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PAINEL

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ENFIM

ENFIM

FATOS

CARTA INÉDITA

Durante muitos anos, os arquivos do Pacific Union College, nos Estados Unidos, guardaram uma carta sem assinatura, datada de 9 de maio de 1882, sem saber ao certo quem era seu autor. No en tanto, recentemente pesquisadores descobriram que o documento tem um valor histórico maior do que se pensava por ter sido escrito pela pioneira Ellen G. White. Na correspondência endere çada ao missionário adventista John Orr Corliss, ela fala sobre as críticas que estava recebendo numa época em que se discutia se seus “testemunhos” poderiam ser corrigidos e revisados.

TRANSPLANTES DE FÍGADO

O Hospital Adventista Silvestre (HAS) está entre os três hospitais que mais realizam transplantes de fígado no país. Em oito anos, a unidade realizou 600 procedimentos desse tipo, marca alcançada por poucas instituições de saúde no mundo.

CRISE NA VENEZUELA

SELOS ADVENTISTAS

Em janeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou uma série de selos postais alusivos aos 60 anos do primeiro clube de desbravadores do Brasil e ao 5 o Campori SulAmericano. Agora, eles farão parte do acervo do Museu dos Correios. A proposta é que, nos próximos anos, sejam lançados outros selos comemorativos relacionados a ministérios e projetos da igreja. A situação dramática no país vizinho tem atingido a igreja especialmente na região da fronteira com o Brasil. No fim de fevereiro, Zoraida Rodríguez, membro de uma comunidade adventista na região de La Gran Sabana, foi morta durante um confronto entre militares e membros de uma comunidade próxima de onde ela morava. Esse talvez seja o período mais difícil enfrentado pela igreja ao longo de 109 anos de adventismo na Venezuela. Mas, felizmente, a crise tem tornado a igreja mais unida, fervorosa e benevolente, segundo o pastor Orlando Ramirez, secretário executivo de uma das sedes administrativas da denominação no país.

DATA

30 E 31 DE MAIO E 1 O E 2 DE JUNHO

Cerca de 800 pessoas são esperadas no

4o Compassion Brasil, evento da área de missão urbana promovido pela Associação Paulista Leste. A progra mação será realizada no Colégio Adventista de Vila Matilde em duas etapas: a primeira, nos dias 30 e 31 de maio, exclusiva para pastores, e a segunda, nos dias 1 o e 2 de junho, aberta para o público em geral. Para se inscrever, acesse: adv7.in/TI.

Embora a internet tenha criado oportunidades, dado voz a grupos marginalizados e facilitado nossa vida diária, também engendrou oportunidades para fraudadores, deu voz aos que propagam o ódio e facilitou a prática de todos os tipos de crimes.

Tim Berners-Lee, o “pai” da web, ao refletir sobre o 30 o aniversário da internet em artigo publicado no site do El País

52% dos internautas brasileiros não conseguem ficar um dia sem o smartphone, de acordo com uma pesquisa realizada em junho de 2018 pelo Ibope Inteligência com 2 mil pessoas de todas as regiões do Brasil.

OLHAR DIGITAL

DOCUMENTÁRIO SOBRE PATERNIDADE

Resultado de uma parceria entre vários centros de mídia adventistas, o média-metragem Fathers mostra a realidade da convivência de pais e filhos em diferentes países. Além do documentário de 45 minutos, o pro jeto inclui um livro com artigos sobre a perspectiva bíblica da paternidade, conselhos práticos sobre educação e experiências pessoais. Ambos foram lançados no encontro mundial de comunicação e tecnologia, realizado no fim de fevereiro na Jordânia, e em breve devem ganhar versões para o português.

TIRE SUAS DÚVIDAS

Quem deseja saber mais a respeito da nova lei que garante o direito à presta ção alternativa para estudantes de todos os níveis do ensino pode visitar a página da internet criada pela sede adventista sulamericana. Além de explicar em quais casos será aplicada a legislação, sancionada em janeiro, o endereço permite baixar declarações e requerimentos necessários para garantir a aplicação dos direitos previstos na Lei 13.796, que entrou em vigor no dia 5 de março. Acesse: adv.st/leisabado.

STREAMING DOS CULTOS

Se sua igreja deseja transmitir programações pelo Facebook e o YouTube, mas não sabe que tipos de equipamentos de captação de áudio e vídeo têm o melhor custo-benefício, uma opção é vi sitar o site Churchfront.com, mantido por Jake Gosselin, americano que se dedica a oferecer dicas de como a igreja pode usar as novas tecnologias. Em um de seus posts, ele mostra como grandes e pequenas congregações podem fazer transmissões ao vivo pela internet. Acesse: adv7.in/TN.

GENTE

VÍTIMA DO MASSACRE

A matança em escolas deixou de ser uma realidade apenas de países como os Estados Unidos. No dia 13 de março, o Brasil presenciou mais uma tragédia (a sexta de grandes proporções registrada em menos de duas décadas), depois que dois ex-alunos entraram numa escola estadual em Suzano, na região metro politana de São Paulo, e tiraram a vida de dois funcionários e cinco estudantes, além de ferir outros 11. Uma das vítimas do massacre foi o adolescente Samuel Melquíades Silva de Oliveira, de 16 anos. Ele era membro da Igreja Adventista Central de Suzano e, juntamente com o pai, desenvolvia um ministério ilustrando semanalmente os temas da Lição da Escola Sabatina.

BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)

De Wilson Rossi e Clarisse Linhares Rossi, na Igreja Adventista do Unasp, campus São Paulo, em cerimônia realizada pelos pastores Neumoel Stina e Assad Bechara, além de Enio Borba, sobrinho do casal. De família tradicional adventista, o doutor Wilson sem pre foi um grande defensor dos interesses da igreja. Por sua grande influência na esfera pública, teve a oportunidade de apresentar a mensagem adventista a diversas autori dades e personalidades. Wilson e Clarisse, filha do pioneiro pastor João Linhares, o sexto pastor ordenado no Brasil, sendo também um dos fundadores do programa A Voz da Profecia no Brasil, casaram-se em Washington D.C. em 31 de agosto de 1958. O casal tem três fi lhos (Elbert Wilson, Ricardo Augusto e Carlos Eduardo) e cinco netos.

BODAS DE OURO (50 ANOS)

De Arlindo Bruns e Ilda Peggau Bruns, comemorada em família. Membro da Igreja Central de Joinville (SC), o casal tem três filhas e dois netos.

De Olávio Dias e Gorintina G. Dias, em ceri mônia realizada na cidade de Tubarão (SC). Eles têm um casal de filhos e três netos.

NOMEAÇÃO

Joan Sabaté, professor da Universidade de Loma Linda, foi um dos 20 cientistas escolhidos pelo governo norteamericano para compor o comitê que irá definir diretrizes dietéticas para a popu lação no período de 2020 a 2025. A lista foi divulgada pela Secretaria de Agricul tura dos Estados Unidos em fevereiro.

