Especialmente os jovens esforçam-se por serem considerados atraentes, capazes e bem-sucedidos; contudo, o que realmente precisam é o que cada ser humano busca: serem amados e aceitos.
O Espelho Zombador
Na cultura actual preocupada com a imagem, muitas pessoas lutam para desenvolver e manter uma autoestima saudável. A obsessão do mundo pela beleza, fama, inteligência e poder deixam a maioria das pessoas com sentimentos de fealdade e inaptidão. Tragicamente, é quase impossível para algumas se valorizarem e aceitarem conforme são.
No livro “O Espelho Zombador” o Dr Núñez desafia os valores de uma sociedade que frequentemente recompensa a beleza e rejeita a modéstia. Ele encoraja-nos a apreciarmos a nossa singularidade e apresenta métodos que ajudam a desenvolver uma aceitação própria segura que pode superar as fábulas da vaidade e da aversão própria.
Desenvolvimento de uma auto-estima saudável num mundo preocupado com a aparência
A leitura deste livro é essencial para os jovens, pais e professores.
ISBN 978-1-920579-42-5
9 781920 579425
Miguel Ángel Núñez
Casa Publicadora Angolana
Miguel Ángel Núñez
O Espelho Zombador Desenvolvimento de uma auto-estima saudável num mundo preocupado com a aparência Miguel Ángel Núñez
Casa Publicadora Angolana
O ESPELHO ZOMBADOR Desenvolvimento de uma auto-estima saudável num mundo preocupado com a aparência Título da edição original: Lo Lindo de Ser Feo Copyright © Miguel Ángel Núñez Primeira Edição em Inglês – Setembro de 2013 Africa Publishing Company
PO Box 111 Somerset Mall 7137, Western Cape, South Africa Tel: +27 (0)21 8527656 Fax: +27 (0)86 5022980 Email: info@africacopublishing.com
Distribuição Exclusiva em Angola pela Casa Publicadora Angolana Teixeira da Silva, Cidade Alta, Huambo, Angola +24424120417 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Este livro, ou qualquer parte do mesmo, não poderá ser reproduzido de maneira alguma, nem armazenado em sistema de recuperação, nem transmitido de qualquer forma ou meio – eletronicamente, mecanicamente, por meio de fotocópia, gravação, ou qualquer outra maneira – sem autorização prévia escrita do editor. A menos que especificado, todas as referências bíblicas serão da Bíblia Sagrada, NOVA VERSÃO INTERNACIONAL. Copyright © 1993, 2000 by Biblica, Inc. Todos os direitos reservados mundialmente. Usado com permissão. ISBN: 978-1-920579-42-5 Publisher: Marcos Cruz Editor Assistente: Jeremi Sterley Editor: Cindy Hurlow Tradução: Leila Neves Diagramação e design: Shawn Lochner, Design Guru, Edwin De la Cruz, Daniel Taipe Publicado na África do Sul
O Espelho Zombador Desenvolvimento de uma auto-estima saudável num mundo preocupado com a aparência Miguel Ángel Núñez
Indice INTRODUÇÃO
7 8 10
A história do patinho feio O impacto da sociedade
TUDO DEPENDE DE SI
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A auto-imagem 16 Auto-estima saudável, não veneração própria 19 Conclusão 20 Perguntas para discussão 21
A IMPORTÂNCIA DA AUTO-ESTIMA Qual a importância de uma boa auto-estima? As diversas dimensões do autoconceito Diferenças no desenvolvimento do autoconceito em rapazes e raparigas Conclusão Perguntas para discussão
O IMPACTO DA INFÂNCIA O valor que os pais atribuem ao género Os pais devem amar incondicionalmente Adolescência e auto-estima Conclusão Perguntas para discussão
23 24 29 30 33 33
35 35 37 38 39 39
QUESTÕES NÃO RESOLVIDAS Cura da memória Enterrar o passado Cultivar o dom de memórias felizes Conclusão Perguntas para discussão
41 42 45 46 47 47
A OBSESSÃO COM A IMAGEM
49 Mensagens confusas da publicidade 53 Imagem corporal vs publicidade 54 A lógica dos flocos de neve 55 Conclusão 56 Perguntas para discussão 57 O ÍDOLO DA INTELIGÊNCIA Inteligências múltiplas Conclusão Perguntas para discussão
59 62 65 65
CRIADOS À SUA IMAGEM
67
Ser mulher nos tempos actuais 68 O que as mulheres devem aprender? 71 Ser homem nos tempos actuais 73 O que deve saber acerca de ser homem? 75 O que significa ser criado à imagem de Deus 77 Conclusão 78 Perguntas para discussão 79
O NOSSO RELACIONAMENTO COM OS OUTROS 81 81 82 84 86 87
Diz-me com quem andas... Vulnerabilidade sexual Papéis sociais Conclusão Perguntas para discussão
E SE EU NÃO ME ACEITO?
