Revista março 2012

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Revista cultural de novos autores

Ano I Nº 3 março de 2012 3,50 euros (IVA incluído)

depois do CONTRALUZ

Fernando Fragata

o portal de Títar sei onde mora

Vitor Moinhos

Manuel Monteiro

da publicidade para a tela

Tico Esteves Fernando Girão

portefólio

conversa com

Jorge Rebelo



Revista

Carta do editor Propriedade/Edição Meiostextos,Edições, Lda. Publicação Mensal NPC nº 510028810 Capital social 5.000€ Diretor Executivo e Financeiro Lina Conceição Editor / Designer Gráfico Luís Fernando Graça Deptº Comercial Andreia Campante Telma Lourenço Fotografia Paula Cardoso Graça Colaboradores Carlos Almeida Sónia Pessoa Vitor Lages Jorge Alves

Administração, Redação e Publicidade R. D. Augusto Pereira Coutinho, 15 2870-309 Montijo Telef. 210 886 287 Fax. 210 880 898 E-mail: revistanovostalentos@gmail.com

Há muito que além de artista plástico, organizo eventos culturais, organizo exposições, encontros, como o Artshow e outros que permitem aos artistas estarem mais perto dos seus publicos e assim poderem criar uma ligação mais próxima de quem os admira. Sempre me fez confusão porque é que os artistas (alguns) não se juntavam a grupos ou porque não partilhavam mais as suas carreiras com os outros. Confesso-me completamente ignorante até ao dia que decidi levar com a Lina Conceição este projeto para a frente e aí então comecei a ouvir comentários e conversas que me mostraram porque é que os grupos por vezes se auto destroem, hà sempre alguém insatisfeito, há sempre alguém que acha merecer mais dos que os outros, há sempre quem se ache acima do outro. Pensava que isso só se passava nos escritórios, nas fabricas, nas empresas e que os artistas, até pela própria condição, seriam uns seres um pouco mais abertos e mais solidários e muito mais abrangentes, mas enganei-me. Efetivamente existe de tudo como numa farmácia e sendo assim fica justificado o porquê da cultura estar como está neste país, é que cada um olha para a seu umbigo e na nossa classe isso só dá liberdade para acabarmos com a nossa própria cultura e a nossa própria arte.

ERC nº 126167 Depósito legal nº33542/11 ISSN nº 2182-4029 Tiragem 10.000 ex. Impressão: PERES - SocTIP,SA Estrada Nacional nº 10, Km 108.3 Porto Alto, 2135-114 Samora Correia Distribuição: Logista Portugal - Distribuição de Publicações, S.A. Expansão da Área Industrial do Passil, Edifício Logista Lote 1A, Palhavã, 2890-132 Alcochete

É expressamente proibida a reprodução da revista em qualquer língua, no todo ou em parte, sem a prévia autorização escrita da REVISTA NOVOS TALENTOS. Todas as opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores.

Capa: Capa do disco de Fernando Girão, AXAYARA executada por Nerve, Atelier de Design.

Gente que se junta em grupos tem de saber que não pode nem deve, apontar dedos e nem armas a quem luta ao seu lado, não deve criticar, quem tenta fazer o seu trabalho, deve sim ajudar e se algum colega se encontra no patamar de cima, é nosso dever trabalhar para igualarmos o patamar e não criarmos climas para que o que está em cima, caia. A união dos artistas não é uma brincadeira, nem uma forma de brincar aos poderes, é a forma de não deixar que se brinque com a cultura em Portugal, é a forma de mostrar quem somos e o que queremos para o nosso país, mas esta mesma união não poderá nem deverá passar por grupos de representantes, em que algumas pessoas eleitas, pensam pelas outras. Tratar os artistas em grupos sem que se façam ouvir todos, mas só uns eleitos é o mesmo que calar todas as vozes que se erguem pela cultura. Temos de estar orgulhosamente de mãos dadas contra este pântano de incultura que se tornou este país. Pensem bem no que querem para o nosso país e para os nossos filhos. Façamos pela cultura o que só nós podemos fazer e sejamos artistas, que é o que nos orgulhamos de ser! Luís Fernando Graça editor 1


índice

UTOPIA AZUL ÍNDICE 1 – Carta do editor… Luís Fernando Graça

Vai dar inicio a um ciclo de tertúlias poéticas, denominado “Chá com Palavras” num espaço especialmente vocacionado para o campo das artes e do pensamento crítico.

2 – Índice

3 – 5 - Fernando Fragata... entrevista

A estrutura do evento tem por base leituras de poesia pelos poetas participantes, performances musicais, surpresas, e sessões de caráter teórico sobre poesia, entrevistas e o convite para o chá.

6 – 7 - Jorge Rebelo... da publicidade à tela

8 – 11 – Vitor Moinhos ... o portal de Títar

È uma proposta também para um público interessado em compor, desenhar ou pintar poesia, onde não irão faltar poetas e artistas plásticos.

13 – 14 – Manuel Monteiro... o homem que sabe onde vive o Herberto Helder.

A sua atividade inscreve -se no âmbito dos saberes relativos ao ser humano no tempo e no espaço, às artes e à cultura, à memória.

15 – Victor Lages... Arte sacra e religiosa!

16 - 17 - Yuri Rodrigues... do melhor que a serra dá

Será um espaço vivo, em que o diálogo e a arte, trazem de volta as palavras ditas, o som, o silêncio, a emoção da voz no dizer dos textos …uma arte que se vai esquecendo.

18 – Sónia Pessoa ...a escrever é que a gente se entende

19 - 20 - Pedro Charters d’Azevedo... uma busca contínua!

Se gosta de dizer Poesia, ou gostaria de ouvir os seus poemas ditos venha tomar um chá connosco, todos os últimos sábados do mês com inicio já este mês de Março, dia 31 às 16:00h.

21 . 28 – Fernando Girão ... AXAYARA

29 . 30 – Libânia Madureira... com a poesia nas veias

Em virtude do espaço não ser grande, agradecíamos que fizesse a sua inscrição prévia e absolutamente gratuita pelo Telef.: 935 409 044 indicando a Tertúlia de Poesia, muito obrigado

31 - 33 - Carlos Almeida... a subtileza da aguarela

34 - Luis Fernando Graça ... façamos diferente

37 - Ana Mascarenhas ... vazios preenchidos

38 . 39 - Lookart ... a loucura da tatuagem

41 - Jorge Alves ... o fotografo e fotografia de moda

42 - 44 - António José Cardoso ... poeta popular

45 . 47 - Tico Esteves... portefólio

48 - Agenda - Nossa escolhas

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Cinema

Fernando Fragata O melhor de Portugal no Mundo Fernando fragata é um dos grandes nomes portugueses do cinema internacional, pois há muito que ultrapassou a barreira da portugalidade. Iniciou a sua experiência como operador de câmara em publicidade com videoclips e filmes de Joaquim Leitão, Quirino Simões e Ana Guimarães. Quem é admirador do trabalho de Fernando Fragata está sempre à espera da próxima aparição, pois os filmes deste cineasta são construídos com uma humanidade singular, tratando de problemas dispares que se vão entrelaçando e nos vão levando à nossa primeira condição de seres humanos com quem o destino por vezes tende a brincar e a desenrolar histórias infindáveis de delírios reais em que nos reconhecemos em todas as cenas. Amor & Alquimia (1995) é a curta metragem que marca o inicio de uma carreira fantástica de realizador e argumentista, tendo sido exibido na Europa e América do Sul recebendo logo o prémio de melhor realização no festival internacional de cinema da Baía no Brasil, bem como o prémio do público no Festival de Sevilha em Espanha. A SIC exibiu esta curta metragem em horário nobre, o que só por si mostra bem a importância do seu profissionalismo e a qualidade do seu trabalho. Seguiramse a longa metragem Pesadelo Cor de Rosa e o telefilme de acção Pulsação Zero.

O seu mais recente filme chama-se Contraluz/Backlight. Foi rodado integralmente nos Estados Unidos e conta com um elenco de actores portugueses e americanos. Joaquim de Almeida, Evelina Pereira, Ana Cristina de Oliveira e também Skyler Day, Scott Bailey e Michelle Mania são alguns dos actores que entram no filme. “Várias pessoas sem ligação entre si estão em situações de extremo desespero quando algo inesperado acontece que irá mudar radicalmente o rumo das suas vidas.

Em 2004 escreve e realiza Sorte Nula um filme com repercussão em Portugal. A história começa com um crime numa pacata vila da margem sul do rio Tejo. Tal crime está associado a outros problemas relativos à vítima e aos seus familiares e amigos. O facto faz mover imensa gente que, comparece no local por acaso e, também por acaso se conhecem entre sí. Por ironia do destino, e, sem darem por isso, todos formam uma espécie de equipa que visa de uma vez por todas resolver o problema e trazer de volta a paz ao local.

Caberá a cada um moldar o seu destino de modo a reencontrar a felicidade. Mas há destinos que só se alcançam depois de alterar o dos outros.” Sinopse. O êxito tem sido estrondoso no mundo inteiro tendo já recebido imensos prémios nomeadamente de melhor filme no Texas Internacional Film Festival e o Silver Award para melhor filme no California Movie Awards.

Sem imagens de estúdio, esta longa metragem foi filmada no Seixal, Setúbal. Além do história fantástica do filme, o mesmo ainda recorre à animação digital para editar uma cena fundamental, tendo o enorme António Feio como um dos protagonistas.

Provavelmente, enquanto estivermos a entrevistar Fernando Fragata este filme será alvo de mais alguns prémios que já não contarão nesta entrevista. 3


Como se chega a estes argumentos tão humanos e sempre com imensas mensagens? No caso especifico do Contraluz, fiz um trabalho de recolha de histórias de vida pessoais durante quase um ano. Percorri a América de ponta a ponta e entrevistei pessoas3 nas cidades bem como nos locais mais isolados e insólitos. Foi um trabalho puramente jornalístico, o qual me deu a conhecer histórias verdadeiramente emocionantes que acabaram por ser a matéria de base para o filme. Que filme lhe deu mais prazer em escrever e realizar? Nenhum filme me dá prazer a escrever nem realizar. É sempre um grande luta, stress e dissabores. O prazer vem depois quando o filme está em exibição e eu vejo as pessoas a comprar o bilhete do meu filme e a encher as salas. Acho que não há melhor satisfação para um cineasta do que ver na bilheteira, à frente do título do seu filme, a palavra “Esgotado”.

No inicio da sua carreira, quais foram as grandes dificuldades? Na minha adolescência ainda não havia câmaras de vídeo para venda ao publico. E comprar uma câmara de vídeo profissional ou de cinema era coisa só para ricos. Sem câmara é difícil mostrarmos aquilo de que somos capazes com “ela”. Hoje em dia, até um telemóvel faz Video HD. Portanto, caros jovens aspirantes a cineastas, não se queixem das dificuldades, filmem/gravem e mostrem uma história com imagens.

Que peso tem a escolha dos atores para os papéis que cria? Nunca penso nos atores enquanto estou a escrever o argumento. Muitas vezes os atores que gostaríamos de ter não estão disponíveis para fazer o filme, por isso nunca me vinco demasiado a determinado ator até ter a certeza de que vamos arrancar com o filme.

Onde é que começou esta fantástica viagem? Quando finalmente consegui comprar a minha primeira câmara (uma Super 8 do mais básico) fiz varias curtas metragens. Não há melhor processo para aprender do que a prática.

Compreendendo a dimensão dos dois mercados, que semelhanças existem entre o nosso e o americano? Rigorosamente nenhuma.

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Cinema

Fernando Fragata Que reconhecimentos é que Portugal já teve com o seu trabalho? O único reconhecimento que me interessa em Portugal é o do publico e nesse aspecto não me posso queixar. Todos os filmes que fiz foram um enorme sucesso em espetadores. Estados Unidos da América opção temporária ou definitiva? Nada é definitivo. Se amanhã me disserem que me dão dinheiro para eu ir fazer um filme na Lua, partirei sem hesitação. Falar do «Contraluz» é falar de António Feio, a Revista Novos Talentos, aproveita assim para homenagear, o que foi um dos melhores atores portugueses, cujo trabalho será perpetuado pelo seu talento. António Feio, deixou-nos um comentário sobre o «Contraluz» que poderá ser visto na Internet, mas que não resistimos a transcreve-lo para os nossos leitores.

Qual é a próxima novidade que poderemos ver na tela? Nem eu sei. Tenho vários projetos mas nem sempre conseguimos financiamento para fazer o que mais gostaríamos.

“Há uns tempos participei num filme, “Sorte Nula” escrito e realizado por Fernando Fragata, entretanto o Fernando tem um novo filme chamado “Contraluz” que fez nos Estados Unidos. Apesar de não ter participado nesse filme, já tive oportunidade de o ver numa projeção privada. Confesso que o filme tocou-me bastante e isso levou-me a querer fazer um curto comentário. Se há coisa que eu costumo dizer é aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros, apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer. Esta, é uma das fortes mensagens deste filme.”

Uma frase importante que alimente os seus dias? A vida é curta mas é ampla. Quer deixar uma mensagem para quem está neste momento a dar os seus primeiros passos no cinema? Não percam tempo nem dinheiro em cursos de cinema. Tirem gestão/economia porque sem saber como arranjar financiamento, nunca vão fazer filmes tenham lá o talento que tenham.

António Feio

Obrigado Fernando Fragata continue a levar o nome de Portugal e dos atores portugueses, mundo fora.

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Artes Plásticas

Jorge Rebelo da publicidade para a tela Nasceu em 1952 em Lisboa. Após alguns anos de Liceu, ingressou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, frequentando até ao 4º Ano o curso de “Pintura Artística e Decorativa”. Trabalhou no atelier de pintura Augusto Berthollo em Lisboa, Nos anos 70 concorre para entrar na Companhia de Carris de Ferro de Lisboa na Secção de Pintura Artística e Publicidade, sendo promovido a “Mestre” e chefiando a Secção de pintura durante 20 anos. Ao longo dos 40 anos de profissão, aprendeu, coordenou, e ensinou várias técnicas de pintura com vários tipos de materiais, teve aprendizagem para ajudar a impulsionar a serigrafia ainda muito primária nos anos 70 - 80.

