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VA L ERIA L IMA
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São Paulo, 2016
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430 dias em busca do amor
Copyright © 2016 by Valeria Nascimento Lima Copyright © 2016 by Editora Ágape Ltda. COORDENAÇÃO EDITORIAL
PREPARAÇÃO
CAPA
REVISÃO
Rebeca Lacerda Dimitry Uziel DIAGRAMAÇÃO
Fernanda Guerriero Antunes Patrícia Murari Vânia Valente
Rebeca Lacerda COORDENADOR EDITORIAL
EDITORIAL
Vitor Donofrio
Giovanna Petrólio João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda
AQUISIÇÕES
Cleber Vasconcelos
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Lima, Valeria 430 dias em busca do amor / Valeria Lima. -- Barueri, SP : Ágape, 2016. 1. Vida cristã 2. Deus - Amor 3. Espiritualidade 4. Literatura devocional 5. Fé I. Título 16-1453
CDD-248-4
Índice para catálogo sistemático: 1. Deus : amor : vida cristã 248.4
editora ágape ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1112 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.editoraagape.com.br | atendimento@agape.com.br
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“Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu co‑ ração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda.” Carl Jung
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Aos meus filhos, Matheus e Lucas.
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AGRADECIMENTOS A Deus, a quem me rendo e sou eternamente grata por Seu amor. Aos meus pais, Paulo e Dulcinéa, por me dedica‑ rem um amor incondicional. À minha família, que me apoiou em todos os momentos. Aos amigos e mestres de perto e de longe, facilita‑ dores desta jornada. E a você, que acreditou em mim. Por isso, este livro nasceu.
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Prefácio O amor é o ponto de partida e de chegada de toda a fé cristã. Não há como falar da fé em Jesus, revelador de Deus para o ser humano (Jo 1:18), sem que se afir‑ me, com toda a profundidade e com todas as implica‑ ções que esta frase exige de nós, que “Deus é amor”. É o amor de Deus o cerne da redenção de toda a Criação: porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o próprio Filho por nós (Jo 3:16). Aliás, toda a vida de Jesus é fruto do amor. Porque ama, Jesus se aproxima de homens e mu‑ lheres excluídos da religiosidade de Seu tempo – pu‑ blicanos, prostitutas, ladrões, estrangeiros, doentes – e dá a essas pessoas lugar em Seu reino. Porque ama, Jesus rejeita propostas de poder, constantemente oferecidas pelos muitos tentadores na caminhada, e escolhe o caminho mais difícil: manter‑ ‑se fiel ao projeto do Pai. Porque ama, Jesus percorre o caminho da cruz. “Tendo amado os seus”, afirma o Evangelho de João, “amou‑os até o fim” (Jo 13:1). Na história do cristianismo, a busca do amor constitui, desde cedo, o tema central à teologia e à 11
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espiritualidade cristãs. Diversos místicos cristãos, como São João da Cruz ou Santa Teresa, falam de Deus como o amante, sempre desejoso de manter relacio‑ namento conosco. O poeta e místico cristão Ernesto Cardenal afirma que “o amor de Deus nos rodeia por todas as partes. Seu amor é a água que bebemos e o ar que respiramos e a luz que vemos”.1 Contudo, por es‑ tar assim tão perto de nós, nem sempre somos capazes de enxergá‑Lo. E, ao não perceber esse amor, muitas vezes o eclipsamos em nossas relações com os outros ou com nós mesmos. Em função disso, vivemos num tempo de esfriamento do amor. A superficialidade dos relacionamentos tomou o lugar do encontro real, do toque afetivo, do cuidado partilhado. O resultado des‑ se triste quadro é a perda de sentido que nos afeta em maior ou menor grau. É justamente por isso que a mensagem de 430 dias em busca do Amor é tão importante. (Re)descobrir o amor é tarefa fundamentalmente importante para o ser humano deste início de século XXI. “Quem quer desconstruir‑se e não sabe por onde começar, deve buscar em Deus esse encontro consigo mesmo”. É a esperança pelo amor que move este livro. Há uma intimidade profunda no texto de Valéria. A cada frase, parece que o desejo da autora é abrir‑se o máximo possível, de tal maneira que depois de tudo dito, refletido, pensado, reste apenas a própria alma, 1 CARDENAL, Ernesto. Vida no amor. São Paulo: Civilização Brasi‑ leira, 1966, p. 47. 12