89 Redenção e aceitação própria 89 Uma vida de serviço 92 Uma vida de propósito 95 Não viva com sonhos emprestados 95 Aceite-se 99 Seja seu amigo 101 Conclusão 103 Perguntas para discussão 103 CONCLUSÃO 105
Introdução E
ric é um jovem alto e bonito, o terceiro filho numa família de quatro. Os seus dois irmãos mais velhos já deixaram o lar, tendo ficado apenas Eric e a sua irmã mais nova com a sua mãe, depois do seu pai os ter abandonado quando este tinha apenas cinco anos. De muitas formas e sem conseguir evitar, Eric sentia que foi o culpado do seu pai os ter abandonado. E a sua mãe já tinha insinuado este facto diversas vezes ou, pelo menos, Eric ficou com esta sensação. Apesar de ser bonito e atrair a atenção de muitas jovens, ele sente-se que não é suficientemente bom. Critica-se constantemente, ao ponto da sua irmã mais nova já o ter chamado à atenção muitas vezes. “És atraente – como podes pensar que és feio? Não notas como as minhas amigas olham para ti?” Mas as observações da sua irmã não convencem Eric, sentindo que ela o elogia apenas por ser sua irmã e, portanto, o que ela diz não tem importância. Tem tendência para ficar deprimido, especialmente quando surgem conflitos com um dos seus amigos ou com um professor na escola. De facto, uma vez que está na defensiva, sempre que alguém diz algo negativo, pensa que é dirigido a ele. A situação do Eric não é única. A verdade é que existem milhares de jovens que se olham ao espelho e não gostam do que vêem. De uma forma ou outra, crêem que se pudessem mudar a sua aparência exterior, melhorariam muito a sua probabilidade de sucesso.
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O amor-próprio é tão essencial como o ar que respiramos. Significa que valorizamos verdadeiramente a nossa pessoa e apreciamos a nossa singularidade.
Infelizmente esta ideia é apenas uma ilusão. A triste realidade é que, quando não nos aceitamos a nós próprios, iremos viver uma vida de sofrimento. Em dado momento precisamos de reflectir sobre o nosso autoconceito e fazer mudanças positivas na nossa atitude, mesmo que isto signifique a necessidade de ajuda profissional. O amor-próprio é tão essencial como o ar que respiramos. Significa que valorizamos verdadeiramente a nossa pessoa e apreciamos a nossa singularidade.
A HISTÓRIA DO PATINHO FEIO Em 1842, o escritor dinamarquês Hans Christian Anderson, escreveu uma das histórias mais conhecidas de todos os tempos, O Patinho Feio. Ele conta a história de um patinho que nasceu mas foi rejeitado por todos, incluindo a sua mãe, por ser feio e tão diferente de todos os seus irmãos. O infeliz patinho fugiu da quinta onde tinha sido abusado verbal e fisicamente e foi para a floresta. Mas os seus problemas estavam apenas a começar. Por pouco não foi alvejado pelo tiro de um caçador e quase foi morto pelo cão deste. Encontrou abrigo por algum tempo na quinta de uma idosa senhora que tinha um gato e uma galinha mas, isto também não durou muito tempo, porque logo correram
com ele dali quando viram que não era de muita utilidade para eles. O patinho mal sobreviveu o inverno e teria ficado congelado se não fosse por um camponês que o encontrou e lhe deu abrigo. Mas pouco tempo depois também teve que fugir desta casa pois os filhos do homem injuriavam-no constantemente. Finalmente, um dia estava a sentir-se muito triste e desanimado e sentou-se na margem de um lago e observou dois lindos cisnes brancos que voaram e pousaram na água, os quais começaram a nadar em sua direcção. Considerou fugir como estava habituado a fazer mas, decidiu que já estava saturado e sentou-se apenas a aguardar a sua sorte. Para sua surpresa, quando os pássaros chegaram até ele cumprimentaram-no calorosamente e pareciam felizes por encontrá-lo. O patinho feio sentiu-se muito constrangido pois não estava acostumado a receber tanta atenção. Então, ao olhar para a sua reflexão na água, para seu choque e surpresa, viu que também era um lindo cisne! Algumas crianças que brincavam por perto viram o patinho feio e gritaram, “Olha! Há um novo cisne no lago, e ele é o mais lindo de todos!” É claro que, a partir daquele dia, o “patinho feio” viveu feliz para sempre. Esta linda história já foi traduzida para mais de 80 línguas e tem sido contada com muitas variações e de diversas perspectivas, mas a lição permanece: não se devem preocupar com a vossa aparência porque, mais cedo ou mais tarde, irão deixar de ser patinhos feios e tornar-se-ão em lindos cisnes.
