Impressos Experiência 45 anos
Jornalismo da PUCRS: 60 anos (1952-2012), 5 estrelas no Guia do Estudante
Jornal da Manhã
Ano 8, n° 15 – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, dezembro de 2012 – Famecos/ PUCRS – Jornal da Manhã criado em 07/2005 – Semestral
Ambiente
Sustentabilidade em construções A preocupação com o meio ambiente chegou à construçãio civil, com edificações e empreendimentos sustentáveis. Projetos baixam custos em energia elétrica, água e tratamento de esgoto.Telhados verdes no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, são exemplos. airan albino/JM
Adolescentes a um passo da liberdade Abrigo Vida das meninas infratoras confinadas na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre STEPHANIE NASCIMENTO/JM
Theatro São Pedro é modelo Página 5
Olimpíadas
Rúgbi e golfe voltam em 2016 Incluídos no cronograma para os jogos Olímpicos do Rio, os esportes rúgbi e golfe buscam cair no gosto do público brasileiro, não habituado às disputas. Um acusado de violento, outro de elitista, chegaram a ser disputados no início do século 20. Página 11
Volante
Gabriela Brasil/jm
Com uma rotina disciplinada e inúmeras atividades, as adolescentes têm a oportunidade de retomar os estudos no CASEF
Tecnologia
Elas ainda enfrentam preconceito
As mulheres reafirmam posições iguais e de destaque em todos os níveis sociais, de poder e culturais. No trânsito não é diferente. Trocaram o banco do carona pelo volante. E são mais educadas e cuidadosas. Página 4
Internet fora do alcance de todos
Oscar Niemeyer (1907-2012)
Partes da Região Metropolitana de Porto Alegre sofrem com a falta de investimento do setor privado, que não oferece serviço de internet de qualidade. As prefeituras da capital e de Alvorada apresentam alternativas aos moradores, mas a demanda elevada faz com que as
Morreu aos 104 anos, dia 5 de dezembro, o carioca Oscar Niemeyer, um dos arquitetos mais importantes do mundo no século 20. Projetou Brasília, junto com Lúcio Costa (1902-98), no governo visionário do presidente Juscelino Kubitschek (1902-76), de 1956 a 1961, e nos dois mandados do go-
condições de acesso disponíveis não sejam suficientes para suprir a necessidade. As alternativas de acesso não contemplam a todos. Enquanto o sinal não chega a pontos do bairro Restinga, na capital, na cidade vizinha menos da metade das casas tem acesso à internet. Página 8
G ALERIA
vernador trabalhista Leonel Brizola (1922-2004), no Rio, nas décadas de 80 e 90, quando construiu o Sambódromo, que virou postal do Carnaval, e os Cieps, educação popular em tempo integral. Assinou mais de mil projetos, alguns executados em Porto Alegre. Foi velado na cidade que desenhou. Gabriela Bordasch/JM
Mulheres estão no comando
Arquitetura
Brasileiros vão à Cuba fazer cinema Páginas 4G e 5G
Juliana de Gonzalez/JM
Som afinado na noite da Capital Página 6G
O Bar Odeon, aos seus 27 anos, representa o legado musical da antiga boemia porto-alegrense
Protesto nas ruas da cidade com adesivo Página 3G
Os quadrinhos surrealistas de Rafael Sica Página 8G
2 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
OPINIÃO
Uma avaliação crítica dos alunos sobre fatos e inquietações que envolvem a sociedade.
Editorial
Crônica
O jornalismo para ler em todos os formatos
Tempo de mudanças
Seria o jornal uma mídia impressa, necessariamente? Ou apenas convencionouse que é no papel que se deve manter esse veículo de comunicação? Um jornal com vida útil de 24 horas pode facilmente ser considerado passado, especialmente se insistir em replicar, com um dia de atraso, informações divulgadas em tempo real pelos meios eletrônicos, sem preocupar-se com o aprofundamento e o olhar diferenciado sobre o fato. Paira sobre a imprensa a incerteza quanto ao futuro desta mídia, que resiste ao desaparecimento diante das facilidades oferecidas pela imensidão de aparatos tecnológicos à disposição do público consumidor de notícias. A recente e nada discreta chegada dos tablets ao mercado aumenta o debate sobre o futuro do jornalismo impresso. Uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em outubro deste ano aponta que o número de usuários da plataforma chegou a cinco milhões apenas no Brasil. Sabe-se que o público que busca se munir de informações através da internet geralmente utiliza portais e blogs, o que não permite caracterizar esse modal como um concorrente direto do impresso, tampouco se pode afirmar que um tem a capacidade de se sobressair ao outro.
Final de ano é sempre a mesma coisa. Surgem aqueles comentários clássicos do tipo “Nossa, esse ano passou voando!”, “É verdade, nem vi passar”. Também é nesse momento que percebemos quantas coisas deixamos de fazer, quantos projetos não foram realizados. E, enfim, traçamos as metas para o próximo ano: em 2013, eu vou começar um exercício físico, vou fazer um curso de japonês, vou economizar e comprar um carro. Certo. E o Papai Noel visitará nossas casas na madrugada do dia 25 de dezembro. A verdade é que quanto mais nos planejamos, menos realizamos. É claro que a virada de ano é sempre um momento muito tentador para se fazer mil promessas de mudanças. É como se a cada dia 31 de dezembro acontecesse uma revolução no universo e todas as energias cósmicas se voltassem a nosso favor: a partir de então, as atitudes que tomarmos e o que começarmos a fazer dará certo. O otimismo é um mal necessário para que possamos viver da melhor
Os números que dizem respeito ao jornal de papel são animadores para quem defende a manutenção da mídia inspirada na criação de Gutenberg. Com 4,5 milhões de leitores diários, a circulação de jornais impressos cresceu 2,3% no primeiro semestre de 2012 em relação ao mesmo período do ano passado. A tendência, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação, é de que este meio siga conquistando um público com potencial de se tornar fiel. Quando Julian Assange, idealizador do WikiLeaks, recorre a cinco conceituados impressos para divulgar o conteúdo sigiloso a que teve acesso, a credibilidade dos veículos pesou na sua decisão. Pensar se as mídias tradicionais como conhecemos hoje estão com os dias contados é um debate não se restringe nem se encerra entre as quatro paredes de uma universidade. Cabe-nos acompanhar com paciência o desenrolar da história, contribuindo para que se tragam à tona temas importantes que devam ser avaliados na hora de defender um dos lados, ambos ou nenhum. A produção do Jornal da Manhã resulta do esforço em aprender fazer jornalismo, indiferente do suporte. Bruna FERNANDA suptitz, editora-chefe
maneira possível. Mas, quando aplicado em demasia a nossas vidas, pode se transformar em ilusão. A passagem de um ano para o outro não passa de um dia comum. Apesar de nos sentirmos muitas vezes renovados, precisamos ter em mente que no dia 2 de janeiro tudo volta a ser exatamente como era antes. Retornamos à nossa boa e velha rotina. Não raro, todas aquelas promessas feitas 48 horas antes são simplesmente deixadas de lado. E inicia-se a contagem regressiva para o próximo último dia do ano. A mudança que queremos em nossa vida não deve estar presa a uma data no calendário. Para começarmos a pôr em prática nossas metas, não é preciso marcar um dia e uma hora. Basta querer e realizar, no momento que quisermos, que acharmos mais apropriado. Não precisamos de um pretexto para mudar aquilo que não está satisfatório. Nós somos o anna veiga, editora de opinião
Manuela Ribas/JM
O mundo perfeito (pra quem?) Tenho um amigo polêmico. Um cara que, além de querer um mundo melhor, se mexe muito pra isso. Ele luta todos os dias por todos os tipos e espécies de justiça que condizem com seus ideais. Mas eu fico pensando como seria viver no mundo hipoteticamente perfeito que meu amigo idealiza. As pessoas são muito diferentes para se imaginar uma sociedade boa pra todo mundo. Quando um ganha, outro perde. Enquanto existir igualdade e diversidade de pensamento a sociedade ideal para cada um será impossível. E talvez um “mundo imperfeito” seja o preço dessa liberdade. bárbara souza
A sorte de um mendigo Enquanto o Mendigo de Curitiba fica famoso na internet pelos profundos olhos azuis e traços de modelo internacional, 1,4 milhão de indivíduos seguem nas ruas do Brasil sendo ignorados. Mas qual a diferença entre seres da mesma raça? Não são todos humanos de carne, osso, colchões de papelão e noites ao relento? Em vez de compartilharmos o belo em uma situação degradante, deveríamos disseminar a vontade de um país mais igualitário. Beleza de verdade é doar-se, estender a mão e unir forças. Viver e fazer viver com dignidade.
Estudantes e professores da disciplina de Produção de Jornal, turno da manhã
Artigo Essa foto ficou boa: vai para o Instagram “Olha o passarinho!” “Diga xis!” “Essa vai pro Instagram!” Desde muito tempo, as pessoas guardam momentos importantes de suas vidas em fotografias. Momentos únicos e especiais são recordados para sempre através de imagens, estáticas, com ou sem cor. Já existem maneiras mais completas de se guardar momentos, mas a simplicidade da fotografia ainda parece encantar mais. Afinal, é como costumam dizer: uma imagem vale mais que mil palavras. É interessante notar o processo evolutivo desde o surgimento da fotografia, em meados dos anos 1800, até os dias atuais, na geração que domina a internet. Pode perguntar para alguma pessoa de mais de 70 anos como era tirar fotografias nos tempos dela. Eu aposto que ela vai dizer que era complicado, que o dia de tirar o “retrato” era sempre bem planejado. Não é para menos. As pessoas tinham que aparecer muito bem arrumadas em um
estúdio, sentar e posar para uma câmera. Quem diria que, anos depois, estaríamos assim, tirando fotos de tudo e todos com a maior facilidade? Mas fica uma dúvida: a facilidade para tirar fotografias tem tirado o seu encantamento? Quem nunca ouviu falar em um aplicativo para iPhone e Android chamado Instagram? Ou até mesmo em outros aplicativos para smartphones que procuram dar valor a fotografia, disponibilizando efeitos e recursos para aperfeiçoar as imagens? Até mesmo quem não possui o moderno celular inteligente, sabe que o que não falta são programas para auxiliar os mais inexperientes fotógrafos ou “quebrar o galho” dos profissionais. As câmeras dos celulares foram evoluindo, e já substituem com maestria até mesmo alguns equipamentos profissionais. Talvez a fotografia tenha perdido um pouco do encantamento de tempos atrás, mas tem se destacado de outras maneiras. As próprias câmeras digitais
Jornal da Manhã Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, disciplina de Redação e Produção de Jornal, turno da manhã, da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga, 6681, prédio 7, Partenon, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: famecos@pucrs.br
são exemplos claros de evolução na área fotográfica. Há alguns anos, ter câmera digital era coisa de gente com mais poder aquisitivo, e três mega pixels já era muito. Hoje, três mega pixels pode chegar a ser uma piada. As câmeras vão se aperfeiçoando, as fotografias vão melhorando e as exigências aumentam. É uma tendência natural. Antes, tirar fotos era um desafio. Não se sabia como a imagem tinha ficado até ela ser revelada. Corria-se até mesmo o risco dela não aparecer, ou do filme inteiro queimar. E é daí que vem a expressão “queimar o filme”. Eu, por exemplo, nunca cheguei a ver as fotos tiradas em uma viagem que fiz para o Rio de Janeiro quando tinha um ano, pois o filme queimou. Agora, é possível ver a foto no instante em que ela é tirada, deletar, tirar uma nova... E seguir esse processo quantas vezes for preciso. O único problema é que a bateria vai ser gasta mais rapidamente, mas isso faz parte. lívia hoffmann
Maria luíza pozzobon
Fanatismo O fanatismo é um mal que assola nossa raça. A ideia de que apenas uma verdade é possível é o que se passa na mente de um fanático, seja religioso, político ou esportivo. Das principais motivações, a mais intrigante é a de cunho esportivo. Quando os muros do centro de treinamento do Palmeiras amanhecem pichados com ameaças de morte ao presidente do clube, sabemos que a linha foi cruzada. O fato de existirem pessoas que vão a tal extremo ao exercer sua “paixão” é fascinante, mas de forma mórbida. Se isso é amor, como os fanáticos dizem, prefiro nunca amar em toda a minha vida. guilherme jaeger
Democracia para abrir os olhos Os cidadãos norte-americanos escolheram seu presidente. Barack Obama, o primeiro negro a dirigir o país, também é o primeiro negro a ser reeleito. Em alguns estados, ele foi eleito pela internet. Em outros, as pessoas votam em papéis. Um costume já abandonado há muito no Brasil, um país “em crescimento”, ainda é presente no primeiro mundo. É por esse e outros motivos que eu acredito no Brasil, cada dia mais. A urna eletrônica permite uma apuração mais rápida e segura dos votos da população. É um grande começo para a melhora do nosso país. Estamos dando um passo para contribuir com as mudanças que tanto queremos.
