Lei
a c u t u ra na e d
e na comuni d a d e l i t n a f in o çã
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Fundação Volkswagen Via Anchieta, km 23,5 – CPI 1394 – Bairro Demarchi 09823-901 – São Bernardo do Campo – SP http://www.vw.com.br/fundacaovw Presidente do Conselho de Curadores Josef-Fidelis Senn Diretor Superintendente Eduardo de A. Barros Diretora de Administração e Relações Institucionais Conceição Mirandola e-mail: fundacao@volkswagen.com.br CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária R. Dante Carraro, 68 – Pinheiros 05422-060 – São Paulo – SP http://www.cenpec.org.br Presidente Maria Alice Setubal Superintendente Maria do Carmo Brant de Carvalho Coordenadora Técnica Maria Amábile Mansutti Coordenadora de Documentação e Informação Maria Angela Rudge Coordenador Administrativo Walter Kufel Junior Gerente de Projetos Locais Claudia Petri Líder do Projeto Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin Organização Zoraide Inês Faustinoni da Silva Autoria do material Lúcia do Amaral Mesquita de Magalhães Regina Andrade Clara
Agradecemos a Fanny Abramovich, Marisa Lajolo, Ricardo Azevedo e à viúva de José Paulo Paes, Dora Paes, por terem gentilmente cedido o direito de uso de textos neste módulo, e a todos que autorizaram a publicação de suas imagens nas fotos que o ilustram.
Revisão Luiza Faustinoni e Sandra Miguel Projeto gráfico Rabiscos & Grafismos Editoração eletrônica Alba Amaral Gurgel Cerdeira Rodrigues Fotografia Dudu Cavalcanti Rodrigo Shimizu Walter Craveiro
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Sumário OLHAR DE POETA Um poema visto de perto
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Brincar com palavras
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Poemas e crianças
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Seleção de repertório
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A leitura de poemas na educação infantil
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REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
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Olhar de poeta
A
poesia está no mundo em imagens, sons, ges-
tos, palavras. Está nos olhos de quem consegue dar um significado lúdico, emocional, a uma forma de expressão.
“
(...) um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Além
Numa fotografia que nos toca, no barulho de um trem que traz saudades, no inclinar-se de um velho, numa fala
de diferentes pela sonoridade e pela disposição na página, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas (...)
de criança. Para Marisa Lajolo (2001),
”
Marisa Lajolo
“(...) poesia não tem hoje nem ontem. Poesia é sempre. Poesia brinca com a Ler poemas é pura fruição, prazer.
linguagem”. Brinca com a linguagem em can-
Fruição que está ligada ao sabor que
ções de ninar, cantigas de roda, par-
despertam em cada um o tema, as
lendas, trava-línguas, adivinhas, qua-
imagens, o ritmo, a entonação. Vale
dras de cordel, músicas, repentes,
a pena parar para ler um poema que
poemas. Palavras que ganham um
mostra um olhar de poeta sobre o
brilho incomum.
mundo.
Qual a diferença entre poesia e poema? Podemos dizer que um poema tem poesia. Com sua descrição, Marisa Lajolo nos faz enxergar poemas:
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Aula de leitura A leitura é muito mais
e no tom que sopra o vento,
do que decifrar palavras.
se corre o barco ou vai lento;
Quem quiser parar pra ver
e também na cor da fruta,
pode até se surpreender
e no cheiro da comida,
vai ler nas folhas do chão,
e no ronco do motor,
se é outono ou se é verão;
e nos dentes do cavalo,
nas ondas soltas do mar,
e na pele da pessoa,
se é hora de navegar;
e no brilho do sorriso,
e no jeito da pessoa,
vai ler nas nuvens do céu,
se trabalha ou se é à toa;
vai ler na palma da mão,
na cara do lutador,
vai ler até nas estrelas
quando está sentindo dor;
e no som do coração.
vai ler na casa de alguém,
Uma arte que dá medo
o gosto que o dono tem;
é a de ler um olhar,
e no pelo do cachorro,
pois os olhos têm segredos
se é melhor gritar socorro;
difíceis de decifrar.
e na cinza da fumaça, o tamanho da desgraça;
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Ricardo Azevedo
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Um poema visto de perto Quando falamos de poesia ou de
consonantais ou combinados) iguais
poemas, existem muitos termos espe-
ou similares, em uma ou mais sílabas,
cíficos, nem sempre familiares, que
geralmente acentuadas, que ocorrem
valem a pena reavivar na memória e,
em intervalos determinados e reconhe-
quem sabe, definir com maior preci-
cíveis (...); vocábulo que possui termi-
são. As informações abaixo foram reti-
nação idêntica ou similar a outro (por
radas do Dicionário Houaiss da Língua
exemplo, canto rima com pranto).
