
10 minute read
EVANGELISMO
COLHEITA EM SOLO GAÚCHO
Esforço conjunto em cem pontos de pregação em Porto Alegre leva centenas de pessoas ao batismo na Páscoa
JÉSSICA GUIDOLIN
s portões do estádio Beira-Rio, às margens do Guaíba, O se abriram no dia 20 de abril para receber cerca de 9 mil pessoas. Porém, dessa vez, a casa do Sport Clube Internacional, um dos principais clubes do Brasil, não sediou uma partida de futebol, e sim testemunhou o poder da mensagem da cruz de Cristo.
A celebração marcou o encerramento do programa de Semana Santa realizado em cem pontos de pregação na região metropolitana de Porto Alegre. A mobilização, que vinha sendo planejada havia dois anos, contou com a participação de pastores da Rede Novo Tempo de Comunicação, Casa Publicadora Brasileira e sedes administrativas da igreja. O esforço evangelístico resultou no batismo de 540 pessoas e na decisão de outros milhares para estudar a Bíblia. Em toda a América do Sul, estima-se que tivemos 105 mil pontos de pregação durante a Páscoa. “Olhamos para as grandes cidades e sentimos que a igreja precisa crescer. Nós tínhamos que mudar o paradigma aqui em Porto Alegre. Na região metropolitana, a presença da igreja é forte, mas na capital não é tão forte assim. Não podemos nos prender às dificuldades, devemos olhar para as oportunidades, e vimos que uma página foi virada na história da igreja nesta cidade. Porto Alegre tem potencial”, avaliou o pastor Erton Köhler, líder dos adventistas sul-americanos.
“Os pastores se envolveram, a igreja acreditou e esteve presente, tivemos muitas visitas, batismos e milhares de pessoas que continuarão estudando a Bíblia. O programa de Semana Santa completa 49 anos em 2019, mas está mais vivo do que nunca. Há sede e carência da Bíblia, e a igreja entendeu que nossa missão é chegar próximo das pessoas que têm interesse pela Palavra”, resumiu o pastor Marlinton Lopes, líder dos adventistas do Sul do Brasil.
Além da exposição da Palavra e de bastismos, a semana foi marcada por inaugurações de igrejas, centros de influência e escolas, prédios e instituições que darão suporte para a missão adventista na região. Na oportunidade foi lançada também a pedra fundamental
Pastor Luís Gonçalves fala sobre a volta de Jesus para 9 mil pessoas no estádio Beira-Rio, no encerramento da Semana Santa em Porto Alegre (RS)
da sede da Missão Norte do Rio Grande do Sul, em Novo Hamburgo.
Uma das histórias de transformação testemunhadas durante a Semana Santa foi a de Gilmar de Brito. Preso há pouco mais de seis anos na Penitenciária Estadual de Canoas (PECAN), ele teve o primeiro contato com a mensagem adventista por meio da rádio Novo Tempo. Foi na prisão também que ele conheceu um senhor adventista de 81 anos que visitava o filho na penitenciária, e pediu a ele um curso bíblico.
Do lado de fora da detenção, a mãe de Gilmar localizou uma igreja adventista por meio de uma mulher que foi à sua porta arrecadar alimentos para a campanha do Mutirão de Natal. “Quando recebi permissão para passeio, fui numa quarta-feira à igreja que minha mãe descobriu. Nesse dia havia um coral de crianças cantando. Nunca tinha visto aquilo! Gostei bastante e fiquei muito emocionado. Comecei a ir outros dias e a participar. Deus persistiu comigo e preencheu o vazio que eu sentia”, conta.
Quando passou para o regime semiaberto, Gilmar começou a receber estudos bíblicos, reforçando o que havia aprendido na prisão. Ele tomou sua decisão e foi batizado junto com o filho, Robert Eduardo, de 9 anos, no dia 13 de abril. No Beira-Rio, a arquibancada celebrou decisões de pessoas como Gilmar. Isso foi o que Deus fez e fará por grandes cidades como Porto Alegre. ]
JÉSSICA GUIDOLIN é jornalista e assessora de comunicação da sede da Igreja Adventista para a região Sul do Brasil
A PALAVRA viva E A PALAVRA
JESUS E AS 28 CRENÇAS FUNDAMENTAIS SÃO COMPATÍVEIS? ELIAS BRASIL DE SOUZA
Averdade proposicional se tornou uma das moedas mais desvalorizadas no mercado da vida cristã atual. Certo evangélico reclamou que muitos púlpitos foram tomados por “terapeutas”, mais preocupados em promover bons sentimentos do que em apresentar a verdade bíblica (David F. Wells, No Place for Truth [Eerdmans, 1993], p. 65). Enquanto isso, um número cada vez maior de cristãos parece preferir uma caminhada mais “doce” com Jesus a se esforçar para compreender os ensinos doutrinários das Escrituras. A experiência, os sentimentos e as percepções individuais se transformaram em alguns dos marcos do mundo pós-moderno, que contribuiu para a ascensão da chamada “pós-verdade”.
