segundaPRETA - caderno 5 (2022)

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SEGUNDA CADERNO 5 1


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>> AKULO - Kiandeuame Samba Foto: Pablo Bernardo 3


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Por Rainy Campos , Andréa Rodrigues e Grazi Medrado Aqui estamos, 11 temporadas, 9 entre-temporadas, 5 cadernos, 5 anos de existência, muitas mãos contribuindo na construção desse território ao longo dessa história, muitos trabalhos artísticos de diversas cidades e Estados desse Brasil, muitas reflexões, muitas imagens, muitos encontros, muitas discussões para novos caminhos, e mais recentemente, muitas telas. A segundaPRETA ecoa ancestral. Nessa gira longa do tempo, temos a cada passo dado, buscado encontrar nossas maneiras de realizar e construir esse movimentoterritório-quilombo, inspiradas nas trajetórias e histórias de nossas ancestrais, no nosso caminho percorrido, e assim vamos nos reinventando, criando um espaço de fortalecimento para as culturas negras. A segundaPRETA se entende como encontro, troca, corpo, pele... E a cada segunda-feira, pulsávamos no mesmo ritmo, juntas, juntos, juntes. E então fomos atravessadas pela pandemia, um vírus que afetou toda a sociedade, e principalmente, a população negra. Esperamos, refletimos, aguardamos… no entendimento que nosso encontro era a chave dos portões que nos fez iniciar essa caminhada lá em 2017. E ficamos entre nós, nas telas, buscando e entendendo nossa re-existência na distância, mediadas pelas câmeras e microfones que em atrasos de imagem e som nos faziam ainda mais distantes. Mas firmadas nos caminhos de Exú, força que fomenta o crescimento e que nos gera infinitas vezes, retomamos os caminhos que nunca pararam, pois tempo, tem tempo, leva tempo. 5


“Neste momento estamos nas telas, deixando entrar por essas janelas nossa vontade de estarmos juntas. Pois como dissemos tantas vezes: não vamos parar! É tempo de caminhar os caminhos. É tempo de teimar no encontro, na fé dos encontros possíveis em tempos de distância.” Com fé nos encontros possíveis, em 2021, retomamos a 9ª temporada, que foi iniciada em março de 2020. Retomamos os trabalhos, ressignificamos os encontros, com muitas dificuldades, aprendendo no espaço-tela possibilidades de trocas e atravessamentos. A 9ª temporada teve como homenageada a artista Rosana Paulino que no seu fazer entrelaça ancestralidade e memória para construir narrativas sobre a negrura. Sua presença no mundo guiou nossos caminhos. A temporada contou 15 trabalhos oriundos das cidades de Belo Horizonte, Contagem, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Manaus e São Paulo. Valdineia Soriano foi a homenageada que deu sentido a 10a temporada, a artista da cena, do cinema, atriz, que representa também, a referência que nos fez surgir como território, Bando de Teatro Olodum. “Eu sou porque nós somos” Na 10ª temporada estivemos juntas de 20 trabalhos vindos das cidades de Belo Horizonte (MG), Ouro Preto (MG), Uberlândia (MG), Betim (MG), Vitória (ES), Senador Rui Palmeira (AL), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e São Luís (MA). É com imensa alegria, que aqui estamos, em mais um caderno, registrando nossa história, nossas imagens e memórias. 6


Em um período atípico, reforçamos que, por mais que curvemos, não nos quebramos. Fechamos um ciclo de forma iluminada com a nossa homenageada da 11ª temporada, Léa Garcia. 14 trabalhos de Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Itacaré (BA), Barbacena (MG), Estância - São Cristóvão (SE), Belford Roxo (RJ) deram o tom desse encerramento. Encerramento para um recomeço, desejosos dos encontros presenciais que nos é tão caro, braços, comidas, prosas. Que alegria a nossa podermos, mesmo que numa distância estranha, estabelecer laços, firmar territórios e registrar nosso fazer. Nestas páginas que se seguem, trazemos os registros que só reforçam a nossa certeza: NÃO VAMOS PARAR! É no desejo e força que nos tornamos permanente. Pelo que foi até aqui, o que tem sido até agora, e o que ainda virá depois. Seguimos escrevendo e registrando parte da história, consultando memórias, solidificando nossa trajetória. Caminhamos mais fortes que nunca, rumo às próximas temporadas, com pés firmes na terra. Nos vemos em breve.

Rainy Campos é artista-criadora-docente-pesquisadora. É bacharela e graduada em teatro pela UFMG. Integra a Cia. Bando, o Bloco Magnólia e o movimento segundaPRETA. Atualmente é docente no curso técnico de teatro das escolas CICALT e CEFART, situadas em Belo Horizonte. Andréa Rodrigues,atriz dramaturga e roteirista. Integrante da Cia.Bando e do coletivo segundaPRETA. Grazi Medrado é pós graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), atriz, locutora, diretora criativa, consultora de projetos e pesquisas com recorte étnico-racial, e uma das articuladoras da segundaPRETA. 7


NESTE CADERNO:

NONA TEMPORADA

de 09 e 16/03 de 2018 - Presencial de 31/05 a 05/07 de 2021 - On-line HOMENAGEADA: ROSANA PAULINO PROGRAMAÇÃO RELATOS FOTOS

ENTRE-TEMPORADA #8 06/09/2021 - On-line PROGRAMAÇÃO

DÉCIMA TEMPORADA

de 04/10 a 22/11 de 2021 - On-line HOMENAGEADA: VALDINEIA SORIANO PROGRAMAÇÃO RELATOS FOTOS 8


ENTRE-TEMPORADA #9 21/02/2022

PROGRAMAÇÃO

DÉCIMA PRIMEIRA TEMPORADA

de 07/03 a 18/04 de 2022 - On-line HOMENAGEADA: LÉA GARCIA PROGRAMAÇÃO RELATOS FOTOS

ENTRE-TEMPORADA #10 13/06/2022

PROGRAMAÇÃO

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>> MARÉ DE DISTÂNCIA - Não Cálice, Coletivo Teatral Foto: Pablo Bernardo

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ÍNDICE ____________________ Rosana Paulino ... 18 _____________________ Can you see it ?! ... 22 ___________________ Mata Rasteira ... 26 ______________________ Maré de Distância ... 32 ___________________________ Ensaio sobre a Trindade ... 36 ___________ Akulo ... 40 _______________________________________ A Cabonagem e o Incêndio Inevitável ... 44 _____________ Na pele ... 48 ____________________ Benza em Rosas ... 52 ____________________________ Todas as Marias que Sou ... 58 ___________________ Estranha fruta ... 62 ____________ Xabisa ... 66 _____________ Patriota ... 72 ________________________________ Corpa trava, preta, marginal ... 76 ______________________________________________ Rua do Modernismo – Jardim Tiro ao Pombo ... 80 ________________________________________ MIXANDO A TRANSMASCULINIDADE ... 84 12


____________________________________________________ Conversa sobre a homenageada: Reverberações de afetos, memórias e ancestralidade ... 88 __________________________________ Festa de encerramento e Ficha técnica - Nona Temporada ... 90 ___________________________________ prosaPRETA com Rosana Paulino ... 93 ______________________ Valdineia Soriano ... 97 ___________ Ebó ... 100 ____________________ proposta 001 ... 104 ____________________ Corpo tambor ... 108 __________________________ Clamor para estrelas ... 112 _____________________ Arruda Hi-Tech ... 116 ______________ ex-tinto ... 122 __________________________________ Boa parte de mim vai embora ... 126 ___________________________________________ Curta-performance - Mulheres memórias ... 130 ______________ Alziras ... 134 _______________ Em Casa ... 138 ______________________ Canto de Oxum ... 142 13


_____________ Matriz ... 146 ___________________ Ressonância ... 150 ____________ Abel ... 154 ______________________________________ Exercícios para se lembrar, branqueamento ou ação repetida de cuidar ... 158 ____________________ Ao meu corpo ... 164 _______________________ Sintoma Or Delay ... 170 _____________________________________________ Ecos de ‘Arquivo Negro’ em breves danças ... 174 ____________________ Dia de Plantar ... 178 __________________________________________________ Maria Firmina dos Reis, uma voz além do tempo ... 182 _____________________________________ prosaPRETA com Valdineia Soriano ... 186 _____________________ Festa de encerramento e Ficha técnica - Décima Temporada ... 188 ______________________________ cinemaPRETO comentado ... 190 _________________ Léa Garcia ... 194 _______________ CATIÇO ... 198 ______________________________ Ebó pra trançar quem sou ... 202 14


________________________________________ Quem é que guia? Quem é guiado? ... 206 _______________________________ Tirando da gaveta o corpo ... 210 _______________________ Vamos pra costa? ... 214 ____________________ RAIZ D’ÁGUA ... 220 ________________ Fiandeira ... 226 ______________ ANTRO ... 230 ___________________ Preto Rosário ... 234 _____________________________ Sentimentos Transversos ... 238 ______________ Argilose ... 244 ____________ Fonte ... 250 ____________________________ Benjamin te sigo daqui ... 254 ____________________________________ Escafura seu bolo de aniversario ... 258 ________________________________ prosaPRETA com Léa Garcia ... 262 ______________________________________________ Festa de encerramento e Ficha técnica - Décima Primeira Temporada ... 264 _____________________________________ Lançamento dos cadernosPRETOS ... 265 15


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NONA TEMPORADA

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ROSANA PAULINO

HOMENAGEADA DA NONA TEMPORADA

>> Foto: Divulgação 19


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Por Priscila Rezende Desbravadoras, instigadoras e portadoras de uma potência que, ao mesmo tempo, desarticula e fortalece. Assim podemos definir a obra e trajetória da artista visual Rosana Paulino. Ainda em meados da década de ’90, em um universo acadêmico e de Artes Visuais fortemente dominado por homens brancos, com uma ínfima presença negra, geralmente representada por estereótipos derivados do olhar eurocêntrico, Rosana Paulino adentrou esse espaço de forma consistente, assertiva e ainda sim, sensível. Imagens catalográficas de séculos atrás em seu trabalho se transformam. De indivíduos mudos e inomináveis, através de gravuras, desenhos e impressões, os corpos e identidades negras ganham vozes que contam suas próprias histórias e contestam uma suposta veracidade dos livros que convenientemente fabulam uma única versão da constituição dessa terra hoje chamada Brasil. Não mais objetos de experimentos científicos ou antropológicos, na arte de Rosana Paulino a gente negra se faz sujeito narrador de si. Em 2017 tive a oportunidade de presenciar em Belo Horizonte uma roda de conversa com a presença da também doutora, pesquisadora e educadora, e nunca me esqueço de suas sensatas palavras ao se referir às nossas mais velhas: “Muitas mulheres já resistiam e lutavam a muitos séculos, muito antes de existir ou ao menos terem ouvido falar da palavra ‘feminismo’”. Penso que há um pouco de toda mulher negra no trabalho de Rosana Paulino e ali nos reconhecemos e nos reconectamos. Em suas esculturas, vídeo e instalações contemplamos nossas 20


mães, nossas avós, as nossas matriarcas e anciãs, guardiãs de saberes ancestrais e de longeva resistência. Nas bocas cerradas, nos olhos ocultados e na figura do leite usurpado, sua criação denuncia o silenciamento, a invisibilidade e violência sofridas por estas mulheres, mas com a dignidade a elas devida, gentilmente reverencia estas que são geradoras de vida, perpetuadoras de linhagens sagradas, pois foi do ventre das mulheres negras que germinou a luta. Rememorar o passado para restaurar o presente é necessário. Eu, você, nós somos hoje a continuação de todas, todos e todes aqueles que vieram antes. Sobre a parede, nas cores, traços e imagens a artista firma nossas raízes, reconstruídas e enaltecidas, e como um fio condutor em direção ao reencontro mais profundo de nossas memórias e afetos, Rosana Paulino entrelaça a ancestralidade, o agora e o futuro.

Priscila Rezende é graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard. Desde 2011 atua desenvolvendo trabalhos em performance, fotografia, vídeo, instalação e objeto. Traz em seu trabalho questões de raça, gênero e identidade, tendo a presença do indivíduo negro e das mulheres na sociedade contemporânea como principais norteadores de sua produção. Em seu percurso destaca-se a atuação em diversas regiões do Brasil como Amapá, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo; e em países como Alemanha, Espanha, EUA, Holanda, Inglaterra e Polônia. 21


CAN YOU SEE IT ?! >> Val Souza

(São Paulo/SP)

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SINOPSE Uma mulher negra com um carrinho de bebida chega oferecendo bebidas e dança. Ao passar pelas ruas com seu carrinho luminoso, Val atua como um sound system ambulante, ou um baile ambulante trazendo para próximo aquilo que a sociedade prefere esconder. FICHA TÉCNICA Criação e concepção Val Souza | Duração: 60 min | Classificação livre Apresentado no dia 09 de março de 2020 - presencialmente Fotos: Pablo Bernardo

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MATA RASTEIRA

>> Grupo Caras Pintadas (Contagem/MG)

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SINOPSE Inspirado no romance homônimo do autor paulista Abner Laurindo, o espetáculo MATA RASTEIRA do Grupo Caras Pintadas é um encontro poético e político com o universo do teatro e da cultura afro-brasileira. A peça utiliza como fundamentos a musicalidade e corporeidade da capoeira, além da contação de histórias dos Griots africanos para narrar a odisseia de Nlongi, um menino nascido em Angola, na África, que é sequestrado e escravizado por corsários portugueses e trazido para o Brasil, onde participa de importantes movimentos de resistência cultural e guerreira do povo negro em sua ânsia pela liberdade. FICHA TÉCNICA Elenco: Rodrigo Negão | Diretor e técnico: Gabriel Coupe |Produção e Consepção: Rodrigo Negão | Duração: 60 min | Indicação etária: 10 anos Apresentado no dia 09 de março de 2020 - presencialmente Fotos: Pablo Bernardo

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Após um ano de estréia do espetáculo “Mata Rasteira”, chegamos a tão desejada sessão do espetáculo na programação da Segunda Preta, e por ironia do destino, acabamos por ser a ultima apresentação presencial antes de se instaurar a Pandemia de Covid-19. Falamos sobre ser “tão desejada” porque acreditamos que a segundaPRETA é um marco na história de Belo Horizonte, no que diz respeito aos fazeres artísticos de pessoas pretas para a cidade. Esse jeito outro de juntar nossas vozes, gestos, pensamentos e reflexões, para falar com gente da gente, para gente da gente. Mata rasteira versa sobre reorganização, sobre saber de onde se veio e buscar a partir daí, compreensão de onde estamos e quem sabe suscitar caminhos possíveis para estarmos mais fortes, mais juntos, cuidando da gente mesmo. A segundaPRETA desperta esse desejo na gente. Nos faz, de alguma maneira, nos entender não sozinhos. E é a partir desse não solo que o espetáculo entrega seu ponto de partida. No encontro destes caminhos nos espelhamos como num caleidoscópio brilhante e em pedra bruta, com pequenos traços lapidados e com tantos outros a jato de areia, ou de barro, mas também brilhantes e polidos como a água do rio doce que bate na pedra e encontra seu caminho. E água que bate em pedra e remolda seu curso, sabemos bem de quem se trata. Pelo menos, quem é de saber, sabe! Em Mata Rasteira, refletimos a importância dos nossos mais velhos, nossa jóias preciosas, detentora de conhecimentos acumulados pela experiência da vida. Essa relação já se apresenta pela disposição do público no espaço. Em roda, os mais jovens no chão, os mais velhos sentados em cadeiras, velas acesas em memória aos ancestrais que já se foram, mas também pelos ancestrais em ascendência. A cultura oral se faz presente e o público é convidado para contar essa história junto. Contando junto também acrescentamos a história, pois acreditamos também que quando contamos uma história, também nos tornamos parte dela. Por isso a importância de nós mesmos contarmos nossas histórias e não um outro que sabemos bem quem é! E é também assim que nos sentimos em relação a história da segundaPRETA. Quando contamos nossas histórias dentro de sua programação,

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também contamos a história deste movimento, e acabamos sendo segundaPRETA também. Porém, Mata Rasteira não é só sobre beleza, é também sobre sangue, sangue esse que derramamos dia a dia, gota a gota, ou sangue jorrado pelos de outrora para que este que voz escreve, junto a estes que lê os escritos, possam existir neste espiral. Mata Rasteira - ou - Capoeira - como foi batizada pelos povos originários, foi o primeiro movimento organizado e estratégico de resistência do povo negro em busca constante e infindável por auto-proteção. “Luta de escravizado em ânsia por liberdade”. E assim como Exú, Capoeira “é tudo que a boca come!” Então, Capoeira também é teatro, é voz, é movimento, é dança, é arte, é luta, é afeto, é amor e é raiva. Tudo isso organizado na inteligência de um povo, no corpo de um povo, no pensamento e movimento ancestral, sob a ótica do consciente, mas também do subconsciente. Quando decidimos tirar Mata Rasteira de um livro de romance e trazer para o teatro, os universos do que aprendemos nos livros didáticos da escola e o que a história contada pelos nossos mais velhos nos revela, entraram em conflito. E nada melhor que um bom conflito para tirar leite de pedra, ver a real da parada, ligar lé com cré. A nossa história contada sob a ótica do branco é uma conta de bananas feita com laranjas. No final não cabem no mesmo saco e não vão para o mesmo destino. A conta não fecha! E cavucando cada vez mais essa terra em sentido as camadas mais profundas da nossa história enquanto povo, deixamos de encontrar bananas, laranjas e outras frutas e passamos a encontrar ouros, diamantes, dendês, obis, omolocuns, opanijés, amalàs e outras infinitas riquezas que só o nosso povo tem. É dessas riquezas que nos nutrimos. São desses ebós que nos alimentamos e somos alimentados. E a cada vez que arriamos a oferenda, chega mais gente pra comer. Olhando pra tudo isso, a única certeza que temos é que em mesa de preto sempre tem espaço pra mais um preto comer. A Calunga é grande! Nzambi Ua Kuatesa! Awetu! 31


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MARÉ DE DISTÂNCIA >> Não Cálice, Coletivo Teatral (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Três corpos, Três artistas. Maré de distância é um experimento cênico teatral que busca investigar as distâncias que percorremos em nossas vidas, os rumos e alguns de seus resultados. As personagens vindas de uma terra distante através das águas se encontram tempos depois em um ponto de ônibus onde aguardam o seu destino e entram em uma discussão sobre conhecer-se. O texto ainda está em construção, nossos corpos ainda estão em construção, nossa história ainda está em construção. O Grupo “Não Cálice” traz o real e o lúdico em ” Maré de distâncias. FICHA TÉCNICA Texto: Victor Santos | Direção: Coletiva | Elenco: Agatha Lorrayne, Amanda, Victor Santos | Produção: Não Cálice, Coletivo Teatral | Duração: 15 min | Classificação Livre Apresentado no dia 09 de março de 2020 - presencialmente Fotos: Pablo Bernardo

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ENSAIO SOBRE A TRINDADE >> André Sousa

(Santa Luzia/MG)

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SINOPSE Avô, pai e filho; labor, pulsão e afeto; estrutura, dor e dificuldade; tesão, cuidado e coragem; fé, amor e cura... Equilibrar-se e deslocar sem segurança, tudo é instável. Beira cair... Existir exige tentativas, erros, repetições. Repetindo e acumulando, repetindo e acumulando, repetindo e acumulando, repetindo, repetindo, repetindo... FICHA TÉCNICA Intérprete-criador: André Sousa | Direção: Mariana Razzi | Produção: Marcelo Souza | Duração: 40 min | Classificação livre Apresentado no dia 16 de março de 2020 - presencialmente Fotos: Pablo Bernardo

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Retornar a uma temporada da segundaPRETA é algo gratificante, pois este espaço tem se construído na proposta de circular, dar a ver/ser visto e construir conhecimentos sobre e com as artes cênicas negras. Ter a oportunidade de apresentar uma ideia cênica embrionária junto de pessoas que estão pensando a criação artística numa perspectiva negra, fortifica os ossos e firma os músculos para o fazer-pensar dança a que eu me proponho como artista-professor-pesquisador. Vida longa a esse aquilombamento das artes cênicas negras. 39


AKULO

>> Kiandeuame Samba (Ribeirão das Neves/MG)

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SINOPSE Akulo” busca referenciar as tradições Afro-diásporicas através da sacralidade Bantu. A memória afrikana dos nossos antepassados se faz presente nos elementos naturais, cada Mahamba (divindade) – água, terra, fogo, mineral, natureza é essencial para entendermos enquanto indivíduos ancestrais. É nesta perspectiva que Kiandeuame através do experimento cênico “Akulo” relaciona sua vivência no candomblé de Angola ao seu trabalho, criando novas narrativas na construção das relações sacras afrikanas. O objetivo deste trabalho é ajudar a manter o conhecimentos dos Bakulo (ancestrais), uma prática para atingir o domínio da existência. Corpos estão para ser divindades dos antepassados. FICHA TÉCNICA Dirigido e escrito por: Kiandeuame Samba | Cenário: Kiandeuame Samba | Trilha sonora: Jocasta Roque | Produção de imagem e vídeo: Jahi Amani | Duração: 20 min | Indicação etária: 12 anos Apresentado no dia 16 de março de 2020 - presencialmente Fotos: Pablo Bernardo