Portuguesa (2001), com exceção daquelas referentes aos limeriques.
aliteração – repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de vá-
estrofe – divisão de um texto lírico
rias palavras na mesma frase ou verso,
ou épico, formada por determinado
visando obter efeito estilístico na prosa
número de versos, que apresentam ou
poética e na poesia (por exemplo, “rá-
não rima entre si.
pido, o raio risca o céu e ribomba”).
quadra – estrofe composta de quatro versos; quadrinha.
metáfora – designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra
verso – subdivisão de um poema,
que designa outro objeto ou qualidade,
geralmente coincidindo com uma li-
que tem com o primeiro uma relação
nha, que obedece a padrões de métri-
de semelhança (por exemplo, ele tem
ca (pés) e de rima (variáveis no tempo e
uma vontade de ferro, para designar
no espaço), ou prescinde deles (versos
uma vontade forte, como o ferro).
brancos e livres), caracterizando-se por
antologia – coleção de textos em
possuir certa linha melódica ou efeitos
prosa e/ou em versos, geralmente de
sonoros, além de apresentar unidade
autores consagrados, organizados se-
de sentido.
gundo tema, época, autoria etc. Livro
rima – reiteração de sons (vocais,
que contém essa coleção.
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haicai – forma de poesia japonesa
vras se juntam para formar uma outra, e
surgida no século XVI e ainda hoje em
os medoliques, sobre coisas que metem
voga, composta de três versos, o pri-
medo. Para ilustrar algumas dessas defi-
meiro com cinco, o segundo com sete
nições, vamos nos remeter ao poema de
e o terceiro com cinco sílabas, que ge-
Ricardo Azevedo, reproduzido no item
ralmente tem como tema a natureza
anterior. Como podemos observar, ele é
ou as estações do ano.
composto por 15 estrofes, sendo duas
acróstico – poema em que as pri-
de quatro versos (quadras) e 13 de dois
meiras letras (às vezes, as do meio
(dísticos). A primeira quadra do poema
ou do fim) de cada verso formam, em
apresenta rima nos dois últimos versos
sentido vertical, um ou mais nomes ou
(ver/ surpreender); seguem-se oito dís-
um conceito, máxima etc.
ticos rimados, depois cinco com versos
soneto – pequena composição
livres (sem rima). Por fim, a última qua-
poética composta de 14 versos, (...)
dra traz as rimas alternadas, no primeiro
cujo último verso (dito chave de ouro)
e terceiro versos (medo/ segredos), e no
concentra em si a ideia principal do
segundo e quarto versos (olhar/ decifrar).
poema ou deve encerrá-lo de maneira
Apesar de muitas pessoas associa-
a encantar ou surpreender o leitor.
rem a ideia de poema a um texto rimado,
limerique – um poema de humor
não é a presença da rima que caracteriza
onde tudo é possível. É um poema cur-
esse tipo de texto. Um poema não precisa
to, de cinco versos, com rimas entre o
ser rimado. Precisa compor imagens de
primeiro, o segundo e o quinto versos e
um modo original: palavras escolhidas a
entre o terceiro e o quarto. O terceiro e
dedo, que têm seu sentido renovado, que
o quarto versos são normalmente meno-
imprimem determinado ritmo ao texto e,
res (DOLABELA, 2005). Tatiana Belinky
muitas vezes, produzem uma sonoridade
inventou limeriques de vários tipos, tais
especial. Ritmo e sonoridade que, é bom
como os cacoliques, em que duas pala-
lembrar, podem ou não se manifestar em
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forma de rima, aliterações, repetição de palavras ou versos.
