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Turfas

AUGUSTO MEYRER, HASSAN YOUSSEF & RODRIGO ALVES

O QUE SÃO TURFAS?

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A turfa é uma substância fóssil, organomineral, originada da decomposição de restos vegetais, encontrada em áreas alagadiças como várzeas de rios, planícies costeiras e regiões lacustres [1]. O processo de decomposição da matéria orgânica ocorre em um ambiente ácido e de pouca oxigenação [2]. A turfa contém, em geral, 90% ou mais de água, quando recolhida e seca ao ar, esse teor abaixa para valores médios próximos de 40% O material seco possui acima de 70% de matéria orgânica em relação ao seu peso, podendo ser mais ou menos fibrosa, dependendo do grau de decomposição da matéria base [3],[4]

Classifica O Das Turfas

A Sociedade Internacional das Turfas propôs um método simplificado da classificação das mesmas, onde as diferenças entre elas se encontram relacionadas com os seguintes três aspetos: a sua composição botânica; o seu grau de decomposição e as condições do local de formação [5]

Composição botânica:

-Componente de musgos: comporta o sphagnum ou turfa de musgo, excelente porosidade, com uma elevada capacidade de retenção de água e transporte de oxigénio [6]

-Componente herbácea: constituída por Gramíneas,Ciperáceas (carriços), Juncáceas (junças) e tifáceas (canas). As junças têm uma capacidade de retenção de água inferior à componente musgos [7]

-Componente lenhosa: restos de árvores e de arbustos, tais como Pináceas, Fagáceas, Betuláceas, Salicáceas, Miricáceas e Ericáceas Grande parte do húmus da turfa é constituído por resíduos de árvores e arbustos que se decompuseram em períodos muito longos [8].

Grau de decomposição ou grau de evolução:

Apesar das várias formas possíveis de determinação do estado de decomposição das turfas, geralmente no meio hortícola este pode ser avaliado, diretamente, pela sua decomposição na escala de von Post Segundo von Post é possível distinguir nesta escala 10 graus de decomposição, de H1 a H10, referindo-se H1 a um material não decomposto e H10 a material muito decomposto [9]

De acordo com esta escala as turfas podem dividir-se:

- Turfas pouco evoluídas - H1-H3: Compreende desde as turfas louras ou claras até às castanhas claras

- Turfas medianamente evoluídas - H4-H6: São designadas por turfas castanhas ou escuras.

- Turfas muito evoluídas - H7-H10: Neste grupo incluem-se as turfas castanhas escuras e as negras ou pretas

Modos de Formação/Condições do Local de Formação:

De um modo geral podem-se distinguir três tipos de turfeiras, de acordo com os processos de formação das turfas:

- Turfeira eutrófica ou turfeira baixa: formada em depressões que recebem água de zonas adjacentes mais elevadas [9]

- Turfeira oligotrófica ou turfeira alta: a sua superfície mantémse praticamente sempre inundada, apesar de não serem formadas por inundação, devido às elevadas precipitações e às propriedades da sua vegetação em reter humidade [10]

- Turfeira mesotrófica ou turfeira intermediária: é um estado intermédio, correspondente à evolução de uma turfeira eutrófica para oligotrófica [11].

TURFEIRAS UTILIZADAS COMO TESTEMUNHO DE OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DA SERRA DA ESTRELA

O texto abaixo foi retirado de uma revista/jornal do Centro de Arqueologia de Almada:

“O corte pedológico produzido pela variação do nível da água na albufeira e observado no local dos achados evidencia a existência de uma camada negra, saturada de matéria orgânica, indício de a depressão, antes. da instalação da albufeira, ter sido preenchida por materiais vegetais em decomposição (turfeira) Nestas condições, é lícito admitir que a ocupação pré-histórica representada pelos materiais recolhidos se tenha efetuado na zona periférica de uma turfeira, existente à data no local…. Tais achados vêm, deste modo, confirmar as conclusões obtidas dos perfis polínicos obtidos nas turfeiras de altitude da Serra da Estrela, que indicam uma primeira degradação do coberto vegetal nos finais do IV, inícios do III milénio a.C., devida à acão antrópica relacionada com a criação de pastagens de altitude “[12], [13]

Exemplos De Turfas

Foto de turfa antiga

Bibliografia

[1]: Franchi, J. G. (2000). Aplicação de turfa na recuperação de solos degradados pela mineração de areia (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo)

[2]: Rosa, A H , Rocha, J C , & Furlan, M (2000) Substâncias húmicas de turfa: estudo dos parâmetros que influenciam no processo de extração alcalina Química Nova, 23, 472-476

[3]: Franchi, J G (2004) A utilização de turfa como adsorvente de metais pesados O exemplo da contaminação da bacia do rio Ribeira de Iguape por chumbo e metais associados (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).