Vencedor cinco vezes no SET Universitário, duas em Planejamento Gráfico, mais Artigo e Cartum
Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-Reitor: Ir. Evilázio Teixeira Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenador de Jornalismo: Vitor Necchi Professores responsáveis: Tibério Vargas Ramos (redação e edição), Celso Schröder (arte e diagramação) e Élson Sempé Pedroso (fotojornalismo)
Editora-chefe: Bruna Fernanda Suptitz Editor de arte e projeto gráfico: Airan Albino Editora de opinião: Anna Veiga Repórteres e diagramadores: Airan Albino, Anna Veiga, Bárbara Souza, Bruna Cabrera, Bruna Fernanda Suptitz, Camila Foragi, Eduardo Schiefelbein, Gabriela
luiza lorentz Impressão: Gráfica da Epecê/ PUCRS
Brasil, Gabriella Bordasch, Guilherme Jaeger, José Antônio Zanandréa, Juliana Gonzalez, Katherine D’Ávila, Liege Ferreira, Lívia Hoffmann, Luíza Lorentz, Marcel Klein, Maria Carolina Santos, Maria Luíza Pozzobon, Mariana Soares, Mariana Gonzalez, Patrícia Jardim, Rafaela Ely, Regina Albrecht, Rodrigo Morel, Sabrina Simões, Stephanie do Nascimento.
Porto Alegre, dezembro de 2012 3
Jornal da Manhã
sociedade
Vidas cruzadas em Porto Alegre. A rotina de adolescentes presas e de povos indígenas largados nas ruas.
Adolescência roubada na Cruzeiro Confinadas A vida de meninas infratoras do Casef envolvidas em tráfico, homicídio e outros delitos Fotos STEPHANIE NASCIMENTO/JM
t stephanie nascimento Disciplina. A palavra define a vida dentro do Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino (CASEF). Às seis horas da manhã, as adolescentes já devem levantar. Até às sete, passagem dos plantonistas, devem tomar banho e café da manhã. Para as que estão no regime fechado, começam as aulas às oito horas na Escola Tom Jobim, que fica anexa à casa. As atividades se estendem até às 22 horas, quando todas devem estar em seus quartos, prontas para dormir. Essa é a rotina das 27 meninas infratoras internadas no CASEF. Elas vêm de todos os cantos do Estado, já que o Centro é o único feminino do Rio Grande do Sul. A casa, que normalmente acolhe 33 meninas, representa apenas 3% dos mais de 800 adolescentes infratores internados na Fundação de Atendimento Socioeducativo do Estado (FASE). Apesar da casa, localizada na Vila Cruzeiro na Capital, ser protegida apenas por um cadeado na porta principal e por alguns seguranças na parte externa, as regras são bem claras. Elas não
ficam a sós, não falam de seus delitos, não falam do passado. Elas vivem outra vida. Muitas nunca seguiram regras, nunca tiveram disciplina e muito menos limites, talvez por isso quem ali entra, nota o respeito pelas “tias”. A equipe de 59 servidoras, entre elas agentes socioeducadores, assistente social, psicólogas, psiquiatra, dentista, médica
clínica geral, neurologista, nutricionista, se reveza para atender as adolescentes. Entre as atividades pedagógicas, está o estudo. As meninas, além de participarem de várias oficinas e cursos, como de manicure, cabeleireira, informática, artesanato, corte e costura, lavanderia e leitura na biblioteca, completam o ensino
Três fases da pena Quando uma menor infratora chega ao Centro de Atendimento Socioeducativo, a primeira etapa é ficar no Grupo 1 (G1), a internação provisória, até a Justiça definir a medida. O prazo máximo é de 45 dias. Depois, há três opções: seguir para o Grupo 2 (G2), que é o sistema Fechado, chamado Internação Sem Possibilidade de Atividade Externa, a Internação Com Possibilidade de Atividade Externa, onde as meninas podem fazer atividades fora da casa e, por fim, a Semiliberdade, que possibilita estudo e trabalho na comunidade.
fundamental pela manhã, à tarde, e o ensino médio à noite. Com os estudos elas podem seguir uma carreira com maior dignidade e qualificação quando sairem do CASEF. Vidas desfeitas. Vidas consertadas. Assim aconteceu com S, 17 anos. Com sotaque do interior do Estado, ela carrega consigo uma vida de sofrimento, rancor e arrependimento. O olhar envergonhado, as mãos e pernas inquietas, confessa de que depois de mais de um ano no CASEF, teria feito tudo diferente. Acusada de homicídio, viveu toda sua infância e adolescência no meio da violência, das drogas e da negligência. Mãe viciada, pai bandido, padrastos violentos. S começou a usar
craque quando tinha apenas 11 anos. “Eu queria sentir o que minha mãe sentia.” Com os olhos marejados, conta que quando pegou pela primeira vez uma pedra de craque de sua mãe, ouvia apenas os gritos dela, não de preocupação, mas de raiva, por ela ter se apoderado de sua droga. Foi nesse dia que fugiu de casa e começou a se prostituir para sustentar o vício. Depois de tempos morando com um homem mais velho, sexo em troca de um teto para dormir, visitou sua mãe e a viu morrer de overdose nos seus braços. A história de S é uma das muitas que passaram pela casa da Av. Jacuí. Hoje ela tenta olhar apenas para frente. Sem possibilidade de atividade externa, conta com orgulho que o irmão mais velho está construindo uma casinha em outra cidade para que ela comece do zero. Até lá, irá trabalhar em um salão de beleza como cabeleireira, curso que foi proporcionado pelo CASEF. Assim, o sonho de ser veterinária pode um dia se tornar realidade.
Tráfico de drogas, homicídio, roubo, latrocínio. São inúmeros os crimes, mas com um final em comum. Para a coordenadora da semiliberdade, Patrícia Dornelles, nenhuma menina deixa de sofrer mudanças no tempo em que passa no CASEF. “Ninguém entra e sai igual. Elas saem com outra visão do mundo, disciplinadas, educadas e respeitosas.” Por trás de seus papéis profissionais, os socioeducadores também são mães, pais, conselheiros. Ali elas formam uma família e recebem o carinho que muitas vezes nunca tiveram. “Aqui, realmente se faz ressocialização. Elas podem não mudar totalmente, mas internamente mudam”, garante a diretora da casa, Luciana Carvalho. Certificada pelo Conselho Nacional de Justiça devido à qualidade do atendimento, a casa tem se destacado e é referência no Brasil. “O objetivo é mostrar que é possível executar a socioeducação e novas perspectivas a quem não
Povos indígenas jogados nas calçadas de Porto Alegre maria carolina santos/JM
t Maria carolina santos Sentada no chão da Rua dos Andradas, em Porto Alegre, Walli vende cestos de palha e mudas de orquídeas e com o dinheiro alimenta a filha pequena. A situação dos índios na capital gaúcha é preocupante e pouco compreendida. Fora das aldeias, ficam desprotegidos e expostos a uma cultura que pouco a pouco tentam desvendar. Eles buscam, além do valor econômico conseguido com a venda dos artesanatos, um contato maior com a sociedade. Walli chega na rua de manhã e fica até escurecer. O cheiro de urina marca o lugar imundo onde ela se encontra, sentada sob um pano com a filha de seis anos. Ela conta que preferia estar na tribo onde nasceu, mas que o marido quer que ela venha para Porto Alegre em busca de uma renda maior. Na língua indígena, existe uma palavra que define essa ação de troca de culturas: poraró. Ela resume a prática de troca de experiências e valores da sociedade não índia com as comunidades indígenas. O Conselho Estadual
dos Povos Indígenas aponta a 23 mil índios em todo o território gaúcho. Destes, 3.308 estão em Porto Alegre. Na capital são três as principais tribos: Guarani, Kaingang e Charrua. Elas estão espalhadas entre a Lomba do Pinheiro, Redenção e arredores da Rua da Praia. As crianças acompanham
os pais na tentativa de venderem o artesanato aos passantes, mas poucas são as pessoas que param. Os índios saem das tribos com a ideia de que vão conseguir vida melhor nos centros urbanos, porém, isso raramente acontece. Eles acabam expostos aos perigos de uma grande cidade e se distanciam dos
seus costumes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto um cidadão brasileiro não indígena vive em média 74 anos, o índio vive apenas 45. Nas ruas da cidade, sob más condições de higiene, as doenças mais comuns são as infecto-parasitórias, juntamente com
desnutrição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o índice de mortalidade infantil de indígenas brasileiros como alto: 51,4 por mil habitantes, índice acima do restante da população infantil, que é de 30,1 por mil. A falta de políticas públicas e projetos sociais que visem a inclusão dos povos indígenas efetivamente na sociedade faz com que essa parcela da população seja excluída e posta à margem dos interesses públicos. Os proprietário de áreas rurais relutam com a permanência das tribos indígenas nos arredores das terras e isso ocasiona um sentimento de falta de identidade e de pertencimento, um dos motivos pelos quais os índios acabam migrando para as áreas urbanas. O coordenador das instituições da FUNAI do litoral sul do país, Maurício Farias, aponta que nos últimos anos houve uma intensificação no contato dos índios com os moradores. “Eles estão se aproximando, querem ter o que nós temos, querem ter aceso ao dinheiro também, além de conhecer
uma cultura diferente da deles”, aponta. Os índios tentam uma aproximação através da venda de artesanato e plantas em lugares insalubres do centro. A falta de políticas públicas de inclusão, que visem inserir essa parte da população na sociedade, faz com que eles optem por passar os dias sentados no chão do centro da capital, seja durante o inverno ou sob o sol de verão. A FUNAI pretende investir em projetos de regularização fundiária que aumentem o território destinado aos índios, como o perímetro das aldeias da Lomba do Pinheiro e Lami. Eles acreditam que o pouco espaço que os índios têm nas aldeias é um dos vários fatores que os levam a procurar outra fonte de renda, como o artesanato vendido no centro. Os sociólogos que trabalham na FUNAI acreditam que com mais espaço a oferta de alimentos será maior para os índios e eles não vão se sentir sufocados em um espaço pequeno e restrito a um número determinado de habitantes. O apoio ao artesanato indígena deverá
sociedade
4 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
Mulheres assumem o volante Direção Elas saíram da carona e estão tomando conta do trânsito no Estado
GABRIELA BRASIL/JM
t gabriela brasil Elas invadiram as salas de aula, em busca da primeira habilitação. No Centro de Formação de Condutores (CFC) da Zona Norte de Porto Alegre, dos 37 estudantes, 16 são mulheres. Donas de casa, trabalhadoras e meninas que estão na flor da idade decididas a mudarem de assento e assumirem o volante. Essa tendência não se restringe ao CFC da Avenida Baltazar de Oliveira Garcia. As estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS) comprovam o que, nos últimos tempos, já estava evidente: só em Porto Alegre há mais de 240 mil mulheres habilitadas. Em cinco anos, a presença feminina na direção cresceu 27%, contra 11% entre os homens do Rio Grande do Sul. Sobre duas rodas, o aumento foi ainda mais intenso. O número de mulheres motociclistas aumentou 73% entre 2007 e 2011, mais do que o triplo do índice masculino. “Mulher no volante, perigo constante!”, “Mulher só atrapalha o trânsito”, “Só podia ser uma mulher...”. Xingamentos são o que não faltam para as motoristas. Aquelas que dirigem com frequência devem se acostumar com o fato de que o preconceito de gênero existe também no trânsito. Professora de autoescola há oito anos, Ângela Marques, de 43, afirma que as mulheres nunca foram tão ruins assim. “Desde a infância, os meninos são incentivados a gostar de carros e motos e, consequentemente, começam a dirigir mais cedo. É uma forma de serem
Regina Albrecht
Alunos criam barco No Rio Grande do Sul, o número de mulheres na condução dos veículos aumentou quase 30% nos últimos cinco anos mais masculinos. A questão é que nós somos calmas e preferimos a atenção à velocidade. Esse perfil mais sereno normalmente irrita os homens”, destaca. No entanto, a instrutora admite que, durante as aulas, eles sabem, falam e, aparentemente, compreendem os conteúdos com mais facilidade. “Mas sabe que, na maioria das vezes, as meninas tiram as notas mais altas na prova teórica?”, completa com risos. Salto e maquiagem andam juntos com organização, os acessórios e a limpeza que compõem o interior do carro. Sempre atenta, a empresária Tatiane Firenze dirige há pouco mais de dez anos e nunca sofreu durante as “manobras” realizadas diariamente pelas ruas da cidade. “Diversas
mil metros quadrados em um terreno cedido pela Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov). O serviço oferecido por intermédio da Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda) inclui procedimentos de baixa a alta complexidade, inclusive para animais vítimas de maus tratos, atropelamentos e outros transtornos. Na capital paulista, a Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos
maria luiza pozzobon/JM
A partir de 2013, Porto Alegre abrigará o primeiro hospital público para animais de estimação do Brasil. Em uma parceria da prefeitura com a iniciativa privada, o prédio será financiado pela empresa Nova Vicenza Negócios e Participações, e doado totalmente equipado ao município. Chamado de Vitória, o empreendimento ficará no bairro Jardim Botânico, com área de 1,1
