FACULDADE PINHEIRO GUIMARÃES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
ALANA CARVALHO DE OLIVEIRA
CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS: critério, seleção e análise caso do ônibus 328
RIO DE JANEIRO 2013
ALANA CARVALHO DE OLIVEIRA
CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS: critério, seleção e análise caso do ônibus 328
Monografia apresentada ao curso de Comunicação da Faculdade Pinheiro Guimarães, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo.
Orientador (a): Profa. Mestre ELEONORA MAGALHÃES
Rio de Janeiro 2013
OLIVEIRA, ALANA CARVALHO DE. Construção das notícias: critério, seleção e análise caso do ônibus 328/ Alana Carvalho de Oliveira. – Rio de Janeiro, [s.n], 2013. 62f. Monografia (Curso de Graduação em Comunicação Social/Jornalismo) – Faculdade Pinheiro Guimarães FPG, 2013. 1. Jornalismo. 2. Noticiários. 3. Seleção dos fatos. 4. Caso do ônibus 328. Construção das notícias.
FPG / RJ
ALANA CARVALHO DE OLIVEIRA
CONTRUÇÃO DAS NOTÍCIAIS: critério, seleção e análise caso do ônibus 328
Monografia apresentada ao curso de Comunicação da Faculdade Pinheiro Guimarães, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo.
Aprovado(a) em julho de 2013
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________ Prof.ª. Ms. Eleonora Carvalho Magalhães - Orientadora Faculdade Pinheiro Guimarães
__________________________________________________________________ Prof. Ms. Gutenberg Barbosa Batista Junior Faculdade Pinheiro Guimarães
__________________________________________________________________ Prof. Ms. Sérgio de Souza Xavier Faculdade Pinheiro Guimarães
Rio de Janeiro 2013
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que sempre me apoiaram desde o início e apostaram em mim sem pensar duas vezes.
À minha professora orientadora, Eleonora Magalhães, por ser paciente comigo e esclarecer sempre minhas dúvidas.
Aos amigos e parentes pela torcida e confiança que apostaram em mim.
À amiga Dayane Rezende por me incentivar a entrar na faculdade de Jornalismo.
Ao Gustavo Kawase por sempre ouviu minhas ideias e ler meus textos. Além de acreditar no meu potencial.
RESUMO
Este projeto pretende apresentar os vários processos pelos quais as notícias jornalísticas passam até chegar ao seu consumidor, no caso, os leitores ou espectadores. O modo como são selecionados os fatos entre as denúncias recebidas diariamente e a forma como a matéria é construída pelo repórter são alguns dos aspectos contemplados por esta pesquisa. Não podemos esquecer que a narrativa noticiosa pede uma formatação de conteúdo que facilite seu entendimento. Todos esses fatores bem conhecidos pelo jornalista se complementam com o propósito de alcançar a objetividade e a imparcialidade dos fatos. Fazendo uma análise da cobertura feita pela imprensa sobre o caso do ônibus 328, que caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski, no dia dois de abril desse ano, vamos analisar esses critérios utilizados para o tratamento das notícias com o intuito de avaliar o modo como os jornalistas reportaram o acontecimento e exemplificar o processo de seleção das notícias.
Palavras-chave: 1. Jornalismo. 2. Noticiários. 3. Seleção dos fatos. 4. Caso do ônibus 328.
ABSTRACT
This project aims to present the various processes by which news reporters go until you reach your consumer, in this case, readers or viewers. The way the facts are selected among reports received daily and how matter is built by the reporter are some of the aspects covered by this research. Do not forget that the narrative calls for formatting news content that facilitates their understanding. All these factors well known by journalist complement in order to achieve the objectivity and impartiality of the facts. Making an analysis of the press coverage of the case on the 328 bus, which fell Brigadeiro Trompowski Viaduct, on April 2 this year, we will analyze the criteria used for the treatment of news in order to assess how journalists reported the event and illustrate the process of selection of news. Keywords: 1. Journalism. 2. News. 3. Selection of facts. 4. Case of the bus 328.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
CAPÍTULO 1: A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR OS NOTICIÁRIOS ................... 12 1.1 SELECIONANDO OS FATOS ................................................................................... 12 Os princípios de seleção..................................................................................... 14 1.2 AGENDANDO DISCUSSÕES ................................................................................... 16 A Espiral do Silêncio ........................................................................................... 17 1.3 ENQUADRANDO NOTÍCIAS .................................................................................... 18 Os princípios do enquadramento ........................................................................ 19 As características dos quadros ........................................................................... 20
CAPÍTULO 2: O QUE É UMA NOTÍCIA JORNALÍSTICA?........................................ 22 2.1 O LIDE E AS TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA ........................................... 23 Questionamento da objetividade do lide ............................................................. 25 2.2 A INTUIÇÃO JORNALÍSTICA.................................................................................... 27 2.3 A BUSCA PELA OBJETIVIDADE ............................................................................... 28
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DA NOTÍCIA JORNALÍSTICA ............................................ 31 3.1 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE CRIAÇÃO ................................................................... 32 3.2 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE CONSTRUÇÃO ............................................................ 35
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 40
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 43
ANEXOS ................................................................................................................... 45 ANEXO I ................................................................................................................... 46 ANEXO II .................................................................................................................. 50 ANEXO III ................................................................................................................. 51 ANEXO IV ................................................................................................................ 53 ANEXO V ................................................................................................................. 56 ANEXO VI ................................................................................................................ 59 ANEXO VII ............................................................................................................... 61 ANEXO VIII .............................................................................................................. 63
INTRODUÇÃO Um programa noticioso televisivo ou radiofônico segue sua programação estipulada pelo veículo de comunicação todos os dias e um jornal impresso tem sua edição finalizada na noite anterior à sua publicação. Os sites noticiosos também não deixam de atualizar seu conteúdo diariamente. Estas são pequenas coisas para a sociedade, mas para um jornalista são extensos processos de seleção e análise que devem ser realizados em pouco tempo para que a notícia chegue a nossas casas. No jornalismo televisivo, por exemplo, o produtor tem a noção de que as matérias precisam ser bem selecionadas e produzidas de uma forma que provoque interesse no indivíduo, seu principal foco. Todo esse processo se inicia nas reuniões de pauta e os resultados, na forma de noticiários, chegam à população que, por sua vez, também influencia as mídias nesta seleção do que deve ser considerado notícia e o que ficará de fora dos telejornais. A construção das notícias só é possível devido a diversos fatores que auxiliam o profissional de comunicação desde o momento da seleção dos fatos. E a importância de sempre estar em contato com as matérias reportadas pelos jornais concorrentes são fatores cruciais. Tendo isso em mente, o presente estudo tem como objetivo expor e analisar as etapas desse processo. Para tanto, dividiremos nossa reflexão em três capítulos, nos quais buscaremos tratar da produção da notícia desde o momento em que o jornalista recebe as primeiras informações de um acontecimento até o enfoque dado as matérias pelos meios de comunicação. Sendo assim, no primeiro capítulo, vamos abordar os critérios dessa seleção buscando entender e discutir a importância de se estudar produtos jornalísticos. Como escolher o que se tornará notícia entre tantos acontecimentos identificados pelas equipes de jornalismo e informações recebidas diariamente por e-mail, cartas e telefone? De que forma estas notícias são construídas para que o fato se torne inteligível à audiência? São algumas das questões a serem respondidas. Já no segundo capítulo vamos falar sobre o valor e a construção teórica das notícias como os processos de organização que elas podem sofrer. Quais perguntas devem ser respondidas pelo jornalista e como ele deve organizá-la? Também 15
faremos uma análise das questões contidas no lide enquanto ferramentas na busca pela objetividade dos fatos. Por fim, no terceiro capítulo, iremos analisar algumas notícias relacionadas ao tema noticioso de acidentes com transporte público que começaram a ganhar destaque nas mídias após a queda do ônibus 328 do Viaduto Brigadeiro Trompowski, altura da Ilha do Governador, Rio de Janeiro, no dia dois de abril de 2013. Colocando em prática tudo o que foi mencionado nos capítulos anteriores buscaremos entender os motivos pelos quais os jornalistas passaram a ter como prioridade acidentes de ônibus na cidade do Rio de Janeiro e como estas reportagens estariam sendo endereçadas à população.
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CAPÍTULO 1 A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR OS NOTICIÁRIOS
Dentro das sociedades urbanizadas da era contemporânea, qualquer cidadão possui acesso às notícias, sejam elas veiculadas pelos meios televisivos, impressos, radiofônicos ou pela internet. A facilidade de se conseguir informação, jornalística ou não jornalística, marca esta fase em que o indivíduo está em contato com os acontecimentos. Nas sociedades anônimas, contudo, fruto da urbanização, os processos de massificação se tornam necessários, uma vez que a maioria dos integrantes de tais sociedades não podem ter acesso direto aos acontecimentos. Assim é que surgem os chamados meios de comunicação de massa ou, como os americanos denominam, os mass media, constituídos pelos jornais, revistas, emissoras de rádios, cadeias de televisão e, cada dia mais, outras redes, dentre as quais, contemporaneamente, a internet. (HOHLFELDT, 1997, p. 45)
Sendo os noticiários entendidos aqui como os meios de comunicação que se preocupam em relatar fatos devidamente apurados. Além disso, os acontecimentos precisam passar por alguns critérios de avaliação que definem o que se tornará notícia. Levando em conta esse dado, o presente capítulo tem como objetivo aprofundar-se no processo de construção dos jornais expondo a forma como os acontecimentos são selecionados. Realizando um estudo do passo a passo que um fato percorre até que o mesmo seja reportado. 1.1. SELECIONANDO OS FATOS O jornalista trabalha constantemente com dois tipos de acontecimentos: os factuais e os produzidos. O termo factual refere-se a um fato que acabara de acontecer, o acontecimento do dia, como um acidente ou uma operação policial de última hora. Nesses casos em que o jornalista é pego de surpresa, o repórter é encaminhado diretamente para cobrir o fato. Diferente dos produzidos, também conhecidos como pauta fria, que são notícias previamente selecionadas para serem reportados. Em ambos os casos o jornalista cria uma pauta, não necessariamente escrita ou premeditada, para orientar o repórter durante a reportagem. No caso das pautas 17
produzidas não existe a exigência de se fazer a matéria imediatamente, diferente das factuais que perdem o valor se não forem feitas naquele momento. Geralmente uma pauta deve descrever que tipo de matéria será realizada, com quem o repórter deverá conversar, onde e como, além de bastante informação sobre o assunto. As pautas não precisam ser seguidas pelo repórter da forma como foram apresentadas, tudo depende do que ele irá encontrar durante a produção da reportagem. Em alguns casos, até a natureza da matéria pode ser mudada completamente, dependendo do que foi apurado pelo repórter no curso da matéria. Foi justamente durante a apuração de uma matéria que um repórter novato na editoria policial teve a atenção voltada para um determinado tipo de crime na cidade de Nova Iorque: os crimes contra idosos. A partir desse caso exemplar, Mark Fishman (1980), no livro Manufacturing News, propõe que “os meios noticiosos parecem desempenhar um papel importante na construção de fenômenos sociais de grande escala” (FISHMAN, 1980, p. 2). Ele chegou a essa conclusão ao observar a redação de uma emissora de televisão de Nova Iorque durante um evento que o autor intitulou como a Onda de Crime. No final de 1976, na cidade de Nova Iorque foram noticiadas, durante sete semanas, matérias com enfoque em crimes contra pessoas idosas. Criando assim uma nova categoria de crimes com vítimas e transgressores específicos. Como conta Fishman (1980), aquele acontecimento chegou à mídia como outro qualquer e ao receber destaque, com matérias sobre acontecimentos que se encaixavam dentro daquele tema, a população passou a sentir-se ameaçada com a tal onda de crime que na verdade não era realmente tão alarmante assim. Fishman (1980) expôs em seus estudos que ao serem reportadas matérias sobre a onda de crime, além de a população ficar amedrontada, muitas instituições relacionadas ao assunto também começaram a agir como resposta, criando assim novos conteúdos para serem noticiados. O que começou como um interesse da polícia Nova Iorquina, especializada em crimes contra idosos, de divulgar seu trabalho, ganhou a atenção da sociedade durante aquelas sete semanas. Quando a imprensa deixou de ter acesso direto aos registros da polícia, a onda de crime teve seu fim. Atualmente, no Rio de Janeiro, estamos vivenciando algo bastante parecido com esse caso. No dia dois de abril de 2013, um ônibus caiu do Viaduto Brigadeiro 18
Trompowski na pista lateral da Avenida Brasil, altura da Ilha do Governador, e deixou, inicialmente, onze pessoas feridas e sete mortas. O caso foi reportado por vários jornais de todos os segmentos durante muitos dias, sendo ele suitado 1 diversas vezes. A mídia acabou por criar um enfoque: “problemas no transporte público”. E tudo que se enquadrasse neste tema passou a ser reportado com prioridade. Outros acidentes de menor periculosidade, problemas nos veículos, entre outros. Causando sobre a população uma insegurança com relação aos ônibus da cidade. Na matéria “Passageiros relatam rotina de medo nos ônibus do Rio”2, reportada no site G1 (www.g1.globo.com), a jornalista inicia sua matéria dizendo que “os recentes acidentes envolvendo ônibus no Rio têm deixado os passageiros apreensivos” (MACHADO, 18/04/2013). Esta afirmativa se fortalece no decorrer da matéria no momento em que a jornalista se utiliza de relatos colhidos junto aos passageiros. A frase seria bastante forte para explicar o efeito de “onda”, desta vez ligada a problemas com o transporte público na cidade do Rio, pois ao mesmo tempo em que expõe o medo que a população tem sofrido com os acidentes envolvendo ônibus, também destaca o foco que a jornalista deu a matéria. Reforçando a ideia de que no período atual têm acontecido mais acidentes do que o de costume, sendo que sempre houve acidente de ônibus na cidade, mesmo eles não sendo reportados pela mídia ou até mesmo considerados irrelevantes (o assunto será melhor abordado no subitem 1.3).