MORRE DESMOND FORD

Poucos debates teológicos travados no meio adventista tiveram tanta re percussão quanto os que aconteceram em Glacer View, no Colorado (EUA), no fim da década de 1970 e início dos anos 1980. Foi ali que Desmond Ford sus tentou publicamente sua tese contrária à visão tradicional adventista sobre a doutrina do santuário. Suas ideias exer ceram grande impacto na igreja, levando muitos pastores a deixar o ministério. Apesar de nunca ter deixado oficialmente de ser membro da igreja, Ford foi irredutível em sua interpretação e de dicou o restante de sua vida a um ministério independente. A postura dele levou a igreja a um importante aprofundamento teológico que se reflete ainda em nossos dias. O influente teólogo australiano, que admitia não saber tudo, “exceto em questões de teolo gia”, morreu no dia 11 de março, aos 90 anos, em Queensland, na Austrália, onde viveu seus últimos anos.

INTERNACIONAL

LEGADO PARA A MEDICINA

Pioneiro no uso da protonterapia nos Estados Unidos, método que utiliza feixes de prótons para combater o câncer, o médico James M. Slater morreu no dia 28 de dezembro aos 89 anos. Ele foi o fundador do centro de tratamento com prótons da Univer sidade de Saúde de Loma Linda, o primeiro desse tipo implantado no país.

1.603.952 membros tinha a Divisão Sul-Asiática em dezembro de 2017. Esse território administrativo abrange a Índia, Nepal, Butão e as ilhas Maldivas.

29%

dos adventistas frequentam a igreja mais de uma vez na semana, segundo indicou uma pesquisa realizada pela denominação em nível global em 2017.

NOVA IDENTIDADE VISUAL

Depois de estudar a imagem que as pessoas têm da ADRA, a liderança da agência humanitária da igreja apre sentou seu novo plano de comunicação durante um encontro de representantes de seus 131 escritórios no fim de fevereiro. Além de ressaltar o papel da entidade no desenvolvimento de projetos de longo prazo, na resposta a emergências e na promoção dos direitos humanos, o novo logo e slogan reforçarão sua natureza confessional. 105 mil dólares Esse foi o valor arrecadado pela Maranatha Volunteers International através de uma campanha on-line que buscou levantar recursos para a perfuração de poços em comunidades que sofrem com a falta de água potável no Quênia.

As organizações religiosas são muito importantes para a sociedade, pois são uma das principais plataformas para a organização do indivíduo e fornecem a bússola moral para nossas sociedades.

Lazarous Kapambwe, representante permanente da Zâmbia na ONU, durante o 5 o Simpósio Anual sobre o Papel das Organizações Religiosas em Assuntos Internacionais, realizado no fim de janeiro na sede da ONU, em Nova York (EUA)

Colaboradores: Becky St. Clair, Carmen Moraga, Felipe Lemos, Frank Campbell, James Ponder, Kimi Roux-James, Márcio Tonetti, Mateus Teixeira, Vanessa Moraes e Wendel Lima

DO CALVÁRIO AO

ENTENDA AS IMPLICAÇÕES DA OBRA EXPIATÓRIA DE CRISTO NO PASSADO, PRESENTE E FUTURO

VINÍCIUS MENDES

Se você entende o tema da justificação pela fé, faz parte do seleto grupo de menos de 1% que compreende “por si mesmo a verdade bíblica sobre este assunto, tão necessário ao nosso bemestar presente e eterno” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 360). Essa citação de Ellen G. White contém o elemento da hipérbole, mas é inegável que muita gente tem dificuldade de assimilar a profundidade e a simplicidade envolvidas na doutrina da justificação pela fé.

A falta de compreensão desse tema entre nós reflete uma dificuldade histórica no cristianismo. Ao longo dos séculos, abordagens diversas e até opostas têm coexistido no universo cristão. O que dizer da forma como protestantes e católicos encaram o assunto? No próprio protestantismo, há diferentes entendimentos de como alguém pode ser justificado. O adventismo tem uma visão particular ou está alinhado à tradição protestante? Há na denominação mais de uma forma de enxergar essa doutrina? Diante de tanta diversidade, é fundamental entender o que a Bíblia tem a dizer e procurar estar sempre no centro do evangelho.

MOVIMENTO PENDULAR

A história do cristianismo revela que o assunto da salvação tem sido abordado de modo pendular e dialético. Em alguns períodos, a ênfase recaiu sobre um suposto papel determinista de Deus. Em outros, o foco esteve na obediência humana meritória. Entre esses polos, houve também espaço para uma noção equilibrada sobre a justificação pela fé.

No 1º século da era cristã, por exemplo, predominou a visão apostólica sobre a salvação (Rm 1–7; Gl 1–4; Ef 2; Tg 2:14-26). No Novo Testamento, a justificação e a santificação são apresentadas como faces da mesma moeda, resultantes da graça e experimentadas pela fé (Ef 2:8-10).

Contudo, esse cenário ideal não durou muito. No 2º século, o pêndulo se movimentou para uma visão mais legalista. Preeminentes pais da igreja acabaram pesando a mão no papel da obediência e, em certo sentido, atribuíram mérito às boas obras (ver Tratado de Teologia, CPB, 2011, p. 338).

A partir daí, o palco da história eclesiástica apresenta a intensificação da movimentação pendular sobre o tema da justificação. Se de um lado Agostinho (354-430), Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) defenderam o pecado original (herança da culpa de Adão), o antinomismo (rejeição à lei) e a predestinação, de outro expoentes como Pelágio (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274) e Jacó Armínio (1560-1609) puxaram o pêndulo para a ênfase nas boas obras, na resposta humana à graça divina e no livre-arbítrio.

Esse embate encontrou seu ponto mais alto no contexto da Reforma Protestante. A partir da influência de Tomás de Aquino, prevaleceu no catolicismo medieval a ideia de que a salvação é monopólio da igreja, a justificação é um processo de ritos sacramentais e as obras humanas são meritórias.

Em termos teológicos, foi contra isso que os reformadores se insurgiram. Eles moveram a autoridade que estava na igreja para as Escrituras e defenderam que a justificação é exclusivamente pela graça mediante a fé. O resgate dessa verdade bíblica foi uma grande bênção. Porém, na Reforma Protestante o papel divino acabou sendo hiper-enfatizado, e a santificação foi relegada ao segundo plano. Herdeiros da teologia de “SER JUSTO PELA Agostinho, Lutero e Calvino ensinaram o determinismo divino na FÉ SIGNIFICA, NO salvação, o que significa que o PLENO SENTIDO, ser humano não tem liberdade de escolher seu destino, muito QUE RECEBEMOS DE menos de operar sua salvação com temor e tremor (Fp 2:12). DEUS TANTO O NOSSO No livro Nascido Escravo, Lutero equiparou o livre-arbítrio TÍTULO PARA O CÉU à justificação pelas obras e ao (JUSTIFICAÇÃO) pecado, porque, segundo ele, a escolha humana “se opõe à fé e COMO NOSSA não redunda na glória de Deus” (Fiel, 2007, p. 26, 27). Calvino APTIDÃO PARA ELE foi na mesma direção. Porém, (SANTIFICAÇÃO)” sem liberdade de escolha, o ser humano não passa de uma IVAN BLAZEN, TEÓLOGO espécie de marionete nas mãos de Deus, que faz tudo e não deixa o menor espaço para a manifestação da vontade de Suas criaturas.

