M an u al Digit a l d o Pro fe s s o r Texto s: A n a Paul a M a t h i a s d e Pa i va
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Autora deste manual: Ana Paula Mathias de Paiva Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Projeto gráfico: Thiago Amormino Supervisão: Jéssica Tolentino Coordenação-geral: Rosana de Mont'Alverne Neto
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PAIVA, Ana Paula Mathias de Contos da meia-noite do mundo: manual digital do professor; [recurso eletrônico] -- Belo Horizonte : Aletria, 2018. 29 p. ISBN 978-85-9526-017-7 (e-book) 1. Literatura infantojuvenil brasileira – Estudo e ensino. I. Título. CDD: 808 CDU: 087.5(81)
Manual do professor O professor-mediador é uma figura fundamental no âmbito escolar porque multiplica as chances de letramento literário, amplia a capacidade de compreensão dos textos e compartilha com seus alunos a paixão pelas leituras. A boa mediação abre espaço para a autonomia dos estudantes, seu protagonismo e sua compreensão de si, do outro e do mundo. Recursos de apoio são bem-vindos quando se pautam na expansão de conhecimentos, motivação interpessoal e elaboração de rotinas pedagógicas adequadas às diversidades nacionais.
O Manual do Professor correlaciona tais argumentos às obras literárias, destaca gêneros e temáticas, organiza propostas, atividades e orientações capazes de potencializar habilidades e competências, assim como de suprir dificuldades detectadas.
Sumário
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Síntese da obra
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Sobre os autores
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Adequação e desenvolvimento de competências
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Gênero literário
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Como utilizar em sala de aula o livro Contos da meia-noite do mundo
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Orientações para a aula de língua portuguesa
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Atividades propostas #1
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Atividades propostas #2
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Atividades propostas #3
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Atividades transdisciplinares #1
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Atividades transdisciplinares #2
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Interlocuções 6
Síntese da obra Em Contos da meia-noite do mundo, o argentino Rodolfo Castro apresenta ao leitor três contos clássicos narrados presumidamente como surgiram durante a Idade Média. Contos como A Bela Adormecida (A matéria do silêncio), A Gata Borralheira (Maldito pé pequeno) e Chapeuzinho Vermelho (A donzela feroz) estão aqui em versões que reúnem variantes não tão conhecidas do público. Os finais felizes cedem lugar ao primitivo e ao sombrio dessas narrativas, expondo alegoricamente os perigos do mundo, a denúncia social, a violência iminente, o hediondo. As ilustrações do premiado artista paulistano Alexandre Camanho parecem nos conduzir diretamente dos dias atuais para a Idade Média, época que ficou conhecida como “meia-noite do mundo”.
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Sobre os autores O escritor Rodolfo Castro nasceu e cresceu entre Buenos Aires e Montevidéu. Residiu no México muitos anos e atualmente vive em Lisboa, Portugal. Castro foi professor do ensino básico e, por seu fascínio pelos contos tradicionais, tornou-se contador de histórias. Seu estilo e versões narrativas nos revelam que o desafio humano de migrar pode ser semelhante à história dos contos que, ao longo dos tempos, se movem entre tradições, culturas e países, tendo de adaptar-se para permanecer vivos. O autor também assina as publicações O último conto, Os sete irmãos chineses e o ensaio A intuição leitora, a intenção narrativa, publicado em Portugal pela Editora Gatafunho.
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Alexandre Camanho nasceu em 1972, em São Paulo. É formado em Comunicação Social e em Artes Plásticas pela USP. Estudou também gravura e desenho. Cria ilustrações desde 1999 e, em 2012, ganhou o prêmio IBEMA de gravura, com a estampa A Memória. Em 2015 ganhou o Prêmio Jabuti na categoria ILUSTRAÇÃO EM LIVROS INFANTIS com Os três ratos de Chantilly. Também assina a ilustração das obras Casa do Cuco e Frritt-Flacc. Atualmente dedica-se a escrever e ilustrar livros infantis e juvenis.
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Adequação e desenvolvimento de competências
to e mal-estar por afastar-se do esperado, costumeiro e familiar. ▶ Fundamenta-se na tradição popular e investe na reinvenção.
