EDITORIAL Ousadia pouca é bobagem Editores David Salgado Elias Salgado Assessoria Jornalística Márcia Cherman Sasson
Esta é uma edição festiva e super especial para a nossa revista e seu público. Amazônia Judaica, em curtíssimo tempo, evoluíu de um periódico impresso regional, para uma revista internacional
Projeto Gráfico, Arte e Diagramação Thiago Zeitune
de alto padrão editorial e gráfico. Além de tudo isso, AJ acaba de
Colaboradores Rabino Eliahu Birnbaum Joëlle Rouchou Nelson Menda Regina Igel
Nosso projeto editorial prevê, seguir editando a revista nos dois
Portal Amazônia Judaica e Arquivo Amazônia Judaica www.amazoniajudaica.org Blog do Amazônia Judaica: www.aj200.blogspot.com
entrar também na era digital! formatos – digital e impresso. As chamadas Edições Especiais das Grandes Festas serão publicadas no formato digital, e impresso e as demais em digital. Nossos leitores poderão, agora, receber e ler nossa revista através dos mais modernos meios de acesso: impresso, em casa; através de seu e-mail, em nosso site (www.amazoniajudaica.org) ou no seu
Blog Universo Sefaradi www.universosefaradi.blogspot.com
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artigos interessantíssimos de articulistas sérios e de padrão
Especial também, como já é de costume, está nosso conteúdo: internacional. E o destaque maior é nossa justa homenagem ao escritor Moacyr Scliar z´l, que nos deixou saudosos, em fevereiro deste ano, mas que nos legou a maior de todas as obras literárias judaico brasileiras até hoje produzidas. E vocês acham que pretendemos parar por aí? Apesar das inúmeras dificuldades - quase sempre de ordem financeira- que acompanham o dia-a-dia de um projeto como o nosso, estamos longe de tal pretensão. Ousadia pouca é bobagem! David e Elias Salgado
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A IM AGEM D A CAPA
SHAAR HASHAMAIM A PORTA DA FÉ Quem ouve falar em Amazônia, automaticamente, coloca a imaginação em funcionamento. Imagens de um outro mundo surgem em sua mente: selva, rios sem fim, igarapés, riqueza e diversidade de fauna e flora; e claro, cobras, onças pintadas, jacarés, macacos e índios. Já seria muito, encontrar uma resposta para a pergunta: “mas o que vieram fazer judeus na Amazônia?” Bem, há tempos que vários de nós se debruçam a estudar para tentar responder a esta pergunta. Razões não faltaram, porém, o mais importante, interessante e muitas vezes surpreendente, é conhecer e lembrar o que fizeram aqueles abnegados pioneiros que por aqui aportaram, trazendo consigo um imenso legado de memórias, tradições e fé, para por aqui perpetuar sua herança milenar. Entre lendas, mitos, realidade e testemunho, caminha a nossa trajetória. Longa no tempo, longuíssima, diríamos. Porém, mais que pelo tempo, ela é marcada por feitos. E os que marcaram tal caminhada histórica foram, inúmeras vezes, impulsionados pela abnegação e pela fé inquebrantável de nossos antepassados. Não fossem eles e seus atos, talvez não estivéssemos aqui para contá-los. A luta pela construção de um templo para a esnoga Shaar Hashamaim, é um destes momentos gloriosos da abnegação e da fé inabalável destes homens,
4 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
heróis de um tempo que hoje nos soa quase mítico. Está certamente entre os mais emocionantes e marcantes. Por todas estas razões, Amazônia Judaica, traz em sua matéria de capa, um pouco da história da construção desta verdadeira “Porta da Fé” no coração da Amazônia. Não estivesse lá este tesouro, de pé a testemunhar o ato de seus fundadores, talvez sua existência fosse tratada como mais uma das inúmeras lendas dos seres da floresta...
ANO 3 • Nº4 • JULHO / 2011
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IDENTIDADE
COMUNIDADES
CRÔNICA ESPECIAL
Judeus do Egito no Rio de Janeiro
O Mundo Sagrado do Novo Mundo
Ele o Guru, e Eu o Guri
EDITORIAL 3 A IMAGEM DA CAPA 4 Shaar Hashamaim - a Porta da Fé LITERATURA 6 Moacyr Scliar e Milton Hatoum - Semelhanças e Diferenças CAPA 14 Shaar Hashamaim - o Tesouro da Kehilá de Belém RESGATE HISTÓRICO 20 Os Irmãos Sequerra CARTAS DOS LEITORES 30 PÁGINA VERDE 29
&
LITER ATU RA
por Regina Igel* / Especial para a AJ
MOACYR MILTON SCLIAR HATOUM SEMELHANÇAS
DIFERENÇAS
Estes dois escritores brasileiros – Moacyr
Scliar (1937-2011) e Milton Hatoum (1952) – são vistos por estudiosos, em geral, como ‘escritores étnicos’, pois cada um deles fez, de seu legado étnicocultural, o fulcro de suas obras literárias.
S
cliar desvendou os judeus no Brasil, começando pela comunidade judaica no sul do país, enquanto Hatoum destaca a comunidade de imigrantes de origem libanesa no Norte. Dos polos norte e sul, dois romancistas que, entre tantos brasileiros dedicados à arte de escrever bem, revelam seus talentos como narradores, ao mergulharem na atmosfera física, cultural, psicológica e moral em que cresceram. Estes são alguns dos pontos coincidentes expressados por eles em relação ao meio ambiente que transpuseram à vida literária. E, ao mesmo tempo, há vários outros que, ao contrário, mantêm uma perceptível distinção entre os dois, seja pelo encaixe de suas experiências no labor literário, pela atmosfera que distribuem
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entre as narrativas, ou pela diferença de intensidade da cor local que impregna suas narrativas.
A intenção deste estudo é refletir sobre as semelhanças e as diferenças entre os dois escritores no que concerne a inclusão de elementos globais e regionais na sua obra literária. Para isto, impõe-se um exame,
ainda que breve e seletivo, de certas obras que melhor ilustrem seu respectivo acervo em termos de espacialidade ou localidade nas respectivas tramas. Nas obras do glorioso e pranteado Moacyr Scliar, destaca-se a imensidão espacial na contextura das narrativas ao projetar a figura do judeu no panorama brasileiro. Ele começou com o judeu gaúcho, assim identificado por sua integração ao Rio Grande do Sul, pela imensidão dos pampas e nos labirintos urbanos, principalmente de
Porto Alegre. Fica óbvio, na leitura
das obras de Scliar, que uma de suas características maiores é o deslocamento dos seus personagens.
Eles podem ser encontrados em Porto Alegre, percorrendo ruas, avenidas, o porto, as margens do Guaíba, ou nas praias e nas fazendas inseridas nos pampas. Na selva amazônica, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Jerusalém ou no Marrocos, as criaturas de Scliar são multifacéticas e multiformes. Neste ponto, pode-se perceber o personagem globalizante de Moacyr, pois eles penetram por quaisquer ambientes, sejam brasileiros ou estrangeiros, familiares ou desconhecidos. Tanto pode ser uma moça que, ao contrário de todas as apostas, se fez protegida e amada pelo rei Salomão (A mulher que escreveu a Bíblia), quanto um judeu diferenciado que realizou todos os seus sonhos de
integração na burguesia brasileira (O centauro no jardim), é o espaço onde se locomovem os personagens que mostra o impacto da presença judaica no meio ambiente. Em quaisquer dos seus romances ou contos, e mesmo entre as crônicas, deparamos por espaços que se espraiam por emaranhados urbanos, que penetram pelo mundo todo... Qual seria o significado desta ansiedade de movimentação que se observa nos seus personagens? Seria
o caso, por exemplo, de se pensar que a natureza do ‘judeu errante’ está presente em suas obras, mas com um ‘desvio’. Ao contrário da famigerada lenda, pela qual os judeus teriam sido condenados a vagar pelo mundo até o final dos tempos, o judeu de Scliar se desloca pelo mundo mas, desafiando a praga do nômade legendário, ele tem para onde regressar. Não é mais um Ahasverus, aquele que foi condenado a perambular pelo mundo. Na sua obra, o desenraizamento dos judeus é destruído, fazendo com que seja possível voltar ao ponto de partida. Acabou a perambulação. O judeu agora tem um
destino, pode ir, pode vagar, mas tem para onde voltar – que pode ser tanto o monte Sião quanto os pampas sulinos, ou o Rio de Janeiro.
A vastidão do mundo é percorrida no espaço e também no tempo. Um bom exemplo desta habilidade em gerenciar saltos espetaculares entre terras e eras, está no romance Na noite do ventre: o diamante. Nele, o escritor faz com que o percurso mundial de um diamante comece do Arraial de Cabra Branca, um lugarejo localizado no âmago de Minas Gerais. Descoberto no século 17, no auge da exploração diamantina e aurífera, percorre meio mundo, metido num saquitel repleto de bri-
Nas obras do glorioso e pranteado Moacyr Scliar, destaca-se a imensidão espacial na contextura das narrativas ao projetar a figura do judeu no panorama brasileiro. lhantes arrancados do solo brasileiro pelos portugueses. Do Arraial, depois de mil e uma peripécias de seus transportadores, a pedra preciosa chega a uma humilde cabana de judeus, no interior da Rússia, engastada num anel. A dona da casa o enfiava pelo dedo anular somente nas noites de sexta-feira, para homenagear a chegada do sábado. Mas dali em diante, por causa dos pogroms ou ataques de bandos de russos armados contra os judeus, já não poderia ser exposto. Os habitantes da cabana tiveram que fugir da sanha dos russos e o diamante teria de viajar com eles, mas escondido. A forma ideal para isto seria ser deglutido. E o foi. O escolhido para escondê-lo foi o filho mais novo do
casal. O diamante entra no escuro do seu ventre. Incrustrado nas mangueiras intestinais do rapaz, acabou voltando ao Brasil, pois a família imigrou para a América do Sul. O brilhante se tornou passageiro vitalício nas argolas intestinais do rapaz, que se fez homem, enquanto a pedra se recusava a sair do seu espaço. E assim foi dar de volta, por um desses caprichos do destino e do comando do escritor, naquele mesmo Arraial de Cabra Branca, de onde havia sido extraída. O diamante escondido é, obviamente, uma alegoria. Transfigurado nesta pedra, cuja preciosidade foi ambicionada e ainda é por muitos, o judeu foi arrancado do seu terreno e levado a percorrer o mundo, escondendo-se e desviando-se de seus perseguidores.
