5 minute read
_____________________________ Sentimentos Transversos
>> Tríade Preta
(Belo Horizonte/MG)
Advertisement
SINOPSE Sentimentos Transversos traz diferentes nuances de músicas e poemas brasileiros. Nessa cena curta, com duração aproximada de 15 minutos, os artistas em cena criam um pacto sinestésico com público presente para falar de diferentes sentimentos, dos mais baixos aos mais nobres, como ódio e amor, mas não como opostos.
FICHA TÉCNICA Atriz e dançarina: Lorraine Smith | Atores: Digo Correa e Luscas Gonçalves | Direção: Marcos Mateus | Direção de fotografia e câmera: Jéssica Marques | Som Direto: Marcos Mateus | Iluminação: Digo Correa e Marcos Mateus | Continuidade: Jéssica Marques | Direção de Arte: Coletiva | Edição e Montagem: Luscas Gonçalves | Produção de vídeo: Bão produção áudiovisual (@ baoproducao) | Classificação livre | Duração: 15min
Transmitido no dia 04 de abril de 2022 Foto: Digo Corrêa
Por Tríade Preta1
Um corpo no mundo é um corpo à deriva! E o que ele encontra pelo caminho é o que lhe atravessa. O corpo preto é esse corpo no mundo, ora à deriva, ora ancorado na ancestralidade de valores civilizatórios de África. E o que ele encontra pelo caminho é o que lhe atravessa! Memórias, sensações físicas e psíquicas são combinações que atravessam a constituição do nosso ser. Daí a pergunta: Qual o poder do sentimento? O que nele há de potente? O que há nele de perverso? E, quando ele nos atravessa, o que pode gerar em nós? Todas essas perguntas não podem ser respondidas se não passarem pelo filtro cultural.
Foi nessa investigação que a Tríade Preta - que, inicialmente, era composta por Digo Corrêa, Luscas Gonçalves de e Suellen Sampaio e, depois, foi complementada com a presença de Jéssica Marques, Marcos Mateus e Lorraine Smith - trilhou para construção de uma cena curta a partir do espetáculo Sentimentos Transversos. Cabe lembrar que esse espetáculo nasceu em 2014, resultado de processo de estudos teatrais.. E foi nesse desejo de atravessamento que nos permitimos buscar respostas às indagações. Se achamos? Ainda não sabemos, e mesmo que as soubéssemos, preferimos deixar a dúvida, já que o teatro é lugar dos incômodos e não de dar respostas.
Quando há conflito, necessita resolução. Será? A resolução muitas vezes se faz presente na dúvida, no questionamento, contudo, de onde vem essa revolução? Resolução e revolução... é preciso revolucionar a resolução sempre cristã e caótica. Escrever uma carta de amor e sexo para três pessoas. Traçar uma linha fantasiada que ligue três corpos pretos, extremamente, poéticos e cheios de gozo que performam o feminino, masculino e o não-dito. Por que não? Quantos desafios para buscar algum indicativo de resposta. A resposta, porém, é a não-resposta. É preciso sentir, descobrir e pensar a partir dos envolvidos, dos desejos e temores. Propomos, agora, uma revolução afetiva, uma busca por relacionamentos
artesanais, onde o que prevalecerá serão os sujeitos da relação, não um ideal de “bom” ou “ruim” de uma cartilha pré-determinada.
Ainda que latente, o processo de criação sem um fechamento, e com alguma linha que o costura, encontramos nesse experimento, a partir do chamamento da décima primeira edição da Segunda Preta, um lugar crível da vaidade. Nela mora esse sentimento dúbio, que atravessa todes, em maior ou menor intensidade. E no tempo que vivemos do status, a vaidade molda fortemente nossas subjetividades, sobrepondo outros sentimentos. Assim como passear entre o lírico na leitura de ode de amor, aos passos /movimentos do “witrs illusions” - ilusão de mãos e punho - presentes no Voguel. Esse alinhavado de referências é sobretudo, o buscar a poesia em diferentes perspectivas e transportá-las para o audiovisual.
SENTIMENTOS TRANSVERSOS – audiovisual O que a luz revela? por Marcos Mateus2
Me falaram que as cores que vemos são possíveis por causa da luz que incide nelas. A partir dessa premissa, por que optar pela quase ausência de cores? A proposta estética e audiovisual abordada na obra Sentimentos Transversos busca algumas outras revelações ou, quem sabe, algumas outras camadas.
A luz e a sombra, em sua indissolúvel junção, são exploradas a ponto de buscar sentidos diversos e singulares a partir de cada experiência e vivência. Hora ocupa mais espaço que o próprio corpo que a produz, apresentando a dimensão do que pode ser sentido, e hora propõe movimento que atravessa.
Expor a sombra na obra passa pela vontade paradoxal de elucidar sentimentos que por muitas vezes ficam camuflados e escondidos,
que afetos não estão postos a vista. O que nos afeta precisa ser revelado?! A sombra descortina o duplo existente de cada um, aquele que é visto e o que passa despercebido, mas segue intermitentemente quando há luz.
O mergulho (plongée) da câmera busca mostrar o sorriso desenhado, a “curtida” que acelera/faz bater o coração, mas não mostra o sorriso real. A emoção digital manufaturada é a emoção sentida. O olhar de baixo para cima (contra plongée) engrandece o ator, a cena e o sentido dado, aquele quadro traz o colorido que, para a posteridade, queremos/podemos deixar. Close no detalhe do rosto exibe beleza, porém o conjunto do rosto desfocado avisa que a realidade ainda carece de ajuste para lidar com a completude do ser negro. Ou como se conceder oportunidade de focar em somente um indivíduo fosse o suficiente para representar toda uma comunidade ou população. O foco em um detalhe (físico) ou um único indivíduo expõe as mazelas de todo um sistema orquestrado para a exclusão (desfoque). Os balões brancos, colocados dentro do saco plástico preto que vai aos poucos tomando conta de toda a tela, anuncia o que está por vir na obra e também um objetivo maior do qual ela faz parte.
O preto, enfim, preto. Nas roupas (figurino), nas peles, nas sombras cada um em sua tonalidade numa provocação de ajuste de retina, purificação dos sentidos para receber o próximo gosto, toque, cheiro, som, imagem. Para receber o próximo sentido e deixar transpassar sem obstáculos pré-estabelecidos.
É tudo preto, mas o que os une? E o que os difere? O que existe e permeia entre uma tonalidade e outra? Uma pessoa e outra?
1 Tríade Preta é composta pelos artistas Digo Corrêa, Lusca Gonçalves de e Suellen Sampaio e criada para remontagem do espetáculo sentimentos transversos.