Ano XII • Edição 75 • Janeiro a Março de 2021
34 ANOS
MARÇO, MÊS DA MULHER
EXPOENTES DO SETOR
NOVA USINA
As presidentes à frente da maior feira de Saneamento Ambiental da América Latina
Nova seção estreia com entrevista com Prof. Dr. Nelson Luiz Rodrigues Nucci
Sabesp produzirá asfalto com reciclagem das sobras de obras
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Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/ SP Fone: (11) 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 www.aesabesp.org.br aesabesp@aesabesp.org.br 34 ANOS Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Fundada em 15/09/1986 Tiragem: 6.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Diretor Administrativo: Nizar Qbar Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu Diretora Socioambiental e Cultural: Márcia de Araújo Barbosa Nunes Diretor de Comunicação e Marketing: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes Diretoria Adjunta Diretoria Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs Diretoria de Esportes e Lazer: Evandro Nunes de Oliveira Diretoria de Polos Regionais: Antônio Carlos Gianotti Diretoria Social: Tarcísio Nagatani Diretoria Inovações: Luciomar Santos Werneck Conselho Deliberativo Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Membros: Abiatar Castro de Oliveira, Alceu Sampaio de Araujo, Alexandre Domingues Marques, Alzira Amancio Garcia, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Cid Barbosa Lima Junior, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Ivo Nicolielo Antunes Junior, João Augusto Poeta, Maria Aparecida Silva de Paula, Richard Welsch e Walter Antonio Orsatti Conselho Fiscal Aurelindo Rosa dos Santos, Ivan Norberto Borghi e Yazid Naked Coordenadores Conselho e Fundo Editorial: Nélson César Menetti Membros: Ana Paula Vieira Rogers, Antônio Carlos Roda Menezes, Benemar Movikawa Tarifa, Débora Soares, Luciomar Santos Werneck, Sandreli Droppa Leta e Suely Matsuguma. Polos da RMSP: Eduardo Bronzatti Morelli Polo dos Aposentados: Nélson César Menetti Assuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães Cursos: Walter Antonio Orsatti Inovação: Luis Felipe Macruz Comissão Organizadora 32º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2021 Presidente da Comissão: Luciomar Santos Werneck Diretor do Encontro Técnico AESabesp: Olavo Alberto Prates Sachs Diretor da Fenasan: Luciomar Santos Werneck Membros da Comissão Agostinho J. G. Geraldes, Alisson Gomes de Moraes, Alzira A. Garcia, Ana Paula Rogers, Antonio Carlos Roda Menezes, Bruno Amadeu Bolivia, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Luciomar Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Maria Flávia da Silva Baroni, Mariza Guimarães Prota, Milena Mendes Tojo e Silva, Monique Funke, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Oliveira, Rodolfo Baroncelli, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani, Vanessa Hasson, Viviana M. N. de A. Borges, Walter Antonio Orsatti, Wanderley Pavão Junior Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira Mendonça Polo AESabesp Costa Carvalho: Patricia de Fatima Goularth Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Polo AESabesp MT: Edmilson Barbosa Prado Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Benedito Silva Polo AESabesp Ponte Pequena: Rogério Welsel Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti Polos AESabesp Regionais Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi Produção Editorial Foco21 Comunicação Jornalista Responsável Ana Paula Vieira Rogers - MTB 27666 anarogers@foco21comunicacao.com Colaboradores Clara Zaim, Jéssica Marques, Murillo Campos, Rhayana Araújo e Suely Mello Fotos Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp Projeto visual gráfico e diagramação Neopix DMI contato@neopixdmi.com.br www.neopixdmi.com.br
EDITORIAL
Uma edição para celebrar os legados Prezados, associados (as), conselheiros (as) diretores (as) e amigos (as) da AESabesp O Brasil e o mundo continuam atravessando um momento muito complicado e a resiliência e união do setor de saneamento têm sido um diferencial nesses tempos tão desafiadores. Na AESabesp, a distância não nos impediu de continuarmos trabalhando nas iniciativas pela melhoria do setor, como nossos cursos de capacitação e nossos eventos online. E imbuídos deste espírito damos continuidade a um projeto histórico, que será um marco na cidade de São Paulo: o Museu Água. Em 2019, durante o 30º Encontro Técnico AESabesp/Fenasan, anunciamos a criação do Museu e, desde então, uma equipe multidisciplinar tem trabalhado intensamente para esta realização, prevista para o final de 2022. O espaço terá exposições interativas, com temáticas voltadas à preservação, ciclo da água e reaproveitamento deste recurso, entre outras. E reunirá e exibirá acervos das empresas compostos por materiais gráficos, textos e fotos históricas. Haverá ainda uma praça de integração com o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e o Instituto Biológico, inserindo o local ao circuito cultural de São Paulo. Você saberá muito mais nesta edição. Outra novidade nesta edição é que temos uma seção dedicada aos expoentes do saneamento, onde grandes especialistas abordarão os temas mais relevantes do setor. A estreia não poderia ser mais significativa: traz uma entrevista especial com o Prof. Dr. Nelson Luiz Rodrigues Nucci. E para marcar o mês da mulher, homenageamos as lideranças femininas que estiveram à frente da AESabesp, edições do Encontro Técnico e da Fenasan e da Revista Saneas, entre outros grandes projetos e atividades da entidade. E também dedicamos a coluna Vivências ao Mês da Mulher. Dessa forma, procuramos ressaltar a atuação das mulheres e convidar à reflexão sobre a necessidade de diversidade nas empresas e valorização profissionais do saneamento. Que todos estejam com saúde! Boa leitura!
Viviana Borges A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.
Presidente da AESabesp
ÍNDICE
Expoentes do saneamento
Matéria de capa
Museu Água: o legado da AESabesp para São Paulo e o saneamento
09
Entrevista especial: Prof. Dr. Nelson Luiz Rodrigues Nucci
06
Matéria de capa
Integração de questões socioculturais e históricas ao tema do saneamento
14
Sabesp
Sabesp produzirá asfalto com reciclagem das sobras de obras
16
Encontro Técnico / Fenasan Mês da Mulher: as líderes à frente da Fenasan
19
Artigos Técnicos
A cidade de São Paulo não preservou seu maior patrimônio o Rio Tietê
21
Análise da eficiência de uma trincheira de infiltração como técnica compensatória de drenagem urbana em trecho da Avenida Vilarinho, Belo Horizonte
36
GIS & modelagem hidráulica – Aspectos sobre sua integração
Vivências
43
Defender a natureza, uma missão de vida
49
PROMOÇÃO
34 ANOS
PATROCINIO COTA ESTANDE
APOIO INSTITUCIONAL
EXPOENTES DO SANEAMENTO
Entrevista especial: Prof. Dr. Nelson Luiz Rodrigues Nucci
E
profissionais
6
Saneas
sta edição da Revis-
-se ao setor, da área acadêmica
Sobre os desafios que as próxi-
ta Saneas inaugura
ao mercado de trabalho. Passou
mas gerações terão no saneamen-
uma
nova
seção
por instituições como Sanesp, Sa-
to, Nucci ressalta: “Os desafios es-
para
homenagear
besp, Emplasa e Banco Mundial,
tão gritantes e escandalosamente
do
saneamento
entre outras.
magoantes: desigualdade social,
que contribuíram e contribuem
Conversamos com o profis-
pobreza, educação e saneamento e
para o aperfeiçoamento do se-
sional sobre diversos aspectos
saúde precários entre os que podem
tor e, consequentemente, a uni-
do setor de saneamento, como
ser constatados em qualquer esta-
versalização dos serviços.
o novo Marco Legal, os desa-
tística pública honesta. O melhor
E nosso primeiro entrevistado
fios enfrentados durante e pós-
antídoto a nível pessoal é a genero-
especial é o Prof. Dr. Nelson Luiz
-pandemia de covid-19, escassez
sidade; a nível público é a convivên-
Rodrigues Nucci. Desde os anos
de recursos hídricos e economia
cia aberta e democrática”, enfatiza.
1960, o engenheiro civil dedica-
circular no saneamento.
Confira a entrevista completa:
Revista Saneas - Em junho deste ano, completa 1 ano da
causa fundamental de interesse público de reconhecer e ter o sa-
sanção do novo Marco Legal do Saneamento Básico, que
neamento como essencial à saúde.
trouxe mudanças para o setor. Na sua opinião, foi possível neste período perceber alterações no fornecimento dos ser-
Revista Saneas - Como os profissionais do setor de sanea-
viços? Quais?
mento devem se preparar para o enfrentamento de possí-
Dr. Nucci - Tendo acompanhado as consequências do novo mar-
veis outras crises?
co exclusivamente através dos meios de comunicação correntes
Dr. Nucci - Com dedicação redobrada às suas tarefas diárias,
(a quarentena tem impedido a troca presencial de opiniões com
como sempre. Com crescente compreensão do papel que lhes
colegas mais bem informados), mesmo assim, minha impressão é
cabe, como cidadãos, na ampliação da oferta de saneamento
de que poucos foram os avanços efetivos conseguidos até agora.
no formato que mais rápida e eficientemente atenda às deman-
Limitaram-se, quase exclusivamente, a medidas administrativo-
das de sua universalização. Lutar democraticamente para que os
-legais iniciais do processo seletivo de novos ofertantes de servi-
interesses menores não se sobreponham aos maiores na busca
ços. É uma pena. Há, a meu ver, espaço para ampliação da oferta
deste objetivo.
de serviços com a participação simultânea e não predatória do quadro atual de oferta predominantemente pública. Infelizmen-
Revista Saneas - O Brasil detém, em média, 12% da água
te parece haver também o entendimento político equivocado de
doce mundial, mas enfrenta desafios no que se refere à dis-
parte dos interessados de que esse novo quadro de oferta possa
ponibilidade do recurso, devido à discrepância geográfica e
implantar-se atropelando experiências públicas bem-sucedidas
populacional da água no país. Por isso, alguns estados bra-
e, por outro lado, de uma outra parte formada por aqueles que
sileiros ainda sofrem com a escassez dos recursos hídricos,
querem assegurar privilégios não justificados pelo desempenho
ao menos em parte. A longo prazo, quais os caminhos que o
histórico insuficiente dos serviços que lhes estão hoje concedidos.
país deve percorrer para solucionar este problema?
Espero que o diálogo democrático e republicano vença os interes-
Dr. Nucci - O uso racional e o combate às perdas e desperdícios
ses mesquinhos e afaste de vez o risco de vermos se perder mais
há muito propalados como medidas essenciais – mas infelizmente
uma tentativa de melhorar as condições de saneamento no país.
ainda insuficientemente praticadas entre nós – continuam fundamentais. Mas, a meu ver, onde mais precisamos nos aprimorar é
Revista Saneas - A atual crise sanitária desencadeada pela
na capacidade de gestão eficiente do uso dos recursos hídricos.
pandemia de covid-19 trouxe mudanças permanentes para
E isto não deve surpreender-nos, pois isto se deve à dificuldade
setor de saneamento? Quais?
na harmonização de interesses conflitantes que nossa púbere e
Dr. Nucci - Infelizmente a enxurrada de sandices previamente
combalida democracia ainda não nos ensinou o suficiente a como
urdidas e detalhadamente pré-programadas e veiculadas sobre a
proceder. O que é preciso? Insistir na prática democrática em to-
pandemia por quem deveria iluminar os caminhos de seu enfren-
das as instâncias, inclusive e em particular na de gestão dos recur-
tamento tem açambarcado os meios de comunicação. As poucas
sos hídricos. Com isto, muito possivelmente, colegas mais novos e
manifestações lembrando o papel que o saneamento ampliado
mais preparados se frustrarão menos quando forem chamados a
poderia estar cumprindo já hoje no enfrentamento da crise ficam
participar de foros em que se decide a gestão de recursos hídricos.
praticamente submersas e invisíveis, apesar de algumas tentativas
Que este augúrio se realize particularmente entre os colegas do
de lembrá-lo vez ou outra presentes.
saneamento, com certeza os que até hoje são os menos vividos nestas discussões, comparativamente a colegas de outros setores
Revista Saneas - Quais os novos desafios que o setor de sa-
como o energético, é o que espero.
neamento terá de encarar no período pós-pandemia? Dr. Nucci - Superar interesses mesquinhos conflitantes entre si e
Revista Saneas - Nos últimos tempos, muito tem sido deba-
conflitantes com o interesse maior da sociedade. As exigências
tido sobre a Economia Circular no Saneamento. O senhor
para que isso ocorra não são triviais e nem têm sido frequente-
acha que é um caminho a ser percorrido, tendo em vista que
mente presentes. As dores e o sofrimento causados pela pande-
a água é um recurso finito?
mia talvez ajudem a sociedade e as suas lideranças a lutarem pela
Dr. Nucci - Sim, com certeza. Começando por entendê-la bem e a
Janeiro a Março de 2021
7
EXPOENTES DO SANEAMENTO
evitar transformá-la apenas em um jargão da moda, a encobrir as deficiências mais comezinhas que ainda nos falta compreender e enfrentar. Revista Saneas - Como os modelos de simulação, popularizados como um dos modelos matemáticos, podem ser utilizados no Saneamento para o enfrentamento de desafios, tais como as condições de qualidade da água? Dr. Nucci - Sua utilização tornou-se um enorme ganho e uma prática essencial e indispensável a partir do momento que o computador digital nos ofereceu a possibilidade de cálculos em quantidade jamais antes pensada, a salvo de simplificações
Raio X Nelson Luiz Rodrigues Nucci é formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), com doutorado em Engenharia Hidráulica e Sanitária na mesma instituição. Ainda na EPUSP, Nelson Nucci lecionou no então Departamento de Engenharia Hidráulica, atual Engenharia Hidráulica e Ambiental, as disciplinas de graduação Mecânica dos Fluidos, Saneamento I e II e Introdução à Engenharia Ambiental e as disciplinas de pós graduação, Planejamento de Sistemas de Saneamento e Planejamento de Sistemas de Recursos Hídricos. É membro da ABES – Associação de Engenharia Sanitária e Ambiental, tendo sido seu presidente nacional entre 1987 e 1989 e presidente da Seção São Paulo entre 1983 e 1987. Faz parte da AWWA – American Water Works Association desde 1987. Também foi membro das associações, AIDIS - Associacion Interamericana de Ingenieria Sanitaria I Ambiental, ABRH - Associação Brasileira de Hidrologia e Recursos Hídricos e IWSA – International Water Supply Association, na qual integrou o seu Conselho Técnico/Científico.
inclusive conceituais e descritivas dos pro-
Dr. Nucci ocupou cargos importantes ao longo dos anos, contribuindo para o setor
cessos vividos na realidade. Hoje, então,
de saneamento no Estado de São Paulo e também a nível nacional. De 1971 a 1972,
em tempos de I.oT., Inteligência Artificial
ele ocupou o cargo de consultor da Sanesp - Companhia Metropolitana de Sanea-
etc., a modelagem digital desses processos
mento de São Paulo, responsável por executar e operar o sistema de afastamento,
é o primeiro degrau da indispensável inter-
tratamento e distribuição final dos esgotos da Grande São Paulo na época.
ligação que se espera entre os vários instrumentos da nova realidade da informática.
Após uma fusão da Sanesp com outras empresas de saneamento, surgiu a Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, em 1973. E Nelson Nucci ocupou vários cargos na companhia, ainda nos anos 70: superintendente de
Revista Saneas - Para terminar, quais
Planejamento de Esgotos para a Região I; superintendente de Planejamento Técnico;
os desafios e quais as vantagens que a
e chefe de Departamento. Nosso entrevistado especial também foi superintendente
próxima geração terá no que se refere
técnico da Emplasa - Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo
ao gerenciamento do setor de sanea-
S/A., para as áreas de Saneamento e Recursos Hídricos.
mento?
Nos anos 1980, Nucci retorna à Sabesp como diretor de Planejamento e membro
Dr. Nucci - Os desafios estão aí, gritantes
do Conselho de Política Metropolitana da Região Metropolitana de São Paulo - Se-
e escandalosamente magoantes: desigual-
cretaria de Estados dos Negócios Metropolitanos e membro do Conselho de Desen-
dade social, pobreza, educação, sanea-
volvimento do "PLANEL", Plano de Desenvolvimento do Litoral Paulista, SUDELPA,
mento e saúde precários, entre os que
Secretaria de Estado dos Negócios do Interior.
podem ser constatados em qualquer esta-
Nos anos 1990, foi consultor do Banco Mundial para o PMSS – Projeto de Mo-
tística pública honesta; tendência ao en-
dernização do Setor de Saneamento do MPO/SEPURB – Ministério do Planejamento
clausuramento entre iguais e igualmente
e Orçamento. E, desde abril de 2017 é membro do Conselho de Administração da
deformados por ele, impedidor que se tor-
EMAE – Empresa Metropolitana de Água e Energia S/A.
na do diálogo e da aceitação da divergên-
Suas contribuições na área acadêmica também são grandes. Ao longo dos anos,
cia, é o mais grave e de difícil percepção
foram diversos artigos para revistas e reuniões e congresso do setor, livros e notas de
no nível de cada indivíduo. Para ambos o
aula. Dr. Nucci escreveu o capítulo 20 do livro “Ciclo Ambiental da Água - da chuva à
melhor antídoto a nível pessoal é a gene-
gestão” Telles, D.A. Org., Blücher Editora. O título do capítulo é “Gestão de serviços
rosidade; a nível público é a convivência
de água e esgotos”.
aberta e democrática.
8
Saneas
MATÉRIA DE CAPA
Museu Água: o legado da AESabesp para São Paulo e o saneamento Por Murillo Campos
Conheça o esforço conjunto de especialistas e profissionais voluntários para a criação do espaço socioambiental e cultural projetado pela AESabesp, que pretende estimular o interesse das pessoas pela história do setor e conscientizá-las sobre a importância da água e do meio ambiente. Janeiro a Março de 2021
9
MATÉRIA DE CAPA
Vídeo de divulgação do Museu Água
U
m terreno amplo na região
recurso, entre outras. E reunirá e exi-
do Ibirapuera na divisa com
birá acervos das empresas compostos
Do planejamento ao “mãos à obra”
o Museu de Arte Contem-
por materiais gráficos, textos e fotos
A ideia de criar o Museu Água de São
porânea (MAC) da USP e o
históricas.
Paulo surgiu numa conversa da AESabesp
Instituto Biológico transformará a capi-
Haverá ainda uma praça de integração
com a diretoria da Sabesp, em 2019. Na
tal paulista em referência na história do
com o Museu de Arte Contemporânea
ocasião, a associação viu a possiblidade de
Saneamento no Brasil. Ali será criado o
(MAC) e o Instituto Biológico, inserindo o
resgatar um projeto da Companhia com a
Museu Água de São Paulo, iniciativa da
local ao circuito cultural de São Paulo. A
Fundação Energia para a preservação da
Associação dos Engenheiros da Sabesp
inauguração do Museu Água está prevista
história do saneamento. Assim, com o en-
– AESabesp que contará a trajetória do
para o fim de 2022.
gajamento de voluntários e membros da
setor e promoverá ações culturais e edu-
“A cidade de São Paulo, lar de mais de
entidade, deu-se início às atividades para
cativas acerca da importância da água e
12 milhões de pessoas, orgulha-se em se-
tirar a ideia do papel e viabilizar a execu-
do meio ambiente.
diar o futuro Museu Água, polo de cons-
ção do projeto.