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Apresentar “Akulo” na segundaPRETA decola por vários processos dialógicos. Um deles é a oportunidade de está dentro de um Kilombu teatral aplicando a arte da cultura negra africana e afrodiaspórica construindo uma unicidade entre espaço, educação kilombista, pessoas e arte. Diálogos importantes que atravessam o racismo entre as expressões artísticas, podendo aplicar nossa educação de fazeres e saberes abertamente para um público majoritariamente negro. O ritual performance “Akulo” foi o último a ser apresentado no Teatro Espanca! antes do toque de recolher para a quarentena do COVID-19 em 2020, foi leve, responsável pelos corpos pretos presentes para seguir o novo com força e suavidade. Ngasakidila kyavulu! Muito Obrigado! 43


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A CABONAGEM E O INCÊNDIO INEVITÁVEL >> Castiel Vitorino Brasileiro

(São Paulo/SP)

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SINOPSE Inevitável é o acaso da forma do fogaréu. Inevitável é o fogo que acontece em mim quando eu danço. A cambonagem é trata-se de um pacto: acolheremos a imprevisibilidade de nossos caminhos. FICHA TÉCNICA Co-direção: Roger Ghil | Produção, Direção de Fotografia, Montagem, Sound Design, Trilha Musical e Sonora: Castiel Vitorino Brasileiro e Roger Ghil | Cambono: Rodrigo Jesus | Escultura: Castiel Vitorino Brasileiro | Ferreiro: Natan Dias | Instrumentos Musicais: Banda de Congo Vira-Mundo, Tambores Esperança | Duração: 34 minutos | Classificação Indicativa: 10 anos Transmitido no dia 31 de maio de 2021 Imagens da transmissão

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NA PELE

>> Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Na Pele demonstra sua indignação com o que é corriqueiro e cotidiano, aponta o afeto, o afago, a preocupação e as precauções. Em uma sociedade indiferente, o diferente é o que corre da morte. FICHA TÉCNICA Direção Coletiva | Elenco: Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira | Texto: Recortes de textos do livro “Teatro negro” | Músicas: Sangue, suor e lágrimas – Max Souza (Part. Sarah Guedes, Kainná Tawá e Djonga) | Duração: 4 minutos 54 seg Transmitido no dia 31 de maio de 2021 Foto: Divulgação

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Por Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira “Na Pele” demonstra sua indignação com o que é corriqueiro e cotidiano, aponta o afeto, o afago, a preocupação e as precauções. Em uma sociedade indiferente, o diferente é o que corre da morte. O experimento cênico teve origem a partir de um exercício de voz e corpo construído de forma coletiva por Nanda e Larissa. A montagem que tinha a proposta de utilizar o movimento, a música e uma temática livre foi proposta pela escola de teatro Puc Minas. Assim, por subjetividades atravessadas e identificações de vida entre as duas atrizes, ‘Na Pele’ foi desenvolvido para gritar verdades tão necessárias, mas exaustivas de ainda terem de ser

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repetidas. Para além disso, tivemos o intuito de trazer visibilidade ao teatro negro em uma escola que forma majoritariamente pessoas brancas. A temática e a construção tiveram o objetivo de provocar alguns pontos sobre pretos e periféricos. O ponto de partida para criação de “Na pele” foi a música “Sangue, suor e lágrimas” de Sarah Guedes, Kainná Tawá, Max Souza e Djonga. O trecho utilizado já no início da cena é “Olha quantos corpos negros aí, estirados no chão” e foi a primeira parte a ser definida na estrutura, em que uma mãe fala de seu filho que se foi. A partir disso, entendemos que seria significativo este mesmo trecho finalizar a cena, como um ciclo que não se acaba, se perpetua, evidenciando as dores de mães chorando por seus filhos. Então, foi aí que começamos uma busca incessante por textos que fizessem sentido com a mensagem e o contexto da história que estávamos montando. Nos deparamos com o livro “Teatro Negro”, que possui um compilado de peças de teatro negro. Lendo o livro fomos separando os bifes que mais nos tocavam e afetavam, levando a montagem do roteiro. Os trechos do espetáculo “Madame Satã” se encaixaram perfeitamente com a nossa proposta de retratar o corpo negro, bem como a mãe que se despede de seu filho. Para finalizar a dramaturgia, a temática foi a morte negra, ‘não como um fim de vida, mas como uma vida desfeita’, nos deparamos com “Memórias póstumas de um Neguinho”. Assim, não só a dramaturgia teve esse objetivo, mas a construção dos movimentos, que buscaram ter relação com a sensação de desespero que paralisa em contraponto com o desespero que não cabe no corpo. “Na Pele” foi apresentado pela primeira vez em julho de 2019. Percebemos a potência deste experimento cênico e fomos traçando caminhos para que pudéssemos, mesmo que em poucos minutos, afetar subjetividades e mirando em provocar mudanças e afetos. Já em 2020, assolados com a pandemia Covid-19, as apresentações da Segunda Preta foram adiadas, por causa das medidas de segurança. Contudo, mesmo confinados, continuamos a viver atravessamentos avassaladores que massacravam, com constância, os pretos e pobres. Apesar de potente, “Na pele” retrata um retrato social, que por tanto tempo engessado, continua a repetir erros, enrijecer estruturas e barrar mudanças. Mas ainda não nos conformamos, gritaremos nossas verdades, defenderemos os nossos, até que a morte nos separe. 51


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BENZA EM ROSAS

>> Anne Caroline Vaz (Contagem/MG)

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SINOPSE Família, samba e cheiro de rosas. Estão aqui ancoradas na dança, reflexos das ranhuras vindas de tradições expressas em um fazer de dupla face, característico de táticas estratégicas há muito tempo utilizadas pelo povo negro, no qual afeto, cuidado e fé inspiram instantes fomentados a partir de líricas gestualidades. Prenúncios de saber, apreendidos em tríade e que carregam em sua essência a personificação de pessoas como eu, revestidas de aparente negrura. Cabelo crespo em corpo de mulher escura representa aqui altiva boêmia de família cuja corporeidade diz de passos lapidados em fina vivência por entre folias, reinados e cruzas de bendizer. FICHA TÉCNICA Intérprete-criadora: Anne Caroline Vaz | Figurino: Anne Caroline Vaz | Música: Carta de Amor (Composição de Maria Bethânia e Paulo César Pinheiro) | Filmagem: Alexandre Sena e Aristeo Serra | Produção: Rodrigo Negão e Suellen Sampaio | Fotografia: Glauce Almeida | Assessoria artística: Vanessa Oliveira | Concepção de Iluminação: Débora Oliveira | Duração: 10 minutos | Classificação indicativa: 10 anos Transmitido no dia 31 de maio de 2021 Foto: Glauce Almeida

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Por Anne Caroline Vaz A performance Benza em Rosas é uma palavra-texto-corpo inventora de mundos, que produz presença ao lembrar daquilo que não deve ser esquecido. Catalisadora de saberes do cruzo, propõe uma perspectiva cambaleante de corpo que tem a ancestralidade como fundamento de vida. Uma criação movente que na toada brinca com os sentidos e atiça estados oscilantes do pensar/sentir e busca marcar o devir-negro como uma prática social emancipadora, cuja ação visa apontar uma perspectiva de senso estético/crítico de reencantamento. Amassar o barro é expressão antiga do samba, diz de uma malemolência presente em gingado de corpo negro, que se faz presente por entre as histórias de várias famílias negras, da qual a minha não escapa. Folia de carnaval, fé em Nossa Senhora e nos Santos Pretos e reza em benza forte junto ao banho de rosas carregado de cheiro e energias revigorantes. Foi assim que fui criada em berço de afeto e cuidados embalados por pai, mãe e avó, cujas figuras alicerçaram a base de um repertório gestual ancestral e mnemônico. Mergulhando nessa tríade de memórias, base do repertório gestual que recorro para a criação, o processo investigativo da performance Benza em Rosas surge de uma teia na qual a percepção do sentido das tradições junto a família se fazem presentes. O reconhecimento de tal aspecto se estabelece como um forte elemento de influência tanto na construção da identidade, quanto na composição de um repertório gestual que se manifesta através desse trabalho artístico cujos movimentos e gestos fluem de forma orgânica, compondo a minha dança e encorpando a investigação da negritude presente no meu corpo por meio de um processo criativo que tem a corporeidade da mulher negra como eixo suleador. 55


O formato de gesto em corpo escolhido para desenvolver essa performance, não por acaso, foi o samba, símbolo da culminância de gestualidades apreendidas em tríade e que carrega em sua essência a personificação de pessoas como eu, revestidas de aparente negrura, mas com o paradoxo que envolve a mescla de estéticas resultantes da união preto mais branco em um emblemático ícone revestido de um pertencimento maior, sob o status de identidade cultural brasileira. Cabelo crespo em corpo de mulher negra representa aqui altiva boêmia de família cuja corporeidade diz de passos lapidados em fina vivência por entre folias, congados e cruzas de bendizer. Efeito de uma escrita desabafo sobre o processo formativo de uma mulher negra e remédio-remediado do transcurso de luto da perda física dessas pessoas - propulsoras da minha existência - a performance Benza em Rosas é a ação reflexiva dançante do processo de rememorar de onde vem a minha dança. A busca se direciona para uma investigação que intenta compreender a dinâmica cíclica do traço sucessivo e ininterrupto do gesto performado por essas pessoas, e que continua presente nesse espaço-tempo através de mim e das pessoas que compartilham a minha presença no mundo. Benza em Rosas é uma performance que tem em sua essência a aproximação, sua natureza está arraigada na energia que emana do viço da presença física em coletivo. É frescor de flor de laranjeira na pele, mecha de cabelo trançado, roda da saia, chapéu da noite, gargalhada, espinho e rosa, almoço de domingo, quadril malemolente, pisada ritmada. É agradecimento, pedido e proteção, é reza do corpo pra alma, é arte de corpa-mulher-preta; presença líquida que preenche espaços e serpenteia fluências. É também muitos problemas de solitude e solidão, silenciamento e apagamento, 56


e outros tantos infortúnios de formatos do corpo-imagem que hoje migra do presencial para a tela. Assimilar as dinâmicas de tudo o que essa obra versa é quase uma capacidade do nunca, pois um experimento não acaba. Ainda sim, ressalto que a firmeza dessa Performance está em sua sua origem, nas raízes. É certeiro dizer que Benza em Rosas é saudade e também o eco de uma existência orgânica, instintiva que revela palavras e movimentos específicos matutados pela linguagem do tempo, que ressoa a presença escura de pai, mãe e avó - figuras de singular personalidade - que impulsionaram o meu fazer, (co)movendo um pulso criativo ao performar um repertório gestual base, que fora preenchido a partir da fina escuta-convivência dos hábitos e costumes dessas pessoas fundantes.

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TODAS AS MARIAS QUE SOU

>> Cia. Obinrin (Manaus/AM)

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SINOPSE Marias veem tudo nascente morrer, seus corpos seguem o caminho cantando dores e histórias de muitas de nós, que se entrecruzam e pulsam na dor, no choro e na força de seguir caminhando, das Marias meninas, mulheres, das 13 que se vão diariamente, mas principalmente das que seguem sendo exu-deus-mulher (sobre) vivendo. FICHA TÉCNICA Criação e Concepção: Francine Marie | Preparação Vocal: Marina Affarez | Acompanhamento Percusivo: Kerolayne Kemblin | Produção: Jean Palladino | Figurino e Adereços: Jucy Araújo | Duração: 32 minutos | Classificação indicativa: 16 anos Transmitido no dia 07 de junho de 2021 Fotos: Rodrigo Duarte

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ESTRANHA FRUTA >> Morro Encena

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE 1) Árvores do sul, do Norte, do Leste, do Oeste continuam produzindo estranhas frutas. 2) Levando em consideração as investigações que desenvolve em seu mestrado em Dramaturgia, Anderson Feliciano em parceria com o Morro Encena, grupo teatral criado em 2009 no Aglomerado da Serra, que em suas peças exploram temas ligados aos direitos humanos e o universo feminino, seguem outras rotas, experimentam caminhos que ainda não percorreram, na expectativa de construir uma cena performática que dialogue com o delicado momento político e social que vivem. Construída a partir de imagens do fotógrafo norte americano Gordon Parks e da famosa canção Strange Fruit, interpretada por Billie Holiday, o texto de Estranha Fruta, se potencializa na performance das atrizes do grupo. Acreditando ser importante refletir e problematizar sobre a situação atual do país, buscam construir esteticamente um modo que seja capaz de sensibilizar e contribuir com a possibilidade de gerar outros olhares para o mundo que nos rodeia. Numa proposta minimalista a direção trabalhará apenas com um elemento: pedra. Valendo-se da força da presença das atrizes e flertando com a fotografia e o cinema, o tempo e sua duração serão fundamentais na construção de imagens. As imagens em movimentos, em uma coreopolítica, construídas a partir de fragmentos de memórias, darão contornos performativos para a cena. FICHA TÉCNICA Autor: Anderson Feliciano | Direção: Anderson Feliciano / Hérlen Romão | Produção: Hérlen Romão | Designer gráfico: Beatriz Alvarenga | Elenco: Sandra Sawilza, Beatriz Alvarenga, Andresa Romão, Erica Lucas e Thamara Selva | Cenografia, figurino e maquiagem: Andresa Romão e Andresa Romão | Trilha sonora: Anderson Delmondes Música Strange Fruit – Billie Holiday | Duração: 33 minutos | Classificação Livre Transmitido no dia 07 de junho de 2021 Foto: Pablo Bernardo

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Por Andresa Romão, Beatriz Alvarenga, Érica Lucas, Fabiana Matias, Herlen Romão, Sandra Sawilza, Thamara Selva Apresentamos Estranha Fruta, uma criação de Anderson Feliciano, na 9° temporada da segundaPRETA, no dia 07/06/2021 e foi uma experiência marcante, tela cheia, de pessoas e expectativas, uma noite que guardamos com muito carinho em nossas memórias. Essa apresentação aconteceu durante o longo processo de adaptação ao Teatro digital e nos deu a chance de experienciar mais uma vez esse frenesi diferente que o palco virtual proporciona. E apesar de algumas criticidades ácidas, que insistem em deslegitimar nosso fazer teatral, nosso território e nossas corpas, nos sentimos acolhidas e abraçadas por dedos que compartilhavam emojis e por olhos que não podíamos ver. O retorno foi dado via mensagem de texto e áudios calorosos de uma platéia que se aproxima na distância. O isolamento social, que não silenciou a arte, nos mostrou a possibilidade de permitir que nossos galhos escapem pelas janelas de nossas casas e pudemos vivenciar tudo ali, no palco virtual da segundaPRETA.

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XABISA

>> Michelle Sá e Alexandre de Sena (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Xabisa é uma palavra da língua Xhosa, dialeto de origem sulafricana, que, em português, significa “Valorize”. No espetáculo de mesmo nome, duas pessoas estão em uma caverna onde, individualmente, buscam por riquezas. A caverna remete ao Mito de Platão, à escravidão negra e, também, à exploração de ouro no Brasil. Ao procurar por preciosidades, entre obstáculos físicos e socioculturais, os personagens encontram a si mesmos. Na peça as diferenças entre homem e mulher são colocadas em xeque, utilizando uma linguagem teatral negra contemporânea e cômica. O trabalho propõe um encontro cultural afro-brasileiro, trazendo referências da cultura Bantu, da dança Gumboot – ambas originárias da África subsaariana, e dos jogos de palhaço. FICHA TÉCNICA Elenco: Michelle Sá e Alexandre de Sena | Direção Coletiva: Esio Magalhães, Michelle Sá e Alexandre De Sena | Roteiro dramatúrgico: Michelle Sá e Alexandre de Sena | Preparação Vocal: Josi Lopes | Preparação Corporal: Nath Rodrigues | Direção Musical: Stanley Levi | Produção executiva: Aristeo Serra Negra | Duração: 50 min | Indicação etária: Livre Transmitido no dia 14 de junho de 2021, na segundaPRETINHA Fotos: Aristeo Serra Negra

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Imaginamos e somos outros palhaços – Xabisa “é nóis” O espetáculo Xabisa coexiste nos territórios do teatro e palhaçaria. Eu, Michelle Sá, mulher negra não retinta e cisgênera, Alexandre de Sena, homem negro retinto e cisgênero, atuamos e assumimos a direção do Xabisa. Neste texto, vou compartilhar resumidamente um pouco dos pensamentos, desejos, objetivos e a pesquisa que direcionou nossa caminhada criativa, mas antes vale ressaltar o cuidado, o respeito e cumplicidade que permeou a relação de trabalho entre mim e o “Xande”(Alexandre), acredito ser necessário pontuar esse lugar acolhedor que conseguimos criar entorno do Xabisa, porque infelizmente muitos processos de criação facilmente replicam padrões, hierarquias e opressões embasados principalmente em formas de criar ocidentalizadas. Fomos pesquisar palhaçaria, e uma máxima compartilhada entre nós foi de que queríamos investigar essa linguagem de uma forma mais aproximada da gente, ou seja, que comunicava com a nossa existência negra, com as nossas histórias e memórias, seja elas ruins ou boas. Nos colocamos dispostos a vários questionamentos necessários para não replicar um humor ofensivo e principalmente para não perpetuar imagens que nos desabone enquanto pessoas negras dotadas de belezas, qualidades, subjetividades e complexidades humanas, porque infelizmente a “imagem” que se criou historicamente nossa em cena, principalmente quando se trata do humor, são projeções do olhar do branco sobre nós em cena, essas estereotipadas e racistas. Segundo Marcos Antônio Alexandre, em O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba (2017), a representação do negro na dramaturgia universal, perdurou por muito tempo através de papéis secundários que exaltavam apenas os estereótipos cômicos e/ou escravizados (ALEXANDRE, 2017, p. 31). Vale rememorar algumas situações vivenciadas durante minha formação artística, anteriormente ao Xabisa, a exemplo oficinas de palhaçaria que frequentei como aluna, nos anos de 2007 a

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2012, oficinas ministradas por pessoas brancas, referencias de palhaçaria no Brasil, elas ensinavam técnicas e humor pautados no referencial euro centrado, o que causava em mim uma sensação de exclusão, sem ter a consciência racial que tenho hoje, eu tinha entendido naquela época que ser palhaça não era pra mim, mas hoje percebo que esse processo de não se sentir integrada tem mais a ver com o que se perpetuou como o ideal de palhaço. Por isso e por outros motivos, no processo do Xabisa, começamos a imaginar outra imagem de palhaço diferente do referencial tradicional europeu quando se imagina um palhaço. Se pedirmos uma pessoa para fechar os olhos e imaginar um palhaço e depois solicitarmos a ela para descrever a imagem que ela imaginou desse palhaço, é muito provável que ela vá descrever uma pessoa branca, com buchechas rosas pintadas, um nariz vermelho, boca pintada de vermelho, roupas coloridas com bolinhas ou listras, usando um sapato chamativo. Durante o processo de construção do Xabisa a gente dizia: “Vamos criar um espetáculo de palhaço preto do nosso jeitinho”. Caberia também a pergunta: Como romper o estereótipo do negro em cena nas produções de criação de palhaçaria? Através dessas motivações internas buscamos na nossa memória referencias de cômicos negros que nos inspiraram na infância e em outros momentos de vida, a exemplo o Antônio Carlos, o Mussum. No inspiramos em humoristas negros e negras da cena nacional e internacional, trouxemos para o figurino e maquiagem outras referencias, usamos roupas brancas que exalta a cor da nossa pele em cena; o nariz de palhaço é “afirmativo”- nariz preto; calçamos botas brancas que remetem aos nossos trabalhadores ancestrais das minas de ouro de Minas Gerais; nos alimentamos de filosofias negras como a da autora Chimamanda Ngozi Adichie em “Sobre o perigo da história única”. Imaginamos e somos outros palhaços. Xabisa “é nóis”, corpos de artistas negros, que praticam na própria vida movimentos insurgentes, que reverberam em nossas experiências teatrais, através da força estética contida no discurso da cena, que é permeado por isso que somos. 71


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O PATRIOTA

>> Palhaço Chouriço

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE O patriota é um número de palhaço, tragicômico, que utiliza a linguagem do circo teatro para abordar alguns feitos do atual contexto político. Tem como eixo central, resgatar o humor tradicional do circo através das gagues de palhaços, que buscam em seu enredo, entreter e trazer a reflexão ao público com uma dramaturgia simples e divertida, porém decididamente delicada, quando aborda em seu contexto temas atuais como disputa eleitoral, liberação das armas de fogo e a morte da população negra nas periferias. FICHA TÉCNICA Direção: Claudio Marcio | Concepção e atuação: Vinicio Queiroz | Trilha sonora: Dario Marques | Figurino: Claudio Marcio e Vinicio Queiroz | Cenário: Cícero Miranda | Operador de som: Thiago Dornelas | Duração: 32 minutos | Classificação Livre Transmitido no dia 14 de junho de 2021 Fotos: Divulgação | Imagem da transmissão

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CORPA TRAVA, PRETA, MARGINAL >> Tia Rafa

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Em corpa trava, preta e marginal a performer trás através de movimentos corporais e poesia autoral o resistir de corpos transgêros, pretos e periféricos em meio ao genocídio. Seus movimentos, a tinta vermelha representando o sangue de nossos antepassados e cada detalhe do cenário, atravessa o corpo e alma do espectador como um convite à luta contra o CIStema. FICHA TÉCNICA Figurino: Rafaela Augusta | Cabelo: Cíntia Silva | Filmagem e edição: ciber_org | Cenário: Rafaela Augusta e Cíntia Silva | Poesia: Rafaela Augusta |Trilha Sonora: Cafézin | Duração: 4 minutos | Classificação indicativa: 16 anos Transmitido no dia 14 de junho de 2021 Fotos: ciber_org | Imagem da transmissão

