CADERNO 2
>> FRAGMENTOS MAQUINICOS| Foto: Pablo Bernardo
No compasso da vontade de dar passagem ao que não pode e não deve estancar A segundaPRETA, em sintonia com a emergência de outras ações na cidade, decide sobre o seu tempo, que é também obra do desejo das pessoas envolvidas no seu fazer acontecer, dos artistas que se apresentam e também do público que tem comparecido lá no Espanca!. Fixa-se como movimento que se pensa e é de uma empreitada que é resistência porque é criação. Criação no campo da arte negra contemporânea e de um modo especial de tá junto, gente preta reunida nesta Belo Horizonte de histórias e de um muito a se fazer. E de tempos e desejos buscamos sonhar outros sonhos, retomar projetos interrompidos, ter consciência do passado de criação e um olhar apurado para as forças do presente, que neste momento de impasses em várias esferas cobra da gente a invenção de outras formas de ação, novos gestos criadores de vida qualificada e a busca por poéticas negras a altura do nosso tempo, mesmo com todavia, com toda cédula. E estamos aí. De uma segunda temporada que, mais uma vez, apresentou trabalhos variados nos temas e nas formas, com aspectos que perpassavam trajetórias pessoais, posicionamentos políticos e sociais, provocações, radicalizações poéticas, investigações no campo da performance, transversalidade de tradições, percebemos que é necessário continuar apostando na valorização deste espaço de aprendizados, encontros, conversas, dissensos e colaborações. Devagar, devagarinho a terceira temporada da segundaPRETA chega com a alegria do que já foi e com aposta do que pode a cena preta desta cidade, favorecida neste caso pela atenção aos percursos que favorecem um estar junto encorpado, a visibilidade das criações e a possibilidade de experimentar. Além disso, teremos a segundaPRETINHA, que acontecerá num domingo pela manhã para o público infantil, afirmando a sensibilidade deste movimento para os encontros afectivos, artísticos e formadores.
NESTE CADERNO:
SEGUNDA TEMPORADA de 15/05 a 19/06 de 2017 HOMENAGEADA: ZORA SANTOS PROGRAMAÇÃO FOTOS CRÍTICAS
ENTRE TEMPORADAS 27/08 e 04/09 de 2017 PROGRAMAÇÃO
TERCEIRA TEMPORADA de 11/09 a 16/10 de 2017
HOMENAGEADA: LEDA MARIA MARTINS PROGRAMAÇÃO
>> TEATRO ESPANCA | Foto: Pablo Bernardo
ÍNDICE ________________ Zora Santos ... 15 ___________________ Linha de Frente ... 19 ________________ Apologia III ... 23 _________________________________________________ Crítica - Oxossi é caçador, a fissura como estética ... 26 ____________ Ressoar ... 30 ________________________________ Crítica - A cena como desafio ... 34 ____________ Antônio ... 39 __________________________ Fragmentos Maquinicos ... 42 ________________ Refém Solar ... 47 ______________________________________ Crítica - Dos desmontes e das vazões ... 50 __________ Àbíkú ... 54 ____________________________________________________________ Crítica - Eu e André ou em poucas linhas uma tentativa de viver nos labirintos ... 58 ________________________________________________ Dê afeto à sua/seu preta/preto em praça pública ... 60 _________________ Unha postiça ... 65 __________________ Aquela Mulher ... 68 ____________ Pantera ... 73 _________________________________________________________ Crítica - Das maneiras de percorrer as superfícies e almejar suas profundezas ... 76 _________________________________________________________ Black Boulevard ou Tudo Preto de Novo ou O Ensaio Geral ... 80 ____________________________________________________________ Crítica - Sobre memórias ou passado como emergência do novo ou fissuras ou tudo preto de novo ... 84
>> NO TEATRO ESPANCA | Foto: Pablo Bernardo
_________________________ Festa de encerramento ... 88 ___________________________________ Ficha técnica/segunda temporada ... 88 _____________________________________ Cinema de Fachada + Performance ... 90 ________________ Aula ... 92 ______________________ Leda Maria Martins ... 97 ____________________________________ Memórias Póstumas de Neguinho ... 100 ___________ Ama ... 101 _______________________________________ Will ... 102 ______________________________ Vem... Pra ser infeliz, 2017 ... 103 ___________________________________________ Fragmentos do amor no panteão africano ... 104 _____________________________ O caminho até Mercedes ... 105 _________________________ Protótipo para cavalo ... 106 ________________________ Antes da escravidão ... 107 ____________ Abena ... 108 __________________________ Cânticos para solitude ... 109 _______________ Dar a luz ... 110 _____________________ Buraco-Saudade ... 111 ________________ Frágil, eu? ... 112 _______________________________ Elas também usam BlackTie ... 113
SEGUNDA TEMPORADA
ZORA SANTOS HOMENAGEADA DA SEGUNDA TEMPORADA
>> Foto: Pablo Bernardo 15
>> Quando soube que seria homenageada na segunda temporada da segundaPRETA meu primeiro sentimento foi de inadequação. Conhecendo um pouco das artes cênicas deste país e sabendo que tanto a academia quanto os palcos reproduzem e mantêm a supremacia branca, foi muito difícil assimilar que um grupo de jovens negros se dispunha com muita seriedade, a buscar uma arte que contemplasse uma estética negra. Sempre tive uma admiração e um carinho muito grandes pelas pessoas que integram o coletivo, individualmente e em grupo. É inquestionável a importância e a contribuição da segundaPRETA para o cenário que se apresenta hoje na cena da cidade. Nossos corpos pretos, nossas vozes pretas, nossos gestos de pretos, conversam, discutem, procuram caminhos e brilham sob o mesmo holofote, juntos. Agradecida e emocionada, só posso dizer: Vida longa à segundaPRETA! Laroiê, Laroiê, Laroiê! Zora Santos 17
LINHA DE FRENTE >> Coletivo Tropeรงo
SINOPSE
Em Linha de Frente o corpo em seu equilíbrio precário se configura em uma operação coreográfica revelando o entrelaçamento profundo entre movimento, corpo e lugar.
FICHA TÉCNICA
Realização: Coletivo Tropeço Concepção e performance: Anderson Feliciano Direção: Nicolás Licera Vidal Vídeo: Daniel Eljano Duração: 20 min Indicação etária: Livre Este espetáculo foi apresentado na segunda, 15 de maio de 2017.
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APOLOGIA III >> Coletivo Tropeรงo
SINOPSE
Em Apologia III, Anderson se apropria do uso pejorativo da palavra pêra, que usavam para ofendê-lo, e da famigerada frase “você se parece muito com seu pai” para compor a cena. A apropriação e (re)interpretação corporizada dessas memórias translada o passado ao aqui agora da cena, reatualizando a possibilidade de gerar nova memória sobre os mesmos eventos e a criação de outras poéticas.
FICHA TÉCNICA
Realização: Coletivo Tropeço Concepção: Anderson Feliciano Performance: Anderson Feliciano e Carlos da Silva Direção: Marcel Diogo / Mário Rosa Duração: 15 min Indicação etária: Livre Este espetáculo foi apresentado na segunda, 15 de maio de 2017.