1.1.1. Os princípios de seleção “É inútil encarar o noticiário como distorcendo ou como refletindo a realidade, porque as ‘realidades’ são feitas e o noticiário é parte do sistema que as faz” (FISHMAN, 1980, p. 10). No trecho mencionado, o autor se refere à realidade apresentada à sociedade pelos meios de comunicação. Fishman (1980) também explica sobre a criação dos noticiários e menciona que a rotina de trabalho do jornalista e os métodos utilizados para transformar os acontecimentos em matérias seriam fundamentais para a produção das notícias. Todo fato precisa passar por 1
Do verbo suitar, significa o mesmo que repercutir, dar continuidade à cobertura noticiosa de um assunto. 2 Matéria disponível no endereço eletrônico http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/passageiros-relatam-rotina-de-medo-nos-onibus-do-rio.html ou no Anexo I.
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estes processos de produção. Os jornalistas se defrontam com os fatos em sua rotina de trabalho e os mesmos passam por quatro etapas apresentadas pelo autor: detecção das ocorrências, interpretação como eventos significativos, investigação de seu caráter factual e reunião das informações em artigos.
Os temas sobre crime, como qualquer outro tema do noticiário, são conceitos organizadores. Eles permitem que diversos incidentes sejam vistos como interrelacionados, na medida em que podem ser visto como instâncias de algum tema abrangente. (FISHMAN, 1980, p. 3)
No trecho acima o autor se refere à forma como foi montado o noticiário sobre a onda de crimes. Para ele, os acontecimentos são analisados de acordo com os temas ao qual pertencem. No caso da onda de crimes estudada por Fishman (1980), o tema seria “crimes contra idosos”, já no acidente de ônibus, o tema construído foi “problemas com o transporte público”, mais especificamente os ônibus. Matérias que divulguem as más condições dos veículos, dos condutores, acidentes por descuido do motorista ou de terceiros acabam sendo reportados dentro desse tema noticioso. Isso auxilia o jornalista a escolher entre os materiais que recebe diariamente, quais irão compor o jornal e como serão organizadas dentro do mesmo. À proporção em que cada jornalista toma consciência de que os outros estão tratando do mesmo tema no noticiário, o tema se torna estabelecido dentro de uma comunidade de organizações de média. (...) E quando aqueles jornalistas que foram os primeiros a reportar um tema veem os outros começando a usá-lo também, eles acham que seu julgamento sobre a notícia original foi confirmada. (FISHMAN, 1980, p. 6)
Outro critério considerado extremamente importante para um jornalista é ter conhecimento dos fatos que estão sendo reportados no dia. Para isso, todo profissional da área sempre verifica o que está sendo noticiado na concorrência. Um jornalista que não se pauta nas demais mídias acaba sendo considerado um mau profissional. Além de se tornar vítima de um furo de reportagem da concorrência, demonstra ignorância acerca do que é considerado importante pelos demais meios noticiosos e, portanto, quais acontecimentos deveriam “virar” notícia. À medida que os meios de comunicação noticiam um fato que julgam importante e veem outras mídias os seguirem, eles confirmam a importância daquele tema. Dessa forma, em pouco tempo, o acontecimento ganha força e até mesmo os 20
jornalistas que ainda não tinham total confiança no tema não podem deixar de reportá-lo. Um noticiário também depende principalmente de fontes. Sem elas as matérias não existem. Qualquer pessoa física ou jurídica pode ser uma fonte, contando que ela disponibilize para o jornalista alguma informação que possa ser utilizada para a construção de uma matéria. Os órgãos públicos, as instituições e até mesmo o espectador podem ser boas fontes. Em qualquer mídia existe um e-mail ou telefone de contato divulgado, especialmente, para receber denuncias que podem vir a se tornar pautas. E dessa relação entre as informações obtidas por meio das fontes e o que os jornalistas julgam importante noticiar que surge o jornal de cada dia; jornal este que servirá também para orientar a população, influenciando na definição dos temas que virão a ser debatidos pela sociedade (HOHLFELDT, 1997).
1.2. AGENDANDO DISCUSSÕES Muitas teorias clássicas, como a Teoria da Persuasão, dos Efeitos Limitados, Funcionalistas, entre outras, defendiam que os meios de comunicação influenciavam o pensamento do cidadão, como é o caso da Teoria da Agulha Hipodérmica, na qual se acredita que as mídias ditam o que pensar, como agir e de que modo se comportar. E por sua vez, o espectador aceitaria aquela ideia sem realizar qualquer questionamento. É claro que esta teoria já está ultrapassada. Na verdade, os meios de comunicação podem propor, sim, o que será discutido dentro de uma sociedade, mas no sentido de incluir em nossas preocupações cotidianas determinados assuntos, abordados a médio e longo prazos, pelos meios de comunicação. A hipótese da Agenda Settings, criada pelos norte-americanos Maxwell McCombs e Donald Shaw, explica exatamente essa questão. De que forma a mídia propõe ao cidadão o que discutir em seu dia a dia?
Os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o que pensar em relação a um determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes de, a médio e longo prazo, influenciar sobre o que pensar e falar, (...), dependendo dos assuntos que venham a ser abordados - agendados - pela mídia, o público termina, a médio e longo prazos, por incluí-los igualmente em suas preocupações. (HOHLFELDT, 1997, p. 44)
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Um dos principais pressupostos da hipótese de agendamento, segundo Hohlfeldt (1997), é o Efeito de Enciclopédia, que seria o fluxo contínuo de informação que recebemos e, na maioria dos casos, armazenamos em nossa memória aquele conteúdo consciente ou inconscientemente. Utilizando ainda como exemplo o acidente de ônibus da linha 328 que caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski, na Avenida Brasil. Imaginemos um jornal impresso que tenha reportado a notícia e, no mesmo dia ou nos dias subsequentes, também tenha publicado matérias relacionadas ao assunto, como outros acidentes ou sobre as condições precárias do transporte público. Quando a mídia reporta um acontecimento e com ele adiciona informações relacionadas, aquele assunto, segundo a hipótese de agendamento, tenderá a ser discutido pelo cidadão. Sobretudo, dependendo da forma como
for apresentado: a hipótese de
agendamento nos alerta para a seleção de um acontecimento que se tornará notícia, mas também para seu realce, ou seja, como este ganhará visibilidade. Assim, outro ponto importante dessa hipótese, analisado por Hohlfeldt (1997), seria o período de tempo que a mídia reporta um determinado tema. Ele explica que é durante os períodos mais longos que podemos visualizar os efeitos provocados. Voltando ao exemplo anterior do acidente de ônibus. Se aquele jornal impresso passa a noticiar, por muitas semanas ou até meses, matérias relacionadas com aquele tema, o indivíduo incluiria em suas preocupações o tema que, sem os meios de comunicação, talvez sobre o qual ele não teria conhecimento.
1.2.1. A Espiral do Silêncio Esta hipótese, criada pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann, seria um estudo complementar ao agendamento e que também se iniciou a partir dele. A Espiral do Silêncio explica que quando um indivíduo tem uma opinião contrária à exposta por boa parte da sociedade, ele tende a se calar com medo de sofrer represálias ou de ser excluído pela mesma. Desta forma, enquanto uma opinião vai crescendo, que às vezes nem representa a maioria, outras opostas a ela vão desaparecendo. Ambas as hipóteses seriam complementares, pois enquanto o agendamento explica que grande fluxo de informação por um longo período de tempo pode se tornar uma preocupação da agenda de um indivíduo. A hipótese da espiral do
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silêncio chega dizendo que quando essa opinião se espalha pela sociedade outras contrárias a ela também surgem, mas tendem a ser deixadas de lado. Na Espiral do Silêncio as pessoas seriam influencias pelo que imaginam que as outras poderiam dizer e não pelo que realmente dizem. Quando o indivíduo percebe ou imagina que a maioria das pessoas pensa diferente dele, inicialmente ele tende a se calar e, em seguida, se adapta à opinião que ele acredita ser da maioria. 1.3. ENQUADRANDO AS NOTÍCIAS “O enquadramento das notícias é construído e incorporado a partir de palavras-chave, metáforas, conceitos, símbolos e imagens visuais enfatizadas numa narrativa noticiosa”. (ENTMAN, 1991, p. 2) Ao falar isso o autor quis dizer que os itens mencionados na frase são adicionados, nem sempre de forma consciente, a uma matéria jornalística e acabam por expressar o ponto de vista do repórter ou da mídia e sugerir uma ideia ao espectador. No subitem 1.1, falamos da matéria “Passageiros relatam rotina de medo nos ônibus do Rio”, texto que comporá nosso objeto de análise do capítulo 3 e que, portanto, será utilizado apenas de forma ilustrativa nesta seção. Já no título podemos identificar as palavras rotina e medo que possuem um peso muito grande na frase. Essas palavras contribuem para construir um quadro de precariedade sobre os ônibus e diz respeito à população, ou grande parte dela, que se utiliza do transporte público. O fato de serem os próprios passageiros a falar dos problemas, dá à matéria uma ideia mais realista e próxima ao leitor. Sendo assim, as palavras contidas no título tornam a matéria um caso sério do dia a dia do cidadão que mora no Rio de Janeiro e utiliza aquele transporte. O enquadramento noticioso também consegue humanizar, ou não, as matérias com uma cobertura mais aprofundada ou superficial dos fatos. É possível, mesmo que inconscientemente, utilizar informações adicionais que criam um quadro dramático. Por exemplo, se os jornais contassem as histórias das vítimas do acidente com o ônibus 328, mostrando fotografias ou relatos de parentes sobre sonhos e desejos interrompidos, o jornalista estaria dramatizando o acontecimento e tornando a cobertura do caso mais sentimental de modo que ela sensibilizaria o
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consumidor da informação. Mas no caso mencionado, a cobertura da imprensa foi, em sua maioria, superficial, sem dar tanto destaque às vítimas. Em outro trecho Entman (1991) diz: As organizações noticiosas moldam seus relatos com o objetivo de obter reações favoráveis dos leitores e espectadores, e as reações esperadas do público influenciam também a retórica e as ações das elites políticas, que são os principais “patrocinadores” dos quadros de notícias. (ENTMAN, 1991, p. 2-3)
