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CONTEXTO PANDÉMICO
Entre a proximidade e o afastamento: o papel da animação de idosos
em contexto pandémico
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Jenny Gil Sousa
CICS.NOVA.IPLeiria-iACT, CI&DEI,
Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Politécnico de Leiria
Resumo
Vivemos tempos de exceção. Nunca o mundo partilhou de igual forma, a mesma
dor. O ano de 2020 trouxe consigo uma pandemia – COVID 19 – que colocou grandes
desafios a todos: governantes, empresários, dirigentes, profissionais das mais variadas áreas e cidadãos no geral. É notícia a nível mundial. Pelas televisões, rádios e jornais
percebe-se que o vírus pode infetar qualquer pessoa, mas que é mais impiedoso com
os mais velhos. As pessoas idosas são, sem dúvida, as pessoas de maior risco. Este
facto acaba por acrescentar pressão às instituições de apoio às pessoas idosas,
designadamente, às estruturas residenciais, que não têm olhado a meios para
combater a entrada do vírus. Contudo, neste processo, como é que fica a práxis
quotidiana dos residentes e qual é o papel da animação de idosos neste âmbito
específico?
Para dar resposta a estas questões, foi realizado um estudo exploratório no
âmbito dos Estudos Culturais que apresenta, num primeiro momento, um
enquadramento teórico dos conceitos de envelhecimento, institucionalização e
animação de idosos e, num segundo momento, os resultados obtidos a partir da
análise de conteúdo das entrevistas semiestruturadas realizadas a 20 pessoas idosas
institucionalizadas em estruturas residenciais, na zona centro de Portugal. Os
resultados apurados permitem perceber que, segundo a perceção das pessoas idosas
institucionalizadas, em contexto pandémico as atividades de animação se revelam
ainda mais cruciais no processo de reorganização e ressignificação da sua vivência
quotidiana.
Palavras-Chave: Envelhecimento – Pessoa idosa institucionalizada – Animação de
idosos - Contexto pandémico
1. Introdução
Em poucas semanas mudou o mundo. De repente, encontrámo-nos perante um
quadro (relacional, social, económico, cultural) completamente diferente do que nos
era conhecido. As nações reorganizaram-se na tentativa de proteção dos seus cidadãos
e, desde logo, emergiu a questão: “para quem é que este vírus representa maior risco?”. A resposta é clara: para os que estão em idade mais avançada; para aqueles que detêm uma saúde mais frágil e que, por vezes, se encontram em situação de
vulnerabilidade social. Uns estão nas suas casas, outros (muitos) estão nas instituições
de apoio à população idosa, designadamente, em Estruturas Residenciais. Por isso, não
é de estranhar que estas instituições tenham um papel crucial neste contexto.
Estas instituições sociais viram-se obrigadas a reorganizar o seu modo de
funcionamento e as suas práticas quotidianas. O relacionamento entre as pessoas, e a
forma como este se expressa, passou a ser condicionado e o dia-a-dia pensado e vivido
em função da luta contra a COVID-19. Não obstante, neste quadro de alteração
profunda, onde tudo se faz para que o inimigo não entre, como ficam as pessoas
idosas? Qual é o lugar da animação de idosos num contexto de crise e de
sobrevivência?
Este trabalho situa-se no âmbito dos estudos culturais. Neste exercício de
conhecimento do papel da animação de idosos num quadro tão específico como o que
se vive hoje, será privilegiado o conceito de articulação, uma vez que os estudos
culturais não se centram num único objeto de estudo, espartilhado em fronteiras
rigorosamente definidas, mas antes assumem uma variedade de formas, com uma
constituição diversa e heterogénea (Strattom e Ang, 1996). Todavia, a grande marca
dos estudos culturais reside no comprometimento político, na opção por um
envolvimento com a polis, em construir saber que é devolvido em forma de
intervenção na esfera política e social, convertendo-se em instrumentos que auxiliam
os grupos no conhecimento de si próprios, conhecimento que transcende o universo
académico (Hall, 2003).
Assim, e face ao exposto, propõe-se neste estudo conhecer a construção de sentidos
que é feita pelas pessoas idosas institucionalizadas, no contexto específico das
Estruturas Residenciais, designadamente no que se refere ao papel que a animação de
idosos está a desempenhar no seu bem-estar, nesta situação de exceção e de luta
quotidiana.
2. Velhice e mudanças adaptativas
Falar de velhice hoje implica situá-la à luz de um novo paradigma. Durante muito anos,
a velhice foi vista “como uma etapa de decadência, penúria económica, frustração,
etc.” (Osorio, 2007, p.14), uma vez que ser idoso aponta para uma etapa final da vida. Contudo, em pleno século XXI, para além dos desafios, também são tidas em conta as
oportunidades e as potencialidades associadas ao envelhecimento demográfico. Mas,
para que tal aconteça, é importante que a velhice seja vista sem estereótipos e sem
posturas idadistas (Luísa, 2017).
Nesta linha de argumentação, é importante esclarecer que as pessoas idosas não
constituem uma categoria homogénea. Pelo contrário, à medida que se envelhece,
maiores são as diferenças entre os indivíduos, uma vez que não existe um caminho
único e universal de envelhecimento, podendo as pessoas viver diferentes percursos
(Sousa, 2018). Estes percursos são marcados por diferentes fatores, tais como, as
questões culturais, as condições económicas, a saúde física, as redes sociais de
pertença e de apoio, a satisfação das necessidades psicológicas, entre outros.
Assim, se por um lado é evidente que a velhice é uma etapa na vida do indivíduo em
que existem perdas - perda de algumas capacidades físicas, eventualmente, declínio da
memória e de outras atividades intelectuais como a concentração – também é verdade
que estas perdas não são iguais em todos em indivíduos, nem ocorrem de igual forma,
uma vez que o envelhecimento é um processo diferencial (Sequeira, 2018).
Para além disso, os diversos tipos de limitações não devem ser impedimento do
desenvolvimento de uma vida plena e, tal como alerta Juan Macias (2005, p. 204), um
erro frequente “é identificar o envelhecimento com doença ou incapacidade. Nada
mais errado, já que a pessoa idosa (não doente) é capaz de realizar as mesmas funções
que os jovens embora de forma mais lenta”.
Atualmente, já se verifica um aumento da informação sobre o papel da velhice e
emergem preocupações em torno da qualidade de vida e de desenvolvimento da
pessoa idosa (Capucha, 2014). As inúmeras dimensões que influenciam o bem-estar
dos mais velhos (designadamente, os fatores ambientais, culturais e sociais) são cada
vez mais valorizadas, demonstrando que existem diferentes formas de envelhecer e
que a trajetória vital, o autoconceito, as experiências culturais e os apoios sociais são
primordiais (Luísa, 2017).