“É um projeto que visa conscientizar
cientização ambiental, espaço de cultura,
No mesmo ano, a iniciativa foi anuncia-
as pessoas sobre o valor da água, da
lazer e aprendizado para essa e futuras
da no 30º Encontro Técnico AESabesp/Fe-
relação da água na natureza e da im-
gerações”, afirma o prefeito de São Paulo,
nasan 2019. A Sabesp, por sua vez, com-
portância do saneamento nas nossas vi-
Bruno Covas.
prometeu-se a ceder o terreno, onde será
das”, explica Viviana Borges, presidente da AESabesp.
Segundo Covas, a abertura do local per-
construído o museu. Foram feitas também
mitirá à população compreender a impor-
diversas reuniões e apresentações para realização da iniciativa.
O objetivo é estimular o interesse da so-
tância do saneamento ambiental e do uso
ciedade em práticas de sustentabilidade,
racional da água. “Não existe vida sem
bem como ser uma nova alternativa cultu-
água. Um recurso natural que exige de
desenvolvido pelo escritório SIAA Arquite-
ral e de lazer para população.
todos, sem exceção, utilização consciente
tos. O anúncio da escolha foi feito no início
O projeto arquitetônico do museu será
O espaço terá exposições interativas,
e preservação das diferentes fontes para
de 2020, em concurso nacional lançado
com temáticas voltadas à preservação,
que permaneçam inesgotáveis”, comenta
pela AESabesp. A entidade também firmou
ciclo da água e reaproveitamento deste
o prefeito.
parceria com o Instituto Pedra e a empresa
10
Saneas
A cidade de São Paulo, lar de mais de 12 milhões de pessoas, orgulha-se em sediar o futuro Museu Água, polo de conscientização ambiental, espaço de cultura, lazer e aprendizado para essa e futuras gerações.” Bruno Covas, prefeito de São Paulo
Colaboradores de concepção do Museu Água Agostinho de J. Gonçalves Geraldes Alzira Amancio Garcia Américo Sampaio Ana Paula Vieira Rogers Angela Zahed Camila Djurovic Carlos Alberto de Carvalho Cleide Polito Gabriela Mascarenhas Joao Paulo Tavares Papa Kamel Zahed Filho Kathya Linelly Alves Tavares Laércio Rocha Luiz Fernando de Almeida Marcia Camilo da Cruz Marcia de Araújo Barbosa Nunes Maria del Carmen G. Vazquez Nilzo Rene Fumes
Olavo Alberto Prates Sachs Paulo Adriano Jordão Bordezan Paulo Massato Yoshimoto Paulo Oliveira Renato Hochgreb Frazão Reynaldo Young Ribeiro Ricardo Guilherme Araújo Rodrigo Mathias Baptista Sonia Maria Nogueira e Silva Vanessa Hasson Viviana Marli N.A. Borges Apoio Adauto Luiz de Souza da Silva Israel Pacheco James Shiromoto Luís Carlos Pereira Maria do Rosario S. Sanches
Base7 Projetos Culturais para gestão dos projetos culturais, museológicos e executivos.
O Museu Água, atualmente, está em fase de captação de patrocínios para execução da 1ª etapa do projeto, que compreende ações de restauração, arquitetura e paisagismo, além do plano museológico e do projeto museográfico. Os recursos serão captados via Lei de Incentivo à Cultura,
Você pode ser um dos patrocinadores do Museu Água! Basta escolher o valor da doação e entrar em contato no e-mail museuaguasp@aesabesp.org.br. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem doar e, ainda, ter o valor abatido no IR. Contribua com o mais novo espaço do saneamento em São Paulo! Saiba mais no site aesabesp.org.br.
Janeiro a Março de 2021
11
MATÉRIA DE CAPA
Antigo conjunto de bombas da Sabesp, esse é o local onde será criado o Museu Água de São Paulo. Antigo conjunto de bombas da Sabesp, esse é o local onde será criado o Museu Água de São Paulo.
mais conhecida como Lei Rouanet. A estimativa total de investimen-
O legado do Museu Água
tos é de R$ 20 milhões.
“Um povo sem história é um povo sem alma”, é o que afirma o es-
“Para este ano, esperamos conseguir o investimento integral para
pecialista em saneamento e membro da equipe técnica do Museu,
executar a 1ª etapa e depois aprovar a 2ª etapa, que contempla
Américo Sampaio. Segundo ele, “a preservação do acervo históri-
restauro, ampliação e implementação do museu”, explica Rodrigo
co é vital para a memória e identidade de um povo, dando-lhe a
Mathias, coordenador cultural do projeto.
possibilidade de melhor compreensão da sua realidade, condição
De acordo com ele, a iniciativa será um espaço de reflexão e referência de boas práticas em relação à água, bem como de manutenção e divulgação de acervos históricos do saneamento. “Trata-se de uma importante e necessária ação de responsabilidade
absolutamente necessária para se ter uma sociedade próspera e desenvolvida.” Para Sampaio, é inaceitável a deterioração de instalações e documentos componentes do acervo histórico
cultural, com grande potencial de desdobramento em projetos que,
relacionado ao setor de saneamento básico e recur-
a partir desse patrimônio histórico, possam contribuir para educação
sos hídricos. Por isso, a viabilização do Museu Água
patrimonial e ambiental em prol do uso responsável dos recursos na-
torna-se essencial para o resgate da memória e de
turais e da expansão do saneamento”, expõe Mathias.
conscientização de boas práticas em prol do desenvolvimento do segmento.
Prêmio Benedito Lima de Toledo
“Tenho absoluta certeza que tal iniciativa contribuirá
No fim do ano passado, o Museu Água de São Paulo foi reconhe-
para um melhor entendimento e compreensão de nossa
cido no Prêmio Benedito Lima de Toledo de Patrimônio Material,
realidade e, consequentemente, para o enfrentamento e
relacionado ao Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de
equacionamento efetivo dos ainda graves problemas sanitá-
Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
rios e de preservação dos recursos hídricos de nosso país”,
A premiação faz parte de uma das frentes da Lei Aldir Blanc, criada para atender o segmento cultural após a crise instalada com a pandemia do coronavírus. Para a seleção do projeto, foram levadas em consideração ques-
considera Sampaio. Pronto para iniciar suas obras este ano, o Museu Água de São Paulo promete ser referência em pesquisas e estudos ligados à ciência, tecnologia e inovação, bem como de va-
tões, como qualidade, relevância artística e impacto social, o que
lorização do setor de saneamento. Um ambiente de co-
demonstra a importância do museu para promoção cultural e de
nhecimento e respeito à água e ao meio ambiente para
conhecimento à sociedade.
atuais e futuras gerações da sociedade.
12
Saneas
“O Museu Água representa a consolidação da missão da AESabesp”, destaca a presidente Viviana Borges Presidente da entidade fala sobre a criação do novo espaço cultural em São Paulo
Com expectativa de entrega no fim de 2022, o Museu Água
de ser promotora do desenvolvi-
de São Paulo promete ser um importante centro de pesquisa
mento sustentável do saneamen-
e valorização do saneamento, bem como de cultura e cons-
to ambiental, dialogando com um
ciência socioambiental para a sociedade. No bate-papo, a
público cada vez maior.
seguir, a presidente da AESabesp, Viviana Borges, comenta o andamento do projeto e as expectativas com o novo espa-
Revista Saneas - Há iniciativas
ço do círculo cultural de São Paulo.
com a mesma temática em países como Espanha, México, Itália, Portugal
Revista Saneas - Como está sendo o processo de de-
e no Brasil, o Museu da Água de Indaiatuba. Quais
senvolvimento do Museu Água?
inspirações o Museu pode obter com estes espaços e
Viviana Borges - O processo de desenvolvimento do proje-
qual a importância de um projeto como este agora em
to cultural Museu Água tem sido muito colaborativo e ade-
São Paulo?
rente. A cada momento, temos mais certeza de que esta
Viviana Borges - O Museu Água de São Paulo foi inspirado
iniciativa é de todos. Queríamos pensar fora do nosso mun-
no Museu de Indaiatuba e em diversos Water Museum pelo
do técnico e, por isso, juntamos voluntários engajados em
mundo, além do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. São
atividades culturais. Ocorreram indicações de conhecidos e
Paulo é um centro cultural importante para o país. Formos em
simpáticos ao projeto, compondo um grande time. Trata-
busca de diversos parceiros e especialistas em museus e uma
-se de uma proposta gigante, com novas ideias e sugestões
pergunta se repetia: como a cidade de São Paulo ainda não
surgindo a todo momento e creio que todos foram aderidos.
tem o Museu Água?!
Revista Saneas - O que se espera com a iniciativa?
Revista Saneas – Quais exposições estarão disponíveis
Viviana Borges - É um projeto que visa conscientizar as pes-
e o que o público poderá aprender com o espaço?
soas sobre o valor da água, da relação da água na natureza e
Viviana Borges - O Museu Água terá um acervo temporário
da importância do saneamento nas nossas vidas. Esperamos
e permanente para que as pessoas visitem as exposições e
que o Museu Água seja um espaço de lazer, onde as pessoas
retornem de tempos em tempos.
vivenciem experiências que estimulem seu interesse pelo ciclo da água.
Esperamos receber acervo de pessoas e empresas do setor para que a população perceba a evolução tecnológica do saneamento. Queremos valorizar o passado, sem
Revista Saneas - O que representa para a AESabesp
perder de vista o futuro, isto é, o que queremos e aonde
ser a idealizadora de um projeto como este?
podemos chegar com mais consciência, num futuro me-
Viviana Borges - A AESabesp é uma entidade muito séria
lhor para todos.
e respeitada por sua missão. A cada ano, a associação por
A AESabesp tem vocação para a inovação e compartilha-
meio do Encontro Técnico e da Fe-
mento de novas tecnologias e, por isso, queremos que o
nasan amplia o compartilhamen-
museu seja inovador com atividades interativas para atrair
to de conhecimento do setor. O
o público. Acreditamos que esta vivência vai estimular o
Museu Água representa a con-
envolvimento da sociedade na preservação e uso racional
solidação da missão da AESabesp
da água.
Janeiro a Março de 2021
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MATÉRIA DE CAPA
Museu do Saneamento de Curitiba/PR
Integração de questões socioculturais e históricas ao tema do saneamento Por Rhayana Araújo
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Saneas
C
om o intuito de ser um espaço para
vação, ciclo da chuva, reaproveitamento da água e
aproximar da população a discus-
saneamento.
são sobre a importância da água e
A criação de uma instituição cultural dedicada à
do saneamento, bem como sobre a
preservação e difusão do patrimônio cultural do Sa-
preservação e uso racional da água, o Museu Água
neamento Básico no Estado de São Paulo também
da AESabesp – Associação dos Engenheiros da Sa-
se dá pela necessidade de conscientizar a população
besp está cada vez mais perto de se consolidar no
acerca do desenvolvimento e importância do sanea-
Estado de São Paulo. O espaço está em fase inicial
mento ambiental, articulando pesquisa, preservação
de estudos. A proposta é que o museu tenha ex-
e comunicação do patrimônio, promovendo a inte-
posições interativas, voltadas aos temas de preser-
gração social e a cidadania.
Renata Ferraz, especialista
sociais, culturais e em capital
em Educação Ambiental e Dou-
humano. Mas não se investe
tora em Saúde Pública, afirma que um museu voltado para a temática da água favorece a integração de questões socioculturais e históricas ao tema do saneamento, com enfoque especial ao componente água. “Isso porque, refletir sobre as demandas do saneamento e estimular a sensibilização das pessoas sobre sua importância, implica considerar a subjetividade humana, refletida e implicada em aspectos socioculturais e históricos. Um Museu da Água pode aproximar as pessoas para essa temática em uma linguagem simples”,
Refletir sobre as demandas do saneamento e estimular a sensibilização das pessoas sobre sua importância, implica considerar a subjetividade humana, refletida e implicada em aspectos socioculturais e históricos. Um Museu da Água pode aproximar as pessoas para essa temática em uma linguagem simples.”
no Brasil como se deveria,
Renata Ferraz, especialista em Educação Ambiental e Doutora em Saúde Pública
o Museu do Saneamento de
diz Ferraz.
em educação, em cultura e na proteção socioambiental. Há muito ainda a avançar. E se queremos transformar a sociedade não há um outro caminho senão investir em educação e cultura”, pontua a Dra. Renata Ferraz. Existem museus com esta temática no Brasil e em outros países do mundo. No Estado de São Paulo, o Museu Água de Indaiatuba (SP) é uma das referências. Há ainda Curitiba/PR. Estes
museus
temáticos
também são crescentes pelo
Projetos para construção de
mundo. A Unesco possui em
museus sobre a água no Brasil
sua Rede Mundial de Museus
não são tão comum, apesar de o Brasil ser um país rico em
de Água diversas instituições de países como Espanha, Portu-
recursos hídricos. Renata afirma que este fato ocorre pois tanto
gal, Inglaterra, Marrocos e Grécia.
os recursos naturais, como os sociais são poucos valorizados.
Os objetivos do Museu da Água são diversos, assim como
“O país é rico em recursos hídricos, assim como tantos ou-
sua colaboração para a valorização da arte e cultura da cidade.
tros recursos ambientais. O país é rico também em recursos
Promover a preservação, pesquisa e comunicação do patrimônio e da memória do setor de saneamento do Estado de São Paulo é um dos exemplos. Assim como estimular práticas de sustentabilidade e conscientização do valor da água e do meio ambiente e engajar a sociedade em novas leituras da história da urbanização da cidade de São Paulo e nas questões ambientais por meio de ações culturais e educativas. Um sonho que se realizará em breve para a capital paulista.
Museu Água de Indaiatuba (SP) Foto: Giuliano Miranda – DCS/SAAE
Janeiro a Março de 2021
15
SABESP DE MATÉRIA CAPA
Sabesp produzirá asfalto com reciclagem das sobras de obras Companhia assina acordo para implantação de usina de reciclagem, capaz de reaproveitar sobras de obras para produção de asfalto, contribuindo com o meio ambiente Por Murillo Campos
16
Saneas
A
Sabesp firmou contrato para implan-
“Em meados de 2019, a Sabesp percebeu essa
tação de usina de reciclagem para
oportunidade como uma forma de melhorar a re-
produção de base asfáltica a partir de
posição de valas de obras de saneamento, realizar
resíduos de obras de saneamento. O
a economia circular e estudar melhorias nos pro-
objetivo da iniciativa é melhorar a qualidade da re-
cessos de reposições. Por isso, contratou uma em-
posição do pavimento nos serviços da Companhia
presa que realizou o estudo e elaborou o plano de
em vias públicas, além de reduzir o descarte de
negócio para reciclagem de materiais oriundos de
resíduos sólidos em aterros, beneficiando o meio
obras de saneamento”, expõe o superintendente
ambiente. A expectativa é que sejam investidos no
da Unidade de Negócio Oeste da Sabesp, Aurelio
projeto R$ 29,6 milhões em 30 meses.
Fiorindo Filho.
O acordo assinado com o Consórcio Reintegrar, formado pelas empresas Fremix e Soebe, prevê que a usina terá capacidade para produzir ao ano até 1 milhão de m² de reposição asfáltica, o que equivale a 14 vezes a área das pistas da avenida Paulista. Para isso, serão utilizadas como matéria-prima sobras de concreto, sarjeta e asfalto das obras da Sabesp, como as de implantação de redes de água e esgoto e as do programa de despoluição do Rio Pinheiros. A previsão é que a usina comece a operar em abril deste ano. “Todo material processado será reenviado para as obras de saneamento para ser aplicado nas reposições de valas da Sabesp. Importante ressaltar que o processo será o de espumação e o produto é um material nobre, com alta capacidade de suporte, evitando o aparecimento de recalques em valas”, explica Fiorindo. Segundo a Companhia, a recomposição da via com o asfalto espumado dará mais flexibilidade ao pavimento, bem como reduzirá os riscos de surgimento de trincas e possibilitará a liberação imediata para o tráfego. “O benefício principal ao cliente é que as ruas onde forem realizados serviços da Sabesp não sofrerão danos e o conforto ao dirigir veículos nessas vias não será prejudicado”, afirma o superintendente da Sabesp. Com a reciclagem das sobras de obras, a empresa deixará de descartar ao ano 150 toneladas de material nos aterros sanitários,
De cima para baixo:
o que atende às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos
Foto: Diretor-presidente da Sabesp, Benedito Braga, durante cerimônia de assinatura do contrato, ocorrida na sede da unidade Oeste da Companhia, na Vila Leopoldina
e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Além disso, será reduzido em até 80% a compra de brita, gerando menos impacto ambiental. A ideia é que a iniciativa seja ampliada futuramente no Estado. “Acreditamos numa posterior expansão deste projeto, que atende diversos pontos dos ODS e se preocupa em melhorar a qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente”, conclui Fiorindo.
Foto: Formalização do contrato contou com a participação do secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, do diretor-presidente da Sabesp, Benedito Braga, do diretor da Região Metropolitana, Ricardo Borsari, e do superintendente da Unidade de Negócio Oeste, Aurelio Fiorindo Filho Foto: Usina de reciclagem terá capacidade para produzir até 1 milhão de metros quadrados de asfalto por ano
Janeiro a Março de 2021
17
Ano XI • Ediç ão 69 • Julh o a Setembr o de 2019
Ano XI •
Ediçã o 70 •
Outu bro a Deze mbro de 20 19
Ano XI • Ediç ão 7 1
• Ja neir oa
Ma rço de 2 020
ENE RENO RGIAS V Brasil a ÁVEIS: nas alt vança erna limpas tAivTaECsNOL OG SE
SAN RVIÇO IA EAM DO ENT O
INOVAÇÃO AESabesp cria Polo no Vale do Silício e lança inicia tiva durante o 30º Encontro Técn 30ºico Fenasan 2019 EN/CO NT
ANUNCIE NA
FENA SAN RO TÉCNIC 2019 O
Uma ed do Sa ição para neam a histó ento no Br ria asil
MU LHE
R As co que nquis ta san atuam s das eam m ento no seto ulher r de es
PONTO DE VISTA
Com o ajud os ava n and o o d ços te c ese nvo nológic lvim o ento s estã do s o etor.
Brasil tem pape fundamental l para garantir sustentabilidad a e do plane ta
VISÃ O DE
FUTU RO
PNRS : de resídu stinação os ain final de desaf io pa da é um gr ra o Br ande asil
MU SEU ÁG
SOCIOAMBIE NTAL
Ecoeventus® : consciência e educação ambiental
AES UA pro abesp p jeto s ar remia quit o etô s melh nico ore s s
PONT O DE
VIST Polui A çã falam o difusa: espec so ialistas que ati bre o pr ob rios br nge as ág lema uas do asilei ros s
FEN AS
REVISTA SANEAS AN Vem AES aí o 31 abes º p/Fen Encon asan tro Té 2020 cnic o !