Contudo, lamento afirmar que a história tem uma falha. Não é realidade. E se não nasceu um cisne, vai ser patinho o resto da sua vida? A história não nos fala sobre aqueles que nascem de uma certa forma e não podem mudar o que recebem ao nascer. Embora seja bom imaginar que todos nós iremos um dia deixar de ser patinhos feios e seremos transformados em lindos cisnes brancos, é melhor entender que o caminho da aceitação pessoal irá oferecer as melhores oportunidades para um autodesenvolvimento ideal. Aceitar quem é e ver-se de um prisma positivo irá estabelecer as bases para poder viver uma vida completa e destacar as suas melhores qualidades. Pode ter talentos específicos que servirão de instrumentos para alcançar o sucesso mas, se não se aceitar a si próprio, este sucesso permanecerá limitado. Semelhantemente, pode ter alguns talentos naturais mas, com uma dose generosa de auto-estima, conseguirá realizações muito maiores do que aqueles que têm habilidades naturais mas que carecem de autoconfiança. Neste livro, iremos aprender a analisar a importância da auto-estima; como ter uma auto-estima saudável e como desenvolver e manter um autoconceito saudável.
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O ESPELHO ZOMBADOR
O IMPACTO DA SOCIEDADE Este é um factor muitas vezes ignorado na análise da autoimagem das pessoas. De alguma forma, o contexto social em que vivemos condiciona a percepção que temos de nós próprios; é algo que não podemos evitar. Certa vez conheci um jovem que tinha uma baixa auto-imagem porque a sua família costumava zombar dele por não conseguir fazer o que os seus irmãos ou o seu pai faziam naturalmente. Abusavam dele psicologicamente, afirmando que não merecia ser parte deles. O problema deste jovem foi que a sua consciência não permitia que exercesse o ofício da família; os seus familiares eram ladrões profissionais. Este não é um caso isolado. Através da história, o contexto social tem imposto certas normas que influenciam o desenvolvimento da auto-imagem das pessoas. No mundo Grego, era esperado que os jovens desenvolvessem grandes habilidades físicas (até porque, foram os Gregos que inventaram os Jogos Olímpicos!). Para além disto, foram impelidos a desenvolver a capacidade do raciocínio crítico; os grandes filósofos Gregos ensinavam em escolas que tinham sido especificamente estabelecidas para treinarem os jovens a raciocinarem. Finalmente, era esperado deles que tivessem um comportamento virtuoso, como força orientadora das suas vidas. Mais tarde, os Romanos consideravam a coragem como a maior virtude. É por esta razão que os soldados do exército Romano eram reconhecidos como os exemplos mais importantes da sociedade. Entre os Muçulmanos Árabes, a maior honra é ser como Maomé, um grande e sagrado guerreiro. Os jovens são encorajados a desenvolver a valentia para encarar seus inimigos sem temor. Na China antiga, sob a influência do grande filósofo Confúcio, os que conseguiam desenvolver talentos poéticos e músicos, assim como perícias de caligrafia e desenho, eram altamente reconhecidos. De muitas formas, isto representava a amplificação dos dons intelectuais.