No romance de Scliar, o brilhante é uma irônica constatação, em termos literários e metafóricos, de como os judeus atravessaram séculos e países, sem encontrar apoio em nenhum lugar. Até que voltaram – como o diamante aninhado no interior do imigrante – à sua terra natal.
Este não é a única narrativa de Scliar onde seus personagens são levados a percorrer o mundo, transformados e remoldados de uma a outra etapa etária. Os romances A estranha nação de Rafael Mendes (1983) e Os vendilhões do templo (2006) são dois exemplos de re-encenação da história judaica, como inserida nos anais da história universal. Nestas narrativas, como em Na noite do ventre: o diamante, histórias e personagens abarcam vários séculos e paisagens geográficas, saltando de um quadro para outro, no espaço e no tempo, usufruindo da universal “licença poética”, que o autor soube utilizar com presteza, animação e coerência. Scliar outorgou uma tal mobilidade espacial a seus personagens, que eles chegaram a transpor os limites do real para 7
LITER ATU RA invadir o surreal. É no surrealismo literário que Scliar compõe uma história judaica que se complementa àquela contada nos anais públicos e ‘legais’. Suas narrativas se apoiam na história e a mistificam. Milton Hatoum é o segundo escritor que, depois da Segunda Guerra Mundial, avançou nossa percepção sobre uma comunidade de imigrantes. Levando ao conhecimento do mundo o conteúdo e o contorno da comunidade de origem libanesa no Amazonas, Hatoum
tende a intensificar os enredos dos seus romances aos limites, ainda que quase infinitos, da floresta amazônica. É no seu emaranhado e nos seus redutos urbanos que se abre, como uma clareira mágica, a arte literária de Hatoum, ao soprar vida a personagens que entram nas suas histórias pelos moldes vistos e vividos no ambiente dos imigrantes e seus descendentes, entre eles o próprio autor. Considerado escritor ‘regionalista’ por alguns estudiosos, ele faz reviver o cosmos amazônico nas suas histórias, fazendo com que inúmeras narrativas penetrem por seu universo esfusiante de cores, aromas, volumes e diversas atmosferas. O ‘regionalismo’ de sua obra se coaduna à idéia de um trabalho literário específico a uma região física, no caso, a cidade de Manaus e seus arredores. (O autor
Ao contrário de Scliar, que transportou seus personagens e tramas aos confins do mundo, a direção dos habitantes das narrativas de Hatoum é em mão única. 8 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
não aceita esta qualificação, o que não impede que críticos assim o considerem. Ver: “Milton Hatoum contesta conceito de literatura regionalista”, entrevista a Sylvia Colombo, in Folha de S.Paulo, 14 de fevereiro, 2009). Ao contrário de Scliar, que transportou seus personagens e tramas aos confins do mundo, fazendo-os ir e vir em constante vaivém, a direção dos habitantes das narrativas de Hatoum é em mão única. Ele focaliza
de preferência imigrantes do Oriente Médio, muçulmanos e cristãos, que se estabeleceram principalmente em Manaus. Cidade
híbrida, é tão urbana quanto rural. O escritor revela, em seus romances Relato de um certo Oriente, Dois Irmãos e Cinzas do Norte e em muitos dos seus contos, como a cidade é lentamente tragada pelo processo de industrialização, investimentos e outras aspirações de índole financeira. Além das interações entre imigrantes, revelam também o mesmo com indígenas e descendentes dos primeiros europeus na cidade. Entre estes e aqueles, o nascido na terra, o manauara, não-índio, não-europeu, não-semita, é fruto da mescla de todos os que aportaram àquela “cidade ilhada” (título de um de seus livros de contos). Hatoum
revela tanto a cegueira quanto o sofrimento do povo manauara, seja como ávidos investidores e desmedidos às consequências ao meio ambiente, seja como defensores do território natural contra a ganância humana. O quanto tem isto de ‘regio-
nalismo’, tem também de universal. Como os escritores que são rotulados como ‘regionalistas’, e assim passaram para a posteridade (Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Paulo Jacob), o manauara Hatoum ancorou sentimentos e obsessões humanas de caráter universal em
pessoas e conflitos inerentes à região onde nasceu e cresceu. Re-erguendo a proposta lançada no início deste artigo: O quanto Scliar e Hatoum têm em comum e em diferenças, como notáveis em seus trabalhos literários? Para complementar esta pergunta, aqui vai outra: Qual é a importância destes dados diferenciais ou coincidentes no exame destes escritores? Tudo indica que a primeira das coincidências entre eles é que ambos se inclinaram para suas respectivas comunidades imigratórias e as transpuseram a suas narrativas. Scliar precedeu a Hatoum
por alguns anos, daí que terá sido a inspiração deste último. Ambos são escritores cosmopolitas e, ao flagrarem e forjarem vidas de imigrantes e de outros, estenderam suas tramas a perspectivas filosóficas, éticas, estéticas e também humorísticas. Mas além dos limites urbanos, ambos cooperam para um melhor conhecimento da história da imigração no Brasil, por narrativas que destacam expatriados e seus descendentes sob uma variedade de fortes emoções: melancolia incitada por saudades, atrevimento encorajado por novos horizontes, audácia estimulada
por ambição, recolhimento provocado por frustrações, entre tantos outros sentimentos. Este acervo espiritual, mental e físico faz parte do material recolhido pela convivência dos escritores com brasileiros e estrangeiros, numa variedade de circunstâncias, episódios, e passagens que foram transmudadas na superfície dos seus racontos.
Em que Scliar e Hatoum diferem quanto a seu repertório literário?
Scliar já não se encontra entre nós, daí que se pode inferir sobre sua obra (como publicada até hoje): ele desenraizou seus personagens do ‘locus’ brasileiros e os levou a se desenvolver em outras paragens, outras terras, outros tempos – entrando e saindo do mundo real e do mundo supra-real. A diversidade de lugar e tempo da sua ficção se coaduna com a variedade de seus personagens: brasileiros, portugueses, estrangeiros em geral, judeus, cristãos, ateus e agnósticos, pobres e ricos, jovens e idosos. Hatoum, que ainda poderá publicar muito em sua vida, pode ser visto como um escritor mais centrado na sua terra natal, no seu rincão amazônico, para onde ele faz convergir vários tipos de personagens. Também diferem dos habitantes das obras Scliar quanto às ‘roupagens’: são índios, imigrantes libaneses, seus filhos e netos, exploradores de diversas nacionalidades, atraídos pela magnificência da floresta e pelas possibilidades de enriquecimento, nem sempre menos do que espúrias. Refletindo uma Manaus ‘in transit’, sempre em mudanças e nas mãos de espertalhões, os personagens de Hatoum, em geral, apresentam-se de duas formas: permitem-se toda sorte de atividades, desde que satisfaçam suas ambições íntimas ou explícitas, desde que cheguem a concretizar seus planos, visíveis ou invisíveis e, de outro lado, são raptados por suas frustrações, desejos insatisfeitos, súbitas mudanças nas suas vidas. Como a âncora do escritor é sua
Hatoum pode ser visto como um escritor mais centrado na sua terra natal, no seu rincão amazônico, para onde ele faz convergir vários tipos de personagens. Amazonas, como ela a viveu, absorveu e dela teve de afastar-se para vê-la melhor, nisto reside a qualificação ‘regionalista’. Mas ele vai além dos hábitos e costumes arraigados na região, expandindo-se por sentimentos humanos que são reconhecíveis em qualquer canto do mundo. Não são dependentes de um único lugar, de uma única época ou paisagem – ainda que os rios, os igarapés, as palafitas, as mansões e a exuberância amazônica sejam imprescindíveis para que se possa acompanhar a transformação das lendas em fatos. Em suma, as diferenças entre Scliar e Hatoum podem ser sumarizadas assim: Moacyr transformou
a história (esta que conhecemos em manuais e outras obras) em relatos fantásticos, desconstruindo fatos e os re-apresentando como mitos. Milton fez o contrário: dos mitos
Moacyr transformou a história (esta que conhecemos em manuais e outras obras) em relatos fantásticos, desconstruindo fatos e os re-apresentando como mitos.
trazidos pelos libaneses, das lendas que pululam pela Amazônia dos brancos, indígenas e caboclos, ele re-construiu a história dos amazonenses, expatriados e manauaras.