Em parte, o cenário religioso e social pode explicar por que, para um número crescente de membros da igreja, a dimensão cognitiva da fé adventista do sétimo dia, conforme expressa na declaração de crenças fundamentais da igreja, parece menos relevante para a experiência cristã do que no passado. Com frequência, Jesus é colocado em contraponto com as doutrinas, fazendo parecer que o conteúdo doutrinário das Escrituras seja mais um impedimento do que um guia para um relacionamento genuíno com o Senhor. Embora esteja na moda, essa percepção incorreta contradiz tanto a Bíblia quanto muitas das declarações mais explícitas de Jesus sobre o conteúdo cognitivo da fé (Mt 21:42; 22:29; Mc 12:24; Lc 24:45; Jo 8:32; 14:6; 17:17).
E A PALAVRA escrita
REVELAÇÃO PESSOAL E PROPOSICIONAL
As Escrituras retratam Jesus como o “Verbo” encarnado de Deus (Jo 1:1). O termo grego logos, embora costume ser traduzido por “verbo” ou “palavra”, não se refere, em geral, a um único vocábulo, mas sim a uma série de palavras compostas de sujeito e predicado que formam uma frase ou até mesmo um discurso. A pessoa de Jesus e Seus ensinos são declarações ou discursos salvadores de Deus para a humanidade.
Cristo passou a vida na Terra realizando obras de amor e, por meio de palavras/declarações, Ele explicou os privilégios e as responsabilidades da cidadania no reino de Deus. Jesus também reafirmou a relevância das Escrituras como um testemunho a respeito Dele e deixou claro que a Palavra de Deus permanece em vigor (Lc 16:17; Jo 5:39). Logo, a verdade, conforme entendida e ensinada por Jesus, é não somente pessoal, mas também proposicional. Não faz nenhum sentido afirmar que Jesus é seu Salvador pessoal e ao mesmo tempo rejeitar as verdades proposicionais relacionadas à Sua Pessoa e obra.
Ellen G. White afirmou: “Os que pensam não ser importante se creem na doutrina, contanto que creiam em Jesus Cristo, encontram-se em terreno perigoso” (Cristo Triunfante, p. 257). Um relacionamento genuíno com Jesus inclui aceitação de Sua pessoa e conformidade com Seus ensinos (Mt 7:21-27).
A ideia de aceitar Jesus e desconsiderar as Escrituras é paradoxal, pois é somente por meio das Escrituras que Jesus pode ser identificado e conhecido como Salvador e Senhor. Sem a primazia das Escrituras como a revelação proposicional de Deus, não haveria maneira de identificar o verdadeiro Messias em meio aos muitos pretendentes que têm reivindicado a messianidade, desde o judaísmo do segundo templo até hoje. Além disso, somente por meio da Bíblia é possível saber a diferença entre o Verbo que Se fez carne, morrendo por nós na cruz, e os retratos ficcionais de Jesus feitos pelos evangelhos gnósticos. Sem o testemunho das Escrituras, nosso conceito de Jesus dependeria de reconstruções subjetivas, como as propostas pelas diversas pesquisas sobre o Jesus histórico.
Ambientes culturais e intelec tuais diferentes produzem retratos de Cristo segundo a respectiva agenda política e os interesses culturais do momento. Jesus já foi retratado como um filósofo cínico, um homem santo cheio do Espírito, um revolucionário social, um profeta escatológico ou o Messias. Assim, parece claro que o verdadeiro retrato de Jesus só pode emergir do estudo cuidadoso da Bíblia, sob a guia do Espírito Santo.
AS 28 CRENÇAS FUNDAMENTAIS Qual seria, então, a natureza e o papel das nossas 28 crenças fundamentais, conforme expressas nas declarações votadas pela
igreja durante as assembleias da Associação Geral? Em primeiro lugar, tais declarações não têm o objetivo de funcionar como credos. Somente a Bíblia é nosso credo (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 416). Os credos, conforme elaborados por tradições religiosas, muitas vezes se transformam em expressões imutáveis e fossilizadas da fé de determinada geração e, por isso, se tornam barreiras para uma compreensão adequada das Escrituras. No entanto, nossas declarações de crenças consistem em expressões dinâmicas da sabedoria coletiva da igreja, guiada pelo Espírito Santo. Elas podem ser melhoradas, expandidas, resumidas ou esclarecidas à medida que a igreja cresce em sua compreensão das Escrituras.