Para o autor, o jornalista da um enfoque às matérias com o objetivo de que a informação seja aceita pelo indivíduo. E aquilo que o indivíduo espera ouvir e ver nos meios de comunicação influencia as mídias. Assim como também influenciariam as ações das elites políticas que seriam o setor publicitário das mídias. Entman (1991) também acreditava que a interpretação que um indivíduo tem sobre o enquadramento noticioso pode auxiliá-lo nas interpretações futuras sobre aquele tema. O que ele chamou de “esquema específico de evento”. 1.3.1. Os princípios de enquadramento A primeira fonte que entra em contato com o jornalista é a que oferece um enquadramento inicial da notícia. Quando o jornalista recebe as primeiras informações sobre determinado fato ele já começa a reconstruir aquele acontecimento, com base nas informações passadas pela fonte, e, dessa forma, vai criando o quadro noticioso. O período histórico também oferece um tipo de enquadramento. Casos que deveriam ser reportados com o mesmo enfoque podem ganhar quadros noticiosos diferentes. Em seu estudo Entman (1991) analisou dois fatos em que caças militares abateram aviões civis. Em um dos casos um caça soviético atingiu um avião coreano matando sua tripulação e 269 passageiros. No outro, um caça norte-americano abateu um avião do Irã e matou a tripulação e os 290 passageiros. Na cobertura feita pela mídia americana sobre o primeiro evento, um dos quadros interpretativos enfatizados foi a culpa do país responsável pelo ataque; já no segundo, foi focalizado que o erro viria dos problemas com o manejo de alta tecnologia militar. No caso soviético, a facilidade de se conseguir informações com os parentes das vítimas coreanas, que moravam nos E.U.A., fez com que os jornalistas norteamericanos criassem formas de humanizar o relato e fazer com que os espectadores 24
se sentissem mais familiarizados. Diferente do caso com as vítimas iranianas. O que nos leva a ter uma ideia de por que as notícias foram abordadas de formas diferentes. Também sabemos que o povo norte-americano tem um visível etnocentrismo e as mídias do país encorajaram a empatia com vítimas nacionais. No caso, os pilotos do caça que atingiu o avião do Irã. 1.3.2. As características dos quadros Durante as comparações feitas por Entman (1991) em seu estudo, o autor analisa diversos detalhes das coberturas noticiosas de ambos os casos. As palavras que são utilizadas com frequência nas matérias dos jornais impressos, as imagens, animações e gráficos. Tudo diz respeito ao enquadramento noticioso. “A essência do enquadramento é o dimensionamento – ampliação ou o encolhimento de elementos da realidade retratada de modo a torná-los mais ou menos realçados” (ENTMAN, 1991, p. 5). Assim como na hipótese de Agenda Setting (explicada no subitem 1.2), o constante fluxo de informação sobre determinado assunto também faz parte do quadro de uma notícia, que torna os conceitos de agendamento e enquadramento complementares. Assim, propõe-se que quanto mais atenção as mídias dão para um determinado tema, maiores serão as oportunidades de a população ter contato com o acontecimento e considerá-lo realmente importante, bem como adotar a interpretação majoritariamente repercutida pelos grandes meios de comunicação como “a verdadeira”. O uso consistente de palavras e imagens que descreveram a responsabilidade pela ação relatada, ou seja, o agente; que estimularam ou desencorajaram a identificação com aqueles que eram diretamente afetados pelo ato; que promoveram uma categorização do fato; e que estimularam ou suprimiram uma ampla generalização a partir do ato. (ENTMAN, 1991, p. 8)
No trecho acima Entman (1991) explica os quatro principais aspectos que ajudaram a criar o quadro moral ou o quadro técnico dos casos por ele abordados no estudo. Ele menciona que o agente seria o principal responsável pelo acontecimento reportado em uma manchete. E, segundo ele, este agente pode ser culpado pelo fato ou simplesmente ser absolvido dele apenas pela forma como o jornalista aborda o tema na notícia. A identificação seria o que o agente está fazendo, seja de cunho positivo ou negativo, o que acaba criando uma 25
categorização daquele tipo de acontecimento e isso passa a englobar outras notícias que tenham algo haver com o fato inicialmente apresentado, o que Entman (1991) chama de generalização. O agente no caso do acidente analisado nesse projeto é o transporte público, o causador de diversos incidentes e de más condições. Já a identificação a qual o autor se refere são os problemas que afligem os passageiros que usam o transporte e que são lesados por essas complicações. Esse processo gera uma categorização, ou seja, um tema (assim como explicado no subitem 1.1.1) e, por fim, passar a fazer uma generalização entre as matérias que falem sobre problemas com transporte público, mesmo que estas sejam de grande ou pequeno porte. Percebemos neste capítulo que o jornalista escolhe os fatos que serão reportados e os constrói com base em diversos critérios que se complementam na tentativa de apresentar ao leitor ou espectador um conteúdo que desperte interesse. Assim como vimos que a mídia tem o poder de fortemente sugerir o que pode se tornar interessante para o receptor e o receptor, por sua vez, também pode ditar o que será apresentado pela mídia.
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CAPÍTULO 2 O QUE É UMA NOTÍCIA JORNALÍSTICA?
O
substantivo
feminino
“notícia”,
segundo
o
dicionário3,
significa
conhecimento, informação ou escrito de pouca extensão sobre um assunto qualquer. No jornalismo este termo se refere às informações recentes sobre um acontecimento já reportado ou sobre novos casos, e tem como objetivo atingir o interesse do público. Na narrativa jornalística, o repórter precisa seguir algumas regras para tentar tangenciar a imparcialidade, dando ênfase à veracidade dos fatos com uma linguagem clara e um conteúdo objetivo. Isso quer dizer que, para que uma notícia seja bem recebida pelo leitor ou espectador, é necessário que o jornalista use palavras coloquiais e seja preciso ao explicar os acontecimentos. Mostrando todas as provas para que o público tira suas próprias conclusões. “As notícias mudam com o tempo. O que ontem foi importante, hoje poderá não ser” (ERBOLATO, 2008, p. 59). É com essa sentença que Erbolato (2008) inicia seu texto sobre os critérios que selecionam as futuras matérias. O autor explica que, além da originalidade da notícia, as matérias também dependem do espaço geográfico. Um assalto em uma rua de São Paulo não vai interessar aos jornais cariocas, mas se esse assalto tiver grandes proporções ou atingir o estado do Rio de Janeiro, certamente ele será reportado. Os critérios também dependem dos interesses de cada empresa jornalística. Vamos levar como exemplo os jornais impressos do Rio de Janeiro. Sabemos que o jornal O Globo é voltado para notícias das editorias de economia e mundo, enquanto O Dia é mais focado em matérias policiais e de interesse das classes baixas. Por outro lado, o jornal Meia Hora tem o mesmo enfoque que O Dia, mas sua forma de falar com o público é mais coloquial. Erbolato (2008) também listou em seu estudo os critérios que costumam ter um peso maior na seleção dos fatos que se tornarão matérias, que são eles: proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência (ou celebridade), aventura e conflitos, consequências, humor, raridade, progresso, sexo e idade, interesse 3
Dicionário Língua Portuguesa. 1ª Edição. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
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pessoal, interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial do jornal, oportunidade, dinheiro, expectativa ou suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas e invenções, repercussão e confidencias. Já Carey (1987) afirma que, em alguns jornalismos, o “bizarro” chama mais atenção, pois seria uma forma de “degustar” o sentimento da notícia sem realmente passar por aquele tipo de acontecimento.
Grande parte do jornalismo focaliza o bizarro, o misterioso, o inexplicável. O jornalismo ritualiza o bizarro; é uma contra-fobia para superar objetos de temor. Tais histórias sobre o bizarro, misterioso horrível e o inescrutável são como as montanhasrussas, as lutas de boxe, as corridas de automóvel – agradáveis porque podemos ficar perturbados e assustados sem nos ferirmos ou ficarmos aterrados (CAREY, 1987, p. 21).
Independentemente da nomenclatura utilizada, o que nos interessa ressaltar é que, para construir o jornal de cada dia, os jornalistas obedecem a determinados critérios de seleção da notícia, os chamados “critérios de noticiabilidade”. Assim, de modo geral, um acontecimento, além de servir ao interesse público, precisa ser considerado recente, inédito, verdadeiro... Além disso, o jornalista se vale de outros recursos para organizar as informações dentro de um relato que apresentado sob a forma de notícia.
2.1. O LIDE E AS TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA Para uma linguagem clara o jornalismo se utiliza de algumas regras. A mais importante é o lide (também conhecido como lead), que seriam as seis perguntas do primeiro parágrafo.
O lide é o primeiro parágrafo da notícia em jornalismo impresso, embora possa haver outros lides em seu corpo. Corresponde à primeira proposição de uma notícia radiofônica, ao texto lido pelo apresentador ou à deixa do apresentador ou a cabeça do repórter (quando ele aparece falando) no inicio de uma notícia em televisão. (LAGE, 2006, p. 28)
As perguntas “Quem? Que? Quando? Onde? Por quê? Como?” são muito importantes para a construção de qualquer matéria. O autor Mário Erbolato (2008) afirma em seu texto que é possível ter vários tipos de lide e apresenta alguns que são usados para facilitar o nosso entendimento: 28
1. Lead simples – um fato apenas é o principal; 2. Lead composto – dois ou mais fatos importantes iniciam a notícia; 3. Lead integral – apresenta todas as respostas para as seis questões do lead; 4. Lead suspense ou dramático – provoca emoção no leitor ou espectador; 5. Lead flash – um lead relâmpago, breve; 6. Lead resumo – conta tudo o que irá acontecer. É o mesmo que lead composto; 7. Lead citação – transcreve um pronunciamento; 8. Lead contraste – apresentas fatos diferentes ou opostos; 9. Lead chavão – cita um slogan ou ditado, porém, não costuma ser muito usado pelos jornalistas; 10. Lead documentário – serve como base histórica; 11. Lead direto – anuncia a notícia sem rodeios; 12. Lead pessoal – fala diretamente com o leitor ou espectador. Outra regra utilizada é a da Pirâmide Invertida que organiza as informações do texto noticioso pelo nível de importância, do maior para o menor. Mas o autor apresenta também em seu livro a Forma Literária (2008), o que seria a “pirâmide normal”, que conta os fatos iniciais, em seguida, os de crescente importância, os de importância elevada e o desfecho. Já no Sistema Misto (2008) os fatos mais importantes são apresentados primeiro e depois a narração é feita em ordem cronológica. A Pirâmide Invertida é a mais utilizada em narrativas noticiosas do dia a dia, como em jornais impressos, telejornais e noticiários radiofônicos, além de alguns sites noticiosos que trabalham com informação diária. Isso porque o seu formato facilita ao leitor ou espectador “absorver” melhor as informações. Por exemplo, a pirâmide invertida permite as pessoas que somente têm tempo de ler um jornal no caminho para o trabalho conseguir se sentir informado sobre o fato apenas lendo os primeiros parágrafos da notícia. Facilita também o trabalho do repórter na hora de construir a narração durante o corre-corre. 2.1.1. Questionando a objetividade do lide No estudo realizado pelo autor James W. Carey (1987), ele questiona se as perguntas “por que” e “como”, existentes no lide, seriam capazes de auxiliar o 29
jornalista em sua busca pela objetividade e pela imparcialidade, sendo estas questões de cunho subjetivo, ou seja, que exigem uma resposta opinativa, assim como também exige um conhecimento mais aprofundado do fato.
O Por Que e o Como são aquilo que mais procuramos obter de uma matéria e são aquilo que menos provavelmente obtemos, sendo que na maior parte das vezes somos obrigados a suprir por nós mesmos (CAREY in MANOFF & SCHUDSON, 1987, p. 4).