Criou muitas pinturas de grandes dimensões como; cenários, stands, autocarros e eléctricos da Carris etc. Por considerar a maioria das pinturas publicitárias que os autocarros e eléctricos ostentavam autênticas obras de arte, atreve-se a chamar “Arte em Movimento”. Jorge Rebelo dedica-se neste momento exclusivamente à pintura, tendo já no seu curriculum dezenas de exposições coletivas e 6


Artes Plásticas publicidade

Jorge Rebelo «Nas telas de Jorge Rebelo descansa-se a mente criando e recriando na cor a imagem permanente de uma ideia de mundos que se misturam nos diversos imaginários criados pela sua mão. Realidades onde se entra e sai, sem portas nem entradas, como se tudo fosse separadamente unido, entre o sagrado e o profano que a natureza tem. A invasão de animais em mundos contrários à sua natureza, trás à nossa presença a preocupação e o respeito pelos que dividem o mesmo planeta, sobre o que estamos a fazer aos ecossistemas aqui existentes, bem como as anomalias emergentes criadas pela ambição e arrogância do ser humano.» Luís Fernando Graça – Artista Plástico

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Artes Plásticas

Vitor Moinhos

o portal de Títar

Sinto que, pela obra desenvolvida solitariamente ao longo de uns bons anos, devia ser melhor reconhecido no panorama das artes. No entanto, com coragem e perseverança, tenho sabido ultrapassar essa questão. Só desejo que, quem der uma espreitadela nas minhas obras, que fique por lá um pouco mais a desfrutar a busca de algo que lhe desperte boas emoções. Quem pela primeira vez aprecia o meu trabalho, fica com a sensação de que de que as obras pertencem a vários artistas. Quem já conhece o meu percurso nesta minha natural paixão pelas artes, encontra facilmente, na diversidade de estilos e técnicas, um notório cunho pessoal e uma constante preocupação em contrariar o sentido da lógica, buscando no mais profundo íntimo dos meus sentidos incorpóreos, o rumo que a vida toma quando a ansiedade nos lança num vazio sem tempo.

Autodidacta Natural de Lisboa, Portugal Curso de Pintura, pela Câmara Municipal do Barreiro, orientado por Kira; Curso de Pintura Desenvolvimento/Projecto - Centro de Artes Plásticas do Barreiro (Artesfera) Workshop de Pintura de retrato na SNBA Membro da Artiset – Associação de Artistas Plásticos de Setúbal Membro da AAAGP – Associação de Amizade e das Artes Galego-Portuguesa Membro da Galeria Aberta Membro do Grupo Artshow

Sem me preocupar com a busca de um estilo próprio, meta traçada por muitos artistas, prefiro abster-me de regras e conceitos, com a mente aberta a novos projectos pictóricos, e sentir a natural liberdade da Inspiração esvoaçar por todo o meu Imaginário.

Para cima de uma centena de exposições por todo o País, Espanha e Itália, uns quantos prémios sem grande relevo, para os que avaliam o artista pelo currículo, e uma série de óptimas experiências passadas pela música, teatro, poesia e rádio. «Nasci com este dom que Deus me deu, vivo com esta natural paixão que me completa e preenche a minha vida. Acredito que toda a existência tem uma missão específica na evolução cósmica em prol do equilíbrio e harmonia do vasto Universo. Questões relacionadas com os mistérios da vida sempre me fascinaram, e estão bem evidentes na minha pintura. Durante o processo criativo, um sentimento profundo me diz que, respostas não descodificadas, andam por ali a deambular pelo branco da tela. Pelo menos fica uma sensação de bem-estar interior, de realização pessoal e a certeza de que, ao partilhar o desfecho das minhas co-criações com os meus semelhantes, estou a cumprir em pleno, a missão que me foi atribuída. Sinto-me honrado por isso. É o quanto baste para entrar em sintonia com a felicidade. 8


Artes Plásticas

Revista

Como começou esta aventura nas Artes Plásticas? Costumo dizer que nasci com este dom que Deus me deu, vivo com esta natural paixão que me completa e preenche a minha vida. O ser humano, desde tenra idade à adolescência, desenvolve uma série de faculdades, que vai experimentando até atingir um patamar de conhecimentos determinantes para decidir o rumo a tomar na sua vida futura. Muito cedo, fiquei com a certeza de abraçar as artes e fazer da pintura a minha carreira. Comecei, naturalmente, a desenhar, experimentando várias técnicas e materiais. Depois veio a aguarela e finalmente, com responsabilidade acrescida, a pintura na tela. Por isso, nunca senti necessidade de o fazer e sim uma forma muito natural de expressar o que me vai na alma. Na adolescência, os meus trabalhos de B.D. e cartoon's começaram a ser publicados em alguns jornais e revistas nacionais. Filho de pais humildes, não deixei, por isso, de alimentar o sonho de um dia poder vir a ingressar numa escola de Belas-Artes. Porém, com dificuldades económicas a prevalecerem e o objectivo cada vez mais longe de se concretizar, a minha formação vira-se, como alternativa, para a consulta de livros, catálogos e visitas a exposições de pintura, os meus grandes Mestres até então, neste meu percurso sinuoso e solitário.

Para começar, fala-nos do teu Portal de Títar? O Portal de Títar é a entrada para uma península interior, situada no meu mais profundo íntimo, outrora um vasto continente ocupado por extensas e verdejantes culturas de sonhos sustentados pelo Imaginário, aliada a uma força criadora sobrenatural. Um dia, águas turbulentas, arrastando consigo o negro mais negativo e denso da escuridão, envolta pela hipócrisia e reforçada por amizades ocas, invadiram Títar embebido na sua mais terna inocência, E, num ápice, tudo o que parecia fortemente alicerçado, se desmoronou.

A minha juventude foi preenchida por experiências muito gratificantes, enriquecedoras e determinantes na modulação da pessoa que hoje sou perante a sociedade. Passagem pelo Associativismo, com a fundação de um atelier de iniciação às Artes, “Iniarte”, na J.OC. (Juventude Operária Católica), Sub-Director da Revista “Espaço Juvenil” com projecção nacional, co-fundador de uma revista numa colectividade, Teatro amador na Marinha e em colectividades, realizador e apresentador de vários programas em rádios locais, co-fundador de um grupo de música de intervenção, fundador de um grupo de música popular portuguesa e ainda membro de outro grupo do género, sendo em todos eles compositor e coordenador dos arranjos musicais, vários poemas escritos, tendo sido alguns publicados. E porque as circunstâncias da vida obrigam a escolhas, acabei por abraçar definitivamente a Pintura.

Mais tarde, a recuperar dos desenganos sarados pela desilusão, Títar, restando-lhe pouco mais que uma pequena ilha, abriu o seu coração de menino e deixou-se voar de novo pelos céus do Imaginário. O pequeno pedaço de terra povoado pela coragem de um império adolescente, que se comporta como um bravo guerreiro pela conquista do futuro, dá inicio de novos sonhos, ganhando gradualmente consistência por cada batalha vencida pela Verdade e pela Razão. Hoje, um pequeno banco de confiança arenosa dá lugar ao nascimento da Península de Títar, um tanto paliçada, onde se escrevem poemas pintados sobre o manto branco da tela. Das pinceladas nascem versos e em cada palavra uma vontade reforçada de colorir a Vida, onde pigmentos misturados com os pensamentos, finalizam um belo quadro de amor. A incerteza de vencer se afoga na alegria de testemunhar o raiar do sol, beijando o florescer de um novo dia. Encho o peito, liberto toda a energia interior e grito fim à vida feita de nada. Hoje, as pessoas ao apreciarem as minhas obras, costumam confessar que parece estarem a viajar por mundos desconhecidos, despertando em si emoções positivas. Estão a conhecer um pouco da Península de Títar. 9


Tens mais 20 anos de carreira, como vês o caminho da Cultura em Portugal?

Como foi a 1ª exposição? Ainda te lembras? Foi no Futebol Clube Barreirense. Senti um orgulho muito grande, expor ao lado de figuras consagradas na Pintura, como Kira, Artur Bual, Vítor Ferreira, entre outros. Fui muito bem acolhido e acarinhado pela humildade e camaradagem fantástica dos intervenientes, de total ausência de snobismo. Qual foi a obra que mais te marcou? Não faço distinção. Todas as obras marcaram um momento único na minha vida. Qual é a parte no papel de artista plástico que mais te fascina? A mensagem deixada em cada obra. É escrever poesia no branco da tela e viver a felicidade de compartilhar um quadro concebido a partir do nosso Eu interior, despertando emoções positivas no observador. De todos os projectos por ti empreendidos, qual o que te marcou mais? A Feira de “Artes & Ofícios. Um dia, sentindo uma tremenda lacuna no apoio aos artistas do concelho onde resido, propus ao vereador da cultura da Câmara da Moita, o meu saudoso amigo José Manuel Figueiredo, uma feira anual de artistas e artesãos, que imediatamente aprovou. Este projecto atingiu, sempre com redobrado êxito, a sua oitava edição, ao ponto de ser aberta participação, a nível nacional, de muitos artistas e artesãos, onde também não faltava a música e dança, precisamente com o mesmo espírito com que se realizou o ArtShow. Hoje, mais que nunca, sem mesquinhices e rodeios devemos manter a unidade em iniciativas destas, de forma a dar a merecida dignidade e relevo às artes em todas as suas vertentes no panorama cultural do nosso País recheado de inúmeros talentos.

Uma autêntica estrada de gravilha solta. A cultura em Portugal continua a ser abafada pelo fado do encosta ao ombro e chora, do futebol a pontapear as mágoas, até à igreja das rezas por dias menos amargos, com bênçãos aos incompetentes que nos governam, a juntar à mentalidade intelectualoide de certos promotores, que desfragmentam a Cultura com seu estúpido elitismo. O cidadão também tem alguma responsabilidade nesta matéria, porque, justiça seja feita, algumas autarquias têm procurado desenvolver projectos de interesse cultural, aplicando até estratégias de incentivo a uma maior participação da parte das populações pela falta de hábitos culturais, sem resultados significativamente positivos. Por outro lado, alguns órgãos responsáveis, não têm sabido cumprir o seu papel, alegando muitas vezes falta de meios. Como, por exemplo, no concelho onde resido, o meu estatuto de artista “prata da casa” foi praticamente conseguido com esforço próprio. Para além de não acarinharem e promoverem os valores culturais espalhados pela autarquia, nunca têm verba para publicar um catálogo minimamente decente para um artista da terra na realização de uma exposição. Para outros eventos, nomeadamente com individualidades que não precisam de apresentação, celebrações engravatas por tudo e por nada, a justificar banquetes à moda do Estado Novo, cujo menu principal é a hipocrisia, o dinheiro aparece como que a cair do céu. A nível da comunicação social, o melhor é ficarmos por aqui, porque perde-se mais tempo a falar do jogador tal, que encravou a unha do pé, do que realçar um importante evento cultural.


Artes Plásticas

Que achas do apoio que o Estado presta à nossa cultura? É sobejamente conhecido, através da comunicação social, que o País está a ser governado por uma corja de alfaiates, que cortam tudo o que lhes vem à mente. Que mais poderei dizer? Se o nível cultural dos portugueses era um desastre, hoje está cair a passos largos no fosso da ignorância. Voltámos à cultura dos três “F”, Futebol, Fado e Fátima. E ficamos por aqui, que já estou a ficar agoniado.

O que é que dirias, a quem quer começar agora uma carreira artística?

Projectos futuros?

A arte é uma linguagem universal que nos facilita a viagem da descoberta de nós próprios. Que nos ensina a sermos mais humanos e compreendermos melhor a razão da nossa existência. É uma espécie de cordão umbilical entre a nossa essência e o Divino. Para se atingir este estado de alma, tem que se trabalhar com muita dedicação, rigor e persistência frente aos obstáculos que vão surgindo ao longo da aprendizagem, sempre com a convicção de que o esforço resultará num final feliz. É muito importante que mantenham a humildade e não se fiquem só por um estilo. Explorem sem medo, que é assim que a pintura se torna apaixonante. E, finalmente, dado à conjuntura social em que vivemos, o talento por si só não nos leva a lado nenhum. É necessário muita astúcia, estratégia e determinação para atingir os objectivos e alcançar alguma notoriedade. Mas, por favor, sejam vaidosos convosco próprios sem se tornarem arrogantes pelo que fazem.

Os projectos são quase espontâneos, devido à ansiedade quase doentia de querer fazer mais, diferente e melhor. Vivo numa insatisfação constante e estou sempre a envolver-me na aventura de novas descobertas. Quem me conhece, sabe que estou sempre a pintar estilos diferentes. A questão que não te pus e que gostarias de ter respondido? Gostaria que me tivessem perguntado o que é que acho da revista NT, e eu responderia que é uma lufada de ar fresco na nossa Cultura e um forte contributo para os nossos artistas. Deixa-nos uma frase tua e que queiras partilhar? Sou uma pessoa muito directa e inconveniente nas minhas opiniões ao ponto de já ter perdido algumas “amizades”. Hoje estou numa de paz e amor. Apenas quero convidar toda a gente a pegar nas tintas e pincéis, transformá-los em armas de paz contra a hipocrisia, e, todos juntos, vamos pintar o mundo de cores garridas, fortes e dominantes até eliminar o lado cinzento das nossas vidas. Muito obrigado pela tua disponibilidade. Estou sempre disponível para dar o meu modesto contributo em qualquer projecto que enriqueça a Cultura do nosso País.

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Literatura

Manuel Monteiro O homem que sabe onde vive o Herberto Helder!

Participou na fundação da UDP e concorre às eleições para a Assembleia Constituinte por essa força política. Em 1975 é um dos fundadores do PCP (R), sendo nomeado seu portavoz e director do Bandeira Vermelha, o jornal do partido. Abandona a fábrica da Cergal e tornou-se político profissional. Nos anos 80 foi deputado, substituindo na Assembleia da República o deputado Acácio Barreiros. É autarca durante 4 anos na Assembleia Municipal de Lisboa, em representação da UDP. Participa no 7º Congresso do Partido do Trabalho da Albânia, em Tirana, onde se dá a cisão entre a China e a Albânia.

Nasceu a 14 de Agosto de 1948, no hospital de Vila Real. Foi viver para uma aldeia no sopé da serra do Alvão, Quintela, onde morou até aos 15 anos. A sua família era extremamente pobre, chegando a passar fome, sobretudo nos rigorosos Invernos. Aos 10 anos sofri um grave problema de saúde (ostomiolite-tuberculose óssea) e fui internado no Sanatório do Outão, em Setúbal, onde permaneceu até aos catorze anos e lá fez o exame da antiga 4ª classe. Regressa à aldeia e lá permanece até aos 16 anos, mas a debilidade física não lhe permite aguentar os duros trabalhos do campo.

Em 1984 abandono a UDP e o PCP(R) por ter criticado publicamente os fuzilamentos na Albânia dos opositores da linha social-democrata dos dirigentes albaneses. Regresso à sua função de operário em diversas fábricas: Cimpor, EDP e outras... Faz exame Ad-hoc ao curso de história da Faculdade de Letras de Lisboa (tinha então apenas a antiga 4ª classe). É aprovado e frequenta este curso até ao 2º ano. Continuou a sua actividade politica em pequenos núcleos: Politica Operária (com Francisco Martins Rodrigues), Mudar de Vida (com José Mário Branco) Hoje é alfarrabista.

Em 1964 vem viver para Sintra, para casa de uns tios, meses depois arranjou trabalho num colégio de padres, como auxiliar de cozinheiro, em Lisboa. Deu catequese em Chelas, onde era pároco o Luís Moita. Nessa altura aderiu à JOC (Juventude Operária Católica). Em 1968 o colégio onde trabalhava foi vendido e arranjou trabalho numa fábrica do Cacém.