[4]: Hugron, Sandrine; Bussières, Julie; Rochefort, Line (2013) «Tree plantations within the context of ecological restoration of peatlands: practical guide»

[5]: Bunt, B R (2012) Media and mixes for container-grown plants: a manual on the preparation and use of growing media for pot plants

Springer Science & Business Media

[6], [7], [8]: Penningsfeld, F (1983) Kultursubstrate für den Gartenbau, besonders in Deutschland: Ein kritischer Überblick/Plant substrates for horticulture with special regard to Germany: A critical review Plant and Soil, 269-281

[9]: Reis, M., Martinez, F. X., Soliva, M., & Monteiro, A. A. (1997, April). Composted organic residues as a substrate component for tomato transplant production. In International Symposium on Composting & Use of Composted Material in Horticulture 469 (pp 263-274)

[10]: Abad, M., Fornes, F., Carrión, C., Noguera, V., Noguera, P., Maquieira, Á , & Puchades, R (2005) Physical properties of various coconut coir dusts compared to peat HortScience, 40(7), 2138-2144

[11]: Caron, J , & Rivière, L M (2002) Quality of Peat Substrates for Plants Grown\in Containers In Organic soils and peat materials for sustainable agriculture (pp 67-92) CRC Press

[12]: van der Knaap, W O , & van Leeuwen, J (1994) Holocene vegetation, human impact, and climatic change in the Serra da Estrela, Portugal

[13]: Van den Brink, L. M., & Janssen, C. R. (1985). The effect of human activities during cultural phases on the development of montane vegetation in the Serra de Estrela, Portugal. Review of Palaeobotany and Palynology, 44(3-4), 193-215

BioHeitor

Melhor Trabalho de Ciência no Concurso Nacional de Jornais Escolares

2020/2021

2021/2022

Francisco Sousa, Joana Magalhães & Rita Lucas

INTRODUÇÃO:

Ecologicamente, as turfeiras são complexos ecossistemas, com uma taxa de acumulação de matéria orgânica superior à taxa de decomposição, formando-se, deste modo, um substrato pedológico em condições de anoxia e encharcamento, o qual se denominada turfa, que se acumula em profundidade [1]. Considera-se as turfas como produtos de acumulação e decomposição de matéria-prima, sendo estas, assim, um percursor vegetal; geralmente, a formação ocorre em pântanos, a partir de vegetação morta ou parcialmente decomposta, pelo que apresentam uma cor castanha amarelada ou em alguns casos preta acastanhada de consistência fibrosa [2]. As turfeiras são ambientes húmidos, dinâmico e altamente especializado de transição entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, formados pelo contínuo crescimento de vegetação que coloniza a área, sendo os seus restos acumulados sob a forma de turfas; podendo estas ser diferenciadas quanto a critérios botânicos, hidrológicos, topográficos, grau de decomposição da matéria conteúdo, natureza das cinzas, cor e conteúdo de água [3]. Ainda por conta das condições necessárias à existência de turfeiras estas são formadas em locais onde as condições de clima e a drenagem favorecem a preservação da matéria orgânica, pelo que são mais comuns em zonas de clima temperado, uma vez que se trata de um ambiente propício ao desenvolvimento destas [3].

TURFEEIRAS E O CICLO HÍDRICO:

Relativamente à hidrologia das turfeiras, a entrada de água de água na turfa é representada pelas águas oriundas da precipitação, escoamentos superficiais e de base [4].

As turfeiras desenvolvem um papel crucial nos ciclos hidrológicos por purificarem as águas, sendo que retêm substâncias que são transportadas em solução, entre os quais iões metálicos, fazendo com que estes elementos apareçam em concentrações muito baixas na água que é posteriormente libertada da turfeira [5].

Além disso, as turfeiras são também prestadoras de serviços ao ciclo hídrico em termos de fornecimento e regulação de água; estudos realizados nas ilhas da Terceira e Flores, nos Açores, mostram que, atualmente, as turfeiras destas regiões têm capacidade de reter cerca de 72438317m3 de água, no entanto, em estado natural, teriam capacidade de reter mais 300% da água que atualmente retêm [5].

As turfeiras são associações de plantas, ao passo de que as trufas são sedimentos de idade geológica recente, formados pelo acumular e decomposição de matéria vegetal, em ambientes saturados de água, baixo pH e pouco oxigénio [6]. As turfeiras alcançam o seu desenvolvimento quando corpos d'água, em regiões frias e úmidas, são colonizadas por musgo Sphagnum, que acidifica o local, através da absorção que é feita de catiões e libertação de hidrogénio [6].

O processo de formação das turfas pode levar centenas de anos e estima-se que estas compreendam aproximadamente 3% da crosta terrestre; os seus principais constituintes são compostos de lignina, celulose e demais substâncias húmicas [7].

Devido às suas características as turfas podem ter diferentes aplicações, desde o tratamento de águas, passando pelo monitoramento ambiental, combustíveis, fertilizantes de solos até à medicina tanto humana como veterinária [7] .Um dos papéis mais importantes que se tem também reservado para os organossolos das turfeiras é a sua utilização como arquivo ambiental e cronológico da evolução das paisagens, já que são utilizadas em estudos palinológicos, pedológicos e geoquímicos com a finalidade de oferecer subsídios para avaliar as mudanças climáticas [3].

O depósito de turfas é realizado de duas formas: um pelo preenchimento de depressões de pequenos lagos por matérias inorgânica e outro pela constante inundação de lagoas em terras baixas de vales, ou estuários de rios e consequente acumular de plantas mortas [8].

Além de reservatórios de água as turfeiras são também importantes reservatórios de carbono, sendo que se estima que ocupem uma área de 420 milhões de hectares em todo o mundo e aproxima-se que nessa área, considerando uma profundidade 2 metros, estejam armazenados 455 bilhões de toneladas de carbono [9].

Além disso, as turfeiras são ainda importantes testemunhos para a pesquisa das alterações climáticas e detetoras de elevado significado ambiental, sendo que preservam informações cronológicas com utilidade, além das suas condições possibilitarem que os corpos que nelas sejam depositados permaneçam, por muitos anos, em bom estado de preservação [9].

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