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AESABESP - PAULO OLIVEIRA TEL: 11 3263 0484 - 11 7515 4627 paulo.oliveira@aesabesp.org.br
ENCONTRO TÉCNICO MATÉRIA DE FENASAN CAPA
Mês da Mulher: as líderes à frente da AESabesp Por Rhayana Araújo
A
s mulheres ampliam cada vez mais
ção Eliana Kitahara (2003-2006) e Nercy Bonato
sua atuação no setor de saneamen-
(1993–1995), falaram à Revista Saneas sobre esta
to ambiental e a liderança feminina
trajetória.
tem marcado a história da AESabesp
A engenheira Viviana Borges teve o grande desafio
e suas iniciativas, como a Fenasan – Feira Nacio-
de estar à frente da organização da edição de 30 anos,
nal de Saneamento e Meio Ambiente, que, junta-
em 2019, e agora prepara-se para a edição 2021. “As
mente com o Encontro Técnico AESabesp, cons-
mulheres da AESabesp são fortes atuantes. Nossos co-
titui o maior evento do setor de saneamento da
legas homens da AESabesp tratam as mulheres como
América Latina. Três protagonistas dessa história,
profissionais, sempre com muito respeito. Este fato
Viviana Borges, atual presidente da AESabesp (bi-
torna a AESabesp uma instituição muito especial. Em
ênio 2019-2021), e as ex-presidentes da associa-
2019, tivemos o ápice da escalada do Encontro Técnico
Janeiro a Março de 2021
19
FENASAN MATÉRIA DE ENCONTRO CAPA TÉCNICO
e Fenasan com a maior presença de público, estandes muito bem
Nercy Bonato destaca que a AESabesp sempre foi uma en-
organizados e palestras técnicas, painéis e mesas redondas de re-
tidade inclusiva, onde as mulheres profissionais foram prota-
levância para coroar nossa comemoração de 30 anos de realização
gonistas de mudanças, deixando marcas e um legado para as
do congresso e feira. Foi muito gratificante estar à frente do time
próximas gestões da entidade. E fala ainda sobre a feira: “A
AESabesp na organização desta edição”, conta a presidente.
Fenasan é um evento em que a AESabesp demonstra uma
Viviana ressalta, ainda, os grandes desafios de 2020, que conti-
narrativa de sucesso embasada na inovação, tecnologia, cria-
nuam em 2021. “Precisamos reunir forças, usar criatividade e ou-
tividade, parceria com diversos stakeholders que movimen-
sadia para decisões em condições muito incertas. Mas as mulheres
tam toda a cadeia de suprimentos do setor. Nem sempre a
são resilientes por natureza e, somada à colaboração de tantos
jornada foi tranquila, já passamos por adversidades de toda
voluntários, administramos as atividades e contas da AESabesp e
natureza - política, institucional, crises hídricas e, mais recen-
criamos novas bases para o futuro da nossa associação”, conclui.
temente, a pandemia -, mas em todas essas ocasiões trans-
Eliana Kitahara lembra sua experiência enquanto presidente da
formamos essas experiências em aprendizado e vemos hoje
AESabesp, de 2003 a 2006. “Na época, estiagens colocavam em
uma Fenasan cada vez forte, atraindo inúmeros participantes,
risco o abastecimento de água na RMSP, era um cenário de incer-
fornecedores, universidades e jovens profissionais do sanea-
teza. Que desafio enfrentado! Com garra, determinação, empe-
mento”, ressalta.
nho, articulações e parcerias, o XIV Encontro Técnico e a Feira fo-
Com estas histórias de sucesso, homenageamos todas as
ram relevantes no Expo Center Norte, com cerca de 100 estandes
mulheres, em especial as associadas da AESabesp, voluntárias
expositores e quase 10mil visitantes. Orgulho e sentimento de
e colaboradoras e as profissionais do setor de Saneamento
superação que levo para vida. Mulheres do Saneamento, minhas
Ambiental.
homenageadas. Trabalhem com paixão e motivação!”, exclama.
Feliz Mês da Mulher!
ARTIGO TÉCNICO
Fátima Valéria de Carvalho
A cidade de São Paulo não preservou seu maior patrimônio - o Rio Tietê O objetivo desse documento foi conhecer melhor a história do rio Tietê e de sua interação com a cidade de São Paulo. Quais os prejuízos causados ao rio, desde a fundação da cidade até os dias de hoje, devido ao processo descontrolado crescimento populacional e a urbanização desorganizada, a fim de entender, como se tornou tão difícil despoluir o rio, e porque, a cidade passou a ser tão difícil de se viver e com tantos problemas crônicos. Para a elaboração desse documento foi realizada uma pesquisa quase arqueológica, através de consultas em livros, reportagens, artigos, fotos e mapas. No tópico mais preocupante, referente as enchen-
Imagem da Fundação de São Paulo Acervo do Museu do Ipiranga. https://br.pinterest.com/pin/616359898997046125/visual-search/
tes e alagamentos, foram pesquisados sites, trabalhos e relatórios especializados.
2. A cidade cresceu a qualquer preço A construção da estrada de ferro São Paulo Railway
1. Introdução
em 1867, foi indubitavelmente um marco fundamen-
A cidade de São Paulo tem reconhecida como data ofi-
tal para aceleração do processo de desenvolvimento
cial de sua fundação 25 de janeiro de 1554, quando foi
e destaque da cidade de São Paulo, tanto no cenário
realizada a primeira missa no local onde seria fundado
econômico quanto político do país. A partir de então,
pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta,
a cidade de São Paulo passou a se beneficiar das ri-
o “Colégio São Paulo de Piratininga”, dando origem ao
quezas da economia cafeeira, devido sua posição es-
povoado que se formou ao seu redor. O lugar escolhido
tratégica, entre as lavouras de café do oeste paulista e
foi estratégico, numa elevação entre os rios Tamandua-
o porto de Santos. (2)
teí e Anhangabaú, garantindo proteção contra ataques
A ferrovia foi traçada a partir do eixo condutor do
e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá.
vale do rio Tamanduateí, que era indiscutivelmente o
Atualmente, o local é conhecido como Pátio do Colé-
melhor trajeto indicado de ligação do planalto ao li-
gio e mantém parte da colina histórica preservada. Na
toral.
época as cheias causavam alguns inconvenientes, como
No entanto, a cidade não estava preparada para ab-
bloquear caminhos mais curtos para certas localidades,
sorver tal boom populacional nem tão pouco as novas
mas a população era de apenas 80 habitantes. No en-
demandas dessa população.
tanto, tal situação começou a mudar, lentamente, a
A expansão de São Paulo se deu sem o devido pla-
partir de 1867, com a construção da Estrada de Ferro
nejamento territorial e transcorreu de forma desorga-
Santos Jundiaí (estrada de ferro São Paulo Railway).
nizada e segregadora.
Janeiro a Março de 2021
21
ARTIGO TÉCNICO
Crescimento Demográfico
córregos completa o novo modelo de circulação: os rios se con-
Segundo Eurípedes Simões de Paula1, a Capital Paulista expan-
finam em canais ou galerias subterrâneas, e sobre seus antigos
diu-se, de forma, crescente e ininterrupta, entre 1870-80, que,
leitos se implantam avenidas de fundo de vale. A avenida do
“se pode falar numa segunda fundação de São Paulo”.
Estado (sobre o Tamanduateí), as marginais (ao lado do Tietê e
O crescimento demográfico da cidade de São Paulo foi vertigi-
Pinheiros), Av Aricanduva ( junto ao córrego de mesmo nome), e
noso, em particular no decênio 1890 a 1900, com taxa de cres-
Av. Eng. Caetano Alvez (junto o córrego Mandaqui ) são exem-
cimento de 14% a.a., quando a cidade atingiu em 1900 a marca
plos dessa estratégia.
de 239.820 habitantes.
É durante a gestão do prefeito Prestes Maia3 que esse conceito começa a ser implantado: são obras suas a construção da avenida 9 de Julho sobre o córrego canalizado do Saracura, a avenida Ito-
Município de São Paulo Ano
População
Taxa de Crescimento (1)
roró (futura 23 de Maio) sobre o córrego do mesmo nome e a retificação do Tietê, encurtando-o em 20 quilômetros e destinando
1872
31385
1890
64.934
4
suas margens para a construção das marginais e para a ocupação
1900
239.820
14
urbana de sua várzea. (3 p. 33-34)
1920
579.033
5
1940
1.326.261
4
ocupação descontrolada e desorganizada que tinha como mote,
1950
2.198.096
5
atender a explosão demográfica, a especulação imobiliária e o an-
1960
3.781.446
6
seio de segregação por parte das elites locais.
1970
5.924.615
5
Os bairros burgueses logo surgiram, assim como regiões predo-
1980
8.493.226
4
minantemente Industriais e comerciais e a população mais pobre
1991
9.646.185
1
foi relegada a periferia distante, normalmente, em terras baixas,
2000
10.434.252
1
junto aos córregos e rios, normalmente alagadiças.
2010
11.253.503
1
Fonte: IBGE, Censos Demográficos (1) Taxa de Crescimento Geométrico Anual
Assim então foi
delineada a mancha urbana, resultado da
No início da ocupação, antigas chácaras ao redor do núcleo histórico da cidade foram loteadas, fazendo com que a área urbana se expandisse continuamente. (4) As riquezas acumuladas com a cafeicultura contribuíram para
Ocupação desordenada
imprimir inúmeras transformações na fisionomia da cidade de São
O boom populacional gerou uma crescente corrrida por novos es-
Paulo e, consequentemente, no cotidiano de seus moradores. Nos
paços a serem ocupados.
bairros novos começam a surgir os palacetes e mansões, projeta-
Desta forma pudemos assistir, na prática, um dos paradigmas
dos por arquitetos como Ramos de Azevedo e Victor Dubugrás.
de Lacoste , “uma das expressões do exercício do poder é o domí-
Em 1895, uma lei autoriza o calçamento geral da cidade, a para-
nio do espaço geográfico”. Entretanto a apropriação do território
lelepípedo e a macadame. Também por essa época, é inaugurada
se dá de várias maneiras, uma destas é a de basear o seu ordena-
a iluminação pública por meio de gás e a primeira linha de bondes
mento na segregação e no controle dos recursos existentes, como,
a tração animal.
2
por exemplo, o gerenciamento das águas e de sua captação.
Enquanto o centro da cidade se torna alvo de reformas e regu-
A criação de novos espaços territoriais se deu baseada na es-
lações urbanísticas ao ser apropriado pelas novas elites dominan-
tratégia de domar rios, retificar seus leitos e apropriar-se de suas
tes, a cidade se expande à oeste, além do Anhangabaú, ocupando
várzeas, sepultando-os em galerias sob avenidas de fundo de vale.
outras regiões colinosas, onde surgem bairros aristocráticos como
Assim foi a estratégia adotada, pelos poderes público e econômi-
Campos Elíseos (1879), Higienópolis (1890).
co, de dominação imposta aos corpos d’água da cidade de São Paulo há mais de um século.
Em 1891 aconteceu a inauguração da Avenida Paulista, projetada pelo engenheiro Joaquim Eugênio de Lima. Sua grandeza, na
Sendo assim, as águas que atravessam a cidade de São Paulo,
época, já apontava para sua vocação de futuro símbolo da cidade.
seus córregos e rios, foram foco de grande intervenção social. A
Possuía três vias separadas por fileiras de magnólias e plátanos
associação entre construção de avenidas e canalização dos rios e
e era ladeada por imensos lotes onde foram sendo erguidos os
22
Saneas
palacetes que a caracterizaram até por volta de 1970. Já apedre-
Mapa da região da CRACOLÂNDIA
gulhada em 1894, foi beneficiada em 1903 com a colocação de macadame em seu leito, sendo a primeira via pública asfaltada e arborizada de São Paulo. Em 1899 a colônia inglesa inaugurou, na Avenida Paulista o Colégio Anglo-Brasileiro, cujas instalações foram, a partir de 1918, ocupadas pelo Colégio São Luiz. Em 1906 foi construído, no início da Avenida, um sanatório pelas irmãs da Ordem de Santa Catarina, mais tarde transformado no atual Hospital Santa Catarina. Data da mesma época a sede do Instituto Pasteur. (4) A influência europeia contribuiu também para a criação de áreas verdes. Foi destinado um quarteirão na Avenida Paulista para a criação do Parque Villon, atualmente Parque Trianon. Por outro lado, em função da presença da ferrovia, a cidade se expande para além do Tamanduateí, como os bairros do Brás, Moóca, Pari e Belenzinho, assim como, os bairros de Campos Elíseos, Higienópolis, Santa Cecília e Consolação que ficam além
O primeiro aeroporto de São Paulo, o campo de Marte, foi inau-
do Anhangabaú. Em direção ao rio Tietê, também condicionados
gurado em 1920, também construído na várzea rio Tietê, devido
pela presença da ferrovia, desenvolvem-se os bairros do Bom Re-
a disponibilidade de áreas amplas e planas, e por conta disso, teve
tiro e da Luz. Ao mesmo tempo, a expansão também se verifica
ao longo dos anos, frequentes problemas operacionais devido as
nas porções superiores do interflúvio Anhangabaú-Tamanduateí,
enchentes. (3)
bairros como a Liberdade, Bela Vista e Glória. (2) Na década de 20 a elite paulistana era muito segregadora e coube a ela a seleção das melhores áreas para morar.
Nas áreas periféricas, muitas vezes a ocupação se deu de forma irregular, que caracteriza um estilo de gestão ou ainda, uma cultura política, baseada na “ideologia da outorga”. A clandestinidade
Como é do conhecimento geral, no Brasil não existe a cultura
transforma-se em extralegalidade, “dependente da intermedia-
de preservação de suas áreas mais antigas, por sinal , bem dife-
ção do Estado, no caso da municipalidade, para ser reconhecida e
rente do que acontece em outros países, onde os centros históri-
assim, ganhar o estatuto legal”, necessário para ser contemplada
cos são preservados.
pelo atendimento de serviços públicos. (2)
Curiosamente, uma das áreas preferida pela elite cafeeira na
À medida que a cidade de São Paulo começa a se expandir,
década de 20 era o bairro conhecido como Campos Elíseos, mais
avançando sobre áreas de topografia irregular, cuja ocupação de-
especificamente a região definida pelas seguintes Alamedas: Ala-
mandava obras dispendiosas como viadutos; as áreas de várzeas,
meda Nothmann, Alameda Glete, Alameda Cleveland, Alameda
apesar de periodicamente encharcadas, passaram a atrair a aten-
Dino Bueno e Alameda Barão de Piracicaba. Quem conhecesse
ção, tornando-se uma opção lucrativa à especulação imobiliária.
a região sabe da depredação da mesma nos ultimos anos. Ironi-
Através de um discurso de “saneamento” e combate às en-
camente essa área é ocupada atualmente pela CRACOLÂNDIA.
chentes, a cidade foi criando novos terrenos através do aterro de
Aos poucos, nas duas primeiras décadas do século XX, surgiram
várzeas e retificações dos rios.
novos povoados, mas sempre guardando distância segura do rio.
Assim em tão se deu a lógica de criação de novos espaços terri-
As primeiras ocupações da margem direita do rio Tietê procura-
toriais, baseada na estratégia de domar rios, retificar seus leitos e
ram as colinas, por serem mais seguras. Foi assim que que surgi-
apropriar-se de suas várzeas, sepultando-os em galerias sob ave-
ram, ainda na época colonial, Santana e Freguesia do Ó.
nidas de fundo de vale. Essa então foi a estratégia adotada, pelos
Vila Maria foi a única exceção que resultou, em 1917, de um do loteamento irresponsável de um antigo sítio em plena várzea. A aquisição dos terrenos por compradores de baixa renda causou anos de sofrimento aos mesmos.
poderes público e econômico, de dominação imposta aos corpos d’água da cidade de São Paulo há mais de um século. Aos poucos assistimos ocupação das várzeas que, regulam o regime natural de extravasamento dos rios e sua drenagem, por
Janeiro a Março de 2021
23
ARTIGO TÉCNICO
meio do leito maior ou planície de inundação. Aqui cabe lembrar que a malha hídrica de São Paulo é muito ampla e extensa. (2)
para construções, o equivalente a 200 Estádios do Morumbi. (3) Em seu relatório publicado no ano de 1926, Saturnino de Brito previa a preservação das áreas alagadas, as chamadas “coroas”,
Interesses Escusos nas Obras de Canalização dos Rios
como recurso natural para ajudar na contenção das enchentes e
A canalização sempre foi um empreendimento onde podiam tirar
servir de referência dentro da paisagem do parque fluvial urba-
proveito, tanto o poder público, dono de grande parte dos terre-
no por ele imaginado para São Paulo. O seu projeto visualizava
nos nas várzeas, como a iniciativa privada.
um grande parque linear metropolitano que seria a faixa do leito
Sempre existiram interesses outros por trás do desejo de retifi-
maior, preservado como várzea ao longo do rio para as grandes
car o rio. Um projeto de 1883 do engenheiro Eusébio Stevaux
vazões na época das cheias. No mesmo relatório Saturnino des-
enfatizava a importância de sanear as várzeas e a transformá-las
tacou “a necessidade de preservação dos rios Tietê, Pinheiros e
em terrenos férteis e produtivos, assim como, solução para as
Guarapiranga como indispensáveis ao abastecimento de água não
constantes enchentes. A proposta de Stevaux revela também uma
só na Capital como de grande parte do interior do estado”. Pre-
visão do potencial econômico das margens do rio, um olhar que
via, ainda, a construção de um emissário na Serra do Mar para o
ganharia força pelas décadas seguintes. Stevaux tinha em mente
tratamento do esgoto em lagoas litorâneas. (5)
propriedades agrícolas. Algumas décadas depois, o foco seriam as
(5) Retificação e Decadência – DAEE
indústrias. A geógrafa Odete Seabra , em sua tese de doutorado, apre-
Em 1926 houve troca de prefeito. Saiu Firmiano Pinto e com
sentada na Universidade de São Paulo em 1987 e hoje um estudo
ele Saturnino Rodrigues de Brito. Assumiu a prefeitura Pires do
clássico sobre a ocupação das várzeas dos rios Tietê e Pinheiros,
Rio que nomeou o engenheiro e professor da Politécnica João Flo-
descreve que “O processo de retificação dos rios e, consequen-
rence de Ulhôa Cintra para dirigir a Comissão do Tietê. O projeto
temente, o saneamento das várzeas são, também, um processo
de Saturnino de Brito foi descartado pela nova administração que
de produção de terra urbana, do qual muito bem souberam se
preferiu implantar o “Plano de Avenidas”, elaborado pelo enge-
aperceber os sujeitos sociais nele envolvidos”. (3) (7)
nheiro, mais tarde prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia coordenador da Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê. Essa
Os primeiros planos foram divergentes
comissão cuidou ainda do aproveitamento da várzea, projetando
Problemas antigos e recorrentes, como transbordamento e
a construção de duas extensas avenidas marginais e de 20 pontes
inundações, falta de comunicação entre áreas do município, as-
de concreto armado, permitindo, com isso, sua ocupação por lo-
sim como novos como, a degradação do rio e das várzeas por
teamentos e logradouros públicos. (3)
efeito da exploração predatória de areia e argila, do crescimento
O sistema de vias radiais do Plano de Avenidas seria compos-
demográfico e da industrialização, levaram o prefeito Firmiano
to pelas principais avenidas da cidade e precisaria ser executa-
Pinto a criar em 1923, uma Comissão de Melhoramento do rio
do com urgência em vista da concretização do plano como um
Tietê e entregou seu comando à maior autoridade brasileira em
todo. Sua concepção é fruto da especialização na utilização do
saneamento, o engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Ro-
solo urbano e sua execução enfatizaria a prioridade ao Centro
drigues de Brito.
em detrimento da periferia. As vias começavam no anel de irra-
Os estudos da Comissão Melhoramentos do Rio Tietê estabele-
diação, exceto pelo “sistema Y”, formado pelas Avenidas 9 de
ceram que a retificação encurtaria o trajeto do rio em cerca de 20
Julho, 23 de Maio e Prestes Maia - passagens de tráfego rápi-
quilômetros, caindo dos sinuosos 46 quilômetros para cerca de 25
do, as quais cruzavam o Centro, afastadas do anel. O ribeirão
Km. O ganho de área seria imenso: cerca de 25 milhões de metros
Anhangabaú é formado pela confluência de três cursos d’água:
quadrados de superfície. Além de avenidas marginais, a proposta
Córrego do Saracura (sob a Avenida 9 de Julho), Ribeirão do
de Saturnino previa também a formação de dois lagos, para a con-
Itororó (sob a Avenida 23 de Maio) e Córrego Bexiga. O local da
tenção de eventuais excedentes de águas, uma ilha na altura da
confluência, a atual Praça da Bandeira, era, tradicionalmente,
Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras) e a destinação de 30%
um grande charco. Da praça, segue canalizado sob o Vale do
do território das várzeas a parques. Com isso, segundo seu rela-
Anhangabaú e deságua no Rio Tamanduateí, na altura do Mer-
tório, ainda restaria um saldo de 17 milhões de metros quadrados
cado Municipal.