E vai escrevendo:

Nesta data começou a colaborar com o PCP, através do jornal Notícias da Amadora. Apesar das suas limitações físicas, é apurado para o serviço militar, em 1969. Em 1970 é mobilizado para a guerra colonial, para Angola, onde permanece até 72. No seu regresso a Portugal arranja trabalho nos armazéns da Livraria Bertrand, na Amadora. Nos fins de 72 ingressou como operário na fábrica de cervejas Cergal, no Cacém. Aí viveu os meses quentes da revolução do 25 de Abril de 74. Quando o PCP começa a condenar as greves afastou-se do partido.

-"Perder a Esperança Porquê?-Um operário fala do seu tempo" -Editora Centelha-1982 -"Todas as Margens"- Poesia- Editora Hugin-2003 -"Imperfeita Sabedoria"-Poesia- Edição de autor-2009 -"O Que Eu Andei Para Aqui Chegar"-Romance (edição digital- Amazon)-2010 -"Sei Onde Mora o Herberto Helder"-Romance- Alêtheia Editores-2011 Próximo romance a publicar: "A imensa solidão do proletariado" 12


Literatura

Sinopse O romance conta a história de um homem v u l g a r, m a s q u e , d e v i d o a d u a s características, vai viver uma vida invulgar. O personagem principal tem uma fobia que o faz perseguir homens famosos, para saber mais da sua vida íntima (Salazar, Álvaro Cunhal, Sebastião Alba, Herberto Helder) e que o conduz às mais mirabolantes aventuras. E tem um dom sexual (fruto da iniciação na juventude com uma prostituta do Bairro Alto) que faz dele um agente de felicidade para mulheres insatisfeitas, casadas e solteiras. No romance, um outro personagem adquire uma dimensão original: o gato Osborne, que toma a palavra e participa na acção, assumindo um papel decisivo no seu desfecho.

Como vê o apoio que o Estado presta à nossa cultura. Apoio? Ou eu sou cego ou não vejo nada. Isto está a ficar um deserto e se não fossem esforços colectivos como os vossos, ao lançar esta bela revista, e à militância individual dos criadores nas diversas áreas o deserto seria ainda maior.

in site Bertrand

A política cultural parece-me seguir aquela norma tenebrosa: quando oiço falar em cultura, puxo logo de uma arma... Como é ser escritor em Portugal?

Como começou esta paixão pela escrita? Apesar das dificuldades da vida, sempre escrevi, sobretudo poesia, mas publicar foi quando já tinha mais de cinquenta anos de idade.

Tirando meia dúzia de escritores que conseguem viver da escrita, o resto vivem numa luta permanente para sobreviver e trazer à luz do dia as suas obras.

Ainda se lembra do seu o 1º livro? Então não havia de lembrar? Foi um livro de poesia intitulado TODAS AS MARGENS, editado pela Hugin, em 2003

Depois, o panorama das letras é dominado por um jetset cultural(académicos, jornalistas ou gente de plástico fabricadas pelas tvs) que só divulga as obras dos que lhe são queridos.

Quem são as suas inspirações?

Manuel Monteiro e Sofia Sá da Bandeira

Inspiro-me na vida, nas pessoas simples que me rodeiam, e vou beber ensinamentos aos grandes mestres: Rilke,Gabriel Garcia Marques, Sofia, Saramago, Eça,Herberto Helder, Camus, Manuel da Fonseca e tantos mais. Procuro ler escritores de diversas escolas, não para os copiar, mas para tentar alicerçar melhor o meu estilo próprio Dentro dos livros já editados qual é o seu “filho mais querido”? Mas isso é uma pergunta que se faça? Tenho dois filhos e não sou capaz de preferir mais um do que outro...Bem, como foi o meu primeiro romance, talvez o SEI ONDE MORA O HERBERTO HELDER...

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Literatura A questão que não lhe pus e que gostaria de ter respondido?

Eu, devido à minha história, até não me posso queixar muito porque tenho encontrado, embora com dificuldade, editoras que me editam e os meios de comunicação social têm divulgado a minha obra. Por isso a importância da vossa revista para dar voz aos novos talentos. Importante também que ela possa sobreviver. Para isso temos que a divulgar, comprar ou assinar, no sentido dela cumprir a sua missão no tempo que vivemos

Porque não me fizeram nenhuma pergunta sobre a infância, nem tinham que fazer, isto é apenas um pretexto para vos fazer uma oferta poética, aqui vos deixo um poema do meu último livro IMPERFEITA SABEDORIA: avô porque faz o melro o ninho ao alcance da minha mão?

Como vê a chegada de tantos escritores, tendo como ponto de partida os cerca de 300 livros que são publicados diariamente?

meu neto é para despertar a tua compaixão

É a selecção natural porque da quantidade sai a qualidade, porque desses 300 livros só um ou dois sobrevivem.

Deixe-nos uma frase sua e que queira partilhar?

O que diria a escritores jovens que estão a começar agora a epopeia da escrita?

Não procures nos outros o que ainda não encontraste em ti.

Que não procurem a fama a todo o preço. Que não vão em modas nem artificialismos. Que leiam muito e observem mais. Que se comprometam com a colectividade onde estão inseridos. Que procurem os conselhos dos mais velhos e experientes, mas que não desanimem com as opiniões desfavoráveis. E, se no fim, chegarem à conclusão que o seu caminho é outro que encarem isso com naturalidade.

Muito obrigado pela sua disponibilidade. Este jovem escritor de 63 anos é que vos agradece a oportunidade de divulgar a sua obra e ideias.

E fui escrevendo:

Projectos futuros?

-"Perder a Esperança Porquê?-Um operário fala do seu tempo" -Editora Centelha-1982 -"Todas as Margens"- Poesia- Editora Hugin-2003 -"Imperfeita Sabedoria"-Poesia- Edição de autor-2009 -"O Que Eu Andei Para Aqui Chegar"-Romance (edição digital- Amazon)2010 -"Sei Onde Mora o Herberto Helder"-Romance- Alêtheia Editores-2011 Próximo romance a publicar: "A imensa solidão do proletariado»

Continuar a exercer a minha profissão de alfarrabista e finalizar o mais recente romance. Este romance, no entanto, só será publicado quando a situação económica melhorar, até porque ainda ando em divulgação do romance que foi recentemente publicado

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Andreia Campante Telef.:919 304 217

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Artes Plásticas

ARTE SACRA E RELIGIOSA

por Victor Lages

Desde que a humanidade se estabeleceu em sociedades e criaram cultos religiosos, a arte tem sido então, um dos seus principais meio de difusão e comunicação, entre as organizações religiosas e os crentes ou mesmo com o povo em geral. De acordo com os especialistas, grande parte das pinturas rupestres e mesmo esculturas da época, têm a haver com rituais religiosos e mágicos, normalmente praticados por xamãs e sacerdotes, para interceptar os deuses e deusas no sentido de estes os ajudarem tanto na caça, como em outras actividades e mesmo na doença e na morte.

Por sua vez as igrejas protestantes e evangélicas não utilizam a arte como meio de evangelização ou catequese. Os Ícones, são então característicos da arte sacra e litúrgica da igreja Ortodoxa oriental. As suas igrejas e templos são decorados com inúmeros ícones e estes são o sinónimo, da arte sacra Bizantina.

Todas as religiões desde, o extremo oriente ao ocidente, do norte ao sul do planeta, quase sem excepção, utilizam a arte como meio estético de divulgação dos seus dogmas, provocando nos crentes sentimentos religiosos.

Vulgarmente aqui na Europa ou como dizemos no mundo ocidental, chamamos de arte sacra e ou de arte religiosa, a obras de arte cujo tema se prende com a fé cristã, imagens de santos ou histórias bíblicas, no entanto entre as duas expressões, sacra e religiosa, existem diferenças. Essas diferenças não estão tanto na forma como é representada a obra nem na sua inspiração, mas fundamentalmente com destino que se lhe dá.

Vou referir alguns exemplos se arte religiosa e arte sacra das principais religiões do mundo. Devido à complexidade do panteão de deuses da religião hindu, a arte é imensamente rica e fértil em imagens, em histórias e mitologias. Em geral a arquitectura dos templos e locais sagrados, são elaboradamente cheios de figuras e muita cor, simbolizando e representado, os mais diversos deuses e suas histórias, como também ensinamentos religiosos. A arte hindu, é talvez a arte religiosa ou sagrada mais intensa, porque além dos templos estarem decorados com muitas e muitas esculturas e estatuetas, bem como pinturas murais nas suas paredes, também são utilizadas por todos os crentes, pinturas dos seus deuses favoritos, em altares pessoais e familiares.

Assim, uma obra de arte sacra é destinada ao culto, à liturgia, isto é, aquela que fomenta a vida litúrgica ou culto divino, nos crentes e fiéis, mostrando-lhe uma catequese ou ensino religioso e portanto pode ser colocada em igrejas e templos, sendo desse modo adequado à celebração da santa missa perante ela. Portanto uma obra de arte sacra deve conter um certo grau de espiritualidade, de forma que um crente ao estar perante a obra, se sinta mais próximo de Deus. A própria igreja católica tem normas e regras específicas, que determinam o que é uma obra de arte sacra. Por outro lado a arte religiosa, deve também mostrar a vida religiosa, a fé e esperança e sobretudo a adoração a Deus, mas não têm como destino a liturgia ou seja o estar numa igreja.

Ainda falando das artes religiosas do oriente, temos a arte budista, que utiliza em especial a arquitectura e escultura como arte religiosa e sagrada. Em alguns países como a Tailândia as esculturas dos budas são normalmente cobertas a folha de ouro. A pintura religiosa budista também varia consoante o país onde é realizada, sendo que a pintura budista do Nepal é muito colorida e cheia de representações simbólicas, ao passo que a pintura budista zen do Japão é praticamente monocromática e em estilo gestual, contendo somente a essência dogmática.

Durante muitos anos a arte na Europa teve uma grande influência da igreja católica, por razões políticas e sociais, pois era a igreja quem dominava ou influenciava os poderes de então. Como grande parte das pessoas não sabia ler, era portanto através das imagens pintadas ou esculpidas, que a igreja evangelizava o povo mantendo-o, sobre o seu poder e submissão e foi assim durante muitos séculos. Ainda hoje sem o analfabetismo e a pressão que existia outrora, a igreja mantém através da arte sacra o mesmo espírito de catequese e ensinamento religioso. Perante as diferenças que existem, entre arte religiosa e arte sacra, podemos ver que artistas de hoje que fazem arte religiosa, ainda existem muitos que a confundem com arte sacra.

Por sua vez, a religião Islâmica não permite a representação de figuras nas suas obras de arte religiosa e sagrada, sendo que, só é permitido decorar os templos e locais de culto, utilizando as palavras das suas escrituras sagradas, o Alcorão. Assim, quando vemos os chamados arabescos nos templos islâmicos, o que vemos é a palavra de Deus. O Cristianismo é a religião que influencia mais directamente a cultura ocidental, no entanto existem vários ramos do cristianismo, o qual foi sendo dividido ao longo dos 2000 anos da sua história. Assim o cristianismo Ortodoxo, que é praticado mais nos países de leste, utiliza na sua arte sacra um conjunto de características que a distingue da arte sacra utilizada no Catolicismo que tem a sua representação máxima no Vaticano.

Miguel Ângelo é um dos mais famosos artistas do renascimento que realizou arte sacra, foi ele por exemplo que realizou as pinturas murais a fresco, na Capela Cistina no Vaticano, entre muitas outras pinturas e esculturas, sendo esta, a sua expressão artística de preferência. 15


Artes Plásticas

Yuri Rodrigues do melhor que a serra dá!

Yuri Rodrigues é um artista auto-didacta que nasceu a 01/01/88 na freguesia de Sintra. A sua primeira ligação com a pintura foi em 2000 através da arte urbana (graffiti). Foi no graffiti que aprofundou o seu conhecimento em geometria, formas orgânicas, lettring e o funcionamento de cores durante 3 anos. Após a experiência artística de rua decide envergar no campo profissional de Design de equipamento, com a intençao de perceber qual a dinâmica e o design inovador dos objectos do quotidiano. Acaba o curso em 2006, e não satisfeito com a aprendizagem, opta por não seguir o ramo. Conhece nessa mesma altura o movimento surrealista através de Salvador Dali, e desde logo nasce um grande interesse pela pintura e formas surrealistas. De 2006 a 2009 frequentou o curso de Artes e Ofícios do Espectáculo na E.P.A.O.E (Chapito), onde realizou várias cenografias em contexto de trabalho teatral, e se destacou pelas suas ideias surrealistas e pela peça Krankheit. Finaliza o curso com um estágio de dois meses com o pintor Gustavo Fernandes onde ouve uma grande importância para o desenvolvimento do seu trabalho. 16


Artes Plásticas

Yuri Rodrigues

Segue-se então um período de dedicação profunda á sua pintura, começando por experimentar, aperfeiçoar, e limar a condição técnica e conceptual. Actualmente Yuri Rodrigues retracta de uma maneira surrealista algumas acções do ser humano perante a mãe natureza, tentando não só criticar, mas também alertar possíveis problemas futuros sobre o impacto na biodiversidade do planeta.

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A bem da nação… a bem da cultura… À mesma hora a que escrevo esta crónica está a ser noticiada na televisão uma batalha de almofadas que juntou milhares de pessoas na Praça do Toural, em Guimarães, uma iniciativa da Capital Europeia da Cultura. Iniciar o texto ao mesmo tempo que começou a dar a notícia garanto que não foi combinado, foi mesmo pura coincidência, mas confesso foi um golpe vindo dos céus pois serviu de mote para dar o devido enquadramento ao assunto. Isto porque desde que Guimarães se candidatou ao evento, em 2006, e foi aceite, passando pela organização ao longo dos últimos seis anos, até á concretização que irá durar os restantes meses de 2012, pode dizer-se que aconteceram verdadeiras “batalhas campais” em volta de tão prestigiado acontecimento. A Capital Europeia da Cultura é uma iniciativa da União Europeia que tem por objectivo a promoção de uma cidade europeia por um período de um ano, durante o qual a cidade mostra á Europa a sua vida e desenvolvimento cultural, permitindo um melhor conhecimento por parte dos cidadãos dos outros estados membros. Portugal conta já com duas participações desde a primeira iniciativa em 1985, em Atenas, Lisboa em 1994 e a cidade do Porto em 2001. Guimarães faz este ano as honras da casa, e a cidade berço da nação portuguesa não quis deixar por mãos alheias tão ilustre acontecimento. Assim, mal foi anunciada a escolha da cidade, meteu-se mãos á obra para levar o projecto, ambicioso, a bom porto. E como os navegantes de outrora, há que fazer a coisa em grande, conquistar, se não o mundo, os olhares atentos de quem passou a ter os olhos postos em nós. Em Junho de 2009 é criada a Fundação Cidade de Guimarães (FCG), entidade á qual é confiada a concepção, planeamento, promoção e execução da Capital Europeia da Cultura. E aqui começam as tormentas! Fazer em grande implica, em bom português, gastar em grande! A começar, como não podia deixar de ser, pelas remunerações das pessoas que compunham o Conselho de Administração da FCG, consideradas na altura “exorbitantes” e “escandalosas”. Ora, numa altura em que a crise está instalada por toda a Europa, e até pelo mundo, seria de esperar algum bom senso nesta matéria, mas mais uma vez o chico espertismo de quem se movimenta nestes meios colocou á frente do interesse nacional, que aqui se expressa na divulgação cultural do nosso país, o interesse pessoal de meia dúzia de eleitos. Instalada a polémica, vem juntar-selhe a má relação entre a autarquia vimaranense e a então presidente do Conselho de Administração da FCG, Cristina Azevedo. Jorge Sampaio, presidente do mesmo órgão, recomenda, a bem da nação, a cooperação entre os dois órgãos, mas as relações vão-se deteriorando e nuvens negras comprometem a organização. Sucedem-se demissões, admitem-se fragilidades, reclamam-se atrasos, e retiramse tapetes.