Seguindo na mesma linha de argumentação, definir o ser humano idoso é muito mais
complexo do que se pensou outrora. Cada pessoa idosa
é um ser único pois “é o produto das suas disposições naturais e das circunstâncias de vida onde se manifestam a sua forma de ser e de agir” (Tamer e Petriz, 2007, p.198). A literatura científica (Afonso, 2012; Martins, 2013; Sequeira, 2018) alerta-nos para o facto da existência de
uma adaptação individual ao processo de envelhecimento, sendo que a própria
personalidade também se modifica na idade adulta tardia. Ao contrário do que
durante muitos anos se acreditou, a personalidade não fica totalmente formalizada
nas duas primeiras décadas de vida e durante a velhice existe adaptação e
desenvolvimento da personalidade, que envolve “uma série de ajustamentos individuais face à ocorrência de mudanças no self, decorrentes de alterações corporais,
cognitivas e emocionais, na rede de relações interpessoais, alterações familiares,
profissionais, na rede de relações e no próprio contexto de residência (levando por
vezes à institucionalização)” (Fonseca, 2012, p. 96). Assim, e face ao exposto, são inúmeros os fatores que influenciam a realização pessoal e social, articulando-se
diretamente com a quantidade e a qualidade das atividades autónomas em que cada
um possa estar envolvido.
Muito embora a institucionalização a título permanente seja um processo difícil e
doloroso, que obriga a um profundo processo de adaptação (Sousa, 2018), a verdade é
que as estruturas residenciais são procuradas por muitas pessoas idosas e suas
famílias, sobretudo porque “constituem alternativas de cuidados para aquelas pessoas
idosas mais frágeis e muito dependentes para executar suas tarefas básicas da vida
diária e que, por várias razões médico-sociais, não podem ser mantidas nas suas
residências” (Brito & Ramos, 2002, p. 397).
Em Portugal, as políticas sociais dirigidas à população idosa são tuteladas pelo Estado,
centralizadas pela Segurança Social, que trabalha em parceria com Instituições
Particulares de Solidariedade Social. Neste quadro, a Estrutura Residencial é a resposta
social com uma representação mais significativa (Martín & Brandão, 2012), e que
acaba por ser o último espaço residencial para um grande número de pessoas idosas.
2.1. Viver institucionalizado - Novos desafios
As alterações no quadro da política social, bem como o aumento da procura,
repercutiram-se no alargamento da rede de instituições de alojamento para pessoas
idosas. Tal como se pode verificar na página web da Segurança Social, existem várias
respostas em matéria de proteção de pessoas idosas. Existem as estruturas
residenciais, o sistema de acolhimento familiar de idosos, o acolhimento temporário
de emergência para idosos, os centros de noite, os serviços de apoio domiciliário e os
centros de dia. De entre as apresentadas, as Estruturas Residenciais são a modalidade
mais antiga de ajuda aos sujeitos idosos fora da família, designadamente para aqueles
que se encontram em maior vulnerabilidade (social, económica, de saúde).
Este facto decorre das mudanças no tecido e no contexto social atual, onde
predominam modelos familiares que não estão organizados para ter um papel para os
mais velhos, sendo a responsabilidade transferida para organismos e instituições que
dispõem atualmente de muito mais especialistas, equipamentos e recursos (Galinha,
2009).
Ainda que nuns casos mais do que noutros, a verdade é que estes espaços residenciais
foram durante muitos anos simples albergues de pessoas idosas, onde era
providenciado pouco mais que a alimentação e a higiene. Havia uma
institucionalização da anomia, um silenciar da individualidade de cada sujeito, em prol
do bem-estar do todo organizacional (Bourdieu, 1989). O poder institucional e os
micropoderes que se legitimavam na lógica institucional, determinavam os
comportamentos de uns em função daquilo que era esperado por outros (Bourdieu,
1989). No entanto, este quadro foi-se alterando. Isto não significa que não existam,
hoje, instituições com más práticas; não obstante, e tal como já foi refletido no ponto
anterior, existe na atualidade uma consciência social e política que preconiza novas
formas de atuação (Espirito-Santo & Daniel, 2019; Luísa, 2017).
Com efeito, e tal como se explica ainda na página web da Segurança Social, as
Estruturas Residenciais para pessoas idosas têm como principais objetivos:
“proporcionar serviços permanentes e adequados à problemática biopsicossocial das pessoas idosas; contribuir para a estimulação de um processo de envelhecimento
ativo; criar condições que permitam preservar e incentivar a relação intrafamiliar e
potenciar a integração social”.
Não há dúvida que um aspeto muito importante nos estudos das condições sociais das
pessoas idosas se prende com o espaço residencial. O processo de separação que se
verifica quando a pessoa idosa é institucionalizada, bem como a adaptação a um novo
ambiente, não é isento de sofrimento, por isso, cabe às instituições providenciar
formas de preservação da identidade e do autoconceito dos indivíduos, assim como, a
perceção de controlo acerca da sua própria vida e em relação ao meio institucional.
Um outro aspeto importante prende-se com o desenvolvimento de estratégias de
enfrentamento e de bem-estar, diretamente relacionado com o fomento de
comportamentos de resiliência e com as trocas sociais – relações afetivas gratificantes
e a criação de relacionamentos satisfatórios que conduzam ao aumento do bem-estar
emocional (Afonso, 2012; Fonseca, 2012).
Neste sentido, e segundo Martins (2013), as instituições residenciais de apoio às
pessoas idosas devem trabalhar na diminuição do desajuste entre os objetivos
institucionais e as necessidades da população residente, numa ótica de concertação de
individualidade e coletividade.
Face ao exposto, verifica-se que a missão deste tipo de instituições é bastante ampla,
indo para além da simples satisfação das necessidades básicas. Alinhado com aquilo
que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (World Heallth Organization,
2015) e pela própria Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-
2025 (ENEAS, 2017), estas instituições têm hoje como pano de fundo para a sua ação o
paradigma do envelhecimento ativo, numa ótica de proteção dos que são mais
vulneráveis e de promoção da sua inclusão e contribuição em todos os aspetos da vida
da comunidade (ENEAS, 2017). Estes são os desafios que norteiam as práticas da
intervenção social desenvolvidas nas estruturas residenciais e estes desafios têm de ser acolhidos/abraçados por todos: dirigentes, técnicos, profissionais e idosos, mesmo
num contexto tão específico como o que vivemos hoje. Com efeito, mesmo em
contexto pandémico, para além da assistência e proteção, cabe a estas instituições
fomentar o desenvolvimento das potencialidades e o bem-estar dos seus residentes. E
nesta equação, a animação de idosos emerge como uma metodologia privilegiada de
intervenção.
