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Tecnologia para trazer a pessoa amada
by Alerj
CPI DOS DESAPARECIDOS
Tecnologia para trazer a pessoa amada
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DIVULGAÇÃO
Alerta Pri envia dados de crianças e adolescentes a três milhões de celulares
Knoploch com Isaak e Clemilda: primeiro envio de SMS
TEXTO MANUELA CHAVES FOTO THIAGO LONTRA
Por nove dias, a vendedora autônoma Clemilda do Carmo viveu uma angústia que parecia sem fim: o filho Isaak do Carmo Félix, de 11 anos, sumiu quando brincava no portão de casa, em Santa Cruz, na
Zona Oeste da capital. Com o coração apertado, a mãe procurou auxílio na
Fundação para a Infância e Adolescência (FIA-RJ), órgão da Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social e
Direitos Humanos (SEDSODH). A notícia do desaparecimento, com foto e informações sobre o menino, foi rapidamente enviada por mensagem para milhares de celulares no estado. Isaac foi a primeira criança a ser encontrada após a implementação do
Alerta Pri. O sistema eletrônico criado pela Lei 9.182/21, de autoria original do deputado Alexandre Knoploch (PSC), obriga operadoras de telefonia a enviarem SMS com dados que ajudem a descobrir o paradeiro desses jovens. São em média três milhões de números de celulares. “O nome e a foto dele foram divulgados pelo Alerta Pri. Foi através de uma foto em rede social que soubemos que ele estava no Centro do Rio. O Alerta Pri e a FIA me ajudaram muito, me deram apoio na busca pelo meu filho”, conta Clemilda. A criação do mecanismo foi um dos principais resultados da CPI da Alerj que investigou casos de crianças e adolescentes desaparecidos no estado. O nome do sistema é uma homenagem à Priscila Belfort, desaparecida há 18 anos. O SMS contém um link que direciona para o Portal de Desaparecidos da Polícia Civil, criado especialmente para atender à norma, que tem imaO nome e a foto dele foram divulgados pelo Alerta Pri. Foi através de uma foto em rede social que soubemos que ele estava no Centro do Rio.”
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Clemilda do Carmo Vendedora autônoma
gens dos menores cadastrados. As informações são disparadas nas primeiras 24 horas de sumiço, obedecendo à Lei 3.614/01, que determina a busca imediata de menores de 16 anos. “Estatísticas provam que as primeiras horas são fundamentais.Quanto mais rápida for a difusão do alerta, mais chances temos de recuperar nossas crianças com vida. A cada criança localizada tenho a certeza de que todo o nosso esforço na CPI valeu muito a pena”, justifica Knoploch, que presidiu os trabalhos da CPI. Mãe de Priscila, Jovita Belfort está à frente da Superintendência de Desaparecidos da SEDSODH. Para ela, o sistema traz uma importante contribuição para minimizar o problema. “O Alerta Pri já foi um avanço e representa uma vitória de todos, especialmente para as mães dos desaparecidos. Só quem conhece a nossa dor somos nós, mais ninguém. Peço que as pessoas, ao receberem o alerta, não o ignorem. Qualquer informação sobre essas crianças pode salvar vidas”, diz.
DIVULGAÇÃO É FUNDAMENTAL A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) passa as informações às operadoras de telefonia, que fazem os disparos para números de telefone selecionados de forma aleatória. Mas é possível ingressar no cadastro, enviando MSM com o CEP residencial para o número 55190. O Rio de Janeiro é pioneiro na implantação do sistema, que teve seu primeiro alerta enviado no dia 24 de março deste ano. A delegada titular da DDPA, Elen Souto, aponta que, desde o início do funcionamento até o início de junho, foram disparados 40 alertas. A partir desses disparos, 31 crianças foram encontradas. “É de suma importância para as investigações que o alerta seja dado o quanto antes. Atualmente, as redes sociais são um grande instrumento de investigação, e agora podemos contar também com essas mensagens. A eficácia do Alerta Pri é real, as informações efetivamente chegam às delegacias e às famílias dos desaparecidos”, esclarece a delegada. Somente em 2021, o Estado do Rio registrou 4.039 casos de pessoas que saíram às ruas e nunca mais foram vistas por suas famílias e amigos, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Jovens entre 12 e 17 anos são as principais vítimas dessa tragédia. No ano passado, a FIA cadastrou 172 casos. A maioria, 156, foi localizada. A fuga do lar relacionada a conflitos familiares representa 77% dos registros, de acordo com levantamento da FIA. Este é um fenômeno que aumentou de forma exponencial durante a pandemia, como conta o coordenador do SOS Crianças Desaparecidas, Luiz Henrique Oliveira. Segundo ele, a violência física e psicológica aumentaram em decorrência do confinamento. A emissão do documento de identidade logo na infância aliada à ampla divulgação do desaparecimento são medidas que contribuem para uma solução rápida dos casos. “É necessário encontrar um nicho de prevenção junto às escolas com palestras que abordem a questão da violência intrafamiliar. Precisamos buscar um caminho de interlocução com a sociedade num todo, evitando esses conflitos, que levam aos desaparecimentos temporários”, afirma Oliveira. Outra medida relevante é a Lei 9.506/21, de autoria do relator da CPI,o deputado Danniel Librelon (REP), que criou o “Cartão Prontidão”. Ele estabelece o pagamento de um salário mínimo, por até três meses, para apoiar as famílias: “Esse cartão vai ajudar mães que não possuem condição de pagar passagem na busca por informações sobre o filho. É um grande avanço”.
JULIA PASSOS
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PARLAMENTARES com Jovita Belfort (Centro) e o grupo de mães na Alerj
DRAMA SEM FIM “Por mais que eu busque, não chego a lugar nenhum. É muito difícil. Perdi minha família, minha credibilidade”, lamenta a cuidadora de idosos Rogéria da Cruz, que há 13 anos vive a angústia da ausência da filha Vitória Claudiana Nogueira, que tinha 11 anos quando sumiu. A menina foi vista pela última vez no dia 5 de junho de 2009, quando ia da escola para a casa de uma amiga, em Irajá, Zona Norte do Rio. A mãe refez por diversas vezes o trajeto e percorreu comunidades na esperança de encontrar a filha. A passagem do tempo desafia a esperança, mas Rogéria encontrou na solidariedade uma forma de preencher o vazio. Fundou a ONG Mães Braços Fortes, que acolhe famílias que enfrentam o mesmo problema e pessoas em situação de vulnerabilidade social na região de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense do estado. “Buscamos ajuda no Ceasa para distribuir frutas, peixes e outros alimentos para as pessoas mais carentes no nosso bairro. O Governo do Estado precisa olhar mais para os pobres, precisa implantar mesmo a investigação dos casos de desaparecimento”, desabafa.