negócios marítimo-turísticos. Entretanto, a empresa idealizou e construiu um novo modelo, que saiu em maio, em três versões possíveis: um de transporte de passageiros marítimo-turístico, outro profissional, desenvolvido para os mariscadores e outro para ser usado como barco de recreio privado, com casco de carbono (em vez da habitual fibra de vidro) e baterias de lítio. Manuel Costa Braz não tem duvidas de que estas embarcações são boas soluções quer para empresas, quer para particulares, empenhados em navegar sem poluir, reduzindo os custos com combustível.

entre outras coisas conseguiu que “um navio ultrapassado em termos ambientais, como o Vasco da Gama, que emitia 800 e tal partes por milhão (ppm) de emissões e só poderia ir até às 200, com a tecnologia portuguesa da tecnoveritas, o navio emite pouco mais do que 20 ppm”. O gestor acrescenta que quer em esgotos, quer em tratamentos de lixos, os navios do grupo superam o que é exigido em termos de legislação, como provam as certificações das embarcações. também na fileira do turismo, Pedro Machado, presidente do turismo centro Portugal, defende que a sustentabilidade do destino turístico Portugal passa pela diversificação. Se antes os turistas se limitavam a percecionar Portugal como destino de sol e praia, o que criou um problema de monoproduto e de sazonalidade e deixou de lado novos destinos, os números indicam que já não é assim: “O centro, 30% do território nacional registou em agosto e setembro de 2021 números que ultrapassam os 2019, que foi o nosso ano melhor.” O paradigma está a mudar e são os consumidores os motores dessa mudança, nota Pedro Machado, citando estudos que indicam que “55% dos viajantes globais escolhem meios sustentáveis, 73% procuram destinos ecológicos e mais de 70% pretendem alojamentos com preocupações de sustentabilidade e 51% dos viajantes trocaria o seu destino preferencial por alternativas semelhantes se isso causar um menor impacto ambiental”. Ou seja, “há desafios novos que obrigam a alinhar o produto com a estratégia de sustentabilidade; apostar em novos modelos de negócios associados à economia do mar; redefinir o trabalho entre litoral e interior (cross selling)”. Esta redefinição de estratégia poderá trazer é determinante na captação de novos residentes e de novos negócios e modelos de negócio e, sobretudo, de novos investimentos. Este dinamismo “deu lugar ao reforço de novas cidades intermédias e vilas (Peniche, Figueira, Nazaré, Ericeira), sustentado na experiência dos últimos anos.

Assunção cristas, ex-ministra da Agricultura e do Mar, também oradora, nas jornadas inovsea, clarificou que a legislação também acompanha este novo paradigma comprometido com a sustentabilidade: “O setor financeiro será motor desta mudança porque os recursos são escassos. O Banco Europeu de investimento sustenta que se transformou num climate bank. Não prejudicar significativamente o ambiente já é um critério na atribuição de muitos financiamentos. Na dúvida, não se considera determinada atividade alinhada com os objetivos ambientais. Evoluiremos até ao momento em que não haverá recursos financeiros disponíveis para projetos não sustentáveis. Mais cedo do que se possa imaginar a conversão acontecerá. Os que agirem primeiro serão compensados em termos financeiros. Estamos num ponto de viragem. importa ir fechando atividades que não são sustentáveis e impulsionar as que são.” 

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