Frederick Douglass: Devo argumentar quão absurda é a escravatura?

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AKIPARLA A FORÇA DA PALAVRA

ISBN 978-84-18972-03-4

FREDERICK DOUGLASS DEVO ARGUMENTAR QUÃO ABSURDA É A ESCRAVATURA?

A propósito da celebração do 4 de Julho, Dia da Independência dos Estados Unidos, o ex-escravo Frederick Douglass é convidado a proferir um discurso. O seu tom é inteligente e culto; a sua oratória, brilhante. Douglass formula perguntas de grande força retórica, muitas vezes irónicas. Porque o escolheram a ele para falar na festa da independência dos brancos? É necessário argumentar que um escravo é um ser humano? Com exemplos concretos e descrições emotivas, Douglass põe em evidência a hipocrisia dos seus concidadãos e o horror da escravatura num dos discursos mais famosos da história dos Estados Unidos, do qual cada ano se realizam leituras públicas.

DISCURSO PROFERIDO POR FREDERICK DOUGLASS POR OCASIÃO DO DIA DA INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS EM 1852

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DOUGLASS

FREDERICK DEVO ARGUMENTAR QUÃO ABSURDA É A ESCRAVATURA? Comentário de Arianna Squilloni // Ilustrações de Cinta Fosch // Edição bilingue


Publicado por AKIARA books Plaça del Nord, 4, pral. 1ª 08024 Barcelona (Espanha) www.akiarabooks.com/pt info@akiarabooks.com © 2021 Arianna Squilloni, pelas «Chaves do discurso» © 2021 Cinta Fosch, pelas ilustrações © 2021 AKIARA books, SLU, por esta edição Primeira edição: novembro de 2021 Coleção: Akiparla, 8 Tradução do discurso e das «Chaves do discurso»: Catarina Sacramento Desenho e coordenação da coleção: Inês Castel-Branco e Jordi Pigem A AKIARA trabalha com critérios de sustentabilidade, procurando uma produção de proximidade e reduzindo o uso de plásticos e o impacto ambiental. Este produto foi feito com material que provém de florestas certificadas FSC®, geridas de forma responsável, e de materiais reciclados. Impresso em duas tintas, o miolo sobre papel reciclado Shiro Echo Blanc de 120 g/m 2 e a capa sobre cartolina Kraftliner de 250 g/m 2. Usaram-se as fontes Celeste Pro Book, Helvetica Narrow e Franklin Gothic Std. Impresso em Espanha @Agpograf_Impressors Depósito legal: B 17.999-2021 ISBN: 978-84-18972- 03-4 Reservados todos os direitos


DEVO ARGUMENTAR QUÃO ABSURDA É A ESCRAVATURA? Comentário de Arianna Squilloni // Ilustrações de Cinta Fosch // Edição bilingue



ÍNDICE DISCURSO

Proferido por Frederick Douglass por ocasião do Dia da Independência dos Estados Unidos em 1852 Versão em inglês Versão em português

CHAVES DO DISCURSO

Um ex-escravo denuncia a hipocrisia de todo um país Uma voz que não treme Contexto político e social O caminho rumo à liberdade O perigo do poder irresponsável The Columbian Orator O orador no palco Como despertar as consciências? A «jeremiada» Estrutura e qualidades oratórias do discurso Uma voz que continua a ressoar

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Mr. President, Friends and Fellow Citizens:

He who could address this audience without a quailing sensation, has stronger nerves than I have. I do not remember ever to have appeared as a speaker before any assembly more shrinkingly, nor with greater distrust of my ability, than I do this day. A feeling has crept over me, quite unfavorable to the exercise of my limited powers of speech. The task before me is one which requires much previous thought and study for its proper performance.


Senhor Presidente, amigos e concidadãos:

Aquele que consegue dirigir-se a esta plateia sem uma sensação de temor, tem nervos mais fortes do que os meus. Não me lembro de alguma vez me ter apresentado como orador perante uma assembleia em que estivesse mais encolhido ou com menos confiança nas minhas capacidades do que no dia de hoje. Invade-me um sentimento que não facilita o exercício do meu limitado poder de expressão. A tarefa que tenho diante de mim exige muito estudo e reflexão prévia para poder desempenhá-la devidamente.


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I know that apologies of this sort are generally considered flat and unmeaning. I trust, however, that mine will not be so considered. Should I seem at ease, my appearance would much misrepresent me. The little experience I have had in addressing public meetings, in country schoolhouses, avails me nothing on the present occasion. The papers and placards say that I am to deliver a 4th of July oration. This certainly sounds large, and out of the common way, for it is true that I have often had the privilege to speak in this beautiful Hall, and to address many who now honor me with their presence. But neither their familiar faces, nor the perfect gage I think I have of Corinthian Hall, seems to free me from embarrassment.


