M anual Digital do Profes s o r Textos: Ana Paula Mathias de Paiva
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Autora deste manual: Ana Paula Mathias de Paiva Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Projeto gráfico: Thiago Amormino Supervisão: Jéssica Tolentino Coordenação-geral: Rosana de Mont'Alverne Neto
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PAIVA, Ana Paula Mathias de Salopão: um jumento do sertão: manual digital do professor; [recurso eletrônico] -- Belo Horizonte : Aletria, 2018. 30 p. ISBN 978-85-9526-018-4 (e-book) 1. Literatura infantojuvenil brasileira – Estudo e ensino. I. Título. CDD: 808 CDU: 087.5(81)
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Manual do professor O professor-mediador é uma figura fundamental no âmbito escolar porque multiplica as chances de letramento literário, amplia a capacidade de compreensão dos textos e compartilha com seus alunos a paixão pelas leituras. A boa mediação abre espaço para a autonomia dos estudantes, seu protagonismo e sua compreensão de si, do outro e do mundo. Recursos de apoio são bem-vindos quando se pautam na expansão de conhecimentos, motivação interpessoal e elaboração de rotinas pedagógicas adequadas às diversidades nacionais.
O Manual do Professor correlaciona tais argumentos às obras literárias, destaca gêneros e temáticas, organiza propostas, atividades e orientações capazes de potencializar habilidades e competências, assim como de suprir dificuldades detectadas.
Sumário
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Síntese da obra
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Sobre os autores
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Atividades propostas #1
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Adequação e desenvolvimento de
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Atividades propostas #2
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Atividades propostas #3
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Atividades propostas #4
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Interlocuções
competências 12
Gênero literário
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Como utilizar em sala de aula o livro
Atividades transdisciplinares
Salopão: um jumento do sertão 16
Atividades propostas #1
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Atividades propostas #2
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Síntese da obra Salopão é um jumento corajoso e inteligente, cujo dono não reconhecia seu valor. A saga do jumento foi tecida em cordel pelas mãos do dramaturgo e professor do Teatro Universitário da UFMG, Fernando Limoeiro. Ação, conflito e fortes diálogos nas estrofes são características desse texto que possibilita uma experiência literária curiosa e divertida. A história de Salopão possibilita ainda o jogo dramático na encenação e favorece a interpretação. A literatura de cordel como poema popular típico do nordeste brasileiro, bem como as xilogravuras que ilustram a obra feitas pelo artista Tales Bedeschi, propiciam uma aventura pelos costumes antigos e contemporâneos; a reflexão sobre o eterno embate entre o velho e o novo e sobre a capacidade humana de se reinventar.
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Sobre os autores Fernando Limoeiro, o escritor da obra, é dramaturgo e professor do Teatro Universitário da UFMG desde 1988, tendo sido seu diretor. O autor possui um consistente trabalho de divulgação, pelo Brasil e exterior, da literatura de cordel. Sua obra é marcada pela autenticidade, expressão cultural popular, dramaticidade, exercícios de oralidade, efeitos sonoros e poéticos. Formado em Interpretação Teatral pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASC), Limoeiro é também diretor e ator. Participa do Projeto Polos de Cidadania, no qual dirige a trupe “A Torto e a Direito”. Ministra também cursos de formação teatral em festivais e eventos similares. Pernambucano de nascença, o autor vive em Belo Horizonte.
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Tales Bedeschi é ilustrador formado em Gravura e em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, onde também se tornou Mestre em Arte e Tecnologia da Imagem. É arte-educador e produtor cultural. Já participou de exposições no Brasil, Cuba, Estados Unidos e Uruguai e atua frente a coletivos de artistas como o Kaza Vazia (Belo Horizonte) e o PIA (Programa de Interferência Ambiental), plataforma de artistas que agrega integrantes de diferentes coletivos do Brasil.