O Como, segundo o autor, só pode ser respondido pelas instituições que têm o poder de intimar as testemunhas a prestarem depoimento. Sendo assim, o jornalista fica a mercê de órgãos, como a Polícia Civil, para esclarecer os fatos com as informações colhidas durante as investigações e isso costuma levar tempo. Já o Por Quê, normalmente, possui quatro formas utilizadas nas matérias: “determinação dos motivos, elucidação das causas, predição das conseqüências ou avaliação da importância” (CAREY, 1987, p. 19). Pois, de acordo com Carey (1987), não existe instituição que possa encontrar a real explicação do acontecimento, assim como ele também acredita que não existe um compromisso ideológico por parte dos jornalistas. Em raras exceções é possível encontrar a verdadeira explicação dos fatos. O autor afirma que o Por Quê é invisível, abstrato e refere-se ao que está no interior do sujeito causador da ação. Para ele, “os motivos são acontecimentos fantasmagóricos da mente; e a importância parece estar no olhar de quem observa” (CAREY, 1987, p. 20). Dessa forma, não é possível encontrar a explicação do acontecimento nos eventos ou nos atos. No início da cobertura do acidente com o ônibus 328 as informações recebidas pelos jornalistas eram muito desencontradas, mas a urgência de reportar os fatos era evidente e por isso houve algumas especulações de como as coisas teriam acontecido dentro do veículo nas matérias iniciais. Os motivos que teriam ocasionado o acidente também não puderam ser visualizados de primeira, foi preciso aguardar os dados colhidos pela polícia durante as investigações. Carey (1987) defende também que os jornais apenas relatam as notícias de formas superficiais e que um detalhamento aprofundado, para ele, o “por que” e o “como”, deixaria as matérias muito compridas e por isso acabam sendo encontradas apenas nos livros jornalísticos, por exemplo. O Quem também é mencionado no 30
estudo do autor. Ele acredita que, muitas vezes, “os nomes fazem as notícias” (CAREY, 1987, p. 10) e as explicações do fato se resumem aos motivos desse sujeito. A professora Eleonora Magalhães (2008) realizou uma análise do caso Pimenta Neves em sua dissertação de mestrado. Caso este em que o jornalista Pimenta Neves assassinou sua ex-namorada, a também jornalista, Sandra Gomide. De acordo com a análise apresentada, o acontecimento possuía dois “quem”: o quem-assassino e o quem-vítima. Durante seu estudo a professora chegou à conclusão de que, em muitos acontecimentos, o quem-vítima geralmente é apresentado como sujeito da ação. No entanto, o quem-assassino no caso Pimenta Neves ganhou mais destaque por causa do “valor” dele, para os repórteres, que era maior do que o da vítima devido ao seu “poder” profissional. Reflexões como as de Carey (1987) e Magalhães (2008) nos ajudam a compreender que, apesar de o lide ser utilizado como aparato cujo propósito é viabilizar um trabalho “objetivo” por parte dos jornalistas, essa objetividade dificilmente pode ser alcançada de fato. No caso do acidente objetivo desta monografia, quem, afinal seria o quem da notícia? E qual (ou quais) teriam sido as causas do acidente? Como veremos, isso depende dos quadros interpretativos enfatizados durante a cobertura do incidente. 2.2. A INTUIÇÃO JORNALÍSTICA Um repórter precisa ter um bom olhar para selecionar e construir as matérias, é o que a autora Gaye Tuchman (1999) chamaria de “news judgement” (perspicácia profissional). Ou seja, o profissional precisa ter uma “intuição” jornalística para distinguir os acontecimentos que são capazes de se tornar uma notícia e quais não são. Por exemplo, se um jornalista recebe a denuncia de um homicídio, ele precisa “peneirar” as informações mais relevantes para fazer a construção da notícia. Assim, ele utiliza sua “intuição” jornalística para selecionar, entre os fatos apresentados por sua fonte, o que é mais relevante, os fatos com pouca relevância e os que nem necessitam ser apresentados em sua cobertura do acontecimento. Além de verificar com as fontes oficiais, a polícia no caso de um homicídio, até que ponto sua denúncia é verídica. 31
O autor Nilson Lage (2006) sugeriu três fases do processo de produção de uma notícia: nomeação, seleção e ordenação dos eventos. Para ele a seleção seria a omissão dos fatos de menor importância para o contexto geral, a ordenação, como a palavra mesmo diz, organização da notícia a partir dos eventos mais importantes ou relevantes, e por último, a nomeação, escolha das palavras utilizadas para descrever as coisas, como no exemplo dado pelo autor no trecho abaixo:
Há compromissos e sutilezas nos nomes que se atribuem às coisas. “Corpo” seria pouco específico no contexto, “defunto” retiraria um tanto da dramaticidade que o cidadão atônito pretende transmitir, “presunto” o desqualificaria socialmente, na ótica do interlocutor. (LAGE, 2006, p. 23)
No caso mencionado, o autor faz uma análise sobre as expressões que poderiam substituir a palavra “cadáver”. Entretanto, ele nos mostra que os termos apresentados poderiam ser entendidos de diversas formas diferentes. Por esse motivo é importante que o jornalista escolha com cuidado as palavras que serão utilizadas, pois elas definem o profissionalismo da notícia e também servem como forma de enquadramento (assim como vimos no subitem 1.3.2). O news judgement, “entendido como a sua experiência e senso comum” (TUCHMAN in TRAQUINA, 1999, p. 85), é uma ferramenta muito usada pelo repórter que o permite escolher entre os fatos existentes os de maior importância ou o mais interessante. Quando um jornalista consegue responder as seis perguntas do lide (o quê, o quando, o onde, o porquê, o como e o quem) ele considera que conseguiu alcançar a imparcialidade. 2.3. A BUSCA PELA OBJETIVIDADE “O termo ‘objetividade’ funciona como um baluarte entre eles (os jornalistas) e os críticos” (TUCHMAN in TRAQUINA, 1999, p. 75). Tuchman explica que a objetividade é vista de formas diferentes em diversas profissões, e no caso do jornalista, como é explicado no trecho anteriormente apresentado, a objetividade funciona como uma defesa. O repórter busca a objetividade para se proteger de problemas futuros que possam acarretar sua matéria. Como por exemplo, um processo judicial.
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No momento em que o jornalista se utiliza das formas de objetividade, ele se coloca no lugar de fornecedor da notícia, tirando de sua responsabilidade qualquer problema futuro, e pode até mesmo usar os discursos dos envolvidos no fato.
Ele (o jornalista) tem de tomar decisões imediatas relativamente à validade, fiabilidade e “verdade” a fim de conhecer os problemas impostos pela natureza da sua tarefa – o processamento de informação que dá pelo nome de notícia, um produto de consumo depletivo feito diariamente. (TUCHMAN in TRAQUINA, 1999, p. 76)
Um repórter, diferente de um cientista social, tem que ser dinâmico no processo de seleção das matérias. Constantemente ele precisa tomar decisões de forma rápida evitando os riscos, sejam eles, “pelos prazos de entrega de material, pelos processos difamatórios e pelas reprimendas dos superiores”. (TUCHMAN in TRAQUINA, 1999, p. 76) Para evita os problemas mencionados e realizar uma notícia objetiva o jornalista precisa confirmar os fatos com uma fonte oficial. Por exemplo, se vamos noticiar um caso policial é importante ouvir da polícia até que ponto os fatos são verídicos ou até mesmo se a notícia realmente é da forma que a recebemos na denuncia. Ainda este ano, um menino de uma comunidade foi encontrado morto em um poço de água. A família, assim como alguns repórteres, acreditavam que aquilo tinha sido obra dos traficantes da região. Ao entrar em contato com o delegado, foi apresentada uma versão diferente. A polícia afirmava que, segundo as investigações, o menino havia caído no poço, possivelmente enquanto brincava sozinho. Caso não seja possível a confirmação do fato, existem outras formas de se afirmar a objetividade por parte do jornalista. A autora Gaye Tuchman apresentou em seu estudo quatro formas muito utilizadas. 1. A apresentação de possibilidades conflituais. – Neste item a autora defende a ideia de que o jornalista pode trabalhar com fatos que muitas vezes não podem ser identificados. Um exemplo usado pelo autor seria de um senador dos EUA que afirma que América está sendo ultrapassada pela União Soviética na construção de um míssil. Esse fato dificilmente será confirmado, 33
mas o jornalista pode usá-lo como notícia a partir do momento que ele o apresente da seguinte forma: “X disse A”, mesmo que “A” seja falso. Na tentativa de confirmar essa afirmativa o repórter se depara com outra assertiva. Digamos que ele tenha procurado o ministro republicano da Defesa e que o mesmo apresente uma afirmativa “B”. O jornalista pode colocar ambas ideias na matéria e permitir que o leitor decida quem está dizendo a verdade. Esta ideia pode se tornar mais complexa a partir do momento que o jornalista insira outras opiniões ao texto;
2. A apresentação de provas auxiliares. – Neste outro tópico, ela defende que é necessário acrescentar fatos auxiliares que podem servir de suporte à afirmação inicial. Como exemplo, Tuchman conta o caso de um obtuário que descrevia o falecido como “músico excepcional” e que, ao ser questionado pelo editor o motivo do termo, soube-se que seria porque o falecido já havia tocado com o músico John Philip Sousa; 3. O uso judicioso das aspas. – As aspas usadas para citar opiniões são vistas, pelos jornalistas, como uma forma de se conseguir objetividade. Quando a opinião de uma pessoa é inserida em uma notícia o jornalista acredita que conseguiu deixar a notícia mais imparcial. As aspas também podem ser usadas para ironizar o sentido de alguma palavra. Quando o autor fala sobre a “Nova Esquerda”, entre aspas, ele está duvidando da legitimidade do grupo. 4. A estrutura da informação numa sequência apropriada. – Por fim, este item se refere à ordem das informações dentro de uma narrativa noticiosa. Geralmente, os fatos mais importantes são apresentados no primeiro parágrafo e vai diminuindo a importância nos parágrafos subsequentes. Seria a Pirâmide Invertida. (visto no subitem 2.1) Este foi considerado pelo autor como um dos tópicos mais difíceis de conseguir alcançar a objetividade, pois mesmo seguindo a linha editorial da empresa, ainda assim o lide teria a visão do repórter sobre a notícia na escolha da ordem dos fatos.
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CAPÍTULO 3 ANÁLISE DA NOTÍCIA JORNALÍSTICA
Na terça-feira, dia dois de abril, por volta das 16h30, o ônibus 328 (Bananal – Castelo) caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski, altura da Ilha do Governador, na pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro do Rio. Sete pessoas morreram na hora e outras 11 ficaram feridas. Posteriormente, descobriu-se que o acidente foi ocasionado por uma discussão entre o estudante Rodrigo Freire, de 25 anos, e o motorista André Luís Silva Oliveira, de 33. O passageiro pulou a roleta e agrediu o condutor com um chute no rosto. Segundo testemunhas, isso aconteceu porque o motorista da viação Paranapuã não havia parado no ponto para o rapaz descer devido à velocidade em que o veículo se encontrava. O caso foi reportado em todos os noticiários de televisão e de rádio, nos jornais online e impressos do estado do Rio de Janeiro. Um telejornal matinal da Rede Record de Televisão, por exemplo, chegou a ter seis matérias relacionadas ao acidente no dia três de abril, e outras dez no dia quatro. As mídias internacionais também destacaram o acontecimento. Como foi o caso do jornal The Guardian e da BBC News da Inglaterra. Isso porque o Brasil tem sido mais visado pelo exterior devido à realização da Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Para este estudo, faremos a análise de sete notícias, divulgadas pelos jornais G1, site de notícias vinculado à Rede Globo de Televisão; R7, vinculado à Rede Record; O Dia Online; e RJ no Ar, programa matinal de notícias da Rede Record. De fato, o acidente com o ônibus 328 não chegou a ser exatamente como a “onda de crime” de Fishman, pois teria durado cerca de um mês. Posteriormente, os noticiários passaram a focar em estupros. Logo após o caso da mulher abusada sexualmente por um menor de idade dentro de ônibus. No entanto, a movimentação que o caso realizou dentro dos meios de comunicação deve ser analisada por ser bem próxima do que o autor apresentou em seu estudo; e nos ajudam a compreender o processo de seleção e produção das notícias empregado em boa parte das redações brasileiras atualmente.
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3.1. ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE CRIAÇÃO Neste subitem, pretendemos analisar, com base nas formas de criação das notícias utilizadas pelos jornalistas, como a cobertura do acidente com o ônibus 328 foi construída. Qual foi a reação das autoridades e o que fez a mídia dar enfoque aos acontecimentos envolvendo o transporte público são algumas das perguntas que responderemos aqui. Como inicialmente explicado no capítulo 1, o acidente ocasionou uma sensibilização e um interesse da população desde o momento em que foi reportado pela primeira vez. A partir disso, os noticiários passaram a divulgar todo tipo de caso que falasse sobre o transporte público no Rio de Janeiro. O acidente com o ônibus 328 da empresa Paranapuã também mobilizou as autoridades que começaram a apresentar serviço às mídias e reacendeu antigas discussões, como no caso dos motoristas que acumulam a função de cobrador. No Rio de Janeiro, o Portal do Consumidor (PROCON) realizou sua primeira vistoria nas viações da cidade na noite do dia nove de maio, exatamente 37 dias após o acidente, e interditou 17 veículos devido a irregularidades na documentação e na manutenção. As empresas inicialmente avaliadas seriam, segundo um representante da instituição durante uma entrevista a TV Record, aquelas envolvidas com recentes incidentes4. Entendemos que o caso do ônibus 328 abriu espaço para a divulgação de acidentes envolvendo o transporte. Atropelamentos com vítimas fatais e até mesmo caso de pequeno dano, como uma batida em uma banca de jornal, passaram a ter destaque. Criando o tema “problemas com o transporte público.” Ao expor esses erros os órgãos responsáveis precisaram fazer algo para reconquistar a confiança da população que já se encontrava desacreditada. Mas será mesmo que os acidentes com ônibus tiveram um aumento depois do fato ocorrido no dia dois de abril? A teoria de Fishman nos alerta quanto à possibilidade desses tipos de acidentes estarem ocorrendo antes de começarem a ser noticiados largamente e com destaque pelos meios de comunicação, não sendo apenas tão focados.
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Vídeonotícia disponível no endereço eletrônico http://videos.r7.com/procon-faz-roleta-russa-emgaragens-de-empresas-de-onibus-no-rio/idmedia/518cf27a0cf236eff5fe0feb.html ou transcrição da matéria no Anexo VIII.
