Resumos
MELO, Adriana Ferreira de {UFMG) HISSA, Cássio Eduardo Viana {UFMG)
Grafias do sertão: travessias transdisciplinares
O ideal positivista de cientificidade - caracterizado pela busca da razão e pela negação do sujeito, da emoção, do sonho e da poesia - multiplica a crise da ciência moderna. Alguns questionamentos culminam na reflexão sobre as fronteiras entre as disciplinas científicas e entre a ciência e a arte. Essa nova abordagem, denomi nada "transdisciplinar", questiona a rigidez das fronteiras interdisciplinares, obje tivando apreender a complexidade do mundo. O espaço é produzido pela sociedade e estimula diversos olhares e o desenvolvi mento de variados discursos sobre a sua natureza. Discursos como o da Literatura, por exemplo, ao se ocuparem das representações do espaço, muito podem contribuir para as reflexões que se referem ao conhecimento sócio-espacial. Estudar as repre sentações que os homens estabelecem sobre o seu espaço, a partir do discurso literá rio do romance é, além disso, uma maneira de compreender a cultura de um povo. A paisagem é um elemento fundamental do espaço, resultado da ação da cultu ra ao longo do tempo. Um trabalho que pretende estudar as representações do es paço no discurso literário do romance não pode prescindir da reflexão sobre essa categoria sócio-espacial - transdisciplinar, por natureza. Na paisagem está a escri ta do sertão, grafado pela cultura, anunciado pelo romance, lido pela ciência. Uma reflexão sobre a representação do sertão em Grande sertão: veredas - marcada como objetivo deste estudo - a partir de uma abordagem transdisciplinar, contri bui para a ampliação das possibilidades do conhecimento sócio-espacial.
MENDES, André (UFMG)
Sobre a escrita rosiana: Imagens do Grande sertão, uma reescrita de Guimarães Rosa por Arlindo Daibert
Alguns pensadores, como Barthes, entendem a escrita como escritura, ou seja, um texto centrado em sua própria linguagem, com estilo particular, inventivo. A escrita de Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas é, sem dúvida, um exemplo desse tipo de escritura: portadora de múltiplos sentidos, única. Nessa obra, Rosa reinventou literariamente dados da experiência, da memória e da pró pria tradição literária. Lançando mão da Bíblia, de Dante, de Shakespeare, de uma infinidade de outros grandes autores, de filósofos e místicos, ele construiu um ver dadeiro emaranhado de discursos que possivelmente nunca se esgotarão. Ao criar Imagens do Grande Sertão, Arlindo Daibert propõe uma reescritura visual de Grande sertão: veredas na medida em que busca realizar uma reescrita do texto literário rosiano para os códigos de produção de imagem num exercício de (im)possibilidades ilimitadas. Neste trabalho procura-se analisar como as imagens de Arlindo Daibert sobre põem-se à escritura de Guimarães Rosa, criando outras escrituras que dialogam com a rosiana, ao mesmo tempo em que a ampliam.
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