Nas estruturas residenciais, a animação de idosos pode constituir-se enquanto
metodologia de promoção de bem-estar e qualidade de vida (Sousa, 2018; Barros,
2020). E porque a animação de idosos se desenvolve no âmbito específico da animação
sociocultural, far-se-á uma breve abordagem teórica ao conceito.
Ora, falar de animação sociocultural é, antes de mais, assumir a sua polissemia, que se
consubstancia na dificuldade de definição, porque tem na sua base uma complexidade
e multiplicidade de facetas (Barros, 2020; Ventosa, 2013). Neste sentido, e na
impossibilidade de se apresentar uma definição clara e concisa, ancorada numa
pesquisa exaustiva, apenas será realizado um mapeamento reflexivo acerca das
definições coincidentes de animação sociocultural.
Assim, e antes de mais, a animação sociocultural demarca-se enquanto processo
dirigido à organização de pessoas para levar a cabo projetos e iniciativas, partindo da
cultura e do desenvolvimento social dos indivíduos (Sousa, 2018; Barros, 2020). Desta
forma, a animação sociocultural consubstancia-se num conjunto de ações que
oferecem ao indivíduo a possibilidade de este se converter em agente do seu próprio
desenvolvimento e de ter um papel ativo no desenvolvimento da sua comunidade.
Este tipo de processo tem em conta as necessidades reais e os interesses das pessoas e
apoia-se numa pedagogia ativa e dinamizadora (Caride, 2007).
Nesta matéria, também Gloria Perez Serrano e Sarrat Capdevila (2012) defendem que
a animação sociocultural é constituída por um conjunto de práticas sociais que,
baseadas numa pedagogia participativa, têm como objetivo atuar em diferentes
âmbitos da qualidade de vida, com o fim último de promover a participação dos
indivíduos no seu próprio desenvolvimento sociocultural, criando espaços para a
comunicação interpessoal (Serrano & Capdevila, 2012). Os projetos que se fundem na
metodologia da animação sociocultural estão orientados para a promoção da
colaboração enquanto forma privilegiada de dar resposta às necessidades
contextualizadas, na transformação de situações problemáticas através dos diferentes
agentes institucionais (Barros, 2020). Neste quadro, salienta-se a animação de idosos.
A animação de idosos é uma metodologia que trabalha com a intenção de manter os
idosos inseridos na sociedade e de nesta participarem ativamente. Serve para manter
as suas capacidades, fazendo renascer os seus gostos e desejos (Jacob, 2013; Sousa,
2018).
No cruzamento dos pressupostos anteriores, emerge a caraterística norteadora de
todas as ações da animação de idosos: aumentar a qualidade de vida das pessoas,
independentemente da idade, que se expressa num projeto de vida (Ander-Egg, 2009,
p. 248). E é neste campo que a animação de idosos revela a sua importância, ao ajudar
a criar e desenvolver objetivos de vida, ao ser uma intervenção ativa, participativa e
vitalista, assente no usufruto e aproveitamento criativo da vida pessoal através do
grupo, onde a pessoa idosa é percecionada como agente e protagonista do seu próprio
projeto vital (Barros, 2020; Sousa, 2018, Ventosa, 2013).
A animação de idosos, mais ainda em contexto institucional, é uma maneira de atuar
em todos os campos do desenvolvimento da qualidade de vida dos mais velhos,
funcionando como um estímulo permanente da vida mental, física e afetiva (Jacob,
2013; Luísa, 2017). Ora, tratando-se de pessoas idosas institucionalizadas, a animação
emerge enquanto metodologia privilegiada de desenvolvimento de competências
pessoais e sociais do indivíduo e, principalmente, do indivíduo como elemento de um
grupo. A animação passa, pois, a ser um suporte de comunicação dentro do qual o
aspeto relacional é privilegiado enquanto elemento determinante da qualidade de vida
da instituição.
Em linha com o exposto, a animação de idosos atua como facilitadora do acesso a uma
vida mais ativa e criativa, melhora as relações de comunicação com os outros, atuando
em todos os campos do desenvolvimento da qualidade de vida dos mais velhos,
apresentando-se como um estímulo permanente da vida mental, física e afetiva da
pessoa idosa. Neste desiderato, solicita a intervenção ativa dos residentes, tornando-
os mais ativos, interventivos, criando um sentimento de utilidade ao mesmo tempo
que fomenta a socialização (Jacob, 2013).
4. Contexto de investigação e participantes
O estudo que aqui se apresenta é de natureza qualitativa, de carácter exploratório
(Fortin, 1999) e tem como principal objetivo compreender como é que, em contexto
pandémico, as pessoas idosas institucionalizadas em estruturas residenciais
percecionam as atividades de animação sociocultural.
No que se refere aos instrumentos de recolha de dados foi utilizada a entrevista
semiestruturada às pessoas idosas institucionalizadas, sustentada por um guião com
questões abertas (Fortin, 1999). Cumprindo todas as medidas de prevenção da infeção
por COVID-19, as entrevistas foram realizadas, individualmente, nas estruturas
residenciais e tiveram uma duração média de 30 minutos. Todas as entrevistas foram
gravadas, sendo, posteriormente, tratadas através da técnica de análise de conteúdo
(Bardin, 2004). No que se refere aos procedimentos éticos, todos os participantes
deram autorização para proceder à pesquisa, antes da realização da entrevista, através
do Consentimento Informado, Esclarecido e Livre.
Participaram deste estudo 20 pessoas idosas institucionalizadas a título definitivo em
cinco estruturas residenciais do distrito de Leiria. Como critérios de seleção dos
sujeitos elegeram-se a capacidade de entendimento e comunicação verbal e estar a
residir na instituição antes da chegada da COVID-19. Na Tabela 1, apresentada abaixo,
é feita a caraterização dos participantes.
Tabela 1 – Caracterização dos participantes
Sexo
Feminino
Masculino
Participantes
N=20
15
5
N=100%
75
25
Idade
75-79
80-84
85-90
Nível de escolaridade
Sem escolaridade
4ª classe
Secundário
Anos de institucionalização
antes da pandemia
3-5
6-8
9-11
Fonte: Elaborada pela autora 5
10
5
8
9
3
5
11
4 25
50
25
40
45
15
25
55
20
Conforme se pode verificar na tabela acima, 15 dos participantes são do sexo feminino
e cinco do sexo masculino. Relativamente às idades, cinco têm entre 75 e 79 anos, 10
apresentam entre 80 e 84 anos e cinco detêm entre 85 e 90 anos. No que se refere ao
nível de escolaridade, oito sujeitos nunca frequentaram a escola, nove detêm a quarta
classe e três possuem o nível secundário. Quanto ao número de anos de
institucionalização antes da pandemia, cinco participantes estavam a residir na
instituição entre três e cinco anos, 11 sujeitos vivem na estrutura há entre seis e oito
anos e quatro participantes há entre nove e onze anos.