Qual é a importância em compará-los? Porque eles são os dois pilares que ergueram o que se poderia classificar como “literatura étnica” no Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial. Antes
deles, alguns escritores puseram certo grau de atenção a imigrantes e estrangeiros em geral, lembrando Canaã, de Graça Aranha (1902), que incluiu dois imigrantes portugueses na ficção brasileira; também Mario de Andrade, em Amar, Verbo Intransitivo (1927), conjugado pela astuta frau no convívio paulistano, assim como Antonio de Alcântara Machado, que penetrou pelos cortiços italianos em Brás, Bexiga e Barra Funda (1927). São obras que marcaram nossa literatura, mas são vasos isolados. Como pioneiros no terreno, pode ser que tivessem inspirado tanto Scliar quanto Hatoum. Esses, não só deram continuidade ao tema, como nele se aprofundaram, ampliando e resgatando áreas que somente poderiam ser iluminadas pela convivência com os grupos descritos e revividos nas suas obras. A contribuição desses dois escritores para o conhecimento das comunidades de expatriados, principalmente os que chegaram depois da Segunda Guerra ao país, é inestimável. Por eles, aprendemos mais do que qualquer livro de história poderia ensinar, pois narrativas ficcionais tendem a mostrar as dobras de civilizações transportadas para o Brasil em áreas que a história oficial não penetra. Uma vez a trilha aberta, escritores mais jovens e altamente produtivos têm contribuído para o tema do imigrante no Brasil, seja de qual nacionalidade for. No entanto, é inescapável a influência tanto de Scliar quanto de Hatoum na preferência e dedicação pelo tema.
* Regina Igel é PhD em Literatura Portuguesa, Consultora e Coordenadora do Programa de Português da Escola de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Maryland, USA
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ID ENTIDADE
JUDEUS DO EGITO NO RI DE JANEIRO* Por Joëlle Rouchou**
O grupo de judeus do Egito que estudei foi expulso do local que considerava sua terra. Muitos que lá estavam há mais de três gerações até obtiveram um passaporte egípcio. Tinham, sim, uma cidadania oficial, da qual se orgulhavam.
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onstruíram-se como cidadãos alexandrinos ou cairotas com todo o cosmopolitismo em voga desde o início do século XX. Após a guerra do Canal de Suez no final de 1956, Nasser quis nacionalizar não somente o Canal, mas a população, exigindo que todos os estrangeiros voltassem para seus países de origem. Na categoria “estrangeiro” entraram também os judeus, mesmo aqueles com passaporte egípcio, o que coloca um problema étnico: etnia e cidadania são uma mesma classificação? Para resolver esse truísmo, Nasser decreta que os cidadãos egípcios de fé judaica que “quisessem” sair do Egito - na verdade por serem judeus
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- teriam de abrir mão de sua nacionalidade egípcia. Ser obrigado a deixar de ser aquilo que uma pessoa foi durante anos me parecia uma questão que merecia um olhar investigativo.
E os membros do grupo manifestam de diferentes maneiras esse trauma: silêncios, choros, e até piadas. São memórias de sujeitos hifenados, de sujeitos que tiveram de se reciclar, de se traduzir em
um laisser-passer que lhe permitia sair do país e ir para outro, e nesse novo local trava uma batalha para poder existir. Vários judeus do Egito passaram por essa situação de pária, e costumam contar a seus filhos esta saga, e como foram os primeiros anos de adaptação num novo país. O fato de ter de se repensar de outra forma é muito traumático.
Nasser decreta que os cidadãos egípcios de fé judaica que “quisessem” sair do Egito - na verdade por serem judeus - teriam de abrir mão de sua nacionalidade egípcia.
Com uma assinatura forçada, um cidadão transformava-se num ser sem pátria, sem documentos, apenas
toda sua cultura para poderem viver num outro lugar.
Aqui tratamos de expulsão. De uma mudança traumática, principalmente para os filhos, que não sabem por que os pais decidiram sair. Uma memória de expulsão.
De pessoas que em 15 dias se viram obrigadas não só a deixar sua terra, seu chão, suas raízes, mas também suas vidas, seus bens, seu modo de ser, seu modo de se relacionar. E entram num navio, desembarcam algum tempo depois num espaço em que, provavelmente, nunca tinham pensado. Mesmo porque eles enviaram pedidos de vistos para vários países. É bastante forte imaginar que muitos deles estavam fazendo as malas apressadamente sem saber para onde. O resultado é um alto e intenso nível de trauma social. É essa a questão fundamental para pensar a subjetividade e a identidade que eles construíram no Rio de Janeiro. A primeira memória a ser reativada era a minha. Meu interesse pelo tema justifica-se também pelo fato de pertencer a esse grupo: nasci em Alexandria, e com três meses, em 1957, fui trazida para o Rio de Janeiro a bordo do navio Giulio Cesare com mais de trinta pessoas que também fariam o mesmo trajeto apenas com passagem de ida: Alexandria/ Gênova/Rio de Janeiro. Cresci ouvindo as histórias do Egito, dos escoteiros, bandeirantes, o francês como primeira língua. Ouvi histórias que sempre pareciam fantasiosas, com ingredientes orientais que iam desde dança do ventre, amêndoas e tâmaras até pôr-do-sol colorido, areias do deserto, partidas de basquete, mais comidas e muitos perfumes. Percebi que muito pouco me foi transmitido. Até mesmo a história dos judeus
Gamal Abdel Nasser. Decretou a nacionalização do Suez e a expulsão dos estrangeiros.
do Egito, a trajetória dos ascendentes até chegarem ao Egito, era um mistério. Meu paladar foi apurado na culinária árabe, todas as festas judaicas sempre foram comemoradas com pratos árabes, música de odaliscas, sons das mil e uma noites. A condição árabe-judia
nunca me pareceu uma contradição. Tudo indica que o é. O
Egito tolerante e cosmopolita, assim como um mundo árabe que aceite outra vez os judeus e o Estado de Israel recebendo dignamente palestinos, parece uma utopia. Serão etnias tão diversas? Me interessou saber como se deu e se dá essa construção que
vai incorporar o Brasil, o Rio de Janeiro, uma nova língua, e os efeitos dessa identidade transmitida aos filhos. Como essa identidade se reconstrói? Como ela ganha esses contornos?
Ouvi histórias que sempre pareciam fantasiosas, com ingredientes orientais que iam desde dança do ventre, amêndoas e tâmaras até pôr-do-sol colorido. Grande Sinagoga do Cairo, centro da vida religiosa na cidade
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Guerra do Suez, 1956. Conflito contra o fechamento do canal aos navios israelenses.
ID ENTIDADE Por fazer parte do grupo, conhecia a maior parte dos entrevistados, amigos dos meus pais, o que facilitou a anuência deles em contar suas vidas. Foi instigante entrevistar os desconhecidos e perceber como se dava o processo de pessoas das quais não tinha referências pessoais. A primeira pergunta referia-se ao passado no Egito, o momento da partida e a chegada no Rio de Janeiro, sempre em português.
Vários responderam em francês. Os que preferiram falar em português, costumavam dizer palavras ou episódios completos em francês.
Quanto à segunda geração, apesar de falarem francês, as falas foram em português bem carioca. Me parecia ter sido a primeira vez que eles se perguntavam o que era ser filho de judeu do Egito, se isso teria alguma influência em seu cotidiano de cidadãos brasileiros. A construção de suas identidades, memória e transmissão ia sendo feita enquanto relatavam suas histórias, muitas vezes contraditórias, lágrimas, risos, sorrisos e uma certa cumplicidade comigo, desde minha apresentação ao marcar a entrevista sempre os informava que havia nascido no Egito, saído em 57 e vindo ao Rio de Janeiro. Como eles. Identidade Os judeus do Egito já vêm de um processo de hifenização, de falar mais de uma língua, de viver entre duas línguas, ter como Navio Giulio Cesare, no qual os exilados egípcios chegaram ao Rio
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No Egito, eles tinham de conviver com as identidades européia e a árabe, além de manterem as tradições judaicas. capital Paris, para os francófonos e Londres paras o anglófonos. No Egito eles tinham de conviver com as identidades européia e a árabe, além de manterem as tradições judaicas semanais, nas festividades israelitas e muitas vezes no esporte, ao defenderem as cores da Macabi tanto na natação quanto no waterpolo e o basquete. Eram franco-egípcios-judeus, ou ainda greco-egípcios-judeus, apátridas-egípcios-judeus, sujeitos hifenizados. A experiência com os entrevistados me permitiu fazer algumas
reflexões sobre memória e sobre a entrega dos sujeitos a suas histórias.