24
Saneas
Prestes Maia planejou os primeiros “rodoanéis” da cidade, co-
Figura 1 - Plano de Avenidas elaborado por Francisco Prestes Maia
meçando com um menor ao redor dos centros velho e novo e que compreendia as avenidas São Luiz, Maria Paula, Mercúrio e Senador Queiroz e o viaduto Jacareí. Depois, outro maior incluiria as avenidas marginais dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Além dos anéis perimetrais, avenidas radiais se projetariam em direção aos extremos da cidade, auxiliando na expansão da cidade, ocupação populacional e negócios imobiliários. Para oeste, a avenida São João foi estendida em direção à Lapa. No sentido oposto, surgia a Radial Leste. Em direção ao ABC, uma avenida ao longo do Tamanduateí. Para o sul, duas avenidas. Primeiro, a Nove de Julho, surgida nos anos 40. A segunda só sairia do papel na década de 1960, a 23 de Maio. A opção escolhida foi intensificar a velocidade de vazão das águas, aumentando a declividade com a retificação do rio; e, depois, aterrar o máximo possível o antigo leito maior (as várzeas), a fim de, posteriormente, lotear e vender áreas públicas. O Tietê foi, assim, progressivamente sufocado pelo suposto “progresso” com a ocupação de suas várzeas, ocupação territorial, demográfica e industrial, sem controle. Os loteamentos se sucederam sem respeitar uma lógica ordenadora
Figura 2 - Projeto de retificação e canalização do rio Tietê, elaborado por
da cidade, mas levando-se em consideração apenas os interesses
Francisco Saturnino Rodrigues de Brito
econômicos. (5) Na implantação do Plano de Avenidas predominou o aspecto viário sobre o aspecto sanitário. O plano de Prestes Maia, se poderia denominar como um urbanismo perverso, pois um dos princípios do urbanismo moderno, era a incorporação das várzeas ao espaço das cidades, ocupando-as com parques, áreas verdes e lagos, tal como foi previsto no projeto de Saturnino de Brito. O Plano de Avenidas foi pernicioso para a qualidade do meio ambiente urbano de São Paulo, pois não se trata de simples condenação da construção das vias, mas de afirmar a existência de propostas, como o projeto de Saturnino de Brito, que concebia uma incorporação menos nociva dos rios à cidade. A própria di-
A Light e as águas do TIETÊ
nâmica natural do ritmo das cheias e a convivência da cidade com
Com o crescimento e expansão da cidade de São Paulo, havia naque-
as várzeas revelava ser prudente manter distância ou aproximar-se
le momento a necessidade do governo realizar rapidamente uma
com referendada cautela do espaço das águas. (7)
série de melhoramentos, para atender as demandas da população.
A ideia do Plano de Avenidas era construir avenidas paralelas ao canal do rio (as marginais), como fossem rodovias urbanas. O Plano de Avenidas de Prestes Maia, deixou como herança a prática da retificação, canalização e construção de avenidas em
Os principais fatores, que no início da década de 20, induziram a modificação no regime hidráulico do rio Tietê, foram: • Controle de cheias; • Aumentar a oferta de energia elétrica;
fundo de vale ou sobre o leito dos rios que predomina até hoje,
E assim o sistema foi sendo alterado e construído um sistema
com todos os efeitos negativos conhecidos, sendo as inundações
totalmente artificial para atender as demandas da Região Metro-
o mais destruidor deles. (6)
politana de São Paulo (RMSP).
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ARTIGO TÉCNICO
A história da formação da metrópole paulistana se sobrepoe a
aproveitando o desnível da Serra do Mar. Assim, em 1926, entrava
história de apropriação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica
em operação a primeira unidade geradora da Usina de Cubatão,
do Alto Tietê, pelos setores de forte poder economico, como por
hoje chamada de Henry Borden. Em 1927 foi adquirida, ainda em
exemplo, geração de energia elétrica e especulação imobiliária.
fase de construção, a Usina de Porto Góes, inaugurada em 1928,
O aumento do fornecimento de energia elétrica para atender a
com capacidade de 11 MW.
demanda era uma das prioridades na época e a realização de uma
As obras de retificação do rio Pinheiros demorariam décadas.
série de intervenções na bacia hidrográfica do Alto Tietê foram
Dessas obras resultaria o ganho, para efeito de urbanização, de
executadas, tais como a construção de: barragens, reservatórios e
uma área total de 32 milhões m² de terrenos alagadiços. Como a
estações de recalque, que causam problemas até hoje.
Light nunca dormiu no ponto, tratou de assegurar-se o direito de
Porém a implantação de um sistema totalmente artificial, re-
desapropriar as áreas de várzea e ela própria de revendê-las. Sem-
quer permanentes e vultosos recursos para seu gerenciamento e
pre lembrando que a maior parte das tratativas do Projeto Serra
manutenção, que sempre desperta algum questionamento por
se deu no mandato do amigo íntimo Carlos de Campos no gover-
parte da sociedade.
no do Estado. Nas áreas recuperadas ao Pinheiros surgiu bairros
Entre os anos de 1924 e 1925, uma forte estiagem reduziu
destinados a clientela rica para maior glória do polvo canadense
drasticamente a capacidade de vazão dos rios. Em oito meses de
e reforço de seu caixa. (3) - Livro: A Capital da Vertigem. Uma
1924 as chuvas não chegaram a 60% da média para o período e
história de São Paulo de 1900 a1954; pg. 299
nos 2 primeiros meses de 1925, em plena estação chuvosa, não
A partir da década de 1930, para o aumento da capacidade
chegaram a 45%. A usina de Santa de Parnaíba quase entrou em
de geração da Usina Henry Borden, foram realizadas as obras de
colapso. Para piorar São Paulo era palco de um rápido crescimento
retificação e reversão do rio Pinheiros, a formação do reservató-
industrial e, consequentemente, precisava aumentar a oferta de
rio Billings, a construção das usinas elevatórias de Pedreira e de
eletricidade. A situação vivida em 1924 provocou a redução de,
Traição e da barragem reguladora Billings-Pedras. Na confluência
aproximadamente, 30% do fornecimento de energia elétrica. Ain-
dos rios Pinheiros e Tietê foi construída a Estrutura de Retiro
da nesse ano foram instaladas mais duas unidades na Usina Paula
com a finalidade de separar as águas dos rios em caso de cheias.
Souza, elevando sua capacidade.
Figuras 3 e 4
Foto1 - Usina Paula Souza ( no bairro do Tatuapé – SP)
Figura 3 - Perfil do sistema da concessão do Projeto Serra
Enquanto isso a Light construía às pressas (7 meses) uma nova
Foto 2 – Fotos das estruturas do Projeto Serra
hidrelétrica no Tietê, a Usina Hidrelétrica de Rasgão, entre Pirapora e Cabreúva, que entrou em operação em 1925, mas sabiam que a medida seria paliativa. Na época iniciou a busca por uma solução defetiva e desde 1923 o engenheiro Asa White Kenney Billings buscava a implementação do Projeto da Serra. (3)
Projeto SERRA O engenheiro Asa White Kenney Billings estudava a implantação do “Projeto da Serra”, que visava a geração de energia elétrica
26
Saneas
Estrutura do Retiro
fez com que o movimento dos rios fosse controlado por diques, Usina da Elevatória Traição
barragens, reservatórios, usinas elevatórias e canais, de tal forma que seu fluxo e vazão natural passasse a ser controladas por estas estruturas. Assim sendo, o Tietê se transformou afluente do Pinheiros, o qual, passou se movimentar em marcha a ré em direção às próprias nascentes. Tornando os caudalosos Tietê e Pinheiros, ao fim
Usina da Elevatória Pedreira
da louca corrida, em afluentes do modesto rio das Pedras. Até o rio Tietê, pelo mesmo processo, e sempre que necessário, poderia ter o curso invertido entre a usina de Rasgão, em Pirapora do Bom Jesus até a confluência com o Pinheiros, de modo a fornecer um caudal ainda mais robusto a infiltrar-se no
Barragem Reguladora Billings-Pedras
Pinheiros adentro para alimentar a nova represa Billings. O rio Pinheiros foi segmentado em dois canais (inferior e superior) de tal forma que suas águas apenas se movimentam em função das estruturas e regras operacionais. Por força das condições hidrológicas artificialmente impostas ao canal do Pinheiros, a ocorrência do fenômeno natural de autodepuração foi prejudicada
Usina Henry Borden
de forma definitiva. Figura-3 O sistema hidráulico e de controle de cheias, operado pela EMAE na RMSP é constituído das seguintes operações: • Antecipação da abertura total das comportas da Barragem Edgard de Souza, dando escoamento natural às águas do Tietê;
Sistema Hidráulico da EMAE A configuração hidrográfica após a implantação do Projeto Serra
• Separação das bacias dos rios Pinheiros e Tietê por meio do fechamento da Estrutura de Retiro.
Figura 4 - SISTEMA HIDRAÚLICO DA EMAE
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ARTIGO TÉCNICO
Enchentes e Alagamentos Insolúveis
uma elevação do nível dos rios da Bacia do Alto Tietê, inundando
Um problema que parece ser insolúvel em São Paulo, são as en-
grande parte da cidade, particularmente a várzea do Rio Pinheiros.
chentes e alagamentos.
Na verdade, essa foi a estratégia adotada pela Companhia Light
A origem de tal problema é apontado por urbanistas, em parte
& Power, para potencializar a inundação do dia 14 de fevereiro,
na tradição de tampar ou enterrar rios e córregos. “Rio bom é rio
alegando ser necessário a abertura das comportas das barragens
enterrado é um modo de pensar muito presente até hoje”, lembra
Billings e Guarapiranga, em nome da segurança estrutural delas.
José Bueno .“
Contudo nunca deveriam ter fechado as comportas de Edgar de
7
Até a década de 1960, no lugar das oito pistas da 23 de maio, uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, corria o rio
Sousa inundando a cidade de São Paulo, tornando a em um grande lago e cujas águas demorariam sete dias para abaixar.
Itororó. Hoje aterrado, ele segue até o Anhangabaú, onde encontra o rio Saracura, que se transformou na avenida Nove de Julho. Apenas na época das chuvas, quando o volume de água por
Foto 1 - Vista da praça do Correio, avenida São João e o Vale do Anhangabaú - Enchente de 1929
vezes chega à superfície submergindo os carros, o rio é lembrado que ainda está lá. Não é pelo fato de encaixotar , aterrar e enterrar os rios que ele estará morto, na verdade ele não mais ficará à vista, mas suas nascentes continuaram a alimentar seus rios, como uma mãe amamenta seus bebês, com toda a água da chuva que cai na respectiva bacia hidrográfica. As enchentes, que periodicamente ocorrem em São Paulo, deveriam levar a população a indagações sobre o modelo de ocupação urbana e o seu papel no favorecimento do processo, mas, pelo contrário, muitas vezes elas foram utilizadas para justificar investimentos e promover mais especulação imobiliária. Um dos momentos mais emblemáticos deste processo, foi o das enchentes de 1929, amplamente divulgada na mídia da época. No mês de fevereiro de 1929, ocorreram chuvas intensas sobre São Paulo, aparentemente nada que fuja aos padrões esperados para o mês de fevereiro. Porém, a certeza da magnitude do fenômeno só seria possível de ser apurada se tivéssemos disponíveis registros pluviográficos efetuados nas proximidades da bacia do reserva-
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/36591815702903810/
tório da Guarapiranga. Os dados disponíveis, que se referem ao posto meteorológico da Estação da Luz, indicam volumes de chu-
Na verdade, muitas dúvidas e questionamentos ficaram com
vas consideráveis, mas relativamente comuns para o período do
relação a operação adotada pela Light:
ano. Ao todo, entre os dias seis e treze de fevereiro, choveram
• Porque abrir as comportas da Guarapiranga e Billings apenas no
246,4 mm na Luz. Porém, estes dados servem apenas como re-
dia 14/02/29 ?
ferência, pois devido à variabilidade das precipitações no regime
• Não poderia ser feita outra operação de descarregar a Billings
de verão, as chuvas sobre a Guarapiranga podem ter sido muito
através do rio das Pedras e encaminhando o excesso de água
mais intensas. Entretanto a cidade sofreu uma inundação inusitada, pois, no dia 14 de fevereiro, a Companhia Light & Power abriu as compor-
para Baixada Santista ? • Qual a real estratégia da light ao fechar as comportas da barragem de S. Parnaíba (Edgar de Sousa) ?
tas das represas controladas por ela (Billings e Guarapiranga), que haviam acumulado nos seus reservatórios as descargas pluviais
Depois de tanta pesquisa nada encontrei além da ganância
ocorridas entre os dias seis e treze de fevereiro, e fechou as com-
da Light em potencializar a área inundável da várzea do Rio
portas da barragem de S. Parnaíba (Edgar de Sousa). Assim, houve
Pinheiros.
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Saneas
O Mirante de Santana, na Zona Norte de São Paulo, registrou
Foto 2 - Vista aérea da Marginal Tietê
114 mm de chuva entre o fim da tarde de domingo (09/02/20) e 9h da segunda-feira (10/02/20). Essa é a segunda maior quantidade de chuva em 24 horas para o mês de fevereiro registrado em 37 anos, de acordo com o Inmet. Esse volume de chuva só foi superado pelos 121,8 mm ocorridos em 2 de fevereiro de 1983. https://g1.globo.com/sp/ sao-paulo/noticia/2020/02/10/mirante-de-santana-na-zona-norte-de-sp-tem-2a-maior-quantidade-de-chuva-em-24-horas-para-o-mes-de-fevereiro.ghtml https://www.noticiasaominuto.com.br/brasil/520553/marginal-tiete-sera-recapeada-ate-junho
A enchente provocada pela chuva de 10∕02∕2020, ocasionou um grande transbordamento e as águas invadiram o leito maior do rio,
Na execução da canalização do rio Tietê a várzea não foi mantida, e
nas marginais do Tietê. As fotos de jornais de São Paulo, mostraram
o rio sofreu com a instalação de empresas ao longo de suas margens,
o caos em que ficou as marginais após a chuva, que resultou no
aumentando assim o nível de impermeabilização do leito maior.
travamento do trânsito de quase toda a cidade de São Paulo.
Enfim, não podemos afirmar que o projeto de Saturnino de Brito, por si só, resolveria definitivamente o problema das enchentes
A seguir fotos que mostram as consequências da chuva 10 de fevereiro de 2020
nas marginais do rio Tetê. Na sua concepção, a construção de parque fluvial urbano que
Foto 3 - Vista aérea da Marginal do Tietê, altura da Ponte da Casa Verde,
ocuparia a faixa do leito maior, a formação de dois lagos e uma
em São Paulo/SP, com forte trânsito e centenas de pontos de alagamento.
ilha na altura da Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras), inte-
Foto: Estadão Conteúdo
grando com 30% do território das várzeas destinado a parques, haveria grande amortecimento das cheias o que evitaria bastantes as enchentes nas marginais. Na verdade, o rio Tietê não foi dominado pela cidade de São Paulo, pelo contrário, foi a cidade que se tornou refém dos frequentes transbordamentos do rio nos períodos de chuvas intensas, causando transbordamento e enchentes, ocasionando o travamento da circulação nas marginais e reflexos no trânsito de quase toda a cidade. As enchentes continuam se intensificando e com consequências cada maiores, deixando algumas vezes a cidade paralisada como foi o caso da chuva do dia 09 a 10/02/2020.
Foto - 4 Rio Tietê transbordou e invadiu a Marginal na altura da Ponte do Limão,
Veja os maiores registros de chuva feitos pelo Inmet (Instituto
na Zona Norte de São Paulo— Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo
Nacional de Meteorologia), que faz a medição no Mirante de Santana desde 1943. Índice Pluviométrico
Data
121,8 mm
02/02/1983
114,0 mm
10/02/2020
109,5 mm
28/02/2011
103,3 mm
08/02/2007
102,7 mm
17/02/1988
102,0 mm
21/02/2016
Fonte: https://portal.inmet.gov.br/
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ARTIGO TÉCNICO
Foto 5 – Alagamento na marginal Tietê na altura da Ponte das Bandeiras
Alto Tietê, onde está inserida a região metropolitana de São Paulo; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê. 1 - Alto Tietê: área que abrange a nascente do rio; 2 -Sorocaba/Médio Tietê: compreende 34 municípios, dos quais 17 estão na sub-bacias do Médio Tietê; 3 - Piracicaba-Capivari-Jundiaí: inclui municípios paulistas e mineiros, mas a maioria (92,6%) é do estado de São Paulo; 4 - Tietê/Jacaré: abrange 34 municípios, localizando-se no centro do estado e passando por cidades como Araraquara, Bauru, Jaú,
grupohimaco@gmail.com
Lençóis Paulista e São Carlos; 5 - Tietê/Batalha: abrange áreas das cidades de Itápolis, Lins, Matão, Novo Horizonte e Taquaritinga;
3. Rio Tietê
6 - Baixo Tietê: abrange o noroeste do estado e vai até o final da
O rio Tietê é a principal artéria hídrica do Estado de São Paulo,
bacia, que tem sua foz no rio Paraná.
atravessa todo o Estado exercendo importante papel na economia, com atividades de navegação, abastecimento de água, tu-
FIGURA 5 – RIO TIETÊ E SUAS SUB-BACIAS
rismo e a presença de usinas hidrelétricas, como a de Pirapora do
http://avfrankieco.com.br/
Bom Jesus e a Usina de Rasgão, ambas responsáveis pelo abastecimento elétrico da região Metropolitana de São Paulo e seu entorno. Ele é um dos mais conhecidos rios da América Latina e do mundo, com enorme importância econômica para a região Sudeste do Brasil e principalmente para o Estado de São Paulo por ter uma grande capacidade de escoar as produções industriais e agrícolas, ainda pouco aproveitada. Hidrografia do Tietê A hidrografia do rio Tietê é destaque por se tratar do principal rio que atravessa a maior metrópole nacional, cruzando toda a região metropolitana de São Paulo (RMSP). Sua principal nascente
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-tiete.htm.
está localizada a 1.030 metros do nível do mar, no município de
Acesso em 17 de outubro de 2020
Salesópolis (SP), no Parque Nascentes do Rio Tietê nas encostas da Serra do Mar e se localiza a 22 km do Oceano Atlântico e a 96
O Tietê de ontem
km da capital do Estado de São Paulo em uma área coberta pela
As fotos mostram a integração da população com o rio Tietê no
Mata Atlântica.
início do século XIX. Nessa época o Tietê fazia parte da vida da
Escoa de leste a oeste e percorre 1.100 quilômetros até atingir sua foz no Rio Paraná, na divisa com o Estada do Mato Grosso do Sul, sendo um dos principais afluentes dessa bacia hidrográfica.
cidade em total harmonia. (6) Décadas depois, o cenário do principal rio da cidade, assim como de todos os outros, nos apresenta um péssimo aspecto de
Esse curso de água cruza 62 municípios paulistas e, por per-
se ver e a sensação intolerável de viver em São Paulo. O esgoto
tencer a uma das áreas mais densamente populosas e povoadas
predomina e o mau cheiro é insuportável. Após as chuvas, diver-
do país, sofre impactos ambientais todos os dias no decorrer do
sos tipos de resíduos aparecem boiando rio abaixo, e o contato
seu leito. A sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas:
com sua água é prejudicial à saúde.