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Durante uma pesquisa em sites noticiosos localizamos outras matérias sobre esse tema, anteriores ao dia dois de abril, que até teriam ganhado um grande enfoque, mas não ocasionaram influências futuras. Como no caso do ônibus da linha 484 (Olaria – Copacabana) que invadiu a calçada e atingiu um muro também na Avenida Brasil, altura Caju. O fato aconteceu no dia 12 de junho de 2012 e deixou quatro mortos e 11 feridos. Mas qual é a diferença entre os casos? O que fez o caso do ônibus 328 ter mais enfoque e influencia nas divulgações futuras das mídias que o caso do ônibus 484 não fez? Ônibus invade a calçada na Avenida Brasil e deixa 4 mortos5 Um ônibus da linha 484 (Olaria - Copacabana) invadiu uma calçada na noite desta terça-feira (12) na Avenida Brasil, no Caju, Zona Portuária do Rio de Janeiro. Segundo o Corpo de Bombeiros do Quartel do Caju, o acidente, que aconteceu na altura da passarela três, sentido Zona Oeste, onde havia um ponto de ônibus, deixou quatro mortos e feridos. Segundo os bombeiros, o motorista perdeu a direção do veículo, invadiu a calçada e bateu em um muro. Ao menos 11 feridos foram levados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte da cidade, e para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. O número de feridos, porém, não é definitivo e pode aumentar. (G1 RIO, 13 de junho de 2012, 5h21)
Ônibus cai de viaduto e ao menos 7 morrem no Rio6 Um ônibus caiu de um viaduto na Avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, na zona norte do Rio, por volta das 16h30 desta terça-feira (2). Os bombeiros confirmam a morte de sete pessoas, sendo cinco homens e duas mulheres. Ao menos cinco pessoas deram entrada nos hospitais Getúlio Vargas e Adão Pereira Nunes - duas delas permaneciam em estado gravíssimo até a noite de terça. O coletivo acidentado, que faz a linha Bananal-Castelo, pertence à viação Paranapuã. (R7, dois de abril de 2013, 20h28)
Acreditamos que a forma como o leitor ou espectador recebe a notícia influencia também na seleção dos acontecimentos e na construção deles. Como falado muitas vezes neste projeto “é inútil encarar o noticiário como distorcendo ou como refletindo a realidade, porque as ‘realidades’ são feitas e o noticiário é parte do sistema que as faz”. (FISHMAN, 1980, p. 10). 5
Matéria disponível na íntegra no endereço eletrônico http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2012/06/acidente-na-avenida-brasil-deixa-4-mortos-dizem-bombeiros.html ou no Anexo II. 6 Matéria disponível na íntegra no endereço eletrônico http://noticias.r7.com/rio-dejaneiro/noticias/onibus-cai-de-viaduto-e-ao-menos-4-morrem-no-rio-20130402.html ou no Anexo III.
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O jornalista não teve tempo para ver se o motivo do acidente com o ônibus 328 foi culpa do passageiro, do motorista ou da máquina. O factual chegou ao conhecimento das mídias, a apuração das emissoras e precisava ser reportado. Só com o desenrolar dos fatos é que se foi notando detalhes que no momento inicial não havia como serem vistos. Assim foi possível perceber o interesse da população sobre o acontecimento e notou-se que ele precisaria ser mais “aproveitado”. O caso do ônibus 484 comoveu a sociedade, mas não teria causado tanta revolta por causa da forma como o incidente aconteceu. De acordo com um estudo realizado pelo SOS Estradas, programa de redução de acidentes, pelo menos 723 acidentes de trânsito por dia acontecem nas vias pavimentadas do Brasil 7, mas não é sempre que se vê um ônibus cair de um viaduto. Casos como estes também exigem uma dedicação do jornalista no momento de suitar 8 os fatos. O que acaba explorando um tipo de enquadramento diferente para a notícia. No caso do ônibus 328 não foi acrescentado tanto uma humanização como nos acontecimentos analisados por Entman. Mas o enfoque trabalhado pelos repórteres durante a cobertura deu a entender que, além do temperamento agressivo de ambos envolvidos, tanto condutor como passageiro, o fato também ocorrera devido às péssimas condições do transporte. Sejam elas físicas do veículo ou pelo despreparo dos seus profissionais. Dessa forma, o jornalista incluiu uma “nova” preocupação ao cotidiano do cidadão. No caso do ônibus 328 aconteceu o que Entman explicou em seu estudo ao falar que uma matéria reportada muitas vezes em um longo período de tempo pode fazer com que o indivíduo torne daquilo uma preocupação em sua vida. Ele (o caso) ficou por cerca de um mês sendo reportado pelas mídias com matérias suítes do fato e acontecimentos relacionados que a população passou a se preocupar e até se amedrontar. O principal objeto de análise apresentado no subitem 1.1, a matéria “Passageiros relatam rotina de medo nos ônibus no Rio” (texto na íntegra disponível no anexo I), expõe essa reação da população aos constantes acidentes reportados pelas mídias, assim como também reforça o medo que ela sente.
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Dados do estudo “Morte no Trânsito: Tragédia Rodoviária” realizado pelo SOS Estradas. Matéria disponível no endereço eletrônico http://www.estradas.com.br/sosestradas/estudos/sos_estudos_acidentes.asp ou no Anexo IV. 8 Repercutir, dar continuidade à cobertura noticiosa.
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Muitas matérias sobre o mesmo caso encontradas durante buscas realizadas em sites noticiosos apresentaram o acidente como uma tragédia. De fato, a queda do ônibus foi um acontecimento impactante na sociedade, mas não podemos discordar de que a palavra tem um peso grande sobre o indivíduo. Até mesmo o enfoque recebido pelas mídias internacionais apresenta um significado. Isso porque o país irá sediar a Copa das Confederações em 2013, a Copo do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Sendo o Brasil um país que irá receber milhares de turistas nos próximos anos, o que acontece de bom ou ruim, principalmente de ruim, é observado com maior rigor pelas demais nações. Isso como forma de questionar se teremos estrutura para tais eventos mesmo que o país venha crescendo nos últimos anos. Junto com a divulgação do caso os jornalistas também relembraram a polêmica da dupla função exercida pela maioria dos motoristas no Rio de Janeiro. O acumulo de função dos motoristas de microonibus, conduzir o veículo e cobrar as passagens, é uma função que está prevista em um acordo coletivo com a categoria dos rodoviários e a Fundação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado (Fetranspor) desde 2003. O que até hoje tem sido questionado como principal causador do estresse e, consecutivamente, dos acidentes de trânsito envolvendo ônibus. 3.2. ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE CONSTRUÇÃO Nas notícias inicialmente reportadas pela mídia podemos dizer que no caso do ônibus 328, de acordo com os tipos de lide apresentado por Erbolato, em essência, estaria sendo utilizando o lide simples em que o fato principal seria a queda do ônibus do viaduto na pista lateral da Avenida Brasil.
Um ônibus caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski na pista lateral da Avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, no Rio, por volta das 16h30 desta terça-feira (2), deixando 11 feridos e sete mortos. As informações são do Corpo de Bombeiros. A queda foi de uma altura de cerca de 10 metros. O coronel Sérgio Simões, secretário estadual de Defesa Civil, disse à Globo News que os mortos são cinco homens e duas mulheres. 9 (G1 RIO, dois de abril de 2013, 19h08)
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Matéria disponível no endereço eletrônico http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/acidente-com-onibus-interdita-trecho-da-avenida-brasil-no-rio.html ou no Anexo V.
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O “quem” do lide apresentado no trecho acima seriam os passageiros vítimas do acidente. Também é possível entender o porquê dessas publicações, pois a queda se tratava de um factual e os jornalistas não possuíam tantos dados. Essas matérias iniciais também expressam a forma como o acontecimento chegou ao jornalista. Com o passar do tempo, a cobertura noticiosa muda de foco, mas o tipo de lide, na maioria das reportagens, permanece o mesmo. Em uma matéria do jornal O Dia Online, na mesma data do acidente, foi divulgado uma notícia falando sobre as multas que o veículo envolvido na queda do viaduto tinha até aquele momento. Já no título da matéria “Ônibus que caiu de viaduto acumula 46 multas” 10 podemos verificar a diferença no enfoque do caso. O que teria começado como um acidente bárbaro passou a ganhar um rumo como imprudência profissional.
Rio - O ônibus da Viação Paranapuan, linha 328 (Bananal - Castelo), que caiu no Viaduto Brigadeiro Trompowski, na Avenida Brasil, altura da Ilha do Governador, tem 46 multas acumuladas. A informação é da Secretaria Municipal de Transportes. Os principais motivos são: veículo circulando fora da faixa para ônibus, no corredor BRS, parada irregular, excesso de velocidade (gravidade média - até 20% acima da velocidade permitida). (O DIA ON LINE, dois de abril de 2013, 23h39)
Estas seriam as informações que chegaram à imprensa pós-acidente. Em coberturas jornalísticas factuais o repórter fica a mercê dos novos fatos que serão apresentados. No caso do ônibus 328 os repórteres buscaram mais informações com testemunhas que apresentaram a versão de que o veículo estaria acima da velocidade. Associando então o fato de existirem as 46 multas vinculadas ao ônibus com os relatos colhidos. Nessa matéria o tipo de lide utilizado pelo jornalista foi o composto, pois apresentou duas informações: a queda do ônibus e as multas que o veículo tinha. Já o “quem” do lide nesta notícia seria o ônibus, o “quem” causador da ação. Mas como um caso factual, novas versões foram sendo apresentadas de acordo com a investigação policial. O acontecimento foi se tornando mais claro e ganhando forma. A presença de testemunhas que participaram diretamente do fato foi crucial para descobrir a verdadeira causa do acidente. 10
Matéria disponível no endereço eletrônico http://odia.ig.com.br/portal/rio/%C3%B4nibus-que-caiude-viaduto-acumula-46-multas-1.567709 ou no Anexo VI.
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Pelo menos dois passageiros relataram uma briga momentos antes de o ônibus 328 cair do Viaduto Brigadeiro Trompowski sobre a pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro, na altura da Ilha do Governador, na tarde desta terça-feira (2), causando sete mortes e deixando vários feridos. Segundo as testemunhas, que dizem ter descido do coletivo antes da queda, um passageiro e o motorista estavam discutindo. Segundo Ari Osvaldo Lima dos Santos, o ônibus estava cheio, com cerca de 10 pessoas em pé. Ele e Nelson Martins Bezerra, outra testemunha, contaram que um passageiro começou a discutir com o motorista ao não conseguir descer no ponto em que queria. Com medo, Nelson preferiu descer antes de seu destino quando o passageiro teria pulado a roleta. Segundo ele, logo depois foi ouvido um estrondo, da queda do ônibus. A Secretaria de Transportes, o Centro de Operações e a empresa de ônibus estão verificando se o veículo possuía câmera de segurança, para apurar as causas do acidente e confirmar se houve discussão entre motorista e passageiro. 11 (G1 RIO, dois de abril 2013, 19h24)
Podemos perceber que o jornalista trabalha diretamente com os fatos colhidos com suas fontes, sejam elas as testemunhas, sujeito da matéria apresentada acima, fontes oficiais ou fontes especializadas no assunto ao qual se refere determinada matéria. A cobertura jornalística do acidente, em sua maioria, apresentou como sujeito do fato o motorista e o passageiro envolvidos na discussão, ou seja, o “quem” causador da ação. Não houve humanização das vítimas. Em muitas matérias analisadas elas eram apenas expostas como “consequência” da ação. Buscando apresentar o acontecimento de forma objetiva e imparcial, o jornalista, como falado no capítulo 2, também usa vários artifícios para alcançar a objetividade, como a apresentação de possibilidades conflituais, de provas auxiliares, o uso judicioso das aspas e a estrutura da informação numa sequência apropriada. Pode-se perceber claramente que a afirmativa de que o motorista do veículo e um passageiro teriam discutido momentos antes do acidente, presente no trecho da matéria citada, se encontra com base nos relatos de duas testemunhas que disseram ter descido do ônibus antes do viaduto. Ao analisar esse trecho podemos dizer que, caso não fosse comprovada a veracidade desse fato, a matéria não 11
Matéria disponível no endereço eletrônico http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/testemunhas-relatam-briga-em-onibus-que-caiu-de-viaduto-no-rio.html ou no Anexo VII.