Como se esperassem o momento em que, finalmente, poderiam visitar suas biografias. Análise de entrevistas De que Egito falamos? Esse Egito fica na África? A qual Egito eles se referem? Me parece que
esse Egito atende à definição da palavra Utopia. Segundo o Aurélio
e o Larousse vem do grego ou que significa não, negação e topos = lugar. Local. É, então, um não-lugar. Os dicionários atribuem ao escritor inglês Thomas Morus (1480-1535) a criação de utopia como um País imaginário. Esse Egito de que tratam hoje não existe mais. Porém já existiu e somente eles têm acesso a ele, e talvez ouvintes mais sensíveis que permitem-se acompanhá-los nessa viagem. A exposição de suas fragilidades num momento delicado, sensível, me parece um campo fértil para esse tipo de análise de narrativas. Minha curiosidade também vai ficando saciada e tem material para montar um pequeno cenário da situação que eles vivenciaram. C relata que a chegada foi “tudo bem” mas “o quarto do hotel” era apertado. E ter sido cantada pelos motoristas achando que eles estavam sendo
Por do sol em Alexandria, cidade natal da autora
Esse Egito de que tratam hoje não existe mais. Porém já existiu e somente eles têm acesso a ele. educados com ela mereceram uma reflexão, ou melhor, ocuparam mais espaço na sua ordem de prioridade mnemônica. A partir dessas escolhas pode-se compreender as estratégias de defesa que os entrevistados criam – o mais provável que sejam inconsciente – para minimizar momentos decisivos e traumáticos em suas vidas. Ao ouvir as histórias foi possível observar as estratégias elaboradas pelos grupos familiares para conseguir migrar e para reconstruir a vida na nova terra, muito diferente nos hábitos e costumes do país de origem. As imagens nas falas remetem às de um caleidoscópio, uma comparação que não é original, mas pertinente nesse caso. As preocupações com pequenos causos, contar a chegada usando anedotas que são repetidas em família, como uma ópera-bufa, ou ainda um filme de Chaplin, são espelhos umas das outras. Por isso o jogo de espelho que esconde – em algum canto da luneta – uma mágica, o espelho que ao repetir caleidoscópio, não somente pela possibilidade de juntar fragmentos visuais, mas da mesma imagem em outra posição, fornece essa sensação de infinito. As side-stories de suas vidas servem para silenciar um dado inaceitável por eles: a condição de exilados. Refugiado político não
parece ser um atributo adequado para esse grupo. A única entrevistada que fala – duas vezes apenas
– a palavra exílio, é T, que tem formação acadêmica na área de Ciências Sociais e não sente-se constrangida em usar a palavra.
Os filhos, esses representantes da segunda geração, não parecem perceber o trauma vivenciado pelos pais. Eles sentem falta de mais infor-
mações sobre o passado de seus pais. Exílio, então, é uma condição e também um espaço. O exilado, ainda segundo o dicionário é aquele que foi expatriado, desterrado, banido, degredado. As conotações apresentam-se como negativas, inferiorizantes. Uma das possibilidades para o silêncio sobre
a aceitação da condição de exilados do grupo entrevistado pode ser essa, a de não macular suas imagens para os filhos e para eles próprios. O tom de país cosmopolita foi uma tônica em todos os depoimentos e na bibliografia sobre o Egito. Eles já eram estrangeiros no Egito. As circunstâncias fizeram com que se sentissem em níveis diferentes, como classes de cidadania. A decepção, no momento da expulsão acabou sendo maior. Estavam fora do lugar. Encontraram um nicho no Rio de Janeiro. Mas continuam falando português com sotaque.
* Este artigo é um extrato do livro da autora, Noites de verão com cheiro de jasmim, Editora FGV – 1ª edição, 2008. Rio de Janeiro. O livro poderá ser adquirido através de nosso site: www.amazoniajudaica.org
** Joëlle Rouchou é jornalista, PhD em Comunicação e Cultura pela ECA/USP. É pesquisadora da Casa de Rui Barbosa
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omo conta nosso ilustre Profº. Samuel Benchimol em sua valiosa obra Eretz Amazônia – Os Judeus na Amazônia, após a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, declarada por Dom Pedro I, e posterior Constituição Imperial de 1824, o Catolicismo foi reconhecido como a religião oficial do Brasil.
Para muitos não católicos, isto poderia ser um mal sinal, no entanto, esta mesma constituição, permitiu a outras religiões que mantivessem o seu culto doméstico em casas particulares
que não tinham forma alguma de templo. Benchimol cita que era “uma espécie de semi clandestinidade legal para salvar as aparências”. Resumidamente, desta maneira, as sinagogas poderiam funcionar em casas particulares, como realmente aconteceu, logo no início da imigração sefaradi marroquina para Belém. Foi nesta época que surgiram as primeiras sinagogas do Brasil Independente – Essel (Eshel) Abraham, em 1823
Sinagoga Shaar ha-Shamaim, a primeira do Brasil
ou 1824 e Shaar Hashamaim, em 1826 ou 1828. Em 1890, com a Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil, e pelo Decreto 119, baixado pelo governo provisório, que aboliu a união legal da
Igreja com o Estado, e instituiu o princípio da liberdade de culto,
a Sinagoga Shaar Hashamaim, que bem provavelmente funcionava, como vimos, desde 1826 ou 1828, na residência da família do Sr. Leão Israel, seu fundador, na antiga Rua da Indústria, hoje Gaspar Viana, foi talvez a primeira a se beneficiar do novo estatuto legal.
Desta maneira, as sinagogas poderiam funcionar em casas particulares. “Uma espécie de semi clandestinidade legal para salvar as aparências”. Devemos entender que, apesar das contradições existentes, sobre a data de fundação, pelo menos, no que diz respeito ao seu fundador, o Sr. Leão Israel, não existem dúvidas. Pioneiro entre os imigrantes marroquinos, sabe-se que muito fez em prol da preservação e continuidade da cultura e tradição judaica que trouxe consigo do Marrocos. Nosso objetivo, no entanto, é contar-lhes ou mesmo mostrar-lhes através de fotos, documentos e depoimentos, sobre o grande tesouro que os judeus amazônidas, guardam em seus corações.
16 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
Jacob Messod Benzecry em depoimento sobre a construção da sinagoga
Conforme nos contam Márcia Barcessat e Deborah Aben-Athar, em seu trabalho de pesquisa sobre a História da Sinagoga Shaar ha-Shamaim, e também, como enfatiza Débora Serruya em sua
Não somente a
monografia apresentada ao Curso de Especialização Memória e História da Arte, desde 1927, já existia no seio da comunidade, a intenção de
Em janeiro de 1928, o primeiro passo parece ter sido dado pela Diretoria da Sinagoga, através do então presidente, Sr. Jacob Messod Benzecry, que registrou no Cartório de Registro especial de Títulos e Documentos, a nossa querida Sinagoga Shaar Hashamaim, no dia 27 de janeiro daquele ano . (Ver quadro ao lado) A partir daí, o terreno escolhido, situado a Rua Arcipreste Manoel Teodoro, deveria ser adquirido. Muitas famílias contribuíram para a compra do mesmo, porém, em especial a família Pinto, fez uma valiosa contribuição.
A comunidade crescera e a casa da Rua Frutuoso Guimarães, onde à época funcionava a sinagoga, ficara pequena frente ao elevado número de freqüentadores assíduos. Logicamente, proporcionaria também, grande orgulho aos seus fundadores e descendentes, ver um Templo próprio ser construído, especialmente, para abrigar a então centenária Shaar ha-Shamaim.
O início da construção do Templo Passaram-se alguns anos, quando, em 1932, o sr. Messod Jacob Benzecry, retornando da Itália, trouxe em sua bagagem o projeto arquitetônico de Hugo Furine, arquiteto italiano. Não somente a planta, mas também o próprio arquiteto foi trazido pela família Benzecry, para dar início a construção deste “tesouro”.
planta, mas também o próprio arquiteto foi trazido pela família Benzecry, para dar início a construção deste “tesouro”.
construir um Templo mais apropriado para abrigar a sinagoga.
A Sinagoga de Florença, Itália
Com seu estilo mourisco ela seria uma réplica da Sinagoga de Florença na Itália, situada à Rua Farine, 4.
Como administrador da obra e um de seus empenhados batalhadores, estava o Sr. Isaac Tobelem, que desempenhou seu trabalho arduamente, sendo o verdadeiro responsável pela execução do projeto. Mas os problemas começaram a surgir: primeiramente o financiamento. A obra tornou-se imensa e consequentemente o seu custo também, tanto que, por volta de 1935/36, a construção foi interrompida. Neste meio tempo, um outro problema tornava o sonho ainda mais difícil de se concretizar: o arquiteto
Documentos históricos
Carta de fundação da Sinagoga
Convite para a inauguração
Nota promissória usada para pagar a construção da sinagoga 17
C APA
Fundadores
MESSOD JACOB BENZECRY o grande idealizador e empreendedor
Hugo Farine é chamado de volta à Itália, pelo então cônsul italiano, em virtude do Fascismo de Mussolini ter entrado em guerra com a Abissínia. A conclusão e sua inauguração Com poucas esperanças, o capim tomando conta do esqueleto arquitetônico da obra, que ainda nem possuía a sua cúpula, surge o jovem engenheiro Judah Eliezer Levy. Convidado a participar da luta dos abnegados que ainda sonhavam em concluir os trabalhos de construção do Templo, Dr. Judah brilhantemente, deu continuidade ao trabalho de Furine, preservando o estilo europeu e mourisco do projeto original. Sanado o problema de engenharia, faltava, agora , resolver o déficit financeiro. Este também,
foi solucionado através de compromissos pessoais assumidos por alguns integrantes da Comissão de Construção. O Sr. Jacob Benzecry, juntamente com seu filho Messod, coordenavam e controlavam os empréstimos 18 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
JUDAH ELIEZER LEVY o engenheiro que concluiu a obra
Em pouco mais de dois anos, o esforço de todos foi recompensado. No dia 8 de outubro de 1940 a primeira sinagoga do Norte do Brasil, teve seu Templo inaugurado.
ISAAC TOBELEM o verdadeiro construtor, o mestre-de-obra
contraídos da Comissão. Os mesmos ficavam documentados através de notas promissórias que seriam resgatadas posteriormente. Assim foram reiniciados
os trabalhos e o empenho era tanto, que em pouco mais de dois anos, o esforço de todos foi recompensado.