Na sequência histórica, o pêndulo não deixou de se movimentar e se aproximou do centro. Em reação às ideias calvinistas, Jacó Armínio enfatizou o livre-arbítrio e defendeu uma noção sinergista da salvação, em que Deus e o homem têm um papel a desempenhar. Nessa visão, Deus manifesta Sua graça em Cristo e a oferece a todos os que creem. Essa oferta, contudo, pode ser rejeitada e, uma vez aceita, pode ser negada. Em Armínio, a parte humana não é meritória, mas corresponde ao exercício da vontade e ao esforço em praticar o que Deus pede. Isso está em direta oposição ao calvinismo, que, em reação, convocou o Sínodo de Dort (1618 e 1619) e estabeleceu seus conhecidos cinco pontos.

Na esteira do pensamento arminiano, surgiu o ministério de John Wesley (1703-1791) e a denominação fundada por ele, o metodismo. Wesley ensinava que a morte de Cristo foi um sacrifício penal e substitutivo e que o novo nascimento, que ocorre na justificação, é a base da santificação.

Em grande medida, o pensamento de Ellen White sobre salvação está alinhado com o de Wesley. A pioneira adventista foi membro da Igreja Metodista até 1843. Sob a influência de White, e a partir de uma acurada pesquisa bíblica feita pelos pioneiros, o adventismo se estabeleceu como denominação situando-se no debate sobre a justificação pela fé com uma visão próxima à desenvolvida por Armínio.

A denominação ensina que a salvação ocorre como fruto da graça de Deus e é recebida livremente mediante a fé, que é a parte humana no processo. Proveniente de Deus, a fé operante é uma demonstração viva da aceitação do sacrifício expiatório de Jesus. Além disso, os adventistas entendem que, por ocasião do juízo investigativo, Deus aplica os méritos de Cristo em favor de Seu povo, examina e evidencia a permanência de Seus filhos na fé que abraçaram.

VISÃO ADVENTISTA

Essa compreensão adventista está fundamentada na Bíblia e é compatível com o integrado sistema doutrinário da denominação. O santuário e o juízo investigativo atuam como eixo central de nossa teologia. Segundo Ellen White, o “santuário [...] revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si” (O Grande Conflito, p. 423).

Em Sua obra sumo-sacerdotal, Jesus aplica os méritos de Seu sacrifício expiatório na vida dos crentes com o objetivo de prepará-los para Seu segundo advento (ver Questões Sobre Doutrina,

CPB, 2008, p. 260). Esse entendimento permite a compreensão de que, no santuário, Deus continua ativo em Sua obra expiatória. A cruz não é o ponto final dos esforços salvíficos de Deus. O Calvário legitimou o ministério sumo-sacerdotal de Jesus em favor dos que creem em Sua morte substitutiva (Ap 5).

A doutrina do santuário aponta para o futuro. Ao concluir Seu trabalho no lugar santíssimo do Céu, Cristo voltará para buscar Seus filhos. Isso significa que o entendimento adventista sobre o tema da salvação está diretamente associado à esperança da breve volta de Jesus.

O sacrifício expiatório de Cristo é o fundamento de nossa salvação, e o santuário é o lugar em que ela é aplicada a nós. Por causa da cruz, somos absolvidos; no santuário, somos santificados, perdoados e preparados para a volta de Jesus. Cristo nos salva e transforma. Nele, e em Seu santuário, salvação e senhorio convivem harmonicamente, o sangue expiatório aplaca os reclamos da eterna lei de Deus, a graça e a verdade se encontram, a justiça e a paz se beijam (Sl 85:10). Na compreensão adventista, perdão e transformação de vida fazem parte da justificação pela fé.

Nessa linha, Ivan Blazen afirma: “Como Salvador, Cristo oferece à humanidade o dom da salvação; e, como Senhor, pede que andemos em novidade de vida (Rm 6:4) [...]. Os adventistas incluíram ambos os elementos sob a ‘justificação pela fé’. [...] Ser justo pela fé significa, no pleno sentido que recebemos de Deus, tanto o nosso título para o Céu (justificação) como nossa aptidão para ele (santificação)” (Tratado de Teologia, CPB, 2011, p. 345).

Isso está em harmonia com o ensino de Ellen White. Ela via a justiça de Deus sendo manifestada na vida do crente com duas faces: “É imputada a justiça pela qual somos justificados; aquela pela qual somos santificados é comunicada. A primeira é nosso título para o Céu; a segunda, nossa adaptação para ele” (Mensagens aos Jovens, 1996, p. 35).

Diferentemente do entendimento protestante, os adventistas não enxergam a justificação como um evento isolado, mas integrado ao processo amplo da salvação. De modo geral, os evangélicos creem que a justificação seja algo externo ao ser humano e representa somente uma mudança de status, em que o indivíduo apenas passa de perdido para salvo sem que se inicie, ao mesmo tempo, a transformação do caráter.

Os adventistas, por sua vez, compreendem que o ato da justificação dá início ao novo nascimento, que é o ponto de partida da santificação. Por isso, Mario Veloso escreveu que a justificação pela fé “não é um simples ato forense”, até porque “a reconciliação implica necessariamente uma transformação das relações existentes entre o homem inimigo e Deus”, e isso começa no ato da justificação (O Homem, Pessoa Vivente, IAE, 1984, p. 188).

FOSSILIZAÇÃO E PROTESTANTIZAÇÃO

O ensino adventista sobre a justificação pela fé é bíblico e, por isso, localiza o debate no equilíbrio, no coração do evangelho. Contudo, não estamos imunes às oscilações do pêndulo sobre esse tema. Defensores de um adventismo fossilizado restringem o pecado somente aos atos e minimizam ou mesmo negam a influência de nossa natureza pecaminosa. Assim, ligam-se ao extremismo de Pelágio. Ideias como póslapsarianismo, teoria da última geração e perfeccionismo rebaixam o valor da graça de Deus e concentram toda a atenção no ser humano e nas obras, que se tornam meritórias. Nesse contexto, a religião se limita apenas a comportamento: comida, vestuário e coisas do tipo.

O outro extremo é igualmente perigoso. Embora o adventismo emoldure a doutrina da justificação pela fé no contexto do santuário e do juízo investigativo, muitos têm aderido à compreensão protestante. Nos termos de Fernando Canale: “Um progressivo esquecimento da teo logia adventista tem motivado algumas mentes inquiridoras a encontrar sua autocompreensão no mundo da teologia protestante” (Journal of the Adventist Theological Society, v. 15, 2004, p. 6).

Canale cunhou a expressão “protestantização da mente adventista”. Segundo o autor, ela traduz o processo de assimilação da doutrina da justificação pela fé, assim como é entendida pelos protestantes, a elevação desse ensino ao papel de eixo central do sistema teológico e o enfraquecimento do viés escatológico da denominação (ver Ciência, Evolução e Teologia, Unaspress, 2014, p. 89).