30
Saneas
Foto 6 – rio Tietê de ontem
Ao fundo a ponte das bandeiras
Tietê perto da ponte das bandeiras
Fotos: https://www.google.com/search?q=o+tiet%C3%AA+antigo
Décadas depois, o cenário do principal rio da cidade, assim como de todos os outros, nos apresenta um péssimo aspecto de
Foto 7 - Balsa no rio Tietê atravessando com o Fordinho, na região de Osasco quando ainda era um bairro de São Paulo. (Década de 40)
se ver e a sensação intolerável de viver em São Paulo. O esgoto predomina e o mau cheiro é insuportável. Após as chuvas, diversos tipos de resíduos aparecem boiando rio abaixo, e o contato com sua água é prejudicial à saúde. A importância das embarcações e das pontes As embarcações tinham o importante papel de criar a comunicabilidade entre a área central da cidade e os bairros além das margens, transportando passageiros e materiais, de uma margem à outra. No início do século XIX o número de pontes na cidade era reduzido. Existia no Rio Tietê a Ponte Grande de Sant’Anna, conhecida hoje como Ponte das Bandeiras.
profundidade entre 1 e 1,5 m; entremeadas à areia, surgiam ca-
Em 1922 a Fiscalização dos Rios e Várzeas, órgão da prefeitura,
madas de argila e para extraí-las, faziam grandes buracos e essa
registrou a existência de 500 barcos matriculados na cidade, sen-
extração provocava poluição no rio. AS olarias que utilizavam a
do 309 destinados ao transporte de materiais, 188 à recreação e
argila para produzir tijolos e telhas, incialmente eram situadas nas
9 (duas balsas e sete botes) ao transporte de passageiros de uma
margens dos rios.
margem à outra. Os barcos de transporte levavam basicamente material de construção (areia, pedregulho e argila) e inicialmente
Então em 1913 as olarias foram proibidas no município de São Paulo e transferidas para rio acima, além da Penha.
os próprios barqueiros também extraiam os materiais no leito dos
Em 1926 o total já era de 712, dos quais 443 destinados a
rios e várzeas. Os depósitos de areia nas várzeas ficavam a uma
transporte de materiais, sendo que um deles era equipado com
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ARTIGO TÉCNICO
máquina para extração de areia e cinco balsas para o transporte
Histórico da poluição do rio Tietê
de passageiros. (3)
A poluição do rio resultou da irresponsabilidade e negligência dos
Nos bairros, as pessoas utilizavam pontes flutuantes, para atra-
governantes, que não souberam lidar com crescimento exponen-
vessar de uma margem para outra, as quais, eram construídas
cial da população e, tão pouco se preocuparam com a infraestru-
sobre tambores de óleo vazios, que boiavam na água.
tura necessária para viabilizar a mudança de categoria de Vila para Cidade de São Paulo. A maioria dos moradores da cidade sequer imaginam como é
Foto 8 -
antiga a poluição do rio. No século XVIII, a qualidade das águas já estava comprometida. Nesse período, as águas utilizadas pela maioria dos moradores eram bastante impuras, conforme se verifica nas observações abaixo transcritas. Sabe-se que em 1773 estava danificada a bica do Acu, e a Câmara tomava medidas de limpeza e conserto do rego, a fim de que fossem escoadas águas e tijucos, sabendo-se que por detrás dessa fonte tinha morrido um cavalo. [...] Ela continuou porém recebendo ciscos e estercos, através da umidade dos quintais de alguns moradores de suas vizinhanças. Cheirava mal as suas águas e tinham sabor horrendo, dizia uma ata da Câmara. Não eram melhores po-
http:vilaanastacio.blogspot.com/
rém as águas do Tamanduateí e do Anhangabaú, em que se servia Foto 9 - A primeira ponte de Vila Guilherme sobre o rio Tietê foi construída em madeira em 1919, ligando o bairro do Pari e Canindé.
a “maior parte dos povos”, escrevia-se no ano de 1787. Quanto à higiene pública,já era nascida, mas ainda muito pueril. A prova desta afirmação é o fato de que o Anhangabaú, despencava do Tanque Municipal, atravessava o Matadouro Público, encravado nas baixadas do Humaitá, recebendo aí todo o sangue das rezes abatidas de modo que os moradores do Piques, do Acu e da rua da Consolação, por onde passavaaquele rio , assistiam diariamente, das duas horas da tarde em diante, um verdadeiro riacho de sangue. Além do comprometimento da qualidade das águas que, certamente, implicou na redução de oferta para o consumo, observa-se também, a partir do século XVIII, um franco declínio na disponibi-
Quando criança cruzei várias vezes o rio Tietê, por meio de uma
lidade de água na cidade. Considerando-se que nos três primeiros
ponte flutuante, construída no bairro do Tatuapé, na altura da rua
séculos, a cidade apresentou um lento crescimento populacional,
Tuiuti, onde morei durante toda minha infância.
tal escassez de água poderia estar mais relacionada às mudanças físicas processadas em função do uso e ocupação do solo, sobretudo o desmatamento e a ocupação das várzeas. (3)
RESUMO: Light (O Polvo Canadense e seus Tentáculos) Essa história teve início em 1986, em Montreal, Canadá, onde se encontrava, a serviço do governo do estado, o jornalista, advogado e político Américo de Campos. Foto 10 - Na foto de 1957, meu tio Zeca, meu primo Rui e eu .
32
Saneas
Américo era irmão de Bernardino de Campos, que naquele momento ocupava presidência do estado e tio de Carlos de Cam-
pos, filho de Bernardino. Carlos de Campos era genro do homem
A empresa nasce com força incontestável. Até então não se via
de negócios Antônio Augusto de Sousa, o comendador Sousa.
nada por ela realizado. Em pouco tempo viraria um polvo ou “polvo
E o comendador Sousa mostrava interesse em uma novidade da
canadense”, na língua dos seus difamadores. Foi a partir da aí que se
época, o bonde elétrico. De acordo com as histórias (oficiais e
mediu o tamanho e alcance de seus tentáculos, capazes de abraçar
semioficiais), Américo de Campos encontrava-se no Canadá em
além do transporte público, também a produção e distribuição de
outra missão e aproveitou a oportunidade para especular sobre a
energia elétrica, e de avançar rumo a outros setores, com veracidade
viabilidade de levar bondes elétricos para São Paulo. É possível que
e poder suficiente para atropelar quem se interpusesse no caminho.
sua missão tenha sido exatamente essa. Em Montreal entrou em contato com o capitão da Marinha Ita-
(3) Livro “A Capital da Vertigem. Uma história de São Paulo de 1900 a1954” deRoberto Pompeu de Toledo, pág. 41
liana Francesco Antônio Gualco. Em 1896 Gualco vem a São Paulo
A história e negociatas entre o governo de São Paulo e a Light
para estudar as condições locais.Aprovou o que viu e formou com o
espelha a promiscuidade entre o público e privado que predomina
comendador Sousa uma sociedade, que em junho de 1897, obteve
até os dias de hoje.
da Câmara Municipal concessão para explorar o serviço de transporte público. Desde 1872 São Paulo já era cruzada pelos trilhos
4. Considerações finais
dos bondes, mas com tração animal. No caso de São Paulo e em
Desde a administração Pires do Rio (1926-1930) várias decisões
outras cidades brasileiras era utilizado burros diferentes de outros
tomadas foram determinantes para definir a qualidade de vida
países que utilizavam cavalos.A linha de bonde existente cobria
na cidade de São Paulo e de seu entorno, sendo algumas um
quase toda a cidade. Os carros eram puxados por parelhas e nos
caminho sem volta.
percursos mais longos eram trocados. Como a sociedade formada
A decisão mais prejudicial a cidade de São Paulo foi a implan-
por Gualco e o comendador Sousa não poderia ir muito longe sem
tação do Plano das Avenidas elaborado por Preste Maia em de-
o amparo de alguém do ramo, um passo decisivo foi entrar em con-
trimento da execução do Projeto de retificação e canalização do
tato com William Mackenzei, um empresário canadense do setor
rio Tietê elaborado pelo Engenheiro Saturnino de Brito.
de transporte público com participação em empresas do Canadá e
Saturnino de Brito, em sua concepção,buscava a renaturali-
outros países. William Mackenzei com o auxílio de seu filho advoga-
zação do rio Tietê com uma concepção menos nociva do rio à
do Alexandre Mackenzei, juntou um grupo de investidores, todos
cidade,prevendo a construção de um parque fluvial urbano que
de Toronto, no Canadá, para viabilizar financeiramente o negócio.
ocuparia a faixa do leito maior, a formação de dois lagos e uma
Nasceu assim, em 7 de abril de 1899, a The São Paulo Railway Light
ilha na altura da Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras), inte-
and Power Co. Ltda, com aval da rainha Vitória, documentada por
grando 30% do território das várzeas destinado a parques, para
uma Carta Patente, que em verdade funcionava como garantia de
amortecimento das cheias, fato esse, que evitaria imensamente as
mercado para o capital incorporador.
enchentes nas marginais.
Gualco e Souza obtiveram da Câmara Municipal no dia 20 de
Ao longo da história fica evidente que os reais intereses eram,
dezembro de 1898, concessão também para produção e distribui-
políticos, privados e economicos. No Plano das Avenidas as gran-
ção de energia elétrica. Já no Brasil, operando sob regime de con-
des obras se destacam, assim com, atender aos interesses do mer-
cessão de serviços públicos, concessões obtidas junto às Câmaras
cado imobiliário e da indústria automobilística.
Municipais, a empresa instaurou um processo de compras e aqui-
Como foi dito anteriormente, a formação da metrópole paulis-
sições de outras empresas, que produziam eletricidade e de outros
tana se sobrepõe a história de apropriação dos recursos hídricos
serviços urbanos. Contando, inclusive com empresários brasilei-
da bacia hidrográfica do Alto Tietê, pelos setores com forte poder
ros que serviram de testa de ferro nessas transações. Em pouco
economico, como por exemplo,geração de energia elétrica e es-
tempo o transporte de bondes eletrificados mostrou não ser sua
peculação imobiliária.
maior finalidade, muito embora, pelo menos formalmente, se te-
A Light que conseguiu, de forma duvidosa, em dezembro de
nha instalado em São Paulo com essa finalidade. Em dezembro de
1899 as concessões, para geração e distribuição de energia, nun-
1899 eles assinaram assinam a transferência de suas concessões,
ca se preocupou com bem estar da população paulistana e tão
tanto para bondes elétricos como para geração e distribuição de
pouco atuou com ações sociais, pelo contrário, sempre pensou na
energia, para Light.
rentabilidade da empresa e ludibriar o governo.
Janeiro a Março de 2021
33
ARTIGO TÉCNICO
Ao se implantar o Projeto Serra, um caminho sem volta foi tra-
realização de obras, muito há de ser feito, principalmente na parte
çado, a “priorização da geração de energia” , assim como, a pro-
de limpeza e manutenção dos equipamentos de drenagem, como:
messa de resolver o problema das enchentes através do sistema
GAPs , bueiros, valas, valetas piscinões, a fim de melhorar a
hidraulico artificialmente criado para reversão das águas do Tietê
capacidade de escoamento das águas pluviais. O assoreamento
para o Pinheiros, em situação de grandes chuvas , na chamada
de GAPs, córregos e rios também interferem de forma definitiva
operação de cheias operada pela EMAEE.
na deficiência do escoamento de águas pluviais.
O exemplo mais chocante foi a estratégia adotada pela Com-
Uma cidade complexacomo São Paulo exige um planejamento
panhia Light & Power, em fevereiro 1929, durante enchente mais
holístico com visão integrada entre projetos e planos de outros
inusitada, ocorrida até então, em São Paulo, que deixou áreas da
setores, como por exemplo, varrição de ruas, coleta eficiente de
cidade debaixo da água por sete dias.
resíduos domésticos, eliminação de lançamentos clandestinos de
A suspeita é a de que os efeitos da forte chuva que atingiu São Paulo naquele fevereiro (1929) tenham sido potencializados por ações da então onipresente empresa Light.
esgoto nos equipamentos de drenagem, desassoreamento de córregos, rios e galerias. Outro problema grave em São Paulo é a falta de um Plano Ha-
As comportas das barragens Billings e Guarapiranga foram
bitacional que reduza as ocupações em áreas de risco, como na
abertas, em nome da segurança estrutural das mesmas e foram
margem de córregos e rios, assim como em encostas. Se faz ne-
fechadas as comportas de Edgar de Sousa, fazendo com isso que
cessário , construção de unidades habitacionais, para a população
o nível dos rios Pinheiros e Tietê subissem e consequentemente
mais carente, com toda infraestrutura necessária, planejamento
inundando a cidade de São Paulo, tornando a um grande lago.
territorial do loca e regularização da área.
Pesquisa da professora da USP Odette Seabra indica que a
Acredito que seria muito importante tambéma criação de um
Light abriu as comportas desuas represas para aumentar a área
Plano de Contingência de Trânsito, elaborado e implantado pela
inundada pelos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí. Sua investi-
PMSP , com objeto de resolver os graves problemas de congestio-
gação mostra que, por isso, os dias mais críticos na cidade foram
namentos de trânsito ocasionados pelas enchentes e transborda-
sem chuva.
mentosdos principais córregos e rios da cidade.
Isso posto restam as seguintes perguntas: • porque ainda temos em São Paulo enchentes semelhantes à de 1929, como a que ocorreu em fev. de 2020 ? • existe problemas com a operação de controle de cheias operada pela EMAE? • como podemos ter certeza da eficiência do sistema artificial criado quando da implantação do Projeto Serra ? • Estaria saturada a capacidade de transferência de água do Alto Tietê para Baixada Santista em termos de vazão?
O Centro de Operação Emergencial Climática (CGE) tem imagens via satélite e seus próprios modelos matemáticos que fazem a previsão do tempo, tais como, temperaturas máxima e mínima, umidade do ar , probabilidade de chuva e dados das chuvas ocorridas por região. A CETpoderia utilizar as informações geradas peloCGE , que permitiria a criação de um MAPA DA CIDADE indicando os pontos críticos e crônicos sujeitos a alagamentos, possibilitando, a CET fechamento e desvios, preventivamente, bem como caminhos alternativos de vias complicadas como por exemplo as Marginais Tietê e Pinheiros, Anhangabaú, Av. 23 de maio, Av. Tiradentes e
Essas incertezas são muito preocupantes, para a segurança da BHATno quesito enchentes, pois a segurança depende do perfeito funcionamento do sistema de reversão Tietê/Pinheiros.
outras vias conhecidamente problemáticas. A CET teria informações que possibilitaria a criação de uma regra operacional para o trânsito para as épocas de chuvas intensas
Em pleno fev. 2020, mês típico de intensas chuvas, observamos
com objetivo de não travar a cidade de São Paulo, tais como mos-
nas fotos 3, 4 e 5 o resultado de uma chuva com índice pluviomé-
tram as Fotos 3,4 e 5 referentes a enchente em fevereiro de 2020.
trico de 114 mm, nada absurdo para época do ano. As Marginais
Por fim,quando se constrói uma cidade em cima de leitos de
ficaram submersas indicando que o rio Tietê foi buscar seu leito
rios, de aterros das várzeas, assim como avenidas em fundo
maior e, na foto 5 mais uma vez confirmamos o problema crônico
de vales, enchentes e alagamentos são ocorrências que devem
da Ponte das Bandeiras onde os veículos submergem e ficam pre-
ser esperadas, assim como, se faz necessário apreender como
sos em uma armadilha.
conviver com esses problemas todo o período úmido de todos
Ainda assim, para remediar as enchentes não basta apenas a
34
Saneas
os anos.
5. Referências Bibliograficas
7.Dos surtos urbanísticos do final do século XIX ao uso das várzeas pelo
1. Fundação de São Paulo
Plano de Avenidas
http://cidadedesaopaulo.com
Autor:Vanderli Custódio*
2. A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos
*Professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, área de Geografia
Isabel Cristina Moroz-Caccia Gouveia
Humana (lili@uninet.com.br).
http://journals.openedition.org/confins/10884 ; DOI : 10.4000/con-
8.A enchente de 1929 na cidade de São Paulo: memória, história e novas
fins.10884
abordagens de pesquisa
3. A Capital da Vertigem. Uma história de São Paulo de 1900 a1954
grupohimaco@gmail.com
Livro de Roberto Pompeu de Toledo
9. A Percepção do caos urbano, as enchentes e as suas repercussões nas
4. Histórico Demográfico do Município de São Paulo
políticas públicas da Região Metropolitana de São Paulo
prefeitura.sp.gov.br ;
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/index.php
=S0104-12902006000300012
http://sampacentro.terra.com.br
10. O RIO TIETÊ
5. Retificação e Decadência – DAEE
Gustavo Henrique Mendonça _Professor de Geografia
www.daee.sp.gov.br › id=796:retificacao-e-decadencia
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-tiete.htm. Acesso em 17 de
6.São Paulo: A cidade que não coube nos planos
outubro de 2020
Autor:Camilo Rocha.
11. Histórico da EMAE
Desenvolvido por Ibrahim Cesar© 2016 Nexo Jornal
emae.com.br/conteudo.asp
https://www.nexojornal.com.br/especial/2016/01/24/S%C3%A3o-Paulo-A-cidade-que-n%C3%A3o-coube-nos-planos
1
Eurípedes Simões de Paula - Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Humanas da USP e Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da USP
2
Ives Lacoste: geógrafo e autor do livro - “A Geografia - Isso Serve, em primeiro lugar, para fazer a Guerra”
3
Prestes Maia em 1938 foi nomeado prefeito da capital paulista pelo então interventor federal no estado Ademar de Barros. Permaneceu no cargo até 27 de outubro de 1945, dois dias antes da queda do Estado Novo. Como prefeito da capital paulista promoveu uma transformação profunda na estrutura da cidade realizando grandes obras. Retornou à vida pública em 1950 como candidato ao governo do Estado pela UDN, porém não saiu vitorioso. Nas eleições de 1954, voltou a concorrer ao governo paulista com apoio interpartidário articulado pelo governador Lucas Nogueira Garcez e, novamente, não conseguiu se eleger. Em 1957, foi indicado por Jânio Quadros à candidatura de prefeito da capital, embora as convenções partidárias tenham optado pelo candidato Ademar de Barros. Nas eleições para a prefeitura de São Paulo em 1961 saiu vitorioso com o apoio do governador do estado Carvalho Pinto.
4
Eusébio Stevaux engenheiro da Inspetoria Geral de Obras Públicas da prefeitura de São Paulo
5
SEABRA, Odette C.L (1987). Meandros dos Rios nos Meandros do Poder Tietê e Pinheiros: Valorização dos Rios e das Várzeas na Cidade de São Paulo.