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perderia sua validade por se tratar da fala de terceiros. E se por acaso, futuramente, o passageiro tido como agressor ou o motorista se sentissem lesados pela matéria do G1 e buscassem a justiça, o jornal argumentaria sua imparcialidade informando que estavam divulgando a fala das testemunhas e não fazendo acusações precipitadas. Isso não se trata exatamente de uma apresentação de possibilidades conflituais como Gaye Tuchman sugeriu em seu estudo, mas podemos dizer que estaria próximo disso devido às poucas informações que se podia consegui no momento de divulgação da matéria, ou seja, horas após o acidente. No entanto, relatar as 46 multas do ônibus envolvido no acidente foi à prova auxiliar que a imprensa apresentou para afirmar inicialmente, antes de descobrir o real causador do acidente, que a culpa da queda do ônibus seria o problema com o transporte público. Com relação às técnicas de apresentação contidas em uma notícia, a Pirâmide Invertida é a mais utilizada nos textos noticiosos tradicionais. Sempre começando pelo lide e nos demais parágrafos as informações adicionais. Esse tipo de organização da notícia se parece muito com a estrutura da informação numa sequência apropriada, apresentado por Gaye Tuchman (1997), sendo que nessa estrutura, as informações mais recentes e mais importantes aparecem no início do texto e as de menor importância no final. Ela (a estrutura) também é utilizada pelos jornalistas para se prevenir das repressões dos superiores e de processos judiciais. No caso do ônibus 328, o acompanhamento noticioso foi possível graças às informações conseguidas junto à polícia e a testemunhas, sem contar com as informações adicionais da Secretaria Municipal de Transportes, por exemplo, como no caso das multas. Não podemos deixar de levar em conta também que relatos de fontes oficiais, assim como a Secretaria de Transportes e a Polícia, trazem a notícia uma credibilidade maior. Quando não se tinham fatos novos sobre a “tragédia” os jornalistas buscavam “alimentar” a população com notícias relacionadas como no caso das matérias sobre a dupla função dos motoristas ou até mesmo o caso do medo que a população estava sentindo pós-acidente. O news judgement dos jornalistas certamente percebeu o interesse da população sobre aquele tema. O repórter resolveu investir cada vez mais naquela cobertura. Quando não se tinha novidades sobre o caso do ônibus 328, acidentes 42
com o transporte passaram a se destacar nas publicações independentemente da gravidade dos fatos. Para finalizar a análise da cobertura noticiosa do acidente com o ônibus 328 podemos dizer que o fato se encaixa em alguns dos critérios apresentados por Erbolato (2008). A notícia da queda do veículo pertence ao critério de proximidade, pois diz respeito a um fato que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e por esse motivo é de interesse da população que aqui reside. Assim como também se enquadro no impacto pela forma como o incidente aconteceu. O interesse pessoal e o humano também definem a cobertura desse acontecimento, pois o acidente diz respeito à grande parte da população que precisa do transporte público para trabalhar, ir à escola, entre outras coisas. Algumas matérias relacionadas às qualidades dos veículos também entrariam no critério de interesse. E, de acordo com o autor, o critério de importância cabe ao editor fazer a avaliação do fato e definir se ele é importante ou não. No caso dessa cobertura, objeto de estudo deste projeto, os editores dos veículos noticiosos chegaram à conclusão de que esse fato, assim como outros acontecimentos relacionados a ele, atingiam a curiosidade e o interesse da população. Por esse motivo, a cobertura se manteve presente por mais tempo na imprensa.
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44
CONCLUSÃO
Concluímos que um profissional de comunicação, especificamente jornalista, tem a capacidade de trabalhar em conjunto com a realidade criando um processo cíclico entre o jornalista e o receptor. Ou seja, a mídia influência o meio assim como o meio influencia a mídia. Mas para isso, pequenos costumes diários, tanto teóricos como práticos, mantêm esse ciclo sempre em movimento. Por todas as etapas que um fato precisa passar até que se torne notícia, o jornalista usa seu julgamento profissional para conferir a credibilidade de seu relato. E faz isso ao trabalhar a matéria de modo a torná-la, aos olhos do público e dos próprios jornalistas, objetiva e imparcial. São utilizadas também algumas regras de organização textual que facilitam a construção da narrativa noticiosa. O repórter recebe, por exemplo, diversas denuncias de todos os tipos, por email, telefone, cartas etc. Além de poder colher informações de seus concorrentes. Mas é com seu julgamento profissional que ele avalia o que pode se tornar uma notícia que desperte o interesse da população. Quando essa escolha é feita, o jornalista passa para etapa de organização das informações colhidas durante a apuração dos fatos, sejam eles factuais ou produzidos. Os tipos de lide e as técnicas de apresentação da notícia, sendo a mais usada a Pirâmide Invertida, são as ferramentas textuais que o jornalista possui. Uma narrativa noticiosa facilita ao leitor no momento de buscar informações e ao próprio jornalista ao construir as matérias. Assim como as questões a seriam respondidas no lide orientam o repórter para, se não alcançar, ao menos tangenciar a imparcialidade. Nos casos em que o jornalista não pode comprovar uma informação, ele segue o que, concordando com Tuchman, classificamos como “rituais estratégicos” para manter a matéria mais objetiva possível. Apresentar provas auxiliares, acrescentar falas de testemunhas entre aspas ou construir a matéria com base na afirmativa de um personagem são algumas dessas formas. As noticias também afetam o cotidiano do cidadão, mas não os influenciam como acreditavam as teorias “clássicas”, por exemplo, a Agulha Hipodérmica. 45
Entretanto, é importante ter em mente que a evolução das pesquisas na área da comunicação foram importantíssimos para os atuais estudos, pois foram delas que vieram hipóteses como à da Agenda Settings, muito usada no jornalismo brasileiro, que defende a ideia de que o jornalista pode agendar o que será discutido pelo indivíduo. Com uma longa cobertura de um acontecimento e informações adicionais é possível fazer com que o cidadão absorva para suas preocupações diárias aquela informação. A imprensa, ao menos em parte, seria capaz de propor a pauta de discussão da sociedade. E, assim, os meios de comunicação de modo geral e em especial os jornais de maior circulação no país, podem não ser capazes de ditar às pessoas o que elas vão pensar, mas possuem grande capacidade de sugerir sobre o que elas vão se preocupar e discutir em seu dia-a-dia. Casos como o do ônibus 328 chocam a população e a extensa cobertura do fato, por exemplo, com suítes e acontecimentos relacionados (como a discussão da dupla função e das multas do veículo) acabam, de certa forma, amedrontando o individuo que utiliza aquele transporte. E mesmo quem não faz uso desse meio de transporte ou não transite pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, ainda assim, tenderá a participar de discussões envolvendo o acontecimento, à medida que este ganhe repercussão nacional. O jornalista também busca enquadrar as notícias dentro de um padrão com “palavras-chave, metáforas, conceitos simbólicos e imagens visuais enfatizadas numa narrativa noticiosa”. (ENTMAN, 1991, p. 2) Ou seja, ao usar uma determinada palavra em uma matéria jornalística isso pode fazer com que o produto ganhe um sentido diferente do que poderia se utilizássemos outra em seu lugar. A palavra tragédia, por exemplo, usada em algumas matérias sobre o caso do ônibus 328 da uma dimensão maior e mais dolorosa do que se ela não tivesse sido usada. Também sabemos que, como forma de organização, as notícias são separadas por temas, dessa forma fica fácil na hora de identificar matérias que possuem relação entre si. Por isso, quando falamos de um caso como o do ônibus 328, podemos relacionar a esta cobertura outras matérias que falem sobre os problemas ou acidentes de trânsito que envolvam o transporte público. Ao falar de organização, não podemos esquecer de mencionar que “a proporção em que cada jornalista toma consciência de que os outros estão tratando 46
do mesmo tema no noticiário, o tema se torna estabelecido dentro de uma comunidade de organizações de média”. (FISHMAN, 1980, p. 6) Ou seja, quando um meio de comunicação reporta uma matéria que a concorrência considera boa e também passa a cobri-la, este tema se torna relevante entre os meios de comunicação que até mesmo a mídia que publicou o fato inicialmente acaba confirmando sua aposta. Podemos afirmar então que os critérios usados pelo jornalista na construção das notícias estão em constante busca para alcançar a objetividade e a imparcialidade dos fatos reportados em todas as etapas do processo. Esta é a forma que o jornalista usa para se libertar dos problemas que sua profissão pode acarretar como os críticos e os processos judiciais. Entre os critérios de seleção, também existem alguns que chamam mais atenção do jornalista, como por exemplo, o momento que ele recebe as primeiras informações do acontecimento. Eles acabam tendo um peso maior na escolha do repórter. E como vimos também, nem todas as etapas de construção da notícia são totalmente imparciais. As perguntas “por que” e “como”, parte que compõe o lide noticioso, exigem, em boa medida, respostas subjetivas. O que impossibilitaria o alcance da imparcialidade, pois estas questões são opinativas e acabam por direcionar o fato com base em algum ponto de vista. Até mesmo no momento em que se recebe as informações primárias de um acontecimento o repórter se depara com uma afirmação direcionada. No caso o ponto de vista do denunciante. Levando em conta tudo o que foi exposto e analisado neste estudo, podemos perceber que o processo de construção das notícias é a engrenagem que impede que o ciclo de relação entre o fornecedor (jornalista) e o receptor (leitor ou espectador) da informação pare. Assim como os critérios de seleção são as ferramentas utilizadas para manter a engrenagem sempre bem regulada. Todo esse processo é automático no dia-a-dia do jornalista que chega a ser imperceptível sem uma avaliação profunda.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
OBRAS CITADAS CAREY, James W. Why and How. The dark continent of American Journalism. In: MANOFF, Robert Karl & SCHUDSON, Michael, eds. Reading the news: a pantheon guide to popular culture. Nova Iorque: Pantheon Books [1987]. 245 p. p.146-196. Trad. para o português por MTGF de Albuquerque. Rev. técn. de A. de Albuquerque. ENTMAN, Robert M. Framing U.S. coverage of international news: contrasts in narratives of the KAL and Iran Air incidents. Journal of Communication. Philadelphia, 1991. ERBOLATO, Mário L. Técnicas de Codificação em Jornalismo: redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Ática, 2008. FISHMAN, Mark. Manufacturing News. Austin: University of Texas Press, 1980. HOHLFELDT, Antonio. Os estudos sobre a hipótese de agendamento. Porto Alegre: Revista FAMECOS, 1997. LAGE, Nilson. Estrutura da Notícia. São Paulo: Ática, 2006. TUCHMAN, Gaye. A objetividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas. In: Nélson Traquina (org.) Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Veja, 1993, p. 74-90. DICIONÁRIO Língua Portuguesa. 1ª Edição. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
DISSERTAÇÕES MAGALHÃES, Eleonora. “Dois tiros nas redações”: jornalismo brasileiro e o caso Pimenta Neves como incidente crítico. 2008. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense.
OBRAS CONSULTADAS WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1995.
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INTERNET MACHADO, Mariucha. Passageiros relatam rotina de medo nos ônibus do Rio. G1, Rio de Janeiro. Em 18 abr 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/passageiros-relatam-rotina-de-medo-nos-onibus-do-rio.html >. Acessado em: 7 mai 2013. ÔNIBUS invade a calçada na Avenida Brasil e deixa 4 mortos. G1, Rio de Janeiro. Em 13 jun 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2012/06/acidente-na-avenida-brasil-deixa-4-mortos-dizem-bombeiros.html>. Acessado em: 7 jun 2013. ÔNIBUS cai de viaduto e ao menos 7 morrem no Rio. R7, Rio de Janeiro. Em 2 abr 2013. Disponível em: <http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/onibus-cai-de-viadutoe-ao-menos-4-morrem-no-rio-20130402.html>. Acessado em: 7 jun 2013. ESTUDO “Morte no trânsito – Tragédia rodoviária”. SOS Estradas, [online]. Disponível em: <http://www.estradas.com.br/sosestradas/estudos/sos_estudos_acidentes.asp>. Acessado em: 7 jun 2013. ÔNIBUS cai de viaduto sobre Av. Brasil e deixa sete mortos no Rio. G1, Rio de Janeiro. Em 2 abr 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/acidente-com-onibus-interdita-trecho-da-avenida-brasil-no-rio.html>. Acessado em: 7 jun 2013. ÔNIBUS que caiu de viaduto acumula 46 multas. O Dia Online, Rio de Janeiro. Em 2 abr 2013. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/portal/rio/%C3%B4nibus-que-caiu-deviaduto-acumula-46-multas-1.567709>. Acessado em: 7 jun 2013. TESTEMUNHAS relatam briga em ônibus que caiu de viaduto no Rio. G1, Rio de Janeiro. Em 2 abr 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2013/04/testemunhas-relatam-briga-em-onibus-que-caiu-de-viaduto-norio.html>. Acessado em: 7 jun 2013.