As mortes nas madrugadas da região metropolitana de São Paulo vêm se tornando comum neste final de ano. De outubro até metade de novembro ao menos 200 pessoas morreram, numa média de 10,6 mortes diárias. Em um recorde negativo, a cidade registrou 31 mortes no final de semana do dia 10 de novembro, o mais violento desde que a onda de crimes começou. No dia 12 de novembro, o governador Geraldo Alckmin assinou um acordo com medidas
vezes, estando visivelmente fatais. Desses, 337 pertencem correta, tive que ouvir ao gênero feminino e 1.193 homens me xingando pelos ao masculino. Ou seja, os erros deles! Parece que homens representam quase é um insulto existir uma 80% do total de vítimas. mulher no volante. Fora Não é à toa que o que, se algum seguro dos No trânsito, h o m e m automóveis é homens morrem p e r c e b e q u e u m a sete vezes mais do moça pede que as mulheres passagem na via, ele provavelmente vai persegui- sensivelmente menor para la até conseguir ultrapassar e a q u e l a s q u e , s e g u n d o se sentir vingado”, desabafa o sexo oposto, só sabem a proprietária de um salão pilotar fogão. De acordo de beleza. com seguradoras da capital, A c o m p e t ê n c i a d a s o cálculo do preço desse mulheres na condução serviço envolve uma série de dos veículos não é opinião informações: desde aspectos baseada, somente, em suas do veículo até características experiências. Os dados dos condutores. Para os do Detran/RS também seguros, o melhor perfil é o evidenciam a “destreza” das mulheres. Se for casada, delas: até setembro desse com mais de 40 anos de ano, 1.531 indivíduos se idade e com filhos, menos envolveram em acidentes dói no bolso. Do outro lado,
os motoristas homens de até 25 anos. Pela inexperiência, são esses que apresentam maior risco. O diferencial feminino é poupar vidas. De cada 100 mil motoristas homens, 34,5 morreram na direção no ano passado. Para cada 100 mil mulheres, as mortes foram 5,1 – sete vezes menor. Até mesmo nas motos, consideradas perigosas por muitos, as mulheres mostram que é possível transitar com segurança. Apesar de representarem 15% dos habilitados, as motociclistas são só 3% dos que morrem em duas rodas. Nas salas da autoescola, boa parte das meninas já passou dos 30. A história se repete: “Eu sempre fiquei no lugar do carona e meu marido assumia a direção”, relata uma das alunas. Agora, elas cuidam do veículo, levam e
Porto Alegre terá hospital público para animais t Maria luíza pozzobon
Mortes em São Paulo
Cuidados evitam a transmissão de doenças aos humanos
Animais criou uma instituição para atender casos de menor gravidade, mas não nos mesmo padrão do projetado em Porto Alegre. Na cidade gaúcha, o projeto conta com a parceria do Sindicato dos Médicos Veterinários e do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado. Conforme declarações da primeira-dama Regina Becker, voluntária da Seda, a prioridade do atendimento gratuito será para animais de famílias em situação de vulnerabilidade social, com renda de até três salários mínimos. Estão previstos quatro blocos cirúrgicos, duas salas de preparação, uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e uma sala de recuperação compartimentada para evitar estresse de animais em observação. Estruturas de triagem, quarentena e 120 baias para cães e gatos que permanecerem hospitalizados serão viabilizadas. Para suprir a demanda estimada em 100 atendimentos por dia, a prefeitura visa à realização de concursos públicos para veterinários no início do próximo ano. As obras
deverão ser iniciadas no final de 2012 e a conclusão está estimada para dez meses. Questão de saúde pública Superlotação em hospitais, falta de médicos, horas – e até meses – para agendar consultas ou marcar exames gratuitos. Quando o assunto é saúde, mesmo com um sistema diferenciado de atendimento sem custos, a população brasileira enfrenta dificuldades. Com tantas adversidades para pessoas, há quem questione a construção de um setor que invista em bichos. Para o médico Clóvis Campos, a situação é mais delicada do que parece. “É preciso esclarecer que animais, mesmo os domésticos, podem transmitir sérias doenças ao ser humano caso não sejam tomados os cuidados necessários”, afirma. As principais zoonoses que atingem o homem são as micoses, sarna, raiva, leptospirose, toxoplasmose e bicho geográfico. Perturbações causadas por elas como lesões na pele, alergias, febre, dores no corpo e na cabeça, insônia, perda de apetite, diarreia, alterações no fígado,
infecções, entre outras, podem afetar o bem-estar de qualquer pessoa. Para a relação ser saudável tanto para os donos quanto para os pets, é preciso adotar algumas precauções. Vacinação periódica, combate às verminoses através de medicações orientadas, higienização dos locais onde se alimentam e dormem, recolhimento de dejetos e evitar contato da saliva dos animais próximo aos lábios, nariz e olhos são essenciais, de acordo com Campos. “É fundamental que ocorram visitas periódicas dos bichos de estimação ao médico veterinário, mesmo que não apresentem nenhum sintoma aparente”, defende. Conforme dados divulgados pela prefeitura de Porto Alegre, a cada um real investido na causa animal, são R$26,00 que o governo economizará em saúde pública. Cuidar das condições destes “membros da família” de tanta gente, principalmente as com menor poder aquisitivo, é um fato positivo à sociedade, segundo a veterinária Simone Porto. “Aqueles animais que não reproduzirão devem ser castrados ainda filhotes,
O barco Ópera, construído por alunos carentes da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), finalmente pode ser lançado às águas. Dez estudantes do projeto Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar) são os responsáveis pelo feito. O bote tem oito metros de comprimento e velas tradicionais. A orientação foi do professor José Vernetti. Segundo o diretor do CCMar, Lauro Barcellos, trata-se de um barco seguro, tradicional e bem construído. O CCMar atende a jovens entre 14 e 17 anos em situação de vulnerabilidade social, Guilherme Jaeger
POA é sede bem cotada A capital gaúcha é a melhor cidade-sede da próxima Copa do Mundo, com uma transparência considerada média. O Instituto Ethos apresentou um levantamento no qual avaliou o nível de transparência dos investimentos para a Copa de 2014, que será realizada no Brasil. Das 12 cidades envolvidas no levantamento, 10 foram classificadas como tendo uma transparência “muito baixa”. A segunda cidadesede mais bem cotada, de acordo com a pesquisa, é Belo Horizonte. As duas Lívia Hoffmann
Casos de AIDS no RS O Rio Grande do Sul e Porto Alegre continuam sendo líderes no ranking de casos de Aids no Brasil. O sul concentra 23% dos casos. Depois de dois anos consecutivos de queda, a taxa de incidência da doença voltou a subir no estado. Apesar da redução na capital gaúcha, a taxa é de 95,3 casos para cada 100 mil habitantes. O segundo do ranking é Roraima (26/100 mil), seguido por Santa Catarina (23,5/100 mil). Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde e elaborados pela Secretaria de Vigilância em Saúde. Stephanie Nascimento
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Jornal da Manhã
vAlor
A consciência ambiental e a preocupação com a sustentabilidade é cada vez mais comum no Brasil. Ao mesmo tempo, o descaso com a educação preocupa. AIRAN ALBINO/JM
Economia em alta, educação em baixa t mariana soares
Telhados verdes, como o do espaço do Theatro São Pedro, são opções ecológicas presentes em diversos prédios
Construções sustentáveis trazem benefícios ao País Ambiente Economia gerada nestes empreendimentos pode chegar a 40%
t Anna veiga A preocupação com o meio ambiente e a busca por soluções para as constantes agressões que o planeta sofre estão ganhando cada vez mais espaço no Brasil. Neste ano de 2012, além de sediar a Rio + 20, o País obteve uma importante conquista relacionada ao tema: está em quarto lugar no ranking mundial de construções sustentáveis, segundo estudo realizado pelo órgão internacional Green Building Council (USGBC), ficando atrás dos Estados Unidos, da China e dos Emirados Árabes. O primeiro prédio sustentável brasileiro foi construído no ano de 2004, mas foi em 2007 que esta prática começou a crescer. Até abril deste ano, o Brasil já havia registrado 526 empreendimentos sustentáveis, dos quais 52 já foram certificados pela USGBC, números que provam uma crescente conscientização quanto à importância de se pensar em projetos ecologicamente corretos. Uma das principais características dos prédios construídos a partir de métodos sustentáveis é o telhado verde, ou ecotelhado. Este tipo de arquitetura consiste em um jardim suspenso, que pode ser instalado em coberturas de prédios e em telhados convencionais. Entre os benefícios gerados ao meio ambiente por projeto, estão o aumento da biodiversidade, a limpeza da água pluvial e a redução da poluição do ar pela captação de carbono. Os proprietários do edifício também saem ganhando, uma vez que o ecotelhado proporciona conforto térmico e acústico aos ambientes internos e contribui para a
maior durabilidade do prédio. O que muitas pessoas não sabem é que as construções sustentáveis, além de serem benéficas ao meio ambiente, também são mais econômicas. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), fundado em 2007, apenas com a adoção de práticas mais sustentáveis na área da construção civil é possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e de água. Para o engenheiro e gerente de Projetos da EDS Engenharia, Giancarlo Bonotto, apesar de este tipo de obra exigir um investimento inicial maior,
a longo prazo proporcionará uma redução significativa de custos fixos, como energia elétrica, água e tratamento de esgoto. “Isso sem contar as vantagens sociais e legais, pois este tipo de construção ainda melhora a imagem da empresa perante a sociedade, facilitando o processo de licenciamento ambiental”, completa o engenheiro. Bonotto ressalta que a construção sustentável é indicada para qualquer tipo de projeto, desde o residencial ao comercial e industrial: “Tecnicamente, todos os empreendimentos podem aplicar este conceito,
que deve ser concebido preferencialmente para projetos que se encontrem na fase de concepção, pois possibilita uma implantação mais eficiente dos métodos de construção verde”. Mas isso não impede que uma construção comum já concluída torne-se mais sustentável. Neste caso o engenheiro recomenda a aquisição de equipamentos energeticamente eficientes, reaproveitamento de águas pluviais, otimização da incidência da radiação solar na iluminação de interiores, manejo dos resíduos sólidos gerados, aproveitamento
Lancheria aposta em projeto consciente Pensando em todos os benefícios proporcionados por projetos sustentáveis, a chefe de cozinha Flora Cadore, junto de seu irmão e um sócio, planejou o Mascavo, uma casa de sucos e lanches localizada no coração da Cidade Baixa, em Porto Alegre. Ela observa que a região tinha carência de uma proposta mais saudável. Por isso, resolveu criar um restaurante diferenciado, que oferecesse opções de pratos para todos os gostos, inclusive
com versões para vegetarianos e veganos, com grande parte dos produtos vindos da agricultura familiar e orgânica. “Já que tínhamos essa ideia de proporcionar uma alimentação mais saudável para o público, pensamos: por que não fazê-la em um ambiente que também seja sustentável?”, explica Flora. O projeto, desenvolvido em uma edificação antiga e de patrimônio histórico que praticamente não teve a AIRAN ALBINO/JM
Decoração do estabelecimento é feita de materiais reutilizados
estrutura original alterada, conta com captação da água da chuva (que é reutilizada nas descargas ou para lavar o chão), iluminação de LED e bicicletário - e quem vai ao local de bicicleta, ganha desconto. Durante o dia, não é necessária a utilização de energia elétrica, pois o local favorece a entrada da luz do sol. Grande parte dos objetos decorativos são feitos de material reutilizado. A madeira retirada do chão durante a reforma da casa foi transformada em duas mesas e garrafas de vidro foram aproveitadas como luminárias. O restaurante foi inaugurado em fevereiro deste ano e já possui boa aceitação. Flora confessa que, no início, tinha medo de que a proposta não agradasse muito, mas o que aconteceu foi justamente o contrário. As pessoas se interessam pela decoração e perguntam como o projeto foi desenvolvido. “E se formos parar pra pensar, o que fazemos não é nada de mais e é muito possível de ser feito”, conclui a