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Adequação e desenvolvimento de competências
▶ Estimula e valoriza interesses regionais, comunicativos e sociais no processo de leitura. ▶ Propõe a apreciação estética e tem potencial atrativo para provocar a aproximação leitora.
Competências gerais: agir com flexibilidade, responsabilidade e resiliência. Ser acolhedor. Promover o respeito ao outro. Tomar decisão firmada em princípios éticos e solidários. Exercitar a empatia, a
▶ Estimula a imaginação, a fantasia. ▶ Explicita capacidades como inteligência e razão, enriquecidas com atitudes solidárias.
cooperação e a resolução de conflitos. Ter determinação pessoal. O livro Salopão: um jumento do sertão: ▶ Vale-se da dinamicidade narrativa verbo-visual para motivar a apreciação leitora. ▶ Motiva a percepção consciente dos comportamentos humanos. ▶ Contextualiza relações de troca entre homem e animal, a partir de injustiças e reviravoltas. ▶ Aborda o respeito aos animais e denuncia a covardia dos maus-tratos.
Temas: ▶ Autoconhecimento, sentimentos e emoções; ▶ Família, amigos, escola; ▶ O mundo natural e social; ▶ Encontros com a diferença; ▶ Aventura, mistério e fantasia. 11 11
Gênero Literário:
Poema
O poema narrativo é estruturado em rimas. Conta-se a história por meio do uso de vozes de um narrador bem como de personagens. Há ambientes, personagens e episódios em cena. Possui um aspecto concreto, que se destaca na composição da página – no caso, pelas estrofes.
Subcategoria do Gênero: Cordel Os poemas narrativos incluem os cordéis de tradição popular. Gênero típico do nordeste brasileiro, o cordel tem como elementos essenciais a métrica, as rimas, o ritmo e a oralidade. Valendo-se da linguagem popular, os cordéis abarcam temas diversos, desde questões relacionadas à realidade social ao mundo da fantasia. Normalmente são ilustrados pela técnica da xilogravura. 12
Como utilizar em sala de aula o livro SALOPÃO: UM JUMENTO DO SERTÃO
b) O cangaceiro (animação realizada pelos alunos de Design da UFPE com direção de Marcos Buccini); Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PXa3eYOh96I
c) O Auto da Compadecida (texto de Ariano Suassuna adaptado para o cinema sob direção de Guel Arraes e roteiro de
ORIENTAÇÕES PARA A AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA Antes da leitura
Adriana Falcão e João Falcão). MEDIAÇÃO Apresentar e debater com os alunos a literatura de cordel –
Introduzir a obra a partir da exibição de filmes:
livros, peças teatrais, filmes –, ressaltando sua importância como patrimônio cultural e popularidade no nordeste (sertão) brasileiro.
a) Proezas de João Grilo (texto de João Ferreira de Lima interpretado por João Alves. Produzido por Murilo Roncolato); Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/especial/2017/05/03/ Os-versos-e-tra%C3%A7os-da-literatura-de-cordel
PROTAGONISMO DOS ALUNOS – FORMAÇÃO CRÍTICA Descrever as características dos protagonistas de um ou mais filmes escolhidos: seus comportamentos, ambiente(s), conflitos e soluções para os problemas.
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OBJETIVOS:
OBJETIVOS:
■ Enriquecer a experiência de leitura a partir da apreciação
■ Aproximar-se e conhecer a identidade nordestina ilustrada
de vídeos e animações cordelistas;
nos cordéis;
■ Criar diálogos entre diferentes mídias e expressões artísti-
■ Ampliar a percepção dos alunos sobre o cordel e seus as-
cas como o cinema, teatro, animação e livro;
pectos gráficos, detalhes de cena, temas, ambientes, situa-
■ Conhecer as manifestações culturais populares do Brasil.
ções, crenças, protagonistas e personalidades; ■ Motivar a leitura de gêneros literários que expandam co-
nhecimentos e impressões acerca do regional, geográfico, Após a leitura
social, cultural.