Sónia Pessoa A escrever é que a gente se entende...

Convocam-se reuniões, acalmam-se os ânimos, fazem-se avaliações, medem-se consequências, e tiram-se conclusões. Da conclusão nasce o remédio e a solução. Ora, numa altura em que a crise está instalada por toda a Europa, e até pelo mundo, seria de esperar algum bom senso nesta matéria, mas mais uma vez o chico espertismo de quem se movimenta nestes meios colocou á frente do interesse nacional, que aqui se expressa na divulgação cultural do nosso país, o interesse pessoal de meia dúzia de eleitos. Instalada a polémica, vem juntar-se-lhe a má relação entre a autarquia vimaranense e a então presidente do Conselho de Administração da FCG, Cristina Azevedo. Reorganizam-se prioridades e iniciam-se novas etapas, ou seja, dobrado o Cabo das Tormentas havia que dar lugar ao Cabo da Boa Esperança. E assim foi. A 21 de Janeiro, Guimarães abre-se ao mundo com o arranque oficial da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012. E porque águas passadas não movem moinhos, é com o devido orgulho que deixamos aqui expresso o desejo de que este evento seja um sucesso, e convidamos os nossos leitores a marcar presença nos mais diversos eventos e festividades. Desde ciclos de conferências, teatro, concertos, cinema, dança, exposições, conferências, entre muitas outras actividades, o programa é extenso e variado, e, por isso, convido-os a conhecerem-no em www.guimaraes2012.pt. . De enaltecer o esforço da organização em promover e reabilitar diversos espaços da cidade, promover o sentido de ligação á comunidade e o envolvimento do movimento associativo. A cidade de Guimarães está a pulsar e promete um ano culturalmente rico. Em nota de rodapé, mas com toda a importância que lhe é devida, não posso deixar de fazer uma referência também á cidade de Braga, Capital Europeia da Juventude, e se lhes são conhecidas as rivalidades clubistas, e não só, quer-se que as duas cidades caminhem de mãos dadas nos dois grandes eventos que trarão ao nossos país milhares de visitantes que ajudarão a revitalizar uma economia que bem precisa de ser rejuvenescida.


ArteS Plásticas

PEDRO CHARTERS D’AZEVEDO Uma busca contínua!

P.Charters d'Azevedo situa-se no terreno de uma pintura que faz do jogo entre a figura, as por vezes estridentes manchas de cor, os materiais e a técnica da aplicação da tinta, o seu esteio expressivo. Ainda que aqui e além se descortinem elementos figurativos que estabelecem subtilíssimas "pontes" com evocações, é na desconstrução figural, na exuberância cromática e na feitura do objeto que encontramos os equivalentes picturais dos excessos mentais, desencadeando no espectador um misto de identificação e de distanciamento operada pela pintura de hoje.

Nasceu em Lisboa a 3 de Novembro de 1946 é autodidata e começou a desenhar e a pintar regularmente em 1998. Iniciou a sua atividade pública em 1999, dedicando-se em exclusivo à pintura a partir de 2000. Em 2001 frequenta o Curso de Pintura da “Sociedade de Belas Artes”. Até hoje realizou algumas dezenas de exposições quer individualmente quer coletivamente.

Dr. Fernando António Baptista Pereira

Foram-lhe atribuídos 15 prémios: Menção Honrosa em 2009 na Galeria Aberta, Beja; 2º Prémio de Pintura em 2009, Ponte de Sôr; Medalha de Prata Nacional em 2008, Gembloux, Bélgica; Menção Honrosa, 2007, “Bienal de Pintura de Pequeno Formato”Joaquim Afonso Madeira, Moita; Medalha de Ouro Nacional, 2006, Paris, França; Medalha de Ouro Nacional, 2006, Gembloux, Bélgica; Medalha de Ouro Internacional, Exposição Internacional, 2005, Paris, França; Medalha de Prata Internacional, 2004, Gembloux, Bélgica; Medalha de Prata, 2004, Võcklabruck, Áustria; Medalha de Prata, 2003, 8º Concurso International de Prestigio, Madrid, Espanha; Medalha de Ouro Nacional, “Exposição Internacional”, 2003, Paris, França; Medalha de Ouro Nacional, 33e Salon Concours Internationale, 2003, Gembloux, Bélgica; 3º Prémio de Pintura, 2003, I Prémio Columbina, Internet.

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Artes Plásticas publicidade

O diálogo com o rosto do outro, em ambivalência de grito ou de segredo murmurado, expressa a imprescindibilidade catártica de figurar, num lirismo amoroso, o apelo à vivência num “carpe diem” como forma de esquecimento e mergulho no reino inefável do Belo, enquanto fonte de todo o acto criativo. É este gesto que justifica a presença da música e da palavra como força original, de que a pintura é fiel subsidiária. Estamos, pois, postados perante textos narrativos que contam histórias prenhes de memórias de uma autobiografia prenhe de ancestralidade. Assim, a máscara, a “personnae” helénica, deve ler-se, como uma necessidade do autor preservar a sua faceta de um “homo cogitandi” que tem como refúgio e como centro produtor de arte, uma interioridade transbordante em referentes imagéticos, cuja fonte e origem é o registo profundo das suas próprias sinestesias, não necessitando, para ser artista, senão de entrar no silêncio que habita a sua consciência alargada. Sob a aparência de uma arte distraída e despretensiosa, descobre-se, num olhar quieto e atento, uma força eivada de um neo - epicismo que se exprime, alternando uma linearidade de uma esquadria geométrica com uma técnica fragmentária, onde se plasmam estados de espírito pejados dessa melancolia contemporânea de quem sente que se extingue, no caos, a unidade do Mundo.

Prof. Maria Adelina Vieira

Assim, se justifica a presença de uma angústia face à inexorabilidade da morte, tempo incerto que marca aqui uma expressão invulgar. De facto, raramente se ousa enfrentar a morte, de uma forma assim clara e vertical. Singular ainda o modo como o artista se aproxima cálida e tranquilamente da anatomia do corpo, descendo nela, até ao nível molecular de um enxame de microrganismos.

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Musica

Conversas. com

FERNANDO GIRÃO Fernando Girão e um nome de referencia, um musico habituado a construir pontes entre culturas, entre continentes e entre espíritos. O seu mais recente projecto, Axayara, e o culminar de um trabalho longo de anos de criação de uma língua fonética completamente original. O musico luso-brasileiro do mundo habituado a viajar fisicamente e criativamente apresentou o seu novo álbum, Virimateha é uma índia norte-americana, cultura com que o próprio Fernando Girão possui distantes ligações sanguíneas; Kit Walker e um musico californiano de renome, habituado a companhia de mestres e com um currículo próprio que justifica a utilização do classificativo world class; e Luis Filipe Sarmento é um escritor, pensador e filosofo habituado a ver para lá do obvio. Em comum, neste momento, tem uma paixão pelo trabalho de Fernando Girão, pelo seu disco Axayara, pelo som das palavras que criou, pelo que elas significam profundamente.

de volta às origens

por Rui Miguel Abreu Jornalista do “Blitz” e Arte Capital No meio de concertos e apresentações do novo disco AXAYARA, não foi fácil arranjar um espaço para uma conversa desta natureza. Mas, quando falamos de um artista que ama a sua arte, acredita no que faz, tudo fica mais fácil. Encontrei Fernando Girão numa FNAC a fazer a apresentação do seu último trabalho, apresentei-lhe o projeto Revista Novos Talentos e no meio de tantos compromissos, agendou logo ali dois dias, que mais tarde passariam a três e no terceiro passaria a uma amizade engraçada com alguma cumplicidade à mistura. Abriu-nos a porta da sua casa e estivemos sempre com a sua família. Assistimos a um momento fabuloso, que foi um ensaio com a sua filha Maria, que com 13 anos é portadora de uma voz angelical e canta no dialeto criado pelo pai.

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Fernando Girão é um cantor e músico fabuloso que empregou toda a sua alma neste trabalho. Um álbum muito espiritual que me fez entrar no mundo dos meus antepassados – os índios da América do Norte. A sua música transporta-nos para longe e o idioma que inventou tem ressonâncias dos idiomas africanos e dos índios norte americanos. Um trabalho verdadeiramente belo, lembrando ritos religiosos.(...) (...) O álbum é tão vibrante e profundo que desejamos que nunca acabe. Quero referir aqui, que o Fernando toca todos os instrumentos presentes neste álbum. Fazia falta um trabalho assim, não só pela sua qualidade musical mas também pela espiritualidade que dele se retira. Podemos dançar, cantar ou meditar ao som destas músicas. O seu poder é tão forte que se sente na alma. Para mim foi como retornar às minhas origens. Comoveu-me profundamente.

É assim que é Fernando Girão, sem papas na língua e sem nada que o faça recuar nas suas convicções e nas suas certezas, sonhando ainda que um dia a cultura portuguesa vai vencer e a Arte em Portugal terá finalmente o lugar que merece. Fernando Girão é mais do que um músico/criador/produtor é considerado por muitos artistas e compositores reconhecidíssimos na musica internacional como um nome incontornável na World Music espero que esse reconhecimento seja feito por este país. É com as opiniões diversos artistas que inicio esta conversa com Fernando Girão.

Virimateha Descendente da nação Cayuga, da confederação Haudenosaunee Nota: A nação Cayuga é uma de 6 nações da confederação Haudenosaunee (Iroquois), que vivia originalmente no estado de Nova Iorque e que mais tarde se mudou para o Canadá. Os Haudenosaunee estiveram presentes na Convenção Constitucional de 1787. As suas ideias foram discutidas e incluídas no que se viria a tornar a Constituição dos Estados Unidos da América. Podemos ler sobre a Grande Lei da Paz no livro "The Great Law and the Longhouse - A Political History of the Iroquois Confederacy" de William N.

Luís Fernando Graça 21


Música

Quando canta, Fernando Girão ascende a um lugar de poder, o poder de um Xamã, quando se entrega à interpretação de Deus no que nos rodeia. Precisamos de mais artistas a ocupar esse espaço, no mundo de hoje, pois apenas isso trará consigo a revolução exigida. Não uma imposição violenta, mas uma revolução da Consciência, propagada por artistas vinculados ao espírito.

Conversas. com

FERNANDO GIRÃO

A música é a linguagem perfeita para explicar a inefável realidade escondida nas aparências, mas a sabedoria do músico tem de ser diariamente praticada, estudada e vivida. Não é algo a que muitos aspirem, como revela a desbotada inspiração, que parece prevalecer na música actual.

Fernando Girão é único. Músicos como ele, não aparecem todos os dias. Cantor apaixonado e convicto, interpreta o que lhe vai na alma sem se deter em considerações mercantilistas, nem a elas se entregar. Toda a vida se manteve fiel à sua visão artística, enquanto outros se deixavam triturar na engrenagem empresarial que dominou o Mundo. É guiado por uma percepção espiritual há muito adquirida, o que transparece em Axayara, o seu último registo discográfico. Encontrei pela primeira vez o Fernando em 2004, quando da nossa actuação no Ronnie Scott's Jazz Club em Londres, com Airto Moreira e Flora Purim. Senti de imediato uma forte afinidade com ele, embora não identificasse a razão. Quando actuávamos, depressa percebi que estava na presença de um ser livre, espontâneo e indomável, fluindo sem esforço pelos caminhos da Arte, com paixão e humor. Foi um verdadeiro prazer tomar parte nas irresistíveis interacções criadas em palco entre ele e Airto, seu amigo de longa data. Rapidamente uma forte amizade nasceu entre nós e pressenti que ele não demoraria a ocupar lugar de destaque entre os maravilhosos actores que pisaram o palco da minha vida. Quando descobri que nascêramos no mesmo mês, do mesmo ano, com apenas dez dias de diferença, confirmou-se a minha intuição do muito que tínhamos em comum. Desde então, temos mantido contacto e estamos a trabalhar para dar corpo e alma a um novo projecto de Spirit World Music, transcendendo as Culturas e o Tempo.

O Fernando domina com mestria, não apenas a sua música, mas também a si mesmo. É um projecto de vida. E uma mestria desta dimensão só pode revelar-se com a maturidade, já que as distracções do caminho invariavelmente desviam a atenção da fonte do Saber, e quem não se adestra no conhecimento da presença do Divino, acaba por viver uma morte adiada, desistindo de ser senhor da sua própria existência. A Música não mente, muito pelo contrário, revela fielmente o coração e a alma do artista. Por isso, o que nesta obra se ouve, é uma vida inteira profundamente dedicada e comprometida com o paradoxo de ser infinitamente consciente e ao mesmo tempo uma expressão humana e única, dessa mesma Consciência.

A música do Fernando recolhe influências de tantas correntes, que soa imediatamente familiar, apesar de não podermos distinguir um lugar ou estilo em particular. As melodias possuem a simplicidade de um cântico tradicional, mas também incluem passagens mais complexas, numa corrente totalmente jazzistica, ou mais imediata, de inspiração Pop. Um discurso sempre refrescante e singular, onde está presente a poesia dos desertos africanos, das vastidões da Índia, das selvas Amazónicas, numa voz íntima e incógnita, que vagueia por um mundo novo, livre e sem fronteiras. No seu percurso, o Fernando inventou, ou melhor dizendo, adquiriu, a sua própria Linguagem. E todas as palavras que se ouvem nesta gravação, são cantadas nessa língua, lembrando idiomas xamanísticos da cultura Índia, mas que é concebida por ele. É uma atitude geradora de inspiração, perfeitamente coerente com o carácter que a sua música evoca. Axayara é uma oração contemporânea e primeva, ao impulso original da Criação, à Consciência Pura de onde todos os seres vivos emergem e encontram o seu destino.