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Oxossi é caçador: a fissura como estética Por Soraya Martins Fragmento I: Em termos espaciais e militares, a vanguarda é a primeira linha de um exército, de uma esquadra, em ordem de marcha ou de batalha. O conceito de vanguarda é inconcebível sem o seu oposto. A retaguarda é a parte que protege e consolida o movimento da tropa em questão. Os melhores militares com frequência são colocados lá. Na nossa guerra diária, não há dúvidas sobre os corpos que são colocados na linha de frente, sobre quais corpos são disparados os canhões. Há quem prefira disparar canhões. Há quem prefira apoderar-se deles, desmontá-los peça a peça, refazê-los e extrair deles a parte que nos agride. Há quem prefira inventar novas histórias. Na avant-garde de Linha de Frente: O corpo da presença, no equilíbrio precário da ponta dos pés. A possibilidade da queda. A queda como potência criadora. Ainda na avant-garde: O corpo como discurso, tecendo uma coreopolítica que nos obriga a refletir e estar disponível para outras possibilidades subjetivas e estéticas em arte. Na coreopolítica: Ponta dos pés, tronco deslocado, pescoço alongado. O que o significante “corpo” evoca como significado? É um corpo enforcado? E como o corpo vivo encontra esse lugar com força? Para além da resistência, que só ela já não basta, o que se anuncia? “Adentrar a zona da arte contemporânea negra é submergir numa performance que, em exposição da sua autoconsciência, busca mudar padrões coloniais do ser, do saber e do poder em ato estéticoperformativo” (Diego Pinheiro). 26
Não se pode liquidar o próprio corpo negro com a arma do outro. Mina-se a arma do outro com todos os elementos possíveis nessa performance. Inventa-se outro texto. Fragmento II “Só pode ser salvo o que foi arrancado à totalidade triunfante do discurso e da ordem estabelecida” (Jeanne Marie). Nesse sentido, em Apologia III – performance (des)costurada em sete pequenos fragmentos – a fragmentação, a ruptura, o tropeço podem cessar a repetência do previsível e algo outro pode advir. Sete pequenos fragmentos tecidos a partir da memória – gestos, oralituras, fotos e, ainda, lembranças traumáticas. Lembra-se do passado, não como uma simples enunciação oca, mas como uma tentativa, sempre retomada, de uma fidelidade a aquilo que nele (passado) pedia outro devir. Foto de quando era criança. Foto do pai aos 38 anos. Dizem que pai e filho se parecem. O escuro. Memória traumática? Esquecimento? O que significa perceber no escuro? É uma forma de inércia ou de passividade? Não se comprava peras. Antes: pera, peroba. Agora: come-se a pera. Aqui, a ruptura/fragmentação é proposta estética. A ruptura como forma que volta incessantemente ao passado, estabelecendo fissuras e cesuras com o continum da história. E dessa fragmentação e volta ao passado, é possível permitir uma outra história vir à tona. Como diz Jeanne Marie, “as fraturas numa narração são indícios de uma falha essencial que pode emergir outra verdade”. Em Apologia III, o verdadeiro objeto da lembrança e da rememoração não é, simplesmente, a particularidade de um acontecimento, mas aquilo que nele é criação específica, emergência do novo – um lembrar criador e transformador. Espiralar: “atualiza os diapasões da memória, lembranças resvalada de esquecimento, tranças aneladas na improvisação que borda 27
os restos, resíduos e vestígios” (Leda Maria Martins). Emergência do novo de onde se pode refletir sobre as questões raciais e de gênero, sobre as desigualdades sociais e também construir espaços e relações que podem reconfigurar, material e simbolicamente, um território comum. “Uma iniciativa espistêmica da produção do desejo.” Fragmento III Como fazer arte negra contemporânea na era do genocídio (houve era em que não existiu?)? Não se superam os conflitos entre opostos. As teses e antíteses não se fecham, por isso, as questões sempre voltam. Uma presença obsidiante. Silêncio. Repetição. Fragmentação. Tempo expandido. Como esses elementos se expressam esteticamente? Pensar no como/na forma em que Linha de Frente e Apologia III se tecem, é pensar em uma espécie de melancolia da forma, com total consciência do passado que não passou, de uma ferida aberta social transformada em potência criadora. É pensar na arte e na forma como lugar em que essa melancolia se tensiona. Linha de Frente e Apologia III interiorizam os conflitos e impasses socioculturais e os (re)elaboram como experiência estética. As duas performances provocam choques, perturbações, deslocam o foco do olhar. A estratégia de voltar-se para o silêncio, a repetição e a fragmentação permite manter a tensão, historicamente crucial, que pauta as relações entre indivíduo e história. E esses elementos, junto com o corpo performativo/pulsante, que fala do lugar do vivido, reconfigura traumas e aponta, na potência do negativo, para a impossibilidade de uma linguagem plena e de sentido totalizante.
Soraya Martins é Doutoranda em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Teoria da Literatura pela FALE/UFMG. Graduada em Letras – Licenciatura Português e Italiano – UFMG. Formada no Teatro Universitário (TU – UFMG), cursou Semiologia do Teatro no Dipartimento di Musica e Spettecolo dell´Università di Bologna, Itália. Desde 2011, atua no cenário artístico mineiro como atriz e pesquisadora do teatro negro brasileiro. Escreve críticas teatrais para o blog Horizonte da Cena e para o projeto segundaPRETA. Tem seu currículo trabalhos realizados junto a diversas companhias, entre elas, Companhia Candongas e outras firulas, Grupo do Beco, Caixa de Fósforos e, atualmente, trabalha com o Grupo Espanca. 28
RESSOAR
>> Companhia Negra de Teatro
SINOPSE
Teatro, instalação, performance e outras formas poéticas de relação. Pesquisas em processo do novo espetáculo da Companhia Negra de Teatro.
FICHA TÉCNICA
Direção e dramaturgia: Felipe Soares Atuação: Eliezer Sampaio e Michele Bernardino Assistência de direção e iluminação: Allan Calisto Textos: Felipe Soares e Michele Bernardino Cenografia: Allan Calisto e Felipe Soares Produção: Companhia Negra de Teatro Duração: 30 min Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 22 de maio de 2017.
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A Cena é desafio Por Anderson Feliciano
É isso ai, você não pode parar, esperar o tempo ruim vir te abraçar. Acreditar e sonhar sempre é preciso, é o que mantém os irmãos vivos. (Racionais MC’s)
De fato a segunda Preta tem se tornado um importante movimento para nós artistas-investigadorxs negrxs. Além de abrir espaço para nossas apresentações tem, com os debates, possibilitado a construção de um diálogo muitas vezes frágil, mas importante em torno do pensamento do que se tem denominado de arte contemporânea negra. Nesta segunda-feira abençoada pela chuva, a Companhia Negra de Teatro apresentou o experimento cênico Ressoar. Segundo Felipe Soares, diretor e dramaturgo da proposta, Ressoar nasce de um processo de investigação e em breve se constituirá no novo trabalho da Companhia. Parece-me delicado fazer qualquer apontamento crítico de um material que está em um processo aberto, cheio de lacunas. Por isso esses escritos pretendem ser apenas um convite para que juntos problematizemos nossas propostas estéticas e compreendamos melhor de que maneira elas se articulam com um pensamento referente à representação do corpo negro e suas subjetividades, particularidades e multiplicidades na organização do sensível. Rica em imagens poéticas e elementos em cena, o que mais me chama atenção são os corpos. Eram eles, os corpos, em meio a fragmentação e o excesso de imagens construídas e desconstruídas naquele espaço/tempo criado pela companhia, que produziam outras poéticas. Sabe-se que a cor de um indivíduo nunca é simplesmente uma cor, mas um enunciado de conotações e interpretações articuladas socialmente, com valor de verdade que estabelece 34
marcas de poder, definindo lugares, funções e falas (Martins, 1995) que se constrói constantemente. Nesse sentido foram as poéticas que surgiram do encontro dos corpos pulsantes de Michele Bernardino e Eliezer Sampaio que ressoavam pelo meu corpo e minhas memórias e apontavam para o crescente da cena, mas ao mesmo tempo se perdiam pela falta de uma concepção de pensamento que as sustentassem. Por se tratar de um material resultante de um processo, Ressoar apresenta além das fragilidades de um experimento, muitas possibilidades, como aponta a companhia na sinopse: teatro, instalação, performance e outras formas poéticas de relação. Com o objetivo de “provocar o espectador” e despertar nele sensações, a companhia, partindo de elementos/imagens como o muro de tijolos construído em cena, o homem tocando o tambor, a mulher passista que na sua dança desequilibrante usa como bandeira um pano de chão, a mesma mulher com luvas brancas pintando o corpo/tela negro do homem que toca o tambor com tintas branca e vermelha, o mesmo homem com um foguete de artificio andando pelo espaço, o grupo sentado no sofá fumando maconha e a pipoca que não estourou, propõe uma experiência sensorial muito particular e cria uma atmosfera esfumaçada que de fato incomodava, entretanto tudo parece ficar apenas no “queremos incomodar”. Mas, e as escolhas, as articulações das imagens e a concepção daquela apresentação? Por que estão postas daquela maneira? Tudo isso se inscreve em cena, e isto é criação que exige pensamento e tomada de posição. Por isso, tendo a pensar como Allan Calisto, iluminador e assistente de direção do experimento, que durante o debate argumentou sobre a importância de um espaço onde se possa experimentar sem medo de errar. E é justo nesse “sem medo de errar” que surge a força de Ressoar da Companhia Negra 35
de Teatro, um grupo de artistas que a partir de suas referências estéticas, suas inquietações e com sua própria grana decidem se reunir, ensaiar, experimentar e expor seu processo de investigação. Mais uma vez ressalto que esse texto é apenas um convite para que juntos/aquilombados, possamos, sem medo de errar, experimentarmos a elaboração de outras poéticas e dentro dessa proposta de extrema relevância que é a segunda Preta forjarmos também um pensamento que ressoe a multiplicidade e complexidade de nossas poéticas.
Anderson Feliciano é Mestrando em Dramaturgia e Pós – graduado em Estudos Africanos e Afro-brasileiros (2009) pela PUC – Minas, além de Performer e Dramaturgo. Desde 2007 vem desenvolvendo projetos focados nas questões raciais e de gênero. É autor dos livros infantis “A Verdadeira História do Saci Pererê” (2009) e “Era Uma Vez em Pasárgada” (2011). Foi vencedor do Primeiro Prêmio de estímulo a novos dramaturgos promovido pelo Clube de Leitura (Belo Horizonte – 2011) com o texto “Pequenas Histórias de trocas de pernas, peles e olhos nos seus arroubos e arredores” e ainda teve o texto “Antes que Aconteça Muita coisa Pode Acontecer” selecionado para uma leitura dramática no concurso promovido pelo projeto Negro Olhar (Rio de Janeiro – 2011). já escreveu textos dramáticos para companhias de Brasil, Chile e Argentina. Como performance há participados de festivais por vários países da América Latina.