No mundo actual, os valores variam de cultura para cultura, mas existem ainda certas semelhanças entre elas. É dada muita ênfase ao sucesso. A tendência é de medir o sucesso em termos de riqueza, fama e celebridade. As estrelas do cinema e os atletas são particularmente idolatrizados. Os que estão envolvidos no campo científico ou académico são geralmente ignorados, a menos que alcancem a fama e riqueza por meio de algum prémio prestigioso ou por inventarem algo que os enriqueça. Não há dúvida que estes conceitos, de alguma forma, começam a criar uma imagem do que as pessoas deveriam ser e, por sua vez, influenciam o que os jovens pensam de si mesmos. Sou da opinião que os ideais de hoje são muitas vezes baseados em valores errados. Encontramos diariamente jovens que querem ser ou agir como as estrelas do cinema ou atletas ricos e famosos, os quais nem sempre são os exemplos adequados. A busca da fama e riqueza não é suficiente. Tem que haver algo mais.
Através da história, o contexto social tem imposto certas normas que influenciam o desenvolvimento da auto-imagem das pessoas.
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CAPÍTULO
A
Tudo depende de si
sua percepção do mundo e da realidade é algo que ocorre dentro da mente. A sua mente é onde sente alegria e tristeza, sonhos e receios. Quase tudo depende das suas atitudes e convicções. Esta simples verdade parece ser esquecida por muitos que acreditam que as circunstâncias, outras pessoas e eventos externos fazem de nós aquilo que somos. É claro que todos estes elementos produzem o seu impacto mas, no fim, o que ocorre dentro da nossa mente é o que lhes dá significado e influência. Os eventos podem parecer neutros mas é-lhes atribuído significado por cada um de nós. Alexander e Joshua eram vizinhos que brincavam juntos e frequentavam a mesma escola. As suas casas, como as demais na vizinhança, eram contíguas e eram construídas com madeira e materiais inflamáveis. Num dia trágico houve um incêndio. Nunca se descobriu com certeza em qual das casas começou o incêndio mas, a causa mais provável foi uma falha eléctrica, um problema comum nestas estruturas de baixo custo. Foram chamados os bombeiros mas estes só chegaram quase quarenta minutos depois, altura em que as duas casas estavam quase totalmente destruídas. As famílias não conseguiram salvar os seus bens e foram deixadas literalmente na rua. Quando o pai de Alexander perguntou aos bombeiros porquê que demoraram tanto a chegar, um deles respondeu, “Porquê a pressa? Estas casas queimam como carqueja e seria apenas um desperdício de água.”
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O ESPELHO ZOMBADOR
Alexander ouviu o comentário do bombeiro e, daquele momento em diante passou a sentir um forte ressentimento não só contra os bombeiros, mas também contra tudo o que, de alguma forma, representasse autoridade. Em contraste, Joshua, o qual também ouviu o comentário do bombeiro, teve uma reacção diferente. Ele propôs em seu coração um dia tornar-se bombeiro para poder garantir que não se voltassem a repetir situações semelhantes. Alexander começou a queixar-se da pobreza da sua família, afirmando que ninguém se preocupava com eles porque eram pobres e que foi por este motivo que as suas casas arderam. Joshua respondia que, embora fosse provável ninguém os ter socorrido pelo facto de serem pobres, se estivessem dispostos a esforçar-se poderiam fazer a diferença. “Afinal de contas,” dizia, “a pobreza não é contagiosa! Podemos trabalhar e estudar arduamente para mudarmos o nosso destino.” Alexander ria-se e dizia, “És apenas um grande sonhador. Não compreendes que esta é a nossa realidade e que nunca sairemos do abismo onde nos encontramos.” Os anos passaram. Alexander começou a beber, juntou-se a uma quadrilha de delinquentes e permitiu que a sua vida fosse uma calamidade completa. Joshua distanciou-se do seu vizinho, apesar de continuarem a viver ao lado um do outro. Os seus pais reconstruiram a casa e prosseguiram com a sua vida. Um dia quando Joshua tinha catorze anos notou um homem a remexer no contentor do lixo e tirar papel e cartão. Joshua aproximou-se do homem e perguntou-lhe porquê que fazia aquilo. O homem explicou que tinha aberto uma fábrica de reciclagem perto dali e que pagavam por papel e cartão. Joshua foi até à fábrica para se informar melhor. Descobriu que compravam não apenas papel e cartão como também metal, plásticos biodegradáveis, garrafas de vidro e latas. Então Joshua começou a recolher materiais recicláveis dos seus vizinhos, pagando-lhes uma parte do que recebia da fábrica. As pessoas da vizinhança eram muito pobres e agradeciam qualquer dinheiro adicional.