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RUA DO MODERNISMO – JARDIM TIRO AO POMBO >> Ana Raylander Mártis dos Anjos

(Belo Horizonte/MG e São Paulo/SP)

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SINOPSE Para o trabalho a pesquisadora convida duas pessoas para encenar, de forma mambembe, um tableau vivant de Abaporu (1928), obra da pintora Tarsila do Amaral. Ao passo em que ocorre a encenação improvisada de Abaporu, a artista faz a leitura de um texto dramatúrgico, que estabelece um cruzamento entre a Semana de Arte Moderna, o século XX, a modernidade, a antropofagia e sua própria história de origem no cafundó do mundo. A ação performática propõe um exercício de análise crítica sobre a semana heroica e projeta para o futuro uma preparação coletiva, cujo objetivo é não comemorarmos o primeiro centenário da Semana de Arte Moderna em 2022. O trabalho só pode ser apresentado antes do centenário da Semana de 1922. FICHA TÉCNICA Ana Raylander Mártis dos Anjos | Duração: 2:33 Transmitido no dia 14 de junho de 2021 Foto: Imagem da Artista

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MIXANDO A TRANSMASCULINIDADE >> Alê Moreira (Santa Luzia/MG)

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SINOPSE É possível ? Realmente é possível falar sobre o que somos ou como deveríamos ser ? PELASDJ por meio de colagens imagéticas e sonoplastias, fala sobre suas experiências identitárias, passando por sua expressão de gênero, sua cor e lugar onde vive. FICHA TÉCNICA Trilha sonora: @pelasdj | Direção Artística: @pelasdj | Filmagem: Luisa Salum @lusalum /PELASDJ @pelasdj/ Tamires da Mata @d_mata_ | Edição de vídeo: @pelasdj | Duração: 8 minutos e 42 segundos | Classificação Indicativa: 18 anos Transmitido no dia 21 de junho de 2021 Fotos: Alê Moreira | Imagem da transmissão

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Participar da 10º temporada da segundaPRETA foi muito gratificante, ter meu trabalho selecionado trouxe mais segurança no meu processo criativo, como também na afirmação do meu espaço na cena artística de Belo Horizonte, desmistificar o lugar da arte no contexto em que vivemos, onde são impostos diversos paradigmas na maneira de como se faz arte. Sempre encarei a arte como uma ferramenta de construção de identidade, de resistência, movimentos como a segundaPRETA colocam em cheque a necessidade que temos de cada vez mais ocupar os espaços com nossa subjetividade, não tendo vergonha de nossas narrativas, entendo que sim, somos únicos, e que o fazer artístico não possui padrões, que precisamos ampliar as possibilidades abrindo cada vez mais espaço para diversidades. Neste contexto a performance realizada na 10º temporada teve como objetivo denunciar esse não lugar imposto a nós pessoas trans/não binárias pretas, o não pertencimento a cidade, a arquitetura imposta por um estado racista baseado no consumo e em padrões heteronormativos que sustentam sistema capitalista do consumo dirigido. Minha performance vem como um levante, impulsionado pela resistência e pela necessidade de viver uma liberdade que nos foi roubada. 87


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REVERBERAÇÕES DE AFETOS, MEMÓRIAS E ANCESTRALIDADE >> Janaina Barros, Ana Elisa Gonçalves e Mariana Martins, mediação de Priscila Rezende

Conversa sobre a homenageada, Rosana Paulino Realizada no dia 05 de julho de 2021 Imagem da transmissão 89


FESTA DE ENCERRAMENTO Show de Rodrigo Negão, discotecagem de Black Josie e DJ Fê Lins e dj set de Pelas DJ Realizada em 05 de junho de 2021 no Zoom

FICHA TÉCNICA - NONA TEMPORADA Imagens: Pablo Bernardo e Pâmela Bernardo Edição e Fotografias: Pablo Bernardo Assessoria de Imprensa: Alessandra Brito Tradução em Libras: Jane Silva Equipe: Ana Martins, Alessandra Brito, Alexandre de Sena, Andréa Rodrigues, Eli Nunes, Michelle Sá, Pablo Bernardo, Priscila Rezende, Rainy Campos, Rodrigo Negão, Suellen Sampaio, Ana Martins Equipe Teatro Espanca: Alexandre de Sena, Aristeo Serranegra, Suellen Sampaio

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ENTRE-TEMPORADA #8 prosaPRETA com ROSANA PAULINO Rosana Paulino, natural de São Paulo, é doutora em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, é especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres, e Bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do programa bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e capes de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália. Como curadora realizou juntamente com Diane Lima a mostra Diálogos Ausentes no Itaú Cultural em São Paulo, no ano de 2016. Possui obras em importantes museus tais como Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM – University of New Mexico Art Museum, USA e Museu Afro-Brasil – São Paulo, e tem participado ativamente em diversas exposições tanto no brasil como no exterior. Realizada no dia 06 de setembro de 2021

>> Priscila Rezende (Mediação) Priscila Rezende é graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard. Desde 2011 atua desenvolvendo trabalhos em performance, fotografia, vídeo, instalação e objeto. Traz em seu trabalho questões de raça, gênero e identidade, tendo a presença do indivíduo negro e das mulheres na sociedade contemporânea como principais norteadores de sua produção. Em seu percurso destaca-se a atuação em diversas regiões do Brasil como Amapá, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo; e em países como Alemanha, Espanha, EUA, Holanda, Inglaterra e Polônia.

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DÉCIMA TEMPORADA

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VALDINEIA SORIANO HOMENAGEADA DA DÉCIMA TEMPORADA

>> Foto: Valmyr Ferreira 96


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Por Ana Martins e Grazi Medrado Já são quatro anos e dez temporadas. Foi outro dia mesmo. Foi ontem e ao mesmo tempo, amanhã. Essa relação com o tempo estabelecida de outra forma, sob outros saberes. Foi em 1944, 1995, 2017, 1835 e continua. São dez temporadas refletindo sobre nossos fazeres, formas e tempos. No meio disso, uma pandemia que nos fez parar, repensar, caminhar os caminhos possíveis. Aos poucos, respeitando os tempos e os tempos dos nossos. Janelas se abriram. Aproveitamos para olhar a paisagem. Esse antes-agora-depois que é nosso. E foi por essa janela que reencontramos o que nos motivou a chegar até aqui. Foi por essa janela que sentimos o vento quente que vem do Atlântico Sul. A quentura firme que sopra de Salvador até aqui. Pensamos nas pessoas que nos ajudaram a caminhar, pensamos nos que caminham há muito tempo, pensamos na Bahia. Foi de lá que buscamos, há quatro anos e dez temporadas, o Bando de Teatro Olodum. Rememoramos os ambientes sonoros que só “Cabaré da rrrraça” é capaz de nos dar. Passeamos pelas ladeiras íngremes das lembranças, e tocamos mais uma vez nossa história inspirada por eles. E pelos caminhos do Bando e de sua Terça Preta, nos movemos. Dessa viagem trouxemos para mais perto nossa homenageada da 10ª temporada, na certeza de que a segundaPRETA foi germinada, semente lançada na terra também pelas mãos de Valdineia Soriano! Val (que bom poder chamá-la assim), a menina criada num bairro de nome Liberdade. Essa mulher de timidez juvenil e beleza madura, que ao sorrir deixa os olhos miúdos. Uma atriz grandiosa e mestra na arte de ensinar, seja pela forma, olhar ou conduta. Valdineia nos educa e nos convida a não parar. Aprendiz e também professora no Bando desde o início, há 31 anos, conheceu o teatro na escola, quando descobriu que poderia 98


trocar a aula de geometria por atuação (que bom pra gente). E foi assim que ganhamos essa artista que carrega em 51 anos de vida, a experiência de contar o que viu através das personagens que construiu no teatro, cinema e televisão. Foi no cinema inclusive que Valdineia Soriano foi eleita Melhor Atriz da 50ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, quando interpretou Margarida no longa “Café com Canela” dos diretores Glenda Nicácio e Ary Rosa. Um filme cheinho de afeto e amizade, em que Valdineia derrama emoção na gente. Tão bom podermos compartilhar desse tempo-espaço-movimento de sua existência, viver esse macio e sereno que é construir prazeres sonhados antes de nós, por você e por nós. Você nos ajuda a imprimir sentido na caminhada. Nos conecta com a força ativa como só uma ancestral pode fazer, a memória do que ainda será. Importante podermos continuar, porque disso também somos feitos. Estamos em movimento. Quatro anos, dez temporadas, de volta de onde partimos. Estamos aqui, no agora, presente ancestral fabulando alegrias. Estamos e somos com essa honrosa homenageada, essa amálgama em expressão de ouro e beleza, e é com ela que vamos seguir. Laroyê!

Ana Martins é da ZN-BH, graduada em teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Mestra em Educação pela mesma instituição, professora, atriz, co-fundadora da Cia. Espaço Preto, membro da equipe de organização da segundaPRETA. Grazi Medrado é pós graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), atriz, locutora, diretora criativa, consultora de projetos e pesquisas com recorte étnico-racial, e uma das articuladoras da segundaPRETA. 99


EBÓ

>> Anderson Ferreira (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Partindo do ensinamento dos meus mais velhos de que a oferenda é um modo de devolvermos à natureza aquilo que retiramos dela para nos alimentar, esse ritual foi pensado para saudar as referências que me alimentaram por palavras, gestos, sons e imagens. Memórias em movimento. Uma pesquisa no meio das encruzilhadas. Por isso, evoco Exu para lhe oferecer uma cena, um ebó no qual eu compartilho com a rua os ensinamentos que sustentaram a minha caminhada até aqui. FICHA TÉCNICA Concepção, atuação e figurino: Anderson Ferreira | Direção: Andréa Rodrigues | Direção de arte: Daniel Colares | Edição e Suporte Técnico: Cacá Nunes | Produção: Anderson Ferreira e Andréa Rodrigues | Duração: 17 min | Indicação etária: 12 anos Transmitido no dia 04 de outubro de 2021 Fotos: Pablo Bernardo

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PROPOSTA 001 >> Alexandre de Sena

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Um exercício de des-captura. FICHA TÉCNICA Criação: Alexandre de Sena | Narração: Rafael Samoilis de Sena e José Maria de Sena | Produção: Suellen Sampaio | Câmera: Aristeo Serra Negra | Edição: Suellen Sampaio, Alexandre de Sena e Aristeo Serra Negra | Duração: 7 min | Classificação Livre Transmitido no dia 04 de outubro de 2021 Foto: Suellen Sampaio

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eu vou, porque não? me explica… proposta 001 não é um começo. trata-se de mais um passo numa busca por um processo expressivo que acontece há alguns anos. uns quarenta e poucos. sublime como a dor de envelhecer. daqui, a sensação também é de antepassos para aumentar o campo de visão. tipo a preparação do batedor de pênalti. na mesma busca que eu, na mesma busca do eu. antes de existir enquanto obra videográfica os elementos que compõe 001 já povoavam os pensamentos e o olhar. existem independente deste possível resultado.

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terapia intensa pra quem vive na fogueira. os sons, pai, sobrinho, imagens e histórias vivem enquanto processos guerreiros antes mesmo deste corpo estar por aqui. não existe razão pra essas memórias deixarem de existir. tirar o verniz do olhar, das vontades de criação e arranhar o solo do sótão sem se dar conta que a paisagem é mais ampla que debaixo de um telhado. desarmar-se da lógica comum. ouvir os cães daquele que se abrigou a léguas da cidade para ouvir os recados ainda mais distantes. à medida que envelheço um pouco, percebo que a vida é perspectiva e minha perspectiva pode ser diferente da sua. há mitos, livros, itans. há texto, tez e cores. há cheiros, fumaças e pedras. há cigarro e houve chopps. foi massa acontecer também na segundaPRETA. eu quero dizer obrigado a todos que estiveram comigo. uma criação tão só, tão eu. sou resultado das pessoas que eu amei. mas a vida não é um teatro e nem tudo é as peça. sou preto no brasil, qualquer mal pra mim é pouco. observando essa proposta tendo a pensar que não sou legível, não sou entendível. só eu posso fazer minha arte. só eu posso me descrever. essa 001 você pode assistir por aí. tem no www.picumah.com este rabisco poderia ser a 003, mas é um braço da 002 que você pode escutar no www.mixcloud.com/picumah e silêncio no caminhar. naquela dança que o que causa dor vira poeira. ô, luanda. 03 de junho de 2022 alexandre 107


CORPO TAMBOR >> Gustarra Oliveira (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Corpo tambor tem como objetivo entender as várias formas que meu corpo reage a sonoridade do tambor, para além das técnicas de dança fragmentadas em minha memória física ao longo da minha trajetória. Tento aprofundar mais essa conexão do meu corpo com o tambor, deixando a reverberação da sonoridade tomar conta de todas as movimentações. Percebo que essa vibração me permite explorar melhor tudo que posso fazer com o meu corpo, mediante aos toques que vão sendo realizado no tambor. FICHA TÉCNICA Dançarina: Gustarra Oliveira | Percussionista: Açucena Rosa | Vídeo make: Thaiany Coimbra | Duração: 18 min | Classificação Livre Transmitido no dia 04 de outubro de 2021 Foto: Divulgação

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Por Gustarra Oliveira O Corpo Tambor foi meu trabalho de conclusão de curso no técnico em dança pela Etec de Artes de São Paulo, nos anos de 2018 a 2019. Nasceu da necessidade de não deixar nossa memória ancestral morrer. Percebi que, depois de minha bisavó, eu não conheço mais ninguém da minha família que possa servir de referência ao meu passado. Então, esse foi um dos gatilhos para a criação desse trabalho. Registros são necessários para quem está chegando agora tenha a oportunidade de conhecer quem já passou e trabalhou muito para estarmos aqui nesse momento. Na prática, utilizei a sonoridade do tambor para entender o que reverberava em meu corpo. Utilizando todas as vertentes já atravessadas no meu corpo como: a capoeira, danças afrobrasileiras, danças urbanas. Enfim, um pouco de tudo o que já percorreu o meu corpo e trouxe para este corpo tambor. Poder participar da segundaPRETA, acredito que eu nunca encontrarei palavras suficientes para descrever o quão importante foi participar deste aquilombamento. Poder voltar às minhas origens, terras mineiras e apresentar esse trabalho que tanto representa a minha construção artística, de uma bicha preta e periférica. Ressaltar a memória das minhas mais velhas, bisavó, avó, tias e de toda a ancestralidade que me acompanha. Gratidão à segundaPRETA, por essa incrível experiência. E que vocês continuem fomentando os trabalhos do nosso povo preto! Asé.

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CLAMOR PARA ESTRELAS >> Dani dos Anjos (Ouro Preto/MG)

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SINOPSE Clamor para estrelas é uma carta, um manifesto, um chamamento a mulheres, em especial as mulheres pretas, para um mergulho em novas possibilidades de futuro e vida. FICHA TÉCNICA Performer: Dani Anjos | Criação, pesquisa, desenvolvimento, edição: Dani Anjos | Assistência: Claudio Zarco, e Tatiana Rosa | Captação de imagens: Claudio Zarco, Tatiana Rosa |Música: Mulher do fim do mundo – Elza Soares | Duração: 3 minutos | Indicação etária: 10 anos Transmitido no dia 11 de outubro de 2021 Foto: Divulgação | Imagem da transmissão

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Clamor para Estrelas Danielle dos Anjos

Clamor para Estrelas é um manifesto, uma carta a minhas iguais, um chamado a uma nova existência, toda a ação se desenvolve a partir do nascimento dessa carta, desse desejo de criar mundos, restaurar nossas civilizações e tomar os espaços que nos pertencem, vejo toda a vídeo performance como uma ode a esse futuro que somos nós. Na cena busco ritualizar as ações com elementos naturais em um espaço externo, em meio a uma mata, evidenciando a minha ligação em corpo e espírito a uma ancestralidade, que respeita o entorno e se fortalece por ele, há nos elementos esse lugar simbólico do ritual, a água, o fogo, a espada de santa barbara, unidos na cena se fortalecem e fortalecem o espaço que crio para mim e minhas irmãs. O corpo feminino e o samba são elementos marcantes na videoperformance, nela busco usar o corpo e suas relações afrocentradas como dispositivo de (re)existência para a proposição de mundos outros, de futuros possíveis para o corpo da negrura, ou seja, um pensamento afrofuturista que enaltece a ancestralidade em uma busca por existência futura, manifestada na cena através do samba, um dos principais elementos da identidade cultural afrobrasileira. Essa ideia expressa Sankofa, (adinkra, simbolo dos povos Akan) “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir um futuro”, uma das bases conceituais do afrofuturismo. O afrofuturismo é um movimento artístico que mistura mitologias e histórias africanas e afro-diaspóricas, teorias científicas e ficção-científica para criar narrativas que vislumbram um futuro de liberdade, autoestima, posicionamento e empoderamento negro. O corpo negro se mostra, no Afrofuturismo como um lugar de possibilidades, um lugar onde os elementos se misturam e criam, no presente, mitologias e desejos de um futuro que já foi e que ainda pode ser. Assim, através do próprio corpo no presente, na ação executada no agora, eu expresso meu desejo de futuro, trago meu corpo como aquilo que ele é: sem necessidades de definições ou questionando as definições impostas socialmente. Se corpos 116


femininos negros são lidos de forma muito limitante dentro da cultura racista e sexista brasileira, o afrofuturismo, tão fortemente presente na ação, permite que se negue esses estereótipos e se construa, através da dança, aquilo que se é. Desse modo, é possível demonstrar aquilo que meu corpo, e tantos outros corpos femininos pretos são em essência: partes de um todo que remonta aos corpos e saberes de nossos ancestrais. Ao buscar o samba, que no caso de Clamor para estrelas, um samba repleto de referências futuristas composto por batidas eletrônicas, eu busco um lugar de afeto que me remete as festividades da minha família, que sempre foram regadas de muito samba e pagode, e um retomo a uma ancestralidade coletiva, pois o samba é uma das manifestações afro-brasileiras mais forte e que se encontra em todo o país. Sambar em clamor para as estrelas é marcha, movimento de tomada, de guerrilha, mas que também é afetividade, é sensualidade e prazer, meu corpo preto enraíza os pés descalços no chão, retira da terra a energia ancestral que me permite explodir em galáxias. Como disse Giovany Oliveira em sua crítica:

“Ao tomar a ágora, a poetisa/griô/benzedeira/estadista/estelar/ artista/filósofa nos convoca a tomar o mundo na base do semba, do samba, na ginga de bamba que traça rotas impensáveis para a branquitude desavisada. Dani Anjos coreografa movimentos antigos que se forjam no futuro. A nova égide de Luísa.. Supernova.a iluminar com raios quentes o infinito das linguagens. Cometa! (OLIVEIRA, 2021)1

Ao criar Clamor para Estrelas pensava buscava os espaços que quero conhecer, as viagens que quero realizar, o futuro que sonho pra mim e minhas irmãs, mas pensava também no que me foi negado, retirado, usurpado, e que quero, que exijo a retomada, o cosmo aparece como esse lugar de possibilidades além do tempo e espaço, um lugar misterioso e fascinante que me permite sonhar esses futuros, mas também como um convite a um mergulho interno, um convite a vislumbrar e reacender a nossa chama interior, a nossa força interior, a nossa capacidade de iluminar galáxias. Clamor para Estrelas é um chamado a tomar tudo que nos é negado e a tudo que nos é permitido, pois somos capazes de construir e reconstruir as nossas civilizações e vivermos sob nossa égide. 117


ARRUDA HI-TECH >> Manu Ranilla

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE A obra musical narra a vida de Arruda, uma mulher que vive no Jardim Sonoro de Manu Ranilla, lá no silêncio do isolamento presente e no caos sonoro de dentro, um lugar cheio de anseios e ansiedade pelo futuro afora, todo em preto e branco mas cheio de verde, desverticalizando o horizonte pandêmico. FICHA TÉCNICA Trilha: Arruda Hi-Tech e Manu Ranilla | Vídeo: Manu Ranilla | Performance: Manu Ranilla | Composições: Manu Ranilla 1Arruda 2- Sonho | Duração: 8 min | Classificação livre Transmitido no dia 11 de outubro de 2021 Foto: Lucas Alex

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Por Manu Ranilla Integrar a programação da 10a TEMPORADA da segundaPRETA foi mais que simbólico, foi conectar fortemente com caminhos abertos, conectar sem pressa e com muito afeto, foi celebrar a trajetória de uma artista tão especial e com tanta história como VALDINEIA SORIANO e foi potencializar quem tá chegando, quem chegou e quem está por chegar com sua arte que movimenta dentro e fora o povo preto. Ser parte desta edição apresentando a Arruda Hi-Tech que tanto celebra a fé na performance, na música e na arte, nos levando revitalizar a alma em tempos sombrios, e sobre o tempo, sabemos que eles são outros, e que é puro movimento. O tempo, o movimento que nos leva a tantos caminhos; alguns de louvor engasgado, que é fruto da resistência de muitos antepassados e hoje reverbera numa espécie de legado impresso no nosso criar. Deixar falar o corpo, a gente como parte da natureza e a gente como gente foi o que mais reverberou na noite da exibição de “Jardim Sonoro”, “Clamor Para As Estrelas” e “Ex-Tinto”. Apresentar Arruda Hi-Tech neste solo da segunda preta, ao lado de artistas incríveis e admiráveis, me trouxe ao tempo presente para refletir o quanto nossa arte dialoga e firma o pacto de colocar pra fora o que nos atravessa nesta existência.

