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MINHA HISTÓRIA
O abajur azul
TESTEMUNHO DE UM CASAL QUE LEVOU LUZ E ESPERANÇA PARA UMA FAMÍLIA QUE PERDEU TUDO EM UM INCÊNDIO
Amãe da Karen tinha colecionado muitas coisas, porém poucas de valor. O que significa que, quando sua mãe faleceu, Karen e o marido, Henry, passaram muitas horas organizando as coisas que ficaram. Algumas delas podiam ser doadas às instituições de caridade, que, por sua vez, doariam às pessoas necessitadas. Mas a maioria das coisas só tinha valor para Karen. Quando finalmente a casa ficou vazia, o banco de trás do carro dela estava cheio de lembranças de sua mãe, coisas tão preciosas que ela simplesmente não podia vender nem doar. “No banco do passageiro”, lembra-se Karen, “estava o abajur preferido da mamãe”. Não havia nele nada de extraordinário. Era apenas de cerâmica azul brilhante com a forma de jarro de água antigo. A cúpula estava até um pouco DICK DUERKSEN
desgastada. O artesão que o fabricou o fez de uma forma que, para ligar ou desligar a lâmpada, bastava um toque de leve. Sua mãe gostava de mostrar aos seus convidados o milagre de acender seu abajur com um toque.
Enquanto colocava os demais objetos na caminhonete, Henry lembrou dos vizinhos que haviam acabado de perder a casa num incêndio. Eles eram caminhoneiros e, há muitos anos, dirigiam caminhões gigantes que puxam carretas cheias de coisas de um lado
para o outro dos Estados Unidos. Por também ter sido motorista de caminhão, Henry havia se identificado com os vizinhos.
Eles estavam longe quando um tanque de gás explodiu e queimou a casa deles até o chão. Não sobrou absolutamente nada! Pensando em suprir as necessidades daquela família, Karen e Henry empilharam na caminhonete a velha mesa e cadeiras da mãe, uma cama, duas cômodas, utensílios de cozinha, panelas e frigideiras, entre outras coisas que eles achavam que os caminhoneiros poderiam usar.
“Os caminhoneiros tinham chegado na noite anterior e estavam hospedados em uma casinha vazia perto da nossa casa. Então fomos para lá levar o melhor das coisas da minha mãe para alguém que estava realmente precisando e querendo”, Karen relata.
Para ir aonde os caminhoneiros estavam vivendo, eles tinham que passar por uma estrada de terra longa e sinuosa. Quando Karen e Henry foram visitá-los, os veículos levan- taram uma grande nuvem de poeira. “Você deve ter visto o brilho nos olhos deles quando saímos da nuvem de poeira marrom”, Henry disse sorrindo.
No princípio, Emily e Chuck não quiseram admitir que precisavam de algo. “Nós estamos bem. Podemos sobrevi - ver”, enfatizou Emily. No entanto, logo depois de dizer isso ela viu que havia uma cama na caminhonete e começou a caminhar em direção a ela. Lágrimas se acumularam em seus olhos. “Não perdemos muito na nossa antiga casa”, Emily sussurrou, “mas eu gostaria muito de ter uma cama de verdade com um bom colchão”.
Então, descarregaram a cama, colchão, cômodas, cadei- ras, mesa, panelas, frigideiras e talheres de prata pelos quais a mãe de Karen havia tido um carinho especial. Emily encontrou um lugar para cada peça na casa nova, ajudando a transformar o ambiente em um lar.
Então Karen se lembrou do abajur. Emily e Chuck podiam usar a luminária, certo? Sim, podiam! Porém, Karen não tinha certeza de estar disposta a doá-lo. Afinal, esse era o abajur preferido da sua mãe, aquele que seus convidados deviam tocar, aquele que ela ganhara de Natal havia tanto tempo...
“Preciso ficar com ele”, Karen pensou. No carro, ela contou a Emily sobre aquele objeto, expli - cando cuidadosamente como funcionava a luz de toque e descreveu quanto sua mãe se divertia ensinando os con- vidados a acendê-la. Emily estava assustada, como uma menina que acabou de ver a boneca perfeita em uma loja, mas sabe que não pode tê-la.
“Observei meu marido virar a caminhonete vazia e dirigir de volta pela estrada poeirenta. Depois comecei a caminhar de volta em direção ao meu carro”, Karen recorda. “Minha vizinha chorava de gratidão, implorando que eu aceitasse algum pagamento por aquele ato de generosidade. Escutei, mas só conseguia pensar no abajur de toque.”
“Não”, Karen disse a Emily, “você não nos deve nada. Minha mãe ficaria feliz em saber que você ficou com as coi- sas dela e que está muito feliz.”
NOSSOS VIZINHOS QUERIAM RETRIBUIR AQUELE ATO DE GENEROSIDADE E CHORARAM DE GRATIDÃO
As mulheres choraram juntas, e Emily deu a Karen outro grande “abraço de caminhoneiro”.
Karen teve uma péssima noite. Ela só conseguia pensar no abajur de toque. Sempre que adormecia, Deus a acordava e a lembrava de como Emily havia amado o abajur. Pela manhã, Karen sabia que não tinha escolha. O abajur de toque não era dela. Devia ser de Emily. Após o café da manhã, Karen levantou outra nuvem de poeira na estrada em direção à casa de Emily. “Tenho mais uma coisa para o seu quarto”, Karen se emocionou quando Emily atendeu à porta. “É realmente fantástico; deixa eu lhe mostrar”, ela disse.
As duas mulheres caminharam para o quarto onde estava uma das mesas de cabeceira da mãe de Karen, ao lado da nova cama da Chuck e Emily. Karen ligou o abajur em uma tomada elétrica e colocou-o sobre a mesa. Emily observava através dos olhos lacri- mejantes e esperançosos.
“Toque no abajur”, Karen pediu. Emily obedeceu, combinando o brilho da luz com as lágrimas que rolavam. Juntas, elas tocaram no abajur várias vezes, ligando e des- ligando o aparelho. Então, Emily enxugou os olhos e agarrou as mãos de Karen. “Em toda a minha vida, esta é a primeira vez que alguém percebeu que eu gostei de algo e me deu de presente. Nunca antes ninguém reparou no que eu gostava. Só você, Karen! Você viu e se preocupou.” ]