Axayara é música espiritual. Vivemos agora o seu Tempo. Alegre, arrebatadora, cheia de vida e que a todos encoraja a regenerar o nosso potencial humano. Ouçam-na com o coração. Kit Walker MARCHA DA IGNORÂNCIA http://www.kitwalker.com http://www.myspace.com/kitwalkermusic 22


Música Oiço pela segunda vez o disco de Fernando Girão e várias inquietações me percorrem. Viajo no tempo e relembro que sua mãe, Maria Girão foi talvez a Brasileira que melhor cantou o Fado e que seu pai, Fernando Freitas foi talvez o mais “mimoso” guitarrista que acompanhou o Fado neste século. O Fernando percorreu Brasis, Àfricas, Américas e construiu um currículo invejável e aprendeu o que é ser Português, sempre à sua custa com talento, sacrifício e muito, muito trabalho. Feitas que estão as apresentações, passo ás inquietações e que são diversas e muito sinceramente todas pela positiva. Quando oiço o Fernando cantar “Tudo isto é fado” sinto o perfume raro que nos passa o intérprete maturo. Mas intérprete de Fado, com uma insatisfação que aponta caminhos, o que convenhamos, é tão salutar para a sobrevivência do Fado. Cada palavra vale muitas musicas e as harmonias construídas pelo seu talento deixam a nudez do Fado pura e a descoberto ficam os longos caminhos ainda não percorridos nesta tradição oral que espalha pelos maus tratos a nosso proverbial falta de auto-estima. Depois, desde as viagens às raízes (um Fado de seu pai, já clássico cantado com guitarra, viola e todos os matadores) passando pelos ritmos que nos recolocam perante as eternas dúvidas da origem do Fado. Brasil ? Africa ? Marinheiro ? bairro da Mouraria ? tudo em aberto, quem quiser, escolha ! não venham os puristas, que nas três últimas décadas mais não fizeram do que espalha-lo em tradições (algumas bem duvidosas) dizer-nos que o Fernando Girão não é um grande Fadista. Os clássicos (Mouraria, Menor, Corrido e todos os seus derivados) estão sempre presentes na sua fluidez interpretativa mas novos tesouros também nos chegam. Não creio que Gardel, pese o extraordinário intérprete que foi, pudesse chegar tão forte nos nossos dias se Piazzola não tivesse posto tudo em causa. Não tenhamos medo de pôr tudo em causa. Uma saudação especial ao guitarrista Arménio de Melo que nos alerta para o imenso caminho a percorrer pela guitarra Portuguesa em termos de cofre insubstituível do binómio voz/guitarra. Obrigado Fernando sinceramente obrigado !

A HIPERMODERNIDADE EM FERNANDO GIRÃO Se o hiperconsumo caracteriza o homem hipermoderno e global, a subjectividade da arte musical, hiperconsumida na sua linguagem mundializada desde sempre, testemunha, aqui, neste trabalho de Fernando Girão, a assumpção do artista como voz dos tempos que correm, que recebe em si manifestações culturais múltiplas e as dissemina como produto multicultural, numa língua e linguagem únicas, que reproduz em si a hipermodernidade da sua criação ecrânica, da sua existência como resultado de um total de muitas parcelas. A fonética de Fernando Girão, a new model, encerra o mundo em todas as suas manifestações e ritos, em todas as suas crenças e revelações divinas, num todo glorificado onde se reconhece tanto as expressões da latinidade como do espaço anglo-saxónico, viajando do oriente para ocidente num percurso solar e profético. Fernando Girão é um criador hipermoderno porque reúne e funde em si as representações do mundo como se ele próprio viajasse do futuro ao presente, reportando a excelência de um admirável mundo novo, não de um ponto de vista huxeliano, mas onde o mito babélico atingiria o seu termo e a humanidade comunicasse através dos mesmos signos.

Carlos do Carmo

Linguagem dos afectos, das cumplicidades, dos ritos tribais enquanto expressão globalizante, a voz de Fernando Girão resplandece num novo sacerdócio de um humanismo planetário. Inscreve, assim, o seu nome nas páginas de uma História do Futuro. Luís Filipe Sarmento Escritor Nota: Já há mais de 25 anos que não ficava tão emocionado com uma obra como esta de Fernando Girão. Senti esta mesma experiência emocional ao ouvir dois discos completamente diferentes entre si: «Doors» dos "The Doors" e «Operário em Construção» de Chico Buarque. É por isso que a Arte é uma devastação. 23


Música

Conversa com

FERNANDO GIRÃO Mas, acho que mesmo sendo uma excepção à regra, por tudo que antes disse, é normal que assim seja. A nossa casa, tanto no Rio como em São Paulo, era frequentada pelo Sivuca, Quincas Gonçalves, e um largo número de grandes músicos e compositores Brasileiros dessa época e de sempre. Esse convívio quase diário, influenciou a minha carreira, e o começo do meu “sentir” como artista.

Sendo tu um músico, quase desde que começaste a respirar, lembras-te como foi o teu despertar para a música? Foi através do meu pai, Fernando Freitas, primeiro compositor de Amália Rodrigues (Fado Sardinheiras), e de minha mãe, Maria Girão, que sendo brasileira e sem nunca ter vindo a Portugal, gravou 14 discos de fado. Quero contar uma história da família: A minha mãe, que cantava os fados com a pronuncia de uma mulher de Alfama, Mouraria, ou Madragoa, mesmo depois de viver anos em Lisboa, curiosamente, nunca conseguiu falar com sotaque Português… Voltando ao meu pai, o primeiro disco na carreira da grande Amália Rodrigues, foi gravado pelo conjunto de Guitarras do Professor Fernando Freitas, que era nesse tempo o seu guitarrista e director musical e artístico.

Carlos do Carmo afirma sobre um disco teu: “quando ouço o Fernando cantar “Tudo Isto é Fado”, sinto o perfume raro que nos passa um intérprete maturo, mas intérprete de fado com uma insatisfação que aponta caminhos, o que convenhamos é tão salutar para a sobrevivência do fado.” Diz também, e isso é um enorme elogio: “o que seria de Carlos Gardel se Astor Piazzolla não tivesse posto tudo em causa” fazendo de ti, ao comparar-te com um dos maiores músicos de todos os tempos, o grande inovador do Fado. Consideras que tens de alguma forma reformulado o fado, não só nos teus discos, mas também nas músicas que fazes para outros fadistas?

Tu és fruto do amor de duas pessoas fantásticas…

Em primeiro lugar, agradeço ao Carlos do Carmo ter escrito no booklet de um disco meu, tão importantes palavras, sendo ele o símbolo que é para o Fado. O que posso afirmar, é que faço o meu trabalho de forma honesta e respeitosa. Não me compete ajuizar se inovo ou reformulo seja o que for. Os juízos são feitos pelo tempo e pela história. Os temas que componho e escrevo para cantores e cantoras fadistas, tornam-se num interessante exercício pessoal. Procuro, quando componho nessa direção, mesmo introduzindo algumas harmonias pouco comuns ao Fado, que seja um Fado, Fado. Dá-me prazer, ver até onde vai a minha “fadistice”...

Sim, isso é verdade, o meu pai e a minha mãe foram maravilhosos, amaram-se com todas as suas forças, amaram os filhos, eu e o meu querido irmão Vasco e apoiaram-me em todas as fases da minha vida. Sentes essa chamada genética do fado na tua música? No meu caso, talvez pelo facto de ter nascido e vivido num País como o Brasil, possuidor de uma música extremamente variada, rítmica e com um tipo de harmonias de uma riqueza fabulosa, dirigi os meus passos para outras músicas. Ainda ontem em conversa com o Pedro Moutinho aqui em casa (para quem, possivelmente vou compor no próximo disco), estávamos a comentar, que talvez eu seja o único filho de fadistas, que não tenha feito uma carreira específica no Fado.

Quando, por outro lado, componho e escrevo para mim, viajo na minha própria nave, onde só me preocupo com a essência

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Música

Revista

Pensas no Fado como um género que ficará com a mesma roupagem de sempre, salvo algumas excepções? Acredito que naturalmente irão surgindo roupas novas…Por mim, quando penso no Fado, e nos seus possíveis caminhos futuros, considero que faço tentativas no sentido de apontar direcções para outras estradas que possam vir a ser percorridas. Prova disso, são os 4 projectos que fiz como respeitosas homenagens aos meus pais, aos fadistas e à guitarra Portuguesa, que são, por ordem cronológica: “Outros Fados”, “Dias de Amanhã”, “Cantos da Alma” e “Fado Negro”. Este último, é o que considero mais inovador e ao mesmo tempo mais fadista, pois mantém a essência do Fado enquanto “mexe” na parte harmónica, melódica e instrumental. Todo o processo de criação do “Fado Negro”, foi feito conservando a alma e a raiz fadista. Os únicos instrumentos “novos” são o cajón peruano (Zezé N'Gambi) em nove dos doze temas que constituem o álbum, piano acústico (Ernesto Leite) em dois e wooden percussion, um instrumento construído por mim, tocado pelo Rubén Dantas. Os outros instrumentos são: guitarra Portuguesa (Bernardo Couto), guitarra clássica (Diogo Clemente) e baixo de Fado (Filipe Larsen). Este é para mim o disco que aponta mais e possíveis novos caminhos dentro de uma visão fadista. Ou seja, estes temas, podem ser cantados pelos fadistas da nova e da velha geração, sem atrito nem necessidade de nenhuma adaptação.

Achas que o Fado poderá vir a ter uma evolução parecida ao Flamenco, que não tem complexos em misturar elementos de outras “músicas” na sua tradição? O que aconteceu com o Flamenco, com a introdução do famoso cajón flamenco, que é Peruano… Aliás, deixa-me contar uma história notável que me foi narrada pelo próprio Rubén Dantas, na sua casa na calle de O'Donnell em Madrid: O Rubén, que curiosamente toca um instrumento de percussão construído por mim no “Fado Negro”, é um dos meus grandes amigos. Foi ele (Brasileiro de Salvador) que introduziu o cajón no Flamenco. Aconteceu numa actuação com o Paco de Lucia no Perú, onde o Rubén comprou um cajón Peruano, e desde então começou a toca-lo nas performances com o Paco. A partir desse momento passou a ser chamado erradamente de cajón flamenco! Voltando a pergunta sobre a evolução do Fado, hoje, quase todos os flamencos passaram a utilizar esse instrumento como se ele sempre tivesse sido parte da sua história. O que quero dizer com isto, é a abertura dos Espanhóis para a introdução de novos elementos na sua música mais tradicional, em oposição a alguns “puristas” Portugueses que sempre acharam que tudo que se faça de novo com o Fado é uma afronta à tradição…

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Música

Sendo tu um músico do mundo, pensando no Fado como sendo também uma música do mundo, o que é que sentiste quando foi eleito Património Imaterial da Humanidade? Senti uma enorme felicidade, embora não tenha sido nenhuma surpresa, independentemente dos grupos, e da força que possam ter exercido, mais dia menos dia, o Fado teria que ser eleito, Património Imaterial da Humanidade. Aliás é o que está a acontecer com diversos tipos de música de outras partes do mundo. No campo pessoal, senti uma grande decepção, e queria deixar aqui patente o meu descontentamento e tristeza: A minha mãe, sendo Brasileira, dedicou toda a sua carreira artística ao Fado, divulgando o nome de Portugal no Brasil e em outras partes do mundo. Quanto ao meu pai, um dos grandes virtuosos da guitarra Portuguesa e compositor de tantos fados clássicos que ainda hoje são cantados todas as noites nas casas de Fado, foi também o guitarrista preferido de Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha (o miúdo da Bica), da grande Lucília do Carmo e tantos outros intérpretes (muitos foram os fadistas que me disseram: O teu pai toca de uma forma que nos dá confiança que nos faz cantar melhor!). Foi o discípulo preferido do Mestre Armandinho. Será sempre, um grande senhor na história do Fado. Quanto a mim, o terem “esquecido” as palavras do senhor Carlos do Carmo e de tantos outros fadistas sobre o meu trabalho e não terem levado em consideração nenhuma das 4 homenagens que fiz ao Fado, tudo mal, mas tudo bem… eu não paro de “viajar”… Não mencionarem o nome dos meus pais, nessa data tão importante, depois de tudo que fizeram pelo Fado, considero injusto e uma falta de reconhecimento pelo trabalho de ambos.

É um privilégio, ser amigo da Flora, do Airto e do Philip (aliás, eu e o Philip, estamos a preparar um projecto em dueto) receber palavras assim de artistas dessa dimensão é motivo de grande satisfação. Não posso deixar de referir que as palavras que o Airto Moreira, grande mestre da percussão ocidental, e um “monstro sagrado” que já tocou com Miles Davis, Chic Corea, Carlos Santana, Joe Zawinul, Keith Jarrett, Weather Report etc… escreveu sobre mim no “Brazil a Tribute”, e o facto dele convidar-me a partilhar o palco do lendário Ronnie Scott´s Club em Londres, durante 7 dias consecutivos como seu convidado, são motivo de honra e orgulho. Mas é um orgulho humilde, conseguido com muito trabalho. Essas coisas para mim, são o que alimenta a minha alma como artista, como sonhador, têm mais valor do que todo o dinheiro do mundo.

A tua música é uma pesquisa constante, do fado ao jazz, passando pela música étnica, diria mesmo que és um cientista num laboratório de sons, o que é que te fascina nessa procura?

O que é que te falta ainda fazer, ou mostrar? Falta-me fazer tudo! Um dia, tive uma conversa com um grande pianista e amigo de muitas batalhas, Emílio Robalo, disse-me que achava que um ser humano, deveria viver 50 mil anos, 25 mil para aprendermos, e os outros 25 para termos tempo de pôr em prática o que possamos ter aprendido… se me basear nesse conceito, ainda nada fiz…risos! No conceito humano, considero já ter feito alguma coisa, mas, espero ter oportunidades para fazer muito mais...

Eu tenho por natureza, ânsia de aprender, os tubos de ensaio do meu laboratório musical, a variedade das sonoridades, o viajar pelo mundo e viver durante anos em Países tão diferentes, com culturas tão variadas, faz com que eu me considere um felizardo. Sou um homem agradecido pelo que tenho, pois tudo que fiz, trouxe-me vantagens enormes, que agora posso pôr em prática nos meus trabalhos e na forma de ver a vida. Por isso, cada vez mais, tudo me fascina…

O que achas mais importante a ser feito em Portugal, a nível cultural?

O teu álbum “Brazil a Tribute” que é uma homenagem a todos os intérpretes, músicos e compositores brasileiros, é para muitos, um dos melhores trabalhos de sempre sobre temas clássicos da Bossa Nova e do Samba. Recebeu elogios dos dois lados do atlântico e até de mais longe, pois além dos prefácios dos Brasileiros Airto Moreira e Flora Purim, (dois grammys cada um) o Americano Philip Hamilton diz no seu: “No one delivers a ballad like Fernando Girão” (ninguém entrega – canta - uma balada como Fernando Girão). O que sentes, quando coisas assim acontecem?