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ex-tinto

>> Rodrigo Antero (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Antologia de um corpo orgânico: negro-preto Inundado, soterrado, suplantado por um universo branco de plásticos o córpo negro quer se libertar, decolonizar e transpessoalizar o por vir… Corpo território em busca de derivar… Performatização da memória: eu-com-o-outro-no-mundo Experiência Relacional: Ambiente: Terra: Enraizamento: Então Corpo Árvore (rodrigos anteros) FICHA TÉCNICA Concepção e performer: Rodrigo Antero | Vídeo: Wagner Pinheiro | Trilha sonora: Gustavo Felix | Fotografia: Wagner Pinheiro | Produção: Jéssica Borges, Marcella Pinheiro e Pedro Henrique Antero | Duração: 28 minutos | Indicação etária: 18 anos Transmitido no dia 11 de outubro de 2021 Foto: Wagner Pinheiro

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ex-tinto

antologia de um corpo orgânico: negro-preto inundado, soterrado, suplantado por um universo branco de plásticos o córpe negro quer se libertar, descolonizar e transpessoalizar o por vir... atitude relacional: alteridade. corpo território em busca de derivar... performatização da memória: eu-com-o-outro/a/e-no-mundo experiência de empretecimento: ambiente: terra: enraizamento: então, corpo-árvore. (rodrigos anteros)

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A obra ex-tinto é uma performance negra autobiográfica concebida em 2018, um desdobramento de uma pesquisa artística que venho desenvolvendo desde 2014. A obra faz parte de uma trilogia chamada Projeto Córpe (corpo-copo-descartável) constituída pelos trabalhos: Projeto Servir, Ex-Tintos e ex-tinto e uma série de fotografias sem título de copos brancos descartáveis em espaços públicos e privados. Essa trilogia tem na materialidade do copo descartável branco o dispositivo central da criação. Especificamente em ex-tinto, construí um tipo de mascaramento: me embalo num invólucro cheio de copos brancos descartáveis, que pode ser um saco de lixo (córpe-lixo) ou o casulo de um ser prestes a se metamorfosear. A performance trata-se de residir nesse mascaramento involucrar. Dentro do invólucro permaneço durante um tempo em relação, contato e convivência com os copos descartáveis brancos que geram desconfortos em mim: ferem meu corpo e pele negra e, promovem uma experiência de quase asfixia ou sufocamento pela falta de ar dentro do espaço fechado. Ao longo da ação, vou dançando a libertação, me despindo do invólucro cheio de copos, movência para a metamorfose ou renascimento. Liberto, o ser negro rasteja até um monte de terra para fazer um ritual de empretecimento: - retomada da ancestralidade negra que recorrentemente é ameaçada pelo perigo da extinção. Quero refletir a partir da minha existência no mundo sobre a perspectiva de corpos, memórias e subjetividade negras, indígenas e LGBTQIA+, que sofrem historicamente no Brasil devido à invisibilidade, ao apagamento, ao genocídio e extermínio em massa devido aos processos de colonialização, escravização e capitalização dessas humanidades. Frantz Fanon em seu livro Pele negra, máscaras brancas coloca em questionamento: O que quer o homem negro? Essa pergunta repercute e atravessa toda a trilogia em reflexões sobre as presenças e existências no mundo que sofrem inferiorização, marginalização, subalternização concernentes as perversidades do racismo estrutural. Quantas máscaras brancas uma pessoa negra precisa utilizar ao longo de sua vida para que possa ter melhores oportunidades, existir e sobreviver no mundo? Vivemos uma extinção sistêmica de nossas humanidades agenciada por uma branquitude colonizadora que ainda se perpetua por meio de atos de higienização e eugenia, condicionando o desaparecimento e a descartabilidade de pessoas negras e indígenas, seus saberes e culturas. Com a pandemia de Covid-19, a obra ex-tinto foi completamente afetada, ganhando um formato de vídeo-performance. Ao perceber os altos índices de mortes da população negra e indígena no Brasil, pelo descaso escancarado e deliberado do Estado, bem como pela ausência de políticas públicas efetivas de proteção à vida e à saúde, recriei o trabalho para manifestar o direito ao luto que não tivemos no Brasil, nesses tempos sombrios: uma saudação aos córpos, córpas e córpes pretos/as/es e indígenas mortos/as/es pela pandemia. 125


BOA PARTE DE MIM VAI EMBORA >> Coletivo Corporeidade (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Uma artista jovem-adulta, enfrenta dilemas acerca da percepção do tempo na humanidade e em seu processo artístico, após uma reflexão desencadeada por uma frase escrita em um ônibus, ela parte para um processo de redescoberta artístico-pessoal, na tentativa de ‘Afetar’ o mundo, através do movimento. FICHA TÉCNICA Diretora, roteirista, Câmera: Massuelen Cristina | Roteirista, Câmera: Vitú de Souza | Editor e Montagem: Kaio Braga | Produtor: Luís Otávio | Atriz principal: Papillon | Figuração e efeitos especiais práticos em cenografia: Nathan Motta | Duração: 15 minutos | Indicação etária: 12 anos Transmitido no dia 18 de outubro de 2021 Foto: Divulgação

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Por Kaio B., Luis Xavier, Massuelen Cristina, Polliane Martins, Vitor Medeiros O que vai e o que fica? Digo do tempo, das pessoas e dos lugares. Boa parte de mim vai embora, todos os dias. Acordo às quatro da manhã, pego ônibus às cinco, trabalho o dia todo, quando chego em casa faço comida, durmo e reinicio meu ciclo acordando às quatro da manhã. Boa parte dos brasileiros, vem repetindo esse ciclo, nos últimos anos, seja pela pandemia, ou pelo sucateamento do nosso trabalho, de nossas mentes e de nossos corpos. Todos os dias a reclusão de sonhos, a falta de contato físico (consentido) a rotina frente a falta de opção e segurança. Todos os corpos negros nascem e morrem cotidianamente de forma desigual, a cada noticia, a cada palavra não dita e a cada palavra ferida, todos os corpos negros seguem sendo vitimas, sendo “linha de frente” nessa guerra invisível, a pandemia criou um trincheira social, todo negro é fronte de um barreira que nunca pode ser derrubada. Qual a realidade iremos encontrar nos livros futuramente? Quem vai contar a história, dos milhares brasileiros que não puderam cumprir o distanciamento social, porque tinham que trabalhar ? Boa Parte De Mim Vai Embora é um curta-metragem criado a partir de uma ficção, distópica, é um diálogo sobre medo, sofrimento, perda e coletividade, num período de instabilidade onde a própria realidade se confunde com uma cruel alegoria de rotina exacerbada. A rua é o cenário escolhido para contar essa história, a rua é uma grande extensão de coletividade, onde propósitos distintos unem uma gama de corpos que só procuram o mesmo destino: lar. Uma coletividade muitas vezes apagada, deturpada e uma imagética livre que tem todos os dias significados distintos para quem a perpassa. 129


CURTA-PERFORMANCE MULHERES MEMÓRIAS >> Emiadê e Maya Estrela (Uberlândia/MG)

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SINOPSE Com 3 anos de vida, a performance Mulheres Memórias, criada pelo artista Emiadê, trazia consigo um rito de louvação sobre memórias afetivas, comidas, objetos, cheiros e lembranças, criando um espaço interativo com o público. Porém com a impossibilidade de aglomerações a partir do surgimento da pandemia COVID-19, o desafio foi inserir todas as experiências que a performance proporcionava presencialmente, numa tela de celular. Com o incentivo do Prêmio Alcides Mesquita e com duração de aproximadamente 15 minutos, o curta-perfomance Mulheres Memórias surgiu da necessidade da adaptação dos artistas nesse novo normal. O filme utiliza as cidades de Santos e São Vicente como cenário e trata de maneira poética temas importantes como: a morte, a presença da mulher no vínculo familiar e os conflitos do trabalho doméstico. Além disso, o performer Emiadê homenageia todas as mulheres que atravessaram sua vivência e formação humana. FICHA TÉCNICA Incentivo: Prêmio Alcides Mesquita na Secretária de Cultura de Santos | Performance, edição de som e imagem, mixagem, roteiro, composição, arranjo musical e direção: Emiade | Produção geral, direção, fotografia e captação: Maya Estrela | Vozes: Rosemeire Aparecida de Oliveira dos Santos, Risoneide do Nascimento e Rosenalva Rosa do Nascimento | Agradecimentos: Nunes Bananas e Shopping das Frutas | Duração: 16 minutos | Classificação livre Transmitido no dia 18 de outubro de 2021 Foto: Divulgação

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“ ” Por Emiadê

“Mulheres Memórias” é uma obra de teatro performance que teve início em 2018, com autoria do multiartista Emiadê. Dialoga com as histórias contadas por Rosemeire (mãe), Rosineide (tia-avó) e Rosenalva (tia-avó, in memoriam), relatando a vida e o trabalho dessas três mulheres negras, pobres e periféricas, que teve em comum o trabalho doméstico. Parte de uma pesquisa do artista em registrar os relatos, utilizar elementos, como comidas, cheiros e visualidades, que fazem parte da construção dessas memórias e incorporadas no ato performático. A obra tem como construção um percurso entre passado em confluência com o presente, em que o performer EMIADÊ homenageia todas as mulheres que atravessaram sua vivência e formação humana, desde as mulheres deste plano às yabás. Nesse rito de louvação, traz consigo muitos elementos significativos na construção do trabalho - a memória afetiva de comidas, objetos, cheiros e lembranças guardadas no fundo do baú, resgatando essas memórias em cena e criando um espaço interativo com o público. Entre os anos de 2018 e 2019, foi possível apresentar a obra de maneira presencial e com público. Por conta da pandemia da COVID-19, em 2020, a obra teve que se adequar na linguagem audiovisual e no mesmo ano foi produzido o curtaperformance “Mulheres memórias”, gravado na cidade de Santos/SP e São Vicente/SP, com financiamento da Lei Aldir Blanc e produção executiva de Maya Estrela. A obra tem duração de aproximadamente 16 minutos e é livre para todos os públicos.

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ALZIRAS

>> Regiane Farias e Hellt Rodrigues (Betim/MG)

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SINOPSE O curta metragem Alziras, é um experimento áudio visual. A mãe, o filho, a casa e o tempo. Todos à espera do marido que nunca volta. Como um rito ancestral, a artista Regiane Farias se faz Alzira, mais uma viúva de marido vivo. Condição histórica do feminino de sua região, Alzira são todas aquelas que se põem a guardar o lar enquanto aguardam aquele que possivelmente não volta. Esse curta é uma ação cênica performativa, que assume a linguagem do áudio visual, surge inspirada pela obra homônima do mestre ceramista Ulisses Mendes, natural de Ipatinga/MG. FICHA TÉCNICA Concepção original a partir das obras: Escultura de cerâmica Alzira do Mestre Ulisses Mendes |Poesia Alzira de Regiane Farias e da montagem cênica: Alzira um poema cênico, dirigido por Flávio Rabelo | Concepção do vídeo: Regiane Farias, Helbert Rodrigues e Gregório Hernandez Pimenta | Atores: Regiane Farias e Kairu Zuri | Pesquisa e Dramaturgia: Regiane Farias | Assistente de Pesquisa e produção: Maria Luisa Farias e João Vitor Nonato | Direção de fotografia: Helbert Rodrigues | Direção de Arte: Helbert Rodrigues | Figurino: Acervo pessoal | Edição: Helbert Rodrigues | Orientação: Gregório Hernandez Pimenta | Participação especial: Alziras | Duração: 20 minutos | Indicação etária: 16 anos Transmitido no dia 18 de outubro de 2021 Foto: Divulgação | Imagem da transmissão

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EM CASA

>> Marilda Cordeiro (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Utilizando os espaços em casa, Marilda Cordeiro, propõe um experimento corporal no qual sugere a desconstrução e reconstrução do conceito de espaço de/e para dança. Em tempos de pandemia, este é o novo palco! FICHA TÉCNICA Marilda Cordeiro – Dançarina | Débora Costa – Videomaker, Edição e produção | Duração: 3 minutos | Indicação etária: 18 anos Transmitido no dia 25 de outubro de 2021 Foto: Débora Costa

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Por Marilda Cordeiro O vídeo “Em Casa” é uma soma de duas ideias e duas habilidades artísticas de Débora Costa artista visual e Marilda Cordeiro dançarina, companheiras de vida e luta, que tentaram driblar esse momento de confinamento por causa da Pandemia, tornando os espaços de casa em espaços de arte, desaguando desejos, expressões e frustrações através do movimento corporal, que resultou em vídeo dança. O projeto “Em Casa” refletiu, analisou e experimentou a dança e as possibilidades de movimentos corporais nos espaços da casa de Marilda Cordeiro, que agora não se movimenta e nem se comunica como antes. Nós vivenciamos e experimentamos a dança, os movimentos e as imagens em vários cantos e pontos dentro de casa: o quarto, a sala, o corredor, a cozinha ou até mesmo o banheiro, buscando um trabalho de aperfeiçoamento na criação e improvisação corporal.

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Busquei neste projeto uma compreensão do corpo como o espaço íntimo, que expressa o passado, os desejos, os anseios, a dor, o medo, a saudade e as alegrias vividas nesta casa. Um corpo negro que está intrinsecamente ligado com esses espaços para desconstruir o conceito de espaço socialmente padronizado para dança e reconstruir o conceito de memória familiar. Cada cômodo trouxe em si a construção de uma nova narrativa, que contém uma relação com o passado, o presente e o futuro. Pretendeu-se valorizar e compartilhar as histórias da casa da minha família, como forma de afirmação da identidade negra e da força ancestral. Apresentar este vídeo na 10ª temporada da segundaPRETA foi muito importante, porque além de mostrar a arte foi um espaço de compartilhar, partilhar, dividir com outros artistas negros de linguagens corporal diversas e com muito respeito e valorização. Estar junto com uma artista visual como Débora Costa é uma experiência muito rica pra mim enquanto dançarina. É ter junto com meu corpo as lentes e o olhar dela que resulta nesta maravilha que é o vídeo “Em Casa” e outros que estamos experimentando e produzindo juntas. É o olhar e a direção da Débora para meus movimentos corporais com a responsabilidade de transmitir ao telespectador sentimentos, emoções e sensações. Este espaço da segundaPRETA é uma oportunidade muito necessária para o artista negro mostrar sua arte, falar da sua trajetória artística e trocar experiências. A segundaPRETA é um espaço de grande representatividade da arte e cultura negra de/e para BH. Participar junto com Débora Costa foi uma oportunidade para entender que estamos em um território PRETO”, com liberdade de problematizar, de discutir, de nos expressar, de dividir e reverenciarmos uns aos outros enquanto artistas negros. Falar da arte educação e em especial do Valores de Minas foi de muita emoção pra mim que fui professora do Valores e encontrei neste bate papo, alunos e professores do mesmo espaço e de gerações diferentes. Foi um prazer participar da segundaPRETA e compartilhar do que eu mais gosto de fazer, que é dançar e mesmo na pandemia nossos corpos negros não pararam. Dançar é viver e segundo Martha Graham “A dança é a linguagem escondida da Alma”. Parabéns Rainyi pela coordenação do bate papo, à toda produção e realizadores da segundaPRETA. 141


CANTO DE OXUM >> Isadora Hadassa (Betim/MG)

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SINOPSE “É sobre (re)descobrimento… entrega. Esse solo que eu carrego, que as vezes não cabe no peito, mas cabe no corpo. A primeira vez que eu e ele nos conectamos foi em 2017, na minha formatura do CEFART, com outras expectativas, experiências, vivências, e ele me obrigou; de uma forma doída [mas linda] a me achar. Com a ajuda da minha turma de dança, meu professor Rodrigo Antero e o coreógrafo Pedro Romero, o solo não só me achou como me elucidou, trouxe a negritude que era apagada diariamente nos espaços embranquecidos nos quais eu vivia, trouxe meu cabelo de volta e venho amadurecendo isso desde então. Assim como oxum, redescubro o poder que a água e sua conexão com ela me permitem, tento trazer o poder feminino através do arquétipo da mulher elegante e amorosa, mas também inteligente, determinada, persistente e desinibida. Oxum transborda e minha arte transborda nela. FICHA TÉCNICA Bailarina: Isadora Hadassa | Coreografo: Pedro Romero | Filmagem e Edição: Bernardo Gasparini, Agatha Madrigal e Glaydson Oliveira | Musica: Maria Bethania | Duração: 4 minutos | Classificação livre Transmitido no dia 25 de outubro de 2021 Foto: Agatha @mmmmmadrigal_

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Por Isadora Hadassa É sobre (re)descobrimento, entrega Oxum que as vezes não cabe no peito, mas transborda pelo corpo Ela reina as águas doces, e pela água renasço Entre mergulhos e afogamentos suspiro novamente Me encontro em raízes que remetem ao Rio Osun Bebo novamente da ancestralidade, me vislumbro Se recobrar, se afogar, se consentir é lindo...as vezes dói A descoberta gera a concessão de um novo corpo Consciente de si, consciente da água Oxum elucida a alma, escuto o canto que desacorrenta o espírito Que desata a sabedoria e o poder do feminino Torrentes que trazem a libertação do meu eu Que lavam e ao mesmo tempo purificam o meu ser As bençãos nos mananciais de águas cristalinas São as mesmas que recebo e me iluminam no meu novo corpo consentido Me descubro uma fiel, fiel da mulher determinada e gloriosa que me tornei Mudanças estas após tantas temporadas de cheias Entretanto, logo após a cheia, vem a calmaria, e novamente posso respirar Descobrindo uma nova pessoa transformada pelo amor e também pela dor Conhecer a si é um processo É como a água que ultrapassa todos os osbstáculos em seu percurso Mas que mesmo diante de tantas dificuldades, ela chega em seu destino Para que o ciclo da vida gire novamente, assim como o ciclo da própria água.

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MATRIZ

>> Cia. Hator

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Inspirada nas obras de Basquiat, Matriz é uma performance de dança que busca expressar o sentimento despertado em cada traço, risco e cor das obras onde a contemporaneidade negra é tão presente. FICHA TÉCNICA Direção cênica: Glaucio Oliveira, Isabella Nunes | Direção de arte: Leandro De Sá | Direção e edição de vídeo: Indiane Gregório | Produção: Felipe Augusto | Direção de Texto: Daniela Santos, Denner Miranda | Coreografia: coletiva | Duração: 10 minutos | Indicação etária: 14 anos Transmitido no dia 25 de outubro de 2021 Foto: Douglas Santana

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“ ” Por Glaucio:

Uma construção muito suscinta mas muito importante. Com esse retorno após esse tempo difícil de isolamento, nós, como artistas, tivemos parte das nossas ideias armazenadas visando os trabalhos que viriam e, em “Matriz” nos seguramos pra não fugir tanto da proposta, com turbilhões de desejos e ideias, que era referenciar o artista Basquiat e suas obras através da linguagem que trabalhamos. Estar de volta era muito importante pra gente e “Matriz” foi um trabalho novo e desafiador, de como foi pensado e o formato que seria desenvolvido e apresentado. Por Felipe: Foi um trabalho interessante e satisfatório fazer. Eu me envolvi bastante nas ideias que nós do coletivo tivemos, confesso que senti uma euforia maior porque estávamos muito tempo sem se ver por motivos da pandemia e afins. Nossos encontros foram a melhor parte devido ao espaço que nos foi liberado, ajudou nas ideias e ensaios e matamos a saudade, enfim gostei muito do trabalho entregue. Por Leandro: Foi uma experiência muito reconfortante uma vez que nos encontrávamos em uma pandemia e não realizamos trabalhos por um tempo, a ideia de fazer uma obra filmada nunca foi realizada dentro da companhia por ser fora das nossas condições em relação a ambiente e equipamentos, porém decididos mergulhar de cabeça nessa proposta e encaramos com o que tínhamos, gravamos com celular em lugares públicos e no final experimentamos algumas edições, mas foi um resultado bem positivo pra gente, reconhecemos muito a oportunidade que recebemos nesse edital da segundaPRETA.

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RESSONÂNCIA

>> Glaucio Oliveira e Leandro Sá (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Um Pas de Deux contemporâneo sobre a relação de um casal preto homoafetivo. FICHA TÉCNICA Elenco: Glaucio Oliveira, Leandro de Sá | Direção: Glaucio Oliveira e Leandro de Sá | Coreografia: Glaucio Oliveira, Leandro de Sá | Duração: 3 minutos | Indicação etária: 12 anos Transmitido no dia 25 de outubro de 2021 Foto: Leandro de Sá

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Por Gláucio e Leandro A oportunidade de apresentar um trabalho é sempre bem-vinda, ainda mais em um país que não valoriza a arte como deveria, e isso se intensifica quando se pode apresentar uma obra que relata o amor preto e o amor homoafetivo. É de extrema importância que projetos como a segundaPRETA continuem porque ele abre espaços e dá muita voz a grupos que muita vezes não tem onde se expressar, e isso não foi diferente pra gente. Nessa proposta podemos discutir vivências do nosso dia dia e ainda realizar coisas que não podemos em outros ambientes, como por exemplo o pas de deux entre dois homens, que não existe no ballet clássico por já vir com uma carga machista e patriarcal em sua composição. Foi uma realização pra gente, e por isso somos muito gratos pela oportunidade, foi um trabalho criado na pandemia, então os recursos foram escassos, porém conseguimos criar algo que ficamos satisfeitos com o resultado, foi um processo gostoso de fazer e bom por vir em um período tão difícil como foi a pandemia.

