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ENTREVISTA

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ESTANTE

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DEBATE PÚBLICO TEÓLOGO EXPLICA O PENSAMENTO DO PRINCIPAL CRÍTICO DO EVOLUCIONISMO NO SÉCULO 20 A controvérsia entre criacionismo e evolucionismo voltou a ocupar espaço na mídia nacional depois que o doutor Benedito Guimarães Aguiar Neto foi nomeado presidente da Capes, a principal agência de fomento de pesquisa científica do país. A razão para a celeuma é que o nome dele é associado à Teoria do Design Inteligente (TDI) que, para alguns críticos, seria uma espécie de criacionismo disfarçado.

Para pensar um pouco nessa relação histórica e conflituosa entre evolucionistas e criacionistas, conversamos com Sergio Leandro Pereira e Silva, brasileiro que defendeu em 2017 na Universidade Andrews (EUA) uma tese doutoral em Teologia. Em sua pesquisa, ele estudou o pensamento de George McCready Price, um dos principais críticos da teoria evolucionista no século 20.

Atualmente, o pastor Sergio, de 46 anos, reside no Texas com a esposa e dois filhos. Ali, ele dirige a capelania de dois hospitais adventistas.

Quem foi George McCready Price? Price nasceu no Canadá em 1870. Ele iniciou sua carreira como escritor autônomo e desconhecido, mas se tornou o maior antievolucionista do século 20. Ele foi um pensador adventista original e autodidata, que desafiou praticamente sozinho um tema que já parecia consensual. Suas publicações circularam de 1902 até 1967. Foram 30 livros e centenas de artigos publicados em revistas cristãs, enfatizando (1) as fragilidades do darwinismo, (2) as implicações morais da teoria evolucionista e (3) uma interpretação alternativa para as evidências usadas contra a doutrina da criação. Price também falou que o texto bíblico não é dogmático quanto à idade da vida na Terra e que os criacionistas deveriam evitar o uso do

6 termo “criacionismo”, pois essa expressão estava muito associada à interpretação equivocada de que o Universo tenha sido criado há poucos milhares de anos.

Por que você comparou o pensamento do adventista George Price com o do presbiteriano Benjamin Warfield?

Os argumentos de Price geralmente são desqualificados pelo fato de ele não ter recebido um diploma de pós-graduação. E a argumentação dele costuma ser contrastada com a de Benjamin Warfield, pensador presbiteriano que acreditava que os dias da criação em Gênesis tenham sido simbólicos e representem milhões de anos. O ponto é que, apesar de a visão sobre ciência de Warfield ser considerada superior à de Price, minha análise sobre os escritos de ambos revela que as posições deles eram basicamente idênticas. Os princípios de interpretação que eles utilizaram eram diferentes; por isso, chegaram a conclusões divergentes.

Você o classificaria como fundamentalista?

Não. É verdade que Price era bem conhecido entre os fundamentalistas norte-americanos e foi até convidado para ser testemunha especializada no julgamento do professor John T. Scopes, no caso de 1925 que ficou conhecido como o “julgamento do macaco”. Porém, a teologia dele não era fundamentalista, mas dinâmica e à frente do seu tempo. No início do século 20, ser fundamentalista significava primeiramente acreditar na inspiração verbal, ou seja, que Deus ditou a Bíblia e que ela não teria erros periféricos. Contudo, depois do debate público de 1925, o termo fundamentalista ganhou o sentido de extremismo e ignorância científica.

Que legado ele deixou?

Na teologia, ele resgatou a ideia de lermos a Bíblia como uma grande narrativa que vai de Gênesis a Apocalipse. Logo, o relato de Gênesis 1 a 11 não seria um mito, mas parte essencial da história da redenção. Na filosofia da ciência, por sua vez, Price ajudou a mostrar as falhas no alicerce do darwinismo. E, no contexto denominacional, ele lecionou no Pacific Union College e na Universidade de Loma Linda, onde influenciou muitos educadores e pesquisadores criacionistas, como Harold Clark e Frank Marsh.]

Revista Adventista // Março 2020 Foto: Krista Kasper (AdventHealth Central Texas)

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