5. A animação de idosos em contexto pandémico: apresentação de dados
e resultados
Partindo do cruzamento da literatura científica, apresentada nos primeiros pontos
deste trabalho, com os dados advindos da análise de conteúdo das entrevistas
semiestruturadas, apresentar-se-ão os resultados que terão por base as temáticas que
emergiram, transversalmente, nos discursos dos participantes do estudo. A tabela 2
exibe a grelha de análise temática.
Tabela 2 – Grelha de análise temática
Tema Categoria
Com a família
ressignificação do quotidiano Relação Com o Outro na instituição
Reorganização e Prevenção do vírus
Fonte: Elaborada pela autora
Subcategoria
Consigo próprio
Aprendizagens
Utilização das tecnologias
Aquisição de conhecimentos a variados níveis
Conforme se pode verificar na tabela acima, nos discursos dos entrevistados salientou-
se a temática Reorganização e ressignificação do quotidiano. Com efeito, os sujeitos
admitiram que a pandemia trouxe consigo uma mudança bastante significativa na
práxis quotidiana da instituição e que as atividades desenvolvidas no âmbito da
animação sociocultural facilitaram no seu reposicionamento perante esse novo
contexto, permitindo reorganizar-se e ajudando na ressignificação da nova realidade
envolvente. De uma forma transversal, os participantes admitiram que o trabalho
realizado pelo técnico de animação teve um papel preponderante em duas grandes
áreas: no fomento da relação e na aquisição e desenvolvimento de aprendizagens.
No que se refere à Relação, primeira categoria identificada por ordem de frequência,
os entrevistados referiram que as atividades desenvolvidas pelos animadores foram
cruciais enquanto suporte de comunicação e de aproximação afetiva, nomeadamente
com os seus familiares. Segundo os sujeitos, este contacto foi primordial para o seu
bem-estar e para a manutenção de relações significativas gratificantes durante um
período em que se privilegiava o isolamento social: “foi muito duro! E continua a ser!
Parece que estou presa sem ter feito mal a ninguém! Se não fosse a animadora… ela é que nos permite estar em contacto com a nossa família! Ela inventa cada coisa! [risos]” (Entrevistado 10). Nesta relação com a família, os entrevistados acabaram por abordar
também a importância que teve, e que continua a ter, o trabalho de animação na
manutenção da ligação ao exterior da instituição, criando espaços para a comunicação
interpessoal (Serrano & Capdevila, 2012), num momento tão difícil como foi o de não
poderem estar com os seus entes queridos.
Ainda dentro da categoria Relação, os participantes admitiram que as atividades de
animação foram fundamentais na (re)construção das relações com as outras pessoas
da instituição: residentes e profissionais. Numa altura em que se preconizava o
afastamento e o isolamento social, as atividades de animação foram muito
importantes para, nalguns casos evitar e noutros romper, com o sentimento de
solidão: “logo no início, notei que as pessoas pareciam ter medo de estar ao pé umas
das outras, de falar umas para as outras... não só com outros idosos, mas também com
as funcionárias. E vi que as pessoas estavam mais sozinhas, tristes… e com muito medo. Nisso, as atividades de animação foram muito importantes porque fizeram com
que não nos isolássemos, mantivéssemos o contacto e com a sensação de segurança” (Ent. 2). Com efeito, e segundo os dados analisados, a promoção das atividades de
animação, nomeadamente as de caráter lúdico, expressivo e interativo, foi
fundamental para que a comunicação se continuasse a realizar e a ligação aos outros
não desvanecesse. A animação emergiu, assim, enquanto metodologia essencial na
criação de relacionamentos satisfatórios que possibilitou ao aumento do bem-estar
emocional (Afonso, 2012; Fonseca, 2012).
Para além do relacionamento com os outros, de uma forma transversal todos os
sujeitos reconheceram que neste contexto tão exigente a nível emocional, as
atividades de animação também lhes permitiram ter outra relação consigo próprios,
principalmente no que se refere a conhecerem melhor as suas capacidades de
resiliência e autocontrolo: “olhe, as atividades também me ajudaram a mim, na
maneira como eu estava a ver esta situação toda e estava a lidar com ela, sabe?” (Ent.
16). A animação sociocultural foi assim identificada enquanto espaço privilegiado de
desenvolvimento de estratégias de resiliência e bem-estar (Jacob, 2013; Sousa, 2018).
A segunda categoria a emergir dos dados diz respeito às Aprendizagens. Nesta
matéria, os entrevistados admitiram que as atividades desenvolvidas no âmbito da
animação sociocultural permitam adquirir muitos conhecimentos no que se refere ao
controle e prevenção do vírus. As atividades realizadas pelos animadores permitiram
conhecer e compreender as medidas de prevenção incorporadas nas rotinas das
estruturas residenciais: “as atividades que a animadora fez foram muito importantes
porque estávamos muito baralhados e com medo… eu já não sabia no que podia mexer, como é que podia mexer, se podia estar ao pé de alguém. Depois também já
não percebia se eram elas [as funcionárias] que me podiam pegar a mim ou eu a
elas…” (Ent. 9). Segundo os entrevistados, com a realização deste tipo de atividades
adquiriram conhecimentos que tiveram como consequência um sentimento de maior
serenidade e de compreensão do ajuste necessário, numa ótica de concertação de
individualidade e coletividade (Martins, 2013).
Ainda dentro da categoria Aprendizagens, os sujeitos referiram a Utilização das
tecnologias como tendo sido uma das aprendizagens com maior impacto nas suas
vidas. Este impacto é percebido de forma direta, quando reconhecem que a aquisição
destas competências digitais permitiram a manutenção das relações com quem estava
no exterior da instituição: “passei a fazer telefonemas onde conseguia ver a minha
família! E isso sossegava-me mais… não era a mesma coisa, mas ajudava muito. Por isso, passado uns tempos eu já conseguia sozinha mexer no telefone e fazer as
chamadas!![risos]” (Ent. 11). Para além desta mais-valia imediata, os entrevistados
também reconheceram que estas aprendizagens lhes elevaram a autoestima e o nível
de autonomia, com repercussões em diferentes âmbitos do seu bem-estar diário
(Barros, 2020; Sousa, 2018; Ventosa, 2013).
No que se refere à subcategoria Aquisição de outros conhecimentos, os dados
revelam que os programas de animação sociocultural mantiveram a realização de
atividades de animação com o objetivo de se trabalharem outras competências e
capacidades. Este aspeto também foi valorizado pelos entrevistados: “continuámos a
fazer os nossos projetos e a participar em outros novos, sim. E ainda bem! Senão,
ficávamos doidinhos!” (Ent. 8), que reconheceram a importância de se manterem as atividades que, baseadas numa pedagogia participativa (Caride, 2012), favoreceram o
estímulo da vida mental, física e afetiva (Jacob, 2013; Luísa, 2017), enquanto
metodologia privilegiada de combate à descontinuidade das experiências (Sousa,
2018).