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ANTÔNIO >> André Sousa
SINOPSE
Das mais íntimas entranhas de um negro forte sou expelido em um formoso tear. Ali sou cuidadosamente tecido com cor, traços, curvas e sentidos únicos. Sou estrutura para sobreviver, resistir e, finalmente, prevalecer. O fazer/criar/construir/trabalhar (…) são as ferramentas dadas para afirmar. São condições impostas, não há escolha a ser feita.
FICHA TÉCNICA
Interprete-criador: André Sousa Direção: Luísa Machala e Raquel Pires Cavalcante Foto: Marina Mitre Duração: 10 min Indicação etária: Livre Este espetáculo foi apresentado na segunda, 29 de maio de 2017.
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FRAGMENTOS MAQUINICOS >> Coletivo Maquinรกria
SINOPSE
Fragmentos Maquinicos é uma cena livremente inspirada no texto de Heinner Muller “Hamlet Maquina”. Os atores performam algumas partes do texto na integra com uma constituição dramaturgica proveniente de suas vivências dentro e fora do teatro. Além de relatarem suas próprias experiências em um ato que é contra o racismo, o machismo e a homofobia.
FICHA TÉCNICA
Atores: Jéssica Garcêz, Diony Moreira e Hernandis Moura Duração: 30min Indicação etária: 16 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 29 de maio de 2017.
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REFÉM SOLAR >> Elisa Nunes
SINOPSE
Corpo Extra-Terreno feminino/ Que em assimilação sobre sua condição de objeto pivô no desconforto alheio ao realizar toda sua comoção em alegria festiva/ Denuncia pela boca do outro o que é ou não é feio// Se nota sem opção frente a hiperssexualização/ Refem de si propria enquanto corpo/ Tido e lido no telão/ Nomenclatura mestiça adotada com carinho/ Escancara e Atiça a mula, não é malandrade… é jeitinho// Extra Brasilis e Intra Globão/ Beleza do Globo se vê em dispersão/ Grito de luta que abocanha a mão de quem tenta calar o brilhoso bicho-papão.
FICHA TÉCNICA
Intérprete Criadora: Elisa Nunes Orientação Cênica: Mariana Razzi Iluminação: Pedro Amparo Duração: 20 min Indicação etária: 18 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 29 de maio de 2017.
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Dos desmontes e das vazões Por Mário Rosa Segunda preta, 29 de maio de 2017. Antônio, Fragmentos Maquinicos e Refém Solar. Trabalhos que, cada um a sua maneira, ressaltam o corpo como lugar de experiência cênica, nos atravessamentos e nas tentativas de desmontes das representações. Imagens e discursos estruturam as cenas. Estabelecem alvos certeiros de ataque e ressonância, mas, vez ou outra, parece que algo escapa ao cálculo, ao desejo de comunicação e protesto, assinalando outras passagens pra fluxos que surpreendem, e aí me parece estar a grande força destes trabalhos. Tudo por um triz: nos excessos, nos riscos, na ingenuidade, na reiteração do já muito falado e, ainda assim, voos e alguns passos. A noite de apresentação foi interessante por apresentar corajosas iniciativas de jovens negros estudantes do teatro e da dança desta Belo Horizonte que reafirmam um dizer de si, com suas experiências cotidianas e memórias familiares, e conduzem as cenas em linhas que situam uma vontade do domínio da forma aproximada a certo sentido estrito de abordagem de um conteúdo específico. A identidade aparece também como referência forte, deixando explicito posicionamentos, propostas de lutas, limitações e principalmente a necessidade de se pensar em gestos que atualizem, reelaborem e desmontem sujeições e domínios autoritários sobre a vida, tarefa que exige coragem, criatividade, certa solidão e a abertura pra uma partilha do sensível que abriguem outros jeitos de estar juntos nos afetos e nas lutas. A dança de Antônio é a de André Souza, que dança seu corpo negro de presença e memória. Na centralidade do espaço, tudo se volta para ele. Sua dança possível, reconhecível, intencionalmente precária na exigência de uma narrativa, expõe conforto e dor. Os movimentos narram mas o corpo parece dizer algo mais, que pede passagem com algo de incorpóreo que se insinua no intolerável do sufocamento. O que fortalece o trabalho parece ser a expectativa de que na próxima volta do parafuso as estranhezas rompam a repetição conservadora. Nesse sentido, o informe que vaza nas repetições que diferenciam um estado de corpo suplanta a representação. O som que vem da rua envolve a dança silenciosa e parece coletivizar aquele drama (é dele, poderia ser nosso e estamos aqui: JUNTOS). Repetir e diferenciar no corpo e no movimento é, 50
acima de tudo, ação que enfrenta e experimenta com as armas que se tem o desamparo e vasculha o diagrama de forças que nos torna fracos e servis. O que altera a repetição de André/ Antônio? É possível realizar isso sozinho? Se a força da dança é o incorporal que está muito além da biografia, pois envolve as conexões das presenças ao criar e apresentar e as vazões que surpreendem criador e público, fica a expectativa de sua proliferação na dança deste artista pra instauração de novos gestos de rupturas que ampliem o repertório de possibilidades poéticas e políticas no campo da arte negra. Em Fragmentos Maquinicos, do Coletivo Maquinária, o texto de Heiner Muller (Hamlet Máquina) serve de impulso pra que os atores discursivamente “estilhacem” uma variedade de temas sociais e políticos do Brasil contemporâneo. A pauta é ampla e tensa: o racismo, o machismo, o patriarcalismo, a homofobia, o consumismo, a manipulação dos veículos de comunicação e muito mais. O que precisa morrer e há coisas demais que já não existem são frases que não são ditas em cena, mas parecem perpassar o trabalho ruidoso de Jéssica Garcêz e Hernandis Moura em cena. Eles se engajam na proposta de Muller em expor a crise da cultura ocidental, da individualidade moderna (em que Hamlet é personagem emblemático), das torções na tradição literária e dramática e dos processos de alienação e anestiamento social: homens máquinas. Perfomatizam a fragmentação do mundo hoje e os desmontes operados pelo autor no século passado. Caminham sobre os destroços que se acumulam a dizer discursos reiterados que, se encontram alguma ressonância pela identificação, não vai também muito além disso. Nesse sentido, cabe destacar um fragmento do texto de Vilém Flusser, onde o autor procura, no século passado, analisar o descompasso entre a fluidez das vivências e a fixação de certos conceitos: (...) vivemos em um plano, e pensamos em outro. Os nossos conceitos, (em grande parte herança do século passado), não conseguem captar a nossa vivência, e nossa vivência (em grande parte sem paralelo na história), não consegue articular-se. Este divórcio entre pensamento e vida abre dois horizontes igualmente perniciosos: o do antiintelectualismo imediatista, (exemplificado pelo hippie), e o do intelectualismo estéril,
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(exemplificado nos os vários formalismos e as várias ortodoxias). O desafio se dá no referente ao reformular de conceitos, em abandonar uns e criar outros. [1]
A cena nos instiga, portanto, a pensar sobre o que conseguimos construir sobre as camadas sobrepostas de ruínas que ela expõe e sobre os modos de resistência que somos capazes de criar. Neste aspecto, a referência à maquina no título poderia ser também o impulso ao maquínico como produção de outros gestos e poéticas que atualizem e que fortaleçam ainda mais os corpos entusiasmados e desejosos de fala destes criadores. Refém Solar, de Elisa Nunes. Tem muito azul em torno dela. Ali o corpo é imagem, múltiplas, novamente entre o identificável e o seu desmonte. A pele negra coberta de glitter tem uma referência explícita e é por aí que ela vai pra falar do incômodo, do desejo, do que não se sustenta. Dança atravessando as imagens publicitárias, erotizadas, dos imaginários coloniais e performa discursos feministas. Fragmentos de sons e as muitas vozes ouvidas ecoam e entram pelas frestas daquele corpo que parece rachar ou se abrir. Estas vozes falam de identidades, da herança escravocrata, da violência de gênero, de localizações do feminino. O corpo desfigura com a pele/glitter que cai. O movimento desfigura a ordenação de certa imagem cintilante e espetacular. Ela se arrasta, performa mulheres (“acadêmica ou...”), cintila outros tantos desejos e despenca. Deixa vazar o desconforto e evidente o alvo de ataque, e encerra a cena com uma voz que afirma “a identidade na cara da sociedade”. A força das vazões me leva a pensar sobre a continuidade da pesquisa de Elisa Nunes na dança, em especial o que pode este corpo no movimento afirmativo depois que imagens, inclusive as identitárias, perdem sua dimensão do absoluto. Enfim, mais uma vez e espero que por muitas edições, a segundaPRETA nos possibilita pensar sobre as formas de se fazer arte, arte negra em Belo Horizonte. Sabedores da longa tradição de criação e teorização realizadas por artistas e estudiosos negros na cidade, é importante que percebamos nossos impasses, nossos limites e nossas possibilidades criativas no campo social e artístico. E que avancemos, sempre! Evidentemente não basta se considerar negro e estar em cena para fazer arte negra, pois há um investimento da forma sempre a nos exigir estar a altura do nosso tempo e das suas espiraladas: que visitam a tradição, os projetos que um dia 52
foram experimentações, as abertura possíveis e as que ainda estão para serem inventadas poeticamente nesta encruzilhada do presente. Para finalizar, gostaria de agradecer à Cida Reis pelas conversas no intervalo entre as cenas, que alimentaram a elaboração deste texto, principalmente no tocante ao pensamento de que outras formas, mais afirmativas, de construções estéticas são necessárias quando se fala de arte negra e que há um movimento do desejo e da ação com/na arte negra que pode se fortalecer se as obras não ficarem apenas centradas aos dramas individuais. Vamos lá!