7
José Bueno arquiteto e urbanista criou ao lado do geógrafo Luiz de Campos Jr o projeto Rios e Ruas para identificar o mundo de águas que habita o
8
Arquivo da autora – FÁTIMA VALÉRIA DE CARVALHO
9
BHAT – BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊ
Tese de Doutoramento em Geografia Humana apresentada à FFLCH – USP.
subterrâneo de São Paulo
10
GAPs – GALERIAS DE ÁGUAS PLUVIAIS
11
PMSP – PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
12
CET – COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO
13
CGE - Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da PMSP/PMSP
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ARTIGO TÉCNICO
Iury Antônio Ribeiro Freire de Carvalho (1) Bacharel em Engenharia Civil, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pesquisador voluntário em Iniciação Científica sobre o reaproveitamento de resíduos de construção civil, na construção de estruturas de infiltração. Geraldo Tadeu Rezende da Silva (2) Doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Análise da eficiência de uma trincheira de infiltração como técnica compensatória de drenagem urbana em trecho da Avenida Vilarinho, Belo Horizonte Resumo
urbana na Avenida Vilarinho em Belo Horizonte, zona
O avanço da urbanização nas cidades traz consigo
de recorrentes inundações.
diversas consequências, uma delas é a impermeabilização do solo, devido a construção de pavimentos,
1.1 Enchentes urbanas
pátios e telhados. Com o solo impermeável a água das
Com o desenvolvimento das cidades, o solo do am-
chuvas gera maiores vazões no escoamento superfi-
biente urbano vai se tornando cada vez mais imper-
cial causando enchentes nas áreas urbanas. O uso de
meável, devido a intensa impermeabilização gerada
soluções compensatórias de drenagem urbana, visam
pelas edificações, pavimentos, pátios e telhados. Com
armazenar e infiltrar as águas no solo, diminuindo o
uma menor capacidade de infiltração, o volume de
escoamento superficial, diferente das galerias e cana-
água que escoava antes lentamente, passa a ganhar
lizações, que apenas transferem a inundação de um
maiores vazões e é redirecionado por dutos e canais.
local para outro.
A área urbanizada se torna então uma barreira que
O objetivo deste trabalho é aplicar a técnica com-
dificulta a infiltração das águas pluviais no solo, geran-
pensatória de trincheira de infiltração, para não mais
do assim um desequilíbrio hidrológico na bacia ou na
escoar as águas para o mais longe possível e sim ar-
microbacia ocupada (TUCCI, 2007).
mazenar e infiltrar as águas das chuvas no solo. Para
Segundo CANHOLI (2005), as inundações são re-
analisar a eficiência da trincheira de infiltração, foi
sultado de um crescimento acelerado da urbanização,
escolhido um ponto estratégico na cidade de Belo Ho-
onde houve falta de planejamento dos sistemas dre-
rizonte, a Avenida Vilarinho onde ocorrem frequentes
nagem e sua insuficiência devido a grandes vazões de
inundações. Este estudo encontrou uma capacidade
água das chuvas. O planejamento da ocupação urba-
de redução do escoamento superficial em torno de
na poderia assegurar grandes espaços verdes favorá-
28% para cada trincheira de infiltração. Conclui-se,
veis à infiltração. Na ausência destas áreas naturais de
portanto, que a utilização das trincheiras deve estar
infiltração, se torna necessário então medidas para
associada a outras estratégias de controle de enchen-
correção e prevenção desses desastres que são tão co-
tes uma vez que sua eficiência reduz as taxas de esco-
muns no cotidiano de centros urbanos.
amento superficial, mas num nível mediano. PALAVRAS-CHAVE: enchentes; drenagem urbana; trincheiras de infiltração
De acordo com TUCCI (2007), devido à necessidade de rapidez na solução para as enchentes, houve uma tendência de controlar as enchentes aumentando a eficiência de escoamento, através de galerias e cana-
1. Introdução
lizações, transferindo a inundação de um trecho para
O tema central deste trabalho é a avaliação da aplica-
outro da bacia.
bilidade de trincheiras de infiltração para a drenagem
36
Saneas
TUCCI (2007) complementa que essa é uma solu-
ção que procura conduzir as águas pluviais da forma mais rápida
funcionalidades, regularizar o escoamento superficial, reduzir as
possível para fora das áreas urbanas. Embora seja uma solução
vazões da rede de drenagem e compensar os efeitos de imperme-
que amenize as enchentes, medidas desta natureza não atacam
abilização do solo (URBONAS; STAHRE, 1993).
a causa do problema que é a baixa taxa de infiltração nas áreas
Segundo o PMSBH (2019), atualmente o sistema de drenagem
urbanas. São, portanto, paliativas, embora essenciais numa pers-
de Belo Horizonte apresenta resultados bastantes insatisfatórios,
pectiva de integração de múltiplas ações.
pois, a cidade continua padecendo com as inundações urbanas,
Para o caso de Belo Horizonte, seu plano municipal de sanea-
seja por falta de manutenção, ou por não comportar as vazões
mento (PMSBH, 2019) aponta que esse tipo de solução acaba ge-
atuais do sistema, devido a urbanização acelerada. A demanda
rando novas ocorrências de inundações, repetidas a cada estação,
por soluções compensatórias, ou não convencionais, é real e tem
e sempre de forma evolutiva, nas regiões de jusante das bacias
sido bastante requisitada pelo setor técnico da cidade, na busca
hidrográficas da cidade. Além disso, é notório o estrangulamento
por soluções deste tipo de problema. Somam-se a este cenário, a
do fluxo, devido ao aumento das vazões transferidas nos trechos
extraordinária intensificação nos índices de precipitação ocorridos
de montante para a jusante da bacia, causando transbordamentos
na cidade, como, por exemplo, o excepcional volume de chuvas
e alagamentos em muitas vias de trânsito da cidade.
ocorrido no verão de 2020.
A frequência de inundações nos córregos/ribeiros do Vilarinho,
As soluções compensatórias de drenagem urbana têm a neces-
Ressaca, Pintos, Leitão e Pampulha, na cidade de Belo Horizonte,
sidade de tratar as águas pluviais de maneira que possa se evitar
além de diversos outros pontos da cidade, mostram a insuficiência
ao máximo os riscos que trazem as inundações, respeitando as
e vulnerabilidade do sistema de drenagem urbana de Belo Hori-
restrições de projeto impostas, de maneira que atinja seu objetivo
zonte na atualidade.
de fazer com que sejam mitigados os problemas de inundação.
Outro aspecto preocupante, é a atual crise econômica financei-
A utilização dessas técnicas, reduzem os efeitos da urbanização
ra do setor público que reduz a capacidade de investimento em
nesse sentido, levando em conta também, projetos urbanísticos e
sistemas estruturados em canalizações, que possuem altos investi-
tratamento das águas pluviais (BAPTISTA, 2011).
mentos de implantação e carecem também de gastos na sua ope-
Para este trabalho técnico, a medida estrutural não convencio-
ração, para que haja adequados funcionamento e longevidade da
nal proposta foi a trincheira de infiltração. Essa técnica consiste,
estrutura, além de custos com sua manutenção que dificultam
basicamente, de uma longa e estreita escavação, preenchida, ge-
ainda mais o problema. (PMSBH, 2019). Portanto, soluções base-
ralmente, por material granular graúdo (brita, pedra de mão ou
adas em canalizações resultam, na maioria dos casos, em projetos
seixos rolados), de maneira a permitir o armazenamento temporá-
onerosos, que minimizam a inundação apenas transferindo-a de
rio de águas pluviais nos vazios deste material agregado, fazendo
um local o para o outro. Consequentemente, a solução definiti-
com que o volume de água retido infiltre através do fundo e/ou
va deve objetivar reduzir as vazões e o escoamento superficial,
lados da estrutura (MIKKELSEN; JACOBSEN, 1993).
aumentando a parcela de água pluvial infiltrada. Como resulta-
Segundo CAPUTO (2012), este sistema funciona como um tra-
do haverá necessidade de menos recursos para a implantação de
dicional reservatório de redução de cheias, proporcionando a di-
canalizações e estruturas. Isso é possível através de técnicas que
minuição das vazões de enchentes, por ocasionar armazenamento
possam atenuar o escoamento superficial, aumentar a infiltração
e infiltração das águas pluviais no solo, reduzindo o escoamento
de água no solo e regularizar vazões. (BAPTISTA, 2011).
superficial. O autor complementa que o preenchimento da trincheira pode ser feito por diferentes materiais, como, por exemplo,
1.2 Soluções compensátorias de drenagem urbana
garrafas PET.
As técnicas compensatórias, ou medidas estruturais não-conven-
BAPTISTA (2011) classifica a trincheira de infiltração como uma
cionais, recebem este nome por compensar os impactos da urba-
técnica compensatória capaz de “se adaptar facilmente às áreas
nização em toda bacia hidrográfica, proporcionando a diminuição
livres devido ao seu formato alongado”, otimizando a ocupação
do pico das vazões nas cheias, o reabastecimento do lençol freá-
do local escolhido para aplicação da técnica. Devido a colmatação,
tico e a preservação ambiental. Essas medidas buscam o controle
que ocorre primeiramente no fundo da estrutura, este efeito alon-
do escoamento através de estruturas de detenção e estruturas de
gado permite maior absorção de água pelas paredes da trincheira,
infiltração, ou a combinação de ambos, tendo como principais
aumentando assim sua vida útil.
Janeiro a Março de 2021
37
ARTIGO TÉCNICO
A colmatação, processo que interfere diretamente no funcionamento da trincheira de infiltração, consiste na obstrução dos poros do solo e do leito drenante construído, devido à presença de partículas sólidas na água infiltrada. No intuito de realizar o pré-tratamento da água, para reduzir o influxo de partículas finas no solo, é recomendado a utilização de mantas geotêxtis removíveis e laváveis (CAPUTO, 2012). BAPTISTA (2011) complementa que o emprego de uma faixa de grama, no topo da trincheira, é uma solução para reter os sólidos finos carreados pelas águas que
Figura 1: Alagamento no trecho escolhido (Jornal Estado de Minas, 2020)
escoam para o interior da estrutura.
2. Objetivo O objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência de um sistema de drenagem compensatório baseado numa trincheira de infiltração, na redução do escoamento superficial gerado por chuvas de risco emergencial, em trecho do córrego Vilarinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
3. Metodologia aplicada Descreve-se a seguir, as etapas da metodologia aplicada. 3.1 Caracterização da área de estudo
Figura 2: Visão em planta da área escolhida (Google Maps, 2020)
Com base na Carta de Inundações de Belo Horizonte (2009), é
Para o desenvolvimento do trabalho, primeiramente, foi realiza-
possível observar a mancha de inundação devido as chuvas e os lo-
do um levantamento das áreas da cidade de Belo Horizonte que
cais com mais chances de sofrerem enchentes. O córrego Vilarinho,
sofrem com constantes enchentes. O município possui uma área
responsável pelas inundações nesta avenida, é bastante afetado pe-
territorial de 331,401 km2, cerca de 2.512.070 habitantes e se
las grandes vazões e pelo volume de água uma vez que, ao longo de
encontra localizado na região sudeste do Brasil, sendo a capital
sua calha, possui a junção de outros córregos. Com o aumento das
do Estado de Minas Gerais. Em seus limites administrativos são
precipitações, o córrego não consegue drenar a água que chega até
encontradas três principais bacias hidrográficas: Arrudas, Onça e
ele nos momentos de pico gerando, consequentemente, alagamen-
Rio das Velhas.
tos em ruas e avenidas. Na figura 3, é possível observar, em azul,
O trecho escolhido para o estudo fica localizado na Avenida
a mancha de inundação prevista para as enchentes nesta baixada.
Vilarinho, entre a Rua dos Melões e a Rua das Madeiras onde ocorrem historicamente sucessivas inundações. Esta região fica localizada próximo a um shopping e estações de ônibus e metrô que são referências na cidade. Com as constantes inundações, revelam- se prejuízos aos moradores da região e cidadãos de Belo Horizonte que utilizam o transporte público no seu dia a dia para trabalho, estudos e comercio local que é bastante forte na região de Venda Nova. Já houve, inclusive, morte de pessoas que ficaram presas a veículos nas inundações que ocorreram neste ponto.
Figura 3: Trecho no córrego Vilarinho escolhido para estudo (Carta de Inundações, 2009)
38
Saneas
3.3 Parâmetros, critérios e equações 3.3.1 Período de retorno e duração da chuva de projeto (T e d) Nos procedimentos técnicos para a elaboração de estudos e projetos de microdrenagem no Município de Belo Horizonte, compreendendo, para a drenagem urbana, a coleta, a condução e o lançamento final dos deflúvios superficiais, a Sudecap padronizou o período de retorno a ser adotado como de 10 anos e a duração da chuva de projeto igual a 10 minutos. Figura 4: Risco de inundação (Carta de inundações, 2009)
3.3.2 Coeficiente de escomento superficial (C) A literatura fornece tabelas com valores do coeficiente em função
3.2 Local de implantação da trincheira de infiltração
do tipo de solo e do seu uso e ocupação (tipo, densidade, cober-
Com auxílio da ferramenta AUTOCAD, foi possível reproduzir a
tura vegetal, dentre outros aspectos). O valor de C neste estudo
área em estudo e, assim, definir os pontos de implantação das
foi considerado 0,90, coeficiente entre 0,70 e 0,95 indicado por
trincheiras de infiltração de acordo com suas limitações, de modo
BAPTISTA (2011), para vias asfaltadas e concretadas.
a simular cenários de maior desempenho. Ao utilizar combinações de soluções dentro da mancha de
3.3.3 Condutividade hidráulica do solo (K)
inundação é esperado que o uso de trincheiras de infiltração
SILVA (1995) determinou dois tipos de solos predominantes em
amenize as enchentes na região e ao longo do trecho do cór-
Belo Horizonte, dividindo a cidade em duas regiões, cada uma
rego que atravessa esta região vulnerável. Porém, num cenário
com um determinado tipo de solo. A região de Venda Nova, em
ideal, essa medida deve ser feita não só em um trecho, mas sim
seus estudos, possui um solo Podzólico Vermelho Amarelo – com
em vários pontos do córrego até que a mancha de inundação
textura areno-argilosa e uma condutividade hidráulica média de
desapareça.
1,1x10^-6m/s.
As dimensões das trincheiras foram estabelecidas como: Trin-
Este valor apenas dá uma ideia da grandeza de condutividade
cheira de Infiltração 01 (T.I 01) – 57 x 3 x 1,5; Trincheira 02 (T.I
hidráulica em função do tipo de solo. Para o real dimensionamen-
02) – 30 x 3 x 3, sendo comprimento x largura x profundidade,
to das estruturas de infiltração, é fundamental que seja realizado
respectivamente. O material de preenchimento possui porosi-
ensaios que permitam definir a real condutividade hidráulica do
dade de 0,40. A figura 5 apresenta a localização destas duas
solo, não apenas pela taxa de infiltração da classificação do solo.
trincheiras. 3.3.4 Equação de intensidade das chuvas (IT,d,j) As intensidades deverão ser calculadas através da equação de chuvas intensas de GUIMARÃES e NAGHETTINI (1998), estabelecida com base nas relações intensidade – duração – frequência e de hietogramas típicos de distribuição temporal, para as precipitações históricas de Belo Horizonte e sua região metropolitana: IT,d,j = 0,76542d^-0,7059 Panual^0,5360μ d,T
equação (1)
Onde: IT,d,j = intensidade de precipitação para o período de retorno T, a duração d e no local j; d = duração da precipitação em h; Panual = refere-se a altura de precipitação anual na localidade j em mm = 1430mm; μ=é a quantis adimensionais de frequência, Figura 5: Local de implantação das trincheiras de infiltração
de validade regional, associados a duração (d) e ao período de
(Elaborado pelo Autor)
retorno (T) = 1,428;
Janeiro a Março de 2021
39
ARTIGO TÉCNICO
3.3.5 Vazão de projeto (Qp)
3.4.3 Cálculo da vazão de saída (Qs)
As vazões afluentes das estruturas de drenagem superficial po-
Para o cálculo da vazão de saída utiliza-se a equação 5
dem ser calculadas pelo método racional (DNIT, 2006). Qs = α . qas . S Qp = 0,00278 x C x I x A
equação (5)
equação (2) Onde: Qs = Vazão de saída (m3); α = coeficiente de segurança = 1;
Onde: Qp = Vazão de escoamento (m /s); C= Coeficiente de esco-
qas = capacidade de absorção por unidade de superfície infiltran-
amento superficial; I = Intensidade de precipitação para região em
te, em m3/s/m2 (k); S = superfície de infiltração (m2);
3
estudo (mm/h); A = Área da bacia (ha) 3.4.4 Superfície de infiltração (s) 3.4 DIMENSIONAMENTO DA TRINCHEIRA DE INFILTRAÇÃO
A superfície de infiltração é expressamente definida em função
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizado o método
do tipo de obra e do seu funcionamento. Será adotada a hipótese
proposto por JONASSON (1984, apud MIKKELSEN E JACOBSEN)
que o fundo irá colmatar e que somente as paredes irão trabalhar
em 1993, intitulado método da chuva envelope (do acrônimo em
como superfície para infiltração, conforme sugerido por Baptista
inglês, rain-envelope method), por ser simples, de aplicação direta
(2011).
a partir dos dados de caracterização do local de implantação e da curva intensidade-duração-frequência (IDF).
S = 2Lp
3.4.1 Volume infiltrado na trincheira (Vperc)
Onde: S = Superficie de infiltração (m2); L = extensão longitudinal
A Lei de Darcy é usada para estimar a taxa de água percolada con-
da trincheira (m); p = profundidade da trincheira (m).
equação (6)
siderando o tempo de enchimento e esvaziamento da estrutura. Pode-se aproximar a taxa média de saída de água como média
3.4.5 Vazão espeficífica de saída por unidade de área
entre as vazões de saída para o enchimento e o esvaziamento da
de contribuição (qs)
estrutura, resultando na seguinte expressão: qs = Qs / Aa Vperc(t) = k . φ . (Aperc)/2 . 3600 . tp
equação (7)
equação (3) Onde: qs = Vazão especifica de saída(m/s); Qs = Vazão de
Onde: Vperc(t) = volume de água percolado no solo (m3); k = con-
projeto(m3/s); Aa = Área de contribuição.(m2)
dutividade hidráulica saturada do solo (m/s); Aperc = Área total dos lados da estrutura de percolação (m2); tp = tempo de perco-
3.4.6 Volume máximo a armazenar e volume máximo
lação (h); φ = gradiente hidráulico = 1,0;
da estrutura (Smax) Nesta etapa, podemos descobrir se a estrutura de infiltração tem
3.4.2 Estimativa da redução no escomaneto superficial com
capacidade suficiente para armazenar as águas das chuvas que
o uso de trincheiras
para ela são escoadas, analisando a relação entre o volume máxi-
A estimativa de redução do escoamento superficial é feita através
mo a ser armazenado de águas afluentes à estrutura e a capaci-
do balanço hídrico entre o volume infiltrado, calculado no item
dade de armazenamento máximo da própria estrutura. O volume
3.4.1, e o volume afluente, calculado com base na vazão de es-
máximo a armazenar (Sreq) é obtido pelo produto da altura espe-
coamento, calculada no item 3.3.5, multiplicado pelo tempo de
cífica máxima (DHmax) e a área de contribuição. Já o volume má-
precipitação de projeto, da seguinte forma:
ximo da estrutura é obtido através do produto entre a profundidade da trincheira (p), porosidade do material de preenchimento
Ve = Va - Vi
equação (4)
Onde: Ve = Volume escoado (m3); Va = Volume afluente (m3); Vi = Volume infiltrado (m ). 3
40
Saneas
(n) e a largura da estrutura (l) e o comprimento (L). Smax = nlpL
equação (8)
4. Resultados obtidos
Tabela 5: Análise das vazões da bacia
As tabelas de 1 a 5 apresentam os resultados obtidos.