Conclusões
Com o trabalho que aqui se apresenta, tentou-se perceber, tendo por base as
perceções dos residentes nas instituições, qual a importância da animação de idosos
em contexto pandémico. Neste sentido, os resultados permitiram entender que os
programas e atividades de animação sociocultural são fundamentais como suporte
para a manutenção das relações afetivas (nomeadamente, com quem está fora da
instituição), mas também para o fortalecimento das relações sociais e interpessoais
com quem está dentro da estrutura residencial, fortalecendo as redes sociais de apoio.
Para além disso, a animação sociocultural foi percecionada como sendo muito
importante no exercício de reorganização emocional e na produção de respostas mais
criativas na ressignificação do novo quotidiano. Com efeito, a animação sociocultural
em instituições desta natureza possibilita o uso de um conjunto mais diversificado de
atividades, utilizando-as para a criação de estratégias positivas e de potencialização da
resiliência dos sujeitos residentes que, num contexto de exceção como o que vivemos
hoje, são fundamentais para o seu bem-estar e qualidade de vida.
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A Animação Turística como fator de diversificação da oferta de Destinos
Sazonais – o caso de Fátima, Portugal
Daniela Pereira Marques
Licenciada em Turismo - ESTM- Politécnico de Leiria
António Sérgio Araújo de Almeida Doutor em Ciências do Turismo – CiTUR – ESTM – Politécnico de Leiria
RESUMO
O presente trabalho pretende equacionar contributos que a Animação Turística pode assumir na
diminuição da sazonalidade dos setores turístico e hoteleiro na região da Fátima, Portugal.
Recorrendo à implementação de questionários presenciais e on-line, concluiu-se que há recetividade de
turistas e visitantes perante atividades de animação turística, equacionando-se a criação de novas
empresas e oportunidades de negócio, no âmbito do património cultural, histórico e religioso.
Palavras-chave: Fátima, Sazonalidade, Animação Turística, Diversificação da Oferta
Turística.
Tourism Recreation as a factor of diversification of Seasonal Destinations - the case
of Fatima, Portugal
ABSTRACT
This paper intends to consider contributions that the Tourist Recreation can assume in reducing the
seasonality of the tourism and hotel sector in the region of Fatima, Portugal.
Using the implementation of face-to-face and online questionnaires, it was concluded that tourists and
visitors want these activities, equating the creation of new companies and business opportunities,
within the scope of cultural, historical and religious heritage.
Keywords: Fátima, Seasonality, Tourism Recreation, seasonality, Diversification of the Tourism Offer.
Introdução
A animação turística é encarada perante um “(…) conjunto de atividades lúdico-
recreativas, pagas ou gratuitas, devidamente planeadas, comunicadas e
implementadas junto dos turistas, por um lado, e o desenvolvimento económico-social
das entidades, comunidades locais ou destinos promotores, por outro.” (Almeida & Araújo, 2017) A Animação Turística possui diversas vantagens para um destino turístico
como a criação de emprego, a diferenciação do destino e a atração de novos clientes,
atenuando a sazonalidade.
A sazonalidade afeta, de uma maneira algo previsível, o setor da hotelaria,
previsibilidade essa que permite a antecipação de estratégias para tentar contrariar
este fenómeno e estimular a estabilização da procura ao longo do ano.
Fátima, mercê das suas especificidades assume interesses particulares de
investigação, sendo convicção dos investigadores que a animação pode contribuir para
criar emprego e proporcionar uma dinâmica local própria ao longo do ano.
Na área do turismo as tendências vão-se alterando com o tempo e cabe aos
destinos turísticos seguirem essas tendências e aproveitarem as “modas” para proveito próprio.
Saber se a animação contribui de uma forma positiva para a diminuição da
sazonalidade do setor hoteleiro na região de Fátima, foi a questão de partida do
presente trabalho. Na primeira parte do artigo irá ser apresentada a revisão de
literatura e seguidamente serão explorados os materiais utilizados para a elaboração
do presente trabalho, sendo feita uma descrição metodológica para a realização do
mesmo.
Após essa abordagem serão discutidos os resultados e apresentadas as conclusões.
Revisão da Literatura
Segundo Simpson (cit. In Almeida & Araújo, 2017) a animação pode ser definida
como um “(…) sentido a uma vida cheia de compromissos sociais e profissionais, para um maior conhecimento das culturas locais, fugindo à rotina das obrigações”.
A animação turística implica três processos conjuntos tais como “um processo de revelação (ao criar condições para que todo o grupo e todo o indivíduo se revele a
si mesmo); Um processo de relacionamento (de grupos entre si ou destes com
determinadas obras, criadores ou centros de decisão, seja através do diálogo e da
concertação, seja através do conflito) e um processo de criatividade (pelo
questionamento dos indivíduos e dos grupos relativamente ao seu envolvimento, à sua
capacidade de expressão, de iniciativa e de responsabilidade) (Therry, 1970).
A animação é encarada como um complemento do produto turístico, em que
pretende a projeção efetiva de uma oferta competitiva, diferenciadora e de afirmação
de um destino turístico. Apresenta quatro finalidades: a finalidade educativa - as
atividades de animação devem ter um carácter educativo e, de acordo com o autor Krippendorf (cit. In Almeida & Araújo, 2017) “(…) devem contribuir para suprimir barreiras e desenvolver o prazer da descoberta e o desejo de contactos, permitindo
assim, que o individuo saia do seu isolamento (…) devem portanto, encorajar o esforço pessoal, a criatividade individual e o espirito de iniciativa; Uma finalidade cultural - a
atividade de animação deve despertar interesse para factos desconhecidos e factos
históricos, consoante o público-alvo; Uma finalidade social - a animação turística é
vista como uma ligação entre a população e o turista, ajudando a interação entre
ambos e proporcionando receitas; e a finalidade económica - as atividades de
animação geram receitas sem grandes investimentos. No entanto, com a promoção
adequada estas atividades dinamizam o destino e por sua vez aumentam as receitas do
mercado local.
Um estudo realizado pelo ICEP- Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal
(1997) e citado por Moutinho (2008) considera como principais componentes da
animação turística em Portugal, as visitor attractions (culturais, naturais e de lazer), os
eventos (festas, feiras e romarias), a animação em alojamento turístico (jantares
temáticos, atividades desportivas e culturais, atividades para crianças) e outras formas
complementares (casino, eventos desportivos, fado, festivais e touradas).
A animação pode ser utilizada como um meio para o combate à sazonalidade
turística que é definida como um fenómeno que faz variar o número de turistas numa
região, ameaçando consequentemente o desenvolvimento regional de uma região.