educação dos alunos: os pais. A coordenadora pedagógica O Brasil é um país que d a e s c o l a , A d r i a n a cresce e gera emprego Schneider, acredita que este e renda, mas ainda tem incentivo é fundamental. dificuldades para superar “O envolvimento da família uma barreira: o desempenho e o comprometimento dos m o d e s t o n a e d u c a ç ã o . pais na vida escolar dos Entre 127 países, o Brasil filhos é o que faz a diferença ocupa a 88ª posição em n o a p r e n d i z a d o e n o u m r a n k i n g e l a b o r a d o crescimento deles”, acredita. p e l a U n i t e d N a t i o n s A Escola Julio Grau possui Educational, Scientific mil alunos e 50 professores. and Cultural Organization Já na parte inferior do ( U n e s c o ) q u e m e d e a ranking municipal, está a qualidade da educação. O Escola Estadual de Ensino desenvolvimento do país Fundamental Marechal nessa área é considerado de Mallet. Com 290 alunos e 19 nível médio, porém ainda professores, a escola obteve está atrás de países como a menor nota na prova Argentina, do governo “Deveríamos Chile e Bolívia. federal. Para a O Brasil é destinar 10% do vice-diretora a 6ª economia l á u d i a PIB em educação. C mundial e o Ohlweiler, ter Hoje, usamos a o resultado foi Rio Grande do Sul ocupa uma surpresa metade.” o 4º lugar para todos. dos estados mais ricos do Porém, ela acredita que foi País. Ainda assim, deixa a um empurrão para novos desejar na educação. Para desafios. “Depois deste o especialista em gestão resultado, resolvemos rever escolar, José Paulo da todos os nossos projetos Rosa, precisamos escolher e implantar oficinas e a educação como prioridade. atividades educativas que “Recursos existem e a carga fujam da decoreba e dos tributária do Brasil está temas de casa”, disse a no nível de países mais docente. Foi então que a desenvolvidos. O plano escola criou campeonatos de nacional de educação prevê jogo da memória, soletrando que nós passemos a utilizar e o f i c i n a s d e m ú s i c a . 10% do PIB em educação. “Desta forma, acredito que Hoje, usamos cerca de estejamos incentivando os 5,1% do PIB para esse fim”, estudos de forma divertida, afirma. o que torna o aprendizado Segundo a Fundação mais rápido e fácil”, afirma de Economia e Estatística Cláudia. (FEE), a partir de 2010, a O Rio Grande do Sul economia gaúcha voltou a possui mais de 2,2 milhões ter um bom desempenho, d e p e s s o a s e m i d a d e com ritmo comparável escolar, mas pouco mais da ao da China. Contudo, o metade conclui os estudos. resultado do Índice de O estado é líder nacional D e s e n v o l v i m e n t o d a em repetência no ensino Educação Básica (IDEB) no Melhores Escolas da estado piorou. No ensino capital (5ª Série) médio a nota caiu de 3,9, em 2009, para 3,7, em 2011. No Esc. Est. de Ens. Médio Exame Nacional de Ensino Professor Júlio Grau – 7.0 Médio (ENEM), mais uma Esc. Est. de Ens.Fund. queda de desempenho. Uruguai – 6.5 O estado, que já foi líder Centro Est. General Flores na prova, caiu para a 4ª da Cunha – 6.4 colocação. Em Porto Alegre, a Piores Escolas da Escola Estadual de Ensino capital (5ª Série) Médio Julio Grau obteve o melhor desempenho. Esc. Est. de Ens. Fund. Para a coordenação, não foi Salgado Filho – 2.9 nenhuma surpresa, visto Esc. Est. de Ens. Fund. que a instituição já tem Espírito Santo – 2.9 tradição em obter bons Esc. Est. de Ens.Fund. resultados nas avaliações. Marechal Mallet – 2.8 Os professores possuem um grande aliado para a Mariana soares/JM
A disparidade entre economia e educação é alta no país
VaLOR
6 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
Oportunidades para colocar ideias em prática
luiza lorentz/jM
Empreendedorismo Organizações
internacionais incentivam criatividade na escola t luiza lorentz Acreditar em uma ideia ou administrar uma empresa. Não é fácil definir qual delas caracteriza melhor o papel de um empreendedor na sociedade. Cada vez mais presente no cotidiano, especialistas da área dos negócios garantem que não existe idade para começar a empreender. Porto Alegre, assim como outras cidades do mundo, recebe duas iniciativas que contribuem e disseminam esse espírito, seja a partir da escola ou simplesmente com uma contribuição em dinheiro. O importante é que os participantes não desistam de si mesmos. Uma delas foi criada em 1919 nos Estados Unidos e hoje se encontra disseminada pelo mundo. Presente em mais de cem países, Porto Alegre é uma das cidades brasileiras que recebem a organização Junior Achievement, que beneficia sete milhões
de adolescente por ano e cujo objetivo é despertar o espírito empreendedor dos jovens. Daniel Fernandes, diretor-executivo da organização no Rio Grande do Sul, explica que a vontade dos adolescentes de colocar em prática uma certa ideia não é garantia de que isso realmente vá acontecer. Para tentar diminuir a distância entre o sonho e a realidade, o Programa Miniempresa da Junior Achievement desafia os estudantes a montarem um negócio, ainda no ensino médio. Auxiliados por funcionários de empresas privadas que mantêm a organização, os adolescentes devem tomar conta desde a escolha do nome, passando pela definição dos cargos de administração e até mesmo o preço do produto. Tudo é de responsabilidade deles. O objetivo da Junior Achievement com esse projeto vai muito além de despertar o espírito empreendedor dos jovens.
O que se quer mesmo é fazer com que cada participante se responsabilize por seus atos, fazendo-o acreditar que a sua iniciativa pode e deve fazer a diferença. “Os jovens têm muito potencial adormecido, e eles precisam de um estímulo externo para acreditar em si mesmos”, explica Fernandes. Na situação fictícia, o investimento inicial é originado a partir de um determinado número de ações, vendidas pelos alunos para qualquer pessoa que queira contribuir. Depois, é trabalhar para que a produção possa originar lucro. Mas na vida real não é bem assim. Nem sempre é fácil saber de onde tirar o dinheiro necessário quando se quer realizar um projeto. Esse é o papel desenvolvido por um grupo de pessoas através da Awesome Fundation, que chegou à capital gaúcha em agosto de 2012. Também atuante em diversas cidades do
Alunos da Escola Irmão Pedro integram o projeto miniempresa da Junior Achievement mundo, a fundação propõe uma parceria tentadora aos detentores de boas ideias: são oferecidos mil reais para tirá-las do papel e colocá-las em prática. Essa é a proposta dos dez jovens que integram a equipe, que depositam dez reais cada em uma conta bancária para apostar em sugestões enviadas pelo público através do site do grupo. “Nós queremos fomentar a economia criativa
Brasil contra o tabaco preocupa os pequenos produtores rurais t Maria carolina santos O Brasil é um dos países na linha de frente no combate ao fumo. A diminuição do número de fumantes é uma meta do governo para combater as mais de 50 doenças conhecidas relacionadas ao uso do tabaco. O país deu um grande passo em direção às expectativas mundiais de diminuir o número de fumantes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) há 24,6 milhões de fumantes no país. A proporção caiu de 16.2% para 15.1% da população em 20 anos. De 15 a 17 de novembro aconteceu a 5ª Conferência das Partes (COP5), na Coreia do Sul, que teve como principal objetivo unir os países que, diante dos malefícios do tabaco, estão preocupados com a população de fumantes. Como forma de impor sua posição contrária ao fumo, o governo federal sancionou uma lei que proibe a venda de cigarros mentolados e aromatizados. O prazo da extinção deste produto é setembro de 2013, quando as empresas e revendedoras devem tirar de circulação os cigarros com substâncias que mudem o gosto ou cheiro do produto. A intenção é evitar a adesão de jovens fumantes que procuram o
MARIA CAROLINA SANTOS/jm
Luiz está ansioso com o futuro dos pequenos produtores cigarro com sabor devido é a falta de alternativas a o g o s t o a t e n u a d o d o igualmente rentáveis para tabaco, mascarado atrás de que a mudança do plantio substâncias como menta, seja feita. Luiz da Silva canela ou cereja. Medeiros nasceu em Santa No Rio Grande do Sul Cruz, no norte do estado. estão localizadas as duas Ele mostra consciência da m a i o r e s i n d ú s t r i a s d e importância da nova lei cigarro do país, a Souza para as gerações mais novas Cruz e a Philip Morris, que que são conquistadas pelos já esperam diminuir os aromas e gostos diferentes lucros com a que acabam medida. Não há alternativas induzindo e N a estimulado o igualmente contramão vício na vida rentáveis à da iniciativa, adulta. “Quem e s t ã o o s plantação de fumo vai perder de produtores verdade são de tabaco. Eles se dizem os pequenos produtores e desamparados pelo governo, não as grandes empresas”, pois estão sendo obrigados afirma. a diversificar o plantio com A plantação de tabaco lucratividade. é herança na família do Uma das críticas quanto pequeno produtor Marcos à posição dura do governo Aníbal dos Santos. Ele é contra a indústria do fumo a t e r c e i r a g e r a ç ã o d e
produtores e, junto com a esposa, tira do plantio toda a renda anual da família. “Ninguém sugere alternativas para que a gente consiga algo igualmente rentável e com essa tendência da diminuição do consumo do tabaco tenho medo de como será o futuro”, reclama. “A consciência do brasileiro está mudando”, afirma o pneumologista Bruno Boff. As pessoas se preocupam com o grande número de doenças causadas pelo uso do tabaco e muitas largam o cigarro devido a problemas, como o enfisema pulmonar. “Quem já fuma tenta parar e quem não fuma quer distância”. A maior parte das doenças pulmonares são causadas pelo cigarro e ainda há fumantes em excesso no Brasil. “Apesar disso acredito que a sociedade vai lutar cada vez mais pela vontade e pelo direito de viver de uma maneira mais saudável e por mais tempo”, aponta. A participação do país na Conferência das Partes fortifica as campanhas nacionais e internacionais contra o fumo no país. Ao mesmo tempo que isso é uma tentativa de melhorar a saúde dos brasileiros, a situação dos pequenos produtores deve ser avaliada pelo governo, a fim de não prejudicar esse ramo da
e mostrar que é possível fazer projetos fantásticos com pouco valor”, explica Tomás de Lara, um dos fundadores da Awesome Fundation Porto Alegre. Lara assegura que toda sugestão é bem-vinda e pode surgir de pessoas de qualquer faixa etária. Para os integrantes da fundação, o que importa é que a proposta seja nova, tenha um estilo inovador de fazer
algo e gere projetos de valor compartilhado. O que mais conta, para eles, é ter uma atitude que beneficie o maior número de pessoas possível com o mínimo de dinheiro investido. Financeiramente, eles não obtêm nenhum lucro em cima dos projetos desenvolvidos, mas, como bons empreendedores que são, aproveitam para ampliar a rede de contatos. A partir de parcerias é
Voluntários avaliam educação brasileira t josé zanandréa O principal objetivo de estudantes estrangeiros que vêm a Porto Alegre para realizar trabalho voluntário em escolas públicas é tornar conhecidas as tradições da América Latina. Aulas de empreendedorismo e responsabilidade social também fazem parte do cronograma. Quando entram na sala de aula, contudo, evidenciam a carência no aprendizado dos alunos do ensino fundamental. Da pequena Linares, a chilena Francisca Lagos desembarcou no estado e conheceu a realidade dos colégios. “Não sei se minhas palestras vão melhorar o nível educacional das crianças, mas pretendo mostrar a eles coisas que jamais veriam”, conta a voluntária. É com esse propósito que a estudante desenvolve seu trabalho no programa EduAction. Como a ideia do projeto é o intercâmbio cultural, os participantes são estrangeiros. Brasileiros lecionam na Colômbia, colombianos no Uruguai, uruguaios na Bolívia e assim por diante. Alguns europeus também fazem parte do grupo. Os “niños da Fran”, como a intercambista costuma chamar os alunos, não conhecem mais do que o bairro onde moram e inserilos em tradições diversas resulta numa maneira
diferente de ver a vida. “Na minha equipe de trabalho tinha uma japonesa, e uma das crianças perguntou para ela se tinha viajado de foguete para o Brasil. Para ela, era muito estranho ver uma asiática na aula”, espanta-se Francisca. Na visão do economista Flávio Falcetta, apesar da taxa de analfabetismo ter diminuído de 13,6% para 9,6%, entre a população com 15 anos ou mais, segundo o Censo Demográfico de 2010, o g ig ant e latino segue sem destinar recursos compatíveis com as necessidades da pasta, apesar da alta arrecadação tributária. Para o intercambista argentino Lucas Santiago, o governo precisa copiar o modelo dos vizinhos para proporcionar educação de qualidade. “Esse déficit parece ser resultado de uma série de fatores que vão desde professores com formação falha, alunos descompromissados e falta de turno integral. Esse modelo existe na Argentina”. O Colégio Júlio de Castilhos, que foi até meados dos anos 70 um dos melhores do estado, hoje está sucateado. Professor do Instituto Educacional do Rio Grande do Sul, Marcos Hübner reitera o compromisso que deve ser assumido pela equipe econômica federal, que não prioriza o sistema educacional, pois a permanência no
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Jornal da Manhã
POLÍTICA
Eleições no mundo marcam o ano de 2012. Estados Unidos reelege Barack Obama. No Brasil, municípios definiram prefeitos e vereadores para os próximos quatro anos.
