Lei
a c u t u ra na e d
e na comuni d a d e l i t n a f n i o çã
2 A criança pequena diante do livro
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Fundação Volkswagen Via Anchieta, km 23,5 – CPI 1394 – Bairro Demarchi 09823-901 – São Bernardo do Campo – SP http://www.vw.com.br/fundacaovw Presidente do Conselho de Curadores Josef-Fidelis Senn Diretor Superintendente Eduardo de A. Barros Diretora de Administração e Relações Institucionais Conceição Mirandola e-mail: fundacao@volkswagen.com.br CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária R. Dante Carraro, 68 – Pinheiros 05422-060 – São Paulo – SP http://www.cenpec.org.br Presidente Maria Alice Setubal Superintendente Maria do Carmo Brant de Carvalho Coordenadora Técnica Maria Amábile Mansutti Coordenadora de Documentação e Informação Maria Angela Rudge Coordenador Administrativo Walter Kufel Junior Gerente de Projetos Locais Claudia Petri Líder do Projeto Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin
Agradecemos a todos que autorizaram a publicação de suas imagens nas fotos que ilustram este módulo.
Organização Zoraide Inês Faustinoni da Silva Autoria do material Lúcia do Amaral Mesquita de Magalhães Regina Andrade Clara Revisão Luiza Faustinoni e Sandra Miguel Projeto gráfico Rabiscos & Grafismos Editoração eletrônica Alba Amaral Gurgel Cerdeira Rodrigues Fotografia Dudu Cavalcanti Rodrigo Shimizu Walter Craveiro
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Sumário A CRIANÇA PEQUENA DIANTE DO LIVRO Observando uma criança pequena ao ler
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Refletindo: experimentar ler para aprender a ler
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Acesso à leitura: um direito da criança
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A família entra na roda
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A leitura na unidade de educação infantil
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Colocando a criança no papel de leitor
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Preparando atividades de leitura As rodas de leitura
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Mural dos livros da semana Sessões de leitura livre Atividade no canto de leitura permanente Empréstimos de livros Painel de recomendações
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
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A criança pequena diante do livro
N
o módulo anterior, apre-
considere quais são seus objetivos na-
sentamos o Entre na
quele momento com as crianças. É im-
Roda e demos orientações gerais so-
portante ter clareza sobre as diferenças
bre como iniciar o trabalho com rodas
entre uma unidade de educação infan-
de leitura e sugestões de diferentes ati-
til, que integra o ensino básico, e uma
vidades que o Projeto possibilita.
instituição que acolhe as crianças no
Neste texto e nos subsequentes,
período contrário ao horário escolar e
vamos enfocar o trabalho de leitura
sobre seus respectivos papéis na edu-
com crianças pequenas, principal-
cação integral da criança. Nos dois ca-
mente em instituições de educação in-
sos, no entanto, o gosto pela leitura e o
fantil. Consideramos, no entanto, que
desejo de ler devem ser a preocupação
as orientações e informações teóricas
primeira do educador.
apresentadas são úteis também para outras instituições que atendem crianças, sem as funções específicas do ensino básico, mas que têm em vista a educação integral. É importante, contudo, que, ao utilizar as orientações dos diferentes
fascículos,
cada
educador de cada instituição
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Observando uma criança pequena ao ler
Nomeia personagens? Que tipo de co-
Você certamente já observou uma
go (podemos falar de uma menina, de
criança pequena diante de um livro
uma princesa, da Bela Adormecida...)?
de histórias.
Imita suas ações, empresta-lhes a voz?
O que ela diz? Comenta ilustrações?
nhecimento essa nomeação traz consi-
O que ela demonstra saber sobre um
Conta uma história? O que ela revela
livro? Assume uma postura diferente ao
saber sobre essa história? Parece estar
se preparar para ler (endireita as cos-
em contato com ela pela primeira vez ou
tas, cruza as pernas, deita-se no chão)?
mostra intimidade com esse texto? Quais
Em que gestos se traduz sua intenção?
expressões utiliza? São expressões ca-
Como segura o livro (de ponta-cabeça,
racterísticas de um texto escrito?
no colo)? Como o folheia (de trás para
Que diferenças você nota entre as
a frente, pulando páginas, do começo
crianças muito pequenas e as maiores?
ao fim)? Detém-se por mais tempo em
Essas perguntas possibilitam a iden-
alguma página? O que observa (texto,
tificação do que uma criança pequena é
ilustração, um conjunto de letras em
capaz de aprender sobre leitura e, conse-
destaque)? O que faz com o livro?
quentemente, do que podemos ensinar.