A sazonalidade turística é uma das mais significativas condicionantes da
atividade turística, representando uma das maiores ameaças à sustentabilidade do
sector. Esta temática tem sido discutida ao longo do tempo e na BTL – Feira
Internacional de Turismo, sendo que a então Secretária de Estado Ana Mendes
Godinho afirmou que “(…) Só com mais turismo ao longo do ano, é possível haver empregos qualificados e sustentados, e evitar, por exemplo que haja despedimentos
em massa em Outubro, após a época balnear. “O assunto da sazonalidade foi também, no mesmo evento, abordado pelo presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, ao
falar da sazonalidade como um adversário da empregabilidade de um destino turístico.
Um destino turístico pode ser considerado como “um conjunto de produtos e serviços disponíveis num local e que se combinam por forma a proporcionar uma experiência
ao visitante”. (Murphy, Pritchard & Smith; 2000)
Para uma plena compreensão da problemática da sazonalidade, é necessário
analisar as características e causas da sazonalidade no destino (oferta turística), mas
também na origem do visitante (procura turística). A maioria dos autores
especializados na área distingue duas fontes de sazonalidade: a fonte natural e a fonte
institucional, relacionadas com a origem e destino turístico. A primeira fonte é
composta por aspetos físicos tais como o clima, as variações de temperatura, as horas
de sol ou a chuva e neve, enquanto que a fonte institucional está mais relacionada
com comportamentos de origem cultural ou social do destino, motivados por
preferências individuais, normas sociais e religião, tais como eventos, épocas especiais,
feriados entre outros. (Jang, 2004; Lee et al., 2008; Marcussen, 2011). A sazonalidade
natural deriva essencialmente da localização geográfica do destino e da sua distância
ao Equador. Normalmente quanto maior for a latitude de um destino, mais acentuados
são os impactos da sazonalidade natural, especialmente no hemisfério Norte, como é o
caso de Portugal. Nos dias de hoje, a temática das alterações climáticas são uma
realidade e alguns estudos sobre o aquecimento global em certos destinos turísticos,
prevêm grandes modificações e consequências para a indústria do turismo – Cannas
(2012). Ao nível da sazonalidade institucional, distinguem-se a importância dos
feriados locais e dos períodos de férias dos habitantes locais. Os feriados próximos de
fins-de-semana incentivam muitas pessoas a viajar e isso tem impactos diretos para o
turismo de um destino. Além disso, as férias escolares das crianças e o encerramento
de alguns setores de atividade ou a sua paragem temporária, impõem os picos
sazonais do turismo. (Idem, ibidem).
Com base nesses fatores de sazonalidade, os destinos turísticos desenvolvem
diferentes potenciais de atração de turistas em determinadas alturas do ano, para
diferentes e determinados públicos. Não obstante, os processos de decisões dos
turistas são muito mais complexos e existem outros fatores decisivos tais como a
pressão social (modas e tendências), épocas específicas para determinadas atividades
(ex: surf ou ski) e ainda a inércia, a indecisão ou mesmo a falta de vontade de procurar
alternativas, conduzida pela força do hábito e da tradição. (Jang, 2004)
No setor hoteleiro a sazonalidade faz-se sentir com bastante intensidade,
principalmente na região de Fátima, com o encerramento de diversas unidades
hoteleiras e consequentemente a diminuição drástica e desmedida da
empregabilidade no setor hoteleiro, mas com repercussões em todo o setor turístico.
A sua época alta situa-se entre Maio e Outubro, uma vez que as oito aparições
de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos estão associadas a uma vez por mês
do dia 13 de Maio até ao dia 13 de Outubro.
Métodos e materiais
1.1 Cidade de Fátima
Fátima é uma cidade portuguesa pertencente ao concelho de Ourém e ao distrito
de Santarém, localizada na sub-região do Médio Tejo. Possui cerca de 11 596
habitantes e conta com cerca de 71,29 km de área total do seu território.
A cidade de Fátima é mundialmente conhecida pela aparição de Nossa Senhora de
Fátima a 3 crianças (3 pastorinhos de Fátima: Jacinta, Lúcia e Francisco) a 13 de Maio
de 1917. Nos dias de hoje é um dos destinos religiosos mais procurados em todo o
mundo, recebendo em média cerca de 6 milhões de visitantes por ano.
A atração turística mais importante de Fátima é o santuário, composto pela
Capelinha das Aparições, a Basílica da Nossa Senhora do Rosário e a Basílica da
Santíssima Trindade. Possui ainda outras atrações turísticas, a maioria de cariz
religioso, tais como a Via Sacra, as Grutas da Moeda, o museu interativo, o museu de
cêra, as pegadas dos dinossauros, as casas dos pastorinhos, o Mosteiro de Pio XII, a
casa museu de Aljustrel entre outros.
Ao nível dos acessos, a cidade possui uma estação rodoviária (centro), uma praça
de táxis, é atravessada pela autoestrada A1 e é igualmente servida pela via rápida IC9.
Não possui uma estação ferroviária, sendo que a mais próxima se encontra a cerca de 18 km, na freguesia de Caxarias (concelho de Ourém). É servida ainda por um
aeródromo com heliporto localizado a cerca de 10 km do santuário.
1.2 Setor hoteleiro de Fátima
O setor hoteleiro em Fátima é vasto e é constituído por diversos tipos de
alojamento, como os típicos hotéis (hotéis de uma, duas, três e quatro estrelas, sendo
que não existe nenhum com a classificação de cinco estrelas atualmente), alojamento
local (alojamento que tem vindo a aumentar exponencialmente), alojamento rural
(arredores de Fátima), hotéis de charme (tendência atual no mercado turístico), hotel-
apartamento, “hosteis” (grande procura pelo alojamento a baixo preço, principalmente pelas gerações mais novas) e B&B.
Atualmente a região não possui nenhum parque de campismo, o que é um desafio
há anos, uma vez que o setor hoteleiro tem-se oposto à sua criação.
A maioria dos gestores dos hotéis em Fátima possuem ligações familiares uns com
os outros, sendo que, por exemplo, na Fátima Hotels Group (maior grupo hoteleiro de
Fátima com cerca de 14 hotéis que funcionam em rede) todos os donos dos hotéis são
da mesma família.
Os grandes hotéis na época baixa ainda conseguem subsistir, mas as unidades
mais pequenas são obrigadas a encerrar nos finais de Outubro/Novembro devido à
falta de turistas e à grande sazonalidade do setor. Esta realidade leva a que, todos os
anos, centenas de pessoas fiquem sem emprego e tenham de subsistir de subsídios de
desemprego até à época alta, altura em que são de novo recontratados pelas
empresas.
Os preços do alojamento variam muito da época alta para a baixa, sendo que os
preços mais elevados são sempre praticados nas datas das aparições, em que a
maioria do alojamento em Fátima esgota com 1 ou até 2 anos de antecedência.
