Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água

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GUAS LATINOAMÉRICA águadalíderesdosrevistaA TrimestralPublicaçãoI2022JulhoI1Número “CriseDessalinização:abatalhadasmanchetesdaáguaeos desafios da Indústria PAÍSBrasileira”DO MÊS Legislações para o reúso agrícola na América Latina INFO H2O

Índice CO-EDIÇÃO - Juan Miguel Pinto - Presidente. COORDENAÇÃO EDITORIAL E REDAÇÃO - Ragile Makarem - Diretora de Marketing e Comunicação. REDAÇÃO E PESQUISA - Diego Ortuño - Coordenador de Publicações - DESIGN, DIAGRAMAÇÃO E ILUSTRAÇÃO - Martín Guerrero - Coordenador de Imagem. 03 Editorial 04 País do mês Brasil 11 Líder H2O De Israel para o Brasil 12 Info H2O Mineração de salmoura: sal pode pagar a tarifa de água Legislações para o reúso agrícola na América Latina Não há balas de prata na luta contra os produtos químicos persistentes FLUENCE(PFAS).

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Dessalinização: a batalha das manchetes

67 Plantas Planta de Dessalinização de Água do Atacama: A mais moderna e eficiente da região 70 Papéis técnicos e casos de estudo Hidrogênio Verde. E o papel do Reúso e da Dessalinização O reúso de água e as crises hídricas no AutopsiaBrasil de Membranas 81 Responsabilidade Social Olimpíadas da Água ALADYR A evolução da sustentabilidade da dessalinização já está suficientemente argumentada e apoiada por evidências, mas de tempos em tempos a atenção do público se volta para manchetes de notícias que têm o potencial de gerar um viés cognitivo contra a tecnologia.

reuniu empresas e usuários do Brasil e EspecialistaArgentinaalertasobre impacto das mudanças climáticas na disponibilidade hídrica Dessalinização: a batalha das manchetes Reúso no Brasil: reflexos da crise hídrica e mercado em crescimento Sustentabilidade e Inovação no DNA ALADYR propõe políticas de incentivo para Dessalinização e Reúso de água no Brasil

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Eduardo Pedroza Representante da ALADYR para Brasil

esta edição tenha o alcance e a receptividade que a ÁGUAS LATINOAMÉRICA teve em espanhol e que se torne uma referência para o mercado brasileiro, construída pelas empresas associadas com interesses no Brasil e por importantes atores do cenário hídrico em nosso país.

Durante 5 anos publicamos suas páginas em espanhol, mas com o desejo de em algum momento poder ter uma edição em português, que não seria apenas uma tradução da versão original em espanhol, mas sim um meio de referência para abrir espaços de divulgação para o EsperamosBrasil.que

É um prazer poder celebrar nestas linhas, nossa primeira edição da revista ALADYR “ÁGUAS LATINOAMÉRICA” em português, especialmente voltada para o Brasil. ÁGUAS LATINOAMÉRICA surgiu com o intuito de oferecer alternativas para a promoção e divulgação das iniciativas, serviços, produtos e projetos de nossos parceiros; além da premissa de ser um meio de referência para a indústria de dessalinização, reúso e tratamento de águas e efluentes, através do qual podemos fornecer informação técnica, social, refletir realidades, desafios e oportunidades deste setor e suas variantes.

“Se cada empresa, organização do setor, realiza pelo menos uma atividade específica voltada para a divulgação oportuna, com conteúdo claro, honesto e de fácil entendimento para quem desconhece as nuances técnicas da dessalinização ou reúso, é certo que os projetos avançariam com maior velocidade, sem os obstáculos apresentados pelos detratores sociais” Juan Miguel Pinto.

NOTA: Se deseja responder ou comentar as informações encontradas em nossas páginas, basta es crever para publicações@aladyr.net

Com base nos objetivos e critérios que sustentam a ÁGUAS LATINOAMÉRICA, destaco particularmente a nota sobre os mitos da dessalinização e o papel da mídia na percepção social equivocada que existe em torno da aplicação da tecnologia dessalinizadora, uma situação que muitas vezes é extrapolada quando falamos de água de reúso. Como parte de um setor, é preciso que sejamos responsáveis por multiplicar e divulgar informações corretas e que possibilitem o crescimento das regiões, a necessidade de informações mais qualificadas é evidente e urgente em países como o Brasil.

3Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água EDITORIAL

Através da ALADYR, apelamos às organizações para que integrem nas suas iniciativas de responsabilidade social premissas orientadas para a EDUCAÇÃO como pilar fundamental para o crescimento da indústria de tratamento de água. É preocupante como a mídia ecoa informações fora de contexto, desqualifica décadas de avanços em tecnologia e pesquisa, e ainda mais o acesso limitado à informação para o cidadão comum, que é, indiscutivelmente, um tomador de decisões que sempre devemos ter em mente.

Uma discussão que aponta como o Brasil pode deixar de ser o país do futuro e se tornar um país do agora na gestão dos recursos hídricos.

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O painel “Crise Hídrica e os desafios da indústria brasileira”, promovido pela GS Inima Industrial e Cetrel, encerrou com chave de ouro o Congresso Internacional ALADYR Brasil não apenas por trazer expoentes que protagonizam a discussão sobre os impactos da escassez hídrica no desenvolvimento econômico, mas, sobretudo, por dar nome aos fantasmas que assombram CEO’s e grandes investidores do setor industrial.

A discussão contou com a presença de Wilson Melo, diretor do Departamento de Recursos Hídricos e Revitalização de Bacias do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR); Alexandre Vilella, coordenador regional de meio ambiente no Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP); Stela Goldenstein, coordenadora nacional do 2030 Water Resources Group, entidade vinculada ao Banco Mundial; João Lins, diretor presidente da Cetrel; e José Rodrigues, diretor geral da GS INIMA Industrial. Chuva em excesso destruindo cidades da região Metropolitana de São Paulo, do Rio de Janeiro e do sul da Bahia; uma estiagem histórica que castiga estados do sul do país e o crescimento contínuo da demanda por água no Brasil criaram o cenário ideal para o debate. Segundo o relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em dezembro de 2021, estima-se um aumento de 42% na captação de água dos mananciais brasileiros até 2040. Esse número significa um incremento de 26 trilhões de litros ao ano e acende um sinal vermelho em um sistema já debilitado pela maior crise hídrica dos últimos 90 anos. No Brasil cerca de 60,9 milhões de pessoas (34% da população urbana em 2017) vivem em cidades com baixa garantia de abastecimento de água. De acordo com os dados apresentados por Wilson Melo, representante do MDR, aproximadamente R$ 228,4 bilhões da produção econômica no País, cerca de 13% do PIB (cenário de 2017), está exposto aos impactos da crise hídrica. “Caso não se amplie a infraestrutura hídrica, a projeção até 2035 indica que R$ 518,17 bilhões da produção pode ser comprometido por déficit hídrico”, destacou Melo. Para superar parte desse desafio, o governo tem atuado através do programa Água Doce, que utiliza a dessalinização por osmose reversa para promover um aproveitamento sustentável de poços abandonados na região semiárida brasileira por possuírem águas salobras e Da esquerda para a direita. Alexandre Vilella, coordenador regional de Meio ambiente da FIESP; Wilson Melo, diretor do Departamento de Recursos Hídricos e Revitalização de Bacias do MDR; Stela Goldenstein, coordenadora nacional do Grupo de Recursos Hídricos 2030, entidade vinculada ao Banco Mundial; Eduardo Pedroza, gerente de Novos Negócios da GS Inima Brasil e Representante de ALADYR para Brasil e João Lins, diretor presidente da Cetrel.

Crise da água e os desafios da indústria brasileira

“Nossa participação nesse painel tem uma relevância tanto do ponto de vista técnico, como também no sentido de poder ouvir o setor industrial, que está efetivamente na ponta fazendo acontecer o reúso e a dessalinização. Esse diálogo possibilita enxergar as oportunidades que temos na formulação das políticas públicas e como podermos contribuir para que se crie um ambiente jurídico e seguro para os investimentos nas áreas de reúso e dessalinização”, pontou Melo.

5Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAÍS DO MÊS salinas. Atualmente são 903 sistemas em operação, produção de 3,6 milhões de litros de água potável por dia, cerca de 215 mil pessoas atendidas e 2.600 operadores capacitados.

Um aumento na captação de água dos mananciais.

O que significa um aumento de 26 trilhões de litros de água por ano. 20402022 42% ALADYR: Essa imagem possui direitos autorais, para reprodução deste conteúdo escreva para dircom@aladyr.net

*Imagens:

Em outra via, o governo trabalha uma série de medidas de regulamentação como o Projeto de Lei 4546 que propõe a criação da Política Nacional de Infraestrutura Hídrica (Novo Marco Hídrico), revisões na Resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) que tratam do reúso direto não potável e uma Política de Reúso. No campo das medidas já tramitadas, se destaca o Marco Legal do Saneamento Básico e o recém aprovado novo Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) 2022-2040, que contempla ações e metas de curto, médio e longo prazos que abordam assuntos como a gestão para a prevenção e redução de conflitos pelo uso da água; os investimentos em infraestrutura hídrica e sua gestão e operação; a revitalização de bacias hidrográficas; medidas de adaptação às mudanças climáticas; e prevenção e o enfrentamento de eventos extremos de secas e cheias.

Representando 31,2% do PIB brasileiro (IBGE2020), São Paulo ainda não esqueceu as marcas da crise hídrica que atingiu o estado em 2014. Segundo Alexandre Vilellla, representante da FIESP no painel, a criticidade é mais intensa na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, onde se encontra 85,4% do estado de SP.

Gestão de mananciais

Neste sentido a gestão de outorgas para captação e uso de água tem um papel fundamental na gestão responsável dos recursos hídricos. Para Vilella não é possível utilizar o reúso como uma ferramenta de recarga de água com mais qualidade e quantidade nos mananciais sem que haja controle do volume de captação e redução das perdas nos sistemas de Oabastecimento.moderadordo painel, o químico industrial Eduardo Pedroza, defende a utilização do reúso como uma ferramenta importante e parte de uma solução de gestão hídrica sustentável. Ele destaca a importância, por exemplo, de viabilizar recargas de mananciais. “Na constituição brasileira é prevista a relevância da compensação ambiental, mas as práticas ainda se concentram em atividades de reflorestamento, então por que não trazer a questão hídrica, recarga de mananciais, como uma prática de compensação ambiental dentro das iniciativas industriais?”, questionou Pedroza.

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“Caso não se amplie a infraestrutura hídrica, a projeção até 2035 indica que R$ 518,17 bilhões da produção pode ser comprometido por déficit hídrico”, Wilson Melo.

“A outorga não pode ser apenas cartorial, como ocorre em muitas situações. Temos que ter um sistema de acompanhamento como ocorre hoje na bacia do PCJ (Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) e a do Sorocaba. Nestes casos os usuários declaram semanalmente ou mensalmente e assim se percebe o quanto tem muita gente captando acima da outorga. A gestão da outorga precisa ser acompanhada da fiscalização e monitoramento em tempo real, esse tema é fundamental”, alertou Vilella.

7Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAÍS DO MÊS Reúso X Crescimento Econômico

A FIESP publicou em 2020 um estudo sobre o impacto econômico dos investimentos de reúso de efluentes tratados de esgoto para o setor industrial, trazendo dados da Secretaria Nacional de Saneamento (SNS-2018) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outras instituições. No documento estima-se que o potencial de reúso de água no Brasil cresça para um cenário intermediário de 12,81 m³/s entre 2023 e 2028, sendo que a capacidade atual é de cerca de 1 m³/s.

“Na constituição brasileira é prevista a relevância da compensação ambiental, mas as práticas ainda se concentram em atividades de reflorestamento, então por que não trazer a questão hídrica, recarga de mananciais, como uma prática de compensação ambiental dentro das iniciativas industriais?”, Eduardo Pedroza.

Analisando os efeitos da produção de água de reúso sobre o conjunto da economia, a Matriz de Insumo-Produto (MIP) demonstrou que os investimentos resultariam em uma expansão da produção nacional (valor agregado) da ordem de quase R$ 6,0 bilhões, geração de quase 96 mil de empregos e R$ 999,74 milhões em massa salarial. Cerca R$ 464 milhões seriam gerados em arrecadação de impostos, sendo R$ 36,17 milhões de IPI (imposto federal) e quase R$ 237 milhões de ICMS (imposto estadual).

Geração de quase 96 mil empregos Aporte de R$ 999,74 milhões em salarialmassa Arrecadação de ordemestaduais)(federaisimpostosenadeR$464milhões

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MATRIZ DE INSUMO PRODUTO “ECONOMIA E ÁGUA DE REÚSO”

*Imagens: ALADYR: Essa imagem possui direitos autorais, para reprodução deste conteúdo escreva para dircom@aladyr.net “Não podemos esperar pela próxima seca! Estudos muito recentes da Escola Politécnica (USP) mostram que a tendência na região do PCJ é de redução da disponibilidade em pelo menos 12% nos próximos 20 anos, isso é muito em uma região em que a escassez já é permanente. Essa noção de que eu preciso investir em reúso como redundância, no reúso como seguro para garantir a manutenção da atividade produtiva, é uma novidade para o setor industrial. Uma vez que esse o setor tem a expectativa que vai haver água disponível, que de alguma forma o setor público vai resolver o problema, e não vai”, afirmou Stela Goldenstein, coordenadora nacional do 2030 Water Resources Group. Goldenstein alerta, ainda, que migrar as indústrias para outras regiões com maior disponibilidade hídrica terá um custo muito alto e por isso é necessário um trabalho conjunto entre empresas, setor público e sociedade civil.

Stela Goldenstein, coordenadora nacional do 2030 Water Resources Group

Expansão da agregado)nacionalprodução(valordequaseR$6bilhões

9Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAÍS DO MÊS Casos de sucesso e a necessidade de mais incentivo para o setor Considerando os impactos da crise hídrica, as indústrias já estão trabalhando em ações que focam no aumento da eficiência no uso da água e no gerenciamento de fatores externos, seja através de projetos de dessalinização, reúso de água ou redução de perdas. E neste sentido, GS Inima e Cetrel tomam a frente neste painel por serem empresas líderes no Brasil, com reconhecimento internacional e experiências marcantes no setor de águas.

Na oportunidade, a GS Inima Industrial apresentou cases de sucesso na gestão de recursos hídricos como a captação e o tratamento de água para fins industriais no Polo Petroquímico Triunfo (RS); além de um dos grandes exemplos no mercado brasileiro que é o projeto AQUAPOLO, o maior empreendimento para a produção de água de reúso na América do Sul e um dos maiores do mundo, resultado de uma parceria entre a empresa e a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Cabe destacar que apenas três estados brasileiros possuem alguma regulamentação ou política que discipline e incentive o reúso direto de água não potável, são eles: Ceará, Minas Gerais e São Paulo.

“Precisamos de políticas de incentivo! Qualquer solução de circularidade inicialmente tende a ser mais cara. Então, se queremos desenvolver o setor faz todo sentido termos políticas de incentivo. Ao longo do tempo vimos exemplos em outros setores, como foi o caso do setor energético que para fazer a introdução da energia renovável, que é mais cara, recebeu um incentivo e que ainda tem”, João Lins.

A Cetrel apresentou a sua experiência de mais de 40 anos prestando serviços para empresas do Polo Industrial de Camaçari e outras cidades do país nas áreas de fornecimento de água (industrial, reúso, potável), tratamento e disposição final dos efluentes e tratamento de resíduos industriais, além do monitoramento ambiental (água, ar e solo). As duas empresas (Cetrel e GS INIMA), que tem atuação significativa no setor de água no Brasil, levantaram ao longo do debate reflexões sobre o sistema de regulação, tributação e incentivo voltado ao reúso de água.

- Aumento de 42% na captação de água dos mananciais brasileiros até 2040 (ANA). - País passa pela maior crise hídrica dos últimos 90 anos. - 60,9 milhões de pessoas (34% da população urbana*) vivem em cidades com baixa garantia de abastecimento de água. *2017 - 13% do PIB* está exposto aos impactos da crise hídrica. *2017 - Reúso poderia estimular: expansão da produção nacional da ordem de quase R$ 6,0 bilhões geração de quase 96 mil empregos e R$ 999,74 milhões em massa arrecadaçãosalarial de impostos (federais e estaduais) de R$ 464 milhões

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“Essas questões se falam e são importantes para que tenhamos uma pauta harmonizada entre todos os players e junto com o governo, para fazer com que isso ande no Congresso Nacional. Nós temos o caso do saneamento que teve uma tramitação relativamente rápida, em dois anos o assunto andou e hoje temos um novo marco do saneamento, podemos ter uma meta semelhante para o reúso, para a recarga, para a questão hídrica. Esse é um desafio em que a gente tem que dar as mãos e correr atrás”, José Rodrigues.

As reflexões ao longo do painel destacaram que, para que o país possa avançar no tema, é necessário avançar também na estruturação de uma política de reúso que compreenda a recarga de mananciais, o reúso potável, a equiparação fiscal com saneamento ou outros tipos de incentivos, o livre mercado do reúso, a gestão de outorgas em bacias hidrográficas críticas e o reúso e dessalinização como práticas de compensação ambiental.

O painel “Crise Hídrica e os desafios da indústria brasileira”, realizado durante o Congresso Internacional ALADYR Brasil – 2022, faz parte de um conjunto de ações que a ALADYR promove no intuito de reunir esforços de diferentes atores no Brasil para dar uma resposta oportuna à crise hídrica por meio da integração de tecnologias, propostas, políticas e incentivos que favorecer o investimento e o compromisso da indústria para garantir o acesso à água potável.

Todos os participantes dessa discussão concordam que o incentivo e desenvolvimento de soluções sustentáveis como o reúso de água e a dessalinização precisam figurar entre as prioridades das políticas públicas de Estado para garantir a segurança hídrica e, principalmente, a integração de diferentes atores é essencial para garantir o cumprimento dos objetivos em relação ao acesso à água potável. Neste sentido, a ALADYR coloca à disposição dos setores público e privado a expertise de sua equipe interdisciplinar.

Represento a IDE no Brasil desde 2015 e sempre tive a certeza de que a empresa tem um profundo compromisso de colaborar no fortalecimento da gestão da água.

Há algum projeto da América Latina e do mundo que mereça menção?

Depois voltei ao Brasil antes da crise hídrica de 2014. O país buscava soluções ao redor do mundo e fui convidada para um congresso no qual participaram autoridades israelenses do setor de águas e outros representantes.

De Israel para o Brasil

Genny Oheb Sion: graças à dessalinização o mundo não morrerá de sede

O que a trouxe ao mundo da água?

Recentemente fomos (IDE) escolhidos para fazer parte de um projeto icônico no Brasil. Se trata da planta dessalinizadora de água do mar para fins potáveis que será instalada na Praia do Futuro, na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. O Ceará vive uma seca histórica e estamos felizes em poder apresentar soluções com nossas tecnologias. Quando a usina estiver pronta, mais de 700 mil cidadãos terão um abastecimento potável confiável e de alta qualidade.

Representa a IDE Technologies na América Latina, uma organização de grande reconhecimento e experiência no mercado de tratamento de água e também parceira da ALADYR. A empresa fornecerá equipamentos e tecnologia para a Usina de Dessalinização de Água do Mar de Fortaleza, no estado do Ceará, projeto que se destaca como o mais importante do país em termos de purificação de água do mar, com capacidade de um metro cúbico por segundo, volume suficiente para abastecer mais de 700 mil ÁGUASpessoas.Latinoamérica conversou com Genny para conhecer sua percepção sobre o mercado latinoamericano de água, sua experiência e expectativas para o futuro da região em um contexto de escassez de água e aumento da demanda.

Israel sempre me chamou muita atenção. Cheguei muito jovem, estudei e vivi em Jerusalém, Tela VIV, em Beer Sheva a capital do deserto. Estudei administração de empresas na Universidade Ben Gurion del Neguev, no deserto, e trabalhei por mais de 10 anos em Tel Aviv com Tecnologias para os mercados de Portugal e Espanha.

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As definições mais usuais de globalização referemse a uma complexa rede de integrações econômicas e financeiras, mas a verdade é que essas linhas que se desenham no mapa-múndi têm rostos humanos que conectam engenhosidade e inovação a desejos e necessidades.

Um desses rostos é o de Genny Oheb Sion, que usa um repertório de idiomas e bagagem cultural para ser um elo entre as tecnologias mais avançadas de tratamento de água de Israel com os pontos áridos da geografia brasileira.

Genny nasceu em São Paulo, mas domina o hebraico como se fosse sua língua materna. Sua ascendência judaica motivou a candidatura para bolsas de estudo em Israel, onde se interessou pelas tecnologias que possibilitaram a sustentabilidade hídrica deste país cuja principal fonte de abastecimento (cerca de 80%) é a dessalinização da água do mar.

Eles me pediram apoio para trazer a tecnologia israelense de água para o Brasil. Neste momento se intensificava a crise hídrica no país.

Tudo isso me deixa esperançosa em relação ao futuro.

Tenho visto como as indústrias modificam seus processos para reduzir o impacto de sua atividade e fazem isso por decisões corporativas, não apenas por regulamentações.

Sigam fortes! É muito desafiador e gratificante trabalhar com tratamento de água para fins potáveis e poder fazer parte de projetos que trarão tranquilidade para a população através do fornecimento deste recurso. Há muitas engenheiras e mulheres à frente deste setor.

A revista dos líderes da água H2O Qual foi a primeira planta que você visitou e o que mais chamou sua atenção nela? A primeira usina em que estive foi a Sorek I, a maior usina de dessalinização do mundo na época. Ela produz água limpa e potável para 1,5 milhão de pessoas, o que representa 20% da demanda de água municipal do país. É impressionante como, tão rápido, a água sai do mar, passa pelo processo e aí está, em um copo na sua mão. É muito gratificante.

Sim, sou otimista! Nos últimos anos estamos observando que governos, países e todos no mundo estão buscando melhorar o que temos hoje e essa vontade se junta à tecnologia e aos incentivos governamentais para encontrar soluções.

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Você se considera uma pessoa otimista em relação ao futuro da sustentabilidade humana na Terra?

O Brasil apresentou avanços significativos desde que decidiu pela dessalinização como solução para suas regiões áridas e acho que está no caminho certo apostando no médio e longo prazo.

O que a América Latina pode aprender com a gestão da água de Israel? Israel é um país que sofre com a falta de recursos e quando isso acontece, a sociedade e o governo se mobilizam para encontrar soluções. Nesse país já existe há muito tempo a conscientização e educação para a valorização da água, desde a sua fundação sempre se cuidou muito bem dela. É importante dar valor à água.

O que você diria para as mulheres que estão começando no setor de água?

LÍDER

A cada dia há uma maior conscientização e compromisso com o meio ambiente. Nos últimos anos pudemos participar de projetos com tecnologia israelense para suprir o uso de produtos químicos em processos da indústria e empresas, que muitas vezes aderiram porque queriam melhorar seu compromisso e relacionamento com o meio ambiente.

Ainda existe um debate sobre a sustentabilidade da dessalinização em Israel ou esse debate já foi superado pelos benefícios da tecnologia? Os estudos continuam, como um publicado recentemente que fala sobre peixes que se beneficiam de descargas de salmoura. Mas em Israel temos algum muito claro: se devolve para o mar o mesmo que foi retirado, apenas um pouco mais concentrado.

Todos os continentes estão rodeados de água do mar e graças à dessalinização o mundo não morrerá de sede. Como é o seu dia a dia no trabalho? Em todos esses anos foram muitas reuniões no Brasil, Israel, Estados Unidos, Europa. Participamos de workshops e road shows em diversos estados brasileiros. Faço principalmente a conexão para desenvolvimento dos projetos em conjunto com a IDE Technologies em Israel. Também temos uma forte presença no Chile e trabalhamos em conjunto. As reuniões podem ser em espanhol, português, hebraico ou inglês.