Competências gerais: aperfeiçoar habilidades orais e escritas de formação de opinião. Desenvolver a criatividade e o pensamento crítico. Aprimorar a defesa de ideias acerca de direitos humanos, ética e combate a violações. Fruir por temas e gêneros originais da produção artística e cultural. Diversificar usos expressivos da linguagem. O livro Contos da meia-noite do mundo: ▶ Cria diálogos com a história da humanidade. ▶ Cria acesso à fantasia e ao fantástico. ▶ Faz-se compreender na unidade verbo-visual.
Tema:
Mistério e fantasia. Tema que perpassa sentimentos e emoções atrozes; cria diálogo com a história das tradições orais e contos medievais; ilustra hábitos antigos e revela discrepâncias entre a vida no palácio e a dos aldeões; abre possibilidades ao mistério e à fantasia.
▶ Propicia acesso ao mistério, a causas ocultas. ▶ Evoca crítica social e provoca sentimentos, estranhamen11 11
Gênero Literário:
Conto
Tipo de narrativa literária breve e concisa, com número restrito de personagens, estruturada em um começo, meio e fim. É marcado pela presença de narrador, tempo, espaço, enredo e personagens.
Subcategoria do Gênero: Conto Fantástico O conto fantástico é um gênero literário povoado de ingredientes que seriam improváveis na realidade convencional, no entanto sua abordagem é capaz de abrigar fenômenos tanto naturais como sobrenaturais em uma mesma narrativa. O ambiente beira o irreal e o onírico. É um gênero marcado pelo absurdo e por ações ou situações extraordinárias, associadas a acontecimentos maravilhosos, fantasiosos. Tal gênero pode se valer de objetos ligados à magia e de seres heroicos, bruxos, ogros, aparições, animais fabulosos, alegorias, e criaturas elementais, tais como ninfas, silfos, elfos, goblins, duendes, gnomos etc., que habitam o ar, a água, a terra ou o fogo. 12
Como utilizar em sala de aula o livro
Contos da meia-noite do mundo ORIENTAÇÕES PARA A AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA Antes da leitura ▶ Descobrir mais sobre o autor Rodolfo Castro, sua origem, trânsito entre nações, publicações e experiência como contador de histórias. ▶ Apreciar a capa do livro e suas ilustrações internas, que remetem ao universo fantástico. ▶ Definir características de um conto fantástico ou de realismo mágico. ▶ Em roda, distribuir entre os alunos outras ilustrações representativas do gênero. 13
▶ Pedir que os alunos mobilizem conhecimentos e defendam ideias e impressões pessoais.
OBJETIVOS:
Desta forma, o autor presta um serviço a quem tem interesse pela ancestralidade e pela cultura oral. ▶ Descrever aspectos inusitados, estranhos e/ou interes-
■ Compreender as particularidades da narrativa fantástica.
san¬tes observados na estrutura narrativa dos três contos tradi-
■ Desenvolver atitude reflexiva sobre um conhecimento
cionais que Rodolfo Castro elege para esta releitura.
adquirido. ■ Usar habilidades para manifestar opinião.
▶ Inventar um novo final apara uma das três histórias (atividade escrita).
OBJETIVOS: ■ Despertar para as provocações literárias que o sentimento Após a leitura
de estranhamento pode suscitar; ■ Exercitar a imaginação e a escrita criativa;
Observar que, no livro, o autor não tentou corrigir ou ade-
■ Familiarizar com o gênero conto fantástico.
quar as histórias tradicionais em prol do “final feliz”. As narrativas incluem o supersticioso, ameaçador, cruel, absurdo, trágico, ou seja, aquilo que era característico a alguns contos primitivos.
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Atividades propostas #1 Língua portuguesa Promovendo uma dualidade entre o real e o absurdo, o conto fantástico muitas vezes se apropria da linguagem figurada e simbólica para a produção de efeitos inusitados e curiosos, como mostram os excertos abaixo: De repente, todo o bosque silenciou, as árvores cerraram os olhos, os pássaros fingiram adormecer e a névoa se deslocou pelos flancos deixando descoberta a casa de sua avó (p.12). Chegaram à festa, então, doze seres de aspecto inquietante. Elas eram mais antigas que as montanhas [...]. (p.22).