[1] FLUSSER, Vilém. Do futuro. Texto publicado originalmente em “O Estado de São Paulo”, Suplemento literário 01/02/69. Mário Rosa é Historiador, mestre em arte e educação pela FaE-UFMG, dramaturgo e professor. 53
ÀBÍKÚ
>> Teatro Negro e Atitude
SINOPSE
A palavra Àbíkú é, numa tradução literal: Abí (nascer) e Ikú (morrer). Refere a um mito Yorubá (grupo étno-linguístico localizado na África Ocidental) que professa a respeito de crianças nascidas sob um destino: Vir ao mundo, causar grandes transformações e partir ainda infantes. O espetáculo Àbíkú transporta o mito africano para a realidade brasileira, contrapondo a ideia de “Destino” proposta pelo mito por meio da relação de “Causalidade” trazida pela condição social em que os personagens estão inseridos, envolvendo o público numa atmosfera hora lúdica, hora fática… hora rija, hora branda… hora hílare, hora banzo… onde o mítico e o real se confundem, convidando o espectador tanto a vivenciar a poética dessa história, quanto a refletir sobre a ética discriminatória de nossas reações sociais. A peça conta a história de André, um menino que nasce da falta de diálogo entre os pais, cresce na ausência de perspectivas para o futuro, vive em meio às desigualdades sociais do país e morre a sombra de um mito – o mito das crianças Àbíkú.
FICHA TÉCNICA
Realização: Teatro Negro e Atitude Direção: Evandro Nunes Texto: Evandro Nunes, Clécio Lima, Danielle Anatólio e Marcus Carvalho Elenco: Clécio Lima, Sinara Teles e Marcus Carvalho Cenário: Clécio Lima Figurino: Alex Teixeira Iluminação: Paulo Alves Faria Direção Musical e Trilha Sonora Original: Marcus Carvalho Produção: Marcus Carvalho Duração: 60 min Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 05 de junho de 2017.
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Eu e André ou Em poucas linhas uma tentativa de viver nos labirintos Por Soraya Martins Diz, André, o que que cê pensou? Você que é aquele que nasce para morrer e retornar outras vezes, que vive no espiralar do tempo. Como atrair o passado e o futuro e recriar-se no presente? Os teus treze anos é um tempo misturado do antes-agoradepois-e-do-depois-ainda. A vida é mistura de todos e de tudo: dos que foram, dos que estão sendo e dos que vão ser. E essa gira, como diz Leda, atualiza os diapasões da memória, tranças aneladas na improvisação que borda os restos, resíduos e vestígios diaspóricos em novas formas expressivas. No começo do meu processo de Unha Postiça chamei – querendo um diálogo tensionado sobre a minha forma de pensar a arte contemporânea negra – Bell Hooks para assistir o ensaio no Centro de Referência da Juventude. Ela chegou e me disse: “Ah, é você quem quer falar da subjetividade radical da mulher negra? Prazer. Assistiu os 18 minutos de cena. Perguntou: “O que está para além do teu resistir, filha?” Elegantemente, se incluiu no discurso, e continuou: “criamos textos alternativos que não são apenas reação? Com você, André, compartilho, agora, esse primeiro labirinto. O teu nascimento, no dia 5 de junho, no Espanca!, foi para mim, no momento de ruptura da placenta, macunaístico – “na noite, na encruzilhada, nos labirintos”. Me abri para o jogo. E, assim aberta, fiquei ansiosa para ver escalados, sim, os estereótipos, mas com transformações; as contradições e fissuras que são indícios de uma falha mais essencial que pode emergir outra história; os macunaímas que somos: egoístas, preguiçosos, inteligentes e capazes de questionar e deslocar os que estão à nossa volta. Enfim. O devir da queda e do risco que talha uma espécie de esssencialismo negro, colocando em desequilíbrio o 58
lugar do negro religioso e flagelado. E me lembrei ainda da Bell Hooks comigo no CRJ. “Como encenar o olhar da interrogação?” “Como olhar a contrapelo o nosso modo de fazer arte negra sem o fardo do maniqueísmo?” “Pense num olhar opositivo, filha!” Mais labirintos para gente, André! Sabe? Numa viagem mais viagem, fico viajando numa espécie de revolução haitiana das artes em constante transmutação. Ressentimento vira jazz. Aberta para o jogo, resolvi te escrever essa carta, apontando um pouquinho da minha mirada, mas dedilhando as surpresas da rosa. E nesse meu dedilhar, André, sei da sua história – dos que foram, dos que estão sendo, dos que virão a ser – e a respeito. Por isso escrevo. Sei que o teu corpo é o corpo que grita. E teu grito ecoa. É necessário. É terra espessa. Terra grossa. Terra molhada. Pronta para o plantio. Bora fazer revolução juntxs! Um beijo assim, com sabor de terra molhada. 59
DÊ AFETO À SUA/SEU PRETA/PRETO EM PRAÇA PÚBLICA >> Artistas independentes
SINOPSE
O que é o afeto negro? Pouquíssimas vezes homens e mulheres negras puderam pensar e exprimir suas afetividades. Houve uma época em que casais negros poderiam ser presos por atentado ao pudor simplesmente por demonstrar carinho e amor em público. Beijar, tocar, abraçar, acolher nunca foram ações que negr@s puderam e aprenderam a fazer publicamente uns com os outros. “Reaja a violência racial: dê AFETO à sua/seu preta/ preto em praça pública”.
FICHA TÉCNICA
Duração: 1h Indicação etária: Livre.
PRA VOCÊ É OUTROS AMORES
Concepção e realização: Evandro Nunes Esta ação foi realizada na segunda, 12 de junho de 2017.
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UNHA POSTIร A >> Coletivo Tropeรงo
SINOPSE
Ela em seu equilíbrio precário caminha com um saco de laranjas. Ela, o saco de laranjas, um tanto de fragmentos de memórias e a possibilidade de fabular sua própria história.
FICHA TÉCNICA
Realização: Coletivo Tropeço Concepção: Anderson Feliciano Atuação: Soraya Martins Duração: 20 min Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 12 de junho de 2017.
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AQUELA MULHER >> Zora Santos e Ricardo Aleixo
SINOPSE
Concebida como um exercício de investigação cênica que explora os limites da relação entre voz, texto, gesto e movimento, a performance intermídia AQUELA MULHER inaugura um novo momento criativo da atriz Zora Santos. Sob a direção de Ricardo Aleixo, autor, também, do texto e da trilha sonora executada em tempo real, Zora traz ao palco as muitas faces da mulher que ela, arquetipicamente, carrega dentro de si.
FICHA TÉCNICA
Atuação: Zora Santos Texto, direção e trilha sonora: Ricardo Aleixo Duração: 20 minutos Indicação etária: 16 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 12 de junho de 2017.
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PANTERA >> Rauta
SINOPSE
PANTERA se mistura em dramaturgias contemporâneas com escritas periféricas, que estão ligadas a inquietações de pensamentos sobre o corpo negro performance! O corpo negro já é político por si só!? Rauta leva rascunhos de falas não ditas, o corpo em processo aprumado, sabedoria, tristezas inventadas do que poderia acontecer com todas, pede licença as musas inspiradoras por ab(usar) de algumas palavras. Há seres que nascem personagens, outras fodas. Talvez isso seja mais uma coisa inventada. O que seria de nós sem as invenções!? O Teatro Negro existe. Clássica, elegância, amor e tesão… Francisca e o seu relato do nascimento. A mulher negra que desfaz o objeto corpo; PANTERA é o animal que ela transformou-se.
FICHA TÉCNICA
Concepção: Rauta Participação especial: Demétrio Alves Figurino: Rauta e Zora Santos Audio visual : Cooperinte Luz: Preto Amparo Duração: 25 min Indicação etária: 14 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 12 de junho de 2017.