Em Israel temos cinco das usinas de dessalinização mais importantes do mundo e há muitas outras em planejamento. Existe um monitoramento muito rígido do órgão ambiental que é feito com base nos mais altos padrões. Já foi comprovado que não causa nenhum dano ao meio ambiente. Somos um exemplo em todo o mundo.

O que falta ao Brasil para a massificação da dessalinização? Em primeiro lugar, devemos visualizar o progresso que já foi feito neste tema. O fato do Governo do Ceará e a Companhia Estadual de Águas do Ceará (Cagece) terem optado pela dessalinização para Fortaleza, mostra, para nós da IDE-Israel, que se está no caminho certo. Sim, já existiam outras usinas menores, mas esse projeto é o maior do Brasil. Outros estados que ainda não têm segurança hídrica para consumo humano ou industrial terão um grande exemplo na usina de dessalinização do Ceará. Como país, certamente políticas públicas e incentivos serão Afomentadas.IDEveiocom uma visão de longo prazo. Esse é o primeiro passo de um longo caminho que começamos a percorrer no Brasil e apostamos no futuro. Estamos felizes com a mudança e o avanço da dessalinização no Brasil.

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de salmoura: sal pode pagar a tarifa de água

A Saline Water Conversion Corporation (SWCC) é uma instituição do governo saudita encarregada da dessalinização da água do mar para abastecer várias regiões no Reino da Arábia Saudita e fora dele. A SWCC é a maior empresa de dessalinização do mundo com capacidade instalada de 5,9 milhões de metros cúbicos por dia, distribuídos em 33 Aplantas.DTRIbusca

liderar a inovação em tecnologias de dessalinização garantindo sustentabilidade, alta eficiência e baixo custo. Sua infraestrutura inclui laboratórios e plantas piloto que abrangem as principais tecnologias de dessalinização que serão utilizadas para diversos fins de pesquisa e avaliação de diferentes materiais.

O Instituto de Pesquisa e Tecnologia de Dessalinização (DTRI) foi constituído em 1987, como parte da Saline Water Conversion Corporation (SWCC), focado na redução de custos e de energia para a dessalinização e extração de salmoura oceânica.

A disposição ambiental da salmoura também conhecida como rejeito ou concentrado salino, tem sido um tema de atenção nos processos a dessalinização. Contudo os avanços tecnológicos podem torná-la um recurso com valor na atividade de dessalinização. Experiência do Reino da Arábia Saudita convida a decantar o sonho alquimista de Brine Mining e transformá-lo em dados reais.

MineraçãoH2O

Imagine, por um momento, que a água do mar tratada seja o subproduto da extração mineral, que a principal atividade é obter elementos como potássio, magnésio, rubídio, bromo e lítio, e que o benefício da água potável é um adicional. Apenas imagine por um momento e você verá um mundo com menos escassez de água e maior abundância de elementos necessários para fazer itens do dia a dia. Bem, o Brine Mining (mineração de salmoura) pode tornar isso realidade. A ideia parece ser tirada de uma fantasia alquimista, mas quando se analisa a composição da água do mar e a quantidade de salmoura produzida pelas grandes usinas de dessalinização, basta fazer uma análise de processos e custos para começar a materializar o que antes era apenas um produto da imaginação.

Ouro do oceano A página 808 da revista Popular Mechanics, de junho de 1934, intitulada “Ouro do mar?”. Esse foi talvez um dos primeiros artigos contemporâneos sobre mineração de salmoura que descreviam um processo viável e de trabalho. A revista citou Thomas Midgley - o pai da gasolina com chumbo - cheio de otimismo, explicando a processo de obtenção de bromo da água do mar e previu que os oceanos seriam uma fonte de grande riqueza mineral. Ilustração de Mecânica Popular

Nikolay Voutchkov, especialista sênior do DTRI, reitera que o que torna viável o Brine Mining é a tecnologia de Concentração Dual de salmoura que, nos termos mais básicos, consiste em remover Ca e Mg a níveis razoáveis usando a nanofiltração e depois tratar o permeado com OR convencional para obter uma salmoura composta principalmente de NaCl e outros minerais que são removidos no processo de dessalinização.

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Por outro lado, o rejeito de nanofiltração (divalente) é composto principalmente por íons de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e estrôncio (Sr).

De fato, o Brine Mining não é apenas uma oportunidade de despejar menos salmoura no mar, mas também possibilita substituir a extração terrestre de compostos como o magnésio (Mg), que têm um custo ambiental insustentável.

Ahmed Al Amoudi, diretor geral do DTRI, explica que a chave da questão está na separação de íons monovalentes e divalentes por nanofiltração (NF) em um processo chamado Concentração Dual de Salmoura. Com a nanofiltração como pré-tratamento de osmose reversa (OR), o permeado é monovalente, enquanto a corrente divalente vai para o rejeito. A salmoura obtida a partir da OR também é principalmente monovalente, com uma maior concentração de cloreto de sódio (NaCl), bromo (Br), lítio (Li) e rubídio (Rb), entre outros. Além disso, como benefício adicional, quando apenas o fluxo monovalente vai para a OR é possível aumentar a recuperação em 55%.

Segundo os cientistas do SWCC, se esse concentrado for trazido de 7% para 25% com pureza de 99,7%, torna-se viável a coleta de minerais como o bromo (Br), amplamente utilizado na indústria de hidrocarbonetos.

A água do mar tem uma composição média de 4,5% de sais, que incluem cloreto, sódio, magnésio, cálcio, potássio e outros minerais. Logo, a salmoura das plantas de dessalinização costuma ter uma concentração de 7%, o que atualmente é considerado resíduo, mas que para os pesquisadores é uma fonte de riqueza.

Este sistema está sendo instalado em uma planta de um milhão de metros cúbicos por dia projetada na cidade de Jubail, na Arábia Saudita, onde o concentrado será utilizado para produzir NaCl e Br para abastecer a indústria de cloro-álcalis.

Membrane Brine Concentration Makes Brine Mining of Ma ny S alts & Minera ls Feasible

A gama de sais e minerais que podem ser extraídos da água do mar é ampla e varia do ouro ao sal comum, mas sua viabilidade depende das concentrações e do preço do composto no mercado, como pode ser observado na tabela a seguir. O sódio (Na) possui alta concentração em água salgada e é demandado pela indústria química e farmacêutica, enquanto o bromo (Br) tem uma concentração menor mas um preço mais alto no mercado, o que coloca ambos os compostos do lado do economicamente viável para serem extraídos. O rubídio (Rb) também se posiciona como um composto interessante com a expectativa de ser usado para gerar energia.

“Com este projeto (Jubail) podemos fazer com que a água dessalinizada, a mais cara do mundo, tenha custo zero ou subsidiá-la integralmente com os lucros da salmoura produzida pela planta. É por isso que fazemos Brine Mining”, enfatiza Nikolay Voutchkov.

Gráfico de compostos economicamente viáveis.

Concentração de salmoura na membrana torna viável a mineração de muitos sais e minerais

Enquanto isso, uma planta com essas dimensões dessaliniza água a um custo de 0,60 dólares por metro cúbico, o que somaria 22 milhões de dólares por ano. Portanto, a venda dos minerais obtidos da salmoura pode resultar em custo zero da água dessalinizada e até mesmo lucro.

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Como exemplo, a tecnologia que entrará em operação permitiria tirar salmoura de uma planta dessalinizadora de cem mil metros cúbicos por dia e produzir de 1 a 1,2 milhão de toneladas por ano de cloreto de sódio de alta pureza, que custa 65 dólares por tonelada (preço médio) que significa uma receita de 65 milhões de dólares por ano. O custo de produção seria em torno de 40 dólares por tonelada, deixando um lucro bruto de 25 milhões de dólares por ano.

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Diagrama de acoplamento da planta de dessalinização Jubail para a extração de sal comercial de alta pureza e bromo

Este gráfico mostra o processo que irá acoplar a usina de dessalinização Jubail à extração de sal comercial e bromo de alta pureza. Nele, pode-se perceber que o processos-chave, como sistema de concentração de salmoura, cristalização de sal e a produção de bromo, já foram testadas.

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trabalhando em um processo mais sustentável para produzir magnésio metálico - para aplicações automotivas, aeronáuticas e eletrônicas - com um projeto de baixo consumo de energia e impacto químico usando o fluxo do rejeito da nanofiltração. Outro mercado interessante é o dos sais de sulfato de magnésio, muito utilizados na fabricação de fertilizantes”, assegurou o especialista.

Por fim, falou sobre o lítio, que pode ser produzido em usinas de dessalinização, mas por enquanto o processo e as quantidades não são competitivos com a mineração Seungwonconvencional.Ihm, especialista sênior do DTRI em membranas, falou sobre a obtenção de magnésio derivado da salmoura para ser usado na remineralização da água potável das usinas de dessalinização.

Fluxo Bivalente Christopher Fellows, especialista sênior do DTRI, explicou o potencial de extração mineral usando como fonte o rejeito da nanofiltração, que, como dito acima, possui uma concentração de íons bivalentes como Mg, Ca e Sr.

A revista dos líderes da água INFO H2O Processo de Nanofiltração Multiestágio com Diluição entre etapas com Patente Pendente

Ele falou também do potencial da extração de sais de potássio para atender a demanda interna do Reino da Arábia Saudita, que também é usado como fertilizante e que atualmente é importado em sua totalidade da Jordânia. Citou também à possibilidade de um mercado futuro para o rubídio caso se concretize sua aplicação energética, que poderá ser colhida do concentrado que resta após a extração do cloreto de potássio.

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Ele afirmou que o processo conhecido como Nanofiltração Multiestágio com Diluição entre etapas (Nf-Mg) aguarda patente enquanto sua integração está prevista para a Fase 4 da Planta de Dessalinização Shoaiba, que tem capacidade de 400 mil metros cúbicos por dia. É assim que a SWCC produzirá água com 17 a 21 partes por milhão de Mg nos próximos meses sem nenhum impacto adverso na planta existente.

A produção de dois milhões de toneladas de cloreto de sódio e 3.800 toneladas de bromo será destinada à demanda local. Esta planta de produção mineral entrará em fase de solicitação de proposta ainda neste ano e, em seguida, começa o período de construção, estimado em 36 meses e com previsão de início da operação em 2025.

Ele se referiu à produção de magnésio, que historicamente é obtido a partir da água do mar com o processo DOW desde a década de 1940, mas desde a década de 1990 esse método foi substituído pela extração terrestre, mais exigente em energia e mais “Estamospoluente.

18 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Ihm explicou que a usina de magnésio é uma pequena adição a uma dessalinizadora existente e que o custo de implementação é de cerca de 3 a 4% do custo de capital da planta de dessalinização. “Por que não adicionar esses 3% ou 4% para produzir uma água com teor de magnésio de cerca de 20 ppm para auxiliar a saúde e a agricultura?” questionou.

Quando você olha para a pegada de carbono da mineração de superfície é significativamente maior que a pegada de carbono da nossa tecnologia só para dar uma ideia da demanda de energia, já que a maioria das plantas de dessalinização atuais, nesta região com alta salinidade, usam entre 2,9 e 3,2 kWh por metro cúbico.

Seria uma energia limpa, sem resíduos radioativos, o que significaria uma revolução no mercado.

1- Como você compararia os custos energéticos e ambientais da produção de cloreto de sódio a partir de salmoura em relação com a mineração a céu aberto? Eng. Nikolay Voutchkov

Al Amoudi completou dizendo que o custo deste projeto é de cerca de 20 milhões de dólares, enquanto, na Arábia Saudita, 25% da população sofre de diabetes e que acreditam que a aplicação deste composto na água potável fortaleceria a imunidade para superar esta situação. + : - DIABETES

Energia Limpa

A DTRI está atualmente trabalhando junto ao Oak Ridge National Laboratory, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, para desenvolver um reator de energia de fusão a frio que funcione com o rubídio extraído da salmoura, o que permitiria produzir de 1,5 a 2 vezes a energia necessária para operar a planta.

Dr. Seungwon Ihm Na verdade, com a membrana de nanofiltração, por exemplo, o TDS poderia ser reduzido em 20%. Então, obviamente, por causa disso, a pressão osmótica necessária será reduzida entre 5 a 10%, enquanto precisamos da mesma parte da pressão motriz líquida. Mas o que o DTRI prefere, em nossa experiência, é aumentar a recuperação global. Então, como o Dr. Almoudi explicou anteriormente, ao invés de ter uma

Em termos de custo e energia necessária para produzir o cloreto de sódio de alta pureza, atualmente, podemos produzi-lo com as tecnologias que explicamos a cerca de 35 ou 40 dólares por tonelada seca. O preço atual do mesmo produto no mercado está entre 65 e 75 dólares por tonelada e a forma como o sal sai no mercado, com a pureza de que estamos falando, é de 99,6%.

O processo que desenvolvemos utiliza energia de aproximadamente 6,8 a 7,2 kWh por metro cúbico. Se compararmos com a evaporação térmica para atingir a mesma salinidade, estamos falando de uma demanda energética três vezes menor. Assim, a eficiência energética deste processo é muito alta. Mas a beleza da tecnologia que estamos usando é que ela tem uma demanda de energia incrivelmente baixa.

WATER

2- A membrana de nanofiltração reduz a pressão necessária para a operação da membrana de Osmose Reversa? Em caso afirmativo, qual é a nova pressão necessária para a membrana de osmose reversa?

Se adicionarmos a recuperação extra que obtemos do sistema ninafiltração antes da osmose reversa, a energia total por metro cúbico de salmoura e água passa de 6,8 a 7,2 para menos de 5 kWh. Então fica muito interessante.

O Dr. Ahmed Al Amoudi espera que esta tecnologia produza energia nos próximos dois anos. Perguntas e respostas

MAGNESIUM

Dr. Ahmed Al Amoudi - Gostaria de deixar claro para o público que o custo é o fator determinante para a extração de metais e íons. Fizemos o estudo de viabilidade e já estudamos o lítio. Não parece viável do ponto de vista econômico, essa é a principal razão. Podemos extrair lítio ou outra substância, mas é barato? Não é. A principal razão é o custo. 4- Como tem sido a experiência global na implementação de processos separados de nanofiltração e osmose reversa (NF-OR) em plantas existentes com apenas sistemas OR, como projetos brownfield?

3- Por que não minerar salmouras para obter lítio se for economicamente viável e a demanda e o preço estiverem aumentando drasticamente?

Dr. Christopher Fellows - Basicamente seria uma boa ideia explorá-lo se fosse economicamente viável, pois já se sabe que a demanda e os preços estão aumentando drasticamente. Mas o problema é que a quantidade presente não é suficiente para fazer valer a pena. Assim, obteríamos cerca de 50 toneladas de equivalente de carbonato de lítio de nossa planta de cloreto de sódio de 2 milhões de toneladas por ano. Comparamos com as 7.000 toneladas por ano da planta Karibib, na Namíbia, e as 160.000 toneladas da maior mina da Austrália Ocidental. Portanto, mesmo que pegássemos toda a salmoura da Saline Water Conversion Corporation e a processássemos, se pudéssemos de alguma forma colocá-la nesse processo e encontrar um mercado para tanto cloreto de sódio para apoiar o processo, ainda estaríamos produzindo apenas cerca de 5.000 toneladas por ano de lítio, o que é pouco comparado ao mercado principal. Assim, em comparação com as outras fontes, ainda não é economicamente viável.

O consumo de energia também é reduzido e a produção será aumentada em 10% ou mais. Todas essas vantagens têm um valor real quando você as apresenta. Além disso, reduzimos a dosagem de produtos químicos.

A revista dos líderes da água INFO H2O recuperação de 40% a 45%, aqui no Oriente Médio, com a membrana de nanofiltração, você pode aumentar a recuperação acima de 55%. Acreditamos que isso seja mais benéfico porque podemos aumentar o produto em 20%.

Eng. Nikolay Voutchkov A combinação de nanofiltração (NF) e osmose reversa (OR) não é muito comum em todo o mundo e, principalmente, porque se o único resultado desse processo for produzir mais água, como disse o Dr. Ihm, 10 a 15% a mais de água, o investimento inicial para o sistema de NF é relativamente alto em comparação com a produção extra que obtemos do sistema de OR. Portanto, se um sistema NF-RO de alta recuperação for considerado como alvo, ele não é tão econômico quanto o sistema SWRO. No entanto, se há valor a ser extraído da salmoura, razão pela qual temos principalmente o sistema de NF, o valor comercial da salmoura mais do que compensa o investimento do sistema NF a montante, ou mesmo a jusante, poderia ser usado em ambos os lugares. Hoje existem tecnologias que nos permitem usar a NF antes ou depois do OR.

5-Qual sua recomendação para a América Latina? Eng. Nikolay Voutchkov Bem, muitas das minas têm suas próprias plantas de dessalinização, então pode valer a pena usar e diversificar sua produção coletando salmoura, pois eles têm experiência em mineração. Além disso, a indústria de cloro-álcalis é destaque em muitos países da América Latina, portanto, nesses casos, certamente será de grande interesse se eles tiverem esses usos na indústria química. Embora o mundo esteja passando de uma economia baseada em hidrocarbonetos para uma economia verde, o cloreto de sódio é um componente muito importante para a produção de PVC líquido, que é basicamente usado para produzir qualquer material plástico para qualquer finalidade no mundo. Por isso, pode se tornar uma fonte muito atraente. Assim, o cloreto de sódio torna-se um material muito valioso, mesmo entrando na economia pós-petróleo.

Dr. Ahmed Al Amoudi Deixe-me acrescentar algo ao que Nikolay diz, que será diferente de lugar para lugar. Por exemplo, na região do Golfo é bom porque somos produtores de petróleo e precisamos, por exemplo, de bromo e também precisamos de cloreto de sódio para a indústria de cloro-álcalis, enquanto talvez na América Latina eles só precisem, por exemplo, de fertilizantes ou talvez eles precisem para medicina. Então podem ir para a produção de magnésio usando o sistema NF multiestágio para aumentar a concentração de magnésio para fertilizantes ou medicamentos também. Vai mudar de acordo com as necessidades de cada lugar. Não há

Dr. Ahmed Al Amoudi Não apenas isso, mas também prolongará a vida útil da membrana porque o TDS é reduzido, assim como o permeado de nanofiltração. É principalmente cloreto de sódio e está livre de qualquer substância que possa afetar ou sujar a membrana. Na verdade, nós executamos uma planta usando uma membrana de nanofiltração antes da Osmose Reversa e conseguimos operá-la por 10 anos. Após 10 anos, quando abrimos a membrana de osmose reversa estava completamente nova. Assim, conseguimos estender a vida útil da membrana para 20 anos em vez de cinco.

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Eng. Nikolay Voutchkov Mas, especialmente em países que têm plantas de dessalinização, achamos que isso abre uma oportunidade para eles terem uma renda extra gerada no local que pode pagar pela água dessalinizada. Isso é algo que todos os países latino-americanos que estão desenvolvendo a dessalinização como fonte de água devem pensar.

6- Para onde você acha que a extração de salmoura está indo no futuro? Qual é o próximo passo do SWCC e do DTRI para esta nova tecnologia?

Dr. Ahmed Al Amoudi Na verdade, aplicamos primeiro uma de nossas patentes, conforme mencionado pelo Dr. Ihm, para obter os íons de magnésio, e começamos agora. E primeiro lugar, o Governador nos pediu para aplicar este projeto a todas as estações de tratamento para complementar os íons de magnésio na água potável. Em segundo, há agora uma oportunidade em todo o mundo para investir na produção de cloreto de sódio. Agora fizemos um pedido de licitação para a extração de cloreto de sódio. Também estamos planejando expandir este projeto em Yambu e Jeddah. Eng. Nikolay Voutchkov Mas, em uma perspectiva mais ampla, além de sódio, cloreto e bromo, o próximo metal, como destacou o Dr.

Dr. Christopher Fellows O que eu veria como a maneira mais rápida é extrair bromo se for consumido em seu país para a indústria química ou para a indústria de petróleo e gás.

A revista dos líderes da água INFO H2O nada comum para todo o mundo, cada país tem suas necessidades específicas.

Historicamente, o bromo foi extraído comercialmente diretamente da água do mar, então é algo que poderia ser implementado diretamente na salmoura de dessalinização que sai sem o terreno e o valor energético para os outros componentes do processo. Também realizamos um estudo técnico-econômico sobre a extração de bromo diretamente da salmoura como produto independente.

Fellows em sua apresentação, é o magnésio metálico, um material muito valioso que está crescendo de preço. Os sais metálicos de magnésio e magnésio são certamente os próximos da linha e ainda a serem desenvolvidos. Também potássio, como mencionei, desenvolvemos uma tecnologia em nível experimental neste momento, mas já temos membranas que nos permitem aplicar a tecnologia por meio de membranas especiais usando-as na planta SWRO existente que nos dá uma corrente de salmoura que corresponde ao fertilizante de potássio de alta qualidade, para que possamos produzi-lo a um preço muito mais competitivo do que a produção química de fertilizante de potássio. Assim, potássio, cálcio e magnésio são os próximos da fila e o rubídio, é claro, é o mais caro.

Dr. Ahmed Al Amoudi Este é o próximo, mas agora estamos trabalhando para íons de bromo, cloreto de sódio e magnésio. Isto é agora. Nós temos a fonte, que é o projeto de engenharia e a solicitação de licitação de todos eles.

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Legislações para o reúso agrícola na América

Assim, somente por meio de irrigação inteligente, da otimização de processos e do reúso de água será possível atender a demanda por alimentos sem comprometer o acesso aos recursos hídricos para as gerações posteriores. Para enfatizar a oportunidade

Latina

Complexo de tratamento e reúso de água de Monterrey County na Califórnia 2022 205060% MAISQUEALIMENTOSHOJE 48.000 de 9

Neste artigo revisamos as diretrizes para irrigação agrícola com águas residuais tratadas da OMS, FAO e Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos em comparação com a legislação e regulamentações latino-americanas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 70% da água doce extraída no mundo é utilizada para irrigação agrícola. Portanto, para alcançar a gestão sustentável da água, é necessário produzir a maior quantidade de produto por litro de água utilizado. Para tal, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) considera o reúso de águas residuais tratadas como uma “opção que traz enormes benefícios Alémpotenciais”.disso, a FAO também alerta que, até 2050, a agricultura terá que enfrentar o desafio de se tornar sustentável enquanto alimenta os 9 bilhões de pessoas que habitarão o planeta, para o qual terá que produzir 60% mais alimentos do que a sua capacidade atual.

DEBILHÕESPESSOAS

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Quadro extraído de documento da OMS

Os indicadores microbianos para determinar a presença ou eliminação de patógenos são agrupados em unidades de matéria orgânica por quantidade de água. Nesse sentido, os mais comuns são os coliformes, cujo nome designa um grupo de espécies bacterianas, dentre as quais está a “escherichia coli”.

22 2050 PRODUZ 48.000 m3 de efluentes se tratados,fossempoderiamIRRIGA 500 hectares

O outro indicador amplamente aceito é a presença de ovos de helmintos. Helmintos é um termo genérico que agrupa todos os vermes parasitas que habitam humanos, animais e plantas e são de vida livre.

Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O que a reutilização de águas residuais representa, a FAO exemplificou que uma cidade de 500 mil habitantes, com um consumo diário de 120 litros por indivíduo, produz 48 mil metros cúbicos de efluentes que, se tratados, poderiam ser usados para irrigar 500 hectares. Além disso, essas águas contêm nutrientes importantes para a agricultura, como nitrogênio, fósforo e potássio.