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desnuda, e o Deus‑acolhedor, que a recebe e a envolve em Seus braços de Pai. Nesse sentido, estas páginas abordam uma experiência mística à qual todos somos convidados. “É no momento de intimidade que Deus chega mais perto de cada um de nós. Sentimos o Seu amor, e podemos perceber que a Sua linguagem vai além do natural. Ele passa a falar de todas as maneiras, mostra‑se em Sua essência, deixando de ser um Deus distante, uma crença, uma divindade, para se tornar um amigo, um companheiro”. Dessa forma, a partir da própria experiência, Valé‑ ria toca no ponto central à teologia da revelação confor‑ me entendido pela tradição judaico‑cristã: Deus quer se revelar a nós. Como diz Ernesto Cardenal, “parece, às vezes, que Deus se esqueceu do universo inteiro e só quer conversar com a gente”.2 Esse encontro‑relação, porém, possui seus desa‑ fios. Porque amar dói profundamente, e tem que ser desse jeito. Quem ama, abre a própria alma ao outro e, ao agir assim, corre o risco de ser rejeitado. Feliz para‑ doxo da realidade do próprio Deus: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1:11) e “ten‑ do amado os Seus, amou‑os até o fim” (Jo 13:1). Na cruz do calvário, Jesus morre com o coração rompido, braços estendidos, plenamente abertos ao outro, que, antes inimigo, agora é reconciliado pelo amor do Pai, pelo perdão do Filho e pela atuação do Espírito. Eis 2 Ibid., p. 43. 13
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diante de nós um Deus‑Amor que nos convoca a, jun‑ tamente a Ele, amar o mundo e uns aos outros. Por tudo isso (e ainda muito mais), a obra que você tem nas mãos é um raro exemplo de excelente reflexão sobre a espiritualidade e o relacionamento com Deus. Sua leitura tem muito a nos auxiliar no processo de tornar nossa caminhada mais parecida com a do pró‑ prio Cristo de Deus. Vale a pena acompanhar esta jor‑ nada de 430 dias em busca do amor divino e em busca de si mesmo. Sendo assim, só me resta desejar uma boa leitura! Marcio Simão de Vasconcellos Pastor batista, teólogo e especialista em Ciências da Religião
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Apresentação No deserto, no vale, é onde ouvimos mais a voz de Deus. E foi no deserto que cheguei à conclusão de que deveria buscar respostas a tantas dúvidas sobre a vida e o amor. Em busca do amor, pude perceber que o rela‑ cionamento humano faz referência ao relacionamento com Deus na caminhada da vida. Desde o início venho lendo e pensando sobre o assunto, debatendo‑o e compartilhando‑o. Busco de‑ senvolver um conhecimento acerca do amor e seus ca‑ minhos. E Deus se revelou a mim à medida que eu O buscava. Não importa o milagre, mas, sim, entender o caminho do milagre, o caminho do amor. Foi uma caminhada comigo mesma e com Deus que me levou a algumas respostas acerca do amor. As adversidades servem para preparar o trajeto para uma nova fase. Chega um tempo em que o olhar precisa ser voltado para dentro de si mesmo, pois o ser humano é o que acredita ser. Durante esse processo, desconstruir é doloroso; temos medo de enfrentar o novo. No entan‑ to, é desconstruindo velhas concepções e construindo novos e reais conceitos que nos tornamos mais fortes. 15
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Perceber que dia após dia, manhã após manhã, Deus se apresentava para uma conversa, apontando um caminho, e saber que Ele tinha interesse em en‑ trar em minha intimidade, tudo isso me impressionou muito. O que senti foi um misto de temor e esperança. Era urgente ouvir a Sua voz. Foram 430 dias de con‑ versas diárias comigo mesma e com Deus, e o temor que sentia, na verdade, provinha do medo de que algo estivesse errado. Com isso, também os desafios e as ameaças careciam de base, e não só de teoria. Para o desenvolvimento destas páginas, foi funda‑ mental o desejo que senti de compartilhar experiên‑ cias que alcancem as necessidades do leitor. Observei que, de alguma forma, todo ser humano está em busca do amor, seja na relação com o Criador ou na relação com o outro. Sempre haverá em algum lugar alguém necessitando desse resgate de si mesmo para que as relações voltem às origens, agregando valores que fo‑ ram se perdendo ao longo do tempo e, sobretudo, no sentido do amor. Este livro é uma busca por respostas, uma recons‑ trução da realidade de amor, com base bíblica, tendo em vista aprimorar fundamentos sobre a relação consigo mesmo e com o outro. “O conhecimento teórico adequa‑ do acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempe‑ nho lógico, argumentação diversificada, capacidade ex‑ plicativa.”3 Esse conhecimento dos assuntos abordados 3 DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção do Conhecimento. Metodologia Científica no Caminho de Habermas, p. 37 16
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foi vividamente aprendido e adequado à realidade, bus‑ cando com cuidado argumentar sobre o tema de manei‑ ra que alcance a necessidade do leitor nas diversas faces do amor. Levando‑o a refletir e, assim, impactando a sua vida e confrontando com a sua história. Como seres feitos à imagem de Deus, viver sim‑ plesmente faz sentido? Entendo que não. Nessa mis‑ tura de confusão e dor, de alegrias e tristezas, arrumar a “casa” era preciso. E o primeiro passo foi reconhe‑ cer e entrar pelo caminho do amor. Não é fácil, e per‑ severar é a ordem. Quer recomeçar? Um novo tempo surge agora. Convido você a seguir pelo caminho do amor e, as‑ sim como eu, encontrar‑se em cada um dos temas aqui abordados. A expectativa é que haja mudanças signifi‑ cativas em cada um de nós. Rio de Janeiro, 2012\2013