Em busca de relevância e de uma visão mais adocicada sobre salvação, muitos têm enfatizado os pressupostos protestantes da doutrina da justificação pela fé e colocado de lado nossos ensinos específicos, como a doutrina do santuário, o juízo investigativo e as três mensagens angélicas.

Setores emergentes do adventismo de viés liberal e progressista têm alargado as fronteiras de sua influência, ajudando a produzir

gerações cada vez mais desconectadas com a identidade do movimento, desconhecedoras de nossos pressupostos teológicos e descomprometidas com o estilo de vida denominacional.

Infelizmente, a igreja não ficou imune às influências negativas da pós-modernidade e é possível que o processo de “protestantização da mente adventista”, identificado por Canale, seja sinônimo ou irmão gêmeo da “pós-modernização da mente adventista”. Nesse fenômeno, a Bíblia passa a ser interpretada majoritariamente pela cultura, predomina a religião existencialista do aqui e agora, a missão se resume à assistência social, o pentecostalismo rapta o louvor e a adoração, os métodos são mais importantes que o conteúdo, santidade se torna legalismo e fé é confundida com sentimentalismo.

RELAÇÃO ENTRE FÉ E OBRAS

Em grande medida, a dificuldade de muitos em entender o tema da justificação nos moldes bíblico-adventistas está associada à falta de entendimento do conceito de fé. Na mentalidade popular, essa palavra expressa um sentimento religioso e/ou uma crença doutrinária. Porém, não é assim que as Escrituras a apresentam.

No Antigo Testamento, o termo fé é a tradução do hebraico ’emunah, presente na emblemática passagem “o justo viverá pela fé” (Hc 2:4). Na maior parte das ocorrências dessa expressão, encontramos o sentido de fidelidade, firmeza, confiança e responsabilidade. Em outras palavras, no Antigo Testamento, fé não é um conceito abstrato, mas relaciona-se com uma decisão e com atitudes que a expressem.

O verbo crer é a tradução do hebraico ’aman, que compartilha a mesma raiz de ’emunah. De modo semelhante, esse verbo expressa a atitude concreta de se firmar em algo e de agir com base em uma convicção profunda. Na Bíblia Hebraica, crer nunca é apenas uma ideia ou um sentimento. É mais do que isso; é ação fundamentada em razão e emoção. Logo, fé é algo integral e envolve a mente, o coração e o corpo. Por isso, a única reação aceitável à graça de Deus é: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6:5). Crer em Deus é amá-Lo, confiar Nele e agir com base em Suas promessas.

No Novo Testamento, o termo fé é a tradução da palavra grega pistis, que ocorre também no texto bíblico com o sentido de fidelidade e compromisso (Rm 3:3; Gl 5:22; 1Tm 5:12). Em toda a Bíblia, os conceitos de fé e fidelidade andam de mãos dadas, sendo faces da mesma moeda. O apóstolo Paulo reforça essa ideia ao usar de modo intercambiável fé e obediência: “Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm efeito algum, mas sim a fé que atua pelo amor” (Gl 5:6, NVI, itálico acrescentado); “A circuncisão não significa nada, e a incircuncisão também nada é; o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus” (1Co 7:19, NVI, itálico acrescentado). Nessas duas passagens semelhantes, o apóstolo faz equivaler o sentido de fé ao O CRISTO QUE FOI da obediência à lei de Deus. Além disso, na primeira passagem o CRAVADO NA CRUZ autor bíblico ensina que a fé que salva “atua pelo amor”, ou seja, a NOS DÁ PODER PARA fé não é uma ideia nem um senCRUCIFICAR O PECADO timento apenas, mas uma ação pautada em forte convicção.

Em Hebreus 11, o capítulo áureo da fé, encon tramos sua definição mais conhecida. O conceito é expresso no verso 1 e demonstrado a partir do verso 4. O que significa algo que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”? O apóstolo exemplifica essa ideia com uma lista de atitudes de célebres personagens bíblicos. Abel ofereceu um sacrifício superior a Caim; Abraão obedeceu à voz Deus, saindo de sua terra, e ofertou seu filho no altar; Moisés recusou ser chamado filho da filha de faraó e abandonou o Egito; os israelitas atravessaram o Mar Verme lho, etc. Em Hebreus 11, fica claro que fé e obras sempre andam de mãos dadas.

Esse ensino está em harmonia com o do apóstolo Tiago (2:18). Ellen White vai na mesma direção: “A fé que é para salvação não é uma fé casual, não é o mero assentimento do intelecto, é a crença arraigada no coração”; “não é uma fé morta, mas sim que opera por amor, e o leva [o cristão] a contemplar a formosura de Cristo, e a tornar-se semelhante ao caráter divino” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 391-392, itálico acrescentado).

Lutero via, e muitos ainda veem, contradição entre Paulo e Tiago, mas os adventistas ensinam que os dois apóstolos “estão de acordo no tocante à justificação pela fé. Enquanto Paulo destaca a falácia de se buscar a justificação pelas obras, Tiago salienta o perigo de se pretender a justificação sem as obras correspondentes. Nem as obras nem a fé morta podem conduzir à justificação. Ela pode ser obtida unicamente mediante genuína fé, aquela que opera por amor (Gl 5:6) e purifica a alma” (Nisto Cremos, CPB, 2009, p. 153).

O DECÁLOGO E AS PROMESSAS

Muitos não entendem o evangelho porque não compreendem o decálogo. No pensamento protestante, a lei está em oposição à graça e, por isso, Jesus a teria abolido na cruz. Esse antinomismo não encontra, de nenhum modo, fundamento nas Escrituras.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o decálogo foi pronunciado por Deus no contexto de uma aliança graciosa. Os requisitos humanos desse concerto são ouvir a voz de Deus e guardar a aliança divina (Êx 19:5, 6). Nesse pacto, a parte de Deus é oferecer, para quem não merece, a bênção extraordinária de ser um “reino de sacerdotes e nação santa”. Isso é graça. A parte humana é simplesmente ouvir e guardar a aliança. Isso é fé. Esses dois verbos sinônimos e cognatos (shâma‘ e shâmar) são usados no Antigo Testamento tanto para ouvir quanto para obedecer. A audição da Palavra de Deus deve resultar em algo prático: obediência. Quando pediu que Israel ouvisse e

NÃO EXISTE DICOTOMIA ENTRE FÉ guardasse os termos da aliança, Deus chamou o povo para que exerE OBRAS, SALVAÇÃO E cesse fé em Suas promessas. Paulo SANTIFICAÇÃO, explicou que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” GRAÇA E JUÍZO (Rm 10:17, ARC).

E quais são os termos da aliança que o povo deveria ouvir? Os dez pronunciamentos graciosos de Deus para a humanidade registrados em Êxodo 20. No decálogo, os aspectos relacionados ao passado, presente e futuro da salvação estão combinados. Deus Se apresenta como Aquele que havia tirado o povo do cativeiro (v. 2). Ao usar o verbo “tirei” no pretérito perfeito, Ele convida Seus filhos a olhar para trás e relembrar Seu amor e poder envolvidos na salvação.