Com a ajuda de dois amigos que ele subcontratou, começou a visitar as casas semanalmente e a recolher tudo o que as pessoas guardavam para ele. Mais tarde, no seu quintal, separavam os artigos nas respectivas categorias e depois vendiam à fábrica. Joshua foi ganhando a confiança das pessoas. O gerente da fábrica viu neste jovem inteligente determinação e um espírito empreendedor, os quais ele encorajava. Certa vez, quando caminhava, viu um homem num pedaço de terra a enterrar desperdícios orgânicos tais como cascas de frutas e outras matérias. Aproximou-se do homem para saber o que estava a fazer e este explicou que estava a fazer adubo para fertilizar o solo. O homem facultou ao Joshua toda a informação necessária para fazer adubo, o que deu a este outra ideia para o seu negócio. Regressou a todos os seus vizinhos que ficaram incrédulos que lhes pagaria pelas suas cascas, folhas e outros desperdícios orgânicos. Convenceu um dos seus vizinhos a alugar-lhe um terreno do qual era proprietário. Disse-lhe que, apesar de não ter todo o dinheiro para pagar na altura,
Se estivessem dispostos a esforçar-se poderiam fazer a diferença. “Afinal de contas,” dizia, “a pobreza não é contagiosa! Podemos trabalhar e estudar arduamente para mudarmos o nosso destino.”
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O ESPELHO ZOMBADOR liquidaria a sua dívida no prazo de três meses e depois pagarlhe-ia a renda antecipada. O homem confiou no Joshua e concordou arrendar o seu terreno. Com o dinheiro que consegui do primeiro projecto, Joshua contratou duas ou mais pessoas. Encontrou algumas tábuas de madeira num contentor do lixo e construiu uma vedação ao redor do terreno. Com algumas pás que pediu emprestadas ao seu pai e tio, as pessoas que contratou ajudaram-no a mexer a terra, removendo quaisquer pedras e enterrando o material orgânico no solo. Após cerca de três meses começou a obter resultados. Desde então, Joshua comprou um tractor velho, que arranjou com a ajuda do seu pai. Vendeu muitas coisas, incluindo as pedras que retirou da terra! Alargou a sua rede para incluir um mercado e dois supermercados fornecedores de desperdícios orgânicos. Hoje é um empresário bem-sucedido. É proprietário da sua própria fábrica de reciclagem. E é também bombeiro voluntário. Pode culpar as suas circunstâncias, a vizinhança ou a forma de ter sido criado, os seus pais, ou qualquer outra coisa, mas o facto é que, no fim, tudo depende de si. Cada um determina se a situação será diferente ou não. Os melhores ou piores resultados estão nas suas mãos. O seu sucesso ou insucesso não dependem das suas circunstâncias e sim da forma como encara tudo o que lhe acontece. Joshua via-se como uma pessoa que alcançaria o sucesso e, com trabalho árduo e perseverança conseguiu alcançálo. Certa vez falou com alguém que o invejava por causa de tudo o que tinha conseguido. Joshua admoestou, “Antes de me invejar por causa de tudo o que tenho precisa de perguntar a si próprio, qual foi o preço que paguei para chegar onde estou hoje? Nada é de graça, nem o sucesso.”
A AUTO-IMAGEM Uma imagem é uma ilusão óptica. Quando nos olhamos ao espelho, o que vemos não existe em forma física, uma vez que é apenas a reflexão da nossa pessoa. Existe apenas como ilusão óptica, uma mistura de luz e sombra.
Todavia, mesmo que a imagem reflectida no espelho não tenha a sua própria existência, serve para permitir que nos vejamos a nós próprios. Não saberíamos se estamos asseados ou desleixados se não fosse pela imagem reflectida no espelho. O mesmo acontece com a imagem mental que temos de nós próprios. É uma ilusão cognitiva que depende de nós para poder existir. Cada pessoa decide qual a imagem mental que irá desenvolver de si própria. É claro que isto é afectado pelo meio ambiente externo, mas nós é que escolhemos a impressão verdadeira que perdurará nas nossas mentes. Se decidirmos que somos um fracasso, não haverá mais nada no horizonte cognitivo. Iremos observar o mundo com base na auto-imagem que concebemos. Quando comecei o liceu, onde fiquei no internato, tive que ir ao gabinete da enfermeira; era exigido que todos os estudantes fossem examinados pela enfermeira antes da graduação. Foi ali que conheci Gilda, uma mulher extraordinária que me cativou a partir do primeiro instante com o seu sorriso e bondade.