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ABEL

>> Peixes sem aquário

(Betim/MG)

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SINOPSE Dizem que ” o que os olhos não veem o coração não sente…” digo o contrário, o que os olhos não veem há milhares de corações sentindo tanto, tanta dor e sofrimento. Você que lê essa sinopse, olhe para o lado. Você conhece a história dessa pessoa que vive na sua casa por tantos anos? Que você insiste em dizer que conhece. Sabe a história por debaixo dos panos ou por debaixo do seu nariz? Você pode imaginar o que pode acontecer…? Ainda mais algum desconhecido que passa pelo seu lado, sabe da história deste? dos seus estigmas, consegue identificar um trauma físico e psicológico em alguém? Imagina seus pesadelos, digo pesadelos da vida real. Já olhou nos olhos de uma criança e sentiu que sua inocência foi arrancada delas. Vale ressaltar que essas crianças desenvolvem super poderes: Auto-sabotagem, macrófobia, bipolaridade, depressão crônica, raiva, ódio, vontade de morrer, vontade de matar. FICHA TÉCNICA Direção: Direção coletiva | Roteiro: Minerva, Douglas Rosalino & Arthur Rogério | Edição: Minerva | Direção de arte: Thales Brener Ventura | Dramaturgia: Arthur Rogério | Figurino: Arthur Rogério & Douglas Rosalino | Trilha sonora: Minerva | Atuação: Arthur Rogério | Agradecimentos: Vania Alexandra de Souza, Carme Lúcia Mileno Soares, Heberson Lima de Oliveira, Leonardo Rosalino, Rhangel Rocha, Dara Borges & Bia Nogueira | Duração: 6 min | Indicação etária: 16 anos Transmitido no dia 01 de novembro de 2021 Foto: Divulgação

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Por Arthur Rogério Esse trabalho pra mim foi uma grande descoberta. Poder ser esse personagem, viver tal dilema, algo que acontece com tantas e tantas pessoas mundo afora. Foi um processo de pesquisa muito intenso, muita pesquisa. Nossa proposta era fazer algo bem real, algo que as pessoas que passaram por isso, pudessem de alguma forma se identificar. Mergulhar nessa dor, adentrar no universo desse personagem, me fez ver a vida de outra forma. Por Minerva O trabalho foi feito em conjunto. O Arthur Rogério me deu uma perspectiva de filme de terror e até pensamos em caracterizações que pudessem trazer esse teor, entretanto, conta a história de algo que é cotidiano, diário e que, não é praticado por monstros, mas por pessoas e que, esse é o fato mais aterrorizante. A partir disso tivemos reuniões e desenvolvemos o roteiro. Foi quando, mesmo antes de ter as cenas gravadas, eu já consegui pincelar o que viria a ser a edição de vídeo e som. Algo que desse o dinamismo necessário para um curta-metragem, que trouxesse uma carga de terror, com áudios desconexos e perturbadores, bem como engrandecesse a magnífica atuação feita por Arthur Rogério. A edição foi difícil, tiveram cenas extremamente fortes e bem conduzidas pelo Douglas Rosalino, mas que para o todo do curta, não foram incluídas na edição final do trabalho. É sempre complicado abrir mão de algo que sabemos que é bom, mas também entendemos a necessidade de priorizar um todo e fazer dele algo coerente. Na edição eu optei por brincar com os tempos, às vezes em câmera lenta, às vezes muito rápidos, repetições e dar o devido destaque aos olhares da personagem. Busquei um equilíbrio para tentar trazer um aspecto sufocante, amedrontador, de que sempre há algo à nossa espreita e ela vai nos pegar a qualquer momento. Os sons foram pensados para crescer essa sensação. O Paulo Monteiro fez um noise especialmente para ser trabalhado no curta. Eu não via outra opção além de rangidos, barulhos, sons de guerra, porcos urrando a caminho do abate, para dar a dimensão bizarra e ilustrar, compor o imaginário da própria personagem. 157


EXERCÍCIOS PARA SE LEMBRAR, BRANQUEAMENTO OU AÇÃO REPETIDA DE CUIDAR >> Geovanni Lima (Vitória/ES)

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SINOPSE A partir de sua condição enquanto sujeito negro e levando em consideração o racismo estrutural presente na construção social brasileira, Geovanni Lima revisita três memorias com experiências racistas de sua infância e adolescência, reposicionandoas e as tornando experiências de autocuidado. Por meio da ancestralidade presente na utilização de ervas e óleos o artista propõe um experimento afetivo/social que gera cura. FICHA TÉCNICA Performer/Argumento / Frederico Farias – Iluminação / Paula Barbosa – Fotografia: Geovanni Lima | Duração: 40 min | Classificação livre Transmitido no dia 01 de novembro de 2021 Foto: Divulgação

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Por Geovanni Lima A performance Exercício para se lembrar, Branqueamento ou ação repetida de cuidar, de 2019, rememora um acontecimento que considero como marco fundador para a formatação de minha condição de sujeito preto. Foi a primeira performance que realizei em meu cotidiano que objetivava o estabelecimento de um estado de resposta às práticas violentas que vinha sofrendo – sustentada pelo enfrentamento ao repertório dominante praticado por sujeitos brancos, abandonando um estado passivo e assumindo uma postura defrontante. Estando no ambiente escolar e sendo um dos poucos alunos pretos, sempre tive associadas a mim características pejorativas, como no caso que narro a seguir. Todos os dias, na escola em que estudava, mais precisamente no bloco onde ficava a sala de aula que frequentava, sentiase um cheiro muito forte, como se de alguma maneira e em algum lugar no ambiente existisse um animal em processo de putrefação. O odor era tão intenso que após horas era naturalizado. Por um longo período tentou-se atribuir causas àquele cheiro, e todas as tentativas foram ineficazes. Até que um dia, sem nenhuma explicação plausível, atribuíram o cheiro a mim – hoje tenho consciência de que essa atribuição se articulava a uma imagem de controle praticada socialmente, que associava a sujeitos pretos odores desse tipo. A partir de então, em todo começo de aula eram escritos recados em pedaços de papel, colocados na carteira onde me sentava, com dizeres que, em resumo, me orientavam a realizar uma melhor higiene pessoal para que “meu fedor” não invadisse o espaço de outras pessoas presentes no ambiente escolar. Esses bilhetes duraram algum tempo e logo deram lugar a cartazes escritos e colocados nas paredes da classe onde estudava, bem como a mensagens públicas no quadro de giz. Essa situação foi tomando uma proporção tão significativa que, ao transitar pelos diversos ambientes da escola, eu já estava sendo comumente tratado como “fedido” e sendo isolado até por “amigos”. Mais uma vez, meu nome perdeu o lugar para um xingamento. Diante de todo esse processo de violência, mesmo sem entender a estrutura que o sustentava, decidi revidar. Lembro-me do esforço para guardar o dinheiro que ganhava de presente da minha avó quando a visitava, com o objetivo de comprar o maior número de desodorantes que conseguisse. A 161


escolha por esse item se deu no sentido de que, já que era o meu corpo que fedia, era sobre ele que precisava aplicar algum mecanismo que resolvesse o problema. O processo para que eu conseguisse o valor monetário de que necessitava durou quase um mês e meio, já que não era todos os fins de semana que frequentávamos a casa de minha avó. Então, em um dia comum, chegando à escola, e sendo recebido em coro por pessoas que diziam “Geovanni Fedorento” na porta da sala, esperei que todos entrassem, inclusive a professora. Levanteime com seis desodorantes aerossol nas mãos e me pus a usálos na frente da turma até que os frascos se esgotassem. A sala permaneceu em silêncio, a professora pareceu não entender nada, e naquele dia o ambiente ficou impregnado com uma fragrância tão insuportável quanto o odor que ninguém sabia de onde vinha.

Reiterando os acontecimentos relatados anteriormente ao contato com o sistema da arte, especificamente partindo da utilização repetida de desodorantes aerossol, desenvolvi a performance Exercícios para se lembrar, Branqueamento ou ação repetida de cuidar, em 2019. A ação se constitui de três atos performáticos subsequentes: No primeiro ato, vestido com calça e camisa branca, permaneço sentado diante de um recipiente com seis frascos de desodorantes aerossol. Um áudio é disponibilizado no ambiente com o relato da experiência que vivenciei na escola, e à medida que o comportamento que adotei vai sendo narrado, retiro completamente a roupa, expondo meu corpo nu, e faço a utilização dos desodorantes, esgotando-os. O processo de aplicação não se limita às axilas, estendendo-se para todas as partes do meu corpo. No segundo ato, na tentativa de minimizar os danos causados pela utilização exagerada dos desodorantes, recorro a uma prática ancestral para atenuar as irritações que os mesmos me causaram. Nesse momento da performance, produzo um banho de óleos, e aplico sobre a pele irritada a essência concentrada de óleo de arruda com azeite extravirgem. A ação performática desse ato iniciase comigo nu, diante de um recipiente vazio, e azeite, essência de arruda e algodões em discos dispostos ao lado. Após a preparação da mistura (essência e azeite), aplico-a, utilizando os discos de algodão, nos locais onde houve a utilização dos desodorantes e há irritações causadas pelo seu excesso. Por fim, no terceiro ato, ainda na perspectiva dos cuidados ancestrais, na sequência da aplicação do óleo de arruda, preparo um banho 162


de sete ervas, com guiné, arruda, alecrim, colônia, abre-caminho, manjericão e alfazema para que possa me lavar. Ainda nu, diante de dois recipientes, um maior para que possa acomodar meu corpo em pé, e um menor com água quente e as ervas a serem maceradas, realizo o preparo de um banho. De joelhos diante do recipiente menor, macero as ervas e as misturo com a água quente. Assim que esta fica morna e pronta para ser utilizada, e tendo as essências das ervas já sido incorporadas ao conteúdo, em pé, dentro do recipiente maior, aplico o preparo sobre o corpo, respeitando o limite do pescoço até os pés. Após a finalização do banho, retornando à posição inicial, me visto novamente com as roupas brancas e me sento no local onde a performance se iniciou. Os atos performáticos são subsequentes, e os recipientes são organizados de maneira triangular, o que me possibilita seguir esta ordem de execução: desodorantes, óleos e banho de ervas. O estigma de feder, a exemplo das questões abordadas por outros artistas da performance, compõe uma rede de significantes integrada ao cotidiano social ao qual o corpo preto está submetido. Acontecimentos como esse descritos acima apontam para as estratégias adotadas pela branquitude para tentar animalizar corpos pretos, e fazem com que negros, negras e seus descendentes sofram ainda na contemporaneidade por uma questão que se reduz estritamente ao imaginário tecido sobre esses corpos. *Este texto é um desdobramento da dissertação intitulada Exercícios para se lembrar: a performance como método para a elaboração de subjetividade, orientada pelo Prof. Dr. Gilberto Alexandre Sobrinho e defendida em julho de 2021 no Programa de PósGraduação em Artes Visuais da Unicamp. Geovanni Lima Artista e Performer; Doutorando (2021-2025) e Mestre em Artes Visuais (2021) pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP; Especialista em Artes na Educação pela Faculdade de Vitória (2021); Licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES (2014 2018). Indicado ao Prêmio Pipa (2021, júri especializado) e finalista do Prêmio Pipa Online (2021, voto popular), com participação em diversas exposições, mostras e festivais no Brasil e exterior. Membro dos grupos de pesquisa CNPq/UFES: Diálogos entre Sociologia e Arte /DISSOA e Entre - Educação e Arte Contemporânea. É um dos proponentes do projeto PERFORME-SE - Festival de Performance, além de coordenar o Festival Lacração - Arte e Cultura LGBTQIA+. 163


AO MEU CORPO >> Rodôlfo Aquino

(Senador Rui Palmeira/AL)

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SINOPSE O experimento de dança contemporânea, “Ao meu corpo” é um mergulho profundo nas narrativas afroqueerentradas de bixas pretas que constroem e tecem suas existências a partir de poéticas políticas de estéticas negras LGBTQIA +. Traçando uma narrativa performática por meio de atravessamentos urbanos e sócias que afetam corpos negros. Dançar o eu/corpo é um chamamento ancestral para torna-se eu/negro/corpo. FICHA TÉCNICA Bailarino/Performer: Rodôlfo Aquino | Trabalho em co-autoria: Jadiel Ferreira | Autor: Rodôlfo Aquino | Captação e edição de imagem: Jadiel Ferreira | Direção: Jadiel Ferreira | Trilha Sonora: Jadiel Ferreira | colaboração trilha sonora: Bruno Brandão | Créditos: Vozes/leituras de poemas e textos: 1. Anarielly Santana: poemas e textos Ao meu corpo (Rodôlfo Aquino), Testando (Rodôlfo Aquino), Ausência (Louise Queiroz), Recordar é preciso (Conceição Evaristo), Descalço (Louise Queiroz), Filhos na rua (Conceição Evaristo), Á bala (Lívia Natália) - 2. Pedro Ivo: Diásporas (Pedro Ivo), Mordaça (Pedro Ivo), Mojubá (Pedro Ivo) - 3. Rodôlfo Aquino: texto Torna-se Negro | Duração: 17 min | Classificação livre Transmitido no dia 08 de novembro de 2021 Foto: Divulgação | Imagem da transmissão

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AO MEU CORPO1 Rodôlfo Aquino

0 experimento de dança contemporânea de estética negra, “Ao meu corpo”, é um mergulho profundo nas narrativas de danças Desobedientes afroqueercentradas de bixas preta que constroem e tecem suas existências a parti de poéticas políticas de estéticas negras LGBTQIA+ (Santos,2018). É a partir deste diálogo com a perspectiva metodológica para pesquisar, criar e dançar Dança Desobediente (Santos,2018) que Tranço uma narrativa performática por meio de atravessamentos urbanos, culturais e sociais que afetam corpos negros. Dançar ao meu corpo é um chamamento ancestral para afirmar e torna-se eu/ corpo/negro/gay em movimentos que me conecta a experiência de ser uma bixa preta artista da dança do alto sertão alagoano. Falar da narrativa que levaram a construção do trabalho “‘Ao meu corpo” é necessário traçar e revisitar memorias e vivências que neste curto espaço de escrita não é o baste, principalmente para as memórias onde só o mover dançante dar conta de No início de junho/2019 deixei a minha cidade e fui residir em Maceió, pois foi quando entrei na escola técnica de artes (ETA) e estar nesse lugar foi maravilhoso, foi incrível a partir de então comecei a ter outra visão sobre dança, comecei a entender mais sobre. Isso se revelou muito fundamental e a partir disso tive imensos contatos, com dança contemporânea, o frevo, o guerreiro, o coco de roda, as aulas que a mim foram proporcionadas me trouxeram coisas positivas para meu corpo que até então não tinham dimensão do mesmo. Nesse mesmo período recebi o convite para conhecer a dança afro pelo meu colega de turma Diego Bará õna, até então eu não tinha conhecimento sobre algo tão lindo; mim encantei, as aulas me fizeram muito bem, estar ali foi maravilhoso me proporcionou conhecimento sobre minha identidade e pertencimento negro. Neste contexto tão desafiador da pandemia finalizar o curso técnico de dança de modo online se tornou o momento mais desafiador ao meu corpo. 168


Em 2021 continuei a ter aula remota pelo segundo ano eu tive que me desafiar por se tratar de algo gravado sendo que eu não tinha experiência de como fazer mais me dediquei, em improvisação II ministrada pelo professor Jadiel Ferreira ele me apresentou com a disciplina vivências e desafios novos que me acompanhariam para minha última disciplina e meu processo final ele trouxe dinâmicas nas aulas, possibilidades, desafios confesso que me identifiquei bastante, é uma inspiração e referência como professor. Meu primeiro professor preto e gay, fiquei muito feliz ao saber que teria essa vivência com outra pessoa preta isso é muito gratificante, ele foi lançando desafios me inspirando acreditando no meu potencial, porém tenho dificuldades em falar sobre meus trabalhos , falar sobre, para mim no momento é bem difícil, ele me apresentou festivais me incentivou a realizar inscrição não para 1 mais para 3 onde fui selecionado em ambos, ele realmente me encorajou eu não teria me inscrito em nenhum; me ajudou com a produção, criação e edição do meu trabalho me apresentou caminhos e formas a seguir, dicas de por onde ir e como continuar estudando e experimentando poéticas de danças negras contemporânea. Ter contato com ele foi muito motivacional foi algo muito novo mais que veio com uma soma superpositiva, sobre meu processo para meu trabalho de conclusão de curso, o professor Jadiel tem uma soma muito forte, escrevi textos onde falo de algo que vivências me trouxeram, atravessamentos minha sexualidade e minha ancestralidade são bases e pontos fortes para o mesmo o testar meu deu vivências que somaram e somam, vivi me negando ser quem sou mais agora chegou o momento em ser realmente eu, um bixa preta artista da dança do alto sertão de Alagoas.

1 Rodolfo Aquino, Técnico em dança pela Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas. Senador Rui Palmeira -AL link solo Ao meu corpo : https:// youtu.be/wGsT0RTEDtA

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SINTOMA OR DELAY >> Breve Cia

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Delay é uma cena curta que aborda os conflitos atuais em contexto de pandemia e em isolamento social, trazendo à tona os sintomas que começam a aparecer depois de meses em quarentena. Brinca com a ironia da palavra “delay” e o atraso que pode existir entre quem comunica e quem recebe a comunicação. Fazendo uma analogia com o nosso contexto social a cena vai muito além do simples significado da palavra. FICHA TÉCNICA Atuação: Renata Paz | Texto e direção: Amora Tito | Iluminação : Regélles Queiroz | Produção audiovisual: Renca Produções | Produção: Mexerica Cultural (Kelli Oliveira) e Anair Patrícia | Duração: 15 min | Classificação livre Transmitido no dia 08 de novembro de 2021 Foto: Kelli Oliveira

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Sintoma or delay é uma cena curta da Breve Cia, que é um instante de experimentação, um encontro de artistas cênicos que se dedicam à arte teatral, pesquisando e deslocando o que é estabelecido como palco, onde o teatro faz-se necessário e urgente como lugar de expressão, encontro, reflexão, sensibilização, liberdade e fala. Com texto e direção de Amora Tito, a obra aborda os conflitos atuais em contexto de pandemia e em isolamento social, trazendo à tona os sintomas que começam a aparecer depois de meses em quarentena. No novo cenário de distanciamento social, a tecnologia se tornou uma ferramenta que nos faz estar perto de algum modo, mesmo que virtual. Porém esse, “estar perto”, pode ser subjetivo, pois entre nós e a comunicação virtual existe um delay. O texto brinca com a ironia da palavra “delay” e o atraso que pode existir entre quem comunica e quem recebe a comunicação. Fazendo uma analogia com o nosso contexto social a cena vai muito além do simples significado da palavra (atraso e a diferença de tempo entre o envio e o recebimento de um sinal), e estende-se para a nossa estrutura social demonstrando que corpos e corpas negras vivenciam esse delay em vários momentos da vida. De maneira sutil e irônica a personagem, interpretada por Renata Paz, nos apresenta essa relação do atraso virtual, racial, de gênero e social. Quem faz uma live sempre estará 20 segundos à frente de quem assiste. Fora das câmeras, corpos e corpas negras foram atrasadas pelo menos 500 anos, criando-se uma distância a ser percorrida, tanto pelos corpos filmados tecnologicamente, como pelos corpos existentes em nossa estrutura social. Ironicamente em uma transmissão ao vivo a personagem, uma mulher negra, está 20 segundos à frente do (tel)espectador, independente de sua localização geográfica, classe social, gênero e raça. Além de abordar a relatividade do aqui e agora, a construção do vídeo aposta no resgate da plateia através da conversa da atriz com as câmeras. E no ato de se gravar e se assistir gera um movimento em que a atriz torna-se espectadora de si mesma, colocando essa corpa contemporânea, em uma intermediação tecnológica com delay, buscando o olhar do outro. 173


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ECOS DE ‘ARQUIVO NEGRO’ EM BREVES DANÇAS

>> Cia. Pé no Mundo (São Paulo/SP)

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SINOPSE “Ecos de ‘Arquivo Negro’ em breves danças” é uma obra audiovisual livremente inspirada em histórias de personalidades negras que, mesmo vivendo situações de extrema adversidade destacaram-se e influenciaram a história e a cultura nacionais, como Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento, Zózimo Bulbul, dentre tantas e tantos outros. Resgata e (re)apresenta artisticamente arquivos históricos sobre uma cultura afro- brasileira que não nos foi devidamente contada. Não somos descendentes de escravos, mas sim descendentes de seres humanos africanos que foram tornados escravos, ou seja, escravizados. Como filhos de uma diáspora forçada, nós, seus descentes, fomos trazidos ao mundo com o direito de sermos autores e protagonistas de nossa própria história, que, desde África e também nas Américas e no Brasil, é regada de beleza, inteligência, estratégia, criatividade e grandes feitos. Assim, seguimos a passos largos em caminhos estreitos. Passos que vêm de longe. FICHA TÉCNICA Direção, coreografia e interpretação: Cláudia Nwabasili e Roges Doglas | Assistência de direção: Mariana Queen Nwabasili | Trilha sonora: Alysson Bruno, Fábio Leandro, Maurício Pazz e Renato Pereira | Iluminação: Rager Luan | Figurino: Juliana Andrade e Karla Pessoa | Cenário: Ana Clara Santana e Cássia Yebra | Produção Cia Pé no Mundo: Ana Luiza Arra e Lucas Ferrazza | Direção audiovisual: Jerê Nunes | Direção de fotografia: Jerê Nunes | Técnico de iluminação: Rager Luan | Coordenação de produção: Thais Alves dos Santos | Produção de Set : Thamy Kauanda | Operador de câmera : Jerê Nunes e Ruan Carlos | Assistente de câmera : Ruan Carlos |Montagem: Jerê Nunes | Catering: Cozinha Fermenta | Produtora: Sobre.Olhar | Equipamento: Mr Filmes | Duração: 20 min | Classificação livre Transmitido no dia 08 de novembro de 2021 Foto: Clárissa Lambert 176