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Refletindo: experimentar ler para aprender a ler As perguntas anteriores têm a intenção de provocar uma observação atenta daquilo que uma criança que
interagem com textos: folheiam o jornal,
ainda não domina o sistema de es-
conferem a conta de luz, ticam itens da
crita pode saber em relação à leitura.
lista no supermercado, leem um livro.
Partindo dessa observação, é impor-
Perceber o significado que essas pesso-
tante pensar em quais vivências le-
as dão a essas ações e objetos e, assim,
vam uma criança a se apropriar de
poder atribuir finalidade à leitura.
O que a faz ganhar
tais conhecimentos.
O que leva uma criança a
intimidade com os livros?
assumir o lugar de leitor?
Em primeiro lugar, manuseá-los. Ou seja, quanto mais uma criança manuseia um livro, melhor o fará. Segurá-lo numa posição firme e que torne possível sua observação, folheá-lo. Simplesmente conseguir virar uma página. Quem nunca viu um pequerrucho abrir a capa de um
Participar de situações de leitura:
livro, louco para encontrar o lobo mau e,
ouvir histórias, manusear livros e gi-
desapontado, chegar direto à última pá-
bis, observar folhetos de propaganda.
gina, com os porquinhos comemorando
Descobrir o prazer que essas ativida-
felizes o fato de terem se livrado dele?
des podem lhe proporcionar.
Com maior experiência, a criança
Presenciar situações em que adultos
conseguirá folhear as páginas, uma a
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uma, identificar a primeira e a última,
Existe um índice ou sumário? Nos
procurar trechos da história ou ilustra-
livros com várias histórias, as crianças
ções que lhe interessem.
aprendem a usar esse valioso recurso,
O que a torna capaz de
muitas vezes se apoiando nas peque-
conhecer a estrutura de
nas ilustrações que veem ao lado do tí-
um livro?
tulo de cada história, para pedir: “Conta
Parte desse conhecimento vem da
essa hoje?”.
intimidade conquistada ao manuseá-lo,
As ilustrações ajudam a criar uma
aliada ao que vai ouvindo sobre ele e
narrativa? Favorecem a compreensão
observando o que o adulto faz com ele.
ou retomada da história de memória?
O que a capa pode informar? O que
Permitem antecipar o possível con-
costuma estar escrito nela? O que sua
teúdo do texto que as acompanha?
ilustração pode dizer sobre a história?
Chamar a atenção da criança para a
Depois de terem manuseado e ouvido
ilustração favorece a compreensão da
a história de vários livros, as crianças
função que a imagem pode desempe-
descobrem que em todas as capas
nhar em um livro de histórias.
O que a leva a reconhecer
devem aparecer, pelo menos, o título
e utilizar características do texto escrito? Ouvir a leitura de histórias regularmente. Narrativas de qualidade sempre serão bons modelos para as crianças, e elas, ao pedirem que um livro ou uma e o nome do autor. E podem ir além,
história sejam relidos inúmeras vezes,
procurando o nome do ilustrador, da
estão, entre outras coisas, incorporando
coleção, o logotipo da editora.
características desse suporte textual e desse gênero ao seu repertório pessoal.
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Se é necessário garantir desde cedo esse contato mediado com a leitura, e isso nem sempre vai acontecer dentro da família, é imperativo trazer a leitura para dentro da unidade educacional, seja ela uma creche, uma es-
Acesso à leitura: um direito da criança
cola ou uma ONG que atende crianças de até 6 anos. Ler nesses espaços, no entanto,
Lançando um olhar para as crian-
sempre será diferente de ler em casa.