Na sequência, Ele projeta os olhos de Seu povo para a frente. Com isso em mente, é importante saber que “o decálogo não está redigido no imperativo, mas no futuro do indicativo”, explica Roberto Badenas (Mas Alla de la Ley, Safeliz, 2000, p. 75). O imperativo é o modo verbal das ordens e do autoritarismo. O futuro do indicativo é o tempo em que são pronunciadas as bênçãos e as promessas. Segundo Badenas, o “futuro é o tempo da esperança. Mesmo que [o decálogo] estipule o que Deus pede hoje, sua forma no futuro anuncia o que Ele promete para o amanhã. Sua própria redação convida a confiar no poder da graça” (p. 76).

A lei de Deus não está em oposição ao evangelho, mas expressa a graça divina. Afinal, não existe separação nem antagonismo entre lei e graça nas Escrituras. Os dez mandamentos são dez promessas divinas. Quem as acolhe com fé vê progressivamente esse ideal se realizar na vida. O mesmo Deus que nos tirou com mão forte do Egito está em ação para tirar o Egito de nós. O Cristo que foi cravado na cruz nos dá poder para crucificar o pecado. O decálogo está incrustado no coração do evangelho. A lei foi esculpida na pedra por Jesus no Sinai e é impressa em nosso coração pelo Espírito Santo hoje (ver Patriarcas e Profetas, p. 366; Jr 31:33; Ez 36:25-27).

EVANGELHO ETERNO, LEI E JUÍZO

Em Apocalipse 14:6, 7, no contexto da primeira mensagem angélica, encontramos uma explicação detalhada sobre o evangelho eterno, que é sinônimo de justificação pela fé (ver Evangelismo, p. 190). Decompondo a imutável mensagem da graça de Deus para a humanidade, o texto faz referência a cinco aspectos. Primeiro, ele diz: “Temei a Deus”. O temor do Senhor nas Escrituras sempre está associado à lei (Dt 8:6; 13:4; Sl 19:9-11; 111:10). Em segundo lugar, afirma: “dai-Lhe glória”. O decálogo é a explicação mais completa de como devemos glorificar e adorar a Deus. Os primeiros quatro mandamentos falam da exclusividade da adoração, da proibição de se fazer imagens de escultura, da pronúncia reverente ao nome de Deus e do dia especial para glorificá-Lo. Em terceiro lugar, menciona “a hora do juízo”. No juízo pré-advento, Deus credita e comunica Sua justiça sobre Seu povo, avalia e evidencia sua permanência na fé. Em quarto lugar, faz refe rência ao mandamento do sábado. A expressão “o céu, e a terra, e o mar” é uma citação direta de Êxodo 20:11, parte do decálogo que apresenta a justificativa para a guarda do sábado.

Por fim, o texto menciona “fontes das águas”. Na primeira passagem de Gênesis em que essa expressão ocorre (7:11), vemos as fontes se rompendo para destruir o mundo, que havia rejeitado a advertência sobre o dilúvio. Mas Noé e sua família entraram na arca. Na segunda (8:2), as fontes do abismo se fecham, e, na sequência, Noé e os seus saem da arca para repovoar o mundo. A referência a “fontes das águas” remete a destruição, mas também a recomeço. A graça de Deus se manifesta em advertir sobre a condenação, prover o meio de salvação e em lembrar que Ele fará novas todas as coisas (Ap 21:5). No centro do evangelho eterno estão a imutável lei de Deus e Seu juízo gracioso. Não existe dicotomia entre fé e obras, salvação e santificação, graça e juízo.

A justificação pela fé é “verdadeiramente a mensagem do terceiro anjo” (Evangelismo, p. 190). Portanto, é nosso dever entendê-la, vivê-la e pregá-la. Mesmo em meio às oscilações históricas e aos desequilíbrios em que ela foi envolvida, precisamos, pelo poder do Espírito Santo, permanecer no coração do evangelho. No centro dessa mensagem está o Cristo ressuscitado. Por Sua morte, Ele é nosso Sacerdote e Rei no santuário celestial. Em Sua obra presente, Ele purifica nossa vida com o perdão e nos governa com santidade. Tudo isso para nos preparar para o encontro com Ele em Sua breve volta. ]

VINÍCIUS MENDES, mestre em Ciências Sociais, é pastor e editor de livros na CPB

INFLUÊNCIA POSITIVA

Conheça alguns adventistas de várias partes do mundo que têm feito a diferença. Eles testemunham em cortes, parlamentos e entre os menos favorecidos

CONVICÇÕES FIRMES

A POSTURA DE DAVID MARAGA, PRESIDENTE DA SUPREMA CORTE DO QUÊNIA

MARCOS PASEGGI

David Maraga, adventista e chefe de justiça, se tornou presidente da Suprema Corte do Quênia em outubro de 2016. Porém, mesmo antes de assumir, ele passou a ser o centro das atenções.

Naquele ano, durante suas audiências de confirmação, Maraga declarou à Comissão de Serviço Judicial que, se fosse eleito, ele não atenderia casos no sábado. “Prefiro conversar com meus colegas no tribunal e fazer os ajus tes para me dispensar da audiência caso ela se estenda até o sábado,” adiantou.

Maraga teve a oportunidade de colocar suas convicções em prática após a contestação das eleições nacionais do Quênia, em 8 de agosto de 2017. A primeira audiência do caso foi agendada para as horas do sábado 26 de agosto. No entanto, a seu pedido, a audiência foi transferida para as 19 horas.

Desde então, os analistas políticos do Quê nia destacaram a reputação de Maraga como pessoa íntegra, o que atribuem ao fato de ele ser um adventista devoto. ]

PELA FÉ, NÃO PELA VISÃO

CONHEÇA O PRIMEIRO SENADOR CEGO DA JAMAICA

SANDRA BLACKMER

Floyd Emerson Morris, de 49 anos, tinha poucas expectativas de sucesso ao perder a visão ainda jovem, vítima de glaucoma, quando deixou a escola no ensino médio para trabalhar em uma granja.

No entanto, apesar de sua deficiência visual e inúmeros desafios associados a ela, mais tarde Morris graduou-se em Comunicação Social, cursou o mestrado em Filosofia de Governo e, em 2017, recebeu o título de doutor em Filosofia pela Universidade das Índias Ocidentais.

Porém, sua conquista mais notável foi sua eleição para presidente do Senado da Jamaica em maio de 2013. Ele foi o primeiro deficiente visual a assumir o cargo, no qual permaneceu até fevereiro de 2016.

Morris é conhecido por defender as pessoas com deficiência, e pro move ativamente a votação de leis e programas que beneficiam essa comunidade. Ele escreveu sua autobiografia intitulada By Faith, Not by Sight (Pela Fé, Não pela Visão), lançada em 2017.

Embora condecorado por suas realizações, inclusive pelos líderes da Igreja Adventista na assembleia mundial da denominação em 2015, Morris credita sua história de superação a Deus e à sua família.