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Sumário A importância do tema .................................................21 1 - A começar em mim… O que vejo? ....................... 29 Deus quer nos fazer mais fortes! ...............35 Cingindo com a verdade ............................37 Vestindo a couraça da justiça.....................38 Calçando os pés com a preparação do Evangelho da paz ..................................39 Embraçando sempre o escudo da fé .........40 Com o capacete da salvação ......................41 Espada do Espírito ......................................43 Orando o tempo todo .................................44 Espere pelo Senhor......................................49 Ainda tenho que deixar? ............................54
2 - Seja feita a nossa vontade? ............................... 62 Amor incondicional ....................................64 O irmão mais velho .....................................65 O irmão mais novo......................................70 Um novo caminhar .....................................78 Impureza da carne ......................................78 Impureza do espírito ..................................79 Lado a lado ...................................................81 Alguns princípios ........................................83
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3 - Fortalecidos pelas promessas ............................ 88 No caminho do milagre..............................93 Relacionamento humano X relacionamento com Deus..........................97 O “vale de dificuldades” ............................99 A nossa trajetória........................................102 Apenas obedecer ........................................110
4 - Um olhar para o outro ...........................................114 Amor líquido, um olhar para mim mesmo........................................119 Amor sólido, um olhar para o outro .......121 Olhar atentamente......................................124 Ainda há esperança....................................128
5 - O nascer de um novo tempo ............................... 133 Há tempo para todo propósito .................135 Tempo de nova habitação .........................141 Tempo de pesca ..........................................150 Tempo de ressuscitar sonhos ....................158 Tempo de colheita ......................................165
Bibliografia ..................................................................... 173
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A importância do tema Era hora de avançar! Ouvi uma voz doce a me chamar, e vi que era Deus me convocando para uma caminhada. Foi muito real! Para tanto, eu precisava adquirir sabedoria daquelas que não aprendemos nas escolas, mas com a vida. Iniciava‑se um novo tempo que exigiria de mim coragem. Em busca do amor, eu estava disposta a prosseguir, ainda que não soubesse bem o que me esperava. A vida é dinâmica. Vales e montanhas se sucedem. Nada é totalmente seguro nas relações humanas. Por isso viver a vida com entendimento é o primeiro passo a ser dado. E nada melhor do que o Autor da vida, esse Pai que sustenta e controla todas as coisas, para nos ajudar a suportar as mais difíceis situações pelas quais passamos, já que muitas são inevitáveis. Quem quer dias melhores deve se preparar para as adversidades. A dica é: arrisque algumas ações e defina os valores para manter sua integridade, sua essência. A vida é para os que se aventuram em busca de novos caminhos, conscientes de seu importante papel nas mudanças significativas ao seu redor. Dias e noites se alternam e a cada momento a glória de hoje pode 21
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converter‑se em derrota amanhã, e a humilhação de hoje pode igualmente tornar‑se glória amanhã. Infe‑ lizmente, somos treinados apenas para ganhar, e não para perder. Poucos aprendem a valorizar as suas de‑ cepções produzindo experiências e novas estratégias para enfrentar as batalhas da vida, como nos ensina a Palavra em Romanos 5 (vs 3‑5): “[…] Também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz per‑ severança; a perseverança, um caráter apro‑ vado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.” É natural do ser humano querer ganhar sempre, e o que o pensamento coletivo aponta como vitória, não é exatamente o que a Palavra de Deus diz sobre isso. Je‑ sus foi bem claro quando nos disse: “Quem perder sua vida por minha causa, a encontrará” (Mt 16:25), então me foi necessário desenvolver uma nova maneira de en‑ tender e de expressar o amor. Cada diálogo com Deus se tornou uma oração para mim, e os gemidos da alma surgiam em forma de clamor. Justamente esse relacio‑ namento íntimo e pessoal me fez distanciar‑me de tudo, e me permitiu experimentar uma solidão, que foi tão importante para encontrar‑me no verdadeiro amor.
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Mais que um hábito diário, mais que um experi‑ mento religioso, ou uma busca teológica para explicar cada situação, cada momento tornou‑se numa nova forma de me relacionar com Deus. A busca do amor foi um canal para que Ele se revelasse profundamente. Foram 430 dias experimentando, em meio à dor, uma nova forma de amar. O deserto da vida nos faz desconstruir conceitos e até mesmo nos alegrar em momentos em que encon‑ tramos respostas em meio à multidão de pensamentos. Esse tempo de solidão no deserto me permitiu ouvir com mais clareza a voz de Deus. Procurando entender as razões pelas quais existe o amor, senti a necessida‑ de de amar a Deus acima de todas as coisas, e a mim mesma, para que depois fosse capaz de amar o outro. Para a maioria das pessoas de nosso tempo, Deus se tornou uma religião, um patrimônio privado, uma crença, um meio de se obter sabedoria. No entanto, Deus é muito mais. Ele tem prazer em se relacionar conosco e se revela a cada um conforme a Sua vonta‑ de. Mais do que nós mesmos, Ele quer nos ver felizes e realizados; por isso, caminha conosco pelos desertos da vida. E ninguém melhor do que Ele para entender sobre o amor e seus caminhos. Apesar de não O vermos com olhos humanos, Deus se revela de muitas formas, e maravilhosamente na face do Seu filho, Jesus. Tudo está contido na Pala‑ vra revelada. É no momento de intimidade que Deus chega mais perto de cada um de nós, sentimos o Seu 23
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amor e podemos perceber que a Sua linguagem vai além do natural. Ele passa a falar de todas as maneiras, mostra‑se na Sua essência, deixando de ser um Deus distante, uma crença, uma divindade, para se tornar um amigo, um companheiro. Foi assim que eu O vi, revelando‑se por Sua Pa‑ lavra, pelo Seu filho Jesus, pelo aconchego do Seu Espírito. E eu O senti tão perto e era tão natural. Estava ainda ali à porta, à minha espera, e sem ne‑ nhum esforço ou ação religiosa Ele se manifestava. Simplesmente Ele estava ao meu lado. Não era mais um conceito, uma religião, mas apresentava‑se além das minhas indagações. Em meu coração já não O ca‑ bia, era hora de compartilhar Sua Graça para que de alguma forma esse amor fosse uma realidade entre muitas pessoas. Na intimidade, Sua Palavra se materializou, e eu O vi na natureza e nas pessoas que cruzavam o meu caminho; pude vê‑Lo, por exemplo, no rosto de um comunicador por excelência. No entanto, Ele se mos‑ trou com mais clareza no meio das minhas necessida‑ des, no desespero que eu tinha em não me encontrar, nos meus pecados revelados a cada encontro com Ele, em convivência com a miséria humana! Nesse mo‑ mento eu O vi mais de perto! Muitos não esperam vê ‑Lo assim, num momento de tanta confusão, em meio à miséria, ao desespero, à escuridão ou na ausência do bem‑amado. Foi exatamente nesse contexto que O vi, e Ele estava muito perto de mim. 24
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Depois de vê‑Lo, não somos mais os mesmos. Não temos mais a pretensão de fazê‑Lo esperar. “Eu abri, mas o meu amado se fora; o meu amado já havia par‑ tido. Quase desmaiei de tristeza! Procurei‑o, mas não o encontrei. Eu o chamei, mas ele não respondeu” (Ct 5:6). Assim como em Peniel,4 é o momento de reavaliar o que nos pertence – família, bens, relacionamentos, preocupações – e rever como lidamos com tudo isso. Peniel é lugar de encontro com o Pai, por isso devemos ir sozinhos. É lugar de solidão, de silêncio, no qual nos encontramos com o Senhor e conosco