ças atendidas pelas unidades educa-
Ao se dedicar ao desenvolvimento do
cionais e escolas públicas brasileiras,
gosto pela leitura e das capacidades
constatamos que boa parte delas não
leitoras, a instituição não substitui o
tem, em casa, oportunidade de vi-
papel que tem, na formação de uma
venciar situações de leitura com re-
criança leitora, a vivência de situações
gularidade, seja por meio do contato
letradas na família. Assim, ganham
direto com materiais escritos, seja
importância também as iniciativas que
pelo contato mediado por adultos. Isso
buscam ultrapassar os muros da uni-
pode acontecer por motivos diversos:
dade educacional e favorecer a aproxi-
porque os pais não tiveram acesso à
mação das famílias com a leitura.
alfabetização de forma ampla; porque a condição econômica da família impossibilita o acesso a livros, revistas e outros materiais de leitura; porque a leitura – ou a interação entre adultos e crianças por meio dela – não faz parte da rotina familiar.
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A família entra na roda
plenamente a leitura vai além disso: significa ultrapassar esses limites para
Considerando a grande diversidade
poder emocionar-se com um romance,
de experiências com leitura das famí-
divertir-se com uma história em qua-
lias abrangidas pelo Projeto, também
drinhos, aprender sobre outra cultura,
são múltiplas as propostas que podem
confrontar a própria opinião com a de
ser desenvolvidas, quando se pensa
outra pessoa, expressa em uma coluna
em criar ou expandir seu vínculo com
de jornal.
a leitura.
Outro objetivo é mostrar possibili-
Um dos objetivos do trabalho com
dades para compartilhar com os filhos
as famílias é expandir seu olhar sobre
situações de leitura ou de escuta de his-
a importância da leitura. Certamente,
tórias, que tenham, ou não, o livro como
o valor de saber ler já é reconhecido
suporte. Relembrar antigas histórias ou
amplamente quando se trata de situ-
anedotas narradas oralmente, brincar
ações do cotidiano: todos concordam
com velhas e novas parlendas e adivi-
que ler facilita ou viabiliza muitas
nhas, conhecer contos maravilhosos de
ações necessárias para resolver situa-
outros países, divertir-se com livros nos
ções práticas, como pegar um ônibus,
quais a ilustração diz tanto ou mais do
pagar uma conta, não perder o dia de
que o texto, emocionar-se com poemas
vacinar o filho. No entanto, usufruir
de diferentes épocas – tudo isso num
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colo gostoso, num auditório improvisado ou numa roda ao ar livre. Tendo esses objetivos em vista, a
A leitura na unidade de educação infantil
família pode entrar na roda de muitos modos: acolhendo o filho quando traz da
Já dissemos que ler em uma insti-
escola um livro, participando de eventos
tuição educacional ou escolar é dife-
ligados ao Projeto (rodas de leitura na co-
rente de ler fora dela. Mas por quê?
munidade, apresentações de teatro, sa-
Em primeiro lugar, uma situação de
raus de poesia), coordenando rodas de
leitura nessas instituições perde intimi-
leitura. O Projeto Entre na Roda, por seu
dade em relação às que acontecem na
lado, cria ocasiões para que esse tipo de
família. Quase nunca é possível ouvir
envolvimento aconteça.
uma história no colo do adulto, o livro está sempre mais longe das crianças – pois elas são muitas –, a escolha do que ler, pelo menos em situações coletivas, está além do desejo pessoal de cada um, o espaço nem sempre permite uma posição mais relaxada e confortável. Em segundo lugar, os objetivos. Fora da unidade educacional, lê-se para divertir-se, emocionar-se, buscar uma informação, conhecer melhor o mundo. As situações de leitura no dia a dia têm sempre uma finalidade. Dentro de uma unidade educacional, a proposta é que se leia para tudo isso,
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ler alguma coisa, estamos cuidando
Colocando a criança no papel de leitor
para que essa leitura não se torne me-
Também é fundamental que a crian-
cânica. Ao mesmo tempo, ao propor
ça assuma o papel de leitor. É preciso
uma situação de leitura, é preciso ter
fazer uso de textos do cotidiano, atribuin-
em mente uma pergunta: o que espe-
do-lhes significado e, progressivamente,
ro que as crianças aprendam sobre e
aperfeiçoar os procedimentos de leitura.
com a leitura (ou sobre contos de fa-
O ambiente tem um papel importan-
das, poemas, histórias em quadrinhos)
te na formação do leitor. Criar um am-
e sobre os suportes de leitura?