“Creio que Deus tem um plano especial para minha vida, e tenho permitido que Ele me guie. Posso ver os benefícios dessa fé Nele.” Ele é casado com Shelly-Ann Gayle desde 2011 e membro da Igreja Andrews Memorial, em Kingston, Jamaica. ]

SANDRA BLACKMER é editora-assistente da Adventist World

O PARTIDO QUE DEFENDE OS ANIMAIS

MARIANNE THIEME, PARLAMENTAR NA HOLANDA, TEM MOSTRADO FIRMEZA DIANTE DA IMPOPULARIDADE DA SUA CAUSA

SANDRA BLACKMER

Marianne Thieme, líder do Partido Pró-Animais no Parlamento da Holanda (partyfortheanimals.nl) e membro da Câmara dos Deputados do país, permaneceu firme contra a onda do ridículo quando, em 2002, ela e outros ativistas fundaram um partido com uma pauta inovadora e impopular. No entanto, nas eleições de 2006, eles receberam cerca de 180 mil votos (1,8%) e duas vagas no parlamento holandês. Uma década depois, conquistaram 335 mil votos (3,2%) e cinco vagas entre os deputados. No mundo, já foram fundados 18 partidos semelhantes. Hoje os oponentes não riem mais tanto deles.

Thieme, que sempre defendeu a causa dos animais, tornouse vegetariana aos 23 anos após assistir a um documentário. Na época, ela estudava Direito na Universidade Erasmus, em Roterdã. Depois da formatura, seu primeiro emprego foi numa empresa de intermediação de terras e gestão de resíduos. Posteriormente ela trabalhou para uma fundação holandesa que defendia o bem-estar animal e se opunha à agricultura em larga escala. Thieme já produziu dois videodocumentários sobre o impacto ambiental do consumo da carne.

Criada na Igreja Católica, Thieme descobriu a fé adventista quando estudava sobre vegetarianismo e leu os livros de Ellen G. White. Ela disse ter ficado impressionada com a mensagem de compaixão e o apelo apaixonado pelo vegetarianismo encontrado nos escritos da pioneira (ver A Ciência do Bom Viver, p. 314). Thieme é casada com Jaap Korteweg, também adventista e proprietário da Vegetarian Butcher, indústria que produz alimentos substitutos para a carne. ]

SANDRA BLACKMER é editora-assistente da Adventist World

VOZ RESPEITADA

O CAPELÃO DO SENADO NORTEAMERICANO MINISTRA DIARIAMENTE PARA POLÍTICOS HÁ 15 ANOS

STEPHEN CHAV EZ

Almirante Vern Clark (à dir.), chefe de operações navais, congratula o contraalmirante Barry C. Black (à esq.) pelo recebimento da Medalha de Serviços Relevantes da Marinha

Barry C. Black raramente está nas manchetes. Mas todos os dias ele se encontra com os que estão em destaque na imprensa. Ele é o capelão do Senado dos Estados Unidos desde 7 de julho de 2003. Nessa função, diariamente Black faz a oração no início das atividades

da casa legislativa. Ele é o primeiro afroamericano e o primeiro adventista a ocupar essa posição.

Black supervisiona a assistência espiritual para os senadores, suas famílias e seus funcionários, um total de 6 mil pessoas. Ele também coordena grupos de estudos da Bíblia e preside o desjejum de oração semanal do Senado. Em 2017, ele foi o orador do Desjejum Nacional de Oração, evento anual que reúne o presidente e a elite política americana.

Antes de ser nomeado para sua função atual, Black serviu como capelão na Marinha dos Estados Unidos, chegando à patente de almirante. Ele era o chefe da capelania da Marinha quando se aposentou.

Black nasceu em Baltimore, Maryland, numa família com oito filhos. Sua mãe foi uma das suas principais influenciadoras, pois se esforçou para garantir que toda sua família frequentasse escolas cristãs, do ensino fundamental à pós-graduação. Por falta de recursos, ela e os filhos foram despejados de casa algumas vezes.

Conhecido por decorar grandes porções das Escrituras, hábito que cultiva desde a infância, Barry Black participou de posses presidenciais, muitos eventos oficiais e foi testemunha ocular dos debates históricos do século 21. Durante a paralização de três semanas do governo federal em 2013, ele atraiu a atenção do país quando orou: “fortalece nossa fraqueza, substitui o cinismo pela fé e a covardia pela coragem.” Black escreveu quatro livros, entre eles sua autobiografia Sonho Impossível (CPB, 2008). ]

STEPHEN CHAVEZ é editor associado da Adventist World

UM MUNDO MELHOR

IMAGINE UMA SOCIEDADE EM QUE TODOS TÊM TUDO DE QUE NECESSITAM

STEPHEN CHAV EZ

Era o ano de 1990, quando a Igreja de College Heights, em Lacombe, Alberta, Canadá, buscava oportunidades de evangelizar, mas com o foco de não apenas abençoar sua comunidade, e sim o mundo todo. Eric Rajah e Brian Leavitt passaram a pesquisar projetos humanitários internacionais nos quais sua comunidade de fé pudesse se engajar. Isso aconteceu em 1990. Vinte e nove anos mais tarde, a ONG A Better World Canada (Um Mundo Melhor Canadá, abwcanada.ca) está envolvida em ações sociais em 14 países, como Quênia, Ruanda, Tanzânia e Bolívia.

A Better World é uma referência em desenvolvimento comunitário sustentável, pois realiza parcerias para manter projetos por pelo menos dez anos. Em vez de trabalhar apenas com assistencialismo, ela investe em desenvolvimento. Sua abordagem parte do diálogo com a comunidade a ser beneficiada, a fim de entender como os moradores enxergam suas necessidades mais importantes. A comunidade local também precisa contribuir com mão de obra e a manutenção do projeto.

A ONG dos adventistas compartilha os objetivos humanitários da ONU, como tirar as pessoas do ciclo da pobreza e garantir que elas tenham acesso à comida, água potável, saúde e educação fundamental. Essas metas são inspiradas no reconhecimento de que a dignidade humana tem como base o fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, e que Ele quer restaurar essa imagem em nós.

Todos os anos, a ONG coordena viagens de voluntários para os

países assistidos, a fim de iniciar novos projetos, avaliar o progresso dos programas em andamento e oferecer serviços especializados nas áreas médica, odontológica, de reabilitação e fisioterapia.

Para fomentar a formação de novos voluntários, A Better World organiza missões de curta duração para jovens, a fim de que vivenciem em primeira mão o serviço humanitário e aprendam a captar recursos e desenvolver projetos no exterior.

