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RepoRtagem aSa: o novo voo rumo à digitalização do espaço aéreo brasileiro
by DECEA
O novo voo rumo à digitalização do espaço aéreo brasileiro
ASA, acrônimo de Airspace System Analysis, é um produto digital que vai melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo para diferentes finalidades, a partir de padronização e automatização de processos.
por glória galembeck e João Ximenes arte: augusto Yamamoto
O trabalho realizado pelo CIMAER abarca 22 milhões de quilômetros quadrados que são protegidos pela Força Aérea Brasileira por meio das ações de controlar, defender e integrar
A gestão do uso dos 22 milhões de quilômetros quadrados do espaço aéreo brasileiro é uma tarefa complexa, dado aos diferentes usos possíveis e a imensidão desse cenário tridimensional.
Do ponto de vista dos profissionais que controlam o acesso e o uso do espaço aéreo brasileiro, são muitas as camadas possíveis. Circulação aérea geral, operações militares, voos de aeronaves não tripuladas (drones), aerodesporto e objeto projetado no espaço aéreo (OPEA) são algumas das possibilidades.
Cada tipo de uso possui características - como a área da operação e a altitude - bastante distintas, mas, o que todos têm em comum é que ocupam uma porção do espaço aéreo, em um determinado intervalo de tempo e precisam ser solicitados ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) para serem devidamente autorizados.
Com o objetivo de melhorar o fluxo das análises de solicitações de uso do espaço aéreo a partir de padronização e automatização de processos, desde o recebimento do pedido, o DECEA, por meio da Assessoria de Transformação Digital (ATD), ligada ao Subdepartamento de Operações (SDOP) está desenvolvendo uma plataforma chamada ASA, acrônimo de Airspace System Analysis – Análise do Sistema do Espaço Aéreo.
O ASA é composto por uma série de produtos digitais, com missões distintas que concorrem para os mesmos objetivos: viabilizar o gerenciamento do uso do espaço aéreo no espaço-tempo, divulgar as informações entre os responsáveis por diferentes processos, melhorar a análise das solicitações do uso do espaço aéreo e automatizar as análises possíveis, visando desonerar o efetivo.
Para o usuário externo, as solicitações continuarão a ser feitas da mesma forma. Por exemplo, voos de drone são solicitados no Sistema de Solicitação de Acesso ao Espaço Aéreo por RPAS (SARPAS), enquanto a autorização para construções que se caracterizam como OPEA é feita por meio do Sistema de Informações Administrativas da Área de Aeródromos (SysAGA). Porém, o público interno - sejam analistas dos Órgãos Regionais ou das organizações do DECEA - contará com uma ferramenta para ter uma visão geral dos múltiplos usos do espaço aéreo em vigor ou em algum período, seja no passado ou no futuro.
“Todos os processos contemplados pelo ASA são atualmente controlados pelo DECEA por meio de sistemas que cumprem suas missões separadamente. A novidade do ASA é ter essas camadas sobrepostas, isto é, em uma mesma plataforma. E, ainda assim, poder ter uma visão conjunta dos usos que estão solicitados, seja pela aviação tripulada, por drones ou para práticas aerodesportivas. É uma ferramenta que une os esforços realizados por analistas de diferentes áreas do DECEA e das organizações subordinadas, em uma mesma interface. Dessa forma, o ASA irá facilitar a análise para os especialistas, minimizando ainda mais as possibilidades de um parecer equivocado” – explicou o Brigadeiro do Ar Eduardo Miguel Soares – chefe do SDOP.
Céu digital
A organização do fluxo dos processos de solicitação de uso do espaço aéreo trará também outros ganhos: a padronização na entrada e a centralização no armazenamento de dados georreferenciados, a integração com outros serviços GEO, a estruturação de dados de espaço e tempo referentes às solicitações de uso do espaço aéreo e separação do que é operacional do que é administrativo.
Atualmente, existem áreas do espaço aéreo permanentes e temporárias, estas últimas ativadas mediantes NOTAM (Notice to Airmen) para alguma finalidade, como aerodesporto, por exemplo.
A abordagem utilizada pelo ASA irá adicionar um novo status, que são as áreas pré-aprovadas, isto é, porções do espaço aéreo cujo acesso já foi requerido, mas que será de fato autorizado mediante o check in do solicitante por meio de aplicativo de celular, e poderá ser bloqueado pelo DECEA, caso seja necessário. Isso aumentará a capacidade do espaço aéreo, trazendo o controle do fator tempo para as mãos dos analistas.
A “digitalização do espaço aéreo” aumenta a consciência situacional acerca dos diferentes usos e possibilita a conexão com outros processos futuramente. O aumento na geração de dados estruturados sobre uso do espaço aéreo é um fator crucial para a implementação do UTM (Unmanned Traffic Management) no Brasil, isto é, o controle do tráfego aéreo não-tripulado.
“Os dados gerados pelos produtos ASA são insumos relevantes para formar uma base que constituirá mais um instrumento para nortear a tomada de decisão pelo DECEA em uma série de processos, entre eles, a implementação do UTM no Brasil” – revelou o Brigadeiro Miguel.