1.3 Animação Turística em Fátima
A animação turística da região de Fátima incide, maioritariamente, em temáticas
religiosas e a oferta é muito pouco variada. Existem algumas empresas de animação
turística, mas a grande maioria, são especializadas em nichos de mercados religiosos.
A oferta existente na época alta é deveras contrastante com a oferta turística na
época baixa, que é praticamente inexistente.
A animação turística no setor hoteleiro é também praticamente inexistente, sendo
que a grande aposta, nos últimos tempos, tem sido a exploração dos eventos para
grupos turísticos e empresariais e alguma animação turística relacionada com os
mesmos.
Algumas empresas de animação têm feito um esforço gradual para se imporem no
mercado e têm tentado combater e contrariar a tendência da sazonalidade, apostando
em eventos de cariz cultural (romarias, procissões ou feiras locais de gastronomia),
temático e na animação sociocultural (aposta do concelho em exposições de artistas,
colóquios, representações teatrais, concertos musicais entre outros).
A exploração de mais atividades de animação em épocas de pouca procura, por
parte do município, tem proporcionado um aumento gradual de turistas na região,
mas com pouca dimensão, tratando de aumentos pouco significativos.
1.4 Metodologia
O método escolhido para o desenvolvimento deste trabalho foi a realização de
questionários. Os questionários permitem atingir, de uma forma facilitada, uma
amostra significativa de inquiridos, uma resposta rápida e visam compreender a
opinião da população e de alguns dos seus visitantes,
responder à questão de partida. no sentido de conseguir
Foram criados dois questionários iguais, um em português e outro em inglês, e
foram distribuídos de duas maneiras diferentes. Alguns questionários foram
respondidos online (42 inquiridos) através de um website próprio e partilhado por
amigos e conhecidos nas redes sociais. O resto dos questionários foi distribuído numa
rua paralela ao Santuário de Fátima a turistas estrangeiros no dia 25 de Janeiro (30
inquiridos) e portanto fora do período de grande afluência de turistas/visitantes.
Atingiu-se uma amostra de 72 inquiridos (válidos) e ficamos a conhecer a opinião de
quem conhece e de quem não conhece Fátima.
As diferenças observadas entre os turistas inquiridos na rua e os turistas inquiridos
online são consideráveis e foram alvo de uma análise prudente e detalhada. Cada
questionário possuía 11 perguntas.
Nesta vertente ocorreram algumas dificuldades, nomeadamente alguns turistas
inquiridos não quiseram responder ao questionário, outros não foram considerados
válidos (2 questionários) e alguns dos turistas inquiridos não percebiam ou falavam
português/inglês, sendo que cerca de 7 questionários tiveram de ser traduzidos no
local aos inquiridos na língua francesa e espanhola.
2. Resultados
Relativamente à primeira pergunta do questionário, “Nacionalidade”, pode afirmar-se
que aproximadamente 58% - 42 indivíduos – dos inquiridos residem em Portugal e
aproximadamente 42 % - 30 indivíduos – dos inquiridos residem no estrangeiro. Dos
42% dos inquiridos, aproximadamente 3% são de nacionalidade brasileira, 1% são de
nacionalidade chinesa, 3% são de nacionalidade polaca, 4% são de nacionalidade
francesa, 11% são de nacionalidade americana, 3% são de nacionalidade australiana,
7% são de nacionalidade coreana (sul), 4% são de nacionalidade holandesa e 6% são de
nacionalidade espanhola.
Assim é possível observar que a maior parte dos inquiridos são de nacionalidade
portuguesa.
Nacionalidade
3% 7%
4% 6%
11%
4%
3%
1% 3%
Portuguesa
Americana Brasileira
Australiana Chinesa
Coreana 58%
Polaca
Holandesa Francesa
Espanhola
A segunda questão incidia sobre o sexo do inquirido sendo que aproximadamente 61%
- 44 indivíduos - dos inquiridos pertencem ao sexo feminino e aproximadamente 39% -
28 indivíduos – pertencem ao sexo masculino.
Observa-se assim que a grande maioria dos inquiridos eram mulheres.
Sexo
39%
61%
Feminino Masculino
A terceira pergunta incidia sobre a idade do inquirido sendo que este tinha 5 opções
de escolha: Menos de 18 anos, entre 18 e 25 anos, entre 26 e 45 anos, entre 46 e 60
anos e mais de 61 anos. Observou-se que cerca de 7% têm idade inferior a 18 anos,
25% têm idades entre os 18 e os 25 anos, de 43% têm idades entre os 26 e os 45 anos,
14% têm idades entre os 46 e os 60 anos, que 11% têm mais de 61 anos.
Pode verificar-se que a geração entre os 26 anos e a dos 45 anos destacou-se.
Idade
14% 11% 7%
25%
43%
Menos de 18 anos
Entre 46 a 60 anos Entre 18 a 25 anos
Mais de 61 anos Entre 26 a 45 anos
A quarta pergunta incidia nas habilitações literárias dos inquiridos sendo que poderiam
escolher entre as 6 respostas: Ensino básico, Ensino Secundário, Licenciatura,
Mestrado, Doutoramento e tinham ainda uma opção, para caso não tivesse a opção
correta. De toda a amostra 30 pessoas escolherem a última opção e escreveram mais 3
opções: CET, PhD with MBA e Without School (sem escolaridade). Podemos assim
verificar que praticamente metade dos inquiridos possui o ensino secundário como
habilitação literária com aproximadamente 47%, seguida pelo grau de licenciatura
(29%), o grau de mestrado (14%), o grau de doutoramento e o grau de ensino básico
empataram com cerca de 3%, seguidos pelas três opções sugeridas pelos inquiridos:
TESP (1%), PhD with MBA (1%) e Sem escolaridade (1%). Esta questão foi ainda
analisada segundo as habilitações dos turistas nacionais e as habilitações dos turistas
estrangeiros. Nos turistas portugueses (42) 33não existe nenhum com doutoramento,
existem 2 inquiridos com o ensino básico e ainda uma pessoa sem escolaridade. Ao
nível dos estrangeiros, o mínimo de habilitações é o ensino secundário (com apenas 5
inquiridos) e os restantes possuem quase todos a licenciatura, o mestrado e
doutoramento (com 2 inquiridos.
Se compararmos os dois públicos conseguimos observar que o público
estrangeiro, apesar de ter uma amostra menor, possui melhores habilitações que os
inquiridos portugueses.
Habilitações Literárias
Ensino Básico
Doutoramento Ensino Secundário
Sem escolaridade Licenciatura
PHD with MBA Mestrado
TESP
A quinta pergunta colocada foi “É residente em Fátima” sendo que cerca de 74% (53 indivíduos) dos inquiridos responderam que Não e cerca de 26% (19 indivíduos)
responderam que Sim. O resultado é esperado e não surpreende, uma vez que 30
indivíduos são estrangeiros, logo o máximo de percentagem que o Sim poderia atingir
seria 58%.