No início do seu discurso em uma formatura na Universidade Burman, no Canadá, em abril de 2017, Eric Rajah disse aos formandos que três palavras simples e diretas podem transformar o mundo: “Pense. Creia. Aja. Juntas, elas são a fórmula útil em qualquer comunidade.” ]

STEPHEN CHAVEZ é editor associado da Adventist World

MULHERES TAMBÉM TÊM VEZ

EM MUITAS CULTURAS, ELAS AINDA SÃO CIDADÃS DE SEGUNDA CLASSE

STEPHEN CHAV EZ

Joy-Marie Butler se autodescreve como uma mulher de fé que se preocupa com outras que estão feridas. “Justiça, imparcialidade e compaixão são palavras-chave que descrevem meu caráter. Eu falo, escrevo e oro sobre essas questões em qualquer oportunidade. Creio na libertação das mulheres dos venenos devastadores das drogas, álcool e tabaco.”

Butler é presidente da União Cristã de Temperança Feminina da Austrália (WCTU, em inglês) e uma das vice-presidentes mundiais da entidade. Ela já foi a coordenadora da Escola de Saúde e diretora do Ministério da Mulher da Divisão do Sul do Pacífico da Igreja Adventista. Trabalhou também num programa em favor do saneamento e saúde das escolas adventistas de Papua-Nova Guiné. Butler atuou também como capelã do Hospital Adventista de Sydney, na Austrália, e num projeto da ADRA Tailândia de combate ao tráfico humano.

Sobre sua ligação com a WCTU, ela diz: “As mulheres da WCTU fizeram campanha pelos direitos das mães e crianças numa época em que essas pessoas menos privilegiadas e feridas enfrentavam grandes dificuldades. A preocupação continua, e estou aqui neste mundo hoje para fazer a diferença e torná-lo melhor para as pessoas com quem me encontro.” ]

ESCOLA DE ALIMENTAÇÃO

FORMANDO PROFESSORES DE NUTRIÇÃO NO LESTE DA ÁFRICA

MARCOS PASEGGI

Joy Kauffman lançou a Farm Stew em 2015, após observar as necessidades nutricionais em Uganda. “Percebi que os agricultores estavam plantando soja, mas não a usavam para alimentar seus filhos que estavam morrendo por falta de proteína. Eles não sabiam como utilizar o que tinham”, justifica seu ministério.

A ONG Farm Stew trabalha nas áreas de agricultura, segurança alimentar, saneamento básico e empreendedorismo. A metodologia inicial incluia ensinar, com o apoio de instrutores nativos, as ugandenses a cozinhar de modo saudável e saboroso com a soja e seus derivados (leite e tofu), e ainda a organizar pequenos negócios com o que colhiam da terra.

O sucesso inicial mostrou que, para avançar, seria necessário treinar e contratar mais gente. Por causa dessa visão de multiplicação, 49 mil pessoas já foram beneficiadas. Kauffman e sua equipe também desenvolveram materiais e expandiram as atividades da ONG para o Zimbábue e Sudão do Sul. Esse ministério tem atuado na zona rural, centros urbanos, escolas e prisões. Até um restaurante vegano foi aberto. “Há muito a ser feito, e podemos fazer se nos esforçarmos. Estamos abertos para ver o que Deus ainda tem preparado para nós”, conlui Joy. ]

PROJETO ORFANATO

UMA INICIATIVA PARA ENSINAR, ALIMENTAR E VESTIR CRIANÇAS DE BOTSUANA QUE PERDERAM OS PAIS PARA O HIV

MARCOS PASEGGI

“ F ui criado em Botsuana, quase ignorante dos seus desafios”, diz Ryan Williams, de 37 anos, a força motora por trás do Projeto Orfanato em Botsuana. “Só quando me mudei para a Austrália, a fim de estudar engenharia, é que percebi o grande contraste entre esses dois mundos e enxerguei a necessidade de Botsuana.”

Durante uma de suas férias universitárias, em 2004, pediram a Williams que tirasse fotografias e fizesse vídeos de um orfanato mantido pela Igreja Adventista, no norte de Botsuana. Ele ficou impressionado com o número de órfãos que haviam perdido os pais por causa da AIDS. Um relatório da ONU de 2003 mostrou que quase 25% da população do país, entre 15 e 49 anos, estavam contaminados pelo vírus. Diante daquele quadro, Williams se comprometeu a fazer qualquer coisa para oferecer alimentação e educação para essas crianças.

De volta à Austrália, ele convocou seus amigos da igreja e da escola para ajudar. Sua intenção era criar um movimento com fins humanitários. O projeto tem duas frentes: (1) prevenção por meio da educação visando mudança de comportamento das crianças e (2) provisão de um ambiente seguro em que elas possam receber amor, alimentação e os cuidados necessários para seu desenvolvimento. Quinze anos depois, hoje o projeto tem parcerias com a sede administrativa da igreja (União) e instituições locais. Juntos, eles mantêm seis orfanatos espalhados pelo país. Os centros foram construídos e financiados, em sua maioria, por voluntários da Austrália e Canadá. Por influência de Williams, colegas de escola e do trabalho dele se envolveram. Até uma banda musical cristã ajudou na divulgação da iniciativa.

“Muitos dos voluntários que se inscreveram nem são cristãos, mas todos confessam que participar desse projeto foi uma experiência transformadora”, revela Williams. Entre os beneficiados está o ex-chefe de Williams, um agnóstico dono de uma companhia de 5 mil funcionários na Austrália. Após a viagem humanitária, a esposa do ex-chefe abordou Williams dizendo que aquela viagem havia salvado o casamento dela.

Em 2013, Williams foi condecorado pelo governo de Botsuana com a Ordem Presidencial de Serviço Meritório. Hoje vivendo em Portland, Oregon (EUA), Williams continua promovendo o projeto com os orfanatos. A próxima viagem missionária está marcada para julho. ]

MARCOS PASEGGI é jornalista da Adventist World

FAZENDO HISTÓRIA

BILL KNOTT

Conforme é ensinada em vários sistemas educacionais ao redor do mundo, a disciplina de História é lecionada com base na narrativa de coisas grandes ou terríveis, ditas ou realizadas por pessoas importantes, em momentos marcantes de determinada tribo, povo ou nação.

Esse roteiro faz com que as crianças cresçam com a noção de que a história foi escrita por grandes heróis militares, monarcas poderosos e políticos eloquentes. Desde os primeiros registros escritos da trajetória humana, datados de 4 mil anos na Mesopotâmia, até as manchetes da imprensa de hoje, “fazer história” é algo que esperamos de outras pessoas. Daquelas cuja vida, de certa maneira, é diferente da nossa por causa de sua riqueza, linhagem ou preparo intelectual.

No entanto, essa teoria da história do “grande homem” inevitavelmente reduz nossas expectativas sobre nós mesmos e a respeito de nossa responsabilidade de mudar o mundo. Assumimos que a fome é um problema que os políticos devem resolver. A pacificação é um desafio para diplomatas capacitados. E que mudanças legislativas que promovam a igualdade das pessoas é prerrogativa apenas dos parlamentares.

Mas há outra história – vivida e ensinada por Jesus – que posiciona cada cristão, mesmo que aparentemente humilde e anônimo, no clímax da grande narrativa da humanidade. É o evangelho vivido por aqueles que nunca chegarão às manchetes. Se cada copo de água fresca e cada fatia de pão são percebidos e valorizados por Aquele que julga todas as coisas, então as ações despretensiosas realizadas em nome do único Rei, a fim de mudar ainda que seja uma única vida humana, é que são registrados pelo Céu. Pois são essas atitudes que podem ser decisivas para a história de alguém.