Conheça os módulos que compõem a plataforma:
aSa-map
É a interface georreferenciada que será disponibilizada em diversas aplicações e irá mostrar o desenho da solicitação de uso do espaço aéreo. Caberá ao ASA-MAP padronizar a entrada de dados e otimizar o desenvolvimento de mapas para outros produtos digitais.
aSa-gaD
O Gerador Automático de Desenhos (GAD) será incorporado ao workflow ASA como módulo destinado a partir de regras pré-definidas. Vai gerar feições no espaço aéreo de maneira estruturada com base em dados informados em processos de solicitação vinculados.
aSa-gIS
É a base de dados do Sistema de Informação Geográfica (GIS) para armazenamento dos elementos georreferenciados gerados pelos produtos digitais que recebem solicitações de uso do espaço aéreo. O ASAS-GIS atuará como um complemento aos processos existentes.
aSa-aUto
É o motor de análise automática de solicitações de uso do espaço aéreo, que aplicará regras de acordo com o contexto de cada tipo de solicitação. Esse módulo irá incorporar as análises feitas pelo SysAGA (OPEA) e pelo SARPAS.
aSa-moBILe
Aplicativo de celular destinado ao solicitante do uso do espaço aéreo, que fará a interface para o gerenciamento do requerimento. Ao permitir que o usuário declare com exatidão o momento da utilização do espaço aéreo (dentro da janela previamente solicitada), garante uma otimização na gestão do fator tempo. Assim, terá as funcionalidades: listagem das áreas sob responsabilidade do usuário; checkin/checkout para declaração do uso da área; aviso de indisponibilidade temporária da área e notificação em caso de emergência relacionada ao espaço.
aSa-aDmIN
Interface destinada à utilização dos operadores do ASA, isto é, dos analistas do DECEA e das organizações subordinadas. É por meio deste módulo que serão feitas as análises que não forem resolvidas pelo ASAAUTO por demandarem ação humana. Esse módulo permitirá, também, as configurações gerais do sistema, gerenciamento de contextos e suas regras e o gerenciamento do ASA-MAP.
A expectativa é que o ASA-AUTO, o ASA-GIS e o ASA-GAD sejam disponibilizados ainda no primeiro semestre de 2021.
O ASA-AUTO será o responsável por fazer as análises de solicitação de voo não-tripulado, substituindo o motor que está em funcionamento desde o lançamento do SARPAS, em 2016. Os demais módulos serão entregues gradualmente.
Utm e aSa
Automatização é o ponto de partida quando se pensa em tráfego aéreo não-tripulado (UTM, de Unmanned Aircraft Systems Traffic Management) e, principalmente, mobilidade aérea urbana (UAM, de Urban Air Mobility). Para automatizar qualquer processo, os insumos fundamentais são dados e devem estar estruturados e disponíveis. O ASA atende justamente à essas duas demandas, pois é um hub que permite o uso dos dados de espaço aéreo dos mais diversos provedores, viabilizando o conceito de ecossistema que é imprescindível para o êxito da implementação do UTM no Brasil.
Uso Flexível do espaço aéreo
A alta conectividade e a mobilidade, viabilizadas por aplicativos mobile, oferecem a oportunidade de colocar a camada tempo no mesmo patamar do espaço, isso quando falamos em espaço aéreo, com a criação de áreas de uso flexível pré-aprovadas.
A partir dos gerenciamentos estratégico e pré-tático do espaço aéreo - que são passíveis de gestão em tempo real, por meio do controle tático - o gerente tem a possibilidade de alterar a estrutura e a capacidade do espaço aéreo, conforme a necessidade dos usuários, que podem acompanhar o status, também em tempo real, por meio de aplicativo ou integração via serviço e, ainda, informar da utilização ou não do espaço em um dado momento.
Ao oferecer este serviço, o ASA atende ao conceito de Uso Flexível do Espaço Aéreo (FUA, de Flexible Use of Airspace), segundo o qual não deve ser classificado como civil ou militar, mas ser considerado como algo contínuo e usado de maneira flexível a cada dia. Dessa forma, qualquer segregação do espaço aéreo deve ser de natureza temporária. Objetiva-se, com isso, a sua utilização mais eficiente por parte dos usuários.
Preconizado pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), o FUA faz parte do conjunto de implementações coordenadas pelo Grupo de Trabalho do Programa Sirius Brasil e estabelece que qualquer segregação de espaço aéreo deve ser baseada no uso real de um volume de espaço aéreo dentro de um determinado horizonte de tempo.
A expectativa é que, por meio de sua implementação, seja possível aumentar a capacidade do espaço aéreo e reduzir, além dos custos associados à gestão do tráfego aéreo, o impacto da aviação no meio ambiente.
“O ASA permitirá a aplicação do conceito FUA no nível pré-tático, aumentando a consciência situacional dos órgãos de controle e do CGNA, atendendo aos compromissos do Brasil junto à OACI no que diz respeito à performance do sistema ATM nacional, com benefícios para a aviação civil e militar no que diz respeito à acessibilidade e à eficiência das operações aéreas” – avalia o gerente de implementação do conceito FUA, Capitão Especialista em Controle de Tráfego Aéreo Ricardo David Benedictis