Realizar uma pesquisa com os alunos sobre elementos da identidade nordestina. Em seguida, criar um circuito de leitura de imagens, reunindo para isso xilogravuras de cordel. Propor aos alunos que observem aspectos identitários da cultura nordestina, seja da indumentária típica ou de padrões cordelistas, a saber: humor, sarcasmo, fatalismo, embates e pelejas, tradição religiosa, lutas de classes, encontros e desencontros
Dica: Você pode consultar o site da Fundação Casa de Rui Barbosa. São mais de 9000 cordéis disponibilizados online! O endereço é: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/
amorosos etc.). 14 14
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Atividades propostas #1 Poesia em fabricação Observar com os alunos, na leitura de cordéis, sua construção poética: métricas, sílabas tônicas, rimas toantes e soantes, estrofes (conjunto de versos) – quadra, sextilha, septilha, oitava, décima etc. Explicar cada um desses elementos e mostrar exemplos. Abordar também questões como a seleção vocabular, marcas da oralidade, uso de metáforas e traços da cultura regional. Uma boa referência para pesquisa é o site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel: http://www.ablc.com.br/
ATIVIDADE: criar um texto que se enquadre nas características cordelistas, obedecendo a todas as peculiaridades do gênero estudadas. Criação livre – individual ou em dupla.
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Atividades propostas #2 Na biblioteca Organizar uma visita à biblioteca da escola ou do município. Propor aos alunos que escolham uma fábula atentado-se para personagens com características antropomórficas. ▶ Comparar o livro Salopão: um jumento no sertão e a fábula escolhida. ▶ Observar especificidades de cada uma das histórias e de que maneira fazem referência à condição humana (através das atitudes dos personagens). ▶ Refletir sobre a presença, em ambos os livros, de personagens-tipo, isto é, personagens que representam um modo de ser de um conjunto de pessoas ou um padrão comportamental. Um bom exemplo é A cigarra e a formiga, fábula de La Fontaine em que a cigarra representa os vagabundos ou irresponsáveis 17 17
em relação ao futuro e a formiga, os trabalhadores esforçados, precavidos e responsáveis. ▶ Pedir aos alunos que escrevam, em pequenos papéis, sentimentos e valores comuns às fábulas e aos cordéis, tais como amor, prudência, caridade, gratidão, arrependimento, persistência, resiliência, respeito, responsabilidade, honestidade, progresso, dentre outros. Em seguida, salientar que, tanto na fábula quanto no cordel, a mesma história pode ganhar roupagens diferentes.
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Atividades transdisciplinares
Como construir um storyboard: Numa cartolina, desenhe quadros de tamanhos iguais e ilustre neles o desenrolar da história. Dê preferência às cenas-chave
ATIVIDADES PROPOSTAS #1 PREPARAR UMA APRESENTAÇÃO TEATRAL
da narrativa. Não se esqueça de apresentar o ambiente, os personagens em cena e as ações principais.
DINÂMICA Encenar a história Salopão: um jumento do sertão, após leitura do livro.
MONTANDO A APRESENTAÇÃO ▶ Motivar os alunos a se dividirem em grupos. Cada grupo ficará responsável por um tipo de função diferente: decoração
▶ Criar com os alunos um roteiro com eventos principais da obra e uma linha do tempo. ▶ Definir em grupo as falas a serem encenadas, bem como os alunos-atores. ▶ Considerar cenas representativas da narrativa e sua ordem de aparecimento. Desenhar a mão ou em meio digital as cenas principais ou quadros-chave que resumem o conteúdo da peça através de um storyboard.
ou cenário, figurino, sonoplastia, iluminação, gravação audiovisual no dia da apresentação, tomada de texto junto aos atores nos dias que antecedem a apresentação etc. ▶ Reunir os alunos para leitura da peça, momento em que pode haver interação e sugestões para melhorias – de dicção, entonação, gestualidade expressiva etc. ▶ Realizar ensaios até o dia marcado para a apresentação teatral. 19 19
ATIVIDADES PROPOSTAS #2 FORMAÇÃO HUMANA - INICIAÇÃO MEDIADA PELO PROFESSOR
trar dez tópicos que melhor descrevam esses direitos. Em seguida, apresentar os livretos para toda a classe. ▶ Após apresentação dos trabalhos, ler com os alunos excertos da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 na Unesco (Bruxelas, Bélgica). Refletir sobre
FORMAÇÃO HUMANA: DIREITOS DOS ANIMAIS
as semelhanças com os trabalhos escritos pelos alunos.