Neste artigo da ÁGUAS Latinoamérica, a ALADYR se propôs a mostrar como as sociedades ao redor do mundo, e particularmente nas Américas, estão se organizando para adotar o reaproveitamento agrícola em um contexto de mudança climática e crescimento populacional que não permite mais atrasos em termos de eficiência no uso de recursos.

a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) estabeleceu diretrizes para incentivar os estados a desenvolver seus próprios padrões. Em seu documento de 2012, intitulado Diretrizes para a Reutilização da Água, a EPA reconhece que a irrigação bem gerida de acordo com as diretrizes da OMS é suficiente para proteger a saúde pública e a saúde dos trabalhadores agrícolas. No referido documento, as recomendações da OMS para irrigação com água de reúso - amplamente adotadas na Europa e em outras regiões - são um padrão “baseado em ciência que tem sido aplicada com sucesso para reutilização da irrigação em todo o mundo”.

Noindígenas.entanto,

Estados Unidos Os Estados Unidos são de longe o país das Américas com a maior tradição no reúso de água para fins agrícolas, suas histórias de sucesso inspiram legisladores em toda a região. Não há lei federal que regule o reúso agrícola, mas as normas de recuperação e reúso de água são de responsabilidade de órgãos estaduais, locais e de nações

O leitor também perceberá que há uma ênfase deliberada nos aspectos de rastreabilidade e remoção de material microbiológico de efluentes tratados para irrigar frutas, que são consumidas in natura, e que a maior parte da legislação apresentada é semelhante à recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na tabela a seguir podemos observar os limites microbiológicos que consistem em uma unidade de ovos de helmintos por litro e uma média geométrica de mil coliformes fecais por 100 mililitros para a categoria de maior risco, que é o alimento cru. Segundo a organização internacional – que estuda a qualidade das águas residuais em todo o mundo – o cumprimento dessas recomendações é tecnicamente viável.

onde a água reciclada entra em contato com a porção comestível, incluindo todos os tubérculos Permitido Não permitido Não permitido Não permitido Parques e campos de jogo Pátios Camposescolaresdegolfe sem restrição de acesso Qualquer outra rega não especificamente proibida por outras disposições do Código de Regulamentos da Califórnia Cultivos de alimentos com irrigação de superfície, onde a parte comestível fica na superfície, sem contato com água reciclada Permitido Cemitérios Permitido Jardim ao lado de estradas/vias Campos de golfe com acesso restrito Viveiros ornamentais e pastagens sem restrição de acesso público Pastagem para animais produtores de leite para consumo humano Vegetação não comestível com controle de acesso para evitar o uso como parques, playgrounds e pátios escolares Pomares sem contato entre a parte comestível e a água reciclada Permitido Vinhas sem contato entre a parte comestível e a água reciclada Árvores não alimentares, incluindo árvores de Natal regadas 14 dias antes da colheita Culturas forrageiras e fibrosas para pastoreio de animais não produtores de leite para consumo humano Cultivo de sementes impróprias para consumo humano Cultivos alimentares que passam por um processo comercial de destruição de patógenos antes do consumo por humanos Viveiros ornamentais e pastagens não irrigadas em menos de 14 dias Padrões de irrigação de águas residuais tratadas da Califórnia No entanto, para a EPA, os parâmetros da OMS são suficientes e regulamentações mais restritivas, como as da Califórnia e da Itália, são potencialmente proibitivas em termos de custos. Além disso, as diretrizes da EPA de 2012 baseiam-se nas recomendações da FAO para avaliar a reutilização da água em relação à salinidade.

23

CultAplicação:ivosalimentícios

Na Califórnia, as frutas consumidas in natura podem ser irrigadas com águas residuais desde que tenham passado por tratamento terciário e desinfecção que garanta valores abaixo de 2,2 unidades formadoras de colônias de coliformes totais por 100 mililitros de água, conforme indica a regulamentação da região. Dentre os tratamentos terciários para irrigação agrícola, podemos citar a desinfecção por radiação ultravioleta com dosagem de hipoclorito de sódio e ultrafiltração para garantir menores níveis de turbidez.

Uso de água reciclada Água terciáriocomdesinfectadarecicladatratamento Água secundáriocomdesinfectadarecicladatratamento2.2 Água secundáriotratamentocomdesinfectadareciclada2.3 Água reciclada sem secundáriadesinfecção

NÍVEL DE TRATAMENTO

O Título 22 do Código de Regulamentos da Califórnia, que se refere às diretrizes estaduais sobre como a água tratada e reciclada é descartada e usada, contempla quatro níveis de tratamento e 43 usos permitidos. Por exemplo, a irrigação de produtos processados e desinfetados antes do consumo requer apenas tratamento secundário, enquanto os vegetais consumidos crus requerem tratamento terciário com desinfecção.

Especificamente, a Califórnia tem o mais longo histórico de gerenciamento de reúso de água. Já em 1906, o estado adotou uma diretriz de qualidade para o uso de águas residuais brutas ou sedimentadas para irrigação agrícola.

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Diferentemente da norma californiana, a legislação peruana não especifica os processos ou tratamentos, desde que o produto resultante atenda aos parâmetros de qualidade de acordo com o uso da irrigação, conforme tabela a seguir.

A tabela mostra que os limites permitidos de organismos coliformes na legislação peruana devem ser inferiores a 1.000 no número mais provável (NMP) por cada 100 mililitros de água, o que torna esses parâmetros semelhantes aos do México, França, Sicília, Grécia e região do Mediterrâneo que aderem às recomendações da OMS.

Também no campo microbiológico, utiliza ovos de helmintos para rastreabilidade, colocando a presença máxima de um por litro.

PeruAméricaH2OLatina

24 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO

As leis latino-americanas que regulamentam o reúso agrícola ainda são incipientes e buscam incentivar a atividade. Por exemplo, no Peru existe um decreto supremo que estabelece os níveis de qualidade para águas residuais tratadas para fins de reúso agrícola, cujo instrumento legal é a resolução ministerial Nº 203-2020-MINAGRI do ano 2020.

O texto é bem específico com as responsabilidades. Por exemplo, o usuário que gera águas residuais tratadas, em decorrência do exercício de atividades antrópicas, é responsável por submetê-las a operações ou processos unitários de tratamento, a fim de atender aos critérios de qualidade exigidos para seu reúso, inclusive os referidos compromissos ambientais dispostos no Instrumento de Gestão Ambiental (IGA) da sua atividade.

25 Desinfecção para irrigação sem restrições (legumes consumidos crus). Apresentação de Bahman Sheik durante WEBINAR ALADYR “Irrigação de Cultivos Agrícolas com Água Reciclada: Normas que Protegem a Saúde Pública”, em abril de 2020. Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O País, Região TotalColiform/100 mL CoFecalliform/100 mL Colorado, New Mexico, Texas Proibido para uso Itália, Puglia, Emilia Romanga ≤ 2 USEPA (G), Arizona, Utah, Japão, UK No Detect Califórnia, Washington ≤ 2.2 Alemanha, Victoria, Austrália (Diretrizes Nacionais) ≤ 10 Espanha ≤ 200 França, Sicília, Grécia, México, Região do Mediterrâneo ≤ 1000 Chile No Chile, os requisitos de qualidade da água são estabelecidos de acordo com o uso pretendido, portanto o reúso está implícito na norma chilena 1.333, que inclui a qualidade mínima para irrigação. Quanto aos requisitos bacteriológicos, especifica que o teor de coliformes fecais na água de irrigação destinada ao cultivo de frutas e hortaliças que crescem ao nível do solo e geralmente são consumidos crus deve ser menor ou igual a mil coliformes fecais por cada 100 mililitros , como no Peru. México No México, o instrumento legal é a Norma Oficial Mexicana (NOM001-SEMARNAT-1996) que estabelece os limites máximos permitidos de poluentes nas descargas de águas residuais nas águas e ativos nacionais. Determina que as descargas de efluentes lançados na água e no patrimônio nacional, bem como no solo e uso agrícola, não devem ultrapassar mil como o número mais provável de coliformes fecais por 100 mililitros em média mensal e 2 mil para o NMP Tambémdiário.estabelece que, para contaminação por parasitas, a presença de ovos de helmintos deve ser tomada como indicador. O limite é de um ovo por litro para irrigação irrestrita ou para hortaliças, frutas e hortaliças que são consumidas cruas e cinco para irrigação restrita, que são alimentos que devem ser processados e cozidos para consumo.

26 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Argentina A Argentina, por enquanto, não possui um marco legal federal que estabeleça as condições mínimas exigidas, bem como políticas de incentivo ao reaproveitamento. No entanto, Mendoza, como uma província com alto estresse hídrico e significativa atividade agrícola, possui uma infraestrutura regulatória e institucional que segue as recomendações internacionais.

Em menor grau, experiências semelhantes podem ser encontradas em Puerto Madryn. A tabela a seguir mostra a semelhança dos parâmetros de Mendoza com os estabelecidos pela OMS, tanto em ovos por litro quanto em coliformes totais. Colômbia Na Colômbia as regulamentações são recentes, a Resolução 1256 de 2021 regulamenta o reúso e recirculação de águas residuais e é resultado do processo de avaliação e monitoramento da revogada Resolução 1207 de 2014. A norma estabelece que o efluente pode ser utilizado tanto para uso agrícola quanto industrial, desde que sejam garantidos os critérios mínimos de qualidade consagrados no Decreto 1.076 de 2015 ou a norma que o modifique, acrescente ou substitua, bem como, com os critérios estabelecidos no artigo 5º da Resolução 1256 de 2021. Para elementos microbianos, são utilizados os mesmos critérios da OMS.

(RAS)**

27Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Brasil Apesar de possuir algumas experiências exitosas no setor privado, o Brasil ainda está em fase inicial quando se fala em regulamentação do reúso de água não apenas na atividade agrícola, mas como um todo.

“I – Usos em atividades agrossilvipastoris: fertirrigação de culturas não ingeridas cruas, incluindo culturas alimentícias e não alimentícias, forrageiras, pastagens e árvores, de acordo com as seguintes formas de aplicação: a) no uso amplo é permitido fertirrigação superficial, localizada ou por aspersão. b) no uso limitado é permitido apenas fertirrigação superficial ou localizada, evitando-se qualquer contato da água de reúso com o produto alimentício.” Vazãoreúso*de Parâmetros pH termotolerantesColiformesouE.coli Ovos helmintosde CondutividadeElétrica** Razão adsorçãode de sódio Sódio** mínima monitoramento água NORMATIVA CERH-MG casos de produção por batelada. aplicáveis a modalidade agrossilvipastoril.

** Parâmetros

para reúso Quadro e tabelas foram retiradas da DELIBERAÇÃO

Nº 65. *A vazão de reúso equivalente nos

de

Em escala estadual, o Governo de Minas Gerais, através da DELIBERAÇÃO NORMATIVA CERH-MG Nº 65, estabelece os usos, a frequência mínima de monitoramento e os padrões de qualidade microbiológica para reúso de água considerando atividades agrossilvipastoris, considerando padrões de microbiológicos como coliformes termotolerantes e ovos viáveis de helmintos de acordo com a cetegoria de uso (amplo ou limitado).

da

deClassevazão

Com o Novo Marco do Saneamento, Lei Nº 14.026 de 15 de junho de 2020, ficou estabelecido que cabe a Agência Nacional de Águas (ANA) estabelecer normas de referência sobre “reúso dos efluentes sanitários tratados, em conformidade com as normas ambientais e de saúde pública”, mas a proposta, que orientará a atividade a nível nacional, ainda está em formulação.

I 0 a 10 L/s Semanal Mensal Bimestral Semanal Quadrimestral MensalII 10 a L/s100 Quinzenal Mensal III > 100 L/s Semanal Quinzenal Quadro 1: Frequência

apenas para

*No caso de árvores frutíferas, cujos frutos podem ser consumidos crus ou com casca, deve ser adotada uma técnica de irrigação que não possibilite o contato do fruto com a água para reúso.

Nota: a dose máxima de aplicação de sódio no solo via água para reúso é de 300 kg/(ha.ano).

Tabela 1.b: Padrões de qualidade química para reúso na modalidade “agrossilvipastoril

A Lei Nº 16033, de 20/06/2016, estabelece a política de reúso de água no Estado do Ceará e no Artigo 4º, inciso II, abrange a modalidade de “reúso para fins agrícolas e florestais: utilização de água de reúso para irrigação na produção agrícola e cultivo de florestas plantadas, tendo ainda como subproduto a recarga de lençol subterrâneo”. Coube a Superintendência Estadual do Meio Ambiente estabelecer os parâmetros e critérios de qualidade através da Lei Nº 16033 DE 20/06/2016, também baseada em padrões de microbiológicos como coliformes termotolerantes e ovos viáveis de helmintos.

28 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Categoria Finalidade pH termotolerantesColiformesou E. coli (NMP/100 mL) Ovos viáveis de ovos/L)helmintos(nºde Amplo Permitido fertirrigação superficial, localizada ou por aspersão*. 6 a 9 ≤ 1x104 ≤ 1 Limitado Permitido apenas fertirrigação superficial ou localizada, evitando se qualquer contato da água para reúso com o alimentício.produto 6 a 9 ≤ 1x106 ≤ 1 elétricaCondutividade( S/cm) RAS > 500* < 3

* valor mínimo necessário para que não haja risco de dispersão da argila do solo, considerando os valores de RAS que o esgoto sanitário pode apresentar.

Tabela 1.a: Padrões de qualidade microbiológica para reúso na modalidade “agrossilvipastoril”

29Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Art. 39. O reúso externo de efluentes sanitários para fins agrícolas e florestais deverá obedecer aos seguintes parâmetros específicos: I - Coliformes termotolerantes, da seguinte forma: a) Culturas a serem consumidas cruas cuja parte consumida tenha contato direto com a água de irrigação: Não Detectado - ND b) as demais culturas até 1000 CT/100 mL. II - Ovos de geohelmintos, da seguinte forma: a) Culturas a serem consumidas cruas cuja parte consumida tenha contato direto com a água de irrigação: Não Detectado - ND b) as demais culturas: até 1 ovo geohelmintos/L de amostra III. Condutividade elétrica: até 3000 µS/cm IV. pH entre 6,0 e 8,5 V - Razão de Adsorção de Sódio - RAS: (15 mmolcL-¹) ¹/²

Existe um histórico suficiente de regulamentações e legislações bem-sucedidas para garantir que o reúso agrícola seja viável e seguro. Muitos países ainda não possuem instrumentos explícitos para essa prática, mas geralmente possuem critérios de qualidade da água de irrigação sem especificar sua origem. Da mesma forma, é possível interpretar que a prática é permitida se não houver lei que a proíba, desde que atendidos os requisitos mínimos para irrigação, que geralmente decorrem das recomendações da OMS e da Portanto,FAO. a tarefa do legislador, com o objetivo de atuar no interesse nacional e antecipar os desafios que a governança da água enfrentará, deve ser promover e incentivar o reúso da água para fins agrícolas sob padrões mundiais comprovados, além de economicamente e tecnologicamente viáveis. Assim será possível quebrar o ceticismo gerado em torno da percepção do público, da relação de permeabilidade solo/sal, dos riscos à segurança e saúde de consumidores e trabalhadores, bem como da confiabilidade do abastecimento de água. Neste ponto é essencial que os desenvolvedores de tecnologias e pesquisadores do setor trabalhem de mãos dadas com os responsáveis para discussão e implementação de normas.

30 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Santa Rosa, Califórnia. Vinhedo regado com água de reúso. Case de Sucesso: Monterrey County, CA No Condado de Monterey, Califórnia, um exemplo de irrigação com água de reúso em grande escala para culturas de alimentos crus é reconhecido pela EPA como uma iniciativa bem sucedida. Mais de 5.000 hectares de alface, brócolis, couve-flor, erva-doce, aipo, morangos e alcachofras foram irrigados com água reciclada por mais de uma década. Cabe destacar que toda essa experiência compilada pela EPA em seu documento de orientação foi documentada por Bahman Sheikh, que em vida colaborou com a ALADYR, entre muitas outras organizações de caráter e reconhecimento internacional, para a divulgação do reúso agrícola como prática

Essesustentável.usoem

larga escala de água reciclada foi precedido por um ano intensivo de estudo piloto para determinar se a água de reúso filtrada e desinfetada para irrigação de culturas de alimentos crus seria seguro para o consumidor, o agricultor e o meio ambiente. Os resultados deste projeto mostraram que as culturas alimentares estão protegidas contra organismos patogênicos, como Giardia e Cryptosporidium, e que a comercialização dos produtos das fazendas do norte do condado de Monterey tem sido bem sucedida e lucrativa, apesar de os agricultores locais inicialmente temerem uma reação negativa dos clientes e rejeitos de produtos irrigados com “água de esgoto”.

Bahman Sheikh tem mais de 30 anos de experiência nacional e internacional em pesquisa, planejamento e desenho de projetos de recursos hídricos, especializando-se em conservação, recuperação, reutilização e reúso de água. A carreira do Dr. Sheikh começou como professor universitário, em seguida atuou com consultoria, pesquisa técnica, planejamento mestre e projeto de instalações de recursos hídricos. A experiência de reúso de água de Sheikh inclui serviços nos setores público e privado. Para a cidade de Los Angeles, ele desenvolveu metas de reutilização de água de longo prazo, planejou projetos de reúso de água até o ano de 2090 e avançou na divulgação Grandepública.

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Dr. Sheikh faleceu em 28 de julho de 2020. Suas pesquisas, contribuições para a indústria e legado intelectual são uma referência incontornável para a indústria.

parte do serviço do Dr. Sheikh se concentrou na saúde pública e segurança da água reciclada usada para irrigação, aplicações industriais e de consumo. A maior parte do serviço do Dr. Sheikh estava concentrada na Califórnia, Colorado e Havaí. Além disso, atendeu clientes com projetos de reúso de água em 21 países, incluindo Peru, Bonaire, México, Coreia do Sul, Austrália, Arábia Saudita, Egito, Índia, Jordânia, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Síria, Bahrein, Marrocos e Tunísia.

“As substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS) fazem parte de um grande grupo de produtos químicos artificiais ambientalmente persistentes que são usados em aplicações industriais e produtos domésticos comerciais (Associação Americana de Água).

32 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO NãoH2Ohá

desafios de retirá-los dos mananciais, a ALADYR convidou Mohamed Ateia, Engenheiro Ambiental e Líder de Grupo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US AteiaEPA).

foi enfático em suas respostas e é sem dúvida uma das pessoas mais indicadas para falar sobre o assunto. Seu trabalho consiste em desenvolver e avaliar novas tecnologias de tratamento para eliminação de “Nãomicrocontaminantes.hábalasdeprata para esse problema”, diz Ateia ressaltando que não existem soluções milagrosas para lidar com esses contaminantes emergentes, mas que todas as tecnologias, tradicionais e inovadoras, devem ser consideradas para enfrentá-los. O pesquisador explicou que com o PFAS existem duas opções de tratamento: a primeira é a separação, que se consegue com métodos como absorção, tecnologias de membrana ou por fracionamento; e a segunda é a degradação, que integra processos de incineração, plasma ou oxidação eletroquímica. “Gostaria de enfatizar que nosso objetivo não é apenas decompô-los em compostos menores, mas devemos minerá-los para obter produtos finais ambientalmente seguros e não tóxicos”, afirma.. Entrevista com Mohamed Ateia, Engenheiro Ambiental e Líder de Grupo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA).

Para falar sobre eles, sua virtual onipresença e os

balas de prata na luta contra os produtos químicos persistentes (PFAS).

O meio ambiente e a humanidade estão constantemente expostos a eles e se você, leitor, passar por uma investigação minuciosa, é provável que também encontre PFAS que vêm se acumulando desde o nascimento.

O que foi descrito dá conta da enorme magnitude do problema, mas não é uma sentença à extinção da espécie humana e de todas as formas de vida no planeta, mas supõe um desafio tecnológico, institucional e logístico que é já sendo assumido em diferentes partes do mundo.

Em termos econômicos, são eficientes para diversas aplicações em itens do dia a dia, proporcionando-lhes impermeabilidade, durabilidade, resistência e qualidade com um baixo custo. Os PFAS são praticamente um padrão no campo industrial e oferecem vários benefícios reconhecidos desde o início de sua fabricação na década de Estes40.compostos chegam às nossas casas de várias maneiras. De tintas laváveis à água potável, passando por embalagens de alimentos e panelas antiaderentes.

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Apresentação Mohammed Ibrahim, durante o Webinar ALADYR “Químicos para sempre”, em março de 2022 Dr. Mohamed Ateia é engenheiro ambiental e líder de grupo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA) desde agosto de 2021, com foco no tratamento de PFAS, no Centro de Soluções Ambientais e Resposta a Emergências (CESER), Cincinnati - OH. É também Pesquisador Associado no Departamento de Química da Northwestern University. Antes de ingressar na Northwestern University, o Dr. Ateia estudou no Instituto de Tecnologia de Tóquio, no Japão, e na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e fez pós-doutorado na Clemson University. Sua pesquisa se concentra no desenvolvimento de novos materiais e técnicas para adsorver e/ou degradar contaminantes aquáticos emergentes (por exemplo, PFAS, DBPs, PPCPs, drogas ilícitas), bem como a mobilidade de novas classes de contaminantes no meio ambiente (por exemplo, microplásticos). Sua pesquisa no Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento da EPA se concentra na remoção de micropoluentes (particularmente PFAS) e na avaliação de várias tecnologias de separação e destruição, desde a escala laboratorial até locais de alta contaminação (Superfund sites).

Apresentação Mohamed Ibrahim, durante o Webinar ALADYR “Químicos para sempre”, em março de 2022

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Fernando del Vigo (Diretor Técnico da GENESYS): Minha pergunta é menos técnica e mais pessoal, está relacionada tanto ao PFAS quanto a quaisquer contaminantes emergentes na água. Minha preocupação é que, como são moléculas dissolvidas em água, dificilmente existem métodos de remoção física para

Mohamed Ateia é engenheiro ambiental e líder de grupo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA) Abaixo está reproduzida uma sessão de perguntas e respostas retiradas do webinar gratuito organizado pela ALADYR, com o tema Fighting Against Forever Chemicals .

Giancarlo Barassi (Gerente de Mercado de Dessalinização e Reutilização – AQUATECH INTERNATIONAL): A EPA tem todos os locais contaminados mapeados?

Os PFAS são uma classe de poluentes, mas quando falamos de poluentes emergentes ou micropoluentes estamos falando de um problema muito maior em termos de magnitude. Então, quando dizemos que os métodos de separação são menos maduros do que os métodos de oxidação para PFAS, especificamente, acho que temos a situação oposta.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Não é realista dizer que temos todos eles mapeados, mas mapeamos os locais que conhecemos. Eu mencionei antes que a distribuição desse problema de poluição é realmente enorme. Então você teria que analisar amostras de um local específico para dizer exatamente sim ou não em termos da ocorrência desses compostos neste ponto, mas olhando para a história e como os PFAS foram usados pela primeira vez, há cerca de oito décadas atrás, e como têm sido usados sem cuidado durante muito tempo, o que sugere que estão presentes em qualquer local. Estou dizendo isso com um pouco de confiança porque, como mencionei, não

Apresentação Mohamed Ibrahim, durante o Webinar ALADYR “Químicos para sempre”, em março de 2022

35Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O elas, mas muitos métodos são baseados na oxidação ou destruição dessas moléculas (radiação ultravioleta, oxidação avançada, etc.).

A situação até agora é que temos tecnologias emergentes para a separação de PFAS e tecnologias já existentes, mas temos também algumas dúvidas se são econômicas ou não. A nanofiltração e a osmose reversa não podem ser usadas em todas as estações de tratamento. Ainda temos a questão de ter algo acessível e eficiente ao mesmo tempo, é um esforço contínuo, mas a degradação é de igual importância em termos de foco e necessidade de destruir esses compostos antes de despejar os produtos finais da degradação no meio ambiente.