Brincar com palavras
Além dessas observações, ligadas
Já dissemos que poemas são brin-
ao conhecimento do modo como o tex-
cadeiras com as palavras. Observemos
to se organiza, podemos apreciar um
as crianças bem pequenas. Seu jeito
poema pelas imagens poéticas que o
de começar a falar é brincando com
escritor nos oferece. Embarcar nelas,
palavras: balbuciam, gritam, falam
deixar que nos levem a recordações
baixinho, cantarolam em seus dialetos,
antigas. Permitir que aflorem sensa-
ninam a si próprias. Vão crescendo e
ções e sentimentos com os quais nem
passam a se encantar com cantigas de
sempre lidamos na rotina do dia a dia.
roda e brincadeiras faladas, repetindo-
Por fim, vale dizer que os poemas
-as incansavelmente (“Cadê o touci-
estão entre os textos que permitem
nho que tava aqui? O gato comeu...”).
múltiplas interpretações. Assim, a lei-
Mais adiante, mobilizam suas habili-
tura de um poema é repleta de subjeti-
dades para dizer uma parlenda intei-
vidade: um mesmo texto pode ser visto
rinha, com ritmo e sem tropeços. Por
de maneiras muito diferentes, depen-
isso, não nos surpreende que crianças
dendo dos olhos de quem o lê.
apreciem poemas.
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Temos visto os poemas entrarem,
Primeiro vamos deixar o papel de
pé ante pé, nas salas de aula de edu-
lado. Vamos nos lembrar de que a poe-
cação infantil. Os livros para crianças,
sia, historicamente, partiu do oral – era
cada vez mais bonitos e bem edita-
falada, declamada, cantada –, para só
dos, enchem os olhos e o coração.
mais tarde, ser escrita.
Professores se arriscam a ler poemas,
Vamos espiar pela janela de um
começando por temas caros aos pe-
quarto. A mãe com o bebê nos bra-
quenos – bichos, por exemplo, tema
ços cantarola tentando fazê-lo dormir:
onipresente em livros infantis. E os
“Boi, boi, boi, boi da cara preta, pega
poemas podem e precisam entrar em
essa menina que tem medo de careta”.
qualquer espaço onde haja crianças.
Passando por outra casa, num almoço
Entre tantos possíveis eixos de ob-
de domingo, o avô balança um meni-
servação do trabalho com poemas, es-
no pequeno, sentado em seus joelhos:
colhemos, neste momento, pensar um
“Serra, serra, serradô, serra o papo do
pouco sobre como os pequenos – des-
vovô”. Uma parada em uma praça do
de bebês – podem apreciar os poemas
interior, para ver a criançada brincar
e outras brincadeiras com as palavras,
de “bambalalão”, recitando com ritmo:
e que significado essa experiência
“Bambalalão, senhor capitão, espada
pode ter para eles.
na cinta, ginete na mão!”.
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São experiências que proporcionam,
Agora, se pensarmos nos versos
em um só pacote – e de modo insepa-
que ouvimos na infância e ainda sabe-
rável –, aconchego, diversão, compa-
mos de cor, nem todos fazem sentido.
nhia de adultos ou de outras crianças,
—“Uni, duni, tê, salamê, minguê, um
contato com textos da tradição oral.
sorvete colorê, pra você lambê...”— ou
Uma reflexão possível sobre esse
foram decifrados apenas muito tem-
passeio seria imaginar o que as crian-
po depois. “Nesta rua, nesta rua tem
ças observadas levariam dessas expe-
um bosque, que se chama, que se
riências pela vida. Em busca de pistas,
chama solidão...”. Isso sem contar os
investiguemos nossa memória. Há
versos que, descobrimos depois, mo-
quem conte que, quando ouve deter-
dificamos pelas nossas possibilidades
minada canção, enxerga o gramado da
de interpretação. “O anel que tu me
casa da mãe, sente o cheiro do bolo de
deste era vidro e se quebrou; o amor
fubá saído do forno, ouve o barulho da
que “Tumi tinha” [em lugar de tu me
chuva no telhado. E, quase sempre,
tinhas] era pouco e se acabou”.
lembra seus versos de cor.