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Por Cia Pé no Mundo “Ecos de ‘Arquivo Negro’ Em breves danças”, surge em tempos de pandemia como uma adaptação do espetáculo “Arquivo Negro - Passos Largos em Caminhos estreitos”. Nesta versão são apresentados fragmentos coreográficos do espetáculo “Arquivo Negro”, em (re)criação pensada especialmente para a linguagem audiovisual. Exibir este vídeodança, no atual contexto de distanciamento social, é propor ao público a possibilidade de viajar no tempo e espaço de narrativas históricas negras mesmo sem sair de casa. É viajar livre e contemporaneamente, pelas histórias de Aqualtune, Ganga Zumba, Zumbi dos Palmares, Dandara, Maria Firmina dos Reis, Luísa Mahin, Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Zózimo Bulbul, Mercedes Baptista entre tantas outras. Importantes personalidades negras que, mesmo vivendo em situações de extrema adversidade devido aos estigmas gerados pela escravização de negros e pelo racismo histórico no território brasileiro, destacaram-se e influenciaram a história e a cultura nacionais. “Ecos de Arquivo Negro” faz da dança um debate encarnado, destacando a importância da resistência e memória afrobrasileira. Assumimos o compromisso de dançar para gritar poeticamente histórias. dançar para lembrar e celebrar devidamente personagens negras históricas, materializando contemporaneidades e tornando possíveis novos imaginários sobre passados, presentes e futuros negros. Seguiremos a passos largos, na esperança de que num futuro próximo haja caminhos menos estreitos em possibilidades. A exibição deste videodança, também nos possibilita romper barreiras territoriais para que outros espectadores lancem novos olhares e percepções sobre a pesquisa de linguagem corporal e cênica da Cia Pé no Mundo, que ao longo de 10 anos de trajetória, vem elaborando uma comprometida pesquisa prática e teórica acerca das intersecções entre a dança contemporânea, as manifestações culturais populares de matriz afro-brasileira e as relações raciais no Brasil e no mundo. 177


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DIA DE PLANTAR

>> Inepta Cia. (Rio de Janeiro/RJ)

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SINOPSE O Palhaço Escafura está animado. É dia de plantar! É preciso terra, água, jarros e sementes. Tudo pronto para o nascimento de mais uma muda verdinha. Espera! Algo parece não está certo: Escafura se questiona porquê a planta não cresce de imediato. Ele canta e até toca uma música para a terra, mas nada acontece. Parece que faltam ingredientes essenciais para esse plantio. FICHA TÉCNICA Elenco, concepção e direção: Junior Melo | Produção: Inepta Cia. | Duração: 5 minutos | Classificação livre Transmitido no dia 15 de novembro de 2021, na segundaPRETINHA Foto: Divulgação | Imagem da transmissão

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MARIA FIRMINA DOS REIS, UMA VOZ ALÉM DO TEMPO >> Júlia Martins (São Luís/MA)

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SINOPSE O espetáculo “Maria Firmina dos Reis- uma voz além do tempo” faz uma releitura sobre a vida e obra da primeira romancista afro-brasileira da história, Maria Firmina dos Reis. Em paralelo a vida de Firmina, a atriz Júlia Martins, traz a sua história de vida e de outras mulheres e homens negros que se intercalam com a história de vida de Maria Firmina dos Reis. Firmina é símbolo de resistência e luta contra a escravidão, seu discurso é o nosso passado, presente e futuro. FICHA TÉCNICA Elenco: Júlia Martins | Direção: Leônidas Portella | Cenário e Figurino: Marlene Barros e Marcos Ferreira | Confecção de cenário: Ed Lima e Marcos Ferreira | Iluminação: Renato Guterres | Trilha sonora: Beto Ehongue | Produção: Júlia Martins | Duração: 40 min | Classificação livre Transmitido no dia 15 de novembro de 2021, na segundaPRETINHA Fotos: Divulgação

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prosaPRETA com VALDINÉIA SORIANO >> mediação de Ana Martins

Realizada no dia 22 de novembro de 2021 Imagem da transmissão 187


FESTA DE ENCERRAMENTO Discotecagem de Black Josie e Preto C Realizada em 22 de novembro de 2021 no Zoom

FICHA TÉCNICA - DÉCIMA TEMPORADA Assessoria de Imprensa: Alessandra Brito Tradução em Libras: Jane Silva Equipe: Alessandra Brito, Alexandre de Sena, Andréa Rodrigues, Grazi Medrado, Priscila Rezende, Rainy Campos, Rodrigo Antero, Rodrigo Negão e Suellen Sampaio Equipe Teatro Espanca: Alexandre de Sena, Aristeo Serranegra, Suellen Sampaio

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ENTRE-TEMPORADA #9 cinemaPRETO comentado TUDO QUE É APERTADO RASGA Fabio Rodrigues Filho (21min, 2019)

SINOPSE Na tentativa de forjar uma ferramenta capaz de operar o corte por justiça, este filme retoma e intervém em imagens de arquivo, reestudando parte da cinematografia nacional à luz da presença e agência do ator e da atriz negra. Fabio Rodrigues Filho Atua na crítica, programação e design para cinema. Mestre em Comunicação Social da UFMG, graduou-se na mesma área na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). É membro dos grupos Áfricas nas Artes (Cahl/UFRB) e Poéticas da Experiência (UFMG). Realizador dos filmes ensaio “Tudo que é apertado rasga” (2019) e Não vim ao mundo para ser pedra (2021). Compôs a comissão de seleção de festivais, mostras e laboratórios de filmes. Cineclubista, coordenou o Cineclube Mário Gusmão, participou do Cine Tela Preta e Cinema em Vizinhança. Trabalha como cartazista, realizando pôster de alguns curtas-metragens e mostras. Escreve para o blog pessoal Tocar o Cinema. Realizada no dia 21 de fevereiro de 2022

>> Alessandra Brito (Mediação) é jornalista graduada pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), Mestra em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e militante junto à segundaPRETA.

>> Rainy Campos (Mediação) é artista-criadora-docente-pesquisadora. É bacharela e graduada em teatro pela UFMG. Integra a Cia. Bando, o Bloco Magnólia e o movimento segundaPRETA. Atualmente é docente no curso técnico de teatro das escolas CICALT e CEFART, situadas em Belo Horizonte. 190


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DÉCIMA PRIMEIRA TEMPORADA

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LÉA GARCIA

HOMENAGEADA DA DÉCIMA PRIMEIRA TEMPORADA

>> Foto: Juliana Rocha – Divulgação 194


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Por Andréa Rodrigues Imagine uma voz. Uma voz com tom de veludo, cor de vinho. A voz da Dona Léa é lindíssima assim. Pare um dia para ouvir atenciosamente uma de suas entrevistas, é possível ouvi-la por horas a fio. Poderíamos dizer para fecharem os olhos e absorver melhor a experiência, mas daí seria privar do sorriso firme com olhar doce que acompanha sua voz. Ela é linda! Linda! E aqui queremos ressaltar que é no presente, em qualquer tempo ela É. Linda! Escreveu parte fundamental da história do teatro no Brasil. Escreveu seu nome no cinema. Fez uma palma de ouro sofrer ao não lhe pertencer. A mulher que se tornara uma das principais e mais importantes artistas deste país. A sua benção! Aprendemos a pedir bênção aos mais velhos da família, e de onde viemos Dona Léa é família. Aquela parente de quem você morre de saudade, ainda que vejamos todos os finais de semana. É familiar a forma como atua, como se expressa, como luta, como fala, como se projeta no mundo. É familiar a forma como defende a arte e o fazer artístico. É linda e familiar. Léa, que admirava Ruth, que admirava Léa. Que são admiradas por nós. Que sensação boa essa de podermos falar e contemplar nossos mais velhos. Não tão “cara a cara” como gostaríamos, é verdade. Mas estarmos aqui, compartilhando a mesma existência depois de tantas marés, é de se vangloriar. É preciso celebrar sua consciência, altivez, e contribuição no caminhar de todas e todos nós. É parte de nosso compromisso saudar a dignidade de sua trajetória e a energia com que ainda hoje se dedica ao trabalho. 196


Léa, a menina que queria ser escritora. A mulher que mobilizou uma produção inteira e alterou roteiro de uma personagem na novela, para que ela fosse coerente com o que defendia. A quem admiramos de maneira íntima como só quem admira um dos seus pode fazer. Carioca nascida na Praça Mauá, filha de Stela Lucas Garcia e José dos Santos Garcia, não é parte apenas da lembrança televisiva de um país, mas parte fundamental da nossa profunda memória, capaz de acender em nós imagens e poéticas em vários tempos e lugares. Agradecemos por nos permitir estarmos juntas e juntos à você, agradecemos por nos ajudar a subir em palcos. Agradecemos à Senhora, Dona Léa, por ser gigante, por ser brilhante, por nos brindar sendo, Léa Garcia.

Andréa Rodrigues é atriz, dramaturga, roteirista e arte educadora. Integrante do coletivo segundaPRETA e da Cia.Bando, atuando em diversas frentes culturais e artísticas em BH. Como atriz atua em diversos trabalhos tanto no teatro como no audiovisual. Atualmente atua em salas de roteiro de diversos segmentos. 197


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CATIÇO

>> João Petronílio

(Salvador/BA)

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SINOPSE Danço as velas e cachaças de meu pai. As comidas e costuras que costuram a vida de minha mãe. Os exus de minha bisavó. Danço o escuro, o invisível, o dito vazio, o breu. Danço a rua, da rua! Danço pois já cansei de dançar o que se pode dizer, ando cansado daquilo que olhos vêem. Ainda sim, eu danço porque eu creio no que vejo: Catiço! FICHA TÉCNICA Direção Geral: João Petronílio | Intérprete-criador: João Petronílio | Direção de Filmagem e fotografia: Laryssa Machada | Direção de montagem e edição: Victor Mota | Indicação etária: 14 anos | Duração: 10 minutos Transmitido no dia 07 de março de 2022 Foto: Larissa Machada

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Descrição poética-cênica do curta metragem experimental: CATIÇO João Petronílio

A rua nunca está vazia, mesmo nas madrugadas, às ruas estão cheias de invisível, desejo, embriaguez, escolhas, vulnerabilidade e fome. O invisível tem peso, temperatura, cheiro: o invisível é a fúria e os exus de minha bisavó, às cachaças e os sambas de meu pai, às costuras que costuram a vida-de minha mãe.Catiço, é sobre minha pele que transborda as encantarias feitas no meu quintal, por minha avó. Catiço é corpo bêbado, embriagado, turvo é tempo cruzo passado-presente-futuro, limiaridade do invisível acontecido no visível, catiço é corpo da rua, dos desejos possíveis. Dança do escuro,do dito vazio, do breu, rito de outras vidas no agora. Ando cansado daquilo que os olhos vêem. Ainda sim, eu danço porque 200


creio no que vejo e por isso, escolho dançar meus mortos: CATIÇO! (Release do Filme CATIÇO). O corpo da performance está diretamente imbricado com espaço e tempo das ruas, por isso, é um corpo quente, inquieto, dinâmico, que transita por todos os lados que confunde os eixos e muda constantemente os apoios. A movimentação do artista tem no ritual o território dramático de seu desenvolvimento de dança, nesse caminho, o fundamento de movimentação do filme CATIÇO parte do que o artista pesquisador nomeia de - Acontecimento corporal de Exus e Pombagiras, ações como vibrar, girar, desequilibrar, cair e voltar se estabelecem como a força motriz do trabalho, ou seja, embora enquanto assunto coreográfico as movimentações se desdobrem em outras camadas de dança, todas células de movimento partem das ações citadas, dando uma impressão de re-apresentação, circularidade, criando uma dinâmica de um espiral coreográfico, onde o corpo repete a ação, mas não repete a condição física da ação, já que aquilo que já foi experimentado em um tempo-espaço especifico, não se pode ser experimentado novamente. A performance do corpo é gradual, quente, que está a caminho da efervescência e finaliza na erupção, transbordamento, e assim, de novo e, de novo, a cada ação - o novo é experimentado e rapidamente abandonado, construindo um jogo de continua busca pelo novo e, abandono do mesmo. A cada ação, o corpo está visceralmente dedicado em fazê-la, por isso, junto da ideia do desgaste do movimento, ou catarse do mesmo, causada pela repetição/ reapresentação, há um aumento gradativo da velocidade e intensidade. Intensidade tal, que transforma também a qualidade do movimento e logo, transforma a própria a ação do movimento. Por exemplo: a repetição do giro, que transbordada em; desequilíbrio, que deságua em; cair e voltar. E assim de forma espiralada vão se construindo, em costuras cênicas uma dançaCATIÇO. As expressões faciais acompanham tal intensidade, sendo tomada de mascaramentos, não há neutralidade, nem engessamento das expressões buscando projetar alguma mimese de emoção. Dança-se do umbigo para - o rosto: contorce-se, os olhos reviram, a respiração é audível, a gemidos, gritos é uma externalização total dos sentidos do corpo, que é também, expressivamente visível na face.Ao dançar, dança-se de corpo integral, a respiração é dança e som, a exaustão e os sons causados no corpo por ela são assumidos como dramaturgia cênica, não se desperdiça nada, tudo ali é corpo-dança. O objetivo de todo processo é esgarça-se por inteiro, níveis máximos de tensões e relaxamentos produzem o corpo que dança, alcançando outras-novas dimensões de expressividade e condição física. 201


EBÓ PRA TRANÇAR QUEM SOU >> Eliza Nilaja

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Integrar com a natureza O solo é morada Pés na terra, entrelaça com quem protege Enraíza, pé no chão e dança Dançar voando Voar rezando é mandinga FICHA TÉCNICA Concepção e direção: Eliza Nilaja | Orientação Artística: Luciane Ramos Silva | Figurinista: Eliza Nilaja | Figurino- confecção: Maria Aparecida da Cruz | Maquiagem: Anna Carolina Gonçalves | Produção: Eliza Nilaja | Trilha sonora: Jocasta Roque | Coreografia: Eliza Nilaja | Filmagem e edição: Daniel de Alpoim e Rodrigo Fernandes | Trança e acessórios: Eliza Nilaja | Classificação Livre | Duração: 10 minutos Transmitido no dia 07 de março de 2022 Fotos: Lucas Moreira

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QUEM É QUE GUIA? QUEM É GUIADO?

>> Jeiza da Pele Preta (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Quem é que Guia ? quem é guiado?. Trata de um experimento cênico, em audiovisual, criado numa residência artística do BDMG cultural 2021. Falo de fazer circo de maneiras menos europeias, mostra um circo com características mineiras, através de símbolos e signos. Parto também para compor esse experimento e afunilar a pesquisa, sobre minha historia e da minha família para falar sobre as referencias mineiras e sobre os círculos da minha vida e minha relação com meu aparelho que é a Roda. Falo sobre os ciclos que une as gerações da minha família, como o tocar do sino, que foi um modo dos escravizados se comunicarem que teria fuga. Relação forte que minha família tem com Café. O congado que sempre fez pare das minhas memorias, e o mar, parte da nossa historia vem pelo mar, e toda busca de onde vim, passa por ele de vilta. Pês descalços no chão de minério, uma roda de ferro, manipulação do fogo, são características mineiras da minha historia que tento representa nesse experimento cênico. FICHA TÉCNICA Direção: Jeiza da Pele Preta, Sam Luca e Thiago dos Anjos | Direção de arte: Jeiza da Pele Preta | Maquiagem, figurino e construção de áudio: Sam Luca | Pesquisa: Jeiza da Pele Preta | Filmagem e Edição: Thiago dos Anjos | Direção de cenas: Thiago dos Anjos | Vozes: Jeiza Rodrigues e Tauane Neves | Tutoria: Dione Carlos, Aline Motta, Gil Amancio, Ricardo Aleixo | Classificação Livre Transmitido no dia 14 de março 2022 Foto: Thiago dos Anjos

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“ ” Por Jeiza

Esse trabalho, experimento audiovisual, é o caminho que estou seguindo para fazer um circo exaltando minhas origens afromineiras. E eu tive que ir lá atrás nas histórias da minha família e entender por carregar certos ritos, receitas, tradições. E colocar tudo dentro da Roda, dentro do fazer circense. Retornar a segundaPRETA com Quem é que guia ? quem é guiado?, é como mostrar à mãe como cresci. Segunda Preta foi o primeiro lugar onde me apresentei tendo certeza do que queria performar com meu corpo, foi um primeiro passo para saber que caminho tomar e nada mais afetuoso pra mim voltar a essa casa mãe acolhedora e apresentar meu trabalho pela primeira vez. Licença segundaPRETA, Voltei.

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TIRANDO DA GAVETA O CORPO >> Cynthia Regina (São Paulo/SP)

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SINOPSE ”Tirando da gaveta o corpo.” conta a história de uma escritora negra que tem sua obra presa em cadernos acumulados em seu corpo-casa. Ela precisa parir suas palavras e se ver representada no mundo. Buscando transmutar mortes reais e simbólicas que cultiva em seu corpo, essa mulher nos convida a caminhar por suas ruas internas, abrir com ela seus cadernos e ouvir suas histórias há tanto tempo guardadas. Investigando a escrita como arte do corpo, e a invisibilização de mulheres negras escritoras, Cynthia Regina se propôs um mergulho, procurando em 94 cadernos que escreveu ao longo de uma década, que dramaturgia era essa que pedia tanto para nascer. Encruzilhada entre as linguagens da dança, do teatro e audiovisual, a videoarte “Tirando da gaveta o corpo.” é uma resposta aos apagamentos infligidos às mulheres negras historicamente e uma tentativa de se inscrever no mundo como artista do corpo e da palavra. FICHA TÉCNICA Direção Geral, Idealização, Dramaturgia e Atuação: Cynthia Regina | Orientação de direção, interpretação e Dramaturgista: Lucélia Sergio | Produção geral: Piu Guedes | Orientação dramatúrgica: Janaina Leite | Preparação corporal (Butô): Rosana Ribeiro | Orientação corporal (Ideokinesis) : Érika Moura | Orientação de movimento (Dança Afro): Janette Santiago | Direção de fotografia, edição e montagem: Isabel Praxedes | Som direto: Edu Luz | Trilha sonora: Stela Nesrine e Larissa Oliveira | Figurino: Dani Pitchula | Luz: Luciana Silva | Direção de arte: Julia Miola | Cabelo e Maquiagem: Rodrag | Produção de set: Jenniffer Rossetti | Registro visual: Georgia Niara | Locação: Centro de Culturas Negras do Jabaquara – Mãe Sylvia de Oxalá | Gestão de projeto e produção: Cia Persi – Pororoca Experimental! | Classificação livre | Duração: 20 minutos Transmitido no dia 14 de março de 2022 Foto: Georgia Niara 212


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Por Cynthia Regina Tirando da gaveta o corpo é um processo. Caminha em mim como o próprio tempo da missão que vou descobrindo ao longo da vida. Escrevo esse texto, para esse caderno de registro de arte preta, com certa liberdade que desejo conservar. Foi assim, demorou um pouco mais de 10 anos preu me ver como artista potente, olhar pra minha corpa e desbravar com cuidado, experimento e maestria: a possibilidade, a tranformação, o experimento. O resultado é uma video arte de formação, aonde reuni memórias, dança da morte e performance; a concretização do desejo há 3 décadas negado, de ser atriz e o trabalho com a palavra desenvolvido em 94 cadernos. Projeto que precisou de outras mãos para nascer, e que agradeço a oportunidade - material e espiritual - e a teimosia ferrenha que carrego para gerenciar a afetação, relação e conflito. O desenvolvimento estético é um tesão por vezes doloroso, escrever dramaturgia é um parto, uma transição. Deixo aqui a gratidão por tocar nesse chão mineiro, que ainda que virtualmente me recebe. Tempo tempo tempo. Laroyê. Motumba!

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VAMOS PRA COSTA?