O que temos agora é que podemos separá-los até certo ponto em comparação com a degradação. A degradação é um problema porque os PFAS têm uma ligação carbono-flúor, conhecida por ser a ligação mais curta e mais forte da natureza, por isso é preciso muita energia para quebra-las. Se falamos de uma separação eficiente de PFAS, a nanofiltração ou osmose reversa são muito eficazes. Por outro lado, se falarmos da degradação do PFAS, temos algumas tecnologias que estão surgindo, mas que são muito afetadas pelos componentes de fundo, sejam eles orgânicos ou inorgânicos. Mas a boa notícia é que nossas capacidades analíticas também estão melhorando em termos de sensibilidade e captura de uma gama mais ampla de compostos de fase. Isso é muito importante e, durante minha apresentação, mencionei um exemplo de ter PFAS de cadeia longa e cadeia curta. Algumas das tecnologias de degradação de PFAS, e a pergunta está muito correta nesse sentido, podem estar formando subprodutos que seriam uma cadeia mais curta de PFAS, de modo que as moléculas longas são encurtadas, mas não totalmente removidas ou transformadas em minerais não tóxicos.

Como podemos garantir que esses processos não estão gerando subprodutos que podem ser ainda mais perigosos do que as moléculas originais?

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: É uma excelente pergunta e trata de algo que destaquei na minha apresentação.

validados, iremos disponibilizá-los publicamente no nosso Portanto,website.temos métodos que estão realmente sendo expandidos/atualizados em termos do número de PFAS que se pode encontrar através deles. Quando detectamos ou medimos PFAS ou desenvolvemos um método, precisamos ter uma solução padrão para isso. O que nos limita até certo ponto no que chamamos de “análise dirigida”. Temos então uma solução padrão para nosso composto alvo e desenvolvemos o método com base nela. Então, é claro, está limitado pela quantidade dos padrões que existem no mercado.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Eu diria que não. Nós temos métodos, mais especificamente, a EPA publicou métodos que qualquer pessoa pode acessar e usar. Temos métodos para amostras de água potável, temos métodos para águas residuais, temos métodos para PFAS em amostras sólidas. Os detalhes desses métodos são pesquisáveis e acessíveis em nosso site. Além disso, também temos muitos esforços em andamento para testar o PFAS em outros meios, como tecidos, amostras de sangue e outros. Eles estão em fase de desenvolvimento ou validação. Quando forem

Belén Gutiérrez (Ph.D./ Head de Dessalinização e R&D Direction – GS INIMA): Atualmente, não há legislação global e harmônica nos países relativa aos PFAS que permita que os sistemas públicos de água imponham valores-limite máximos para todas as substâncias PFAS. Este vazio legal deve-se em parte à inexistência de uma lista conclusiva de todas as substâncias devido aos problemas que existem para a sua detecção, análise e estabelecimento de métodos analíticos validados. Dessa forma, qual é a estratégia da EPA para o desenvolvimento e aprimoramento de métodos de detecção de PFAS, de modo que permita uma lista conclusiva de classificação de compostos, bem como sua detecção pelas empresas de água? A EPA tem um método comprovado que recomenda para uso na detecção de certos PFAS? Quais? Dentro desta estratégia, existe alguma medida na identificação de fontes poluidoras que permita mitigar o problema na fonte?

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Além disso, para água potável, águas residuais e amostras sólidas, estamos desenvolvendo e colocando muito esforço no que chamamos de análise não direcionada, que envolve algumas técnicas de machine learning para descobrir PFAS nas amostras.

Portanto, não é realmente quantitativo, mas sim qualitativo saber que existem certas estruturas ali. Colocamos muito foco nisso e é um esforço contínuo. Assim que o método for validado, ele será publicado.

Apresentação Mohamed Ibrahim, durante o Webinar ALADYR “Químicos para sempre”, em março de 2022 seria esperado que a degradação desses compostos ocorresse na natureza, então qualquer que seja o uso de PFAS no passado, significa que ainda devem estar lá, mas mapeamos tudo o que podemos e o que temos acesso.

Por outro lado, temos outra técnica que se encaixaria no que foi mencionado na pergunta sobre as empresas de água, pois a análise direcionada ou não direcionada precisa de técnicas específicas e requer alguma experiência, mas estamos desenvolvendo outros métodos voltados para PFAS total, para total de flúor orgânico e métodos semelhantes que se encaixam como uma análise de PFAS em massa, estes também são esforços em curso e exigem muita atenção de nossa parte. Em termos de encontrar as fontes, é um trabalho em andamento. Estamos tentando identificar isso em paralelo com o desenvolvimento e validação do método analítico que ajudaria a encontrar e rastrear as fontes dessa contaminação.

Manager - BirminD do Grupo WEG): Diante do avanço dos sensores PFAS, como a inteligência artificial (I.A.) pode ajudar a tornar esse controle ainda mais eficiente?

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Esta é uma área que ainda não está realmente desenvolvida ou qual a magnitude da absorção e suas consequências, bem como qual é o próximo passo. Estamos falando de uma baixa concentração em uma fonte de água que se espera que contenha microplásticos. Sim, existem alguns documentos aqui e ali sobre afinidade, mas o que importa, do ponto de vista da saúde, é qual é a contribuição dessa classe específica de contaminação, que são os microplásticos, e o quanto eles contribuem para a introdução do PFAS nos nossos corpos e sua Emdissolução.suma,não sabemos e, como disse, há muitas outras prioridades antes de chegarmos a uma área tão especializada de toxicidade.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Exatamente. Manuel García de la Mata (Diretor Geral para América do Sul da Fluence Corporation): Li em alguns artigos que podemos encontrar substâncias PFAS em microplásticos. Você sabe se os microplásticos podem liberar PFAS em nosso corpo quando ingeridos? A EPA considera esta situação no que se refere à contaminação da água?

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: É necessário destacar primeiro que “progresso” talvez seja uma descrição generosa para a situação atual. Existem algumas publicações que estão trabalhando na detecção de PFAS, mas ainda estão em escala laboratorial e se concentram em um número muito limitado de compostos de PFAS. Como repito, porque é necessário, não estamos falando de um composto. Estamos falando de uma família de milhares de produtos químicos, então ter um sensor que, como o nome sugere, é sensível a uma estrutura específica ou pode capturar algo em baixa concentração é outra questão. Os PFAS, conforme ilustrado na figura da população afetada nos EUA, estão principalmente em uma baixa concentração de nanogramas por litro, ou seja, cerca de três ou quatro ordens de magnitude de outros constituintes de fundo, matéria orgânica dissolvida, qualquer coisa encontrada na água ou esgoto. Assim temos alguns passos, mas acho que é preciso uma avaliação cuidadosa. Sim, os sensores são sensíveis a algo, então qual composto ou grupo de compostos eles podem perceber e qual é o meio de fundo que eles podem avaliar. Mas a questão da Inteligência Artificial é muito boa, porque como eu disse sobre a análise não direcionada, acho que acoplar isso pode abrir outras possibilidades de prever estruturas específicas, mas não sei de nada que tenha sido publicado ou validado até agora nessa linha.

Alejandro Sturniolo (ALADYR): Sim, não é tão fácil controlar mais de cinco mil ou oito mil substâncias em diferentes concentrações. Acho que deveríamos trabalhar mais com foco na barreira para ter certeza de quão seguro é controlar a água de alimentação.

Guilherme Clairet (Diretor de Operações H2O INOVAÇÃO): A OR e o IX retiram os PFAS, mas não os destroem. No entanto, existem alguns métodos de destruição promissores que utilizam eletrodos (ânodo e cátodo).

Você pode compartilhar alguma opinião sobre os mais promissores que você já viu? Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: É complicado. Os fluxos de resíduos concentrados do OR ou NF são uma grande preocupação. O mesmo acontece com a solução de regeneração das resinas de troca iônica. Essa é uma situação complicada, pois o resíduo é altamente concentrado e contém grande quantidade de substâncias orgânicas e inorgânicas, além de PFAS.

Existe algo que funciona? Pessoalmente, ainda não sei. Há muitas propostas, há muitos esforços em andamento, conheço muitos grupos ao redor do mundo que estão tentando descobrir isso. Meu grupo na EPA se concentra no que chamamos de “fluxo de resíduos difíceis de tratar”, que inclui uma solução de regeneração de resina de troca iônica e retido de nanofiltração, por exemplo. Ainda não temos uma resposta definitiva porque todas as tecnologias testadas encontraram alguma deficiência. Como responder a esta pergunta de forma mais construtiva? Teria que ser analisado caso a caso. Não esperamos ter uma fórmula mágica. Não posso dizer “esta é a tecnologia que todos deveriam usar.” É impossível fazer isso especificamente porque a complexidade agora é muito clara. Portanto, os esforços agora estão indo para o que chamamos de trem de tratamento. Então teríamos um estudo de caso, um local e uma pergunta específica. Como qualquer consultoria, são obtidos dados sobre a qualidade da água e, a partir deles, é criado um trem de tratamento com membranas, carvão ativado ou o que for necessário para a etapa de separação e depois para os subprodutos. Quer dizer, se houver PFAS no carvão ativado e se houver PFAS na solução de regeneração ou algo parecido, logo vemos como tratá-los. Então esse trem de tratamento será, eu acho, um cenário caso a caso, assim não temos uma resposta geral para isso. Algumas tecnologias são

37Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Thiago Barbosa (Latam Water Business Development

Juan Miguel Pinto (Presidente da ALADYR): Certos PFAS não são mais fabricados nos EUA devido a planos de eliminação, qual seria seu conselho para a América Latina começar a estabelecer medidas nesse sentido? Qual seria o primeiro passo com base na sua experiência?

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: É uma pergunta muito boa e é relevante para explicar porque estou tão animado para aumentar a conscientização nesta entrevista. O ponto principal é que não precisamos reinventar a roda. Temos tanto conhecimento existente que levou literalmente décadas para termos um avanço em nossa compreensão das técnicas analíticas que foram desenvolvidas. Então o conselho é ver o que está por aí e tentar adotar o que se encaixa no seu contexto social e econômico local. Novamente, não existe um pacote validado para combater esses contaminantes. Tem que ser considerado com muito cuidado para ver o que se encaixa na comunidade, o que é realmente necessário para ela. Se é mais abundante em sólidos, é mais abundante em água, ou em ambos, e atacar cada cenário com uma perspectiva.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Teria que responder cuidadosamente a isso. Não estou dizendo que a EPA aconselha isso, essa é a minha perspectiva pessoal sobre essa questão. Enquanto os resíduos sólidos e líquidos, como acabei de dizer, seriam estudados caso a caso. Mas, para sermos realistas, se queremos resolver um problema no curto prazo, devemos ter acesso à tecnologia mais eficiente agora. Então, sim, o carvão ativado está sendo usado porque é o que pode ser comprado e usado em um ponto de consumo ou em uma estação de tratamento. Mas, como diz a pergunta, você teria um fluxo residual de resíduos sólidos que é um carvão ativado contaminado com PFAS. O que acontece agora é que ele é enviado para um aterro sanitário ou incinerado. O que a gente faz agora é tentar avaliar a parte da incineração, a fim de revisar e ter certeza de quais são os subprodutos. Como podemos ter certeza de que não há subprodutos? Ainda não sabemos a resposta definitiva, mas estamos dando um passo atrás e tentando amadurecer e chegar à fase de implementação.

38 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O promissoras aqui e ali, a degradação eletroquímica está mostrando alguma degradação do PFAS, mas você precisa observar atentamente quais são as condições. Eu tive que dar esta longa resposta para apontar que o cenário é muito mais complexo e não há uma tecnologia curinga para usar. Não funciona assim.

Temos incineradores em todos os lugares e é assim que as pessoas teriam acesso para descartar seus resíduos sólidos. Para esse cenário específico, estamos dando um passo atrás e tentando chegar a pesquisas mais fundamentais. Como se degrada em um incinerador? Quais são as condições? Qual é o efeito de condições não otimizadas? Porque estes não são projetados para PFAS? Quais subprodutos são formados, se houver? Isso é algo em que estamos trabalhando ativamente e esperamos que em alguns anos possamos obter mais respostas. Desculpe, não posso responder diretamente a esta pergunta porque, novamente, não temos respostas conclusivas, porém é muito empolgante para nós, porque é uma pergunta aberta e, uma vez que você faça uma pergunta aberta para um pesquisador, as pessoas precisam saber a resposta.

Podemos transferir o conhecimento, não temos regulamentação, mas temos muita comunicação. A forma como as pessoas falam sobre isso, como as coisas progrediram de “não nos importamos” para entender que é um problema sério. Então não precisamos começar do zero, podemos ver onde está o resto do mundo e tentar aprender com eles, pode ser muito técnico como todos os métodos que destaquei acima. Os pesquisadores da América Latina não precisam desenvolver um método do zero, pois basta acessar o site da EPA, se eles querem avaliar PFAS em líquido, sólido e qual é um bom método, qual é a técnica necessária. Então, podem tentar adotar em seus países os métodos e conhecimentos já Oudesenvolvidos.podemosfalar do comportamento como mitigação. As pessoas deveriam saber mais sobre essa contaminação e de onde ela vem. Não estou falando de fontes pontuais como fábricas, mas mostrei uma imagem que pode ser exemplo de muitos produtos de consumo hoje. As pessoas podem adotar a mudança de comportamento sabendo que muitos pesquisadores e muitas empresas estão se afastando do PFAS e desenvolvendo produtos químicos alternativos. Elas poderiam literalmente ver qual produto está usando PFAS e trocá-lo por um substituto químico mais seguro. Por exemplo, algo muito comum e não só na América Latina, temos em todos os lugares, são as panelas de teflon, que é antiaderente e serve para cozinhar baseado na tecnologia PFAS. Não gruda porque os

Fraser Kent (PhD. Vice-presidente de Tecnologia H2O INNOVATION): Os PFAS são conhecidos por serem extremamente persistentes e as tecnologias de descarte atualmente aplicadas têm fluxos de resíduos carregados de PFAS. O que a EPA aconselha para o descarte final desses fluxos de resíduos concentrados com carvão ativado carregado com PFAS e meios de troca iônica?

39Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O compostos PFAS são muito resistentes ao calor e dão a eles a natureza antiaderente que também pode ser encontrada em pacotes de pipoca ou mesmo em muitos recipientes de fast food. O desenvolvimento da conscientização e a transferência do conhecimento está na literatura e na mídia, pronto para ser adotado em uma nova sociedade.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Todos querem que eu diga uma palavra mágica, mas não a temos. Vou repetir porque é importante: o que temos em nível de maturidade em termos de desenvolvimento tecnológico é a NF e a OR. É barato para todos? Se trata caso a caso. Temos carvão ativado e resina de troca iônica, refiro-me agora à tecnologia de separação, também são eficazes até certo ponto, mas têm algumas deficiências. Muitos deles têm um fluxo lateral como carvão ativado gasto ou resina não trocada com PFAS nelas. O que você vai fazer com os resíduos sólidos? A parte mais grave é que eles não são realmente eficazes com PFAS de cadeia curta, são mais hidrofílicos e difíceis de remover. Do lado positivo, temos alguns esforços em andamento. Coisas em desenvolvimento, mais seletivas ou absorventes com maior afinidade para PFAS como polímeros de extremidade cicloide ou materiais mais emanados que agora estão sendo testados em várias escalas, mas não estão prontos para serem usados no mercado. Então esse é o sinal positivo, aprendemos muito nos últimos anos sobre o que os PFAS gostam ou não e como podemos desenvolver um material seletivo ou com maior afinidade do que o carvão ativado e os materiais convencionais. Essa é a parte da tecnologia de separação e mencionei anteriormente que precisamos de um trem de tratamento. Após a separação, o que será feito com os resíduos sólidos e líquidos resultantes da tecnologia escolhida? Não temos uma solução milagrosa.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Existe uma área muito recente e ativa de pesquisa sobre biodegradação. Existem algumas cepas separadas de bactérias que demonstraram degradar o PFAS, mas não há uma resposta definitiva. Acho que o Instituto Nacional de Saúde (NIH) financiou recentemente algum trabalho

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Hoje a filtração OR é muito eficiente, pode eliminar uma porcentagem muito alta, de mais de 90%, diria com segurança. Talvez muito mais.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Vou compartilhar um caso: temos uma condição de água potável que está em ppt, nanogramas por litro, mas temos locais contaminados. Uma das principais fontes de PFAS é o que chamamos de triplo F (espumas formadoras de filme aquoso), que está sendo usado em locais militares para suprimir incêndios em campos de aviação e muitas aplicações militares. Digo isso porque esses lugares têm muitos líquidos contendo PFAS entrando nas águas subterrâneas e essas fontes teriam um nível de micrograma por litro na faixa alta. Então, isso seria exatamente o que você quer dizer. Isso se vinculará a quais são os regulamentos futuros, porque se eles estiverem em nanogramas de um dígito por litro, de um a nove, se você estiver removendo 90% de 100 nanogramas por litro ainda está acima disso ou foi atendido ou não? Novamente, é caso a caso. Para onde vai? É água potável ou é água residual. Mas para a pergunta original, a nanofiltração de OR é eficiente, mas lembre-se de que são eficientes, mas você teria muitos subprodutos no fluxo secundário. Esta é uma solução altamente concentrada. O que você vai fazer com isso? Você tem que assumir o comando.

Juan Miguel Pinto (Presidente da ALADYR): Em relação à remoção de PFAS da água, que tipo de tecnologia é a mais eficaz de acordo com sua experiência?

Corey A. Cooper: A incineração de PFAS será uma solução viável no futuro ou mais regulamentações tornarão a incineração uma solução inviável? Sei que existem alguns modelos analíticos de emissões atmosféricas em desenvolvimento.

Alexandre Sturniolo (ALADYR): Digamos que 70 ppt, 10% ou 5% que não estamos removendo pode ser muito.

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: A resposta está na pergunta. Esses são esforços contínuos e não temos nenhuma evidência conclusiva de que ele precisa parar ou qual é a magnitude da liberação de ar de quaisquer subprodutos que possam ser formados. Mas vou dizer novamente, porque é uma boa notícia, que muita atenção interna está sendo tomada e estamos tratando de ir para o fundamental, também o desenvolvimento para a captura de amostras de ar ou a análise dessas amostras para saber quais são os subprodutos ou os produtos finais da técnica de degradação. Diethelm “D” Suit: Existem produtos biológicos conhecidos por quebrar a ligação carbono-flúor?

PERGUNTAS DO PÚBLICO Sultan Ahmed (Ph.D.): Qual porcentagem de PFAS pode ser removida usando OR?

Julio Fuchs: O que você acha dos métodos indiretos de avaliação do flúor orgânico?

40 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O sobre isso, mas qual é a sua viabilidade? É algo que podemos facilmente escalar? Ele ainda está sendo trabalhado e não há uma resposta conclusiva sobre isso.

Sim, em um ambiente de laboratório onde você tem como um pico de nano água pura com PFAS e você tenta quantificar ou fazer o balanço de massa - o pesquisador que tenho dentro de mim está falando agora. Se usarmos muito do trabalho que fizemos com fotocatálise, por exemplo. Mas é muito simples e você não pode generalizar porque se for para uma amostra de água real, você terá TOC que vem de moléculas muito maiores e com uma concentração muito maior que é matéria orgânica dissolvida e outros micropoluentes no fundo. Como podemos realmente dizer se isso está vindo do PFAS ou não? Em uma amostra de água real é quase impossível. Portanto, usamos para casos de pesquisa específicos, para responder a perguntas muito específicas e é necessário combiná-lo com outras tecnologias como a análise direta do composto, e como eu disse, tentar fazer o balanço de massa de átomos de carbono lá. Mas em uma amostra real de água proveniente de um rio, lago ou esgoto não é prático

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: Eu diria sim e não.

Nicolas Stark: É possível desenvolver um plano de eliminação gradual do PFAS? Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: O que descrevi como a maneira como todos devemos abordar este ponto é que falaríamos sobre um cenário caso a caso, um local ou problema específico, em um estado ou país, rio, lago que você deseja descontaminar. Então você desenvolveria métodos para isso e veria quais são as soluções de tratamento acessíveis, qual é o método de degradação que será adicionado para descontaminar totalmente o local. Seguimos esse tipo de fluxo de trabalho, mas também não temos um fluxo que sirva para tudo.

Gustavo Vergel: Você usa TOC para rastrear esses compostos e diagnosticar picos de contaminação?

Dr. Mohamed Ateia Ibrahim: O que chamamos de flúor orgânico total ou outros métodos semelhantes são muito importantes e estamos trabalhando no seu desenvolvimento porque abrange um dos aspectos mais importantes do PFAS, que é a magnitude do número de compostos. Portanto, não poderíamos realmente dizer o que está lá, mas se tivermos um método sensível o suficiente em termos de separar o flúor de fundo do flúor orgânico que vem do PFAS e depois dizer que você tem X quantidade desconhecida de PFAS em comparação com o PFAS conhecido que você tem medido com um método direto. Seria uma grande vitória em campo. Então é um ponto muito importante que estamos trabalhando, mas ainda em andamento.

Intercâmbio binacional de experiências de dessalinização para fins potáveis e industriais Brasil e Argentina, no qual se destacou a aplicação dessa tecnologia para uso potável como resposta à escassez de água que afeta comunidades da Costa Atlântica da América do Sul.

O repertório de casos de sucesso inclui um conjunto de plantas em operação e projetadas que estão localizadas do nordeste brasileiro à Patagônia argentina, no extremo sul do continente, e que somarão uma capacidade instalada de 4.797 metros cúbicos por hora quando entrar em operação a Planta de Dessalinização de Água Marina de Fortaleza, no estado do Ceará, Brasil, que deverá ocorrer até 2025. Abrindo a discussão do painel, Manuel García de la Mata, gerente geral da Fluence América do Sul, falou sobre os aspectos mais importantes da dessalinização no contexto regional. Ele explicou que é uma tecnologia madura, mas que na América do Sul ainda precisa ser desenvolvida de acordo com as potencialidades e necessidades que surgem. Ele ressaltou que há “muita” desinformação sobre a dessalinização por osmose reversa (OR) e suas vantagens para a produção de água com a qualidade exigida pelo cliente - seja industrial, agrícola ou potável - a preços competitivos. Além disso, ele enfatizou que o tratamento OR é mais eficiente na remoção de contaminantes emergentes do que os métodos convencionais.

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De la Mata foi o responsável por demolir mitos com argumentos compilados a partir dos cases de sucesso das plantas da região (ArcelorMittal Tubarão no Brasil, Caleta Olivia e Puerto Deseado na Argentina). Mencionando que na relação custo/benefício da instalação de uma planta, o custo perde relevância em relação ao benefício de se ter água potável em uma região onde não há acesso a esse recurso a partir de fontes naturais e, ainda assim, o progresso tecnológico e a oferta clara de serviços e produtos permitiram minimizar consideravelmente os custos e investimentos. Para plantas de pequena ou média capacidade, os custos dos equipamentos variam de mil dólares para cada metro cúbico diário que se pretende disponibilizar, enquanto a operação não costuma ultrapassar um dólar por metro cúbico. De esquerda para a direita. Edinei Mendes, superintendente de obras do Grupo Marquise; Raúl Tigre, engenheiro civil da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece); Manuel Garcia de la Mata, gerente geral da Fluence América do Sul; Noel Patt, gerente técnico de usinas de dessalinização da Empresa Estadual de Serviços Públicos (SPSE) da província de Santa Cruz - Argentina; Tarley Rezende Secchin, gerente de produção de energia da ArcelorMittal e Manuela Marinho, Diretora Presidente da Companhia de Abastecimento de Água de Pernambuco (COMPESA). “O tratamento OR é mais eficiente na remoção de contaminantes emergentes do que os métodos convencionais”, Manuel Garcia De La Mata

FLUENCEH2O reuniu empresas e usuários do Brasil e Argentina

O fornecimento de água potável passou a ser realizado apenas três vezes por semana e a escassez ameaçava agravar-se. Para isso, foram consideradas duas opções: um aqueduto de mais de 200 quilômetros para transportar água do Lago Musters, que já está sendo explorado para abastecer as cidades de Caleta Olivia e Comodoro Rivadavia, ou construir uma planta de dessalinização aproveitando a fato de ser uma cidade Foiportuária.assim que, após uma análise comparativa, a Empresa Estatal de Serviços Públicos (SPSE) da província de Santa Cruz determinou que a segunda opção era a forma mais eficiente de levar água potável às casas do povoado Decosteiro.acordo com Noel Patt, gerente técnico das plantas de dessalinização da SPSE, as barreiras psicológicas tiveram que ser removidas para a aprovação do projeto, já que, na época, representava uma inovação na província. Era a primeira vez que uma usina de dessalinização de tais dimensões seria instalada para fins potáveis na Argentina.