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Poemas e crianças Quando lemos um poema para crianças pequenas, o que podemos observar? O que esse emaranhado de pala-
Ao ouvirem o título, as crianças come-
vras e sons querem dizer? Que valor
çam imediatamente a fazer associações,
têm, então, esses textos vividos e re-
antecipando o conteúdo do texto. Diante
vividos? Têm o valor da experiência de
de um intitulado “Relâmpago”, por
que fazem parte (humm, aquele bolo
exemplo: “Vai falar de chuva!”; “Deve
de fubá...) e têm o valor dado pela
ter uma tempestade”; “Relâmpago é a
fruição, pensando nas palavras como
luz do trovão, não a tempestade!”; “Já vi
brinquedo, como mistério.
um cavalo chamado Relâmpago. É por-
Uma das definições de fruição, se-
que ele era rápido como um relâmpago”.
gundo o Dicionário Houaiss, é “o ato de
Quando justificam sua preferência por
aproveitar satisfatória e prazerosamente
determinado poema, também é comum
alguma coisa”. Bem, achamos que uma
referirem-se ao tema: “Gosto desse por-
grande qualidade dos textos poéticos é
que fala de uma bailarina”.
seu poder de encantar as crianças, de
Outro movimento recorrente du-
se transformar em uma brincadeira, de
rante ou após a leitura: os pequenos
acalentar, de emocionar, de fazer rir, de
conversam com o texto. Se o poema
tornar o outro presente.
conta uma pequena história, ficam atentos a ela. Se traz imagens soltas, entrelaçam-nas, dão-lhes corpo, criam enredos que as justifiquem.
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Para alguns pode ser surpreenden-
quenos ouvintes nem sempre com-
te, mas crianças pequenas já são ca-
preendem todos os aspectos de um
pazes de interpretar o sentimento que
poema. Será isso um problema? Um
um texto encerra. Diante de um poema
bom exemplo é o do poema chamado
engraçado, comentam, rindo: “É uma
“Chatice”, do mesmo autor, que re-
piada, é uma piada!”. Os líricos, mais
clama de um “jacaré”: “Jacaré larga
sutis, também são percebidos por mui-
do meu pé, deixa de ser chato (...)”.
tas delas. A leitura do poema “Mistério
Eles quase nunca percebem que esse
de amor”, de José Paulo Paes que
jacaré pode ser uma pessoa da qual
brinca com a imagem de um beija-flor
alguém reclama, mas divertem-se ima-
sugando néctar —“É o beija-flor que
ginando um jacaré abocanhando o pé
beija a flor / ou a flor que beija o beija-
de alguém. Esse parece ser um jeito
flor?”—, já suscitou em muitas crianças
bastante interessante de apreciá-lo em
de 4 a 6 anos um mesmo comentário:
se tratando de crianças pequenas.
“Acho que eles são namorados...”.
Se o poema lido é rimado, as crian-
Ao mesmo tempo, nossos pe-
ças rapidamente notam e alegram-se ao
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Divertem-se antecipando possíveis rimas,
Seleção de repertório
ou porque já ouviram o texto anterior-
Existem atualmente inúmeras pu-
mente, ou porque já perceberam, pela
blicações de poemas para crianças,
estrutura do poema que vai sendo lido, os
garantindo enorme variedade de te-
momentos em que elas aparecerão.
mas, autores, estilos e, claro, qualida-
localizarem cada rima: “Rimou, rimou!”.
Se as crianças, mesmo pequenas,
de. Quando nos propomos a selecionar
têm contato regular com esse tipo de
um repertório a ser lido na escola, tor-
texto por escrito, passam também a
na-se fundamental refletirmos cuida-
apreender o modo como ele é organi-
dosamente sobre os critérios em que
zado, especialmente a diagramação. A
se baseará essa escolha.
forma como o poema ocupa o espaço
Devemos escolher os poemas pelo
no papel, sua silhueta, torna-se uma
tamanho? Pelo tema? Agrupá-los por
marca registrada, reconhecível tan-
autor? Eles devem estar a serviço de
to em um livro quanto em uma folha
outros conteúdos escolares? Precisam
solta. Vendo, nas mãos da professora,
tratar de assuntos ligados ao dia a dia
uma folha com um poema reproduzi-
das crianças?
do, identificam a “sombra” do texto, e
Fanny Abramovich (1989), renoma-
comemoram: “É poema, é poema!...”.
da escritora e crítica de literatura infantil, ajuda-nos a pensar sobre algumas dessas questões, fazendo um alerta:
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sar que os pequenos não serão capazes
“
de compreendê-los.