Enquanto Portugal continuar a pensar que a cultura é algo supérfluo, como se fosse um hobby, nunca haverá uma evolução nesse campo, pois ao ser vista dessa forma, ficará sempre em segundo plano. A cultura tem que ser vista como algo obrigatório na educação de todo um povo. Qualquer governo tem a obrigação de criar condições físicas e monetárias para que os jovens com talento e vocação, possam ter oportunidade de aprender a trabalhar de forma profissional a sua arte. E assim, divulgar e valorizar o País, pois, ao contrário do que certas cabeças pensam, a cultura também é uma grande fonte de riqueza. 26


Música

Conhecedor de alguns dialectos tribais e idiomas, foste mais longe e criaste a tua própria linguagem fonética. Como dizes, as palavras deste dialecto sonoro, não significam rigorosamente nada. O facto é que quem o ouve, compreende e percorre o trajecto que pretendes, como se de uma verdadeira língua se tratasse (aconteceu comigo), como consegues este feito?

Falemos deste teu trabalho, que acabaste de produzir, no qual és o compositor e autor, deste as vozes, tocaste todos os instrumentos, e também misturaste, que tem como título AXAYARA cuja capa é a apresentação da nossa revista de março e onde utilizas este mesmo dialecto fonético. Bem, esse trabalho ou projecto é possivelmente um ponto de chegada e partida para algo que ainda irei descobrir, é sem dúvida um passo muito importante na minha carreira, pela originalidade do conceito, pelo idioma sonoro usado em todos os 11 temas do álbum e pelo fantástico som conseguido no estúdio 107 do meu bom amigo Vicente Pereira. Aliás, o trabalho do Vicente é de um grande rigor profissional. Desde os 8 anos ele viveu na Alemanha, estudou desde a escola primária até a universidade, onde graduou-se como engenheiro. Trabalhou como produtor em alguns dos grandes estúdios da cena musical alemã e internacional, compôs para séries televisivas, produziu bandas modernas de diversos estilos. Com tudo isso, adquiriu uma sabedoria que é sentida no AXAYARA do princípio ao fim. Eu não poderia ter melhor companhia para um trabalho como este. Ele é co-produtor, programador e juntos fizemos todas as misturas. Todos os instrumentos que toquei, do primeiro ao último, assim como todas as vozes que cantei, em suma, tudo que se ouve neste disco foi gravado de forma impecável, no estúdio 107 pelo “senhor” Vicente Pereira. Deixo-lhe aqui um agradecimento muito especial, totalmente merecido. Obrigado por tudo Vicente, és um grande profissional da música, foi muito bom ter gravado este projecto de enorme significado para mim no teu estúdio e contigo, meu amigo. Um grande abraço.

A ideia de criar um dialecto sonoro, surgiu quando eu vivia em Los Angeles. Nesse tempo, numa noite em que actuava em West Hollywood, com o John Beasley, o Jonh B. Williams e o Harvey Maison. Tudo o que se tocou nessa noite, foi completamente improvisado (nos dias de hoje, tenho um dueto com o meu grande amigo e fabuloso pianista, Luiz Avellar, onde todos os temas são improvisados do principio ao fim), Nessa madrugada, quando cheguei a casa, comecei a imaginar o que seria cantar num idioma sonoro, com sílabas de várias línguas, criando assim, um dialecto fonético que não quisesse dizer nada, e que fosse totalmente democrático, pois, cada ouvinte, interpretaria o que escutasse à sua maneira, dependendo do seu estado espírito. Comecei a construir pequenas palavras com duas sílabas no máximo de vários idiomas. Indiano, Paquistanês, Árabe, dialectos de África, Português, Espanhol, ou seja, sons que abrangessem uma grande variedade de sons. Comecei assim, a juntar as sílabas que compusessem “esse” idioma. Outra das características que tento obter com esta linguagem, é transmitir ao ouvinte uma predisposição a uma viagem sonora e visual.

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Música

Ao ouvir este trabalho somos transportados para os primórdios da humanidade, onde o “xamanismo” imperava e a música só servia para nos transportar para outros mundos, esta viagem percorre a música dos 5 continentes, a tua espiritualidade neste e noutros trabalhos está sempre fortemente patente, é um reflexo da tua personalidade, como se consegue chegar a um conhecimento tão profundo do melhor de cada zona do planeta, tanto espiritualmente como musical? Não sei se consigo responder com precisão a essa pergunta. Mas acho que as viagens que fiz pelo mundo e das que fiz dentro de mim, ter tido mestres indianos, ter estudado com um mestre Árabe em Marrocos, ter vivido 11 anos em Espanha e ter podido aprofundar o Cante Jondo, ter nascido no Brasil, ter vivido em Africa, ter vivido nos Estados Unidos, cantar Jazz, ter-me interessado pela cultura de outros países, comer o que eles comiam, dançar o que eles dançavam, tentar integrar-me nas sociedades onde estivesse a viver, estudando da forma possível os costumes das pessoas desses Países. Acho que é a soma de tudo isso… Enviaste este trabalho a alguns dos melhores conhecedores de World Music do mundo e recebeste as melhores críticas que algum musico podia ter e pelos melhores críticos que alguém podia esperar, como é o caso de Kit Walker, um dos maiores músicos, compositores e produtores de World Music, que aconselha a ouvir o AXAYARA com o coração. A Virimateha, da nação Cayuga, descendente dos Iroqueses, que diz textualmente “O seu poder é tão forte que se sente na alma. Para mim foi como retornar às minhas origens. Comoveu-me profundamente.” Luis Filipe Sarmento afirma que tu és um exemplo do homem da Hipermodernidade e vai mais longe explicando a sua teoria, diz mesmo, “Já há mais de 25 anos que não ficava tão emocionado com uma obra como esta de Fernando Girão. Senti esta mesma experiência emocional ao ouvir dois discos completamente diferentes entre si: «Doors» dos "The Doors" e «Operário em Construção» de Chico Buarque. É por isso que a Arte é uma devastação.” Que sente um musico quando ouve da boca destes diversos especialistas de todo o mundo palavras destas? Honra-me imenso que o meu trabalho provoque essas reações num homem como o Kit Walker, numa mulher como a Virimateha ou num escritor como o Luís Filipe Sarmento, e que os leve a escrever o que escreveram nos prefácios que dedicaram ao AXAYARA. O Luís Sarmento, escreve no prefácio que fez, que a música do AXAYARA “viaja do oriente para ocidente num percurso solar e profético” e “que viajas do futuro ao presente”. Sentes-te como um homem da Hipermodernidade?

Segundo a forma como ele descreve a Hipermodernidade, sinto-me totalmente incluído. É curioso porque ele diz isso sendo uma pessoa culta e com uma grande experiencia de vida, mas houve um grupo de jovens na casa dos 20 anos que disseram exactamente a mesma coisa! Parecia algo futurista mas ao mesmo tempo sentiam que toda a vida tinham vivido com “essa” música sem jamais a terem escutado! Mas fazer parte dessa Hipermodernidade tem custos, todos aqueles que têm uma visão diferente, que tentam os seus próprios caminhos dentro da arte, seja ela qual for, não são compreendidos pelos que andam atrás… pelos que melhor ou pior, fazem o que faz a maioria. Num programa do Herman José, ele perguntou-te o seguinte: Será que este país não tem tamanho para a dimensão do teu talento? É a opinião dele, considero o Herman um homem culto e com uma larga experiencia de vida. Quanto ao motivo dessa pergunta, só mesmo ele poderá responder O que é que tu dirias a quem está a dar os primeiros passos na musica, na composição, em tudo em geral? Mais do que conselhos são convicções pessoais, pensamentos… o que eu diria, ou o que eu pensaria se estivesse a começar, é que o artista deve procurar fazer sempre aquilo que é e aquilo que quer ser. Deve ser fiel às suas convicções e a todas as loucuras em relação à arte que lhe cruze o pensamento, seja pintor, escultor, bailarino, seja um músico, poeta, cineasta, actor, acho que um artista deve dar asas à sua imaginação, não se deve nunca vender ao sistema, pois estará a pôr em causa a sua integridade e a integridade da sua própria arte, e isso é muito grave. A verdadeira arte é um dom com que poucos nascem, e se assim é tem que ser aproveitado da melhor forma. Não se vive da arte, vive-se para ela. O artista não pode deixar que a sociedade vandalizada de ideias bacocas, vulgares e antiquadas tente interferir na sua criação. Um artista deve lutar como um guerreiro pelas suas convicções, tudo deve ser posto em causa em nome da arte, senão deixa de ser arte e passa a ser mais um emprego, e o artista não é um empregado, é sim um trabalhador. O artista tem que viver os seus sonhos. São os sonhos dos artistas que fazem andar o mundo, não são os políticos, esses matam, destroem. O artista tem o poder de mudar o mundo, e se assim não for, se conseguir trazer luz nem que seja apenas a duas ou três pessoas… já valeu a pena, e justificou todas as suas lutas. Eu gostaria muito que os artistas, das gerações mais velhas ou mais novas, ou mesmo aquelas que ainda estão a pensar em serem artistas, tenhamos todos a mesma convicção, o mesmo amor pela arte e principalmente o respeito e a honra por sermos artistas… ser artista é mudar tudo. A arte tem que ser respeitada, pois se não o for, ela jamais respeitará o artista. É impossível expressar por palavras a gratidão que tenho por ter a oportunidade de cruzar a minha vida com pessoas do teu tamanho, muito obrigado pela tua honestidade, objetividade carinho, compreensão e sentido de humanidade e como tu dizes sempre no fim das nossas mensagens, Ogum Ogunhê.


Literatura

Revista

Libânia Madureira com a poesia nas veias Nasceu a 28 de Dezembro de 1956 na Invicta cidade do Porto, onde trabalha. Vive há cerca de 27 anos, em Rio Tinto – Gondomar. Entre vários projectos, destaca-se a publicação de alguns dos seus poemas, no livro “Sentimentos de Cristal” (Set. de 2007), (edição de autor) e em diversos sites ligados à escrita e às artes. (*) _ Sócia Fundadora da ACLAL (Academia de Letras e Artes Lusófonas); (**) _ Sócia Constituinte da AAALPM (**)«Associação de Amizade e Apoio à Língua Portuguesa no Mundo – CPLP e Diáspora; _ Participação como co-Autora na II (2009)- , III (2010) e IV (2011) “Antologia de Poetas Lusófonos”, da Folheto Edições & Design; _ Participação como co-Autora de “Palavras Nossas” (2011)– Colectânea de Novos Poetas Portugueses, da Esfera do Caos.

BIG BANG

No âmbito de actividades culturais, participou em várias exposições de pintura, de Noémia Travassos & João Carvalho “Miscigenação”; “Trind`Art”, de Noémia Travassos, Anabela Duarte Mendes da Silva & Armando Magno; “I Encontro de Artes Lusófonas”, na Galeria ART 3, com os seus poemas;

Sexto dia da semana cósmica de largos milhões de Anos, dum firmamento circundante. Permanece a natureza atónita, dum metabolismo celular Como estrela plantada no céu, cintilante. _ Amanhece a Vida no "ser" humano dum milagre por decifrar...

Faz parte da organização e moderação de Tertúlias de Poesia, em Ovar – “Vagas de Poesia” e Vila Nova de Gaia – projecto «Gaia é Cultura» - (Casa Barbot), “Troca de Palavras” e em várias colectividades;

Ergue-se a Vida com o dia numa doce alvorada, cumpre-se a profecia duma estrela inanimada.

É presença assídua dos «Serões da Bonjóia»_ da Fundação Porto Social (instituição com um projecto de interacção com a Cidade do Porto), e nas suas várias tertúlias poéticas da Quinta da Bonjóia, (Porto) Casa Barbot, (V.N.Gaia), Paralelo-38, (Furadouro-Ovar) Coffee House, (Ovar), Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, em Espinho, Flor de Infesta, (S. Mamede de Infesta) e Galeria Vieira Portuense, (Porto) entre muitos outros;

Surge o Homem e a Mulher, milagre que Deus fez acontecer. A terra povoou, a humanidade prosperou, dum bendito Big-Bang, para um mundo de Amor e Sangue.

(***) _ Colaboradora da Rádio AVFM (Antena Vareira), de Ovar, no programa «Cidade das Sensibilidades», na divulgação dos “Poetas E Sua Poesia”.

Pedaços de história na explosão do universo, o inverso em cada verso em paralelo que para sê-lo é preciso escrevê-lo, revivê-lo a cada passagem do tempo, da memória …

(****) _ Faz parte do projecto «Poetas Somos» – um espaço cibernético de divulgação de poetas e da sua poesia que deu origem à publicação em co-autoria do livro “Aurora de Poetas”. www.aclalusofonas.blogspot.com http://aaalpm.pt.vu/ www.radioavfm.net/ http://poetas-somos.blogspot.com 29


Poesia Talento(s) Que palavra poética teria melhor ética humana, ou profética?

«Novos Talentos» Delicado vaga-lume de um céu enigmático metamorfose se difunde, neste sublime e estático, etéreo e infinito, _ Um Nome fica escrito.

Sem temor a qualquer crítica neste encontro multicor, esta hora bendita fica gravada escrita à sombra da Luz da lua mesmo que não pronunciada a vida a perpetua...

Estranhíssima alquimia, pura poesia eterniza a existência de humano sentimento num sublime contexto de vida, lapidado na excepção plantadas no jardim da alma. Seiva que fecunda e acalma bem dentro do peito na busca do perfeito, puro encanto duma constelação em ascendência.

Na semente lançada ao mundo despontarão novas flores de delicados alvores cujas melodias sublimes e suaves excederão o encanto num novo canto de sustenidos ou graves acordes dilectos… das metáforas do coração dos sonhos e anseios, doce alquimia escritos, esculpidos, retratos de emoção do pintor, do escultor, do músico, do poeta indo além, sendo voz, mensageiro e profeta…

Momento doce e subtil desfila no céu em tons de anil, noutras poéticas fora do alcance das palavras, impulsionadoras do verso. Canção repleta de alegria, mágicas fonéticas, esculpidas, gravadas no cálido eco imerso de profunda harmonia.

Partilha da cultura, estas gotas essenciais onde a voz entorpecida ou muda, frágil ou modesta, se faz sublime partícula do milagre amoroso. Sã interculturalidade que se manifesta como rio caudaloso transpondo mares de infinitos mananciais…

Campo de estrelas, derramando flores de festas com profunda humanidade rumando ao horizonte que se perscruta. Doces centelhas, luzentes como estas, palavras ditas, vividas com sinceridade querendo lutar a mesma luta, entre ecos de docilidade na mais profunda razão do viver.

Aquecido e movido por um calor!...