A planta opera desde 2015 cm uma capacidade de 125 m³/h e mudou a qualidade de vida dos habitantes de Puerto Deseado com um abastecimento confiável de água de alta qualidade.

Puerto Deseado: Primeira estação de tratamento de água do mar de médio porte na Argentina À sudeste da Patagônia argentina está Puerto Deseado, cidade de 20 mil habitantes cujo abastecimento de água era realizado através de uma rede de poços que se tornou insuficiente para a demanda e que exigia mais tratamento devido à dureza de suas águas.

Outro benefício desta configuração (UF+UV+OR) está na formação de uma barreira múltipla contra ameaças microbiológicas, produzindo água de altíssima qualidade para consumo humano, certificada pela universidade local.

42 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Aplicação: Capacidade:Potável125m³/h Cliente: SPSE Santa Cruz Contratada: Fluence América do Sul Localização: Puerto Deseado – Patagônia Argentina Diagrama de processo plantas dessalinizadoras de SPSE Continuando com a mesma tendência de separar a tecnologia dos preconceitos, De la Mata observou que os custos de energia são competitivos quando a outra opção é bombear água de uma fonte natural distante. Pois o consumo da dessalinização por OR é inferior a 2,0 kW/m³ e se for considerado o pré-tratamento pode chegar a 3,0 ParakW/m³.finalizar esta etapa da dinâmica, o representante da FLUENCE acrescentou que a dessalinização envolve uma série de complexidades por ser um processo industrial e, portanto, requer operadores devidamente treinados, manutenção eletromecânica, suporte de engenharia de processos e um sistema de controle que simplifique as atividades operacionais. Ele também destacou a importância de escolher membranas OR que atendam aos requisitos e pré-tratamento adequado.

O processo combina ultrafiltração (UF) e radiação ultravioleta (UV) como pré-tratamentos para o RO, o que garante a continuidade operacional ao evitar a bioincrustação – um filme obstrutivo de material orgânico – já que a primeira parada para limpeza química das membranas teve que ser feita após 15 meses de operação, reduzindo as interrupções de serviço e prolongando a vida útil dos equipamentos.

Capacidade: 500 m³/h

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A história da potabilização da água do mar na Patagônia argentina apenas começa com essas plantas que conquistam a confiança dos usuários. Com ambientes desérticos, desenvolvimento econômico e crescimento populacional, é apenas uma questão de tempo até que os benefícios dessa alternativa se espalhem na região.

Cliente: ArcelorMittal Contrattada: Fluence América do Sul Localização: Espírito Santo Aplicação: Cliente:Capacidade:potable72m³/hCompanhiaPernambucana de Saneamento (Compesa) Localização: Fernando de Noronha - Pernambuco

Aplicação: Capacidade:Potável500m³/h

A infraestrutura de captação consistiu na adaptação de um sistema pré-existente. Utiliza cinco filtros de disco e 294 módulos UF distribuídos em sete skids como pré-tratamento para as 1.085 membranas de osmose reversa, processo que também conta com recuperadores de energia a partir do rejeito da OR.

A revista dos líderes da água INFO H2O Esta planta construída pela Fluence serviu para familiarizar a região com a dessalinização da água do mar como uma fonte robusta de água potável e antecipou a entrada em operação da planta de dessalinização da cidade de Caleta Olivia, com 80 mil habitantes, que opera desde 2019 com uma capacidade de 500 m³/h.

Planta Dessalinizadora de Água do Mar de ArcelorMittal Tubarão: a primeira do grupo siderúrgico no mundo

O próximo passo no PDA da empresa é o reaproveitamento de efluentes sanitários e a utilização da água da rede convencional apenas para as necessidades de consumo potável dos trabalhadores da unidade industrial.

Cliente: SPSE Santa Cruz Contratada: Fluence América do Sul Localização: Caleta Olivia – Patagonia argentina

A planta dessalinizadora tem capacidade para produzir até 500m³/h (com possibilidade de expansão futura para 1.500m³/h), constituindo uma importante fonte alternativa ao consumo de água doce do rio Santa Maria da Vitória.

Planta de Dessalinização de Água do Mar em Caleta Olivia: a maior estação de tratamento de água do mar da Argentina Para Noel Patt, a dessalinização por osmose reversa é uma solução eficaz e economicamente viável para localidades na costa patagônica que sofrem com a escassez de água por estarem distantes de fontes superficiais e serve de suporte para a gestão da água onde poços e lagos já estão superexplorados.

Novo Sistema de Dessalinização de Fernando de Noronha

Tarley Rezende Secchin, gerente de produção de energia da ArcelorMittal, e Danielle Duarte Bernardi, especialista em utilidades da mesma empresa, explicaram o contexto em que este projeto foi desenvolvido, que representa um marco na gestão da água no campo industrial latinoAamericano.plantadessalinizadora, inaugurada em 2021, foi construída na região metropolitana de Vitória e atende a ArcelorMittal Tubarão, maior siderúrgica integrada da OAmérica.Espírito Santo passou por uma crise hídrica em 2015 para a qual a equipe da ArcelorMittal vinha se preparando desde 2013. Em 2014 estruturou-se o Plano Diretor de Água (PDA) que contemplava todas as possibilidades de vulnerabilidade de acesso ao recurso e gestão de riscos. Concluído esse planejamento no final de 2014, iniciouse a grave crise no Espírito Santo no ano seguinte e a siderúrgica empreendeu o plano de redução do consumo de água doce. Para tanto, foram realizadas ações como a modernização da estação de tratamento de água para reúso (ETA-R). Os especialistas explicaram que a siderúrgica havia planejado a dessalinização antes da crise, mas que foi necessário reduzir os prazos de implantação.

Aplicação: Industrial – Metalúrgica

44 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Aplicação: Capacidade:Potable3600 m³/h Cliente: Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) Contratada: SPE Águas de Fortaleza S/A Localização: Fortaleza

Cortesia de Fluence América do OSulpainel de discussão que reuniu as empresas citadas aconteceu durante o Congresso Internacional ALADYR – Brasil, na cidade de São Paulo, nos dias 6 e 7 de abril, diante de um público de mais de 200 espectadores.

Fernando de Noronha é uma ilha pertencente ao estado de Pernambuco com uma escassez histórica de água. Tem uma população que passou de pouco mais de 1.300 pessoas na década de 70 para 7.500 hoje, com um importante fluxo turístico, por isso as fontes convencionais são insuficientes e a potabilização da água do mar tornouse Manuelaessencial.Domingues Marinho, diretora presidente da Compesa, descreveu o processo de formação do sistema de abastecimento de Noronha que, em 2021, ampliou sua capacidade de dessalinização de 54 m³/h para 72 m³/h com o objetivo de responder à crescente demanda. Marinho explicou que a água do mar purificada representa 70% do consumo da ilha e que para atender a população foi necessário implementar um novo tanque para armazenar mil metros de água dessalinizada, adaptar o pré-tratamento e passar de 96 para 112 membranas de osmose reversa.

Por sua vez, a Tigre detalhou os estudos e condicionantes que levaram o Estado a tomar a decisão de abrir a licitação para uma parceria público-privada (PPP) destinada a construção de uma estação de tratamento de água do mar, com o objetivo de aumentar a oferta de água no município de Fortaleza em 12% e beneficiar cerca de 720 mil habitantes da região metropolitana. Além disso, listou as condições de contratação juntamente com as qualificações técnico-profissionais, econômicofinanceiras e técnico-operacionais que a estatal requeria para outorgar a concessão.

Projeto Planta de Dessalinização de Água Marina de Fortaleza: a maior do Brasil Para finalizar, Raúl Tigre, engenheiro civil da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), e Edinei Mendes, superintendente de obras do Grupo Marquise, detalharam o projeto daquela que será a maior dessalinizadora de água do mar do Brasil com capacidade de 3.600 m³/h e previsão de operação em 2025.

O vencedor do certame foi o consórcio SPE Águas de Fortaleza S/A, que é formado pelo Grupo Marquise (60% de participação), PB Construções LTDA (30%) e Abengoa Água Mendes(10%).detalhou a estrutura de custos relacionados ao Capex, em que a construção da usina leva 70%, a captação e distribuição representam 25% e o estudo de licenças compreende 5%. Ele dividiu o Opex entre fixo e variável, sendo que o maior corresponde a custos de pessoal (75%) na primeira categoria e consumo de energia (65%) na segunda. Por fim, informou que o cronograma do projeto está divido em três etapas. A primeira contempla o planejamento e obtenção de licenças, que tem duração de 18 meses; a segunda ocorre com a construção (24 meses) e, por fim, a operação dura 318 meses, o que perfaz um total de 30 anos de concessão.

Como aponta Diogo Taranto, engenheiro e diretor de negócios do Grupo Opersan, tendo como base o livro “Terra Inabitável”, um aumento de 2°C nas temperaturas mundiais potencializará em 32 vezes a ocorrência de ondas de calor e pode levar mais 400 milhões de pessoas a sofrerem com a escassez de água; uma elevação de 4°C provocará um aumento de 8 milhões de novos casos de dengue na América Latina, crises alimentares por todo o mundo e prejuízos na ordem de 600 trilhões de dólares (maior do que a riqueza atualmente disponível).

Taranto complementa que as mudanças climáticas afetam diretamente o futuro da água no nosso planeta, uma vez que o ciclo da água está diretamente ligado ao clima. As mudanças nos regimes de chuvas, associadas à ocorrência de evento hidrológicos extremos como inundações e secas, além do aumento significativo da demanda por água interferem na oferta de água. No caso do Brasil, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que 94% da região semiárida brasileira está sujeita à desertificação, fato que deve acelerar o êxodo de moradores para outras partes do país, regiões que também estão sendo impactadas pela crise hídrica. “É hora de focar nesse problema, temos as tecnologias, a experiência e toda a comunidade científica pronta para evitar mais uma crise

EspecialistaH2O alerta sobre impacto das mudanças climáticas na disponibilidade hídrica

Ascom ALADYR, Abril de 2022 – As temperaturas mundiais estão subindo! Esse é um alerta repetidamente feito por cientistas e pesquisadores do clima e que, a cada dia, está sendo mais percebido no nosso dia a dia. Segundo estudo feito pela BBC, o número de dias com calor acima de 50ºC no mundo dobrou em 40 anos; conforme levantamento do MapBiomas, o Brasil perdeu 15% da superfície de água nos últimos 30 anos; dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) apontam que cerca de 64 milhões de pessoas no mundo foram obrigadas a se deslocar por conta das mudanças climáticas.

Durante evento promovido pela Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR), Diogo Taranto, diretor de negócios do Grupo Opersan, apontou as consequências das mudanças climáticas no nosso dia a dia e reforçou a importância do reúso como ferramenta de garantia de recursos hídricos.

Alterações no regime das chuvas, tempestades e inundações mais frequentes, ondas de calor, incêndios florestais, desertificação, entre outros, são temas com maior frequência nos noticiários nacionais e internacionais. Estima-se que o planeta Terra está 1,2°C mais quente do que no século 19, o que representa um aumento de 50% na quantidade de CO2 na atmosfera.

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“Hoje se somente os compromissos do Acordo de Paris forem cumpridos chegaremos à 3,2ºC de aumento nas temperaturas mundiais”, destaca Taranto. Segundo glossário da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR), “O aquecimento global é muitas vezes usado como sinônimo de mudanças climáticas, mas isso é impreciso, pois enquanto o primeiro se refere a variações prolongadas nos estados climáticos, o segundo é usado, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, para se referir ao aumento das temperaturas devido à concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Portanto, o aquecimento global é apenas um aspecto da mudança climática.”

46 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O mundial de saúde. A reutilização de águas residuais, a economia circular e a gestão de resíduos são uma solução óbvia para enfrentar o problema na fonte”, destaca o engenheiro. Pouca água, mais contaminantes Outro tema destacado por Taranto é a presença cada vez mais frequente de contaminantes emergentes nos mananciais utilizados para o abastecimento das cidades. Os poluentes ou contaminantes emergentes são substancias potencialmente tóxicas, cujas concentrações no ambiente e implicações no longo prazo ainda não estão completamente mapeadas. Normalmente são oriundos de diferentes processos, estando presentes em compostos de uso industrial, produtos de higiene pessoal, medicamentos, fármacos de uso veterinário, pesticidas, entre outros, e são despejados nos rios através do descarte de esgoto e efluentes, tratados ou Tarantonão. destaca que cerca de 90% dos microplásticos encontrados nos ecossistemas costeiros sejam provenientes da lavagem de roupas sintéticas, a estimativa é que 60% das roupas sejam fabricadas a partir de fibras de plásticos como nylon, acrílico e poliéster. Em cada lavagem, são liberadas microfibras que escapam dos filtros das máquinas de lavar, acabam não sendo retidas nas estações de tratamento de esgoto e chegam os rios utilizados como fonte de captação de Oágua.tratamento convencional biológico e físico-químico, quando realizado de acordo com as boas práticas, é muito eficiente na remoção de patógenos e matéria orgânica; entretanto, para a remoção de poluentes emergentes é necessária a implantação de etapas complementares como, por exemplo, membranas, carvão ativado, carvão biologicamente ativado e processos oxidativos avançados.

Um dos cases de sucesso apresentado por Taranto foi o de uma indústria têxtil, na região de Blumenau (SC), que enfrentava problemas como o alto custo de Opex, dificuldade de atendimento legal e uma operação deficitária. Neste exemplo, o Grupo Opersan projetou e construiu a solução técnica mais apropriada para o tratamento de águas e efluentes com capital próprio, sendo responsável pela operação e manutenção da planta durante o contrato. Além de redução de Opex, com a operação da planta foram alcançados os parâmetros necessários para atendimento legal do efluente descartado e a aplicação da água de reúso em fins sanitários (10%) e processos industriais (90%).

“O reúso de efluente sanitário tratado encaixa com a necessidade de melhorar a disponibilidade hídrica, principalmente no nordeste do país e grandes centros urbanos, e traz oportunidades de sinergia para fortalecer os setores hídricos e de saneamento no Brasil”, destacou Taranto durante sua apresentação no Congresso.

O artigo não é particularmente tendencioso contra a dessalinização, mas a manchete pode apresentar uma ideia negativa no imaginário coletivo.

Reuters Institute Digital News Report 2014 Espanha Reuters Institute Digital News Report 2014: ESPAÑA 21 Universidad de Navarra

De acordo com um estudo realizado pela Reuters em 2014, a leitura de manchetes como, por exemplo, as chamadas das principais páginas de sites, que permitem apenas o conhecimento superficial do momento, é a atividade mais comum entre as práticas de leitura, superando em 58% outras práticas como ler reportagens ou acompanhar crônicas. Essa é uma tendência que se aprofundou com a predominância digital no consumo de notícias. Assim, apesar da existência de estudos que mostram que o impacto da salmoura é mínimo e limitado às áreas próximas das saídas de descarga, o principal desafio da dessalinização acaba sendo o comunicacional.

Este artigo da ÁGUAS Latinoamérica pretende desmontar, um a um e de forma gráfica, os mitos contra a tecnologia que se projeta como essencial para o abastecimento de água em centros urbanos litorâneos em situação de escassez hídrica.

SCHOOL OF

La lectura de titulares por ejemplo, en las páginas principales de los sitios web , que permite conocer la actualidad del momento de forma superficial, es la actividad más común en ocho de los países estudiados, con un 58% (dos puntos más que en España). Un 40% de los usuarios españoles que se informan en internet lee noticias o artículos más largos, una proporción ligeramente inferior a la de Reino Unido (43%), Francia (44%) o Estados Unidos (45%), y cinco puntos por debajo del resultado global en los diez países de la encuesta.

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A maior ameaça para a sua difusão podem ser os mitos midiáticos CENTER FOR INTERNET STUDIES AND DIGITAL LIFE COMMUNICATION

LA AUDIENCIA WEB PREFIERE LOS TITULARES

● Más de la mitad del público ‘online’ español mira portadas; el 40% lee noticias y artículos Los vídeos llegan a un usuario de cada seis

Y PRIORIZA EL TEXTO SOBRE LO MULTIMEDIA

● Un 19% ve al menos una fotogalería por semana; el 12% sigue las crónicas minuto a minuto, y un 11% lee blogs sobre las noticias

Posibilidad de respuesta múltiple (Base: 2.017 usuarios en España)

Dessalinização:H2O

a batalha das manchetes

A evolução da sustentabilidade da dessalinização já está suficientemente argumentada e apoiada por evidências, mas de tempos em tempos a atenção do público se volta para manchetes de notícias que têm o potencial de gerar um viés cognitivo contra a tecnologia Matéria da National Geographic intitulada “Las plantas desalinizadoras producen más salmuera residual de lo pensado” e com texto de apoio: “Os centros do mundo produzem águas residuais em quantidade suficiente para cobrir a Flórida com trinta centímetros de profundidade”.

● Uno de cada ocho internautas consulta noticias en aplicaciones descargadas a su dispositivo: el 10% en móvil y el 5% en tableta El 73% de los usuarios de internet consume información digital en formatos escritos (titulares, noticias o blogs) al menos una vez a la semana. Exactamente un tercio (33%) escucha audios o ve vídeos informativos ‘online’, y en total el 23% mira fotografías o gráficos No hay grandes diferencias por grupos demográficos en el consumo de los distintos formatos de información Piense en la forma en la que ha visto las noticias en línea durante la última semana; ¿de qué formas ha consumido las noticias?

El seguimiento en texto en vivo, minuto a minuto que se emplea habitualmente en muchos medios españoles para noticias de última hora, acontecimientos políticos y eventos deportivos,

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Ambas as publicações, do El País (Espanha) e da Nat Geo, cuja semelhança de título é evidente, baseiam-se no estudo realizado pela Universidade das Nações Unidas, no ano de 2018, intitulado The state of desalination and brine production: A global outlook (O estado da dessalinização e produção de salmoura: uma perspectiva global). A investigação consistiu, nos termos mais básicos, numa contagem das plantas existentes em todo o mundo, das suas capacidades e da quantidade de salmoura que produzem. Ressalta-se que este trabalho não abrange medições de impacto ambiental e que se trata de uma investigação documental e não de campo.

As principais conclusões da pesquisa é que existem 15.906 usinas de dessalinização em operação, com capacidade total de dessalinização de aproximadamente 95,37 milhões de m³/dia e que a produção de salmoura é de 141,5 milhões de m³/dia, 50% a mais do que o estimado anteriormente. O restante do conteúdo é composto por citações de outras pesquisas e suposições.

El País, Janeiro de 2019 El País, Janeiro de 2019 Línea por línea

Domingo Zarzo, Presidente da Associação Espanhola de Dessalinização e Reúso (AEDYR) destaca que: Existem estudos que indicam que no Golfo Pérsico, uma área marinha bastante fechada, rasa e com maior concentração de usinas de dessalinização do mundo, o aumento da salinidade do mar devido a descarga de concentrados das usinas de dessalinização corresponde a menos de 5% do aumento da salinidade devido à evaporação natural da água do mar naquela região. sectorduetothedominanceofhigh-quality(lowsalinity)feedwater sourcesusedforproducingdesalinatedwaterforuseinagriculture sector.

Whilstbrinedisposalintosalinesurfacewaterbodiesraisessome importantenvironmentalconcerns,thisoptionisextremelyeconomical (Arnaletal.,2005).However,thisoptionisoftennotavailableforinland desalinationplants,whichaccountforasmalleryetsignificantproportionofthevolumeofbrinebeingproduced.Almost22millionm3/day ofbrineisproducedatadistanceof N50kmfromthenearestcoastline (Table5).Despitethelargevolumeofbrineproducedinland,veryfew economicallyviableandenvironmentallysoundbrinemanagementoptionsexist(Arnaletal.,2005).BrineproducedinlandposesanimporFig.6. Globaldistributionoflargedesalinationplantsbycapacity,feedwatertypeanddesalinationtechnology.

O que se significa para o mar que a cada ano se produza uma quantidade de salmoura suficiente para cobrir a Flórida ou a Espanha? É tão ruim quanto parece?

Daniel Prats, professor de engenharia química e coordenador de projetos e desenvolvimento do Instituto de Águas e Ciências Ambientais da Universidade de Alicante, na Espanha, explicou em um Fórum da ALADYR que as substâncias do pré-tratamento de osmose reversa não são tóxicas e têm um impacto ambiental muito reduzido.

1351E.Jonesetal./ScienceoftheTotalEnvironment657(2019)1343 1356

Além disso, o especialista detalha que a cada ano o ciclo natural da água retira do mar 44.800 quilômetros cúbicos de água dessalinizada por evaporação e a precipita nos continentes, enquanto toda a capacidade instalada de dessalinização da água do mar chega a 21,9 quilômetros cúbicos por ano. “É evidente que o ciclo natural da água dessaliniza até 2 mil vezes mais do que todas as usinas de dessalinização juntas”, afirma Prats. Em outras palavras: o efeito a longo prazo da dessalinização da água do mar é totalmente insignificante ou irrelevante.

Thegeographicallocationofbrineproductioninfluencestheeconomicandtechnicalviabilityofdifferentmethodsofbrinedisposal (Arnaletal.,2005 ).Desalinationplantslocatedneartheshoreline oftendischargeuntreatedbrinedirectlyintosalinesurfacewaterbodies (e.g.oceans,seas)(Arnaletal.,2005).Asalmosthalfofbrineisproducedwithin1kmofthecoastline,risingtoalmost80%produced

49Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Resumo gráfico dos resultados do estudo The state of desalination and brine production: A global outlook Mito número 1: A salmoura pode tornar o mar muito salgado, causando a morte da fauna.

Mito número

2. Argumenta-se que a descarga de salmoura é um fator determinante no estabelecimento de bancos de “cholgas”, como o que existe atualmente na área de estudo.

Rios

1. A descarga de salmoura favorece o assentamento de espécies, principalmente um banco de “cholgas” (Aulacomya ater), que se desenvolve amplamente nos trechos mais próximos. As variações de salinidade registradas em torno da descarga criariam condições adequadas para a fixação desta espécie.

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3. As faixas costeiras mais distantes da descarga de salmoura mostram a predominância de outra espécie marinha, Pyura preaputialis, embora espécimes jovens de Aulacomya ater também sejam registrados nesses setores, com distribuição descontínua ao longo das 4.secções.Aárea de estudo apresenta uma grande riqueza de espécies, como estrelas-do-mar ou moluscos, em resposta ao banco de “cholgas”.

2: A salmoura é tão tóxica que mata toda a vida marinha ao redor da área de descarga. Uma das manchetes que chamaram a atenção do público recentemente foi com uma declaração do então recém-eleito presidente do Chile, Gabriel Boric, em que assegurava que o principal problema das usinas de dessalinização é que elas geram salmoura e que muitas vezes “eles jogam no mar”, logo isso acaba “afetando de forma importante o fundo do oceano” Fonte: Terram No congresso da Associação Internacional de Dessalinização (IDA), realizado em Tianjin (China), um grupo de profissionais de Antofagasta (Chile) - entre eles o diretor da ALADYR, Patricio Martiz - apresentou um trabalho que mostra, por meio de medições científicas e padronizadas, que o estado da zona de descarga da planta dessalinizadora La Chimba (Chile) não foi afetado em grande medida. De fato, surgiram novas espécies como o Cholga (Aulacomya ater), um tipo de mexilhão, e os indicadores ambientais foram mantidos ou Algumasmelhorados.conclusões

desse estudo:

5. Os setores mais rasos, próximos à costa, apresentam maior riqueza de espécies devido à presença de Pyura preaputialis (“piure”).