>> Núcleo da Tribo (Itacaré/BA)

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SINOPSE Hierarquia, visibilidade, temporalidade e especificidade de cada corpo em executar uma determinada ação são aspectos que ganham novas vozes e movimentos quando três pescadores descrevem suas funções na pescaria artesanal que acontece no litoral baiano, na cidade de Itacaré. A partir de suas experiências, a cena vira um espaço múltiplo de trocas entre os três pescadores-dançarinos e o público, que é inserido num universo onde alimento, encontros, vivência e sobrevivência convivem simultaneamente, mas não harmonicamente. Afinal, sem peixes não tem canoa na arrebentação, não tem rede bem costurada, não tem piageiros, não tem histórias… FICHA TÉCNICA Vozes: Maria Nedina Conceição | Elenco e Roteiro: Arionilson Xixito, Miquiba Cruz e Valmilson Péricles | Direção de Cena: Verusya Correia | Direção de Fotografia e Montagem: Victor Quixabeira e Souza | Imagens Aéreas: Tárek Roveran – Itacaré Drone | Fotografia Still: Wilson Oliveira | Trilha Sonora: Chico Neves – ESTÚDIO304selo | Direção de Produção de Conteúdo: Rafael Ventuna | Coordenador de Produção: Gilmar Silva | Produção: Lucia Kobayashi e Richard Melo | Assistência de Produção: Jaana Rocha e Vitoria Santos | Cenotécnico: Aloísio Ferreira | Pescador e Condutor Náutico: Reuben Bomfim de Oliveira | Esta obra é uma criação coletiva para o Online Festival de Dança Itacaré 2021 com a colaboração de artistas baianos | Classificação livre | Duração: 13 minutos Transmitido no dia 21 de março de 2022 Foto: Wilson Oliveira

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Vamos pra costa? Como a dança gera visibilidade e apresenta os modos de organização e ações cotidianas da/na cidade De Verusya Correia

No espetáculo Vamos pra Costa?, o processo de criação começou em janeiro de 2015. Um desejo do Magno Rocha (Miquiba), um dos dançarinos, em produzir um espetáculo de dança sobre a pesca artesanal - sua composição é feita por homens, moradores do bairro Porto de trás, de outros bairros, de outras regiões e convidados, que ocorre na praia da costa, localizada na outra margem do Rio de Contas, em Itacaré/BA. Os três dançarinos do nosso grupo, também são pescadores desta atividade. Começamos a identificar a organização da pesca e vimos a importância da descrição de cada função1, ao qual os três dançarinos-pescadores exercem neste encontro, devorante trabalhamos para a montagem desta cena para o espetáculo. O nosso exercício neste momento foi deixar claro as falas de cada um. E com a evolução introduzimos pequenos movimentos para esta cena. Em um determinado momento, vimos que tínhamos um interessante registro fotográfico da pesca artesanal, e que era pertinente estar em cena, com isto surgiu a ideia de uma espetáculo-instalação, nesta ocasião dialogamos sobre a visibilidade das ações dos moradores do Porto de Trás e a própria pesca em relação da cidade de Itacaré, ao longo dos ensaios, estas questões foram amadurecendo, há algum tempo, eu já tinha visto umas pequenas canoas em algumas casa do bairro, propôs ao grupo a utilização dessas canoas para compor o nosso trabalho. Descobri que era o pai de Miquiba que construía estas réplicas. Os últimos elementos para compor a instalação foi os monóculos, e os fios de náilon, pois imprimimos as imagens em 217


pequenos tamanhos e distribuímos nas canoas, que ficavam penduradas na chegada do público – para conhecer os espaços opacos2, necessitamos um certo esforço, onde metaforicamente utilizamos, os monóculos para abrir o campo da visão e, neste caso o corpo necessita se debruçar para aproximar do desconhecido. Por isto os fios de náilon foram amarrados nas canoas milimetricamente colocados nas suas devidas posições. Durante o processo construímos um relatório sobre esta atividade fazendo as seguintes perguntas: como é a organização desta pesca? Quem participa e qual a sua função? Para que serve? Por que o bairro Porto de Trás continua nesta atividade? Quais os elementos necessários para atividade? E sua função? O que acontece em alto mar? E quando a rede chega em terra, o que ocorre? “[...] A compreensão da dança, portanto, não se resume ao que se vê nos palcos – as composições coreográficas propriamente ditas -, mas inclui tudo aquilo o que se refere ou deriva delas, como produção de conhecimento, ação pública e/ou aplicação prática. Importa entender como tudo isso se articula no tempo modificando-se mutuamente, numa dinâmica coevolutiva. (BRITTO, 2010, pg. 186)

Quando apresentamos o Vamos pra Costa? em Itacaré, muitos moradores do bairro do Porto de trás assistiram este espetáculo, e um dos espectadores comentou que achou a primeira cena muito entediante, que os dançarinos tinham os mesmos comportamentos, e posicionamentos parecidos com alguns e/ou os antigos pescadores, que observavam calmamente o balanço do mar, sem pressa, para assim fazer a saída da rede. Ao não se deter, porém, na comum percepção que constrói conjuntos analógicos ou complementares – nem diante das imagens pré-fabricadas, dos sons estereotipados e palavras vazias que expressam o Pensamento Único dominante –, o artista avança, sente, toca, vê e ouve a potência, não só o ato; ultrapassa as aparências do real e revela percepções e aspectos únicos da realidade 218


encouraçada, ou formas únicas de percebê-la: revela aquilo que as palavras confundem, as imagens escondem e os sons ensurdecem. ( BAOL, 2009, p.106)

Este trabalho foi apresentado cenicamente, antes da pandemia. Porém por conta da crise sanitária que assola o nosso planeta, o espetáculo Vamos pra Costa? faz parte do filme “Fronteiras” que reúne as setes danças filmadas da programação do Online Festival de Dança Itacaré. Resultado de criação coletiva com colaboração de artistas baianos, um processo híbrido que teve fases de trabalho remotas e presenciais. O cineasta goiano Victor Quixabeira e Souza assina a direção de fotografia e remontagem dessa obra, agora, no ambiente do próprio processo criativo, praia da Costa, Itacaré/BA. Neste momento, o trabalho foca nas ações e nas táticas dos sujeitos corporificados3 e, reconhece a autonomia relativa ao seu lugar. Os modos operantes dos habitantes do bairro Porto de trás, traz a possibilidade de aprendizados, atualizando os seus modos de organização ao qual se constituem. Tais aprendizados ganham expansão no momento da composição cênica e, também, no momento ao qual a cena é vista por outros corpos, contêm resgate de práticas ancestrais, ainda presente na memória dos corpos dos moradores do bairro.

Funções na pescaria: o mestre quem identifica a região onde o cardume circula e indica o local para a rede ser lançada; o caidor um exímio nadador, que tem a função de levar a rede no mar em terra firme; os companheiros de terra e de mar são os que dão suporte, a segurança para a equipe; e os piageiros são convidados para puxar a rede na sua chegada, e em troca deste trabalho de força recebe peixes.

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2 Espaços opacos segundo Milton Santos, aborda a sobrevivência dos homens lentos, apesar da hegemonia do tempo e dos homens rápidos, há a copresença de tempos na cidade. (Santos, 2000)

Segundo Ana Clara Torres conceito de sujeito corporificado está diretamente relacionado ao homem lento do geógrafo Milton Santos e dos praticantes ordinários da cidade de De Certeau. 3

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RAIZ D’ÁGUA >> Iasmim Alice

(Barbacena/MG)

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SINOPSE Raiz D’água é um vídeo performance que soa como um mergulho na negrura da própria história – (auto) biografia e corpo- encruzilhada vivenciado em cena. FICHA TÉCNICA Construção coletiva | Concepção e direção geral: Iasmin Alice | Direção de arte: Iasmin Alice e Ana Pi Videira | Imagem, montagem, edição e finalização: Hilreli | Fotografia: Hilreli e Lucas Bertolino | Trilha e designer de som: Maria Luíza Anália | Vozes: Fátima Silva, Iasmim Alice, Joana D’arc e Juliana Mota | Concepção do figurino: Ana Pi Videira | Execução do figurino: Iasmin Alice e Joana D’arc | Tranças: Espaço Priscila Reis | Produção de Luciana Oliver | Assistência de produção: Igor Castro | Orientação de pesquisa: Juliana Mota | Trilha sonora elaborada sob cânticos da Banda Dançante do Rosário de Santa Efigênia, de Barbacena/MG e Banda Dançante de Congada e Moçambique de Ibertioga/MG | Indicação etária: 12 anos | Duração: 14 minutos Transmitido no dia 21 de março de 2022 Foto: Lucas Bertolino e Hilreli

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Por Iasmim Alice da Silva Mergulhar na pesquisa familiar, cultural e social acerca do ritual congadeiro, foi uma abertura de caminhos para compreender as encruzilhadas dessa herança que fortalecem uma identidade. O congado e toda a sua ancestralidade, seu rito, seus elementos simbólicos, visuais, gestuais e sonoros, por exemplo, provocam e apresentam a possibilidade de investigar camadas e subjetividades no processo de criação cênica. Ao nadar neste caminho, experimentei uma obra de arte que pudesse imergir em minha vivência e origem em uma ação que evidenciasse meu corpo e ancestralidade no contexto artístico. Neste trabalho, denominado “Raiz D’água”, investigo a relação da água no corpo a partir da conexão com um dos mitos fundadores do congado: a história de Nossa Senhora do Rosário nas águas. Entre tantas versões escutadas e lidas sobre esta história, é possível notar a presença da água como um fator primordial, pois este elemento que se destaca em muitas outras histórias relacionadas às culturas negras, representa um marco na vida dos descendentes de africanos nas Américas — a travessia pelo mar Atlântico, portanto, a água é sinônimo de ligação com o passado, presente e, em simultâneo, com o futuro, um símbolo sagrado, poético e metafórico. Danço a água, vivo a fluidez da água, performo uma rainha das águas — um arquétipo que tem como característica um ser místico e, ao mesmo tempo, real, como se representasse a figura de um ser ancestral e, ao mesmo tempo, uma projeção, uma autoimagem. A partir de análises, pesquisas e reflexões, pratico o exercício de experimentar a (auto)biografia enquanto potência criativa. Me reconhecer, curar e reconectar com tudo que me constrói, pois, minha história está entrecruzada com a história de uma manifestação cultural, sagrada, resistente, diaspórica, plural e cheia de significados. 223


[...] escrevemos auto entre parênteses para deixar explícito que ali estamos tratando de biografias e autobiografias, e é a tessitura criada pelo diálogo entre essas histórias, entre o vestir-se de si mesmo e o vestir-se do outro aquilo que compõe a matéria fundante sobre a qual trabalharemos plasticamente a cena. (Pequeno Mapa de Encontros e Afetos, Vol. 2. p, 258)

Enquanto sou atravessada por essas histórias e vivências crio o ponto de encontro e os significados entre elas. Interessa-me pensar o conceito de corpo- encruzilhada, à medida que compreendo meu corpo enquanto sujeito (e espaço/universo) atravessado, intercultural e que estabelece conexão com a ancestralidade em perspectiva não linear (passado, presente, futuro). Assim, utilizo tal conceito enquanto metáfora, condução, preparação e construção corporal para a cena. [...] Ele tanto é um ponto de conexão da encruzilhada como pode ser percebido como a própria encruzilhada. Refiro-me aqui à dimensão simbólica que interconecta o corpo-tempo-espaço como elemento de produção de significação na relação entre as práticas sociais (míticas e rituais) e os saberes contidos na cosmovisão da sociedade/comunidade/grupo que são incorporados e traduzidos na própria corporeidade do sujeito no seu corpo-encruzilhada. (SIQUEIRA, Jarbas, 2019, p.14)

Este material audiovisual, foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, Edital n.o 14/2020 — Edital de seleção de bolsistas para áreas artísticas, técnicas de produção cultural e conta com a participação de profissionais da área de teatro e audiovisual. Para efetivar a proposta, contactei parceiros e parceiras que pudessem assumir cargos e funções respectivas aos seus trabalhos, assumindo um carácter de construção coletiva, onde assumo concepção e direção-geral; atuação junto a minha mãe, 224


Joana D’arc; direção de arte junto a Ana Pi Videira; imagem, montagem, edição e finalização de Hilreli; fotografia de Hilreli e Lucas Bertolino; trilha e ‘designer’ de som de Maria Luíza Anália; vozes de Fátima Silva, Iasmim Alice, Joana D’arc e Juliana Mota; músicas de Banda Dançante do Rosário de Santa Efigênia/MG e Banda Dançante de Congada e Moçambique de Ibertioga/MG; concepção do figurino de Ana Pi Videira; execução do figurino Iasmim Alice e Joana D’arc; tranças feita pelo Espaço Priscila Reis; produção de Luciana Oliver e assistência de produção de Igor Castro

REFERÊNCIAS: MARTINS, Leda Maria. AFROGRAFIAS DA MEMÓRIA, O REINADO DO ROSÁRIO NO JATOBÁ. Universidade Federal de Minas Gerais, 1997. MOTA, Juliana. PEQUENO MAPA DE ENCONTROS E AFETOS VOL 2., Texto: “A individualização, os afetos musicais e as contas de lágrimas colhidas pelo caminho”. Universidade Federal de São João del- Rei, 2016/ 2020. RAMOS, Jarbas Siqueira. O CORPO ENCRUZILHADA COMO EXPERIÊNCIA PERFORMATIVA NO RITUAL DO CONGADEIRO. Universidade Federal de Uberlândia, 2017. 225


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FIANDEIRA

>> Rainy Campos (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE No sonho que se apresenta real ela, figura pessoa bicho, como um espírito embusteiro tece redes e trança possibilidades. Cria camas e armadilhas de revide, protege o meio e ataca o que ameaça. Uma música de trabucar. FICHA TÉCNICA Atuação: Rainy Campos | Direção: Alexandre de Sena | Dramaturgia: Rainy Campos e Alexandre de Sena | Roteiro: Alexandre de Sena | Preparação Corporal e Direção de Movimento: Malu Avelar | Maquiagem: Eli Nunes | Caracterização cênica: Rainy Campos | Direção de fotografia e edição: Pablo Bernardo | Desenho de som: Podeserdesligado | Produção: Rainy Campos | Assistentes de Produção: Suellen Sampaio e Aristeo Serra Negra | Classificação livre | Duração: 13 minutos Transmitido no dia 28 de março de 2022 Foto: Pablo Bernardo

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Por Rainy Campos Fiandeira é um trabalho teatral-performático-audiovisual que tem como pensamento central a investigação e criação cênica-performática de um solo a partir da personagem mítica Anansi, da mitologia AkanAshanti. A partir dessa imagem mítico-poética de Anansi, o trabalho constrói relações com a simbologia adinkra “Ananse Ntontan” e com “Sona”, um conjunto de símbolos de origem Tchokwe. Como criar um movimento de estratégia? Quais conexões estabelecemos com o tempo presente-passado-futuro? Retomar o passado, nossas histórias e narrativas para construirmos novas práticas de viver, de relacionar e tecer armadilhas e estratégias de revidar as violências que nos atravessam cotidianamente. Fiandeira fala sobre VIDA a partir da construção e ressignificação das imagens e da palavra-som.

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O processo investigativo e criativo teceu redes de relação entre variadas linguagens artísticas, refletindo sobre o fazer teatral negro como uma TEIA que não se estabelece dentro de um espaço demarcado de arte. Somos música,dança,teatro,performance,poesia,audiovisual,ritual,corpo, respiração,pintura,olharportrásdacâmera,atrancista... Esse é também o nosso mistério. Mistério compartilhado e entendido por territórios como a segundaPRETA. A segundaPRETA foi e é o espaço que fala sobre VIDA, sobre teias que poucos veem mas que vem sendo cada dia mais fortalecidas e ampliadas. Sendo proteção e trança de possibilidade. Por isso, sempre fez tanto sentido que esse trabalho estivesse neste território, porque FIANDEIRA nasce a partir dele e do que o conhecimento ancestral nos dá de tecnologia de sobrevivência. “através das histórias nós construímos o presente e criamos as perspectivas do futuro, é por isso que as histórias não estão no passado.”

Por Eli Nunes Textura, agilidade, estranheza e precisão são algumas das características de Fiandeira que saltam através dos olhos mascarados de Rainy a partir da concepção de maquiagem do trabalho, oportunidade que me permitiu criar uma camada cênica através da linguagem da montação. Por Malu Avelar A preparação corporal se deu desde proporcionar o fortalecimento de alguns grupos musculares e na potencialização do próprio repertório de movimento da artista, como também, a utilização de provocações direcionadas a partir da escuta e reflexões sobre o tecer uma narrativa onde o corpo se conecta com esse ser ancestral que fia a história e desafia o imaginário de uma linguagem ocidental. Através disso o gingar o corpo se torna um jogo do experienciar do zoomorfismo que se consagra na inteireza do movimento atribuindo uma linguagem entre-linhas ou entre-fios na performance. 229


ANTRO

>> W MOTA

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE O vídeo denominado ANTRO, apresenta processos pictóricos de W Mota onde se confundem com devaneios, rotina, fé, processos criativos, que se passam no seu antro criado durante a pandemia. O vídeo é resultado de alguns estudos desenvolvidos pelo artista com luz e sombra, usando o sistema de cores RGB, trabalhando com esses elementos subvertendo os modos convencionais de se pensar a pintura, seus desdobramentos e migração para outros planos. FICHA TÉCNICA Artista visual, idealizador e atuação: W Mota | Edição: Richard Caires Silva | Produção executiva: Kelli Oliveira | Classificação livre | Duração: 12 minutos Transmitido no dia 28 de março de 2022 Fotos: Divulgação

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PRETO ROSÁRIO >> Wendel Salvador

(Estância - São Cristovão/SE)

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SINOPSE O trabalho busca questionar a invisibilidade acerca da existência das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito em três cidades sergipanas: Aracaju, Estância e Lagarto, locais-símbolos da presença negra africana e afro-brasileira em Sergipe. A ação ocorreu no período que essas irmandades celebravam São Benedito, dia/festa de Reis, nas primeiras semanas de janeiro de 2022. FICHA TÉCNICA Performer e direção audiovisual: Wendel Salvador | Coprodutor, fotógrafo e realizador audiovisual: Davi Cavalcante | Assistente de produção: Larissa Vieira | Classificação livre | Duração: 11:20 minutos Transmitido no dia 04 de abril de 2022 Foto: Davi Cavalcanti

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Por Wendel Salvador* “...Que santo é aquele que vem na charola É São Benedito mais Nossa Senhora...” canto das Taieiras1

A instiga por realizar esse trabalho surgiu quando descobri que a Igreja do Rosário de Estância/SE, minha cidade natal, havia pertencido a uma irmandade negra católica, daí começou a pesquisa, lendo os poucos escritos existentes, fui sendo levado as Irmandades de Lagarto e Aracaju e a decisão de incluía-las no trabalho e como se daria o desenvolvimento do mesmo. 236


Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito – Estância (século XVIII), Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito – Lagarto (século XVIII), Irmandade de São Benedito dos Pretos – Aracaju (século XIX), todas de composição mista de pessoas com predominância das pessoas pretas, prestavam assistência espiritual, material e ao bem-morrer dos integrantes. A Irmandade de Estância celebrava Reis e São Benedito no 06 de janeiro, com coração dos reis congos, a Irmandade de Lagarto também celebrava o santo nessa mesma data com participação de grupos culturais negros como as Taieiras na procissão. A Irmandade de Aracaju também fazia missa e procissão com coroação de reis e rainhas, continuando na atualidade com a missa e procissão com participação de um grupo cultural negro convidado da cidade de Laranjeiras, celeiro de manifestações culturais negras sergipanas. Os documentos citam que nas festas de Lagarto e Aracaju tinha música, danças, bebidas, batuques. “...Meu São Benedito é santo de preto Ele bebe garapa, ele ronca no peito...” No século XIX a Irmandade de Estância é tomada pelos brancos, perdendo seu objetivo de congregar pessoas pretas, a igreja acabou com a Festa de São Benedito em Lagarto no século XX, pois a festividade se sobrepunha a da padroeira branca da cidade. Sendo a Irmandade de Aracaju a única ainda em atividade, possui um cemitério com o nome de São Benedito, destinado aos irmãos da irmandade. Mesmo com as investidas do racismo que desarticulou duas dessas irmandades, o que elas realizaram e seus locais de encontro/ culto simbolizam espaços de sociabilidade dos africanos e afrobrasileiros em Sergipe. ‘Isso tudo é louvô, isso tudo é louvá’ a negritude sergipana! * Wendel Salvador, Estância, SE, 1989 – Vive em São Cristóvão, SE. Professor de Arte da Rede Pública Estadual de Sergipe, pesquisador, artista visual, suas pesquisas/ trabalhos tem como centralidade as culturas afro-brasileiras. As Taieiras são grupos de mulheres que, identificadas com as festividades da congada, cantam e dançam para louvar Virgem do Rosário e São Benedito, padroeiros dos negros no Brasil desde os tempos coloniais. Goma-Laca: Cantos populares do Brasil de Elsie Houston / pesquisa e textos Biancamaria Binazzi e Ronaldo Evangelista. – São Paulo: B. Binazzi, 2019.