Da maneira que se encontram, porém, elas expressam nossa melhor compreensão bíblica atual do amor de Deus e de Sua obra de salvação por intermédio de Jesus Cristo, da natureza e condição da humanidade, da igreja, da vida cristã e da esperança escatológica na segunda vinda. Declarações claras acerca do conhecimento de Jesus e de Sua vontade para nós são de importância suprema “nesta era de engano, pluralismo doutrinário e apatia. Semelhante conhecimento de Cristo é a única salvaguarda contra aqueles que, parecendo ‘lobos vorazes’, ‘se levantarão [...] falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles’ (At 20:29, 30)” (Nisto Cremos [CPB, 2018], p. 10). Além disso, tal declaração também tem o objetivo “de auxiliar aqueles que estão interessados em saber por que cremos no que cremos” (ibid.).
Uma vez que as crenças fundamentais expressam nossa melhor compreensão atual acerca de ensinos bíblicos cruciais, menosprezar ou denegrir essas declarações acaba apontando para uma atitude mais problemática em relação à Bíblia em si. Uma vez que as crenças fundamentais não são um credo – e é bom que seja assim –, a discordância delas sempre deve ser tratada à luz de seu fundamento bíblico correspondente. Em outras palavras, o grande critério para avaliar o compromisso de qualquer indivíduo com as crenças fundamentais permanece sendo a Bíblia e a Bíblia somente.
A importância das doutrinas de modo geral e de nossas crenças fundamentais de maneira particular foi resumida de forma sucinta nas seguintes palavras: “A doutrina é parte essencial da cola que mantém unidas as instituições nas quais a maioria de nós adquire as habilidades necessárias para nos engajar na aventura da teologia. Se a cola for neutralizada, as instituições caem por terra. E, se as instituições desaparecerem, a igreja perderá uma parte de extrema importância na conexão entre gerações. Se descartarmos LONGE DE SER nossa doutrina, a igreja precisará UMA LISTA ÁRIDA da estrutura de que nossos filhos necessitarão quando chegar sua DE PROPOSIÇÕES vez de transmitir a fé para seus descendentes” (John McLarty, INTELECTUAIS, NOSSAS CRENÇAS “Doctrine and Theology: What’s the Difference?”, Adventist Today, janeiro-fevereiro de 1998, p. 21). FUNDAMENTAIS O CENTRO DA DOUTRINA APONTAM PARA Embora possamos discordar em relação a detalhes e não ter resO JESUS DAS postas para todas as perguntas, à ESCRITURAS medida que crescemos no enten dimento e na aplicação das Escri COMO O GRANDE turas, devemos permanecer unidos nas declarações que a igreja CENTRO, QUE MANTÉM A IGREJA mundial votou como expressões de nossa melhor compreensão atual dos ensinos bíblicos. Longe UNIDA NA FORMA de ser uma lista árida de propo sições intelectuais, nossas cren DE UM CORPO ças fundamentais apontam para o Jesus das Escrituras como o grande MUNDIAL DE centro, que mantém a igreja unida CRENTES na forma de um corpo mundial de crentes. Conforme Ellen G. White observou: “Cristo é o centro de toda verdadeira doutrina. Toda religião genuína se encontra em Sua Palavra e na natureza” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 453). Portanto, para os adventistas do sétimo dia, as Escrituras continuam a ser a fonte da doutrina, enquanto Cristo é o centro de toda crença que adotamos como igreja mundial.
Somos chamados a aderir tanto a Cristo, a Palavra Viva, quanto à Sua Palavra escrita, com “a mente e o coração, pensamentos e sentimentos, razão e fé, teologia e doxologia, esforço mental e o ministério do amor”, como escreveu John Piper (Think: The Life of the Mind and the Love of God [Crossway, 2010], p. 15). Mas, ao lidar com oposição ou mesmo rejeição ferrenha às nossas crenças fundamentais, devemos manter na lembrança esta sábia declaração de Ellen G. White em The Advent Review and Sabbath Herald (4 de dezembro de 1900, parágrafo 10): “A verdade defendida com injustiça é a maior maldição que pode sobrevir ao mundo. Mas a verdade como é em Jesus é um sabor de vida para vida. Vale a pena possuí-la. Vale a pena vivê-la. Vale a pena defendê-la.” ]
ELIAS BRASIL DE SOUZA, doutor em Teologia, é diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica na sede mundial da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA)