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John Bunyan
A PeregrinA
São Paulo, 2017
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A peregrina The Pilgrim's Progress – Part II – Pilgrimage of Christiana and her children © 2017 by Editora Ágape Ltda. coordenação editorial Rebeca Lacerda tradução Beatriz Bellucci
revisão Fernanda Guerriero Antunes Patrícia Murari Ana Lúcia Neiva
preparação Thiago Fraga Deborah Stafussi
ilustrações Alexandre Santos
coordenador editorial Vitor Donofrio
editorial Giovanna Petrólio João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda
gerente de aquisições Renata de Mello do Vale
diagramação Rebeca Lacerda
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Bunyan, John A peregrina / John Bunyan ; tradução de [Beatriz Bellucci]. -Barueri, SP : Ágape, 2017. Título original: The Pilgrim’s Progress – Part II – Pilgrimage of Christiana and her children 1. Ficção inglesa 2. Ficção cristã I. Título II. Bellucci, Beatriz 16-1445
CDD 823
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção inglesa: Ficção cristã 823
editora ágape ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1112 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.editoraagape.com.br | atendimento@agape.com.br
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Aqui falaremos sobre a partida da esposa de Cris‑ tão e seus filhos, sua perigosa jornada e a chegada segura à cidade desejada. Falava em parábolas. – Oseias 12:10
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A forma do autor de contar a segunda parte de O peregrino
Vá agora, livro meu, a todos os lugares Por onde meu primeiro Peregrino passou: Bata à porta e, se perguntarem quem é, Responda que Cristiana está aqui. Se a convidarem para entrar, entre, Com todos os seus filhos e, então, se desejar Diga quem são e de onde vieram. Talvez os reconheçam pelo rosto ou nome: Mas, se não souberem quem são, pergunte então Se não receberam no passado Um Peregrino chamado Cristão. Se disserem que sim e que com prazer, Então diga‑lhes que são seus parentes Sim, sua esposa e seus filhos. Diga‑lhes que deixaram a sua casa, o seu lar; Para se tornarem Peregrinos e buscar um novo mundo; Pelo caminho encontraram muitos obstáculos; Deparando‑se com aflições noite e dia; Pisaram em serpentes; lutaram com demônios; Venceram muitos males; Conte‑lhes também sobre os outros, Que, por amor à peregrinação, foram fortes e valentes, Defensores do caminho; e como ainda Desprezam esse mundo para fazer a vontade do Pai. Conte‑lhes também sobre as coisas agradáveis Que a peregrinação traz aos Peregrinos. 7
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Diga‑lhes também como são Amados do Rei e estão sob seu cuidado; Formosas mansões ele tem para oferecer; Enquanto enfrentam ventos fortes e altas marés, Que doce calma gozarão, enfim, Os que forem fiéis ao Senhor e seus caminhos. Talvez o recebam com o coração Como fizeram ao primeiro; e honrarão Você e seus companheiros com alegria, Para mostrar que amam os Peregrinos. Objeção I Mas e se não acreditarem em mim? Que sou sua de fato; pois há alguns Que falseiam o Peregrino e o seu nome, E buscam, com disfarces, copiá‑lo; E por esses meios conseguem entrar Nas casas de desconhecidos. Resposta É verdade que muitos falseiam Meu Peregrino e tomam seu título; Além do meu nome e título também Usando‑os em livros seus. Mas, por suas características, Sabe‑se que não pertencem a mim, e de quem eles são. Se encontrar um desses, seu único caminho, Acima de qualquer outra coisa; é falar Em sua língua materna, que nenhum homem Hoje conhece e nem pode decifrar. 8
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Se, ainda assim, duvidarem de vocês, Pensando que são ciganos e que usam De falsidade para corromper o país; Ou que tentam enganar pessoas boas De formas injustificáveis; mande‑os a mim Pois lhes provarei que são Peregrinos; Sim, atestarei que apenas vocês São meus Peregrinos, e isso funcionará. Objeção II Mas talvez eu pergunte a eles Se querem vê‑los mortos. Mas o que devo fazer se ficarem com raiva Quando eu perguntar dos Peregrinos? Resposta Não tenha medo, livro meu, desses fantasmas, Porque são temores infundados. O livro do meu Peregrino atravessou terras e mares, Contudo, nunca consegui entender Por que razão foi rejeitado Em alguns lugares, ricos ou pobres. Na França e em Flandres, onde homens se matam, Meu Peregrino é considerado um amigo, irmão. Na Holanda, também, disseram‑me Que o Peregrino vale mais que ouro. Escoceses e irlandeses concordam; O meu Peregrino é bem recebido por lá. Na Nova Inglaterra também entrou, E foi recebido de muito bom grado, 9
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Lá encadernaram, pintaram e embelezaram‑no, Revelando as suas características mais profundas. Formosamente caminha o meu Peregrino, E milhares falam e cantam sobre ele. Se andar por aí, certamente verá O Peregrino não tem vergonha nem temor: É bem‑aceito em qualquer cidade ou país, Bem‑vindo, Peregrino; sim, sempre sorriem Quando veem por aí o meu Peregrino Onde quer que ele esteja. Até mesmo os galãs amam e abraçam o Peregrino, Muito o estimam e também o valorizam Acima de outras coisas de grande valor; com gozo dizem Que a pata da cotovia vale mais que um falcão. As senhoritas e damas também Demonstram bondade ao meu Peregrino; Em seu peito e seu coração, O Peregrino conquistou respeito. Seus belos enigmas, em esforços contínuos, Criam parágrafos altamente benéficos Para a sua leitura; sim, creio que fui ousado Pois alguns o apreciam mais que ouro. Até as crianças que andam pelas ruas, Se encontrarem meu santo Peregrino, Vão saudá‑lo e desejar‑lhe o bem, Dizendo que é o único moço. Até os que nunca o viram também o admiram Por tudo o que ouviram falar dele, e desejam assim Ter a sua companhia, e ouvi‑lo contar As histórias dos Peregrinos que conhecem tão bem. 10
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Sim, aqueles que não o amaram no início, E o chamaram de tolo e singelo, Ao conhecê‑lo hoje o recomendam Para todos os que amam. Portanto, quanto à minha Segunda Parte, Não tenha medo de enfrentá‑la; nada pode ferir, Os que desejaram o bem para os que seguiram adiante. Porque veio depois com a segunda parte, Com coisas boas, ricas e rentáveis, Para jovens, velhos, ricos e pobres. Objeção III Mas alguns dirão que ri muito alto E outros dirão que sua cabeça está nas nuvens. Alguns dirão que suas histórias são sombrias, E eles não sabem como interpretar. Resposta Alguém pode dizer que seus risos e clamores Podem ser decifrados por seus olhos marejados. Alguns dizem que são da sua natureza e que talvez Provoquem forte riso, enquanto o coração dói. Quando Jacó viu Raquel com as ovelhas Ele a beijou e ao mesmo tempo chorou. Alguns dizem que há uma nuvem em sua cabeça; Revelando que a sua sabedoria está coberta Com seu próprio manto – estimulando a mente A procurar o bem que de bom grado encontraria Coisas que estão escondidas em palavras obscuras, Levando a mente piedosa a tentar entender 11
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E estudar o significado dessas palavras, Que nos falam de forma nebulosa. Também sei de uma símile obscura Que se intromete numa curiosa imaginação, E adere mais rapidamente ao coração e à mente Do que as coisas que semelhantes não são. Portanto, meu livro, não permita que o desânimo Dificulte as suas viagens. Lembre‑se de que o enviei a Amigos, e não inimigos. Os amigos o receberão, Bem como os Peregrinos, e suas palavras abraçarão. Ademais, o que o meu primeiro Peregrino ocultou, Você, meu segundo valente Peregrino, revelou; Aquilo que Cristão selou ao seguir sua viagem, A doce Cristiana com sua chave abrirá. Objeção IV Mas alguns não gostam do método do primeiro: Julgam‑no romance e o desprezam como pó. Se encontrar‑me com eles, o que lhes direi? Devo desprezá‑los como desprezam a mim? Resposta Cristiana minha, se acaso os encontrar, De toda a forma, cumprimente‑os sabiamente; Não responda ao desprezo com desprezo. Ainda que todos a desprezem, sorria: Talvez a sua natureza, ou um relato ruim, Levaram‑nos a desprezá‑la dessa forma.
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Alguns não gostam de peixe, outros de queijo Alguns não amam os amigos, nem a sua casa; Alguns detestam porco, frango, aves Mais do que amam o cuco ou a coruja. Deixe‑os, Cristiana, à sua escolha, E busque o que se alegrará ao encontrá‑la; Esforce‑se ao máximo, humildemente, E apresente‑se a eles como peregrina. Vá então, livro meu, e mostre a todos, Os que o receberem e o acolherem, Aquilo que deve ocultar dos demais. Que aquilo que lhes mostrar seja abençoado E que lhes traga o bem e que os levem a ser Peregrinos um dia, melhores do que eu e você. Vá, então, e diga a todos quem você é; Diga: Sou Cristiana e meu dever agora Com meus quatro filhos é mostrar Como é o caminho da peregrinação. Vá, também, e diga‑lhes quem são Os que vão com você em peregrinação; Diga: Esta é minha vizinha Misericórdia, que Há muito tempo está comigo nesta jornada: Venham ver o seu rosto puro e aprendam A distinguir o Peregrino do ocioso. Sim, que as jovens donzelas aprendam A valorizar o mundo vindouro, com sabedoria. Quando as donzelas seguirem a Deus, E deixarem os pecadores idólatras para trás, Clamarão como os jovens: Hosana! Quando os anciãos as ridicularizarem.
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Fale depois do velho amigo Honesto Legítimo Peregrino de cabelos brancos; Sim, diga‑lhes o quanto era sincero; E como carregava a cruz por amor a Deus. Talvez isso leve alguns anciãos A amar a Cristo e rejeitar o pecado. Conte‑lhes também como Receoso Partiu em peregrinação e como Andou solitário, com medos e lamentos; E como, por fim, alcançou o bom prêmio. Era um homem bom, mas sempre abatido. É um homem bom, e herdou a vida eterna. Fale também sobre Mente Fraca, Que andava sempre atrás. Conte que quase foi morto, E como Sr. Grande Coração o salvou. Era um homem sincero, apesar de fraco, Levava no rosto a verdadeira piedade. Conte‑lhes também sobre Prestes a Cair, Um homem com muletas, mas muito virtuoso. Diga‑lhes como encontrou Mente Fraca E como tinham opiniões iguais e se amavam. Conte a todos que, apesar de fracos, Às vezes um cantava, o outro dançava. Não se esqueça de Valente Pela Verdade, Homem de coragem, embora muito jovem: Diga que tinha um espírito tão forte Que nenhum homem era capaz de abatê‑lo; Conte como ele e Sr. Grande Coração Venceram o Gigante e destruíram o Castelo! 14
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Não se esqueça de falar de Desalento, Nem de Medrosa, sua filha, Escondiam‑se sob os mantos Como se Deus tivesse os abandonado. Mas seguiram firmes até o fim, E descobriram que o Senhor dos Peregrinos era seu amigo. Depois que contar essas coisas ao mundo, Toque então nestas cordas, livro meu; Quando tocadas, produzem belas músicas, Fazendo o manco dançar e o gigante tremer. Os enigmas que estão ocultos em seu peito, Revele‑os, mostre‑os a todos; quanto ao restante Das linhas misteriosas, deixe‑as de lado Para benefício das mentes mais ágeis. Que este livro seja uma bênção Aos que o amam e a mim; Que aquele que o comprar não lamente Que desperdiçou seu dinheiro. Que este segundo Peregrino dê fruto E seja útil a todo bom Peregrino; E possa convencer o desviado A retornar para o caminho certo. É a sincera oração do autor, John Bunyan
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Prezados companheiros, Saibam que contar‑lhes o sonho que tive com Cristão, o peregrino, e a sua perigosa jornada para o País Celestial foi muito agradável para mim e proveitoso para vocês. Na ocasião, também contei‑lhes o que vi a respeito da esposa e dos filhos de Cristão e o quanto relutaram em seguir com ele em peregrinação, de tal forma que nosso peregrino foi forçado a seguir seu rumo sem eles, pois não quis correr o risco de ser atingido pela destruição se permanecesse na Cidade da Destruição. Portanto, como lhes disse, ele deixou sua família e partiu. Aconteceu que, por diversas razões, fiquei impossibilitado de realizar minhas viagens habituais para os lugares por onde Cristão passou e, até agora, não tinha tido a oportunidade de fazer uma investigação mais aprofundada sobre aqueles que ele deixou para trás, para poder lhes dar mais detalhes. Mas, ainda intrigado, voltei para a terra de Cristão. E, depois de ter me estabelecido em um bosque a aproximadamente um quilômetro e meio do lugar, dormi e tive um novo sonho. Nele, um senhor aproximou‑se de onde eu estava. Como ele seguia pelo mesmo caminho que eu, levantei‑me e cami‑ nhei com ele. Enquanto andávamos, começamos a conversar, como os viajantes costumam fazer. E coincidiu de falarmos sobre Cristão e suas viagens. E assim foi a nossa conversa: – Senhor, que cidade é aquela ali embaixo, à esquerda do nosso caminho? O senhor, cujo nome era Sagacidade, respondeu: 17
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– É a Cidade da Destruição, um lugar muito populoso, mas repleto de pessoas perversas e inúteis. – Logo imaginei, porque já passei por esta cidade certa vez. E sei que o que diz é verdade. Sr. Sagacidade: Com certeza! Gostaria de poder falar melhor sobre aqueles que ali habitam. – Bem, senhor, vejo que é um homem muito bem ‑intencionado, e que tem prazer em ouvir e falar sobre o que é bom. Você já ouviu falar do que aconteceu a um homem (cujo nome era Cristão) desta cidade certo tempo atrás, que fez uma peregrinação em direção às terras mais altas? Sr. Sagacidade: Claro que sim! E também ouvi falar dos ataques, dificuldades, combates, cativeiros, gritos, gemidos, sustos e medos que ele enfrentou em sua jornada. Além disso, toda a nossa terra se lembra dele. Na verdade, as casas que ouviram falar sobre ele e seus feitos foram buscar registros a respeito de sua peregrinação. Acho que sua perigosa jornada atraiu muitos admiradores, porque, embora fosse considerado tolo por todos quando viveu aqui, agora que se foi é muito elogiado. Dizem que ele vive bravamente onde está. Muitos dos que optaram por não correr os riscos que ele enfrentou gostariam de conquistar o que ele alcançou. – Eles devem realmente pensar, se é que pensam sobre o que é verdadeiro, que ele vive muito bem, pois agora está na fonte da vida e tem o que tem sem trabalho nem tristeza, já que lá não existe pesar. Mas, diga‑me, o que as pessoas dizem sobre ele? Sr. Sagacidade: O que dizem? As pessoas falam coisas estranhas sobre ele. Alguns dizem que ele agora anda ves‑ tido de branco (Ap 3:4), que usa uma corrente de ouro no pescoço e uma coroa de ouro revestida de pérolas sobre a cabeça. Outros dizem que os Seres Resplandecentes, que o encontraram algumas vezes durante a sua jornada, são agora seus companheiros, e que ele é tão íntimo deles como são os 18
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nossos vizinhos uns dos outros. Além disso, afirmaram segu‑ ramente que o Rei do lugar onde ele está concedeu‑lhe uma moradia muito rica e agradável na corte, e que todos os dias ele come, bebe, caminha e conversa com o Rei, recebendo os sorrisos e as graças daquele que é o Juiz de tudo por lá (Zc 3:7; Lc 14:14,15). Ademais, alguns acreditam que o seu Príncipe, o Senhor daquele lugar, logo virá a estas terras e descobrirá a razão, se é que existe alguma, pela qual seus vizinhos zombaram dele e o escarneceram quando descobri‑ ram que ele se tornaria peregrino ( Jd 14,15). Dizem que, agora que ele está íntimo do Príncipe e que o seu Soberano está indignado com as injustiças sofridas por Cristão quando ele se tornou peregrino, o Príncipe olhará para todas as injustiças como se tivessem sido feitas a ele mesmo (Lc 10:16). E não é de admirar, já que foi pelo amor a seu Príncipe que Cristão se aventurou dessa forma. – Ouso dizer que fico contente por isso. Fico feliz por esse pobre homem, porque ele agora descansa das suas fadigas e colhe os benefícios das suas lágrimas com alegria. Ele agora está longe da artilharia dos seus inimigos e fora do alcance daqueles que o odeiam (Ap 14:13; Sl 126:5,6). Também me alegra saber que os rumores desses acontecimentos se espa‑ lharam por esta terra. Quem sabe isso não traga bons efeitos sobre aqueles que ficaram para trás? Mas, enquanto ainda está tudo fresco em minha mente, diga‑me se ouviu alguma informação sobre a esposa e os filhos de Cristão. Pobres co‑ rações! Pergunto‑me o que aconteceu com eles. Sr. Sagacidade: Quem? Cristiana e seus filhos? Eles provavelmente seguirão os mesmos passos de Cristão. Ape‑ sar de terem agido como néscios no início e não terem sido convencidos pelas lágrimas e súplicas de Cristão, refletiram novamente sobre o assunto e então decidiram fazer as malas e seguir atrás dele. 19
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– Muito bom! Mas foram todos? Mulher, filhos e tudo o mais? Sr. Sagacidade: Exatamente. Posso lhe contar com deta‑ lhes, porque eu estava próximo a eles nessa ocasião. Portanto, sei exatamente como aconteceu. – Então – eu continuei –, diga‑me o que aconteceu. Sr. Sagacidade: Posso afirmar, sem medo, que todos eles saíram em peregrinação, tanto a gentil mulher quanto os seus quatro filhos. E, já que percebo que caminharemos juntos por tempo considerável, vou contar‑lhe o que aconteceu. – Essa tal Cristiana (pois esse passou a ser seu nome quando ela e seus filhos decidiram seguir a vida de pere‑ grinos), depois que o marido atravessou o rio, nunca mais ouviu sobre ele. E então diversos pensamentos começaram a surgir em sua mente. Primeiro, porque havia perdido o marido e porque o vínculo amoroso de sua relação havia sido rompido. Você sabe que a natureza perturba os vivos com pensamentos tristes sobre a perda de seus entes que‑ ridos. A perda de seu marido custou‑lhe muitas lágrimas. Mas isso não foi tudo. Cristiana começou a pensar se o seu comportamento impróprio em relação ao marido não tinha sido o motivo de ela nunca mais tê‑lo visto e de ele ter sido levado para longe dela. Então, ela começou a se lembrar de toda a sua conduta indelicada, maliciosa e incrédula para com seu querido marido, o que pesou em sua consciência e a encheu de culpa. Além disso, ela também se lembrou dos muitos gemidos, das amarguradas lágrimas e das lamen‑ tações de seu marido e como havia endurecido o coração diante de todas as suas súplicas e carinhosos argumentos para convencê‑los a segui‑lo. Tudo o que Cristão havia lhe dito ou feito, enquanto ainda carregava o fardo em suas cos‑ tas, voltou sobre ela como um raio e lhe cortou o coração. O clamor amargurado de seu marido soava mais triste ainda em seus ouvidos: “O que devo fazer para ser salvo?”. 20
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