Os testemunhos retratados nesta matéria são de pessoas que estão trabalhando para o reino de Deus. Nenhuma dessas pessoas nasceu para exercer poder ou influência, mas todos já abençoaram alguém. As histórias deles servem para lembrá-lo de que você também é um influenciador para a implementação do futuro reino de Cristo. ]

BILL KNOTT é editor executivo dos periódicos Adventist Review e Adventist World

Não importa o custo

A HISTÓRIA DE UM CASAL NORTE-AMERICANO QUE DEIXOU TUDO PARA SERVIR NO IRÃ

BETH THOMAS

Incrédula, Florence observou ao seu redor. Sua cabana de barro de dois andares em Maragha, na Pérsia (atual Irã), era confortável para os padrões locais. Tinha uma cozinha pequena com janelas que permitiam a entrada de uma brisa suave. No primeiro andar havia espaço para reuniões, enquanto que no piso superior mais quatro cômodos ofereciam a possibilidade de atividades paralelas. No entanto, ela se perguntava como iria manter limpos o chão e as paredes de barro. Seus olhos se umedeceram ao se lembrar da sua casa e de sua família. Ela se sentia muito sozinha ali.

Frank Oster, com quem havia acabado de se casar, estava acostumado à vida missionária. Ele já havia trabalhado no campo por quatro anos. Florence se lembrava bem do primeiro encontro deles. Tinham se assentado um ao lado do outro na reunião da equipe de missão internacional do professor Harry Washburn, no Walla Walla College (EUA). Eles juraram que seriam missionários no exterior. Brotou entre eles uma amizade casual, até que Frank partiu para além-mar em 1909.

Ele e muitos outros jovens adventistas foram escolhidos no início do século 20 para servir em lugares distantes e desconhecidos. Após a assembleia da igreja em 1901, um novo impulso foi dado para as missões transculturais. Frank e seu amigo Henry Dirksen foram os primeiros missionários adventistas residentes a entrar na Pérsia. Como a maioria dos norte-americanos que aceitavam esse desafio naquela época, eles sabiam que seu compromisso era para o resto da vida.

VIDA EM FAMÍLIA

Graças aos correios, a relação entre Frank e Florence se tornou séria depois que ele partiu. Por meio de uma enxurrada de cartas, eles concluíram que haviam sido feitos um para o outro e que poderiam ser parceiros na missão. Os jovens se casaram em Londres, Inglaterra, onde os pais de Florence moravam. Em seguida, o casal tomou o navio para o Oriente Médio e passou a lua de mel a caminho da Pérsia. Era o ano de 1913.

A introdução do livro To Persia, With Love (Pacific Press, 1980), um esboço biográfico sobre o trabalho de Oster no Irã, diz o seguinte: “O Islã [...], desde seu início, criou um nível de fervor e lealdade entre seu povo que tem sido visto apenas ocasionalmente em outras religiões. Tem-se provado que aqui talvez seja o maior desafio missionário em todo o mundo. Nos primeiros 50 anos do trabalho dos adventistas do sétimo dia na Pérsia (iniciado em 1911), houve um total de 29 missionários. Frank e Florence Oster trabalham ali sozinhos por 11 anos (1914- 1925)” (p. 9, 10). No total, Frank trabalhou no Oriente Médio por 35 anos, 27 deles no Irã.

O casal Oster criou um método de trabalho naquele país. Frank realizava reuniões de estudo da Bíblia em sua casa, usando os materiais da Escola Sabatina, enquanto Florence procurava estabelecer contatos por meio do ensino e aprendizagem de idiomas (Advent Review and Sabbath Herald, de 7 de agosto de 1952). Ela procurou aprender a língua local usando a Bíblia como livro-texto. Logo Florence reuniu um grupo de meninas do bairro e começou a ensinar inglês para elas. Enquanto as garotas aprendiam seu idioma, ela praticava o delas, explicando os textos bíblicos que estava lendo. Como resultado de sua habilidade linguística e vontade de acolher seus vizinhos, algumas meninas começaram a guardar o sábado.

A vida não foi fácil para os Osters. Eles enfrentaram enfermidades graves, fugiram

Frank Oster

FRANK E FLORENCE OSTER ENFRENTARAM ENFERMIDADES GRAVES, FUGIRAM DE INVASORES CURDOS DURANTE A 1 a GUERRA MUNDIAL, PERDERAM DOIS FILHOS DEVIDO A DOENÇAS, SOBREVIVERAM COM RECURSOS LIMITADOS E DIARIAMENTE ENFRENTARAM A SOLIDÃO

de invasores curdos durante a 1ª Guerra Mundial, perderam dois filhos devido a doenças, sobreviveram com recursos limitados e diariamente enfrentaram a solidão. Porém, foram fiéis no posto do dever. Quando chegavam as cartas dos Estados Unidos oferecendo férias, eles escolhiam permanecer no campo missionário. Afinal, após tantos anos de trabalho, a igreja estava prestes a ganhar vida naquele lugar. “Não, Frank. A obra de Deus vai sofrer se partirmos. Não podemos ir agora”, disse certa vez Florence ao marido (To Persia, With Love, p. 69).

O casal Oster fundou escolas, alimentou e vestiu órfãos, ministrou para refugiados. E, pouco a pouco, a igreja foi crescendo no Oriente Médio. Uma pessoa por vez. Quando foram transferidos para Istambul, na Turquia, o trabalho havia saído da “estaca zero” para uma missão consolidada e estável, com uma equipe competente formada por funcionários locais e europeus (p. 160).

Finalmente, seguindo ordens expressas para que deixassem o país durante a 2ª Guerra Mundial, eles tiveram que voltar para os Estados Unidos. O trabalho deles no Oriente Médio teve pontos altos e também baixos. Se forem analisados apenas os números, aparentemente foi gasto muito tempo e energia para resultados tão pequenos (p. 188).

LEGADO DURADOURO

Os Osters podem ter sido tentados a pensar que seu sacrifício foi em vão, mas, nas páginas finais da história da vida deles, disseram que não teriam feito diferente. Certa vez perguntaram a Florence: “‘O seu fardo foi muito grande? O preço de tudo isso foi muito alto? Você teria dedicado sua vida e seus talentos para uma causa melhor?’ Sua resposta foi: ‘Não, mil vezes, não!’” (p. 190). A razão para não lamentarem nem se arrependerem é que haviam experimentado a orientação de Deus e o conforto de Seu Espírito.

A centelha da chama espiritual acesa pelos Osters foi varrida completamente na revolução iraniana na década de 1970. A “obra naquela terra antiga permanece inacabada, e os desafios são ainda maiores do que antes. Como será terminada a obra de Deus [...] permanece nas mãos de novos pioneiros, trabalhando sob a Providência divina” (p. 4). Quem tomará a bandeira e seguirá os passos deles, realizando coisas difíceis para Deus? ]

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