Nos socalcos dos caminhos estão escritos, matizados carinhos, fraterna amizade de luzente estrela que a fez nascer…

São necessárias um sem número de linhas, compor versos e rimas, a anjos tomando forma humana, cujas asas, são as portas de suas casas de um fogo que emana, permitindo dividir um espaço vital, aquecido e movido por um calor que nos ajuda a construir uma felicidade tal, numa chama envolvente e multicor. Superior presente, transmutação da escura noite, em claro dia que perdura das imensas alegorias pictóricas, poéticas, musicais, com que nos mimoseais, balbuciando melodias de paz, que a sublime partilha nos traz. 30


Artes Plásticas

C a r l o s A l m e i d a a subtileza da aguarela

Nasce em Agosto de 1954 em Lisboa Finais dos anos sessenta e princípios dos anos setenta; desenho, pintura e modelação cerâmica com os mestres Álvaro Perdigão e Martins Correia. Design gráfico e ilustração editorial e publicitária como freelancer até 2001, colaborando com as maiores e melhores agências publicitárias nacionais e internacionais , bem como com os departamentos gráficos de vários jornais e editoras como a Nave, Europa-América, DN, etc.

Programa de cultura livre!

Arestas de Vento MAIS DE DUAS DÉCADAS AO SERVIÇO DA CULTURA!

Ricardo Cardoso , Céu Campos, Ricardo Pita

BREVEMENTE

Nunca deixando porém, de um modo sistemático e simultâneo, de pintar e criar peças de arte nas mais diversas vertentes, tendo realizado várias exposições individuais e colectivas em diversos locais, entre os quais as bienais de arte figurativa de Alenquer.

O raio de um programa onde a polémica e as palavras andam sem algemas e mordaças saudavelmente à solta , mas com ameaça de mandado de captura… RICARDO CARDOSO e CÉU CAMPOS chefiam um bando de colaboradores e convidados , brutos no falar, intemeratos, atrevidos e sem topetas... é a polémica a bater forte nos idiotas , nos colaboracionistas , nos que se julgam únicos e insubstituíveis , na sacanagem que vegeta nas franjas ocultas do poder , de qualquer poder ... é a boa cultura a fazer das suas - e das nossas ! 31


Artes Plásticas

C a r l o s A l m e i d a

Em 2002, o grande amor pelo Alentejo, leva-o a criar uma galeria de arte e artesanato contemporâneo no centro histórico de Évora, onde passou a desenvolver um intenso trabalho criativo em áreas tão diversas como: Pintura, desenho, cerâmica criativa e azulejaria artística, expondo nesse seu espaço de modo permanente as suas peças até 2009.

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Artes Plásticas

Está representado no museu João Mário, em variadíssimas colecções privadas, empresas, universidades, entidades particulares e públicas, nacionais e estrangeiras, espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

Paralelamente à sua atividade de artista plástico, tem dado aulas de pintura e desenho no pólo universitário de Évora, e agora que adotou a cidade do Porto para residir e trabalhar, vai abrir na Maia, já em Fevereiro de 2012, em conjunto com a artista plástica Noémia Travassos, um novo atelier de artes plásticas em que, para além do desenvolvimento dos projetos artísticos que tem em mãos, tenciona continuar, desta feita cá pelo norte, a dar aulas de pintura e desenho nas mais diversas técnicas.

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Façamos diferente

Façamos diferente...

Voltou então a sentar-se, permanecendo silencioso e imóvel. O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos poucos a chama da brasa solitária diminuía, até que houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou-se de vez. Em pouco tempo o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de carvão recoberto de uma espessa camada de cinza. Nenhuma palavra tinha sido dita desde o protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos. O amigo, antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão frio e inútil, colocando-o de volta no meio do fogo. Quase que imediatamente o carvão tornou a incandescer, alimentado pela luz e calor dos carvões ardentes em torno dele. Quando o amigo alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse: -Obrigado, pela tua visita e pelo belíssimo sermão. Amanhã estarei convosco novamente. Ninguém cresce ou vence sozinho, deixe essas solidões e dê-se mais, fale mais, partilhe mais, ame mais. Seja feliz… à sua maneira.

Luís Fernando Graça

Artista Plástico Formador Certificado pelo IEFP Motivação e Crescimento Pessoal Editor da revista Novos Talentos

Por vezes esquecemo-nos da importância dos nossos grupos de amigos e de como precisamos de nos inserir em grupos para podermos progredir, seja em que situação for. As pessoas e as almas crescem e desenvolvem-se em grupo, desde os tempos mais primitivos que o ser humano se integrou em grupos (salvo raras excepções) e sentirse em grupo ou sociedade. Sempre fui e sou um apologista das amizades e dos grupos, tertúlias, grupos de artistas, etc, por achar que sozinhos não passamos de uma imagem holográfica da nossa própria sombra. Existe um texto de um autor desconhecido, mas muito sapiente que conta o seguinte:

Imagine a Terra sem a vida humana, habitada apenas por plantas e animais. Será que ainda haveria passado e futuro? Será que as perguntas “que horas são?” ou “que dia é hoje?” teriam algum sentido para um carvalho ou uma águia? Acho que eles ficariam intrigados e responderiam: “Claro que é agora. A hora é agora. O que mais existe?”

Um membro de um grupo, ao qual estava ligado regularmente, sem nenhum aviso deixou de participar de suas actividades. Após algumas semanas, um dos amigos daquele grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O amigo encontrou o homem em casa sozinho, sentado diante da lareira, onde ardia um fogo brilhante e acolhedor. Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-vindas ao amigo, conduziu-o a uma grande cadeira perto da lareira e ficou quieto, esperando. O amigo acomodou-se confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das chamas em torno das achas de lenha, que ardiam. Ao cabo de alguns minutos, o amigo examinou as brasas que se formaram e cuidadosamente seleccionou uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para o lado.

(Eckhart Tolle do livro “O Poder do Agora”)

Seu objetivo está tomando de tal modo a sua atenção que o momento presente é apenas um meio para atingir um fim? Está consumindo a alegria das coisas que você faz? Você está esperando para começar a viver? Se você desenvolver este tipo de padrão mental, não importa o que você adquira ou alcance, o presente nunca será bom o bastante. O futuro sempre parecerá melhor. Uma receita perfeita para uma insatisfação permanente, você não acha? (Eckhart Tolle do livro “O Poder do Agora”)

O stress é causado pelo estar “aqui” embora se deseje estar “lá”, ou por se estar no presente desejando estar no futuro. É uma divisão que corta a pessoa por dentro. Criar e viver com essa divisão é insano. O fato de que todas as pessoas estão agindo assim não torna ninguém menos insano. (Eckhart Tolle do livro “O Poder do Agora”)

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Literatura

Reflete temas tão atuais como cruciais. Lapidação, mutilação genital, violação, tráfico de órgãos humanos, barrigas de aluguer, infanticídio feminino na China e muitos outros temas que se dizem fazer parte das várias culturas de vários povos, são os principais ingredientes que marcam esta nova faceta da sua vida literária.

Ana Mascarenhas vazios preenchidos

O seu cunho pessoal distingue-se na forma como escreve, sendo que, a primeira pessoa é o fator primordial. Independentemente do género a que se refere, seja poesia narrativa, prosa poética, romance, tese, ensaio ou reflexão, a escrita pauta-se sempre na primeira pessoa do singular.

Ana Mascarenhas nasceu em 1969. Presentemente reside no Concelho de Mafra ao qual faz honras em morar junto ao campo, junto à praia e perto do silêncio da solidão recheado no meio da multidão, ou seja, perto da capital, Lisboa.

Digamos que se trata de uma roupagem diferente no modelo literário.

Trabalhou cerca de 20 anos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação, no entanto, a sua formação académica pauta-se pela área das Letras. Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos e Minor em Estudos Literários e Artísticos dedica-se, atualmente, à escrita, leitura e respetivas traduções e revisões literárias.

Ana Mascarenhas não pretende de modo algum publicar muitos livros, apenas um por ano, de forma a deixar crescer cada rebento seu e, apenas livros que sejam paridos da Alma. Cada letra, cada palavra, cada frase, texto e seu respetivo significado são todos eles nascidos da Alma, apenas ela, a Alma, dita o que escreve, como escreve e onde escreve. O tempo e o espaço são da Alma, as regras, também, o conteúdo, nem se fala e a forma a ela pertence. A vida que habita no corpo, na mente e na Alma da Ana Mascarenhas faz dela o que ela é: Igual por ser humana, mas única por ser a Ana.

Por convite publicou três livros escritos em prosa poética e poesia narrativa. O primeiro intitulado “Louca Sensatez” reflete a sensualidade e o erotismo feminino, foi publicado em 2009 pela Editorial100 através da chancela Torre de Gente. O segundo intitulado “Em Carne Viva” reflete o crescimento da pessoa na sociedade e, foi publicado um ano depois, 2010, igualmente, pela Torre de Gente. O terceiro intitulado “Vazios da Escrita” representa o crescimento interior da pessoa. Um livro prefaciado pelo escritor, filósofo, ensaísta e professor Miguel Real. Este último foi publicado em 2011 pela chancela da EdiumEditores. No presente ano, 2012, irá publicar o seu primeiro romance. Não se trata de um romance cor-de-rosa, antes é um romance interventivo. Retrata os vários males que habitam nas várias sociedades de um mundo que se diz globalizante.

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Tatuagem

L O O K A R T

A arte de permanecer

A tatuagem é pessoal. Conta uma história verdadeira ou fictícia. Faz parte do nosso quotidiano e hoje em dia vestimo-nos de tatuagens… talvez uma ideia de momento, talvez uma ideia de anos de espera… Tanto a preto e branco ou a cores, tanto aos 18 anos como aos 50 anos, a tatuagem faz-se cada vez mais vezes… Trabalho há já quase 9 anos e a tatuagem tem crescido mundialmente. Desde a palete de cores, ao peso da máquina de tatuar, tudo tem evoluído muito rapidamente… Felizmente para muitos e infelizmente para outros, tem-se constado que, o número de pessoal novo a tirar cursos de tatuagem, tem aumentado.

Desde sempre o homem teve necessidade de adornar o seu corpo e torná-lo diferente e mais bonito (dependendo da cultura).

E muitos destes tatuadores mais recentes não têm tatuagens… o que eu acho muito estranho, visto fazer parte da vida de um tatuador, ser tatuado… tal como um escritor sem livros em casa, não é um escritor completo, ou um pintor sem quadros, ou outro tipo de profissão, tem que se gostar daquilo que se faz e para isso tem que se sentir na pele o que se faz aos outros…

Os elementos das tribos Maoiri desde sempre modificaram as suas caras utilizando formas primitivas e dolorosas de tatuagem por forma a serem distinguidos entre os seus pares. Os egípcios usavam tintas e pigmentos para fazer as suas tatuagens e algumas mesmo não sendo de uma forma permanente, iam modificando a visão do seu corpo de alguma forma. Ainda nos dias de hoje a tatuagem tribal tem uma força imensa em algumas ilhas do Atlântico e Pacifico seguindo ainda rituais ancestrais de mudaça de idade, etc.

Além do nosso esforço para mantermos o nosso profissionalismo durante o trabalho, também respeitamos a higiene… temos material esterilizado em auto-clave e material descartável… Fazemos tatuagens personalizadas e colocamos piercings. Façam da vida, uma vida mais colorida! Ariana Netto

Hoje a tatuagem continua a ser uma das formas de modificação do corpo mais conhecidas e usadas no mundo. Trata-se de um desenho permanente, feito na pele que, tecnicamente, é uma aplicação subcutânea obtida através da introdução de pigmentos por agulhas, um procedimento que durante muitos séculos foi completamente irreversível (embora dependendo do caso, mesmo as técnicas de remoção atuais possam deixar cicatrizes e variações de cor sobre a pele). A motivação para os tatuadores é ser uma obra de arte viva, e temporal tanto quanto a vida, quanto ao tatuado é a exibição de uma obra de arte mesmo debaixo da sua pele. 38


Tatuagem

Revista

A arte pessoal LookArtTattoo & Bodypiercing é o estúdio de tatuagem e piercing da Ariana Netto e Amândio Clementino um casal jovem a viver em Braga e com o seu estúdio no Centro Comercial Rechicho, no centro da cidade. Sendo ambos de Lisboa optaram por ir viver em Braga desde 2001, por ser uma cidade jovem e isso vê-se agora com a atribuição de Capital Europeia da Juventude 2012. A Ariana Netto é tatuadora desde 2002 e tem participado em várias convenções de Tattoo, tendo ganho diversos prémios.

A tatuagem é para a Ariana, uma expressão artística e também uma foram de estar na vida.

2004 - 3º Melhor Obra do Show, IX International Tattoo Convention em Barcelona. - 2º Melhor Obra de Sábado, IX Internatinal Convention Tattoo em Barcelona.

Ela tem uma grande capacidade para o desenho e criatividade, tendo uma destreza e rapidez na execução de cada tatuagem que realiza e são todos estes ingredientes que lhe têm proporcionado, os prémios que tem acumulado.

2005 - 2º Melhor Cor, Tattoo Rock Festival em Lisboa. LookArtTattoo & Bodypiercing Centro Comercial Rechicho Rua do Raio nº 301 - Loja nº 55, 1º andar 4310 Braga - Portugal 965 236 133 - 966 361 001 lookarttattoo@sapo.pt

2006 - 3º Melhor Tattoo do Show, Reunion Tatuage de Sanabria. 2006 - 3º Melhor Cor de Sábado, Tattoo Rock Festival em Lisboa. 2007 - 1º Melhor Cor, Tattoo Convention de Valência. 2010 - 2º Melhor Cor, Castellon Tattoo Convention. - 3º Melhor Obra de Domingo, XIII Barcelona Tattoo Expo. 2011 - 2º Melhor Cor de Sábado, Zaragoza Tattoo Convention.

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Os de cá, Lá!

A Fotografia e o Fotógrafo de Moda Jorge Alves Fotografo A Fotografia de Moda sempre me fascinou por ser uma das disciplinas mais exigentes, onde o fotógrafo tem que ter um excelente domínio da técnica, sabendo os segredos da luz, aliado a um extremo bom gosto e estética apurada.

O Fotógrafo de Moda (não só) tem que ter uma exigente cultura geral do meio, estar a par das tendências da moda, da História da Moda, da História da Arte, estar receptivo às influências do cinema, da literatura, da banda desenhada, das artes plásticas e de toda a história da cultura da sociedade. Deverá adequar-se convenientemente e aprender a trabalhar com uma equipa de estilistas e de especialistas muitos competentes onde o glamour e a sofisticação são fruto de muito trabalho, profissionalismo, de muita exigência, perfecionismo, planeamento rigoroso e muita responsabilidade.