Estados Unidos pedem bis a Barack Obama CHRISTOPHER DILTS/divulgação
t marcel klein Mesmo com o desgaste de seu primeiro mandato, que sofreu com a crise econômica, Barack Hussein Obama, 51 anos, derrotou o candidato republicano Mitt Romney e conseguiu estender a sua jornada na Casa Branca por mais quatro anos. No seu discurso da vitória, Obama afirma que volta mais determinado e inspirado para o seu segundo mandato, ressaltando que o melhor ainda está por vir. A eleição de Obama bateu recorde nas redes sociais. Logo após a confirmação da vitória, na página do presidente no facebook, uma foto dele abraçado a esposa Michelle com os dizeres “four more years”, mais quatro anos em português, teve 4,4 milhões de curtidas e mais de 580 mil compartilhamentos: é a foto mais curtida de todos
Barack Obama comemora a reeleição para a presidência americana ao lado da família os tempos. Em sua fala após ser confirmada a vitória, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos apareceu para a multidão em Chicago no quartel-general
Fortunati fica na prefeitura por mais quatro anos t bruna fernanda suptitz Prestes a assumir o seu primeiro mandato como prefeito eleito de Porto Alegre, o novo desafio a ser enfrentado por José Fortunati é compor a equipe que o ajudará a comandar a prefeitura. Eleito no primeiro turno com 65% dos votos válidos, maior percentual entre as capitais, Fortunati atribui ao trabalho da equipe envolvida na campanha o sucesso que obteve nas urnas. “Também pude mostrar à população que não havia abandonado a cidade para concorrer, e isso exigiu de mim trabalho dobrado”, comenta. A administração municipal está segmentada em secretarias, autarquias, departamentos e coordenadorias. Ao todo 39 nomes podem compor este
escalão e as pastas serão distribuídas entre os nove partidos aliados da coligação vencedora. Fortunati não descarta a hipótese de que aconteça uma renovação e sustenta a ideia de que os bons trabalhos sejam mantidos. “Eu não tirarei um bom secretário de onde ele esteja desempenhando um bom trabalho. Mas ao contrário, se ele estiver com dificuldade de conduzir as demandas, então iremos substituí-lo”, ressalta. Uma possibilidade é unificar lideranças de diferentes partidos na mesma área de atuação, para realizarem o trabalho de maneira colaborativa e para que um seja fiscalizador das ações do outro. Nenhum nome foi confirmado até agora, e a novidade fica por conta do desmembramento da Secretaria Municipal
PSB elege o maior número de prefeitos nas capitais t rodrigo morel Mais de 140 milhões de pessoas compareceram às urnas em todo o Brasil no dia 7 de outubro. No Rio Grande do Sul foram mais de 8 milhões de eleitores nos dois turnos das eleições municipais. O número negativo ficou com conta das abstenções. No primeiro turno, 16,4% dos eleitores não votaram em todo o país e, no segundo turno, 19,11%. O número só é menor do que nas eleições de 1996, a primeira totalmente informatizada no país, quando o índice chegou a 19,4%. O Partido dos Trabalhadores elegeu o maior número de prefeitos nas maiores cidades do Brasil (com mais de 200 mil eleitores). O PT comandará 16 prefeituras de grande porte. Nas capitais, o PSB
elegeu mais prefeitos: cinco. Quatro capitais reelegeram seus prefeitos. Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, Marcio Lacerda, em Belo Horizonte, Paulo Garcia, em Goiânia, e José Fortunati em Porto Alegre. A grande surpresa do cenário político brasileiro ficou por conta de Fenando Haddad, candidato pelo PT à prefeitura de São Paulo. Apontado como terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, Haddad conseguiu chegar ao segundo turno. A participação do ex-presidente Lula na campanha é apontada como decisiva para o resultado. O petista derrotou o PSDB de José Serra com mais de 600 mil votos de diferença. Nas Câmaras Municipais, 45% dos vereadores conseguiram a reeleição. No Rio de Janeiro, esse número sobe para 60,7%. Na divisão
de sua campanha ao lado da mulher e das duas filhas. O democrata se declarou para a primeira-dama Michelle Obama. “Nunca te amei tanto”, disse o 44º presidente dos Estados Unidos.
Nos números gerais, Obama teve mais de 62 milhões de votos do povo americano, o que representa 51% dos votos válidos da eleição. Romney teve pouco mais de 59 milhões
de votos. Nos colégios eleitorais, que pode decidir a eleição independente da escolha popular, o candidato democrata conseguiu 322 votos contra 206 de Romney. O mínimo para vencer era 270 votos. No Senado, os democratas também venceram e adquiraram maior representatividade com 53 cadeiras, contra 35 dos republicanos. Entretanto, na Câmara dos Deputados a vantagem é dos republicanos que elegeram 233 representantes frente a 195 democratas. Além de Obama, os democratas fizeram história ao elegerem a primeira senadora lésbica assumida dos Estados Unidos. Tammy Baldwin foi eleita em Wisconsin, derrotando o ex-governador Tommy Thompson. A eleição também é marcada pelo número recorde de mulheres eleitas no Senado. Cinco
Escândalo abala país Um caso extraconjugal sacudiu as forças armadas dos EUA. O diretor da Central Intelligence Agency (CIA), general David Petraeus, de 60 anos, renunciou três dias após a reeleição de Obama. Em comunicado, Patraeus revelou ter uma relação fora do casamento e classificou seu comportamento como “inaceitável”. O caso teve novos desdobramentos quando outro general destacado do Exército Americano, John Allen, foi envolvido. Allen está sendo investigado pelo FBI por suposto envolvimento com Jill Kelley, amiga de Petraeus, que o acompanhou em operações no Afeganistão. Devido ao escândalo, o presidente Obama suspendeu a nomeação do general para o comando das forças americanas na
Eleição Candidato a prefeito mais jovem do Estado tem 21 anos
Dom Pedrito teve uma disputa de gerações REGINA ALBRECHT/JM
t regina albrecht Em Dom Pedrito, cidade distante 442 km de Porto Alegre, tradicional por sua história e seus costumes, teve, entre os 1.166 candidatos a prefeito, o mais jovem do Rio Grande do Sul. Com apenas 21 anos, Mário Augusto de Freire Gonçalves (PP), disputou o executivo municipal com Lídio Dalla Nora Bastos (PMDB), de 66 anos. Localizada na região da campanha, a cidade possui 38.898 habitantes, de acordo com Censo 2010 do IBGE. É conhecida como a Capital da Paz, por ter sido o local onde ocorreram as tratativas para a pacificação do Rio Grande, que pôs fim a Revolução Farroupilha. O município possui hoje um monumento chamado de Obelisco da Paz. Nas eleições deste ano, Dom Pedrito contava com duas coligações: Aliança Dom Pedrito Muito Mais e União Democrática, Trabalhista e Popular. Durante toda eleição a cidade esteve dividida. Uns acreditavam que o “guri” de 21 anos ganharia. Outros pensavam que a experiência prevaleceria. A experiência superou a preferência nas urnas, mas os números comprovaram que a população estava repartida: Mário Augusto teve 10.021 votos (43,64%) e Lídio Bastos, 12.941 (56,36%). Enquanto o PMDB escolheu para concorrer um ex-prefeito com mais de 60 anos, o PP, considerado um partido conservador, foi o mais ousado na campanha. Lançou como candidato um jovem que havia estagiado no gabinete do então
Candidato de 21 anos era conhecido como “o guri” deputado estadual Jerônimo Georgen no ano de 2008 e coordenou sua campanha a deputado federal na região da Fronteira em 2010. No ano de 2011, Mário Augusto se mudou para Brasília e ocupou o cargo de assessor parlamentar do deputado, mesmo sem ter antes atuado diretamente na política. O fator decisivo para isso foi uma visita do atual prefeito de Dom Pedrito, Francisco Alves Dias, à Câmara em Brasília, conhecendo de perto o trabalho de Mário Augusto e vendo nele condições para se candidatar ao cargo do executivo. Para Mario Augusto, a idade não foi problema. Muitos diziam que a cidade estava dividida em gerações. Ele discorda: “Eu fiz de tudo pra unir gerações e sei que o outro lado também fez. E por isso o meu respeito. As gerações se encontravam em torno de um ideal. Eu não tinha toda juventude e nem toda a terceira idade comigo, mas tinha pessoas de todas as faixas etárias que acreditavam nas minhas
propostas”. Mário Augusto diz que, de certa forma, pagou por sonhar muito jovem, por ter coragem e por fazer parte de um partido que acreditou no seu potencial. Lídio Bastos, prefeito do município entre 1993 e 1996, volta à Prefeitura em 1º de janeiro de 2013, e declara que não houve preconceito algum em relação ao seu adversário. “Foi uma disputa de dois seres humanos e não houve distinção de gerações”, mas Lídio reconhece que sua experiência lhe favoreceu, já que o outro candidato “nunca fez nada por Dom Pedrito”. Durante três meses de campanha eleitoral, a população presenciou ataques aos adversários, brigas e boatos. Foi uma das mais acirradas disputas em Dom Pedrito. Para Mário Augusto, o sonho vai ser adiado. “Eu quero ser prefeito de Dom Pedrito. E vou ser. Mas antes de tudo, eu quero o melhor para Dom Pedrito, pois meu projeto
é para a cidade, não é um projeto pessoal”. Agora, Lídio Bastos tem como seu principal projeto a saúde, com a criação de uma farmácia popular junto ao pronto socorro municipal. Não esquecendo da pavimentação que, segundo ele, deixa muito a desejar, nem da habitação e do saneamento básico. Mário Augusto deseja que o próximo cenário político faça o melhor pela cidade. “Eu espero que Dom Pedrito tenha vencido com essas eleições. Eu fiz o possível para que isso acontecesse”, acredita. Mário Augusto encarou a derrota de cabeça em pé. Com o apoio constante de grande parte da população, continua sendo um verdadeiro político. Foi parabenizado em todos os locais por onde passava. Sua coligação teve como vereador eleito Douglas Peralta da Silva, do PSDB, também com 21 anos. Em sua primeira candidatura, Silva conquistou 416 votos, e é visto por Mário Augusto e por muitas pessoas como o futuro vereador que vai mostrar para a população que um jovem pode, sim, fazer muito pela cidade e pela política. Mário Augusto teve o sonho de ser prefeito adiado, mas a vontade de fazer o melhor pelo povo não mudou. Seu projeto agora é a candidatura a deputado estadual, mas ele declara que isso deve ser muito bem pensado junto com toda uma coligação. C h a m a d o constantemente de “guri”, Mário Augusto diz que agora foi promovido a homem público. “Eu estava preparado para ser prefeito,
8 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
TECNOLOGIA
Enquanto as redes sociais pautam a vida moderna, alguns sequer acessam internet em suas casas.