mesmos. “E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lu‑ tar com ele até o amanhecer” (Gn 32:24). Estar em Pe‑ niel, portanto, é estar em um momento de confronto e mudanças efetivas. No encontro com Deus, somos despidos de tudo o que enfeita nossa existência. O que para a socieda‑ de é referência de apresentação pessoal, para Deus, quase sempre, não passa de vaidade e fuga. Vivemos num mundo escravizante, que a cada dia apresenta novos conceitos de vida, paradoxos das verdades de Deus contidas em Sua Palavra. Dentro desse contex‑ to, tornamo‑nos escravos de nós mesmos, das nossas vontades e das falsas ideias que formamos ao longo da vida. É necessário desconstruí‑las. 4 Termo encontrado na Bíblia que significa “face de Deus”. Esse foi o nome que Jacó deu ao lugar onde teve um encontro com Deus, quando passou a se chamar Israel: “Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: ‘Vi a Deus face a face e, todavia, minha vida foi poupada’” (Gn 32:30). 25
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Em Peniel, despimo‑nos do nosso eu e, em reflexão profunda, encontramos nós mesmos e quem verdadei‑ ramente somos. Não é um encontro romântico, e sim um duelo decisivo entre a humanidade pecaminosa e a santidade de Deus. É um momento de luta e choro, angústia e dor, mas também de transformação. E essa transformação se dá com entrega, dedicação, colocando esforço no que realmente importa, perseverando. É um amadurecimento gradativo na maneira de amar, de ver a vida, tempo de deixar o amor “romântico” e viver um relacionamento mais consciente com Deus e com o pró‑ ximo. Deixar de ser frágil e se tornar mais forte. Relacionamento é doar‑se. Para começar o novo, é necessário abandonar as velhas estruturas, a vaidade dos próprios pensamentos (Ef 4:17). Isso se aprende em meio às dificuldades, na relação com o outro. Seria como um laboratório, em que Deus nos coloca para ex‑ perimentar a Sua verdade. Em busca do amor, estar com Deus é algo bom e resultará em tempos de casas edificadas, boa colheita daquilo que plantamos, de vinho novo transbordan‑ do de alegria: “Casas, campos e vinhas tornarão a ser comprados nesta terra” (Jr 32:15). A Palavra diz que “ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro velhas; se o fizer, o vinho novo re‑ bentará a vasilha, se derramará, e a vasilha se estra‑ gará. Ao contrário, vinho novo deve ser posto em vasilhas de couro novas” (Lc 5:37‑38). Num momen‑ to de novas realidades e situações, estruturas e ações 26
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diferentes são requeridas. Precisamos deixar para trás velhas maneiras de pensar, velhos hábitos e modos de agir, de falar e de responder ao amor, e abrir mão de nossas convicções para estarmos prontos a novas es‑ tratégias diante dos velhos problemas. Devemos desconstruir velhos conceitos a partir de um real encontro com Deus. E este é o propósito deste livro: nesse momento de análise, diagnóstico, discer‑ nimento sobre o amor, ajudar o leitor a perceber que o nosso relacionamento com o próximo nos ensina mui‑ to sobre Deus e sobre nós mesmos. Passemos a descrever o fenômeno do relacio‑ namento humano, no sentido de criar o espaço de compreensão necessária ao discernimento das ações e reações que requerem amor. Assim, será possível caminhar dentro da vontade de Deus. Ao abandonar os temores infundados, conseguiremos construir um novo tempo em nossa vida. E faremos isso de forma fácil, de maneira que igualmente cresçamos juntos!
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