CICLO DA ÁGUA CICLO DA DESSALINIZAÇÃO1-Captaçãodaáguadomar

Oceano 4 – Pós-tratamen to 3 – Osmose Reversa 2 – Pré-tratamento Condensação 5 – Salmoura Infiltração Evaporação 6 – Distribuição Precipitação

O ciclo natural da água dessaliniza até 2.000 vezes mais do que todas as usinas de dessalinização em operação juntas

Presidente Boric (Chile) sobre a planta dessalinizadora de Coquimbo: “Teremos que criar soluções que não agravem os problemas”

51Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Zarzo ressalta que existem inúmeros estudos que mostram que o lançamento de concentrado de salmoura no mar, quando feito corretamente, tem impacto ambiental irrelevante ou praticamente indetectável.

Referindo-se às numerosas publicações de especialistas como o Dr. José Luis Sanchez Lizaso, da Universidade de Alicante (Espanha), ou o Dr. Claudio Saez, da Universidade de Playa Ancha (Chile).

Ilustração de um emissário e ecossistema submarinho

Os resultados do monitoramento da demanda de oxigênio, temperatura e condutividade desta experiência são frequentemente expostos em fóruns internacionais, juntamente com vídeos que demonstram como a vida fervilha em torno das tubulações de descarga, onde podem ser encontrados esponjas, mexilhões, cavalos-marinhos e amêijoas, popularmente conhecidos no Brasil como lambreta, berbigão ou sarnambi. Da mesma forma, há evidências semelhantes nas plantas dessalinizadores de ÁGUAS Antofagasta e ÁGUAS CAP, no Chile.

Sobre isso, Ivo Radic, representante da ALADYR no Chile, é categórico “é totalmente falso e no máximo podem estar se referindo ao passado ou a floculantes que são usados no interior e descarregados na forma de lama, mas não no mar. “

Em numerosos fóruns de discussão é possível assistir vídeos da área de descarga desta planta onde cavalos-marinhos, organismos extraordinariamente sensíveis a mudanças na salinidade ou poluição, podem ser vistos em torno da descarga, acrescentou Zarzo.

52 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2OAmãe dos padrões de descarga de salmoura

A usina de dessalinização de Perth, na Austrália, foi uma das mais criticadas pela mídia por ser a primeira usina de grande porte a ser instalada naquele país. Em operação há mais de 16 anos, dessa experiência derivaram vários dos padrões mundiais para descarga de salmoura devido ao seu rigor.

A planta foi construída em uma baía semifechada com apenas 800 metros para dispor tanto a entrada de água do mar quanto a descarga de salmoura, em uma única linha, as autoridades locais colocaram como condições que a variabilidade da salinidade não excedesse 5% na área dos difusores e que tanto a vida da flora quanto a da fauna deveriam se desenvolver ao seu redor para demonstrar que não foi gerada hipóxia ou perda de oxigênio na massa aquática.

Mito número três: a salmoura contém produtos químicos tóxicos

Esta é a maneira pela qual a Fundação Terram do Chile ecoou o estudo da Universidade da ONU. A notícia é a seguinte: cerca de 16 mil usinas de dessalinização no mundo produzem mais resíduos tóxicos do que água potável, de acordo com o primeiro estudo global sobre o assunto. Para cada litro de água obtido do mar ou água salobra, um litro e meio de lama salgada, chamada salmoura, acaba no oceano ou em terra, segundo pesquisa publicada ontem na revista Science of the Total Environment. A salmoura extremamente salgada é ainda mais tóxica, pois é composta de produtos químicos usados no processo de dessalinização, como cobre e cloro. Fonte: Terram A isso pode-se acrescentar que John Burt, biólogo do campus da Universidade de Nova York em Abu Dhabi, consultado pelo NatGeo e que não está relacionado ao estudo, explica que a dessalinização pode causar uma série de consequências ambientais potencialmente prejudiciais.

Miguel Ángel Sanz, diretor de desenvolvimento estratégico da Suez, em evento da ALADYR, lembra que os resultados após tantos anos de operação da planta foram satisfatórios e que em todo o mundo, incluindo Chile e Espanha, os emissários para descarga do concentrado seguem esses parâmetros que foram submetidos a estudos, modelos e monitoramento constante pelas autoridades australianas.

O artigo destaca: “O que mais preocupa Burt são os produtos químicos que são frequentemente encontrados na salmoura. O estudo da UNU aponta o cobre e o cloro como compostos particularmente problemáticos, que eles dizem que são adicionados à água do mar em diferentes estágios do processo de dessalinização para controlar o crescimento bacteriano ou reduzir a corrosão, com muitos terminando na água residual”.

O especialista continua explicando que o cloreto férrico é um floculante que já foi usado para precipitar sólidos em suspensão, mas isso não é mais o caso e que na água que volta ao mar os únicos produtos químicos que podem ser encontrados são os antiincrustantes, que são biodegradáveis e possuem grau alimentar. “O mesmo acontece com a água potável. São produtos inofensivos e usados em baixíssimas concentrações”, diz sobre os Aindaantiincrustantes.sobreeste mito, Domingo Zarzo enfatizou que “Todas essas afirmações são absolutamente falsas. O concentrado das usinas de dessalinização é apenas água do mar concentrada sem compostos adicionais, exceto por concentrações muito pequenas de coagulantes ou Plantas dessalinizadoras geram mais resíduos tóxicos que água

“Os custos de produção da água dessalinizada são muito complexos. Por exemplo, um metro cúbico de água dessalinizada pode custar US$ 0,50 para uma grande usina no Oriente Médio ou pode custar US$ 0,89 para uma similar no México. A principal despesa é a energia”, destacou. No entanto, existem formas de reduzi-la, principalmente se a empresa ou organização promover uma economia circular. De acordo com informações coletadas de prestadores de serviços em vários países da América Latina, Pinto estimou que o preço médio por metro cúbico para uso residencial é de 0,61 dólares. O consumo médio na região é de 6,1 m³ por pessoa por mês, portanto, o custo mensal do fornecimento de água potável proveniente da dessalinização da água do mar seria de 7,4 dólares por pessoa.

“O custo mensal seria o equivalente a comprar cerca de quatro galões de 5 litros de água mineral de uma marca de consumo regular no Brasil”, destaca Pinto, concluindo

A revista dos líderes da água INFO H2O anti-incrustantes, que são compostos utilizados para tratar a água potável e, portanto, não são prejudiciais aos seres humanos ou outros organismos nessas concentrações”.

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Cabe destacar que há cada vez mais exemplos de centrais de dessalinização que são alimentadas por energias renováveis, como a de Perth na Austrália, cujo abastecimento provém de um parque eólico e a osmose inversa adaptou-se bem a estas combinações que incluem também a dessalinização com energia solar, sem Abaterias.Planta Dessalinização de Água de Mar de Atacama (Chile) tem um consumo de energia elétrica de 2,8 kWh por metro cúbico, o que a coloca na vanguarda do desenvolvimento da tecnologia de osmose reversa. Em todo o mundo, a eficiência energética das mais recentes plantas de osmose reversa é superior a 3,1 kWh/m³, isso resulta em um menor custo de operação. Além disso a geração de energia é de fonte limpa, com matriz de energia renovável não convencional (ERNC). Nesse caso, o consumo é semelhante ao citado por Burt, mas questiona-se: quanto de energia considera-se demais para obter água potável? Juan Miguel Pinto, presidente da ALADYR, reitera cada vez que lhe fazem a mesma pergunta: “é preciso contextualizar”.

Mito número 4: a dessalinização da água do mar é muito cara e consome muita energía Outro dos argumentos contra a dessalinização que Burt faz para a NatGeo é a “grande quantidade de combustíveis fósseis que são frequentemente usados para fornecer energias às plantas de dessalinização” e que a osmose reversa consome uma média de 10 a 13 kWh/h de energia para cada mil galões processados.

Por exemplo, um ar condicionado típico de 12.000 BTU para um pequeno quarto ou sala consome 3,52 kWh, mais do que o necessário para dessalinizar um metro cúbico de água; enquanto uma pessoa na América Latina consome em média 6,1 metros cúbicos de água por mês, ou seja, o equivalente ao consumo de eletricidade necessário para manter o ar ligado por quase 7 horas. Indiscutivelmente, se tivesse que escolher, teria que desligar o ar condicionado por uma noite para ter água limpa o mês inteiro. “Da mesma forma, o consumo de energia de uma planta de dessalinização de água do mar necessária para fornecer água a uma família de quatro pessoas, durante um ano, é semelhante ao consumo de sua geladeira”, manifesta Zarzo. Mas e o custo da taxa? Pinto esclarece que as fontes naturais, sejam elas superficiais ou subterrâneas, estão se tornando mais caras porque estão contaminadas ou escassas, enquanto as fontes não convencionais, como o reúso e a dessalinização, estão se tornando mais eficientes e, portanto, mais acessíveis.

54 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O que o abastecimento de água residencial a partir da dessalinização da água do mar é economicamente viável na América Latina a partir dos avanços tecnológicos que permitiu sua otimização.

Zarzo conclui que a água engarrafada custa cerca de 500 vezes mais do que a água dessalinizada. US$ 500/m3 (US$ 0,5/litro) vs. US$ 1/m3 (1.000 litros). Em geral, a população não tem percepção do que é um metro cúbico e por isso acha que a água é muito cara. ENGARRAFADA DESSALINIZADA US$ 500 US$ 1 /m3 /m3

O CUSTO DA ENGARRAFADAÁGUA

Estudos recentes do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas estimam que a população urbana mundial pode crescer 61% até 2050, passando de 3,5 para 6,3 bilhões de pessoas. Em reflexo direto, a demanda por recursos hídricos, considerando os consumos domésticos e industriais, deve aumentar cerca de 1% ao ano durante os próximos 28 anos (UNESCO, 2019). Considerando o cenário brasileiro, a tendência de crescimento também se repete. O relatório Conjuntura de Recursos Hídricos Brasil, que foi publicado em 2021 consolidando dados do ano anterior, estima um aumento de até 42% nas retiradas de água de mananciais nos próximos 20 anos, ou seja, passaremos de 1.947 m³/s para 2.770 m³/s até 2040, representando um incremento de 26 trilhões de litros ao ano extraídos de mananciais. A maior parte dos recursos extraídos são utilizados na irrigação, sendo que no Brasil esse uso representa 50% da retirada total de usos consuntivos, isto é, quando a água retirada é consumida (parcial ou totalmente) no processo a que se destina e não retorna diretamente ao corpo d’água. O abastecimento humano representa 25% da retirada total pelos usos consuntivos, enquanto que a indústria de transformação retira 9%.

Um panorama do cenário hídrico nacional

“Atualmente o Brasil tem capacidade para fornecer 1 m³/s de água de reúso, mas um prognóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2018) aponta que esse número poderia crescer quase 13 vezes no curto e médio prazo (entre 2023 e 2028), alcançando um potencial de reúso de água de efluentes urbanos de 12,81 m³/s.”

55Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Reúso no Brasil: reflexos da crise hídrica e mercado em crescimento

Reúso de água – potencial brasileiro A solução para atender a crescente demanda por água, garantindo o fornecimento adequado para abastecer a população e proporcionar o desenvolvimento econômico, passa por um conjunto de medidas que incluem a redução do consumo, adoção de fontes alternativas de abastecimento e preservação dos mananciais.

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Os dados e previsões para o futuro apontam que o uso de água para irrigação pode crescer entre 15 e 20% nas próximas duas décadas, por outro lado, vemos o prognóstico de redução nas chuvas e vazões de bacias hidrográficas por todo o país. Apenas na Bacia do São Francisco foram observadas reduções das vazões na ordem de 25 a 50% na última década (2010 a 2020). O sinal de alerta já foi dado.

212,6 milhões habitantesde

O Atlas Água, elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), destaca que serão necessários investimentos na ordem de R$ 109,4 bilhões para garantir a segurança hídrica das sedes urbanas brasileiras até 2025, sendo que 57% desse valor deve ser aplicado na produção e 43% na distribuição de água. Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde destaca a importância fundamental do reúso como oportunidade para produção de água com qualidade assegurada. Entretanto, no Brasil, menos de 1% da oferta hídrica vem do reúso de água; enquanto isso em Israel, país que convive com uma escassez hídrica que transformou o seu olhar para a gestão dos recursos naturais, 70% da água utilizada é oriunda do reúso.

ISRAEL

menos de 1% da oferta hídrica vem do reúso de água 9,2 milhões habitantesde

Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O

70% da oferta hídrica vem do reúso de água

BRASIL

“Considerando o cenário de escassez, o reúso de água é fundamental para ampliação da matriz hídrica assegurando, no futuro, o acesso à água para grande parte da população. Inclusive, entre outras opções, o reúso tende a ser mais barato economicamente e, dependendo da região geográfica, pode se apresentar como a única alternativa disponível como fonte constante de água”, destaca Marcelo Bueno, diretor da ALADYR no Brasil.

A revista dos líderes da água INFO H2O Atualmente o Brasil tem capacidade para fornecer 1 m³/s de água de reúso, mas um prognóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2018) aponta que esse número poderia crescer quase 13 vezes no curto e médio prazo (entre 2023 e 2028), alcançando um potencial de reúso de água de efluentes urbanos de 12,81 m³/s. Para isso seriam necessários investimentos na ordem de R$ 1,89 bilhão, entre aquisição de equipamentos e construção da obra, o que representa menos de 2% do valor total estimado pela ANA para garantir a segurança hídrica das sedes urbanas brasileiras até 2025.

57Revista ÁGUAS Latinoamérica |

BILHÕES R$1,89 BILHÃO total de investimentos para garantir a segurança hídrica das sedes urbanas brasilei ras até 2025 investimento necessário para aumentar o potencial de reúso de água para 12,81 m³/s – REPRESENTA MENOS DE 2% DO VALOR TOTAL ESTIMADO PELA ANA

R$109,4

Investimentos necessários na ordem de R$ 1,89 bilhão (aquisição de equipamentos e construção da obra)

58 A Matriz de Insumo-Produto (MIP) demonstrou que estes investimentos resultariam em uma expansão da produção nacional (valor agregado) da ordem de quase R$ 6,0 bilhões, além da geração de quase 96 mil de empregos e R$ 999,74 milhões em massa salarial. Cerca R$ 464 milhões seriam gerados em arrecadação de impostos, sendo R$ 36,17 milhões de IPI (imposto federal) e quase R$ 237 milhões de ICMS (imposto estadual), os resultados seriam obtidos ao longo da implementação do projeto até a última etapa de execução. Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Também é preciso mencionar os efeitos positivos para o meio ambiente, uma vez que dados do SNIS coletados em 2020 mostram que 55% da população brasileira tinha acesso à rede de coleta de esgoto, sendo que apenas metade do esgoto coletado é tratado, o que significa um comprometimento direto da qualidade dos mananciais utilizados para o abastecimento público. O investimento no tratamento de esgoto e na sua destinação para reúso reflete diretamente na preservação e proteção dos mananciais. 2023 2024 2025 2026 2027 2028

Brasil aumentarpodeo potencial de reúso de água de efluentes urbanos de 12,81 m³/s

O incentivo e desenvolvimento de soluções sustentáveis como o reúso de água precisam figurar entre as prioridades das políticas públicas de Estado para garantir a segurança hídrica e, neste sentido, a ALADYR coloca à disposição dos setores público e privado a expertise de sua equipe interdisciplinar.

Para cada 1 litro de cerveja produzida caiu de 5,36 litros para 2,4 litros de água consumida, um índice que é referência mundial na indústria de bebidas.

59Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O

Iniciativas nesse sentido tem surgido em diversas partes do país, com é o caso do projeto pioneiro no reúso de esgoto doméstico tratado para fins industriais, o AQUAPOLO, uma parceria entre a GS Inima Industrial e a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), considerado o maior empreendimento para a produção de água de reúso na América do Sul e um dos maiores do mundo, com capacidade para tratar até O1m³/s.reúso também expandiu na área de privada, com a construção de plantas voltadas para atendimento a unidades fabris. Neste ponto se destaca a AMBEV, gigante do setor de bebidas, que, por meio de melhorias operacionais e investimentos em equipamentos mais tecnológicos de reúso, conseguiu reduzir em 55% o consumo de água em suas plantas nos últimos 18 anos.

A Cetrel completa 44 anos e amplia atuação fora do Polo Industrial de Camaçari, oferecendo serviços on-site para clientes de todo o país. Neste ano a Cetrel completa 44 anos de atuação mostrando que o estado da Bahia além de berço do nascimento do Brasil, também é celeiro de inovações e soluções na área ambiental. A empresa possui mais de 200 clientes ativos, em diferentes municípios das regiões norte, nordeste, sudeste e sul, entre eles grandes players do setor industrial brasileiro como Braskem, Basf, Unigel, Bayer, Bracell, Ambev, Petrobras, Bridgestone, Continental, entre outros. Cerca de 80 clientes são atendidos initerruptamente com fornecimento de água industrial, serviços de tratamento de efluentes e destinação de resíduos no Polo Industrial de Camaçari – Bahia. A empresa também oferece um portfólio amplo de soluções que incluem o gerenciamento de áreas contaminadas, monitoramento ambiental e consultoria em águas e efluentes, além dos recentes projetos de Digital Center & Innovation.

Estação de tratamento de Efluentes da Cetrel no Polo Industrial de Camaçari

Estamos olhando para o cenário hídrico do país e identificando oportunidades importantes, voltadas para os mercados de águas e efluentes, sobretudo no que se refere às tendências de reúso de água”, destaca Ivan Sant Anna, diretor comercial da companhia. Suas operações foram iniciadas em 1978, pensadas inicialmente para atender às necessidades do Polo Industrial de Camaçari, o primeiro complexo petroquímico planejado do país e maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, em um momento que as preocupações ambientais ainda não faziam parte do planejamento estratégico das grandes corporações.

Ivan Sant Anna, diretor comercial de Cetrel.

“A Cetrel já nasce com o DNA da sustentabilidade desde a sua fundação, quando foram concebidos os sistemas integrados (efluentes e resíduos) para atender o Polo

SustentabilidadeH2O e Inovação no DNA

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“Com mais de quatro décadas de experiência, a Cetrel parte para um novo ciclo focado em oferecer soluções ambientais customizadas para além do Polo de Camaçari.

Grandes investidores querem estar associados às empresas com essa visão”, afirma Fontoura. Águas e efluentes Oferecendo soluções on-site e off-site, a Cetrel trabalha com modelos de negócio de operação e manutenção de unidades de fornecimento de água, tratamento de esgoto e reúso, através de projetos integrados em formatos BOT (Build, Operate & Transfer), AOT (Acquire, Operate & Transfer), DBOT (Design, Build, Operate & Transfer) e BOO (Build, Operate & Own), além de realizar a aquisição, reforma/ ampliação e operação dos ativos de utilidades dos clientes. Em sua nova fase, a empresa está ampliando horizontes para além do setor industrial, “queremos atuar em um nicho de mercado que ainda carece de soluções lastreadas em tecnologia e investimentos que são indústrias de médio e grande porte, além dos grandes consumidores comerciais, tais como shoppings centers, hospitais, universidades e instituições de ensino, que tenham um grande consumo de água”, como destaca Ricardo Popov, gerente comercial de Água e Efluentes da ApenasCetrel. em 2021, a Cetrel distribuiu mais de 33 milhões de metros cúbicos de água para a indústria, em diferentes especificações, seja clarificada, desmineralizada ou potável, com o objetivo de atender as necessidades de cada cliente. A empresa opera fontes superficiais e subterrâneas, além de desenvolver consultoria e projetos de abastecimento de água,

61Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O Eduardo Fontoura, gerente de relações institucionais da Cetrel. Ricardo Popov, gerente comercial de águas e águas residuais da Cetrel Industrial de Camaçari, desde então buscamos sempre oferecer aos clientes soluções inovadoras que venham a agregar valor aos seus processos produtivos”, destaca Eduardo Fontoura, gerente de Relações Institucionais e funcionário da empresa há mais de 27 anos. À medida que o Polo se desenvolvia, a Cetrel aumentava seu escopo de atuação e buscava novas soluções para atender ao mercado, assim surgiram os serviços de incineração de resíduos, o programa de recursos hídricos e monitoramento do ar, além da consultoria ambiental. E a expansão dos negócios ganhou ainda mais fôlego à medida que se ampliaram as discussões em torno das questões de ESG (Ambiental, Social e Governança), cada vez mais essenciais para a competividade do setor industrial e atração de investidores. Neste ano, a empresa definiu seu foco na gestão hídrica e gerenciamento de áreas contaminadas.

“É importante trazer inovações tecnológicas com cada vez menos impacto ambiental, visando menor consumo energético, melhor utilização dos recursos naturais e economia circular, assim a oferta de soluções aos nossos clientes precisa necessariamente estar incorporada com os conceitos de ESG. Esse é um caminho sem retorno, o que a sociedade busca das empresas é sempre um passo à frente, rumo a um conceito de desenvolvimento sustentável, unindo as componentes social, ambiental e econômica, além do fortalecimento da governança.

Monitoramento Ambiental Além da ampla experiência na área de águas e efluentes, desde 1994 a Cetrel realiza importantes serviços nas áreas de monitoramento de recursos hídricos, oceanográfico e da qualidade do ar. Apenas em 2021 foram coletadas 3.650 amostras e realizados mais de 170 mil ensaios laboratoriais.

“Oferecemos serviços na forma integral, desde a parte de consultoria, estruturação de projeto, concepção, projeto detalhado, construção e operação, seja no segmento de soluções para água, efluentes, reúso ou mesmo de dessalinização. Independente da necessidade ou qualidade de água, afinal temos experiência com água desmineralizada, clarificada ou potável. A ideia é promover a melhor solução que faça sentido para o cliente”, explica Popov. No tratamento de efluentes, mais de 28 milhões de metros cúbicos de efluentes foram tratados e dispostos adequadamente no último ano. A Estação de Tratamento de Esgoto que atende ao Polo Industrial de Camaçari tem capacidade para tratar 6.200 metros cúbicos por hora, com remoção de 360 toneladas por dia de DQO e 120 toneladas por dia de DBO. “Já estamos atuando forte na área de consultoria e queremos ampliar a área de operação para além dos clientes do Polo de Camaçari, estamos desenvolvendo mercado em outras regiões do país. A aposta que nós estamos fazendo é mais do que nas tecnologias, é oferecer formatos de modelagens financeiras e de contratação. Não queremos só fazer um trabalho de diagnóstico e construir ou fazer o controle de uma estação, queremos estabelecer contratos de operação contínua, de longo prazo, com capacidade de investimento por parte da Cetrel e que traga garantia de segurança hídrica para os nossos clientes”, detalha Popov.

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A revista dos líderes da água INFO H2O tratamento de efluentes, reúso e dessalinização, aplicando tecnologias de clarificação e filtração, sistemas oxidativos, troca iônica e abrandamento, além de ultrafiltração e osmose reversa.

“Já estamos atuando forte na área de consultoria e queremos ampliar a área de operação para além dos clientes do Polo de Camaçari, estamos desenvolvendo mercado em outras regiões do país. A aposta que nós estamos fazendo é mais do que nas tecnologias, é oferecer formatos de modelagens financeiras e de contratação. Não queremos só fazer um trabalho de diagnóstico e construir ou fazer o controle de uma estação, queremos estabelecer contratos de operação contínua, de longo prazo, com capacidade de investimento por parte da Cetrel e que traga garantia de segurança hídrica para os nossos clientes”, detalha Popov.