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Das maneiras de percorrer as superfícies e almejar suas profundezas Por Mário Rosa SEGUNDA PRETA. O movimento segue, e com ele artistas e público às voltas com formas, desejos, forças, tramas, expressões, exibições, impasses, riscos e formulações. Nas tentativas de criar e expressar poéticas negras contemporâneas neste espaço da SEGUNDA PRETA, seguimos assistindo propostas que nos instigam a pensar, a indagar sobre escolhas e recusas e a querer conversar sobre as experiências do visto, do sentido e do percebido. E aproveitando a discussão no debate sobre a crítica aos trabalhos apresentados, gostaria de afirmar a importância do espaço escritos no site da Segunda Preta, por permitir que comentários, miradas críticas e algumas incipientes formulações analíticas fiquem registradas e possibilitem um retorno honesto aos artistas que se apresentaram. Longe da intenção de dizer gosto ou não gosto das cenas, acredito que o que se tenta aqui é uma leitura das obras a partir do que conseguimos formular na conjugação da percepção e da reflexão, sempre a partir de um repertório de referências particulares. Com intenções e poéticas diversas, os trabalhos cênicos apresentados no dia 12 de junho tem em comum o feminino enunciado e referenciado em perspectivas variadas e a experimentação que se aproxima ou se afirma no campo expandido da performance. Propostas ousadas que não temem a superfície por saber das suas profundezas e que se arriscam em percorrer os territórios lisos e estriados da criação, questionando ordens (estéticas e políticas) estabelecidas e buscando articulações próprias entre conteúdo e forma. DÊ AFETO À SUA/SEU PRETA/PRETO EM PRAÇA PÚBLICA (Rolezinho de artistas independentes). Esta proposta, que no programa buscava abordar as tensões que decorrem da visibilidade dos afetos de pretas e pretos em praça pública, ficou nesse dia 12 de junho concentrada na ação Pra você é outros amores, com concepção e encenação de Evandro Nunes. Na rua, próximo ao Espanca!, ele criou um lugar pra tocar à sua maneira no tema do afeto. Ao lado de um poste em que se via multiplicada a pergunta o que é o amor?, ele repetia uma movimentação que incluía sentar numa cadeira, calmamente se maquiar, levantar, cantar uma canção e ficar na disposição do oferecimento de uma rosa a alguém. A repetição, as 76
pausas, as entonações do canto, os silêncios, o inusitado dos encontros e até mesmo a distância entre o burburinho na porta do teatro e as poucas pessoas que acompanhavam a ação, criaram uma estranha sensação que talvez tenha sido a intenção do artista: falar de uma solidão que é a dele, que pode ser a nossa e também questionar por vias indiretas a posição de mendicância amorosa, longe do apego da verdade de ter cumplicidade nas várias formas de ver o amor que ele cantava. Neste sentido, me parece que falar de multiplicidade das formas de ver o amor é também pensar e se esforçar na experimentação das várias formas de amar que se distanciem das referências que nos aprisionam em visões do paraíso. Se entendermos o afeto como a modificação a partir de um fora que nos toca e nos atravessa, talvez possamos pensar que o nosso engajamento estético e político deva caminhar também na descolonização dos posicionamentos amorosos que nos enfraquecem e nos violentam, podendo assim problematizar demandas e alterar cena e vida em praça pública e em outros espaços de convívio. UNHA POSTIÇA (Coletivo Tropeço) – A cena de Soraya Martins segue a pesquisa que o Coletivo Tropeço tem se esforçado no último ano em elaborar a partir do corpo, da fabulação, da memória e de um interesse estético que tem na performance seu campo central. Imagens, movimentos e palavras encontram e se desencontram na força e na despotência desta proposta. A cena começa fortemente com um jogo entre o corpo de Soraya defronte à parede e a sua sombra que me parece muito interessante como possibilidade de se falar de um duplo, de uma dobra, de um confronto com um espelhamento que estranha e identifica: a memória do corpo? o (in)visível das forças? Ela sustenta uma coisa entre a cabeça e parede e este movimento com esta coisa cria uma imagem forte por sugerir num raro momento uma zona de indiscernibilidade entre o corporal, o subjetivo e a coisa (LEPECKI, 2012)[1]. No entanto, a música em italiano que é tocada e que a faz dançar enfraquece aquela primeira investida e chega a frustrar uma expectativa sobre o que poderia apresentar a superfície daquele corpo (e daquela sombra) que dança, pois há um movimento que parece ser de uma afeição e de uma experiência pessoal que não encontra força expressiva. Ela está lá, sua sombra também, mas algo se encerra ali, sem as brechas expostas inicialmente. Até que de seu corpo cai uma laranja que esteve sempre lá (como coisa) com ela que dançava e, novamente, uma clareira se abre pra uma nova fertilidade, pois há outro jeito de corpo e outro movimento de cena que redimensionam o tempo: circularidades e repetições. E a partir daí ela
[1] LEPECKI, André. 9 variações sobre coisas e performance. Revista Urdimento, nº 19, novembro de 2012. 77
nos apresenta corpo/texto que retoma e retoma e retoma a narrativa de uma linha de fuga, de um pedido de chão, de uma vontade de terra e de um desejo de silêncio. Neste momento, em que fica mais evidente a proximidade com o trabalho de Anderson Feliciano, também do Coletivo Tropeço, percebemos o desafio destes artistas em buscar performances do corpo e do texto que criem expressividades não restritas ao biográfico e ao fabular. Nesta empreitada, em que os silêncios, o esgarçamento das pausas, a repetição, o jogo com as palavras e a não representação são tão importantes, seria desejável que a oscilante e corajosa ação de Soraya Martins superasse a ansiedade de corpo e da fala ao adentrar e fortalecer esta proposta espiralada de silêncios e imagens. AQUELA MULHER (Zora Santos e Ricardo Aleixo) – Eles e Aquela Mulher: corpo e palavra, corpo-voz, experiência e ficção, memórias e seus volteios fazendo o presente. Num trabalho corajoso e generoso de parceira, vimos Zora Santos entrar no campo criativo de pesquisa intersemiótica de Ricardo Aleixo. Ali ela figura como entidade que se multiplica, se desmonta, atravessa e derrete o tempo cronológico e nos oferece o forte e o frágil de uma vida. Este experimento cênico é um concentrado de mundo pelo que o texto nos oferta e pelo agenciamento dos elementos utilizados e a presença destes dois artistas que não temem o risco. No rito de evocação de uma entidade aquém, além, dentro e fora, pequena e maior e em constante desassossego no atravessamento do corpo de Zora Santos, nos aproximamos d’aquela que nunca morre, que fala com a voz de outra, que devora a ninhada para livrá-los do pior, que não existe (ainda bem que não existe), gigante que faz o que quer porque sabe quem é, que prefere se perder no mais profundo breu, que voltará para casa à noite, nenhuma, todas, talvez você, que (…) São muitas as que visitam aquele espaço, espaçocorpo, e aí voz, gestualidade que demoli sentidos, palavras que se expandem e encontram insólitas variações e a musicalidade buscada trazem forte carga poética ao trabalho. Um corpo que se arrisca (entre o receio e a coragem de se jogar), Zora Santos: a vida dela, aquela mulher e o tempo que ela carrega, entre algo “majestoso” e a iminência do desmonte, com o enunciar que multiplica e ficciona o feminino sem se prender à identidade, 78
pois o expressionismo, o mistério não revelado, o artificialismo buscado que rejeita a naturalização do representado, acena pra produção de mundo que é obra da arte e da vida. Ricardo Aleixo tem a presença de um encantador que joga com sons e palavras, ativando o movimento evocativo que prolifera e sintetiza figurações. Deste encontro, que desejamos ver mais integrado e mais intensificado na articulação com os elementos que compõe a cena, fica a forte impressão de uma proposta consistente e radical. PANTERA (Rauta) – Amar é coisa de morrer e de matar… mas tem som de sorriso (Hilda Hilst). A Pantera que Rauta apresenta em cena é um desafio em muitas frentes. Numa vontade de tocar e atacar muitas questões, ela apresenta um trabalho que tensiona e aponta pra uma sugestão de identificação tateante e doída. A solidão de uma fera enjaulada e a cristalização de um ressentimento difícil de quebrar é o que inicialmente mais se destaca em cena, pois o que observamos é um esforço em encontrar o instrumental de luta no corpo e nas ações, mesmo que às vezes vejamos uma coreopolítica de difícil movência pelo desgaste das formas. A atmosfera que ela cria, com a participação de Demétrio Alves em total sintonia com a proposta, confronta as relações raciais, os posicionamentos de gênero e os deliberados esquecimentos do que deve ser sempre lembrado porque ainda estrutura o estado atual das coisas. Com intencional arrogância e entusiasmado anarquismo das formas e dos discursos, ameaça a plateia branca e enternece a plateia preta, nos conta a história de Francisca, eu semelhante ao espelho espatifado, e fricciona fábulas e vidas. Às vezes tem-se a impressão que Rauta paira sobre a atmosfera incômoda que cria em cena até o deslizar pra instaurações de outros estados de corpos, de provocações e de conversas. Esta impressão talvez seja em parte intencional ou aponte pro que ainda falta de domínio do texto e, neste caso, considerando o debate realizado logo após as apresentações, não está em questão a medida da “sujeira” da cena, mas o quanto a segurança do que é dito fortalece a proposta do experimento. Em algum momento Rauta menciona a conhecida frase de Valery o mais profundo é a pele em sintonia com o apreço às linhas de desejo estimuladas e presentes a cena. Neste sentido, há algo que lateja na pela dela, que pede passagem, que tenta encontrar pela via dos excessos profundidades nas superfícies dos jogos de imagens, algumas vezes muito potentes. A fera na selva das cidades ao final se concilia entre os seus, afirmando a partir de onde começa a sua luta e o que a alimenta. Numa boa gambiarra energética que funciona onda ela menos espera, o que fica (depois do soco) é a expectativa de que a coragem e o desassossego a acompanhe no refinamento de uma poética que fortaleça e expanda estes campos de confronto e ternura.
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BLACK BOULEVARD OU TUDO PRETO DE NOVO OU O ENSAIO GERAL…
SINOPSE
1926: entra em cena, Companhia Negra de Revistas. 1987: uma sementinha. 2008: Eu, Hamlet? 2017: Black Boulevard. NÃO! Tudo Preto! De novo? NÃO. Quatro artistas em busca de um novo espetáculo, mas o dramaturgo… Bom, não vai dar para discutir isso agora e nem para mostrar com detalhes todo o processo que nos levou a esse espetáculo, cujo ensaio geral começa agora!
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Antonio Hildebrando Direção: Tatá Santana Direção Musical: Tatá Santana Elenco: Elisa Nunes, Fabiana Brasil, Rainy Campos e Sitaram Custodio Músicos: Isabela Arvelos, Juventino Dias, Rogerio Santos e Thiago Braz Preparação corporal: Elisa Nunes e Sitaram Custodio Preparação vocal: Isabela Arvelos e Tatá Santana Preparação para canto: Isabela Arvelos Figurino: Anderson Ferreira e Lira Ribas Cenário: Anderson Ferreira e Lira Ribas Iluminação: Cezar Frank/Eliezer Sampaio Produção: Anair Patricia e Rainy Campos Apoio: Bel’Africa Bonecas Duração: 50min Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 20 de junho de 2017.
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Sobre memórias ou passado como emergência do novo ou fissuras ou tudo preto de novo Por Soraya Martins Black Boulevard ou Tudo Preto de Novo ou Ensaio Geral ou Quatro artistas-personagens em busca de… E me encontro com Pirandello, com seus cento e cinquenta anos no exato dia em que escrevo – com pena de galhofa, mas não necessariamente com a tinta da melancolia-, essas linhas. Sim, leitor, adoro tudo, ou melhor, uns cinquenta por cento do tudo que li e do pouco que sei sobre teatro italiano. Mas atenção! Não confundam a voz dessa povera narradora com a voz da “crítica”. Essas linhas são sobre ficção. Sobre intertextos. Sobre metateatro, ou seja, sobre personagens que, enquanto personagens de si mesmos num teatro dentro de um teatro, se encontram na articulação da forma – do como encenar seus anseios e desejos sendo atores negros e elaborar a dor e o ressentimento, que marcam o corpo negro da diáspora, como experiência estética –, nós que desempenham uma complexa função construtiva na montagem das cenas. Rosa Negra. Josephine Baker. De Chocolat. A Companhia Negra de Revista. A revista Tudo Preto. Lembrar. A interrupção e o tempo espiralar como forma de recusar a ideia de um processo cumulativo e progressivo da história. Lembrar de novo. Voltase ao passado. Lembrar do passado não como enumeração oca, mas como tentativa de apreender o que pedia (nele) outro devir. Um lembrar criador e transformador: retornar ao passado para nele ler a história a contrapelo, performatizar identidades e tecer memória coletiva, tentando pensar numa tradição negra diaspórica que não repousa sobre o nivelamento da continuidade (concepção linear e consecutiva do tempo), mas sobre os saltos, o surgimento, a interrupção e o descontínuo. Voltar para se certificar que a busca não era por um autor ou dramaturgo, mas sim pela realização do desejo de ser e de encenar Hamlet, o malandro ou a rainha. De humanidade. A partir do riso, não de um qualquer, mas do riso numa espécie de forma melancólica, no sentido de “rir” da exposição de uma ferida aberta – o racismo-, passado escravocrata que não passa e emerge da montagem das cenas com consciência ainda maior 84
de ferida aberta, os quatro atores do espetáculo discutem sobre as formas de fazer teatro negro. A arte discutindo si mesma. A arte como lugar em que esse riso “melancólico” se tensiona, buscando criar espaços para novas epistemes e narrativas, microproduções do desejo que interrompe com a passividade. Existe essencialismo negro, leitor? “Decifra-me ou devoro-te”. Sim. Comemoro também, reparem bem, desde o início desse texto, esse junho não de Brás Cubas, mas de Machado. Não sei se esse escrito terá cinquenta, vinte ou, quando muito, dez leitores, mas… Um pingo de retidão crítica a la Machado: “há o entendimento torto de que a produção artística negra se associa, somente, à religiosidade de matriz africana ou a males sociais, lançando muitas das produções num folclore (estático e histórico)[…] o pré-entendimento de que essa produção possui formas e “conceitos estéticos rígidos”, que, uma vez estabelecidos, propagam a falsa acepção do que é e do que não é arte negra.” Diego Pinheiro. Nos últimos dias, tenho pensado na relação próxima entre o leitor de literatura e o espectador de teatro. Assim como o leitor é criador no processo de leitura, o espectador também o é, ele se insere de maneira criativa e reflexiva não só no texto dramático, mas também na montagem das cenas ao inventar algo “novo” ou atualizar, pela imagem, o que foi e é encenado. Se pensarmos que a relação entre o artista e o espectador na segundaPRETA é tênue e ambígua, uma vez que é forjada na e a partir de uma mesma memória cultural – muitas vezes traumática – e que ambos, artista e espectador, se inventam e se constroem a todo momento como sujeito-artista-espectador preta/o, a fala de uma leitora-artista-espectadora, no momento do debate pós-peça, irrompe e traz à tona uma questão cara quando se pensa a arte contemporânea negra: como encenar de forma diferente os mesmos dramas? A espectadora argumenta que o público da segundaPRETA, na sua maioria, já passou e/ou passa pelas situações apresentadas em cena, ou seja, são ultrainiciados no racismo institucionalizado. Logo, como encenar essa ferida aberta de maneira outra, que não usando o discurso, palavra-poder já colocada para construir uma narrativa deslegitimadora da cultura negra? Como surpreender essa espectadora? Como 85
tecer uma dramaturgia do tropeço[1]/fissura/cesura em que a própria ideia de queda/risco/ruptura significa potência criadora, onde se pode refletir sobre as questões raciais e também construir espaços e relações que podem reconfigurar, material e simbolicamente, um território, estabelecendo lugares de enunciação e tecendo outras poéticas? Leitor, Tudo Preto de Novo!- e perceber no escuro não é uma forma de inércia ou passividade, implica, antes e acima de tudo, uma habilidade particular. Tudo preto de novo para a exposição de uma autoconsciência, para produzir e estar disponível a outras possibilidades subjetivas e estéticas da arte. Com tudo preto, celebramos o fim da segunda temporada da segundaPRETA. Celebramos esse Ensaio Geral que alimentou nossas íris negras e nos convida para o risco.
[1] Dramaturgia do Tropeço é um conceito que está criado pelo pesquisador e dramaturgo Anderson Feliciano para falar de uma escrita performática atravessada pelas questões raciais, onde o corpo negro, articulado a uma concepção alternativa de arquivo, gera imagens que possibilita a elaboração de uma outra poética. 86
FESTA JUNINA DE ENCERRAMENTO Na calçada do Teatro Espanca Show: Lu Da Iola Puxadora da quadrilha: Ana Martins dj: Alexandre de Sena Realizada no dia 19 de junho de 2017.
FICHA TÉCNICA - SEGUNDA TEMPORADA
Fotos e vídeos: Pablo Bernardo Textos: Soraya Martins, Anderson Feliciano e Mário Rosa Equipe: Alexandre de Sena, Ana Martins, Ana Paula Freitas, Andréa Rodrigues, Grazi Medrado, Priscila Rezende, Rainy Campos e Sabrina Rauta Coordenação técnica: Preto Amparo Grupo Espanca: Alexandre de Sena, Aline Vila Real, Aristeo Serranegra e Gustavo Bones
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ENTRE TEMPORADAS CINEMA DE FACHADA + PERFORMANCE Estas ações integraram “A Ocupação #9”, em Belo Horizonte/ MG PERFORMANCE Purificação I de Priscila Rezende VÍDEOS SEGUNDA PRETA segunda PRETA 1ª temporada 7m36s Dê afeto a sua/seu prex em Praça Pública - 1m39 VÍDEO EXPERIMENTAL Elekô – coletivo Mulheres de Pedra. 6m25s. 2015 Kinesis – Yuran Kahn. 10m45s. 2017 Tainá Rei, do Rio: Sexy Trash - Tainá Rei. 2014. 1m33s Tenebre - Tainá Rei. 2013. 14m30s VIDEOPOEMA / VIDEOARTE de Ricardo Aleixo A Ferro e Fogo. 4m36s. 2009 Acrobata da dor. 3m33s. 2011 Contradanse. 2m08s. 2012 demorava, desmoronava, tornava a demorar. 1m18s. 2001-2013 TEASER Mulheres do Batuque – Natalie Matos. 2m18s. 2017 VIDEOCLIPES Preto! – Douglas Din. 2016 Marias – Berimbrown. 4m20s. 2017 Diasporadical Trilogia – Blitz the Ambassador. 16m. 2016
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>> Priscila Resende Graduada em Artes Visuais pela Escola Guignard-UEMG (Belo Horizonte, Brasil) com habilitação em Fotografia e Cerâmica. Dentre seus trabalhos destacamse 1ª Mostra Perplexa de performances, BH/2010; Mostra Outra Presença, BH/2013; Limite Zero, SP/2014; Saldo de Performance, BH/2015; Projeto Raiz Forte, ES/2015; The Incantation of the Disquieting Muse, Berlim/2016; Gritem-me Negra!, SP/2016; Perfura Ateliê de Performance, BH/2017; Mostra Degeneradas³, SP/2017.
>> Tatiana Carvalho Costa (curadoria dos vídeos) Realizadora audiovisual e mestre em Comunicação Social (UFMG). Integrante do coletivo Elas Pretas e coordenadora do projeto de extensão universitária Pretança. Professora nos Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário UNA e colaboradora do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT - NUH/UFMG. Realiza trabalhos de pesquisa acadêmica e de produção audiovisual relacionados às subalternidades contemporâneas. Realizado no dia 27 de agosto de 2017.
BATE PAPO COM LEDA MARIA MARTINS >> Leda Maria Martins Poeta e Ensaista. Títulos e Graus: Pós-Doutorado em Performance Studies, New York University,Tisch School of the Artes, 2009-2010; Pós-Doutorado em Rito, Dramaturgia e Teatralidade, Universidade Federal Fluminense, 2009; Pós-Doutorado em Teorais da Performance, New York University, Tisch School of the Arts, 1999-2000. Doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (1991), Mestrado em Master Of Arts, Indiana University (1981) e Graduação em Letras pela Universidade Federal de MInas Gerais(1977) Atualmente é professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da FALE/UFMG (Pós-Lit/UFMG), de 15 de maio de 2010 a 30 de maio de 2012. Diretora de Ação Cultural da UFMG a partir de 18 de março de 2014. Atua nas áreas de Letras (Estudos Literários) e de Artes Cênicas, com ênfase em teatro, dramaturgia, performance e nas interlocuções entre a literatura e outros sistemas semióticos, dentre eles o teatro, a dança, a música e as performances rituais. Sua bibliografia inclui livros e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior, em português, inglês, espanhol. Realizado no dia 04 de setembro de 2017. 91
TERCEIRA TEMPORADA
LEDA MARIA MARTINS HOMENAGEADA DA TERCEIRA TEMPORADA
>> Foto: Foca Lisboa / UFMG 95
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De Amares Da primeira vez, foi Memórias do Tempo Espiralar. (Nunca tinha lido crítica-poesia. Ou poesia-crítica?) Da segunda, Performances e dramas: pequenos gestos de reflexão. Daí foi voo rasante para A Cena em Sombras. Naveguei, me encantei e agradeci a cada som de página virada em Afrografias da Memória e tantos outros. Descobri que Ela estava logo ali. Me dei conta do sobrenome, o mesmo que no meu sonho mais sonhado me faz cafuné acaricia a minha língua o meu gesto, o meu balanço e o meu estudo. Aqui está Ela, alimentando minha íris preta. Tecendo teoria e conhecimento junto com a minha gente de mão colorida. Dessa vez, foi Cantiga de Amares. Ela poetisa trançando horizontes “Mirei. Grutas arcos tatos.” Tão satisfeita a íris. A poeta Leda Maria Martins, guardiã de muitas recompensas, a terceira temporada da segundaPRETA Saúda. Sem as tuas andanças não haveria sequer nossos pés. Soraya Martins 97
>> Foto: Letícia Souza
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE UM NEGUINHO >> Lucas Costa 11/09 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE O solo “Memórias Póstumas de um Neguinho” conta, a partir de histórias pessoais e memórias coletivas, a trajetória de um homem negro em seu processo de auto aceitação. O espetáculo/performance é dividido em dois movimentos distintos, que acontecem em sequência que e se entrelaçam.
FICHA TÉCNICA Atuação e texto: Lucas Costa | Dramaturgistas: Dan Costa, Lucas Costa
e Rogério Coelho | Direção: Cida Falabella | Preparação vocal: Renata Andreia | Direção de vídeo: Thiago Macêdo | Cenário e Figurino: Dan Costa e Stela Maris | Produção: ZAP 18 Colaboradores: Marcus Alexandre, Rodrigo Ednílson, Denise Costa, Gustavo Falabella Rocha, Tásia de Paula, Sarau Preto, A(r)mando o Black | Duração: 55min | Indicação etária: Livre 98
>> Foto: Guto Muniz
AMA >> Cia Espaço Preto 18/09 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE “Não há creme alisante que apague nossas raízes”. Uma mulher que nasceu na Costa d’Ouro, atravessou o Brasil colonial e hoje resiste nas periferias. Sua cor foi o que lhe restou. Para todas as Medeias que morrem de amor e não deixam os filhos viverem famintos.
FICHA TÉCNICA Concepção, atuação, figurino e cenário: Anair Patrícia e Anderson Ferreira Iluminação:Pedro Amparo | Observadoras de criação:Ana Martins, Andréa Rodrigues e Rainy Campos | Produção: R ainy Campos | Realização:Espaço Preto | Duração: 15min | Indicação etária: 12 anos 99
>> Foto: Vitor Paulo
SEM DONO >> Will Soares 18/09 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Um corpo que ocupa espaço. Um outro corpo que ao mesmo tempo se liberta. Qual história vale mais? Uma limpando a bagunça do outro... um outro que trabalha para [não] ser Livre.
FICHA TÉCNICA Atuação : Will Soares | Direção : Lira Ribas e Igor Leal | Figurino: Luiz Dias e Fabrício Lins | Luz: Preto Amparo | Direção de arte: Vitor Paulo | Produção: Beijo no seu preconceito | Duração: 20min | Indicação etária: Livre 100
>> Foto: Luiza Palhares >> Foto: Divulgação
VEM... PRA SER INFELIZ, 2017 >> Priscila Rezende 25/09 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Em “Vem... pra ser infeliz” o corpo negro é exposto de forma extrema à reprodução da representação estereotipada de sua imagem. Este corpo que é lembrado anualmente de forma hipersseuxalizada como símbolo do Carnaval, no trabalho de performance, explora e expõe em palavras a valorização contraditória e deturpada deste corpo. Ao som de enredos de escolas de sambas tradicionais do carnaval do Rio de Janeiro, a artista samba ininterruptamente até a exaustão, utilizando uma máscara de Flandres, objeto comumente utilizado no período colonial para tortura de pessoas escravizadas. FICHA TÉCNICA Realização: Priscila Rezende | Concepção e performance: Priscila Rezende Direção: Priscila Rezende | Figurino: Priscila Rezende | Pesquisa de figurino: Priscila Rezende e Gabriela Dominguez | Máscara de Flandres: Natália Cruz Duração: 30min | Indicação etária: 18 anos 101
>> Foto: Zi Reis
FRAGMENTOS DO AMOR NO PANTEÃO AFRICANO >> Eneida Baraúna 25/09 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Reunindo histórias da mitologia africana, o espetáculo “Fragmentos de Amor no Panteão Africano” apresenta histórias de amor, paixão, encantamentos e disputas entre os Orixás. As mais diversas formas que permeiam o amor são apresentadas nessa livre adaptação dos mitos. Brasil e África se entrelaçam entre os mitos de matriz africana dialogando com outras tradições orais, como a música. Narrativas e Música - um entrelace rico de cultura popular Brasileira.
FICHA TÉCNICA Contadora de Histórias: Eneida Baraúna | Luz: Preto Amparo | Foto: Zi Reis | Fonte de pesquisa: Livro Mitologia dos Orixás. Autor - Reginaldo Prandi | Duração: 30min | Indicação etária: 14 anos 102
>> Foto: Douglas Lopes
O CAMINHO ATÉ MERCEDES >> Grupo Emú (Rio de Janeiro/RJ) 02/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE A dança afro-brasileira de Mercedes Baptista, reconhecida internacionalmente por sua contribuição para a arte, é o elemento base para a construção dos movimentos e interpretação neste trabalho. A dança desloca o corpo de Mercedes por suas memórias. A primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro expressa sua inquietação frente à ausência de lembranças de sua trajetória. O tambor aliado ao corpo afro-físico impulsiona Mercedes na busca por suas referências ancestrais. Uma história atemporal, construída a partir de realidade e ficção, que deu origem ao espetáculo ‘Mercedes’, do Grupo Emú. A apresentação será seguida de uma roda de conversa. FICHA TÉCNICA Direção: Thiago Catarino | Texto: Sol Miranda | Pesquisa Musical: Reinaldo Junior | Produção: Diogo Nunes | Direção de Comunicação: Bruno F. Duarte | Atuação: Sol Miranda | Música de Cena: Raquel Terra | Linguagem Corporal : Ariane Hime e Elton do Sacramento | Duração: 20min | Indicação etária: Livre 103
>> Foto: Tiê Mundin
PROTÓTIPO PARA CAVALO >> Brunno Oliveira e Bremmer Guimarães 02/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Neste experimento-manifesto, o amor é uma violência tão cruel quanto a guerra. As granadas estão camufladas em cada signo dado, em cada convenção criada, desde o primeiro assovio do primeiro pássaro no mundo. Um verdadeiro extermínio.
FICHA TÉCNICA Concepção: Bremmer Guimarães e Brunno Oliveira | Atuação: Brunno Oliveira | Direção e dramaturgia: Bremmer Guimarães | Preparação corporal: Ítalo Freitas | Iluminação: Caroline Cavalcanti | Figurino: Lira Ribas Produção: Bruno Lélis | Duração: 15min | Indicação etária: 14 anos 104
>> Foto: Divulgação
SEGREDO >> Helvécio Izabel e Lúcio Ventania 02/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Uma Série de pesadelos perturba Jabé Enjaí, o corajoso General das forças de defesa do Antigo Império Gana - 1200 d.C. na África subsaariana. A fim de decifrar o tormento, Jabé Enjaí vai ao encontro de Jájabim Jabar Jajaa, o feiticeiro Louco. Tanto as descrições dos pesadelos pelo general, quanto as inquietantes revelações e conselhos do feiticeiro, se dão através de metáforas extraídas de lendas e contos populares Africanos.
FICHA TÉCNICA Texto: Adaptação de contos Africanos por Lúcio Ventania | Atores: Helvécio Izabel e Lúcio Ventania | Trilha Sonora: Iberê Sansara | Cenário e figurinos: Lúcio Ventania, Helvécio Izabel e Maria Cecilia Alves | Duração: 27min | Indicação etária: 14 anos. 105
>> Foto: Joana Choumali
ABENA >> Cia. Bando 08/10 | DOMINGO | 10h | PRAÇA DO TRENZINHO PARQUE MUNICIPAL (entrada gratuita) SINOPSE Abena é uma das princesas mais belas de todo o mundo, não havia quem discordasse! Pretendentes de todas as partes esperavam ter sua mão em casamento. Diante de tanto cortejo deu-se uma grande disputa, mas o coração de Abena já estava preenchido de amor por alguém. Mas nessa disputa, quem será o vencedor?
FICHA TÉCNICA Concepção e realização: Cia. Bando | Dramaturgia: Djalma Ramalho Elenco: Anderson Ferreira, Andréa Rodrigues, Fabiana Brasil e Rainy Campos Trilha sonora: Djalma Ramalho | Figurino e Cenário: Anderson Ferreira | Duração: 60min | Indicação etária: Livre 106
>> Foto: Mariana Ser
CÂNTICOS PARA SOLITUDE (trançando o cabelo com o som me enxergo) >> Josi Lopes 09/10 | 20h | TEATRO ESPANCA
SINOPSE Nesse experimento cênico musical, Josi Lopes fala principalmente do encontro com a solitude, da comunicação com o mundo através do corpo/voz e da ressignificação do estado de solidão, da entrega ao desejo, dos devaneios que atordoam os pensamentos, dos obstáculos e alegrias de ser, da plenitude de estar só. SOLITUDE é diferente de SOLIDÃO, é a atitude da força interior, a força ancestral da mulher preta. Gritando aos sete ventos ecoando a voz para o infinito. Sem medo. FICHA TÉCNICA Texto e atuação: Josi Lopes | Direção: Michelle Sá | Direção musical: Marcelo Veronez | Preparação Corporal: Benjamin Abras | Iluminação : Tainá Rosa | Figurino: Tainá Lima (CRIOLA) | Duração: 20min| Indicação etária: 15 anos 107
>> Foto: Letícia Cangussu
DAR A LUZ >> Anair Patrícia 09/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Dar à luz. Dar os filhos. Fazer mais que o governo faz. Ela faz e dá destino.
FICHA TÉCNICA Concepção e atuação:Anair Patrícia | Iluminação:Pedro Amparo Dramaturgia: Inspirada no texto Dar Luz de Marcelino Freire Duração: 8min | Indicação etária: 14 anos 108
>> Foto: Anna Miranda
BURACO-SAUDADE 16/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Como vestir uma roupa que não lhe cabe? Como lembrar de afetos que não existem? Lembranças que não existem, memórias de ausências. Três mulheres que a partir do buraco-saudade no peito, buscam ressignificar símbolos, formas, crença, presença e afeto.
FICHA TÉCNICA Concepção: Ana Martins, Michele Bernardino e Rikelle Ribeiro | Cenário e figurino: Lira Ribas | Orientação dramatúrgica: Guilherme Diniz Foto: Anna Miranda Duração: 15min | Indicação etária: 16 anos 109
>> Foto: Demétrio Alves
FRÁGIL, EU? >> Suellen Sampaio e Evandro Nunes 16/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE A partir de trechos dos livros “Angela Davis –mulheres, raça e classe”, de Davis, e “Rosa Parks – não à discriminação”, de Nimrod e da poesia corpórea de Suellen Sampayo que este trabalho vem sendo construído. Três mulheres negras que em diferentes tempos expressam toda sua força demonstram que não são frágeis. No trabalho será usado, a dança, a cena e a imagem para contrapor a fragilidade.
FICHA TÉCNICA Atuação: Suellen Sampaio | Concepção: Evandro Nunes | Fotografia: Demétrio Alves | Duração: 20min | Indicação etária: 12 anos 110
>> Foto: Lira Ribas
ELAS TAMBÉM USAM BLACKTIE 16/10 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Três mulheres negras. Jazz. Histórias onde se encontram e improvisam um final de luta. Sim,ELAS TAMBÉM LUTAM. Jam. Talvez a voz não saia e um grito rouco seja música. Ladies and gentlemen, Senhoras e senhores, com vocês: ELAS
FICHA TÉCNICA Atuação: Andréa Rodrigues, Gislaine Reis, Leonardo Brasilino, Rainy Campos | Concepção: Lira Ribas | Texto: Andréa Rodrigues, Gislaine Reis e Rainy Campos | Dramaturgia: Andréa Rodrigues | Direção: Lira Ribas | Trilha Sonora: Leonardo Brasilino | Iluminação: Marina Artuzzi | Cenografia e Figurino: Anderson Ferreira e Lira Ribas | Produção: Fabiana Brasil | Foto: Lira Ribas | Duração: 20min | Indicação etária: 16 anos 111
>> BLACK BOULEVARD OU TUDO PRETO DE NOVO OU O ENSAIO GERAL… | Foto: Pablo Bernardo
Agradecemos imensamente aos colaboradores para impressĂŁo do caderno 2: Adilson Marcelino Filipe Lauro Juliana Gonzaga Pricila Rezende Tatiana Costa Viviane Velano de Souza
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3ª temporada Homenageada LEDA MARIA MARTINS :: 11/09 – 20h – Memórias Póstumas de um Neguinho (Lucas Costa) :: 18/09 – 20h – Experimentos cênicos Ama (Cia Espaço Preto) Sem Dono (Will Soares) :: 25/09 – 20h – Experimentos cênicos Vem... Pra ser infeliz, 2017 (Priscila Resende) Fragmentos do amor no panteão africano (Eneida Baraúna) :: 02/10 – 20h – Experimentos cênicos O caminho até Mercedes (Grupo Emú/RJ) Protótipo para cavalo (Brunno Oliveira e Bremmer Guimarães) Antes da escravidão (Helvécio Izabel e Lúcio Ventania) :: 08/10 – 10h – segundaPRETINHA Abena (Cia. Bando) :: 09/10 – 20h – Experimentos cênicos Cântico para solitude (Josi Lopes) Dar a luz (Anair Patrícia) :: 16/10 – 20h – Experimentos cênicos Buraco Saudade Frágil, eu? (Suellen Sampaio e Evandro Nunes) Elas também usam BlackTie Horário: 20h Local: Teatro Espanca! Rua Aarão Reis, 542 - Centro Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5,00 (meia) Residentes fora dos limites da Avenida do Contorno pagam meiaentrada Exceto dia 08/10 - 10h - segundaPRETINHA Praça do Trenzinho - Parque Municipal -Entrada gratuita Apoio
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