Pode culpar as suas circunstâncias, a vizinhança ou a forma de ter sido criado, os seus pais, ou qualquer outra coisa, mas o facto é que, no fim, tudo depende de si. Cada um determina se a situação será diferente ou não. Os melhores ou piores resultados estão nas suas mãos.
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“Olá!” ela afirmou com a sua voz melodiosa, “Tenho muito prazer em conhecer-te.” Ela estendeu-me a mão e disse com um sorriso, “A Chicky está aqui para servir.” Olhei para ela pasmado, não me atrevendo a perguntar se ouvi bem.
A imagem que desenvolve de si próprio é crucial. Não é uma questão insignificante. É fundamental para o que será o resto da sua vida.
Depois dela ter feito as perguntas de rotina e eu ter deixado o seu gabinete, descobri que se tinha apresentado a todos os estudantes da mesma forma, usando a alcunha, a Chicky. Mais tarde descobrimos que todos a chamavam por este nome; de facto, passaram-se muitos meses até que viesse a saber o seu nome verdadeiro. Tinha-lhe sido dada esta alcunha com carinho por alguém especial e ela tinha-a adoptado como forma de se representar a si própria. Tinha nascido com uma deformidade física que fez com que a sua cabeça fosse mais pequena do que o normal. Também tinha as pernas bastante curtas e, se observássemos à distância, parecia realmente um pequeno pintinho. Mas ao contrário disto a incomodar, ela divertia-se com a situação. Fiquei a conhecer a pessoa extraordinária que era: bem-disposta, feliz com a vida e cheia de planos. Como estudantes íamos visitá-la não só por causa das nossas enfermidades físicas, mas também para sermos animados pelo seu entusiasmo e bons conselhos.
Com o passar dos anos, descobri que muitos dos estudantes estavam apaixonados por ela. A sua maneira de ser e a forma de tratar as pessoas era cativante. Certamente que nunca ganhou qualquer concurso de beleza dentro das normas estereotipadas da sociedade actual; todavia, possuía uma auto-imagem que fazia dela uma mulher bela. A imagem que desenvolve de si próprio é crucial. Não é uma questão insignificante. É fundamental para o que será o resto da sua vida. Pode olhar para si no espelho e ver alguém feio, fracassado ou pouco inteligente, ou pode ver-se como uma pessoa linda, um vencedor que é capaz de enfrentar os desafios. Mais importante do que a opinião dos outros a seu respeito é aquilo que pensa de si mesmo. Tudo depende de si.
AUTO-ESTIMA SAUDÁVEL, NÃO VENERAÇÃO PRÓPRIA O mito Grego antigo de Narciso conta a história de um jovem que era tão belo que ia frequentemente a uma lagoa próxima para admirar a sua reflexão. Até que um dia, enquanto admirava a sua própria imagem, caiu na lagoa e afogou-se. Mediante esta história, os Gregos procuravam admoestar as pessoas contra os perigos da veneração própria. Actualmente, na literatura psicológica, uma pessoa que se venera é conhecida como narcisista. Tem tendência a relacionar-se com as pessoas de forma superior, exibindo pouca necessidade de intimidade com os outros. 1 Também tem tendência a ser menos empática nas suas relações interpessoais, não estando disposta a compreender os sentimentos dos outros.2 Em contraste, uma pessoa com uma auto-imagem saudável é amável para com os outros.3 Os narcisistas procuram relacionamentos interpessoais que permitem reafirmar a admiração que sentem por si mesmos4 levando-os ao Maquiavelismo5, que é a tendência de iludir e manipular outros para obtenção de benefícios pessoais. Consideram-se mais inteligentes6 e criativos7 do
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O ESPELHO ZOMBADOR que os demais, o que, em muitos casos, não passa de uma ilusão de grandeza.8 É por este motivo que o narcisismo é considerados um transtorno de personalidade que, mais cedo ou mais tarde, destrói os relacionamentos.9 A auto-estima implica equilíbrio. Significa a apreciação dos nossos pontos fortes sem cairmos no jogo perigoso de exaltação própria. Em outras palavras, ame-se a si próprio, mas nunca pense que é um ser perfeito sem nada a melhorar ou que é superior aos outros. Talvez ao sentir esta realidade, o apóstolo Paulo escreveu numa de duas cartas: “Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um de entre vós, que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12:3). Isto significa que cada ser humano deve pensar de si de forma equilibrada, nem superior nem inferior. Se isto não ocorrer, o desequilíbrio resultante irá levar à autodestruição psicológica.