biente letrado, no entanto, não significa
mas, também, para aprender a ler. Quando deixamos claro o motivo para
Em terceiro lugar, a leitura fora da unidade educacional é ocasional ou im-
distribuir tarjas, cartazes, textos e livros pela sala de aula ou espaço de leitura.
provisada. Dentro dela, precisa ser bem
É fundamental, sim, ler belas histórias
planejada. Ou seja, existem muitos jei-
para emocionar-se, cantar acalantos, ex-
tos de ler com as crianças, e contem-
plorar livros, recitar parlendas. E, em rela-
plar essa diversidade é importante na
ção aos materiais de leitura, conhecer por-
formação de um bom leitor. Tendo isso
tadores diversos: um livro de histórias se
em vista, é preciso selecionar materiais
organiza de um jeito diferente de um livro
e organizar propostas levando-se em
de receitas, que é diferente de um jornal,
conta o tempo, o espaço, a participação
que é diferente de uma revista.
das crianças e a atuação do educador.
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É muito bom, também, recuperar
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um percurso de trabalho — reunindo
motivações internas: suas escolhas pas-
títulos de histórias, listando persona-
sam a se pautar por experiências ante-
gens de história em quadrinhos, ele-
riores, que lhe possibilitam adquirir novos
gendo o poema predileto, entre vários,
conhecimentos e ampliar seus recursos.
de um mesmo autor.
Se ela gostou de um livro de determina-
Ilustrando essa ideia, vamos imagi-
da coleção, procurará outro que traga o
nar o percurso de uma criança de quatro
mesmo padrão. Se lhe chamou a atenção
anos, em rodas de empréstimo de livros.
o estilo de ilustrar de determinado artista,
Ela guiará suas primeiras escolhas, pro-
se interessará por um livro desconhecido,
vavelmente, pelo quanto uma capa seja
mas que tenha sido ilustrado por ele. Caso
ou não atraente, ou pela estampa de um
tenha se identificado com determinado
personagem que lhe chame a atenção.
personagem, buscará outras histórias em
As experiências de manuseio de livros,
que ele esteja presente. Enquanto isso, es-
a leitura de histórias pela professora, a
tará ampliando seus conhecimentos sobre
troca de impressões entre colegas, as re-
obras da literatura infantil, sobre o perfil
comendações de leitura de outras crian-
de autores (fulano é engraçado, beltrano
ças ou do educador vão modificando os
sempre escreve com rimas) e de ilustrado-
critérios dessas escolhas.
res (um faz desenhos cheios de detalhes,
A relação dessa criança com o livro,
outro pinta a história em fluidas aquarelas)
que começa com escolhas quase ao aca-
e sobre algumas diferenças entre produ-
so, bastante dependente do que está no
tos de editoras diversas. Ao mesmo tem-
entorno, vai se personalizando, ganhando
po, estará moldando seu gosto pessoal.
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Preparando atividades de leitura
que um grupo se reúne para ler e com-
Cada educador também estará tra-
partilhar impressões sobre um texto, é
çando seu percurso ao desenvolver um
uma situação privilegiada para con-
trabalho com leitura: quanto mais apren-
quistar novos leitores e aprofundar a
demos sobre leitura e sobre literatura
experiência com a leitura.
As rodas de leitura Uma roda de leitura, momento em
infantil, maior clareza conseguimos na
Em uma roda de leitura com crian-
hora de planejar as atividades e iden-
ças pequenas, elas podem ouvir uma
tificar o que queremos que as crianças
história contada ou lida pelo adulto,
aprendam com elas. Ainda assim, con-
ouvir o reconto feito por um colega, co-
sideramos interessante sugerir algumas
mentar livros diversos, de determinado
que podem servir como ponto de partida
autor ou coleção, recomendar uma obra
ou postos de reabastecimento nessa jor-
lida em casa etc. E para que isso acon-
nada.
teça, faz toda a diferença organizar um espaço acolhedor, organizar o tempo, definir uma periodicidade, pensar em diferentes formas de organizar o grupo, selecionar material de boa qualidade e preparar-se para conduzir a roda.