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO EM CAMAÇARI CAPACIDADE6200m3/h + 28 MILHÕES de m3 em 2021 360 PORTONELADASDIA 120 PORTONELADASDIA DQO DBO CAPTAÇÃO TRATAMENTO ARMAZENAMENTO DISTRIBUIÇÃO USO REÚSOCOLETA EFLUENTESDE DETRATAMENTOEFLUENTES

3D ambiental, aplicativos e dispositivos de coleta de dados, além de plantas digitais que possibilitam a gestão total dos dados ambientais.

De olho no futuro Algo que fica claro em todas as declarações e movimentos da Cetrel é a sua preocupação com a atualização e disponibilização de novas tecnologias, para isso a empresa criou uma área designada Digital Center & Innovation, que tem como objetivo unir o que há de mais moderno nas ferramentas tecnológicas e tecnologia da informação com um conhecimento técnico aprofundado das questões ambientais para compreender, interpretar e apresentar informações efetivas para a tomada de decisão no gerenciamento ambiental. São plataformas de gestão de dados com dashboards interativos, modelagens

63Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O A empresa realiza campanhas periódicas de monitoramento na região de influência do seu emissário oceanográfico, localizado em Arembepe, onde são avaliados aspectos químicos, físico-químicos, sedimentológicos, biológicos e de oceanografia física (correntes marítimas e ventos); também são realizados acompanhamentos na região do Porto de Aratu e na Enseada de Tainheiros, ambos na Baía de Todos os Santos, sem contar a experiência acumulada em projetos nos estados de Alagoas e Rio de Janeiro e, recentemente, a empresa iniciou o monitoramento em Sergipe.

Um dos exemplos apresentados por Iost é a ferramenta Environmental Digital Twin (ou na tradução diretagêmeos digitais ambientais), que utiliza informações das bases de dados da Cetrel para trazer para um ambiente digital a representação virtual dos ativos industriais bem como as características ambientais das nossas operações e clientes, possibilitando a avaliação em tempo real, e de forma amigável as informações técnicas dos projetos, tal como gráficos, mapas, ativos construídos e simulações das condições ambientais. “Nosso objetivo é garantir que o cliente tenha um ótimo atendimento ambiental e soluções de gestão de dados ambientais à sua disposição que o apoiem na tomada de decisões, trazendo temas que muitas vezes são tecnicamente complexos de forma mais simples”, detalha Iost.

Na área de remediação, a Cetrel trabalha com sistemas físicos (MPE, SVE, DPE, P&T), barreiras de contenção física e reativa, oxidação e redução química, remediação térmica, eletrocinese, biorremediação, entre outras tecnologias.

Na área de monitoramento da qualidade do ar, a Cetrel é responsável pela concepção, implantação, operação e manutenção da Rede de Monitoramento do Ar e Meteorologia do Polo Industrial de Camaçari, em operação há mais de 30 anos. O monitoramento do ar engloba análise de poluentes atmosféricos, condições meteorológicas, acompanhamento de compostos orgânicos voláteis e análise de metais em filtros de particulado, com estações interligadas por um sistema de telemetria, disponibilizando os dados de forma on-line e em tempo real. A empresa também opera a rede de qualidade do ar do Porto de Aratu e está retomando o contrato para reativação da rede de Salvador, capital do estado da Bahia. “Somos referência na área de engenharia ambiental e, aproveitando toda a expertise desenvolvida para atender o Polo Petroquímico de Camaçari, estamos expandindo para outras regiões do país. Além da região nordeste, atuamos também no gerenciamento de áreas contaminadas nas regiões sul e sudeste, oferecendo diagnóstico, investigação, avaliação de risco e remediação de áreas. Cerca de 1/3 do nosso quadro de funcionários está dedicado a esta atividade, somos uma das empresas mais estruturadas para atuar neste segmento em todas as regiões do país e com tendência de forte crescimento”, destaca Fontoura.

“Nossos clientes possuem milhões de amostras de solo, do ar e da água, mas precisam efetivamente saber quais estão atendendo aos padrões estabelecidos. Explorando as competências técnicas da equipe Cetrel, temos ferramentas que com poucos cliques possibilitamos ao cliente avaliar as condições ambientais da sua empresa”, explica Calvin Iost, líder da área.

Calvin Iost, chefe de área de Cetrel

64 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O A empresa propõe o uso da Internet das Coisas (IoT) para a checagem e monitoramento das operações industriais, oferecendo informações conectadas em tempo real, acompanhadas de parâmetros que facilitam a operação e monitoramento.

Um exemplo é a ferramenta SmartWater, em fase de protótipo, um dispositivo inteligente de coleta de dados através de sensores inteligentes e compactos que pode ser instalado em reservatórios, lago, rio, tubulações e poços, permitindo a transmissão em tempo real para a tomada de decisões baseadas em dados.

“Estamos empregando toda a expertise acumulada por nossos técnicos para promover soluções nas áreas de água, efluentes, monitoramento ambiental e digital customizadas para os nossos clientes”, finaliza o diretor comercial da empresa, Ivan Sant Anna.

propõe políticas de incentivo para Dessalinização e Reúso de água no Brasil Em encontro com representantes do Ministério de Desenvolvimento Regional, a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) apresentou uma carta com diversas propostas para o incentivo ao desenvolvimento de novos projetos de Dessalinização e Reúso de água no país.

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ALADYRH2O

“Queremos abrir o diálogo, precisamos unir as empresas, os governos, as instituições de ensino e pesquisa, além da sociedade civil numa ampla discussão para pensar o futuro da água no nosso país. Promover o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, preservando os nossos recursos hídricos e garantindo o abastecimento de toda a população, passa necessariamente pelo incentivo e regulamentação da dessalinização e do reúso de água como alternativas para o aumento da oferta de recursos hídricos”, ponderou o representante da ALADYR.

Eduardo Pedroza (esquerda), representante da ALADYR no Brasil, entrega carta para Sérgio Luiz Soares de Souza Costa (direita), Secretário Nacional de Segurança Hídrica do MDR

Ascom ALADYR – Na semana em que celebramos o Dia do Meio Ambiente, membros da Associação LatinoAmericana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) estiveram reunidos nesta segunda-feira (06/06) com representantes do Ministério de Desenvolvimento (MDR) para entregar uma carta com propostas para o incentivo ao desenvolvimento de novos projetos de Dessalinização e Reúso de água no Brasil. Sérgio Luiz Soares de Souza Costa, Secretário Nacional de Segurança Hídrica do MDR, representou o Ministério na reunião e recebeu o documento das mãos de Eduardo Pedroza, químico industrial e representante da ALADYR no Brasil. O secretário manifestou o interesse do MDR nos temas destacados na carta, alguns deles já alinhados com as propostas desenvolvidas pela pasta como é o caso do Projeto Água Doce, que promove soluções descentralizadas de dessalinização atendendo comunidades da região do semiárido nordestino. “O Ministério sempre esteve aberto a estreitar o diálogo técnico em busca de alternativas que possam complementar o abastecimento com água potável e promover o desenvolvimento socioeconômico e nós da ALADYR acreditamos que a dessalinização de água do mar ou salobra e o reúso de águas residuais podem contribuir significativamente nesse cenário”, destaca EntrePedroza.as diversas sugestões, a Associação ressalta pontos como a promoção de uma política de benefícios fiscais na operação e compra de máquinas, insumos e membranas para a dessalinização e o reúso, sobretudo nas regiões de escassez hídrica; enquadramento fiscal da dessalinização e do reúso em condições similares ao saneamento ambiental; a discussão da recarga de mananciais (reúso potável indireto) no âmbito da regulamentação legal e seu enquadramento como Compensação Ambiental; além de outros pontos ligados a segurança jurídica e parâmetros de qualidade da água de reúso.

Além da ALADYR, também participaram do painel Wilson Melo, diretor de Revitalização de Bacias Hidrográficas do MDR; Vitor Saback, diretor da ANA; Gesner José de Oliveira Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ SP) e coordenador do Centro de Estudos da Infraestrutura e Soluções Ambientais (EAESP/FGV) e sócio executivo da empresa de consultoria GO Associados; e Rogério de Paula Tavares, vice-presidente de Relações Institucionais Aegea Saneamento.

Seminário Segurança Hídrica para a Indústria Ainda na agenda da Semana do Meio Ambiente, a ALADYR esteve presente no Seminário “Segurança Hídrica para a Indústria”, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e que teve como objetivo discutir questões estratégicas que envolvem a disponibilidade de água e o desenvolvimento socioeconômico do país.

Durante o Painel “Agenda Nacional da Água”, Pedroza apresentou dados e informações relevantes que evidenciam o potencial do reúso e da dessalinização como soluções para aumentar a oferta hídrica para o setor industrial, agrícola, recarga de mananciais e também para abastecimento da população. O representante da ALADYR destacou a evolução das tecnologias de dessalinização e, consequentemente, a redução no custo de produção de água dessalinizada, que pode chegar a menos de 1 dólar por litro. “O valor da água não está na sua origem, mas sim em sua disponibilidade e, sobretudo, na sua qualidade, não importa se ela vem do mar ou a partir do tratamento das águas residuais. Por isso o reúso e a dessalinização têm um papel fundamental na segurança hídrica do Brasil, precisamos discutir as novas tecnologias e também incentivos para o desenvolvimento de projetos desse tipo no país”, afirmou Pedroza.

Sobre a ALADYR A ALADYR é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a discussão e o desenvolvimento de tecnologias e projetos de Dessalinização e Reúso como alternativas sustentáveis para a segurança hídrica.

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Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água INFO H2O

Fundada em 30 de novembro de 2010, no Chile, a ALADYR conta com mais de 800 sócios, incluindo Pessoas Físicas, Empresas, Associações, Universidades e Instituições de Ensino, situados em diferentes países da América Latina.

As obras começaram a ser executadas em 2 de janeiro de 2018 e a unidade foi inaugurada pelo então presidente do Chile, Sebastián Piñera, em 12 de janeiro de 2022. Esta é a maior planta de dessalinização de água do mar construída no país para consumo humano e beneficiará mais de 210 mil pessoas nas cidades de Chañaral, Caldera, Copiapó e Tierra Amarilla, onde hoje há uma deterioração dos aquíferos e consequente crise hídrica.

Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PlantaPLANTAS de Dessalinização de Água do Atacama A mais moderna e eficiente da região Vista aérea da PDAM Atacama

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A recém inaugurada Planta de Dessalinização de Água do Atacama, que já havia sido premiada como “Melhor projeto de dessalinização, reúso e/ou tratamento de água e efluentes” em 2018 pela ALADYR, representa um novo padrão em eficiência e fornecimento energético a partir de energias renováveis. Segundo Patricio Mártiz, diretor da ALADYR, o fato de ser capaz de produzir um metro cúbico de água potável com menos de 2,8 kWh a coloca em uma posição privilegiada entre as plantas mais avançadas do mundo. Outra particularidade que se destaca é que esta é a primeira planta dessalinizadora do Chile cuja construção foi financiada pelo setor público em sua primeira fase e isso implica uma clara intenção do Estado de promover políticas de dessalinização em áreas com problemas de autofinanciamento devido a tarifas.

68 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PLANTAS 1. Captação de água do mar4. Pós-tratamento 3. Osmose Reversa 3.1. Membranas 3.2. Recuperadores de Energia 3.3. Outros fornecedores envolvidos 2. Pré-tratamento 5. Salmoura 6. Distribuição proceso:BombasUF: Cajas presión:de mariposa:Válvulas DepósitosPRV:VálvulasMacho: Sala de membranas

Tipo e marca dos equipamentos de bombeamento: Flowserve Tipo e marca de Membranas: LG Marca de químicos usados: Em operação desde: 2021 Usuário nal: Nueva Atacama

Nome da Planta: PDAM Atacama Econssa Chile

Empresa encargada da Construção: GS Inima Environment

Tipo de contratação: EPC (Engineering Procurement Construc�on)

Sistema de automatização: ABB

Localização: Caldera, III Región, Chile Tipo de planta: Dessalinizadora de água de mar

Certi cações ambientais: Consumo específico garan�do de 2,8 kw/m³ Medi ção da pegada hídrica ou energética: Fonte de energia é 100% renovável, eólica e solar

Características e speciais: Recuperação de energia, obras de captação e descarga por túnel submarino, conversão >45%, reu�lização de salmoura para lavagem de módulos UF antes da disposição final

Empresa encargada da Operação: Primeiros 2 anos + 1 opcional GS Inima Environment

Tecnologi as presentes no processo: UF, OI, recuperação de energia, Capacidade de produção: 1200 l/s nas 3 fases (primeira fase 450 l/s, segunda 900 l/s, terceira 1200 l/s)

Quantidade de pessoas bene ciadas: 210 mil

69Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PLANTAS Item

Com base nos modelos referenciados pelo IPCC (5), este acúmulo adicional de CO2 na atmosfera, aumenta a retenção de calor, em razão do efeito estufa , em consequência a projeção é que entre 1990 e 2100 ocorra um crescimento na temperatura média global em 1,4 – 5,8 °C. Gerando relevantes consequências como o aumento do nível do mar, mudanças nas quantidades e padrões de precipitação, eventos climáticos extremos, como enchentes, secas, ondas de calor e furacões. Com fortes impactos na agricultura, aumento da acidificação dos oceanos e impactos na biota.

Figura 1: Índice global de temperatura terra-oceano. Fonte: GISS da NASA.

Hidrogênio Verde. E o papel do Reúso e da Dessalinização

Por: Eduardo Pedroza, Alejandro Sturniolo e Marcio José. Água e energia o desafio global Em uma avaliação histórica do consumo mundial de energia, observa-se um crescimento muito relevante no século XX. Enquanto a população mundial cresceu aproximadamente 6 vezes, o consumo de energia avançou 80 vezes (1). Uma clara evidência de desenvolvimento econômico e maior aumento do consumo per capita de Comenergia.base nos dados atuais a geração de energia no mundo, superamos o patamar anual de 617 EJ para uma população de aproximadamente 7,8 bilhões (2 e 3), logo um consumo diário per capita médio de 60 kWh/pessoa/ dia. Aos quais mais de 80% desta geração de energia está associada ao uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) e boa parte do consumo associada ao uso de veículos automotivos. De acordo com levantamento e publicações de várias fontes (4 e 1), o consumo de combustíveis fósseis aliado ao desmatamento são responsáveis atualmente pela liberação de cerca de 7×1012 kg/ano de CO2 para a atmosfera. Enquanto os mecanismos de remoção natural do CO2 atmosférico, a fotossíntese e a dissolução nos oceanos, são responsáveis pela retenção de cerca de 4×1012 kg/ano. Um aumento líquido de 3×1012 kg CO2/ ano. O que corresponde um aumento anual de 0,4% da concentração de CO2 na atmosfera.

70 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO

AS OPORTUNIDADES NA AMÉRICA LATINA NO DESAFIO GLOBAL DE ÁGUA E ENERGIA.

Um desafio de adequação da infraestrutura de saneamento (suprimento de água, tratamento de esgoto e drenagem de água), sobretudo diante do crescimento populacional e da concentração urbana. Bem como, um desafio econômico pela relevância da água na economia em geral, seja nas atividades industriais, na produção de alimentos, como na própria relação intrínseca da água Vale destacar que grandes economias possuem sua matriz energética com a participação relevante de hidroelétricas, com reservatórios impactados pela regularidade de chuvas. E se a opção for migrar exclusivamente para termoelétricas com usos combustíveis fosseis teremos consequentemente mais emissões de CO2.

Nesse cenário, a geração de energia neutra em carbono avançou globalmente (eólica, fotovoltaica, biomassa). Contudo, é necessário acelerar este progresso. Em razão dos impactos crescentes das mudanças climáticas, e sobretudo agora com os conflitos geopolíticos da guerra entre Rússia e Ucrânia que agravam o fornecimento de gás e petróleo principalmente para a Europa.

Hidrogênio Verde Diante da relação intrínseca da economia com energia e água, e os desafios impostos pelas mudanças climáticas e conflitos geopolíticos recentes, o desenvolvimento tecnológico de fontes de energia neutras na emissão de carbono, e substitutivas aos combustíveis provenientes da Rússia, bem como soluções tecnológicas de infraestrutura hídrica adequadas às exigências atuais e competitivas, estão e estarão no cerne das prioridades globais por um bom tempo. Sendo neste contexto que cresce a atenção para soluções como o uso de hidrogênio.

Evidente que as mudanças climáticas impactam sobretudo no ciclo da água, seja com grandes secas ou com inundações. Interferindo nas estratégias e infraestruturas hídricas e urbanísticas existentes, assim como devem direcionar novas exigências para futuros projetos.

71Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO

Figura 2: Encostas do vulcão Villarica no Chile 2018 e 2022. Fonte: Nasa (6) Figura 3: O Lago Aculeo, no centro do Chile, 2014 e 2019. Fonte: Nasa (7) As imagens comparam fotos tiradas em 13 de janeiro de 2018 e 8 de janeiro de 2022. De acordo com René Garreaud (6), cientista da Universidade do Chile, a escassa cobertura de neve no verão de 2022 estar atribuída à falta de tempestades em 2021 seguindo a tendência de seca na região na última década. Essas imagens contrastam uma foto do lago em 2014, quando ainda continha água substancial, e 2019, quando apresentava apenas lama e vegetação. O declínio do lago deve-se a uma seca incomum ao longo da última década, juntamente com o aumento do consumo de água crescente da população.

Apesar de bastante enérgico (equivalente a 2,75 kg de gasolina), há o desafio de compreensão (a energia de um litro de hidrogênio equivale à energia de 0,27 litro de gasolina), sendo um gás bastante leve, o que traz desafios econômicos de armazenamento principalmente para aplicações em rotas de combustão tradicional, contudo sua aplicação ganha outra perspectiva bastante promissora quando a geração de energia elétrica ocorre a partir de células combustíveis, reduzindo consideravelmente a demanda de armazenamento. Aplicação promissora para o uso em veículos automotivos elétricos. Sendo uma opção de rápido abastecimento e vantagens logísticas quando comparado a carros elétricos com baterias de lítio.

Os primeiros registros da descoberta do hidrogênio vêm de 1766, quando Henry Cavendish detectou um gás leve que, quando queimado no ar, se transformava em água. Em 1787, Antoine Lavoisier chamou esse novo gás de “hidrogênio” (8). Não muito tempo depois, os cientistas descobriram que, ao adicionar eletricidade à água, o hidrogênio pode ser produzido pela reação inversa, processo denominado de eletrólise. Hoje, o hidrogênio é usado como matéria-prima para síntese química, mas outras aplicações se tornaram realidade, incluindo armazenamento de energia e combustíveis para transporte. Se o hidrogênio for gerado a partir de eletricidade renovável (Hidrogênio Verde), não emitindo gases de efeito estufa, poderá ter um papel protagonista no contexto atual de transição energética. A eletrólise da água à temperatura e pressão ambiente requer uma tensão mínima de 1,481 V e, portanto, um mínimo energia de 39,7 kWh/kg hidrogênio. Em grande escala sistemas eletrolisadores alcalinos há o consumo de aproximadamente 47 kWh/ kg de hidrogênio e trabalham a 90◦C, ou seja, a eficiência é de aproximadamente 82% (8). Lembrando que 1kg de hidrogênio libera na queima O121kJ/g.destaque do hidrogênio no contexto de transição de energética deve-se a vários fatores: O hidrogênio pode ser produzido a partir de várias fontes de energia, renováveis ou não, sendo um modo de armazenamento de energia na forma de gás. Versatilidade importante para o contexto de transição energética. Por exemplo, a produção a partir da reforma a vapor e oxidação do metano, reforma do gás natural, energia nuclear, ou mesmo com uso de energia solar ou eólica.

Em destaque entre as vantagens, consiste na geração de energia sem emissões de CO2 - hidrogênio verde (produção associada a fontes eólicas e solar), ou com saldo zero de emissões (biomassa/etanol/biogás, ou com uso de combustíveis fosseis, porém com a captura e armazenamento CO2), o denominado hidrogênio azul.

Associado ao benefício de geração de energia neutra em emissões de carbono e a sua versatilidade em aplicações diversas, seja na alimentação de células combustíveis, ou em processos de combustão, o Hidrogênio Verde torna-se uma opção ampla de grande interesse do setor industrial. Tendência crescente de projetos com uso de hidrogênio em setores siderúrgicos, petroquímicos, celulose e em especial para a produção de amônia verde (fertilizante). Inclusive sendo a rota de amônia verde bastante atrativa no mercado internacional, seja pela demanda do fertilizante para produção de alimentos, seja pela facilidade de distribuição em comparação com o hidrogênio.

72 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO

Etapa importante do desenvolvimento do uso do hidrogênio como fonte de energia passa pelas inovações tecnológicas no desenvolvimento de células a combustível, uma tecnologia que utiliza a combinação química dos gases hidrogênio e oxigênio para gerar energia elétrica e moléculas de água.

Cabe destacar que a adição de um processo de dessalinização de água do mar, ou reúso de água, certamente aumentará a necessidade energética na análise do ciclo total de produção de hidrogênio eletrolítico. No entanto este acréscimo de energia no tratamento de água não se revela significativo a priori, conforme destacado por BESWICK, R., et al. (8). Analisando um cenário mais conservador em custo energético (Reúso ou Dessalinização) trazemos uma análise simplificada da opção de dessalinização de água do mar. Considerando, em geral, que nesse processo, via tecnologia de Osmose Reversa (OR), a energia requerida está na ordem de 3,5 kWh por m³ de água dessalinizada. Assim, considerando uma demanda global de 2,3 Gt de hidrogênio o equivalente requerido em energia para dessalinização de água do mar extra de 0,26 EJ de energia (8). Ou seja, menos de 0,04% da demanda global.

Existem vários tipos de células de hidrogênio, convencionalmente classificadas com o tipo de eletrólito utilizado.

4:

Figura Representação de uma célula combustível.

PEMFC (Proton-exchange membrane fuel cells) usa como eletrólito uma membrana polimérica sólida condutora de prótons.

73Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO

Em todos os contextos um pré-requisito será sempre primordial: a água. A matéria prima do hidrogênio, além do uso diverso que pode ser exigido ao longo da cadeia produtiva do hidrogênio, como por exemplo refrigeração (consumo variável em função das rotas escolhidas). A necessidade de água não se limita apenas aos aspectos quantitativos de uso como matéria prima, ou em suas aplicações múltiplas no processo, mas fundamentalmente pela exigência de grande qualidade no processo de eletrólise. Demandando uma atenção relevante nas rotas tecnológicas de tratamento de água para produção de Assim,Hidrogênio.qualquer análise de viabilidade técnica e econômica da produção de Hidrogênio passa pelas perguntas a seguir. Há água suficiente para produzirmos uma solução energética global a base de hidrogênio? As tecnologias de tratamento são adequadas e competitivas para essa opção? Assim surge também a reflexão qual o papel de tecnologias de reúso de água, ou dessalinização de água do mar na produção de hidrogênio? Essas fontes alternativas de água podem ser uma opção economicamente viável e sustentável?

O papel do Reúso e da Dessalinização Evidente que o papel sustentável do Hidrogênio Verde passa pela escolha da fonte de água utilizada no processo de eletrólise (por estequiometria 1kg H2 exige 9 kg de água). Não haverá sustentabilidade se a fonte de água apresentar implicações de disputa de disponibilidade com a população ou restrições ambientais.

Assim o uso de fontes alternativas (reúso e dessalinização de água do mar) despontam como opção para o suprimento de água na produção de Hidrogênio.

- MCFC (Molten-carbonate fuel cells) célula de carbonato fundido, usa como eletrólito carbonato de potássio ou lítio. Trabalha em altas temperaturas 600°C desenvolvidas para o uso de gás natural ou biogás.