Área BACIA total
Trincheira 01
Trincheira 02
0,40
0,40
1,1x10^ -6
1,1x10^ -6
0,90
0,90
0,1729
0,1729
Comprimento (m)
57
30
Largura (m)
3
3
Altura (m)
1,5
3
Superfície de infiltração (m²)
171
180
Porosidade da brita (n) Condutividade hidráulica do solo (m/s) Coeficiente de escoamento (C) Área de contribuição (ha)
I
(ha)
Tabela 1: Parâmetros básicos das trincheiras de infiltração
Parâmetros
C
01
0,8021
0,90
Qs Qs trincheira01 trincheira02
Qp
(mm/h) (m³/s)
(m³/s)
(m³/s)
190,14 0,3816
0,00018
0,00020
Tabela 6: Estimativa da redução do escoamento superficial por trincheira Volume Estimativa de escoado redução total
Volume Afluente
Volume infiltrado
Volume total (infiltrado + armazenado)
(m³)
(m³)
(m³)
(m³)
Trincheira 01
0,3816 x 1000 = 381,6
1,1x10^-6x 85,5 x 3600 x 0,166 = 0,056
0,056 + (57 x 1,5x3 x 0,40) = 102,66
381,6 102,66 = 278,94
Trincheira 02
0,0823 x 1000 = 381,6
1,1x10^-6x 90 x 3600 x 0,166 = 0,059
0,059 + 381,6 108,06 = (30 x 3 x 3 x 0,40) = 108,059 273,54
27%
28,3%
Tabela 2: Valores obtidos através do “rain envelope method”
TÉCNICA
S
Qs
Aa
(m²)
(m³/s)
(m²)
qs
DHmx Sreq
(mm/h) (mm)
(m³)
Smax (m³)
Trincheira 01
171 0,00018 1729
0,3750 57,3750 99,2014 102,6
Trincheira 02
180 0,00020 1729
0,4164 57,2508 98,9866
108
Tabela 3: Cálculo da altura específica máxima (Trincheira de infiltração 01)
5. Análise e discussão dos resultados O dimensionamento das trincheiras simula precipitações com período de retorno de 10 anos, com duração de precipitação de 10 minutos, na Avenida Vilarinho, entre a Rua dos Melões e a Rua das Madeiras no município de Belo Horizonte. Foram considerados também outros critérios para dimensionamento como a colmatação total do fundo da estrutura e a redução pela metade
d
P
Pef
qs*d
DHmx=Pef-qs*d
(min)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
30
38
34,2
0,1875
34,0125
55
44
39,6
0,3438
39,2562
80
50
45
0,4999
44,5001
da tabela 2, observa-se que as trincheiras satisfazem as condições
105
55
49,5
0,6563
48,8437
iniciais de projeto, pois o volume a ser armazenado é menor que
130
59,5
53,55
0,8125
52,7375
a capacidade máxima das trincheiras.
155
61,5
55,35
0,9688
54,3812
180
65
58,5
1,1250
57,3750
Tabela 4: Cálculo da altura específica máxima (Trincheira de infiltração 02)
da área de percolação. Após o dimensionamento das trincheiras de infiltração, pelo método “rain envelope method”, é possível avaliar a eficiência das estruturas no local escolhido para a sua implantação. Através
Os resultados foram satisfatórios por apresentar reduções no escoamento superficial na ordem de 27% a 28,3%, como observado na tabela 6, adotando-se duas trincheiras na mesma microbacia. A opção por duas trincheiras com capacidade suficiente para armazenar os volumes da microbacia é justificado, pois, em
d
P
Pef
qs*d
DHmx=Pef-qs*d
(min)
(mm)
(mm)
(mm)
(mm)
30
38
34,2
0,2082
33,9918
55
44
39,6
0,3817
39,2183
80
50
45
0,5552
44,4448
Devido à baixa condutividade hidráulica do solo, estas estru-
105
55
49,5
0,7287
48,7713
turas armazenam mais que infiltram água no solo, podendo, as-
130
59,5
53,55
0,9022
52,6478
sim, serem chamadas de trincheiras de detenção. Como foram
155
61,5
55,35
1,0757
54,2743
180
65
58,5
1,2492
57,2508
épocas de chuvas intensas como as que ocorreram no verão de 2020, quando foram registrados na capital mineira 932,3mm de chuva, praticamente 66,5% do esperado para o ano inteiro, o volume a ser captado é muito significativo.
adotadas duas unidades, caso uma trincheira sature totalmente, ainda haverá uma outra com capacidade suficiente para suportar os volumes de água precipitada. Janeiro a Março de 2021
41
ARTIGO TÉCNICO
6. Conclusão
5. GOOGLE MAPS, 2020. Visão em planta de área escolhi-
Este trabalho técnico apresentou um estudo de viabilidade para im-
da,
disponível
em
<https://www.google.com/maps/place/
plantação de uma trincheira de infiltração na região de Venda Nova,
Shopping+Esta%C3%A7%C3%A3o+BH/@-19.8219734,-
Belo Horizonte, no intuito de reduzir o volume de água do escoa-
-43.9492169,203m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xa68ff6
mento superficial, reduzindo suas vazões através de armazenamen-
5605088f:0x2a4d448788eb44c6!8m2!3d-
to e infiltração da água das chuvas no solo. Foi utilizada uma se-
43.947449> acesso em 28/04/2020.
19.8214337!4d-
quência de dimensionamento com a aplicação dos parâmetros que
6. JORNAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Reportagem: Chuva
podem ser utilizados para definir a viabilidade de uma trincheira de
causa inundação em Venda Nova; estações de metrô e do Move
infiltração em qualquer local, através do “rain envelope method”.
são fechadas, 2020. Disponível em <https://www.em.com.br/
Foi possível observar que, devido ao baixo coeficiente de per-
app/noticia/gerais/2020/01/03/interna_gerais,1112118/chuva-
meabilidade do solo, as trincheiras de infiltração tiveram eficiência
-causa-inundacao-em-venda-nova-estacoes-do-metro-e-do-mo-
parcial na infiltração das águas, embora tenham sido capazes de
ve-sao-f.shtml> acesso em 24/04/2020.
suportar as vazões necessárias para seu devido funcionamento
7. MIKKELSEN, P.S., JACOBSEN, P. Stormwater infiltration design
através do armazenamento. Portanto, esta solução representa
based on rainfall statistics and soil hydraulics. ASCE International
uma ação aditiva a outras ações integradas que podem ser adota-
Symposium on Engineering Hydrology, San Francisco, California,
das para a drenagem urbana como os jardins de biorretenção, os
p.653- 658, Jul. 1993.
pavimentos permeáveis, os telhados verdes, os poços de infiltra-
8. PINHEIRO, G.; NAGHETTINI, M. Análise regional de frequência e
ção, entre outros, que focam na redução do escoamento superfi-
distribuição temporal das precipitações intensas na região me-
cial gerado pelas chuvas intensas.
tropolitana de Belo Horizonte. 1 ed. Belo Horizonte: Escola de
Em paralelo, buscando potencializar os resultados gerados, a apli-
Engenharia da UFMG, p. 88,1998.
cação dessas técnicas não deve ocorrer apenas em um ponto da ba-
9. PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE - PBH. Carta de
cia hidrográfica, mas sim ao longo de toda a mancha de inundação.
inundação de Belo Horizonte – Identificação de Áreas Potencial-
Ressalta-se que, para a adoção prática das trincheiras, é neces-
mente Susceptíveis. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal, 20 09.
sária a identificação da real condutividade hidráulica do solo que,
Disponível em <https://prefeitura.pbh.gov.br/obras-e-infraestru-
nesta simulação, foi estimado. Recomenda-se também a realiza-
tura/informacoes/diretoria-de-gestao-de-aguas-urbanas/cartas-
ção de ensaios antes da implantação das trincheiras, confirmando
-de-inundacoes> acesso em 26/04/2020.
os valores aqui obtidos.
10. PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE – PBH. Plano
Finalmente, em futuros estudos, pode-se avaliar a utilização de ou-
Municipal de Saneamento de Belo Horizonte, 2019. Disponí-
tros materiais drenantes para o preenchimento das trincheiras, como
vel em: <https://prefeitura.pbh.gov.br/obras-e- infraestrutura/
resíduos de pet, garrafas pet, pneus, resíduos de construção civil, entre
informacoes/publicacoes/plano-de-saneamento>
outros o que pode contribuir para a promoção da sustentabilidade.
acesso
em
25/04/2020. 11. SILVA, A.. Estudos geológicos, hidrogeológicos, geotécnicos e
Referências bibliográficas
geoambientais integrados no município de Belo Horizonte: Pro-
1. BAPTISTA, M. NASCIMENTO, N.; BARRAUD, S. Técnicas compen-
jeto estudos técnicos para o levantamento da carta geológica
satórias em Drenagem Urbana. ABRH, Porto Alegre, 2011. 2. BRASIL. Departamento nacional de infraestrutura de transportes (DNIT). Diretrizes básicas para elaboração de estudos e projetos rodoviários, 2006. 2 ed. Rio de Janeiro, p. 484, 2006. 3. CANHOLI, A.P. Drenagem urbana e controle de enchentes, 2o ed. São Paulo: Oficina de textos. p. 302- 310, 2005. 4. CAPUTO, U. Avaliação do potencial de utilização de trincheiras de infiltração em espaços com urbanização consolidada / Estudo de caso do município de Belo Horizonte – MG. Dissertação de Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos – Escola de Engenharia da UFMG, Belo Horizonte. p 55-57, 2012.
42
Saneas
do município de Belo Horizonte; Relatório final. FUNDEP/UFMG-IGC Belo Horizonte. p. 234, 1995. 12. TUCCI, C.E.M. Inundações Urbanas, ABRH, ed. da UFRGS, Capítulo 1, 2007. 13. URBONAS, B.; STAHRE, P. Melhores práticas de manejo e de detenção, objetivando sua qualidade, drenagem e administração de sistemas de esgotamento conjunto pluvial e de esgotos. New Jersey: Ptr. Prentice Hall, p. 449, 1993
ARTIGO TÉCNICO
Nagib Abrahão Engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui pós-graduação em Geoprocessamento pela Universidade Federal de São Carlos e MBA em Gestão Executiva de Saneamento pela FIA – Fundação Instituto de Administração. É gestor de Geoinformação da Diretoria Metropolitana da Sabesp.
GIS & modelagem hidráulica – Aspectos sobre sua integração O GIS (Geographic Information System, ou SIG - Sis-
passou ser feito por softwares, entre os quais se des-
tema de Informações Geográficas) é sempre lembrado
taca o pioneiro EPANET (vide Figura 1), desenvolvido
nas empresas de saneamento quando se fala em ges-
pela U.S. Environmental Protection Agency, criado em
tão de ativos, cadastro técnico, etc. Mas uma de suas
1993, além do WaterCAD/WaterGems , da Bentley
mais valiosas contribuições para o negócio se dá na
Systems©, o InfoWater, da Innovyze© e o GISWA-
sua integração com aplicações de modelagem hidráu-
TER, esse último uma interessante iniciativa em sof-
lica, especialmente no abastecimento de água .Vere-
tware livre , responsável pela integração de três outros
mos neste artigo aspectos dessa integração
softwares livres: o QGIS, o EPANET e o PostgreSQL (vide Figura 2).
Modelagem hidráulica Conceito
medir pressões e vazões principalmente, muito fa-
Uma rede de abastecimento de água é um circuito
voreceu a utilização dos softwares de MH, pois eles
fechado que conduz água potável por meio de con-
conseguem transformar os dados enviados do cam-
dutos forçados. Em condutos forçados, as principais
po em informação, inserindo-os no contexto da rede,
variáveis físicas de interesse de estudo são a pressão e
melhorando a calibração do modelo e a assertividade
a vazão. A Modelagem Hidráulica (MH) nada mais
das análises.
A crescente utilização de sensores em campo, para
é do que a aplicação das equações da Hidráulica na malha de condutos, permitindo a determinação teórica das variáveis pressão e vazão em cada um de seus trechos e nós. Sua aplicação primeira se dá no projeto das redes, seja de sistemas novos ou de ampliações de sistemas existentes. A MH, por meio de simulações permite escolher o design mais inteligente para o sistema (sem levar em conta outras restrições construtivas) garantindo seu funcionamento adequado dentro dos requisitos de pressões e vazões mínimas e máximas, com menor custo energético. Mas é na operação das redes que a MH melhor se aplica. Uma boa modelagem, feita com critérios e dados de qualidade e calibrada com informações de campo, é subsídio fundamental para conhecer as condições de operação de uma rede de água – seus pontos de maior pressão (elegendo áreas para instalação
Figura 1 - Tela do EPANET
de Válvulas Redutoras de Pressão, ou para correções na setorização), seus pontos críticos de abastecimento, a dosagem de cloro residual ao longo das redes, entre outras informações. Com a evolução do poder computacional, o cálculo
Janeiro a Março de 2021
43
ARTIGO TÉCNICO
novos ativos, redes recuperadas, etc. Se os modelos estão separados, cada atualização tem que ser retrabalhada em ambos manualmente, com grande risco de falhas, prejudicando a qualidade da informação de ambos e consequentemente a efetividade dos processos que suportam. Isso ressalta a importância de que as áreas de Gestão de Ativos e de Operação estejam integradas em uma empresa de saneamento. E o grande drive desta integração pode ser a integração GIS-Modelagem. A Figura 3 abaixo mostra esse ciclo, que roda Figura 2 - Tela do GISWATER
como um processo de PDCL (Plan-Do-Check-Learn).
Uso do GIS em MH O maior inconveniente do EPANET e da maioria dos softwares de MH é a ausência de uma interface funcionalmente adequada de desenho das redes, o que faz com que se dispenda muitíssimo tempo na criação da malha, pois ela deve ser desenhada trecho a trecho, com a inserção manual de seus atributos, como comprimento e diâmetro. O GIS veio proporcionar aos softwares de MH justamente o que eles mais precisavam: o desenho das redes, com sua topologia, dimensões, atributos (material, diâmetro, idade) e cotas. O usuário não precisa mais dispender tempo na construção do modelo, basta importá-lo do GIS. Também se ganhou em versatilidade: simulações, estudos de alternativas; avaliação de contingências passaram a poder ser realizadas rapidamente, uma vez dispondo de um modelo confiável. Isso permitiu um aumento
Figura 3 - Ciclo GIS/Modelagem (ARMSTRONG 2012)
extraordinário na utilização dessa tecnologia, de modo que hoje é impensável dissociá-las.
Formas de modelagem
Originalmente, os universos do GIS e da Modelagem eram se-
Antes de se iniciar a construção do modelo hidráulico, a empresa
parados, por uma diferença de conceito. Enquanto os primeiros
deve considerar qual é o nível de detalhe necessário para executar
estavam mais preocupados com as características físicas da rede,
as operações que requer (ARMSTRONG 2012). São os mais comuns:
seus detalhes e sua localização (“onde” e “o que”), os segundos estavam menos preocupados com esses detalhes e muito mais
a) APV (All-pipes valve)
interessados em estudar a conectividade da rede e suas condições
O modelo APV (todas os tubos e válvulas) preserva o nível de de-
de fluxo (“como” e “porque”). As limitações dos softwares da
talhe do GIS e mantém o relacionamento um-para-um entre seus
época (anos 1990), tanto de um lado como de outro, também não
elementos e do modelo hidráulico. Não há nenhuma redução ou
favoreciam muito essa integração, de modo que normalmente as
esqueletonização das redes, o que o torna o mais fácil para se in-
empresas tinham dois modelos de rede, um para cada finalidade
tegrar ao GIS, pois todos os seus dados encontram correspondên-
(ARMSTRONG, 2012).
cia no modelo, provendo assim sua representação o mais exata
Porém, rapidamente se percebeu o inconveniente na manuten-
possível.
ção de dois modelos, pois há uma forte interação entre eles. O modelo GIS necessita das atualizações feitas no modelo hidráulico
b) AP (All pipes)
– novas válvulas, peças, bombas, conexões, interligações, etc. – e
Nesse modelo a extensão total das redes do GIS é mantida, mas
o modelo hidráulico necessita do GIS – novas redes assentadas,
são eliminadas válvulas e demais peças pouco relevantes hidrau-
44
Saneas
licamente, além de redes de mesmo material e diâmetro serem
em alguns trechos. Pode, eventualmente, incluir diâmetros meno-
fundidas em um único segmento.
res de redes mais importantes hidraulicamente.
c) Esqueletonizado (Skeletonized)
d) Esqueletonizado reduzido (Skeletonized-reduced)
É uma simplificação da rede de distribuição de água, eliminando
É uma simplificação ainda maior da esqueletonização, dessa vez
redes abaixo de determinado diâmetro (300mm, por exemplo) e
unindo tubos de mesmo material e diâmetro, eliminando os nós
outros trechos de menor importância e uniformizando o diâmetro
entre eles, gerando um modelo “um-para-muitos”.
Resumo dos Tipos de Modelo (ARMSTRONG, 2012) Modelos 1:1 Modelo GIS
APV
Esqueletonizado
Desenvolvimento:
Real, 1:1
1:1 com esqueltoniz.
Manutenção:
Fácil, direta do GIS
Fácil, direta do GIS
Processamento:
Lento
Rápido
Engine do modelo:
Grande
Pequena
Espaço em disco:
Grande
Variável
Qualidade das análises propiciada:
Ótima
Boa Quadro 1 Modelos 1:1
Modelos 1:muitos Modelo GIS
AP
Esquelet.Reduzido
Desenvolvimento:
Requer reduções e criação de relacionamentos com GIS
Requer reduções e criação de relacionamentos com GIS
Manutenção:
Difícil, requer rotinas de “de-para” em relação ao GIS
Difícil, requer rotinas de “de-para” em relação ao GIS
Processamento:
Rápido
Muito rápido
Engine do modelo:
Pequeno
Pequeno
Espaço em disco:
Pequeno
Muito pequeno
Qualidade das análises propiciada:
Boa
Limitada Quadro 2 Modelos 1:muitos Janeiro a Março de 2021
45
ARTIGO TÉCNICO
Uma vez escolhida a forma de modelagem, deve-se ainda assim
Dados como extensão, e a tríade “diâmetro/material/data de
procurar determinar quais elementos do GIS devem ser utiliza-
instalação” são obrigatórios, essa última por conta da necessida-
dos na modelagem. Deve-se procurar utilizar o modelo mais en-
de da estimativa do coeficiente de rugosidade “C”, fundamental
xuto possível, procurando migrar somente elementos que sejam
para o cálculo. O modelo deve também estar consistente topolo-
imprescindíveis ao modelo. Tubulações abandonadas, hidrantes,
gicamente, com todas as peças conectadas às redes. A acurácia
pequenos prolongamentos, detalhes de instalações, válvulas de
e a qualidade do modelo hidráulico serão diretamente proporcio-
menor importância, entre outros, são elementos candidatos a não
nais às do modelo representado no GIS.
serem utilizados.