Tem quem ache que a poesia infantil tem que ser pequenininha, bobinha,
É fundamental recuperar o valor do
mimosinha e outros inhos... Que deve
poema como produto da cultura. Tendo
contar como a plantinha cresce, como a chuvinha caindo faz a folhinha
um valor em si, ele não deve ser usado
ficar grande e forte (...) Tem quem
a serviço de outros conteúdos de ensi-
ache que a poesia infantil tem que
no, sejam eles de natureza informativa
ser moralizadora, falar de costumes edificantes, de como organizar o dia a
(aprender sobre um animal, por exem-
dia, descrever bons hábitos de higiene
plo) ou moralizadora (boas maneiras,
dentária ou glorificar o dia das mães
por exemplo). Ou seja, lê-se um poema
”
ou o dia do índio e coisas quetais
.
para apreciá-lo, divertir-se, emocionar-
Fanny Abramovich
se.
Antes de tudo, precisamos nos lem-
Fanny Abramovich arremata:
brar de que as crianças pensam sobre o mundo, sobre as relações entre as pessoas, sobre os acontecimentos a seu redor de um jeito particular e ao mesmo tempo profundo e mais sofisticado
“
A poesia para crianças, assim como a prosa, tem que ser, antes de tudo, muito boa! De primeiríssima qualidade!!! Bela, movente, cutucante, nova, surpreendente, bem escrita
”
.
do que grande parte dos adultos pode imaginar. Portanto, é preciso concentrar
O tema, vale lembrar, não é determi-
esforços na escolha de poemas de boa
nante da qualidade de um poema. Pode-
qualidade, tomando o cuidado de não
se tratar de assuntos triviais de forma
deixar de lado textos preciosos por pen-
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poética, com qualidade. Ou fazê-lo de
tempo, é interessante que possam
modo esvaziado. Da mesma forma, ques-
apreciar diferentes poemas de um
tões existenciais, que tendem a parecer
mesmo autor, percebendo um pouco
complexas à primeira vista, tanto podem
seu estilo, seu jeito de escrever, seus
ser banalizadas como tratadas de modo
temas prediletos.
simples e, ao mesmo tempo, poético. De
Para conhecer a poesia, os autores
qualquer maneira, é importante diversifi-
consagrados são uma boa porta de
car o tema dos poemas oferecidos.
entrada. Progressivamente, a leitura
De modo semelhante, é importante
constante e a apreciação compartilha-
diversificar o tom dos textos escolhi-
da de textos de qualidade colaboram
dos: poemas engraçados, emocionan-
para a construção de um conhecimen-
tes, tristes, assustadores...
to cada vez mais apurado das caracte-
A variedade de formas também
rísticas que fazem deles bons poemas.
precisa ser garantida: poemas rima-
Esses conhecimentos, por sua vez, se
dos, de versos livres, haicais, limeri-
transformarão em critérios para a sele-
ques, quadrinhas. Ou corremos o risco
ção de novos textos de qualidade.
de ver nossos alunos concluírem que poema é texto rimado. O tamanho do texto não deve ser adotado como critério decisivo para incluí-lo ou não em uma seleção. Tanto entre os poemas curtos quanto entre os compridos, haverá textos mais ou menos acessíveis, de boa ou má qualidade. Por fim, os autores. É fundamental que as crianças conheçam obras de vários poetas brasileiros e, ao mesmo
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A leitura de poemas na educação infantil
poemas que alimentem esse interesse. Ao mesmo tempo, um poema de versos livres vai produzir um estranha-
A oportunidade de começar, desde a educação infantil, a desenvolver o
mento enriquecedor: “Ué! Esse é poema? Mas cadê a rima?”.