CONCLUSÃO Gostaria de enfatizar o facto de que, muitas vezes, é o arquitecto do seu próprio destino. É na sua mente que são criadas as circunstâncias importantes; não faz sentido culpar as circunstâncias externas. Escolhemos quem desejamos ser. Para além disto, a imagem que desenvolvemos de nós próprios tem um impacto profundo em toda a nossa vida. É por este motivo que precisamos cultivar uma auto-estima saudável para evitar a perniciosa veneração própria. Ao compreendermos que fomos criados por Deus, que as nossas vidas têm propósito e que somos valiosos, iremos conseguir as ferramentas necessárias que nos habilitarão a desenvolvermos um conceito adequado de nós próprios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1
L. Carroll, “A Study of Narcissism, Affiliation, Intimacy, and Power Motives among Students in Business Administration”, Psychological Reports, 61 (1987): 355-358.
2
P. J. Watson, S. O. Grisham, M. V. Trotter e M. D. Biderman, “Narcissism and Empathy: Validity Evidence for the Narcissistic Personality Inventory”, Journal of Personality Assessment, 45 (1984): 159162.
3
W. Keith Campbell, Eric A. Rudich e Constantine Sedikides, “Narcissism, Self-Esteem, and the Positivity of Self-Views: Two Portraits of Self-Love”, Personality and Social Psychology Bulletin, 28 (2002): 358-368.
4
Campbell, Rudich e Sedikides, “Narcissism, SelfEsteem, and the Positivity of Self-Views”, 359.
5
J. McHoskey, “Narcissism and Machiavellianism”, Psychological Reports, 77 (1995): 755-759.
6
M. T. Gabriel, J. W. Critelli and J. S. Ee, “Narcissistic Illusions in Self-Evaluations of Intelligence and Attractiveness”, Journal of Personality, 62 (1994): 143-155.
7
R. N. Raskin e R. Shaw, “Narcissism and the Use of Personal Pronouns”, Journal of Personality, 56 (1988): 393-404.
8
Rebecca P. Ang, “The Relationship between Aggression, Narcissism, and Self-Esteem in Asian Children and Adolescents”, Current Psychology 24/2 (2005): 113-122.
9
W. Keith Campbell, Eric A. Rudich e Constantine Sedikides, “Narcissism, Self-Esteem, and the Positivity of Self-Views: Two Portraits of SelfLove”, Personality and Social Psychology Bulletin, 28 (2002): 358-368.
PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO 1. O que significa, ‘Tudo depende de si’? 2. Porque é tão importante o conceito próprio? 3. Em que sentido são as circunstâncias neutras? 4. Porquê que o que pensa de si próprio é mais importante do que os outros pensam de si? 5. O que pode aprender das vidas do Alexander e do Joshua? 6. Que lições podemos aprender da vida de Chicky? 7. Porque é importante diferenciar entre a auto-estima e o narcisismo? 8. Quais são as características de uma auto-estima saudável? 9. Como pode assegurar que não possui características narcisistas? 10. Existe na sua vida alguma evidência de um autoconceito desequilibrado?
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Especialmente os jovens esforçam-se por serem considerados atraentes, capazes e bem-sucedidos; contudo, o que realmente precisam é o que cada ser humano busca: serem amados e aceitos.
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Na cultura actual preocupada com a imagem, muitas pessoas lutam para desenvolver e manter uma autoestima saudável. A obsessão do mundo pela beleza, fama, inteligência e poder deixam a maioria das pessoas com sentimentos de fealdade e inaptidão. Tragicamente, é quase impossível para algumas se valorizarem e aceitarem conforme são.
No livro “O Espelho Zombador” o Dr Núñez desafia os valores de uma sociedade que frequentemente recompensa a beleza e rejeita a modéstia. Ele encoraja-nos a apreciarmos a nossa singularidade e apresenta métodos que ajudam a desenvolver uma aceitação própria segura que pode superar as fábulas da vaidade e da aversão própria.
Desenvolvimento de uma auto-estima saudável num mundo preocupado com a aparência
A leitura deste livro é essencial para os jovens, pais e professores.
ISBN 978-1-920579-42-5
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Miguel Ángel Núñez
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Miguel Ángel Núñez