LARA, Leonardo. Transcrição PROCON faz ‘Roleta Russa’ em garagens de empresas de ônibus no Rio. Em 10 mai 2013. RJ no Ar, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://videos.r7.com/procon-faz-roleta-russa-em-garagens-de-empresas-de-onibus-norio/idmedia/518cf27a0cf236eff5fe0feb.html>. Acessado em: 8 jun 2013.
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ANEXOS
ANEXO I
18/04/2013 06h20 - Atualizado em 18/04/2013 07h59
Passageiros relatam rotina de medo nos ônibus do Rio G1 percorreu 2 linhas da cidade e conversou com usuários de coletivos. Túneis Santa Bárbara e Rebouças são considerados críticos. Mariucha Machado Do G1 Rio
Ônibus da linha 569 percorre bairros da Zona Sul (Foto: Mariucha Machado / G1)
Os acidentes recentes envolvendo ônibus no Rio têm deixado os passageiros apreensivos. Nesta quarta-feira (17), o G1percorreu duas linhas de coletivos e constatou que o medo é assunto recorrente. A grande queixa é a alta velocidade com que as viagens são feitas pelas ruas do Rio. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Prefeitura do Rio informa que a prática é irregular, e solicita que os cidadãos denunciem pela Central de Atendimento (telefone
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1746), informando número da linha, número de ordem do veículo, placa, local e horário do ocorrido. A equipe de reportagem embarcou em duas linhas: a primeira sai do Largo do Machado, passa pelo Cosme Velho, Jardim Botânico, Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana, Praia de Botafogo e Flamengo, todas as áreas na Zona Sul da cidade. A segunda trafega pela Avenida Dom Hélder Câmara, Méier, São Cristóvão, Praça da Bandeira, Laranjeiras, Botafogo e Praça General Osório, o que abrange a Zona Norte e a Zona Sul. A primeira viagem começou às 11h, na linha 569, que tem ponto final no Largo do Machado. Com apenas cinco passageiros, o motorista começou o trajeto. Em pouco tempo, um senhor comentou sobre o acidente que tinha ocorrido mais cedo em Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, onde quatro pessoas ficaram feridas. O consultor de negócios Leandro Viana disse que algumas linhas dão muito medo de andar. “A gente não tem escolha, tem que andar de ônibus. Meus pais são do interior de Minas, e lá quando o passageiro faz sinal para o ônibus parar, eles podem esperar sentados. Não é como aqui. Meu pai quando vem me visitar não anda de ônibus no Rio, é perigoso.” Usuário dos ônibus da linha diariamente, o estudante Pedro Monteiro acha que alguns
motoristas
extrapolam
a
velocidade. “Eles correm muito. Outro problema que eu acho é a insegurança. Eu moro no Rio há dois anos e nunca fui assaltado, mas sei que sou exceção.” Com o filho Vitor Hugo, de 12 anos, a vendedora
Mônica
Santos
também
concorda que os motoristas andam em alta velocidade e diz que sente insegura. “Minha irmã já presenciou dois assaltos nesta linha, ela está muito perigosa”, contou. Mônica Santos se sente insegura ao usar a linha de ônibus 569 (Foto: Mariucha Machado/G1)
Pouco tempo depois do início do percurso, já no Cosme Velho, todos os bancos do
coletivo estavam lotados. A secretaria Patrícia Fernandes, que faz o trajeto duas vezes 52
por semana, afirmou: “Aqui a gente tem medo da velocidade, dos assaltos, porque eu já presenciei. Dentro do túnel [Rebouças], então, eles correm demais”. Dentro do túnel os ônibus devem trafegar pela pista do meio. O ônibus em que o G1 embarcou usou a pista da direita na maior parte da via. Segundo a passageira Patrícia Fernandes, o ônibus só não correu mais porque havia pontos de retenção. O problema apontado pela professora Carolina Tavares, que trabalha na Gávea, é a falta de respeito dos motoristas com os usuários. “Alguns não respeitam os passageiros e arrancam com o carro de qualquer maneira. Infelizmente é a maioria”. A professora atribui ao problema da pressa as condições de trabalho dos profissionais. “Nada justifica a atitude deles desta maneira, mas deve contribuir para um dia a dia mais estressante”. Já no Leblon, na Avenida Henrique Dumont, o motorista parou em fila dupla e abriu a porta para que duas passageiras descessem. Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o motorista aproveitou que as pistas destinadas apenas aos ônibus estavam vazias e acelerou um pouco mais. Neste trecho, o profissional avançou dois sinais que estavam amarelos, um deles é em frente a uma escola municipal. Na Praia de Botafogo, uma usuária pediu para que o motorista abrisse a porta do veículo no sinal e ele atendeu a solicitação. O G1 constatou que muitos passageiros não respeitam os lugares reservados para idosos,
gestantes
e
portadores
de
deficiência. A viagem terminou às 12h35. A segunda viagem, realizada na linha 457 começou em Laranjeiras, na Rua Pinheiro Machado, às 12h55. Rumo à Zona Norte do
Rio,
passageiros
o G1 encontrou amedrontados
também com
a
velocidade com que os veículos trafegam pela cidade. “É mais seguro andar no horário de rush, porque quando as pistas estão livres os motoristas correm demais. Demora mais, mas é melhor”, contou a Tamires Fortunato acha que os motoristas colocam vidas em risco (Foto: Mariucha Machado/G1)
recepcionista Susie Prieto, que usa o transporte público para voltar o trabalho 53
diariamente. O aposentado Rogério de Almeida ressaltou que a parte mais perigosa do trajeto é dentro do Túnel Santa Bárbara. “Eu sempre ando nesta linha e eles correm principalmente dentro do túnel. O espaço naquele trecho é pequeno e corre o risco de um acidente. Eles cortam até caminhão”. Ele acredita também que as multas apenas não resolvem e não acabariam com o problema, os motoristas precisam de educação e precisam ser preparados adequadamente. “Os motoristas correm demais e colocam a nossa vida em risco. Dentro do Túnel Santa Bárbara, até chegar na Avenida Presidente Vargas, eles andam muito rápido. Eu já vi muita gente reclamar com o motorista por causa disso. Eles têm que cumprir horário, mas têm que ter responsabilidade. É a vida de muita gente que está em risco”, contou a auxiliar administrativa Tamires Fortunato, que estava com o filho no colo. Pouco tempo depois de conversar com o G1, Tamires aproveitou o sinal e desceu fora do ponto de ônibus. A Avenida 24 de Maio, no Méier, faz divisa com a linha de trem. Em alguns trechos, o espaço onde os passageiros esperam o ônibus é muito pequeno. Segundo o aposentado José Ribeiro a situação é um perigo. “Eles andam rápido e se o motorista perder o controle pode acontecer uma fatalidade”, alertou o aposentado. Em nota, a Secretaria Municipal de Transporte informou que a alta velocidade é uma prática irregular e a Prefeitura do Rio solicita que os cidadãos denunciem por meio da Central de Atendimento, através do telefone 1746, e informem o número da linha, número de ordem do veículo, placa, local e horário do ocorrido.
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ANEXO II
13/06/2012 00h15 - Atualizado em 13/06/2012 05h21
Ônibus invade a calçada na Avenida Brasil e deixa 4 mortos Veículo invadiu um ponto de ônibus no Caju nesta terça-feira (12). 11 feridos foram levados para o Hospital Getúlio Vargas e Souza Aguiar. Do G1, no Rio
Um ônibus da linha 484 (Olaria Copacabana) invadiu uma calçada na noite desta terça-feira (12) na Avenida Brasil, no Caju, Zona Portuária do Rio de Janeiro. Segundo o Corpo de Bombeiros do Quartel do Caju, o acidente, que aconteceu na altura da passarela três, sentido Zona Oeste, onde havia um ponto de ônibus, deixou quatro mortos e feridos. Segundo os bombeiros, o motorista perdeu a direção do veículo, invadiu a calçada e bateu em um muro. Ao menos 11 feridos foram levados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte da cidade, e para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. O número de feridos, porém, não é definitivo e pode aumentar. Além das pessoas que estavam na calçada, passageiros do ônibus também se feriram com o impacto. O motorista, segundo os bombeiros, fraturou as pernas. De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio (Cet-Rio), a pista lateral da Avenida Brasil naquele trecho foi interditada após o acidente e o tráfego foi desviado pela pista central. Por volta das 4h desta quarta (13) a pista foi liberada.
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ANEXO III
Ônibus cai de viaduto e ao menos 7 morrem no Rio Acidente aconteceu na avenida Brasil, altura da Ilha do Governador Do R7, com Rede Record | 02/04/2013 às 16h33 | Atualizado em: 02/04/2013 às 20h28
Um ônibus caiu de um viaduto na avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, na zona norte do Rio, por volta das 16h30 desta terça-feira (2). Os bombeiros confirmam a morte de sete pessoas, sendo cinco homens e duas mulheres. Ao menos cinco pessoas deram entrada nos hospitais Getúlio Vargas e Adão Pereira Nunes - duas delas permaneciam em estado gravíssimo até a noite de terça. O coletivo acidentado, que faz a linha Bananal-Castelo, pertence à viação Paranapuã. Um sobrevivente relatou ter visto uma discussão entre o motorista e um passageiro momentos antes do acidente. 56
Outra testemunha afirmou que o condutor corria muito quando perdeu a direção, subiu em uma mureta e caiu do viaduto. Uma perícia era feita no local do acidente na noite de terça. A avenida Brasil foi totalmente interditada no sentido centro para o trabalho dos bombeiros. A linha Vermelha é a melhor opção para o motorista que segue no sentido Centro. No sentido zona oeste, o trânsito também era lento no trecho. Às 17h07, a pista central da avenida Brasil, sentido zona norte, havia sido liberada. O acidente ocorreu no viaduto Brigadeiro Tropowski, sentido centro. Por volta das 17h, ao menos três helicópteros faziam o resgate.
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ANEXO IV
ESTUDO "MORTE NO TRÂNSITO - TRAGÉDIA RODOVIÁRIA" Acidentes nas estradas matam 35 pessoas por dia e ferem 417 pessoas das quais 30 morrem também
O estudo "Morte no Trânsito: Tragédia Rodoviária", realizado pelo SOS Estradas, programa de redução de acidentes do www.estradas.com.br, maior portal de rodovias do Brasil, traz revelações surpreendentes. Todos os dias ocorrem, pelo menos, 723 acidentes nas rodovias pavimentadas brasileiras, provocando a morte de 35 pessoas por dia, e deixando 417 feridos, dos quais 30 morrem em decorrência do acidente. A maior parte das mortes no trânsito ocorre nas rodovias e não nas vias urbanas. Embora, em número menor, os acidentes nas estradas são muito violentos, provocando mais mortes e ferimentos graves. Na avaliação do estudo, a melhoria das condições das rodovias não significa que teremos uma redução dos acidentes, pois 90% são provocados por falha humana. Na avaliação do Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Alberto Rizzotto, é preciso aplicar rigorosamente a lei. "Não temos uma indústria de multas, mas uma fábrica de motoristas infratores, cuja produção está aumentando, estimulada pela impunidade. Milhares de pessoas morrem sem nenhuma justificativa. Não podemos esperar que os infratores contumazes sejam conscientizados, pois estamos vivendo uma epidemia", afirma Rizzotto.
Veja algumas estimativas e informações do estudo: - 42.000 pessoas morrem por ano vítimas de acidente de trânsito no Brasil - 24.000 pessoas morrem em razão de acidentes nas estradas - 13.000 morrem no local do acidente e 11.000 são feridos graves que morrem posteriormente
Ocorrem pelo menos 723 acidentes por dia nas rodovias pavimentadas brasileiras. Média de 30 por hora ou 1 a cada dois minutos.
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65 pessoas morrem por dia em virtude de acidente nas estradas. A cada 40 minutos uma pessoa morre num acidente nas rodovias e 411 pessoas ficam feridas por dia em acidentes nas estradas. Destas pelo menos 30 morrem em decorrência dos ferimentos. A
cada
hora
17
pessoas
ficam
feridas
em
acidentes
nas
estradas.