gosto pela poesia é extremamente en-
Compartilhar um texto conhecido,
riquecedora. Não é necessário enume-
comentar um novo poema apresenta-
rar os benefícios de crescer ouvindo
do, descobrir semelhanças e diferen-
poemas: eles vão desde um vocabulá-
ças entre eles, recitar versos que se
rio aprendido de um jeito especial, até
sabe de cor são ações que fazem parte
a possibilidade de olhar a vida de um
do papel de leitor. Sim, as crianças que
modo diferente.
ouvem poemas estão, desde já, ocu-
O primeiro passo é se aproximar do
pando esse lugar.
que os alunos já sabem, identificando
Um espaço preparado com cuidado
preferências e compartilhando possí-
ajuda a tornar esses momentos mais
veis poemas já conhecidos de alguns
aconchegantes. Uma atitude simples,
deles. Mapear esses conhecimentos é
como afastar as carteiras e convidar
importante para decidir o caminho a
os alunos a se sentar no chão, pode
seguir. Se nenhuma criança conhece
fazer diferença. Melhor ainda se hou-
poemas, talvez conheça uma parlen-
ver a chance de forrar esse chão com
da, um verso, uma quadrinha. Se já
um pano estampado e até (supremo
ouviram a música “O pato”, de Vinícius
requinte!) algumas almofadas.
de Moraes —“Lá vem o pato, pata
Outra providência para dar consis-
aqui, pata acolá...”—, é interessante
tência ao trabalho é garantir certa re-
apresentar outros poemas do livro A
gularidade para o contato das crianças
arca de Noé. Se gostam de histórias
com os poemas, reservando a eles um
rimadas, é uma boa ideia oferecer-lhes
espaço na rotina semanal.
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grupo em determinado período do
Que tipos de atividade propor às crian-
trabalho.
ças nesse tempo dedicado à poesia?
● Ouvir poemas lidos ou
● Organizar uma coletânea é uma
declamados por diferentes adultos
boa estratégia para dar visibilidade
(professores, outros funcionários
ao repertório conhecido pelas
da escola, educadores de outras
crianças e às suas preferências.
instituições governamentais e não
Um recurso que pode favorecer a
governamentais, pais e outros
circulação de poemas adequados a
membros da comunidade).
determinado grupo de alunos é a orga-
● Acompanhar a leitura do adulto,
nização “caseira” de pequenas antolo-
recitando trechos recorrentes,
gias: que abordem um tema atraente,
completando versos, arriscando
que garantam diversidade de estilos,
rimas.
que destaquem um autor querido.
● Declamar para o grupo poemas já conhecidos.
Para concluir, se pretendemos dar visibilidade ao trabalho desenvolvido
● Preparar uma apresentação de
com as crianças, valorizar a poesia e
poemas para outras crianças ou
compartilhar o dia a dia da instituição
para adultos.
com a comunidade do entorno, um sa-
● Compartilhar impressões sobre
rau pode ser um dos eventos previstos
determinado poema.
no calendário. Sua programação pode
● Levar para casa poemas
ser pensada de diversas maneiras: as
descobertos na escola ou em outra
crianças declamam, assistem à leitura
instituição, a fim de compartilhar
feita por educadores, apreciam poemas
sua leitura com os familiares.
recitados por pessoas da comunidade...
● Organizar uma exposição, colocando em destaque os livros de poemas conhecidos pelo
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Referências e sugestões de leitura ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989. ALTENFELDER, Anna Helena. Poetas da escola. São Paulo: Cenpec, Fundação Itaú Social, 2004. AZEVEDO, Ricardo. Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática, 2003. BELINKY, Tatiana. O livro dos disparates. São Paulo: Saraiva, 2002. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. DOLABELA, Marcelo. Batuques de limeriques. São Paulo: Paulinas, 2005. HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles, FRANCO, Francisco M. de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LAJOLO, Marisa. Carta aos leitores. In: LEITE, Maristela de Almeida, SOTO, Pascoal (Coords.). Palavras de encantamento: antologia de poetas brasileiros. São Paulo: Moderna, 2001. [Literatura em minha casa, 1]. MORAES, Vinícius de. A arca de Noé. São Paulo: Cia. das Letrinhas, 1991. PAES, José Paulo. Olha o Bicho. São Paulo: Ática, 1989.
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Iniciativa
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Coordenação Técnica
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