Internet Bairro da capital não conta com investimento para ter acesso à rede
Onde o sinal não chega
Bruna Fernanda Suptitz/JM
t bruna fernanda suptitz São mais de cem mil pessoas morando a 20 km do centro de Porto Alegre. A Restinga, bairro da zona sul da Capital, tem o número de habitantes equivalente a cidades de médio porte do Estado, como Bagé, Santa Cruz do Sul e Erechim. Os dados oficiais, divulgados no censo do IBGE de 2010, registram cerca de 60 mil pessoas morando na região. No entanto, Oscar Pelicioli, coordenador do Centro Administrativo Regional (CAR) da Restinga, diz que o número apresentado não condiz com a realidade do bairro. “O instituto não passa em todas as casas. Na minha, por exemplo, não passaram”, assegura Pelicioli ao explicar que muitas residências não têm endereço identificado formalmente naquela região. Mesmo com a grande dimensão do bairro – a Restinga tem área total de 38 quilômetros quadrados – seus moradores vivem uma realidade distinta da imaginada dentro de um contexto global de democratização do acesso à internet. A localização do bairro, que se separa do centro da cidade por um morro, e a realidade financeira das famílias que lá residem, cuja renda média é considerada baixa, faz com que a Restinga não receba investimento de prestadoras de serviços de
Dificuldade para acessar a internet na Restinga faz usuários buscarem alternativas, como Lan Houses no centro da capital comunicação. Procurados pelo Jornal da Manhã, três empresas informam não disponibilizar sinal de internet para um endereço na parte do bairro chamada de Restinga Nova. E as empresas que fornecem o serviço não são um atrativo para os moradores da Região. O 3G, serviço de internet móvel de algumas operadoras de celular, tem valor considerado alto por moradores. Luiz Antônio
Alvorada: conexão gratuita e para todos t bruna cabrera Desde o dia 14 de abril de 2012 a Prefeitura de Alvorada disponibiliza gratuitamente sinal de internet wi-fi para cerca de 80% da população. O projeto foi executado com recursos do Ministério da Educação e mais R$ 1,1 milhão do município para a instalação de 25 antenas em prédios públicos. Alvorada tem mais de 200 mil habitantes e menos de 15% das casas têm acesso à internet. O objetivo do projeto, chamado de Internet Social, é reduzir o nível de violência na cidade. Alvorada é considerada um dos municípios mais violentos da região metropolitana, e o índice de homicídios chega a 44,1 por 100 mil habitantes. Com os jovens conectados à internet, a expectativa é de que deixem as ruas e convivam menos em ambientes vulneráveis. Com o menor PIB per capita entre os municípios da região, Alvorada tem a intenção de melhorar o desenvolvimento educacional e diminuir a evasão escolar, que prejudica muito a economia da cidade. Segundo informa a Anatel, são 12,6 mil acessos na cidade, em dados coletados em dezembro de 2011. Destes, 6,4% da cobertura é dos serviços
oferecido pelas empresas GVT e Brasil Telecom. Porém, usuários como Giovanni Turcarti, estudante de química, e Gustavo Marcowich, que cursa farmácia, ambos de 20 anos, não estão satisfeitos com o projeto. “É complicado, o sinal não é estável e ficar perdendo rede toda hora é estressante”, relata Turcati. Marcowich fala da dificuldade que enfrentou com o sistema: “Desisti de tentar conectar. Uso mais o 3G da operadora”. A Prefeitura de Alvorada afirma que essa variação do sinal era esperada. O alcance de cada antena do município é de 200 metros, mas árvores e prédios altos podem interferir no sinal. Em decorrência destes problemas e da necessidade de uso além deste perímetro, é preciso que o usuário adquira uma antena própria que aumenta a captação do sinal wi-fi. Os equipamentos são vendidos em lojas de informática da cidade e o preço pode variar de acordo com a marca, com preços entre R$70 a R$200. É recomendável que, antes de adquirir qualquer antena, o morador consulte um técnico para verificar o nível de sinal na residência. Assim evita comprar uma antena incompatível. Para acessar a rede da Prefeitura é necessário um cadastro.
dos Santos Martins, 27 anos, estava insatisfeito com a qualidade do serviço que recebia. “Nós cancelamos a internet lá em casa porque era muito caro, e nem sempre tinha sinal.” Martins ressalta que, quando o sinal estava disponível, costumava ser lento. Hoje, ele acessa as redes sociais em uma Lan House no centro da cidade. A Lan House é o destino de muitas pessoas do bairro, que julgam não ser
viável pagar caro por um serviço de baixa qualidade. A estudante Patrícia Marques, 38 anos, usa este tipo de estabelecimento para realizar pesquisas acadêmicas. Simone Villela, que é formada em pedagogia, também aderiu ao serviço pago por período de uso para complementar o estudo para concursos públicos. A esplanada da Restinga, na entrada do bairro, é um tradicional ponto
t lívia hoffmann
ou não pela sua curiosidade no desconhecido”. Ele já mostrou seu iPad para ela – a febre dos tablets era algo já meio previsto, por filmes como De Volta Para o Futuro – Parte II. Moura diz que, no começo, sua avó ficava com receio de tocar na tela e xingava os aplicativos que não abriam quando ela apenas apontava, sem dar o habitual toque. Depois, ela acabou se acostumando. “Para as pessoas mais velhas gostarem dos avanços tecnológicos, a empresa que faz o produto tem que ter apostar em uma bela equipe de marketing”, explica. Moura não considera o avanço tecnológico assustador. Para ele, se o produto é inovador, não há motivos para não investir. Ele cita Lenine: “Como é que faz para sair da ilha?”. Fazer pessoas mais velhas usarem a internet como “ponte” é difícil, e isto é posto em prova, na opinião do estudante, com Platão e seu famoso Mito da Caverna – em que os homens ficam presos no interior de uma caverna e dela veem apenas sombras do mundo lá fora, e acreditam que esta é a verdadeira representação dele. Saul Saldanha Júnior, servidor público responsável por um site de cultura nerd há cinco anos, comenta que sempre esteve cercado pela internet. Costumava se
onde se realizam eventos da comunidade. Nela se encontra um ponto de distribuição de sinal sem fio, que fica permanentemente disponível, mas não chega a atingir as residências do entorno. Além disso, a Prefeitura disponibiliza um Telecentro com acesso à rede no CAR Restinga. Pessoas da comunidade podem participar de cursos no local, destinado apenas para fins didáticos, não
Projeto não vingou Uma iniciativa da Companhia de Processamento de Dados da Prefeitura de Porto Alegre (Procempa) trouxe à capital gaúcha o Power Line Conecton(PLC), uma tecnologia europeia que aqui ficou conhecida como “Internet pela tomada”: bastava conectar a máquina a um interruptor adaptado ao sistema para estabelecer a conexão. Em parceria com a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEE) e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 4,5 km de cabos de média e baixa tensão chegaram a ser estendidos no projeto piloto, em 2006, que levou a três pontos da Restinga sinal de internet com velocidade acima do padrão usado na época. O bairro foi escolhido por não ser contemplado pelas prestadoras deste serviço de comunicação. Luiz Canabarro Cunha, coordenador de Relações Institucionais da Procempa, esteve na equipe que implantou o sistema. Cunha acredita que a tecnologia deve ter uma finalidade, que neste caso era integrar a comunidade à rede. O PLC, que não era regulado quando se realizaram as primeiras experiências, foi abandonado ao se descobrir que o sinal da interferia no sinal
Transformações na era digital Antes era o telegrama, a carta, o telefone, o telex. Hoje, é a internet que domina o cotidiano das pessoas e torna a comunicação à distância mais eficiente, seja ela feita através do computador, notebook ou de celulares. A rede de comunicações mais famosa do mundo, aberta para toda a população desde 1995, conquista com a sua agilidade. Alisson Moura, 24 anos, estudante de jornalismo da Unisinos – atualmente com a matrícula trancada, é um dos responsáveis pelo site Podcast No Ar (http://podcastnoar.com. br/), é dono de um iPad e está sempre conectado. Ele comenta que só escreveu uma carta em sua vida, endereçada para uma pessoa que mora a 20 km de sua casa. Para Moura, a mudança na forma que as pessoas têm se comunicado começou a ser percebida quando a AOL passou a distribuir seus CDs em vários lugares. “Você ia à padaria comprar 10 pães, chegava em casa com os pães e 2 CDs da AOL e um ainda com vídeos do Senhor dos Anéis”, conta ele, que ganhou seu primeiro computador em 1999. E quanto às pessoas mais velhas? Moura conta: “Minha avó sempre disse: tu descobre se a pessoa é velha
Lívia Hoffmann/JM
A evolução tecnológica traz inovações de fácil manuseio comunicar por plataformas como ICQ e MIRC, bastante populares há alguns anos. Não lembra de ter mandado cartas e não utilizava muito o telefone. Ainda assim, conta que sempre esteve amparado por alguma tecnologia. A mudança na forma de se comunicar, para Saldanha, acontece naturalmente. “Se você parar para pensar, não importa muito essas mudanças, pois elas acontecem naturalmente.
Os homens das cavernas se comunicavam pelo desenho, transformado em escrita na época dos Sumérios e dali para frente foi tudo um processo que tinha que acontecer”. A prioridade era a comunincação. Saul considera a internet um facilitador, ela torna fatores como distância e tempo menores. Independente disso, o que as pessoas vão construir depende do modo que elas
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Jornal da Manhã
esPorte
Ratão não se deixou abater por acidente. Luta israelense cai no gosto de esportistas gaúchos. Universíades esquecida em Porto Alegre.
Superação Após ficar em coma devido à tragédia, automobilista se recupera e retorna à pista
Piloto sobrevive e volta a correr patrícia jardim/JM
t patrícia jardim Carlos Eugênio Leonardo, piloto da fórmula Classic, sofreu um acidente durante um treino para a prova em 2008, foi arrastado junto com seu carro em chamas, ficando gravemente ferido e impedido de participar de corridas por um longo tempo. Antes do acidente, nunca conquistara um título. Na volta, com marcas de queimaduras no rosto, a superação: hoje é bicampeão gaúcho. Desde criança Leonardo é apaixonado por carros e velocidade. Devido a seu gosto por corridas, ganhou o apelido de “Rato de Box” por estar sempre acompanhando todo o processo com muita atenção, dentro dos boxes dos carros. Ainda menino, sonhava em participar de alguma daquelas provas e acelerar com seu futuro carro nas pistas, tornandose campeão de uma grande corrida. O menino cresceu e a vontade de se tornar piloto foi aumentando. Ratão, como é conhecido pelos antigomobilistas (colecionadores de carros antigos), adquiriu uma Chevrolet Carreteira do ano de 1936 e a apelidou de “Escandalosa” uma homenagem a sua exmulher. O piloto estava pronto para competir e ir ao encontro de seu sonho.
Carlos Eugênio Leronardo adesivou seu carro: “A fera está de volta” com marcas no rosto e a coragem de sempre Ratão iniciou sua carreira como um piloto de rally, participando de provas no Brasil, Uruguai e Argentina. Em 2005, decidiu competir pela primeira vez na Fórmula Classic, campeonato que reúne pilotos de carros históricos, com mais de 30 anos de fabricação. Mesmo não atingindo as primeiras colocações, continuou a participar da prova nos três anos seguintes, sempre movido pelo prazer de sentir
a adrenalina em seu corpo e sonhando em um dia conquistar o pódio. Porém, no dia 12 de dezembro de 2008, durante uma corrida de treino para a Fórmula Classic daquele ano, Ratão viu seu desejo ficar mais distante. Um vazamento de combustível juntou-se com uma fagulha do cano de descarga, iniciando o fogo e tomando conta do carro inteiro. Assim que percebeu o incidente, o
piloto saltou do carro, mas o cinto prendeu em seu pé, arrastando-o por cerca de 500 metros junto com a Carreteira em chamas. “Foi como num filme de terror, eu sabia que ia ter de abandonar aquela prova e muitas outras também”, afirma Ratão. Socorrido pela equipe local, foi conduzido ao HPS, onde ficou internado durante um mês, sendo 24 dias em coma. Sua recuperação não foi fácil. Ratão inalou muita
fumaça e perdeu três camadas de pele, adquirindo queimaduras graves no rosto e no corpo. Como nunca havia vencido a Fórmula Classic, viu seu sonho de ser campeão quase acabar após o acidente. Durante a reabilitação, o piloto questionava-se sobre o dever de voltar às pistas e o risco que estaria correndo. Poderia voltar e vencer, ou então voltar e sofrer um novo acidente.