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SENTIMENTOS TRANSVERSOS >> Tríade Preta

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Sentimentos Transversos traz diferentes nuances de músicas e poemas brasileiros. Nessa cena curta, com duração aproximada de 15 minutos, os artistas em cena criam um pacto sinestésico com público presente para falar de diferentes sentimentos, dos mais baixos aos mais nobres, como ódio e amor, mas não como opostos. FICHA TÉCNICA Atriz e dançarina: Lorraine Smith | Atores: Digo Correa e Luscas Gonçalves | Direção: Marcos Mateus | Direção de fotografia e câmera: Jéssica Marques | Som Direto: Marcos Mateus | Iluminação: Digo Correa e Marcos Mateus | Continuidade: Jéssica Marques | Direção de Arte: Coletiva | Edição e Montagem: Luscas Gonçalves | Produção de vídeo: Bão produção áudiovisual (@ baoproducao) | Classificação livre | Duração: 15min Transmitido no dia 04 de abril de 2022 Foto: Digo Corrêa

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Por Tríade Preta1 Um corpo no mundo é um corpo à deriva! E o que ele encontra pelo caminho é o que lhe atravessa. O corpo preto é esse corpo no mundo, ora à deriva, ora ancorado na ancestralidade de valores civilizatórios de África. E o que ele encontra pelo caminho é o que lhe atravessa! Memórias, sensações físicas e psíquicas são combinações que atravessam a constituição do nosso ser. Daí a pergunta: Qual o poder do sentimento? O que nele há de potente? O que há nele de perverso? E, quando ele nos atravessa, o que pode gerar em nós? Todas essas perguntas não podem ser respondidas se não passarem pelo filtro cultural. Foi nessa investigação que a Tríade Preta - que, inicialmente, era composta por Digo Corrêa, Luscas Gonçalves de e Suellen Sampaio e, depois, foi complementada com a presença de Jéssica Marques, Marcos Mateus e Lorraine Smith - trilhou para construção de uma cena curta a partir do espetáculo Sentimentos Transversos. Cabe lembrar que esse espetáculo nasceu em 2014, resultado de processo de estudos teatrais.. E foi nesse desejo de atravessamento que nos permitimos buscar respostas às indagações. Se achamos? Ainda não sabemos, e mesmo que as soubéssemos, preferimos deixar a dúvida, já que o teatro é lugar dos incômodos e não de dar respostas. Quando há conflito, necessita resolução. Será? A resolução muitas vezes se faz presente na dúvida, no questionamento, contudo, de onde vem essa revolução? Resolução e revolução... é preciso revolucionar a resolução sempre cristã e caótica. Escrever uma carta de amor e sexo para três pessoas. Traçar uma linha fantasiada que ligue três corpos pretos, extremamente, poéticos e cheios de gozo que performam o feminino, masculino e o não-dito. Por que não? Quantos desafios para buscar algum indicativo de resposta. A resposta, porém, é a não-resposta. É preciso sentir, descobrir e pensar a partir dos envolvidos, dos desejos e temores. Propomos, agora, uma revolução afetiva, uma busca por relacionamentos 241


artesanais, onde o que prevalecerá serão os sujeitos da relação, não um ideal de “bom” ou “ruim” de uma cartilha pré-determinada. Ainda que latente, o processo de criação sem um fechamento, e com alguma linha que o costura, encontramos nesse experimento, a partir do chamamento da décima primeira edição da Segunda Preta, um lugar crível da vaidade. Nela mora esse sentimento dúbio, que atravessa todes, em maior ou menor intensidade. E no tempo que vivemos do status, a vaidade molda fortemente nossas subjetividades, sobrepondo outros sentimentos. Assim como passear entre o lírico na leitura de ode de amor, aos passos /movimentos do “witrs illusions” - ilusão de mãos e punho - presentes no Voguel. Esse alinhavado de referências é sobretudo, o buscar a poesia em diferentes perspectivas e transportá-las para o audiovisual.

SENTIMENTOS TRANSVERSOS – audiovisual O que a luz revela? por Marcos Mateus2 Me falaram que as cores que vemos são possíveis por causa da luz que incide nelas. A partir dessa premissa, por que optar pela quase ausência de cores? A proposta estética e audiovisual abordada na obra Sentimentos Transversos busca algumas outras revelações ou, quem sabe, algumas outras camadas. A luz e a sombra, em sua indissolúvel junção, são exploradas a ponto de buscar sentidos diversos e singulares a partir de cada experiência e vivência. Hora ocupa mais espaço que o próprio corpo que a produz, apresentando a dimensão do que pode ser sentido, e hora propõe movimento que atravessa. Expor a sombra na obra passa pela vontade paradoxal de elucidar sentimentos que por muitas vezes ficam camuflados e escondidos, 242


que afetos não estão postos a vista. O que nos afeta precisa ser revelado?! A sombra descortina o duplo existente de cada um, aquele que é visto e o que passa despercebido, mas segue intermitentemente quando há luz. O mergulho (plongée) da câmera busca mostrar o sorriso desenhado, a “curtida” que acelera/faz bater o coração, mas não mostra o sorriso real. A emoção digital manufaturada é a emoção sentida. O olhar de baixo para cima (contra plongée) engrandece o ator, a cena e o sentido dado, aquele quadro traz o colorido que, para a posteridade, queremos/podemos deixar. Close no detalhe do rosto exibe beleza, porém o conjunto do rosto desfocado avisa que a realidade ainda carece de ajuste para lidar com a completude do ser negro. Ou como se conceder oportunidade de focar em somente um indivíduo fosse o suficiente para representar toda uma comunidade ou população. O foco em um detalhe (físico) ou um único indivíduo expõe as mazelas de todo um sistema orquestrado para a exclusão (desfoque). Os balões brancos, colocados dentro do saco plástico preto que vai aos poucos tomando conta de toda a tela, anuncia o que está por vir na obra e também um objetivo maior do qual ela faz parte. O preto, enfim, preto. Nas roupas (figurino), nas peles, nas sombras cada um em sua tonalidade numa provocação de ajuste de retina, purificação dos sentidos para receber o próximo gosto, toque, cheiro, som, imagem. Para receber o próximo sentido e deixar transpassar sem obstáculos pré-estabelecidos. É tudo preto, mas o que os une? E o que os difere? O que existe e permeia entre uma tonalidade e outra? Uma pessoa e outra? Tríade Preta é composta pelos artistas Digo Corrêa, Lusca Gonçalves de e Suellen Sampaio e criada para remontagem do espetáculo sentimentos transversos.

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Marcos Mateus Artista convidado. 243


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ARGILOSE >> Black Rose

(Belo Horizonte/MG) 245


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SINOPSE Tempo é verbo e orixá, tempo de alma, tempo de acalma, a calma da alma que exige paz, um caminho canso ancião feito balançar da palha da costa em um tempo de brisa, o vento diz que é chegado o momento é tempo que os indivíduos se unem para invocar as deuses. Assim nasce Argilose, a divindade que vem da terra, carregando consigo o poder da transformação, o poder de se refazer e desfazer e também guardiã da memória que sabe de onde vem e para onde vai, simbolizando o começo meio e recomeço. No entanto, no ato de seu renascimento, Argilose se depara com uma terra totalmente modificada pelas ações antrópica, o que causa uma estranheza de não pertencimento daquele lugar, a partir daí elu vai tentar incessantemente modificar aquele lugar, fazer com que se pareça mais consigo, ao mesmo tempo que também está à procura de si, de se reconhecer em outres e também tentando forjar as suas próprias ferramentas que possam abrir seus caminhos para mostrar de volta a casa. FICHA TÉCNICA Concepção: Black Rose | Orientação artística e direção: Anderson Ferreira | Figurino e adereços: Anderson Ferreira, Black Rose e Ana Generoso | Pintura corporal: Ana Generoso | Fotografia: Ana Generoso | Filmagem e edição: Matheus Crepalde | Trilha Sonora: Black Rose | Produção: Ana Generoso | Pesquisa: Anderson Ferreira, Black Rose e Ana Generoso | Indicação etária: 12 anos | Duração: 7min Transmitido no dia 11 de abril de 2022 Foto: Ellen Rose

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“ ” Por Black Rose

Estar na segundaPRETA, não. Passar pela segunda preta, talvez... hummmm Fazer história na segundaPRETA Parecia um sonho, mas escrever sobre me faz sentir que é real , me faz acreditar que sou capaz de realizar tudo aquilo que me arrancaram, me negaram, o que me impediram de acessar o que me foi impedido de viver, um dia, talvez por vários dias, mas pensando bem vejo que estão sempre tentando e, eu também estou sempre tentando Mas aí, segundaPRETA um dia um mestre entrou na minha vida e de uma forma surpreendente na verdade eu diria mesmo de uma forma incrível algumas coisas na minha vida começaram a mudar. É muito difícil explicar essas coisas que a gente consegue sentir muito e só começa a enxergar quando paramos para prestar a atenção nos sonhos, enfim. Uma belíssima noite em uma segunda feira a mais ou menos seis meses atrás foi a apresentação de “Ebó” do mestre Anderson Ferreira de alguma forma que só em sonhos eu consigo encontrar explicação a performance me atravessou de várias formas e a partir daqui aRgilOSE começa a ganhar vida. Mestre falando sobre Ebó no dia da apresentação: Eu to pensando em fazer um outro Ebó com umas cinquenta a cem pessoas ou mais Eu ouvindo aquilo só queria ter tido coragem pra mandar no chat “ me chaaaamaaa!” , mas aí eu esperei a sexta feira chegar pra eu já poder chegar junto , “ Mestre eu também quero fazer Ebó”. E assim eu começo a sonhar de novo. Um sonho cheio de obstáculos, encruzilhadas, enigmas desafios e descobrimentos. Um sonho que duraria mais ou menos seis meses Seis meses buscando ferramentas que pudesse acalmar a minha ansiedade

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Seis meses para acreditar no meu trabalho Seis meses tentando saber de onde eu veio Seis meses de reconstrução Seis meses me acolhendo Seis meses me derramando Seis meses me entendendo continuidade Seis meses modificando a tragédia em arte Seis meses seguindo o caminho do espelho Seis meses calvagando em Búfalos Guerreando na linha de frente Sentindo borboletas na cabeça e um furacão no estômago Seis meses lutando Desejando Orando Implorando Acreditando Em uma justiça que só a fé explica aRgilOSE nasce a partir do sonho da menina que sempre sonha que está voando Qual poder você teria se você pudesse escolher? Ter Asas para voar! O que você quer ser quando crescer? Artista de teatro Enfim, segunda preta aqui deixo parte de mim que chamo de banzo e levo as asas que vocês me ajudaram a ter, estou me tornando aquilo que eu sempre fui e vocês tem me ensinado que posso voar e que em bando!

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FONTE

>> Projeto A minha família conta (Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE A fonte nutre as narrativas que percorrem fragmentos de histórias das mães de Ariane Maria e Nayara Leite. A água doce que percorre o trabalho, corporificada no gesto das contadoras, traz no seu reflexo a essência das memórias de mulheres negras matrigestoras, nascidas nos interiores de Minas Gerais, revelando tradições importantes de suas localidades. O projeto “A Minha Família Conta” tece uma narrativa rodeada de segredos e mistérios, cultivados até os dias de hoje através da oralidade. FICHA TÉCNICA Contadoras: Ariane Maria e Nayara Leite | Direção, Roteiro e Figurino: Ariane Maria e Nayara Leite | Fotografia e Edição: Renca Produções | Classificação livre | Duração: 10 minutos Transmitido no dia 11 de abril de 2022 Foto: Renca Produções

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Por Ariane Maria e Nayara Leite A contação de história FONTE surge em 2020 como um experimento cênico gravado para o Festival de Teatro Negro On Line da UFMG (Universidade Federalde Minas Gerais). Após a participação no festival, o desejo de continuar a pesquisa nos moveu a fazer a inscrição no 22° Festival Cenas Curtas do Galpão Cine Horto em 2021, e com o fomento do evento realizamos a gravação atual do trabalho, em parceria com a Renca Produções e com o apoio do espaço do Teatro Universitário. -” Mãe, me conta uma história ?” (FONTE)

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O trabalho se trata de uma adaptação de fragmentos das memórias de nossas mães, Angelina Lopes de Sales, mãe de Ariane Maria e Joana Fernandes Vieira, mãe de Nayara Leite, desenvolvido pelo projeto “A minha família conta”, também idealizado por nós. O projeto foi criado em 2019, a partir da investigação proporcionada pelas ações do Projeto de Extensão “Literatura Afro-brasileira em Foco”, desenvolvido na Faculdade de Letras da UFMG, orientado pelo Doutor Marcos Antônio Alexandre. Ao estabelecer o contato com as literaturas negras por meio do Projeto de Extensão, identificamos uma grande confluência com as histórias narradas pelas mulheres de nossas famílias, sendo a tradição da oralidade o elo ancestral que nos levou a olhar para dentro de nós mesmas. -”Sinto o cheiro do café, da borra que se junta com a água e que traz a cor da noite”. (FONTE) Compartilhar estas histórias e seus conhecimentos é uma grande responsabilidade, por isso, o registro tem sido um dos principais campos de experimentação do nosso trabalho, que se entende a escuta, gravação, experimentação corporal do reconto, escrita e construção dramatúrgica. As águas percorrem todo o trabalho, com o seu reflexo construímos as imagens narradas pelas memórias de nossas fontes. A escolha do ambiente de gravação ao ar livre foi feita a partir da necessidade de sentir a terra nos pés, a mesma terra que firma as histórias em suas territorialidades originais, em Catequese e no Vale do Mucuri. Os cantos também nos foram transmitidos, junto a sonoridade do berimbau que também narra o que está sendo dito, orientando toda a movimentação corporal proposta. Como artistas da palavra, reconhecemos que é fundamental que busquemos nossa identidade, assumindo-nos nos espaços que ocupamos como artistas orientadas pela memória. Nossas fontes nos ensinam todos os dias que é preciso se manter sensível ao mundo, se permitindo fluir como água para nos tornarmos fontes também. 253


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BENJAMIN TE SIGO DAQUI

>> Inepta Cia. (Belford Roxo/RJ)

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SINOPSE Sinopse: O video-arte-performance apresenta o diálogo entre a trajetória Benjamim de Oliveira com os caminhos e ambições de Junior Melo, um artista, palhaço e morador da Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. O objetivo é observar os contextos históricos, políticos e sociais vividos pelos dois a partir de suas perspectivas artísticas, ressaltando a importância do legado e da representatividade de Benjamim de Oliveira para a cultura e os artistas nacionais. FICHA TÉCNICA Elenco: Junior Melo | Texto: Cássio Duque e Isabour Estevão | Direção e Edição: Akauã Santos e Junior Melo | Produção: Inepta Cia. | Classificação livre | Duração: 14 minutos Transmitido no dia 16 de abril de 2021, na segundaPRETINHA Foto: Inepta Cia.

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“ ” Por Inepta Cia.

“Benjamim, Te Sigo Daqui” é um dos trabalhos que nós da Inepta Cia. temos um carinho especial. Esse vídeo-arte-performance foi realizado em contexto de quarentena, no início da pandemia de Covid-19 no Brasil. Esse trabalho é fruto de uma pesquisa que nós estamos desenvolvendo sobre o legado de um dos maiores nomes da cultura afro-brasileira no Brasil: o empresário, músico, acrobata, cantor, encenador, autor, compositor, palhaço e importante nome da implementação da linguagem do circoteatro no Brasil: Benjamim de Oliveira. Participar de uma mostra como a segundaPRETA pra nós, tem um gostinho especial, pois estaremos juntos de tantas e tantos artistas comprometidos em reverberar a subjetividade da população que compõe a maioria desse país. Essa pesquisa reverberou em uma História em Quadrinhos intitulada de “Escafura e o Livro de Benjamim” e numa montagem teatral que estreia em março de 2022, dirigida por Tatiana Henrique. Se você nunca ouviu falar de Benjamim de Oliveira, te convido a embarcar nessa jornada de pesquisa e admiração com a gente! Temos muito o que rememorar, valorizar, resgatar e agradecer a esse artista que tanto fez pela cultura brasileira, como tantos outros nomes apagados da história das artes brasileiras. Você pode encontrar o HQ disponível em formato online e em breve, mais informações sobre a estreia do espetáculo teatral “Benjamim, te sigo daqui” no nosso Instagram, através do @ ineptacia_ . Adupé Benjamim! segundaPRETINHA!

Adupé

segundaPRETA!

Adupé

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ESCAFURA E O SEU BOLO DE ANIVERSARIO >> Inepta Cia.

(Belford Roxo/RJ)

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SINOPSE Diante do isolamento social no início da pandemia, o Palhaço Escafura comemora seu aniversário sozinho e decide preparar o seu próprio bolo! Massa de chocolate, margarina, farinha para untar a forma, ovos e é claro, muito álcool em gel. Entre gags, acidentes de percurso e com toda falta de experiência na cozinha, será que esse bolo sai? FICHA TÉCNICA Elenco, direção e autoria: Junior Melo | Classificação livre | Duração: 7 minutos Transmitido no dia 16 de abril de 2021, na segundaPRETINHA Foto: Inepta Cia.

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“ ”

Por Junior Melo “Escafura e o seu bolo de aniversário.” é uma adaptação de um dos episódios da websérie “Parabéns Clowndio!”, produzida pela Inepta Cia. em contexto de pandemia causada pelo Covid-19, em 2020. Um dos maiores desafios enfrentados na contrução desta cena se deu em conseguir adaptar a linguagem da palhaçaria para o audiovisual, trazendo a tona atravessamentos vividos por todes nós que fomos vítimas do isolamento social em momentos comemorativos. Filmado, editado, roteirizado e protagonizado por Junior Melo, este trabalho busca incentivar a nossas crianças a se lançarem na grande aventura que pode ser cozinhar! Mais uma vez, vai ser um prazer compartilhar com a Segunda Pretinha, a nossa visão de mundo, através de simples histórias do nosso cotidiano, sob a ótica do nariz vermelho. Vai um bolo de chocolate, com pitadas de formas animadas, 50g de sorrisos e uma colher de chá de imaginação?! Vocês podem encontrar a WebSérie na íntegra através do Instagram da @ineptacia_

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prosaPRETA com LÉA GARCIA

>> mediação de Rainy Campos e Rodrigo Antero

Realizada no dia 18 de abril de 2022 Imagem da transmissão 263


FESTA DE ENCERRAMENTO Discotecagem de Black Josie e Alexandre de Sena Realizada em 18 de abril de 2022

FICHA TÉCNICA - DÉCIMA PRIMEIRA TEMPORADA Assessoria de Imprensa: Alessandra Brito Tradução em Libras: Jane Silva Equipe: Alessandra Brito, Alexandre de Sena, Andréa Rodrigues, Grazi Medrado, Michelle Sá, Priscila Rezende, Rainy Campos, Rodrigo Antero, Rodrigo Negão e Suellen Sampaio Equipe Teatro Espanca: Alexandre de Sena, Aristeo Serranegra, Suellen Sampaio

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ENTRE-TEMPORADA #10 lançamento CADERNOS #4 E #5 Realizada no dia 13 de junho de 2022 265


>> ELA - Coletivo Fio-Cena de Teatro Foto: Pablo Bernardo 266


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ESTE CADERNO FOI REALIZADO COM RECURSOS DA LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA DE BELO HORIZONTE.

SEGUNDA

PROJETO 0240/2017

CADERNO 5

REALIZAÇÃO

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PATROCÍNIO

APOIO

INCENTIVO


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Articles inside

______________________________________________ Festa de encerramento e Ficha técnica - Décima Primeira Temporada

0
page 264

____________________________ Benjamin te sigo daqui

1min
pages 254-257

____________________________________ Escafura seu bolo de aniversario

1min
pages 258-261

____________ Fonte

2min
pages 250-253

_____________________________ Sentimentos Transversos

5min
pages 238-243

______________ Argilose

3min
pages 244-249

______________ ANTRO

0
pages 230-233

___________________ Preto Rosário

2min
pages 234-237

________________ Fiandeira

2min
pages 226-229

____________________ RAIZ D’ÁGUA

4min
pages 220-225

_______________________ Vamos pra costa?

5min
pages 214-219

_______________________________ Tirando da gaveta o corpo

2min
pages 210-213

______________________________ Ebó pra trançar quem sou

0
pages 202-205

________________________________________ Quem é que guia? Quem é guiado?

2min
pages 206-209

_______________ CATIÇO

3min
pages 198-201

_________________ Léa Garcia

2min
pages 194-197

__________________________________________________ Maria Firmina dos Reis, uma voz além do tempo

0
pages 182-185

____________________ Ao meu corpo

4min
pages 164-169

_______________________ Sintoma Or Delay

2min
pages 170-173

_____________________________________________ Ecos de ‘Arquivo Negro’ em breves danças

3min
pages 174-177

______________________________________ Exercícios para se lembrar, branqueamento ou ação repetida de cuidar

6min
pages 158-163

____________ Abel

3min
pages 154-157

_____________ Matriz

1min
pages 146-149

___________________ Ressonância

1min
pages 150-153

______________________ Canto de Oxum

2min
pages 142-145

______________ Alziras

1min
pages 134-137

___________________________________________ Curta-performance - Mulheres memórias

2min
pages 130-133

_______________ Em Casa

3min
pages 138-141

______________ ex-tinto

3min
pages 122-125

__________________________________ Boa parte de mim vai embora

2min
pages 126-129

__________________________ Clamor para estrelas

0
pages 112-115

_____________________ Arruda Hi-Tech

5min
pages 116-121

____________________ Corpo tambor

1min
pages 108-111

____________________ proposta 001

2min
pages 104-107

______________________ Valdineia Soriano

2min
pages 97-99

___________ Ebó

0
pages 100-103

________________________________ Corpa trava, preta, marginal

0
pages 76-79

________________________________________ MIXANDO A TRANSMASCULINIDADE

1min
pages 84-87

_____________ Patriota

0
pages 72-75

___________________ Estranha fruta

2min
pages 62-65

____________ Xabisa

4min
pages 66-71

____________________________ Todas as Marias que Sou

0
pages 58-61

___________ Akulo

1min
pages 40-43

_____________ Na pele

3min
pages 48-51

___________________ Mata Rasteira

4min
pages 26-31

____________________ Benza em Rosas

4min
pages 52-57

______________________ Maré de Distância

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pages 32-35

____________________ Rosana Paulino

2min
pages 18-21

___________________________ Ensaio sobre a Trindade

0
pages 36-39

_______________________________________ A Cabonagem e o Incêndio Inevitável

0
pages 44-47
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