Tem de possuir uma grande capacidade de planificação de uma forma irrepreensível pois são sessões que envolvem produtores, editores, directores artísticos, cabeleireiros, maquilhadores, assistentes. Na fotografia é o trabalho mais idêntico a realizador de cinema. O Fotógrafo de Moda para além dos conhecimentos apurados da técnica e do domínio da luz, tem que se preocupar com o posicionamento dos modelos. Se o penteado está no lugar, se a luz está a incidir no local certo, se o diafragma é o correto, se a velocidade de obturação é a que pretendia, para não haver surpresas, se a/o modelo tem a atitude correcta, se esta/e "seduz" a lente, etc. O Fotógrafo de Moda tem que saber trabalhar convenientemente em estúdio como exteriores. É um retratista, um paisagista, saber fotografar uma noiva, trabalhar com o flashmeeter, com a s cabeças de flash, com luz contínua, temperaturas de cor, photoshop, reflectores, etc. E todo ao mesmo tempo. Há é verdade e já agora tem que surpreender! E quantas vezes lida com modelos pouco experientes que tem que dar sempre a sugestão da pose, do olhar, do posicionamento do corpo e ao mesmo tempo ver se a envolvente de fundo e adereços estão corretos e bem iluminados. Outro aspecto muito importante é que o Fotógrafo de Moda tem que estar sempre muito atualizado e na vanguarda da arte fotográfica, ser inovador, experimentalista e estar sempre a par das grandes publicações que são referência da moda internacional. Nas grandes capitais da moda, como Milão, Paris, New York e consultar muitas publicações que são autênticas bíblias e motivos de inspiração. Pois, normalmente, trabalha com uma equipa de profissionais de topo. Gente exigente, criativa e vanguardista. Para vingar no mundo da moda é preciso determinação, humildade, imensa vontade de aprender, planeamento e marketing, muito marketing, para além de compreender que o êxito vem com algumas derrotas…e traições.

Sou um fotógrafo generalista porque circunstâncias particulares assim o ditaram. Mas há uma coisa que aprendi na moda. Ao contrário do que se pensa, só vingam verdadeiramente (não ligar ao fogo de artifício) os que são competentes, honestos, éticos e que tratam as pessoas de uma forma correta. Os outros...passam por lá e têm uma carreira, apesar de muito vistosa, curta. Se tiver o comportamento destes últimos dou um concelho: dediquem-se ao “time sharing “de unidades hoteleiras virtuais e “desamparar a loja”. Ah…podem ainda estarem a tempo(?) de moda(r). Jorge Alves Fotógrafo http://jorgealvesfotografia.blogspot.com/ http://www.facebook.com/home.php

Deverá estar sempre pronto a enfrentar a batalha e ter um posicionamento ético perante o trabalho e outros valores. Senão terá uma ascensão imediata mas nunca será consistente. 41


Poesia popular foto de Cláudia Graça

António José Cardoso A arte da fazer poesia António José Cardoso nasceu em Beringel, Alentejo, no ano de 1935.

Como começou a paixão pela poesia? Desde que me conheço por gente que gosto de poesia e adoro a escrita, talvez tivesse sido a minha principal vocação, sinto isso. Houveram épocas na minha vida em que o tempo não era o suficiente para me dedicar tanto à poesia como hoje. Neste momento dedico-me mais a fundo e até ao estudo da poesia popular.

Marceneiro de profissão, cedo se tornou um artista na sua área. Casa e ruma a Lisboa onde tem dois filhos, sem nunca perder a vontade de escrever e de construir poesia. Lembra-se de, aos quatro anos a sua avô paterna, sem qualquer instrução escolar, responder em verso a todas as perguntas que lhe faziam, deixando maravilhado o ainda petiz, António Cardoso. Da sua infância jamais esquecera esta imagem e sempre que podia lá fazia um poema. A vida de trabalho e a criação de dois filhos, não deixaram muito tempo para a poesia, mas a morte da esposa e companheira de uma vida, trouxe a tristeza e a solidão que só a poesia lhe podia apaziguar, a ela se agarrou e hoje, com 77 anos é um dos poetas populares mais conhecidos entre os seus pares.

Toda a sua poesia é popular e descritiva do dia a dia? Não gosto de fantasiar, adoro descrever vivências entre as pessoas e nesta fase da minha vida começo a ver partir grandes amigos e isso trás me à mente muita inspiração. Mas o estado do país, da educação, dos pensionistas, dos velhos deixam-me com muita matéria para trabalhar. Qual é a formula da sua poesia?

Escreve sobre todo e qualquer assunto, descrevendo a vida e a sociedade que vai deixando para trás em cada frase que escreve. A natureza e a sua criação, bem como as terras e as gentes servem de mote a este poeta que arranca das entranhas da terra as palavras a que dá vida.

A formula é a ideia na minha mente, depois, tem de ter sonorização quase musical, tem de ser sentida, tem de fazer sentido e tem de fazer sentir às pessoas que a lêem senão for assim, para mim não funciona.

Fomos encontrá-lo numa linda manhã de fevereiro, na baixa de Alcácer do Sal onde saudava o sol com mais uma criação poético numa qualquer esplanada.

Mas, quando compõe a sua poesia quais são as regras?

Agradavelmente se fez a conversa e em parcos momentos se revelou uma vida de mais de setenta anos de criação constante.

Pouco ligo a regras, procuro apenas evitar frases muito prolongadas. Quero dizer muito com pouco, existem frases muito compridas que ajudam o poema a perder o sentido, preocupo-me igualmente com a compreensão da minha poesia, para que seja lida e compreendida por todos, não gosto de escrever para «doutores».

O António Cardoso é um poeta bastante conhecido, nomeadamente nesta zona alentejana, participa imensas vezes na rádio Grândola nos programas de António Unguento, Viva Portugal e Tardes Lusitanas, como sente que as pessoas o recebem? Felizmente recebem-me bem e admiram o meu trabalho e a forma de recitar os meus poemas. A minha voz ajuda-me imenso na forma de transmitir a mensagem que cada poema transporta. 42


Poesia popular Os poetas populares têm algum espaço na cultura portuguesa? Deveriam ter, pois a cultura dos poetas populares é merecedora de um espaço pois é honesta e sincera e para todos. Acabam por marcar épocas históricas pois falam da época que o poeta viveu e da forma como a sociedade se desenvolvia e das relações com os seus próximos. Um poeta ou escritor da sua perdileção? Sem pensar... José Carlos Ary dos Santos, ainda à pouco visitei a sua campa e novamente a leri os poemas que estão escritos na sua ultima morada. Admirei muito Ary dos Santos, poeta consagrado antes o ser. Também gosto de Manuel Alegre, imenso mesmo. Pedro Homem de Melo era maravilhoso. Mas os que eu mais admiro são os poetas populares e alguns até analfabetos.

Ó Sorte Ó sorte que és tão desejada Tantos milhões te procuram Por poucos serás alcançada De tantos outros mal fadada Que com a saúde perduram

Existem coletividades e associações onde a poesia popular tenha lugar? Sim, nas rádios locais, na Arpicas um espaço maravilhoso em Alcacér do Sal, em Setúbal,

A Sorte seria estimada Por tantos que a conseguiram E seria abençoada Para na vida ser selada Por quantos a sorte viram

Têm aparecido novos poetas populares? Os novos poetas populares são velhos, novos, poucos. O que é necessário para ser um bom poeta popular?

Para outros a sorte acontece Por vezes de várias formas Sem a procurar, aparece O felizardo até esquece As miseráveis reformas

É preciso conhecer-se bem a vida, não podemos escrever de qualquer forma, é preciso ter alguma experiencia e PUBLICIDADE sobretudo, não ter medo de pensar. Projetos para o futuro? O meu projeto é ir escrevendo esperando sempre uma oportunidade de poder divulgar o que faço. E como não faço poesia a metro, tenho de esperar que venha a inspiração porque realmente, nem sempre é fácil, pois tudo o que é arte carece de inspiração, pode-se estar duas semanas sem se escrever nada e em dois dias escrever um livro, penso que se passa o mesmo em todas as Artes. A solidão é uma musa para mim, isolo-me e escrevo até não dar mais.

A sorte é como o vento Que trás o bem ou o mal Para tantos é sustento E para outros é lamento Que tem o azar por rival A sorte é uma cabra cega Não sabe onde vai cair Quase sempre ela escorrega Enganada na refrega Vai onde não deve ir

Que aconselha a que está a a fazer os seus primeiros poema? Aprendam com a vida! Estejam atentos, tenham gosto pelo que fazem, sejam humildes, tenham brio e sobretudo tenham respeito pelo que fazem e pela lingua Portuguesa!

A sorte é como a água Corre para a imensidão Deixando o pobre com mágoa E o abastado deságua Atento à sua ambição A sorte é de quem a tem Diz o povo e com razão Pois ela a todos convém E torna feliz alguém Que irá ser um folgazão. 43


Poesia popular Silêncio Silêncio é chamada de atenção De respeito e emoção Que nos desperta uma pausa Tantos são breves, os motivos E são grandes incentivos Por tão nobre ser a causa Silêncio no momento consagrado Que com respeito é desejado Em muitas ocasiões Dando exemplo às nossas gentes E a todos os presentes Sem pôr em causa as razões Silêncio no fado e na poesia Será digna a cortesia Para todos em geral Assim melhor apreciar E até mesmo julgar Qual a mensagem final Silêncio pela maldade Que existe na humanidade Pelos crimes com violência Que no dia a dia enfrentamos Em perigo todos nós estamos Por tão cruel evidência

O nosso mundo Nada se perde neste mundo Tudo tem principio e forma Tudo acaba num segundo Depois tudo se transforma

Silêncio pelas tragédias Que surgem todos os dias Das forças da natureza Com cruel destruição Tão sinistra é a lição Com tanta dor e tristeza

A terra é o nosso mundo Onde o bem e o mal se completa O seu seio é tão fecundo Que dá vida, e da morte se liberta São as forças da natureza Que geram todo o universo Essa imensa fortaleza Que envolve a terra e o espaço O sol, a lua e as estrelas Que brilham no firmamento São poderosas sentinelas De vidas em crescimento A terra suporta ao mar Tão vasto como profundo Podendo o homem imaginar Que de terra, só tem meio mundo. E neste planeta terra Onde tudo se transforma Não se perde e encerra O ciclo que tomou forma O homem vai mais longe de mais Na sua capacidade e invenção Avanços que podem ser demais Para que toda a terra entre em erupção A próprio natureza Um dia se irá transformar Quando o Homem descobrir a certeza Que depois da morte, irá à vida voltar 44


Portofólio

Fotógrafo Profissional Coordenador de Formação - Formador|Monitor Detentor de 40 prémios de fotografia. Leciona o Curso de Fotografia e Photoshop no Círculo Artístico e Cultural Artur Bual Coordenador do “Curso Profissionalizante de Fotografia” – Curso avançado de fotografia digital, de Línguas e Administração (2009/2010) Formador em Fotografia de Polícia na Escola Prática da GNR (2002 a 2006) Director e fundador do Núcleo de Cinema da Amadora (1980 a 1983) Responsável do Departamento de Fotografia da Divisão de História e Cultura da Guarda (2011) Director da ANIF - Associação Nacional dos Industrias de Fotografia -2008 a 2011 Foi responsável da área Audiovisual da Guarda Nacional Republicana – (2005 a 2010) Foi responsável da área Audiovisual da Escola Prática da GNR – (1993 a 2003) Foi fotógrafo e técnico de laboratório nas Relações Públicas da Guarda Fiscal – (1985 a 1988)

ISLA - Instituto Superior

tico esteves

Para lá da lente!

“Como sou um apaixonado e também formado em cinema, captei a ideia de fundir esta área nos meus trabalhos fotográficos, até porque a fotografia é o berço do cinema. Normalmente estes trabalhos contem uma única personagem, que cria uma sensação de movimento, e que sugere uma história envolvida em misticismo. Gosto de deixar a sua história no ar, não a entrego de bandeja. Agrada-me a ideia de que as pessoas que contemplam as minhas imagens, ao mesmo tempo as tentem decifrar. Penso que de alguma forma consigo uma interacção do publico com as minhas obras. Considero portanto que se trata de um trabalho surrealista. São pequenos filmes em fotografia, é um regressar ao passado, ao tempo do Daguerre e dos irmãos Lumière.” Ca vai a foto que faltava e os contactos.

Tico Esteves, natural de Lisboa, nasceu em 1979. Apesar de um ainda curto currículo, a paixão por todas as formas de arte, esteve sempre presente na sua vida desde tenra idade. Foi essa paixão que o conduziu a voltar aos estudos em 2008, ingressando na Escola Artística António Arroio. Onde concluiu o curso de Comunicação audiovisual, com especialização em Cine-video. Em 2010 participa na exposição de fotografia colectiva “True colors or not” no museu Michel Giacometti em Setúbal, com o seu trabalho “Antípodas da Mente”. Organizado pelo artista plástico e também seu professor de fotografia, Pedro Besugo. Em 2011, juntamente com alguns colegas “Arroianos”, cria o Movimento Multicultural de Promoção Artística – Random.Mov. Desde então tem-se desdobrado em inúmeros eventos artísticos, desde a fotografia, pintura ou Cinema.

ticoesteves@netcabo.pt www.facebook.com/Tico.Esteves.Artes

www.facebook.com/RandomMov

Tem obras na colecção particular do pintor Alfredo Luz, e do pintor sérvio Branislav Mihajlovic. Actualmente está a tirar o curso de Som & Imagem na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. O que mais se destaca nos seus trabalhos são fotografias panorâmicas que caracteriza de “Imagens que contam Historias”.

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Portefรณlio

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Antipodas da mente III

publicidade Antipodas da mente I

Antipodas da mente II

Portefรณlio

Jorge Alves - fotografia

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Agenda Revista cultural de novos autores

Exposições Duas gerações e um Pé Peve

Galeria NT - Montijo Vitor Zapa, Sofia Ferreira e Pé Leve Rua D. Augusto Pereira Coutinho, 15

10 março a 14 de abril Inauguração pelas 16 horas

Interrogações no Feminino (Dia Internacional da Mulher) Adália Alberto, Ana Godinho, Lúcia Cerejo,Mariana Laneiro, Jorge Rebelo, Manuell Marques

Campus da Justiça

8 março a 18 de abril 9h às 17.30h

Pintura Ana Segal

Cineteatro Casa Senhorial d’El Rei D. Miguel Rio Maior

Realismo e Surrealismo Jorge Rebelo

Cineteatro Casa Senhorial d’El Rei D. Miguel Rio Maior

13 de abril a 26 de maio

A sombra dos àlamos Paulo Damião

Galeria Movimento Arte Contemporânea, Av. Álvares Cabral, 58/60 Lisboa

1 a 24 de março

Sob a Pele da Maçã Arnaldo Macedo 2ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE FREE JAZZ ON Xico Fran

Espaço Pt Rua Tenente Valadim, Porto

VieiraPortuense Galeria de Arte LM - Galeria de Arte Comtemporânea

Sintra

Nossas escolhas

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24 de fevereiro a 31 de março

1 a 23 de março 31 de a 27 de abril 10 de março de a 11 de abril


A NT - Galeria de Arte, nasceu de uma necessidade de promover a arte de uma forma mais assertiva e coerente, apoiando os nossos artistas. O visitante terá sempre o prazer de observar as obras expostas em plena tranquilidade e bem estar. Sempre e quando o desejar, poderá solicitar uma visita guiada, basta para isso, que faça a sua marcação.

Numa época em que os investimentos são quase todos duvidosos,

Invista em Arte, invista nos nossos artistas! NT - Galeria de Arte, porque navegar é preciso.... Rua Dom Augusto Pereira Coutinho, nº 15 2870-309 Montijo Telef.: 938677426



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