No dia 8 de outubro de 1940 a primeira sinagoga do Norte do Brasil, teve seu Templo inaugurado. Este tesouro, é até hoje, e será por muitos anos, ainda, motivo de orgulho para todos os judeus da região. Fachada da Sinagoga, esforço recompensado
Shaar Hashamaim e seus fundadores Foi Yaacov Avinu quem pela primeira vez, pronunciou as palavras Shaar ha-Shamaim. Isso aconteceu na Parashá Vaietzé, versículo 17, capítulo 18. Essa referência deve ter servido de inspiração para os fundadores dos templos de Shaar Hashamaim em diversas comunidades do mundo. O daqui, entretanto, acha-se cercado de certas peculiaridades que passamos a relatar. O seu fundador chamava-se Leon Israel. Ora, Leon em hebraico vem a ser Yehudá que na Torá foi o quarto filho de Yaacov. Quando da construção do templo que se acha erguido na rua Arcipreste Manoel Teodoro, recordaremos que os principais envolvidos em sua edificação foram: Messod Jacob Benzecry, Jacob Messod Benzecry, Isaac Tobelem e José Azulay, Aleihem ha-Shalom, não obstante ter havido um certo número de pessoas que muito colaboraram naquela majestosa obra. Messod, o primeiro deles, foi o principal responsável pela vinda do arquiteto italiano Hugo Furline. Foi ele quem viajou à Itália e trouxe Furline e a planta da tão sonhada sinagoga. Vamos, pois, verificar que os nomes de três dos quatro personagens citados, tal como o fundadores, o Sr.Judá Israel e ainda o Sr. Judá Eliezer Levy - o engenheiro que concluiu a obra – todos fazem parte integral da família de Yaacov Avinu. Há uma outra particularidade que cerca os nomes daqueles personagens. É que quase todos eles principiam com a letra “yod”: Yehudá o fundador, Yaacov Benzecry, Ytzchak Tobelem, Yosef Azulay”e finalmente Yehudá, o último “yod”, nem por isso menos importante, a completar a divina sequência de um quinteto que ajudou a dar a Kehilá de Belém do Pará, um dos mais lindos templos existentes no Brasil. Materialmente falando, a construção do templo era praticamente impossível. O número de famílias existentes em Belém naquela ocasião, não autorizava sequer a execução de tal projeto, quanto mais a sua edificação. Mas a fé inquebrantável em D´us, fez com que a união daqueles cinco “yodim”, encontrasse força e inspiração para levar a cabo a nobre mitzvá que lhes foi confiada, por quem
também ostenta em seu nome a minúscula letra “yod” – HAKADOSH BARUCH HU! Eis aí um dos milagres de que é pródigo o povo judeu. À construção do templo Shaar Hashamaim soma-se a muitos outros, como: o sacrifício de Isaac, a passagem do Mar Vermelho, Chanuká, a Guerra dos Seis Dias e tantos outros que fogem à nossa imaginação, mas que estarão sempre acontecendo em conseqüência única de nossa fé inabalável no D´us de Abraham , Isaac e Jacob. Reubem Tobelem z´l – ex diretor de Culto da Sinagoga Shel Guemilut Hassadim do Rio de janeiro. Advogado.
Reubem e Myriam Tobelem, casal símbolo dos olim da Amazônia, recebe homenagem em cerimônia dos 200 anos - Jerusalém 28/07/2010
Nota dos editores Quis o Criador, que enquanto editávamos esta matéria que inclui este belíssimo texto de Reubem Tobelem z´l , pessoa tão amada por todos os que o conheceram e a referência à participação de seu amado pai, Itzhak Tobelém na construção do templo Shaar ha-Shamaim, ele nos deixasse, partindo para sua morada eterna. A Revista Amazônia Judaica aproveita para pedir ao Eterno que conceda a sua alma, o repouso e a paz eternos e possa Ele confortar sua esposa Miryam, suas filhas e todos os seus parentes e amigos.
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R ES GATE HI STÓRICO Por Nelson Menda**
OS IRMÃOS SEQUERRA
HERÓIS ANÔNIMOS DO SÉC. 20 * No dia 24 de agosto de 1913, nasciam na cidade do Faro, sul de Portugal, os irmãos gêmeos Samuel e Joel Sequerra, filhos de um próspero empresário do ramo pesqueiro. Os Sequerra tinham retornado no século XIX, provenientes da Inglaterra, e se orgulhavam do seu passado judaico-português. Duzentos anos antes, um Sequeira havia sido queimado pela Inquisição em Portugal e seus três filhos tiveram de se refugiar na Inglaterra, passando a utilizar o sobrenome Sequerra.
C
om a morte do patriarca, e tendo de enfrentar a crise mundial de 1929, a empresa dos Sequerra foi à falência. Em 1933, a viúva mudou-se para Lisboa com seus cinco filhos, e, entre eles, os gêmeos Samuel e Joel, então com 20 anos. Quem me relatou esses fatos foi Salomão Sequerra, no seu apartamento do Leme, Rio de Janeiro, em março deste ano. Salomão nasceu
em Lisboa, em 1943, e mudou-se com os pais e os irmãos para o Brasil em 1958, aos 15 anos de idade. Ele
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é filho de Joel e sobrinho de Samuel, dois heróis anônimos do século XX. Tudo começou em Barcelona, capital da Catalunha, Espanha, em 1942. Era a época conturbada da expansão militar da Alemanha nazista, incluída a França, país limítrofe à Espanha. Legiões de refugiados vagavam de um país ocupado para o outro, em busca desesperada da única rota possível de fuga: a fronteira franco-espanhola. A travessia dos Pirineus, a pé, levava alguns dias e era realizada sob as piores condições climáticas possíveis.
Os refugiados, além disso, precisavam driblar a vigilância da polícia francesa de fronteiras, que colaborava abertamente com a Gestapo, sem falar nos ladrões e contrabandistas que perambulavam pela região. A Espanha
era considerada uma aliada de Hitler, com Franco, vitorioso na guerra civil, apoiado financeira, militar e ideologicamente pela Alemanha.
Barcelona, reduto republicano e antifascista, foi uma das cidades mais castigadas pelas falanges franquistas. O dialeto catalão estava proibido e até mesmo a sardana,
CIdade do Faro, por dentro de suas antigas muralhas.
Inverno nos Pirineus, fronteira de Espanha com a França
dança folclórica tradicional, era considerada subversiva e punida com prisão. Apesar de toda a simpatia
e gratidão de Franco por Hitler, a Espanha representou, durante a II Grande Guerra, a salvação para os fugitivos do ódio nazista. O governo
espanhol fazia vista grossa para os refugiados judeus que entravam no país, recusando-se a devolvê-los à polícia francesa ou à Gestapo. Samuel e Joel tinham credenciais da Cruz Vermelha Portuguesa e eram também funcionários da JOINT, uma entidade de assistência aos refugiados, fundada pelo filantropo norte-americano Jacob Schiff. Assim que desembarcaram em Barcelona, vindos de Lisboa, os dois irmãos se hospedaram no Hotel Bristol, em plena Plaza de la Cataluña, que se transformou no ponto de encontro dos refugiados que conseguiam chegar à cidade. Samuel tinha se graduado em Economia e era um diplomata nato, com enorme capacidade de relacionamento. Sua missão era contatar e fazer amizade com ministros, embaixadores, cônsules, chefes de polícia, superintendentes penitenciários e até mesmo diretores de hospitais. Joel, um assistente social na completa acepção da palavra, executava o trabalho de bastidores, percorrendo
Uma vez localizado um refugiado, era preciso retirá-lo da prisão e encontrar uma residência digna, roupas, alimentos, um emprego e, mais importante, documentos e vistos para que pudesse sair do país em segurança.
com seu carro os postos de fronteira, as prisões, as delegacias de polícia e os diversos campos de prisioneiros onde pudesse encontrar e socorrer fugitivos da barbárie nazista.
Os dois contavam com o apoio de um eficiente grupo de voluntários que tinham ajudado a organizar.
Uma vez localizado um refugiado, era preciso retirá-lo da prisão e encontrar uma residência digna, roupas, alimentos, um emprego e, mais importante, documentos e vistos para que pudesse sair do país em segurança. De 1942 a 1945 Samuel e Joel conseguiram salvar aproximadamente 1.000 pessoas, entre as quais o Barão de Rothschild, que, no impressionante relato da escritora Trudy Alexi no livro A Mezuzá nos Pés da Madona (Editora Imago), “chegou com as roupas esfarrapadas, depois de cruzar os Pirineus andando junto com a família”. Trudy, na época uma adolescente, conseguiu fugir pela escarpada fronteira franco-espanhola, tendo se radicado, posteriormente, nos EUA. A escritora dedicou-se a entrevistar sobreviventes do Holocausto que, como sua própria família, haviam utilizado a rota Pirineus-Barcelona
para alcançar a liberdade. É ela quem menciona, pela primeira vez, o nome Seguerra, com g, citado 14 vezes em sua obra. Outro livro, do escritor Haim Avni, publicado em hebraico e inglês, Spain, the Jews and Franco, também se refere ao trabalho heróico dos dois irmãos. Para os homens solteiros, a salvação estava, muitas vezes, nas “noivas” portuguesas e espanholas que os irmãos Sequerra, com ajuda da coletividade, tratavam de arranjar. Como “maridos”, tinham o direito de conseguir os documentos necessários para a sonhada viagem do casal à América, destino preferido da maioria dos perseguidos. Muitos desses casamentos fictícios, redundaram em uniões reais e duradouras. Para outros, bastava ir à respectiva legação diplomática e conseguir passaportes e vistos para um país que os aceitasse. Com a progressão da guerra, contudo, estava ficando cada dia mais difícil obter esses documentos, especialmente para os judeus poloneses, que não eram reconhecidos como cidadãos pelo consulado do seu país.