É residente na região de Fátima?
74% 26%
Sim Não
A sexta pergunta foi “Considera que o setor hoteleiro de Fátima é condicionado pela sazonalidade?”. Esta pergunta foi bastante divergente entre os inquiridos nacionais e os inquiridos estrangeiros. No geral cerca de metade respondeu que Sim, e a resposta
do Não (29%) e a do Talvez (21%) ficaram equilibradas. No público nacional (42
inquiridos, em que 19 são da região de Fátima) apenas 3 pessoas responderam que
Não. Pelo contrário, nos inquiridos estrangeiros (30), mais de metade (18 inquiridos)
responderam que Não e apenas 7 responderam que Sim.
Estes resultados foram inesperados, sendo que é normal que o público estrangeiro não
saiba os efeitos da sazonalidade em Fátima e pensem que é um atrativo todo o ano.
Por outro lado, os inquiridos portugueses, conhecem melhor a realidade e o Sim foi
respondido por cerca de 70% do total de inquiridos nacionais, o que será algo de
interessante para futuras investigações.
21%
29% 50%
Sim Não Talvez
A sétima pergunta foi “ Já participou em alguma atividade de animação turística em Fátima?”. Esta pergunta também teve grandes divergências entre os inquiridos portugueses e nacionais sendo que a resposta Não ganhou com 58% e o Sim com
apenas 42%. Nos inquiridos estrangeiros (30 inquiridos), 20 afirmaram que sim, sendo
que apenas 10 disseram que Não à pergunta. Nos inquiridos portugueses o Não
prevaleceu em grande parte, com cerca de 33 pessoas a afirmarem que Não e apenas
11 a dizerem que Sim. Esta pergunta suscitou respostas interessantes, por um lado,
porque aparentemente, os portugueses estariam mais interessados no setor da
animação turística, o que não confirmado, ao contrário do que sucedeu com os
estrangeiros que aderem à ideia.
58% 42%
Sim Não
A oitava pergunta foi “Considera que a animação turística poderia contribuir para o combate da sazonalidade no setor turístico em Fátima?”. Novamente as respostas dos dois tipos de públicos divergiram sendo que o Sim prevaleceu de novo com 44% (no
âmbito das perguntas essenciais do trabalho) o Não aumentou para 33%, cerca de 4
pontos percentuais a mais que na pergunta 7 e a resposta Talvez manteve-se com
23%.
23%
44%
33%
Sim Não Talvez
A nona pergunta foi “Considera que a animação turística poderia contribuir para o combate da sazonalidade no setor hoteleiro?”. Esta pergunta é parecida com a pergunta anterior, mas é focada no setor hoteleiro e ocorreram algumas mudanças
nas respostas dos inquiridos. A resposta Não manteve-se com 33%, o Sim diminuiu
ligeiramente em 9 pontos percentuais com 35% e a resposta talvez aumentou para
32%. Isto leva a crer que a maioria das pessoas acha que poderá contribuir, mas talvez
por não saber bem o que é a animação turística ou as suas características, ainda se
mostra um pouco cética em dar uma certezas.
32% 35%
33%
Sim Não Talvez
A penúltima pergunta foi “Participaria em alguma atividade de animação turística na época baixa (Outubro a Maio) em Fátima?” a resposta foi unânime pela maioria, uma vez que cera de 85 % dos inquiridos (portugueses ou estrangeiros) responderam
positivamente a esta pergunta, o que leva a crer que caso fossem promovidas e
desenvolvidas atividades de animação turística em Fátima na época baixa poderia ter
aceitação por parte do público nacional, mas também internacional.
15%
85%
Sim Não
A última pergunta do questionário foi “Tem alguma sugestão de atividades de
animação turística na região de Fátima?”. Esta pergunta era de escolha aberta e foram enviadas bastantes sugestões, o que tornaria a elaboração de um gráfico quase
impossível. Algumas das sugestões dadas pelos inquiridos foram: eventos, festivais
gastronómicos, peddy-papers, eventos de BTT e Moto-Cross, festivais de música
alternativa (vários inquiridos sugeriram esta opção), festivais de reggie, romarias, jogos
de bebidas entre muitos outros. Uma das atividades de sobressaiu nesta pergunta foi a
de um alemão que sugeriu a criação de uma exposição de uma cidade miniatura de
Fátima, com todas as suas atrações, tal como a exposição alemã muito conhecida
Miniatur Wunderland.
Em suma, apesar de alguns dos resultados já terem sido expostos anteriormente, no
geral, considera-se que os turistas estão bem informados sobre a realidade da região
de Fátima, principalmente no setor hoteleiro, e que consideram que a animação
turística poderia trazer vantagens para o Turismo na região.
3. Discussões e Conclusões
O turismo é um sector global e transversal e ao mesmo tempo muito volátil e
frágil, conforme temos vindo a confirmar em tempos de pandemia.
Independentemente do setor económico ou de negócio, a sazonalidade é
continuadamente apontada como uma das principais ameaças à atividade do sector
turístico, provocando drásticas mudanças na economia local e nacional. No caso de
estudo de Fátima, causa uma forte e repentina redução da atividade, causando o
desemprego e o encerramento de diversas infraestruturas de apoio ao turista tais
como hotéis, restaurantes, cafés entre outros, nas alturas de menor procura turística.
O desafio de Fátima nos próximos anos situa-se precisamente nesse ponto,
equacionando-se a oportunidade de criar e desenvolver estratégias para desenvolver
atividades ao longo do ano, beneficiando o setor do turismo mas também as
comunidades locais que sofrem diretamente os impactos da sazonalidade. Será o caso
da animação que “(…) congregando inúmeros fatores Intensificadores da Experiência (Turística) pode assumir-se, em determinadas circunstâncias, como uma ferramenta de
intervenção pessoal e social, materializando espaços de convergência de vantagens
mútuas. Turistas e comunidades locais são os beneficiados deste processo que suscita
uma investigação em torno dos factores Intensificadores da experiência turística” (Almeida).
Segundo os questionários elaborados e os projetos estudados inseridos na mesma
área, mas com temas aplicados a outras regiões, pode concluir-se que a aceitação dos
turistas e comunidades locais perante atividades de animação turística na região seria
elevada, o que equacionaria o combate à sazonalidade, à geração de mais emprego, à
criação de novas empresas e oportunidades de negócio, ao aumento da ocupação
hoteleira e um importante contributo para a economia local mas também nacional.
Considera-se pertinente a necessidade de desenvolvimento de futuros estudos em
profundidade para melhor interpretação do tema e sugere-se a criação de um grande
evento de animação turística na região.
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