Dentre essas opções um grande interesse se especial está nas células PEMFC, em razão de trabalharem com elevada potência e operarem a baixa temperatura.

PAFC (Phosphoric acid fuel cells) usa o ácido fosfórico como eletrólito.

A célula combustível a hidrogênio consiste em uma tecnologia que se beneficia da combinação química dos gases hidrogênio e oxigênio para gerar energia elétrica e moléculas de água.

SOFC (solid oxide fuel cell) uso como eletrólito uma membrana cerâmica.

AFC (Alcaline Fuel Cell) usa uma solução de hidróxido de potássio e água.

Do ponto de vista econômico, a dessalinização por RO adicionaria um custo de energia de US$ 0,53–1,50 por m3 de água. O que não acrescentaria mais do que US$ 0,01 ao custo de produção de hidrogênio por kg. Isso está de acordo com uma análise de Khan et al apud BESWICK, R., et al. (8). Destacando que a dessalinização representaria 0,1% da necessidade de energia da eletrólise e adicionaria US$ 0,02 ao custo do hidrogênio por kg. Portanto, mesmo com o uso de processos de dessalinização integrados à produção de hidrogênio, o custo estimado de US$ 2,00 por kg ainda estaria ao alcance. Principalmente se acoplado ao reúso de água, que apresenta menor custo energético.

Também vale destacar sinergias do processo de eletrólise com o reúso de água a partir de esgotos sanitário: O oxigênio produzido na eletrólise poderá ser aproveitado no processo de tratamento de esgoto Potencialsanitário. sinergia com a produção de metano via digestão anaeróbica de esgoto ou lodo que poderá compor via reforma a vapor um acréscimo na produção de hidrogênio (cabe análise de viabilidade).

Nesta intrínseca relação de água e energia, em contexto de transição energética de grande impacto na economia, discussões despontam na América Latina, capitaneada por associações como a ALADYR (Associação LatinoAmericana de Dessalinização e Reúso) perguntando e avaliando quais oportunidades nesse mercado na América Latina. As oportunidades na américa latina A América Latina está no cerne do debate da transição energética e mudanças climáticas, seja pela relevância da floresta amazônica, ou pelas reservas minerais (sobretudo reunindo mais de 2/3 das reservas globais de lítio), ou pelas reservas de petróleo, o pré-sal, ou pela produção de etanol de cana de açúcar. Aliada a uma geopolítica com menor histórico de conflito entre as nações. Apesar dos desafios de desenvolvimento econômico e social. A própria deficiência na infraestrutura de saneamento pode ser uma oportunidade para ampliação com aderência as tendências de uma nova economia. O saneamento, a dessalinização de água do mar, e o reúso de água atraem investimentos de grandes grupos globais do setor. Empresas como a GS INIMA desenvolveram e desenvolvem, por exemplo, sistemas de dessalinização de água do mar no Chile e no México, no Brasil possuem histórico de investimentos no saneamento, no setor industrial e são responsáveis pela operação de um dos maiores sistemas de reúso de água para fins industriais do mundo – Aquapolo capacidade de 1 m³/s. Vários aspectos regulatórios do setor hídrico, ambiental e energético e estão em debate na América Latina buscando avanços para trazer segurança jurídica, critérios ambientais adequados e atrair novos investimentos. A exemplo do marco regulatório do saneamento no Brasil, visto no mercado em geral como importante avanço para maior iniciativa privada.

A região nordeste do Brasil em especial possui condições, bem favoráveis para produção de energia eólica e solar, já se destacando com a geração atual em cerca de 20 GW (17 eólica + 3 solar) que se mantem em franca expansão com novos projetos autorizados ou em construção na ordem de 29 GW (12 eólica + 17 solar) .

74 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO

A América Latina reúne mais de 40 mil quilômetros de litoral, bem como relevantes complexos portuários e industriais. O nordeste brasileiro, em destaque, com acordos vigentes e localização estratégica de seus portos (SUAPE e PECÉM) para conexão com a Europa e América do Norte

Apenas nordeste brasileiro apresenta (9): Mais de 2,5 milhões de hectares de área com velocidades de ventos acima de 8.0 m/s (at hub height of Mais120m).de42 milhões de hectares com irradiação solar acima de 2100 kWh/m2.

Figura 4: Aquapolo São Paulo/Brasil. Tratamento de esgoto sanitário para reúso da água.

Figura 5: ECONSSA – Atacama/Chile. Dessalinização de água do mar (1,2 m³/s) consumo 2,8 kWh/m³.

Considerações finais As informações destacadas no texto, os argumentos e opiniões colocadas vão para enriquecer o debate das oportunidades na América Latina em especial para o mercado de água e efluentes, reúso e dessalinização, diante dos desafios atuais da economia global e mudanças climáticas. Considerações, complementações, dúvidas, mais detalhes e correções será satisfação correspondência por e-mail. Eduardo Pedroza. Representante Brasileiro da ALADYR e Gerente de Novos Negócios da GS INIMA. epedroza@ aladyr.net Alejandro Sturniolo: Diretor da IDA e ALADYR Global Head of Water Reuse & Strategic Partnerships na H2O Innovation. alejandro.sturniolo@h2oinnovation.com Marcio José: CEO do Aquapolo e membro da IDA e ALADYR. marciosj@aquapolo.com.br

(1) ZÜTTEL, A.; et al. Hydrogen: the future energy carrier. The Royal Society, 2010. Disponível em: (2)royalsocietypublishing.org.IEA,WorldEnergyBalances: Overview, Paris. 2021. Disponível em: ww.iea.org/reports/world-energy(3)balances-overviewSADIGOV,R.;Rapid Growth of the World Population and Its Socioeconomic Result, 2022. Disponível em: www.hindawi.com/journals/tswj/2022/8110229

75Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO Avaliando, no entanto, o potencial de crescimento desta região de novos projetos, os números são ainda mais positivos. De acordo com estimativas realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, a produção de energia eólica onshore pode chegar a 309 GW (com base nas tecnologias atuais) com custos competitivos. Sem considerar o potencial eólico brasileiro offshore e solar. Fatores e condições que de acordo com a COMERC ENERGIA (9) aponta para região um custo de produção abaixo US$ 2,00 por kg, com estimativas de chegar em 2030 US$ 1,30 por kg 1. Em consequência a região já movimentou assinaturas de memorando de entendimentos entre empresas e governos de estados do nordeste brasileiro, por exemplo, o Piauí e Ceará, este último aproveitando também a infraestrutura do porto PECÉM. No Ceará mais de 15 empresas assinaram acordos.

Em entrevista a importante jornal de viés econômico no Brasil (Valor Econômico) em outubro de 2021, o presidente da Qair Brasil destacou “A Europa quer consumir 80 GW de energia na forma de Hidrogênio Verde nos próximos anos, mas consegue produzir apenas 20 GW”. Similar o gerente do Banco Mundial para o tema de energia na América Latina destacou “O Estado do Ceará pode ser um protagonista do hidrogênio verde. Está muito bem-posicionado e já avançou em parcerias internacionais” (9).

Referências Bibliograficas

Importante destacar também, neste desafio global, as iniciativas e oportunidades no setor industrial. Um setor relevante na economia que avançou com projetos de sustentabilidade hídrica na América Latina e está atento aos temas da transição energética. A exemplo do Aquapolo que proporciona o de reúso de água para empresas do Polo Petroquímico do ABC/SP, enfatizamos também os projetos realizados pela ArcelorMittal Tubarão no município de Serra, no Brasil, que investe em reúso e dessalinização de água do mar. Projetos de segurança hídrica e atentos a eficiência energética. Em 2021 inauguraram projeto de dessalinização com capacidade de 500 m³/h. Similar no Chile destacamos os projetos da Codelco, que implantará planta de dessalinização com capacidade de processar 0,84 m³/s, expansível até 1,9 m³/s. Um grande passo para a empresa atingir sua meta de reduzir em 60% o consumo unitário de águas de fontes superficiais, um dos seus principais compromissos com o desenvolvimento sustentável até 2030. Exemplos e oportunidades que destacam na América Latina experiências em reúso e dessalinização, que somada as condições do continente será um fator importante para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde. 1 Projeção com base nas estimativas de avanços tecnológicos.

(4) NASAa, Global Climate Change. Disponível em: https://climate.nasa.gov/ (5) IPCC, Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas. Disponível em: (6)assets/uploads/2019/07/SPM-Portuguese-version.pdfhttps://www.ipcc.ch/site/GARREAUD,R.Nasa:GlobalClimateChangeDisponívelem:https://earthobservatory.nasa.gov/images/149463/chilean-volcano-low-on-snow

(7) NASAb: Global Climate Change Disponível em: (8)change?id=686#686-chiles-lake-aculeo-dries-uphttps://climate.nasa.gov/images-of-BESWICK,R.R.;OLIVEIRA,A.M.YAN,Y.Doesthe

Green Hydrogen Economy Have a Water Problem? 2021. Disponível em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/ (9)acsenergylett.1c01375COMERCENERGIA,2021. Entenda a Importância do Hidrogênio Verde para o processo de descarbonização no Brasil Disponível em: https://panorama.comerc.com. (10)br/hidrogenio-verdeGovernodoCeará. Valor Econômico. 21/01/21. Disponível em: governo-do-ceara/noticia/2021/10/21/parcerias-https://valor.globo.com/patrocinado/ hidrogenio-verde.ghtmlinternacionais-colocam-o-ceara-na-dianteira-do-

A América do Sul possui extensos rios e é uma região privilegiada no tocante à água, sendo que somente o Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta, é o país com a maior quantidade de recursos hídricos gerados e possui três grandes bacias hidrográficas, além da grande parte do Aquífero Guarani. No entanto, um país com a aparente abundância de recursos hídricos sofre com crises hídricas, principalmente nas regiões que apresentam maior densidade demográfica, pois onde há maior concentração de recursos hídricos, não é necessariamente onde há a concentração demográfica, como podermos observar no quadro abaixo, com destaque para a região Sudeste: Por isso, especialmente nestas regiões com maior densidade demográfica, o reúso é uma alternativa extremamente eficiente, como é o caso da Companhia Espírito Santense de Saneamento – CESAN, que por meio de um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), com estudo de estruturação e modelagem do projeto de tratamento de esgoto sanitário para fins de reúso industrial elaborado pela Fineggi Capital Serviços Financeiros, firmou uma parceria pioneira com a com a ArcelorMittal Tubarão, e vai licitar ainda esse ano, para atrair empresas para a construção e operação de uma nova estação de tratamento de esgoto reúso, se tornando a primeira empresa capixaba a usar água de reúso de esgoto sanitário para fins industriais, num dos maiores projetos de reúso do país.

FINEGGI CAPITAL www.fineggicapital.com.brcontato@fineggicapital.com.br Región Densidad Demográfica (hab/km2) Concentración de recursos hídricos del país Norte 4,12 68,5% Noreste 34,15 3,3% Centro Oeste 8,75 15,7% Sureste 86,92 6%

“O Reúso industrial já é uma realidade no nosso país, comprovando que, além de sustentável, é também viável econômica, financeira e tecnicamente, falta ainda mais fomento dessa alternativa ao uso de água potável, não só na indústria, mas também em diversas outras atividades, como por exemplo, irrigação, usos urbanos, geração de energia, afinal, o que custa caro é não ter água, como vimos na recente crise hídrica”, afirma Jaqueline Morinelli, consultora do setor.

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Para Luciana Nazar, CEO da Fineggi Capital “projetos como este promovem a inovação, geram receita, reduzem impactos ambientais, preservam os recursos hídricos, demonstrando que o reúso é uma alternativa viável e sustentável ao uso de água potável na indústria, podendo ainda, contribuir para a diversidade da matriz hídrica do país” Segundo estudo (CNI,2020) e dados do SNS –Secretaria Nacional de Saneamento (2018), o reúso de água de efluentes urbanos tem um grande potencial de crescimento, podendo passar dos atuais 1 m³/s, para algo em torno de 12,81 m³/s, a curto e médio prazo. Isso porque há uma tendência de agravamento dos problemas de escassez hídricas em regiões urbanas.

Assim, os investimentos em reúso da água tratada do esgoto, segundo o estudo, podem gerar R$ 5,9 bilhões à economia e 96 mil empregos, fomentando o crescimento econômico, com efeitos multiplicadores, como:

O reúso de água e as crises hídricas no Brasil

•R$ 680 milhões em valor agregado na expansão da produção do setor de máquinas e equipamentos • R$ 999,74 milhões em massa salarial; • R$ 464 milhões em arrecadação de impostos, sendo R$ 36,17 milhões de IPI (imposto federal) e quase R$ 237 milhões de ICMS (imposto estadual).

Uma ferramenta para otimizar a gestão de sistemas de osmose reversa Em todos os sistemas de osmose reversa se produz uma incrustação nas membranas, seja em maior ou menor grau. Este resíduo está relacionado com a qualidade da água de alimentação do sistema, efetividade do prétratamento e outros fatores relativos ao projeto e às rotinas de operação. Esses fenômenos de incrustação têm efeitos adversos sobre o rendimento das membranas, que usualmente estão associados a diminuição no fluxo de produção e prejuízo à qualidade do produto, o que se traduz por sua vez em importantes aumentos no custo de operação dos sistemas. Além disso, às vezes, se as medidas corretivas não forem tomadas prontamente, os danos podem afetar irreversivelmente as membranas. Autopsia de membranas: a resposta aos problemas detectados Uma autopsia de membranas é um ensaio destrutivo no qual são combinadas diferentes técnicas e procedimentos de análises capazes de fornecer informações relativas ao material depositado na membrana e outros aspectos que possam ser associados às deficiências no funcionamento do sistema (processo de deterioração física da camada de poliamida, oxidação, etc.).

Os estudos realizados em uma autopsia incluem: Seleção da membrana Dependendo do tipo de problema, se recomenda o sacrifício de um ou vários elementos que ocupam posições específicas na planta. É adequado selecionar a primeira membrana do estágio inicial no qual se suspeita que haja alguma alteração, seja orgânico ou biofilme. As membranas devem ser embaladas para preservar a umidade até que sejam recebidas no laboratório de testes e não expostas à luz solar. Produtos químicos não devem ser usados para preservação.

Foto 1.- Abertura do elemento de osmose reversa para autópsia

77Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO G E N E S Y S I N T E R N A T I O N A L

•Como pode ser evitado?

•Qual a causa do problema?

Autopsia de Membranas

O resultado de um estudo deste tipo, junto com a análise dos parâmetros de operação de uma planta, deve dar respostas aos seguintes questionamentos:

•O que acontece com a membrana?

Deve ser observada a integridade física do invólucro, bem como do tubo do produto e do anel de entrada. O deslocamento dos envelopes de membrana (efeito telescópio) pode indicar a operação com diferenciais de pressão excessivos.

Foto 2. Inspeção externa e amostragem de membrana de osmose reversa Foto 3. Amostragem de membrana Foto 4. Amostagrem de depósito/incrustações

•Depósitos•Matériatipos:orgânica;inorgânicos e incrustações; •Rejeito coloidais; e Os•Biofilme.problemas no biofilme são caracterizados por uma maior concentração de resíduo na área de entrada, enquanto que nas incrustações acontece o oposto. Incrustações por matéria coloidal e matéria orgânica tendem a ser distribuídas uniformemente por toda a Asmembrana.incrustações mais frequentes nestas instalações são carbonato de cálcio, sulfato de cálcio, sulfato de bário e estrôncio. Estas substâncias estão associadas a diminuições na qualidade do permeado (aumento da condutividade) e, se não forem eliminados imediatamente, podem danificar irreversivelmente a retenção de sais. Algumas vezes o estudo de membranas com superfícies aparentemente limpas (nas quais nenhum depósito de resíduo pode ser retirado para análise química) técnicas como microscopia eletrônica (MEV-SEM) acoplada a raios X dispersivos de energia (EDX) indicam a presença de depósitos muito finos, mas que estão causando disfunções no sistema. Outra técnica frequentemente usada para lidar com problemas de incrustação orgânica é a Espectrometria Infravermelha de Reflexão Total Atenuada (ATR-FTIR).

Inspeção externa da membrana

Análise da superfície da membrana e/ou depósitos identificados Uma vez aberta a membrana, pode-se observar a existência ou não de material depositado em sua superfície. Basicamente os depósitos identificados são de quatro

78 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO G E N E S Y S I N T E R N A T I O N A L

Nesta fase também podem ser detectados depósitos e sujeiras na entrada e saída do elemento que podem indicar a eficiência do pré-tratamento. Inspeção interna da membrana

Após o corte da carcaça e posterior desenrolamento da membrana, deve-se analisar minuciosamente a integridade das lâminas da membrana e do suporte, bem como das linhas junção.

Testes de fluxo, retenção de sal e limpeza na célula de fluxo Através do uso da célula de fluxo, as peças da membrana são caracterizadas de acordo com as condições de pressão e salinidade estabelecidas pelo fabricante. Esta caracterização permite comparar a vazão e a retenção de sal da membrana estudada em relação aos valores de Porprojeto.meio da recirculação de soluções de limpeza com diferentes produtos e condições (concentração do limpador, pH, temperatura, tempo de exposição, etc.), e posterior caracterização das peças de membrana estudadas, é possível comparar a eficácia dos diferentes protocolos testados. Os resultados obtidos na célula de fluxo podem ser extrapolados para a planta para obter uma limpeza ideal e com garantia.

Testes de oxidação e danos na poliamida Aumentos na passagem de sais e fluxo de produto em uma planta de osmose reversa são frequentemente associados à deterioração da camada de poliamida. Este processo pode ser causado por uma oxidação química da superfície da membrana ou por um processo físico, seja por abrasão da poliamida ou pelo deslocamento das folhas da membrana. Existem diferentes testes para estabelecer o problema específico e a causa.

Se ao recircular a baixa pressão um corante como o azul de metileno, que em condições normais é rejeitado pela superfície da membrana, observarmos coloração no lado em contato com o permeado, devemos concluir que houve oxidação ou dano físico na camada de retenção de sal da membrana. Em ambos os casos é impossível recuperar permanentemente a passagem dos sais. As membranas de poliamida são muito sensíveis a pequenas concentrações de cloro, por isso é necessário remover este componente antes que ele entre em contato com as membranas. Existem testes específicos, como o Teste Fujiwara, para determinar a oxidação da membrana por contato com um halogênio.

Foto 5. Aparência membrana limpa no SEM Foto 6. Aparência membrana com materia coloidal em SEM Foto 7. Distribuição de componentes incrustantes na superfície da membrana Foto 8. Teste de corante azul de metileno

79Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO G E N E S Y S I N T E R N A T I O N A L

Por meio de bisturi esterilizado, devem ser cortados pedaços de membrana, suporte e carreador de produto para análise microbiológica de contagem e identificação de bactérias, fungos e leveduras. Para biofilmes, podem ser realizados testes de sensibilidade com diferentes biocidas na flora bacteriana presente na superfície da membrana. A eficácia do teste é expressa em porcentagem de microrganismos mortos após a exposição ao biocida.

O conceito de autopsia de membrana é tão antigo quanto as próprias membranas, no sentido que a única maneira de saber o que está acontecendo dentro de uma dessas membranas é “abrindo-a” e “examinando-a”. O aparecimento nos últimos anos de novas técnicas de análise e a redução dos preços de outras já existentes, juntamente com a redução dos custos destes elementos que tornam acessíveis aos usuários o seu sacrifício para estudo, tornaram esta técnica uma alternativa frequente para a resolução de problemas na operação de inúmeras plantas.

Elaboração do relatório final e recomendações Todos os resultados obtidos em cada um dos testes realizados são avaliados conjuntamente para estabelecer as causas do problema e as medidas para resolvê-lo.

Estudos complementares Às vezes, o estudo de outros elementos do sistema (cartuchos de microfiltração, depósitos coletados em tubulações, etc.) fornece informações valiosas sobre a causa dos problemas que afetam o desempenho das membranas. Algumas das técnicas utilizadas na autópsia de membranas também permitem a sua análise.

O trabalho não termina até que as recomendações propostas sejam colocadas em prática e sua eficácia seja avaliada por meio do monitoramento dos parâmetros considerados críticos para o sistema. Conclusões

Foto 9. Danos causados por material espaçador visto com um microscópio 3D Foto 10. Teste Fujiwara positivo para detecção de halogênio

80 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água PAPÉIS TÉCNICOS E CASOS DE ESTUDO G E N E S Y S I N T E R N A T I O N A L

•Reúso de •Dessalinizaçãoágua. de água.

Na terceira edição internacional, que aconteceu em maio deste ano e contou com a participação de 2.907 crianças, oriundas de 75 escolas de 9 países da América Latina (Colômbia, Argentina, Chile, Equador, Panamá, Costa Rica, México, Honduras e Peru). Os temas apresentados nas aulas virtuais foram:

A Associação Latino-americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) realizou a terceira edição das OLÍMPIADAS DA ÁGUA ALADYR – EDIÇÃO INTERNACIONAL 2022, que consiste em uma série de encontros online, direcionados aos estudantes de escolas latinoamericanas, com o objetivo de trazer conhecimento e experiências de valor em torno da gestão eficiente da água através da integração de tecnologias de dessalinização, reúso de água e tratamento de efluentes. Durante 3 anos consecutivos, a ALADYR reuniu mais de 8 mil crianças de toda a América Latina em aulas virtuais especiais, ministradas por profissionais de destaque na indústria do reúso e dessalinização, representantes de empresas sócias da instituição. Estas aulas, adaptadas à faixa etária dos estudantes e desenvolvidas com dinâmicas amigáveis e divertidas, têm despertado o interesse dos jovens nas tecnologias de tratamento de água e na valorização urgente e necessária do recurso Ashídrico.Olímpiadas são realizadas em espanhol e português, convidando colégios de toda a região; a inscrição é gratuita e tem o propósito de gerar consciência sobre a necessidade de acesso à água potável, dar visibilidade a todo o trabalho que há por trás da atividade de tratamento de água e efluentes, assim como divulgar as alternativas e benefícios que oferecem as tecnologias relacionadas. O principal objetivo é que as crianças se tornem agentes de transformação e difusão do conhecimento entre seus familiares e entorno.

A próxima parada da OLÍMPIADAS DA ÁGUA é em setembro deste ano e é a vez da edição em português para crianças de todo o Brasil. Mais informações em dircom@aladyr.net.

Entre as empresas que patrocinaram esse maravilhoso encontro, destaca-se o ENERGY RECOVERY, NX FILTRATION, AQUAPOLO/ GS INIMA Y TORAY. Durante a aula online as crianças responderam perguntas e enquetes, além de participar de um quiz para colocar a prova os conhecimentos aprendidos. Nesta edição das OLÍMPIADAS DA ÁGUA ALADYR mais de 800 perguntas foram feitas pelas crianças, que agradeceram animadamente pela oportunidade.

•Como a água chega aos nossos lares.

•Contaminantes Emergentes.

OLÍMPIADAS DA ÁGUA ALADYR 2022 PARTICIPARAM DA AÇÃO MAIS DE 2.900 CRIANÇAS DE 9 PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

81Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água RESPONSABILIDADE SOCIAL

82 Revista ÁGUAS Latinoamérica | A revista dos líderes da água RESPONSABILIDADE SOCIAL OLÍMPIADAS DA ÁGUA ALADYR 2022 DISTRIBUIÇÃO DE CRIANÇAS POR PAÍSES MAIOR PARTICIPAÇÃO 881 comentários 4 tópicos A próxima parada da OLÍMPIADAS DA ÁGUA é em setembro deste ano e é a vez da EDIÇÃO EM PORTUGUÊS para crianças de todo o Brasil. Mais informações em dircom@aladyr.net participantesEscolas participantesPaíses Total de participantescrianças

aladyraladyr@aladyr_asocaladyr_asociacion@asociacionaladyrGUAS LATINOAMÉRICA águadalíderesdosrevistaA TrimestralPublicaçãoI2022JulhoI1Número

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