Caso todas as vítimas de acidentes fossem colocadas deitadas no asfalto, teríamos praticamente uma pessoa por quilômetro de rodovia pavimentada, sendo um ferido a cada 1.100 metros e um morto a cada 7 km. Nos acidentes com ônibus rodoviário, pelo menos 2.000 passageiros morrem por ano no local do acidente. O uso do cinto de segurança, provavelmente, evitaria a morte de, pelo menos, metade das vítimas. Nos EUA, apenas 4 pessoas morrem em acidentes de ônibus nas estradas, onde 60 pessoas morrem em acidentes de trânsito, inclusive urbanos, envolvendo veículos acima de 8 ocupantes. O estudo será apresentado em várias cidades brasileiras e distribuído para as principais autoridades de trânsito do Brasil. No www.estradas.com.br, no link SOS Estradas, será disponibilizado resumo do estudo, que será dinâmico, com atualizações regulares. Vários quadros estatísticos já estão no portal. O site SOS Estradas também possui várias fontes do estudo, estatísticas, links, outros estudos e informações úteis para os interessados na redução de acidentes. "Nosso objetivo é facilitar o trabalho de especialistas, estudantes, jornalistas e público em geral, para que encontrem as informações com facilidade e não passem pelas mesmas dificuldades que enfrentamos para obter as informações", esclareceu Rizzotto, Coordenador do SOS Estradas. ESTIMATIVA DOS ACIDENTES E VÍTIMAS NAS ESTRADAS BRASILEIRAS PAVIMENTADAS RODOVIAS
ACIDENTES
MORTOS
FERIDOS
VÍTIMAS
Federais(1)
104.863
5.780
60.326
66.106
Estaduais (2)
134.240
6.156
77.744
83.900
24.960
1.200
14.400
16.600
264.063
13.136*
152.470*
166.600
Municipais (3) TOTAL (1)+(2)+(3)
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* Dos 152.470 feridos, aproximadamente 10.864 morrem posteriormente. Consequentemente o total estimado de mortos é de 24.000 pessoas. (1) Dados oficiais (2) Dados oficiais de 14 estados com estimativa para os demais estados (3) Estimativa considerando malha rodoviária, frota e comparativo com demais estados OBS: O número de mortos é relativo as vítimas que falecem no local do acidente ou durante o transporte para o hospital.
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ANEXO V 02/04/2013 16h30 - Atualizado em 02/04/2013 19h08
Ônibus cai de viaduto sobre Av. Brasil e deixa sete mortos no Rio Mortes foram confirmadas pelo Batalhão de Vias Especiais. Pista sentido Centro foi fechada; feridos vão para Hospital de Bonsucesso. Do G1 Rio
Ônibus ficou de cabeça para baixo (Foto: Reprodução /TV Globo)
Um ônibus caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski na pista lateral da Avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, no Rio, por volta das 16h30 desta terça-feira (2), deixando 11 feridos e sete mortos. As informações são do Corpo de Bombeiros. A queda foi de uma altura de cerca de 10 metros. O coronel Sérgio Simões, secretário estadual de Defesa Civil, disse à Globo News que os mortos são cinco homens e duas mulheres.
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O coronel disse ainda que cerca de 50 homens do Corpo de Bombeiros em cinco equipes trabalham no resgate. Foram acionados os quartéis de Ramos, Benfica, Penha, Méier, Ilha do Fundão e do Grupamento de Busca. Feridos O Hospital de Bonsucesso recebeu uma ferida, uma jovem de 17 anos que estava com o corpo pintado, já que tinha acabado de sair do trote da faculdade. A menina, que não teve o nome revelado, sofreu fratura na clavícula e traumatismo craniano. Ela está em observação e vai passar pelo exame de tomografia. Uma mulher de de 59 anos também foi encaminhada à unidade porque passou mal ao presenciar o acidente. Como não estava no ônibus, essa paciente não entra na contagem do Corpo de Bombeiros. No Hospital Souza Aguiar, no Centro, deram entrada dois passageiros, um homem e uma mulher. A assessoria da unidade informou que o homem sofreu fratura no fêmur e a mulher está com escoriações no braço. Também foram levadas quatro vítimas para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. A Secretaria estadual de Saúde informou que deram entrada três homens e uma mulher. Um dos pacientes, que ainda não foi identificado, chegou em estado gravíssimo e foi levado diretamente para o centro cirúrgico. Ainda não há informações sobre o estado de saúde. Dois feridos chegaram de helicóptero ao Hospital Miguel Couto, na Zona Sul. Eles sofreram politraumatismo e estão em estado grave. Outras duas vítimas foram encaminhadas ao Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, na Baixada Fluminense. A Secretaria estadual de Saúde informou que uma das pacientes é uma mulher, que está em estado muito grave. A outra vítima chegou de helicóptero ao local e ainda não havia sido identificada até as 19h. O ônibus, da Viação Paranapuã, do Consórcio Internorte, fazia a linha 328, BananalCastelo. O veículo ficou com as rodas para cima. Câmera de segurança A Secretaria de Transportes, o Centro de Operações e a empresa de ônibus verificavam, por volta das 17h40, se o veículo possuía câmera de segurança, para apurar as causas do acidente e verificar sobre a possível discussão entre motorista e passageiro. Às 18h, as equipes da CET-Rio e bombeiros tentavam desvirar o veículo. Havia corpos no local, que ainda seriam periciadas. Discussão Um passageiro ouvido pela Globo News, e que saltou um ponto antes do local do acidente, disse o motorista estava discutindo com um homem que pulou a roleta. Esse passageiro disse que desceu do ônibus com medo da briga. 62
Pista fechada Três helicópteros dos bombeiros pararam na pista para fazer o resgate, fechando a Avenida Brasil no sentido Centro. Às 17h50, os motoristas enfrentavam trânsito lento no sentido Centro, no trecho entre Cordovil e a Ilha do Governador. No sentido Zona Oeste, a Avenida Brasil tinha tráfego intenso até a altura da Ilha, com reflexos até o Túnel Rebouças. As informações são do Centro de Operações da Prefeitura do Rio. A alternativa para os motoristas é pegar a Linha Vermelha.
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ANEXO VI 2.04.2013 às 20h39 > Atualizado em 2.04.2013 às 23h39
Ônibus que caiu de viaduto acumula 46 multas Rio - O ônibus da Viação Paranapuan, linha 328 (Bananal - Castelo), que caiu no Viaduto Brigadeiro Trompowski, na Avenida Brasil, altura da Ilha do Governador, tem 46 multas acumuladas. A informação é da Secretaria Municipal de Transportes. Os principais motivos são: veículo circulando fora da faixa para ônibus, no corredor BRS, parada irregular, excesso de velocidade (gravidade média - até 20% acima da velocidade permitida). Sete pessoas morreram na tragédia e outras nove ficaram feridas. No Hospital Geral de Bonsucesso, na Zona Norte, uma adolescente de 17 anos não identificada teve fratura na clavícula e traumatismo craniano leve. Ela está em observação. Uma senhora de 59 anos que não estava no onibus, viu o acidente e teve um mal súbito. A idosa está sedada e ainda não há informações sobre seu estado de saúde. No Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, quatro pacientes foram encaminhados, sendo três homens e uma adolescente. Um homem de 18 anos está estado gravíssimo com traumatismo craniano encefálico. A jovem de 17 anos teve trauma de tórax leve e os homens, de 86 e 33 anos, tiveram traumatismo craniano leve e médio, respectivamente. Já no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, há uma mulher em estado gravíssimo, de cerca de 30 anos, com lesões na área do tórax.
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Pelo menos sete pessoas morreram em tragédia | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
O veículo foi vistoriado no dia 3 de julho do ano passado. As vistorias da SMTR têm validade de um ano. A SMTR determinou ao consórcio Internorte que entregue à Prefeitura os dados do tacógrafo do veículo e as imagens das câmeras internas do mesmo, gravadas nesta terça-feira. Fetranspor: motorista não tinha restrospecto de acidente A Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) afirmou que o motorista de ônibus da linha 328 (Bananal - Castelo) que conduzia o veículo do acidente em que sete pessoas morreram na tarde desta terçafeira, não tinha retrospecto de acidentes e era antigo na empresa Paranapuã. Segundo a Fetranspor, o ônibus estava em dia com suas vistorias, tinha seis anos de uso e era dotado de tacógrafo, GPS e câmeras. Os dados destes equipamentos serão cedidos à Polícia Civil, que irá determinar as causas do acidente.
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ANEXO VII
Testemunhas relatam briga em ônibus que caiu de viaduto no Rio Passageiro e motorista estariam discutindo, segundo outros 2 passageiros. Sete mortes foram confirmadas e pelo menos 9 pessoas estão feridas. Do G1 Rio
Pelo menos dois passageiros relataram uma briga momentos antes de o ônibus 328 cair do Viaduto Brigadeiro Trompowski sobre a pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro, na altura da Ilha do Governador, na tarde desta terça-feira (2), causando sete mortes e deixando vários feridos. Segundo as testemunhas, que dizem ter descido do coletivo antes da queda, um passageiro e o motorista estavam discutindo. Segundo Ari Osvaldo Lima dos Santos, o ônibus estava cheio, com cerca de 10 pessoas em pé (veja na reportagem ao lado, da GloboNews). Ele e Nelson Martins Bezerra, outra testemunha, contaram que um passageiro começou a discutir com o motorista ao não conseguir descer no ponto em que queria. Com medo, Nelson preferiu descer antes de seu destino quando o passageiro teria pulado a roleta. Segundo ele, logo depois foi ouvido um estrondo, da queda do ônibus. A Secretaria de Transportes, o Centro de Operações e a empresa de ônibus estão verificando se o veículo possuía câmera de segurança, para apurar as causas do acidente e confirmar se houve discussão entre motorista e passageiro.
Sete mortos O coronel Sérgio Simões, secretário estadual de Defesa Civil, disse à Globo News que os mortos são cinco homens e duas mulheres. Nove pessoas feridas foram encaminhadas para os seguintes hospitais, segundo a Secretaria de estado de Defesa Civil: Hospital Municipal Souza Aguiar, Hospital Geral de Bonsucesso, Hospital Estadual Getúlio Vargas, Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (Saracuruna) e Miguel Couto. O Hospital de Bonsucesso, para onde estão sendo levados alguns dos feridos, confirma a chegada de pelo menos dois feridos, que foram direto para a Sala Vermelha, que atende pacientes em estado mais crítico. 66
O coronel disse ainda que cerca de 50 homens do Corpo de Bombeiros em cinco equipes trabalham no resgate. Foram acionados os quartéis de Ramos, Benfica, Penha, Méier, Ilha do Fundão e do Grupamento de Busca. O ônibus, da Viação Paranapuã, do Consórcio Internorte, fazia a linha 328, BananalCastelo. O veículo ficou com as rodas para cima.
Câmera de segurança A Secretaria de Transportes, o Centro de Operações e a empresa de ônibus verificavam, por volta das 17h40, se o veículo possuía câmera de segurança, para apurar as causas do acidente e verificar sobre a possível discussão entre motorista e passageiro.
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ANEXO VIII
Transcrição da matéria “PROCON faz ‘Roleta Russa’ em garagens de empresas de ônibus no Rio”
As equipes do PROCON se mobilizaram cedo para chegar às empresas antes do horário de saída dos primeiros ônibus. Em uma delas a entrada dos agentes não foi permitida. Três garagens foram vistoriadas em diferentes regiões da cidade. A fiscalização verificou o estado de conservação dos pneus, da lataria e até a limpeza interna dos ônibus. Mas itens de segurança, como freios, não foram analisados. Os veículos que não passaram no teste foram lacrados e impedidos de sair das garagens. As empresas também serão multadas. Fábio Domingos, diretor de fiscalização do PROCON: Essa parte técnica mais apurada aí os fiscais não tem essa condição. Isso aí já é um outro passo, uma outra coisa, e uma outra equipe tem que verificar isso aí. Leonardo Lara, repórter da TV Record: Se fosse verificar tudo, você acredita que muitos ônibus não sairiam para as ruas hoje? Fábio Domingos: É bem provável. É o que eu estou te falando. O que tem acontecido hoje é sintomático. Então há coisas acontecendo em funções de desleixo. Não estão tomando o devido cuidado. A fiscalização ocorreu nos pátios das empresas, com os portões fechados. O acesso da imprensa não foi permitido. A Transportes Vila Isabel é a responsável pelo ônibus que atropelou e matou o dentista Pedro Nicolay, de 31 anos, em Ipanema, na zona sul, ha pouco mais de uma semana. A vitima era triatleta amador e treinava quando, segundo testemunhas, o motorista teria avançado o sinal de trânsito e fugido após o acidente. O condutor do coletivo alegou a policia que não viu o atropelamento. Desde abril, 14 pessoas morreram em acidentes envolvendo ônibus e pelo menos 70 ficaram feridas no Rio e Região Metropolitana. Operações como a da ultima madrugada serão agora mais freqüentes. Fábio Domingos: Essas empresas elencadas estão dentre as empresas que aconteceram eventos recentes, mas nós vamos prosseguir com a operação em outras empresas também.
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