Krav Maga ganha adeptos em Porto Alegre t katherine d’ávila Uma arte de defesa pessoal criada na década de 1940 por Imi Lichtenfeld, em Israel, com o objetivo básico de sobrevivência em meio à Segunda Guerra Mundial e à violência contra os judeus. Assim nasceu o Krav Maga, que trouxe a solução para situações de perigo e tornou-se a filosofia de defesa do serviço militar israelense. A prática está presente hoje em diferentes países, como Estados Unidos, Inglaterra e França, onde cursos são realizados para a população e para organizações de segurança. Em Porto Alegre são 250 adeptos, dos quais 80 mulheres. Na América do Sul, o representante é o Mestre Kobi, primeiro faixa preta que saiu de Israel e chegou ao Brasil em 1990. Em Porto Alegre, as aulas que ensinam a arte iniciaram em 2007 e são praticadas na Sociedade Hebraica, no bairro Bom Fim, e na Academia POA, na Bela Vista. Nos dois locais, o instrutor responsável é Marcus Begossi, formado no Rio de Janeiro. Ele começou os treinos em 1995 e destaca como benefícios da atividade a melhora no condicionamento físico
e na capacidade de se defender. “A postura e a forma objetiva de pensar na segurança e na forma mais simples de resolver as coisas cresceu na minha vida”, conta. O instrutor carioca considera essencial passar seus conhecimentos para outras pessoas. Para ele, é muito gratificante estimular o aluno a ter capacidade de se defender. “Transformar a vida deles e torná-los melhor é um privilégio”, destaca. O interesse do professor surgiu pela rapidez e eficiência das respostas às agressões. Após avançar no treinamento, participou do Curso de Formação de Instrutores pela Federação Sul Americana de Krav Maga. O primeiro aluno gaúcho a virar instrutor foi o faixa verde Mateus Nunes, 26 anos. Nunes começou os treinos em 2007 e em 2012 preencheu os critérios para poder dar aulas. Ele acredita na importância de conhecer os exercícios e golpes. “O Krav Maga tem um objetivo bem específico de defesa e é fundamental saber disso no lugar em que vivemos”, explica. O curso de formação de instrutores leva em conta questões técnicas, físicas e psicotécnicas, e ocorre com supervisão do Mestre
Kobi. É necessário ter cinco anos de treinamento regular, 480 horas de prática e estar na faixa azul, no mínimo. Além de aprender a didática do Krav Maga, o formando estuda primeiros socorros, anatomia, fisiologia e nutrição para atletas. Begossi afirma que a procura no Rio Grande do Sul é muito grande. Cerca de 250 alunos treinam regularmente nos locais licenciados. Desse número, quase 30% são mulheres. Para ele, a busca do sexo feminino pela prática ocorre pelos mesmos motivos que levam os homens aos treinos: “procuram as aulas para poderem fazer algo por elas e não dependerem somente da sorte”. Adriana Ferreira, 25 anos, começou os exercícios em março deste ano e está muito satisfeita com o resultado no dia a dia. “Me sinto mais segura, com mais autonomia e consigo me alongar. Só tem coisas boas a acrescentar”, cona. Ela procurou o curso com o objetivo de praticar alguma atividade física e andar mais tranquila nas ruas. Adriana ainda está na faixa branca, mas já se sente a vontade nas aulas. Segundo ela, o Krav Maga é como uma família, todos ajudam e são muito
ANNA VEIGA/JM
Movido pelo seu sonho de infância e o desejo ainda não alcançado de chegar ao pódio, Carlos Eugênio Leonardo decidiu que deveria voltar e se arriscar nas pistas. “Eu lembro que tive que fazer fisioterapia para voltar a andar. Eu peguei o andador e já quis fazer uma curva e acelerar, era o prazer da velocidade que está em meu sangue desde garoto. Foi um susto horrível, mas eu queria voltar”, afirma. Convicto, mandou restaurar sua Carreteira, trocar o motor, adicionar peças mais modernas e adesivou seu carro com a frase “La Fiera está de Vuelta!” Um ano após o acidente, decidiu que era a hora de enfrentar tudo de novo. Com o apoio da família e dos amigos, Ratão voltou a correr. Confiante do seu potencial, o piloto conseguiu a primeira vitória na Fórmula Classic, em 2010, conquista que simbolizou a superação, a prova de que a força de vontade é maior que a dor e o receio de que outro acidente pudesse acontecer. Desde então, consagrou-se bicampeão gaúcho e pretende disputar mais provas e ralys com sua Carreteira de 36. Hoje, Ratão carrega as marcas do acidente que por pouco não lhe tirou a vida. Questionado sobre a lição que leva desso experiência,
Universíades de 1963 em solo gaúcho t josé zanandréa
Movimentos do Krav Maga são rápidos e facilitam reação amigos. Com a notoriedade alcançada por Israel na área de segurança, as principais corporações no mundo buscaram a filosofia desta arte. Algumas forças que autorizaram
a divulgação do uso são: BOPE, Forças Especiais do Exército, Justiça Federal, Marinha do Brasil, Polícia do Senado Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, FBI, Secretaria de Segurança, Receita
Em 1963, Porto Alegre sediou a terceira edição das Universíades, com a participação de atletas universitários. Atletismo, basquete, esgrima, ginástica artística, natação, polo-aquático, saltos ornamentais, tênis e vôlei consistiram as modalidades disputadas durante os dez dias de evento. Vinte e sete nações estiveram presentes, entre elas, tradicionais potências como França, Inglaterra e Itália. Porém, esse pedaço da história está esquecido nas prateleiras do Centro de Memória do Esporte da UFRGS. Súmulas de partidas, cartazes da competição, jornais oficiais do evento e recortes de diários locais preenchem cinco apertadas caixas de arquivo morto. A maioria dos porto-alegrenses sequer tem conhecimento da edição em solo gaúcho. Os locais de competição são os principais legados. O Olímpico foi utilizado nas provas de atletismo e festas de abertura e encerramento. O Grêmio Náutico União, que recebeu as disputas dos esportes aquáticos, e o Ginásio da Brigada também foram sedes. A Vila Olímpica
Esportes
10 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
Projeto Olímpico de 30 medalhas Rio de Janeiro COB tem planejamento especial para os jogos de 2016 e judô como carro-chefe
CHRISTOPHE SIMON / AFP
t rodrigo morel Trinta medalhas. Essa é a meta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para a Olímpiada do Rio 2016. O número estimado é dobro do conquistado em Pequim 2008 e 13 a mais que as de Londres 2012. Neste ano, o país encerrou sua participação nos jogos olímpicos com apenas 17 pódios e viu países como Cazaquistão, Nova Zelândia e Irã, que levaram um número bem menor de atletas, ficar à frente no quadro geral de medalhas. Para atingir a marca, a entidade aposta que o Brasil alcance metade dos pódios nos esportes tradicionais, como judô, vôlei, atletismo, basquete, futebol e vela. O restante viria de investimentos pesados do COB e do Ministério do Esporte em modalidades com grandes possibilidades de conquistas. Por ser sede do evento, o país participa de todas as competições. Obtendo esse resultado, o Brasil ficaria entre os dez países mais medalhados dos jogos. O judô e o vôlei serão os “carros-chefes”, porém o COB entende que é importante desenvolver o esporte como um todo e não apenas uma ou duas modalidades. “Vamos investir mais nos esportes individuais, porém acreditamos que as conquistas de um país devem acontecer em um número diversificado de modalidades”, explica Marcus Vinicius Freire, superintendente executivo de esportes do comitê. Outra preocupação é recuperar o desempenho de algumas modalidades coletivas como basquete e futebol feminino. A entidade também buscará respostas sobre o porquê da ausência de alguns esportes como ginástica rítmica e handebol masculino, que não se classificaram para Londres. Em 2012, o Comitê Olímpico Brasileiro investiu mais de R$ 11,5 milhões no projeto e tudo tende a melhorar para 2016. “Realizamos a melhor preparação da história, e este é um caminho sem volta para o COB. Mesmo sem termos Centros Olímpicos de Treinamento, como vários países já possuem, nos aproximamos das grandes potências a partir da oferta de serviços primordiais, como as Ciências do Esporte e a base exclusiva do Crystal Palace”, completou Marcus Vinicius Freire. No Rio de Janeiro, os treinamentos do Time Brasil, antes e durante a Olímpiada, serão no Forte São João e na Escola Naval. Outro fator importante para as conquistas de Londres e que será mantido para a próxima edição dos jogos é o uso de vídeos na preparação dos atletas. A entidade nacional acredita que essa ferramenta foi fundamental para as conquistas no boxe, com os irmãos Falcão, e no pentatlo moderno, com Yane Marques. Para 2016, este trabalho será ampliado, a partir de parcerias com o Time Rio, Time São Paulo
Rio de Janeiro será a sede dos jogos olímpicos em 2016 e receberá mais de 10 mil atletas de cerca de 200 nações
Judô: esporte carro-chefe para o Rio 2016 RODRIGO MOREL/JM
t marcel klein O judô é um esporte que se tornou referência do Brasil em Jogos Olímpicos. A primeira medalha foi o bronze em 1972, nos jogos de Munique, conquistado pelo japonês naturalizado brasileiro Chiaki Ishii na categoria meio-pesado. Mas a tradição começa mesmo em 1988, nos jogos de Seul, com a medalha de ouro de Aurélio Miguel. Quatro anos mais tarde foi a vez de Rogério Sampaio ser campeão olímpico na categoria meio-leve. Desde então, o Brasil não falha uma Olimpíada sem trazer ao menos uma medalha na modalidade. O desempenho da equipe brasileira em Londres 2012 foi o melhor da história, conseguindo quatro medalhas, sendo uma de ouro e três de bronze. Com esses resultados, o judô ultrapassou a vela e se tornou o segundo esporte que mais trouxe medalhas ao Brasil em Jogos Olímpicos (três de ouro, três de prata e treze de bronze, 19 no total), ficando atrás apenas do vôlei, que tem 20 medalhas. O judô está na linha de frente da projeção do COB, que tem como objetivo deixar o país entre os dez mais bem colocados no quadro de medalhas da Olimpíada do Rio 2016. A projeção para a modalidade é continuar o crescimento dos resultados e conquistar no mínimo seis medalhas na próxima competição. Uma das referências do judô no Brasil fica em Porto Alegre. A Sogipa é um dos clubes que mais tem atletas na seleção brasileira sênior: são quatro (mesmo número do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo). Três conseguiram se classificar para os Jogos Olímpicos de Londres e dois trouxeram medalhas. Felipe Kitadai e Mayra Aguiar conquistaram o bronze. Maria Portela foi eliminada
A equipe gaúcha da Sogipa é um dos clubes que mais tem atletas convocados para a Seleção Brasileira de Judô na primeira luta. “O judô tem evoluído muito. Eu acredito que talento tem pra que os resultados melhorem cada vez mais. Quanto aos atletas e ao apoio, com certeza o judô tem tudo pra continuar sendo o esporte que mais traz medalhas para o Brasil e superar essa marca de Londres”, projeta a judoca Maria. Porém ela chama a atenção para o nível de dificuldade e exigência de uma Olimpíada, ainda
mais em 2016, quando a competição será realizada no Rio de Janeiro. “Vai ter muito apoio da torcida. Porém temos que ter cuidado para que esse apoio não se vire contra e acabe se tornando uma pressão muito grande em cima de nós atletas”, completa Maria. Para a gaúcha, que conquistou a medalha de ouro no Grand Prix de Abu Dhabi em outubro, o sucesso do esporte na Olimpíada se
deve ao alto investimento e ao apoio dos patrocinadores. “Isso nos proporciona participar de mais competições fora do país. Em um ano, eu participei de quatorze competições e subi no pódio em doze, ou seja, vivenciar o clima da competição fez uma enorme diferença”, explica. A judoca relata que o investimento tem aumentado nos últimos anos e isso proporciona que até mesmo as equipes de
base viajem para disputar competições de alto nível fora do Brasil. Outro fator que ajuda os atletas é a estrutura da Sogipa. A equipe possui um recurso onde os atletas assistem a vídeos de competições do mundo todo. Assim, os judocas têm a chance de estudar seus adversários e não serão surpreendido nas competições. “Quando tem o investimento, quando se acredita no potencial
As modalidades que podem ajudar o Brasil JUDÔ Sarah Menezes, Mayra Aguiar, Maria Portela, Felipe Kitadai e Rafael Silva BOXE Yamaguchi e Esquiva Falcão e Adriana Araújo NATAÇÃO Cesar Cielo e Thiago Pereira VELA Robert Scheidt e Bruno Prada
ATLETISMO Maurren Maggi, Fabiana Murer, Franck Caldeira, Paulo Roberto de Almeida Paula GINÁSTICA ARTÍSTICA Arthur Zanetti, Diego e Daniele Hypólito PENTATLO MODERNO Yane Marques ESGRIMA Guilherme Toldo
TAEKWONDO Natalia Falavigna ESPORTES COLETIVOS Basquete masculino Handebol feminino Volêi masculino Volêi feminino Volêi de praia masculino Volêi de praia feminino Futebol masculino Futebol feminino
Esportes
Jornal da Manhã
Porto Alegre, dezembro de 2012 11 Guilherme jaeger/JM
Olhos na bolinha, mãos no taco e pensamento no futuro: golfe busca sair da obscuridade no Brasil para brilhar aos olhos do público nas Olimpáadas do Rio de Janeiro Eduardo caspary/JM
Rio.2016
Incluídos, esportes lutam pelo reconhecimento no país
Rúgbi e golfe miram os Jogos Olímpicos t eduardo caspary t guilherme jaeger