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Sei que desculpas deste género costumam ser consideradas fracas e vazias. Confio, porém, que as minhas não sejam entendidas dessa forma. Se pareço confortável nesta posição, a minha aparência é enganosa. A pouca experiência que tive de falar em reuniões públicas, em escolas rurais, de nada me serve na presente ocasião. Os jornais e cartazes dizem que vou proferir um discurso sobre o 4 de Julho. Sem dúvida que isto soa importante e grandioso, porque é verdade que tenho tido frequentemente o privilégio de falar nesta bela sala e dirigir-me a muitos dos que agora me honram com a sua presença. Mas nem os seus rostos familiares, nem o perfeito conhecimento que julgo ter desta Sala Coríntia parecem livrar-me do embaraço.


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At a time like this, scorching irony, not convincing argument, is needed. O! Had I the ability, and could I reach the nation’s ear, I would, to-day, pour out a fiery stream of biting ridicule, blasting reproach, withering sarcasm, and stern rebuke. For it is not light that is needed, but fire; it is not the gentle shower, but thunder. We need the storm, the whirlwind, and the earthquake. The feeling of the nation must be quickened; the conscience of the nation must be roused; the propriety of the nation must be startled; the hypocrisy of the nation must be exposed; and its crimes against God and man must be proclaimed and denounced.


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Num momento como este, precisa-se é de ironia abrasadora, não de argumentos convincentes. Oh, se eu tivesse capacidade e pudesse chegar aos ouvidos da nação, hoje derramaria uma torrente ardente de tiradas mordazes, repreensões explosivas, sarcasmo fulminante e reprimendas contundentes. Porque não é de luz que se precisa, mas de fogo; não de uma chuva suave, mas de trovoada. Precisamos da tempestade, do tornado e do terramoto. A sensibilidade da nação tem de ser agitada; a consciência da nação tem de ser avivada; a decência da nação tem de ser sacudida; a hipocrisia da nação tem de ser desmascarada; e os seus crimes contra Deus e o Homem têm de ser proclamados e denunciados.


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Here you will see men and women reared like swine for the market. You know what is a swinedrover? I will show you a man-drover. They inhabit all our Southern States. They perambulate the country, and crowd the highways of the nation, with droves of human stock. You will see one of these human flesh-jobbers, armed with pistol, whip and bowie-knife, driving a company of a hundred men, women, and children, from the Potomac to the slave market at New Orleans. These wretched people are to be sold singly, or in lots, to suit purchasers. They are food for the cotton field, and the deadly sugar mill. Mark the sad procession, as it moves wearily along, and the inhuman wretch who drives them.


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Aqui vereis homens e mulheres criados como porcos levados para o mercado. Sabeis o que é um arrieiro de porcos? Irei mostrar-vos um arrieiro de homens. Habitam em todos os nossos estados do Sul. Deambulam pelo país e enchem as estradas da nação com rebanhos de gado humano. Vereis um destes traficantes de carne humana, armado com pistola, chicote e machete, conduzindo uma companhia de cem homens, mulheres e crianças desde o rio Potomac até ao mercado de escravos em Nova Orleães. Estes miseráveis serão vendidos individualmente ou em lotes, como for mais conveniente para os compradores. São alimento para os campos de algodão e para o mortífero engenho de produção de açúcar. Reparai na triste procissão, que avança cansadamente, e no desgraçado desumano que os conduz.


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Fellow citizens, this murderous traffic is, today, in active operation in this boasted republic. In the solitude of my spirit, I see clouds of dust raised on the highways of the South; I see the bleeding footsteps; I hear the doleful wail of fettered humanity, on the way to the slave markets, where the victims are to be sold like horses, sheep, and swine, knocked off to the highest bidder. There I see the tenderest ties ruthlessly broken, to gratify the lust, caprice and rapacity of the buyers and sellers of men. My soul sickens at the sight.


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Concidadãos, este tráfico assassino continua ativo hoje nesta república presunçosa. Na solidão do meu espírito, vejo nuvens de pó levantarem-se nas estradas do Sul; vejo pegadas deixarem um rasto de sangue; ouço o gemido de dor da humanidade agrilhoada, a caminho dos mercados de escravos, onde as vítimas serão vendidas como cavalos, ovelhas e porcos, entregues ao melhor pastor. Vejo ali que os laços mais ternos são rompidos sem piedade, para gratificar a luxúria, o capricho e a ferocidade dos compradores e vendedores de homens. A minha alma adoece diante desta visão.


AKIPARLA A FORÇA DA PALAVRA

ISBN 978-84-18972-03-4

FREDERICK DOUGLASS DEVO ARGUMENTAR QUÃO ABSURDA É A ESCRAVATURA?

A propósito da celebração do 4 de Julho, Dia da Independência dos Estados Unidos, o ex-escravo Frederick Douglass é convidado a proferir um discurso. O seu tom é inteligente e culto; a sua oratória, brilhante. Douglass formula perguntas de grande força retórica, muitas vezes irónicas. Porque o escolheram a ele para falar na festa da independência dos brancos? É necessário argumentar que um escravo é um ser humano? Com exemplos concretos e descrições emotivas, Douglass põe em evidência a hipocrisia dos seus concidadãos e o horror da escravatura num dos discursos mais famosos da história dos Estados Unidos, do qual cada ano se realizam leituras públicas.

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