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Espaço
Tempo
A configuração do ambiente de lei-
Pensar o tempo que será reserva-
tura é ainda mais importante quando
do à leitura é dar importância a ela.
se trata de crianças. O jeito como o es-
Importância que, sem dúvida, é percebi-
paço é organizado dá a elas muitas di-
da pelas crianças em função do momen-
cas sobre o tipo de atividade que será
to que ela ocupa na rotina, de sua dura-
desenvolvido e sobre o tipo de partici-
ção e da regularidade com que ocorre.
pação que se espera delas. Uma sala
Se, por um lado, não é interessante
tranquila e aconchegante (se possível
deixar para a leitura rebarbas do dia,
com almofadas ou tapetes pelo chão),
também não é produtivo reservar a ela
a sombra de uma árvore ou um “can-
tempo maior do que a possibilidade de
tinho especial” convidam ao recolhi-
concentração do grupo.
mento para ouvir uma história.
Às vezes, corremos o risco de des-
Vale lembrar que esse recolhimen-
perdiçar a leitura de uma linda história,
to é aprendido no decorrer da história
longa e cheia de encantadores detalhes,
de leitor de cada um, dentro ou fora do
por lê-la de uma só vez, ultrapassando o
contexto de grupo. A postura de ouvin-
tempo de escuta das crianças. Para bem
te é fruto de um caminho percorrido e
aproveitá-la, poderíamos lançar mão da
está em constante constituição.
estratégia de dividi-la em capítulos, lidos dia após dia. Escolher momentos estratégicos para as interrupções pode alimentar ainda mais o interesse pela narrativa e o desejo de desvendar a próxima parte. Entre na roda - módulo 2
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Periodicidade
Configurações do grupo
Levando em conta a rotina da unidade educacional, a disponibilidade
Ao planejar uma roda, é possível
de espaço físico e a grade curricular,
organizar as crianças de diferentes
é importante garantir no planejamento
formas, facilitando as interações entre
uma periodicidade fixa para as rodas
elas. Se a ideia é ler uma história sem
de leitura. Assim, o grupo pode prever
ilustrações, por exemplo, todas podem
o momento em que a roda acontecerá
ficar deitadas no chão. Mas se a inten-
– e esperar por ele.
ção é mostrar figuras do livro durante a narrativa, é importante que as crianças se organizem em função da possibilidade de enxergá-las. Se o objetivo é que os pequenos comentem entre si livros levados por empréstimo, é possível definir duplas ou trios, para que o contato com o colega e a apreciação do material sejam mais próximos.
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Seleção do material
Se a roda é de apreciação de livros re-
A seleção do material está estreita-
tirados pelas crianças em uma sessão
mente ligada à intenção que se tem ao
de empréstimo, a seleção terá sido feita
preparar uma roda de leitura. O objeti-
por elas mesmas, anteriormente.
vo é emocionar? É fazer rir?
Já se a pretenção é ampliar os conhe-
Mas seja qual for o objetivo, é preci-
cimentos das crianças sobre o acervo e
so selecionar bons textos. Garantida a
instigá-las a conhecer determinado gê-
qualidade, é importante levar em conta
nero discursivo, pode-se fazer uma roda
sua adequação ao grupo que formará
de apresentação de livros, selecionando
a roda. Qual é a faixa etária dos partici-
previamente diferentes títulos de certo
pantes? Eles têm experiências anterio-
gênero (contos modernos, clássicos, po-
res com leitura?
emas...). De modo semelhante, pode-se
Se a proposta é ler uma história,
apresentar um autor ou uma coleção.
trata-se de selecionar um bom livro,
Esse tipo de agrupamento é interessan-
que seja adequado para os ouvintes
te, também, porque ajuda as crianças a
que teremos. Alguns critérios são es-
ampliar seus critérios de aproximação.
pecialmente interessantes na educação
Ou seja, quando um autor é apresenta-
infantil. Uma ilustração atraente, por
do e comenta-se, por exemplo, que ele
exemplo, pode ser um bom convite à
faz rimas engraçadas, as crianças vão
leitura para os menores, e ilustrações
aprendendo a destacar características
bem elaboradas são interessantes para
de certos textos, indo além do “gostei”
se apreciar ao longo de toda uma vida.
ou “não gostei”.