Em alguns casos, quando havia risco iminente de deportação, o 21
R ES GATE HI STÓRICO refugiado era internado às pressas em um hospital, onde um cirurgião amigo constatava a necessidade urgente de uma cirurgia para retirada do apêndice. Extirpava-se, na maioria das vezes, um órgão saudável, mas em contrapartida, salvava-se uma vida. Quando se esgotavam as possibilidades de conseguir passaportes e salvo-condutos, os Sequerra encaminhavam os refugiados para Portugal. Em Lisboa, a comunidade judaica havia montado uma estrutura para prestar-lhes auxílio médico e financeiro, além de assistência para a obtenção de passaporte português e um providencial visto para uma terra que os acolhesse. Além dos Estados
Unidos, Marrocos, no norte da África, Cuba, México e Bolívia foram alguns dos poucos países que aceitaram receber refugiados, em um período em que as portas se fechavam para os judeus. Essa intensa atividade dos
irmãos Sequerra em Barcelona não passou despercebida da Gestapo. O escritório da JOINT já havia sido transferido do Hotel Bristol para uma sede maior, no Paseo de Gracia. Uma noite, Samuel e Joel foram salvos pela própria dedicação ao trabalho. Com excesso de tarefas, tiveram de fazer serão, tendo sido surpreendidos pelo ruído de uma violenta explosão, que destruiu completamente seu carro. Tivessem saído na hora habitual, teriam sido mortos pela bomba-relógio que os nazis colocaram sob o veículo. A esse atentado e outros dois, Samuel e Joel não esmoreceram e levaram a cabo sua meritória atividade. Com o fim da guerra, Samuel e Joel continuaram suas atividades comunitárias em Portugal, mudando-se para o Brasil no final dos anos 50. Samuel, solteiro, foi para a iniciativa privada, sendo eleito Presidente do Cemitério Comunal Israelita, no Rio de Janeiro, cargo que exerceu com enorme competência e dedicação até
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sua morte, em 1992. Bem à entrada dessa necrópole, no bairro do Caju, uma placa em bronze presta uma merecida homenagem ao herói anônimo que nunca aceitou, em vida, qualquer tipo de honraria e que se encontra sepultado na própria entidade que dirigiu com extremo zelo. Seu irmão Joel, que veio com a esposa e os quatro filhos para o Rio de Janeiro em 1958, continuou desenvolvendo seu trabalho em entidades de auxílio aos refugiados, participando de projetos em prol dos judeus da
Em Lisboa, a comunidade judaica havia montado uma estrutura para prestar-lhes auxílio médico e financeiro, além de assistência para a obtenção de passaporte português.
Hungria, Egito, Romênia e Bulgária. Em 1979, aos 66 anos, Joel Sequerra se aposentou, transferindo-se para Haifa com a esposa Simy. Naquela aprazível cidade israelense já vivia seu filho Arão, um brilhante arquiteto com Mestrado e Doutorado no Technion. Joel Sequerra curtiu seus últimos anos em Haifa, vindo a falecer aos 74 anos, em 1988. Além do internauta Salomão, que me relatou, emocionado, a maior parte dessa comovente história, os irmãos Sequerra nunca gostaram de conversar com a família e os amigos sobre o que presenciaram durante os anos de chumbo da II Guerra e sempre recusaram receber qualquer tipo de homenagem, alegando, modestamente, que não haviam feito mais do que sua obrigação.
Uma frase de Joel, todavia, resume em poucas palavras o misto de esperança e amargura que o acompanhou por toda a vida: “eu gostaria de acreditar que esse tenha sido o último Holocausto”.
Lisboa Antiga * Fonte: www.esefarad.com
** Nelson Menda é médico ortopedista, empresário e co-fundador do CONFARAD
COMUNIDADES
O MUNDO SAGRADO DO NOVO MUNDO Por Rabino Eliahu Birnbaum*
Três histórias diferentes e intrigantes que se entrelaçam entre o sagrado e o profano, entre a luz e a escuridão, entre Israel e os povos, ensinam sobre os traços da comunidade judaica em Manaus, no Amazonas, e abrem uma janela para a história judaica que deixou sua marca até os dias de hoje.
S
ão elas: a odisséia do Sefer Torá de 400 anos desde Portugal para o Marrocos e do Marrocos para o Brasil, para o rio Amazonas; a história de Rebi Muyal, rabino enviado do Marrocos e que faleceu e foi enterrado em Manaus e tornou-se “rabino milagreiro” para judeus e não judeus. E por fim, a história das “mulheres polacas”, mulheres judias que foram trazidas da Polônia para o Brasil e América do Sul para trabalhar como prostitutas.
no Marrocos quando da chegada dos judeus expulsos da Península Ibérica. Em Manaus os judeus mais antigos de hoje afirmam que as divergências que culminaram com a divisão em duas sinagogas eram por pequenas diferenças no “nussach hatefilá” (rito da oração) entre os originários de Tetuan e de Tanger no Marrocos. Interessante
Os Expulsos e o Sefer Torá A primeira Sinagoga de Manaus, “Beit Yaakov”, foi fundada em 1928.
freqüentadores das duas sinagogas decidiram se juntar e fundaram um único Beit haKenesset (Sinagoga),Sinagoga
De acordo com alguns membros da comunidade, esta era a Sinagoga dos “megurashim” (expulsos), pois nela rezavam os descendentes dos judeus que foram expulsos da Espanha e de Portugal e chegaram ao Marrocos.
notar como essa divisão histórica entre os “megurashim” e os “toshavim” começou rolando no Marrocos e foi parar no Brasil e ainda perdurou muitos anos. Em 1962, os
Beit Yaakov-Rebby Meyr, e assim teve fim esse discussão histórica. O Sefer Torá de 400 anos que descansa no Aron haKodesh (Arca Sagrada) da sinagoga de Manaus é para os judeus locais não apenas um tesouro histórico, mas também um tesouro sentimental. A tradição comunitária conta que o Sefer Torá antigo tem sua origem em Portugal, depois ele acompanhou os judeus que decidiram abandonar o país, pelos maus tratos impostos pela Inquisição e por suas leis intransigentes, e decidiram viver no Marrocos no século XVII. O Sefer então passou de Portugal para o Marrocos, do Marrocos
Sefer Torá da comunidade de Manaus.
Eles falavam o Ladino e tinham o costume dos “sefaradim tehorim”, dos sefaraditas puros. Neste mesmo ano, foi inaugurado o primeiro cemitério israelita que está localizado bem ao lado do cemitério católico, e separado deste, por um muro de 10 tefachim (mais ou menos um metro e meio). Mais tarde foi fundada a Sinagoga “Rebby Meyr”, na qual rezavam os “toshavim”, os judeus que já viviam 23
COM UNID ADE S continuou sua viagem com os judeus que buscavam uma vida nova nos rios da Amazônia brasileira, sem esquecer sua religião e cultura judaica. O Sefer Torá honrou durante muitos anos a pequena comunidade israelita de Itacoatiara, e somente depois que essa kehilá (comunidade) se extinguiu completamente, em meados do século XX, foi levado o Sefer Torá para o Aron haKodesh de Manaus onde descansa até hoje. Quando visitei a sinagoga da comunidade, pedi para ver o Sefer Torá com os meus olhos e impressionou-me a klaf (pergaminho) e o formato das letras que comprovam a procedência e a odisséia desse Sefer Torá. Após verificação com especialistas confiáveis em Israel, pode-se afirmar que o Sefer Torá de Manaus tem a letra em formato Sefaradi (não do norte da África, mas Espanha), e foi escrito no fim do século XVI. Há alguns anos atrás, o Museu da Diáspora (Beit Hatfutzot) em Tel Aviv – Israel, pediu que a comunidade doasse o Sefer para que fosse exposto ao grande público de visitadores deste museu. Após diversos
diálogos dentro da comunidade, ficou decidido manter o Sefer Torá em seu lugar, no Aron haKodesh, e não doá-lo. Quando perguntei o
porque desta decisão ao presidente da comunidade, Sr. Jaime Benchimol, ele respondeu: “No Beit Hatfutzot este Sefer Torá será mais um objeto sagrado entre os muitos que se encontram no museu, mas aqui conosco, este Sefer, é o coração de comunidade judaica, ele é testemunho da longa e tortuosa história que trouxe os judeus para a Amazônia e é a origem da inspiração e do orgulho dos judeus de Manaus”. A Sepultura do Rabino Muyal Fiquei para minha última visita à Manaus no Rosh Chodesh Shevat, dia da Hilulá (aniversário do falecimento) 24 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
Túmulo de Rabi Muyal, o “rabino santo milagreiro”
do Rabino Muyal z”l, conhecido como o Tzadik (Sábio) de Manaus. Quis visitar sua tumba, e comecei a andar pelo cemitério católico onde ele está enterrado, na esperança de encontrar sua sepultura. Não precisei me esforçar muito: quando perguntei a pessoas que trabalham no cemitério se elas sabiam, por acaso, onde estava sepultado o Rabino Muyal, responderam educadamente: “certamente, a sepultura do nosso rabino santo milagreiro...”, e apontavam o caminho a seguir. O Rabino Muyal morreu em 1910, provavelmente de febre amarela, e foi enterrado no cemitério municipal porque não havia, cemitério israelita até 1928. Ninguém pode afirmar com toda certeza qual o motivo que fez com que o Rabino Muyal abandonasse o Marrocos e fosse para a Amazônia brasileira em 1908. A versão mais
aceitável parece ser a que alega que o Rabino Muyal foi enviado pelo Rabino Chefe de então no Marrocos, Rabino Rafael Encáua, para tentar
aproximar mais ao judaísmo, os judeus que viviam nas florestas tropicais e estavam pouco a pouco, se afastando de sua herança israelita ancestral e de sua fé no judaísmo. Muyal iniciou sua caminhada pela Amazônia, como todos que aí chegavam, pela cidade de Belém e depois seguiu viagem pelo rio acima. Em 1910 ele já
estava em Manaus e havia percorrido cerca de 2000 quilômetros. Após ter iniciado o seu trabalho na comunidade judaica de Manaus, ele faleceu vitimado por uma doença.