Ostracismo e elitismo: os estigmas do golfe Os prognósticos sobre uma possível popularização do golfe não são os melhores. É necessária uma grande quantidade de incentivo governamental antes que se possa pensar em atrair maior quantidade de público. De acordo com o diretor do departamento profissional da Federação Riograndense de Golfe, Fernando Guimarães, as Olimpíadas podem atuar como propulsores, mas é difícil imaginar uma explosão de popularidade. Dezoito buracos se estendem através de um campo com em média 30 hectares. Cada hectare tem o tamanho aproximado de um campo de futebol. O objetivo é fazer com que a bolinha chegue ao seu destino no menor número possível de tacadas. Cada uma das pistas tem um nível diferente de dificuldade, e o total mínimo de batidas varia de acordo com este grau de desafio. A partida é arbitrada entre os jogadores, com cada um marcando o escore do outro. Segundo Guimarães,
o principal atrativo é a abertura para todas as idades. O golfe é um esporte que pode ser praticado profissionalmente, independente das milhagens na carteira de identidade. O jogador e diretor fala que “no golfe, existe primeiro um predomínio da técnica sobre o vigor físico. E, depois que um certo nível de técnica é alcaçado, a força mental passa a ser o aspecto mais importante.” O dirigente é realista: “para começarmos a tocar o nível de popularidade dos Estados Unidos, é preciso que muita coisa seja feita.” Entre as ausências em destaque para Guimarães estão os espaços públicos, embora admita que tal tarefa não é realizada facilmente, já que o espaço demandado por um campo de golfe é exorbitante. Celso Rodriguez, praticante amador no Belém Novo Golf Club, é ainda menos otimista: “Acredito que o golfe nunca irá se popularizar no Brasil.” Os preços de aparelhagem e falta de estrutura pública não serão superados, pois o esporte não é popular. Wagner Vieira, professor do clube, crê que o estigma do elitismo não irá a lugar algum, a prática demanda muito dinheiro. Guimarães complementa, dizendo que o golfe é conhecido como o “esporte dos grandes negócios.” Ele acredita que, ainda assim, existem luzes no fim do túnel, como o projeto Golfe Para a Vida em escolas públicas de Porto Alegre. Mas, se o planejamento for apenas a curto prazo, destaca, a sina de esporte elitista e sem seguidores continuará mesmo após as Olimpíadas. Esporte de hooligans jogado por cavalheiros
Violento, hostil, perigoso, ríspido. Esses são apenas alguns dos adjetivos comumente empregados quando o assunto é rúgbi. À primeira vista, é compreensível essa leitura. Entretanto, uma análise mais profunda sobre esse esporte oriundo da Inglaterra desmistificará tal tese, mostrando que por trás de jogadas brutas também há técnica, dedicação e muito talento. Multicampeã vestindo as cores do Charrua Rugby Clube, Aline Delfim, 25 anos, acredita que aos poucos a concepção sobre o esporte mudará. “Ainda temos a necessidade de quebrar esse tabu com relação ao contato. Deixo claro que nos preparamos durante muitos meses para uma simples competição. Logo, realizamos treinamentos físicos especificos antes de começarmos a jogar”, comenta a jogadora, que ainda aponta uma diferença importante: “praticamos um esporte com contato, não de contato”. Nas Olimpíadas do Rio, em 2016, será jogado o Rugby Seven, em que cada equipe tem sete integrantes e a partida é dividida em dois tempos de sete minutos. O dinamismo e o curto tempo de jogo foram fatores decisivos para que essa modalidade fosse escolhida. Resta saber se cairá nas graças do público. “É mais do que certo que a massa vai se deixar levar por um esporte que impressione. Nossa essência vai fazer muito curioso chorar”, destaca Aline, que em 2009 foi campeã Sul-Americana pelo Brasil. Recentemente, a Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) firmou parceria com o Crusaders/ Canterbury, uma das maiores equipes do mundo,
No areião da Redenção, Charrua treina no breu da noite Eduardo caspary/JM
Força e vigor. Jeito e elegância. As dualidades que caracterizam rúgbi e golfe estarão lado a lado a partir de 2016 no Brasil. Isso porque ambos os esportes farão parte das Olimpíadas do Rio. Trata-se de um retorno. Nos primórdios dos jogos, o golfe teve seu espaço: em 1900, em Paris, e na edição seguinte, em Saint Louis, Estados Unidos. O rúgbi teve vida olímpica mais longa, se mantendo no cronograma entre 1900 e 1924. A volta destes dois esportes aos jogos foi aprovada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em outubro de 2009. Rotulado desde o seu princípio como esporte violento, o rúgbi terá nos Jogos Olímpicos uma possibilidade de derrubar essa tese e conquistar os reticentes ao jogo. Para Brunno Barreto, astro do Farrapos Rugby Clube, tricampeão gaúcho em 2012, os críticos poderão se surpreender: “O nosso esporte utiliza contato, mas nada que não se treine todos os dias. A probabilidade de lesão é bem menor que no futebol, por exemplo”. Com outra vantagem: não há cai-cai. No Brasil, o golfe sente os efeitos do ostracismo. Enquanto as tacadas movimentam cerca de R$ 20 bilhões ao redor do mundo, em território verde e amarelo não passam de 0,2% desse valor. Mesmo com presença reafirmada na primeira Olimpíada a ser realizada no país, o esporte segue longe de cair no gosto do povo. Fernando Guimarães, diretor profissional da Federação Gaúcha de Golfe, cita o modelo americano como
exemplo: “Nos Estados Unidos, a cada 50 metros há um campo de golfe, por isso que lá é tão popular”, compara. Os dois precisam de grandes campos mas, enquanto um esporte é individual, o outro é coletivo. Para praticar o golfe são necessários diversos aparatos. Apenas uma bola é suficiente para que se jogue rúgbi, no entanto. Tamanhas diferenças se estreitam em torno de um objetivo: conquistar novos fãs. E os praticantes esperam que as Olímpiadas ajudem nesta missão de conquista.
Campo batido e goleiras fazem parte dos improvisos
12 Porto Alegre, dezembro de 2012
Jornal da Manhã
PONTO FINAL
O extinto Cemitério da Matriz é um dos mais antigos da cidade. Lá, arqueólogos descobriram segredos enterrados na capital.
O passado da cidade revelado
fotos rafaela ely/jm
Memória Arqueólogos exploram cemitério extinto devido à restauração da Cúria Metropolitana
t rafaela ely Bem no centro de Porto Alegre, sob o prédio da Cúria Metropolitana, uma equipe de arqueólogos escavou parte do extinto Cemitério da Matriz, um dos primeiros da cidade. Baseado nos livros de óbitos da igreja, neste local foram enterradas quase 10 mil pessoas entre 1772 e 1850. O número alto, comparado à população da época, provavelmente se deve às epidemias, como a cólera, guerras e à grande quantidade de pessoas que passava pela capital. Foram encontrados 14 enterramentos mais ou menos completos (com a maior parte dos 206 ossos de adulto), 20 covas escavadas e cerca de 100 crânios e fragmentos de crânios, além muitos outros restos mortais. Também foram descobertos vários
ítens de lixo doméstico, como cerâmicas, louças, cachimbos, botões, alfinetes e contas de colar de vidro. Estas últimas podem ser associadas com os rituais de enterramentos dos escravos da época. Contudo, não se sabe se alguns desses utensílios pessoais são parte do cemitério ou resquícios da ocupação do antigo Seminário Epicospal, que abriu as portas em 1879 e cujo prédio deu lugar à Cúria. O enterramento nº 10, o mais intacto deles, foi apelidado de Lúcia pela equipe. “Isso foi em homenagem à Lucy, a humanoide mais antiga já encontrada pela arqueologia”, comenta o arqueólogo Clóvis Schmitz. Os corpos estavam uns juntos aos outros e até mesmo sobrepostos. Esse descontrole completo dos enterramentos era uma
Os arqueólogos fazem um trabalho muito delicado
Ossadas humanas foram encontradas no local
característica da época. Só a partir da metade do século XIX é que se começou a ter um cuidado maior com a organização dos cemitérios. "Isso mostra uma mudança de mentalidade em relação à morte. Hoje, levamos flores para os entes queridos, mas esse é um comportamento recente”, explica a arqueóloga responsável técnica Angela Maria Cappelletti. O cemitério tinha limites na Rua Espírito Santo ao leste, Dom Sebastião (atualmente fechada) a oeste, Rua do Arvoredo (hoje Coronel Fernando Machado) ao sul e a Rua da Igreja (atual Duque de Caxias) ao norte. A área só passou a ser pesquisada em 2011 devido à restauração que acontece na Cúria desde 2010. “Procuramos deixar os sítios arqueológicos intocados, a não ser que a área seja afetada por alguma obra”, ressalta Angela. Em janeiro de 2012 a equipe passou a trabalhar na maior área a ser explorada, no espaço que dará lugar a uma subestação elétrica. Como seria feita uma escavação profunda, os profissionais preferiram fazer em degraus por medida de segurança, para evitar o desmoronamento de terra. Ali, encontraram a maior surpresa: uma concentração com crânios e ossos longos. Uma das hipóteses é que essas ossadas foram retiradas do interior da Igreja da Matriz quando foi demolida a partir de 1929. Outra possibilidade é que elas tenham sido removidas de áreas mais altas do terreno, por volta de 1865, em decorrência da construção do prédio do Seminário Episcopal. Em meio à terra e ao barro, a cerca de 5 metros abaixo do chão, os arqueólogos Jocyane
Jocyane Barreta trabalha em um dos enterramentos do antigo cemitério da Matriz Barreta, Clóvis Schmitz, Pedro Meirelles e o auxiliar de campo Volnei Wedi trabalham armados com picaretas, pás, espátulas, escovas, pincéis e, acima de tudo, paciência. A atividade é árdua: a equipe inicia a jornada às 7h30 e segue até às 17h18, quando uma sirene anuncia o fim do expediente. Muitas vezes a equipe trabalha debruçada sobre as ossadas para conseguir manuseálas com cuidado. A área de aproximadamente 253m² foi toda escavada sem o auxílio de máquinas para preservar o conteúdo enterrado. O cansaço aumentava ainda mais nos dias quentes do atípico agosto de 2012, quando calor embaixo do teto de zinco era muito forte.
Além dos arqueólogos, uma equipe multidisciplinar trabalha na análise dos restos mortais. Profissionais da educação física, biologia, botânica, biomedicina, geologia e agronomia separam e classificam os ossos e fazem análise do pólen, DNA e outros sedimentos encontrados nos ossos para descobrir suas origens. A área da Cúria Metropolitana foi registrada como sítio arqueológico no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1997 pela arqueóloga Fernanda Tocchetto. “Li no jornal que operários haviam encontrado ossadas humanas durante uma obra de drenagem ao lado da Catedral. Eles pensaram
que fosse uma desova e ligaram para a polícia. O Instituto Médico Legal chegou até a recolher os ossos para perícia. Fui ver o que estava acontecendo e constatei que eram restos do antigo cemitério”, relembra Fernanda. Para Angela Cappelletti, as descobertas feitas na Cúria Metropolitana são importantes para trazer à tona informações das pessoas enterradas ali. “A maior parte da população porto-alegrense não sabia da existência do cemitério. Isso faz parte do passado da nossa cidade”, comenta. A arqueologia chama a atenção das pessoas e mexe com o imaginário, fato que pode ser explorado. “Porto Alegre não aproveita a própria história e a cidade
A história do cemitério da Matriz O dia 2 de outubro de 1772 marca o primeiro enterro no cemitério da Igreja da Matriz de Porto Alegre. O último sepultamento é datado nos primeiros dias de abril de 1850. O grande número de pessoas enterradas no local se deve a diversos fatores. “Dos 78 anos de ocupação do cemitério, pelo menos 10 deles foram de guerra civil, a Revolução Farroupilha, que deixou a cidade sitiada por quase todo o período,” explica o arqueólogo Pedro Meirelles. A Guerra dos Farrapos (1835-1845) teve outras consequências além dos mortos de guerra. Os agentes poluidores, como açougues, matadouros e hospitais,
foram transferidos para dentro dos muros da cidade. A falta de higiene causou diversas doenças. Epidemias como varíola, desinteria e gripes também afetaram a saúde pública da cidade. O reflexo das guerras de fronteira podia ser sentido em Porto Alegre. “Vários dos soldados convocados no nordeste para a tentativa de reconquista do Rio Grande, ocupado pelos espanhóis em 1763, morreram em Porto Alegre nos anos seguintes”, afirma Meirelles. A colonização alemã, que trouxe cerca de 3.000 colonos para o Estado em 1824, também teve papel no aumento da população da Capital, mesmo que muitos
deles tenha ido para a região dos Sinos. A partir de 6 de abril de 1850, os enterramentos da cidade passaram a ser feitos no Cemitério ExtraMuros da Santa Casa de Misericórdia, no Alto da Azenha. O principal motivo dessa mudança foi a higiene. Meirelles destaca que a situação do cemitério, em uma ladeira no centro da cidade, se complicava mais a cada ano, pois as chuvas e os animais desenterravam os cadáveres. “Como não havia espaço, a profundidade mínima não era obedecida e muitos corpos ficavam à flor da terra. Certamente várias das epidemias do século XIX foram decorrentes do mau estado do cemitério”,
Um buraco de mais de cinco metros foi escavado para explorar o terreno da Cúria