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Condução da roda O orientador de uma roda de leitura desempenha funções diferentes de acordo com seu objetivo. Um deles, como já foi comentado, é oferecer aos participantes textos de boa qualidade, diversificados e adequados ao perfil do grupo. Tratando-se de crianças pequenas, outro papel importante do orientador é fornecer-lhes um modelo de leitor. Ou seja, quando um adulto comenta determinado livro, está oferecendo a elas uma
caminho nunca é igual de uma situa-
referência sobre como tecer um comen-
ção para outra. É um caminho que se
tário. Esse comentário pode ser feito de
constrói em situações tanto individu-
diferentes modos: recomendando a leitu-
ais quanto coletivas, à medida que a
ra, descrevendo personagens, apresen-
criança vai ganhando intimidade com
tando a trama, apreciando ilustrações,
os livros, criando seu repertório de his-
problematizando um tema.
tórias, aprendendo a direcionar seus
Outra função, ainda, é dar às crian-
gostos nas leituras.
ças a oportunidade de recontarem uma história lida ou comentarem seus livros, com base no modelo oferecido pelo orientador e contando com seu apoio. Cabe a ele, enfim, ser um mediador, ou seja, construir com cada criança o caminho entre ela e o livro, e esse
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Mural dos livros da Sessões de leitura semana livre Expor, já na segunda-feira, os livros
Outro momento importante, já des-
que serão lidos pelo orientador das ati-
crito anteriormente neste texto, é o de
vidades durante a semana e mantê-los
exploração livre de materiais de leitura.
ao alcance das crianças são fatores
Embora se trate de uma atividade livre,
que propiciam uma aproximação mais
o papel do orientador é fundamental
intensa entre elas e essas leituras,
para nortear escolhas, ensinar o correto
além da oportunidade de observarem
manuseio dos livros, mediar a troca de
de perto ilustrações, repassarem tre-
informações entre as crianças, identifi-
chos preferidos, compartilharem esse
car e fazer circular os livros preferidos.
prazer com um ou outro colega.
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Atividade no canto de leitura permanente
guardá-lo organizadamente após o uso. O material deve ser apresentado de modo organizado e de fácil acesso.
Criar um espaço permanente na sala
Para isso, pode-se utilizar uma peque-
de aula — onde se possa, por exemplo,
na estante ou caixas de papelão, caixo-
sentar no chão para folhear livros (os da
tes, varais, ou até uma “sapateira” de
semana, inclusive), gibis, revistas, suple-
livros fixada na parede.
mentos infantis do jornal — favorece a leitura autônoma. O espaço deve ter regras de uso claras e o horário deve ser combinado no grupo. Mesmo que as regras mudem de um grupo para outro, duas delas são universais: o cuidado com o material e a necessidade de
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Empréstimos de livros
Painel de recomendações
Para que as experiências de leitu-
A produção, com as crianças, de
ra ultrapassem os muros da unidade
um painel de recomendações permite
educacional, é importante organizar
que elas aprendam a ir além do “é le-
um sistema de empréstimo: o leitor
gal”, “eu gostei”, e identifiquem, nos
pode, regularmente, levar um livro, um
livros, características que os tornam
gibi, uma revista ou outro material de
atraentes ao leitor.
leitura para casa por um período predeterminado.
O painel vai fornecer novas referências: um livro pode ser engraçado, ter
Ao levar para casa o material em-
ilustrações bonitas, falar de um assunto
prestado, a criança tem a oportunidade
que interessa àquele grupo. Ao utilizar
de apreciá-lo muitas vezes – folheá-lo
essas referências, ao produzir o painel
de trás para a frente e de frente para
e ao consultá-lo junto com o adulto, a
trás, carregá-lo para cima e para baixo
criança está aprendendo.
e, no caso da educação infantil, pedir que um adulto leia para ela. Compartilhar esses momentos com a família faz toda a diferença, e esse ritual – levar um livro para casa toda semana – pode se tornar uma porta de entrada do interesse pela leitura também pelos familiares.
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Referências e sugestões de leitura DIETZSCH, Mary Julia Martins (Org.). Espaços da linguagem na educação. São Paulo: Humanitas, FFLCH/USP, 1999. HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus, 1980. MACHADO, Regina. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004. MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil (Ensaios). Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1984. PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
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Iniciativa
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Coordenação Técnica
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