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Passaram-se dias encharcados de angústia. Zezolla deixou de falar com humanos. Seus lábios zumbiam como moscas e parecia conversar com pássaros e ratazanas. (p.34). Figuras de linguagem são recursos estilísticos utilizados na linguagem oral e escrita e que aumentam a ex¬pressividade. Atividade: ▶ Pedir aos alunos que destaquem no texto os usos expressivos de figuras de linguagem, por exemplo, personificações, metáforas, sinestesias, alegorias, com¬parações, hipérboles, ironias etc. Em seguida, cada aluno deve reunir três a cinco exemplos de figuras de linguagem no caderno.
OBJETIVOS: ■ Transformar a apreensão e a curiosidade em desafio de compreensão leitora e em caminho de atribuição de sentido; ■ Desenvolver a sensibilidade leitora. 17
Atividades propostas #2 Desenvolvimento do pensamento criativo pelo viés do realismo fantástico A saída do convencional, na literatura, pode ocorrer com a ajuda de elementos linguísticos variantes e ilustrações inusitadas. No entanto, mesmo em contos fantásticos o pensamento criativo tem de gerar inteligibilidade e ser coerente no enredo. O estranhamento é um efeito que pode ser criado na arte literária e em outras formas de arte. Oposto ao que nos é referente ou familiar, convida-nos a uma dimensão nova, além do comum, enriquecida por eventos insólitos.
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▶ Fazer apontamentos que mostrem para a turma por que motivo o estranhamento é peça importante na criação da literatura fantástica. ▶ Ouvir a opinião dos alunos acerca do que consideram inteligível e ininteligível. ▶ Mediar a observação de aspectos fantásticos nas ilustrações de Alexandre Camanho. ▶ Atividade para os alunos: fazer um relato de 10 linhas valorizando seu ponto de vista. O que parece compreensível nas ilustrações de Camanho, o que causa espanto e dúvida, e o que fica na área do absurdo, inverossímil, porém faz sentido no conto fantástico.
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Atividades propostas #3 Diálogos com a História Todo enredo se insere em um contexto. A donzela feroz traz um texto inicial que se refere a um mundo esquecido, povoado por “homens cansados e mulheres pálidas, por crianças que nunca cresciam. Vidas oprimidas sob o domínio de abadias e castelos”. A seguir vem a complementação: “Há quem ainda insista em encontrar finais felizes, mas se assim fosse, já não seriam mais contos medievais” (p.11). Prólogo é um tipo de texto que traz esclarecimentos e fatos, antecedendo a trama. A donzela feroz menciona a Idade Média como contexto histórico. ▶ Reúna informações que justifiquem o fato da Idade Média ser associada à Idade das Trevas. Levante dados sobre hábitos e modos de vida no período: epidemias avassaladoras, miséria, regime feudal, desigualdades entre os estratos sociais, lendas e/ou superstições - tematizando o mágico, vinganças, castigos, martírios, punição a supostas heresias etc. 20 20
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Atividades transdisciplinares #1
trela cadente; boa sorte ao encontrar uma ferradura; má sorte ao passar debaixo de escada etc.
SUPERSTIÇÕES
▶ Pesquisar com os alunos: qual a origem da “sexta-feira 13”? ▶ Aprendizado de superstições orientais: o número 8, no Ja-
O conto A matéria do silêncio invoca os termos superstição, maldição e sentença.
pão, em sua escrita (八 = Hachi) representa a “abertura da sorte”. Já o gato com a pata levantada tornou-se símbolo, no oriente, da
Tais conceitos envolvem parâmetros culturais e históricos.
sorte dos comerciantes. Isto porque, antigamente, o gato era con-
▶ Identificar no livro passagens que remetam a esses três
siderado o protetor dos agricultores por caçar os ratos e, com o
sentidos (superstição, maldição e sentença).
tempo, a pata levantada passou a lembrar o movimento usado para chamar pessoas, originando o nome Manekineko (gato que
Superstições: são crenças sobre relações de causa e efeito
convida, que chama), o que atrairia a sorte e os clientes.
que não se adequam à lógica formal, nem ao pensamento racional; podem envolver a confiança popular em presságios e sinais, originados por coincidências ou acontecimentos fortuitos. No Brasil, algumas superstições bem conhecidas incluem: boa sorte ao encontrar um trevo de quatro folhas; garantia de
▶ Descrever individualmente, após conversa com familiares ou pessoas conhecidas, um exemplo tipicamente brasileiro de superstição. Objetivo: entrar em contato com saberes populares através da experiência interpessoal.
realização de um pedido ao acompanhar a passagem de uma es22 22
Atividades transdisciplinares #2
Atividade dirigida aos alunos: ▶ Reler os três contos de Rodolfo Castro. ▶ Fazer anotações livres que apontem características de
VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS
um contexto histórico e se há indícios de violência contra a mulher ou contra crianças.
