Neste momento em que a radicalização da modernidade se faz sentir de forma cada vez mais intensa através da revolução tecnocien-ti:ica, que recartografa, com seus fluxos vertiginosos, o mundo das paisagens, dos lugares e dos territórios da vida, o homem volta a se indagar: O que é desenvolvimento? A quem ele beneficia? A quem ele pode ser estendido? As novas cartografias do mundo, produzidas pelos fluxos cada vez mais velozes de capitais, informações, comportamentos e sujeitos, são feitas de mapa� de lugares interconectados economicamente, territórios de economia global, e, também daqueles economicamente desconec tados cujas linhas emergem e se espraiam por todo o tecido cartográfico, evidenciando inevitavelmente mapas omissos, lugares e territórios de exclusão social. Ao se inscreverem ao longo dos imperiais mapas globais de economia, ainda que invisibilizados por esses mapas, os mapas omissos representam a crise ou a necessidade de trans-formação dos ideais de vida impostos pela modernidade, agora radicalizada, bem como das formas de pensar esses ideais. Nesse debate, a reflexão sobre os conceitos de território e desenvolvimento assume uma dimensão fundamental. Como compreender, na contem-poraneidade, as múltiplas possibilida des de significação na construção dos territórios? De que forma a organização territorial é construida pela economia global e pela idéia de desenvolvimento? Como podem emergir processos de produção de territórios de solidariedade e cidadania que insurgiriam contra os hege111ônicos territórios globais? De que forma pode ainda o conceito de território servir ao diálogo entre os mais diversos saberes, ultrapassando não apenas as tradicionais clivagens ideológicas dicotômicas como, por exemplo, a idéia de centro e periferia, Norte e Sul, cidade e campo, desenvolvimento e subdesenvolvimento, mas também as tradicionais formações culturais dos sujeitos produtores dos saberes? É dessas e de outras questões que os ensaios aqui reunidos se ocupam, buscando a construção de cartografias dialógicas que convocam à reflexão sobre a necessidade e as possibilidades de produção de novos mapas-múndi, esboçados não mais a partir da omissão, mas da emancipação dos sujeitos, seus lugares, seus saberes e seus territórios de cidadania. Adriana Melo Adriana Melo é poeta, contista e ensaísta. Graduada em Letras, especialista em Turismo, mestre em Geografia e doutoranda em Geografia, todos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve estudo sobre o sertão no contato com as representações da Literatura, abordando as escritas das paisa-gens, dos lugares, dos territórios.