Diversos artigos apontam os maus-tratos direcionados aos animais como um sintoma de doença mental (humana).
LÍNGUA PORTUGUESA E REDAÇÃO
Pode¬mos considerar, perante a lei, que tanto existe a intenção
Como coibir atos de violência contra os animais? Eleger um
deli¬berada de machucar momentaneamente o animal quan-
tema central, criar uma apresentação, elaborar um desenvolvi-
to a crueldade passiva, ação que inclui danos prolongados cau-
mento e uma conclusão (posicionamento a respeito do assunto).
sa¬dos aos animais por negligência intencional. DINÂMICA ENTRE ALUNOS Dividir a turma em dois grupos. Cada grupo deverá criar um livreto com os seguintes títulos: “Direitos fundamentais dos cães” e “Direitos fundamentais dos gatos” (os animais podem ser substituídos por outros à escolha da turma). Escrever e ilus20 20
ATIVIDADES PROPOSTAS #3 CONSCIÊNCIA SOCIOAMBIENTAL
ATIVIDADE: propor um debate entre os alunos com o seguinte tema: “Por que podemos dizer que o parágrafo acima relaciona o direito dos animais aos temas poluição atmosférica, poluição das águas, poluição dos solos e desmatamento?”. O
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS E
professor pode, ainda, sugerir que cada aluno leve para a sala de
CRIMES AMBIENTAIS
aula um exemplo atual de crime contra a espécie animal.
Art. 12º
OBJETIVOS:
1. Todo ato que implique a morte de um grande núme-
■ Compreender o conceito de crime contra a espécie animal;
ro de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime con-
■ Partilhar informações com os colegas;
tra a espécie. 2. A poluição e a destruição do ambiente natural
■ Elaborar argumentos com clareza;
conduzem ao genocídio. (Declaração Universal dos Direitos dos
■ Exercitar a consciência crítica;
Animais, 1978).
■ Aplicar conhecimento adquirido.
Por que podemos dizer que o parágrafo acima relaciona o direito dos animais aos temas poluição atmosférica, poluição das águas, poluição dos solos e desmatamento?
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ATIVIDADES PROPOSTAS #4 HISTÓRIA, SIMBOLOGIA CULTURAL E OS ANIMAIS
Quem já não leu um livro com uma coruja sábia ou uma raposa astuta, com uma formiga trabalhadeira ou um jumento bonzinho? Tudo isso faz parte de um imaginário popular e simbólico, construído ao longo dos anos. Mas, historicamente, os animais realmente eram usados como símbolos. Nas escritas hieroglíficas, pictográficas, altamente organizadas e enigmáticas – seja dos egípcios, maias ou astecas, por exemplo –, as imagens representam ideias que existiram no mundo há mais de 4000 anos a.C. e na evolução dos saberes e técnicas humanos. Imagens de animais estão em toda parte na Antiguidade: cavernas, cerâmicas, placas de argila, rolos de papiros, entalhes em pedra etc.
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EXPLORAÇÃO DE IDEIAS Tema: adoração de divindades Apresentar aos alunos o conceito de ideograma. Exemplificar a partir da história de algumas civilizações ancestrais, tais como o Egito antigo, civilizações mesopotâmicas, civilizações andinas etc. DESAFIO Propor aos alunos que pesquisem alguns ideogramas contendo animais, como gatos, escaravelhos, falcões, touros, leões, gazelas, asnos, chacais, cordeiros, bois etc. Em seguida, relacionar os símbolos gráficos (imagens) às culturas de origem (contexto sociocultural e religioso da época em questão). ▶ Apresentação: cada aluno ou grupo deverá apresentar aos colegas os ideogramas que encontrou. Defender oralmente hipó23 23
teses sobre a relação entre imagens de animais e conceitos associados na Antiguidade e primórdios da escrita, de modo a sustentar um raciocínio. Partilhar seu saber e recursos usados para ter alcance às informações.
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TODAS AS FOTOGRAFIAS FORAM RETIRADAS DO BANCO DE IMAGEM GRATUITO FREEIMAGES.COM
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Interlocuções
desdobramentos da forte cultura religiosa popular – e a moral católica –, ações transgressoras, relações com o coronelismo, a labuta dos mais humildes e a avidez dos mais poderosos. Desse
Auto da Compadecida
modo, o caso do cachorro da mulher do padeiro torna-se ape-
(Autor: Ariano Suassuna)
nas um fio daqueles que puxam toda uma variada trama, que culmina com o julgamento diante de Jesus, da Virgem Maria e
A peça escrita por Ariano Suassuna (1955) é rica em sátira, ori-
do Diabo. A peça de Suassuna foi adaptada para o cinema em
ginalidade e tradição. Bebe na fonte dos romances e histórias
2000 sob direção de Guel Arraes.
populares orais. Diz-se auto porque é peça de apenas um ato e porque reúne a tradição do teatro medieval português ao contexto social e histórico do nordeste brasileiro. Nesse tipo de es-
A Pedra do Meio-Dia ou Artur e Isadora
tilo narrativo literário os criadores contam e recontam as mes-
(Autor: Bráulio Tavares)
mas histórias e assim vão acrescentando o seu toque pessoal. Humor e crítica social estão aqui vivos no prazer dos diálogos e
O premiado Bráulio Tavares escreveu uma história incrível e
encenações. Os protagonistas, João Grilo e Chicó, são pitorescos
bem apaixonante, como aquelas que deve ter ouvido em sua
e inesquecíveis. A figura do anti-herói, encarnada por João Gri-
cidade natal, Campina Grande. Observa-se primor nas rimas, a
lo, evidencia as fragilidades humanas e põe em xeque valores
presença de elementos mágicos e expressivas ilustrações de Ce-
sociais e morais estabelecidos. Os acontecimentos atravessam
cília Tavares, ao estilo xilográfico, harmonizadas ao conteúdo do 27 27
cordel. O jovem Artur representa o destemido andarilho, aventureiro, que atravessa territórios em busca de acontecimentos e, diante de injustiças, é combativo. Artur enxerga o perigo e salva Isadora, menina-moça que por sua vez precisa da pedra do meio-dia para salvar um reino enfeitiçado. Enfrentamentos, objetos mágicos, fantasia e romance unem os protagonistas, que a tudo enfrentam com coragem e sabedoria.
Cordel África (Autor: César Obeid; ilustrações: Flavio Morais)
del e original, porque apropria-se do tradicional, xilográfico, e das técnicas modernas, digitais, de ilustração, para criar acesso
Contar aos mais jovens sobre as influências que o Brasil rece-
prazeroso ao tema, Obeid – premiado escritor, educador e con-
beu desde a colonização é uma tarefa desafiante. Afinal, muito
tador de histórias – não só conta como é o continente africano
do que existe no cotidiano está tão amalgamado que parece o
mas, sabiamente, contextualiza diversas culturas que atraves-
traço de uma única cultura brasileira. Mas... afinal, o que cons-
saram o Atlântico, partindo do continente africano. Em pauta, o
titui nossa pátria? Não passamos sem a história das relações,
nativo, o africano, o europeu e a miscigenação, base e constitui-
origens e adentramentos culturais. Neste livro, visitativo ao cor-
ção das culturas. Para um saber sem preconceitos. 28
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