Rodolfo Castro relatou em entrevista que escolheu Gata Borralheira, Chapeuzinho Vermelho e Bela Adormecida porque estas foram as histórias que mais captaram sua atenção e das quais conseguiu reunir maior número de versões e comentários. Esses três contos realçam o universo feminino em confronto com a violência. E, para Castro, parece revelador abrir essa porta da história.
▶ Organizar o raciocínio num esquema que inclua: agressor, vítima, situação. ▶ Interpretar os registros pessoais (de violação de direitos) com base em princípios éticos e solidários. ▶ Manifestar suas impressões para a turma, produzindo argumentos convincentes.
Entrevista realizada em 21/09/2017, sessão CONVERSA COM O ESCRITOR, blog literário - https://www.aletria.com.br/ Atividade mediada pelo professor em sala de aula: ▶ O professor pode mediar um diálogo interativo na classe, a respeito da manifestação de valores comuns a uma época, por vezes retratados em contos de tradição popular. 23 23
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Interlocuções Barbazul (Autora: Anabella López) O personagem Barba Azul habita um famoso conto escrito por Charles Perrault e publicado pela primeira vez em Contos da mamãe gansa – Contes de ma mère l'Oye. A origem da história perpassa lendas e versões que circularam pelo imaginário popular europeu. Esta releitura do clássico, de Anabella López, denominada Barbazul, conserva o personagem aristocrata, assustador e misterioso que, já tendo casado muitas vezes, sempre volta a ficar viúvo sem que o paradeiro de suas esposas seja conhecido. Como ritual, o protagonista Barbazul viaja por algum período deixando em posse de sua atual esposa um chaveiro que dá acesso a muitos aposentos do castelo; entretanto, por ocasião da entrega das chaves sempre é feita uma recomendação expressa às esposas e a 25 25
desobediência à imposição de Barbazul pode custar mais do que
novo padrasto da menina. Vidal está tentando reprimir uma guerri-
se imagina. Impactante na estética misteriosa e sombria da auto-
lha e representa o exército de Franco. Próximo ao lugar onde Ophe-
ra e ilustradora Anabella, a obra prende a atenção do leitor pelos
lia vive há uma entrada misteriosa para um labirinto antigo. Por lá
mistérios e efeitos de ansiedade. No desfecho, ao criar as cenas
existem seres fantásticos e um enigmático fauno, de caráter duvi-
das esposas enterradas de Barbazul, cada qual representada por
doso, que lhe faz uma revelação impactante: Ophelia seria a reen-
uma rosa vermelha, a autora propõe um registro simbólico de ho-
carnação de uma lendária princesa, habitante de uma espécie de
menagem a todas as mulheres vítimas de violência neste mundo.
submundo, e sua principal missão, nessa vida, seria a de completar três perigosas tarefas a fim de voltar ao seu verdadeiro lar. Destemida, sofrida, inteligente e, mais tarde, só, órfã de mãe, a menina
O labirinto do fauno
enfrentará com coragem muitos tormentos e desafios. A narrati-
(Filme - 2006)
va aproxima-se do realismo mágico e é atravessada por mistérios, acontecimentos trágicos, de lealdade, luta e sadismo. Destacados
Ícone do cinema fantasia, adaptado em 2006 e ganhador do prê-
na criação imaginativa, objetos com poderes sobrenaturais, como
mio de Melhor Filme Estrangeiro, O labirinto de fauno apropria-
um giz que abre e fecha portais e um livro capaz de contar a his-
-se de uma narrativa sombria e fantasiosa para contar a história da
tória de tudo que existe. Mas... será que a inocência e coragem de
pequena e inocente Ophelia, cuja mãe está grávida e doente, nos
Ophelia vencerão todo o mal à espreita? No cinema, a adaptação
idos de 1944, na Espanha. Ambas acabam de chegar a um acam-
contou com a primorosa direção e produção do cineasta mexicano
pamento militar, interiorano, comandado pelo temido oficial Vidal,
Guillermo del Toro. 26
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