PLANTAR O MUNDO

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Publicado por AKIARA books Plaça del Nord, 4, pral. 1ª 08024 Barcelona (Espanha) www.akiarabooks.com info@akiarabooks.com

Primeira edição: outubro de 2024

Coleção: Akipoeta, 9

Tradução: Catarina Sacramento

Direção editorial: Inês Castel-Branco

Depósito legal: B 17475-2024

ISBN: 978-84-18972-60-7

Quando a plantares, como se fosse uma criança, cuida da cerejeira.

MATSUO BASHÔ

Para a Almu, por te atreveres a viver a nossa maravilhosa loucura. JAVIER SOBRINO

Para o Carlos, raiz, tronco, folha. CONCHA PASAMAR

Na infância, vivi numa casa rodeada de prados e árvores, no vale das Bajuras, em Pimiango (Astúrias), e os meus brinquedos favoritos eram umas vacas de madeira que construía com pedaços de carvalho. Outro brinquedo que eu tinha numa figueira era uma bicicleta, a única que tive, e corria pelos caminhos, até voava.

A minha família mudou-se para a cidade, Santander. A relva transformou-se em asfalto e as árvores, em postes de iluminação. Naqueles anos, ainda havia no meu bairro hortas com pomares. E todos os anos me ofereciam os seus frutos. O meu primeiro destino como professor foi Piñeres, Peñarrubia, uma povoação de montanha e pasto com um bosque. Aí, com os meus alunos e alunas, comecei a fazer sementeiras das árvores que nos rodeavam.

Anos depois, construí uma casa numa aldeia com um bosque de azinheiras, perto do mar, em Pechón. Fui plantando uma árvore aqui, uma flor ali. E agora faço o mesmo com os meus filhos. Como veem, a minha vida tem estado ligada a esses maravilhosos seres e também a livros como o que têm nas mãos.

Em pequena, gostava de tudo o que fosse feito de folhas: desenhar em cadernos, ler livros, brincar e sonhar entre as árvores. Depois tornei-me professora, e houve um longo tempo em que só os livros povoaram o meu mundo. Mas as suas folhas pálidas foram convocando as outras: com os meus filhos voltei, quase sem dar conta, à cor dos cadernos e ao verde dos bosques.

Então lembrei-me de que a palavra liber, em latim, primeiro tinha designado a casca das árvores, e que um códice era, simplesmente, um tronco ao qual se seguravam, leves, as folhas. Os nossos antepassados viram árvores naqueles novos suportes de imagens e palavras. Lembrei-me também de que uns são feitos dos outros, e que todos, livros e árvores, fazem renascer o mundo, muitos mundos, a cada dia.

Por isso, agora, nas aulas, rego as palavras que outros semearam enquanto em casa cultivo alguns livros ou pinto o pátio de verde e de mais cores. Gosto de plantar o mundo de seiva e papel.

© 2024 Javier Sobrino, pelo texto © 2024 Concha Pasamar, pelas ilustrações © 2024 AKIARA books, SLU, por esta edição

Impreso em Espanha: @Agpograf_Impressors Reservados todos os direitos

Este livro foi impresso em papel Offset Arena Natural Rough de Fedrigoni, com uma gramagem de 200 g/m2 para o miolo e de 300 g/m2 para as capas dípticas, com costura exposta.

Na tipografia, usou-se Futura Light BT.

A AKIARA trabalha com critérios de ecoedição, otimizando os formatos, escolhendo papéis certificados e optando sempre por uma produção de proximidade, para minimizar o impacto ambiental.

Este produto foi feito com material que provém de florestas certificadas FSC®, geridas de forma responsável, e de materiais reciclados.

Tradução
CATARINA SACRAMENTO

O que se passou no mar?

O mar encheu-se de jacarandás quando a primavera chegou.

O azul fez-se flor, o verde em folha se tornou.

A espuma dissipou-se e as árvores povoaram a terra.

Fala-me das árvores!

As árvores são parecidas entre si, mas cada uma se distingue: há-as frondosas e ralas, rugosas e lisas, altas e baixas, grossas e esguias.

Como são, a sério?

Árvore e árvore são árvores. Elas juntam-se sempre em parques e avenidas, em florestas e bosques, em matas e selvas.

Com que sonham as árvores?

Sonham com ver a lua e as estrelas, com os duendes e as fadas.

Sonham com ter luz e água, com vento e brumas.

Sonham com brincadeiras de crianças. com ter ninhos e casas penduradas. Sonham com ser verdes e altas, com palavras de apaixonados.

Sonham com ser velhas e caminhar como os seus antepassados.

Sonham com tocar nas nuvens e voar com o vento.

Temos de plantar, plantar nas planícies, plantar nas montanhas, plantar nos vales, plantar até nos desertos, e encher a terra de árvores.

Temos de plantar o mundo.

AKIPOETA A BELEZA DOS PORMENORES

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