Qualquer que seja o modelo escolhido é importante que se es-
Tome-se como o exemplo o trabalho de simplificação descrito
tabeleça a relação entre os ID´s dos objetos do GIS e do modelo
em OLIVEIRA, 2011, para o Setor de Abastecimento Sacomã, em
hidráulico. Um ID do modelo hidráulico pode se referir a um ou
São Paulo onde, segundo o autor: “optou-se por limitar o número
mais objetos do GIS.
de trechos originais do setor, avaliando e descartando trechos de
Essa distinção, porém, não desobriga a necessidade de inte-
pequena extensão que não representassem posição compromete-
gração entre o ERP e o GIS, apenas define qual será o sistema-
dora ao modelo”. Dessa forma foi possível reduzir o número de
-mestre de cada informação, garantindo que ela seja armazenada
trechos de 1512 para apenas 452, menos de 30% do total (vide
no sistema mais adequado e que ela seja disponibilizada de forma
Figura 4).
confiável e consistente aos outros sistemas que dela necessitarem fazer uso. Uma boa forma de instrumentalizar a segregação entre os dados do GIS e do MH é criando uma tabela de integração com o ID Operacional e com as colunas “GIS” e “Modelo”, com preenchimento do tipo “Sim” e “Não”. Por default, todos os registros terão o campo “GIS” preenchido com “Sim” no campo “Modelo”, deve-se preenche com “Sim” somente aqueles que serão utilizados no modelo. Outro dado muito importante que o GIS pode fornecer sobre a infraestrutura física é o dado de elevação, pois são muito im-
Figura 4 - Exemplo de setor antes e depois da simplificação dos trechos
portantes no cálculo das pressões piezométricas (uma vez que ge-
(OLIVEIRA, 2011)
ralmente, mas nem sempre, a profundidade da rede se mantém constante ao longo da via). Sua obtenção deve ser precisa, para
Requisitos de uma integração GIS x modelagem hidráulica
que as pressões calculadas também o sejam e não difiram muito
A modelagem hidráulica requer basicamente três classes de dados:
de calibração.
• Dados de infraestrutura física;
das que serão encontradas em campo, favorecendo o processo Os recursos de análise 3D do GIS, aliados a bons dados de alti-
• Dados de demanda;
metria (curvas de nível e modelos digitais de terreno – MDT) per-
• Dados de operação;
mitem calcular a cota de cada nó automaticamente – lembrando
• Topologia (conectividade de redes);
que a precisão será a mesma do dado altimétrico de origem. Para uso em MH, o mínimo que se recomenda é que o mo-
a) Dados de infraestrutura física
delo de altimetria tenha (ou permita obtenção) curvas de nível
É o desenho das redes e seus componentes: válvulas, reservató-
com precisão de 1 metro de equidistância. Curvas com 5 metros
rios, nós, bombas, etc. ou o cadastro técnico das redes propria-
de equidistância fornecerão dados altimétricos com precisão em
mente dito, com todas as suas regras topológicas de conectivida-
torno de ± 2 a 3 metros, o que pode não atender os requisitos
de física e lógica. Nessa etapa, o cadastro já deverá estar reduzido
de um modelo para sistemas de distribuição mais complexos. Os
em termos de representação às opções de modelo elencadas no
pontos críticos de abastecimento (aqueles próximos de pressões
item 11.2.
piezométricas na ordem do mínimo estabelecido pelo regulador)
46
Saneas
podem resultar bastante imprecisos nesse caso. Obviamente que
e locados pontualmente em seus nós mais próximos. Multiplica-se
a qualidade dos dados fornecidos pelo MH vai depender de várias
a taxa obtida pela área de cada polígono de Voronoy e obtém-se
outras variáveis, mas a elevação é das variáveis mais significativas.
o consumo em cada nó. Essa técnica é mais indicada para áreas maiores, onde os erros são mais diluídos.
b) Dados de demanda
O consumo médio por ligação (ou economia) é o valor nor-
São os dados de consumo de água, que servirão de referência
malmente adotado para projetos de redes de distribuição de água
para o cálculo das vazões de demanda. Podem ser obtidos de três
na região. No Brasil, os valores normalmente variam entre 100 e
formas:
200 litros/habitante x dia. Na Região Metropolitana de São Paulo, a média mensal era de 14 m³/economia residencial em 2017 (o
i) Por integração aos sistemas de Billing
que representa 116 litros/habitante x dia, considerando 4 pessoas
A maior vantagem dessa forma é que se baseia em dados
em uma economia). Os dados populacionais podem ser extraídos
reais, sempre mais precisos que estimativas. Nela, cada ligação
na base do Censo do IBGE.
deverá estar especializada na base GIS. Se isso não estiver disponível, terá que ser rodada uma rotina de geocode para georrefe-
iii) Por dados de medição de vazão
renciar a base de endereços do cadastro comercial da empresa.
Essa medição é feita por medidores de vazão localizados nas
Esses endereços também deverão estar identificados por meio
redes e que fornecem essas informações ao SCADA ou sistema de
de um identificador único, que deverá ser o mesmo constante
controle operacional, tanto em tempo real quanto consolidados
no sistema de Billing da empresa. Através de uma integração,
em um historiador.
o software de MH lerá uma tabela do Billing onde constarão os consumos mensais (o chamado “volume micromedido”) das
c) Dados de operação
ligações. O normal é que esta tabela tenha o registro de ao
São os dados sobre as condições de operação dos ativos – estado
menos 12 (doze) meses, para que se possa desconsiderar o efei-
normal de operação das válvulas, nível de operação dos reserva-
to de sazonalidade . Pode-se utilizar o valor médio dos últimos
tórios, condição de rugosidade das tubulações, entre outras – é
12 meses ou ainda o do último mês medido, dependendo da
o chamado cadastro operacional, que complementa o cadastro
abrangência da análise.
técnico.
A associação entre os consumos e as redes é feita diretamente por topologia (sendo as ligações unidas à rede por ele-
d) Topologia (conectividade) de redes
mentos conectores) e as redes por sua vez são ligadas aos nós
Segundo ARMSTRONG (2012), historicamente uma base GIS e
(neste caso, metade do consumo atribuído a um segmento de
um modelo hidráulico são mantidos separados (ainda que integra-
rede vai para cada um de seus nós). Outra maneira é associar
dos), porque tem requisitos diferentes: enquanto o GIS está mais
diretamente os consumos aos nós, criando Polígonos de Voro-
preocupado com a representação, a precisão da localização dos
noy, cujos centroides são os nós, e somando todos os consu-
ativos e a completeza de atributos e menos preocupado com a to-
mos nele contidos.
pologia da rede e sua conectividade, no modelo hidráulico ocorre o inverso – a conectividade e a topologia da rede são as maiores
ii) Por estimativa
preocupações, na verdade requisitos fundamentais, sem os quais
Na impossibilidade de se dispor de uma integração com o
os softwares de modelagem hidráulica não conseguem operar.
Billing, pode-se trabalhar com dados estimados, como consumo médio por km² ou consumo médio por ligação.
Assim, é fundamental que sejam rodadas rotinas de QA/QC (Quality Assurance / Quality Control), complementadas por roti-
O consumo médio por km² é extraído dividindo-se o volume
nas de consistência de topologia de redes, no modelo de redes do
micromedido de uma região pela área. É fortemente impactado
GIS (ou, na impossibilidade, no próprio modelo para a modelagem
pela taxa de ocupação da área e pela sua densidade populacio-
hidráulica), de modo a garantir o pleno atendimento às regras de
nal. Em áreas não-exclusivamente residenciais, também devem
topologia e conectividade.
ser considerados consumos comerciais e industriais, bem como grandes consumidores que devem ser desconsiderados da média
Basicamente devem ser suprimidos ou checados: • Nos nós: nós órfãos ou duplicados;
Janeiro a Março de 2021
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ARTIGO TÉCNICO
• Nas redes: duplicidades, sobreposições (overlap), auto-interseções (self-intersect) e variações abruptas de diâmetro.
Considerações Como vimos, o GIS é um importante insumo para a atividade de modelagem hidráulica, independentemente do modelo e do
e) Confiabilidade dos modelos
nível de integração entre as bases. Implantar um programa de
Um modelo jamais será melhor do que as variáveis que o com-
modelagem hidráulica em uma companhia sem que ela possua
põem. Segundo WALSKY, 2001 (apud OLIVEIRA, 2011), “por mais
um sistema de informações geográficas é uma tarefa duplamente
cuidadoso que seja o levantamento de dados e o seu lançamento
difícil, pois além dos desafios intrínsecos da modelagem, haverá
no simulador, o modelo jamais poderá representar completamen-
a necessidade de se construir a base de redes que ela necessitará,
te um sistema real em razão de tratar da reprodução do resultado
que representa boa parte do esforço da construção de um GIS.
das principais equações matemáticas utilizando dados recebidos
A integração com a modelagem hidráulica é um dos usos mais
que podem ser tratados ou não, de onde a precisão dependerá do
“nobres” de um GIS em saneamento, à medida que os dados por
número de variáveis estudada”.
ele fornecidos permitem viabilizar o uso da MH em uma compa-
Como vimos, um trabalho de modelagem hidráulica utiliza in-
nhia, o que seria muitíssimo custoso sem eles. Além disso, é uma
formações de diversas fontes, com precisões e graus de confiabi-
integração que possui uma das maiores possibilidades de retorno
lidade diferentes. Os consumos micromedidos possuem excelen-
de investimento, pois a MH permite obter significativas otimiza-
te confiabilidade, uma vez que são medidos e checados in loco,
ções nos sistemas de saneamento, gerando economias de CAPEX
e também boa precisão, na casa do m³. Já a infraestrutura vai
(evitando ativos desnecessários) e OPEX (diminuindo extensões de
depender da qualidade do dado cadastral e de sua completude
rede a manter, energia necessária para bombeamento, etc.).
(idade e estado da rede, rugosidade, etc.). Sendo o modelo um produto de várias variáveis, um erro grosseiro em uma única delas
Bibliografia:
pode ofender de modo significativo a qualidade do modelo como
ARMSTRONG, Lori, Hydraulic Modeling and GIS, 1 ª ed., Redlands,
um todo. Um simples erro de ± 3 metros em uma cota de nível de
ESRI Press, 2012, 75 pgs.
reservatório (erro esse que é compatível com a precisão de MDT
OLIVEIRA, Hilton Alexandre, Uso de Simuladores Hidráulicos e
de boa qualidade, por exemplo) pode criar um modelo que leve a
Aplicativos de Geoprocessamento para Diagnóstico Operacional
induzir decisões técnicas erradas, causando prejuízos.
de Sistemas de Distribuição de Água – Estudo de Caso: Setor Sa-
Assim, considerando que o universo do GIS é de representação e que os modelos hidráulicos são matemáticos, deve-se to-
comã Município de São Paulo. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011, 153 pgs
mar cuidado no uso de suas informações pois uma informação (posicional, ou de altimetria, ou de topologia) que atenda perfei-
Este artigo é resumo de um capítulo do livro “Aplicações GIS
tamente aos seus requisitos de utilização no GIS pode não estar
Para Empresas de Saneamento Básico”, recém lançado pelo autor.
qualificada para uso em MH.
A obra contou com o patrocínio da AESABESP.
Nesse caso, o que se recomenda não é o desprezo das informações do GIS, mas o investimento na melhoria de sua qualidade, com o auxílio de informações colhidas em campo, já que uma das etapas da MH é a calibração, onde os dados obtidos no modelo são checados em campo. A mesma equipe responsável pela calibração pode auxiliar na checagem de dados cadastrais mais críticos ou de qualidade inapropriada.
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Saneas
PONTO DE VIVÊNCIAS VISTA
Defender a natureza, uma missão de vida Por Jéssica Marques
V
anessa Hasson tem o prazer de colocar em
enorme, não só pelo fato de ser voluntário, mas pelo fato
prática a própria missão de vida diariamente:
de estar dando cumprimento ao que eu acredito ser uma
defender a natureza. A advogada ambienta-
missão na vida”, diz Vanessa.
lista é assessora jurídica na AESabesp e atua
A advogada ambientalista conta também que, com o
em prol do meio ambiente também de forma voluntária.
passar dos anos, foi caminhando cada vez mais para apro-
Em 2004, fundou a ONG MAPAS, acrônimo de Métodos de
fundar os conhecimentos na área ambiental. Um desses
Apoio a Práticas Ambientais e Sociais.
passos foi dado em 2006, quando a MAPAS inaugurou uma
“Minha especialidade é o direito do terceiro setor, que são
unidade no Maranhão, para trabalhar com o Governo do
as ONGs, fundações e outras instituições sem fins lucrativos”,
Estado e com a Prefeitura de São Luís, ajudando na interlo-
explica. “A diferença do trabalho com a MAPAS para o traba-
cução para a execução de projetos do poder público, além
lho com a AESabesp e outras organizações é que na MAPAS
de auxiliar na construção e no desenvolvimento da Secreta-
eu sou voluntária, pois estou exercendo a minha profissão em
ria de Desenvolvimento Sustentável.
função de fazer parte de um movimento onde muitos, se não
“Eu permaneci na cidade tocando esse projeto da MAPAS
quase todos, são voluntários, como ativismo puro”, completa.
e de inovação tecnológica também. Desenvolvemos o Polo de
Essa foi a maneira que Vanessa encontrou para ir além da
Inovação Tecnológica de São Luís durante dois anos. No final de
vida profissional e cumprir a missão de defender os direitos
2008, eu regressei para São Paulo e foi quando eu comecei a
da natureza sempre que possível. A ONG MAPAS foi criada
trabalhar na AESabesp e a MAPAS começou a atuar muito mais
junto a um grupo formado por colegas e empresários para
nessa assessoria ao primeiro setor, o poder público, e muito
ajudar no gerenciamento de resíduos sólidos com empresas
menos ao empresariado. Em São Luís, atuava com empresaria-
na região onde ela foi fundada, na Mooca, em São Paulo.
do, fazendo essa ponte entre empresariado e poder público.
“Meu sentimento é de que eu estou dando cumprimento à minha missão, de atuar no terceiro setor, defender a
Foi então que fui contratada para fazer a criação da Agência de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê”, relembra Vanessa.
natureza dessa forma inovadora. Está dentro de um movi-
A história da ONG também cruzou as fronteiras do Brasil.
mento que propõe um olhar mais ampliado e aprofundado,
A advogada conta ainda que, desde 2015, a MAPAS faz parte
como sempre foi. É um conhecimento que na verdade todos
de um programa na ONU (Organização das Nações Unidas)
temos, acho que ‘somos um’ de nossa relação com a na-
chamado Harmony with Nature (Harmonia com a Natureza).
tureza, como seres dotados de vida, assim como os povos
“A MAPAS sempre acompanhou a minha própria história.
indígenas ainda consideram. Nós esquecemos disso, então
Foi assim que os direitos da natureza passaram a ser o projeto
esse trabalho com a MAPAS proporciona uma satisfação
central da MAPAS, quando eu iniciei meu doutorado, em 2010.
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PONTO DE VIVÊNCIAS VISTA
Em 2008, foi promulgada a Constituição Federal do Equador, que pela pri-
O objetivo é que, a partir destas ações, políticas públicas que sejam
meira vez no mundo, uma constituição federal prevê a defesa dos direitos
correlacionadas ao reconhecimento desse direito possam ser execu-
da natureza. Então, é a natureza com seus próprios direitos e não a defesa
tadas. Assim, a intenção da ONG é de que cada vez mais decisões
da natureza para garantir os direitos das gerações de seres humanos. Isso
sejam tomadas dentro desse conceito de conhecimento aprofundado
é algo inovador no mundo e a gente tem impulsionado isso por meio da
da interdependência entre todos os seres na natureza, incluindo os
MAPAS no Brasil desde 2014, quando defendi a tese de doutorado e ela
seres humanos.
passou a ser uma referência do Brasil nas Nações Unidas”, conta.
Para Vanessa, as atividades realizadas na AESabesp, a proximidade com o saneamento e com as questões da água contribuem ainda mais
Da ideia para o papel
para esse olhar ampliado. O trabalho na associação, segundo a advo-
Segundo Vanessa, a ampliação do conhecimento e a filosofia do res-
gada, permite desenvolver o pensamento de considerar a água como
peito à natureza se materializam em articulação política para aprova-
um ente relacional, com quem os seres humanos têm uma condição
ção de leis que reconheçam os direitos da natureza.
de interdependência.
“De forma prática, o que a gente vem fazendo é ampliar e apro-
“Me dá também uma visão mais técnica da questão, de forma que
fundar esse entendimento do respeito ao meio ambiente para enten-
fica mais completa. A AESabesp, em dois encontros técnicos, trouxe
der o que de verdade meio ambiente significa: os demais seres que
uma palestra sobre direitos da natureza que eu mesma proferi, e no
compõem essa teia, esse ecossistema, junto com os seres humanos.
outro trouxe a Maria Mercedes Sanchez, que é a coordenadora do
Defender a natureza significa defender nossa própria vida, porque so-
departamento Harmony with Nature nas Nações Unidas, que tratou
mos natureza”, detalha.
dos direitos da natureza em uma mesa redonda que fizemos a res-
Assim, as ações da ONG já tiveram diversos resultados práticos. Pro-
peito. A gente da MAPAS espera que, com a inauguração do Museu
postas já foram aceitas no interior do Pernambuco e em Florianópolis
Água, a gente possa também trazer essa abordagem, porque é uma
(SC), segundo Vanessa. Na capital paulista, um projeto já conta com a
das abordagens com relação à proteção das águas, essa de conside-
aprovação de todas as comissões da Câmara de Vereadores e outras
rar os cursos de água como detentores dos seus próprios direitos”,
propostas estão sendo encaminhadas em Fortaleza, Salvador, entre
considera Vanessa.
outras cidades brasileiras.
Raio X - Vanessa Hasson de Oliveira - Advogada com 28 anos de profissão - Assessora jurídica na AESabesp há 12 anos - Fundou a MAPAS em 2004 - Especialista do Programa Harmony with Nature – ONU (desde 2015). Doutora em Direitos Difusos e Coletivos (2014) e Mestre em Direito das Relações Econômicas Internacionais, com ênfase em Recursos Hídricos, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). Especialista em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (2003) Advogada, graduada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (1992). - Livro publicado: Direitos da Natureza. Vanessa Hasson de Oliveira. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2016 - Obras coletivas: ■ Summary Report of the first virtual dialo-
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gue of the General Assembly on Harmony with Nature (https://www.un.org/en/ga/ search/view_doc.asp?symbol=A/71/266) - trabalho coletivo publicado como Resolução 71/266 da Assembleia Geral das Nações Unidas ■ Oliveira, V. H. Direitos da Natureza no Brasil: o caso de Bonito - PE in Direitos da Natureza - marcos para a construção de uma teoria geral. São Leopoldo: Ed. Casa Leiria, 2020. ■ Oliveira, V. H. Direitos da Natureza: aos 30 anos, a maturidade do tratamento das questões sobre meio ambiente no Brasil in 30 anos da Constituição de 1988 - Direitos Socioambientais: história, avanços e desafios. Brasília: IEB MIl Folhas, 2018. ■ GUERRA FILHO, W. S. ; OLIVEIRA, V. H. . DIREITOS DA NATUREZA COMO CONDIÇÃO PARA A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: FUNDAMENTAÇÃO (PO)
ÉTICO-EPISTEMOLÓGICA. In: Ricardo Sayeg; Juliana Duarte. (Org.). Estudos do Capitalismo Humanista. 1ed.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, v. I, p. 10-25. ■ OLIVEIRA, V. H.; CAMPELLO, Lívia G. B. (Org.) ; NEGRINI FILHO, J. (Org.) ; FINKESLTEIN, C. (Org.) . Direito Ambiental no Século XXI. 1ª. ed. São Paulo: Clássica Editora, 2012. v. 1. 369p . ■ OLIVEIRA, V. H.. O consumidor no exercício de seu direito-dever à luz de um capitalismo humanista. In: CAMPELLO, Lívia G. B.; OLIVEIRA, Vanessa Hasson. (Org.). Direito Ambiental no Século XXI. 1ªed.São Paulo: Clássica Editora, 2012, v. 1, p. 272-284.