Os que contam essa história relatam, que ninguém queria estar ao lado do rabino quando ele estava morrendo, com exceção de uma senhora de nome Cota Israel, que cuidou dele com toda dedicação até sua morte.
Após sua morte, D. Cota passou a perceber que havia adquirido uma capacidade para curar doenças como contusões, problemas de joelho, fissuras e problemas de coluna. “Ela era uma senhora simples e começou a cuidar de pessoas assim como os fisioterapeutas fazem
Apesar do Rabino Muyal ter sido enviado a princípio para a comunidade judaica, ele se transformou após a sua morte, num “santo” fazedor de milagres, principalmente, para os católicos da cidade.
Esta pergunta e sua
dias: mulheres judias que
do rabino Muyal, ter solicitado a transladação dos restos mortais para uma nova cova em Israel, e os dirigentes da comunidade judaica terem recusado tal solicitação, pelo receio dos moradores locais dizerem que os judeus estavam levando um de seus “santos”.
foram trazidas da Europa
Entre o sagrado e o profano
resposta, mostram uma realidade vergonhosa que existia naqueles
para trabalharem como prostitutas na cidade. hoje em dia”, diz Isaac Dahan, médico e chazan da comunidade israelita de Manaus. Quando perguntavam como ela fazia aquilo, Cota Israel dizia que era uma bênção do Rabino Muyal. Apesar do Rabino Muyal ter sido enviado a princípio para a comunidade judaica, ele se transformou após a sua morte, num “santo” fazedor de milagres, principalmente, para os católicos da cidade. Os membros da comunidade israelita costumam visitar sua sepultura na véspera de Rosh Hashaná, mas os cristãos fazem isso durante todo o ano. O Rabino Muyal se transformou numa figura muito importante para os residentes locais, a ponto de há alguns anos atrás o ex-parlamentar Eli Muyal z”l, sobrinho
Detalhe da lápide no túmulo de Rabi Muyal.
Os judeus que imigraram para Manaus, preservaram o contato permanente com suas comunidades no Marrocos. Dentre muitos pretextos,
este contato serviu para encontrar noivas para os jovens aventureiros que já não eram mais tão jovens assim, e haviam se tornados homens na Amazônia. Eles escreviam para suas mães pedindo que buscassem, para si mesmos, uma esposa entre primas e vizinhas conhecidas, objetivando constituir uma família judia. Até hoje, existem em Manaus, algumas pessoas idosas que sabem contar, que seus pais ou avôs se casaram após a noiva ter sido “encomendada” do Marrocos. Inúmeras perguntas foram enviadas a grandes rabinos e daianim (juizes) no Marrocos de todos os cantos, onde os Marroquinos viviam espalhados pela Diáspora. Em livros “shut” – perguntas e respostas – do Rabino Rafael Encáua e também no livro do Rabino Itzchak ben Ualid, “Vaiomer Itschak”, aparecem muitas questões que foram enviadas a esses sábios, especialistas na lei, por judeus das comunidades da Amazônia – Belém, Manaus, Itacoatiara e outras. Os judeus que escolheram ficar no Brasil continuaram ligados espiritualmente ao Marrocos. O Rabino Rafael Encáua era conhecido em todo o Marrocos como “o Anjo Rafael”. Ele nasceu em 1848 e faleceu em 1935, quando tinha 87 anos. Em seu livro “Karnei Reem”, consta uma pergunta, da qual aprendemos sobre um fenômeno vergonhoso e difícil que acontecia em Manaus. E assim foi enviada a
resposta do Rabino Encáua a pergunta dos judeus de Manaus no capítulo 25: “Resposta para a comunidade do Pará no Brasil, sobre o que pediram para eu avaliar e dar minha deliberação sobre o assunto do “parochet” (cortina que fica na frente do Aron Hakodesh), que foi feito por mulheres prostitutas para a sinagoga e também sobre suas doações para a sinagoga, se é permitido receber delas ou não...” É sabido que os livros de “shut” servem como fonte abundante para o estudo da história judaica em todas as épocas. Esta pergunta e sua resposta, mostram uma realidade vergonhosa que existia naqueles dias: mulheres judias que foram trazidas da Europa para trabalharem como prostitutas na cidade. Quando perguntei para alguns membros da comunidade a origem dessa questão, eles souberam dizer que,
entre as mulheres judias que se prostituíam em Manaus, algumas vinham, freqüentemente, ao presidente da comunidade na época dos Dias Temíveis (Iamim Noraim) e outros Chaguim (Festas), fazer suas doações
para ajudar a preservar os serviços religiosos e de caridade na comunidade de Manaus. É possível, que deste modo, pensavam estar se redimindo da profissão que exerciam e que lhes foi imposta por um triste destino. Assim, por exemplo, é conhecida a senhora de nome Lola, que durante quase toda sua vida foi prostituta, porém, quando se aproximou o dia de sua morte, pediu para retornar e se juntar novamente ao povo de Israel, e deixou sua herança para a comunidade judaica de Manaus. Ela, porém, condicionou a herança, ao pré-requisito de puder ser enterrada como judia em cemitério israelita. Se não conseguiu viver sua vida como judia, pelo menos queria ser enterrada como tal, assim como seus pais e antepassados o foram. Essa situação, assim como muitas outras, são o pano de fundo para essas perguntas.
* O Rabino Eliahu Birbaum é Diretor Fundador do Straus Amiel Programas e Rabino da Organização Shavei Israel
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C RÔNIC A ES PE CI AL
ELE O GURU, E EU O GURI
MINHA HISTÓRIA COM MOACYR SCLIAR Z´L por Elias Salgado *
26 AMAZÔNIA JUDAICA No4 - JUL/2011
Esta coluna CRONICA é especial. Para nós ela é triste, mas ao mesmo tempo prenhe de orgulho – poucas comunidades judaicas do mundo tiveram o zehut - a honra - de ter entre suas fileiras, o maior escritor judeu de seu tempo, entre os melhores do país. Moacyr Scliar nos brindou com sua escrita magistral e nos engrandeceu como seres humanos, judeus e brasileiros. Os meus amigos mais próximos, já estão cansados de saber de meus “pecados proto literários”, que é como denomino, tomado pelo temor, minhas pretensões de escritor, meus pequenos vôos pelos céus sem limites da fantasia literária. Todo pretenso escritor tem seu guru, o meu mais próximo, desde longa data, foi Moacyr Scliar z´l. Começou esta relação, como começam todas entre o leitor e o seu autor. Não que Moacyr tenha sido o único – confesso minha infidelidade humana - acontece que mesmo não sendo tricolor doente, sou levado a concordar com o velho bruxo, Nelson Rodrigues, que afirmava algo mais ou menos assim: há apenas 3 ou 4 livros (autores) importantes para cada um de nós, cabe apenas relê-los sempre. Com Moacyr foi assim. Na fase de leitor, como muitos, comecei pela “Guerra do Bom Fim” e “O Exército de um homem só”, segui pelo “Ciclo das águas” passei pelo “O centauro no jardim” e daí não parei mais, chegando por último ao “Manual da paixão Solitária”. Neste último, ele “pegou pesado” comigo, pois sem saber, escolheu como tema a vida de Tamar de Judá, o mesmo personagem bíblico que sempre me encantou - encanto que me fez dar nome a uma de minhas filhas.
Personagem, passível de controvérsia nos meios mais conservadores e tão bem compreendido por ele e por Thomas Mann, em sua tetralogia “José e seus irmãos”, onde Mann apresenta uma Tamar esplendorosa, dona de si e de suas escolhas e a de Scliar é exatamente assim, só que com um delicioso e magistral tom satírico, uma das fortes marcas de sua obra. Como o conheci pessoalmente, sim porque eu o conheci e muito
bem, é um outro longo pedaço desta mesma história. Tudo começou nos anos 90, ao pesquisar e escrever um trabalho sobre judeus no Brasil, para a Universidade Hebraica de Jerusalém que se propunha ser um programa de estudos do tema nas escolas – o primeiro de seu gênero- optei por utilizar como uma das ferramentas didáticas e pedagógicas de apoio, a literatura de autores judeus brasileiros.
Moacyr Scliar z”L 23.03.1937 – 27.02.2011 “Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que “baixa” no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente”. Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937, filho de José e Sara Scliar. Sua mãe, professora primária, foi quem o alfabetizou. Cursou, a partir de 1943, a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica. Em 1955, passou a cursar a faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS), onde se formou em 1962. Em 1963, inicia sua vida como médico, fazendo residência em clínica médica. Trabalhou junto ao Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), daquela capital. Publica seu primeiro livro, “Histórias de um Médico em Formação”, em 1962. A partir daí, não parou mais. São mais de 67 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio, pelos quais recebeu inúmeros prêmios literários. Sua obra é marcada pelo flerte com o imaginário fantástico e pela investigação da tradição judaico-cristã. Algumas delas foram publicadas na Inglaterra, Rússia, República Tcheca, Eslováquia, Suécia, Noruega, França, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Holanda e
Espanha e em Portugal, entre outros países. Em 1965, casa-se com Judith Vivien Oliven. Em 1968, publica o livro de contos “O Carnaval dos Animais”, que o autor considera de fato sua primeira obra. Especializa-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Inicia os trabalhos nessa área em 1969. Em 1970, freqüenta curso de pós-graduação em medicina em Israel, sendo aprovado. Posteriormente, torna-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Seu filho, Roberto, nasce em 1979. A convite, torna-se professor visitante na Brown University (Departament of Portuguese and Brazilian Studies), em 1993, e na Universidade do Texas, em Austin. Colabora com diversos dos principais meios de comunicação da mídia impressa (Folha de São Paulo e Zero Hora). Alguns de seus textos foram adaptados para o cinema, teatro e tevê. Nos anos de 1993 e 1997, vai aos EUA como professor visitante no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University. Em 31 de julho de 2003 foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada até março de 2003 por Geraldo França de Lima. Tomou posse em 22 de outubro daquele ano, sendo recebido pelo poeta gaúcho Carlos Nejar. O escritor faleceu no dia 27/02/2011, em Porto Alegre (RS), vítima de falência múltipla de órgãos. 27
C RÔNIC A ES PE CI AL Meu cânone e orientação, veio da grande amiga Regina Igel, da Universidade de Maryland, especialista em literatura judaica brasileira, autora do clássico “Imigrantes Judeus, escritores brasileiros”. Este meu trabalho leva o título de “História e Identidade, a experiência dos judeus no Brasil”, inédito até hoje como livro, mas que possui um prefácio elogioso e generoso, escrito por meu guru – a primeira de várias lembranças carinhosas e encorajadoras que ele me deixou. O primeiro de inúmeros encontros pessoais aconteceu em 1998, quando atendeu ao meu convite, para uma palestra aos alunos do colégio A. Liessin Scholem Aleichem e daí não paramos mais - eu de convidá-lo e ele de aceitar os convites, aliás, justiça seja feita: nunca soube que ele tenha negado algum a alguém... Em 2003, numa palestra no colégio TTH-Barilan, nos reencontramos e ao final do evento, levei-o, caminhando, até o hotel onde estava hospedado, e aproveitamos para colocar nossa conversa em dia. A certa altura ele me revelou o
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que pouquíssimos sabiam no país naquele momento: “ Tu sabes, guri, que me convidaram para fazer parte da Academia? Na verdade eles estão querendo se retratar com o Rio Grande, já que não colocaram lá o Mário Quintana...” Se isso não é humildade, o que seria então, esta tal coisa? Alguns poderiam pensar que talvez duas coisas me passaram pela cabeça: a primeira, que eu estava feliz por ele e muito por mim, pois acabava de ganhar um amigo imortal. A segunda, que me apossou um sentimento pouco nobre, e pensei: “acabo de perder um amigo...” Mas minha história com Moacyr ainda continuou, e para mim é tão imortal quanto ele. Em 2006, assumi a diretoria cultural do CCMA - Centro Cultural Mordechai Anilevitch. Em 23 de março de 2007, dia de seu aniversário, na Festa de Pessach, Moacyr e Judith, sua esposa, festejaram conosco, em nossa sede seus 70 anos. (veja em :http://www.youtube. com/watch?v=tXR7F9rRvBg) Nesta noite, como em inúmeras
outras, foi lido um texto inédito, mas já conhecido de certos setores, “Um Seder para nossos dias” – entre os mais próximos chamado de “A Hagadá do Moacyr”. Considero este texto, um dos grandes momentos literários e humanistas do meu grande guru. No ano seguinte, Moacyr aceitou mais um de meus diversos convites – em minha opinião, o maior de todos – dar seu apoio como patrono ao Concurso de Literatura do CCMA, cujo prêmio leva seu nome – Prêmio Moacyr Scliar. Encontramo-nos pela última vez em 2009, durante as gravações de uma entrevista televisiva na sede da Academia Brasileira de Letras, que organizamos para divulgar o III Prêmio Moacyr Scliar. Participando das gravações estava também um dos grandes ícones da crítica literária, e uma das maiores conhecedoras da obra de Moacyr, Bella Jozef z´l, PhD em literatura e presidente do júri do concurso. Tenho em meus arquivos as imagens, ainda não tive coragem de assisti-las novamente. No momento me bastam as memórias vivas como elas estão e sempre estarão.
*Elias Salgado é Diretor do Amazônia Judaica.
ÚLTIMO TEXTO DO AUTOR
Lágrimas e testosterona Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar é golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora o nível de testosterona do homem que estiverem por perto, deixando o sujeito menos agressivos. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada — e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido deixando-os menos machões. (Publicado no caderno Ciência, 7 de Janeiro de 2011) Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava de mais. Cada vez porém, que queria repreendê-la por urna dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Considerava-se um cara durão, detestava gente chorona. Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comovia-o à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda. Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi urna
verdadeira revelação. Finalmente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíram a testosterona em seu organismo, privando-o da natural agressividade do sexo masculino, transformando o num cordeirinho. Uma idéia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era o que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio. Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão. Decidido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele de repente caiu no choro,um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo? É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e suas lágrimas. Moacyr Scliar, que morreu no último dia 27/02/2011, à 1h. aos 73 anos, escrevia na coluna “Cotidiano” do jornal “Folha de São Paulo”, às segundas-feiras um texto de ficção baseado em notícias publicadas no jornal. Esta é a última coluna do médico e escritor publicada naquele espaço. Este texto, inédito, foi enviado pelo escritor ao jornal no dia 11/01/2011 , antes de sofrer um AVC (acidente vascular cerebral), no dia 17/02/2011. Fonte: Releituras http://www.releituras.com/mscliar_bio.asp 29
C ONTATO
CARTAS DOS LEITORES Elias, É um prazer receber notícias suas. Os 200 anos da recente Amazônia Judaica merecem maior conhecimento de todos do lado de baixo do equador, bem mais embaixo. Estou me dedicando a fazer conhecer a presença judaica na formação do Brasil, desde Cabral, se não mais antes ainda, como no conto de I.L. Peretz. Um abraço, Herman Glanz – Organização Sionista do Brasil
Prezado David. Sinceros parabéns pela edição da Amazônia Judaica. O Criador esteja sempre te ofertando muita saúde e disposição para continuar essa gloriosa caminhada. Um abraço. Meyr D.Israel – Manaus - AM
Oi Elias. Dei uma olhada no teu site ou blog, não sei a diferença no caso, e fiquei impressionado com o nível do trabalho.
B”H Caro Sr. David Salgado. Venho comunicar que já recebi a Hagadá de Pessach e os demais itens encomendado. Gostaria de agradecer pela atenção e ao mesmo tempo prestar minhas congratulações pela qualidade do material elaborado, com toda certeza este trabalho vem colaborar para o resgate das raízes sefaradi marroquina e ao mesmo tempo disponibiliza uma direção de minhag aos Bnei Anussim do Brasil, pois, a maioria acabam usando materiais ashkenazis. Por isso desejo Mazal Tov pelas recentemente obras editadas. Macedo (Y. Meir Elbaz) Campinas –São Paulo
Caríssimos, Antes de mais nada, agradeço ao Sr. David Salgado e toda a equipe por mais uma brilhante e importante iniciativa de se publicar a Hagadá Shel Pêssach no Rito Sefaradi. Assim sendo, quero fazer o pedido. Sindevaldo Alves de Macedo – Campinas - SP
Querido Elias. Acabo de receber e ler com enorme prazer a Revista Amazônia Judaica. Fiquei maravilhada! A revista está linda e as matérias super interessantes. Vou levar para meus amigos do grupo de estudo de Torá para que conheçam. Beijos, Suely Tabacow Jurberg – Rio de Janeiro - RJ
Paulo Blank – Psicanalista e Phd em Comunicação – Rio de Janeiro- RJ
Queridos amigos. Acabo de receber a revista e as Hagadot, pena que nós moramos longe, pois a minha vontade é abraçar vocês pela beleza das duas coisas. Lindo, lindo! Parabéns!
Fui ao Comitê me encontrar com Anne e ela me deu os exemplares da revista, está linda, muito bem produzida, fiquei muito orgulhosa do trabalho caprichado de vocês, Parabéns! Obs: Obrigada por divulgar a defesa da minha monografia, vocês são muito queridos!
Esther Dimenstein - São Paulo - SP
Dina Paula – Assistente Social e pesquisadora – Manaus – AM
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ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO DE PERNAMBUCO A.H.J.B. - ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO
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Esther Dimenstein Luiz Benyosef Sergio Benchimol Moises Sabbá Denis Minev Alberto Alcolumbre Yehuda Benguigui Ruth Lea Bemergui Rosa Borrás Iria Ferreira Mojluf Chocron Fortunato Chocron Meyr David Israel Ricardo Trigueiro Isaac José Obadia Juarez Frazão Rodrigues Junior Salomão Cohen Raquelita Athias Esther Mimon Benchimol Jaime Salgado
ÁGINA VERD